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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS LARISSA NAYARA DE SOUSA AMARAL CONHECIMENTO ECOLÓGICO DE MARISQUEIRAS SOBRE A DIETA DE AVES LIMÍCOLAS MIGRATÓRIAS EM ICAPUÍ (ESTADO DO CEARÁ, NORDESTE DO BRASIL) FORTALEZA 2021 LARISSA NAYARA DE SOUSA AMARAL CONHECIMENTO ECOLÓGICO DE MARISQUEIRAS SOBRE A DIETA DE AVES LIMÍCOLAS MIGRATÓRIAS EM ICAPUÍ (ESTADO DO CEARÁ, NORDESTE DO BRASIL) Trabalho de Conclusão de Curso submetido à Coordenação do Curso de Ciências Biológicas, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Ciências Biológicas. Orientadora: Danielle Sequeira Garcez Co-orientador: Ms. Felipe Braga Pereira FORTALEZA 2021 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca Universitária Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a) A515c Amaral, Larissa Nayara de Sousa. Conhecimento ecológico de marisqueiras sobre aves limícolas migratórias em Icapuí (Estado do Ceará, Nordeste do Brasil) / Larissa Nayara de Sousa Amaral. – 2021. 39 f. : il. color. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências, Curso de Ciências Biológicas, Fortaleza, 2021. Orientação: Profa. Dra. Danielle Sequeira Garcez. Coorientação: Prof. Me. Felipe Braga Pereira. 1. Aves migratórias. 2. Mariscagem. 3. Etnoecologia. I. Título. CDD 570 LARISSA NAYARA DE SOUSA AMARAL CONHECIMENTO ECOLÓGICO DE MARISQUEIRAS SOBRE A DIETA DE AVES LIMÍCOLAS MIGRATÓRIAS EM ICAPUÍ (ESTADO DO CEARÁ, NORDESTE DO BRASIL) Trabalho de Conclusão de Curso submetido à Coordenação do Curso de Ciências Biológicas, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Ciências Biológicas. Aprovada em: 02/09/2021. BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Prof. Dr. Danielle Sequeira Garcez (Orientadora) Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Felipe Braga Pereira Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (ONG Aquasis) _________________________________________ Matheus Fernandes Martins Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Ceará (SEMA) À minha avó, Maria Amaral. AGRADECIMENTOS À Profa. Dra. Danielle Sequeira Garcez, pela orientação, por ser uma pessoa tão compreensiva com seus alunos e por sempre buscar me dar segurança na escrita deste estudo. Ao Felipe Braga, pela co-orientação e todo apoio em campo, o qual não teria acontecido sem ele, e por toda inspiração enquanto biólogo e educador ambiental. Ao Matheus Fernandes, membro da banca avaliadora, pelas valiosas considerações e sugestões. À ONG Aquasis, pela inspiração no excelente trabalho na conservação da natureza e por ter me acolhido como voluntária. Aos membros do Projeto Manatí, especialmente Amanda Oliveira, Letícia Gonçalves e Thaís Chaves, por sempre terem sido tão gentis e terem feito parte da minha primeira paixão de verdade dentro da biologia, os peixes-bois. Aos membros do Projeto Aves Migratórias do Nordeste, Onofre Monteiro, Gabriela Ramires, Iara Coriolano e Larissa Batalha, por me acolherem como estagiária e me darem a oportunidade de viver a paixão pelas aves migratórias. Agradeço todo aprendizado, experiência, amizade e por me proporcionarem a certeza com o que eu quero trabalhar. E aos membros de outros projetos da ONG Aquasis, Fábio Nunes, Weber Girão, Artur Bruno e Mika Holanda, profissionais que me motivam a ser uma profissional melhor. À Luana Oliveira, icapuiense e monitora de educação ambiental do projeto Aves Migratórias do Nordeste, sem a qual o campo não teria acontecido e que se tornou grande parceira. Agradeço toda articulação e apoio nas entrevistas. À minha família, principalmente minha avó Maria Amaral, que sempre me deu todo o suporte, compreensão e amor do mundo pra que eu finalizasse a minha graduação de forma tranquila. Ao meu pai, Milton Amaral, por todo o apoio, suporte e incentivo. Aos meus tios Daniel Amaral e Sergio Amaral, que investiram na minha educação e sempre acreditaram nela. E às minhas tias, Eukaria, Albertina, Anizia, Socorro e Alaide, que fazem de tudo por mim. Ao meu namorado e melhor companheiro, Leonardo, que me deu um imensurável apoio emocional, diariamente buscou me incentivar e ouviu com paciência todos os meus choros e inseguranças. Agradeço por me encher de amor e sempre confiar mais em mim do que eu mesma. Às pessoas que me influenciaram e contribuíram para meu caminho dentro das Ciências Biológicas. Em especial, à Cecília Licarião, minha primeira inspiração enquanto profissional e hoje minha amiga e parceira de trabalho no projeto Aves de Noronha (PAN). À todos os colegas do PAN, que me incentivam e ensinam diariamente, como Heideger Nascimento, Gabriela Arnoso e Estéfani Tretto. Aos meus amigos de Malaquias, Ariane, Mariana, Ryan, Alice, Maiara, Cláudio, Otávio, Mateus e Feynman, que apesar de formarem o grupo mais aleatório possível, me enchem de apoio e amizade. Em especial, a Mariana, que me possibilitou terminar a escrita deste trabalho me emprestando seu computador e me ajudou mais do que imagina, e ao Otávio, meu parceiro de todas as aventuras possíveis. À Mata Branca Jr., responsável pela minha segurança profissional e por ter me proporcionado experiências incríveis ainda dentro da graduação. Em especial, agradeço por ter trabalhado e crescido com Alanna, Leal, Victoria Maria, Arthur, Amablly, Vitoria, Lidiana, Victoria Mariana, Rogério, Davi, João, Hipólito, Gabriele, Nobre, Felipe e tantos outros. Aos profissionais citados neste trabalho e a todos os outros não citados aqui cujas pesquisas permitiram minha formação e execução deste estudo. À Universidade Federal do Ceará, por possibilitar a minha pesquisa e vivências que contribuíram valiosamente para a minha formação e aos professores de Ciências Biológicas, os quais tenho a honra de ter sido aluna. Agradeço também à CAPES e a EIDEIA, que me possibilitaram as duas bolsas remuneradas que tive na graduação e foram importantíssimas para a minha formação. A participação no projeto de pesquisa “Variação intraespecífica em organismos aquáticos” no Laboratório de Ecologia de Ecossistemas Aquáticos, me proporcionou inúmeros aprendizados e experiências, me inserindo na Ciência, e a bolsa de monitoria no Programa de Ensino à Cooperação na Escola (PRECE) abriu um mundo novo pra mim e com certeza