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1. INTRODUÇÃO A Bacia do Paraná abrange os territórios dos Estados de Mato Grosso, Paraná, São Paulo e partes dos territórios dos Estados de Minas Gerais e Goiás, estendendo-se pelo Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina. É uma bacia sedimentar intracratônica (sinéclise), que evoluiu sobre a Plataforma Sul-Americana, e sua formação teve início à cerca de 400 milhões de anos, no Período Devoniano, terminando no Cretáceo. Sob a Bacia do Paraná deposita-se a Bacia do Bauru que é a mais extensa seqüência sedimentar de idade cretácea da América do Sul. Sua constituição é de arenitos e siltitos depositados em ambiente fluvial. É neste ambiente que encontramos o Grupo Bauru que pode ser dividido em três intervalos estratigráficos: a) intervalo inferior, assentado sobre um substrato basáltico irregular; b) intervalo médio, compreendendo sedimentos essencialmente arenosos de origem aluvial; e c) intervalo superior, englobando na base um componente lacustre que passa, vertical e lateralmente para oeste, a depósitos aluviais arenosos (CASTRO et al., 1999). O Grupo Bauru cobre todo o planalto do Estado de São Paulo, estende-se ao extremo oeste de Minas Gerais, ao Sul de Goiás e ao Sul e Leste de Mato Grosso sendo sua estratigrafia e idade temas de grande controvérsia na literatura. O caráter continental, com fácies terrígena e lacustre, que lhe permite uma descontinuidade na sedimentação dos seus termos litológicos emprestando-lhe distribuição lenticular MEZZALIRA (1974) é um dos principais fatores que alimenta as diferentes opiniões a respeito de sua estratigrafia. Dentro desse conceito alguns 1 autores sugeriram divisões e propuseram designações para as mesmas, entre eles encontramos SETZER (1948) que propôs a divisão do Grupo Bauru em Bauru Superior (abundância de cimento calcário) e Bauru Inferior (ausência do mesmo); ALMEIDA & BARBOSA (1953) que, propuseram as denominações de Formação Marília (Bauru Superior – abundância de cimento calcário) e Formação Itaqueri (Bauru Inferior – constituído de membros alternados de arenitos com cimento argiloso, folhelhos e conglomerados); FREITAS (1964) que sugere a divisão do Grupo Bauru em duas formações: Formação Itaqueri (composta de um conglomerado basal sem caráter universal) e Formação Bauru (arenito, variando lateral e verticalmente a siltito, argilito e conglomerato); MEZZALIRA (1964), que após a verificação de todas essas hipóteses e estudos realizados em campo sugere a adoção da Formação Bauru como um todo; SOARES et al. (1980) que divide o Grupo Bauru nas formações Caiuá, Santo Anastácio, Adamantina e Marília, da base para o topo que repousam em discordância erosiva, predominantemente sobre basaltos da Formação Serra Geral; BARCELOS et al. (1983) que propuseram a inclusão da formação Itaqueri por esta unidade estar inserida na região do arcabouço estrutural do grupo; FULFARO & BARCELOS (1991) pela primeira vez propõem a existência de uma bacia individualizada para os depósitos da Formação Caiuá, que seria anterior a existência da Bacia Bauru; FERNANDES (1992) eleva hierarquicamente a Formação Caiuá a Grupo Caiuá dividindo-o em três formações: Goio Erê, Rio Paraná e Santo Anastácio; FERNANDES & COIMBRA (1992) elevam o Grupo Bauru a uma Bacia independente da Bacia do Paraná que se originou de uma depressão pós-gondwânica criada por subsidência termo-mecânica, depois de cessados os derrames no Cretáceo Inferior; MILANI (1997) que afirma que o Grupo Bauru é composto por dois outros grupos: Caiuá (compreendido por