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engenhos e memórias - o sentimento de pertencimento às paisagens presente nas narrativas dos taes da ufmt

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO 
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE CULTURA 
CONTEMPORÂNEA - MESTRADO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ALEX DIAS CURVO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ENGENHOS DE MEMÓRIAS: o sentimento de pertencimento às paisagens 
presente nas narrativas dos TAEs da UFMT 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cuiabá-MT 
Março/2021 
2 
 
ALEX DIAS CURVO 
 
 
 
 
 
 
ENGENHOS DE MEMÓRIAS: o sentimento de pertencimento às paisagens 
presente nas narrativas dos TAEs da UFMT 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Estudos em Cultura 
Contemporânea (PPG/ECCO) da 
Universidade Federal de Mato Grosso 
(UFMT) como requisito para obtenção do 
título de Mestre em Estudos de Cultura 
Contemporânea, na linha de pesquisa em 
Comunicação e Mediações Culturais. 
 
 
 
ORIENTADOR: Prof.ª Dr.ª Taís Helena Palhares 
 
 
 
 
 
 
 
Cuiabá-MT 
Março/2021 
 
27/04/2021 SEI/UFMT - 3275045 - MESTRADO - Folha de Aprovação
https://sei.ufmt.br/sei/controlador.php?acao=documento_imprimir_web&acao_origem=arvore_visualizar&id_documento=14328020&infra_sistema=100000100&infra_unidade_atual=110000888&infra_hash=79b76a79… 1/2
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA
 
 
FOLHA DE APROVAÇÃO
TÍTULO: ENGENHOS DE MEMÓRIAS: o sen�mento de pertencimento às paisagens presente nas narra�vas dos TAEs da UFMT
 
AUTOR: Mestrando – Alex Dias Curvo
 
Dissertação defendida e aprovada em 25/03/2021.
 
COMPOSIÇÃO DA BANCA EXAMINADORA
 
Doutora Taís Helena Palhares (Presidente da Banca / Orientadora)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
 
Doutora Teresinha Rodrigues Prada Soares (Examinadora Interna)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
 
Doutora Ana Paula Garcia (Examinadora Externa)
INSTITUTO FEDERAL DE MATO GROSSO
CUIABÁ, 25/03/2021.
Documento assinado eletronicamente por TAIS HELENA PALHARES, Docente da Universidade Federal de Mato Grosso, em 29/03/2021, às 10:02, conforme
horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Decreto/D8539.htm
27/04/2021 SEI/UFMT - 3275045 - MESTRADO - Folha de Aprovação
https://sei.ufmt.br/sei/controlador.php?acao=documento_imprimir_web&acao_origem=arvore_visualizar&id_documento=14328020&infra_sistema=100000100&infra_unidade_atual=110000888&infra_hash=79b76a79… 2/2
Documento assinado eletronicamente por TERESINHA RODRIGUES PRADA SOARES, Docente da Universidade Federal de Mato Grosso, em 29/03/2021, às
10:31, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.
Documento assinado eletronicamente por Ana Paula Garcia, Usuário Externo, em 19/04/2021, às 09:50, conforme horário oficial de Brasília, com
fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.
A auten�cidade deste documento pode ser conferida no site h�p://sei.ufmt.br/sei/controlador_externo.php?
acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0, informando o código verificador 3275045 e o código CRC 0FB65D57.
Referência: Processo nº 23108.012240/2021-97 SEI nº 3275045
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Decreto/D8539.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Decreto/D8539.htm
http://sei.ufmt.br/sei/controlador_externo.php?acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0
Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.
 
 
Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).
 
Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.
C981e CURVO, ALEX DIAS.
Engenhos de Memórias: : o sentimento de pertencimento às paisagens
presente nas narrativas dos TAEs da UFMT / ALEX DIAS CURVO. --
2021
128 f. : il. color. ; 30 cm.
Orientadora: Taís Helena Palhares.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso,
Faculdade de Comunicação e Artes, Programa de Pós-Graduação em
Estudos de Cultura Contemporânea, Cuiabá, 2021.
Inclui bibliografia.
1. Identidade. 2. Memórias. 3. Paisagens. 4. Pertencimento. 5.
Sentimentos. I. Título.
6 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Não haverá borboletas se a vida 
não passar por longas e silenciosas 
metamorfoses” 
 
Rubem Alves 
 
 
7 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Primeiramente agradeço a Deus pela minha vida e por ter me dado força para 
superar todas as dificuldades. 
 
A esta universidade, seu corpo técnico em geral, que me deram a oportunidade de 
conviver dia-a-dia na universidade, ampliar minha visão de mundo e meus 
conhecimentos. Obrigado por terem aceitado em participar desta pesquisa. 
 
A minha orientadora, Professora Drª Taís Helena Palhares, pelo suporte e 
incentivo, dentre os meus tantos sumiços e ressurgimentos, sempre teve paciência e 
dedicação. Sinto-me grato pelas oportunidades de discussões, trocas de experiências, 
desabafos e poder conhecer novos pontos de vista. 
 
A minha mãe que sempre foi meu suporte e meu exemplo de vida, meus irmãos, 
que ora perto ora distante, sempre estiveram me ajudando e dando suporte e aos meus 
doces sobrinhos que inundam meus dias com a inocência das crianças, criando este 
universo paralelo entre a fantasia e a realidade. 
 
A minha amada família entes queridos que sempre me incentivaram e apoiaram 
para concretizar esta etapa da minha vida, em especial, a Thiago Fernandes, pelas 
convivências e compreensões. Sei que fui bem “chato” e muita das vezes “ranzinza”, 
mas sei que nesses momentos estava precisando de você e, com a graça de Deus, recebi 
todo o carinho que precisava. Obrigado!!! 
 
Aos meus amigos, que no decorrer deste período me deram a oportunidade de 
sorrir, chorar, desabafar e entre tantas coisas que me fizeram crescer. 
 
A todos que tive a oportunidade de conhecer durante este período da pós-
graduação que, direta ou indiretamente, colaboraram para o meu crescimento pessoal, 
acadêmico e profissional, e me ajudaram a construir o que hoje eu sou, o meu muito 
obrigado. 
 
 
8 
 
RESUMO 
 
 
CURVO, A. D. ENGENHOS DE MEMÓRIAS: o sentimento de pertencimento às 
paisagens presente nas narrativas dos TAEs da UFMT. Dissertação (Mestrado em 
Estudos de Cultura Contemporânea) - Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). 
Cuiabá-MT, p. 128. 20211. 
 
O objetivo geral do estudo foi interpretar os diferentes modos de sentir dos Técnicos 
Administrativos em Educação (TAEs) da UFMT em alusão ao “pertencer” e ao “fazer” 
parte da Instituição de Ensino, por meio da geopoética das paisagens. A pesquisa foi 
compreendida a partir de um estudo de caso de caráter descritivo, de abordagem 
qualitativa, na perspectiva de um trabalho a campo transversal. Como Instrumentos de 
Coleta de Dados (ICD) aplicou-se: (i) árvore de problemas; (ii) modelo-Muro das 
Lamentações; (iii) entrevistas por história de vida - HV e (iv) modelo-Árvore dos Sonhos. 
O caso analisado teve como área experimental a Universidade Federal de Mato Grosso 
(UFMT), Câmpus Cuiabá-MT, por motivos de acessibilidade, tempo e necessidade dessa 
pesquisa para a categoria. O estudo teve como sujeitos servidores Técnicos 
Administrativos em Educação (TAEs), com uma amostra de 19 (dezenove) participantes, 
caracterizados como narradores. A coleta de dados iniciou em setembro (contato com os 
participantes) e foi finalizada em outubro de 2020 (entrevistas com os grupos). O estudo 
teve como base teórica os aspectos que englobam as estruturas de identidade, sentimento 
e pertencimento na abordagem da cultura contemporânea, da antropologia e da 
administração, bem como seus princípios e valores organizacionais, observando os elos 
entre os discursos de pressupostos teóricos. Para elaboração da base teórica, foram 
resgatados diversos autores,tais como Canclini (1983), Melo (2004), Lovelock et al. 
(2011), a partir dos debates acirrados e imersos na corrente dos estudos culturais no 
campo do comparativismo literário no Brasil. A análise apresentou o perfil dos narradores 
e teceu três paisagens da memória: a visão, por meio do “olhar”; o cheiro, pelo “sentir” e 
o som, pelo “ouvir” dos TAEs da UFMT. Através delas, identificaram-se lugares e 
acontecimentos que permeiam os sentidos e sentimentos dos narradores tanto pelas 
paisagens que tem sobre suas Coordenações quanto pela Instituição, além de percepções 
diferenciadas dos servidores sobre seus sentimentos de pertencimento. Como conclusão, 
destaca-se o reconhecimento desta categoria como agente histórico da UFMT. Pelas 
inúmeras narrativas, são vários os problemas vistos, ouvidos e sentidos, entretanto, não 
impossíveis de serem resolvidos, ou mesmo minimizados. Os “espectadores e os ouvintes 
são tão criativos e imprevisíveis como os leitores”, e no imaginário de suas memórias, as 
obras “procuram receptores para animá-los ou consolá-los; que no caso deste estudo 
piloto, tem-se os engenhos como um mecanismo que pode mudar a forma de sentir de 
seus espectadores a respeito da sua maneira de se manifestar a seus pares à sociedade. 
 
Palavras Chaves: Identidade; Memórias; Paisagens; Pertencimento; Sentimentos. 
 
 
 
 
 
 
1 Orientador: Dr.ª Taís Helena Palhares (UFMT). 
9 
 
ABSTRACT 
 
 
CURVO, A. D. ENGINEERING MEMORIES: the feeling of belonging to landscapes 
present in the narratives of UFMT TAEs. Dissertation (Master in Contemporary 
Culture Studies) - Federal University of Mato Grosso (UFMT). Cuiabá-MT, p. 128. 
20211.
 