faz parte da profissional que sou hoje. Ao PRECE, meu muito obrigada. Agradeço a todos que contribuíram direta e indiretamente na minha jornada. Sou grata por finalmente atuar como bióloga, a profissão que tanto sonhei. “Todos esses que aí estão Atravancando meu caminho, Eles passarão… Eu passarinho!” (Mário Quintana) RESUMO As aves limícolas neárticas compõem um dos grupos de aves com os maiores declínios populacionais já registrados no mundo. Costumam migrar longitudinalmente pelas Américas, em rotas e stopovers bem determinados, que se repetem anualmente. No Nordeste do Brasil, o Banco dos Cajuais, localizado na APA do Manguezal da Barra Grande, em Icapuí, Estado do Ceará, destaca-se pelo registro de ocorrência de 22 espécies de aves limícolas. A região possui ampla biodiversidade demoluscos e crustáceos, presentes na dieta dessas aves, e pela atividade de mariscagem praticada principalmente por mulheres. De fato, em zonas costeiras do litoral cearense, a principal atividade econômica costuma ser a pesca artesanal e os ambientes explorados pela atividade costumam ser também ocupados por aves. Assim, moradores das comunidades locais passam a ser fortes aliados em propostas de conservação da fauna e dos ecossistemas. Assim, este estudo entrevistou 19 marisqueiras de Icapuí, sobre o conhecimento ecológico acerca das aves limícolas migratórias, por meio de questionários semiestruturados, em junho de 2021. As respostas obtidas mostraram um conhecimento restrito sobre as aves limícolas migratórias, porém um relevante conhecimento principalmente sobre os moluscos, relatando até um declínio populacional ao longo dos últimos 20 anos, além de impactos ambientais que podem afetar a dieta da avifauna que depende desse ecossistema. Palavras-chave: Aves migratórias; Mariscagem; Etnoecologia. ABSTRACT Nearctic shorebirds constitute one of the most threatened bird taxa in the world, with the largest population declines on record. Every year, they migrate longitudinally through the American continent, along defined routes and stopover sites. One of these sites, called Banco dos Cajuais, stands out for the record of 22 species of shorebirds. It is located in the Northeast of Brazil, more precisely inside the APA of Manguezal da Barra Grande, in Icapuí, State of Ceará. The stopover site has a great biodiversity of mollusks and crustaceans, important for the diet of these birds, and for the local shellfishing activity practiced mainly by women. In fact, in coastal areas of Ceará, the main economic activity is usually artisanal fishing and the environments explored are also often occupied by birds. Thus, local communities become key stakeholders in proposals for the conservation of fauna and ecosystems. For this study 19 shellfish collectors from Icapuí were interviewed about their ecological knowledge on migratory shorebirds, through semi-structured questionnaires, in June 2021. The responses obtained showed a restricted knowledge about migratory shorebirds, but a relevant knowledge mainly about molluscs, even reporting a population decline over the last 20 years, in addition to environmental impacts, which can affect the bird species that depend on this ecosystem. Key words: Migratory birds; Shellfishing; Ethnoecology. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Mapa da APA do Manguezal da Barra Grande ....................... 16 FIGURA 2 Locais de mariscagem explorados pelas marisqueiras entrevistadas por este estudo, em Icapuí (CE) ........................ 18 FIGURA 3 Frequência de coleta das etnoespécies de mariscos citados pelas marisqueiras entrevistadas por este estudo, em períodos passados e atualmente, em Icapuí (CE) .................. 19 FIGURA 4 Itens componentes da dieta de maçaricos e batuíras, conforme marisqueiras de Icapuí (CE) entrevistadas por este estudo ...................................................................................... 22 LISTA DE TABELAS TABELA 1 Locais de pesca dos mariscos citados pelas marisqueiras de Icapui (CE) ................................................................................... 19 TABELA 2 Frequência de ocorrência de aves por ecossistema, conforme as marisqueiras de Icapuí (CE) entrevistadas por este estudo ......... 20 TABELA 3 Locais de avistamentos das etnoespécies de aves identificadas pelas marisqueiras de Icapui (CE) entrevistadas por este estudo 21 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APA Área de Proteção Ambiental Aquasis Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos CE Ceará ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade ONG Organização Não Governamental SEDEMA Secretaria de Defesa do Meio Ambiente WHSRN Western Hemisphere Shorebird Reserve Network SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................. 14 2 OBJETIVO GERAL ......................................................................... 15 3 MATERIAL E MÉTODOS ……………………………..………………. 16 3.1 Área de estudos …………………………………………….………….. 16 3.2 Coleta de dados ……………………………………………….……….. 16 4 RESULTADOS ………………………………………………….………. 18 5 DISCUSSÃO ................................................................................... 25 5.1 As marisqueiras de Icapuí ………………………………….………….. 24 5.2 Os moluscos e as aves migratórias ………………………….……….. 26 5.3 Ameaças à biodiversidade em Icapuí …………………….…………... 28 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 30 REFERÊNCIAS ................................................................................ 31 APÊNDICE A – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ............. 37 APÊNDICE B – TÁXONS DE MOLUSCOS CITADOS ...................... 38 APÊNDICE C – TÁXONS DE AVES CITADAS ……………………... 