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Autora: Profa. Daniela da Cunha Souza Patto Colaboradores: Prof. Ricardo Calasans Profa. Claudia Ferreira dos Santos Ruiz Figueiredo Controle Ambiental e Recursos Naturais Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Professora conteudista: Daniela da Cunha Souza Patto Mestre e doutora em Química pelo Instituto de Química da Unicamp. Possui graduação em Engenharia Química pela Escola de Engenharia de Lorena (EEL – USP). Também concluiu pós‑doutorado na área de Controle de Qualidade de Produtos Farmacêuticos e Cosméticos pela Universidade de São Paulo (USP). Atuou como química de pesquisa na indústria farmoquímica no desenvolvimento de produtos farmacêuticos e cosméticos, atuando também como auditora interna do sistema de gestão da qualidade (ISO 9001, ISO 14000 e Oshas 18000). Atualmente, é professora titular da Universidade Paulista – UNIP, ministra aulas nos cursos de Farmácia, Engenharia Civil e Elétrica. A partir de 2014, assumiu a coordenação auxiliar do curso de Gestão Ambiental. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P294c Patto, Daniela da Cunha Souza. Controle ambiental e recursos naturais. / Daniela da Cunha Souza Patto. – São Paulo: Universidade Paulista ‑ UNIP, 2016. 132 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2‑013/16, ISSN 1517‑9230. 1. Controle ambiental. 2. Recursos naturais. 3. Segurança do trabalho. I. Patto, Daniela da Cunha Souza. II. Título. CDU 504.06 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Carla Moro Lucas Ricardi Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Sumário Controle Ambiental e Recursos Naturais APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS QUESTÕES AMBIENTAIS ..........................................................................9 1.1 Histórico e eventos .............................................................................................................................. 20 1.2 Marcos significativos da legislação ambiental ......................................................................... 25 2 CONCEITOS DE GESTÃO AMBIENTAL ....................................................................................................... 31 3 TÉCNICAS DE GESTÃO AMBIENTAL .......................................................................................................... 39 4 CONTROLE DE POLUIÇÃO ............................................................................................................................. 42 4.1 Controle de poluição da água ......................................................................................................... 42 4.1.1 Controle de poluição do ar ................................................................................................................. 48 4.2 Controle ambiental de resíduos ..................................................................................................... 57 4.2.1 Resíduos sólidos urbanos .................................................................................................................... 61 4.2.2 Resíduos de serviços de saúde (RSS) .............................................................................................. 66 4.3 Importância da reciclagem para o meio ambiente ................................................................ 71 Unidade II 5 COMPROMISSOS MUNDIAIS ...................................................................................................................... 82 5.1 Protocolo de Quioto ............................................................................................................................ 85 5.2 Rio+20 ...................................................................................................................................................... 86 5.3 Panorama da degradação da terra no Brasil ............................................................................. 88 5.3.1 A poluição, causas e consequências ............................................................................................... 90 6 INSTRUMENTOS DE GESTÃO E CONTROLE AMBIENTAL .................................................................100 6.1 ISO 14000 ..............................................................................................................................................100 6.1.1 Normas sobre o Sistema de Gestão Ambiental – SGA (ISO 14001, ISO 14004, ISO 14005) ..........................................................................................................................................................103 6.1.2 Normas sobre as Auditorias Ambientais (ISO 14015, ISO 19011)......................................104 6.1.3 Norma sobre a Avaliação do Desempenho Ambiental (ISO 14031) .................................104 6.1.4 Norma sobre a Rotulagem Ambiental (ISO 14020 e seguintes) ........................................104 6.1.5 Norma sobre a Avaliação do Ciclo de Vida (ISO 14040 e seguintes) ...............................105 6.1.6 Norma sobre os Aspectos Ambientais nos Produtos (ISO Guia 64, ISO TR 14062) .............106 6.1.7 Outras normas da série.......................................................................................................................106 7 FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL .......................................................................................................................106 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 8 AUDITORIA AMBIENTAL ..............................................................................................................................111 8.1 Auditores e seus papéis....................................................................................................................115 8.2 Aplicações e limitações das auditorias ambientais ..............................................................115 8.3 Auditorias ambientais como ferramentas de gestão ...........................................................116 8.4 Análise de risco e medidas emergenciais .................................................................................117 7 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 APRESENTAÇÃO A disciplina Controle Ambiental e Recursos Naturais propõe o estudo das relações da sociedade com o meio ambiente, a utilizaçãoracional dos recursos naturais, o crescimento populacional e suas consequências sobre o meio ambiente e a saúde do Homem. Temos como objetivo desenvolver procedimentos técnicos e administrativos voltados para elevar a qualidade de vida da população, aumentando a compreensão da relação do ser humano com o meio ambiente. Este livro‑texto abordará a evolução histórica das questões ambientais, compromissos mundiais, apresentando as conferências mais importantes, entre elas a Rio‑92, na qual foram escritos documentos como a Carta da Terra e a Agenda 21. Vamos estudar ainda a polêmica Conferência de Quioto, marcos significativos da legislação ambiental e conceitos e técnicas de gestão. Estudaremos a poluição, suas causas e consequências e medidas para seu controle, como a importância da reciclagem. Por fim, veremos os instrumentos de gestão ambiental, como ISO 14000 e auditoria ambiental, fiscalização ambiental, EIA e Rima e análise de riscos e medidas emergenciais. Com este material, esperamos despertar em você, aluno do curso de Segurança do Trabalho, a consciência ambiental e a necessidade de gestão dos fatores ambientais inseridos no ambiente de trabalho como ferramenta para melhoria da qualidade de vida. INTRODUÇÃO A questão ambiental vem ganhando importância nas últimas décadas. O homem, inicialmente, mantinha uma relação de equilíbrio com a natureza. Para a sua sobrevivência, ele plantava e caçava apenas o necessário para o seu consumo. As atividades humanas começaram a gerar impactos ao meio ambiente quando a humanidade se tornou sedentária e passou a viver em vilas, aldeias e cidades. A natureza passou a ser um objeto de manipulação para satisfazer aos desejos do ser humano após a Revolução Industrial, na segunda metade do século XVII. A partir disso, a comercialização de produtos em grandes quantidades foi incentivada, aumentando o consumo excessivo de recursos naturais e, simultaneamente, gerando resíduos nos processos de produção industrial, que causaram a poluição do solo, da água e do ar. O respeito que o homem tinha pela natureza foi substituído pela exploração predatória, levando à crise ambiental. A população rural começou a migrar para as cidades devido ao desenvolvimento industrial, buscando trabalho e melhoria da sua condição econômica, o que gerou uma concentração humana das áreas urbanas. A exploração de recursos naturais utilizados como matéria‑prima foi necessária para suprir à demanda de produtos para o consumo, além do consumo de energia não renovável, causando grandes impactos ambientais, como a geração de resíduos e poluição. Essa mudança de estilo de vida da humanidade, com o consumo irresponsável, gerou a crise ecológica. 8 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Atualmente, estamos tentando remediar essa situação e utilizamos várias ferramentas de gestão ambiental para desempenharmos uma tarefa tão complexa. Os fatos mais importantes e as ferramentas de gestão ambiental serão apresentados ao longo deste livro‑texto. Boa leitura! 9 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Unidade I 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS QUESTÕES AMBIENTAIS Começaremos nosso estudo descrevendo uma sequência de eventos que promoveram os moldes da sociedade em que vivemos hoje e os danos causados ao meio ambiente. A História revela momentos da capacidade humana de ações brilhantes e outras desastrosas. 10000 a.C.: a humanidade começou a plantar e cultivar alimentos no “crescente fértil”, ao leste do Mediterrâneo (norte da Turquia, sul do Egito). 6000 a.C.: na Mesopotâmia, a irrigação apareceu como nova forma de cultivar alimentos. 4000 a.C.: o desenvolvimento das aldeias na Mesopotâmia ocorreu com a construção de muralhas, distinguindo‑as do resto. 2000 a.C.: os impactos gerados por suas atividades humanas não provocavam prejuízos na natureza. Eram 27 milhões de pessoas vivendo no planeta. Ano zero: aproximadamente 100 milhões de pessoas viviam na Terra. 1500 d.C.: os portugueses chegaram ao Brasil, invadiram uma praia e, poucos dias depois, para realizar uma missa, iniciaram o desmatamento, abrindo uma clareira na mata e derrubando árvores para construir uma cruz gigantesca. Gaspar Lemos, ao voltar para Portugal, levou a carta de Pero Vaz de Caminha falando sobre a exuberância da “nova” terra. Dessa forma, começou o contrabando dos recursos naturais, a princípio pau‑brasil e espécies de papagaios. 1503: deu‑se início ao comércio do pau‑brasil: 200 mil km de Mata Atlântica original foram extraídos, sobrando apenas 7%, que continuam ameaçados. 1542: a Carta Régia do Brasil estabeleceu regras para o corte de madeira. 1543: Copérnico provou matematicamente que a Terra gira em torno do Sol, publicando a teoria heliocêntrica. 1667: Newton publicou as leis básicas da mecânica, óptica e gravitação universal. Era o início da descoberta de que existem leis que regem o universo. Na Inglaterra, morreu quase um terço da população infectada por peste bubônica. 1825: um bilhão de pessoas habitavam o planeta Terra. 10 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I 1827: por meio da Carta de Outubro, o império português delegou poderes aos juízes das províncias para fiscalização das florestas. 1840: com o aparecimento da primeira praga agrícola, aproximadamente 1 milhão de pessoas morreram de fome na Irlanda; a plantação de batata foi contaminada por um fungo. 1850: a exploração florestal das terras brasileiras foi proibida pela Lei nº 601 (BRASIL, 1850), editada por D. Pedro II. A lei ainda forneceu poderes às províncias para a sua execução. Ela foi ignorada e houve grande devastação de florestas, principalmente para o cultivo de café para exportações. Foi utilizada uma das piores técnicas de plantio do ponto de vista do impacto ambiental: as queimadas. Na Europa, Estados Unidos, Inglaterra e Japão, a maior parte da população se concentrava nas cidades. 1859: em A Origem das Espécies, Darwin afirmou que todas as vidas são produtos do ambiente e publicou sua teoria da seleção natural. 1864: Marsh documentou como os recursos do planeta estão sendo devastados e prevê que essa exploração vai exaurir os recursos naturais do planeta em seu livro O Homem e a Natureza: a Geografia Física Modificada pela Ação do Homem. Foi o primeiro exame detalhado da agressão humana à natureza. 1872: a inauguração da primeira empresa especializada no corte de madeira foi autorizada pela princesa Isabel. 1875: foi encerrado o ciclo do pau‑brasil. Como resultado, notou‑se o abandono e a devastação das matas. 1889: a educação ambiental teve como princípio colocar os indivíduos em contato com a realidade de seu ambiente, focando prioritariamente nas crianças e estimulando o desenvolvimento da criatividade para solucionar problemas. 1891: até essa data não existia nenhuma lei na Constituição Brasileira, revisada no mesmo ano, que promovesse a preservação das florestas e da fauna. Nesse período, os recursos naturais brasileiros estavam sob forte pressão do extrativismo europeu. 1905: a ciência sofreu uma revolução com a Teoria da Relatividade, de Einstein. 1908: a política americana iniciou a discussão de temas de conservação ambiental. O presidente Roosevelt promoveu uma conferência dos governadores para discutir o tema. 1920: o pau‑brasil foi extinto. Mesmo com tantas floretas, o Brasil não possuía um código florestal. 1923: a produção dos automóveis de Henry Ford aumentou muito devido à nova maneira de produção em linha de montagem, chegando a 12 milhões de unidades em 1925. 11 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS 1934: o ensino e pesquisa de ecologia foi implantado por Rawitscher nas escolas brasileiras; inicia‑se o movimento ecológico no Brasil. O Decreto nº 23.793 (BRASIL,1934) foi o anteprojeto do Código Florestal; foi criada a primeira unidade de conservação, o Parque Nacional de Itatiaia. 1939: o Parque Nacional Iguaçu foi criado por meio do Decreto‑lei nº 1.035 (BRASIL, 1939). 1945: os Estados Unidos lançaram sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, as bombas atômicas. Na Grã‑Bretanha, surgiu o termo “environmental studies” (estudos ambientais). 1947: foi fundada, na Suíça, a União Internacional de Conservação da Natureza (IUNC), que tinha como objetivo a conservação ambiental. Foi considerada referência até 1972, quando o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) foi criado. 1952: a morte de 1.600 pessoas em Londres foi provocada pelo smog, ar extremamente poluído. Em 1956, foi aprovada a Lei do Ar Puro pelo parlamento inglês, devido à conscientização sobre a melhoria da qualidade do ar. Observação Smog é um termo geral usado, desde 1905, para uma mistura de fumaça (smoke) e neblina (fog) que produz um ar urbano insalubre. Nessas condições, são liberadas na atmosfera partículas de NOx e hidrocarbonetos. 1962: foi publicado o livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, que se tornou um clássico do movimento ambientalista. Saiba mais Para saber mais sobre os danos causados pelo ser humano ao meio ambiente, leia: CARSON, R. Primavera silenciosa. São Paulo: Melhoramentos, 1968. 1965: o Prêmio Nobel da Paz foi para Schweitzer, por tornar popular a ética ambiental. A educação ambiental começou a fazer parte da educação nas escolas da Grã‑Bretanha. 1966: o Pacto Internacional sobre Direitos Humanos pela Assembleia Geral da ONU foi estabelecido neste ano. 1968: foi fundado o Clube de Roma, liderado por Aurelio Peccei e mais trinta especialistas de várias áreas. Os integrantes passaram a se reunir para discutir a crise e o futuro da humanidade. Na 12 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I ONU, a delegação da Suécia chamou atenção da comunidade internacional para a crise ambiental, sendo considerada a primeira observação oficial e incentivando a busca de soluções contra a piora dos problemas ambientais. 1970: as primeiras leis sobre educação ambiental foram promulgadas nos Estados Unidos. Os ideais sobre meio ambiente foram disseminados pela revista Ecologist. Os projetos que provocaram grandes impactos ambientais, com os quais convivemos até hoje, foram iniciados neste ano: o projeto Grande Carajás (sudeste do Pará, norte de Tocantins e sudoeste do Maranhão), construção de 900 km de ferrovia (Pará e Maranhão) e a usina hidrelétrica de Tucuruí. 1971: na assembleia das Nações Unidas, os países desenvolvidos propuseram que as reservas ambientais fossem controladas pelo fundo mundial. O primeiro exemplar do Bulletin of Environmental Education foi publicado na Grã‑Bretanha. Seus artigos divulgavam estudos ambientais que promoviam o entendimento das relações da sociedade no contexto urbano. 1972: o relatório publicado pelo Clube de Roma, Limites do Crescimento, estabeleceu modelos do planeta baseados nas técnicas de análise de sistemas, prevendo como seria o futuro se não houvesse alterações nos modelos de desenvolvimento econômico. O relatório indica que o consumo excessivo e o descarte de produtos e embalagens, o crescimento da sociedade a qualquer custo e o objetivo de se tornar cada vez maior, mais rica e poderosa, não considerando o custo final desse crescimento, podiam levar a humanidade a um possível colapso. Certamente, a classe política negou essas observações. Foi realizada em Estocolmo uma conferência da ONU sobre o meio ambiente, que reuniu chefes de estado de 113 países. A conferência gerou um documento, a Declaração sobre o Ambiente Humano, que estabeleceu um plano de ação mundial para melhoria da qualidade de vida dos povos e a preservação ambiental. A base dessas ações é a educação ambiental, que sempre foi e continua sendo considerada uma etapa crítica no combate à crise ambiental. Houve muitas controvérsias durante essa conferência, pois os representantes dos países menos desenvolvidos culpavam os representantes dos países desenvolvidos de limitar seu desenvolvimento industrial alegando como desculpa a poluição. Os representantes do Brasil afirmavam ser favoráveis à poluição, não dando importância para a degradação ambiental gerada, desde que aumentasse o Produto Nacional Bruto (PNB). Um cartaz dizia que a poluição era bem‑vinda e que o País receberia com prazer as empresas que trouxessem dólares e que gerassem empregos e desenvolvimento. O Brasil estava na contramão da História: enquanto o mundo se preocupava com a redução da poluição, o País abria‑se para as empresas interessadas na exploração predatória da natureza e ao modelo de desenvolvimento insustentável (DIAS, 2004). 1974: primeiro alerta sobre a diminuição da camada de ozônio devido ao uso do gás CFC em sistemas de refrigeração. 13 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Observação Os gases clorofluorcarbonos (CFCs) são utilizados como propelentes dos aerossóis em latas de sprays e como gases de refrigeração. O gás reage com o ozônio, ajudando na destruição da camada de ozônio. 1975: a Conferência de Belgrado foi um encontro promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para formular um programa internacional de educação ambiental a ser implantado no mundo todo. O estudo deve ser feito de maneira contextualizada, levando em conta os problemas regionais, com o objetivo de resolver problemas de interesse nacional. Essa conferência publicou a Carta de Belgrado, que trata do desenvolvimento do ambientalismo. 1976: a reunião sub‑regional de educação ambiental para o ensino secundário ocorreu no Peru; foi ressaltada a questão do meio ambiente na América Latina ligada às condições básicas de sobrevivência. O Ministério de Educação e Cultura (MEC) assinou o protocolo de intenções, que visava implantar no currículo escolar temas ecológicos, mas o estudo foi restrito à ecologia descritiva sem contextualização. A I Conferência Intergovernamental sobre a Educação Ambiental, promovida pelo Pnuma e pela Unesco, ocorreu em Tbilisi, na Georgia. Esse encontro foi uma extensão da Conferência de Belgrado e representou o ponto inicial do programa de educação ambiental; foram definidos os objetivos mais importantes e traçados planos de implantação nacionais e internacionais. 1979: no Brasil, uma proposta de ensino de Ecologia para 1º e 2º graus, cuja ementa era reducionista, foi implantada, mas não levava em conta problemas sociais, econômicos, políticos e culturais, como recomendado em Tbilisi. 1980: após o Seminário Regional Europeu para Educação Ambiental para Europa e América do Norte, organizado pela Unesco, chegou‑se à conclusão de que era necessário maior intercâmbio de informações e experiências entre os países. Infelizmente, apenas 20 países compareceram à reunião. A Agência de Proteção Ambiental americana (EPA) calcula que 70 mil produtos químicos eram fabricados nos Estados Unidos e cerca de 1.000 produtos novos eram produzidos por ano. 1981: 2 milhões de hectares de florestas, no período de dois anos, foram desmatados para o crescimento de Rondônia e Roraima; esse empreendimento foi custeado pelo Banco Mundial. Nem o governo brasileiro nem a Constituição de 1891 faziam referência ao meio ambiente; os projetos ambientais nunca saíam do papel, eram demagógicos e estavam sempre na contramão dos planos do governo brasileiro (DIAS, 2004). 1984: o governo mostrou a sua indiferença em relação às resoluções da conferência de Tbilisi quando retirou da pauta de votação a proposta do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que estabeleceu diretrizes para a educação ambiental. Esse projeto não voltou mais para votação em plenário. No mesmo ano, em Bhopal, na Índia, o metilisocianato, um gás venenoso, vazoude uma fábrica, matou mais de 2 mil 14 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I pessoas e feriu outras duzentas. Esse acidente industrial foi o mais grave do mundo até então e mostrou as sérias consequências quando uma população não tem informação ambiental. 1986: a resolução 001/86 do Conama foi aprovada, o que promoveu as bases e as diretrizes gerais para implementar a avaliação de impacto ambiental. No mesmo ano, ocorreu o acidente em Chernobyl, na Ucrânia, uma explosão de um dos reatores da usina nuclear, deixando escapar de 60% a 90% do combustível atômico; aproximadamente 10 mil pessoas morreram. O acidente afetou cerca de 4 milhões de pessoas, pois a nuvem radioativa se espalhou pelas Repúblicas Soviéticas e por cinco países da Europa. Acredita‑se que cerca de 20 mil pessoas morrerão de câncer nos próximos cinquenta anos devido à radiação absorvida (DIAS, 2004). Foi realizado o primeiro curso de especialização em educação ambiental, em Brasília, organizado pela Secretaria do Meio Ambiente (Sema), Fundação Universidade de Brasília (FUB), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), com o objetivo de formar pessoas para a implantação dos programas ambientais no Brasil e fomentar uma consciência crítica para o desenvolvimento do projeto. Infelizmente, o governo rapidamente boicotou e encerrou a iniciativa. 1987: foi divulgado o relatório da Comissão Mundial, “Nosso Futuro Comum”, que ressaltava o desenvolvimento sustável, a função da economia internacional, a elaboração de propostas reais para resolver os problemas ambientais, sem comprometer os recursos naturais para as gerações futuras. No mesmo ano, em Goiânia, ocorre mais um acidente ambiental: uma cápsula de césio‑137 foi retirada de um equipamento de radioterapia em um ferro‑velho sem os cuidados necessários, levando quatro pessoas a óbito, contaminadas pela radiação. Mais um acidente que mostra como a sociedade está despreparada para resolver e conviver com problemas desse tipo. No Congresso Internacional de Moscou, organizado pela Unesco – Pnuma, sobre educação e formação ambientais, foram apresentadas as dificuldades e conquistas relacionadas ao tema desde a conferência de Tbilisi e determinadas novas estratégias de ação para os próximos anos. Os países apresentaram um relatório de evolução de acordo com o que foi estabelecido em Tbilisi. Os representantes do Brasil não levaram nada para apresentar. O Protocolo de Montreal tinha como objetivo diminuir a emissão de poluição, evitando o aumento do “buraco” da camada de ozônio. Essa proposta foi baseada no encerramento da fabricação e uso dos gases CFCs até o ano 2000. 1988: em São Paulo, os 4,5 milhões de automóveis que circulavam pela cidade causavam 90% da poluição do ar. Nessa época, a Cetesb e a Secretaria do Meio Ambiente promoveram um alerta sobre a qualidade do ar e elaboraram uma campanha de coletivização com a participação da população. Duzentos mil veículos pararam de circular pelo centro expandido da cidade em resposta à alta degradação do meio ambiente. Na Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988, existem capítulos que destacam preocupações com o meio ambiente. 15 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS 1989: a Lei nº 7.735 (BRASIL, 1989a) criou o Ibama, que tem como objetivo estabelecer, coordenar e executar a política de conservação e preservação dos recursos naturais em todo o país. Essa criação foi vista como mais um incentivo à educação ambiental. O petroleiro Exxon Valdex, americano, colidiu com rochas e derramou quarenta e duas mil toneladas de óleo cru no mar do Alasca, mais um acidente ambiental de grande porte, produzindo uma mancha de 250 km2 e gerando prejuízos ambientais a 1.700 km de costa. O acidente matou 34 mil aves, 980 lontras e milhares de peixes e outros animais marinhos. A lista de animais em extinção, em território brasileiro, chegou a 25 espécies, segundo a sociedade Brasileira de Zoologia, contra 60 espécies em 1973 (DIAS, 2004). O Fundo Nacional de Meio Ambiente foi criado por meio da Lei nº 7.797 (BRASIL, 1989b). Ele é a principal fonte de verba de projetos relacionado para o meio ambiente. 1991: todos os sistemas de ensino deveriam implantar em seus currículos temas relacionados com a educação ambiental, segundo a portaria do MEC. O Projeto de Informações sobre Educação Ambiental do Ibama – MEC foi publicado como um encarte, com orientações básicas sobre Educação Ambiental, possuindo objetivos, recomendações e limitações em relação às necessidades nacionais (DIAS, 2004). Esse encarte foi o primeiro documento divulgado formalmente pelo governo brasileiro baseado nas recomendações de Tbilisi. Durante a Guerra do Golfo, sete milhões de barris de petróleo foram jogados no oceano, o que gerou prejuízos incalculáveis ao meio ambiente marinho. Após a guerra, 590 poços de petróleo do Kuwait foram incendiados, acarretando aparecimento de nuvens de fumaça negra espalhadas por toda a região. Mais uma ação irresponsável do homem em relação à natureza. 1992: a conferência da ONU sobre meio ambiente foi sediada no Rio de Janeiro e 170 países participaram. Nesse encontro, também conhecido como Rio‑92, foram discutidos: a situação ambiental do mundo e as mudanças, os progressos realizados desde a Conferência de Estocolmo, a determinação de estratégias globais e ações para solucionar as questões ambientais mais impactadas, estabelecendo diretrizes para medidas de proteção e preservação ambiental através do desenvolvimento sustentável, otimizando a legislação ambiental internacional e promovendo estratégias de desenvolvimento ambiental. Foi também estabelecida a necessidade de alteração do modelo de desenvolvimento atual para o desenvolvimento sustentável. O encontro gerou vários documentos que foram publicados, entre eles a Agenda 21, na qual foram estabelecidos planos de ação para o desenvolvimento sustentável. Dessa forma, a educação ambiental foi considerada como ponto estratégico para uma mudança de comportamento para um novo estilo de vida. Em Toronto (Canadá), ocorreu o Congresso Mundial de Educação e Comunicação sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no qual foram determinadas e promovidas ações mais realistas para melhorar a educação ambiental. 16 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I 1993: o MEC implantou centros de excelência em meio ambiente, nacionais e estaduais, seguindo as diretrizes da Agenda 21. Os centros tinham como função principal a formação ambiental de recursos humanos numa determinada região por meio de ações capacitando e informando os cidadãos na questão ambiental. Foi inaugurado pela Universidade do Rio Grande (RS), um Centro de Educação e Formação Ambiental Marinha. Podemos ainda citar outros centros que funcionam em Porto Seguro (BA), Manaus (AM), Foz do Iguaçu (PR) e Fernando de Noronha (PE). A falta de continuidade administrativa do governo provocou prejuízos ao desenvolvimento dos programas ambientais no Brasil. Como exemplo, temos o Ibama que, em menos de três anos, teve oito presidentes. O governo mostrou uma falta de vontade em considerar a questão ambiental como uma prioridade, destinando apenas 0,03% do seu orçamento para este fim. 1995: ocorreu em Berlim a Primeira Conferência das Partes para a Convenção sobre Mudanças Climáticas. A conferência foi um fracasso total, pois visava alcançar adesões voluntárias a um programa de reduções das emissões nos países industrializados. Como resultado ficou estabelecido o Mandato de Berlim, que tinha como objetivo específico a redução das emissões. 1997: visando estabelecer um acordo, os líderes dos oito países mais ricos, que são responsáveispor metade das emissões de gases de efeito estufa, se encontraram em Denver, no Colorado. Os Estados Unidos não mostraram comprometimento com a causa, não estabelecendo metas significativas para reduzir a poluição. O Presidente dos Estados Unidos na época, Bill Clinton, anunciou a sua posição para a Conferência de Quioto. Os Estados Unidos tinham o objetivo de estabilizar as emissões nos níveis de 1990 até o ano 2012. Entretanto, todos esperavam reduções mais significativas, devido à crise global causada pelo efeito estufa. Questões ambientais são incorporadas aos currículos escolares de forma transversal e os conteúdos reducionistas são retirados dos currículos. O MEC divulga os novos parâmetros curriculares nacionais – PCN. Foi realizada no Japão, em 11 de dezembro, a Conferência de Quioto, com a participação de 38 países industrializados, que concordaram com a redução, até 2012, de suas emissões de gases causadores de efeito estufa a níveis abaixo dos detectados em 1990. Os Estados Unidos concordaram com 7% de redução, a União Europeia, com 8%, e o Japão, com 6%. Muitas questões ficaram sem resolução. Os maiores poluidores do planeta não queriam abrir mão de seu desenvolvimento predatório. Ainda existia uma negociação para “cotas de emissões”: os países que não batessem a sua cota de emissões ficariam com créditos, que podiam ser vendidos para países que ultrapassassem suas metas de poluição. Pode‑se dizer que os resultados dessa conferência foram decepcionantes. Na Alemanha, foi promulgada uma lei que responsabilizava os fabricantes de produtos por todo o material de embalagem que geravam, o que levou ao aumento da reciclagem de materiais. 1998: a Lei dos Crimes Ambientais (BRASIL, 1998) sofreu todos os tipos de boicotes na Câmara e no Senado, tanto pelo governo quanto por aqueles que utilizavam os recursos naturais de forma predatória, mas representou uma vitória quando foi publicada no diário oficial. 17 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Em Buenos Aires, Argentina, ocorreu a IV Conferência das Partes para a Convenção das Mudanças Climáticas. O encontro visava acompanhar os resultados obtidos desde a Rio‑92. Os representantes dos países participantes determinaram um plano de ação, estipulando prazos sobre a implantação de medidas sobre o comércio de emissões e mecanismos de produção limpa. Dessa vez, os Estados Unidos assinaram o protocolo. Observação Os Estados Unidos, governados pelo presidente Bill Clinton, se negaram a assinar o Protocolo de Quioto em 1997. O fenômeno El Niño provocou sérias alterações climáticas, causando as maiores inundações da história da humanidade. 1999: segundo a Organização Mundial de Saúde, o estresse é a doença que mais mata pessoas no mundo, tornando‑se uma epidemia global. O Seminário Internacional de Biodiversidade e Transgênicos foi realizado em Brasília e teve como objetivo chamar a atenção não somente para o problema do uso dessa nova tecnologia, mas também para o seu controle. Ainda não existia uma avaliação das consequências causadas pela sua utilização, nem para os seres vivos nem para os ecossistemas. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial queriam promover a redução da distância entre as classes sociais, na Conferência das Nações Unidas para o Comércio. Essa ação foi justificada pelos resultados apresentados pelo relatório do Banco Mundial, “Informe do Desenvolvimento Mundial 1999/2000”. O relatório apontou que existiam 1,5 bilhões de pessoas, cerca de 23,5% da população mundial, vivendo com menos de um dólar por dia, sendo esta uma condição considerada de miséria. Aproximadamente quarenta milhões de pessoas morrem de fome por ano no mundo (DIAS, 2004). A Lei dos Crimes Ambientais (BRASIL, 1998), regulamentada pela Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e pelo Decreto nº 3.179, de 21 de setembro de 1999, revogado pelo Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008 (BRASIL, 2008), estabeleceram multas por crimes e infrações ambientais no valor de R$ 50 a R$ 50 milhões, de acordo com o impacto negativo causado ao meio ambiente. Nessa época, existiam 43 milhões de indigentes (indivíduo que ganha menos que R$73 por mês), representando 28% da população no Brasil, segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Um estudo da OMS mostrou que 50,2% da população brasileira possuía renda menor que R$ 149 por mês e era considerada pobre. Bahia e Maranhão são considerados os estados mais pobres. A distribuição da renda brasileira é extremamente desigual: 20% da população arrecadam 63% da renda nacional, enquanto 50% da população arrecadam apenas 11% da renda. A Empresa de Proteção Ambiental do Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia, foi premiada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso com o Prêmio Nacional de Qualidade, pois apresentou uma 18 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I iniciativa notável e padrões elevados de ecoeficiência, possuindo um programa de educação ambiental reconhecido. Um furacão destruiu a Índia e matou quase dez mil pessoas na região de Bengala. Devido às altas concentrações de fosfato e amônia presentes na água, provenientes das indústrias da região, os corpos retirados da água estavam mumificados. A energia eólica (proveniente do vento) é uma realidade e é considerada a forma de energia mais limpa do mundo. Países como Dinamarca, Alemanha, Estados Unidos, Índia e Espanha já estavam utilizando esse tipo de energia para fins comerciais e industriais. No estado do Ceará, aproximadamente 160 mil pessoas também estavam utilizando a energia eólica (DIAS, 2004). O Brasil é o recordista da América Latina em malária, a terceira doença infecciosa que mais mata no mundo, com 40% dos 1,2 milhões de infectados. A maior parte dos infectados estão na África (80%). Em 1999, ainda foram registrados mais de 200 mil casos de dengue e quase 5 mil de cólera, doenças infecciosas promovidas pela falta de saneamento e condições básicas de higiene. Entretanto, o Brasil ainda estava entre os dez países mais ricos do mundo. 2000: mais acidentes ambientais aconteceram, como o vazamento de petróleo da Refinaria Duque de Caxias, jogando 1,3 milhões de litros de óleo na baía da Guanabara e atingindo uma área de 50 km2. Logo em seguida, em outro vazamento no duto da Refinaria Getúlio Vargas, 4 milhões de litros de óleo cru vazaram nos rios Barigui e Iguaçu, causando prejuízos à captação de água para os municípios vizinhos e muitos impactos ao meio ambiente. O aumento da população do Rio de Janeiro e a chegada dos turistas superlotou a cidade. Assim, 216 milhões de litros de esgoto diários foram jogados nas lagoas de Camorim, Tijuca, Jacarepaguá, Lagoinha e Marapendi, sem nenhum tratamento. No carnaval, como consequência de tanta poluição e descaso, foram retirados da Lagoa Rodrigo de Freitas 130 toneladas de peixes mortos. Isso mostrou a incapacidade e a falta de vontade dos governantes com relação à organização da sociedade, principalmente em relação ao saneamento básico. No município de Palmas, no Paraná, foi inaugurada uma usina eólico‑elétrica que produzia 6,5 milhões de kW/h, o suficiente para abastecer cerca de 4 mil residências. Devido à falta de chuvas, a cidade de São Paulo viveu a maior seca do século e os reservatórios atingiram quantidades críticas de água. Essa situação foi gerada graças ao desperdício e à ocupação desordenada do solo, provocando o racionamento de água. Mais de cinco milhões de pessoas mantêm residência em condições irregulares, dos quais quase três milhões não têm saneamento e infraestrutura adequados. As áreas verdes estão sumindo e a cidade está cheia de pragas, como baratas, ratos e formigas. A seca atingiu o estado do Paraná e as cidades de Recife e Belém, que também sofreram com o racionamento de água. Produzimos 240 mil toneladas de lixo por dia,75% dos quais não têm a destinação final adequada: são despejados em lixões. Somente 15% do plástico é reciclado, enquanto a reciclagem de alumínio ultrapassa os números de reciclagem da Alemanha, Inglaterra e Japão graças à ação de catadores de lixo, evidenciando a miséria e a falta de empregos. 19 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS A comissão mista do congresso nacional, em 10 de maio, aprovou mais uma vergonha nacional: a alteração do Código Florestal, aumentando de 20% para 80% a área que pode ser explorada na Amazônia. Assim, a vegetação em cima dos morros e nascentes e margens de rios ficavam desprotegidas por lei. Após comoção e revolta internacional e muita discussão, a proposta foi abandonada. No mesmo ano, propôs‑se transformar os manguezais brasileiros em áreas de criação de camarões para comércio. Felizmente, esse projeto também foi rejeitado. A frota de automóveis do mundo só cresce e consumimos cerca de 67 milhões de barris de petróleo por dia. O carro é o símbolo do prestígio e do status da sociedade moderna e, ao mesmo tempo, também é o grande vilão poluidor das grandes cidades. As ONGs internacionais passaram a comprar áreas para a preservação depois que a política ambiental internacional perdeu a credibilidade devido à falta de ética dos legisladores. Assim, por exemplo, a The Nature Conservancy comprou o Atol Palmyra, no Havaí. A Conservation International comprou uma fazenda no Rio Negro, no Pantanal. Existiam, em 2000, 420 propriedades particulares destinadas à preservação ambiental no Brasil (DIAS, 2004). Orientadas por organizações não governamentais, comunidades nos Estados Unidos e Europa alcançaram a redução de 42% na produção de resíduos, economia de 16% de água e 15% de redução no consumo de combustível. As ONGs reuniram os cidadãos comuns para discutir e determinar maneiras de reduzir a produção de resíduos, reduzir o consumo de água e energia e consumir produtos verdes. A violência é gerada por um sistema insustentável e equivocado de desenvolvimento econômico, que produz riquezas que não são distribuídas de forma homogênea, causando a exclusão social. No Brasil, em 2000, 74 mil pessoas foram mortas, número superior aos 57 mil soldados mortos na Guerra do Vietnã, por exemplo (DIAS, 2004). Os estados do Pará e Mato Grosso são os campeões em devastação ambiental no País. As questões ambientais foram muito agravadas nos últimos 20 anos no Pantanal. Houve a introdução de pastagens artificiais na criação de gado, exploração predatória das florestas, inauguração de polos turísticos sem infraestrutura básica, contaminação dos rios com esgoto e lixo, pesca predatória, mineração ilegal e a navegação irresponsável. Esses fatos mostram o quadro de insustentabilidade vivida e o descaso das autoridades locais. A miséria contempla 1/4 da população do mundo, 1/3 dos adultos são analfabetos, 1/3 não possui acesso à água potável, 1/3 das crianças estão abaixo do peso normal e o desemprego aumenta, sem mencionarmos o número de brasileiros que trabalham informalmente e não têm nenhuma proteção social e trabalhista. Mais dados mostram que a insustentabilidade do sistema e a saúde da população estão intimamente ligados a esses fatores. Ao mesmo tempo, na Áustria, Dinamarca, Bélgica, Alemanha, Suíça, Suécia e Luxemburgo, a porcentagem de lixo orgânico reciclado cresce para 85%. A Alemanha declarou que vai desativar as nove usinas nucleares em funcionamento até 2021, de forma progressiva, adotando novas formas de energia limpa. Mesmo com essas medidas, o país ainda terá que resolver o problema gerado pelo armazenamento de resíduo das usinas nucleares. 20 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I Quais fatores a OMS levou em consideração para classificar o Brasil como 12º colocado entre 191 países em relação ao atendimento à saúde? Afinal, nós, brasileiros, sabemos que o sistema de saúde é precário e ineficiente. Especialistas brasileiros de várias áreas se reuniram para discutir temas como: diminuição da desigualdade social, gerenciamento dos recursos naturais, ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável, infraestrutura, agricultura sustentável e cidades sustentáveis e elaboraram um documento que foi nomeado Base para a Discussão da Agenda 21 Brasileira. A mídia não deu importância ao fato. A Embrapa desenvolveu uma nova tecnologia que revolucionou o plantio de soja na Dakota do Norte, nos Estados Unidos, aumentando a produção e proteção do ambiente. O novo método proposto emprega bactérias para fixar o nitrogênio nas raízes das plantas, não sendo necessário o uso de fertilizantes (DIAS, 2004). Os países mais ricos (20%) consomem quase 2/3 da energia mundial, enquanto os mais pobres utilizam apenas 4%. Nos 40 países mais pobres do mundo, ainda se utiliza madeira como combustível. Os Estados Unidos consomem aproximadamente 25% dos recursos energéticos do mundo com apenas 5% da população do planeta (DIAS, 2004). A devastação da floresta amazônica não para e, dos 600 km2 desmatados para produção de produtos agrícolas, no chamado “arco do desflorestamento”, 165 km2 apresentaram baixa produtividade e foram abandonados. Segundo Dias (2004), utiliza‑se a ética de todos contra todos: devastamos a floresta, exaurimos o solo e, por fim, abandonamos a área para erosão. Atualmente, a ordem é economizar água diante das perspectivas da falta de água potável no planeta em breve. Em 2000, cada mil litros de água tratada na Alemanha custam 2,36 dólares; na França, 1,35; na Inglaterra, 1,28; e no Brasil, 0,77. Esse fato explica por que os brasileiros desperdiçam tanto: a água custa pouco. O consumo de papel só cresce no mundo. Ainda que haja aumento de sua reciclagem para 36% do total da oferta de fibras, os benefícios gerados pelo processo são anulados, lembrando que o papel apenas pode ser reciclado seis vezes, pois suas fibras se tornam muito frágeis (DIAS, 2004). 