 
The general objective of the study was to interpret the different ways of feeling of the 
Administrative Technicians in Education (TAEs) of UFMT in allusion to "belonging" and 
"being" part of the Educational Institution, through the geopoetics of landscapes. The 
research was understood from a case study of descriptive character, of qualitative 
approach, in the perspective of a transversal field work. As Data Collection Instruments 
(DCI) it was applied: (i) problem tree; (ii) model-Wailing Wall; (iii) life history 
interviews - HV and (iv) model-Tree of Dreams. The case analyzed had as its 
experimental area the Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Cuiabá-MT 
campus, for reasons of accessibility, time and the need of this research for the category. 
The study had as subjects Technical Administrative Workers in Education (TAEs), with 
a sample of 19 (nineteen) participants, characterized as narrators. Data collection started 
in September (contact with the participants) and was finalized in October 2020 
(interviews with the groups). The study had as theoretical basis the aspects that 
encompass the structures of identity, feeling, and belonging in the approach of 
contemporary culture, anthropology, and administration, as well as its principles and 
organizational values, observing the links between the discourses of theoretical 
assumptions. To elaborate the theoretical basis, several authors were rescued, such as 
Canclini (1983), Melo (2004), Lovelock et al. (2011), from the heated debates immersed 
in the current of cultural studies in the field of literary comparativism in Brazil. The 
analysis presented the profile of the narrators and wove three landscapes of memory: the 
vision, through the "look"; the smell, through the "feel" and the sound, through the "hear" 
of the UFMT TAEs. Through them, places and events were identified that permeate the 
senses and feelings of the narrators both for the landscapes they have about their 
Coordinations and the Institution, as well as differentiated perceptions of the servers 
about their feelings of belonging. As a conclusion, the recognition of this category as a 
historical agent of UFMT stands out. Through the countless narratives, there are several 
problems seen, heard and felt, however, not impossible to be solved, or even minimized. 
The "spectators and listeners are as creative and unpredictable as the readers", and in the 
imaginary of their memories, the works "seek receivers to cheer or console them; that in 
the case of this pilot study, we have the mills as a mechanism that can change the way 
their spectators feel about their way of manifesting themselves to their peers to society. 
 
Keywords: Identity; Memories; Landscapes; Belonging; Feelings. 
 
 
 
 
 
 
 
1 Advisor: Dr.ª Dr.ª Taís Helena Palhares (UFMT). 
10 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
Figura 1: Seleção do número de narradores (entrevistados) para a pesquisa por 
Coordenações de trabalho da SGP/UFMT. .................................................................... 50 
Figura 2: Fluxo de aplicação dos ICDs da pesquisa...................................................... 54 
Figura 3: Ano e percentual de narradores que ingressaram como servidores públicos de 
carreira de TAEs na UFMT, Campus de Cuiabá, MT, Brasil. ....................................... 68 
Figura 4: Quantidade (em anos) e percentual de narradores que atuam como servidores 
públicos de carreira de TAEs na UFMT, Campus de Cuiabá, MT, Brasil. .................... 69 
Figura 5: Quantidade de narradores TAEs por Coordenações – Setor de Gestão de 
Pessoas da UFMT, Campus de Cuiabá, MT, Brasil. ...................................................... 70 
Figura 6: Distribuição dos Cargos informados pelos narradores por Coordenações 
conforme o Plano de Carreira dos TAEs – Setor de Gestão de Pessoas da UFMT, Campus 
Cuiabá, MT, Brasil. ........................................................................................................ 72 
Figura 7: Árvore de problemas contendo as principais causas e efeitos negativos 
narrados pelos TAEs em alusão as suas paisagens (Visão)............................................ 75 
Figura 8: Árvore de problemas contendo as principais causas e efeitos negativos narrados 
pelos TAEs em alusão as suas paisagens (Ouvir) .......................................................... 77 
Figura 9: Árvore de problemas contendo as principais causas e efeitos negativos narrados 
pelos TAEs em alusão as suas paisagens (Cheiro) ........................................................ 79 
Figura 10: Muro das lamentações contendo as principais causas selecionadas pelos 
narradores (TAE’s) em alusão a Geopoética das Paisagens. .......................................... 82 
Figura 11: Compreensão dos TAEs da UFMT sobre o que se entende/conhece por 
“sentimento de pertencimento”....................................................................................... 97 
Figura 12: Compreensão dos TAEs da UFMT sobre o que se entende/conhece por 
“geopoética das paisagens”. ............................................................................................ 98 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1: Código e número de participantes estabelecidos a serem convidados por 
coordenações para participarem da pesquisa científica. ................................................. 49 
Tabela 2: Caracterização do perfil dos narradores do estudo segundo gênero, faixa etária, 
estado civil, filhos e formação profissional. TAEs, UFMT, Cuiabá, 2021. ................... 56 
Tabela 3: Distribuição dos narradores por Coordenações e tempo de atuação no serviço 
público federal. TAEs, Câmpus da UFMT, Cuiabá, MT, Brasil. ................................... 71 
Tabela 4: Principais causas selecionadas no processo evocação das paisagens dos TAEs 
– categoria “Visão” ......................................................................................................... 76 
Tabela 5: Principais causas selecionadas no processo evocação das paisagens dos TAEs 
– categoria “Ouvir”. ........................................................................................................ 78 
Tabela 6: Principais causas selecionadas no processoevocação das paisagens dos TAEs 
– categoria “Cheiro”. ...................................................................................................... 80 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
SUMÁRIO 
 
 
RESUMO ..........................................................................................................................8 
ABSTRACT......................................................................................................................9 
INTRODUÇÃO..............................................................................................................14 
2. CAPITULO I: PAISAGENS, MEMÓRIAS E NARRATIVAS: construindo o 
simbólico dos lugares .....................................................................................................20 
2.1 Paisagens, memórias e narrativas de vida – algumas reflexões.................................20 
2.2 Paisagens humanizadas: o homem e suas representações .........................................25 
2.3 Narrativas de memórias como configuração de identidade e paisagem ....................28 
2.4. Geopoética das paisagens: os diferentes sentimentos sobre a natureza....................31 
2.4.1 Os odores e a paisagem: “sentir a natureza” ...........................................................33 
2.4.2 Os sons e a paisagem: “ouvir a natureza” ...............................................................34 
2.4.3 O olhar e a paisagem: “a natureza vista pela janela” ..............................................36 
2.5 Sentimento de pertencimento: a identidade em tempos de transição ........................38 
2.5.1 O que motiva o pertencimento? ..............................................................................42 
3. CAPITULO II: CAMINHOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA 
PESQUISAS EM CULTURA E SOCIEDADE: a ascensão do método participativo
 .........................................................................................................................................47 
3.1 Procedimentos Metodológicos...................................................................................47 
3.2 Método, universo da pesquisa, população e amostragem ..........................................47 
3.3 Critérios de aceitabilidade para participação na pesquisa .........................................51 
3.4 Técnicas de coleta e análise dos dados ......................................................................52 
3.5 Condições Éticas em Pesquisa ...................................................................................54 
4. CAPITULO III: Paisagens possíveis como representações sociais dos TAEs da 
UFMT: dos espaços externos aos espaços internos .....................................................55 
4.1 Apresentando os narradores: caracterização do perfil dos participantes da pesquisa
 .........................................................................................................................................55 
4.2 A trajetória de trabalho antes da UFMT: momentos da vida e de escolhas profissionais
 .........................................................................................................................................60 
4.2.1 Identidades em trânsito: as primeiras experiências profissionais ...........................61 
4.3 Trajetória de vida e trabalho na UFMT: Agora, Servidor Público Federal ...............66 
13 
 
4.4 Percepção e paisagem no cotidiano dos narradores (TAEs) da UFMT: explorando os 
sentidos da paisagem em ambientes de trabalhos na contemporaneidade.......................73 
4.4.1 Árvore de Problemas (Causa e Efeito) ...................................................................74 
4.4.2 Muro das Lamentações ...........................................................................................81 
4.4.3 A construção dos espaços por meio da história de vida dos narradores .................83 
4.4.3.1 Paisagens narradas pelos TAEs da UFMT – “O olhar” .....................................84 
4.4.3.2 Paisagens narradas pelos TAEs da UFMT – “O ouvir”......................................86 
4.4.3.3 Paisagens narradas pelos TAEs da UFMT – “O sentir” .....................................89 
4.4.4 Árvore dos sonhos: tecendo ações para as paisagens sentidas e desenhadas pelos 
narradores (TAE’s) da UFMT .........................................................................................91 
4.5 O sentimento de pertencimento: da geopoética das paisagens dos TAEs ao comum 
mediático..........................................................................................................................95 
4.5.1 Representações do sentimento de ser Servidor de Carreira TAEs da UFMT.........99 
4.5.2 Percepções dos TAEs sobre o sentimento de pertencimento para/com sua 
Coordenação de trabalho na Instituição.........................................................................100 
4.5.3 Percepções dos TAEs sobre o sentimento de pertencimento para/com a Instituição
 .......................................................................................................................................102 
4.5.4 Percepções dos TAEs sobre o sentimento de inclusão pela Instituição................104 
4.5.5 Percepções dos TAEs sobre a representação da UFMT para a sociedade mato-
grossense ........................................................................................................................105 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Evidências que tecem às paisagens .....................108 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................113 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
“A memória – pessoal e histórica, dos 
indivíduos de sua geração – deveria ser posta no centro 
do palco como objeto – não apenas como método – da 
história oral: o que acontece à experiência quando se 
vai tornando memória? O que acontece às experiências 
quando se vão tornando história?” 
 