39 14 1 INTRODUÇÃO Aves limícolas são aquelas que dependem de ambientes úmidos para sobreviver. Pertencentes à Ordem Charadriiformes, são comumente chamadas de maçaricos e batuíras, e são em grande parte migratórias (ICMBIO, 2013), compondo um dos grupos de aves com os maiores declínios populacionais registrados no mundo (NABCI-CANADA, 2019). Dentre as migratórias, as espécies das Subordens Charadrii e Scolopaci costumam migrar longitudinalmente pelas Américas, em rotas bem determinadas; realizam a migração para fugir de períodos de extremo inverno no hemisfério Norte em seus sítios de reprodução, no Canadá, em busca de ambientes mais quentes para alimentação e descanso adequado, no hemisfério Sul (ICMBIO, 2013; PACHECO et al., 2021). Chegam aos chamados “sítios de invernada” (ANTAS, 1983) que, no Brasil, estão espalhados por locais estratégicos, chamados stopovers (ou “locais de parada”), incluindo o Pantanal e zonas costeiras (ICMBIO, 2019). No Nordeste do Brasil existem duas rotas principais de migração: a rota Nordeste e a rota Atlântica Ocidental. Essa última abrange as regiões costeiras do país, na qual se destaca o município de Icapuí, no extremo leste do Estado do Ceará. No local, está situada a Área de Proteção Ambiental (APA) do Manguezal da Barra Grande, que inclui o banco dos Cajuais, um stopover de importância regional para aves limícolas, assim classificado desde 2017 pela Western Hemisphere Shorebird Reserve Network (WHSRN), e com ocorrência de 22 espécies de aves limícolas registradas até o momento (ICMBIO, 2019). Dentre estas, quatro estão ameaçadas de extinção, segundo o Ministério do Meio Ambiente: o Maçarico-de-papo-vermelho (Calidris canutus), o Maçarico-de-costas-brancas (Limnodromus griseus), o Maçarico- rasteirinho (Calidris pusilla) e a Batuíra-bicuda (Charadrius wilsonia) (ICMBIO, 2018), que se reproduz na região. A perda de habitats pela degradação ambiental, e a falta de recursos alimentares em sítios de invernada dessas espécies, podem comprometer o sucesso do ciclo migratório (BAKER et al., 2004; STROUD et al., 2006; DEY, 2011) e contribuir para o declínio populacional do grupo. O banco dos Cajuais é o banco de algas mais expressivo do Ceará (MEIRELES et al., 2006), importante para a alimentação da fauna marinha. A região possui ampla diversidade e é berçário de diversos moluscos e crustáceos (MEIRELES et al., 2016). Esses animais estão presentes na dieta das aves limícolas, justificando 15 a riqueza e abundância de avifauna na área, e também, a escolha do local como sítio de invernada (REEDER, 1951; KOBER & BAIRLEIN, 2006; ICMBIO, 2013). Como esses pontos de parada se repetem ao longo dosanos, ações de conservação locais são importantes, aliadas a um órgão gestor ativo e um conselho gestor participativo e associadas ao monitoramento populacional, à descrição das formas de uso dos habitats disponíveis. Diante disso, moradores das comunidades locais passam a ser fortes aliados. Especialmente em zonas costeiras do litoral cearense, onde a principal atividade econômica costuma ser a pesca, e cujos ambientes são também ocupados pelas aves. As comunidades tradicionais podem não só retratar a paisagem local, mas também suas modificações ao longo dos anos. Na APA do Manguezal da Barra Grande é realizada a atividade de “mariscagem”, composta majoritariamente por mulheres, chamadas de “marisqueiras”. Essa atividade é realizada à beira-mar e nos manguezais, durante períodos de maré baixa, sendo coletados mariscos como búzios (Anamalocardia brasiliana e Tivela Mactroides) e pequenos gastrópodes (Bulla striata e Vitta virginea), já identificados em estudos sobre a alimentação de aves limícolas na região (FRIEDIZZI, 2016; ARAÚJO, 2020). Com isso, ocorre interação por sobreposição de áreas, entre a atividade de mariscagem e o forrageamento das aves limícolas. Ainda, a região é cercada por problemas ambientais que podem afetar as aves residentes e visitantes. O crescimento da carcinicultura, o turismo desordenado e a predação de aves silvestres por animais domésticos são algumas ameaças encontradas na APA (MEIRELES, 2017; CAMBOIM, 2019). Sob essa perspectiva, é importante compreender o conhecimento das marisqueiras sobre as aves limícolas migratórias da região, para investigar possíveis mudanças no ambiente e na dinâmica populacional destes grupos, analisar a relação da comunidade com as aves limícolas em Icapuí, e auxiliar na elaboração de planos sólidos para a conservação das espécies e seus habitats. 2 OBJETIVO GERAL Descrever o conhecimento local de marisqueiras sobre a dieta de aves limícolas migratórias em Icapuí (Estado do Ceará). 2.1 Objetivos Específicos 16 ● Descrever a composição e áreas de ocorrência de aves limícolas em Icapuí. ● Estimar a abundância de aves limícolas em Icapuí por época do ano. ● Identificar a partir do etnoconhecimento das marisqueiras a dieta alimentar das aves, distúrbios no ecossistema do entorno e suas implicações para a avifauna. 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Área de estudo A APA do Manguezal da Barra Grande (FIGURA 1) é uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável administrada pela Secretaria de Desenvolvimento e Meio Ambiente de Icapuí (SEDEMA) estando localizada em Icapuí, município costeiro no extremo leste do Ceará, a 202 km de Fortaleza, tendo sido criada no ano 2000 (Lei 298/2000) e ampliada em 2014 (ICAPUÍ, 2000; ICAPUÍ, 2014). A APA possui 1.260,31 hectares, com grande diversidade geomorfológica, incluindo o banco dos Cajuais (SEMACE, 2010; MEIRELES & SANTOS, 2011), que representa um dos mais complexos sistemas marinho-costeiros do litoral cearense (MEIRELES et al., 2006). Ecossistemas presentes incluem: praia, estuário e manguezal, propiciando ampla biodiversidade (MEIRELES et al., 2016). Figura 1. Mapa da Apa do Manguezal da Barra Grande (Icapuí/CE). Fonte: Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Ceará. 17 Além de um local de importante produção pesqueira (MEIRELES et al., 2016) é também sítio relevante para a alimentação de aves limícolas, sendo considerado stopover de importância regional pelo Western Hemisphere Shorebird Reserve Network (WHSRN). Na APA, já foram registradas 22 espécies de aves limícolas, o que representa 78,6% da biodiversidade de aves limícolas do Ceará e 47,8% da diversidade nacional deste grupo (PACHECO et al., 2021; WIKIAVES, 2021). 