1.1 Histórico e eventos Durante a década de 1970, os brasileiros viviam uma ditadura militar, cujos governantes não mostravam muito interesse em questões que pudessem limitar seu crescimento econômico. Na mesma época, apresentavam à mídia o Projeto Carajás e a usina hidrelétrica de Tucuruí, dois empreendimentos com alto impacto ambiental. Apesar do cenário nacional desfavorável, foi criada a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), pioneira dos movimentos ambientalistas no Brasil. O relatório Os Limites do Crescimento, do Clube de Roma, denunciava: o crescimento a qualquer custo e o consumismo selvagem levariam a humanidade a um colapso. 21 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Na Conferência de Estocolmo estabeleceram‑se princípios globais que inspiraram e orientaram a humanidade na preservação e melhoria do meio em que vivemos. Reunindo 113 países na Suécia, a conferência publicou o documento Declaração do Ambiente Humano (ONU, 1972), que estabeleceu um plano de ação mundial e recomendou a criação do Programa Internacional de Educação Ambiental. A educação ambiental foi considerada como um elemento crítico para o combate da crise ambiental, de acordo com a resolução no 96 da Conferência de Estocolmo. Quando foram propostos índices de diminuição para poluição atmosférica, os países em desenvolvimento não aceitaram as propostas apresentadas na conferência, acusando os países desenvolvidos de limitar o seu desenvolvimento industrial. Os representantes do Brasil, que só estavam interessados no desenvolvimento econômico e não tinham o menor interesse na questão ambiental, não se importavam em pagar o preço da poluição e da devastação ambiental, desde que houvesse a entrada de dólares no País (DIAS, 2004). Neste momento, foi criada a Secretaria do Meio Ambiente (Sema). Devido à dedicaçãode seus funcionários, em pouco tempo tornou‑se conhecida. O legado deixado pela Sema foi utilizado como base para a legislação ambiental, estabelecendo um programa das estações ecológicas e conquistas na área das normatizações. Sua atuação na área da educação ambiental foi muito limitada devido à falta de interesses políticos da época. Na conferência de Belgrado, em 1975, foram estabelecidos os princípios e orientações para um programa de educação ambiental (EA) global. Determinou‑se que essa ação deveria ser contínua, multidisciplinar, integrada aos problemas regionais e direcionada para os problemas nacionais. Foi estabelecido um prazo de dois anos para que esses mesmos países se reunissem outra vez para o acompanhamento dos avanços e dificuldades encontrados e para discutir novos conceitos e métodos para o desenvolvimento da educação ambiental. A humanidade teria que utilizar os recursos naturais para o seu benefício, visando melhorar a qualidade de vida. Diante da realidade mundial, a Carta de Belgrado estabeleceu a necessidade de eliminação da pobreza, da fome, do analfabetismo, da poluição e da exploração humana. Lembrete Em 1975, o Brasil era governado pelo presidente Geisel. O País se encontrava sob regime militar e aquilo que não estava de acordo com os ideais governistas era considerado subversivo. A classe política boicotava qualquer assunto que não fosse do seu interesse, principalmente programas de educação ambiental. Não havia uma política educacional definida, muito menos uma política de educação ambiental. O ecologismo foi implantado e crescia, mas havia conceitos deturpados. Mesmo estando relacionados à educação ambiental e à natureza, os conceitos não eram contextualizados levando em consideração os aspectos sociais, políticos e econômicos, apenas pregavam o “verde pelo verde”. 22 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I A Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, realizada em Tbilisi (1977), foi considerada a mais importante para o desenvolvimento da educação ambiental no mundo. Pregavam‑se visões deturpadas da educação ambiental. Os países ricos não concordavam com os discursos que comprovassem que as diferenças socioeconômicas, políticas, ecológicas, culturais e éticas eram resultado do modelo de desenvolvimento adotado nos últimos anos. A conferência de Tbilisi marcou o início do programa internacional de educação ambiental. Também alertou a comunidade internacional, que deveria incluir políticas de educação ambiental em seus currículos escolares, e chamou as autoridades de educação à reflexão, pesquisa e inovação na área ambiental. Propôs também um intercâmbio de informações e experiências, serviços de formação de recursos humanos, principalmente professores, entre os países (DIAS, 2004). Levar em consideração aspectos políticos, sociais, econômicos, científicos, tecnológicos, culturais e éticos era a recomendação principal para o desenvolvimento da educação ambiental. Para que os indivíduos pudessem entender a complexidade do mundo natural, o ensino, nas escolas e universidades, deveria informar e orientar as várias disciplinas para integração da visão ambiental, mostrando ainda as interdependências políticas, econômicas e ecológicas do mundo moderno (DIAS, 2004). As questões ambientais não devem ser analisadas de forma isolada, devendo considerar os aspectos sociais, políticos e econômicos. A educação ambiental pode ser aplicada para trazer informação e conhecimento para a população, visando instruir sobre as atitudes necessárias para melhorar, proteger, conservar a qualidade do meio ambiente e promover uma mudança de comportamento, deixando a sociedade capaz de solucionar os problemas ambientais, como melhoria da qualidade de vida. No Brasil, foram elaboradas e divulgadas propostas para ensino de 1º e 2º graus com abordagem reducionista, nas quais a educação ambiental ficaria limitada às ciências biológicas, como propuseram os países ricos, não levando em consideração os principais aspectos que envolviam a questão ambiental e não permitindo a formação de uma consciência crítica. Esse fato proporcionou revolta entre os ambientalistas e educadores envolvidos nos assuntos ambientais (DIAS, 2004). A Política Nacional do Meio Ambiente foi promulgada com a Lei nº 6.938 (BRASIL, 1981), pelo presidente João Figueiredo. Era o começo do desenvolvimento da educação ambiental e, infelizmente, os boicotes tornaram‑se mais evidentes. Passados oito anos após a Conferência de Tbilisi, o Brasil nada tinha feito em relação às diretrizes para educação ambiental devido à falta de conceituação e política. O MEC e a Sema, com os boicotes políticos, não conseguiam promover discussões e aprofundamentos sobre o tema. O Conama apresentou diretrizes para a educação ambiental, definindo‑a como: [...] o processo de formação e informação social, orientado para o desenvolvimento da consciência crítica sobre a problemática ambiental; de habilidades necessárias à solução de problemas ambientais, de atitudes que levem à participação das comunidades de preservação do equilíbrio ambiental (CONAMA, 2012, p. 8‑9) 23 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Para evitar a formação de consciência crítica dos indivíduos, essa resolução foi boicotada e retirada da pauta, pois não era de interesse dos governantes. Sempre houve iniciativa para a criação de cursos voltados para a educação ambiental e meio ambiente, por exemplo, o oferecido pela Universidade de Brasília (1º Curso de Especialização em Educação Ambiental), para formar profissionais para implantação de programas ambientais. O curso foi oferecido durante dois anos, mas devido aos fortes boicotes de setores extrativista, industrial e político, foi fechado. No entanto, o fechamento foi justificado com dificuldades financeiras. Mesmo assim, alguns profissionais foram formados; eles desenvolviam papéis importantes em seus estados e os objetivos do curso foram atingidos, formando a “nata da educação ambiental”. Devido a tantos boicotes, quase dez anos após Tbilisi, o Brasil ainda não havia feito nada, pois os professores não tinham recebido nenhuma instrução sobre a educação ambiental. Um assunto tão importante como esse foi confundido com ecologia e ensinado nas escolas de forma banal (DIAS, 2004). Às vésperas da Conferência de Moscou, na qual havia o acompanhamento dos resultados da educação ambiental, é que o Conselho Federal de Educação, finalmente, aprovaria o Parecer 226/87, que determinava a inserção da educação ambiental entre os conteúdos estudados nas escolas. Esse foi o primeiro documento oficial do MEC baseado na recomendação de Tbilisi. Em outras palavras, o Brasil levou dez anos para conseguir iniciar o estudo sobre o tema. Contudo, não tínhamos resultados para discutir na Conferência de Moscou, que ocorreu em 1987 (DIAS, 2004). Grandes catástrofes mundiais viraram manchete nos jornais, como os acidentes em Chernobyl e Bophal, atos terroristas e revoluções, a diminuição da camada de ozônio, efeito estufa, as alterações climáticas, o desmatamento acelerado, as safras agrícolas frustradas, as queimadas (consequência do calor excessivo), a desertificação, o crescimento populacional desordenado, a erosão de áreas desmatadas, a diminuição da população de peixes, a poluição do solo, das águas e do ar, as pragas e doenças tropicais, a Aids, o aumento do número de espécies ameaçadas de extinção e da pobreza, da miséria e da fome no mundo. As previsões de especialistas estavam virando realidade. Muitas empresas procuravam novos acordos para firmar regimes internacionais, como o Protocolo de Montreal, que visava à proteção da camada de ozônio, dando continuidade à Convenção de Viena (1985), que teria aperfeiçoamento na Emenda de Londres (1990). Graças às pesquisas realizadas para obtenção do conhecimentocientífico aplicado às questões ambientais, a comunidade científica, juntamente com os produtores de CFC, determinou quais eram os principais problemas e estabeleceram políticas de diminuição de emissão de poluentes adotadas para minimizar o problema (DIAS, 2004). Em 1988 foi promulgada a nova Constituição Federal. No Capítulo IV, artigo 223, ficou declarado que o governo tem o papel de promover a educação ambiental dentro e fora das escolas, estimulando a conscientização pública e promovendo a preservação do meio ambiente (BRASIL, 1988a). O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), criado em 1989, visava formular, coordenar e executar a política nacional do meio ambiente. O instituto tem 24 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I a função de incentivar a preservação, o fomento e o controle dos recursos naturais renováveis no Brasil. O Ibama nasceu da junção de quatro órgãos que se relacionavam com as questões ambientais: Sema, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), Superintendência de Pesca (Sudepe) e Superintendência da Borracha (Sudhevea). Entre eles, apenas o Sema tinha recursos humanos com capacitação na temática ambiental. O instituto tornou‑se uma divisão sem autonomia, engessada em sua burocracia, não promovendo nenhuma ação na temática ambiental, muito menos na educação ambiental (DIAS, 2004). O Curso de Especialização Ambiental da Universidade de Brasília fomentou a formação da consciência crítica como um exercício multidisciplinar de análise de temas ambientais, com o objetivo de aumentar a qualidade de vida e a conservação ambiental. O curso foi banido da Universidade de Brasília e recebido na Universidade Federal do Mato Grosso, em Cuiabá, onde foi oferecido por mais quatro vezes até ser fechado pelos mesmos interesses políticos e econômicos já apresentados. Muitos documentos foram gerados, muitas propostas e tratados não passaram de festividades e nada em relação à educação ambiental havia sido colocado em prática, mesmo após quatorze anos da conferência de Tbilisi. Nessa época, alguns funcionários do Ibama e do MEC redigiram uma proposta de divulgação/informação das diretrizes básicas da educação ambiental, direcionada aos professores de Ensino Fundamental, com um encarte distribuído à revista Nova Escola. Junto ao encarte, os professores recebiam um questionário com postagem paga para a resposta. O documento foi publicado por ordem do presidente Fernando Collor de Melo e foram distribuídos 140 mil encartes em todo o País, chamados de Projeto de Informações sobre a Educação Ambiental. De todos os professores que receberam o encarte, 85% responderam afirmando que aquele era o primeiro material que recebiam sobre educação ambiental, isto é, existia uma ignorância absoluta sobre o tema. O MEC criou um grupo de trabalho para a educação ambiental e, a partir daí, várias iniciativas foram implantadas, principalmente depois da Rio‑92, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro, que reuniu 170 países. A Rio‑92 reforçou as propostas de Tbilisi e Moscou sobre a questão da educação ambiental, visando concentrar esforços na eliminação da ignorância ambiental e na formação de pessoal. Com o objetivo de colocar em prática as recomendações aprovadas na Rio‑92, o MEC reuniu de forma permanente um grupo de trabalho para se dedicar à implantação da educação ambiental nos sistemas de Ensino Fundamental, Médio e Superior. Esse grupo organizou encontros em todas as regiões do País com as Secretarias de Educação para formular, em conjunto, programas de educação ambiental que foram impactados pela falta de informação sobre o assunto por parte dos participantes. Esse grupo realizou, em apenas dois anos, o que o governo brasileiro não teve interesse em fazer desde 1977 (DIAS, 2004). Nos anos seguintes, as atividades do grupo foram reduzidas, principalmente devido a boicotes financeiros. Sabemos, por exemplo, que a verba destinada à educação ambiental é de apenas 0,03%, mesmo os governantes afirmando que o tema é uma prioridade e um sistema importante de gestão ambiental. Podemos observar que existem poucos profissionais que atuam na área e uma carência na capacitação de novos profissionais. 25 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS A Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, sobre a Política Nacional de Educação Ambiental, foi resultado do Programa Nacional de Educação Ambiental, redigido pelo Ministério da Educação e do Desporto (MEC), o Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos da Amazônia Legal (MMA), o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e o Ministério da Cultura (MinC). A educação ambiental tem o objetivo de preparar a sociedade para um novo paradigma do desenvolvimento sustentável, utilizando como estratégia princípios de responsabilidade individual de atuação para solucionar os desafios ambientais, que englobam a recuperação da natureza e valores éticos de sobrevivência. O desenvolvimento sustentável deixa de ser considerado uma utopia e passa a ser crucial para a sobrevivência da raça humana. A educação ambiental é a sua principal ferramenta; por meio dela, a população será instruída a buscar novas alternativas de vida sustentável. A seguir, veja o discurso de Mikhail Gorbachev no Encontro Rio +5, realizado em 1997 (apud DIAS, 2004, p. 97): [...] o maior desafio tanto da nossa época como do próximo século é salvar o planeta da destruição. Isso vai exigir uma mudança nos próprios fundamentos da civilização moderna, o relacionamento do ser humano com a natureza. A Comissão Interministerial afirmou que a educação ambiental incorporava aspectos políticos, culturais, socioeconômicos e históricos, que não deviam ser analisados isoladamente, levando em consideração a realidade de cada região ou país. A educação ambiental deve fomentar o entendimento do meio ambiente e suas interações com os diversos elementos da sociedade, utilizando os recursos de forma sustentável. Assim, a educação ambiental é um processo de aprendizagem contínua, baseado no respeito entre todas as formas de vida. 1.2 Marcos significativos da legislação ambiental A Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) foi estabelecida a partir da Lei nº 6.938 (BRASIL, 1981) e foi um marco na evolução da gestão ambiental no Brasil. A PNMA foi escrita a partir de uma reflexão crítica sobre muitos pontos de vistas e várias características importantes na evolução da gestão ambiental praticada no País por muitas décadas (CALIJURI; CUNHA, 2013). A lei expressa claramente o reconhecimento da relação do desenvolvimento social e econômico com a questão ambiental como sendo um dos objetivos da Política Ambiental. Estabelece em seu artigo 2º: [...] A Política Nacional do meio ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana [...] (BRASIL, 1981). 26 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I Para o comprimento da PNMA, a lei determina também os seguintes princípios norteadores: I – ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; II – racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; III – planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; IV – proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; V – controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; VI – incentivos ao estudo e a pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e para a proteçãode recursos ambientais; VII – acompanhamento do estado da qualidade ambiental; VIII – recuperação de áreas degradadas [...]; IX – proteção de áreas ameaçadas de degradação; X – educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá‑la para participação ativa na defesa do meio ambiente (BRASIL, 1981). Podemos notar que a perspectiva do desenvolvimento sustentável já se manifesta nos propósitos dessa lei, no artigo 4º: “A Política Nacional do Meio Ambiente visará: I ‑ à compatibilização do desenvolvimento econômico‑social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico [...]” (BRASIL, 1981). Para a implementação da PNMA foi criado o Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), com o objetivo de promover uma abordagem integrada no tratamento da questão ambiental nas diversas instâncias governamentais. Assim, a estrutura organizacional foi constituída da seguinte forma: I – órgão superior. Conselho do governo: com a função de assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais; II – órgão consultivo e deliberativo. Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas 27 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida; III – órgão central. O Ministério de Meio Ambiente, com a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente; IV – órgão executor. O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, com a finalidade de executar e fazer executar, como órgão federal, a política e diretrizes governamentais fixadas pelo meio ambiente; V – órgão setoriais. Os integrantes da Administração Federal direta e indireta, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, cujas atividades estejam associadas às de proteção da qualidade ambiental ou àquelas que disciplinam o uso de recursos ambientais; VI – órgãos seccionais. Os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental; VII – órgãos locais. Os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições (BRASIL, 1981). A estrutura foi reproduzida nas esferas estaduais e municipais, com os ajustes necessários às operações exigidas nesses níveis governamentais e as relativas competências institucionais. Temos que destacar a competência dos conselhos estaduais como instância decisória do licenciamento ambiental e a maior participação de membros da sociedade civil na sua composição. O Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) é o órgão colegiado instituído com o propósito de articular os diversos setores e instâncias governamentais, bem como os agentes sociais e empresariais, na formulação de diretrizes de política ambiental. O Conama constitui uma importante instância de interação entre representantes da União, dos estados e municípios, da iniciativa privada e de organizações da sociedade civil. Assim, torna‑se um mecanismo de participação social e uma alternativa de cooperação propícia para a resolução dos conflitos ambientais. A relevância do perfil da composição do Conama está associada às funções e competências institucionais que esse conselho representa. O Conama é presidido pelo órgão central (Ministério do Meio Ambiente). Suas competências mais relevantes são: I – Estabelecer normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras [...]; 28 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I III – Decidir, como última instância administrativa em grau de recurso, mediante depósito prévio, sobre as multas e outras penalidades impostas pelo Ibama [...]; V – Determinar, mediante representação do Ibama, a perda ou restrição de benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; VI – Estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos ministérios competentes; VII – Estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos [...] (BRASIL, 1990b). Devemos esclarecer que as deliberações do Conama devem ser consideradas diretrizes e normas gerais da política nacional. Contudo, os estados e os municípios, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição, podem elaborar normas supletivas e complementares e padrões relacionados com o meio ambiente, desde que sejam observados os que forem estabelecidos pelo Conama. Para a implementação dos princípios e objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente, foram estabelecidos instrumentos de atuação e condução da gestão ambiental: I – o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; II – o zoneamento ambiental; III – a avaliação de impactos ambientais; IV – o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; V – os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; VI – a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; VII – o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; VIII – cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa Ambiental; 29 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS IX – as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não comprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiente; X – A instituição do Relatório de Qualidade de Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – Ibama; XI – A garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando‑se o Poder Público a produzi‑las, quando inexistentes; XII – O cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ ou utilizadoras dos recursos ambientais; XIII – instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro ambiental e outros (BRASIL,1990b). Podemos observar que os instrumentos estabelecidos na Política Nacional de Meio Ambiente se caracterizam pelas várias maneiras de sua aplicação: • instrumentos que incidem diretamente nas atividades e agentes potencialmente impactantes, como licenciamento ambiental, padrões de efluentes e emissão e avaliação de impactos ambientais; • instrumentos que subsidiam a aplicação e o acompanhamento dos demais como relatório de qualidade, penalidades, entre outros. Dessa forma, podemos afirmar que os instrumentos estabelecidos na política abrangem o perfil básico de maneiras de aplicação, havendo ainda outros mecanismos subsidiários de acompanhamento do desempenho e de resultados de sua aplicação (CALIJURI; CUNHA, 2013). Os instrumentos estabelecidos na nova abordagem de gestão ambiental adotada pela Política Nacional de Meio Ambiente rompem com a visão tradicionalde órgão ambiental fiscalizador e incorporam a perspectiva do planejamento de ações de gestão ambiental. Como exemplo, podemos citar a inclusão do zoneamento ambiental e da avaliação de impactos ambientais. O mesmo poderia ser válido para os padrões ambientais. Além de cumprirem as funções de fiscalização, esses instrumentos incluem também uma perspectiva de planejamento e exercem um papel de relevância ao integrarem os programas de médio e longo prazo e determinando a classificação de rios. Devemos salientar que, à medida que a efetividade de cada instrumento precisa do suporte dos demais, é impossível eleger algum como determinante. Assim, a efetividade da gestão ambiental é determinada pela capacidade de integração da aplicação desses instrumentos previstos na Política Nacional entre si e com outros disponíveis nas políticas setoriais, como na política de gestão de águas. Portanto, a gestão ambiental precisa de uma atuação integrada das várias políticas públicas, que se tornam corresponsáveis da efetivação dos objetivos da política ambiental. Devemos ressaltar que a aplicação desses instrumentos deve considerar mecanismos de participação pública. Assim, os procedimentos de aplicação desses instrumentos são estabelecidos pelos conselhos de meio ambiente nas suas diferentes esferas de atuação, o que torna possível uma participação sistemática da sociedade civil. 30 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I Os objetivos da Política Nacional de Meio Ambiente foram estabelecidos com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que incorpora e amplia vários princípios e objetivos fundamentais dessa política e explica alguns dos seus instrumentos no texto constitucional. Podemos destacar alguns dos principais elementos de consolidação da PNMA: a) A consideração do ambiente como bem de uso do povo e de que, como tal, a sua apropriação deve se subordinar ao interesse público, exigindo responsabilidade e ação determinante de planejamento do poder público. b) A participação pública nas instâncias decisórias, a partir da determinação da responsabilidade coletiva na sua gestão. c) A perspectiva da sustentabilidade quando está prevista a preservação para as presentes e futuras gerações. d) A explicação das responsabilidades do poder público, envolvendo o poder executivo, judiciário e legislativo. e) A exigência da avaliação de impactos ambientais como instrumento preventivo fundamental para a gestão ambiental. f) A exigência de recuperação de áreas degradadas pelas atividades de mineração. g) A ampliação e o fortalecimento da ação de fiscalização na atividades lesivas ao meio ambiente (CALIJURI; CUNHA, 2013, p. 711). As principais leis ambientas são do tipo ordinárias, como a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente – LPNMA, a Lei nº 9.605, de 12 de agosto de 1998, e a Lei de Crimes Ambientais. Essas leis infraconstitucionais são regulamentadas por decretos, como o Decreto nº 99.274 (BRASIL, 1990b), que dispõe sobre a LPNMA, e o Decreto nº 3.179, que regulamenta a LCA. Devemos citar também o Decreto nº 99.733, que dispõe sobre a inclusão, no orçamento, de projetos federais, de recursos destinados a prevenir ou corrigir os prejuízos de natureza ambiental e social decorrentes da execução desses projetos e obras. Entre as leis ambientais brasileiras de peso, sem desconsiderar a contribuição de todas as outras, como a Lei sobre Responsabilidade Civil e Criminal por Danos Nucleares (BRASIL, 1977) e a Lei sobre Parcelamento Urbano (BRASIL, 1979a), é importante citar a Lei nº 6.803 (BRASIL, 1980), que dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição e estabelece outras providências. Temos que mencionar a Lei nº 7.661 (BRASIL, 1988b), que institui o Plano Nacional de Gerenciamento, prevendo o zoneamento de usos e atividades na Zona Costeira, regulamentada pelo Decreto nº 9.193, de 27 de março de 1990, que dispõe sobre a atividade relacionada ao zoneamento ecológico‑econômico, e Decreto nº 99.540 (BRASIL, 1990c), que institui a Comissão Coordenadora do Zoneamento Ecológico‑econômico do Território Nacional, que foi revogado pelo Decreto de 28 de 31 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS dezembro de 2001 (BRASIL, 2001a); a Lei nº 8.171 (BRASIL, 1991), que dispõe sobre a política agrícola, determinando a realização de zoneamento agroecológicos; a Lei nº 10.257 (BRASIL, 2001b), que institui o Estatuto da Cidade; a Lei nº 10.650 (BRASIL, 2003), a Lei de Acesso à Informação Ambiental. Algumas vezes, os municípios ignoram o macrozoneamento, os gerenciamentos transmunicipais e as diretrizes gerais estabelecidas por outros entes federativos na realização de suas funções, como os estados ignoram as particularidades dos municípios. As duas situações trazem conflitos entre as autoridades, provocando falhas no sistema de gerenciamento ambiental local e regional, o que repercute no fracasso das políticas nacionais. Por esse motivo, é importante a extração, no Princípio de Desenvolvimento Sustentável, da orientação de se optar pela abordagem integrada. A edição de normas que coadunam a gestão ambiental local com a regional e a nacional é uma importante medida a esse respeito. Um exemplo é a Lei do Estatuto das Cidades, Lei nº 10.257 (BRASIL, 2001b), que estabelece diretrizes gerais da política urbana e outras providências. Essa lei reforça o papel dos municípios na avaliação dos fatores ambientais da cidade, a partir das exigências de realização de Estudos de Impacto de Vizinhança, integrando‑se à organização da cidade como um todo que seja parte em planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social, bem como no planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões. 2 CONCEITOS DE GESTÃO AMBIENTAL O campo da gestão ambiental é muito extenso. Essa extensão se explica porque o tema meio ambiente precisa ser entendido em sua complexidade como um conjunto de fatores que constituem o todo. O que acontece, na realidade, é que a extensão dos problemas costuma não ser conhecida como decorrência das diversas facetas que compõem as questões ambientais como se fossem compartimentos independentes, cuja importância e emergência dependem do problema a ser resolvido. A condução de uma gestão é formada por um conjunto de ações e medidas articuladas e regidas por um determinado objetivo e orientação. A gestão torna‑se indispensável em qualquer atividade e processo que envolva e precise de um equacionamento entre fatores favoráveis e desfavoráveis. A gestão empresarial busca um retorno satisfatório do investimento, o lucro, com medidas que potencializem os fatores favoráveis e minimizem os fatores desfavoráveis – os custos. Assim, a gestão sempre está vinculada à busca de equacionar, de maneira favorável, os assuntos conflitantes. A gestão ambiental é regida por uma lógica analítica (CALIJURI; CUNHA, 2013). Equacionar os problemas é uma função imediata da gestão ambiental. Para solucionar problemas ambientais, precisamos de ações preventivas, direcionando esforços para fatores que realmente causam prejuízos ao meio ambiente. A humanidade explora o ambiente gerando alterações nas condições, na disponibilidade e na qualidade do meio apenas para satisfazer suas necessidades básicas. A compreensão da problemática ambiental passa pela identificação das motivações e ações motrizes geradoras dessas modificações ambientais. Assim, é indispensável o entendimento do processo de geração dos impactos ambientais 32 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I ocasionados pela sociedade na busca da satisfação de suas necessidades e de suas aspirações sociais (CALIJURI; CUNHA, 2013). As necessidades sociaisestão ligadas ao desenvolvimento de uma sociedade, determinado pelas pretensões de padrões e consumo. Esses padrões estão ligados aos bens e produtos consumidos ou produzidos por uma determinada parte da sociedade e estão associados à necessidade de recursos naturais e intervenções na natureza. A realidade ambiental é o resultado de processos interativos e dinâmicos que acontecem entre os componentes da natureza e da sociedade. Dependendo das mudanças impostas pelo homem, o meio ambiente reage em resposta aos impactos causados, gerando situações indesejáveis como catástrofes naturais. Assim, o processo de geração dos impactos ambientais ocorre mediante as seguintes ações: as demandas sociais, movidas pelas necessidades, e as aspirações da sociedade levam à condução de determinadas intervenções que constituem o conjunto de atividades sociais e econômicas para a produção de bens e serviços. Para isso, são feitas alterações nos sistemas ambientais e utilizados recursos dos sistemas, o que resulta em diferentes possibilidades de impactos ambientais, favoráveis e desfavoráveis. As atividades humanas refletem as demandas sociais que impõem determinados usos de recursos e intervenções nos sistemas ambientais. O desafio da gestão ambiental consiste em atingir resultados benéficos necessários para a sociedade sem prejuízo e comprometimento da disponibilidade das condições humanas (CALIJURI; CUNHA, 2013). Torna‑se fundamental que as ações da gestão ambiental sejam direcionadas para atuar nas necessidades sociais prioritárias, bem como na forma e nas alternativas de desenvolver as atividades humanas, visando evitar as alterações e situações indesejáveis nas condições ambientais. Essas mudanças e situações não desejáveis são resultado das intervenções ou maneiras de uso de um determinado recurso natural, podendo comprometer outras utilizações ou outros recursos e sistemas ambientais. Assim, pode‑se observar, como exemplo, que a qualidade da água de um rio pode ser considerada imprópria para uso e consumo humano quando o rio é usado para lançamento de esgotos urbanos ou efluentes industriais. O mesmo pode ocorrer quando utilizamos certa quantidade de água para irrigação na agricultura que prejudique a disponibilidade para o uso industrial ou geração de energia. Outro exemplo semelhante acontece quando um ecossistema com relevantes atributos ecológicos e paisagísticos, destinado ao turismo, é ocupado pela população urbana ou por obras portuárias. Os conflitos de uso da Amazônia envolvem a relevância da sua biodiversidade, do seu potencial como reserva extrativista e da sua importância florestal, enquanto a defesa do seu uso para a agropecuária evidencia o debate entre as visões sobre o modelo de desenvolvimento que se planeja para a região. Logo, os conflitos de utilização aparecem a partir das necessidades da própria sociedade na destinação dos recursos naturais. A questão ambiental se originou a partir da utilização conflitante gerada pelas necessidades da sociedade em relação a um recurso natural e pelas próprias alterações das condições ambientais (CALIJURI; CUNHA, 2013). Os problemas ambientais surgem da falta de adequação ou insustentabilidade dos padrões de produção e de consumo que formam o modelo de desenvolvimento. Dessa maneira, os impactos ambientais são diferenciados de acordo com as intervenções realizadas nos recursos naturais correspondentes às necessidades sociais de cada modelo de desenvolvimento. A problemática ambiental é muito grave e 33 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS mostra o esgotamento de um modelo de desenvolvimento muito predatório, socialmente perverso e politicamente injusto. Nesse contexto, surge o conceito de desenvolvimento sustentável. Podemos ressaltar que a problemática ambiental é consequência do modelo de desenvolvimento adotado em cada região ou sociedade, refletindo nos seus padrões de produção e consumo. Essa percepção foi reconhecida internacionalmente na Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a partir da Rio‑92, quando o desenvolvimento sustentável se tornou uma referência conceitual para a gestão ambiental. Existem várias explicações para os acontecimentos históricos, sociais e religiosos que determinaram a postura e as condutas do homem em relação ao meio ambiente. A visão antropocêntrica da civilização ocidental foi algo incontestável até alguns anos atrás. A noção de civilização estava associada ao grau de intervenção humana com o saber e sua convicção de superioridade absoluta sobre o meio ambiente. Com o desenvolvimento de tecnologias cada vez mais poderosas de apropriação dos recursos naturais, a noção de civilização se agrega à perspectiva da produção de riqueza, entendida como a capacidade da sociedade de dispor dos bens considerados indispensáveis ao homem civilizado. A capacidade de produzir bens tornou‑se um indicador de riqueza, e os incrementos sucessivos dessa produção passaram a indicar o progresso ou grau de desenvolvimento das sociedades ou países. A ideia de crescimento da produção de bens materiais emergiu como sinônimo de desenvolvimento. Com essa conotação econômica, todos os esforços foram destinados ao incremento crescente de meios capazes de elevar os níveis de crescimento econômico como sinônimo de desenvolvimento (CALIJURI; CUNHA, 2013). Lembrete O desenvolvimento industrial propiciou à humanidade o acesso e o consumo de bens materiais jamais atingidos na sua história. Com as tecnologias resultantes, houve facilidades e melhorias significativas nas condições de vida do homem. O desenvolvimento econômico veio acompanhado da exigência de elevadas magnitudes de recursos naturais finitos e da geração de efeitos indesejáveis aos bens públicos, sobretudo à qualidade ambiental. Sem falar nos benefícios que foram distribuídos sem equidade social. Se levarmos em consideração os dados do Brasil sobre a evolução econômica nas décadas de 1970 e 1980, notamos grande desigualdade social e, mesmo após um significativo crescimento econômico nesse período, não foi observada nenhuma melhoria nas condições de pobreza e na renda (CALIJURI; CUNHA, 2013). Esse desenvolvimento mostrou‑se socialmente injusto, perverso e ecologicamente insustentável. Dessa forma, ficou evidente o outro lado da moeda. Sugiram vários questionamentos sobre a postura da humanidade em relação à apropriação dos recursos naturais e controvérsias quanto ao grau de determinação que o crescimento econômico representa na obtenção de um desenvolvimento pleno em suas várias dimensões: sociais, ecológicas e outras além da econômica. Ficou evidente que os recursos naturais eram finitos em relação à sustentação do desenvolvimento, o que nos remete à questão dos limites do crescimento como requisito indispensável à sustentabilidade do desenvolvimento desejado. 