arenitos 2 acumulados em ambiente eólico) e o Bauru (agrupa unidades depositadas em ambientes fluviais e de leques aluviais); CASTRO et al. (1999) que propõem a Formação São Carlos como uma nova unidade do Grupo Bauru. De fato, a estratigrafia da Bacia Bauru é controversa e ainda carece de estudos mais aprofundados FULFARO e PERINOTTO (1996) sendo, na realidade, a associação de diferentes fácies sedimentares predominantemente continentais. A figura 01 sintetiza o conhecimento estratigráfico atual nos estados onde a Bacia do Bauru é depositada. 3 Figura 1- Carta litoestratigráfica do Grupo Bauru nos estados onde aflora. Retirada de Fulfaro & Perinotto, 1996. Tão controverso quanto à estratigrafia do Grupo Bauru, é a determinação da sua idade. Já logo após a descrição dos primeiros fósseis, surgem dúvidas quanto a sua real datação. Através dos anos as descobertas de diferentes fósseis fizeram com que vários autores propusessem a cronologia do Grupo Bauru, entre eles podemos citar PACHECO (1913) que o situa entre o Jurássico e o Cretáceo; VON HUENE (1927) que propôs duas idades para o Bauru, uma Senoniana Superior (Cretáceo), devido aos restos de Titanossauros encontrados e outra Jurássica ou Cretácea Inferior; outros autores como PRICE (1953), ARID & VIZOTO (1963) e SUAREZ (1969), confirmam a idade sugerida por VON HUENE. Atualmente, considera-se o Grupo Bauru como sendo do Cretáceo Superior devido à presença de dinossauros que ocorrem associados aos moluscos e cuja extinção ocorreu na mesma era. Ambientalmente, os depósitos sedimentares do Grupo Bauru são tipicamente fluviais e lacustres. Durante o ciclo inicial de deposição do Grupo Bauru (formações Caiuá e Santo Anastácio), as fácies representam frentes deltáicas e planícies aluviais. O clima, ao menos para a formação Caiuá, seria árido a semi-árido com presença de dunas e sistema lacustre efêmero interdunas POPP & BIGARELLA (1975). Já a Formação Adamantina teria sistemas deposicionais mais energéticos sendo representada por sedimentos relativos a rios de maior porte que os da fase anterior. Ainda nessa formação encontram-se sedimentos representativos de ambientes de planícies de inundação, associados a sedimentos de canais fluviais. O clima seria quente e úmido alternado por períodos mais secos. Esse ambiente fluvial 4 meandrante foi progressivamente sendo alterado para um sistema fluvial anastomosado devido ao aumento da aridez e desertificação visto nas formações posteriores (Formação Marília). 1.1 FÓSSEIS DE MOLUSCOS DO GRUPO BAURU: ESTADO DA ARTE Dentre os fósseis do Grupo Bauru, certamente os mais conhecidos são os répteis crocodilianos, quelônios e dinossauros. De fato, inúmeros são os trabalhos referentes a esses grupos (IHERING, 1911; PACHECO, 1913; CAMPOS, 1920; VON HUENE, 1927; MILWARD, 1935; MORAES REGO, 1935; ROXO, 1936; PRICE, 1945, 1950 e 1953; ARID et al., 1962; MACIEL, 1962; ARID & VIZOTTO, 1963 e SUAREZ, 1969). Contudo outros macrofósseis podem ser descritos para esses sedimentos como vegetais (MEZZALIRA, 1959 e 1964 e PETRI, 1955), bivalves (IHERING, 1913; CUNHA, 1937; ARID et al., 1962; MACIEL, 1962; MEZZALIRA, 1964 e 1966; SUAREZ E ARRUDA, 1968; PARODIZ, 1969; SOAREZ, 1980; BARCELOS et al., 1983; FULFARO & BARCELOS, 1991; FERNANDES, 1992; FERNANDES & COIMBRA, 1992; FULFARO & PERINOTTO, 1996; CASTRO et al., 1999.) e restos de peixes (PACHECO, 1913; MORAES REGO, 1935 e ARID E VIZZOTO, 1963). São os moluscos, entretanto, o táxon menos estudado e os que mais carecem de trabalhos mais detalhados e modernos de sua tafonomia e paleoautoecologia para o melhor entendimento da gênese dessas acumulações, sendo os poucos trabalhos existentes versando sobre a sistemática do grupo (tabela 1). 