3.2 Coleta de dados Para descrever a composição das espécies de aves ocorrentes e suas áreas de uso, estimativas populacionais e impactos aos quais possam estar sujeitas, foram aplicados questionários semi-estruturados a marisqueiras que atuam na APA do Manguezal da Barra Grande e seu entorno, em Icapuí (APÊNDICE A). Foram realizadas 19 entrevistas, entre os dias 9 e 10 de junho de 2021, com todos os protocolos sanitários necessários e apoio da Organização Não-Governamental (ONG) Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Marinhos (Aquasis). A ONG Aquasis realiza pesquisas e atividades de extensão na região há alguns anos, voltados à conservação dos ecossistemas costeiros e marinhos, e sua fauna. Atualmente, está em andamento o “Projeto Aves Migratórias do Nordeste”, o qual prevê o monitoramento ambiental, a atuação em políticas públicas e educação ambiental na comunidade de Icapuí, para conservação de aves migratórias neárticas, apoiado pelo “Programa Petrobras Socioambiental”, por meio da Seleção Pública de 2018. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética da UFC, na Plataforma Brasil. As entrevistas foram conduzidas oralmente e as respostas registradas de forma escrita, com aprovação do entrevistado (Termo de Consentimento Livre Esclarecido). Durante as entrevistas, a pesquisadora também fez uso de uma prancha com fotos de aves presentes na região, para auxílio no objetivo da composição de espécies da área. O foco principal foi sobre as quatro espécies de aves atualmente identificadas como ameaçadas de extinção: o Maçarico-de-papo-vermelho (Calidris canutus), o Maçarico-de-costas-brancas (Limnodromus griseus), o Maçarico-rasteirinho (Calidris pusilla) e a Batuíra-bicuda (Charadrius wilsonia). A partir das respostas, foram elaboradas tabelas com os táxons identificados pela descrição e nomes populares citados pelas marisqueiras. Os 18 moluscos (APÊNDICE B) foram identificados com o auxílio do Laboratório de Invertebrados Marinhos do Ceará (LIMCE), da Universidade Federal do Ceará, e os nomes científicos validados por meio do World Register of Marine Species (WoRMS, 2021). Por sua vez, os possíveis táxons de aves (APÊNDICE C) foram listados por meio da pesquisa de nomes populares no guia “Aves Costeiras de Icapuí” (ALBANO et al., 2007) e a validação do nome científico foi feita pela confirmação da listagem de espécies do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (PACHECO et al., 2021). 4 RESULTADOS Do total de 19 marisqueiras entrevistadas, 14 eram residentes da comunidade de Quitérias, comunidade no entorno da APA do Manguezal da Barra Grande e cinco de Requenguela, dentro da APA, no município de Icapuí (CE). As idades das entrevistadas variaram entre 37 e 79 anos, com média de 45 anos ( ±12,7). Em relação ao tempo de vivência com a atividade, 89,5% realizam a mariscagem desde a primeira infância, em companhia de parentes, e 10,5% há pouco menos de 10 anos. Foram identificados quatro locais de pesca utilizados preferencialmente pelas marisqueiras: Praia de Quitérias (n=15), Praia da Barra Grande (n=15), Praia de Requenguela (n=5) e Canal no Mangue (n=5), variando entre áreas exploradas atual e/ou antigamente (FIGURA 2). O horário para a prática da atividade é definido de acordo ao regime da maré (chamadas localmente de “cheias ou vazas”), sendo priorizados horários matinais. Figura 2. Locais de mariscagem explorados pelas marisqueiras entrevistadas por este estudo, em Icapuí (CE). Fonte: elaborada pela autora. 19 A partir das respostas obtidas nas entrevistas, foram identificadas nove etnoespécies de mariscos bivalves na região (FIGURA 3), encontrados nos locais de pesca das marisqueiras (TABELA 1). Considerando as coletas realizadas atualmente, foram mencionados: búzio, rapa de coco, taioba, ostra, sururu, unha de velha, pistoleta e buzinhos. Antigamente, estimado em há pelo menos 15 anos, ainda era possível encontrar mais uma variação em abundância: trabóia. Os relatos quanto à riqueza (nove etnoespécies) se diferenciaram de acordo aos locais de realização de pesca. Com base nas chaves de identificação,as nove etnoespécies citadas correspondem a 11 espécies de moluscos, classificados entre as famílias Verenidae, Mytillidae, Ostreidae, Tellinidae, Donacidae, Solecurtidae, Tenebridae, Fasciolariidae, Bullidae e Neritidae (APÊNDICE B). Figura 3. Frequência de coleta das etnoespécies de mariscos citados pelas marisqueiras entrevistadas por este estudo, em períodos passados e atualmente, em Icapuí (CE). Fonte: elaborada pela autora. Tabela 1. Locais de pesca dos mariscos citados pelas marisqueiras de Icapuí (CE). Etnoespécies Locais explorados Búzio Rapa de coco Taioba Ostra Sururu Unha de velha Pistoleta Buzinho Traboia 20 Praia de Quitérias X X X X X Praia de Placas X X X X Canal do Mangue X X X X X Praia de Requenguela X X X X X X Fonte: dados do estudo. Quanto às estimativas de abundância populacional dos moluscos ao longo do ano, conforme os relatos, a família Verenidae, principalmente o búzio Anomalocardia brasiliana, tem sido mais facilmente coletado do que outras variedades. Ao serem questionadas sobre a melhor época do ano para a pesca dos mariscos, as marisqueiras se dividiram entre depender da amplitude da maré (46,7%) e/ou no início das chuvas (40%), caracterizada pelo período entre janeiro e março, e/ou no final das chuvas (13,3%), a partir do mês de março. Quanto à percepção sobre a ocorrência de aves na região, as respostas espontâneas inicialmente variaram entre “garças” e “gaivotas”. No entanto, ao serem apresentadas as fotografias ou questionadas sobre pequenos pássaros na beira da praia, espécies limícolas residentes e migratórias foram identificadas pelas marisqueiras. Ao total, foram registradas 14 etnoespécies de aves como ocorrentes na região (TABELA 2), sendo cinco destas, possivelmente migratórias. Houveram dois relatos de aves com “chips na perna”, possivelmente tratando-se de bandeirolas coloridas utilizadas no anilhamento de aves migratórias, em diversas regiões do mundo, para monitoramentos. Os principais locais de avistamentos de cada etnoespécie mencionados pelas marisqueiras foram praias, manguezais e salinas (TABELA 3). Tabela 2. Frequência de ocorrência de aves por ecossistema, conforme as marisqueiras de Icapuí (CE) entrevistadas por este estudo. Etnoespécies Frequência absoluta Frequência relativa Gauça 19 100% Maçarico 19 100% Batuíra 14 74% 21 Gaivota 12 63% Maçarico-do-bicão 4 21% Maçarico-do-papo-vermelho 4 21% Sirizeira 2 10,5% Siricoia 2 10,5% Maçarico-canelado 1 0,05% Tetéu 1 0,05% Gauça-azul 1 0,05% Piru-piru 1 0,05% Marreca 1 0,05% Tamatião 1 0,05% Fonte: dados do