34 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I Assim, destaca‑se o relatório Os Limites do Crescimento (MEADOWS et al., 1978), elaborado pelo Clube de Roma, que prognosticava um colapso no planeta em um futuro próximo se mantidas as tendências de crescimento da população do mundo. Diante das discussões e preocupações, a ONU promoveu, em Estocolmo, a Primeira Conferência Mundial sobre o Ambiente Humano. Apesar das controvérsias e da heterogeneidade dos interesses envolvidos, os princípios e recomendações resultantes dessa conferência representaram um marco no enfoque conceitual do desenvolvimento. Declara‑se a falência do modelo de desenvolvimento existente e preconiza‑se a necessidade de alternativas que privilegiem a qualidade do crescimento e reconheçam o ambiente como dimensão fundamental e base de sua sustentação. Foi introduzido, então, o conceito de desenvolvimento ecologicamente sustentável e socialmente justo, o chamado “desenvolvimento sustentável”. A partir disso, a comunidadecientífica e os governantes têm se esforçado para explicar os desvios conceituais do desenvolvimento sustentável, com o objetivo de configurar estratégias para atingir essa meta. Apesar de existirem visões contrárias a quaisquer limites ao crescimento econômico, sob o argumento de que a evolução tecnológica tem se mostrado capaz de atender às demandas da sociedade, predominou a convergência da percepção da necessidade de que se imponham limites ao sistema econômico e de que o crescimento é um requisito insuficiente para atingir o desenvolvimento. Paralelamente à intensificação do debate pelas autoridades governamentais e a comunidade científica para explicitar os desvios conceituais e os objetivos e estratégias para configurar a condução do desenvolvimento sustentável, tornam‑se mais evidentes os dados sobre as relações do desenvolvimento com as questões sociais e das mudanças climáticas. As iniciativas e manifestações internacionais evoluíram para a criação da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente (Cima), instituída pela ONU, que resultou no relatório Nosso Futuro Comum, em que se propõe a seguinte definição de desenvolvimento sustentável: é aquele que atende as necessidades das gerações atuais sem comprometer o atendimento das necessidades das gerações futuras (CALIJURI; CUNHA, 2013). Vários eventos internacionais e a Conferência da Nações Unidas de Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD Rio‑92, consagraram o conceito de desenvolvimento sustentável. Os compromissos firmados na Rio‑92 pelos governos nacionais consolidaram a perspectiva de se redirecionarem os processos de crescimento econômico vigentes para um novo modelo de desenvolvimento regido pela integração e sustentabilidade nas suas dimensões sociais, econômicas, ecológicas, geopolíticas e culturais. Postula‑se uma nova modalidade de desenvolvimento: o que esteja comprometido em utilizar os recursos naturais prioritariamente para a satisfação das necessidades da população como forma de elevar a qualidade de vida das atuais e futuras gerações. Essa perspectiva está expressa no 3º Princípio da Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento: o direito ao desenvolvimento deve ser exercido de forma que responda equitativamente às necessidades de desenvolvimento ambientais das gerações presentes e futuras (SÃO PAULO, 1993). A busca por um desenvolvimento sustentável reflete o consenso internacional, sobretudo quanto à íntima relação entre pobreza e degradação, o que permitiu a superação da visão tradicional que opõe a melhoria da qualidade ambiental ao desenvolvimento. Consolida‑se, assim, uma nova visão: os 35 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS problemas ambientais e sociais são resultantes da dinâmica e da estratégia de um determinado modelo de desenvolvimento, ou seja, um modelo de crescimento econômico que não promove o desenvolvimento social e se revela nefasto na apropriação do patrimônio natural. Assim, preconiza‑se a necessidade da adoção de novas estratégias de condução do processo de desenvolvimento, privilegiando a sua qualidade de crescimento como uma dimensão a ser respeitada e valorizando os recursos ambientais como base fundamental de sua sustentação (CALIJURI; CUNHA, 2013). Conforme ressalta o relatório da ONU (2012), a conceituação do desenvolvimento sustentável ocasiona questões essenciais relativas ao conceito de necessidades e aos limites de intervenção ambiental, que são função do estágio atual da organização social, da tecnologia disponível e da capacidade de assimilação de impactos pela biosfera. O atendimento das necessidades essenciais das populações pobres é certamente a perspectiva social preconizada pelo desenvolvimento. Mesmo assim, essas necessidades não poderão ser atendidas se forem mantidos os padrões de produção e consumo vigentes, sobretudo pelos países mais industrializados, sem comprometimento com os limites ambientais. Impõe‑se uma maior equidade no acesso aos recursos não renováveis, como também as buscas de alternativas tecnológicas de produção que se enquadrem nos limites de sustentação da biosfera. Forma‑se um consenso de que a condução do desenvolvimento sustentável abrange, simultaneamente, as dimensões sociais, econômicas e ecológicas. Esse desenvolvimento considera, como suas características fundamentais, a equidade na distribuição dos bens econômicos e ecológicos, o consenso social dos seus propósitos econômicos e a prudência na apropriação dos recursos ambientais (CALIJURI; CUNHA, 2013). Segundo Sachs (1993), o planejamento do desenvolvimento deve considerar as seguintes dimensões de sustentabilidade: • a sustentabilidade social, visando à construção de uma civilização com maior equidade na distribuição de renda e de bens, de modo a reduzir o abismo entre os padrões de vida dos ricos e dos pobres; • a sustentabilidade cultural, incluindo a procura de raízes endógenas de processos de modernização e de sistemas agrícolas integrados, e processos que busquem mudanças dentro da comunidade cultural e que traduzam o conceito normativo de ecodesenvolvimento em um conjunto de soluções específicas para a região, ecossistema e cultura; • a sustentabilidade espacial, que deve ser direcionada para a obtenção de uma configuração rural‑urbana mais equilibrada e uma melhor distribuição territorial dos assentamentos humanos e das atividades econômicas, com ênfase na proteção da biodiversidade, na redução da concentração excessiva das áreas metropolitanas, na reversão da destruição de ecossistemas frágeis, na exploração do potencial da industrialização descentralizada, acoplada à nova geração de tecnologias; • a sustentabilidade econômica, que deve ser viabilizada pelo gerenciamento mais eficiente dos recursos de um fluxo constante de investimentos. A eficiência econômica deve ser avaliada em termos macrossociais, e não apenas através do critério de rentabilidade empresarial de caráter microeconômico; 36 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I • a sustentabilidade ecológica, que pode ser melhorada pela ampliação da capacidade de carga da Terra e pela intensificação do uso do potencial de recursos dos diversos ecossistemas, com um mínimo de danos aos sistemas de sustentação da vida; pela limitação do consumo de combustíveis fósseis e de outros recursos e produtos que são facilmente esgotáveis ou danosos ao meio ambiente, substituindo‑os por recursos ou produtos renováveis e abundantes, usados de forma não agressiva; pela redução do volume de resíduos e de poluição, por meio da conservação da energia e de recursos e da reciclagem; pelo estímulo à pesquisa para a obtenção de tecnologia de baixo teor de resíduos e eficientes no uso de recursos. Os processos de intervenções ou de apropriação dos recursos ambientais para o atendimento das necessidades básicas das gerações atuais e futuras devem ser priorizados e regidos pelo enfoque da sustentabilidade. Mesmo assim, o advento da sustentabilidade como parte integrante do desenvolvimento torna‑se um desafio na lógica da formulação e implementação das intervenções públicas. Esse desafio consiste em identificar alternativas sustentáveis de produção social, isto é, aquelas que compatibilizem as demandas sociais com as potencialidades e restrições ambientais. Assim, a noção de sustentabilidade pressupõe a integração simultânea de objetivos sociais, econômicos e ecológicos; e o desafio primordial para a implementação dessa forma de desenvolvimento reside na efetivação dessa perspectiva de integração. Essa efetivação exige a adoção e aplicação de novos enfoques metodológicos de condução do processo de planejamento governamental (CALIJURI; CUNHA, 2013). Ainda de acordo com Calijuri e Cunha (2013), ao promover o desenvolvimento a partir dessa perspectiva, insere‑se uma nova questão relativa às ações necessárias para a sua conduçãoe para configuração da natureza e características dos limites exigidos. Estabelece‑se uma clivagem relativa à capacidade ou disponibilidade de que as margens dos limites se ampliem com o desenvolvimento tecnológico ou com a reorientação dos padrões de consumo. Assim, uma vertente de pensamento argumenta que a ultrapassagem desses limites pode ser postergada, ou mesmo evitada, com medidas conjugadas de esforços tecnológicos bem direcionados e gerenciamento do crescimento; outra vertente, por acreditar na margem desses limites ou mesmo que alguns deles já tenham sido ultrapassados, defende uma abordagem mais absoluta, considerando a necessidade de uma ação mais contundente para evitar aumento nas taxas de crescimento. Esse debate reflete a existência de racionalidades distintas sobre a noção de sustentabilidade. A noção de sustentabilidade pressuposta em qualquer planejamento está sempre associada a uma concepção de mundo e a determinados valores sociais. O debate conceitual abrange essencialmente duas racionalidades básicas (ACSELRAD, 1997): • a razão prática foi estabelecida na teoria da utilidade e na lógica da vantagem material na relação entre meios e fins; ela constrói a sustentabilidade como um princípio de conservação social, articulando duas matrizes conceituais: o discurso da eficiência da economia de meios para o mesmo fim e o discurso da escala, propondo limites quantitativos dos mesmos fins; • a razão cultural, regida pela sustentabilidade no campo da transformação social, entendendo que a ação do homem no mundo foi divulgada por um projeto cultural que ordena a experiência prática para além da simples lógica utilitária e que comporta projetos de mudança social na 37 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS direção de valores como equidade, democracia, diversidade cultural, autossuficiência, ética e outras temáticas que dirigem o debate para além. À medida que a incorporação da sustentabilidade no processo de desenvolvimento requer a identificação de alternativas de produção mais compatíveis com a realidade social e ambiental, ela se torna um mecanismo abrangente e indutor de busca de oportunidades e um propulsor na busca de maior conhecimento das potencialidades locais e regionais. Nesse contexto, impõe‑se uma abordagem que permita, mais do que observar as restrições, identificar e maximizar as potencialidades. Assim, a incorporação da sustentabilidade representa uma mudança de conduta dos agentes econômicos e governamentais. A efetivação da sustentabilidade compreende o atendimento a essas condições e o enfrentamento dessas demandas. O seu desenvolvimento operativo constitui‑se em um desafio primordial (CALIJURI; CUNHA, 2013). A preocupação da sociedade com os problemas relacionados ao meio ambiente tem nos levado a avanços importantes quando nos referimos às medidas tomadas pelos governos para solucionar os problemas ambientais. A gestão ambiental é indispensável para um equacionamento correto da problemática ambiental. Para conseguirmos solucionar o problema, é necessário um conjunto de ações visando promover uma atuação efetiva. Uma das maiores preocupações da gestão ambiental é conseguir resolver as mazelas ambientais. A visão convencional da gestão ambiental ressalta a ação de limitar a utilização dos recursos ambientais. Assim, é comum encontrarmos o conceito de gestão ambiental baseado em termos de controle como (CALIJURI; CUNHA, 2013): a) o governo conduzindo, dirigindo e controlando o uso dos recursos naturais mediante determinados instrumentos, incluindo medidas econômicas, regulamentos e normalização, investimentos públicos e financiamentos; b) administrar a utilização de um recurso renovável sem diminuir a produtividade e a qualidade ambiental, geralmente em conjunto com o desenvolvimento de uma atividade; c) para manter as comunidades biológicas e para o benefício continuado do homem, é necessário o controle eficaz do meio ambiente, garantindo sua utilização sem abuso. A gestão ambiental tem como tarefa controlar os limites de utilização dos recursos naturais, além de definir e fiscalizar as restrições de utilização da qualidade ambiental que devem ser levadas em consideração nas interações promovidas pelas atividades humanas. A partir do entendimento de que as mazelas ambientais são determinadas pelas ações que fazem parte do conjunto de atividades da sociedade para suprir os padrões de produção e consumo, as interações, que representam o modelo de desenvolvimento estipulado, tornaram‑se fundamentais para se desfrutar dos propósitos da gestão ambiental. Uma ação limitada da utilização diminui a abrangência da gestão ambiental na medida em que a desvincula da interação necessária nas dimensões e formas da exploração dos recursos ambientais, diminuindo a importância de induzir uma racionalização de usos que leve em consideração as incertezas desse limite e promova a identificação de alternativas mais condizentes com a disponibilidade dos 38 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I recursos em questão. Assim, a gestão ambiental precisa envolver ações que possam evitar os impactos não desejáveis diante das limitações de usos e deve induzir a atividades que colaborem para sustentabilidade do modelo de desenvolvimento. Atualmente, as necessidades sociais exigem muito dos recursos naturais e dos ecossistemas para o desenvolvimento e econômico. Precisamos otimizar a conservação das suas condições de uso para a compatibilização desses fatos potencialmente conflitantes, ou seja, a gestão ambiental. A atuação da gestão ambiental consiste no direcionamento harmonioso dos vários processos de interação humana, com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável. A gestão ambiental implementa um processo de desenvolvimento adequado às capacidades ecológicas do meio ambiente com as aspirações de qualidade de vida da população. Assim, os objetivos da gestão ambiental devem englobar ações destinadas a garantir a manutenção, ou otimização, das condições indispensáveis a um ambiente saudável, usando ações que ressaltem a condução de alternativas de desenvolvimento social com sustentabilidade. A gestão ambiental envolve ações para garantir as condições da qualidade ambiental indispensável para a vida em todas as suas formas, como também a indução de produções de bens e serviços sustentáveis para atender às reais demandas da sociedade. Nesse universo de atuação, a condução da gestão ambiental não pode se restringir às ações governamentais e muito menos estar limitada a uma agência governamental específica. Ao contrário, conduzir a gestão ambiental torna‑se um desafio para diversos agentes e atores sociais e gera uma responsabilidade coletiva. Assim, uma gestão ambiental atuante deve superar o ponto de vista convencional de contrapor ambiente natural com ambiente social e focar na construção coletiva de desenvolvimento sustentável em suas distintas dimensões. Uma gestão ambiental concentrada na sustentabilidade deve atuar na orientação dos processos de intervenção no meio ambiente visando promover a execução de alternativas ambientalmente sustentáveis para o desenvolvimento social sem comprometer o meio ambiente. Atuar a partir da perspectiva de fazer a sustentabilidade ambiental acontecer no desenvolvimento significa solucionar as demandas e formas de interações sociais. A necessidade de identificar alternativas que compatibilizem essas duas dimensões tem promovido o surgimento de visões e proposições estratégicas. A compatibilização dessas dimensões requer uma estratégia de harmonização do processo de desenvolvimento com a gestão ambiental, envolvendo áreas críticas de ação: o padrão de consumo, o sistema sociopolítico, as tecnologias utilizadas a partir de recursos naturais e de energia, o padrão de uso do espaço e a população. Esse equacionamentorequer determinações orientadas pelas seguintes variáveis‑chave (CALIJURI; CUNHA, 2013): • estrutura de produção e consumo, definida como as necessidades e os bens essenciais para a sociedade. Essa variável está ligada ao regime sociopolítico e suas implicações que levam aos padrões de produção e consumo que se pretende promover; • fatores locacionais, que são determinados a partir da ocupação do território, apontando onde as interações podem ser desenvolvidas; 39 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS • opções tecnológicas, que determinam como fazer as intervenções; são os fatores tecnológicos necessários na definição de tecnologias para economia de recursos naturais ou que gerem pequenas perdas de materiais e não geradoras de resíduos. A definição de um modelo de desenvolvimento baseado em sustentabilidade ambiental precisa escolher uma trajetória de desenvolvimento baseada nas potencialidades de uso e nos pontos fracos ambientais de cada território objeto de intervenção social. É fundamental levar em consideração as potencialidades territoriais no desenvolvimento. Dessa forma, a busca de sustentabilidade para os processos de desenvolvimento é guiada pelos seguintes fatores, determinantes e inter‑relacionados: padrão de produção e consumo, condições e potencialidades territoriais e tecnologias apropriadas com a sustentabilidade (CALIJURI; CUNHA, 2013). Ainda de acordo com Calijuri e Cunha (2013), a gestão ambiental não se limita ao gerenciamento dos problemas da qualidade ambiental. Ela precisa atuar nos componentes determinados pelo modelo de desenvolvimento, exercido na estrutura de consumo, na organização espacial e nas opções tecnológicas. Assim, o processo de gestão ambiental necessita de uma atuação sistêmica que possa direcionar as diversas decisões da sociedade e os vários processos de decisões governamentais nas suas esferas de competência (federal, estadual e municipal). É necessária uma atuação conjunta das políticas de interação e de utilização dos recursos naturais, de maneira tal que se leve a uma convergência entre objetivo e coordenação das atuações dos vários setores que agem direta ou indiretamente no meio ambiente. 3 TÉCNICAS DE GESTÃO AMBIENTAL Diante dessa perspectiva, as ações de gestão ambiental devem se voltar para a incorporação da questão ambiental na formulação e execução das diversas políticas setoriais e regionais, assim como nos seus desdobramentos normativos e, consequentemente, indutores das atividades específicas. Essas políticas precisam estar associadas ao grau de conhecimento das potencialidades e disponibilidades existentes. Para o estabelecimento dessas políticas, é indispensável a legitimidade pública das prioridades e necessidades da sociedade. Logo, é fundamental o envolvimento da sociedade nos sistemas de decisão da gestão ambiental. A perspectiva da sustentabilidade ambiental impõe novas concepções de atuação das instituições responsáveis, com o objetivo de superar as concepções vigentes, orientadas essencialmente para ações reativas aos problemas ambientais e constituídas pelas características a seguir (CALIJURI; CUNHA, 2013): • gestão segmentada e restrita aos efeitos incidentes nos elementos do ambiente (água, ar, matas e florestas); • busca pelo atendimento dos diversos tipos de demanda com o menor custo, restrito aos interesses organizados da sociedade; • desenvolvimento de ações após as definições sobre as opções de desenvolvimento; • atuação centrada nas adaptações da oferta à demanda. 40 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I Para efetivar a gestão ambiental regida pela sustentabilidade, essa concepção reativa deve ser substituída pela concepção global e prospectiva de caráter proativo, cuja característica fundamental compreende a abordagem dos princípios da precaução e da prevenção, integrando os diferentes componentes do ambiente natural e social e os agentes intervenientes no processo de desenvolvimento. Assim, torna‑se indispensável uma abrangência maior do universo de atuação que compreenda outros aspectos, como (CALIJURI; CUNHA, 2013): • inter‑relações entre sistemas socioeconômicos e sistemas naturais; • participação nas definições sobre as opções de desenvolvimento; • planejamento inscrito em um contexto mais amplo de gestão permanente de recursos, de espaço e da qualidade do ambiente natural e construído; • estratégias buscando modular as demandas sociais; • inserção no processo de desenvolvimento sustentável; • adoção do enfoque sistêmico como alternativa de interação e integração dos diferentes enfoques de gestão e das ações dos diferentes níveis de governo; • incorporação da dimensão ambiental nos processos decisórios; • responsabilidade setorial (gestão responsável); • materialização da participação pública; • participação na formulação das políticas públicas; • conhecimento e dimensionamento da realidade ambiental. A gestão ambiental proativa requer um esforço de coordenação e integração do poder público e a efetivação satisfatória da participação pública. Logo, a gestão ambiental demanda um arranjo institucional que determine a responsabilidade de todas as instituições públicas e estabeleça mecanismos de participação pública nas suas instâncias decisórias (CALIJURI; CUNHA, 2013). Atualmente, existem necessidades emergentes e problemas crônicos que demandam estudos relacionados com formas de gestão ambiental. A mesma coisa acontece na esfera do governo quando se focaliza certa legislação e suas diretrizes, regulamentos e formas de controle. Muitas vezes, esse controle desejado não é alcançado. A gestão ambiental tem uma abordagem integrada, que procura abranger simultaneamente as questões que interferem no meio ambiente (natural ou não), bem como as interações envolvendo diferentes sistemas, como o abastecimento de água e suas relações com o sistema de recursos hídricos. 41 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS O método cartesiano de conhecimento mostra que é fundamental dividir o todo em partes para uma melhor compreensão, embora o comportamento do todo seja distinto daquele das partes, mostrando a importância da visão holística. A contribuição desse método é de valor inegável quando aplicado às múltiplas facetas da problemática ambiental. Podemos ressaltar que esses problemas sempre se manifestaram historicamente por meio das questões setoriais separadas de uma visão integrada e abrangente. Devido à complexidade das questões ambientais, o método cartesiano embute o risco de perder a visão holística. Quando se trata do ambiente, por mais importante que seja o entendimento das partes, todas elas mantêm um vínculo de relacionamento vital entre si; por isso a importância da visão do todo, que deve orientar o estudo das questões ambientais no planeta, seja no Brasil, nos estados ou nas cidades. A visão sistêmica mostra várias inter‑relações entre as diferentes escalas mencionadas, desde partes desérticas até outras densamente ocupadas, ou ainda, áreas de florestas que têm sofrido modificações, em grande parte com invasões de moradia ou desmatamento para criação de gado (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004). O fato de diversas áreas que compõem o complexo ambiental estarem estreitamente correlacionadas fornece bases para dar início à elaboração de uma proposta de gestão ambiental que abranja as complexidades do meio ambiente fundamentadas numa integração físico‑territorial, social, política, econômica e cultural. A visão global interliga os fenômenos biológicos, psicológicos, sociais e ambientais de forma interdependente. Ela abandona a visão cartesiana e passa a ser tratada numa perspectiva ecológica, isto é, uma nova visão da realidade, baseada em pensamentos, percepções e valores. A abordagem da gestãoambiental exige ainda mais dois olhares. O primeiro se refere à compreensão do significado da expressão meio ambiente, abrangendo tanto o meio natural como o construído, ou seja, aquele alterado pela ação do homem, o espaço identificado como urbano ou agrícola ou aquele com a natureza em seu estado primitivo ou recomposto. O segundo diz respeito à característica abrangente da gestão ambiental, que envolve a saúde pública e o planejamento territorial. Devemos tomar cuidado quanto ao reducionismo que limita o campo do conhecimento ambiental apenas àqueles ambientes que se identificarem como estado natural do planeta, onde é dada uma ênfase à fauna e à flora como objetos de preservação ou de conservação. Há que se ampliar reflexões e estudos sobre o espaço urbano em seu sentido ecológico. Afinal, a cidade é, por excelência, o ambiente do homem, e é nesse ambiente construído que são encontrados os indicadores mais graves do desequilíbrio provocado pelo estado de degradação dos elementos da natureza e que exige uma atuação urgente da gestão ambiental. A promoção da qualidade de vida, último escopo da gestão ambiental, tem fortes vínculos com a saúde pública e o planejamento territorial. Tema de inquietações para vários segmentos da comunidade, os problemas da sociedade industrial e tecnológica são responsáveis por vastos estragos. Temos que equacionar os problemas da convivência humana com todos os seus impactos negativos sobre a saúde pública e o meio ambiente, por isso a gestão ambiental é tão importante. 42 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I Para melhor entendermos a abrangência e o alcance dessa definição, destacamos que a gestão ambiental é o ato de administrar, dirigir ou reger os ecossistemas naturais e sociais em que se insere o homem, individual e socialmente, num processo de interação entre as atividades que exerce, buscando a preservação dos recursos naturais e das características essenciais do entorno de acordo com padrões de qualidade. O objetivo é estabelecer, recuperar ou manter o equilíbrio entre a natureza e o homem. Se o vocábulo gestão é entendido como sendo o ato de gerir, o conceito de “ato” conduz à ideia de que a administração do meio ambiente só acontece quando há de fato o equilíbrio ambiental, ou seja, quando se dá a harmonia entre o homem e a natureza. Podemos citar como exemplo a cidade, que está em mudança contínua e apresenta diversas potencialidades que só se realizarão à medida que houver ação. Com o que se costuma chamar gestão ambiental pode ocorrer o mesmo fenômeno da não realização: gestão ambiental potencial e gestão ambiental ação. Gestão ambiental potencial é realizada com a existência de leis, normas, decretos, regulamentos, escritos dirigidos e determinados com o objetivo de solucionar as questões do ambiente. Sua mera existência não constitui a gestão propriamente dita. Para que realmente aconteça e se concretize, é preciso que a potencialidade se transforme em ação concreta, deixando de ser apenas leis e normas, tornando‑se gestos transformadores resultantes da aplicação daqueles instrumentos (PHILIPPI JR., ROMERO; BRUNA, 2004). Os métodos modernos, que têm como base conceitos de eficiência e eficácia distintos, se apoiam na lição filosófica dos conceitos teóricos de potencial e ação. Dessa forma, a gestão ambiental eficiente corresponde à existência e à utilização de um conjunto de instrumentos, que será eficaz apenas quando esse conjunto se transformar em ações que se traduzam em problemas resolvidos. Enquanto a sociedade se desenvolve apenas na direção meramente econômica, privilegiando uns em detrimento da maioria, não se pode dizer que existia gestão ambiental, mesmo que em nome dela se elaborem leis e decretos, se produzam normas e estratégias, ou se estabeleçam diretrizes políticas. Na verdade, nada muda automaticamente apenas com novos instrumentos de controle ambiental ou com declaração de princípios. 4 CONTROLE DE POLUIÇÃO 4.1 Controle de poluição da água A utilização da água, tanto para as necessidades do homem como para a preservação da vida, pode ser separada em grandes grupos: abastecimento público; abastecimento industrial; atividades agropastoris, incluindo a irrigação e a dessedentação de animais; preservação da fauna e da flora aquática; recreação; geração de energia elétrica; navegação, diluição e transporte de efluentes. As fontes de poluição das águas, pelos seus diversos usos, podem ser agrupadas em: poluição natural; poluição causada por esgotos domésticos; poluição causada por efluentes domésticos e industriais e poluição causada pela drenagem de áreas agrícolas e urbanas (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004). 43 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Essas fontes estão associadas ao tipo de uso e ocupação do solo, possuindo características próprias quanto aos poluentes. Por exemplo, esgotos domésticos possuem características biodegradáveis, pois são compostos por material orgânico, nutrientes e bactérias. Já o esgoto industrial apresenta grande variedade de contaminantes, pois cada etapa do processo industrial apresenta efluentes de composição diferente e que nem sempre são biodegradáveis. A engenharia sanitária e ambiental evolui diariamente no desenvolvimento de métodos de tratamento de esgotos devido às exigências dos órgãos públicos de controle do meio ambiente. Isso tem acontecido devido ao interesse dos governos com a saúde pública e os prejuízos gerados pelas descargas de águas residuárias. Podemos dizer que a própria sociedade tem cobrado uma atuação mais efetiva da classe política. Para projetarmos uma estação de tratamento de águas residuárias é necessário conhecer as características do esgoto, as exigências legais, a área disponível e os custos de implantação e operação. Muitas vezes, uma estação de tratamento de baixo custo pode ser tecnicamente viável: como lagoas de estabilização, que não são construídas por falta de área disponível. Geralmente, o sistema de tratamento de esgoto é formado por várias operações e processos que são usados para retirada de substâncias indesejáveis da água. Para o tratamento da água são necessários processos físicos, químicos e biológicos. A retirada de substâncias da água, por meio de qualquer um dos processos citados, pode envolver a alteração de suas características físicas, químicas e biológicas. Os processos físicos são usados na degradação de poluentes das águas residuárias. Geralmente, são utilizados para separar sólidos em suspensão no esgoto, mas também podem ser usados para neutralizar e homogeneizar um efluente. Podemos citar as seguintes operações: • retirada de sólidos grosseiros; • retirada de sólidos sedimentáveis; • retirada de sólidos flutuantes; • retirada da umidade do lodo; • homogeneização e equalização de efluentes; • diluição de águas residuárias. Para esses processos físicos serem realizados, são necessários dispositivos ou unidades de tratamento como: • grades de limpeza manual ou mecanizada; • peneiras estáticas, vibratórias ou rotativas; 44 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I • caixas de areia simples ou aeradas; • tanques de retenção de materiais flutuantes; • decantadores; • flotadores a ar dissolvido; • leitos de secagem de lodo; • filtro prensa e a vácuo; • centrífugas; • filtros de areia; • adsorção em carvão ativado. Esses dispositivos possuem funções bem definidas e podem substituir ou incorporar outras funções, dependendo das características do esgoto. As grades e peneiras são utilizadas para remoção de sólidos grandes visando à proteção de equipamentos, tubulações e unidades do sistema de tratamento. Os tipos de grades e peneiras são determinados baseados nas características dos sólidos a serem removidos. As peneiras apresentam aberturas naordem de 0,25 a 1,0 mm e podem substituir as unidades de sedimentação. As caixas de areia são utilizadas como filtros por gravidade para a retirada de partículas de areia; seu uso visa à proteção de equipamentos e tubulações contra abrasão. Os tanques de retenção de materiais flutuantes são utilizados para retirada de gorduras, óleos, graxas e outras substâncias com densidade menor que a água. Os decantadores promovem a remoção de sólidos sedimentáveis em suspensão no esgoto. Podem ser colocados no início do sistema ou como unidade de depuração final, depois de todos os processos físico‑químicos ou biológicos. O material retirado pode ser biodegradável ou não e, de acordo com o seu objetivo no processo, pode ser chamado de primário, secundário ou terciário. Para os flotadores a ar dissolvido é necessária a pressurização prévia do efluente e a posterior dissolução de ar em quantidade proporcional à concentração de sólidos nos efluentes. As microbolhas de ar formadas com a despressurização do efluente levam os sólidos em suspensão para a superfície. Esse processo é utilizado quando os sólidos possuem densidades semelhantes à da água, impedindo a sua remoção por sedimentação. Os leitos de secagem de lodo são usados para pequenos volumes, sendo unidades de desidratação parcial do lodo. Quando se trata do lodo biológico, para digestão aeróbia e anaeróbia ou quando existe um grande volume de lodo, é recomendada a utilização de filtros‑prensa a vácuo. 45 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Os filtros de areia são pouco usados em tratamento de esgoto, mas podem ser empregados para remoção de sólidos em suspensão em soluções diluídas, antes de serem despejados no corpo receptor. A remoção de sólidos dissolvidos no esgoto pode ser realizada por adsorção em carvão ativo. Os sólidos podem ser orgânicos, coloridos ou inorgânicos como metais pesados. Os tanques de homogeneização ajudam no tratamento do esgoto, reduzindo a capacidade necessária das bombas e o tamanho dos tanques e evitando choques de carga na unidade de tratamento. Os processos químicos precisam de produtos químicos para otimizar a eficiência do processo de remoção de substâncias, modificando seu estado, características ou estrutura. Geralmente, esses processos físicos e químicos são usados de forma conjugada e algumas vezes com processos biológicos também (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004): • coagulação‑floculação; • precipitação química; • oxidação; • cloração; • neutralização ou correção do pH. Esses processos são utilizados para separação de sólidos em suspensão coloidal ou dissolvidos, substâncias que provocam cor e turbidez, substâncias malcheirosas, metais pesados e óleos emulsionados. Podemos ressaltar a utilização de processos químicos combinados com processos físicos ou biológicos para: • ajustar pH de um efluente para tratamento biológico; • eliminar micro‑organismos patogênicos por meio da cloração; • auxiliar o processo de floculação, adicionando polieletrólitos; • utilizar O 2 ou H2O2 para oxidação de sulfetos. Os processos biológicos precisam da ação de micro‑organismos aeróbios ou anaeróbios para acontecerem. Esses processos são determinantes nas transformações da matéria orgânica, em compostos de degradação mais simples, como sais minerais, gás carbônico, água, entre outros. Os processos biológicos procuram imitar os fenômenos biológicos naturais e dividem‑se em aeróbios e anaeróbios. Os processos mais utilizados são (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004): • lodos ativados e suas variações; 46 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I • filtros biológicos aeróbios ou anaeróbios; • lagoas aeradas; • lagoas de estabilização facultativas e anaeróbias; • digestores anaeróbios de fluxo ascendente. O processo de lodos ativados consiste em um sistema no qual uma massa biológica que cresce e flocula é recirculada constantemente, colocando‑a em contato com a matéria orgânica do esgoto em presença de oxigênio. O oxigênio é proveniente das bolhas de ar e é injetado por meio de difusores dentro da mistura lodo/líquido, em condições de turbulência ou por aeradores mecânicos de superfície. O processo tem como função a separação de sólidos, no qual o lodo separado é continuamente despejado no tanque de aeração para se misturar com o esgoto, sendo descartado quando estiver em excesso. Forma‑se uma grande quantidade de lodo biológico que, quando mantido no tanque de aeração, propicia a ocorrência do processo de tratamento num curto período de tempo, se comparado com o processo natural de degradação que ocorre num rio, por exemplo. As lagoas de estabilização anaeróbias consistem em grandes tanques cavados no solo, nos quais o esgoto sofre tratamento por processos naturais controlados pela vazão dos líquidos. Eventualmente, podemos usar uma dosagem de produtos químicos para ajuste de pH ou dosagem de nutrientes. As lagoas anaeróbias são planejadas para receber grandes cargas orgânicas e funcionam sem adição de oxigênio dissolvido. As lagoas facultativas são constituídas de uma camada superior para o desenvolvimento de algas e micro‑organismos aeróbios. Enquanto as algas fazem fotossíntese, usando o gás carbônico e liberando oxigênio, os micro‑organismos degradam a matéria orgânica através da sua oxidação, consumindo oxigênio e liberando gás carbônico. As lagoas aeradas possuem equipamentos para introduzir oxigênio, substituindo as algas que não se reproduzem nesse meio devido à intensa agitação da massa líquida. Os tanques que funcionam como filtros biológicos possuem pedras ou elementos plásticos para o seu enchimento. Ali ocorre o desenvolvimento de uma fina camada de micro‑organismos aeróbios. O esgoto que passa pelo filtro entra em contato com o filme biológico, no qual a matéria orgânica é adsorvida pela massa biológica e, então, estabilizada pelos micro‑organismos. Os sistemas de tratamento de esgoto englobam mais de um processo de transformação e podem ser classificados conforme o tipo de material a ser removido (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004): • tratamento preliminar: tem como objetivo a remoção de sólidos grandes e pode ser aplicado a qualquer tipo de esgoto. É formado por grades, peneiras, caixas de areia, caixas de retenção de óleos e graxas; 47 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS • tratamento primário: é chamado dessa maneira em sistemas de tratamento de esgoto biodegradáveis, mas pode ser aplicado a qualquer tipo de efluente. Tem como objetivo a remoção de resíduos finos em suspensão nos esgotos. É formado por tanques de flotação, decantadores e fossas sépticas; • tratamento secundário: é aplicado no tratamento de esgotos por processos biológicos e tem o objetivo de eliminar o teor da matéria orgânica solúvel nos efluentes. É formado por tanques de lodos ativados e suas variações, filtros biológicos, lagoas aeradas, lagoas de estabilização, digestor anaeróbico de fluxo ascendente e sistemas de disposição no solo; • tratamento terciário: é considerado como tratamento avançado do esgoto e tem como finalidade remover substâncias não eliminadas nos tratamentos anteriores, como nutrientes, patógenos e substâncias que geram cor às águas. É formado por numa lagoa de maturação, cloração, ozonização, radiações ultravioletas, filtros de carvão ativado e precipitação química em alguns casos; • tratamento de lodos: tem como finalidade a desidratação ou redução do seu volume para disposição final. É composto por leitos de secagem, centrífugas, filtros‑prensa, filtros a vácuo, prensas desaguadoras, digestão anaeróbia ou aeróbia, incineração e disposição no solo e pode ser usado para todos os tipos de lodos. Quando falamos de qualidade da água, podemos citar como exemplo a Rede de Monitoramento da Qualidadedas Águas Interiores do Estado de São Paulo, que foi criada em 1974. De acordo com Philippi Jr., Romero e Bruna (2004), seus principais objetivos eram: • avaliar a evolução da qualidade das águas interiores dos rios e reservatórios do estado; • propiciar o levantamento das áreas prioritárias para o controle da poluição das águas; • subsidiar o diagnóstico da qualidade das águas doces usadas para o abastecimento público e outros usos; • dar subsídio técnico para a elaboração dos Relatórios de Situação dos Recursos Hídricos, realizados pelos Comitês de Bacias Hidrográficas; • identificar trechos de rios onde a qualidade da água possa estar pior, possibilitando ações preventivas e de controle da agência de proteção ambiental do estado, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), envolvendo a construção de estações de tratamento de esgotos nos municípios, ou adequando lançamentos industriais. A operação da rede de monitoramento da Cetesb foi iniciada com a seleção de 47 pontos de amostragem. Desde então, buscando uma melhor representatividade e atendendo às necessidades inerentes aos programas de controle de poluição das águas desenvolvidos pela Cetesb, muitas modificações foram feitas, entre elas o número de pontos de amostragem aumentou para 135 e as frequências de coletas e os parâmetros de qualidade foram reavaliados. 48 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I A Lei estadual nº 7.663 (SÃO PAULO, 1991), que instituiu a política estadual de recursos hídricos e o sistema integrado de gerenciamento de recursos hídricos, dividiu o estado em 22 Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI). Assim, a avaliação de qualidade da água está estruturada em função dessa divisão e apresenta, para cada UGRHI, os parâmetros monitorados (físicos, químicos e biológicos), bem como uma análise sucinta dos corpos de água correspondentes. Outras modificações foram feitas nesse documento, como a introdução de determinações dos seguintes parâmetros de qualidade da água: teste de Ames, para avaliação de mutagenicidade, potencial de formação de trihalometanos, carbono orgânico dissolvido, absorbância no ultravioleta, clorofila‑a, Giardia sp., Cryptosporidium sp., Clostridium perfringens e estreptococos fecais. A avaliação desses parâmetros possibilita à Cetesb examinar de maneira mais detalhada os 28 pontos de amostragem que são coincidentes com as captações superficiais usadas para o abastecimento público. É impossível analisar todos os poluentes que possam estar presentes na água após o seu tratamento. Por isso, a Cetesb utiliza 43 parâmetros de qualidade de água (físicos, químicos, hidrobiológicos, microbiológicos e ecotoxicológicos), considerando os mais importantes. Resumidamente, apresentaremos o significado sanitário desses parâmetros (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004): • parâmetros físicos: temperatura da água e do ar, série de resíduos (filtráveis ou não filtráveis), absorbância no ultravioleta, turbidez e coloração da água; • parâmetros químicos: pH, oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio (DBO5,20), demanda química de oxigênio (DQO), carbono orgânico dissolvido, potencial de formação de trihalometano, série de nitrogênio (Kjejdahl, amonial, nitrato, nitrito), fósforo total, ortofostato solúvel, condutividade específica, surfactantes, cloretos, fenóis, ferro total, manganês, alumínio, bário, cádmio, chumbo, cobre, cromo total, níquel, mercúrio e zinco; • parâmetros microbiológicos: coliformes fecais, Giardia sp., Cryptosporidium sp., Clostridium perfringens e estreptococos fecais; • parâmetros hidrobiológicos: clorofila‑a; • parâmetros ecotoxicológicos: teste de toxicidade crônica a Ceriodaphnia dubia, teste de Ames para avaliação da mutagenicidade e sistema Microtox. Quando necessário, estudos específicos de qualidade da água são realizados em determinados trechos de rios ou reservatórios, com vistas a diagnósticos mais detalhados ou outros parâmetros que possam ser determinados, tanto em função da utilização e da ocupação do solo na bacia contribuinte, atuais ou pretendidos, quanto da ocorrência de algum evento excepcional na área em estudo. 4.1.1 Controle de poluição do ar A poluição do ar provavelmente acompanha a humanidade desde os tempos mais remotos, mas só passou a ser sentida de forma acentuada quando as pessoas passaram a viver em centros urbanos em consequência da Revolução Industrial. 49 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS O ar é um elemento essencial para o ser humano, do qual não se pode prescindir por mais de alguns minutos, utilizado como fonte de oxigênio para troca térmica e como receptor dos gases de respiração, principalmente gás carbônico, da transpiração, de gases corporais e de gases e partículas de suas atividades diárias, como cozimento de alimentos ou tabagismo. O ar que respiramos é composto por: 78% de nitrogênio, 20,9% de oxigênio, 0,9% de argônio, 0,035% de dióxido de carbono e vários outros gases em pequenas concentrações. A atmosfera contém quantidades bastante variáveis de vapor de água, dependendo do local, da hora e da estação do ano, podendo chegar a 0,02% nas regiões mais áridas e a 4% nas regiões equatoriais úmidas. A atmosfera também pode conter partículas sólidas e líquidas em suspensão, de composição química e concentrações variáveis, inclusive material vivo como pólen, vírus e bactérias (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004). O conceito de ar limpo é relativo, considerando que os seres vivos já estão acostumados com concentrações normais de substâncias na atmosfera. No entanto, quando ocorrem modificações nos níveis atmosféricos, alguns efeitos poderão ser observados pelo ser humano, por outras formas de vida e mesmo por materiais inertes. A poluição do ar ocorre quando a modificação da composição qualitativa ou quantitativa da atmosfera resulta em danos reais ou potenciais. Dessa maneira, pressupõe‑se a existência de níveis de referência para diferenciar a atmosfera poluída da atmosfera não poluída. O nível de referência deveria ser o nível máximo de poluentes na atmosfera que não causasse efeitos prejudiciais aos seres humanos e ao meio ambiente. Geralmente, esses níveis são estabelecidos a partir de dados científicos de dose‑resposta, obtidos por estudos toxicológicos e epidemiológicos, ou mesmo por estudos de efeito em vegetais de materiais inertes. O padrão de qualidade do ar define limites máximos para concentrações de componentes atmosféricos que garantam a preservação da saúde e do bem‑estar dos indivíduos. Normalmente, os padrões de qualidade do ar são baseados em estudos científicos dos efeitos causados por poluentes específicos e estabelecidos em níveis que têm como objetivo preservar a saúde dos cidadãos. Por meio da Portaria Normativa no 38 (IBAMA, 1990), o Ibama estabeleceu padrões nacionais de qualidade do ar, aumentando o número de parâmetros já regulamentados. A portaria foi submetida ao Conama e transformada na Resolução no 3 (CONAMA, 1990), em que foram definidos dois tipos de padrões de qualidade do ar: primários e secundários. Os padrões primários são definidos quando as concentrações de poluentes superiores às estabelecidas podem afetar a saúde da população e ser entendidas como níveis máximos toleráveis de concentração de poluentes atmosféricos. Os padrões secundários levam em consideração as concentrações de poluentes atmosféricos abaixo das quais se prevê algum efeito adverso sobre o bem‑estar da população, prejuízos à flora e à fauna, aos materiais e ao meio ambiente em geral. Podemos considerar esses níveis de concentração como metas a serem atingidas em longo prazo. Os parâmetros de regulamentação são: partículas totais em suspensão (material particulado), dióxido de enxofre e monóxido de carbono, como podemos observar na tabela a seguir: 50 Re vi sã o: C arla - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I Tabela 1 – Padrões nacionais de qualidade do ar Poluente Tempo de amostragem Padrão primário mg/m3 Padrão secundário mg/m3 Método de medição Partículas em suspensão 24 horas *Mga 240 80 150 60 Amostragem em grandes volumes Partículas inaláveis 24 horas*Maa 150 50 150 50 Separação inercial/filtração Dióxido de enxofre 1 hora *Maa 365 80 100 40 Pararosanilina Monóxido de Carbono 1 hora*8 horas (mga) 40.000 (35 ppm) 1.000 (9ppm) 40.000 (35 ppm) 1.000 (9ppm) Infravermelho não dispersivo Ozônio 1 hora * 160 160 Quimioluminescência Fumaça 24 horas*Maa 150 60 100 40 Refletância Dipoxido de nitrogênio 24 horas*Maa 320 100 190 100 Quimioluminescência *Não deve ser excedido mais que uma vez ao ano; Mga média geometria anual, Maa média aritmética anual. Fonte: Conama (1990). A mesma resolução determina critérios para episódios agudos de poluição do ar. Esses critérios são apresentados na tabela a seguir. Tabela 2 – Critérios para episódios agudos de poluição do ar Parâmetros Atenção Alerta Emergência Dióxido de enxofre (SO2 mg/m 3) 24h 800 1.600 2.100 Partículas totais em suspensão PTS ou material particulado MP (mg/m3) 24h 375 625 875 SO2 x PTS ou SO2 x MP 65.000 261.000 393.000 Partículas inaláveis (mg/m3) ‑24 horas 250 420 500 Fumaça (mg/m3) ‑24 horas 250 420 500 Monóxido de carbono (mg/m3) ‑8 horas 17000 34000 46000 Ozônio (mg/m3) ‑1 hora 400 800 1.000 Dióxido de nitrogênio (mg/m3) ‑1 hora 1.130 2.260 3.000 Fonte: Conama (1990). Para informar o público sobre a qualidade do ar, bem como sobre as situações críticas quando algum padrão é atingido, a legislação brasileira utiliza o Índice de Qualidade do Ar (IQA). Para se obter o IQA, divide‑se a concentração de um poluente pelo seu padrão primário e multiplica‑se por 100. Será considerado o poluente com maior resultado para definição do IQA. IQA = Concentração do poluente / Padrão primário 51 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Tabela 3 – Relação do IQA com a qualidade do ar Índice de Qualidade do Ar (IQA) Qualidade do ar 0 – 50 Boa 50 – 100 Aceitável 101 – 199 Inadequada 200 – 299 Má 300 – 399 Péssima Maior que 400 Crítica Fonte: São Paulo (1976). Poluente atmosférico é toda e qualquer forma de matéria sólida, líquida ou gasosa e de energia que, presente na atmosfera, pode torná‑la poluída. Ondas sonoras e eletromagnéticas são exemplos de poluentes atmosféricos na forma de energia. Os poluentes na forma de matéria são classificados, de acordo com Philippi Jr., Romero e Bruna (2004), em material particulado, gases e vapores. Material particulado: as partículas sólidas ou líquidas emitidas por fontes de poluição do ar, ou mesmo aquelas formadas na atmosfera, como partículas de sulfatos, são denominadas material particulado e, quando suspensas no ar, aerossóis. As partículas de maior interesse para a saúde pública são chamadas partículas inaláveis, aquelas que têm poder de penetração maior que 50% no trato respiratório médio inferior e diâmetro aerodinâmico equivalente a 10 micrômetros. O material particulado pode ser classificado, segundo o método de formação, em poeiras (poeira de cimento, de amianto, de algodão e de rua); fumos (fumos de chumbo, de alumínio, de zinco e de cloretos de amônio); fumaça (material particulado da queima de combustíveis fósseis como carvão mineral, combustíveis provenientes do petróleo e do gás natural, biomassa como a madeira, entre outros materiais combustíveis, envolvendo fuligem, partículas líquidas e no caso de biomassa e carvão, uma fração mineral importante, que são as cinzas); névoas (partículas líquidas). Gases e vapores: são poluentes na forma molecular, que podem ser gases permanentes, como o dióxido de enxofre, o monóxido de carbono, o ozônio ou os óxidos nitrosos. Podem estar na forma transitória de vapor, com vapores orgânicos em geral (vapores da gasolina, vapores de solventes). Dependendo de sua origem, esses poluentes podem ser classificados em poluentes primários emitidos já na forma de poluentes, e poluentes secundários, que são formados na atmosfera por reações químicas ou fotoquímicas, como é o caso do ozônio no smog fotoquímico. Nenhum poluente é totalmente primário ou secundário, havendo aqueles que se enquadram predominantemente em um outro tipo. Podemos citar o exemplo do ozônio, que é origem secundária, predominantemente, enquanto o monóxido de carbono e o dióxido de enxofre são primários. Um exemplo de reação fotoquímica produzindo poluentes secundários envolve a formação de oxidantes fotoquímicos, especialmente o ozônio. As emissões de NO, resultantes principalmente da combustão, convertem‑se de forma total ou parcial em dióxido de nitrogênio na atmosfera. Em condições propícias para ocorrência de reação fotoquímica (insolação forte e temperaturas altas), o dióxido de nitrogênio é quebrado por fotólise, o que produz oxidantes fotoquímicos, entre eles o ozônio, que é o que está presente em maior quantidade. 