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29ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS Capítulo 2 Estado do meio ambiente e retrospectivas políticas: 1972-2002 UNEP, Dario Riva, Italy, Still Pictures 30 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Relatório de Situação Ambiental – SOE (State of the Environment) foi introduzido nos Esta- dos Unidos por meio da promulgação do Ato Nacional de Política Ambiental de 1969 – NEPA (National Environmental Policy Act) e tornou-se uma atividade de caráter mundial a partir da declara- ção adotada na Conferência sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972. Inicialmen- te, o centro das atenções voltava-se para a situação do ambiente biofísico – terra, água doce, florestas e vida silvestre, por exemplo. As pessoas eram geral- mente consideradas como uma ameaça ao meio ambi- ente. Ao longo dos anos, contudo, o SOE vem se tor- nando mais integrado e, ao avaliar e relatar as mudan- ças que ocorrem no meio ambiente, passou a levar em conta as complexas interações entre este e o homem. Subseqüentemente, estabeleceu-se o relató- rio SOE em todos os níveis – locais, nacionais, sub- regionais, regionais e globais. Várias abordagens fo- ram utilizadas: algumas voltadas a meios, como a ter- ra e a água; algumas a temas setoriais, como agricul- tura e atividades florestais; outras a questões como degradação de terras e poluição, além de outras que mesclavam todos esses temas. Outros modelos adotados incluíam a pressão-estado-resposta – PSR (pressure-state-response) e, posteriormente, a força motriz-pressão-estado-impacto-resposta – DPSIR (driving force-pressure-state-impact-response). Es- sas abordagens, distintas entre si, serviram aos seus propósitos. Contudo, percebem-se deficiências no que tange à instituição de uma abordagem linear ante processos ecológicos complexos e interações entre o homem e o meio ambiente. Freqüentemente, os rela- tórios minimizam o fato de que, além de o homem exer- cer um impacto sobre o meio ambiente, este último também exerce um impacto sobre o homem. Dessa forma, desenvolveu-se, com o passar do tempo, um modelo mais integrado de avaliação e informação ambiental, que visa mostrar as relações de causa e efeito da interação entre o homem e o meio ambiente. Ele busca conectar as causas (forças motri- zes e pressões) aos efeitos ambientais (estado) e às atividades (políticas e decisões) que deram forma ao meio ambiente ao longo das últimas três décadas, bem como aos impactos que tais mudanças exercem atual- mente nas pessoas. Inicialmente, a análise se dá por temas (aspec- tos socioeconômicos, terra, florestas, biodiversidade, água doce, zonas costeiras e marinhas, atmosfera, áre- as urbanas e desastres), sendo a natureza holística do meio ambiente enfatizada quando necessário. Es- sas questões temáticas são, primeiramente, analisa- das a partir do ponto de vista global e, posteriormen- te, a partir do nível regional GEO: África, Ásia e Pací- fico, América Latina e Caribe, América do Norte, Ásia Ocidental e Regiões Polares. As seções globais enfatizam a maioria das principais questões de cada setor, indicando as tendências ao longo das últimas três décadas. A análise utiliza como referência a Con- ferência de Estocolmo de 1972, ao discutir a evolução das questões e a maneira pela qual a comunidade in- ternacional vem tentando tratar esses problemas. No nível regional, cada região é identificada para fins de análise – por meio de diversos processos de consulta – com duas ou três questões-chave regi- onais para cada setor ou tema. Essas questões são discutidas nas páginas seguintes e encontram-se listadas na tabela contígua, a qual enfatiza as ques- tões comuns às diferentes regiões, mostrando a na- tureza global das questões ambientais com as quais o mundo se depara atualmente. A tabela ainda identifi- ca algumas diferenças regionais singulares que de- mandam respostas regionais também singulares. Ao longo de todo o relatório, as seções específicas de cada região, assim como os gráficos, possuem códi- gos de cor, para uma fácil identificação (ver a tabela com as cores de cada região). Quando apropriado, são fornecidas também análises com diferenciação sub-regional, e são