estudo. Tabela 3. Locais de avistamentos das etnoespécies de aves identificadas pelas marisqueiras de Icapui (CE) entrevistadas por este estudo. Fonte: elaborada pela autora. Locais de ocorrência das aves Etnoespécies de aves Praias Manguezais Salinas Gauça X X X Maçarico X X X Batuíra X Gaivota X Maçarico-do-bicão X Maçarico-do-papo- vermelho X X X Sirizeira X Siricoia X Maçarico-canelado X X X Tetéu X 22 Gauça-azul X Piru-piru X Marreca X Tamatião X Fonte: dados do estudo. Com base nas chaves de identificação para aves, foram identificadas 30 espécies de aves entre os morfotipos citados pelas marisqueiras (etnoespécies), pertencentes às famílias Ardeidae, Scolopacidae, Charadriidae, Haematopotidae, Sternidae, Laridae, Rallidae e Anatidae (APÊNDICE C). Nota-se que o mesmo nome popular pode se remeter a mais de uma espécie, devido à morfologia similar entre elas. Sobre as espécies de aves avistadas em maiores quantidades (abundâncias), 72% das entrevistadas apontaram que maçaricos são vistos em bandos grandes, estimados entre 20 e 70 indivíduos. “Gauças” e batuíras foram apontadas como formadoras de bandos pequenos, estimados em torno de 10 indivíduos, respectivamente por 16% e 12% das entrevistadas. Ao serem questionadas sobre o comportamento dos maçaricos nos locais de pesca, as respostas variaram entre atividades de deslocamento e forrageamento; todas apontaram que os maçaricos “ficam bicando a areia” ou “voando em bandos”. Já sobre o descanso dessas aves, o manguezal foi o único local apontado. Ainda, 73,7% das entrevistadas não percebem variação anual de diversidade e/ou quantidade de aves na região. Outras 26,3% percebem certa variação de quantidade durante o ano, mas não sabem determinar épocas em que isso ocorre. Quanto à alimentação (FIGURA 4), 24,5% das entrevistadas indicaram peixes como alimento das aves limícolas nas praias; 20,4% indicaram capim − citado principalmente para as batuíras; 18,4% mencionaram mariscos e siris; 10,2% minhocas ou larvas; 6,1% artêmias; e 2% caracóis. Figura 4. Itens componentes da dieta de maçaricos e batuíras, conforme marisqueiras de Icapuí (CE) entrevistadas por este estudo. 23 Fonte: elaborada pela autora. Quando questionadas sobre a presença das aves durante as atividades de pesca, 89,5% das marisqueiras indicaram não haver interferência sobre as coletas, pois as aves não se aproximam. No entanto, 10,5% relatam que a presença de maçaricos é algo positivo para a mariscagem: afirmaram que quando há um bando de maçaricos bicando a areia, provavelmente naquele local haverá muitos mariscos. Quanto à importância atribuída às aves, 50% ressaltaram aspectos que se relacionam a funções ecológicas, como “limpeza de praias”; 33,3% citam fatores que se relacionam ao respeito, como a importância da preservação dos animais; e 16,7% vêem valor estético, citando as aves pela beleza cênica nas praias. Ao se investigar a variação de abundância dos mariscos e aves nos últimos 20 anos, 30,8% das marisqueiras percebem redução na quantidade de moluscos nas praias, enquanto 11,5% consideraram ter ocorrido aumentos apenas na praia de Quitérias. 19,2% das entrevistadas afirmaram que a cada ano, a quantidade de mariscos é diferente em cada praia, dependentes da maré e época do ano. Ainda, 38,5% das entrevistadas afirmaram que na praia de Quitérias identificam atualmente etnoespécies diferentes daquelas existentes no passado. Por exemplo, a traboia já não mais encontrada, ou em baixa abundância, e que sua coleta foi substituída, em Quitérias, pelo búzio. Ressaltou-se que nas praias de Quitérias e Requenguela, e no manguezal formado na APA, as quantidades de sururu, unha de velha, pistoleta e buzinhos diminuíram em torno de 60%, ou mesmo não são mais encontrados com facilidade, quando comparados há um período pretérito de 20 anos. 24 No entanto, em Quitérias, apesar da redução na riqueza (só da traboia), os relatos apontaram aumentos significativos nas quantidades de búzio (em frequência de ocorrência ao longo do ano e na abundância). Os relatos sobre diminuição da quantidade de mariscos associaram a drástica diminuição de siris e também de capim-agulha (fanerógama marinha). Quatro marisqueiras de Requenguela relataram que há cerca de 20 anos a praia era repleta de capim agulha e, atualmente, quase não há vestígios dessa vegetação em Requenguela. Apontaram como possíveis causas, a superexploração deste recurso, usado para agricultura. Quanto às aves, 42,1% das marisqueiras apontaram que não houve variação na abundância da avifauna limícola migratória. No entanto, 42,1% citaram observar com menos frequência bandos dessas aves na região. Em contrapartida, 15,8% afirmaram ter mais aves na faixa de areia das praias do que há 20 anos. Sobre possíveis mudanças de locais de forrageio de aves limícolas migratórias, 42,1% das marisqueiras indicaram não haver mudanças de microhabitats nos últimos 20 anos. Porém, 57,9% relataram que atualmente há mais concentração de avifauna limícola nas salinas ou nas fazendas de camarão do que nas praias. Quando questionadas sobre possíveis ameaçasà biodiversidade de aves limícolas e moluscos, 64,7% afirmaram não existir ameaças. Dessas, 31,3% citaram um distúrbio nas populações de moluscos no ano de 2009 em Quitérias, após uma enchente, o que impossibilitou atividades de maricultura. No entanto, no mesmo tema, 35,3% das entrevistadas apontaram as fazendas de camarão como principal ameaça à biodiversidade da região. A percepção dessas ameaças vieram sobretudo de marisqueiras que mariscam ou já mariscaram na região de Requenguela. “As fazendas de camarão influenciaram muito na fartura e variedade de mariscos. Assim que foi instalada, acabou o marisco nas praias. Depois foi voltando aos pouquinhos, mas agora ainda tem muito pouco comparado a antes. A gente catava uns 12 quilos numa maré, hoje em dia pego menos da metade e pra pegar tudo isso tem que ficar muito mais. Salina também influencia muito. Quando solta muita água, morrem os mariscos do mangue, porque a água passa por dentro do mangue, talvez por causa da temperatura... Antes trazia ostras e sururu do mangue de monte, hoje tem muito pouco, também tinha muito grauçá, muito capim, muito mais mariscos diferentes...” (Marisqueira e moradora