Thomson3 
 
A opção por conhecer os modos de vida através do trabalho com a narrativa é 
assumida, nesta proposta de dissertação de mestrado, como um desafio que procura 
encontrar, nas memórias contadas, muito mais do que informações sobre determinado 
tema. A linguagem oral apresenta-se como uma possibilidade substancial na pesquisa 
sobre as memórias do grupo estudado de Servidores Técnicos Administrativos em 
Educação (TAEs) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Campus Cuiabá-
MT, em relação ao modo como esses se sentem e fazem parte do universo de seu trabalho, 
em conexão indissociável a suas paisagens. Destaco, nesta inferência, as amarrações entre 
oralidade e sobrevivência, e convívio entre seus pares no processo de construção de vida 
profissional. A voz, os gestos, as histórias, os contos e as falácias ganham sentido na 
linguagem oral, e é principalmente com ela que a vida vai sendo enfrentada. 
Dito isso, cada vez fica mais claro que não é possível lidar com essa experiência 
oral como informação complementar ou ilustração sobre algum tema. Neste trecho, 
Chartier (1990) traduz a experiência oral sobre algum tema na medida que: 
 
O mundo que se descortina à nossa frente se faz em formas e, em alguns 
contextos que fazem parte da tentativa do pesquisador de entender os 
percursos da narrativa oral, sobretudo na tensão com o mundo escrito. 
A própria voz com seus ritmos dissonantes, seus movimentos corporais, 
seus altos e baixos, seus silêncios... aponta possibilidades de vislumbrar 
os modos de vida dos muitos homens e mulheres. Nas paisagens a serem 
desenhadas através de motes e perguntas localizadas, desvendara-se, a 
cada vez, o mundo todo (CHARTIER, 1990, p.31-36). 
 
Por esse ponto de vista, as memórias dos servidores TAEs, nesse processo, aos 
poucos, dar-se-ão por um desdobrando em múltiplos enunciados: a rotina, a convivência,3 Frases do Livro de Thomson - Aos cinquenta anos: uma perspectiva internacional da história oral. Rio 
de Janeiro: Fiocruz, 2000, p.53. 
15 
 
os papéis, as atividades, os gestos, as ações, o local, os contos, o clima, o tempo de 
permanência, entre outros. 
Sobre isso, Barbosa (2009) salienta que é complexo exaltar uma variável que 
explique o emaranhado sentimento de pertencimento e, em muitos tons de oralidade, o 
caminho a ser traçado permite experimentar novos ensaios. Por esse motivo, o autor 
afirma que: 
 
Mil pedaços esgarçados e costurados ao sabor das lembranças dos 
narradores e, maiormente, do olhar do pesquisador sobre tais 
acontecimentos, em conexão aos gestos, coisas, pessoas e ações do que 
significava os momentos e memórias do grupo social em estudo, por 
meio das paisagens significativas (olhar, sentir, ouvir) a “natureza”, que 
representam, alusivamente, os mais aflorais sentimentos. Certo disso, 
nos engenhos da memória, o sentimento de pertencimento passa a ter 
rosto, corpo, som, cheiro e gosto, transmitidos pelo elo lúdico da 
“paisagem”, que se conecta, entre o passado ao contemporâneo; é 
possível que as lembranças do passado e do presente se misturam com 
acontecimentos vividos e narrados entre muitos outros (BARBOSA, 
2009, p.18). 
 
Diante do exposto, explicita que não é a mera configuração morfológica como um 
conjunto de objetos isolados no espaço que constitui uma paisagem – como uma 
fotografia produzida a partir do que o campo visual humano conseguiu abarcar em um 
lance de vista. Mas, tão somente, quando nesse processo (em que todos os sentidos atuam 
integradamente) os diversos elementos são rearranjados de forma tal que se reapresentam 
como uma nova unidade, a partir de um “para-si”, ou seja, de uma relação de identificação 
entre esse novo conjunto e o indivíduo que o concebeu (OST, 1995). 
Por esse entendimento, o tema foi surgindo em colaboração com algumas 
sugestões de interpretação, principalmente com ajuda do Grupo de Pesquisa em Música 
e Educação da UFMT. A escolha de pesquisar o modo de sentir e de fazer parte da 
Instituição de Ensino, por meio do ambiente de trabalho e de confrontá-los com os 
sentimentos produzidos ao olhar indissociável de suas paisagens. O desenrolar desta 
proposta de pesquisa com aspectos transversais e interdisciplinares busca, nas condições 
contemporâneas, não só discutir o tema, mas as possibilidades de materialização dessas 
memórias, sobretudo em face da linguagem oral. 
E, afinal, embasado, especialmente nas concepções teóricas de vários 
pressupostos, acredita-se que esses múltiplos sentimentos aflorados são um tema bom 
para ser explicado, mas curiosamente, excelente para ser contado. Logo, Serrão (2013) 
pondera que, nessa linha de pesquisa, entre o grupo social a ser entrevistado, não haverá 
16 
 
o costume de explicar muito as coisas, principalmente se existiu ou não o sentir do não-
pertencimento, do estar “presente” e não se sentir parte. 
Por outro lado, Steinberger (2006) também salienta que os diferentes modos de 
sentir são bons para virar história, e nem sempre tristes. Silva (2016) sustenta a verdade 
de que as lembranças acerca dos momentos de vivências transformaram-se, algumas 
vezes, em tragédia, noutras em comédia. Os narradores, certamente, criarão epopeias que 
funcionarão como feixe de sedução e aprisionamento do ouvinte. Em alguns casos, a 
história poderá se apresentar como um exemplo, afinal o pertencer e o fazer parte, se 
ligam intimamente à ideia de satisfação, felicidade e bem-viver (FERREIRA et al., 2000). 
Portanto, o desejo aqui manifestado será o de perscrutar palavras, mas também 
coisas, gestos e com elas construir sentimentos junto com os narradores. Por isso mesmo, 
a perseguição maior recairá sobre o movimento dos sentidos e não somente dos 
significados. A história de trabalho sob as memórias será apresentada, neste estudo, por 
meio de relatos pessoais, com personagens alocadas como protagonistas e enredos 
peculiares. Embora possa haver um estilo narrativo que se repete em alguns depoimentos, 
os recursos utilizados para construir a trama, os detalhes, acontecimentos e desfecho serão 
conectados com a trajetória de vida de cada um, de como enfrentam e fazem 
cotidianamente funcionar a vida também nas formas do contar. Como já disse 
anteriormente, na cultura oral do trabalho, não existe muito espaço para explicações sobre 
a vida; no lugar disso, contam-se suas histórias. 
Não se fala da vida e de seus mistérios de maneira genérica, ela é parte das 
inúmeras conexões desses indivíduos com o mundo e sua realidade. Não basta falar 
somente dos problemas que podem levar o indivíduo ao sentimento de não-
pertencimento, mas faz-se necessário construir personagens e histórias que deem conta 
de explicar as causas-raízes dos fatos, seja pelas mensagens exemplares ou pelos 
desígnios retrospectivos das memórias. 
Propõe-se então aqui reconhecer que, nessas memórias, a fé, os costumes, a fala, 
a linguagem, o comportamento, o medo, a conquista, a honra, o conhecimento, a vivência, 
a frustração são encarnadas no corpo e certamente farão parte do contexto das memórias 
do grupo social a ser estudado. Como diz Bergson (1990, p.10)4, trata-se de uma 
“Memória que é Matéria”. 
 
4 Livro de Henri Bergson. Matéria e memória. Trad. Paulo Neves. 2 a ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 
 
17 
 
Por isso mesmo, completa o autor: “o corpo, objeto destinado a mover objetos é, 
portanto, um centro de ação; ele não poderia fazer nascer uma representação”. Apesar de 
pouco conhecido, o conjunto da obra das paisagens a serem dialogicamente descobertas 
e faladas será significativo, e elas serão conectadas nos capítulos que formam este 
trabalho científico, condizente a respeito das noções de cultura, questões de identidade, 
de coletividade, bem como a relação intrínseca das cantigas com as memórias, ao longo 
do passado e do presente. Certamente, a composição final dessa obra será formada por 
narrativas orais em tom de fragmentos poéticos, definindo, assim, o sentir e o fazer parte 
do contexto e do lugar. 
Além disso, nos últimos anos o Brasil vivenciou um deslocamento nas práticas de 
negociação e construção de políticas públicas de cultura: se antes existia pouca interação 
entre os atores nesta área, agora há uma maior naturalidade em colocar vários deles 
sentados na mesma mesa para dialogar. Isto é possível graças à intensificação das zonas 
de diálogo, dos espaços e das possibilidades de conexão entre poder público, privado e 
sociedade civil, o que muda o tom e a intensidade dos confrontos. 
Com essa perspectiva, teve-se a ideia de almejar contar uma história de sentimento 
que não fosse representada, mas apresentada por histórias e coisas apontadas com o dedo 
e narradas com a voz. Embora haja episódios comuns, a experiência de cada um é o que 
define os traçados e as cores da narrativa. Nessas histórias com rosto e corpo, a memória 
terá o propósito de encontrar a multiplicidade de experiências que, afinal, compôs a 
cartografia deste trabalho. 
Logo, a pesquisa se justifica pelo simples fato de refletirmos sobre os sentidos da 
geopoética das paisagens: olhar, ouvir, sentir do objeto entre o seu meio e natureza, que 
nos leva a pensar se existiria um caminho possível, um canal de comunicação, um tipo de 
linguagem para entender as “coisas do mundo” em sua inteireza. 
Contextualizar a história institucional a partir de fragmentos de memórias, 
vivências e experiências dessas pessoas permite nos aproximarmos de uma realidade 
ainda não registrada, mas que nos possibilitará a apropriação de outro olhar, de outra 
interpretação, feita através de patamares distintos nas gestões administrativas e que, ao 
longo do tempo, ocuparam espaços diferenciados na constituição da trajetória 
institucional. 
Esta pesquisa é um estudo de Memória Social sobre narrativas orais de vida de 
servidoresTécnicos Administrativos em Educação (TAEs) da Universidade Federal de 
Mato Grosso (UFMT), Câmpus Cuiabá-MT. Trata-se de uma investigação de caráter 
18 
 