apre- sentados exemplos nacionais para enfatizar determi- nados tipos de desenvolvimento. A finalidade pre- cípua da avaliação política, sob o enfoque da avalia- ção integrada, é a identificação dos sucessos e das falhas no desenvolvimento de políticas ambientais, bem como a sua implantação como diretrizes para fu- turas iniciativas políticas. As análises são sustentadas por gráficos e ou- tras ilustrações desenvolvidos por meio da utilização de dados especialmente compilados para o período de avaliação do GEO-3 nos últimos trinta anos. Os dados foram compilados a partir de diversas fontes, sendo, sempre que possível, posteriormente agregados em níveis nacionais, sub-regionais, regionais e globais, a fim de facilitar as comparações entre os diversos ní- veis. O Portal de Dados do GEO-3 trata de alguns dos dados inicialmente identificados no GEO-1, de 1997, a saber: harmonização de conjunto de dados nacio- nais e aquisição de conjuntos de dados mundiais. Este capítulo enfatiza a integração entre as re- giões, entre a situação do meio ambiente e a política adotada, entre o passado e o futuro, entre áreas temáticas e entre os setores (por exemplo: ambiental, econômico, social e cultural). Tenta, ainda, analisar as políticas (respostas sociais) relativas a questões ambientais específicas, mostrando os impactos posi- tivos e negativos de tais políticas sobre o meio ambi- O 31ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Nota: Esta tabela re- presenta as duas ou três principais questões te- máticas por região abor- dadas neste capítulo. Devido ao modelo DPSIR utilizado na análise, uma determinada questão pode estar coberta por dois ou mais temas. Por exemplo, a degradação florestal pode ser tratada como um importante agente causador de perda da biodiversidade em uma região, enquanto em outra pode constituir o principal motivo de preocupação. ente e como este pode induzir a políticas, tanto re- trospectiva quanto pró-ativamente. Este capítulo tra- ta, também, do impacto exercido pelas políticas dos setores público e privado, assim como pelas políticas regionais e globais, incluindo acordos ambientais mul- tilaterais. A análise leva em consideração não somen- te a política ambiental, mas também os impactos de políticas gerais em relação a questões ambientais, tais como as tendências de uma política social e econômi- ca mais ampla com repercussões ambientais. Outro componente importante deste capítulo é a utilização de imagens de satélite para ilustrar as mudanças ocorridas no meio ambiente nos últimos trinta anos. As imagens foram geradas pelo Landsat, que, coincidentemente, foi lançado em 1972 – o mes- mo ano da Conferência de Estocolmo. As imagens do Landsat, localizadas em uma ou duas páginas ao final de cada seção, com a inscrição “O nosso meio ambi- ente em transformação”, salientam as mudanças ambientais em locais distintos de diversas regiões. 32 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Panorama mundial Nos últimos trinta anos, o mundo vem passando por uma mudança social, econômica, política e tecnológica sem precedentes. Esses componentes, quando inter- ligados, proporcionam o cenário para a análise das mudanças verificadas no meio ambiente, ao longo desse período, tendo em vista podermos considerá- los como os agentes mais influentes em termos de mudanças ambientais. Desenvolvimento humano Ganhos consideráveis ocorreram no campo do de- senvolvimento humano, particularmente nos países em desenvolvimento: a renda e a linha de pobreza no que se refere a renda melhoraram, e as pessoas vivem mais, estão mais saudáveis, mais alfabetizadas e apre- sentam um nível de educação jamais registrado. A renda anual cresceu, em termos reais, vertiginosamen- te nos países em desenvolvimento: 13% na África (1972-1999), 72% na Ásia e Pacífico e 35%na América Latina e Caribe, tendo decrescido 6% na Ásia Oci- dental (compilado de World Bank, 2001). Todavia, as taxas continuam desanimadoras no século XXI, com níveis altos de privação persistindo por todo o mun- do. Aproximadamente 1,2 bilhão de pessoas, ou um quinto da população mundial, ainda vivem em estado de extrema pobreza, com menos de um dólar por dia, e 2,8 bilhões de pessoas, ou quase metade da popula- ção mundial, vivem