52 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I Os poluentes também podem ser classificados em orgânicos e inorgânicos, independentemente do estado físico. Também são importantes sua subclassificações, como: substâncias causadoras de odores incômodos (gás sulfídrico H2S), mercaptanas, solventes orgânicos e os poluentes altamente tóxicos (como as dioxinas e furanos, alguns compostos orgânicos aromáticos como o benzeno, os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos HPAs, metais pesados como cádmio, mercúrio, cromo hexavalente, níquel, entre outros que causam carcinogênese ou mutagênese ou apresentam suspeitas). Dioxinas e furanos: as dibenzo‑p‑dioxinas policloradas – PCDDs e os dibenzofuranos policlorados – PCDFs, geralmente chamados de dioxinas e furanos, são duas classes de compostos aromáticos tricíclicos de função éter, com estrutura quase planar e que possuem propriedades físicas e químicas semelhantes. Os átomos de cloro se ligam aos anéis benzênicos, possibilitando a formação de um grande número de compostos semelhantes, 75 dioxinas e 135 furanos, somando 210 compostos. Pesquisas têm mostrado que esses compostos ocorrem naturalmente, mas são frutos da era industrial, formados como subprodutos não intencionais de vários processos envolvendo o cloro ou substâncias que o contenham – por exemplo, a produção de diversos produtos químicos, como pesticidas, branqueamento de papel e celulose, os incêndios e os processos de combustão (incineração de resíduos de serviços de saúde, incineração de lixo urbano, incineração de resíduos industriais e combustão dos veículos automotores). A toxicidade aguda mais elevada é para a 2,3,7,8‑tetraclorodibenzo‑p‑dioxina, que é ultrapassada apenas por algumas outras toxinas de origem natural. Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs): são compostos formados por dois ou mais anéis aromáticos condensados, contendo apenas átomos de carbono e hidrogênio e que podem estar arranjados em linha reta, retangular ou na forma de cluster. Quando contêm átomos de outros elementos como o nitrogênio, oxigênio e enxofre, passam então a ser chamados de compostos policíclicos aromáticos. Sua formação ocorre por combustão incompleta ou pirólise de matéria orgânica. Entre todos os HPAs, a Agência de Proteção Ambiental americana considera 17 deles mais tóxicos, pois são carcinogênicos. São eles: acenafteno, acenaftileno, antraceno, fenantreno, benzo[a]antraceno, benzo[a]pireno, benzo[e] pireno, benzo[b]fluoranteno, benzo[k]fluoranteno, benzo[ghi]pirileno, criseno, dibenzo[a,h]antraceno, fluoranteno, fluoreno, indeno[1,2,3‑cd]pireno, pireno e naftaleno. Qualquer processo, equipamento, sistema, máquina, empreendimento, ou outra atividade humana que possa liberar ou emitir matéria ou energia para atmosfera de forma a torná‑la poluída, pode ser consideradauma fonte de poluição do ar. Essas fontes podem ser móveis ou fixas. As emissões atmosféricas podem ser de ações naturais ou antrópicas. As emissões naturais provêm de: erupções vulcânicas que lançam partículas e gases para a atmosfera, como compostos de enxofre (gás sulfídrico e dióxido de enxofre), decomposição de vegetais ou animais, ação do vento, causando ressuspensão da poeira do solo e da areia, ação biológica de microorganismos no solo, formação de metano, principalmente nos pântanos (gás grisu), aerossóis marinhos, descargas elétricas na atmosfera, formando ozônio, incêndios florestais naturais, que lançam grandes quantidades de material particulado, gás carbônico, monóxido de carbono hidrocarbonetos e outros gases orgânicos e óxidos de nitrogênio (NOx); outros processos naturais, como reações na atmosfera entre substâncias de origem natural. As emissões naturais são muito significativas quando comparadas com as antropogênicas, e em muitos casos são bem maiores que as últimas. Podemos destacar algumas emissões antropogênicas como: os vários processos e operações industriais, a queima de combustível na indústria, para fins de transporte nos veículos a gasolina, a 53 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS álcool, a diesel ou movidos por qualquer outro tipo de combustível e para aquecimento em geral e cozimento de alimentos, queimadas, queima de lixo ao ar livre, incineração de lixo, limpeza de roupas a seco, poeira fugitiva, geralmente provocada pela movimentação de veículos, principalmente em vias sem pavimentação, poeiras provenientes de demolições na construção civil e movimentação de terra em geral, comercialização e armazenamento de produtos voláteis como gasolina e solventes, equipamentos de refrigeração e ar‑condicionado e embalagens tipo aerossol, pinturas em geral, estações de tratamento de esgotos domésticos e indústrias e aterros de resíduos sólidos. Os veículos, nos dias atuais, são a principal fonte de emissão de poluentes para a atmosfera, principalmente nas grandes cidades. Na América Latina, merece destaque a poluição do ar na Cidade do México, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Santiago. Na região metropolitana de São Paulo, os veículos contribuem com cerca de 98% da emissão de monóxido de carbono, 97% dos hidrocarbonetos e 96% de óxidos de nitrogênio, além de serem importantes contribuintes na emissão de dióxido de enxofre e material particulado inalável. A poluição causada por veículos é tão significativa que na cidade de São Paulo, e em alguns municípios vizinhos, acontece a operação denominada rodízio de veículos. Isso também tem ocorrido em outras grandes cidades, como na cidade do México, Santiago, Roma e Paris. Em Londres, desde de 2003, foi adotado o sistema de pedágio para a circulação de carros no centro da cidade. Veículos automotores a álcool e a gasolina (motor do ciclo Otto) são emissores importantes de monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos, enquanto os veículos com motor de ciclo diesel, em especial os caminhões e ônibus, que são emissores importantes de óxido de enxofre, óxidos de nitrogênio e material particulado (fuligem), também emitem, em menor grau, monóxido de carbono e hidrocarbonetos. A poluição dos automóveis é controlada por legislação federal, dentro do programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), com legislação iniciada pela Resolução Conama nº 18 (BRASIL, 1986a). O movimento dos poluentes na atmosfera é determinado, principalmente, pelas correntes meteorológicas, como a turbulência mecânica provocada pelo vento e a turbulência térmica resultante de parcelas de ar aquecido (que ascendem da superfície terrestre, sendo substituídas pelo ar mais frio em sentido descendente, no perfil vertical de temperatura da atmosfera) e também pela topografia e rugosidade do terreno da região. Os poluentes lançados na atmosfera sofrem o efeito de processos complexos, sujeitos a vários fatores, que determinam a concentração do poluente no tempo e no espaço. Assim, emissões com conteúdos idênticos sob as mesmas condições de lançamento no ar podem produzir concentrações diferentes num mesmo local, dependendo das condições meteorológicas presentes, como chuva, condições de inversão térmica, rugosidade e característica do terreno e de outras condições locais. Os fatores meteorológicos que influenciam a dispersão de poluentes são a velocidade e a direção dos ventos, o gradiente vertical de temperatura, a intensidade da radiação solar e o regime de chuvas. 54 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I As chuvas influenciam a qualidade do ar de maneira acentuada e são um importante agente de autodepuração da atmosfera em relação às partículas presentes, bem como aos gases solúveis ou reativos com a água. Não se deve esquecer, no entanto, que a lavagem da atmosfera significa a transposição dos poluentes para o solo e águas superficiais, podendo ocasionar efeitos deletéricos, em especial as águas de chuvas ácidas. Geralmente, podemos observar diferentes formatos de fumaça que saem de uma chaminé, mesmo para a mesma condição de emissão. Isso se deve a várias condições de estabilidade da atmosfera. Os movimentos verticais de massa de ar dependem, fundamentalmente, do perfil vertical de temperatura, isto é, da variação da temperatura do ar com a altitude. O ar seco resfria‑se à taxa de 1 ºC para cada 100 m de subida da atmosfera. O ar úmido resfria‑se à taxa de cerca de 0,65 ºC para cada 1000 m de subida na atmosfera. Quando a temperatura do ar aumenta com a altitude, diz‑se que há inversão térmica, fenômeno de origem natural, não decorrente da poluição do ar. A reatividade dos poluentes é outro fator importante para sua transformação no ar, modificando sua concentração e ao mesmo tempo produzindo outras substâncias ou radicais livres. Podemos citar como exemplo a reação fotoquímica entre os óxidos de nitrogênio e os hidrocarbonetos presentes na atmosfera sob ação da radiação solar, principalmente os raios ultravioleta, produzindo substâncias conhecidas como oxidantes fotoquímicos, em especial o ozônio, muito comuns na atmosfera das grandes cidades como São Paulo. A reação dos óxidos de enxofre com amônia forma partículas de sulfato de amônia, aerossóis desse composto, de tamanho pequeno, próximo do comprimento de onda da luz visível, com grande capacidade de reduzir a visibilidade da atmosfera. A topografia da região exerce um papel importante no comportamento dos poluentes na atmosfera. Fundos de vale são locais propícios para o aprisionamento dos poluentes, principalmente quando ocorrem inversões térmicas que impedem a subida dos poluentes, transformando esses locais em verdadeiras câmaras de concentração e de reação, principalmente na ocorrência do smog fotoquímico. A concentração do poluente na atmosfera ocorre em função da quantidade das características e condições da emissão, das condições meteorológicas, da topografia da região, da rugosidade dos terrenos, da presença de edificações próximas à fonte de emissão, da reatividade do poluente e da ocorrência de chuvas. Os efeitos da poluição do ar caracterizam‑se tanto pela alteração das condições consideradas normais como pelo aumento de problemas já existentes. Os efeitos podem ocorrer em nível local, regional e global. Esses efeitos podem se manifestar na saúde, no bem‑estar da população, na vegetação, na fauna, nos materiais e nas propriedades da atmosfera, passando pela redução de visibilidade, alteração da acidez das águas das chuvas (chuva ácida), aumento da temperatura da Terra (efeito estufa) e modificação da intensidade da radiação solar (o aumento da incidência de radiação ultravioleta sobre a Terra, causado pela redução da camada de ozônio). Os principais efeitos da poluição do ar na saúde humana são: problemas oftálmicos,doenças dermatológicas, gastrintestinais, cardiovasculares e pulmonares, além de alguns tipos de câncer. Efeitos sobre o sistema nervoso central também podem ocorrer após exposição a altos níveis de monóxido de 55 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS carbono no ar. Além disso, efeitos indiretos podem ser notados em decorrência de alterações climáticas provocadas pela poluição do ar. Um aumento na temperatura do ar provoca impactos na distribuição de doenças transmitidas por vetores. A exposição da população pode se dar por inalação, ingestão ou contato com a pele, mas a inalação pode ser considerada a via mais importante e mais vulnerável. A poluição do ar é caracterizada pela OMS como um fator de risco para muitas doenças, como infecções respiratórias das vias aéreas superiores (garganta, nasofaringe, sinus, laringe, traqueia e brônquios). Estudos nacionais verificaram associações positivas entre a poluição do ar e doenças respiratórias e aumento da mortalidade, afetando principalmente crianças e idosos. Medidas de prevenção e correção devem ser tomadas visando atingir o desenvolvimento sustentável. A busca de soluções para o problema da poluição do ar deve começar pela sua prevenção. Prevenir quer dizer evitar a geração de poluentes, com a utilização de processos industriais e de combustíveis menos poluentes, medidas de redução de consumo de produtos poluidores e de energia, enquanto controlar refere‑se a medidas de tratamento da emissão de poluentes. Sabe‑se que a poluição significa perda de matéria‑prima e energia. Uma caldeira que emite fumaça preta está trabalhando com pouca eficiência, desperdiçando combustível e lançando mais poluentes no ar, como o monóxido de carbono, hidrocarbonetos etc. Um automóvel desregulado emite mais poluentes e, ao mesmo tempo, consome mais combustível. Dessa forma, para prevenir e controlar a poluição, podemos reduzir perdas de combustível e matérias‑primas. É na prevenção que a população pode atuar mais intensamente, reduzindo o uso de veículos particulares e privilegiando o transporte coletivo, que deve ser do tipo menos poluente e mais disponível e confortável para que a população possa ficar satisfeita ao usá‑lo. Menos produção de lixo pela população e o uso de eletrodomésticos e lâmpadas mais eficientes em consumo de energia também são medidas muito importantes. Medidas tecnológicas são importantes, mas não têm conseguido resolver o problema, como é o caso dos carros. Precisamos de uma atitude mais consciente e ecologicamente correta da população. A evolução da ciência e da tecnologia constitui a própria evolução do Homem desde a Pré‑História, ajudando na sua adaptação ao meio e na busca de alimentos para sua sobrevivência. No início, o homem buscou alimento e abrigo das intempéries do tempo, depois combateu as pragas e doenças, até o conhecimento sobre outras regiões do planeta e do universo. Para a prevenção e controle da poluição do ar usamos medidas que envolvem desde planejamento do assentamento de núcleos urbanos e industriais e do sistema viário até a ação direta sobre a fonte de emissão. A prevenção está ligada à tríade reduzir, reutilizar e reciclar. Podemos considerar o processo de poluição do ar em fase de geração, emissão, transporte, difusão e transformação e a fase de recepção. Imagine um incinerador de resíduos na queima do lixo: há formação de poluentes e, pela chaminé, ocorre a emissão. No ar, esses poluentes são transportados, difundidos, transformados e finalmente atingem o receptor, que podem ser pessoas, plantas, animais ou bens materiais que sofrem algum tipo de efeito. 56 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I A geração de poluentes está intimamente ligada ao consumismo. Quanto mais se consome, mais poluentes são produzidos, causando um aumento da poluição. O nível de poluição vai depender dos meios utilizados e dos cuidados envolvidos na produção do bem ou serviço. Existem muitas maneiras de produzir que minimizam a formação de poluentes. Poderíamos eliminar a poluição totalmente substituindo combustíveis, matérias‑primas e reagentes e alterando equipamentos e processos. Podemos citar como exemplo a eliminação do poluente de compostos de chumbo dos automóveis: quando o chumbo tetraetila parou de ser usado como aditivo antideodante, além de não ser mais adicionado à gasolina, foi substituído por álcool etílico anidro. A substituição de combustíveis com enxofre por combustíveis sem esse elemento, como o gás natural, elimina a formação e emissão de compostos de enxofre na atmosfera. Na prática, a diminuição da quantidade de poluentes gerados é mais fácil de ser alcançada do que sua eliminação. Podemos conseguir isso com a adoção de medidas como: operação de equipamentos dentro de sua capacidade nominal; operação e manutenção adequada de equipamentos produtivos, caldeiras, fornos, veículos; armazenamento adequado de materiais pulverulentos ou fragmentados, evitando a ação dos ventos; adequada limpeza do ambiente; utilização de processos, equipamentos, operações, matérias‑primas, reagentes e combustíveis de menor potencial poluidor. As medidas citadas precisam de esclarecimento adequado dos responsáveis pelas fontes poluidoras e a participação da população é de extrema importância no processo. A educação ambiental da população e dos empresários tem um papel fundamental para que o controle funcione. De nada adiantam boas leis se a população não estiver engajada no processo e se os empresários não estiverem motivados para a realização dessa ação. Quando todos os esforços não surtirem o efeito desejado em relação à diminuição da poluição, devemos utilizar os equipamentos para tratamento das emissões (equipamentos de controle de poluentes – filtros). Em conjunto com o equipamento de controle de poluição industrial, existe um sistema de exaustão (captores, dutos, ventilador e chaminé), cuja função é captar, concentrar e conduzir os poluentes para serem filtrados, com posterior lançamento residual no ar. Segundo Philippi Jr., Romero e Bruna (2004), os equipamentos de controle da poluição do ar podem ser divididos em função do tipo de poluente a ser considerado, isto é, equipamentos de controle de material particulado e equipamentos de controle de gases e vapores. Para veículos, podemos usar um dispositivo de tratamento de emissões muito conhecido, o combustor catalítico, que reduz a emissão de monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos (compostos orgânicos). O material particulado pode ser removido do fluxo gasoso poluído por sistemas secos, coletores mecânicos inerciais e gravitacionais – coletores centrífugos, como ciclones, precipitadores eletrostáticos secos e filtros de tecido, como filtros de mangas – e sistemas úmidos, por exemplo, lavadores de vários tipos, como o lavador Venturi e precipitadores eletrostáticos úmidos. Os três tipos de equipamentos mais eficientes para o controle de material particulado são o filtro de manga, o precipitador eletrostático e o lavador Venturi, mas com eficiências de retenção de poluentes que podem variar de acordo com o projeto e com as condições de operação e manutenção. 57 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Os gases e vapores podem ser retirados do fluxo poluído por meio de absorvedores (lavadores de gases), de adsorvedores, como o carvão ativado, por incineração térmica ou catalítica (como os combustores catalíticos dos carros) e também por condensadores, biofiltros e processos especiais. Para cada fonte de poluição deve ser estudada a melhor solução, tanto do ponto de vista ambiental como do ponto de vista do custo. A tecnologia de controle de poluição do ar disponível permite que a poluição seja reduzida em até 99%. O planejamento urbano permite umamelhor distribuição espacial das fontes potencialmente poluidoras do ar, aumentando a distância entre fonte e receptor, diminuindo a concentração de atividades poluidoras próximas a núcleos residenciais, proibindo a implantação de fontes de alto potencial poluidor em regiões críticas, localizando as fontes a jusante dos ventos predominantes na região em relação aos bairros residenciais, controlando a circulação de veículos em áreas congestionadas, bem como atuando em melhorias do sistema viário. Assim, é necessário ter cuidado, pois a melhoria do sistema viário pode incentivar ainda mais o uso do transporte individual, não ocasionando a diminuição de poluição. Quanto à diluição da poluição, devemos ressaltar que a utilização de chaminés altas tem como objetivo a redução da concentração do poluente no nível do solo, sem a redução da quantidade emitida. Trata‑se de uma medida cuja eficiência depende da distribuição espacial das fontes e das condições meteorológicas e topográficas da região. É uma técnica recomendável como medida adicional para a melhoria das condições de dispersão dos poluentes residuais na atmosfera, mas somente após a tomada de outras medidas para reduzir a geração de poluentes ou sua emissão. 4.2 Controle ambiental de resíduos Acreditamos que o homem é o único agente gerador de resíduos, já que estes são produzidos pelos padrões de consumo da sociedade atual. Estamos analisando a questão de forma simplista, mas serve como ponto de partida. De acordo com Philippi Jr., Romero e Bruna (2004), quando falamos de cadeia alimentar, acreditávamos que o ciclo era perfeitamente fechado, mas isso não é verdade, pois em algumas espécies mais simples ocorrem perdas e geração de resíduos e isso não seria contabilizado, mostrando que o sistema não é perfeito como imaginávamos. Contudo, verificamos que esses eventuais desequilíbrios são muito pequenos, pois as populações são pequenas, podendo ser considerados como fenômenos localizados e que não são suficientes para desfazer a harmonia local e causar alterações nos ciclos e nas cadeias alimentares. Contudo, em muitos casos, o sistema tem mecanismos para, a médio e longo prazo, estabilizar o desequilíbrio eventual local. Sendo assim, o ser humano não é o único agente causador de desequilíbrio localizado. O homem tem uma capacidade que o torna único dentro desse contexto, já que é capaz de transformar em larga escala os materiais e tornar estáveis substâncias e produtos. Assim, o homem coloca no meio produtos em formas que o meio ambiente não reconhece e não tem capacidade de absorção, nem mesmo em longo prazo. Entretanto, ele não seria capaz de gerar uma instabilidade tão grande a ponto de comprometer sua existência, mas a sua capacidade de transformar recursos naturais por meios de processos em larga escala não deve ser desprezada. 58 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I O agravamento fica claro apenas quando se une a essa capacidade o fenômeno do crescimento populacional observado nas últimas décadas. Houve uma explosão demográfica, o que levou a um aumento de demanda de suprimentos de matérias‑primas, alimentos e energia. Soma‑se a isso o fato de que o crescimento populacional ficou concentrado nos grandes centros urbanos. O progresso da humanidade aumentou a qualidade e a duração da vida; por outro lado, utilizamos um padrão de consumo que demanda cada vez mais matérias‑primas, o que acaba comprometendo a qualidade de vida das gerações futuras. Esse compromisso com as gerações futuras é o princípio do desenvolvimento sustentável. Logo, esperamos que as gerações futuras usem a capacidade de transformação de materiais, mas de uma maneira sustentável, sem prejudicar o meio ambiente. Os conceitos de lixo e resíduo são muito próximos e muitas vezes entendemos como sinônimos. Entretanto, do ponto de vista ambiental, existem três classificações diferentes de poluição: a poluição atmosférica, a contaminação das águas e os resíduos sólidos. Resíduos sólidos podem ser definidos como: Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades da comunidade, de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Consideram‑se também resíduos sólidos os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos, cujas particularidades tornem inviável o seu USP e lançamento na rede pública de esgoto ou corpo d’água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (NBR 10004/1987 apud PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004, p. 158). O conceito de resíduo tem sempre embutido o aspecto de serventia e de valor econômico para o seu possuidor. Assim, para uma determinada pessoa, a embalagem perde o seu valor a partir do momento que seu conteúdo foi totalmente consumido, passando a ser resíduo e um problema para o seu possuidor. Analisando a situação por outro ponto de vista, o resíduo pode ter valor para um terceiro, que vai tratar o material como matéria‑prima para uma outra aplicação. Segundo Philippi Jr., Romero e Bruna (2004), os resíduos podem ser classificados levando em consideração a sua origem em: resíduos industriais, urbanos, de serviços de saúde, de portos, de aeroportos, de terminais rodoviários e ferroviários, agrícolas, radioativos e entulho. Resíduos industriais: são resíduos gerados em indústrias. Os resíduos industriais variam entre 65% a 75% do total de resíduos gerados em regiões mais industrializadas. A responsabilidade pelo manejo e destinação desse resíduo é sempre da fonte geradora. Dependendo da forma e destinação, a empresa prestadora de serviço pode ser corresponsável. Quando um resíduo industrial é destinado a um aterro sanitário, a responsabilidade passa a ser também da empresa que gerencia o aterro. Em função da periculosidade de alguns resíduos, eles são divididos em três classes: 59 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Resíduos perigosos (classe I) – podem apresentar risco à saúde pública e ao meio ambiente por causa de suas características de inflamabilidade, corrosividade, toxidade e patigenicidade; Resíduos não inertes (classe II) – incluem‑se nesta classe os resíduos potencialmente biodegradáveis ou combustíveis; Resíduos inertes (classe III) – perfazem esta classe os resíduos considerados inertes e não combustíveis (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004, p. 159). A classificação dos resíduos industriais requer uma série de procedimentos e testes, que estão descritos nas seguintes normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT): • NBR 10004 – Resíduos sólidos – Classificação; • NBR 10005 – Lixiviação de resíduos – Procedimento; • NBR 10006 – Solubilização de resíduos – Procedimento; • NBR 10007 – Amostragem de resíduos – Procedimento. Resíduos urbanos: são produzidos em menor escala que os resíduos industriais. Estão incluídos nesta categoria os resíduos domiciliares, o resíduo comercial produzido em escritórios, lojas, hotéis, supermercados e restaurantes, os resíduos de serviços oriundos de limpeza pública urbana, como resíduos de varrição das vias públicas, limpeza de galerias, terrenos, córregos, praias, feiras e de podas. Os resíduos urbanos são de responsabilidade das prefeituras. Contudo, no caso de estabelecimentos comerciais, a prefeitura é responsável pela coleta e disposição de pequenas quantidades, abaixo de 50 kg/dia; acima disso, a responsabilidade fica transferida para o estabelecimento. Entulhos: podem ser considerados como resíduos urbanos, mas, em razão de suas características e volumes, geralmente são classificados separadamente. Constituem‑se de resíduos de construção civil, como demolições, restos de obras, solos de escavações e materiais afins. Como acontececom os resíduos urbanos, as prefeituras são corresponsáveis por pequenas quantidades. Resíduos de serviços de saúde (RSS): são produzidos em hospitais, clínicas médicas e veterinárias, laboratórios de análises clínicas, farmácias, centros de saúde, consultórios odontológicos, entre outros. Esses resíduos são separados em resíduos comuns, como restos de alimentos, papeis e embalagens, e resíduos sépticos, constituídos de resto de material cirúrgico e de tratamento médico. Seu manejo exige atenção por causa do potencial de risco à saúde pública. O responsável pelo gerenciamento dos resíduos provenientes de serviços de saúde é o seu gerador. Resíduos de portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários: constituem‑se em resíduos sépticos que podem conter organismos patogênicos, como materiais de higiene e de asseio pessoal e 60 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I restos de alimentos. Possuem a capacidade de veicular doenças de outras cidades, estados e países. Cabe ao gerador a responsabilidade pelo seu gerenciamento. Resíduos agrícolas: correspondem aos resíduos das atividades de agricultura e da pecuária. Embalagens de adubos, de defensivos agrícolas e de ração, restos de colheita e esterco animal ilustram esse tipo de resíduo. As embalagens de agroquímicos, pelo alto grau de toxicidade que apresentam, são alvo de legislação específica. Da mesma forma que os resíduos industriais, o gerador é responsável pelo gerenciamento e a empresa que faz o tratamento ou disposição final é corresponsável. Resíduos radioativos: são provenientes dos combustíveis nucleares e de alguns equipamentos que usam elementos radioativos. A responsabilidade por essa categoria de resíduos é da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEM). O Brasil é um país com muitas deficiências no saneamento básico e a questão dos resíduos sólidos é um reflexo desse quadro. Mesmo com a Lei nº 12.305 (BRASIL, 2010), que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), esse quadro foi pouco alterado. Ainda existem lixões em todos os estados e 60% dos municípios destinam seus resíduos sólidos para os lixões (ABRELPE, 2014). De acordo com os estudos realizados em 404 municípios brasileiros (mais de 45% da população) pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) foram geradas mais de 76 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos em 2013, o que representa um aumento de 4,1% em relação a 2012. O ponto menos eficiente do sistema de gestão de resíduos sólidos brasileiro é a destinação final. Somente 58% do lixo urbano coletado têm destinação final adequada. Esse quadro não sofreu alterações significativas desde 2012. O restante dos resíduos sólidos, 28,8 milhões de toneladas, que corresponde a 41,7% do coletado, é destinado a lixões e aterros controlados, que possuem poucas diferenças em relação aos lixões, quando levamos em consideração o impacto ambiental. No Brasil, 3.444 municípios ainda utilizam locais inadequados para a destinação final de seu lixo. Desse total, 1.569 cidades usam lixões, que do ponto de vista ambiental é a pior forma de destinação, descartando todo o tipo de material diretamente no solo, sem nenhum tipo de tratamento, nem cuidados especiais (ABRELPE, 2014). Devemos salientar que, para que um sistema de gestão de resíduos funcione corretamente, não é suficiente que possua apenas um sistema de destinação final adequado, várias ações prévias devem ser implantadas. Podemos citar como exemplo a separação dos resíduos e a coleta seletiva, viabilizando seu encaminhamento para processos de reciclagem. No quesito reciclagem, segundo a Abrelpe (2014), o Brasil também não registrou avanços, apesar de ser uma questão obrigatória na Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em 2012, 60,2% dos municípios registraram iniciativas nesse setor e, em 2013, pouco mais de 62%. Estudos levantaram que, apesar da quantidade de cidades com iniciativa de coleta seletiva ser expressiva, essas atividades, na maioria das vezes, são limitadas a pontos de entrega voluntária ou convênios com cooperativas de catadores. 61 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Segundo a Constituição Federal (BRASIL, 1988a), no artigo 30, cabe ao poder público local a competência pelos serviços de limpeza pública, incluindo a coleta e destinação final do lixo urbano. Assim, cabe ao município legislar, gerenciar e definir o sistema de saneamento básico local, bem como a instituição e arrecadação de tributos de sua competência. Segundo o art. 182 da Constituição (BRASIL, 1988a), o município deve estabelecer políticas de desenvolvimento urbano, ordenando o pleno desenvolvimento das funções sociais e garantindo o bem‑estar de seus cidadãos. Durante décadas, o descarte de resíduos em aterros sanitários foi o único procedimento adotado, mesmo a incineração era vista apenas como um método de redução de volume dos resíduos e com única função de aumentar a capacidade dos aterros. O descarte indiscriminado de resíduos tóxicos por anos seguidos provocou acontecimentos lamentáveis do ponto de vista ambiental. Podemos citar como exemplo o caso do Love Canal, nos Estados Unidos, que foi um marco na contaminação ambiental por resíduos tóxicos. A região do Love Canal foi usada na década de 1940, pela Hooker Chemical Co., como local para descarte de resíduos industriais perigosos. A partir da década de 1960, o local começou a ser urbanizado, com a construção de casas. Na década de 1970, um odor forte foi sentido na região, que causava náuseas e ardência nos olhos dos moradores. Pesquisas mostraram que pelo menos uma centena de doenças atacavam os moradores daquela região, principalmente crianças e idosos. A dioxina foi identificada como principal contaminante. A United States Environmental Protection Agency (Usepa) condenou a região para fins habitacionais e, atualmente, ela passa por um processo longo de descontaminação. Esse episódio levou à revisão da política de descarte de resíduos em aterros, com um aumento rigoroso na classificação do tipo de resíduo que pode ser descartado diretamente. A incineração também não é uma solução definitiva: os resíduos incinerados sofrem principalmente uma redução de volume da parte orgânica pela combustão e evaporação da água, havendo a formação de cinzas no processo, o que representa a parte inorgânica do resíduo, formada basicamente por metais. Os metais são oxidados pela combustão, formando resíduos que devem ser descartados com cuidado, pois durante o processo de incineração contaminantes foram concentrados. 4.2.1 Resíduos sólidos urbanos O gerenciamento de resíduos sólidos é entendido como conjunto de ações normativas e operacionais, financeiras e de planejamento que uma administração municipal desenvolve, com base em critérios sanitários, ambientais e econômicos para coletar, tratar e dispor o lixo de seu município. No quadro a seguir podemos observar os processos de transformação utilizados no tratamento do lixo domiciliar. Quadro 1 – Técnicas de manejo de resíduos sólidos urbanos Processos de transformação Métodos de transformação Principal conversão em produtos Físicos Separação de componentes Manual ou mecânica Componentes individuais encontrados em resíduos domiciliares Redução de volume Métodos de compactação e embasamento Redução do volume do material original Redução do tamanho Métodos de cominuição Redução de tamanho dos componentes originais 62 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I Térmicos Combustão Oxidação térmica COx, SOx, NOx, outros produtos de oxidação, cinzas e escórias Esterilização Micro‑ondas Eliminação de micro‑organismos patogênicos Pirólise Destilação destrutiva PHAs, óleos, alcatrão, gases combustíveis Biológicos Compostagem aeróbia Conversão biológica aeróbiaComposto humificado Digestão aeróbia Conversão biológica aeróbia CH4, COx, húmus Obs.: O termo cominuição é utilizado em mineração para identificar as etapas de diminuição de tamanho, usando moinhos e britadores. Fonte: Philippi Jr.; Romero; Bruna (2004, p. 173). Saiba mais Para melhor implantação e operação de um sistema de gestão de resíduos sólidos, leia: ABRELPE. Resíduos sólidos: manual de boas práticas no planejamento. São Paulo, [s.d.]. Disponível em: <www.abrelpe.org.br/manual_apresentacao. cfm>. Acesso em: 8 out. 2015. De acordo com Philippi Jr. (2005), a coleta dos resíduos deve ser feita com frequência adequada, levando em conta que o acúmulo excessivo de resíduos pode aumentar os riscos para o meio ambiente e para a saúde pública. Os veículos devem ser escolhidos de acordo com quantidade de resíduo, do tipo de resíduo transportado, das características topográficas e da malha viária da região a ser atendida. O tratamento de resíduos sólidos procura modificar suas características como quantidade, toxicidade e patogenia, de forma a diminuir os impactos sobre o ambiente e a saúde pública. As alternativas tecnológicas são aplicadas de acordo com as características particulares da composição dos resíduos, do município ou região e dos recursos disponíveis. Nas regiões metropolitanas existe a tendência de se esgotarem, de forma cada vez mais rápida, os espaços para aterros sanitários. Como consequência, pode haver o aumento dos custos de disposição final, seja pelo aumento das distâncias para transporte, pelos custos de novas áreas ou pela necessidade de introdução de outros processos tecnológicos como a incineração. Os resíduos sólidos domiciliares são compostos principalmente por matéria orgânica, papel, plástico, metais, vidros e outros materiais. Devido à presença de matéria orgânica, possuem grande capacidade de atrair vetores e sua decomposição provoca mau cheiro e um líquido escuro e altamente poluente conhecido como chorume. A composição varia conforme a época, a cultura, o poder aquisitivo da população, o tempo, os padrões de consumo da época e o município. 63 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS A coleta é o componente do sistema de resíduos sólidos mais sensível aos olhos da população e, por isso, mais sujeito a críticas. Falhas no serviço de coleta levam ao acúmulo de resíduos, propiciando a proliferação de maus odores e de vetores, além de incômodos como a poluição visual. Portanto, a coleta deve ser feita de uma forma que facilite o comportamento da população e as operações posteriores de segregação, tratamento e disposição final. O planejamento e a administração da coleta envolvem algumas características importantes que devem ser consideradas, entre elas a frequência, o ponto de coleta, o horário de coleta e a forma da coleta. A frequência da coleta deve ser definida em função do custo e do acúmulo de resíduos. Quanto maior a frequência, maior o custo, porém quanto menor a frequência, maior o acúmulo de resíduos nos domicílios. O lixo pode ser coletado na calçada, em frente ao imóvel, ou no interior da casa. Isso depende, entre outros fatores, da cultura do local e das condições de segurança. A coleta tem um complicador nas épocas de chuva, uma vez que as águas pluviais podem carregar os sacos de lixo e o material pode entupir as galerias. A coleta pode ser feita de forma unificada ou com segregação de materiais. A coleta unificada tem a vantagem de ser mais barata e mais simples de gerenciar, por isso é a mais comum no Brasil. A coleta com segregação, ou coleta seletiva, facilita o reaproveitamento de materiais e os processos de tratamento que venham a ser aplicados. A coleta de materiais recicláveis presentes nos resíduos existiu durante muito tempo de maneira informal no Brasil, executada pelos próprios garis da coleta ou catadores, que coletavam material reciclável de porta em porta ou nos lixões, neste último caso em condições subumanas. A coleta seletiva pode ser feita em sistema de entrega voluntária ou porta a porta. No primeiro caso, são colocados contêineres em pontos estratégicos ou estabelecem‑se instituições para receber os materiais que em ambos os casos são levados pela própria população. No segundo caso, os veículos coletores circulam recolhendo os resíduos de casa em casa, como na coleta regular. Nesse caso, a separação de materiais pode ser efetuada conforme diferentes critérios. Além da coleta institucionalizada promovida pelos órgãos de limpeza pública, existe também a possibilidade da atividade informal de catadores e sucateiros que coletam resíduos seletivamente. Como os dados de geração de resíduos são levantados com base nessa coleta, a quantidade coletada informalmente não costuma fazer parte da estatística. Os resíduos coletados são transportados para unidades de tratamento ou para locais de disposição final. O transporte constitui geralmente parte importante do custo do sistema de resíduos. No caso da coleta seletiva, os resíduos recicláveis apresentam uma densidade média cinco vezes inferior aos resíduos misturados. Alguns fatores contribuem para o alto custo, como a baixa adesão aos programas, que leva a uma baixa eficiência operacional, e a falta de vontade política das administrações em ampliar efetivamente a escala dos trabalhos e baixar os custos. Como já estudamos, na maioria dos municípios brasileiros, os resíduos sólidos domiciliares destinam‑se a aterros adequados ou não, sem tratamento prévio. Existem diversas iniciativas de reciclagem de resíduos e de compostagem, que por enquanto representam uma quantidade pouco significativa de resíduos tratados na maioria dos casos. 