qualitativo e descritivo: não se buscou explicar o porquê de os sujeitos de pesquisa 
narrarem suas vidas de determinada, mas colaborar para que essas vidas se inscrevam 
naquilo que se convencionará chamar de “paisagens da memória dos servidores TAEs da 
UFMT”. Como tratadas aqui: Paisagens da Memória traduzem relações entre percepção 
(sujeito), espaço (presença e ausência/externo e interno) e tempo (vivido e revivido). 
Postos em intersecção pela mediação das narrativas orais de vida, essas paisagens 
compõem-se por lembranças e significações constituídas em um mundo de relações 
culturais e interpessoais em constante movimento. Nesse sentido, o problema 
fundamental desta pesquisa é tecer paisagens de tempos vivenciados por esses servidores 
no recorte espacial da Universidade. Compreender como esses servidores dão sentido aos 
tempos que viveram e trabalharam para a Universidade e, desde então, contribuir para 
que esses sentidos de pertencimento se inscrevam nas memórias. 
À vista disso, este trabalho foi germinado a partir de inquietações suscitadas de 
uma pesquisa acadêmica que teve como objetivo geral interpretar os diferentes modos de 
sentir dos servidores TAEs da UFMT em alusão ao “pertencer” e ao “fazer” parte da 
Instituição de Ensino, por meio de suas memórias sobre o universo de trabalho, em 
confluência indissociável aos sentidos da geopoética das paisagens. 
Por isso, foi fundamental manter as formas de constituição das narrativas orais, 
pois, nessa perspectiva de trabalho com história oral, o que interessa não é apenas o fato 
narrado, como também que combinações façam a narrativa funcionar de tal maneira a 
ponto de trazer à tona uma representação do verdadeiro sentido das coisas. De modo 
específico, proferimos (i) Revisar a literatura contemporânea existente sobre a relação 
indissociável entre memórias e a geopoética das paisagens: olhar, sentir e ouvir da 
natureza; (ii) Conhecer as causas que interferem no desempenho das atividades laborais 
diárias do grupo social na coordenação / ambiente em que trabalha e (iii) traduzir suas 
memórias, do passado e do presente, e associá-las com os modos interpretativos de sentir 
e fazer parte da Instituição de Ensino (UFMT), por meio da indissociabilidade com a 
geopoética das paisagens. 
Esta dissertação divide-se em 3 (três) capítulos. Além desta introdução geral, o 
Capítulo I, intitulado “Memórias, Paisagens e Narrativas: construindo o simbólico dos 
lugares” traz a revisão da literatura. Nele, são discutidas as relações entre Memórias, 
Paisagens e Narrativas Orais como configuração de identidade e paisagem humanizadas, 
expondo conceitos teóricos e reflexões contemporâneas, baseando-se em autores 
estudados que fundamentam a discussão ao final, os resultados deste trabalho. 
19 
 
O Capítulo II, com o título “Caminhos teórico-metodológicos para pesquisas em 
cultura e sociedade: a ascensão do método participativo” exibe com clareza os 
procedimentos metodológicos adotados nesta pesquisa, isto é, as etapas da pesquisa que 
geraram os resultados apresentados aqui. Destaca-se o caráter qualitativo e descritivo da 
investigação, que retoma algumas técnicas participativas para grupos sociais. 
O Capítulo III, foi reservado para a apresentação dos resultados, intitulado 
“Paisagens possíveis como representações sociais dos TAEs da UFMT: dos espaços 
externos aos espaços internos”, expondo como os espaços íntimos do servidor em 
interação com o desenho de suas vivências marcantes em suas trajetórias de vida dentro 
da Universidade, em meio ao seu ambiente de trabalho. E, por fim, as Considerações 
Finais postas nesse trabalho como “Evidências que tecem às paisagens”, texto escrito a 
partir das recorrências significativas das narrativas orais, agrupando o inesperado e o 
inusitado com as figurações que representam a geopoética das paisagens no tocante às 
categorias “sentir, ouvir e olhar”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
2. CAPITULO I: PAISAGENS, MEMÓRIAS E NARRATIVAS: 
construindo o simbólico dos lugares 
 
2.1 Paisagens, memórias e narrativas de vida – algumas reflexões 
 
Só escuto as paisagens há mil anos 
Chegam aromas de amanhã em mim 
Tem um cheiro de malva esta manhã 
Quero apalpar o som das violetas 
Cheiroso som de asas vem do Sul 
Escuto a cor dos peixes. 
Hoje eu desenho o cheiro das árvores. 
 
Manoel de Barros5 
 
O presente Capítulo tem como objetivo destacar as relações que o ser humano 
estabelece com o mundo por meio dos sentimentos em analogia às paisagens 
(afetividades, vivências, experiências, cultura, memórias, valores, história de vida) que, 
segundo o tipo de experiência com a Natureza, ou percepção, reflete diferentes 
sentimentos e comportamentos em relação a ela. Para cada pessoa ou grupo, a paisagem 
terá um significado, porque as pessoas atribuem valores e significados diferentes às suas 
paisagens, traduzidos em sentimentos de enraizamento. Logo, busca-se essa “reflexão” a 
fim de melhor compreendê-la em sua inteireza. Abordando a geopoética das paisagens 
como a imersão ao ponto central, este capítulo de revisão teórica se propõe a resgatar tal 
plenitude em meio a trilhas interpretativas de linguagens expressas das mais diferentes 
formas como o olhar, o som e o odor das coisas nos dessemelhantes pontos de vista, 
ajuizados nas expressões oral e escrita em combinação e sintonia propiciando, assim, a 
compreensão do que seria o sentimento de pertencimento. 
O papel das paisagens, memórias e narrativas como recursos para a construção do 
sentimento de pertencimento é o conteúdo central desta pesquisa. A fim de delineá-la e 
discuti-la. A revisão consiste na abordagem dos conceitos de Paisagem e Memória Social 
(SCHAMA, 1996), abordando-os a partir das relações entre História e Memória 
(RICOEUR, 1997; HELLER et al., 2004), em seguida, trabalha-se o conceito de 
narrativas orais de história de vida (POLLAK, 1992; RICOEUR, 1994) e, por fim, o de 
geopoética de paisagem (KOZEL, 2012). 
 
5 Frases de O livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Record, 2007. 
21 
 
O homem, ao viver sua própria história, cotidianamente, em atos corriqueiros e 
banais, toma consciência de seu lugar no mundo e de sua temporalidade também imersa 
nesse mundo. Não podemos pensar que o ser humano não conhece as relações históricas. 
Viver é simplesmente viver na história (FENELON, 1992). A história de que falamos não 
é a disciplina histórica, enfeixada ao longo de séculos por formas narrativas e, sobretudo, 
por lutas por significação no sentido de construir um saber pensado como legítimo. 
Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? São perguntas que 
acompanham o ser humano na sua historicidade e que constituem as chamadas teorias do 
conhecimento e, ao mesmo tempo, descortinam os estágios de consciência histórica nos 
quais estamos inseridos. Historicidade, portanto, é a forma como nos compreendemos 
humanos na dimensão tempo/espaço e que também se transforma na história. Essas 
transformações, para as quais se dão múltiplas explicações e se demarcam épocas e 
períodos, estão diretamente ligadas ao grau de consciência histórica do homem 
(HELLER, 1993). 
Dessa forma é possível compreender o processo de transformação pelo o qual o 
ser humano passa em suas “histórias”, estas vivenciadas, sentidas, internalizadas e 
perpetuada por meio de memórias e narrativas orais e escritas. 
Do presente, do nosso agora sempre transitório, olhamos o passado e projetamos 
o futuro. Mas o passado só existe como representação mental a partir do olhar individual 
daquele que o descortina nos tempos idos. Portanto, o passado não é fixo: é materializado 
pelas recordações e sempre transformado pela interpretação que fazemos acercadesse 
passado (KERMODE, 1966). Assim, como o passado não é fixo, também o presente não 
é apenas um instante pontual. O presente indica o que vivemos, mas também as 
rememorações que o passado proporciona. Essas rememorações existem sempre no 
presente, construindo-se pelo entrelaçamento do mesmo (as ações vividas no presente) 
com o outro (as rememorações que fazem o passado presente). 
O passado e o presente como narrativas de vida são vistos como narrativas dos 
sujeitos, artífices da própria história, portanto, da mesma forma como não definimos 
história como práticas de uma disciplina, também não estamos considerando narrativa 
como mera formulação do pensamento sob a forma de múltiplas textualidades. Narrativa 
não é também um gênero ou um modo de contar histórias que coloca em destaque o ato 
do narrador (CHARTIER, 2001). 
Narrativa, seguindo a lúcida e complexa proposta de Ricoeur (1997), é configurar 
a existência vivendo a cotidianidade de nossos atos. 
22 
 
Produzimos narrativas da maneira como nos colocamos no mundo. Produzimos 
narrativas ao viver cotidianamente e ao produzir sempre reinterpretações. A vida nada 
mais é do que ato narrativo. A questão narrativa, portanto, não se resume a uma 
problemática linguística. No interior dessa percepção evidencia-se que narrar é uma 
forma de estar no mundo, visualizá-lo, produzir interpretações, lançar no mundo outros 
textos decorrentes do ato narrativo, que por sua vez se transformaram em novas 
interpretações e em outros atos narrativos. 
 Pensando assim, vemos que qualquer um dos conectores históricos que fazem 
com que o passado possa ser acessado por restos – a cultura material, a memória vivida, 
os documentos, a sequência de gerações – torna esse momento, uma concepção única de 
sua paisagem. Nessa direção, encontra-se apoio em Antônio Zanollo Neto, quando 
explicita que: 
[...] adquirir conhecimento por meio dos sentidos para formar a ideia da 
necessidade de tutela da paisagem como elemento do direito ambiental 
é desafiante tanto para o Poder Público como para a coletividade, pois 
a paisagem é e será sempre uma experiência humana que depende da 
realidade concebida pelos olhos dos que a veem, sendo determinada 
pelos valores e cultura da pessoa ou coletividade que a avaliam 
(NUNES NETO, 2010, p.30). 
 