da praia de Requenguela, 68 anos de idade). Em uma perspectiva de futuro, em torno de 20 a 30 anos, 42,1% das entrevistadas acredita que a abundância de aves e mariscos será menor, destacando 25 as fazendas de camarão, a poluição doméstica e a destruição de áreas do manguezal como principais fatores. De forma oposta, 31,1% consideram que a região terá mais mariscos e aves, por conta da reprodução constante desses animais. Ainda, 10,5% acreditam que em Icapuí terá menos mariscos e mais aves, principalmente as “gauças”, e 15,8% creem que as abundâncias de ambos os grupos se manterá como na atualidade. “Acho que vai diminuir muito daqui 10, 20 anos... isso se ainda tiver alguma coisa, né? Tem tudo muito pouco. Quando eu era pequena a gente olhava pra praia e só via búzio, pegava os búzios pequenos de artesanato era de rodo... muita gente ganhou dinheiro com isso aqui. Hoje tem dia que nem siri a gente vê mais. E as fazendas de camarão só aumentam, né?” (Marisqueira e moradora da praia de Requenguela, 37 anos de idade). 4 DISCUSSÃO 4.1 As marisqueiras de Icapuí As entrevistadas por este estudo praticam a mariscagem desde a primeira infância, quando acompanhavam parentes nesta atividade. Esse é um comportamento característico em comunidades pesqueiras litorâneas (DIEGUES, 2004; NOGUEIRA, 2012), continuamente repassado entre gerações (SOUTO, 2004; DIAS, 2007; NOGUEIRA, 2012), resultado de longa tradição da relação de mulheres com os manguezais (OLIVEIRA, 1993). Porém, a média de idade em 45 anos das entrevistadas pode indicar a não-participação ativa de mulheres mais novas na profissão, comprometendo a manutenção da atividade. A crescente urbanização do município trazendo novas oportunidades de renda mais estáveis (assalariado) pode estar relacionada a essa redução, além disso, a melhoria do sistema educacional também pode ser motivo de menos jovens na pesca, aliado a contextos históricos, culturais e ecológicos (MOURÃO, 2020). No entanto, a mariscagem ainda representa uma das atividades de maior importância entre as comunidades locais de Icapuí (PINTO, 2012; MEIRELES et al., 2016). Foi observado uma mudança dos locais de mariscagem ao longo dos últimos anos, associada a migração das espécies de moluscos e alterações sazonais (BOEHS et al., 2008; ROCHA-BARREIRA & ARAÚJO, 2005; RODIL, et al., 2008; RODRIGUES et al., 2010). Os horários citados estão de acordo com estudos anteriores na região, onde marisqueiras pescam de acordo com o regime da maré 26 (NOGUEIRA, 2012), assim como o forrageio da avifauna limícola migratória (BAKER et al., 2020; HICKLIN & GRATTO-TREVOR, 2020; ZDRAVKOVIC et al., 2020), sobrepondo os ambientes. No entanto, sazonalmente, houve controvérsia na melhor época para mariscar. Apesar da maioria concordar que o regime da maré é fator primordial, as opiniões sobre influência do índice pluviométrico na pesca são contraditórias. Isso pode ocorrer porque o período chuvoso aumenta a carga de sedimentos na coluna d’água, condição inadequada, por exemplo, para o bivalve A. brasiliana, espécie mais citada entre as marisqueiras, que é sensível em altas pluviosidades (MONTI et al., 1991), provocando redução na abundância de mariscos, no entanto, com um maior índice de indivíduos adultos, ideais para a pesca (OLIVEIRA et al., 2014). Quanto à influência das aves na mariscagem, alguns estudos na Costa Rica apontam que pode haver uma redução da população de invertebrados marinhos na zona entre-marés na época de descanso reprodutivo de aves limícolas migratórias (PEREIRA, 1996). No entanto, essa interferência não é percebida pelas marisqueiras de Icapuí, algumas até indicando que as aves podem ajudar na catação do marisco. Não foram encontrados estudos que indicam essa relação, mas o contrário já foi registrado no Nordeste do Brasil, com maiores taxas de forrageio de maçarico- rasteirinho (Calidris pusilla) em sedimentos revolvidos por marisqueiras na Baía de Todos os Santos, Bahia (LUNARDI, 2010). 4.2 Os moluscos e as aves migratórias Há uma riqueza de 35 espécies de moluscos na região, entre bivalves e gastrópodes (BARROSO et al., 2013), porém as marisqueiras apontaram 9 etnoespécies, subestimando a biodiversidade da região. Dentre essas, não houve percepção da presença desses animais na dieta de aves limícolas migratórias. As respostas sobre a alimentação das aves entre as entrevistadas foram bem variadas, tendo peixe e capim como os mais citados. No entanto, a alimentação de maçaricos e batuíras se baseia principalmente em bivalves, pequenos gastrópodes, poliquetos e pequenos crustáceos (VOOREN AND CHIARADIA, 1990; GONZÁLEZ et al., 1996; FEDRIZZI et al., 2016; BAKER et al., 2020; JEHL JR et al., 2020; HICKLIN & GRATTO- TREVOR, 2020; ZDRAVKOVIC et al., 2020). 27 Apesar disso, o principal comportamento observado citado pelas marisqueiras foi o de forrageio das aves limícolas. Os maçaricos-de-papo-vermelho (Calidris canutus), ao se alimentarem, bicam a superfície da presa ou sondam sob o substrato, com repetidas penetrações, muitas vezes por toda a extensão do bico. Assim, pesquisam locais com melhores estoques de bivalves (BAKER et al., 2020). Os maçaricos-de-costas-brancas (Liminodromus griseus) sondam em torno de si mesmos substratos macios em águas um pouco mais profundas, até a altura da barriga e, às vezes, até nadando e engolindo os alimentos ainda sob o solo, com exceção de minhocas (JEHL JR et al., 2020). Os maçaricos-rasteirinhos (Calidris pusilla) seguem o recuo da linha d’água, no início dos ciclos das marés, bicando e sondando principalmente solos lamacentos (HICKLIN & GRATTO-TREVOR, 2020). Por fim, as batuíras costumam bicar a vegetação nas praias em busca de pequenos invertebrados (ZDRAVKOVIC et al, 2020), possivelmente influenciando nas respostas que se referem às fanerógamas marinhas. Essas espécies se diferenciam principalmente pelas adaptações de seus bicos, se alimentando no mesmo micro- habitat sem sobreposição completa de nichos. O bivalve mais citado pelas marisqueiras, o búzio, já foi registrado na alimentação de aves limícolas migratórias em Icapuí (FEDRIZZI et al., 2016), apesar desse fato não ter sido relatado pelas entrevistadas por este estudo. Importante comercialmente no Brasil, Anomalocardia brasiliana