com menos de dois dólares por dia (UNDP, 2001). Três quartos dos que vivem em extrema pobreza situam-se em áreas rurais (IFAD, 2001), sendo a maioria mulheres. A pobreza não se limita aos países em desenvolvimento: mais de 130 milhões de pessoas que vivem nos países membros da OCDE – Organização para a Cooperação e o De- senvolvimento Econômico (Organization for Economic Cooperation and Development) – são con- sideradas como de baixa renda (UNDP, 2001). Aspectos socioeconômicos U N E P, S . Yo h , To p h an Pictu rep o in t 33ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS osas, como HIV/AIDS, tuberculose e malária, consti- tuem uma ameaça para os avanços obtidos na área da saúde ao longo das últimas décadas. Um enorme progresso também foi alcançado em termos de educação nos últimos trinta anos, e os índices de alfabetização em adultos saltaram de 63%, conforme estimativas de 1970, para 79% em 1998 (Unesco, 2000). No entanto, ainda havia 854 milhões de adul- tos analfabetos em 2000, dos quais 543 milhões eram mulheres (63,6%), e 325 milhões de crianças não ti- nham acesso à escola, sendo 56% desse total com- posto por meninas (UNDP, 2001). O avanço na edu- cação (especialmente entre as mulheres), juntamente com a capacitação, é considerado um marco funda- mental na redução da taxa de crescimento da popula- ção mundial, caindo de um pico anual de 2,1% no início da década de 1970 para 1,3% no ano 2000 (UN, 1997; UNFPA, 2001). A população mundial cresceu de aproximados 3,85 bilhões, em 1972, para 6,1 bilhões em meados do ano 2000 (ver gráfico na página seguinte), e cresce, atual- mente, à taxa de 77 milhões ao ano (UNFPA, 2001). A maior parte desse crescimento concentra-se nas regi- ões em desenvolvimento, sendo aproximadamente dois terços na Ásia e no Pacífico. Seis países respon- dem por 50% do total do crescimento anual: Índia (21,1%), China (13,6%), Paquistão (4,8%), Nigéria (3,9%), Bangladesh (3,7%) e Indonésia (3,6%) (United Nations Population Division, 2001). Atualmente com 1,2 bilhão de pessoas, as re- giões industrializadas têm expectativa de pouca mu- Uma população em mudança expectativa de vida ao nascer 1970-75 a 1995-2000 (anos) taxa de mortalidade infantil 1970-99 (por 1.000 nascidos vivos taxa de mortalidade de menores de 5 anos 1970-99 (milhões) pessoas desnutridas 1975-99 (milhões) taxa de adultos alfabetizado 1970-2000 (estimativa, percentual) Educação primária Educação secundária crianças fora da escola 1970-2000 (estimativa, milhões) renda (PIB/cap 1975-1998 em 1985 PPP US$ pobreza de renda 1990-98 (percentual)taxa bruta de matrícula 1970-97 (percentual) países em desenvolvimento p ro g re s s o p ro g re s s o p ro g re s s o As pessoas vivem mais e com mais saúde… …têm um nível mais alto de alfabetização e são mais instruídas… …e têm rendas mais altas Progresso do desenvolvimento humano nos últimos trinta anos Os baixos níveis da saúde estão relacionados a fatores ambientais e à pobreza (WHO, 1997; Murray e Lopez, 1996). Os avanços médicos, os progressos nos serviços básicos de saúde e a implementação de políticas sociais resultaram em uma significativa ele- vação da expectativa de vida e em um marcante declínio nos índices de mortalidade infantil (UN, 2000). Em termos gerais, uma criança que nasce hoje em dia possui oito anos mais de expectativa de vida do que uma nascida há trinta anos (UNDP, 2001). Entretanto, os índices de pobreza tanto em áreas urbanas quanto nas rurais, assim como as principais doenças infecci- Os gráficos de barra à esquerda mostram que o progresso no desenvolvimento humano se deu em diversas frentes. Os dados sobre pobreza se referem à parcela da população que vive com menos de um dólar por dia. Fontes: FAO, 2000; UNDP, 2001; Unesco, 2000 Índice de Desenvolvimento Humano IDH O IDH combina indicadores das dimensões básicas do desenvolvimento humano (longevidade, conheci- mento e padrão decente de vida), no intuito de medir os avanços globais de cada país, os quais são classi- ficados como de desenvolvimento alto, médio ou baixo. Entre 1975 e 1999, verificou-se um progresso global no desenvolvimento humano (ver tabela), de- monstrando, dessa forma, o potencial para a erradi- cação da pobreza e o progressivo desenvolvimento