64 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I Alguns municípios possuem um processo de triagem, que tem o objetivo de separar os materiais que se deseja recuperar, aqueles prejudiciais à qualidade do processamento ou à durabilidade do equipamento. Pode ser executada manualmente em pátios, esteiras rolantes ou mesas ou de maneira automatizada, com equipamentos magnéticos ou peneiras. A operação de triagem pode ser realizada em usinas, aterros, lixões e em outros locais. Quando realizada nos sacos à espera da coleta pelos catadores de lixo, tem o inconveniente de causar sujidade no local. Após a triagem, os materiais podem ser prensados a fim de baratear o transporte até os locais onde serão industrializados. A eficiência da mão de obra de triagem pode ser avaliada pela quantidade de resíduos triados por pessoa, por hora. Os principais tipos de tratamento de resíduos sólidos domiciliares são (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004): a) a reciclagem de resíduos constitui o reprocessamento de materiais, permitindo novamente a sua utilização. Assim, materiais descartados são reintroduzidos num ciclo produtivo por meio de sua transformação. A reciclagem possibilita que materiais considerados resíduos para o gerador passem a ser matérias‑primas secundárias para outro indivíduo. A reciclagem difere da reutilização porque exige um maior grau de processamento, excedendo a simples triagem e limpeza do material. A reciclagem de alumínio economiza 95% da energia em relação à utilização do minério. O vidro também é fundido em novas peças, com economia de 50% no consumo de água em relação à fabricação a partir das matérias‑primas primárias. Plásticos são fundidos e transformados em grânulos, que são usados como matéria‑prima para fabricação de novos produtos com economia de 78,7% de energia elétrica. Na reciclagem do papel, o material é desagregado em água e as fibras podem passar ainda por um processo de refinamento antes da utilização. Há ainda soluções criativas, como fabricação de lixeiras a partir de pneus. A reciclagem traz benefícios para o meio ambiente, mas deve‑se levar em consideração a análise do ciclo de vida do produto para existir uma visãoclara das vantagens e desvantagens ambientais envolvidas no processo de reciclagem. A reciclagem de materiais pela indústria depende muito da viabilidade econômica. Sobre esse processo pesa também a dificuldade de desenvolvimento de mercado para os produtos reciclados, que muitas vezes são vistos como produtos de qualidade inferior. Diversos produtos já fabricados com material reciclado não se utilizam ainda do fato de conter material reciclado como vantagem competitiva no mercado, preferindo omitir essa informação. Existem ainda produtos artesanais feitos com material reciclado que alcançam alto valor de mercado pelo seu caráter artístico ou social, quando produzidos em instituições voltadas à reintegração de crianças, adolescentes e outras pessoas com necessidades especiais. b) a compostagem é um processo biológico de decomposição controlada de matéria orgânica contida em restos de origem animal ou vegetal, que produz um composto útil para melhorar as propriedades físicas do solo, além de ter propriedades fertilizantes. O processo promove a inativação da maioria dos agentes patogênicos, normalmente presentes nos resíduos sólidos domésticos, porque numa das etapas eles ficam 65 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS expostos a temperaturas da ordem de 65 ºC a 70 oC. Não se aconselha o uso em culturas que são ingeridas cruas, por causa de existência de certas formas de ovos e cistos que resistem a essas temperaturas. Existem várias alternativas de processos tecnológicos, desde os mais simples, como a compostagem em montes periodicamente revirados, até instalações de grande porte com tambores rotativos. A compostagem pode ser realizada por meio de processos aeróbicos, anaeróbios ou mistos, mas é um processo lento, que dependendo da tecnologia empregada pode levar de 45 a 180 dias. Em geral, exige áreas grandes de pátio para a etapa de cura. c) a incineração constitui um processo de redução de peso e volume dos resíduos por intermédio de queima controlada. Os resíduos são reduzidos a cinzas, que representam de 5% a 15% do peso inicial. Os agentes patogênicos são destruídos, por isso ela é muito utilizada para tratamentos de resíduos de serviços de saúde, já que essa solução destrói também diversos compostos químicos tóxicos presentes. Alguns incineradores são projetados de modo a permitir o aproveitamento do calor gerado da queima para a produção de energia elétrica. Uma das desvantagens desse processo está no risco de produção e emissão de dioxinas e furanos, substâncias cancerígenas, que se emitidas com os gases da queima podem depositar‑se no solo, entrar na cadeia alimentar via vegetais e provocar danos ambientais graves. Tecnicamente, existem formas de minimizar bastante essa possibilidade, como o resfriamento mais rápido dos gases e filtragem de materiais particulados. Contudo, a percepção dos riscos associados ao processo e à segurança da tecnologia varia de comunidade para comunidade, o que tem tornado politicamente difícil e desgastante as decisões sobre a instalação de novos incineradores e provocado a desativação de equipamentos antigos. As cinzas ainda devem ser aterradas, sendo necessário que haja um aterro para a sua disposição, mas a principal desvantagem está no custo elevado. Um estudo sobre as alternativas para o município de São Paulo mostra que a incineração de alguns componentes dos resíduos sólidos domésticos pode ser economicamente mais interessante que a coleta seletiva e reciclagem, embora investimentos mais expressivos em educação ambiental possam inverter essa situação. Considerando o ponto de vista ambiental e tendo como parâmetro o efeito estufa e o aumento da temperatura da superfície da Terra devido a uma maior emissão de gases na atmosfera, a reciclagem torna‑se mais vantajosa. Onde há escassez de áreas para aterro ou fontes de energia, a incineração de resíduos sólidos domésticos é muito utilizada. No Japão, 70% do lixo doméstico é incinerado. Na Alemanha, as exigências com a qualidade do ar têm inviabilizado novos investimentos em incineradores e, assim, vem aumentando a fração do lixo tratada por compostagem. Por outro lado, tem sido admitida a incineração de plásticos, pois o mercado de reciclagem não é suficiente para processar todo o material recolhido. d) os aterros sanitários são obras de engenharia destinadas a acomodar os resíduos sobre o solo, minimizando os impactos ambientais e os riscos à saúde. Os resíduos não tratados e os rejeitos dos diversos processos de tratamento precisam ser finalmente dispostos no solo; a solução mais frequentemente indicada é o aterro sanitário. É importante ressaltar que nenhum sistema de resíduos sólidos dispensa o aterro sanitário. A existência de alguma forma de disposição final se faz sempre necessária para absorver os rejeitos gerados pelos processos de tratamento e reciclagem. 66 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I Os aterros devem possuir drenos para os líquidos percolados que se formam na decomposição natural da matéria orgânica e impermeabilização adequada para evitar a contaminação de aquíferos. Também precisam dispor de drenos para o escoamento dos gases que se formam no processo de fermentação da matéria orgânica. A operação deve incluir compactação do lixo e cobertura diária dos resíduos com terra, que ajuda a evitar a emanação de maus odores e o crescimento de vetores. Além disso, precisam ser cercados para evitar a atividade de catadores. Quando a capacidade do aterro se esgota, a área deve ser recuperada do ponto de vista paisagístico e de utilização pela sociedade, respeitando‑se as limitações técnicas inerentes às características dos terrenos aterrados com resíduos. Por fim, eles devem ter um sistema de drenagem de águas pluviais, tratamento adequado para o chorume e também sistema de monitoramento de lençol freático. Entre as soluções sanitárias e ambientalmente adequadas, os aterros sanitários são considerados a forma mais barata, no curto prazo, para solucionar a questão do lixo doméstico em cidades médias e grandes. Com o passar do tempo, as áreas disponíveis tendem a se esgotar, provocando aumento de custo devido ao preço dos novos terrenos ou às maiores distâncias em relação aos centros geradores. As formas de disposição, nas quais não há qualquer cuidado para redução do impacto ambiental, são normalmente chamadas de lixão. Os lixões são inadequados do ponto de vista sanitário porque propiciam a proliferação de vetores e o aparecimento de doenças. Podem provocar a poluição do solo, das águas e do ar e diversos problemas ambientais. Do ponto de vista social, acabam refletindo a miséria encontrada na região, porque são fonte de renda e alimento para catadores. Os lixões dão a forma mais numerosa de locais de destinação final no Brasil, sendo quase 50 mil ton./dia dispostas em locais com essa classificação. 4.2.2 Resíduos de serviços de saúde (RSS) Até o final da década de 1980, os RSS eram denominados lixo hospitalar. Em 1987, a ABNT alterou a terminologia para resíduos de serviço de saúde, considerando que esse tipo de resíduo não é exclusivamente gerado em hospitais, mas também provenientes de ambulatórios, consultórios médicos e odontológicos, clínicas veterinárias, farmácias, laboratórios de análises clínicas e patológicas, bancos de sangue ou leite, além das estações rodoferroviárias, portos e aeroportos e locais de grande fluxo de pessoas. A Resolução 283 (CONAMA, 2001) acrescentou algumas outras fontes geradoras desses resíduos, como centros de pesquisa, desenvolvimento ou experimentação na área de farmacologia e saúde, medicamentos e imunoterápicos vencidos ou deteriorados, resíduos provenientes de necrotérios, funerárias e serviços de medicina legal e provenientes de barreiras sanitárias. Atualmente, a Anvisa (2004), por meio da RDC33/03, acrescenta e especificanovos serviços àqueles já previstos nas legislações anteriores, passando a incluir: serviços de apoio à preservação da vida; indústrias; unidades de controle de zoonoses; serviços de tatuagem e acupuntura; serviços radiológicos, de radioterapia e medicina nuclear; serviços de tratamento quimioterápico e de hemoterapia; unidades de produção de hemoderivados e serviços de embalsamamento. 67 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS No Brasil, os resíduos gerados nos serviços de saúde ficaram sem uma classificação legal específica até o início da década de 1990. Então, a ABNT passou a editar uma série de normas, como a NBR 12.808 (1993), que classificava em três categorias os RSS, segundo a mesma direção do Centro de Vigilância Sanitária (CVS) em 1989: infectantes, especiais (incluindo os farmacêuticos, radioativos e químicos perigosos) e comuns. Nesse período, não havia um consenso sobre a classificação dos RSS no Brasil, até que fosse editada em 1993 a Resolução nº 5 (CONAMA, 1993), que representou a primeira norma legal de classificação dos RSS. Eles passaram a ser divididos em quatro grupos: Grupo A – Infectantes: constituído pelos resíduos que apresentam risco em potencial à saúde pública e ao meio ambiente devido à presença de agentes biológicos. Fazem parte desse grupo sangue e hemoderivados, animais usados em experimentação, excreções, secreções e fluidos orgânicos e animais, meios de cultura, tecidos e órgãos, fetos e peças anatômicas, filtros de gases aspirados em áreas contaminadas, resíduos em geral e restos alimentares de áreas de isolamento, resíduos de laboratórios de análises clínicas, resíduos de ambulatórios, de sanitários de unidades de internação e enfermarias e animais mortos a bordo de meios de transporte. Grupo B – Químicos: materiais que apresentam risco em potencial à saúde pública e meio ambiente devido às suas características químicas. Incluem‑se drogas quimioterápicas e produtos por elas contaminados, resíduos farmacêuticos (medicamentos vencidos, contaminados, interditados, ou não utilizados) e demais produtos perigosos, conforme a classificação nacional de resíduo sólido – NBR 10004 da ABNT (tóxicos, inflamáveis, corrosivos e reativos). Grupo C – Radioativos: constituídos por rejeitos radioativos, como material contaminado com radionuclídeos, provenientes de laboratórios de análises clínicas e serviços de medicina nuclear e radioterapia, segundo a resolução 6.05 da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN, 1985). Grupo D – Comuns: constituído pelos demais tipos de resíduos que não se enquadram nos anteriores. A Resolução 283 (CONAMA, 2001) partiu do princípio da necessidade de aprimoramento, atualização e complementação da resolução 05/93 do Conama. Em relação à classificação dos RSS, foram mantidas as quatro categorias, acrescentando‑se aos resíduos do grupo A: vacina vencida ou inutilizada, membrana filtrante de equipamento médico hospitalar e de pesquisa, objetos perfurocortantes, provenientes de estabelecimentos prestadores de serviços de saúde, resíduos contaminados por excreções e líquidos orgânicos procedentes de pacientes, resíduos de sanitários de pacientes, materiais descartáveis que tenham entrado em contato com paciente, lodo de Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de estabelecimento de saúde e resíduos provenientes de áreas endêmicas definidas pela autoridade de saúde competente. A partir de março de 2003, por definição da RDC 33/03 da Anvisa, os RSS passaram a ser classificados em cinco grupos, separando‑se os resíduos perfurocortantes, antes incluídos no grupo de infectantes, em um novo grupo: Grupo A – Potencialmente infectantes: resíduos com possibilidades de conter agentes biológicos que podem causar risco de infecção devido a características de maior virulência ou concentração. São subdivididos em sete categorias, denominadas de A1 a A7, de acordo com os diferentes tipos de resíduos. 68 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I Grupo B – Químicos: apresentam, em sua composição, substâncias químicas, independentemente das características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxidade. Subdividem‑se em oito categorias de B1 a B8. Grupo C – Rejeitos radioativos: contaminados com radionuclídeos, devendo seguir determinações técnicas e legais da CNEN. Grupo D – Resíduos comuns: qualquer resíduo não contaminado e que não possa provocar acidentes. Grupo E – Perfurocortantes: esta categoria inclui objetos e instrumentos que possuem cantos e bordas, pontos de protuberâncias rígidas e agudas, cortantes ou perfurantes. No final da década de 1960 já havia uma tímida preocupação quanto à importância e aos cuidados especiais a serem dispensados com os RSS, principalmente com o aumento do consumo de produtos descartáveis. Atualmente, procura‑se proporcionar uma solução segura e eficiente para esses resíduos que são um dos maiores problemas, pois não há fundamentação científica que assegure um melhor método de tratamento e destinação final para os RSS sem que causem danos à saúde humana e ao ambiente. O sistema de tratamento de RSS é definido pela legislação como um conjunto de unidades, técnicas, processos e procedimentos que alteram as características físicas, físico‑químicas, químicas e biológicas dos resíduos e conduzem à minimização do risco à saúde pública e à qualidade do meio ambiente (CONAMA, 1993). De acordo com a Resolução nº 5 (CONAMA, 1993), os resíduos infectantes (grupo A) não podem ser dispostos no ambiente sem tratamento prévio, sendo também proibida sua reciclagem. Após tratamento, esse resíduo passa a ser considerado do tipo comum (grupo D) e deve seguir as recomendações dos órgãos ambientais. Resíduos do grupo B (de origem química) devem ser submetidos a tratamento e destinação específicos, de acordo com os seus subgrupos, enquanto os radioativos (grupo C) devem seguir as exigências definidas pela CNEN. Já os do grupo D (do tipo comum) podem entrar no mesmo sistema dos resíduos domiciliares, desde que não sejam misturados aos demais tipos de resíduos, devendo ser coletados pelo órgão municipal. Para a RDC 33/03 da Anvisa (2004), os resíduos do grupo A e B devem seguir diferentes tipos de tratamentos ou descontaminação na própria unidade geradora antes do seu encaminhamento para tratamento ou destino final, devendo envolver os fabricantes no processo; os do grupo E devem ter tratamento prévio ou ser encaminhados diretamente para aterro sanitário, e as recomendações para os resíduos dos grupos C e D assemelham‑se às contidas nas resoluções anteriormente vigentes. Recomenda‑se que instalações de tratamento de resíduos obedeçam à legislação específica, sempre privilegiando opções consorciadas pela extensão dos benefícios à comunidade e ao ambiente. A responsabilidade pelo manuseio, tratamento e disposição final dos RSS é do estabelecimento gerador, com exceção dos resíduos comuns – grupo D. 69 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Alguns autores recomendam a reciclagem dos resíduos de saúde do tipo comum, como papel, papelão, latas de alumínio e vidros, desde que não tenham tido contato com áreas de atendimento de pacientes, com o objetivo de proteger o meio ambiente, conservar os recursos da natureza, diminuir o volume dos resíduos e aumentar a vida útil dos aterros sanitários. Estudaremos de maneira resumida cada um dos tratamentos aplicados aos resíduos de serviços de saúde atualmente (PHILIPPI JR., 2005): • Desinfecção química É um processo em que os RSS são submetidos à ação de substâncias químicas para a destruição de agentes infecciosos. Os resíduos líquidos resultantes desse processo podem ser despejados em sistemas de esgoto e os resíduos sólidos secos dispostos em aterro sanitário. No entanto, as recomendaçõespara seu uso referem‑se mais à desinfecção de utensílios e superfícies do que de resíduos, sendo necessário um monitoramento de cada lote dos produtos utilizados para maior garantia. O maior inconveniente é que esse processo deixa resíduos tão ou mais perigosos para o meio ambiente do que antes do tratamento. • Esterilização a vapor (em autoclave) É um método de tratamento amplamente utilizado para descontaminação de resíduos microbiológicos e outros de laboratórios antes da disposição final. Como é um processo que deve permitir a penetração de vapor e condução de calor por toda a massa a ser esterilizada para ser eficiente, torna‑se impróprio para o tratamento de grandes volumes de resíduos pela espessura e estado físico do RSS. O uso de autoclave exige desenvolvimento de uma tecnologia razoavelmente sofisticada, que precisa de treinamento para ser operada. Os resíduos devem ir para aterros sanitários e jamais reciclados, pois não há garantia de destruição dos organismos patogênicos. • Esterilização por gases Trata‑se de um processo que consiste na injeção de um agente químico, sob a forma de gás, numa câmara fechada. Comumente têm sido utilizados óxido de etileno e formaldeído. Admite‑se o uso de gases no tratamento de resíduos de serviços de saúde, porém lembrando os efeitos cancerígenos ligados ao óxido de etileno. Devido a esses riscos, é um método que requer uma estrutura especial do serviço para sua utilização e os serviços devem seguir as recomendações legais específicas. • Inativação térmica É um processo de aquecimento do resíduo em temperaturas que destroem grandes volumes de resíduos líquidos, que são colocados sobre uma chama, em temperaturas predeterminadas, por um período de tempo específico. É um método muito utilizado em indústrias, mas não muito difundido no Brasil, sendo semelhante ao sistema de esterilização por vapor. 70 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I • Incineração A incineração é o método mais utilizado nas últimas décadas, sendo preconizado até recentemente como o mais adequado para assegurar a eliminação de microrganismos patogênicos presentes na massa de resíduos infectantes do grupo A, desde que atendidas as necessidades de projeto e operação adequadas ao controle do processo. Uma de suas vantagens é quanto à intensa redução do volume (cerca de 90%) e peso (15%), além da descaracterização do aspecto inicial dos resíduos. A instalação de um sistema de incineração requer um espaço físico bem reduzido em relação à sua capacidade de recepção e pode resultar em quatro produtos: gases, destacando‑se as dioxinas e furanos, energia, resíduos sólidos (cinzas e escórias) e efluentes líquidos, dependendo do tipo de incinerador. Como desvantagens, a incineração não elimina totalmente os resíduos e pode emitir gases poluentes na atmosfera, como furanos e dioxinas, além de metais pesados, se os equipamentos forem inadequadamente projetados e/ou operados. Uma outra desvantagem é a carência de estudos de testes de eficiência periódicos para monitorar o sistema. A possibilidade de emissão de gases nocivos à saúde humana e ambiental é uma das principais justificativas de alguns órgãos governamentais e pesquisadores para não optar ou não recomendar a incineração de resíduos. No Brasil, a Portaria nº 53 (BRASIL, 1979b) do Ministério do Interior, que no item VI tornava obrigatória a incineração de resíduos de serviços de saúde, teve esse item revogado, por intermédio da Resolução nº 6 (CONAMA, 1991), com base nessa inconveniência de operação. Atualmente, a legislação específica para esse tema não determina o tipo de tratamento a ser eleito pelos geradores, mas exige que atenda às normas de controle da poluição do solo, das águas e do ar. O uso da incineração tem sido reduzido, dando espaço à utilização de novas tecnologias para tratamento dos RSS, como micro‑ondas e, mais recentemente, tocha de plasma. • Radiações ionizantes É uma tecnologia recente para o tratamento dos resíduos de serviços de saúde, que utiliza radiações gama a partir do cobalto (Co) 60 e ultravioleta para destruir os micro‑organismos infecciosos. A radiação ultravioleta tem sido empregada mais no tratamento de água residuária. É recomendado um monitoramento quinzenal com testes bacteriológicos e há no Brasil uma legislação específica. • Uso de micro‑ondas A utilização de micro‑ondas para destruir agentes infecciosos tem sido empregada com sucesso em alguns serviços de saúde da Europa e foi introduzido no Brasil mais recentemente. Consiste na trituração dos resíduos, que são umedecidos com água aquecida entre 90 °C e 150 oC, passando para outra câmara em que sofrerão a ação de micro‑ondas, com um tempo de permanência de quinze a trinta minutos. 71 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Esse processo reduz o volume dos resíduos entre 60% e 90%, deixando‑os descaracterizados. Pode oferecer risco ocupacional durante o manuseio dos resíduos, principalmente na etapa inicial de trituração, anterior à aplicação de micro‑ondas, embora haja uma expectativa de que se represente uma tecnologia que possibilitará a redução de custos e ajudará a controlar a poluição ambiental decorrente de outras práticas. É um processo pouco conhecido no Brasil. • Uso de tocha de plasma O sistema de plasma pirólise ou plasma térmico é a mais recente tecnologia introduzida para o tratamento dos RSS. O processo envolve a introdução de um gás ionizado – nitrogênio, argônio ou monóxido de carbono (CO) – que se transforma em tocha de plasma por meio da aplicação de energia elétrica, dentro de um forno revestido de sílica, alumina e magnesita para resistir às altíssimas temperaturas que são produzidas. Uma tocha de plasma de 0,2 m de diâmetro por 0,8 m de comprimento, com 500 kW de potência, trata cerca de 800 kg de resíduo por hora. Esse sistema necessita ser ligado à corrente elétrica 30 minutos antes do início do processo. É um método limpo gerador de um produto que, após gaseificado a temperaturas em torno de 1600 oC, funde‑se, tornando‑se vitrificado e de extrema dureza, podendo ser utilizado em construções ou outros fins. Outra vantagem é a elevada redução de seu volume e a não emissão de dioxina. No entanto, essa tecnologia exige alto investimento, sendo ainda necessários estudos mais ampliados. De acordo com a Resolução 283 (CONAMA, 2001), o sistema de destinação final de RSS constitui‑se no conjunto das instalações, processos e procedimentos que objetivam a destinação ambientalmente adequada dos resíduos, em consonância com as exigências dos órgãos ambientais competentes, procurando assegurar a proteção ao meio ambiente e à saúde pública. A disposição final dos RSS deve ser precedida pelo tratamento prévio desses resíduos, dependendo do seu potencial de risco, e é de responsabilidade do gerador, embora, historicamente, tenha sido atribuição do poder público municipal. A partir da coleta externa, que transporta os RSS do estabelecimento gerador ao local onde serão dispostos, os resíduos de serviços de saúde devem ter como destinação final um aterro sanitário, que se constitui em solução aceita por autoridades governamentais e científicas, desde que os resíduos dos tipos infecciosos e químicos (grupos A e B) tenham sido submetidos a tratamentos prévios específicos. 4.3 Importância da reciclagem para o meio ambiente Atualmente, a sociedade encara a reciclagem como uma possibilidade de recuperar resíduos sólidos de forma lucrativa, reinserindo o material no circuito de consumo de mercadorias e com ganhos ambientais a partir dessa atitude. Infelizmente, numa sociedade capitalista, o principal objetivo é a obtenção de lucro. A preservação ambiental ainda está em segundo plano. Vivemos numa realidade contraditória: como preservar a natureza e ao mesmo tempo estimular o consumo? 72 Re vi sã o: C arla - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I A separação do material reciclado no lixo é feita por catadores que trabalham em lixões ou nas ruas coletando resíduos. Isso mostra o alto grau de exclusão dessa parcela da população, que é obrigada a trabalhar em condições sub‑humanas para obtenção de seu sustento. O trabalho dos catadores de lixo faz parte de uma engrenagem ampla e complexa do sistema produtivo da reciclagem. O catador de material para reciclagem é extremamente importante para o processo, mas trabalha em condições precárias e seus ganhos não são suficientes para garantir a sua sobrevivência (LEAL et al., 2002). A reciclagem é vista como uma ação benéfica ao meio ambiente, pois ajuda a diminuir os danos causados pelo homem ao ambiente, aproveita parte do resíduo sólido doméstico e, ainda, colabora com a solução de problemas urbanos como a destinação do lixo, não sobrecarregando os aterros sanitários. Contudo, ela é extremamente lucrativa para quem controla parte da reindustrialização de resíduos sólidos recicláveis, transformando‑os em matéria‑prima novamente. A ideia da reciclagem deve beneficiar a preservação de alguns recursos naturais que seriam gastos na fabricação de produtos novos. Contudo, a reintrodução dos resíduos sólidos no sistema produtivo da economia, quando realizada em grande escala, traz benefícios à natureza, mas este não é o objetivo principal, mas sim a geração de lucro com a economia de matéria‑prima reciclada, muito mais barata que a matéria‑prima virgem. Não são todos os resíduos recicláveis que chamam a atenção das empresas recicladoras; elas só investem naqueles materiais que têm lucro garantido, usando os mesmos métodos que fundamentam e dirigem qualquer atividade industrial que faz parte do capitalismo. A indústria da reciclagem usa o pretexto da importância de proteger a natureza, valorizando os seus produtos pelo fato de serem reciclados ou que podem ser reciclados. A reciclagem é vista de forma distorcida pela sociedade, pois o indivíduo pensa que ele pode ser beneficiado diretamente, participando do processo como agente ambiental, e esse tipo de atitude é reforçado pela mídia. Somente os materiais que apresentam baixo custo, grande disponibilidade e um mercado consumidor garantido recebem investimento e atenção da indústria da reciclagem. A importância do beneficiamento ambiental é uma consequência e pode ser usada como marketing. Dessa forma, se o papel é reciclado, é um negócio garantido; se é um outro material que não dá lucro, o melhor é destiná‑lo ao aterro sanitário. É com esse pensamento que os resíduos sólidos recicláveis retornam ao processo produtivo, resgatando o valor daquilo que era considerado inútil. O sistema da reciclagem é composto pelos catadores, pelos intermediários, que acumulam uma quantidade maior de material para revenda, e pelas indústrias de reciclagem. Esse sistema acontece nos grandes centros urbanos, principalmente em países com alto grau de pobreza e desemprego. Os centros urbanos são locais de alto consumo de produtos e geração de resíduos sólidos, que podem ser reciclados se descartados em grandes quantidades. Assim, indivíduos vivendo em condições de miséria, sem amparo, veem‑se obrigados a coletar o material reciclável do lixo e vendê‑lo como forma de sobrevivência. Podemos perceber um incentivo em aumentar a produção e estimular o consumo, característica do sistema capitalista. Como resultado, observa‑se a geração de grande quantidade de lixo nos centros urbanos. Os catadores que trabalham nos lixões, ou perambulando pela cidade recolhendo material 73 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS reciclável, não recolhem lixo, mas sim uma mercadoria dentro de um determinado contexto social, que é vendida para o intermediário e, em seguida, vendida para a indústria. A lata, o ferro, o papel e o alumínio são materiais potencialmente recicláveis. Mesmo após virarem lixo, ainda carregam a síntese do trabalho humano, organizado sob um sistema produtivo de mercadorias e composto por várias etapas e utilização de matérias‑primas e outras muitas ações socialmente necessárias para formar o produto final. No Brasil, o processo de reciclagem explora, em grande parte, uma massa de trabalhadores miseráveis, que são obrigados, por questões sociais e econômicas, a tirarem o seu sustento do lixo. Um fato interessante é que nunca são apresentadas as porcentagens de aumento dos resíduos recicláveis anualmente. Sabemos que esse aumento não tem relação com o aumento da conscientização da população em relação à geração e destinação do lixo (LEAL et al., 2002). Não é novidade que o lixo é um dos maiores problemas ambientais da atualidade. Ele tem o seu lugar nos programas de educação nas escolas, mas o entendimento dessa questão tem que ser feito integrando questões econômicas, sociais, políticas e ambientais. Assim, formulou‑se a chamada política dos 3 Rs, que se baseia em técnicas e meios para enfrentarmos a questão do lixo. A educação ambiental reducionista, tentando resolver o problema local do lixo, torna a reciclagem uma ação final, ao invés de considerar o tema como gerador de um questionamento de causas e consequências da problemática do lixo, levando a discussões alienadas apenas dos aspectos técnicos da reciclagem e fugindo da dimensão política (LAYRARGUES, 2002). A discussão levantada pela educação ambiental não ajuda na formação da cidadania, pois não existe uma ação coletiva pública para implementação de alternativas para o tratamento dos resíduos sólidos urbanos. O lixo ainda não se tornou uma questão que mereça políticas públicas, assim como alguns movimentos sociais. Nem mesmo as cooperativas de catadores de lixo conseguiram transformar essa atividade em política pública. O volume de resíduos sólidos cresce a cada dia e os problemas gerados podem ser divididos em cinco categorias: saúde pública, custos de recolhimento e processamento, estética, ocupação de espaço em depósitos de lixo e esgotamento dos recursos naturais. A principal discussão do tema recai sobre a coleta seletiva do lixo como uma alternativa para o tratamento dos resíduos, baseando‑se na atual lotação dos depósitos de lixo e nas dificuldades encontradas pelas prefeituras na destinação final do lixo. Vários problemas políticos tornam a coleta tradicional cada vez mais cara, favorecendo o surgimento da coleta seletiva, que utiliza como incentivo evitar a possibilidade de esgotamento de recursos naturais não renováveis, principalmente os recursos minerais, que podem impactar na extinção de alguns materiais a curto prazo. A sociedade atualmente encara a reciclagem da seguinte forma: A coleta seletiva é uma alternativa ecologicamente correta que desvia do destino em aterros sanitários ou lixões, resíduos sólidos que podem ser reciclados. Com isso, dois objetivos importantes são alcançados. Por um lado, a vida útil dos aterros sanitários é prolongada e o meio ambiente é menos 74 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I contaminado. Por outro lado, o uso de matéria‑prima reciclável diminui a extração dos nossos tesouros naturais. Uma lata velha que se transforma em uma lata nova é muito melhor que uma lata a mais. E de lata em lata o planeta vai virando um lixão [...] (LAYRARGUES, 2002, p. 2). Fazendo uma análise do discurso ambiental do governo brasileiro, existem duas vertentes sobre os problemas ambientais: a primeira é o discurso ecológico oficial, determinado pelo ambientalismo governamental, e tem a função de manter os valores culturais da sociedade; a segunda é o discurso ecológico alternativo, que é ecológico realmente e tem a função de promover os valores que nem sempre vão de acordo com os interesses sociais e econômicos instituídos. Os empresários brasileiros possuem a mesma postura do governo,pois divulgam a dominação ideológica, impedindo qualquer ação fora dos interesses empresariais e governamentais. Devemos salientar que o ambientalismo alternativo é contrário ao oficial. Assim, cada ideologia possui uma determinada visão dos problemas relacionados ao lixo, uma determinada interpretação da política dos 3 Rs e, para a educação ambiental, cada ideologia crê num conjunto de proposições pedagógicas de acordo com seus interesses. As mazelas do lixo são um problema cultural, consequência do consumismo selvagem, que é um dos alvos da crítica à sociedade atual para o ambientalismo alternativo. O consumismo tornou‑se um fator expressivo da crítica quando se fala de um ambiente sustentável. Nesse contexto, o sistema de produção e a economia visam aumentar o consumo. Essa sequência de acontecimentos passou a ser vista como sinônimo de qualidade de vida. Por outro lado, o consumismo também pode ser visto como causa de muitos problemas ambientais e, logo, não poderia mais ser interpretado como sinônimo de bem‑estar. Os cidadãos são induzidos a consumir bens materiais sem necessidade, que se tornam obsoletos em poucos meses. Isso é ainda mais acentuado quando falamos dos eletrodomésticos. Por exemplo, os eletrodomésticos fabricados na década de 1950 eram muito mais resistentes e passíveis de manutenção do que os fabricados atualmente, pois tinham o objetivo de durar e não quebravam facilmente; se quebrassem, seu conserto tinha um custo viável, o que também não ocorre mais. Assim, é importante eliminarmos a obsolescência planejada para conseguirmos minimizar os resíduos. Fabricar um refrigerador planejando uma vida útil de doze anos ao invés de oito significa ter 1/3 de refrigeradores a menos sendo descartados no mesmo período de tempo. O mercado capitalista cria demandas artificiais por meio de propaganda, estimulando os consumidores a comprarem produtos novos, mesmo quando os antigos ainda estão funcionando perfeitamente bem, induzindo a ilusão de que o produto ficou obsoleto. Notamos que a vida útil dos produtos está cada vez menor, pois ocorre uma união entre a obsolescência planejada e a criação de demandas artificiais no mercado capitalista. A moda e a propaganda nos levam a um desvio da função primária dos bens. Nos dias de hoje, a obsolescência planejada e a descartabilidade dos produtos são elementos essenciais para um estilo de produção que estimula o consumismo selvagem (LAYRARGUES, 2002). Assim, dentro de uma sociedade consumista, a redução de gastos é a alternativa possível, permitindo mudar a devoção pelo consumo e buscando outros valores, por exemplo, a educação. Entretanto, 75 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS numa sociedade materialista e consumista ao extremo, a simplicidade é vista como privação, sacrifício, renúncia, já que a aquisição de bens materiais é tida como a felicidade conquistada com o consumo. A sociedade moderna está contaminada pelo consumismo e tudo nos faz acreditar que diminuir o consumo é doloroso, pois precisamos mudar os valores que já estão enraizados. A Teoria dos 3 Rs, na filosofia ecológica alternativa, incentiva uma sequência lógica que deve ser seguida: a redução do consumo deve ser prioridade quando comparada à reutilização e reciclagem; em seguida, a reutilização deve ser prioridade em cima da reciclagem. Reutilizar deve ter relevância equivalente à redução do consumo. Já a filosofia ecológica oficial prega que o problema do lixo é uma questão de ordem técnica, e não cultural. Os ideais sobre o consumismo são publicados na Agenda 21, que determina que o consumo atualmente é insustentável. Segundo Layrargues (2002), é importante entender as diferenças entre as duas filosofias: a alternativa é subversiva e radical, mas a oficial é conservadora e moderada na forma como classifica o consumo em insustentável, afirmando que possa existir uma maneira sustentável de consumir. O consumo sustentável torna‑se uma alternativa viável quando associado à reciclagem com as tecnologias limpas e eficientes. Atualmente, podemos criticar a filosofia oficial, pois já existem sociedades que possuem um consumo sustentável. Entretanto, o consumismo ainda não pode ser criticado, pois a diminuição do consumo é perigosa para a economia. Para a filosofia oficial, o maior problema é o consumo insustentável, e não o consumismo. Essa filosofia não aceita a redução do consumo. A reciclagem serve para transformar o consumo insustentável em sustentável. Dessa forma, pode‑se interpretar a teoria dos 3 Rs de duas maneiras: a primeira leva em consideração a redução e reutilização e mostra‑se como um projeto político‑ideológico progressista; a segunda ressalta a reciclagem e mostra‑se como um projeto liberal. Se a Agenda 21 não considera o consumismo um problema, tampouco estimula a redução do consumo no seu texto. Sendo essa cultura o alvo da alteração de comportamento, enfatizada na filosofia ecológica alternativa, a reciclagem mostra‑se contraditória em relação à diminuição do consumo e à reutilização, mas essa ideia não traz ameaças para o sistema dominante uma vez que não questiona o consumismo. O Clube de Roma (MEADOWS; MEADOWS; RANDERS, 1992) já admitia que o aumento da vida útil dos produtos, a redução da obsolescência planejada, o conserto dos produtos quebrados e a reutilização de produtos descartados são maneiras extremamente mais eficientes que a reciclagem, pois necessitam de menos energia para a transformação. Aumentar a vida útil de bens para o dobro significa reduzir o consumo de energia, o resíduo e a poluição gerada. Assim, a filosofia ecológica oficial altera a ordem de prioridade da política dos 3 Rs: dando importância máxima à reciclagem e minimizando a redução do consumo. Contudo, para não criar uma lacuna, transforma a relevância da redução de consumo em desperdício e continua o discurso quando incorpora o interesse na reutilização, mas sem grande interesse (LAYRARGUES, 2002). 76 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I A Política dos 3 Rs dá prioridade à filosofia ecológica oficial, transformando‑se numa prática de comportamento, e não de reflexão, pois diminui a política da reciclagem. A reciclagem, além de permitir o aumento da vida útil dos produtos, ainda incentiva a proteção ambiental. Segundo Layrargues (2002), para que a reciclagem seja considerada uma solução viável e real das mazelas ambientais da indústria, ela precisa estar baseada na educação para gerar novos comportamentos mais adequados diante dos resíduos, incentivando uma disposição correta do lixo, facilitando sua triagem e, em seguida, a reciclagem. A função dessas ideias para o ambientalismo alternativo é anestesiar a sociedade, pois a população enxerga com ingenuidade o papel da reciclagem, que é interpretada como uma conquista gradual, sem notar a inativação do poder crítico da ideologia contra‑hegemônica. Nesse contexto, podemos entender a importância da reciclagem nos programas de coleta seletiva de lixo como uma alternativa que é muito bem vista no modelo econômico atual. Da mesma forma, sua implantação não tem trazido soluções definitivas, pois poderia causar prejuízos aos representantes da ideologia hegemônica. A reciclagem pode provocar um efeito ilusório e calmante na população, que começa a consumir mais, especialmente descartáveis, pois podem ser reciclados e, logo, são considerados ecológicos. As indústrias que usam símbolos indicando que o produto é reciclável induzem os consumidores à ideia de reciclabilidade infinita, além de criar a suposição de que a embalagem é fundamentalmente ecológica, quando, na verdade, o símbolo se transforma no promotor da descartabilidade, reforçando o ato de consumir (LAYRARGUES, 2002). Esse processo é conhecido como compensação do risco e pode acontecer quando um risco passa a ser controlado e aceitamos um outrorisco. Se o consumismo leva a um impacto ambiental para os cidadãos devido à exploração predatória do meio ambiente e ao preenchimento dos depósitos de lixo, é possível encontrar mecanismos que dirigem esse risco, o que pode ser chamado de reciclabilidade. Ao invés de diminuirmos o consumo, aproveitamos a oportunidade de manter nosso padrão de vida, pois o risco foi controlado, e a reciclagem torna‑se uma função de compensação do consumo. Acreditamos numa falsa segurança: a reciclagem promove a sensação de estarmos adotando um comportamento correto ambientalmente, contribuindo com a solução do problema, mas, apenas, estimulam‑se as estratégias de distribuição desigual de renda (LAYRARGUES, 2002). Em 1991, a Latasa iniciou o Programa Permanente para Reciclagem da Lata de Alumínio e os índices de reciclagem aumentaram: em 1991, 37% (4.500 toneladas) das latas de alumínio foram recicladas; em 1999, a porcentagem aumentou para 73%. A cada tonelada de alumínio reaproveitada, deixamos de consumir cinco toneladas de bauxita. Assim, a proporção de 1:5 torna‑se significativa. Mas o foco principal se refere ao esgotamento do minério bauxita e precisamos estudar a influência da reciclagem em suas reservas mundiais. As 86.409 toneladas de latas de alumínio brasileiras recicladas em 1999 propiciaram a economia de 432.045 toneladas de bauxita, o que significa que 0,0179% das reservas no Brasil e 0,0138% das reservas mundiais foram economizadas. Na verdade, esses números são insignificantes, pois as latas de alumínio recicladas somam cerca de 327.4 mil toneladas. Dessa forma, aproximadamente 1.637 mil toneladas de bauxita não foram extraídas pelo Brasil, proporcionando uma economia de 0,052% das reservas mundiais (LAYRARGUES, 2002). 