5 Tabela 1- Trabalhos relacionados a moluscos fósseis do Grupo Bauru e táxons descritos. AUTOR PESQUISA FÓSSIL DESCRITO Ihering, 1913 Sistemática Pleiodon priscus Arid et al., 1962 Geologia Gastrópodes indeterminados Mezzalira, 1966 Geologia Roxochelys sp. Suarez & Arruda 1968 Sistemática Podocnemis elegans Parodiz,1969 Geologia Bivalves indeterminados Mezzalira, 1974 Sistemática Viviparus souzai, Physa aridi, Diplodon arrudai, Florenceia peiropolensis, Sancticarolis tolentinoi, Taxodontites paulistanensis, Anodontitesfreitasi, Anodontites pricei, Monocondylaea cominatoi, Hydrobia prudentinensis Campanha et al, 1993 Sistemática ?Hydrobia sp, Turritelídeos De-Simone & Mezzalira, 1993 Morfologia Funcional Anodontites freitasi Senra & Silva e Silva, 1999 Sistemática Musculium? Mezzalira & Simone, 1997 Sistemática Florenceia, Sancticarolis e Taxodontites Mezzalira & Simone, 1999 Sistemática Castalia cretacea, Castalia minuta Ghilardi & Benedetti, 2004 Paleoecologia e Tafonomia Anodontites 6 IHERING (1913) foi o primeiro a descrever um bivalve para os sedimentos do Grupo Bauru. A espécie Itaimbea priscus (IHERING, 1913), foi descrita em sedimentos no município de São José dos Dourados, no estado de São Paulo. Apenas cerca de 50 anos posteriormente a essa descrição, ARID et al. (1962), descrevem, pela primeira vez, um gastrópode em afloramentos nas imediações de São José do Rio Preto. MEZZALIRA (1966), SUAREZ & ARRUDA (1968) E PARODIZ (1969) aumentam o número de espécies descritas de moluscos para o estado de São Paulo porém sem classifica-los taxonomicamente de maneira precisa. É o trabalho de Mezzalira (1974), que descreve a maior quantidade de táxons (?Hydrobia prudentinensis, Viviparus souzai, Physa aridi, Diplodon arrudai, Florenceia peiropolensis, Sancticarolis tolentinoi, Taxodontites paulistanensis, Anodontites freitasi, Anondotites pricei e Monocondylaea cominatoi) conhecidos, além de organizar sistematicamente os moluscos do Grupo Bauru na maneira atualmente empregada. Adicionalmente, MEZZALIRA (1974), pioneiramente, descreve esses animais em sedimentos de Goiás e Minas Gerais. Após esse trabalho MEZZALIRA (1974), DE-SIMONE & MEZZALIRA (1993) voltam ao tema ao descrever preservação de restos de partes moles (palpos, demibrânquias e músculos) em um bivalve Unionoida (Anodontites freitasi) do Grupo Bauru, no estado de São Paulo e Campanha et al. (1993), descrevem o gastrópode? Hydrobya sp. e Turritella sp. em sedimentos localizados entre Uberaba e Uberlândia, MG. SENRA & SILVA E SILVA (1999) relatam a ocorrência de microbivalves em sedimentos de Uberaba, MG. As autoras classificam provisoriamente esse novo táxon como ?Musculium. MEZZALIRA & DE-SIMONE (1997) normalizam a situação taxonômica dos gêneros Florenceia, Sancticarolis e Taxodontites já alterados 7 previamente mas sem valor taxonômico em DE-SIMONE & MEZZALIRA, 1994. Finalmente, MEZZALIRA & DE-SIMONE (1999), descrevem, a partir de material depositado em coleção científica, o gênero Castalia para sedimentos do Grupo Bauru sendo constituído por duas espécies (C. cretacea e C. minuta). Existe uma carência considerável em relação aos trabalhos paleoecológicos e tafonômicos dos bivalves do grupo Bauru. Exceção feita ao trabalho de GHILARDI & BENEDETTI (2004) que, de maneira pioneira, tramam considerações iniciais sobre a ecologia e tafonomia do gênero Anodontites. A paleofauna representada no Grupo Bauru apresenta algumas semelhanças com os depósitos argentinos do Cretáceo Superior. Algumas variedades inclusive já eram conhecidas na Argentina. Mas a presença de formas exclusiva sugere que pode ter ocorrido algum endemismo na fauna. Uma das hipóteses para a existência de espécies particulares era a diferenciação climática do Grupo Bauru, mais seco, provocando um "stress" ambiental e gerando mudanças particulares nos animais. 