humano para as próximas décadas. No entanto, 8 paí- ses em transição econômica e 12 outros, situados na África Subsaariana, sofreram retrocessos no mesmo período (ver “África” e “Europa”, neste capítulo). Estrutura em mudança do desenvolvimento humano (em milhões de pessoas) 1975 650 1.600 1.100 1999 650 1.600 1.100 Alto desenvolvimento humano Médio desenvolvimento humano Baixo desenvolvimento humano Nota: o número de pessoas se refere somente aos países cujos dados sobre o período de 1975 a 1999 encontravam-se disponíveis; não representam, portanto, o número total da população. Fonte: UNDP, 2001 34 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Europa América Latina e Caribe ÁfricaAmérica do Norte Ásia e PacíficoÁsia Ocidental População mundial (em milhões) por região, 1972-2000 A população mundial atualmente está crescendo a um ritmo de 77 milhões por ano, sendo que dois terços do crescimento ocorrem na região da Ásia e Pacífico. Fonte: compilado de United Nations Population Division, 2001 Europa América Latina e Caribe África América do Norte Ásia e Pacífico Ásia Ocidental América do Norte Apesar do crescimento econômico mundial, a diferença entre ricos e pobres tem se ampliado entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento; as rendas per capita aumentaram somente de forma marginal, exceto na Europa e na América do Norte. Fonte: compilado de World Bank, 2001 Produto interno bruto per capita (US$ 1995/ano), 1972-99 dança para os próximos cinqüenta anos, ao passo que se projeta, para as regiões em desenvolvimento, um crescimento de 4,9 bilhões, em 2000, para 8,1 bi- lhões, em 2050 (United Nations Population Division, 2001). Essa diferença deve-se, principalmente, aos níveis de fertilidade. Os países menos desenvolvidos registraram a taxa de fertilidade de 3,1 crianças por mulher, no período compreendido entre 1995 e 2000, enquanto nos países desenvolvidos a taxa foi de 1,57 criança por mulher no mesmo período – bem abaixo do nível de reposição de 2,1 crianças por mulher (UNFPA, 2001). A lacuna na expectativa de vida entre as re- giões em desenvolvimento e as desenvolvidas foi reduzida de 22 anos, em 1960, para menos de 12 anos em 2000. Entre 1995 e 2000, a expectativa de vida nas regiões industrializadas era estimada em 75 anos, e em torno de 63 anos nas regiões em desenvolvimento (United Nations Population Division, 2001). Como a taxa mundial de fertilidade continua a regredir e a expectativa de vida a au- mentar, a população mundial envelhecerá mais ra- pidamente nos próximos cinqüenta anos do que na última metade do século passado (United Nations Population Division, 2001). No entanto, o surgimento do HIV/AIDS na década de 1970 dimi- nuiu a expectativa de vida na maioria dos países afetados, fazendo com que a doença seja, atual- mente, a quarta maior causa de mortalidade no mun- do. Mais de 60 milhões de pessoas foram infectadas pelo HIV desde a década de 1970, e 20 milhões de pessoas morreram. Dos 40 milhões de portadores do HIV em todo o mundo, 70% encontram-se na África Subsaariana, onde a AIDS é a maior causa de mortalidade (UNAIDS, 2001). Em comparação com a África, o impacto relativo da epidemia de HIV/AIDS é ainda incipiente na maioria das regi- ões do mundo. Houve notáveis movimentos populacionais nos últimostrinta anos devido à rápida urbaniza- ção, à migração internacional e aos movimentos de refugiados e desabrigados. O número de pessoas que vivem fora de seus países de origem aumentou de 84 milhões, em 1975, para um total estimado de 150 milhões de pessoas no final do século XX (UNDP, 1999; UNHCR, 2000). O número de refugia- dos aumentou de 2,7 milhões em 1972 para um pico de 18,3 milhões em 1992, estacionando em 11,7 mi- lhões no final de 1999 (UNHCR, 2000). Em 2001, estimava-se que aproximadamente 22 milhões de pessoas consideradas como “preocupantes” tives- sem classificadas como refugiadas, repatriadas e deslocadas em seus próprios países (UNHCR, 2001). A expectativa é de que as regiões mais de- senvolvidas continuem a ser o maior destino dos processos migratórios internacionais, com um cres- cimento médio da ordem de 2 milhões ao ano nos próximos cinqüenta anos. Devido à baixa taxa de fertilidade nos países receptores, essas migrações exercerão um impacto significativo no crescimento demográfico das regiões desenvolvidas (United Nations Population Division, 2001). 35ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS Não obstante as significativas flutuações ocorri- das, a economia mundial cresceu consideravelmen- te, em termos globais, nas últimas três décadas. O produto nacional bruto mundial cresceu mais que o dobro, passando de aproximadamente US$ 14,3 trilhões para aproximados US$ 29 trilhões e 995 bi- lhões em 1999 (Constanza e outros, 1999; World Bank, 2001). Essas cifras, contudo, não incluem os valores atribuídos aos bens e serviços ambientais, que, apesar de serem cruciais para os sistemas que dão suporte à vida na Terra e de contribuírem para o bem-estar do ser humano, estão à parte do mer- cado. O valor estimado desses serviços proveni- entes do ecossistema situa-se entre US$ 16 trilhões e US$ 54 trilhões ao ano, com uma média anual de US$ 33 trilhões. Tal estimativa deve ser considera- da como mínima, devido à sua natureza variável (Constanza e outros, 1997). Tomando-se por base o PIB, a economia mun- dial cresceu 3,1% ao ano entre 1980 e 1990, e 2,5% anualmente entre 1990 e 1998, com taxas de renda per capita de 1,4% e 1,1%, respectivamente (UNCTAD, 2000). Houve, no entanto, variações re- gionais significativas nesse período, tendo a Ásia e o Pacífico, região que abriga mais da metade da população mundial, apresentado taxas de cresci- mento muito mais altas do que as demais regiões. O PIB per capita (em dólares constantes de 1995) quase dobrou na região noroeste do Pacífico e na Ásia Oriental, entre 1972 e 1999, com um cresci- mento médio anual de 2,4% (dados compilados a partir de World Bank, 2001); em contraste, dimi- nuiu na África Subsaariana. Apesar desse crescimento global, a lacuna entre a população rica e a pobre aumentou, tanto entre países desenvolvidos e em desenvolvimento quanto dentro dos países, particularmente na Amé- rica Latina e na África Subsaariana (UNDP, 2001). A renda per capita apresentou um crescimento ape- nas marginal na maioria das regiões, com exceção da Europa e da América do Norte (dados na página anterior). Atualmente, 3,5 bilhões de pessoas de países considerados como de baixa renda ganham menos que 20% da renda mundial, ao passo que 1 bilhão de pessoas que vivem em países desenvol- vidos ganham 60% (UN, 2000). A relação entre a renda dos países onde vivem os 20% mais ricos da população do planeta e a dos países onde vivem os 20% mais pobres também aumentou – 30:1, em 1960; 60:1, em 1990; e 74:1, em 1997 (UNDP, 1999). Desenvolvimento econômico A energia é de extrema importância para o desenvolvimento socio- econômico. É também fundamental para o alcance das metas econô- micas, sociais e ambientais do desenvolvimento econômico sustentá- vel. O aproveitamento da energia expandiu significativamente as op- ções da população, fazendo com que aqueles que dispõem de acesso à energia possam desfrutar de produtividade, mobilidade e conforto sem precedentes. Contudo, a utilização da eletricidade evi- dencia uma enorme disparidade. A média anual da OCDE, de 8.053 kilowatts-hora (kWh) , é aproximadamente cem vezes su- perior que a dos países menos desenvolvidos, onde é registrada uma média de somente 83 kWh (UNDP/UNDESA/WEC, 2000). A taxa anual de crescimento mundial do uso de energia entre 1972 e 1999 foi de 2% em média, tendo sido registrado um de- créscimo de 2,8% na década de 1970, de 1,5% nos anos 1980 e de 2,1%, na década de 1990 (IEA, 1999). Esse decréscimo se deu em virtude do fraco desenvolvimento econômico das economias euro- péias em transição na década de 1990, agravadas, ainda, pela crise financeira mundial de 1997 e 1998 (UNDP /UNDESA/WEC, 2000). Os benefícios humanos advindos da produção e do consumo de energia produzem, com freqüência, um efeito negativo sobre o meio ambiente, o que, por sua vez, pode ameaçar a saúde humana e a qualidade de vida. Os impactos sobre a composição da atmosfera, o desflorestamento (com conseqüente erosão do solo e assoreamento de massas d'água), a eliminação de resíduos de combustíveis nucle- ares e acidentes ocasionais, como o de Chernobyl, são alguns dos pro- blemas amplamente conhecidos. Em níveis mundiais, o