é sensível a variações ambientais, com alta mortalidade devido às chuvas, que causam grandes flutuações no tamanho e distribuição das populações (MONTI et al., 1991; MOUËZA et al., 1999). A espécie foi registrada na dieta de aves migratórias em Icapuí, logo no seu primeiro estágio de crescimento, assim como a espécie Tivela mactroides (FEDRIZZI et al., 2016), morfologicamente similares,que podem facilmente serem identificadas como sendo a mesma etnoespécie pelas marisqueiras. Algumas espécies de moluscos apontadas nas entrevistas como em escassez na região também já foram registradas na alimentação de aves limícolas migratórias. É o caso dos gastrópodes Bulla striata e Vitta virginea (FEDRIZZI et al, 2016) utilizados em larga escala para artesanato e citados como superexplorados. Fedrizzi (2016) aponta espécies do gênero Donax, presentes na alimentação de Maçaricos-do-papo-vermelho. A espécie Donax striatus, chamada de traboia, poderia ser a espécie predada pelas aves em Icapuí, apontada como em escassez pelas marisqueiras. Esse é o menor bivalve coletado pelas pescadoras e pelos maçaricos- 28 de-papo-vermelho (Calidris canutus), no forrageio de moluscos: a espécie costuma preferir tamanhos menores de presas, visto que engolem o bivalve por inteiro (BAKER, 2020). Quanto à avifauna, há registros de 22 espécies de aves limícolas migratórias para a região de Icapuí (PACHECO et al., 2021; WIKIAVES, 2021). Os indivíduos, representados pelas subordens Scolopaci e Charadrii, apresentam comportamentos de forrageio similares (SICK, 1997), morfologia e plumagem parecidas dentro das respectivas famílias. No período de migração para o Brasil, apresentam na maior parte do tempo uma plumagem modesta de descanso reprodutivo, semelhante na maioria das espécies (SICK, 1997), sendo essa uma possível causa da não-diferenciação das espécies por parte das entrevistadas. Além disso, o comportamento de formarem grandes bandos de diferentes espécies também pode ser fator. Dito isso, possivelmente as garças foram citadas com maior espontaneidade por serem animais de grande porte, com cores que chamam a atenção e por estarem presentes durante o ano todo na região, ao contrário da avifauna limícola migratória. Apesar de perceberem a presença dos bandos dessas espécies, a maioria das entrevistadas não percebe a variação sazonal. Em geral, os maçaricos e batuíras permanecem no Brasil de setembro a maio (ICMBIO, 2019), e formam bandos mistos de milhares de indivíduos na região da APA do Manguezal da Barra Grande para descanso e alimentação. 4.3 Ameaças à avifauna em Icapuí Estudos sobre os impactos ambientais na APA do Manguezal da Barra Grande apontam a perda de biodiversidade na região das salinas e carcinicultura, e a contaminação do solo e água como principais ameaças ao sistema estuarino da região, afetando a manutenção dos estoques pesqueiros estuarinos e marinhos (SANTOS, 2008; MEIRELES et al., 2017). No entanto, quando questionadas, a maioria das marisqueiras não percebe impactos ambientais, principalmente aquelas moradoras mais distantes do manguezal, ou citam apenas uma enchente ocorrida em 2009, que segundo elas, causou alta mortalidade de mariscos. No ano em questão, foram registradas chuvas atípicas na região Nordeste do Brasil, relacionadas ao fenômeno La Niña, que pode ter afetado populações de moluscos (RODRIGUES, 2009; BELÉM et al., 2013; OLIVEIRA, 2014). 29 No entanto, as respostas indicam uma diminuição significativa de moluscos nos últimos 20 anos, em consonância a estudos anteriores na região (NOGUEIRA, 2012; NISHIDA 2000). Quanto à avifauna, apesar de indicarem certa diminuição, sinalizam apenas menos bandos e mudanças de micro-habitats de forrageio para as salinas. Esse ambiente antropizado é responsável por 75% da destruição das áreas locais de manguezal (MEIRELES et al., 2016). Dessa forma, sem outra alternativa, as salinas funcionam como ambiente para as aves limícolas migratórias (MASERO, 2003; VALENTE, 2011; FONSECA, 2013; MEIRELES, 2017). Em manguezais degradados, as salinas costeiras artificiais já foram destacadas como os ambientes antrópicos mais ocupados por populações de aves limícolas (MÚRIAS et al., 2002; MASERO, 2003; MORGADO et al., 2009). Nas salinas, as aves possivelmente se alimentam também de artêmias, encontradas na alimentação de alguns indivíduos, entre eles o maçarico-rasteirinho (Calidris pusilla), em estudos realizados no Rio Grande do Norte (LARRAZÁBAL et al., 2002). No entanto, além de ser um ambiente altamente perturbado por atividades humanas, esses habitats antrópicos são inadequados − pelos níveis de água acima dos ideais às aves e pela cristalização do sal nos tanques − e, possivelmente, reduzem ainda mais a disponibilidade de habitats para essas aves (LUNARDI et al, 2012; CAMBOIM, 2019). Essas respostas reforçam a urgência na desapropriação de áreas localizadas na zona de Área de Preservação Permanente (APP) do manguezal, proposta por Meireles e colaboradores (2017). Além disso, os relatos locais sobre diminuição da abundância e riqueza de moluscos são preocupantes. Em Icapuí, a supressão da vegetação do manguezal da Barra Grande para as fazendas de camarão e salinas pode ser uma das causas dessa diminuição das populações de moluscos (MEIRELES, 2006; SANTOS 2008; MEIRELES 2017), aliado à contaminação da água por efluentes - segundo as marisqueiras - e a superexploração de recursos, que além de moluscos pode ter afetado as populações de siri e estoques naturais de fanerógamas marinhas, citada também por Lima, Carneiro & Meireles (2014). O declínio dos buzinhos e da traboia, possivelmente presentes na dieta das aves limícolas migratórias na APA do Manguezal da Barra Grande, a longo prazo, poderá afetar o estoque energético desses animais. Ao extremo, a falta de recursos alimentares poderá comprometer o sucesso do ciclo migratório. Na Baía de Delaware, no Nordeste dos Estados Unidos, a sobre-exploração pela indústria pesqueira do caranguejo-ferradura (Limulus plyphemus) − cuja desovas são a principal fonte 30 energética para o maçarico-de-papo-vermelho (Calidris canutus) − é responsável por 90% do declínio das populações que migram pela América (BAKER, 2004; DEY et al., 2011). Há ainda uma variedade de moluscos