77 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS O Brasil não deixou de explorar a bauxita, nem reduziu sua produção de alumínio, mesmo levando em consideração a reciclagem. O investimento na produção de alumínio depende da necessidade interna ou externa. A produção de alumínio e de aço depende da economia do país: à medida que ela cresce, a necessidade de alumínio aumenta, e o extrativismo de bauxita vai continuar suprindo a demanda. Sabemos que o alumínio, juntamente com o ferro, é o metal mais abundante existente na Terra. Os dois metais são considerados praticamente ilimitados, estimando‑se cerca de 222 anos de exploração das reservas mundiais de bauxita. Contudo, nos últimos 50 anos, foram usados mais minerais do que em toda a história da humanidade e muitas minas poderão se esgotar nos próximos anos. Pouco ouvimos falar da reciclagem de outros metais e suas jazidas podem durar bem menos. Se existisse uma preocupação genuína com o esgotamento dos recursos naturais não renováveis, seria mais sensato um esforço empresarial intensivo nessa direção. Uma alternativa para criação de renda no país foi a coleta seletiva de lata de alumínio. A renda dos catadores de lixo em alguns casos é maior que o salário mínimo. Assim, aproximadamente 150 mil catadores de lixo vivem da venda das latas de alumínio para reciclagem e são responsáveis por 50% do suprimento de sucata de alumínio para a indústria de reciclagem (LAYRARGUES, 2002). Os catadores e sucateiros são operários terceirizados da indústria de reciclagem, mas sem terem seus direitos trabalhistas pagos. A indústria coloca preços mínimos à sucata, visando apenas ao seu lucro. Isso acontece porque os catadores de lixo não têm escolha e vendem sua sucata apenas para uma empresa, a Latasa, que controla os preços da sucata e das latas recicladas. Desse modo, oficializa‑se a exploração do trabalho dos sucateiros pelo capital de forma selvagem, ressaltando um dos mecanismos responsáveis pela má distribuição de renda no país. A partir do material reciclado, a produção de uma tonelada de alumínio pode economizar aproximadamente 95% de energia, com cerca de 17.600 kWh. Podemos fabricar somente uma lata de bebida com a utilização de alumínio extraído de uma determinada quantidade de bauxita, já com a mesma quantidade de alumínio reciclado, podemos fabricar 20 latas de bebidas. Se considerarmos que 20 toneladas de lixo são produzidas pela exploração de recursos naturais e 5 toneladas de lixo são geradas na fabricação do produto, acredita‑se que o metabolismo industrial americano é muito eficiente em produzir lixo, visto que 99,7% dos recursos naturais extraídos viram lixo sem qualquer possibilidade de reúso ou reciclagem. O R da reciclagem foi valorizado pela filosofia ecológica oficial para torná‑lo um ato ecológico, retirando a função social, mas garantindo que as latas de alumínio retornem para a indústria. Assim, elimina‑se a etapa da coleta dos catadores fazendo um pacto com o consumidor e promovendo a sua adesão voluntária à coleta seletiva. Assumindo a reciclagem como uma ação ecológica, o consumidor, bem cheio de boas intenções, não tem conhecimento, mas agrava um problema social (LAYRARGUES, 2002). Valorizando o papel da reciclagem com o aspecto ambiental, a sucata ganha um valor simbólico de proteção ambiental, mas ao mesmo tempo camufla o verdadeiro valor comercial do produto. 78 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I Nem tudo o que pode sofrer reciclagem será necessariamente reciclado. O papel é o produto reciclável mais presente no lixo no Brasil e o segundo mais valioso economicamente. Cerca de 35% do papel produzido no país são reciclados, o que equivale a aproximadamente a metade da quantidade de alumínio reciclado registrado no país. O papel representa 39% do volume de lixo produzido no Brasil. Esse volume é superior ao volume das latas de alumínio, mas não existe para o papel a mesma estrutura de reciclagem. Não existe a mesma consciência ecológica para evitar a derrubada de árvores do mesmo modo como existe para o esgotamento da bauxita. Os interesses econômicos da indústria de reciclagem são mascarados por justificativas ambientais ao promover a reciclagem de alumínio, associando essa ação à melhoria da qualidade ambiental. Com isso, há a ilusão de ser uma atividade ecológica, que fornecerá uma solução para um problema ambiental, mas na verdade o barateamento da matéria‑prima é o principal interesse. Sem políticas públicas apropriadas, a reciclagem é apenas mais uma atividade econômica como qualquer outra. Entretanto, isso é omitido no discurso oficial, camuflando o interesse econômico com a questão ambiental, pois caso o meio ambiente fosse o motivo central para essa ação, talvez a reciclagem de latas alumínio não fosse a mesma. Verificamos que não foi uma mineradora de bauxita que teve a iniciativa da reciclagem da lata de alumínio, mas a empresa que produz embalagens de alumínio. Entendemos que a mineradora não tem interesse na diminuição da exploração de alumínio, pois isso provocaria uma redução em seus lucros. Por outro lado, uma empresa que produz latas de alumínio tem enorme interesse em reduzir custos de produção e, se a conservação ambiental for compatível com essa ação, melhor. Para a resolução dos problemas ambientais, a reciclagem tem pouco significado. Contudo, isso não quer dizer que essa ideia deva ser abandonada, mas mostra o desafio que temos pela frente. Podemos ressaltar que a destinação do lixo necessita de políticas públicas que são essenciais para otimizar o metabolismo industrial e não promover a exploração do trabalho pelo lucro. Resumo A Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) foi estabelecida a partir da Lei nº 6.938 e foi um marco na evolução da gestão ambiental no Brasil. A PNMA foi escrita a partir de uma reflexão crítica sobre muitos pontos de vista e várias características importantes na evolução da gestão ambiental praticada no país por muitas décadas. Equacionar os problemas ambientais tem sido a função mais imediata da gestão ambiental. No entanto, essa percepçãoestaria mais associada a uma atuação reativa e a uma ação mais pragmática. Isso não foi considerado um equacionamento satisfatório dos problemas ambientais. Tais problemas necessitam de uma atuação mais preventiva com ações direcionadas para os fatores determinantes causadores da problemática ambiental. 79 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Os impactos ambientais normalmente se manifestam ou são identificados dependendo das alterações no meio ambiente ou de situações indesejáveis da qualidade ou das condições ambientais. Dessa forma, o processo de geração dos impactos ambientais ocorre mediante as seguintes ações: as demandas sociais movidas pelas necessidades e as aspirações da sociedade, que levam à condução de determinadas intervenções que constituem o conjunto de atividades sociais e econômicas para a produção de bens e serviços. A efetivação da gestão ambiental consiste na condução harmoniosa dos diversos processos de intervenções humanas, visando à sustentabilidade do desenvolvimento. Os resíduos podem ser classificados levando em consideração a sua origem em resíduos industriais, urbanos, de serviços de saúde, de portos, de aeroportos, de terminais rodoviários e ferroviários, agrícolas, radioativos e entulho. Devemos salientar que para que um sistema de gestão de resíduos funcione corretamente, não é suficiente que possua apenas um sistema de destinação final adequado; várias ações prévias devem ser implantadas para que a destinação do lixo seja considerada adequada. Podemos citar como exemplo a separação dos resíduos e a coleta seletiva, viabilizando seu encaminhamento para processos de reciclagem. A reciclagem é vista como uma ação benéfica ao meio ambiente, pois ajuda a diminuir os danos causados pelo homem, aproveitando parte do resíduo sólido doméstico. Ainda, colabora com a solução de problemas urbanos como a destinação do lixo, não sobrecarregando os aterros sanitários. A reciclagem é extremamente lucrativa para quem controla parte dessa cadeia produtiva, pois a reindustrialização de resíduos sólidos recicláveis transforma‑os em matéria‑prima novamente. Exercícios Questão 1. (Enade 2014) O nível de eutrofização de um corpo d’água está relacionado ao uso e à ocupação do solo na bacia hidrográfica. A contribuição da ação antrópica com o aporte de nitrogênio e fósforo aos mananciais tem trazido, como decorrência, elevação nas populações de algas e plantas. Conforme a capacidade de assimilação do corpo d’água, a população de algas pode atingir valores elevados, principalmente em períodos de insolação (energia luminosa para a fotossíntese). As superpopulações de algas formam uma camada superficial que impede a penetração da energia luminosa nas camadas inferiores do corpo d’água, o que traz uma série de problemas. Fonte: VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. DESA‑UFMG, 1996 (adaptado). 80 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade I A partir do que foi apresentado nesse fragmento de texto, avalie as seguintes afirmativas: I – Entre as estratégias para atenuar o processo de eutrofização, pode‑se citar: aeração dos corpos hídricos, sombreamento, remoção de macrófitas e algas. II – A sedimentação da matéria orgânica e a reduzida penetração do oxigênio provocam predominância de condições aeróbicas no fundo do corpo d’água, devido à atividade fotossintética das algas. III – Os esgotos domésticos contêm nitrogênio e fósforo, presentes nas fezes e urina, nos restos de alimentos, nos detergentes e em outros subprodutos das atividades humanas, o que torna a contribuição do nitrogênio e fósforo provenientes dos esgotos superior à originada da drenagem urbana. É correto o que se afirma em: A) I, apenas. B) II, apenas. C) I e III apenas. D) II e III, apenas. E) I, II e III. Resposta correta: alternativa C. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: o processo de eutrofização esgota o oxigênio dos corpos d’água, pois a superfície da água é coberta por algas e plantas impedindo a penetração da luz. A remoção de plantas e algas da superfície e aeração reconstituem a oxigenação da água. II – Afirmativa incorreta. Justificativa: a sedimentação de matéria orgânica e a reduzida penetração de oxigênio causam predominância de condições anaeróbicas. III – Afirmativa correta. Justificativa: o nitrogênio e o fósforo encontrados nas fezes originam‑se da quebra das proteínas que consumimos. São os maiores nutrientes de algas e plantas aquáticas que acabam se proliferando desordenadamente pelo excesso de esgoto sem tratamento liberado nos corpos de água. 81 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Questão 2. (Enade 2013) Em agosto de 2010, foi publicada a Lei nº 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento dos resíduos sólidos. Acerca desse assunto, o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS): A) Faculta a atribuição de responsabilidade técnica em suas etapas de elaboração, implementação, operacionalização, monitoramento e controle da disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. B) Permite o lançamento de resíduos sólidos in natura a céu aberto, desde que essa forma de disposição final seja prevista e descrita no plano original. C) Requer a apresentação de documentação de passivos ambientais apenas quando houver o gerenciamento de resíduos. D) Dispensa a apresentação de ações preventivas e corretivas relacionadas a acidentes de trabalho, pois esta é uma competência do setor de segurança do trabalho. E) Deve contemplar diagnóstico dos resíduos sólidos gerados ou administrados, bem como volume e caracterização de resíduos. Resolução desta questão na plataforma. 82 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II Unidade II 5 COMPROMISSOS MUNDIAIS A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) – Rio‑92 aconteceu no Rio de Janeiro, entre 3 e 14 de junho de 1992. Mais de 100 chefes de estado se reuniram para discutir um desenvolvimento econômico que não causasse danos ao meio ambiente. A Rio‑92 discutiu o desenvolvimento sustentável de forma a aumentar a conscientização dos povos de que os países desenvolvidos são responsáveis pela maior parte da poluição mundial. Os países em desenvolvimento deveriam ter ajuda financeira para atingir o desenvolvimento sustentável. A Rio‑92, também chamada de Cúpula da Terra, tinha o mesmo objetivo da Conferência de Estocolmo, realizada em 1972. Vinte anos depois, estratégias para reduzir a degradação ambiental e preservar o ambiente para as gerações futuras ainda estavam sendo discutidas. O objetivo central era promover o desenvolvimento sustentável, utilizando a educação ambiental como principal ferramenta para conscientizar a população de que era necessário modificar o estilo de vida, consumindo menos, desperdiçando menos recursos naturais e procurando manter o equilíbrio ecológico. Naquele momento, os representantes de governo concordaram com a importância da questão ambiental. As discussões resultaram nos seguintes documentos: • Agenda 21; • Convenção da Biodiversidade; • Convenção das Mudanças Climáticas; • Declaração de Princípios sobre Florestas; • Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento; • Carta da Terra. A Carta da Terra trata dos princípios fundamentais para o desenvolvimento sustentável, visando a uma sociedade justa. Tem como objetivo estimular a responsabilidade individual e coletiva em relação às questões ambientais que estão intimamente ligadas ao bem‑estar e à qualidade de vida das gerações atuais efuturas. Reconhece que a questão ambiental não pode ser tratada isoladamente, mas precisa estar dentro do contexto social, econômico e político. A Carta da Terra levou mais de dez anos para ser concluída. Ela foi elaborada num proceso participativo de iniciativa das Nações Unidas e teve a adesão de 4.500 organizações. A redação da Carta da Terra envolveu o 83 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS processo mais participativo associado à criação de uma declaração internacional. Esse processo é a fonte básica de sua legitimidade como um marco de guia ético. A legitimidade do documento foi fortalecida pelo alto índice de adesão das organizações, que incluem vários organismos governamentais e organizações internacionais. A Carta da Terra foi baseada em quatro princípios fundamentais que visam fomentar um modelo de desenvolvimento sustentável de forma ética: • respeitar e cuidar da comunidade de vida; • integridade ecológica; • justiça social e econômica; • democracia, não violência e paz. A carta mostra valores globais e uma declaração que pode ser utilizada pelos povos de todas as religiões, culturas e raças. Além disso, promove valores que já foram publicados em outros documentos e que devem servir de guia para ações dos cidadãos para melhoria da qualidade de vida. Saiba mais Para mais informações, leia a Carta da Terra na íntegra: A CARTA da Terra. 2000. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/ estruturas/agenda21/_arquivos/carta_terra.pdf>. Acesso em: 8. out. 2014. A Convenção da Biodiversidade garante que os recursos naturais sejam usados de forma racional, sem desperdícios. Esse documento deve ser aprovado pelo Congresso Nacional de cada país participante. No Brasil, ele entrou em vigor em 1993 visando à conservação do meio ambiente, ao uso sustentável de seus recursos e à divisão equilibrada de seus benefícios para a sociedade. Ao todo, 168 países assinaram o documento, comprometendo‑se em respeitar o acordo. Os Estados Unidos levaram mais de um ano para assinar o documento, alegando que traria prejuízos econômicos (MARTINS, 2012; BRASIL, 2000). Saiba mais Para mais informações, leia a Convenção sobre Diversidade Biológica na íntegra: BRASIL. Convenção sobre diversidade biológica. Brasília, 2000. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/sbf_chm_rbbio/_arquivos/cdbport_ 72.pdf>. Acesso em: 13 out. 2015. 84 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II A Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento contém 27 princípios que reforçam a Declaração da Conferência de Estocolmo, em 1972. O documento promove o ativismo ambiental. Cada país tem o direito de explorar os recursos naturais dentro do seu território com responsabilidade, estabelecendo políticas de conservação ambiental e sustentabilidade. O documento foi assinado em 12 de agosto de 1992 (MARTINS, 2012; BRASIL, 1992b). Saiba mais Para mais informações, leia a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento na íntegra: BRASIL. Declaração do Rio sobre meio ambiente e desenvolvimento. Brasília, 1992b. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/ documentos/convs/decl_rio92.pdf>. Acesso em: 9 out. 2015. A Convenção do Clima foi um tratado internacional estabelecido durante a Rio‑92. Tinha como objetivo propor a redução da concentração de gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera para evitar alterações no clima. A convenção só começou a vigorar em 1994. Os países responsáveis pelas maiores emissões deveriam ter a maior redução. A partir dessa convenção, muitos documentos importantes foram elaborados, entre eles o protocolo de Quioto (MARTINS, 2012; BRASIL, [s.d.]a). Saiba mais Para mais informações, leia o documento Convenção do Clima na íntegra acessando: BRASIL. Protocolo de Quioto. Brasília, [s.d.]b. Disponível em: <http:// www.mct.gov.br/upd_blob/0012/12425.pdf>. Acesso em: 9 out. 2015. A Agenda 21 foi o documento mais importante gerado na Rio‑92. Nele, foi estabelecido um plano de ação mundial para o desenvolvimento sustentável, considerando a proteção ambiental e a justiça social e econômica. O documento foi dividido em 40 capítulos, que tratam dos seguintes temas (BRASIL, 1992a): • Dimensões econômicas e sociais – promover o desenvolvimento sustentável nos países em desenvolvimento, focando em estratégias de diminuição da pobreza, da miséria e alterações nos padrões de consumo, além do controle do crescimento populacional. Em suma, promove o aumento da qualidade de vida dos países. 85 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS • Conservação e questão dos recursos para o desenvolvimento – promove a conservação do ar, do solo, dos mares, da água doce, das matas, e da biodiversidade. Estabelece ações que promovam a melhoria dos níveis de educação da mulher, assim como a sua participação em todas as atividades que levem ao desenvolvimento e à gestão ambiental. Foram ainda discutidas medidas de proteção da juventude e dos povos indígenas. • Revisão dos instrumentos necessários para a execução das ações propostas – leva em consideração mecanismos econômicos e jurídicos internacionais, assim como a produção e a oferta de tecnologias ecologicamente corretas para a promoção do desenvolvimento sustentável a partir da educação e da construção de uma consciência ambiental. Foi aprovada por todos os países participantes da CNUMAD. Gerou a criação da Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS), vinculada ao Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (Ecosoc). A CDS tem como objetivo acompanhar os países na elaboração e implementação das agendas nacionais. Somente a China elaborou sua agenda nacional e já deu início à sua implantação. A Agenda 21 é um poderoso instrumento para estabelecer um novo paradigma de desenvolvimento, levando em consideração o respeito à natureza, buscando um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação da natureza, e garantindo, assim, a qualidade de vida para os povos. A Agenda 21 teve grande importância política para o estabelecimento de um novo modelo de desenvolvimento. Saiba mais Para mais informações sobre a Agenda 21, acesse: BRASIL. Agenda 21 Global. Brasília, 1992a. Disponível em: <http:// www.mma.gov.br/responsabil idade‑socioambiental/agenda‑21/ agenda‑21‑global>. Acesso em: 9 out. 2015. 5.1 Protocolo de Quioto A Conferência de Quioto foi realizada no Japão em 11 de dezembro de 1997. Nela, 38 países industrializados concordaram com a diminuição, até 2012, de suas emissões de gases causadores de efeito estufa a níveis abaixo dos detectados em 1990. Os Estados Unidos concordaram com 7% de redução, a União Europeia, com 8%, e o Japão, com 6%. A maioria dos países precisaria rever suas fontes energéticas e os países desenvolvidos teriam alto custo para se adaptar à nova realidade. Os Estados Unidos decepcionaram ao não fornecerem números objetivos para reduzir a poluição em 1997. Bill Clinton, então presidente dos Estados Unidos, anunciou que o país pretendia estabilizar as emissões nos níveis de 1990 até o ano de 2012. No entanto, o mundo esperava reduções mais acentuadas, devido à condição crítica global causada pelo efeito estufa. 86 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II Assim, os Estados Unidos não submeteram seu desenvolvimento econômico a esse acordo, não assinando o protocolo. O Brasil assinou o Protocolo de Quioto em 2002, mesmo sendo um dos documentos propostos mais polêmicos. Para cada país foi proposto um índice de redução, com base em seu histórico de poluição. Para os países em desenvolvimento, o índice era menor do que para os países desenvolvidos. Todos os anos ocorrem reuniões para discutir as regras e dificuldades para a implantação do protocolo. Várias cidadesjá sediaram esses encontros, como: Berlim (1995), Genebra (1996), Quioto (1997) – adotado o Protocolo de Quioto –, Buenos Aires (1998), Bonn (1999), Haia e Bonn (2000), Marrakech (2001), Nova Délhi (2002), Milão (2003), Buenos Aires (2004), Montreal (2005), Nairóbi (2006), Bali (2007), ´Poznan (2008), Copenhague (2009), Cancun (2010) e Durban (2011). 5.2 Rio+20 A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, também conhecida como Rio+20, ocorreu no Rio de Janeiro, de 13 a 22 de junho de 2012. Após 20 anos da Rio‑92, o encontro teve como objetivo renovar o compromisso político assumido para o desenvolvimento sustentável, analisar os progressos e os problemas enfrentados até aquele momento pelos países participantes na implementação dos acordos assinados e abordar novos desafios (ORLANDI, 2012). O encontro gerou um documento de 53 páginas, que foi assinado por 188 países, estabelecendo um guia para o desenvolvimento sustentável. Governantes, empresários e membros da sociedade apresentaram várias ações para promover o desenvolvimento sustentável, englobando questões sobre energia alternativa e transporte. Seriam investidos 50 bilhões de dólares em energia sustentável para ajudar 1 bilhão de pessoas. A população do planeta cresceu 26% entre 1992 e 2011, o que gerou um aumento do consumo. A demanda por alimentos aumentou 45% nos últimos 20 anos e a exploração de materiais de fontes naturais aumentou 41%. A produção de plástico dobrou e aumentou em 40% a emissão de gases poluentes. Se o consumo de recursos naturais continuar crescendo, vamos precisar de mais de três planetas em 2050 para atender às necessidades da população (ORLANDI, 2012). Na conferência foram abordados dois temas: economia verde para o desenvolvimento sustentável e a extinção da pobreza; e a estrutura organizacional para o desenvolvimento sustentável. Se investirmos 2% do PIB mundial em dez setores‑chaves, a economia se tornará mais sustentável. Contudo, existe o temor de que os países com menos recursos econômicos teriam que importar tecnologia e continuariam “dominados” pelos países ricos. A sustentabilidade continua sendo um objetivo vital a longo prazo, mas é preciso tornar a economia mais verde para chegarmos lá. Talvez o mito mais difundido seja o de que há uma troca inevitável entre preservação ambiental e progresso econômico. Agora há evidência substancial de que o “esverdeamento” de economias não inibe a criação de riqueza ou oportunidades de emprego (ONU, 2012, p. 9‑10). Sabemos que a sustentabilidade não está relacionada apenas com o meio ambiente, mas engloba também aspectos sociais e econômicos. Como todas as ações relacionadas ao meio ambiente exigem 87 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS investimentos a curto prazo, mas podem gerar lucro a médio e longo prazo, isso também ocorre com a economia verde. A economia verde não é um privilégio dos países desenvolvidos, ela já vem acontecendo em vários setores do mundo em desenvolvimento. No documento final gerado na conferência, os países renovaram seu compromisso com o desenvolvimento sustentável e com a promessa de melhoria na qualidade de vida da população, levando em consideração os aspectos econômico, social e ambiental e preservando o planeta para as gerações atuais e futuras. Os países participantes também reafirmaram os princípios enunciados na Rio‑92 e em diversas conferências que aconteceram em seguida sobre desenvolvimento sustentável. Foram estabelecidas políticas econômicas que serão utilizadas para o desenvolvimento da economia verde e, assim, atingir o desenvolvimento sustentável. Nota‑se que o mundo está aprendendo, com o compartilhamento de experiências, a viver de maneira mais sustentável. Os países participantes promoveram um fórum político sobre desenvolvimento sustentável para discutir como integrar os aspectos social, econômico e ambiental no desenvolvimento sustentável. Concordaram, também, em ampliar o financiamento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e em financiar o desenvolvimento sustentável para atender aos compromissos acordados na Rio‑92. Um comitê formado por 30 especialistas com representação geográfica equitativa ficou responsável pela implantação deste projeto até 2014, mas ele ainda não saiu do papel. Foram adotadas diretrizes para produção e consumo sustentáveis para a próxima década. Um grupo de estados foi nomeado para promover medidas necessárias para a implantação do desenvolvimento sustentável. O documento final da Rio+20 propõe o intercâmbio de informações, o desenvolvimento de tecnologias ambientalmente saudáveis e o estabelecimento de mecanismos facilitados de transferência de tecnologia. O Produto Interno Bruto (PIB) não reflete o desenvolvimento de um país nas dimensões social e ambiental do desenvolvimento sustentável, assim, serão necessários outros parâmetros para complementá‑lo. Empresas de capital aberto e grandes organizações foram estimuladas a considerar fatores ambientais e divulgá‑los em seus relatórios anuais. Os resultados alcançados na Rio+20 são importantes para ajudar a resolver problemas críticos, como o crescimento das emissões de poluentes, que continuam causando as mudanças climáticas e a devastação da biodiversidade. O mundo vem enfrentando vários desafios, como (ORLANDI, 2012): • dois terços dos serviços que a natureza oferece para a humanidade estão em declínio, assim como a maioria dos hábitats, e o ritmo de espécies em extinção parece estar acelerando; • as emissões globais anuais de dióxido de carbono de combustíveis cresceram 38% entre 1990 e 2009, com aumento maior após o ano 2000; 88 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II • 20% da população mundial ainda carece de acesso à eletricidade e 2,7 bilhões de pessoas ainda dependem de biomassa para cozinhar; • 85% de todas as espécies de peixes estão sobre‑exploradas, esgotadas, em recuperação ou plenamente exploradas; • globalmente, a pobreza ainda mantém 57 milhões de crianças fora da escola primária e cerca de 16% dos adultos – 793 milhões, dos quais um terço é mulher – carecem de habilidades básicas de alfabetização; • o mundo ainda está perdendo cobertura florestal em uma taxa alarmante, cerca de 5,2 milhões de hectares de perda líquida por ano, apesar de a taxa de desmatamento mostrar agora sinais de redução. 5.3 Panorama da degradação da terra no Brasil A degradação ambiental acontece em todas as partes do mundo e tem acompanhado a evolução do Homem. Com o passar do tempo, a humanidade, em busca de melhores condições de vida, utilizando novas tecnologias e buscando desenvolvimento econômico, provocou a degradação que vemos atualmente. As principais causas são a intervenção humana, o crescimento populacional, práticas agropecuárias inadequadas e construções de aglomerados de indústrias. Podemos citar como principais responsáveis as práticas agropecuárias, que modificam o cenário do campo por meio de processos de modernização de plantio e colheita (SÁNCHEZ, 2008). A degradação ambiental pode ser interpretada como o desgaste provocado à natureza pelas ações humanas com função econômica e de aspectos populacionais e biológicos. Para o povo brasileiro, essa questão também é provocada pela agropecuária, atividade de grande importância econômica. Assim, como alternativa, surgem novas técnicas de agricultura praticadas de maneira sustentável, conhecidas como agroecologia. A agroecologia busca valorizar o saber produtivo do agricultor e a conservação do ambiente, propiciando um instrumento de combate à pobreza e à degradação. Lemos (2001) desenvolveu estudos sobre a degradação ambiental e formulou um Índice de Degradação (ID) para avaliar a região Nordeste do Brasil. Outros estudos foram realizados a partir dele para observar a degradação ambiental em outras partes do país.Os impactos ambientais são causados pelo ser humano por meio de modificações na paisagem natural. Para entender a complexidade dos impactos gerados pela degradação ambiental são necessários estudos multidisciplinares sobre o manejo do solo ou de outros elementos naturais para podermos alcançar recuperação da área (SÁNCHEZ, 2008). A degradação ambiental pode ser causada pelo uso intensivo do solo, levando a matéria orgânica (nutrientes) à degradação e compactando o solo por meio de equipamentos agrícolas. Ainda podemos citar a utilização de agrotóxicos, que também causa impactos para a saúde humana, além de poluir o ambiente (SÁNCHEZ, 2008). 89 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS O uso de fertilizantes é outro ponto importante, pois provoca impactos ao meio ambiente mesmo propiciando a fertilização das plantações; sua utilização em excesso e de forma inadequada causa o comprometimento da fertilização em longo prazo da mesma maneira que os agrotóxicos provocam prejuízos à saúde humana. A irrigação também piora a degradação, pois pode agravar os danos à hidrografia, além de causar a lixiviação de fertilizantes, que são fortes poluidores de lagos e rios e podem provocar a erosão de solos. Finalmente, devemos mencionar a manipulação de genomas das plantas, mais um fator causador de degradação ambiental. Essas alterações visam aumentar, geneticamente, a produtividade das plantas, mas ainda são dependentes do uso de agrotóxicos e fertilizantes, que necessitam ser utilizados com frequência e, como consequência, causam prejuízos ambientais (SÁNCHEZ, 2008). A diferença entre a agroecologia e a agricultura para produção capitalista é que a primeira tem um enfoque de produção de longo prazo, enquanto a segunda tem um enfoque de produção de curto prazo. Assim, a agroecologia usa melhor a terra para que a produção diminua seus impactos no meio e venha a gerar mais lucro por um período maior de tempo. Estudos realizados no Acre mostraram que o grau de degradação encontrado foi uma média de ID de 30,74%, valores muito abaixo dos encontrados no Nordeste. Foi observado que muitos municípios do estado do Acre apresentaram ID igual a zero, ou próximos disso. Contudo, algumas regiões do estado apresentam um ID maior que 60% de degradação ambiental, ficando evidente que o estado do Acre possui, em média, um bom estado de conservação ambiental (SÁNCHEZ, 2008). A degradação ambiental brasileira possui um impacto diferente, dependendo da região do país. Os aspectos climáticos do Nordeste devem ser levados em consideração na análise da degradação ambiental dessa região. Temos ainda que considerar a interferência da pobreza, pois ela também é responsável pela degradação do ambiente. Foi observado que a degradação ambiental se comporta de forma heterogênea nas diversas regiões do país. Notamos que na região de Minas Gerais e no Centro‑Oeste do Brasil existe um agravamento da questão devido à agropecuária, forte atividade geradora de renda na região (SÁNCHEZ, 2008). Os estudos do ID analisam a degradação ambiental durante um determinado período do tempo. Dessa forma, os resultados obtidos são restritos a um determinado espaço do tempo, não sendo possível analisar a evolução da degradação ao longo de um período. As questões socioeconômicas deveriam ser consideradas, mas, infelizmente, não foram em nenhum dos estudos. Assim, é necessário analisar outros indicadores, como os econômicos e políticos. A degradação ambiental pode acontecer devido à má utilização dos recursos naturais ou dos resíduos gerados como resultado do consumo e do processo de produção. Assim, podemos considerar essa ação do homem como um aspecto social. Podemos ainda estudar a relação entre a degradação ambiental e os aspectos socioeconômicos para analisar como os aspectos podem causar algum tipo de impacto um no outro. 90 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II 5.3.1 A poluição, causas e consequências 5.3.1.1 Poluição da água De acordo com Miller Jr. (2007), a poluição da água é qualquer tipo de alteração química, biológica ou física na qualidade da água que prejudique os organismos vivos ou torne a água inadequada para o consumo, como agentes infecciosos, substâncias químicas orgânicas e inorgânicas ou mesmo o excesso de calor. Os principais agentes infecciosos que podem estar presentes na água são as bactérias, os vírus, os protozoários e os vermes parasitas. Muitas vezes, dejetos de animais e seres humanos presentes no esgoto são lançados em corpos de água sem o tratamento adequado, poluindo a água e podendo causar várias doenças à população. Resíduos orgânicos, como esterco animal e resíduos de vegetais, podem ser decompostos por bactérias aeróbicas e são provenientes de esgoto, animais em confinamento, fábricas de papel e estações de processamento de alimentos. Provocam o crescimento de grandes populações de bactérias que decompõem esses resíduos e degradam a qualidade da água, pois esgotam o oxigênio nela dissolvido e acarretam a morte de peixes e outras formas de vida aquáticas que precisam de oxigênio. Substâncias químicas inorgânicas solúveis em água (por exemplo, ácidos), compostos de metais tóxicos – arsênio (As), chumbo (Pb) e selênio (Se) – sais como cloreto de sódio (NaCl) da água do mar e outros fluoretos (F‑) encontrados em alguns solos, geralmente provenientes de escoamento superficial, efluentes industriais e produtos de limpeza doméstica, podem deixar a água inutilizável para consumo humano ou irrigação, provocar câncer de pele e danos ao pescoço e à coluna vertebral, como paralisia. Ainda, podem comprometer o sistema nervoso, o fígado e os rins (Pb e Se), prejudicar peixes e outras formas de vidas aquáticas, diminuindo a produção das plantações e acelerando a corrosão de metais expostos a essa água. Substâncias químicas orgânicas, como petróleo, gasolina, plástico, pesticidas, solventes de limpeza e detergentes, provenientes de efluentes industriais, produtos de limpeza doméstica, escoamento superficial de fazendas e jardins, podem ameaçar a saúde da população causando danos ao sistema nervoso (alguns pesticidas), doenças no aparelho reprodutor (alguns solventes) e certos tipos de câncer (gasolina, petróleo e determinados solventes), além de prejudicar peixes e animais selvagens. Os nutrientes vegetais, como compostos solúveis em água, contendo nitrato (NO3 ‑), fosfato (PO4 3‑) e íons de amônio (NH4 +) provenientes de esgoto, esterco e escoamento de fertilizantes agrícolas e urbanos, podem causar o crescimento excessivo de algas e outras plantas aquáticas, que morrem, decompõem‑se, esgotam o oxigênio dissolvido da água e matam peixes. Água potável com níveis excessivos de nitrato reduz a capacidade do sangue de transportar oxigênio e pode matar fetos e bebês. Os sedimentos, como solo e silte, provenientes da erosão do solo, podem obscurecer a água e reduzir a fotossíntese, prejudicando as cadeias alimentares aquáticas, transportar pesticidas, bactérias e outras substâncias nocivas, deslocar e destruir recifes de corais e os locais de alimentação e reprodução de peixes, assim como obstruir e assorear lagos, reservatórios artificiais, canais, rios e portos. 91 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Materiais radioativos, como isótopos radioativos de iodo, radônio, urânio, césio e tório, provenientes das usinas nucleares e de queima de carvão, mineração e processamento de urânio e outros minérios, produção de armas nucleares e fontes naturais causam mutações genéticas, abortos, defeitos de nascença e certos tipos de câncer. Por fim, a poluição térmica é o calor excessivo proveniente do resfriamento por água de usinas elétricas e alguns tipos de fábricas. Nos Estados Unidos, cerca de metade da água retirada porano destina‑se ao resfriamento de usinas geradoras de energia elétrica. O calor reduz os níveis de oxigênio dissolvido na água e torna os organismos aquáticos mais vulneráveis a doenças, parasitas e substâncias químicas tóxicas. Quando uma usina de energia abre ou é fechada para consertos, os peixes e outros organismos adaptados a certa faixa de temperatura podem morrer com a mudança abrupta na temperatura da água, também conhecida como choque térmico. As principais fontes de poluição da água são agricultura, indústrias e mineração. As atividades agrícolas são a principal causa de poluição da água. Os sedimentos vindos da erosão de terras agrícolas e de sobrepastejo são a maior fonte. Outros grandes poluidores são os pesticidas e fertilizantes, bactérias de animais e resíduos de processamento de alimentos, além do sal em excesso dos solos de plantações irrigadas. As instalações industriais são outra grande fonte de poluição da água. A mineração superficial prejudica a superfície terrestre, criando uma grande fonte de sedimentos erodidos e o escoamento das substâncias químicas tóxicas. Observação A Resolução nº 20 (CONAMA, 1986b) classifica os cursos de água de acordo com seus usos preponderantes. Para cada grupo são estabelecidos padrões de qualidade que contêm os limites máximos das características que a água pode apresentar. 5.3.1.2 Poluição do ar Segundo Miller Jr. (2001), a poluição do ar é a presença de substâncias químicas na atmosfera em concentrações altas o suficiente para prejudicar organismos e materiais (como metais e pedras utilizadas em construções e estátuas) e para alterar ao clima. Os efeitos da poluição do ar podem causar de simples mal‑estar à morte. A origem dos poluentes do ar pode ser natural ou humana. As de origem natural incluem o pó removido por ventos da superfície terrestre, incêndios florestais, erupções vulcânicas, substâncias químicas orgânicas voláteis liberadas por plantas, decomposição de vegetais e rajadas provenientes do mar. A maioria das fontes naturais de poluição do ar é espalhada, exceto pela erupção vulcânica e por alguns incêndios, e raramente atinge níveis nocivos. 92 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II A poluição do ar por atividades humanas é proveniente da queima de combustíveis fósseis, veículos automotores, indústrias etc. Esses poluentes podem atingir níveis nocivos, sobretudo nas áreas urbanas, nas quais existe maior concentração de pessoas, carros e atividades industriais. Os poluentes do ar podem ser classificados em duas categorias: • poluentes primários – emitidos diretamente na atmosfera em uma forma nociva (fuligem, monóxido de carbono); • poluentes secundários – aqueles produzidos através de reações químicas entre os poluentes primários presentes na atmosfera e os componentes básicos do ar, formando novos poluentes. Devido às altas concentrações de carros e indústrias nos centros urbanos, as cidades costumam apresentar níveis de poluição do ar mais elevados do que as áreas rurais. Contudo, ventos predominantes podem levar poluentes primários e secundários de vida longa de áreas urbanas e industriais para o campo ou outras áreas urbanas. Estudaremos agora os principais poluentes do ar, sua origem e os efeitos nocivos causados, de acordo com Miller Jr. (2001). O monóxido de carbono (CO) é um gás incolor e inodoro tóxico para animais que respiram o ar; forma‑se durante a combustão incompleta de compostos de carbono. O CO pode ser proveniente do cigarro, combustão incompleta de combustíveis fósseis e escapamentos de veículos motorizados. O monóxido de carbono reage com a hemoglobina nas hemácias e reduz a capacidade de levar oxigênio às células e tecidos do corpo. Isso debilita a percepção e o raciocínio, retarda reflexos, causa dor de cabeça, sonolência, tontura e náusea, pode provocar ataque cardíaco e angina, danifica o desenvolvimento do feto e de crianças pequenas e agrava a bronquite crônica, o enfisema e a anemia. Em altos níveis, pode causar desmaio, coma, danos cerebrais irreversíveis e a morte. O dióxido de nitrogênio (NO2) é um gás vermelho amarronzado irritante que dá ao smog a cor marrom; na atmosfera pode ser convertido em ácido nítrico (HNO3), um importante componente da deposição ácida. Esse poluente é formado pelos combustíveis fósseis queimados em veículos motorizados e usinas elétricas e indústrias. Geralmente irrita e prejudica os pulmões, agrava a asma e a bronquite crônica e aumenta a suscetibilidade a infecções respiratórias, como gripe e resfriados comuns, principalmente em crianças e idosos. No ambiente, reduz a visibilidade. A chuva ácida com ácido nítrico pode danificar árvores, solo e vida aquática em lagos. O HNO3 pode corroer metais e destruir pedras em construções, estátuas e monumentos, e o NO2 pode danificar tecidos. O dióxido de enxofre (SO2) é um gás incolor, irritante, que se forma principalmente da queima de combustíveis fósseis que contenham enxofre, como o carvão e o petróleo. Na atmosfera, pode ser convertido em ácido sulfúrico (H2SO4), outro componente da chuva ácida. Pode ser proveniente das seguintes atividades humanas: queima de carvão nas usinas termoelétricas e processos industriais. Causam problemas respiratórios em pessoas saudáveis e obstrução das vias respiratórias em pessoas que sofrem de asma. A exposição crônica pode causar uma condição permanente semelhante à bronquite. 93 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Pelo menos 625 milhões de pessoas são expostas a níveis perigosos de dióxido de enxofre pela queima de combustíveis fósseis. Na atmosfera, reduz a visibilidade; a chuva ácida com H2SO4 pode danificar árvores, solo e vida aquática em lagos, corroer metais e destruir pedras em construções, estátuas e monumentos. O SO2 pode danificar tinta, papel e couro. O material particulado suspenso (MPS) é composto por uma variedade de partículas e gotas (aerossóis) pequenas e leves o suficiente para permanecerem suspensas na atmosfera durante períodos curtos (partículas grandes) ou períodos longos (partículas pequenas). Ele gera fumaça, pó e neblina. Esse material é proveniente da queima do carvão em usinas elétricas e indústrias, queima de diesel e outros combustíveis em veículos, agricultura (lavra, queima de campos), estradas não pavimentadas e construções. O material particulado causa irritação no nariz e na garganta, danos aos pulmões, agrava a bronquite e a asma e diminui o tempo de vida. Partículas tóxicas como o chumbo, cádmio, PCBs (para‑clorobenzenos) e dioxinas podem causar mutações, problemas reprodutivos e câncer. No ambiente, o MPS reduz a visibilidade, contribui para chuva ácida de gotas de H2SO4 e pode danificar árvores, solo e a vida aquática nos lagos. Corrói metais, mancha e descolore construções, roupas, tecidos e tintas. Lembrete Smog é uma mistura de fumaça (smoke) + neblina (fog), que deixou o ar de Londres insalubre. O termo é usado desde 1905. O ozônio (O3) é um gás irritante altamente reativo e de odor desagradável, que se forma na troposfera como um importante componente do smog fotoquímico. O ozônio é proveniente da reação química com compostos orgânicos voláteis e óxidos de nitrogênio para formar o smog fotoquímico. Pode causar problemas respiratórios, tosse, irritação nos olhos, no nariz e na garganta; agrava doenças crônicas, como asma, bronquite, enfisema e problemas cardíacos; reduz a resistência a resfriados e pneumonia e pode acelerar o envelhecimento dos tecidos do pulmão. No ambiente, o ozônio pode danificar plantas e árvores, e o smog pode reduzir a visibilidade. Danifica a borracha, tecidos e tintas. O chumbo é um metal sólido e tóxico e seus componentes são emitidos na atmosfera como material particulado. Esse tipo de material pode ser gerado pelas tintas em casa antiga, caldeiras em refinarias de metal, fabricaçãode chumbo, baterias de armazenamento e gasolina chumbada, que vem sendo eliminada ao longo dos anos. Quando o chumbo se acumula no organismo humano, causa danos cerebrais no sistema nervoso, retardo mental, principalmente em crianças, problemas digestivos e outros problemas de saúde. Algumas substâncias químicas contendo chumbo podem causar câncer em cobaias. No ambiente, podem prejudicar animais selvagens. 