consumo mudou rela- tivamente pouco nos últimos trinta anos, apesar de o consumo total ter crescido em torno de 70% no período de 1972 a 1999. Em termos regionais, o consumo caiu na América do Norte, o maior consumidor, e cresceu consideravelmente na Ásia. A redução do con- sumo de energia de combustíveis fósseis nas áreas de alto consumo e a obtenção de um consumo mais equilibrado, dentro dos países e en- tre eles, são imperativos ambientais para o século XXI. per capita per capita per capita per capita per capita Tendências da produção e do consumo mundiais de energia Europa América Latina e Caribe África América do Norte Ásia e Pacífico Ásia Ocidental Média Mundial Consumo de energia (toneladas equivalentes de petróleo/ano) per capita Europa América Latina e Caribe África América do Norte Ásia e PacíficoÁsia Ocidental Consumo total de energia (milhões de toneladas equivalentes de petróleo/ano) Fonte: compilado de IEA ,1999 e United Nations Population Division, 2001 36 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 econômica, social e ambiental, incluindo efeitos ne- gativos sobre a estabilidade social e a sustenta- bilidade ambiental (Reed, 1996). A pobreza, o de- semprego e a queda dos padrões de vida também se apresentaram como problemas significativos para os países em transição econômica durante a déca- da de 1990. A dívida externa, que alcançou US$ 2 trilhões 572 milhões e 614 mil em 1999, é também uma ques- tão crítica (World Bank, 2001). A Iniciativa para os Países Pobres Muito Endividados – HIPCs (Heavily Indebted Poor Countries) teve início em 1996, e, em novembro de 2001, pacotes para a redução da dívida, totalizando US$ 36 bilhões, já haviam sido cometidos a 24 países, sendo a maioria na África (IMF, 2001). Todavia, tal iniciativa causou desa- pontamentos, e muitos países beneficiados com a amortização da dívida ainda despendem mais com o seu serviço do que com educação básica ou saú- de (Oxfam, 2001). O crescimento do uso de energia (ver box na página anterior) e de transporte é indicador de de- senvolvimento econômico e exerce impactos severos no meio ambiente. O uso de veículos particulares tornou-se um hábito fortemente arraigado entre aqueles que dispõem de meios para tal. Desde a década de 1970, aproximadamente 16 milhões de novos veículos passaram a rodar, anualmente, pe- las estradas mundo afora (UNDP, UNEP, World Bank e WRI, 1998), sendo que os automóveis de passageiros representaram 15% do total do consu- mo global de energia (Jepma e outros, 1995). As desigualdades de renda também se refle- tem em disparidades semelhantes no consumo de bens materiais (ver “Pegadas Ecológicas”, na pá- gina ao lado). Estima-se que os 20% mais ricos da população mundial respondam por 86% de todo o consumo privado, ou seja, consomem 58% da ener- gia mundial, 45% de toda acarne e peixes e 84% de todo o papel e possuem 87% da frota de automó- veis e 74% de todos os telefones. Em contraste, os 20% mais pobres consomem 5%, ou menos, de cada um desses bens e serviços (UNDP, 1998). Para a maioria dos países em desenvolvi- mento, a pobreza, o desemprego e a baixa produti- vidade são os principais problemas. Em todos es- ses países, o setor informal emprega 37% da força de trabalho; na África, esse número salta para 45% (UNCHS, 2001). Na década de 1980, os Programas de Ajuste Estrutural – SAPs (Structural Adjustment Programmes) foram introduzidos pelo Banco Mun- dial no intuito de delinear os desajustes econômi- cos e aumentar a eficiência econômica por meio de reformas. Os SAPs causaram impactos de ordem Número de países conectados à Internet (em milhões) Esta é a imagem mais detalhada em cores reais da totalidade da Terra disponível em março de 2002. Observações da superfície terrestre, oceanos, mares congelados e nuvens, realizadas durante muitos meses, foram reunidas em um mosaico contínuo de cada quilômetro quadrado da superfície da Terra, à exceção da Antártida. Fonte: NASA – Imagem do Goddard Space Flight Center 37ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS América Latina e Caribe África Ásia e Pacífico América do Norte Oriente Médio e Ásia Central Europa Central e Leste Europeu Europa Ocidental Pegadas ecológicas regionais (1996, unidades de área )per capita As pegadas ecológicas são uma estimativa da pressão humana sobre os ecossistemas mundiais, expressas em “unidades de área”. Cada unidade corresponde ao número de hectares de terras biologicamente produtivas necessárias para produzir alimento e madeira necessários ao consumo humano e a infra-estrutura utilizada nessa produção e para absorver o CO produzido pela queima de combustíveis fósseis; em seguida, leva em consideração o impacto total causado ao meio ambiente. A pegada ecológica mundial é uma função do tamanho da população, do consumo de recursos e da intensidade de recursos utilizada pela tecnologia empregada. Durante o período de 1970 a 1996, a pegada ecológica mundial cresceu de aproximados 11 bilhões de unidades de área para mais de 16 bilhões de unidades de área. A pegada média mundial permaneceu relativamente constante de 1985 a 1996, no patamar de 2,85 unidades de área . 2 per capita per capita Pegadas ecológicas Nota: WWF e outros, 2000 nem todas as regiões correspondem exatamente às regiões GEO Fonte: Número de usuários da Internet (em milhões) Países em desenvolvimento Países desenvolvidos As maravilhas da ciência e da tecnologia proporcionaram ao homem padrões mais altos de saúde, uma vida mais longa, me- lhores empregos, melhor educação e uma existência mais confortável do que tudo que foi vivido por seus antepassados há cem anos. Comissão para o Estudo da Organização da Paz, 1972 Essa percepção da década de 1970 permanece válida ainda hoje. A ciência e a tecnologia propiciaram im- portantes avanços nos últimos trinta anos, por exem- plo, nos campos da informação, da comunicação, da medicina, da nutrição, da agricultura, do desenvolvi- mento econômico e da biotecnologia. Quarenta e seis centros de inovação tecnológica foram identificados no mundo, principalmente na Europa e na América do Norte (Hillner, 2000). A tecnologia da informação e da comunicação – ICT (Information and Communications Technology), particularmente, tem revolucionado o modo como as pessoas vivem, são educadas, traba- lham e interagem (Okinawa Center, 2000). A Internet, a telefonia celular e as redes de satélites diminuíram a noção de tempo e de espaço. A partir da metade da década de 1980, a tecnologia da comunicação via sa- télite deu início a um poderoso e novo meio de alcan- ce global. A união de computadores e comunicação no início da década de 1990 desencadeou uma explo- são de formas de comunicação, processamento, armazenamento e veiculação de uma imensa quanti- dade de informações. Em 2001, era possível transmitir uma maior quantidade de informação por um único cabo em um segundo do que a que em 1997 se podia enviar por toda a Internet em um mês (UNDP, 2001). Usuários de telefonia fixa e móvel (em milhões) Fixa Móvel Os gráficos à esquerda mostram o crescimento explosivo do uso da Internet e de telefones móveis, mas, ainda no ano 2000, somente um quarto dos usuários da Internet perten- ciam a países em desenvolvimento. Fonte: ITU, 2001 Ciência e tecnologia A ICT tem avançado rapidamente e vem apre- sentando enormes oportunidades para o desenvolvi- mento humano, ao tornar mais fácil para um número maior de pessoas o acesso às informações disponí- veis em locais remotos, de maneira rápida e econômi- 38 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 ca. Contudo, a difusão desigual da ICT significa que o acesso ao desenvolvimento tecnológico proporci- onado pode ser vantajoso apenas para uma minoria. Atualmente, os usuários da Internet são predominan- temente urbanos, e 79% deles vivem em países mem- bros da OCDE, os quais contam com somente 14% da população mundial. Todavia, mesmo nos países em desenvolvimento, a utilização da Internet tem aumen- tado: por exemplo, na China, houve um salto de 3,9 milhões para 33 milhões de usuários, entre 1998 e 2002 (UNDP, 2001; CNNIC, 2002). A telefonia celular superou as restrições estru- turais das linhas fixas, e o número de assinantes cres- ceu de pouco mais de 10 milhões em todo o mundo, no início da década de 1990, para mais de 725 milhões no início de 2001, o que representa um aparelho celular para cada oito habitantes do planeta (ITU, 2001). Além disso, novas tecnologias estão ajudan- do as pessoas a compreender melhor