não citados pelas marisqueiras, mas apontados por Friedizzi (2016) como presas da avifauna limícola em Icapuí. Assim, pesquisas sobre a alimentação da avifauna neártica que anualmente visita a APA da Barra Grande e as populações de moluscos na região são essenciais. Apesar das aves limícolas migratórias comporem um dos grupos de aves de maiores declínios populacionais no mundo (NABCI-CANADA, 2019), as marisqueiras de Icapuí não percebem declínio das populações ao longo dos últimos anos. No entanto, atribuem valor ecológico às espécies. Essas respostas mostram a oportunidade para inserir atividades integradas no plano de manejo da APA em desenvolvimento, juntamente a um órgão gestor ativo e um conselho consultivo participativo, ferramentas extremamente necessárias para a sustentabilidade de uma Unidade de Conservação. Aliados a ações das organizações ambientais que atuam no local: a ONG Aquasis, com o projeto Aves Migratórias do Nordeste e a Fundação Brasil Cidadão, com o projeto De Olho na Água. Além disso, a implementação de atividades para observação de aves na comunidade é indispensável, como incentivo à ciência cidadã e ao turismo sustentável, em contrapartida ao turismo exploratório que vem crescendo na região. Mitigar as ameaças presentes na APA do Manguezal da Barra Grande é indispensável e envolver a comunidade é urgente, como medidas de conservação dos ecossistemas e de sua fauna associada, em especial, as aves limícolas migratórias. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Inseridas em um stopover de parada de aves limícolas migratórias e compartilhando o ambiente de pesca, era esperado que as marisqueiras de Icapuí conhecessem o grupo. No entanto, esse estudo demonstrou a carência e urgência da aproximação entre a comunidade e uma divulgação científica sobre aspectos da bioecologia dessas espécies, assim como a necessidade de mitigar os impactos ambientais no poligonal da APA do Manguezal da Barra Grande e no seu entorno.Ainda, deve-se buscar incentivar estudos sobre a alimentação dessas aves e mapear os declínios populacionais em moluscos já registrados na dieta de maçaricos. Espera- 31 se que este estudo seja incentivador para a inserção das marisqueiras em projetos de conservação dos ecossistemas e das aves de Icapuí. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTAS, P. de T. Z. Migration of Nearctic shorebirds (Charadriidae and Scolopacidae) in Brazil – flyways and their different seasonal use. Wader Study Group Bulletin, v. 39, n. 1, p. 52-56, 1983. ARAÚJO, L. M. S. A atividade de mariscagem na comunidade pesqueira de Chaval, Ceará, Nordeste do Brasil. 2020. 144f. Tese de Doutorado em Ciências Marinhas Tropicais. Universidade Federal do Ceará, Instituto Ciências do Mar, Fortaleza, 2020. ROCHA-BARREIRA, C. A.; ARAÚJO, M. L. R.; Ciclo reprodutivo de Anomalocardia brasiliana (GMELIN, 1971) (Mollusca, Bivalvia, Veneridae) na praia do Canto da Barra, Fortim, Ceará, Brasil. Inst. Pesca. São Paulo, 31(1):9 - 20. 2005. BAKER, A. J.; GONZÁLEZ, P. M.; PIERSMA, T.; NILES, L. J.; NASCIMENTO, I.; ATKINSON, P. W.; CLARK, N. A.; MINTON, C. D.; PECK, M. K.; AARTS, G. 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Identificar os ambientes onde cada atividade ocorre. Estimar tempo dedicado à cada atividade. 7. Onde elas se alimentam? 8. De quais mariscos elas se alimentam? Há preferências? 9. As aves interferem na sua mariscagem? Sim, não. De que forma? 10. A quantidade de aves aumentou, diminuiu ou se manteve a mesma nos últimos 10 anos? 11. As épocas de chegada, permanência e partida mudaram? 12. Os locais que elas ficam durante o dia mudaram? 13. A alimentação das aves mudou nesses 10 anos? 38 APÊNDICE B - POSSÍVEIS TÁXONS DE MOLUSCOS CITADOS Possíveis táxons Etnoespécie Venerida Veneridae Lamelliconcha circinata (Born, 1778) Rapa de coco Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) Búzio Tivela mactroides (Born, 1778) Mytilida Mytilidae Mytella guynensis (Lamarck, 1819) Sururu Ostreida Ostreidae Crassostrea rhizophorae (Guiling, 1828) Ostra CardiidaTellinidae Eurytellina punicea (Born, 1778) Taboia Donacidae Donax striatus (Linnaeus, 1767) Traboia Solecurtidae Tagelus plebeius ([Lightfoot], 1786) Unha de velha (?) (?) (?) Pistoleta Fasciolariidae Buzinho Aurantilaria aurantiaca (Lamarck, 1816) Cephalaspidae Bullidae Bulla striata Bruguiére, 1792 Ciclonerytida Neritidae Vitta virginea (Linnaeus, 1758) Apêndice B. Lista de nomes científicos para as etnoespécies de moluscos mencionadas pelas marisqueiras de Icapuí (CE). Fonte: elaborada pela autora. 39 APÊNDICE C - POSSÍVEIS TÁXONS DE AVES CITADAS Possíveis táxons Etnoespécie Pelicaniformes Ardeidae Nycticorax nycticorax (Linnaeus, 1758) Tamatião Nyctanassa violacea (Linnaeus, 1758) Ardea cocoi Linnaeus 1766 Gauça Ardea alba Linnaeus, 1758 Egretta thula (Molina, 1782) Egretta caerulea (Linnaeus, 1758) Gauça-azul Charadriiformes Scolopacidae Numenius phaeopus (Linnaeus, 1758) Sirizeira Calidris canutus* (Linnaeus, 1758) Maçarico-de-papo- vermelho Calidris pusilla* (Linnaeus, 1766) Maçarico Tringa flavipes (Gmelin, 1789) Maçarico-canelado Tringa semipalmata (Gmelin, 1789) Tringa melanoleuca (Gmelin, 1789) Limnodromus griseus (Gmelin, 1789)* Maçarico-do-bicão Charadriidae Charadrius wilsonia (Ord, 1814)* Batuíra Charadrius semipalmatus Bonaparte, 1825 Charadrius collaris Vieillot, 1818 Vanellus chilensis (Molina, 1782) Tetéu Haematopodidae Haematopus palliatus (Temminck, 1820) Piru-piru Laridae Gaivota Gelochelidon nilotica (Gmelin, 1789) Thalasseus acuflavidus (Vigors, 1825) Sternula antillarum (Lesson, 1847) Sternula superciliaris (Vieillot, 1819) 40 Sterna hirundo Linnaeus, 1758 Sterna dougallii Montagu, 1813 Leucophaeus atricilla (Linnaeus, 1758) Chroicocephalus cirrocephalus (Vieillot, 1818) Gruiformes Rallidae Rallus longirostris Boddaert, 1783 Siricoia Aramides cajaneus (Statius Muller, 1776) Aramides mangle (Spix, 1825) Anseriformes Anatidae Anas bahamensis (Linnaeus, 1758) Marreca APÊNDICE C. Lista de possíveis nomes científicos para as etnoespécies de aves mencionadas pelas marisqueiras de Icapuí (CE). Em asterisco (*) aqueles que foram apresentados fotografias. Fonte: elaborada pela autora.
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