Falar da paisagem na perspectiva da afetividade implica primeiramente evidenciar 
que ela se apresenta, em geral, como tema de fundo das discussões sobre a qualidade do 
ambiente, a despeito de se encontrar em crescente processo de fragmentação, a ponto de 
comprometer, ou mesmo impedir, o estabelecimento de qualquer relação de identificação 
dos citadinos com o universo de trabalho, porque destituída de sentido enquanto “lócus” 
relacional sociopolítico. Essa perspectiva nos dá as chaves para compreender a paisagem 
como objeto de interesse público – pois produzem identidades narrativas em direção à 
construção do tempo histórico. Só se narra o que acontece no tempo e só podemos contar 
aquilo que se desenvolve no tempo, e para isso, tratamos essa questão como ruínas 
(KLANOVICZ; ROSAR, 2010). 
O ato narrativo é a trama que construímos nas múltiplas ações textuais. É a 
construção de qualquer história que para ser inteligível deve ter começo, meio e fim. O 
que dá inteligibilidade às histórias que contamos é o fato de estarem organizadas numa 
trama que torna possível ao outro seguir a história. E isso ocorre invariavelmente nos 
processos comunicacionais, sejam aqueles que se referem ao nosso aqui e agora (o objeto 
da comunicação), sejam aqueles que se referem a um tempo que designamos como 
passado (a trama da história). 
23 
 
A organização da trama consiste, pois, na operação de seleção e organização dos 
acontecimentos (as ações contadas) como algo completo e uno, com começo, meio e fim 
(GONÇALVES, 2015). 
Preceitua-se então que a paisagem seria o resultado da contemplação, 
primeiramente no sentido ótico e em seguida espiritual da natureza, correlacionando os 
diversos objetos e a imaginação subjetiva dos mesmos. Para Torres (2009), a paisagem 
está situada na esfera intermediária entre o particular e o geral, entre o finito e o infinito 
em sua perfeita sintonia, percepção e integração. Assim poderíamos pensar a paisagem 
como “a simbologia do lugar”, onde o empírico, a criatividade e a sensibilidade se 
integram, de maneira que seria muito superficial descrever apenas os elementos visíveis 
de forma mecânica. 
Diante deste entendimento do autor, podemos elucidar uma visão de equilíbrio 
dentre as paisagens, ou até mesmo de trânsito, ou seja, não engessamos seus processos de 
desenvolvimento pois ela transita entre as individualidades e o coletivo, pode terminar ou 
simplesmente seguir em frente e está sintonia com o todo surge de um princípio ou apenas 
passa por mutações. 
Entendemos o ser humano como um sistema aberto com muitas interconexões 
propiciando a mente permanecer em constante estado de alerta captando e ressignificando 
informações, sensações construindo significados sobre as “coisas do mundo” e o “estar 
no mundo”. Esta abertura permite uma autoconsciência, como um lugar de criatividade e 
inovação e é central para a emergência do novo, a partir da ordem e desordem 
(ANDRADE; CUNHA, 2010). Segundo esses autores por meio dessa "ruína" pode-se 
detectar uma auto-organização, ou autopoiesis, ou seja, adquirir uma consciência de si na 
relação com o outro e com as coisas do mundo ressignificando-as. 
Nesse sentido, a concepção de lugar, sob o ponto de vista subjetivo, só acontece 
quando “o espaço se transforma em lugar à medida que adquire definição e significado” 
(TUAN, 1983, p.38). Ainda dentro do universo subjetivo temos a paisagem interiorizada 
(inscape) de Corrêa e Rosendahl, categorizada em 1998. A paisagem interiorizada é 
aquela com a qual possuímos uma forte relação afetiva. Segundo Relph (1979, p.43) a 
paisagem interiorizada é “a mais importante para nós, por ser ela que dá profundidade e 
significado às paisagens, e que nos liga a elas, por reforçar nossa individualidade”. 
Para Guimarães (2002), à medida que os grupos culturais reencontram seus 
espaços como um prolongamento da própria identidade dos seus habitantes, estas relações 
são intensificadas, interiorizadas, gerando processos combinados e simultâneos de 
24 
 
construção, destruição e recuperação da paisagem, de natureza diversificada. Sob esta 
ótica, todas as paisagens são heranças em vários sentidos, seja como realidade terrestre 
ou realidade cultural, transformadas a todo instante, de maneira contínua, ao longo dos 
tempos. 
Os lugares vivenciados estão e são com toda a força de expressão, registrados 
indelevelmente nas faces, nos corpos, e sobretudo, nas representações e nos olhares: no 
fundo dos olhos, trazemos paisagens interiorizadas nas profundidades dos nossos 
espíritos, vindas à luz por intermédio de experiências e percepções exteriorizadas em 
atitudes, condutas, emoções (BEROUTCHACHVILI; ROUGERIE, 1991). 
Entretanto antes dos autores estabelecerem tal clareza quanto a definição mais 
ampla de paisagens interiorizadas, Dardel (1952) esclarece que a paisagem é uma 
totalidade: 
[...] uma convergência, um momento vivido. Uma ligação interna, uma 
“impressão”, une todos os elementos. E ainda era "uma fuga para toda 
a Terra, uma janela para possibilidades ilimitadas: um horizonte". Não 
uma linha fixa, mas um movimento, um impulso (DARDEL, 1952, 
p.42). 
 
Isto significa que a paisagem tem sua dinamicidade, e o que ela se tornará no 
futuro compreende, sempre, um universo de possibilidades, por causa da capacidade 
humana de criação (RISSO, 2008). Contudo, em meio à tensão social as paisagens 
constituíam laços de solidariedade sob os quais poderiam transitar para uma situação de 
vítimas e, assim, serem apadrinhadas por clientes mais abastados nas quais estabeleciam 
um vínculo, às vezes, informal com seusclientes com características das relações 
paternalistas. Utilizavam-se de um discurso em que o outro era, de algum modo, amarrado 
no seu lamento e, assim, exerciam certo poder ao penetrar, ainda que indiretamente numa 
sociabilidade distinta da sua (SALDAN, 2015). 
Dessa forma, contextualiza-se que os valores que atribuímos às paisagens passam 
então a inerir a sua própria história de vida, uma territorialidade marcada, determinada 
pela afeição de um lugar (KOZEL, 2012): Por sua vez, essas maneiras de experienciar as 
paisagens incorporam as interações imanentes ao significado do “vivido”, derivando uma 
gama de percepções, valores e atitudes diante de espaços e lugares (SANTOS; 
SARTORELLO, 2019). Em consonância, Tuan (1974) conduz-nos à percepção de outras 
“realidades” geográficas que extrapolam as coordenadas cartesianas, as mensurações 
matemáticas, as demarcações de meridianos e paralelos, para fundamentarem-se em bases 
fenomenológicas. 
25 
 
Embora, ainda que inserido no contexto de uma determinada Cultura, um 
indivíduo possa ter uma percepção diferente em relação ao meio, geralmente são 
observáveis certos padrões de comportamento que ocorrem em relação à Paisagem de 
uma cultura (WAGSTAFF, 1987). 
Nos tópicos a seguir faremos um diálogo entre as paisagens, as memórias e as 
narrativas, para que entrelacemos esses conceitos junto à geopoética das paisagens, de 
maneira que o leitor vislumbre a naturalidade com que estes conceitos transitam entre si 
e criam uma espécie de trama, por vezes frouxas e por vezes fortes demais, muito difíceis 
de destramar. No entanto esta “dificuldade” é responsável pelo crescimento, pela 
evolução e pelo amadurecimento das relações entre as paisagens e seres humanos. 
 
2.2 Paisagens humanizadas: o homem e suas representações 
 
 
 O termo “paisagem” pode ser estudado de várias formas e este processo de 
compreensão do que seria paisagem vem sofrendo modificações com o passar do tempo, 
novas teorias, novas hipóteses, novos indícios e dessa forma este conceito transita nas 
mais diferentes áreas do conhecimento. 
De acordo com Ribeiro (2007), Schlüter utilizou-se de um termo criado por E. 
Kaap (Geografia Cultural), e criou a “morfologia da paisagem cultural”, cujo método se 
constituía na “descrição das partes componentes da paisagem criadas pelas atividades 
humanas e na explicação de suas origens” (RIBEIRO, 2007, p.18). Também Claval 
(1999) refere que Schlüter criou os termos “Paisagem humanizada”, para designar as 
paisagens transformadas pelo trabalho humano e “Paisagem natural”, para as paisagens 
que não tiveram interferência humana. 
Já Siegfried Passarge criou um sistema de hierarquia de regiões e paisagens, cujas 
denominações variavam de acordo com a escala, num trabalho que inicialmente é voltado 
para o estudo da geomorfologia. Este pesquisador, a princípio, desenvolveu suas 
pesquisas identificando somente os aspectos físicos; depois passou a incluir a sociedade 
como um agente nos mosaicos das paisagens. 
Tempos depois, conforme cita Mello (1990), foi nos anos 60 que um grupo de 
geógrafos, radicais à Geografia Quantitativa e à Geografia Crítica, propôs uma nova 
abordagem, mais subjetiva e sensível às mudanças culturais que ora se impunham, 
recuperando um antigo pensamento ainda anterior ao positivismo, o humanismo. Este 
movimento iniciou-se nos Estados Unidos com os primeiros trabalhos de Lowenthal 
26 
 