2. PROPOSTA DE TRABALHO: É notável a carência de trabalhos descritivos sobre os moluscos bivalves do Grupo Bauru. Assim, esse trabalho visa contribuir no preenchimento de uma importante lacuna da literatura cientifica desse pacote de rochas. Para tanto, pretende-se fazer uma revisão bibliográfica meticulosa dos trabalhos publicados envolvendo macrofósseis de invertebrados. Almeja-se estudar 8 apenas os moluscos, discernindo, entre toda a literatura, sua sistemática e pontos de afloramentos passíveis de coleta dos táxons descritos. 3. MATERIAIS E MÉTODOS (METODOLOGIA) A classificação sistemática dos moluscos bivalves apresentada nesse trabalho foi reunida a partir de diferentes fontes de referências bibliográficas. Foram considerados os trabalhos da literatura científica internacional assim como as publicações dos pesquisadores brasileiros em caráter regional. Neste sentido, é de fundamental importância a utilização de catálogos de referências bibliográficas. Preferiu-se, nesse estudo, a utilização do catálogo da Universidade de São Paulo disponível na rede internacional de computadores (Internet), locado na página www.usp.br/sibi. Tal procedimento mostrou-se adequado, pois os principais e mais recentes catálogos de referência bibliográfica das áreas de geologia (e.g., Georef, Geobase) e biologia (e.g., Zoological Abstracts) estão disponíveis de maneira on line. Adicionalmente, visitou-se a coleção cientifica Sergio Mezzalira, localizada no Instituto de Geociências da Secretaria do Estado do Meio Ambiente, em São Paulo, capital, onde a grande maioria dos holótipos descritos está depositada. Por motivos técnicos, não foi possível fotografar os espécimes no local nem retirar os mesmos para análises no Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências da 9 http://www.usp.br/sibi UNESP/Bauru. Contudo, a visita se mostrou proveitosa ao permitir o contato e averiguação das diagnoses destinadas a cada gênero. 4. RESULTADOS 4.1 Localização dos Afloramentos Grande parte dos fósseis de moluscos do Grupo Bauru está descrita na região centro-norte do Estado de São Paulo (fig. 02). A tabela 02 representa esses afloramentos assim como lista os táxons encontrados em cada ponto de coleta. Tabela 2- Afloramentos relacionados aos táxons fósseis. Afloramento Espécies descritas Referencia na figura 02 Álvares Machado - SP Taxodontites paulistanenesis, Castalia minuta 1 Fernando Prestes – SP Itaimbea priscus 2 Madeira – GO Viviparus souzai 3 Pacaembu Paulista – SP Anodontites freitasi, Monocondylaea cominatoi, Taxodontites paulistanensis, Castalia cretacea 4 10 Peirópolis – MG Anodontites pricei, Musculium? 5 Presidente Prudente – SP Diplodon Arrudai, Anodontites paulistanensis, Hydrobia prudentinensis 6 São Carlos – SP Sancticarolis tolentinoi 7 São José do Rio Preto – SP Physa aridi 8 Uberaba – MG Florenceia peiropolensis, Hydrobia sp., Turritelideos 9 11 Figura 2- Mapa de localização dos afloramentos fossilíferos de moluscos do Grupo Bauru. Modificado de Fulfaro e Perinotto (1996). 