5.3.1.3 Poluição do solo O Decreto nº 28.687 (BAHIA, 1982), art. 72, estabelece que a poluição do solo e do subsolo engloba a deposição, disposição, descarga, infiltração, acumulação, injeção ou enterramento no solo ou no subsolo de substâncias ou produtos poluentes, em estado sólido, líquido ou gasoso. 94 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II Saiba mais Para saber mais sobre como descartar resíduos perigosos, leia: BAHIA. Resolução nº 13, de 29 de julho de 1987. Aprova modificação da Resolução nº 313, de 30.05.84 e seus anexos, que dispõe sobre o Controle de Resíduos Sólidos Perigosos no Estado da Bahia. Bahia, 1987. Disponível em: <http://www.semarh.ba.gov.br/legislacao/resolucao_cepram/ Resolucao_13_29_julho_1987.pdf>. Acesso em: 9 out. 2014. O solo é um recurso natural básico, constituindo‑se em componente fundamental dos ecossistemas e dos ciclos naturais, um reservatório de água, um suporte essencial do sistema agrícola e um espaço para as atividades humanas e para os resíduos produzidos. A degradação do solo pode ocorrer por meio da desertificação, uso de tecnologias inadequadas, falta de conservação e destruição da vegetação pelo desmatamento ou pelas queimadas. A disposição sobre o solo de materiais orgânicos e/ou inorgânicos, bem como a passagem sobre esse solo de massa fluida que provoque alterações na sua constituição básica, modificando suas propriedades originais benéficas ao uso das espécies que dele dependem ou com ele tenham contato, inclusive influenciando a qualidade das águas sob esse solo, caracterizam a poluição do solo. Principais poluentes do solo Águas contaminadas: resíduos líquidos que atingem o solo e que são provenientes dos efluentes líquidos de processos industriais e, principalmente, dos esgotos sanitários que não são lançados nas redes públicas de esgotos. Eles podem chegar ao solo como parte de um procedimento técnico de tratamento de resíduos líquidos por aplicação ou como consequência de descuido e descaso. Resíduos industriais: geralmente, sob a denominação de resíduos industriais se enquadram sólidos, lamas e materiais pastosos oriundos do processo industrial e que não guardam interesse imediato pelo gerador que deseja, de alguma forma, se desfazer deles. De forma geral, a legislação classifica os resíduos sólidos em classes: • Resíduos Classe I ou perigosos: constituídos por aqueles que, isoladamente ou por mistura, em função de suas características de toxicidade, inflamabilidade, corrosividade, reatividade, radioatividade e patogenicidade em geral, podem apresentar riscos à saúde pública (com aumento de mortalidade ou de morbidade) ou efeitos adversos ao meio ambiente, se manuseados ou dispostos sem os devidos cuidados; • Resíduos Classe II ou não inertes: são aqueles que não se enquadram em nenhuma das classes anteriores; 95 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS • Resíduos Classe III ou inertes: são aqueles que não se solubilizam ou que não têm nenhum de seus componentes solubilizados em concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, quando submetidos a um teste padrão de solubilização (ABNT, 2000). Cada uma dessas classes traz dificuldade diferenciada para que o empresário se livre do resíduo desde o transporte até o destino final. Os métodos clássicos empregados vão desde a reciclagem no próprio processo em outra unidade da fábrica, passando pela venda ou doação, incineração e disposição em aterros. Cada um desses destinos guarda procedimentos bem definidos na legislação ambiental. O lixo é uma grande preocupação para os ambientalistas modernos. No Brasil, são 240 mil toneladas de resíduos sólidos gerados por dia. Mais de 60% dos municípios descartam seu lixo a céu aberto, sem nenhum controle. Uma possível solução? Economizar, reaproveitar e reciclar. Alguns destinos são possíveis para o lixo: depósitos a céu aberto, aterros sanitários, usinas de compostagem, onde a parte orgânica é aproveitada como adubo, e usinas de reciclagem, onde metal, vidro, papel e plástico são transformados em matéria‑prima. Lançado em qualquer lugar ou inadequadamente tratado e disposto, o lixo é uma fonte dificilmente igualável de proliferação de insetos e roedores, apresentando riscos para a saúde pública, principalmente pelo fato de que tem se tornado cada dia mais comum a presença de resíduos perigosos no lixo. O termo resíduo perigoso caracteriza um resíduo sólido ou combinação de resíduos sólidos, que, devido à quantidade, concentração e características físicas, químicas ou infecciosas, pode: • causar ou contribuir significativamente para o aumento da mortalidade ou para o aumento de doenças sérias irreversíveis ou reversíveis incapacitantes; • significar um perigo presente ou potencial para a saúde humana ou meio ambiente quando tratado, armazenado, transportado, disposto ou usado de maneira imprópria. Diferentes países adotam práticas distintas para a identificação de resíduos perigosos, dependendo do resíduo em si, do modo como é utilizado e de como foi e é disposto no ambiente. Geralmente, tais resíduos perigosos são apresentados na forma de listas de substâncias ou de processos de indústrias que os geram. Alguns países dispõem de normas ou regulamentações que estabelecem as concentrações máximas admissíveis para resíduos específicos, cujos valores podem variar ao longo do tempo à medida que as formas de ocorrência de determinadas substâncias e seus efeitos nos seres humanos e no meio ambiente são avaliadas de modo mais abrangente e preciso. Em vários estados, particularmente no estado de São Paulo, essa preocupação concretizou‑se por meio da atuação da Cetesb em Cubatão (desde 1983), na Região Metropolitana de São Paulo (desde 1989) e em outras áreas industrializadas do estado. 96 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II A quantidade de resíduos perigosos presentes no meio ambiente atualmente é bastante grande e cresce a uma taxa elevada, o que torna complexa a elaboração de qualquer classificação. Os problemas quanto à classificação e quanto ao estabelecimento de valores de concentrações admissíveis prejudicam o estabelecimento de mecanismos legais sobre o assunto. O lixo domiciliar contém restos do que consumimos no cotidiano: papel, embalagens (plásticas, de vidro, de papelão, isopor etc.), tecido, madeira, latas, entulho e restos de comida. O lixo doméstico gerado em São Paulo está melhor disposto no ambiente (SÃO PAULO, 2010). Os aterros de lixo doméstico classificados como adequados estão presentes em 30,6% dos 645 municípios paulistas; em 1997, eram de 4,2%. Atualmente, apenas 10,9% do lixo doméstico são dispostos de maneira adequada. A destinação final das quase 20 mil toneladas/dia de lixo produzidas no estado vêm melhorando desde quando se iniciou, em 1997, o programa de orientação e controle junto às administrações municipais. Em 2000, o número de aterros inadequados diminuiu 31,1%. Em 1999, os aterros ou “lixões” municipais representavam 50,4%. Atualmente, 78% dos municípios do estado de São Paulo dispõem lixo de forma inadequada. O inventário da Cetesb (SÃO PAULO, 2010), porém, apresenta uma estatística social preocupante: o aumento do número de catadores nos aterros. Foi registrada a presença de 3.238 catadores adultos e 448 crianças com 14 anos ou menos, cerca de mil pessoas a mais que o ano anterior, quando a Cetesb iniciou essetipo de pesquisa. Segundo o levantamento, os números foram obtidos por meio de contagens em campo e devem ser interpretados como indicativo de ordem de grandeza, em razão da falta de cadastros ou vínculos oficiais das pessoas com as instalações. Cabe às prefeituras e administradores de aterro manter fiscalização intensiva para barrar a presença de catadores, pois, além de infecções e doenças provenientes do lixo, a circulação de tratores e caminhões nos aterros é grande e pode provocar acidentes graves com a circulação indevida dos catadores, principalmente crianças. O lixo hospitalar de clínicas, laboratórios de pesquisa e companhias farmacêuticas apresentam comumente características patogênicas e infecciosas. Podemos citar alguns exemplos: • resíduos cirúrgicos e patológicos; • animais usados para experiências e cadáveres; • embalagens e resíduos químicos e de drogas; • bandagens, panos e tecidos empregados em práticas médicas; • utensílios usados, como agulhas, seringas etc.; e • equipamentos, alimentos e outros resíduos contaminados. 97 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Resíduos químicos e quimioterápicos, resíduos orgânicos (solventes) e resíduos radioativos não são, normalmente, considerados como resíduos biomédicos, embora possam ter sido gerados em atividades relacionadas. Isso decorre da especificidade desses resíduos com relação ao manuseio e de normas e legislação pertinentes. Resíduos hospitalares devem ser esterilizados ou incinerados no próprio local onde são gerados. As cinzas resultantes desse processo são dispostas em aterro sanitário. Caso essa incineração não seja efetuada, a disposição dos resíduos é efetuada em aterros, sofrendo um processo de tratamento anterior à disposição final. Deve‑se evitar a disposição desses resíduos de forma inadequada na rede pública de esgotos sanitários, não permitindo, assim, que possam atingir os corpos de água utilizados, de alguma maneira, pela população. O lixo industrial pode apresentar papel, materiais sintéticos (plástico, isopor, borracha) e embalagens inflamáveis e/ou impregnadas de substâncias químicas tóxicas ou venenosas. A presença de resíduos químicos no lixo, industrial ou doméstico, tornou‑se recentemente uma fonte de preocupação. Foram detectados muitos problemas causados pelo descarte inadequado de resíduos químicos tóxicos realizado no passado. Teme‑se, entretanto, que esses problemas representem apenas uma pequena parcela de todos os problemas gerados e cujos efeitos ainda estão por vir. Do ponto de vista tecnológico, o tratamento necessário para diminuir o impacto dos resíduos varia de caso para caso, de acordo com sua natureza. Existe, aparentemente, uma tendência de se tentar amenizar o problema, mas os custos envolvidos nesses tratamentos podem ser excessivos para alguns agentes poluidores. Os resíduos químicos perigosos podem ser orgânicos ou inorgânicos. Os resíduos orgânicos persistentes (ou de lenta degradação) representam uma fonte de grande preocupação e têm sido objeto de estudos, principalmente aqueles que podem sofrer bioacumulação. Muitos resíduos químicos inorgânicos, como alguns compostos de mercúrio, chumbo, cádmio e arsênio, são tóxicos, mesmo em baixas concentrações, e podem ser bioacumulados nas cadeias alimentares e atingir concentrações nocivas para os seres humanos e outros organismos. Esses metais tóxicos são lançados na atmosfera pela queima de determinadas substâncias. Também podem ser lançados no meio aquático, direta ou indiretamente, ou no solo. A existência de chuva ácida e o aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera diminuem o pH do meio aquático. Assim, tais compostos tornam‑se mais solúveis e, portanto, são transportados mais facilmente no meio ambiente. O lixo nuclear, desde o início da era atômica, e as centenas de experiências com material nuclear têm jogado quantidades enormes de resíduos radioativos na atmosfera. As correntes de ar, por sua vez, se encarregam de distribuir esse material para todas as regiões da Terra. Com o tempo, a suspensão é trazida para o solo e para os oceanos, onde será absorvida e incorporada pelos seres vivos. Além da liberação direta de material radioativo, existe o grave problema do lixo atômico produzido pelas usinas nucleares, que apresenta uma série de dificuldades de armazenamento dos materiais radiativos. O estrôncio‑90 radioativo liberado por vazamentos ou explosões nucleares pode causar sérios problemas 98 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II quando assimilado. Uma vez na corrente sanguínea, ele é confundido com o cálcio e absorvido pelo tecido ósseo, onde será fixado. Fazendo parte dos ossos, sua radiação provoca sérias mutações, câncer e queimaduras. O lixo nuclear deve ser isolado em embalagens especiais, pois pode provocar contaminação radioativa. A maioria dos resíduos sólidos provenientes de aglomerados urbanos (lixo, esgoto) e de atividades industriais e agrícolas tem sido depositada no solo sem qualquer controle e tratamento. Eles contaminam facilmente solo e lençóis freáticos, além de produzirem gases tóxicos, que também provocam efeitos ambientais graves, como chuva ácida e efeito estufa. Por exemplo, o metano produzido pela decomposição anaeróbica de lixo e esgoto pode se acumular em bolsas no solo, causando risco de explosão. Agrotóxicos e fertilizantes sintéticos Para encontrar um novo equilíbrio ecológico e lutar contra os animais e plantas prejudiciais, o uso de produtos químicos teve início já há vários anos. O número desses produtos, bem como a eficácia, não parou de aumentar. A adição de fertilizantes ao solo visa aumentar a produtividade das lavouras, fornecendo nutrientes em quantidades que permitam atender a demanda das culturas. Cerca de dezesseis elementos precisam ser assimilados pelo vegetal, principalmente a partir de suas formas minerais ou mineralizadas encontradas em solução nos solos. Os principais macronutrientes são: nitrogênio, fósforo e potássio. Em seguida, temos os macronutrientes secundários: cálcio, magnésio e enxofre. Por fim, os macronutrientes, como o ferro, manganês, cobre, zinco, boro, molibdênio e cloro. Mesmo quando o fertilizante é aplicado com a melhor técnica e de modo que seja mais facilmente absorvido pelo vegetal, a assimilação nunca é total. Dessa forma, uma parcela é incorporada ao solo, fixando‑se à sua porção sólida ou dissolvendo‑se e movimentando‑se em conjunto com sua fração líquida. Observação Eutrofização é o processo por meio do qual um corpo d’água desenvolve alta concentração de nutrientes, como nitrogênio e fósforo. Os nutrientes provocam o crescimento de plantas aquáticas, bem como a produção de fotossíntese de bactérias azuis‑esverdeadas e algas. Os teores de matéria orgânica que naturalmente se apresentam nas águas poderão aumentar com a presença de fertilizantes, ocasionando diferentes formas de poluição. Uma delas é a contaminação, que ocorre quando esses teores atingem níveis tóxicos à flora, à fauna e ao homem em particular. A outra é a eutrofização, causada pelo teor excessivo de nutrientes das águas, que passam a produzir enormes quantidades de algas. As algas eliminam muitas espécies aquáticas e restringem severamente os benefícios que podem ser extraídos da água. 99 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS A parcela que se fixou ao solo tende a acumular‑se em concentrações crescentes que poderão torná‑lo impróprio à agricultura. Mesmo se a parcela dissolvida for assimilada pelas plantas em quantidades crescentes, ela poderá alterar a composição do tecido celular. Essas plantas, ao serem utilizadas como alimento pelo gado, incorporam‑se à cadeia alimentar, podendo contaminar o homem. As consequências desse processo só serão conhecidaspassadas algumas gerações. Os defensivos agrícolas são outra classe de produtos que poluem o solo. Entre eles, destacam‑se os pesticidas (fungicidas e inseticidas), agrotóxicos e herbicidas. Contudo, o lançamento de quantidades maciças de pesticidas e herbicidas, além de matar os “indesejáveis”, destrói muitos seres vivos que interferem na construção do solo, impedindo a sua regeneração. Os produtos tóxicos, acumulando‑se nos solos, podem permanecer ativos durante longos anos. As plantas cultivadas nos terrenos infectados podem absorver as substâncias tóxicas mesmo quando estas não foram utilizadas para o seu próprio tratamento. Assim se explica a existência de pesticidas nos nossos alimentos principais, como o leite e a carne, ocorrendo uma acumulação que pode se dar fundamentalmente no homem, que se encontra no fim das cadeias alimentares. Os sistemas agrícolas intensivos com uso de grandes quantidades de pesticidas e adubos podem provocar a acidez dos solos e a mobilidade dos metais pesados e originar a salinização do solo e/ ou a toxidade das plantas com excesso de nutrientes. A pulverização, levada pelo vento, ajuda sua propagação, causando males inclusive nos próprios agricultores. Os pesticidas mais conhecidos são os organoclorados. Pequenas quantidades dessas substâncias químicas se acumulam nos corpos dos animais e seguem adiante na cadeia alimentar. Seu uso é proibido em muitos países desenvolvidos, mas devido ao seu baixo custo, essas substâncias ainda estão sendo empregadas em alguns lugares, principalmente nas regiões mais pobres do mundo. Cada vez mais os agricultores estão aumentando as doses de pesticidas devido à resistência que alguns insetos e pragas adquiriram. Meios biológicos são capazes de controlar muitas pragas, substituindo o uso de pesticidas. A população das espécies nocivas é mantida em níveis aceitáveis pela introdução de um predador natural ou microrganismo que lhe cause doença. O chamado manejo integrado de pragas, como é conhecido o método, visa controlar a população das pragas, sem que seja preciso eliminá‑las completamente. Nesse processo, deve‑se procurar a origem da maioria das pragas conhecidas. A aplicação concomitante de diversos métodos é a forma encontrada para solucionar os problemas envolvidos na redução populacional das pragas: controle biológico, mudanças no padrão de plantio, plantas geneticamente modificadas para que se tornem mais resistentes e o uso cuidadoso e seletivo de agrotóxicos para manter o nível de produção agrícola e a saúde humana. 100 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II 6 INSTRUMENTOS DE GESTÃO E CONTROLE AMBIENTAL 6.1 ISO 14000 Nos últimos anos, a importância das auditorias ambientais como instrumento de gestão ambiental vem aumentando. Isso ocorreu quando os gestores ambientais perceberam que a disponibilidade de tecnologias e o monitoramento dos resultados não eram suficientes para alcançar bons resultados nessa área e o emprego das auditorias foi imprescindível. A competição internacional gerou exigências ambientais que se transformaram em barreiras não tarifárias, levando à elaboração e implementação das normas ISO 14001 e do correspondente sistema de auditoria e certificação ao redor do mundo, ISO 19001. O processo acelerado de aquisições e fusões de empresas passou a exigir um levantamento de passivos ambientais eventuais que podem ser avaliados através de auditorias ambientais. A migração de indústrias internacionais para países em desenvolvimento obrigou as matrizes das empresas a estabelecerem processos sistemáticos de verificação dos cuidados com o meio ambiente em suas filiais, visando evitar problemas graves que possam ferir sua imagem. De acordo com Philippi Jr., Romero e Bruna (2004), o conceito de auditoria pode variar de acordo com o ramo do conhecimento e do contexto de trabalho. Não devemos confundir as auditorias com outros processos de avaliação, como as inspeções e fiscalizações realizadas pelos órgãos de planejamento numa das etapas iniciais do processo. A auditoria é um instrumento de gestão que visa identificar se uma determinada organização cumpre certos requisitos estabelecidos. Podemos considerar a seguinte definição: [...] um exame e/ou avaliação independente, relacionada a um determinado assunto, realizada por um especialista no objeto de exame, que faça uso de julgamento profissional e comunique o resultado aos interessados (clientes). Ela pode ser restrita aos resultados de um dado domínio ou mais ampla, abrangendo aspectos operacionais, de decisão e de controle (PHILIPPI Jr.; ROMERO; BRUNA, 2004, p. 809). Segundo Valle (2012), a ISO 14000 possui normas que regulamentam sua própria utilização e que definem as qualificações daqueles que deverão auditar sua aplicação, incluindo os critérios de qualificação dos auditores. Propõe‑se a normalizar as referências ambientais de outras normas (Guia ISO 64 – Guia para Consideração de Questões Ambientais em Normas de Produtos). Poderá influenciar a decisão do consumidor final nos pontos de venda e nas gôndolas dos supermercados, com a utilização de símbolos de conformidade ambiental, estampados nos produtos ou em embalagens (Norma ISO 14020 e seguintes – Rotulagem Ambiental). Esse sistema de normalização possui o mérito de proteção das organizações responsáveis contra concorrentes predadores que, como não respeitam as leis nem o ambiente, não consideram esses custos em seus produtos e serviços, que acabam sendo pagos pela sociedade. A generalização dos princípios do desenvolvimento sustentável e dos cuidados com o meio ambiente entre todas essas empresas têm um efeito positivo, que pode ser traduzido na expressão “quando todos pagam, cada um paga menos”. 101 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Por outro lado, o sistema de normalização da série ISO 14000 também pode ter um efeito negativo se usado para mascarar interesses corporativos e mecanismo de proteção comercial. Essa ameaça pode ser iniciada nos setores produtivos obsoletos ou alguns países que procuram se proteger de novos fornecedores externos mais eficientes, que empregam tecnologias de menor impacto ambiental e utilizam matérias‑primas menos poluentes (VALLE, 2012). Outro ponto importante dessa série de normas é a globalização de conceitos e procedimentos, sem perder de vista características e valores regionais. As normas ambientais ultrapassam as fronteiras nacionais e colocam a gestão ambiental no mesmo plano já galgado pela gestão da qualidade, propiciando mais uma ferramenta que as empresas podem usar para obter êxito, principalmente entre as organizações que fazem exportação e disputam uma posição no mercado globalizado. No mundo globalizado é necessário conciliar as características ambientais dos produtos e serviços com a conservação ambiental. Este é um requisito essencial para que as empresas sejam competitivas e mantenham as posições comerciais conquistadas. Por outro ponto de vista, as empresas que buscam na qualidade ambiental um fator de sucesso para se posicionar bem no mercado no qual atuam se baseiam nas normas da série ISO 14000 para se valorizar. Para Valle (2012), uma das vantagens do sistema de normas da ISO 14000 é a uniformidade das rotinas e procedimentos necessários para uma organização certificar‑se ambientalmente, cumprindo um mesmo roteiro de exigências com validade internacional. A norma que orienta a certificação ambiental é a ISO 14001 (2004), denominada Sistema de Gestão Ambiental – Requisitos com Orientações para Uso. Para que essa certificação seja reconhecida mundialmente é preciso que o procedimento de certificação seja realizado por um terceiro, ou seja, uma organização especializada e independente, reconhecida em um organismo autorizado de credenciamento. A certificação ambiental internacional beneficia as empresas que sãoobrigadas a comprovar a adequação de seus produtos e processos aos novos paradigmas ambientais, cumprindo as exigências de cada país para onde exportam. A conformidade com uma norma reconhecida de maneira internacional, como a ISO 14001, minimiza o número de auditorias ambientais independentes exigidas por clientes, agências ambientais ou órgãos de certificação. Para alcançar a certificação ambiental, uma empresa deve cumprir três exigências básicas expressas na norma ISO 14001, que é a certificadora da série de normas ISO 14000: • possuir um Sistema de Gestão Ambiental implantado; • cumprir a legislação ambiental no local de instalação, quando aplicável; • ter compromisso com a melhoria contínua do seu desempenho ambiental. De acordo com Valle (2012), para obter a certificação ambiental pela norma ISO 14001, devem ser mostrados os compromissos e princípios gerenciais da empresa em sua política ambiental. Com a 102 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II implantação dessa política são definidos os objetivos, as metas da empresa e os procedimentos a serem seguidos por todos os colaboradores. Precisam ser criados procedimentos de controle da documentação e deve ser realizado o treinamento do pessoal. Numa fase seguinte, faz‑se um diagnóstico ou pré‑auditoria, que permite identificar os pontos vulneráveis existentes nos procedimentos ambientais da empresa, visando a sua correção. Empresas que já tinham a preocupação ambiental e já implantaram o sistema de gestão ambiental próprio têm maior facilidade em se adequar à ISO 14001, podendo alcançar a certificação num prazo menor. O próximo passo do processo é a certificação efetiva, na qual a empresa deve contratar uma entidade credenciada para emitir o correspondente certificado de conformidade com a norma ISO 14001. Nessa fase, a empresa se submete a uma auditoria ambiental e deve comprovar sua conformidade com os padrões de qualidade exigidos pela legislação ambiental e pelos manuais de qualidade instituídos e usados pela própria empresa. Como a norma requer uma concordância com os requisitos legais aplicáveis, este é um pré‑requisito essencial para certificar uma empresa. Essa certificação é restrita a um local físico definido. A certificação é válida para um estabelecimento instalado num determinado local e fica vinculada ao cumprimento de toda a legislação ambiental que seja aplicável. Com o objetivo de minimizar os impactos causados por suas atividades sobre o meio ambiente, a empresa que busca a certificação pela ISO 14001 compromete‑se com a melhoria contínua de suas atividades. Para isso, deverá identificar e aplicar tecnologias adequadas para tratar ou dar o destino adequado a seus resíduos, além de prever que seus produtos ao final de seu ciclo de vida também se tornarão resíduos. A adesão à ISO 14001 não tem pré‑requisito, assim como as normas da série ISO 9000. As séries de normas são independentes, embora a certificação do conjunto seja mais econômica. Segundo Valle (2012), a ISO 14000 é um sistema estruturado de normas gerenciais que cobrem um leque de atividades e temas relacionados com a gestão ambiental. Entre esses temas, incluem‑se normas específicas sobre como avaliar e interpretar o ciclo de vida de um produto e sobre como devem ser estruturados os rótulos e as declarações ambientais que deem respaldo a suas qualidades. A avaliação do ciclo de vida (ACV) de um produto leva em consideração todos os estágios de sua produção, utilização e descarte, identificando os impactos causados ao meio ambiente desde a extração de matérias‑primas, energia consumida na fabricação e na utilização, quando é o caso, até seu descarte final. A ACV é uma ferramenta importante para o marketing de bons produtos e de boas empresas. No entanto, se for usada com fins comerciais velados, pode constituir verdadeira barreira ambiental contra a utilização de matérias‑primas e produtos intermediários. Alguns setores industriais são muito afetados por pressões comerciais que podem estar baseadas em análises e interpretações tendenciosas do ciclo de vida de seus produtos por parte de importadores e compradores de outras regiões. Dessa forma, é importante possuir um banco de dados específico para as condições locais e regionais, que permita demonstrar as eventuais vantagens competitivas dos produtos e serviços do vendedor‑exportador. 103 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS A rotulagem ambiental, também conhecida como selo verde, é outra ferramenta importante no processo de identificação de produtos que provocam menores impactos ambientais durante seus ciclos de vida. Esses selos são marcas usadas para orientar o consumidor final sobre a qualidade ambiental de um produto. A concessão do selo é feita por organismos de certificação independentes. A série de normas ISO 14000 inclui um conjunto de normas para tratar especificamente da rotulagem ambiental. A ISO 14000 tem como objetivo central um sistema de gestão ambiental que auxilia a empresa a cumprir os compromissos assumidos em benefício do meio ambiente. Como os objetivos decorrentes, as normas criam sistemas de certificação, tanto das empresas como de seus produtos e serviços, que possibilitam distinguir as empresas que atendem à legislação ambiental e cumprem os princípios do desenvolvimento sustentável. Para Valle (2012), as normas não substituem a legislação ambiental vigente, na verdade, reforçam as leis aos exigirem seu cumprimento integral para que seja concedida a certificação da empresa. As normas também estabelecem padrões de desempenho, que devem ser estabelecidos pela própria empresa e devem estar em concordância com sua política ambiental. O sistema de gestão ambiental estabelece diretrizes para auditorias ambientais, avaliação de desempenho ambiental da empresa, rotulagem ambiental e avaliação do ciclo de vida dos produtos, tornando possível a transparência da empresa com relação aos aspectos ambientais. As normas servem como modelo para implantação desses programas no campo de ação da empresa, permitindo harmonizar procedimentos e diretrizes aceitas internacionalmente com a experiência e tradição empresarial local. A ISO 14000 está estruturada de maneira que possamos entender dois grupos básicos: um conjunto de normas direcionado à empresa e outro ao processo produtivo e produtos. 6.1.1 Normas sobre o Sistema de Gestão Ambiental – SGA (ISO 14001, ISO 14004, ISO 14005) As primeiras normas tratam do Sistema de Gestão Ambiental. A ISO 14001 é uma especificação para o SGA e foi desenvolvida para utilização na certificação por terceiras partes, embora possa ser também usada internamente para fins de autodeclaração e como cláusula nos contratos da organização. A ISO 14004 destina‑se ao uso interno da empresa como suporte para gestão ambiental, e não visa à certificação (VALLE, 2012). A certificação ambiental é baseada no cumprimento da ISO 14001, mesmo não havendo a exigência de que a empresa já possua o melhor desempenho ambiental possível, nem esteja usando as melhores tecnologias disponíveis. O conceito da melhoria contínua foi inserido nessa norma com o objetivo de estimular a melhoria do sistema de gestão ambiental depois de assegurar que ele tenha sido implantado plenamente. Ainda que as normas não incluam exigências relacionadas com a segurança do trabalho e a saúde ocupacional de seus colaboradores, nada impede que esses tópicos sejam incorporados ao SGA, antecipando‑se à tendência de tratar saúde, segurança e meio ambiente de forma conjunta. A OHSAS 18001 pode ser adotada para habilitar a empresa à certificação dos três temas abordados. Nesse caso, ao invés de ter uma política ambiental, a empresa passa a possuir uma política de meio ambiente, saúde e segurança. 104 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5Unidade II 6.1.2 Normas sobre as Auditorias Ambientais (ISO 14015, ISO 19011) De acordo com Valle (2012), as auditorias ambientais desempenham papel bastante importante no sistema de normas ISO 14000, pois são elas que asseguram a base de credibilidade a todo processo de certificação ambiental, de acordo com a sua concepção. As auditorias visam às auditorias de terceiras partes, nas quais uma entidade externa e independente verifica, pela SGA, os compromissos estabelecidos internamente pela empresa e que devem estar escritos em sua política ambiental. A credibilidade é assegurada pelo processo de certificação que inclui um organismo de acreditação reconhecido internacionalmente, o qual credencia o organismo de certificação credenciado (OCC), que por sua vez procede às auditorias nas instalações da organização que pleiteia a certificação ambiental. Os procedimentos de auditoria para o sistema ISO 14000 (meio ambiente) e ISO 9000 (qualidade) são compatíveis e geraram a norma ISO 19011 – Diretrizes para Auditoria de Sistemas de Gestão da Qualidade e/ou Ambiental, que substituiu as normas específicas para auditoria ambiental ISO 14010, 14011 e 14012 (VALLE, 2012). A ISO 14015 auxilia a empresa a identificar e avaliar os aspectos ambientais e suas consequências nos processos de transferências de propriedades e na definição de responsabilidades e obrigações entre as partes envolvidas. 6.1.3 Norma sobre a Avaliação do Desempenho Ambiental (ISO 14031) Segundo Valle (2012), a norma de Avaliação do Desempenho Ambiental propõe como fazer a medição, análise e determinação do desempenho ambiental de uma organização para permitir confrontar os dados com os critérios estabelecidos anteriormente em seu SGA. A norma não estabelece parâmetros a serem atendidos; esses parâmetros devem ser estabelecidos pela própria empresa, geralmente em função das suas necessidades, levando em consideração o desempenho ambiental da empresa de maneira que seu resultado seja mensurável no seu sistema de gestão ambiental. Os indicadores de desempenho ambiental escolhidos pelas empresas devem ser específicos para determinada área e podem considerar números de incidentes ambientais relatados, quantidades de efluentes, emissões atmosféricas e de resíduos sólidos perigosos gerados por unidade de produto, peso de embalagem por unidade produzida, distância percorrida pelos veículos de distribuição, entre outros. Os critérios para escolha de um indicador de desempenho ambiental devem ser sua representatividade no conjunto das atividades da empresa, sua previsibilidade e seu custo em relação aos resultados desejados. Devem ser indicadores cientificamente válidos, relevantes e de fácil comprovação. 6.1.4 Norma sobre a Rotulagem Ambiental (ISO 14020 e seguintes) De acordo com Valle (2012), a rotulagem ambiental é praticada por muitos países, podendo variar as formas de abordagem e seus objetivos. Para harmonizar esses programas nacionais, foram inseridas na série ISO 14000 normas de rotulagem ambiental, que possuem validade internacional e orientam empresas na expressão das características ambientais de seus produtos. Espera‑se que essas normas 105 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS tenham como consequência a melhoria de qualidade dos produtos, o aperfeiçoamento das reivindicações ambientais e a defesa dos produtores contra barreiras comerciais não tarifárias. Essas normas não estabelecem rótulos, apenas orientam como devem ser enviadas as informações sobre o produto ou serviço, dando ênfase para as suas características ambientais e usando expressões corretas que possam ser comprovadas com informações relevantes e compreensíveis para o usuário. O consumidor do produto ou serviço deve ter acesso às informações relevantes e comprovadas das qualidades ambientais divulgadas nos produtos e serviços que compra. As qualidades ambientais do produto podem ser explicitadas mediante símbolos, declarações ou gráficos marcados sobre o produto ou sua embalagem. Essas características também podem constar na literatura do produto, boletins técnicos, anúncios, propagandas, entre outros. Os chamados selos verdes, concedidos por terceiros credenciados, conferem ao produto rotulado uma chancela de excelência que o diferencia de seus concorrentes. Os rótulos de tipo I (ISO 14024) não devem ser confundidos com as autodeclarações ambientais ou rotulagem do tipo II (ISO 14021), pelas quais o produtor identifica seu produto como reciclado, reciclável ou biodegradável. As normas não aprovam expressões vagas como “ambientalmente seguro”, “amigo do ambiente”, “produto verde”, “não poluente”. A ISO 14025 identifica produtos que recebem o rótulo de tipo III, no qual descrevem e identificam as informações de forma quantitativa, baseadas na avaliação de seus ciclos de vida. 6.1.5 Norma sobre a Avaliação do Ciclo de Vida (ISO 14040 e seguintes) O objetivo desse conjunto de normas é estabelecer relações entre as atividades produtivas e o meio ambiente, analisando o impacto causado pelos produtos, seus respectivos processos produtivos e serviços, desde a extração dos produtos naturais necessários a sua fabricação até a sua destinação final. Trata‑se de um enfoque sistemático, ao invés do enfoque tradicional dado pela indústria, que pode restringir a análise e descrição das qualidades dos produtos que a organização produz (VALLE, 2012). A Avaliação do Ciclo de Vida precisa avaliar os impactos causados ao meio ambiente e, além disso, identificar as melhorias que devem ser introduzidas para reduzi‑los. Para isso, devemos levar em consideração (VALLE, 2012): • o consumo de matéria‑prima, sua extração e produção; • o processo de produção de insumos, materiais intermediários que serão usados na fabricação do produto; • o processamento de todo material até a fabricação do produto final; • o uso do produto durante toda sua vida útil; • a reciclagem quando aplicada, o tratamento e a disposição final do material resultante do produto descartado, ao final da sua vida útil. 106 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II Com a elaboração de um balanço energético e material, devemos estudar os fluxos de energia e emissões ambientais que ocorreram e os seus efeitos no ambiente, que dependem da quantidade e qualidade do material utilizado, de sua estabilidade e a formação de subprodutos até o descarte final do produto. Para ser completa, a ACV também deve comparar seu impacto ambiental com o de outros produtos, fabricados com materiais e processos alternativos, incluindo a destinação final dos resíduos e dos materiais recuperáveis ou recicláveis em cada alternativa considerada. A aplicação dessa norma trouxe como benefício a minimização de geração de poluentes, melhoria no controle de riscos ambientais e o desenvolvimento de produtos menos tóxicos ao meio ambiente. 6.1.6 Norma sobre os Aspectos Ambientais nos Produtos (ISO Guia 64, ISO TR 14062) Guia destinado àqueles que elaboram as normas técnicas para produtos, visando alertar para os aspectos relacionados ao meio ambiente que devem ser levados em consideração quando se especifica e projeta um produto, como economia de energia e matéria‑prima, cuidados relacionados ao transporte e distribuição, destinação das embalagens, alternativas para reúso, recuperação e reciclagem de materiais. Serve também para outros fatores, como facilidade de manutenção, reparo e desmontagem final do produto. 6.1.7 Outras normas da série As normas da série ISO 14000 foram publicadas em 1993. Em seguida, notou‑se a necessidade de normalizar alguns aspectos ou atividades não incluídas no projeto original. Surge, assim, a norma ISO 14063 – Comunicação Ambiental – Diretrizes e Exemplos, que orienta as empresas quanto à maneira de comunicar seu desempenho e seus aspectos ambientais (VALLE, 2012). Devido à importância das mudançasclimáticas e com o objetivo de normalização das ações que buscam minimizar e controlar as emissões gasosas que contribuem para o efeito estufa, foram inseridas as normas ISO 14064, ISO 14065 e ISO 14066. Elas tratam dos critérios de medição, validação e verificação das emissões dos gases de efeito estufa (GEEs) e os organismos usados no reconhecimento e credenciamento dessas ações. O sistema de normas ISO 14000 vem crescendo com o passar dos anos e tem incorporado novas normas e documentos técnicos relacionados com a gestão ambiental. Depois dos esforços já realizados aos gases de efeito estufa, muitos outros estão sendo estudados para laboração de novas normas. 7 FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL Existem alguns princípios que norteiam a aplicação da legislação ambiental. Podemos citar (VALLE, 2012): • princípio da precaução: quando existe dúvida científica sobre os riscos provocados por uma atividade, empreendimento, processo ou produto, deve‑se tomar medidas para evitar a concretização de lesões ao meio ambiente ou à saúde da população; 107 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS • princípio da prevenção: devemos dar prioridade para limitação máxima da nocividade de um resíduo, evitando sua formação ou minimizando sua quantidade, de maneira que não atinja um dano irreversível; • princípio da informação: cada indivíduo deve ter acesso apropriado a informações relativas ao meio ambiente, até sobre materiais e atividades perigosas em suas comunidades; • princípio do usuário‑pagador: os preços dos produtos e serviços devem internalizar os custos sociais do uso e esgotamento do recurso usado em sua produção. O licenciamento da atividade e das instalações é o ato que vai permitir que a organização opere em um determinado local. Esse é o principal vínculo formal que une a empresa às autoridades ambientais. A licença para implantar um novo empreendimento ou expandir um já existente deve ser solicitada pelo empreendedor ao órgão ambiental estadual. Todos os empreendimentos industriais e minerais, sistemas de tratamento e disposição de resíduos, usinas de concreto e asfalto, atividades comerciais e de serviços que usam combustíveis sólidos ou líquidos, atividades que usam incinerador, entre outras que apresentem potencial de contaminação devem solicitar a licença de instalação. Segundo Valle (2012), o processo de licenciamento é divido em três fases: • Consulta Prévia, que deve ser formulada logo que se decide implantar um empreendimento e que resultará, se aceita, em uma Licença Prévia (LP), também conhecida como licença de localização; • Licença de Instalação (LI), que deve ser requerida assim que estejam definidas as características do empreendimento e antes de se dar início às obras; • Licença de Operação (LO) ou de Funcionamento (LF), que deve ser solicitada com as obras já prontas e em condições de demonstrar que as instalações em funcionamento cumprem as condições legais e preenchem os requisitos estabelecidos na LI concedida. A consulta prévia visa obter do órgão ambiental uma primeira avaliação sobre a possibilidade de se implantar o empreendimento na região pretendida. Busca‑se esclarecer se haverá a necessidade de elaboração de um estudo de impacto ambiental para assegurar a aprovação do projeto. Para a concessão da licença de instalação, a empresa precisa obedecer a alguns pré‑requisitos como: legislação municipal quanto à ocupação do solo, ter aprovado um estudo de impacto ambiental, se exigido, e anunciar em jornal a solicitação da licença informando à sociedade sua intenção de instalar o empreendimento. O pedido de licença de instalação deve ser acompanhado de um memorial de caracterização do empreendimento, que descreve o processo e os equipamentos que serão instalados, as atividades a serem desempenhadas, combustíveis que serão utilizados e efluentes que serão gerados. Nos casos em que haja a formação de resíduos que possam apresentar riscos ao meio ambiente, será exigido um plano de disposição desses resíduos. O memorial de caracterização do empreendimento é um documento de 108 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II referência muito importante para esclarecimento de dúvidas e negociação de modificações do projeto com o órgão ambiental, antes que a licença de instalação seja concedida. A licença de operação é concedida depois que a instalação esteja pronta e em condições de operar, quando serão verificadas suas conformidades com os planos e informações submetidos na solicitação da licença de instalação. A concessão pode ser feita em caráter precário, por um prazo determinado, para permitir comprovar os parâmetros exigidos. Ao fim desse prazo, os parâmetros legais devem ser atendidos e será concedida a licença definitiva (VALLE, 2012). O SGA da empresa exige que seja mantido atualizado o inventário de leis, normas, regulamentos e outros documentos legais que possam influenciar e afetar suas atividades e operações. A conformidade permanente da organização com essa legislação é obrigatória e reforça a imagem da empresa ambientalmente correta, possibilitando programar‑se para o cumprimento de exigências futuras (VALLE, 2012). As principais resoluções do Conama referentes ao licenciamento ambiental estão dispostas na tabela a seguir. Tabela 4 – Resoluções do Conama referentes ao licenciamento ambiental Resolução nº Assunto 6, de 16/09/1987 Dispõe sobre o licenciamento de empreendimentos no setor elétrico. 