(1961), Buttimer (1974), Tuan (1975), e, em seguida, de Relph (1976), os quais iniciaram 
a nova abordagem da Geografia Humanística ou Humanista6, sendo reconhecida em 1976. 
Essa nova corrente refuta o positivismo e, ao analisar as relações homem-meio, apoia-se 
numa rede de tendências filosóficas que inclui a fenomenologia7, assentada na 
subjetividade, nos sentimentos, no pertencimento, na experiência e história vivida, no 
simbolismo, na linguagem do indivíduo ou do grupo, objetivando a compreensão do 
comportamento das pessoas em relação aos seus lugares. 
Logo, para o desenvolvimento desta pesquisa, parte-se do entendimento de que 
tanto o espaço como a paisagem são categorias geográficas de análise criadas pelo homem 
para compreensão da disposição das coisas e suas relações no mundo, cujas formas, 
sentidos e significados advêm dos valores e práticas de uma sociedade. Em outras 
palavras, estas categorias posicionam-se como instrumentos mediadores para explicar a 
realidade, para “representar” a realidade ao seu redor, que o homem consegue apreender 
com seu conhecimento, o qual está sempre em construção, fazendo novas descobertas. 
Assim, o homem compreende o meio mediante estas “lentes da representação”, bem 
como, possa também o influenciar. 
Considerar-se-á, portanto, que a paisagem é uma representação, adotando-se a 
interpretação do filósofo Lefebvre (1991), que construiu a tríade: o representante – o 
representado – a representação. A representação nessa pesquisa entra como um terceiro 
termo, uma mediação entre o sujeito (representante) e o objeto (representado), 
construindo, assim, o sentimento de pertencimento. 
Para Lefebvre (1991) a paisagem de representação, ou paisagem vivida, emerge a 
partir da síntese entre as combinações das paisagens percebida (práticas espaciais) e 
concebida (representações). Seu instrumento de análise revela o processo de construção 
histórica e física de uma determinada localidade ou território e, ainda, ressalta a condição 
espacial de contínuo crescimento, (re)significações espaciais, em que novas perspectivas 
e percepções são evidenciadas, recriando, cotidianamente, as paisagens de representação. 
Outros autores, como Bueno (2019), citam que uma paisagem vivida não envolve 
apenas a topografia, os rios, o clima e a vegetação, os eixos de circulação e os meios de 
transporte e produção econômica, o contexto social, histórico e cultural, mas também, e 
 
6 Mello explica que a palavra humanística apareceu pela primeira vez na Geografia através de um trabalho 
produzido por Yi-fu Tuan, editado em 1967 (MELLO, 1990). 
7 A fenomenologia, que se opõe ao positivismo (que acredita numa realidade que é perceptível aos sentidos), 
propõe estudar os atos da consciência sobre o mundo vivido, evitando aquele exame de um mundo exterior 
que está fora do pesquisador (MELLO, 1990). 
27 
 
igualmente, a experiência diária de pessoas que têm vontades, necessidades, emoções e 
sentimentos, afetividade. Elas não são meros objetos espaciais, são seres humanos que 
sentem, valorizam, percebem, gostam e desgostam (MACHADO, 1996). É assim que as 
pessoas interagem com as paisagens cotidianas, descobrindo nelas e atribuindo a elas os 
mais diversos significados (BESSE, 2014). Suas respostas não são apenas cognitivas, mas 
vêm carregadas, principalmente, de muita afetividade. É o morador quem percebe e 
vivencia as paisagens, atribuindo a elas significados e valores (PERULLI, 2012). 
Deste modo, na abordagem da geopoética trazida por Alencar (2007); Kozel 
(2012); Lucena (2015) e Batista et al. (2017), as percepções evidenciadas, quando 
narradas, tornam-se o instrumento principal para compreender as paisagens. Para 
Alencar, é mais do que um simples ponto de vista óptico. É ponto de vista e ponto de 
contato, pois, nos aproxima distintamente do espaço, porque cria um elo singular, nos 
entrelaçando aos lugares que nos interpelam. Certamente, na visão do autor, a geopoética 
das paisagens deriva majoritariamente de um enquadramento do olhar, alia o lado objetivo 
e concreto do mundo e a subjetividade do observador que a contempla. Para Kozel, é, 
então, sentir o mundo, sentir-se no mundo, desvelar a imagem de um mundo vivido, criar 
uma geografia íntima. 
Pensar geopoética é pensá-la poeticamente. Estar no limiar de uma visibilidade 
que convoca, e no intervalo que parece nos suspender no espaço e no tempo, nos lançando 
em uma imensidão, como sabemos, sempre íntima (PAULA, 2015). Medida doolhar que 
silencia o ruído, a geopoética das paisagens tem a duração de um ponto de vista. Este, 
originário de um movimento da visão que inclui ver e não ver, que evoca o detalhe e não 
o panorama, que solicita o horizonte porque parte e parcial, limite e limiar. Por não sermos 
onividentes, elegemos o que vemos ou o que desejamos ver. Nesse movimento, a 
paisagem se configura como recorte e extensão, como moldura do olhar e imensidão, 
como o horizonte que se deixa escapar para redesenhar infinitamente o seu contorno 
(CAPREZ, 2017). 
Gostaria, para trilharmos juntos a reflexão realizada aqui, que o leitor pensasse se 
algo assim já lhe ocorreu. Que ponderasse se houve algum momento em que, ao se 
encontrar em um lugar, fosse assaltado, de súbito, por sensações que não esperara, um 
lugar que o deixara embasbacado ou, subitamente, encantado, extasiado, angustiado 
(sentir-se movido pelo lugar). Mas, por que chamar esses momentos de acontecimentos 
geopoéticos? 
28 
 
Designa-se poético aquilo cuja imanência já é transcendência; ou seja, aquilo que 
quando se nos aparece, não fala só de si, pois ao falar de si já fala imediatamente (sem 
mediação) de outras coisas, de variadas coisas, do mundo, nos provoca sensações que não 
esperávamos. Reconhecemos o poético pela sua força, qual seja essa de nos causar uma 
experiência estética (catarse, embevecimento, angústia, alegria, sedução). Portanto, dizer 
“geopoético” é dizer que os lugares têm capacidade de provocar em nós uma experiência 
que será guardada pela memória (PAULA, 2015). 
Nesse contexto, chamo aqui de acontecimentos geopoético aquele momento 
súbito, oriundo do encontro entre homem e lugar, onde sofremos vertigem, catarse, 
encanto ou angústia. E, ainda, gostaria de reforçar: é o acontecimento geopoético que 
inaugura o termo Geopoética. Se este termo faz sentido nas reflexões acadêmicas, é 
porque antes de ser perspectiva teórica ou tema, a Geopoética já foi vivida, ela foi 
acontecimento geopoético (BACHELARD, 1996; HOLZER, 1999; DARDEL, 2011; 
WRIGHT, 2014). 
A partir desses elementos comuns entre os autores, chega-se à concepção de que 
a geopoética das paisagens é apenas o ponto de partida para a aproximação de seu objeto 
de estudo que é o espaço geográfico; este sim contém ao mesmo tempo uma dimensão 
objetiva e subjetiva. Dito isso, o estudo da categoria geopoética das paisagens é reduzido 
à sua manifestação sobre o que é visível, sobre o concebido, percebido e sentido, onde 
sua identidade deve se basear no que é essencial no processo de produção do espaço. 
Nesta pesquisa, os aspectos subjetivos e objetivos são elementos essenciais na construção 
da paisagem dos TAEs da UFMT; o percebido e vivido pelo servidor, cujas análises 
percorrem paisagens sonoras, odores, olhares, são consideradas formas racionais de 
interpretações da compreensão de si com o meio. 
 
2.3 Narrativas de memórias como configuração de identidade e paisagem 
 
 
Nesse tópico, buscamos corroborar o quanto, na contemporaneidade, formas de 
narrar o presente que refletem as identidades, que, fluidas permitem de múltiplas formas 
a construção do pertencimento, em contextos diaspóricos ou conflitantes, em que a 
memória funciona como elemento chave para as reconfigurações culturais do tempo e de 
suas paisagens. 
Se entendemos identidade como uma forma de narrativa oral de si e dos outros, 
podemos pensar, a partir das considerações de Michel Pollak (1992), que existe uma 
29 
 
estreita relação, na construção das identidades, entre as dimensões do acontecimento, das 
pessoas/personagens e das paisagens como um todo, o que nos remete diretamente à 
questão de pertencimento, do se sentir e/ou fazer parte de algo, estritamente ligado ao 
afetivo e ao emocional. 
Em sua obra já clássica, Tempo e Narrativa, Paul Ricoeur (1994) nos lembra que, 
na configuração das identidades existe o reino do “como se”: como se o narrado fosse o 
mundo, como se fosse o passado, como se fosse o real, como se fosse aquela paisagem, 
aquele tempo, aquelas pessoas, aqueles acontecimentos. Na tessitura narrativa, 
configuram-se as identidades e as alteridades, na espiral de pré-figurações, configurações 
e refigurações, nos lembrando que a memória nunca é pura ou estanque, sendo 
fundamentalmente elaboração e invenção no presente, a partir de estratégias discursivas, 
que possibilitam a construção de dimensões prospectivas para o mundo do receptor, 
visando a consolidação de efeitos de sentido. Logo, busca-se demonstrar o quanto, na 
contemporaneidade, formas de narrar e representar as identidades associadas a 
territorialidades fluidas permitem a invenção de múltiplas formas de pertencimento, em 
contextos diaspóricos ou conflitantes, em que a memória funciona como elemento chave 
para as reconfigurações culturais do tempo e do espaço (ENNE; NERCOLINI, 2016). 
Narrar é, portanto, sempre friccionar. Este é o ponto de partida desse segundo tópico. 
As narrativas propostas nas obras de Canclini (1998) e Enne e Nercolini (2016), 
como práticas culturais, inseridos dentro de uma cultura, auxiliam a compreender que é 
nela que essas práticas se concretizam, percebida enquanto todo um modo de vida e como 
um campo de luta em que se disputam os sentidos e os significados sociais. Neste sentido, 
o trabalho de Pierre Bourdieu revela-se fundamental. 
Canclini (1998) nos lembra o quanto as espacialidades são criadas a partir de 
discursos performativos, em que o poder do enunciador, sua autoridade discursiva, 
delimita as fronteiras e nomeia as paisagens (BOURDIEU, 1989). Em outro trabalho mais 
contemporâneo, Bourdieu (2007) indica que é impossível separar a representação do real 
do próprio real, o que implica em envolvermos a dimensão social do espaço como 
correlata à sua dimensão física, pois os diversos atributos de capital asseguram aos 
sujeitos formas distintas de ocupar e significar as paisagens. Se entendemos que a 
construção de identidades, via narrativas de suas memórias, permite situar os atores 
dentro de paisagens simbólicas, alguns conceitos se apresentam como fundamentais, entre 
eles o de geopoética. 
30 
 