12 4.2 CLASSIFICAÇÃO SISTEMÁTICA Os bivalves e gastrópodes do Grupo Bauru são a seguir classificados. Classe Bivalvia Ordem Unionoidea Família Mycetopodidae (Banarescu, 1990) Gênero Anodontites Bruguiere, 1972 Anodontites pricei Mezzalira, 1974 Diagnose: A atribuição ao gênero Anodontites está baseada na forma de concha e no tipo de charneira. Concha elítica; umbo baixo; liso, ocupando posição mais próxima da borda anterior; inequílatera. Borda dorsal subreta; borda ventral ligeiramente abaulada; borda posterior subreta e borda anterior convexa. Superfície com finas linhas concêntricas de crescimento. Charneira, aparentemente edentelosa. Impressão do músculo adutor anterior subcircular. Linha palial mais ou menos perceptível. A convexidade da valva está em torno de 6 mm. Procedência: Peirópolis, MG. 13 Anodontites freitasi, Mezzalira 1974 Diagnose: Concha subelítica, estreita alongada; inequilátera e equivalva. Umbo baixo, liso; bico liso, raso e subanterior. Depressão mediana acentuada na porção inferior da concha. Borda dorsal levemente angulosa com extensão posterior pouco maior que a anterior; borda ventral subreta e levemente convexa, com suave concavidade na sua extensão média-posterior, passandoem curva continua para a borda anterior. Esta é curta com convexidade acentuada. Borda posterior, a julgar pelas linhas de crescimento, curta subvertical passando em curva forte na borda ventral. Procedência: Pacaembu Paulista, SP. Gênero Monocondylaea D´Orbigny 1835 Monocondylaea cominatoi, Mezzalira 1974 Diagnose: Concha subquadrangular; equivalva, inequilatera; prosógira. Umbo conspícuo, liso. Região umbonal entumescida. Charneira desconhecida. Borda dorsal subreta, com pequena depressão entre o bico e a porção anterior. Impressão do músculo posterior subelítico, alongado, maior que o anterior que é subcircular. Linha palial indistinta. Borda anterior curta e reta; borda ventral obliqua passando para a borda posterior em curva acentuada e para a borda anterior em curva mais 14 suave. Borda posterior subreta e subvertical. A convexidade da valva está em torno de 8 mm. Procedência: Pacaembu Paulista, SP. Família Hyriidae Swainson, 1840 Gênero Florenceia Mezzalira, 1974 Florenceia peiropolensis, Mezzalira 1974 Diagnose: Concha alongada, subelítica, equivalva, inequilatera. Umbo baixo., liso e pequeno. Bico pouco saliente e liso. Borda dorsal subreta; o ângulo póstero-dorsal expande-se moderadamente em forma de pequena asa. Borda anterior curva e fortemente convexa passando em curva suave para a ventral. Borda ventral levemente convexa, subparalela a borda dorsal, com leve inflexão na sua extensão mediana, passando para a sua borda posterior em curva forte. Borda posterior obliqua, moderadamente convexa. Espessura pequena, oscilando entre 6 mm a 10 mm para cada valva. Impressões musculares e da linha palial definidas devido a má conservação. Procedência: Uberaba, MG. Gênero Diplodon - Spix 1827 ? Diplodon arrudai, Mezzalira 1974 15 Diagnose: Concha subelitica, inequilatera. Umbo inconspícuo, região umbonal caracterizada por ornamentação subvertical constituída por uma série de costelas finas subparalelas, com uma leve tendência a anastomosamento e se cruzam com as linhas de crescimento. Borda dorsal subangular incompletamente imperceptível no exemplar; borda posterior indistinta, mas pelo traçado das linhas de crescimento, subvertical e relativamente curta passando em curva acentuda à borda ventral. Esta é subreta, levemente deprimida na porção mediana, passando em curva moderada para a borda anterior. Borda anterior pouco visível mas, aparentemente subvertical, ligeiramente convexa e mais alta que a borda posterior. Espessura da valva moderada, em torno de 10 mm. Linhas de crescimento