9, de 06/12/1990 Dispõe sobre procedimentos para o licenciamento de atividades de pesquisa mineral, lavra o beneficiamento de minérios. 10, de 06/12/1990 Dispõe sobre o licenciamento ambiental de atividades de exploração de bens minerais de uso na construção civil. 13, de 06/12/1990 Obrigatoriedade de licenciamento de qualquer atividade que possa afetar a biota, caso se situe em um raio de 10 km de uma unidade de conservação. 23, de 07/12/1994 Dispõe sobre o licenciamento ambiental de atividades de exploração, perfuração e produção de petróleo e gás natural. 264, de 20/03/2000 Dispõe sobre o licenciamento para o coprocessamento de resíduos em fornos rotativos de clinquer para fabricação de cimento. 273, de 29/11/2000 Torna obrigatório o licenciamento ambiental de postos revendedores, postos de abastecimento, instalações de sistemas retalhistas e postos flutuantes de derivados de petróleo e outros combustíveis. 279, de 27/01/2001 Estabelece procedimento simplificado para o licenciamento de empreendimento de geração e transmissão de energia elétrica com pequeno potencial de impacto ambiental. 284, de 30/08/2001 Dispõe sobre o licenciamento de empreendimentos de irrigação e os classifica em três categorias. 286, de 30/08/2001 Obriga a realização de estudos epidemiológicos para o licenciamento de empreendimentos cujas atividades potencializem fatores de risco para ocorrência de malária em regiões endêmicas. 289, de 25/10/2001 Estabelece diretrizes para o licenciamento ambiental de projetos de assentamento de reforma agrária. 334, de 03/04/2003 Estabelece procedimentos de licenciamento ambiental de estabelecimentos destinados ao recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos. 335, de 03/04/2003 Dispõe sobre o licenciamento ambiental de cemitérios. 109 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS 344, de 25/03/2004 Estabelece diretrizes gerais e os procedimentos mínimos para avaliação do material dragado. 349, de 16/08/2004 Dispõe sobre o licenciamento ambiental de empreendimentos ferroviários de pequeno potencial de impacto ambiental e a regularização de empreendimentos em operação. 350, de 06/07/2004 Dispõe sobre o licenciamento ambiental específico das atividades de aquisição de dados sísmicos marítimos e em zonas de transição. Fonte: Sánchez (2008, p. 87). A fiscalização ambientalé uma ação que ocorre paralelamente ao licenciamento. Tem como objetivo controlar e vigiar visando impedir atividades consideradas negativas ao meio ambiente, ou mesmo aquelas realizadas em inconformidades com a autorização. O empreendedor pode ser punido mediante aplicações de sansões administrativas, além de ser responsabilizado por ações que promovam a recuperação ou a correção de possíveis danos ambientais, conforme a legislação vigente (IAP, 2015). A Lei Federal nº 9.605 – Lei de Crimes Ambientais (BRASIL, 1998) trata da aplicação de penalidades disciplinares e compensatórias ao não cumprimento de ações necessárias para a preservação ou recuperação da degradação ambiental. Essa lei faz parte da Política Nacional do Meio Ambiente e sua aplicação determinou como as autoridades devem se comportar quanto à aplicação e instauração de processos administrativos. O Decreto nº 6.514/08 substituiu o Decreto nº 3.179/99, regulamentando o artigo 70 e o capítulo VI da Lei nº 9.605 (BRASIL, 1998). A alteração mostra as infrações administrativas ambientais, atribuindo valores de multas a serem impostas para as infrações perante o que estabelece a legislação ambiental vigente. O fiscal, ao lavrar um ato de infração ambiental, está exercendo um ato administrativo, baseado no artigo 70 da Lei de Crimes Ambientais, bem como o valor da pena a ser aplicada, prevista no artigo 75 da mesma lei, dependendo do tipo de infração ao seu regulamento. O Decreto nº 6.514 (BRASIL, 2008) fundamenta os enquadramentos para as infrações ambientais no âmbito administrativo; tem o seu correspondente tipificado como crime na Lei nº 9.605 (BRASIL, 1998). Foi estabelecido no decreto que a infração às normas ambientais será punida com as sanções previstas no artigo 30: [...] advertência, multa simples, multa diária, apreensão de animais, produtos e subprodutos da biodiversidade, incluindo fauna e flora, instrumentos, apetrechos, equipamentos ou veículos utilizados na infração, destruição ou inutilização do produto, suspensão de venda e fabricação do produto; embargo de obra ou atividade e suas respectivas áreas, demolição de obra, suspensão parcial ou total das atividades; restritiva de direitos (BRASIL, 2008). São encaminhados ao Ministério Público todos os processos administrativos referentes à infração ambiental e podem ou não gerar uma ação civil pública contra o infrator. Após o vencimento dos prazos estabelecidos para apresentação da defesa ou o cumprimento das obrigações legais e a verificação das informações necessárias, o responsável pela autuação deve encaminhar o processo para a Diretoria de 110 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II Controle de Recursos Ambientais (Diram), no qual o documento de infração deve conter anotações e trâmites subsequentes e análise jurídica (IAP, 2015). As infrações ambientais podem ser tratadas em dois níveis de hierarquia: administrativo e judicial (IAP, 2015): • nível administrativo: quando a infração tramita apenas na esfera de decisão do órgão ambiental, ou seja, o encerramento do processo culmina com o pagamento da multa e a recuperação do dano competente, segundo o que preconiza a legislação vigente; • nível judicial: que é indicado a partir do desencadeamento das medidas administrativas e encaminhamento da cópia do processo administrativo que foi formalizado pelo órgão ambiental ao Ministério Público da comarca local (Promotoria do Meio Ambiente) onde ocorreu a infração. No quadro a seguir, podemos observar a legislação pertinente quanto à fiscalização ambiental: Quadro 2 – Legislação pertinente relativa à fiscalização ambiental Legislação Assunto Lei nº 9.605/98 Lei de crimes ambientais Decreto nº 3.179/99 Revogado pelo Decreto nº 6.514/08 Decreto nº 6.514/08 Regulamenta a Lei nº 9.605/98 Decreto nº 6.686/08 Altera dispositivos do Decreto nº 6.514/08 Fonte: IAP (2015). EIA e Rima Impacto ambiental é definido como qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causadas por material ou energia resultante de atividades humanas que possam afetar de forma direta ou indireta a segurança, bem‑estar, saúde, biota, condições estéticas e sanitárias e qualidade dos recursos ambientais e as atividades socioeconômicas (VALLE, 2012). Em 1930, nos Estados Unidos, iniciaram‑se estudos sobre os impactos ambientais para avaliação da influência que alguns grandes empreendimentos exerciam sobre as populações afetadas. Nos anos 1970, esses estudos foram designados como Estudos de Impacto Ambiental, ou EIA, e passaram a ser exigidos, pelos países industrializados, como um estágio necessário na aprovação de projetos que pudessem afetar o meio ambiente. EIA é um documento técnico contendo informações relativas ao processo e descrevendo características das instalações que não devem ser divulgadas. Foi necessário criar um documento mais conciso, escrito em linguagem simples, permitindo a qualquer pessoa entender sobre a conveniência de um empreendimento. Esse documento, ilustrado e escrito em linguagem jornalística, é o Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente ou Relatório de Impacto Ambiental (Rima). 111 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Assim, o EIA e o Rima são peças importantes nos processos de aprovação e licenciamento de novos empreendimentos e de ampliação de empreendimentos já existentes. Embora exista uma listagem básica de empreendimentos que precisam da elaboração do EIA‑Rima, é conveniente consultar o órgão ambiental licenciador sobre suas necessidades no ato de apresentação do pedido de licença. Em certos casos, um relatório ambiental preliminar pode ser suficiente, dispensando o empreendedor de um estudo mais demorado e mais caro. Para elaboração de EIA‑Rima deverá ser contratado um grupo multidisciplinar de especialistas habilitados e independentes para analisar os impactos causados pelo empreendimento sob os vários aspectos que possam afetar o meio ambiente. Esse estudo deve ser feito de forma conjunta entre os técnicos sob a coordenação de um profissional capacitado, evitando a fragmentação. Durante a elaboração do estudo é importante manter contato com o órgão que irá julgá‑lo, evitando que o trabalho seja questionado quando já estiver na sua forma final e acabado (VALLE, 2012). Um EIA bem feito precisa incluir alternativas e propor melhorias para minimizar eventuais prejuízos que possam ser causados ao ambiente. É conveniente elaborar o EIA em paralelo com o projeto básico do empreendimento para que soluções e alternativas possam ser incorporadas a ele. O EIA deve incluir: diagnóstico ambiental da área de influência do projeto, análise dos impactos ambientais do projeto, adversos e benefícios, imediatos e de longo prazo, diretos e indiretos, temporários e permanentes, definição de medidas corretivas para impactos adversos e potencialização de impactos benéficos, programa para acompanhamento e monitoramento dos impactos identificados (VALLE, 2012). Ainda de acordo com Valle (2012), no caso de projetos polêmicos que causem impactos e envolvam manipulação de produtos perigosos ou que gerem resíduos de alto risco, o órgão ambiental pode transferir a responsabilidade de aprovação para o respectivo conselho estadual de meio ambiente. Em casos especiais, o conselho pode consultar as comunidades afetadas por meio de audiência pública, ocasião em que um EIA bem fundamentado e um Rima bem apresentado poderão ser de grande importância para a aprovação do empreendimento proposto. 8 AUDITORIA AMBIENTAL Nos últimos anos, as auditorias ambientais passaram a ter um papel importante como instrumento de gestão ambiental. Foi observado que a disponibilidade de tecnologias e o monitoramento dos resultados não eram suficientes para alcançar resultados na área. A partir daí, as auditorias passaram a ser mais usadas. A concorrênciainternacional exige maior qualidade dos produtos e adequação às exigências ambientais, levando à implantação das normas ISO 14001 e ISO 19000. O processo de aquisições e fusões necessitava de verificações rigorosas para avaliação de passivos que serão levados em consideração nos negócios (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004). A auditoria é um instrumento de gestão que tem o objetivo de identificar se uma certa empresa cumpre certos requisitos estabelecidos. Podemos citar como uma definição: 112 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II [...] um exame e/ou avaliação independente, relacionada a um determinado assunto, realizada por um especialista no objeto do exame, que faça uso de julgamento profissional e comunique o resultado aos interessados (clientes). Ela pode ser restrita aos resultados de um dado domínio ou mais ampla, abrangendo aspectos operacionais, de decisão e de controle (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004, p. 808). Veja as características mais importantes dos processos de auditoria (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004): • devem ser feitos por profissionais que têm conhecimento do assunto a ser auditado; • devem ser realizados por pessoas que não estão envolvidas na atividade auditada; • podem ter escopo variado, precisando da definição de sua abrangência; • devem participar três pessoas com objetivos bem definidos: — o cliente, que é o maior interessado nos resultados da auditoria e que pagou por ela; — o auditado, que é o responsável pelas atividades que serão verificadas; — o auditor, que é o profissional que conduz a auditoria. Um bom programa de auditoria deve ter as seguintes características (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004): • objetivos bem definidos; • limites de escopo definidos; • abrangência que priorize unidades mais importantes, sem desprezar as demais; • abordagem compatível com os objetivos; • treinamento, experiência e habilidade dos profissionais que conduzem a auditoria; • suporte gerencial e organização eficazes. Podemos ressaltar algumas diferenças entre as auditorias e outras formas de avaliação (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004): • as auditorias são programadas. Assim, os auditados são avisados com antecedência do objetivo e escopo, com data e horário dos trabalhos estabelecidos previamente. Esse procedimento é muito diferente das inspeções realizadas pelos órgãos fiscalizadores, que normalmente são realizadas sem aviso prévio e podem ser restritas a uma verificação pontual ou mais abrangente; 113 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS • as auditorias são processos cujo resultado mais importante é a afirmação a respeito do cumprimento ou não de padrões especificados. O auditor não tem o papel de identificar as causas do problema, nem apontar soluções, o que deve ser feito pelo auditado. Essas atitudes diferenciam as auditorias de certos processos de diagnóstico realizados pelos técnicos nos processos de planejamento. Nesse caso, os profissionais é que avaliam, detectam os problemas e sugerem soluções; • as auditorias ambientais são procedimentos que têm o seu objetivo ligado às questões do meio ambiente. Existem várias definições na literatura, mas podemos observar que nas definições dos órgãos do governo, a legislação está em destaque. Já no setor privado, o destaque é da comunicação dos resultados aos clientes. Na tentativa de uniformizar conceitos, podemos dizer que: [...] auditoria ambiental é um processo sistemático e formal de verificação, por uma parte auditora, se a conduta ambiental e/ou o desempenho ambiental de uma entidade auditada atendem a um conjunto de critérios especificados (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004, p. 811). Dependendo da natureza da parte auditora, podemos classificar as auditorias ambientais de acordo com os seus objetivos. Classificação de acordo com a parte auditora Segundo Philippi Jr., Romero e Bruna (2004), as auditorias podem ser de primeira, de segunda ou de terceira parte. Esses conceitos foram adaptados das auditorias do sistema da qualidade, que são baseadas na função e no interesse da parte auditora e nos impactos ambientais, reais ou potenciais, das atividades da empresa auditada. Auditoria de primeira parte é aquela efetuada por uma equipe formada por membros da própria empresa auditada. Para manter a independência dos auditores, áreas ou departamentos da empresa são auditados por funcionários de outras áreas. O cliente da auditoria é a alta administração da empresa. Auditoria de segunda parte é efetuada por uma equipe formada por membros de uma parte interessada na gestão ambiental da empresa auditada e que tenha poder legal ou de negociação para exigir a auditoria. Isso acontece quando um cliente audita um fornecedor, quando as auditorias são conduzidas por possíveis compradores em processos de aquisição ou fusão de empresas ou ainda podem ser realizadas por membros da comunidade afetada por impactos ambientais gerados pela empresa. Auditoria de terceira parte é aquela realizada por uma instituição isenta, que não está diretamente interessada nos impactos ambientais das atividades da empresa auditada. É o caso das auditorias dos sistemas de gestão ambiental ISO 14001. O conceito de auditoria de segunda parte sugerido apresenta um conceito mais amplo no caso da gestão ambiental do que a definida para auditorias dos sistemas da qualidade. 114 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II Classificação de acordo com os critérios da auditoria As auditorias podem ser classificadas de acordo com o tipo de critério usado como padrão de comparação (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004): • auditoria de conformidade legal ambiental: os critérios da auditoria são os requisitos da legislação vigente; • auditoria de desempenho ambiental: são verificados indicadores de desempenho, a serem comparados com padrões, geralmente setoriais, ou com metas definidas. Inclui‑se nessa classificação a auditoria de passivo ambiental, que representa de alguma forma um mau desempenho; • auditoria de sistemas de gestão ambiental: avalia o cumprimento das normas, critérios e procedimentos de gestão ambiental estabelecidos pela empresa auditada. As auditorias de sistemas podem ser de adequação, para verificar se o sistema montado atende, ao menos no projeto, ao que é exigido pela norma; de conformidade, para verificar se o sistema montado está sendo usado; e de eficácia, se os objetivos e metas propostos pelo sistema vêm sendo atingidos. Classificação de acordo com os objetivos da auditoria ambiental Os objetivos da auditoria também podem ser classificados de maneira útil (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004): • auditoria ambiental de certificação: tem por objetivo produzir uma declaração ou certificado atestando que os critérios de auditoria são cumpridos pela organização auditada. As auditorias são previstas no sistema de certificação ISO 14001, cuja credibilidade está baseada num sistema internacional de credenciamento de empresas certificadoras e de auditores; • auditoria ambiental de acompanhamento: tem por objetivo verificar se as condições de certificação continuam sendo cumpridas; • auditoria ambiental de verificação de correções ou de follow‑up: tem por fim verificar as não conformidades de auditorias anteriores resolvidas; • auditoria ambiental de responsabilidade: seu objetivo é avaliar possíveis riscos e custos associados a passivos ambientais. É utilizada em avaliações de fusões, aquisições e refinanciamento de empresas, além da desativação de atividades industriais; • auditoria ambiental de sítio: destinada a avaliar o grau de contaminação de áreas específicas; • auditoria compulsória: visa cumprir exigência legal referente à realização de auditoria ambiental. 115 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 13/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS 8.1 Auditores e seus papéis Segundo Philippi Jr., Romero e Bruna (2004), a equipe de auditores deve ser formada por profissionais qualificados e, em algumas situações, profissionais em treinamento. Falamos em equipe auditora, pois é recomendado, na maioria dos casos, pelo menos dois auditores para conduzir uma auditoria. Os auditores podem ser internos, externos ou corporativos, dependendo do tipo de auditoria. Os internos são colaboradores da própria unidade auditada, os corporativos são colaboradores da mesma empresa, mas de outra unidade, geralmente matriz. Os auditores externos são de outras empresas, como clientes, comunidade, órgãos governamentais e organismos certificadores. A equipe é formada por um auditor‑líder e por quantos auditores forem necessários, podendo incluir especialistas técnicos e observadores. O auditor‑líder é o chefe da equipe e tem a responsabilidade de garantir a condução eficiente e os resultados da auditoria como um todo. Ele deve ter a capacidade de gerenciamento, liderança e características pessoais que permitam intermediação e negociação de conflitos. A qualificação dos auditores ambientais não segue padrões rigorosos quanto à formação técnica. O auditor deve sempre manter‑se centrado na sua tarefa de verificar fatos e compará‑los aos critérios de auditoria. Ele não pode sugerir ou impor soluções específicas para os problemas, nem exigir posturas que reflitam exclusivamente sua experiência pessoal. Quando a consultoria é contratada para orientar a adequação de sistemas de gestão à norma ISO 14001, é comum que seja feita uma avaliação preliminar, às vezes com procedimentos de auditoria. Em seguida, os mesmos profissionais que fizeram a avaliação atuam como consultores. Consultores não devem fazer auditorias posteriores, uma vez que a independência fica prejudicada. 8.2 Aplicações e limitações das auditorias ambientais As auditorias ambientais resultam sempre na obtenção e na comunicação de informações, de acordo com os critérios, objetivos e escopo da auditoria. Tais informações mostram a situação ambiental da empresa auditada, devendo ser interpretadas no contexto da coleta de dados, escopo e objetivos da auditoria. O resultado da auditoria deve ser avaliado compreendendo algumas de suas limitações. Para Philippi Jr., Romero e Bruna (2004), auditorias são processos de amostragem: as informações são coletadas ao acaso e podem não representar o todo. Por isso, o plano de auditoria deve ser montado de maneira que minimize a chance de o processo chegar a uma conclusão inadequada por falta de informações. A possibilidade de mau uso e a falta de controle de divulgação dos resultados de auditorias estão entre os maiores problemas encontrados. O resultado de cada auditoria deve ser entendido dentro de suas limitações. Para que os resultados sejam confiáveis, deve ser coletado um número suficiente de evidências. A equipe auditora deve explicitá‑las caso exista um desconforto em função de uma possível impossibilidade de obtenção da 116 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II amostragem necessária. As auditorias são processos de coleta de informações que isoladamente não resolvem os problemas físicos de desempenho ambiental, mas a racionalização dessas informações permite que decisões sejam tomadas para solucionar os problemas encontrados nas auditorias. 8.3 Auditorias ambientais como ferramentas de gestão No mundo globalizado, as auditorias ambientais têm sido aplicadas como fonte de informações para avaliação de passivos ambientais em processos de fusões e aquisição de empresas. A auditoria orienta a eventual avaliação dos custos de reparação dos danos, que podem estar associados à empresa. Com o aumento dos valores das multas aplicadas pelos órgãos ambientais e dos valores de indenização de processos de recuperação de danos, também aumentam o interesse pelos seguros. As seguradoras podem usar a auditoria ambiental para definição de valores de prêmios a serem pagos, ou mesmo descontos em casos de boas práticas de gestão ambiental (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004). Por meio das auditorias ambientais podemos perceber os riscos envolvidos na atividade de uma empresa ou empreendimento. Quando o SGA ISO 14001 foi concebido, uma das maiores preocupações era que a necessidade de certificação se tornasse uma barreira alfandegária. Isso se confirmou nos mercados de papel e celulose e mineração. Como exigência para fornecedores, as auditorias ambientais podem contribuir de muitas formas. Por exemplo, as peças para as montadoras de automóveis já são produzidas pelos fornecedores com a sua logomarca. Logo, o porte das empresas fornecedoras tende a aumentar, ao passo que seu número diminui. Caso ocorressem problemas ambientais, como a disposição inadequada de peças ou materiais fora de especificação, o primeiro prejuízo de imagem será da montadora, devido a sua logomarca na peça. Se realmente houvesse uma redução do número de fornecedores, as consequências de uma interrupção de produção por problemas ambientais, como uma interdição pelo órgão ambiental, seriam muito maiores. Por isso, aumenta‑se o número de empresas que são consideradas necessárias para a execução de auditorias ambientais em seus fornecedores. Auditorias ambientais são importantes como fontes de informação gerencial. Por meio de uma análise crítica dos resultados de auditoria, a direção da empresa pode determinar ações corretivas e preventivas, além de eventuais investimentos em suas atividades e produtos. As auditorias nasceram da necessidade das multinacionais obterem informações sobre as práticas ambientais em suas filiais. É comum aplicarem essas auditorias nas unidades do país de origem e nas filiais, com o objetivo de manter a uniformidade da conduta e minimizar o risco de problemas ambientais graves que poderiam abalar a imagem da empresa. As melhorias resultantes das auditorias devem funcionar como um ciclo do ponto de vista operacional. Quando uma não conformidade for detectada, o auditado deverá identificar suas causas. Uma falha comum, decorrente das resistências naturais às mudanças, é não avaliar com profundidade o problema, permanecendo uma análise superficial. Assim, é recomendado o uso de ferramentas disciplinadas para encontrar as causas dos problemas, como o método de espinha de peixe, a técnica dos cinco porquês, a árvore de causas, entre outras. 117 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Não conformidade Definição de ações corretivas Implantações de ações corretivasAuditoria Identificação da(s) causa(s) Figura 1 – Ciclo de melhorias de ação corretivas de auditoria As normas de gestão ambiental, como a série ISO 14001, permitem sistemas de certificação por terceira parte. Após a auditoria, organismos credenciados podem emitir uma declaração garantindo que determinada empresa tem um sistema de gestão ambiental que obedece à norma de referência. O maior benefício após a certificação é a melhoria da imagem da empresa no mercado. No território brasileiro, isso não tem muita valia; a Petrobrás, por exemplo, possui várias certificações de ISO 14001 e mesmo assim foi responsável por vários acidentes. Algumas empresas podem utilizar a sua certificação como propaganda enganosa, distorcendo o seu significado. A ISO 14001 atesta que existe um sistema de gestão ambiental funcionando dentro dos padrões exigidos, mas não garante que a empresa tenha um desempenho ambiental excelente, e sim um compromisso com a melhoria contínua. A certificação não garante que a empresa esteja cumprindo a legislação, mas que há um compromisso de cumpri‑la e que existe uma preocupação para a correção dos erros verificados. Sendo assim, não faz sentido a empresa afirmar que não é poluidora, ou mesmo que a certificação garante que ela trabalhena conservação e preservação das espécies em extinção. A certificação por terceira parte elimina a necessidade de auditorias de segunda parte, como nos casos de exigências ambientais de clientes para seus fornecedores, de seguradoras para seus clientes e no controle da matriz em relação a suas filiais. 8.4 Análise de risco e medidas emergenciais Perguntas do tipo “o que aconteceria se...?” são, muitas vezes, feitas ao se analisar a viabilidade ambiental de um projeto. Os resultados do mau funcionamento do empreendimento podem ser mais significativos que os impactos decorrentes de seu funcionamento normal. Essas situações são conhecidas como risco ambiental e podem ser muito graves, como explosões em uma indústria química, vazamento de petróleo em um oleoduto ou a ruptura de uma barragem. O risco ligado aos acidentes é uma preocupação que deve ser considerada na análise de impactos ambientais (SÁNCHEZ, 2008). Existem dois tipos de riscos: os crônicos e os agudos. Assim, existem duas famílias de análise de risco: uma voltada para análise de situações agudas, como acidentes industriais ampliados, e outra voltada para situações crônicas, como a exposição de uma população a agentes físicos (como ruídos) ou químicos (substâncias presentes na água ou no ar). Podemos dividir a análise de risco em três classes (SÁNCHEZ, 2008): 118 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II • análise de segurança – avaliação de risco probabilística e quantitativa; • avaliação de risco à saúde; • avaliação de risco ecológico. Embora o conceito de risco seja o mesmo, as características de cada situação são tão diferentes que levaram ao desenvolvimento de diferentes ferramentas. Existem muitas classificações possíveis para os riscos ambientais e seu reconhecimento necessita de uma definição prévia de qual tipo pretendemos analisar. Entre os riscos ditos naturais, existem os seguintes tipos: os riscos de origem atmosférica, oriundos dos processos e fenômenos meteorológicos; os riscos climatológicos, que têm lugar na atmosfera, incluindo os de temporalidade curta, como tornados, trombas d’água, granizo, raios, entre outros; os riscos associados aos processos e fenômenos hidrológicos, como inundações; os riscos geológicos, que podem ser subdivididos entre aqueles que possuem origem exógena, como escorregamentos, subsidências e processos erosivos e de assoreamento; os riscos biológicos, relativos à atuação de agentes vivos, como organismos patogênicos; e riscos siderais, que têm origem fora do planeta, como queda de meteoritos (SÁNCHEZ, 2008). A caracterização de situação de risco natural deve levar em conta a ação do homem como agente deflagrador ou acelerador de processos naturais. As inundações, por exemplo, são fenômenos naturais na maior parte do planeta, mas sua intensidade pode ser aumentada devido às ações antrópicas, como desmatamento e impermeabilização do solo. Os riscos tecnológicos são aqueles cuja origem está diretamente ligada à ação humana. Podemos incluir os riscos de acidentes tecnológicos, como explosões e vazamentos, além do risco à saúde humana e aos ecossistemas, causados por diferentes tipos de ações antrópicas, como uso e liberação de produtos químicos tóxicos, de radiações ionizantes e de organismos transgênicos. As atividades de risco são chamadas de perigosas, pois são capazes de causar dano ambiental, como muitas atividades industriais, o transporte e armazenamento de produtos químicos, o lançamento de poluentes ou a manipulação genética (SÁNCHEZ, 2008). O reconhecimento de uma situação de risco depende de muitos fatores, entre eles, podemos incluir algum tipo de risco. No terreno tecnológico é mais fácil reconhecer um risco agudo que crônico. Isso acontece porque, numa situação aguda, é mais fácil se estabelecer uma relação entre a causa e o efeito, o que não ocorre nas situações crônicas, quando o efeito se manifesta a longo prazo (SÁNCHEZ, 2008). Em um estudo de análise de risco, além de identificar os perigos e estimar os riscos, devemos propor medidas de gerenciamento. Essas medidas podem ser preventivas, com o objetivo de reduzir as probabilidades de ocorrências e, assim, reduzir os riscos e ações de emergência, isto é, medidas a serem tomadas no caso de acidentes. De acordo com Sánchez (2008), o estudo de risco pode ser integrado ao estudo de impacto ambiental ou ser realizado como avaliações avulsas do EIA. São exigidos estudos de análise de risco para o licenciamento de indústrias com atividades potencialmente perigosas, no caso de 119 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS dutos de transporte de petróleo e seus derivados, gases e outros compostos químicos, além de plataformas de petróleo ou de gás. Os critérios de classificação das instalações perigosas e a exigência de estudos sobre o risco são baseados no perigo que possam oferecer à comunidade e ao meio ambiente em torno. Essa característica depende dos tipos de substâncias manipuladas, das quantidades envolvidas e da vulnerabilidade do local. Os estudos de análise de risco possuem um conteúdo específico e devem descrever as instalações analisadas, identificar os perigos, quantificar riscos e propor medidas de gestão para reduzi‑los, assim como um plano de ação para situações de emergência. Os tópicos principais para o estudo de análise de risco são (SÁNCHEZ, 2008): • caracterização do empreendimento e da região: apresenta‑se uma descrição das instalações e atividades, assim como algumas características importantes do local, por exemplo, clima, condições meteorológicas, uso do solo ao redor do empreendimento e presença de concentrações urbanas, com o objetivo de proteger recursos hídricos e fragmentos florestais; • identificação de perigos e consolidação de cenários de acidentes: por meio de procedimentos específicos, busca‑se identificar possíveis sequências de eventos que podem resultar em acidentes, como liberação de substâncias ou outro fato com efeito negativo. Dependendo da gravidade dos danos causados, preparam‑se cenários, com situações reais de acidentes. Existem muitas técnicas para a identificação de perigos, entre elas a análise preliminar de perigo (APP), a análise de perigos e operabilidade (Hazop) e a análise de modos de falhas e efeitos (AMFE); • estimativa dos efeitos físicos e análise de vulnerabilidade: é uma previsão de consequências ambientais, no caso dos cenários considerados anteriormente se concretizarem. Muitos modelos matemáticos são usados para simulação dos efeitos de acidentes, como a propagação de nuvens de gás, a explosão de gás inflamável, entre outras; • estimativa da frequência: quantificação da frequência de ocorrência dos cenários acidentais identificados durante o estudo, baseados em opiniões de especialistas ou dados históricos; • estimativa de avaliação de riscos: consiste na probabilidade de risco ao qual as pessoas que trabalham na área estão expostas; • gerenciamento de riscos: consiste na formulação de medidas para prevenção de acidentes, reduzindo os seus efeitos e incluindo um plano de gerenciamento de risco, com medidas a serem tomadas em caso de acidentes, também conhecidas como plano de atendimento a emergências. O plano de gerenciamento deve descrever todos os procedimentos propostos e recursos necessários, concentrando‑se nos aspectos críticos identificados e dando prioridades aos cenários de acidentes com efeitos mais graves. 120 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II Resumo A Rio‑92 discutiu o desenvolvimento sustentável de forma a aumentar a conscientização dos povos de que os países desenvolvidos são responsáveis pela maior parte da poluição mundial. Os países em desenvolvimento deveriam ter ajuda financeira para atingir o desenvolvimento sustentável. A Agenda 21 foi o documento maisimportante gerado na Rio‑92. Nele, foi estabelecido um plano de ação mundial para o desenvolvimento sustentável, considerando a proteção ambiental e a justiça social e econômica. A Conferência de Quioto foi realizada no Japão em 11 de dezembro de 1997, quando 38 países industrializados concordaram com a diminuição, até 2012, de suas emissões de gases causadores de efeito estufa a níveis abaixo dos detectados em 1990. Após 20 anos da Rio‑92, ocorreu a Rio+20. O encontro teve como objetivo renovar o compromisso político assumido para o desenvolvimento sustentável e analisar os progressos e os problemas enfrentados até aquele momento pelos países participantes para implementar os acordos assinados e abordar novos desafios. A degradação ambiental pode ser entendida como a destruição, a deterioração ou o desgaste gerado à natureza a partir de atividades humanas com objetivos econômicos e de aspectos populacionais e biológicos. No Brasil, essa questão também é causada pela exploração da agropecuária, atividade que possui forte importância econômica. A diferença entre a agroecologia e a agricultura para produção capitalista é que a primeira tem um enfoque de produção de longo prazo, enquanto a segunda tem um enfoque de produção de curto prazo. A importância das auditorias ambientais vem aumentando, nos últimos anos, como instrumento de gestão ambiental. Isso ocorreu quando os gestores ambientais perceberam que a disponibilidade de tecnologias e o monitoramento dos resultados não eram suficientes para alcançar bons resultados nessa área e o emprego das auditorias foi imprescindível. A competição internacional gerou exigências ambientais que se transformaram em barreiras não tarifárias, levando à elaboração e implementação das normas ISO 14001 e do correspondente sistema de auditoria e certificação ao redor do mundo ISO 19001. 121 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS Para se obter a certificação ambiental pela norma ISO 14001, devem ser mostrados os compromissos e princípios gerenciais da empresa em sua política ambiental. Com a implantação dessa política são definidos os objetivos, as metas da empresa e os procedimentos a serem seguidos por todos os colaboradores. Exercícios Questão 1. (Enade 2014) A premissa fundamental do licenciamento ambiental consiste na exigência de avaliação de impacto ambiental para os empreendimentos e atividades passíveis de licenciamento, de forma a prevenir e/ou mitigar danos ambientais que venham a afetar tanto o equilíbrio ecológico quanto o socioeconômico, comprometendo a qualidade ambiental de uma determinada localidade, região ou pais. Fonte: Disponível em: <http://www.mma.gov.br>. Acesso em: 23 de jul. 2014 (adaptado). Sobre a avaliação de impactos ambientais, avalie as afirmativas a seguir: I – O licenciamento de um empreendimento demanda a realização de Estudo de Impacto Ambiental (EIA), em que devem ser identificados e analisados os impactos ambientais segundo as fases de implantação do empreendimento: fase de planejamento, fase de implantação e fase de operação. II – Uma vez avaliados os impactos ambientais que o empreendimento poderá provocar, devem ser examinadas as medidas que possam mitigar, controlar e monitorar seus impactos negativos ou potencializar seus impactos positivos. III – De acordo com a legislação vigente, é considerado impacto ambiental a alteração das propriedades físicas do meio ambiente causada pelo lançamento de subprodutos da atividade de um determinado empreendimento que, indiretamente, afete as condições estéticas do meio ambiente. É correto o que se afirma em: A) I, apenas. B) III, apenas. C) I e II, apenas. D) II e III, apenas. E) I, II e III. Resposta correta: alternativa E. 122 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 Unidade II Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: a licença ambiental para empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio dependerá de prévio estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA). II – Afirmativa correta. Justificativa: estudos ambientais são todos e quaisquer estudos relativos à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentados como subsídio para a análise de uma licença requerida, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de risco. III – Afirmativa correta. Justificativa: a degradação da qualidade ambiental é resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem‑estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. Questão 2. (Enade 2014) A Análise de Ciclo de Vida (ACV) é uma ferramenta que analisa os aspectos e impactos ambientas potenciais de um produto desde a extração de sua matéria‑prima até sua destinação final; vem sendo utilizada para comparar alternativas de tratamento de resíduos e efluentes, auxiliando em tomadas de decisão. As etapas da ACV determinadas pela ISO 14.040 são: definição do escopo e objetivo, análise de inventário de ciclo de vida, avaliação do impacto de ciclo de vida e interpretação. A destinação é um dos temas abordados na Política Nacional de Resíduos Sólidos, que institui a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, com a finalidade de minimizar o volume dos resíduos sólidos e rejeitos, além de reduzir seus impactos ao meio ambiente. Para que a ACV, quando utilizada como ferramenta de gestão de resíduos sólidos, alcance resultados consistentes, são necessários os balanços de: A) volume e energia. B) volume e massa. C) volume e infraestrutura. D) energia e massa. E) infraestrutura e massa. Resolução desta questão na plataforma. 123 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 10 /1 5 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 1 PHILIPPI JR., A.; ROMERO, M. A.; BRUNA, G. C. Curso de Gestão Ambiental. Barueri: Manole, 2004. p. 818. REFERÊNCIAS Textuais A CARTA da Terra. 2000. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/ carta_terra.pdf>. Acesso em: 8. out. 2014. ABNT. NBR ISO 10006 (2000) Gestão da qualidade – Diretrizes para a qualidade no gerenciamento de Projetos. Rio de Janeiro, 2000. Disponível em: <http://licenciadorambiental.com.br/wp‑content/ uploads/2015/01/NBR‑10.006‑Gest%C3%A3o‑da‑Qualidade‑diretrizes‑para‑a‑ qualidade‑no‑gerenciamento‑de‑projetos.pdf>. Acesso em: 9 out. 2015. ___. NBR 12808 (1993) Resíduos de serviços de saúde. Rio de Janeiro, 1993. Disponível em: <http:// wp.ufpel.edu.br/residuos/files/2014/04/NBR‑12808‑1993‑Res%C3%ADduos‑de‑servi%C3%A7os‑de‑s a%C3%BAde.pdf>. Acesso em: 8 out. 2015. ABRELPE. Lançado Panorama 2013. Disponível em: <http://www.abrelpe.org.br/noticias_detalhe. cfm?NoticiasID=2091>. Acesso em: 8 out. 2015. ___. Resíduos sólidos: manual de boas práticas no planejamento. São Paulo, [s.d.]. Disponível em: <www.abrelpe.org.br/manual_apresentacao.cfm>. Acesso em: 8 out. 2015. ACSELRAD, H. Desenvolvimentos sustentável: a luta por meio do conceito. Revista Proposta, nº 71, p. 11‑16, 1997. ANVISA. 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Disponível em: <http://www.mma.gov.br/ responsabilidade‑socioambiental/agenda‑21/agenda‑21‑global>. Acesso em: 9 out. 2015. ___. Antecedentes. Brasília, [s.d.]a. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/deds/htms/ antecedentes.htm>. Acesso em: 9 out. 2015. ___. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988a. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 6 out. 2015. ___. Convenção sobre diversidade biológica. Brasília, 2000. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/ estruturas/sbf_chm_rbbio/_arquivos/cdbport_72.pdf>. Acesso em: 9 out. 2015. ___. Declaração do Rio sobre meio ambiente e desenvolvimento. Brasília, 1992b. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/documentos/convs/decl_rio92.pdf>. Acesso em: 9 out. 2015. ___. Decreto nº 23.793, de 23 de janeiro de 1934. Rio de Janeiro, 1934. 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