Antes de tudo, precisamos pensar de que forma uma mesma paisagem pode ser 
(des)construída de forma múltipla a partir das diferentes referências dos atores sociais, da 
mesma forma que pensamos as identidades como construídas em perspectivas inter-
relacionais. Segundo Orlandi (2001) e Haesbaert e Limonad (2007) as paisagens, como 
forma de pertencimento ao lugar, são bem mais do que unidades físicas: 
 
[...] podemos pensar a paisagem comum como questão relativa à 
opinião pública, [...] o que nos remete à relação, feita pela ideologia, 
entre estilo (tipo) e materialidade das diferenças e da repetição (fixidez) 
produzida pela relação com as formações discursivas. Não há opinião 
pública sem efeito pré-concebido, o que, interpretado pelo discurso, 
redunda em dizer que não há possibilidade de opinião pública sem 
estereótipo, sem ideias recebidas, sem paisagem comum (ORLANDI, 
2001, p.18; HAESBAERT; LIMONAD, 2007, p.26). 
 
Os autores contextualizam que paisagem são processos, relações de poder, 
conivência, medo, alegria, puro sentimento, redes simbólicas, elementos culturais. São, 
neste sentido, categorias discursivas, que envolvem esforço narrativo acerca da 
concepção de paisagens (CERTEAU, 1998), que são fundamentais, como já indicamos, 
para configurar as identidades individuais e coletivas, sociais e culturais (FAJARDO, 
2015). 
Partindo dessas concepções alinhadas pelos autores, pressupomos que os espaços 
narrados no dia-a-dia, diante da rotina de trabalho, não são, portanto, somente espaços 
físicos, embora também o sejam, mas, antes de tudo, espaços sociais, ou mesmo dizendo, 
paisagens socialmente experimentadas pelos diversos atores que são vocalizados nas 
narrativas de suas tramas, incluindo os autores protagonistas (TAEs) e seus personagens(corpo institucional), que se interpenetram, contrastam, dialogam, negociam. 
No próximo subtópico, apresentamos um olhar mais maduro com ênfase às 
memórias e os sentidos de paisagens que podem existir entre os atores na sociedade. 
Apresentamos uma reflexão que vai desde o conceito mais amplo sobre Geopoética, à 
construção do discurso sobre os sentimentos e lugares e sobre si mesmo. Contamos 
também com as experiências e os caminhos percorridos por autores renomados de forma 
a abrilhantar essa narrativa e compartilhar com o leitor os contrastes de interpretação entre 
a dinâmica das narrativas visuais, os lugares da afetividade e as possíveis e plurais 
tessituras dos discursos e sujeitos. 
 
 
31 
 
2.4. Geopoética das paisagens: os diferentes sentimentos sobre a natureza 
 
Videntes, perdemos muito quando usamos os sentidos da geopoética (olhar, sentir 
e ouvir) como um scanner para a rápida apreensão da realidade. Abrimos os olhos para a 
paisagem e nos deixamos envolver por esses sentidos mágicos, capazes de aproximar o 
distante, fazer a síntese do complexo, comunicar em silêncio, abreviar o tempo. Com os 
olhos abertos atuamos com rápidas apreensões para reconhecimento imediato: o céu 
nublado, o nome da rua, o preço na etiqueta, as letras impressas no papel. Quando 
fechamos os olhos, no entanto, nos libertamos. Penando nisso abre-se um maravilhoso 
mundo com temperaturas, texturas, sons, odores. Passamos a perceber em outro compasso 
de tempo, com riqueza sinestésica de detalhes. 
Valentini (2012) fala que com os olhos fechados ficamos atentos aos sons e nos 
detemos primeiramente em detalhes que nos levarão ao todo. As frutas ganham textura, 
consistência, temperatura, peso, perfume e sabor acentuado; a pele adquire maciez, o céu 
nublado comunica mudança de umidade e traz a perspectiva de vento e chuva; as letras 
impressas têm cheiro, o papel ganha espessura. Como já referenciado nesta revisão, as 
paisagens surgem nas tramas literárias de Mello (2004), ainda nos anos 70. Contudo. foi 
com Kenneth White que as paisagens surgiram como protagonistas de uma geopoética 
constantemente ressignificada pela autopoise8. 
Nesse contexto, White (1990) elaborou o conceito de geopoética inspirado numa 
visão de mundo integrada e significativa, segundo a qual o ser humano e as “coisas do 
mundo” compõem um único universo integrado pela geopoética. Ele ressalta o 
conhecimento sobre o universo como uma unidade e a geopoética o elemento unificador, 
considerando o planeta Terra como o cerne desse pensar. O caminho multidisciplinar 
pode ter inspirado a escolha de K. White por manter o termo geopoética como um termo 
aberto. 
 
[...] a geopoética não é domínio exclusivo de poetas e pensadores. 
Henry Thoreau foi tanto ornitólogo e meteorologista ("inspector de 
tempestades") como poeta, ou melhor, poderíamos dizer, incluiu as 
ciências na sua poética. A ligação com a biologia é igualmente 
necessária, e com uma ecologia (incluindo a ecologia da mente) bem 
fundamentada. De fato, a geopoética proporciona não só um lugar, e 
isto está a revelar-se cada vez mais necessário, onde a poesia, o 
 
8A palavra surgiu pela primeira vez na literatura internacional em 1974, num artigo publicado por Varela, 
Maturana e Uribe, para definir os seres vivos como sistemas que produzem continuamente a si mesmos. 
(VARELA et al., 1974). 
32 
 
pensamento e a ciência se podem juntar, num clima de inspiração 
recíproca, mas um lugar onde todos os tipos de disciplinas específicas 
podem convergir, uma vez que estejam prontas para sair de quadros 
demasiado restritos e entrar no espaço global (WHITE, 1989, p.82). 
 
A partir da assertiva de K. White, sobre o fato de a geopoética não ser um domínio 
exclusivo dos poetas e dos pensadores, é possível compreender que tanto a geografia 
como a própria geopoética dialogam com outras áreas de conhecimento humano desde 
suas bases constitutivas mais remotas. Tal inspiração pode ter sido suscitada pelo fato de 
existirem, desde a Antiguidade Clássica, relatos de contextos geográficos com 
características poéticas e poemas sobre paisagens, espaços, cidades, fenômenos da 
natureza... (BAQUERO, 2020). 
Cauquelin (2017) comenta que na abordagem teórica de White “refletir sobre um 
olhar, ouvir, sentir a natureza nos leva a pensar se existiria um caminho possível, um 
canal de comunicação, um tipo de linguagem para entender as coisas do mundo em sua 
inteireza” (p.103). Essa questão nos remete ao próprio ser humano em sua essência e as 
relações que estabelece com o mundo, perpassada pela cultura, sentimentos e valores. 
Nessa perspectiva revolucionária. White fundou ainda em 1989 um Instituto 
Internacional de Geopoética tendo como objetivo um projeto audacioso não como mais 
um contributo para o espetáculo de variedades culturais, nem é uma escola literária, nem 
com a poesia como uma arte da intimidade, mas um grande movimento envolvendo os 
próprios fundamentos da vida humana na terra. 
Na construção teórica do autor, busca-se transcender os conceitos de geopoética 
por meio de linguagens expressas das mais diferentes formas como: visuais, sonora, 
olfativa (WHITE, 1990), propiciando, assim, o desenvolvimento de projetos criativos e 
significativos nas mais distintas áreas do conhecimento, em especial da Geografia 
Humanista, conforme já referenciado nessa revisão por outros autores. 
Andreotti (2008) fala que, na geopoética, por exemplo, a poesia, o pensamento e 
a ciência podem convergir em reciprocidade para romper com as fragilidades inerentes à 
fragmentação e dualidade do conhecimento vislumbrando o “todo”; a “inteireza” do ser 
humano no mundo buscando refletir sobre a vida na terra e o papel do ser humano nesse 
contexto. Logo, essas dimensões podem se integrar com a objetivação do “sensível”, 
proveniente dos significados próprios de cada um, dos valores éticos que reside no 
perceber, representar e transformar as maneiras de ser, pensar e viver no mundo. 
Ao se apropriar das referências sobre geopoética das paisagens/espaço, outros 
pressupostos fazem desse termo menção ao trabalho, que é definida como: o delineamento 
33 
 
das emoções dos personagens inspirados na configuração territorial indicada no contexto 
dramatúrgico (ambiente de trabalho), o sentimento de pertencimento e, ainda, o 
condicionamento da imagem poética à trajetória dos personagens – conforme o 
dramaturgo inseriu as descrições geográficas poetizadas no contexto institucional. Nesse 
sentido, a paisagem e o espaço dramatúrgicos também complementam essa geopoética 
das paisagens a partir da condição performativa de suas memórias afetivas. 
Entendendo que a percepção não se limita ao sentido do sentir, ouvir, e ver, o 
estudo da paisagem na abordagem cultural da Geografia propõe ir além dos aspectos, 
considerando toda a sua dimensão subjetiva; desvendar a “simbologia do lugar” (SOUZA, 
2019). Abrem-se, neste entendimento, outros elementos e interpretações para se discutir 
as paisagens considerando-as como um complexo de formas e de relações culturais. 
É preciso aguçar o olhar não apenas para a leitura estética, mas buscar desvendar 
os significados dos lugares em sua essência (BOUVET, 2011; ROCHA, 2019). 
Tratamos de paisagem até o momento de forma geral com o intuito de familiarizar 
o leitor com suas diversas formas de entendimento. A seguir abordaremos as paisagens 
sob perspectivas peculiares, de maneiras mais especificas, ou seja, como sentimos a 
natureza por meio da visão, audição e do olfato. 
 