subconcêntricas e mais ou menos marcadas. Procedência: Presidente Prudente, SP. Gênero Castalia - Lamarck 1819 Castalia cretacea, Mezzalira & Simone 1999 Diagnose: Concha com umbo sub-central por vezes grosso; bruscamente descendente à sua margem posterior; a região entre as margens ventral e posterior é angulosa. Procedência: Pacaembu Paulista, SP. Castalia minuta, Mezzalira & Simone 1999 16 Diagnose: Concha de tamanho pequeno, umbo proeminente e anterior, margem anterior dorsal com concavidade grande anterior a ponta do umbo, margem posterior convexa e por vezes curta, a junção entre as margens posterior e ventral é arredondada. Procedência: Álvares Machado, SP. Família Sancticarolidae Mezzalira & de-Simone, 1997 Gênero Sancticarolis Mezzalira 1974 Sancticarolis tolentinoi, Mezzalira 1974 Diagnose: Concha pequena, subelítica, equivalva, inequilatera, levemente expandida na porção posterior e moderadamente entumecida na região umbonal. Umbo submediano, relativamente baixo; bico pequeno e pouco saliente; prosógiro; crista umbonal levemente definida. Borda dorsal subangulosa com a extensão posterior maior que a anterior; borda ventral moderadamente convexa passando em curva suave à borda anterior. Esta é curta e acentuadamente convexa. Borda posterior curta, obliqua e ligeiramente convexa. Charneira dotada, na valva direita de 2 lamelas e uma fosseta e na valva esquerda de uma lamela e duas fossetas, tanto na extensão anterior como na posterior de cada valva. Linhas de crescimento finas, subconcênctricas e bem nítidas. Impressões musculares e linha palial imperceptíveis. Aparentemente a concha possuía as paredes delgadas. 17 Procedência: São Carlos, SP. Família Mutelidae Swainson, 1840 Gênero Itaimbea Mezzalira 1974 Itaimbea priscus (Ihering 1913) Diagnose: Concha comprida, oval, sólida, leve, subcomprimida; borda anterior redonda, subalongada tendo a borda dorsal reta e inclinada para baixo; borda posterior alongada, obliquamente angulada, borda ventral um pouco arqueada. Charneira curta contendo tubérculos, irregularmente dispostos; a extensão posterior, com tubérculos verticais, subdivididos em dentes análogos. O ápice é pequeno e pouco distinto e dista da borda anterior 33 mm sendo pois situado em 44% do comprimento total ou talvez 40% tomando-se em consideração a ausência da extremidade posterior da concha. Sobre a porção posterior da concha corre uma dobra romba decorrente do ápice para trás e em baixo. Impressão muscular anterior distinta e em parte destruída e a posterior bem visível, escavada e oval. Procedência: Fernando Prestes, SP. Gênero Taxodontites - Simone & Mezzalira 1994 Taxodontites paulistanensis (Mezzalira 1974) 18 Diagnose: Concha de tamanho médio a grande, subtrapezoidal. Umbos conspícuos, submedianos. Bicos ponteagudos e prosógiros. Equivalva, inequilatera. Borda anterior curta, moderadamente convexa; borda posterior mais longa, subreta na parte superior e mais curva na inferior. Borda ventral reta; borda dorsal subreta. Ausência de morfologia interna. Superfície ornamentada por finas linhas concêntricas. Na parte média da concha como que delimitando a área umbonal, há um sulco mais profundo, indicando provavelmente, paralisação do crescimento do animal. Procedência: Álvares Machado e Pacaembu Paulista, SP. Subclasse Heterodonta Ordem Veneroida Família Sphaeriidae Deshayes, 1855 Gênero Musculium Link, 1807 ? Musculium sp. Senra & Silva-Silva 1999 Diagnose: A concha apresenta ornamentação radial nas espiras e o contorno da abertura. É esferiídeo com 2,0 mm de comprimento e 1,4 mm de altura, é um