2.4.1 Os odores e a paisagem: “sentir a natureza” 
 
 
Na obra dramatúrgica de Jean Robert Pitte (1998), destaca-se o trecho: através do 
poder evocativo do cheiro, velejamos na emoção, sensualidade, viagem, fuga, encontro, 
beleza, sedução, elegância e prestígio” (p.52). Pensar a paisagem em sua inteireza na 
perspectiva da poética nos remete a diferentes conexões como os odores quenos 
envolvem e propiciam sensações diversas e inusitadas. Para Fortes (2009) as sensações 
relacionadas à própria condição animal de seres vivos sempre foram norteadas pelos 
odores, sobretudo na delimitação territorial e nas questões relacionadas à sobrevivência. 
Para os seres humanos também os odores têm especial papel, nos remetendo a 
experiências que tivemos nos espaços de vivência. 
Salgueiro (2001) cita que o odor pode estar relacionado com o ambiente físico, 
com o psicológico, com aspectos culturais, na interface da fisiologia, psicologia, cultura 
e linguística; assim pode-se dizer que o cheiro tem a sua geografia. 
A contribuição da geografia para uma melhor compreensão das emissões olfativas 
pode ocorrer em vários aspectos, conforme aponta Pitte e Dulau (1998) na obra 
34 
 
“Geografia dos odores”, como: o cheiro dos lugares, odores e a localização das atividades 
humanas agrícolas e industriais, o comércio dos odores, o papel que desempenham na 
diferenciação dos territórios etc. 
A compreensão do espaço tendo em vista os odores, pode ser considerada em 
várias escalas como o espaço dentro da casa para a rua (interno para o externo), bairro, 
cidade, região, da grande área bioclimática, cultural e do próprio planeta (BESSE, 2003). 
Kozel (2012) faz várias referências aos odores, principalmente aqueles causados pela 
poluição devido à emissão de gases oriundos de áreas industriais, aterros sanitários, 
emissores de esgoto a céu aberto, dentre outros, podendo influenciar na desvalorização 
de uma área, do trabalho, sobretudo no tecido urbano. 
Pitte (1998) remete que os odores na área rural provenientes de estrume de gado, 
suíno ou aves podem ser repulsivos para algumas pessoas, mas representam vida para os 
que vivem nessas áreas agrícolas, incorporado as suas vidas aos seus mundos e sentidos. 
Para Duncan (2004), as substâncias aromáticas, desde a mais remota antiguidade, 
integram as rotas de comércio como especiarias (cravo, canela, pimenta, noz moscada e 
essências exóticas), propiciando aroma e sabores associados ao prazer, ao bom, ao belo. 
Portanto, essas abordagens podem contribuir para que as dicotomias entre homem 
e signo possam ser rompidas, permitindo refletir além das estruturas formais dos códigos 
sacralizados em modelos que tudo prevê e definem, na relação entre significado e 
significante, abrindo uma possibilidade inovadora de perceber o signo9como construção 
dialógica e social. Com isso, para abordar os odores da sociedade é preciso reacender os 
principais odores e condição de circulação, identificar os filtros de percepção da 
sensibilidade dos odores para se chegar à geopoética proposta. 
 
2.4.2 Os sons e a paisagem: “ouvir a natureza” 
 
 
Kozel (2012) cita que a paisagem sonora pensada no contexto cultural deve levar 
em conta a diversidade de sons presentes num lugar, e a relação destes com a cultura e 
com o lugar. Além disso, é na paisagem sonora que estão, além dos sons da natureza, os 
artificiais, produzidos pelas máquinas e motores, as línguas, os sotaques e as gírias, e as 
músicas. 
 
9 Termo usado por Jean-François Staszak (2003) para referir ao sentimento subjetivo que se tem sobre tal 
geopoética que se aflora no contato a “paisagem” produzida pelo olhar, ouvir e sentir. 
35 
 
Estes elementos são, portanto, produtos e produtores da paisagem sonora. Pensar 
a geopoética da paisagem nos leva também a considerar os sons como diferentes 
possibilidades de estudo, desde as variações espaciais dos ruídos, a questão ambiental da 
poluição sonora, chamada de “heterotopias sonoras”10ou as diferenças entre os lugares 
com base nos sons, ou ainda uma “topofilia sonora”11ou a relação de pertencimento a um 
lugar com base na sonoridade do mesmo. 
Na contribuição teórica de Torres (2009), a paisagem sonora proporciona ao 
indivíduo o primeiro contato com os sons, a partir daí e de suas experiências musicais, os 
seres humanos passam a expressar-se através da organização dos sons produzindo 
sonoridades. E nessa acepção a música apresenta-se como um produto cultural, 
influenciada pela variedade de sons existentes em determinados lugares, e compondo 
parte da paisagem sonora do lugar. 
Schafer (2001) corrobora essa discussão ao remeter que, na geografia, o estudo da 
cultura e da paisagem pautado na paisagem sonora perpassa uma abordagem humanista-
cultural, tendo em vista a compreensão de como os seres humanos individualmente e 
coletivamente constroem e concebem o espaço. A paisagem sonora é mais um aporte para 
esse estudo, considerando que é apreendida e ao mesmo tempo transformada 
diferentemente em cada localidade, em cada grupo, em cada cultura. O autor demonstra 
sua preocupação com as mudanças no ambiente acústico mundial ao mesmo tempo em 
que procura chamar a atenção para a percepção do som que, segundo ele, teria sido 
negligenciada em relação à visão. Explica também que a poluição sonora estava sendo 
tratada através do foco na diminuição de ruídos, uma abordagem negativa. 
Segundo Schafer (1997, p.52), entende-se que: 
 
[...] precisamos procurar uma maneira de tornar a acústica ambiental 
um programa de estudos positivo. Que sons queremos preservar, 
encorajar, multiplicar? [...] para revelá-los, pode ser necessário investir 
contra os que não são importantes. Sendo assim, o entendimento da 
paisagem sonora envolve um processo de escuta ativa, consciente do 
fenômeno sonoro em si (SCHAFER, 1997, p.52). 
 
 
10 Heterotopias sonoras - a proposição de heterotopia feita aqui se vincula às concepções de Michel Foucault 
(2013; p.19) ao afirmar a existência de lugares, com diferentes regimes de relações que existiriam em 
qualquer sociedade; lugares heteróclitos, formados por elementos de natureza diversa. 
11 Topofilia sonora - De acordo com Tuan (1980), é o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente 
físico” (p.5). Segundo o referido autor, “o meio ambiente pode não ser a causa direta da topofilia , mas 
fornece o estímulo sensorial que, ao agir como imagem percebida, dá forma às nossas alegrias e ideais” 
(p.129). 
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-73072018000300339&script=sci_arttext#B11
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-73072018000300339&script=sci_arttext#B11
36 
 
Em seu tratado dos objetos musicais, Schaeffer (1993) define quatro escutas 
distintas: escutar, ouvir, entender e compreender. Ouvir diferencia-se de escutar por 
tratar-se de uma escuta ativa, em que o indivíduo direciona a escuta a determinado som. 
Ao examinar os dados obtidos por essa escuta ativa, o indivíduo pode entender como as 
características desse som se manifestam, tomando consciência do fenômeno sonoro. A 
compreensão de determinado objeto sonoro surge da relação semântica do som em 
determinada linguagem, quando o som é tratado como signo. Para Schaeffer, toda a 
relação com o objeto sonoro estrutura-se na oposição entre sujeito receptivo e realidade 
concreta, visto que a escuta ocorre em um processo subjetivo em relação a um dado 
concreto. Essa relação entre sujeito e realidade mostra-se pertinente ao pensar um 
processo no qual o indivíduo, ao escutar ativamente, tem maior consciência sonora do 
espaço em que vive e pode contribuir para a preservação e valorização de determinados 
sons, visando a confrontar a poluição sonora. 
Nesse contexto, “somente uma total apreciação do ambiente acústico pode nos dar 
recursos para aperfeiçoar a orquestração da paisagem sonora mundial” (SCHAFER, 
1977), chamando a atenção para o fato de que a paisagem sonora tanto diz respeito ao 
lugar, quanto à forma de percebê-lo. 
Por isso, a adaptação a um novo lugar sempre nos remete a buscar as relações de 
familiaridade o que não está apenas nos elementos visuais, mas em todos os elementos 
percebidos da paisagem. De todo modo, em qualquer lugar do planeta seria possível fazer 
uma conexão com algo vivido e experienciado num passado, caracterizando-se

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