molde composto, conservando tênues linhas de crescimento próximo a margem ventral. A concha encontra-se inteira com as valvas articuladas e as margens anterior, posterior e a região da charneira, completas, não apresentando sinais de transporte. A fossilização é atípica, apresentando entre a região apertural e a parte mediana, 19 um molde, e deste ponto até o ápice da columela, recristalização por carbonato de cálcio. Procedência: Peirópolis, MG. Classe Gastrópodes Ordem Basommatophora Gênero Physa - Draparnaud 1801 Physa aridi, Mezzalira 1974 Diagnose: Concha de tamanha médio, ovla-alongada, sinistra, advoluta. Espira contendo voltas de menor altura. Ápice fragmentado. Suturas adjacentes e profundas. Última volta com convexidade maior no meio e ocupando 8/10 do comprimento da concha. Voltas em numero de 4 no espécime descrito. Lado apertural (ventral ou anterior) contendo abertura alongada, estreitando-se na parte superior mais larga e arredondada na base. Perístoma espesso e holomatoso (continuo). Lábio externo ligeiramente sasliente. Presença de um pseudo-umbílico. Lado apertural (posterior ou dorsal) liso. Linhas de crescimento em toda a extensão da concha, mais distinta nas proximidades de sua abertura. Procedência: São José do Rio Preto, SP. 20 Ordem Mesogastropoda Gênero Viviparus - Montfort 1810 Viviparus souzai, Mezzalira 1974 Diagnose: Concha pequena, globosa, umbilicada, dextra, paucispiral, evoluta. Espira curta com voltas convexas e suturasprofundas. Voltas em número de 4. A última volta não muito larga, fraca descendência, apresenta marcas de linhas de crescimento. Abertura circular, umbílico, largo e profundo. Ápice ligeiramente fragmentado. Procedência: Madeira, GO. Gênero Turritella Lamarck 1799 Turritella sp. Campanha et al. 1993 Diagnose: Apresenta conchas contando com 5 e 6 voltas, aparentemente sem qualquer tipo de ornamentação. Procedência: Uberaba, MG. Ordem Caenogastropoda - Cox 1959 Gênero Hydrobia - Hartmann 1821 ? Hydrobia prudentinensis, Mezzalira 1974 21 Diagnose: Concha pequena, cônica ovalada, dextra. Espira aguda, cônica. Última volta globulosa, fortemente convexa e subplana. Voltas em número de 4; umbilicada. Abertura aparentemente ovalar. Suturas profundas e preenchidas por grãos de quartzo e cimento silicoso. Lados abapertural e apertural lisos. Ápice ligeiramente fragmentado. Procedência: Presidente Prudente, SP. Hydrobia sp. Campanha et al. 1993 Diagnose: Possui conchas pequenas e aparentemente cônicas ovaladaas com cerca de 4 voltas. Procedência: Uberaba, MG. 5. Conclusões a) Os moluscos fósseis constituem um táxon ainda pouco estudado no Grupo Bauru, Cretáceo, Bacia Bauru, Brasil; b) Cerca de 10 afloramentos que possuem registro fóssil de moluscos foram identificados nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás; c) A sistemática do grupo ainda é pobre na literatura sendo necessário estudos mais aprofundados de sua taxonomia; 22 d) Não há trabalhos tafonômicos ou ecológicos consideráveis para os moluscos do Grupo Bauru; e) São necessários estudos mais meticulosos, inclusive com fotografias e descrição de novos materiais para que a sistemática dos moluscos do Grupo Bauru se torne consistente. 6. Bibliografia ALMEIDA, F.F.M. & BARBOSA, O. Geologia das quadrículas de Piracicaba e Rio Claro, Estado de São Paulo. Rio de Janeiro, 1953. 96p. ARID, F.M.; VIZOTTO, L.P. & LANDIN, P.M.P. A ocorrência de um jazigo fossilífero nos arredores de São José do Rio Preto. Ciência e Cultura, 1962. 14(3):172. ARID, F. M. & VIZZOTO, L. D. 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