o meio ambien- te. Em julho de 1972, o governo dos Estados Unidos lançou o primeiro satélite LANDSAT. Em 2002, o pro- grama LANDSAT alcançou trinta anos de registros, o que significa o maior registro contínuo de dados nas superfícies continentais da Terra (USGS, 2001). Esse fato trouxe uma nova dimensão para o monitoramento e a avaliação ambiental, permitindo o rastreamento de mudanças, o controle de tendências e o aperfeiçoamento na emissão de alertas antecipa- dos (ver imagem abaixo). Imagens geradas pelo LANDSAT podem ser encontradas nas páginas ao final de cada seção do Capítulo 2. Contudo, para alguns países em desenvolvi- mento, a tecnologia pode representar uma fonte de exclusão, em vez de uma ferramenta para o progresso. “A tecnologia é criada como uma resposta às pres- sões de mercado, não às necessidades das popula- ções carentes, que possuem pequeno poder aquisiti- vo. Como resultado, as pesquisas negligenciam as oportunidades de desenvolver tecnologias para es- sas populações” (UNEP, 2001). Por exemplo, dos 1.223 novos medicamentos comercializados entre 1975 e 1996, somente 13 foram desenvolvidos com vistas ao tratamento de doenças tropicais (UNDP, 2001). Novas tecnologias também causam riscos im- previstos para a saúde humana e o meio ambiente: por exemplo, a redução da camada de ozônio devido ao uso de CFCs, o efeito colateral de medicamentos, o uso involuntário de novas tecnologias como ar- mas, a poluição, as preocupações com os impactos causados por organismos geneticamente modifica- dos e desastres tecnológicos como os ocorridos em Chernobyl e Bhopal. “Somente por meio de um profundo envolvimento, da informação, do conhecimento, do compromisso e da ação das pessoas de todo o mundo os problemas ambientais poderão ser sanados. As leis e as instituições não são suficientes. A vontade das pessoas deve ser poderosa o suficiente, e insistente o suficiente, para que uma qualidade de vida efetivamente boa seja proporcionada a toda a humanidade.” — Comissão para o Estudo da Organização da Paz, 1972 Uma mão através do Muro de Berlim simboliza a queda da Cortina de Ferro na Europa, em 1989, um dos mais importantes eventos políticos das últimas três décadas. Fonte: UNEP, Joachim Kuhnke e Topham Picturepoint 39ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS A gestão pública é uma questão preponderante que se aplicaa todos os níveis e setores da sociedade – do local ao global e dos setores público ao privado –, causando impactos sobre leis e direitos humanos, sobre os sistemas político, parlamentar, democrático e eleitoral, sobre a sociedade civil, sobre a paz e a segurança, sobre a administração e a informação pú- blicas e sobre a mídia e o mundo organizado. Conse- qüentemente, a consciência e a atenção em relação às questões públicas têm crescido em todos os aspec- tos da vida moderna, incluindo as questões ambientais. A gestão pública “eficiente” é reconheci- da como um pré-requisito para o desenvolvimento de políticas saudáveis e, mais importante ainda, para assegurar que tais políticas sejam efetivamente implementadas. Os trintas anos que separam a Conferência de Estocolmo da Conferência Mundial sobre Desen- volvimento Sustentável testemunharam uma impor- tante revisão dos sistemas políticos, incluindo a des- colonização da África, o fim do apartheid na África do Sul, a queda da Cortina de Ferro, a reunificação da Alemanha e a desintegração da antiga União Soviéti- ca. Houve um abrupto aumento nas alianças econô- micas e sociais, assim como no número de membros das Nações Unidas, que chegou a 190 em março de 2002. Talvez a maior mudança tenha ocorrido no nível nacional, onde a democracia e a transparência torna- ram-se questões relevantes, particularmente na déca- da de 1990, quando muitos governos foram substitu- ídos em resposta à demanda popular. Nos últimos dez anos, mais de cem países em desenvolvimento e em transição puseram fim a regimes militares ou de um único partido (UNDP, 2001). Desde 1972, e principal- mente na década de 1980, a internacionalização do meio ambiente vem merecendo uma posição de des- taque em muitos dos países desenvolvidos, com os partidos verdes marcando as suas posições (Long, 2000). As três últimas décadas também presencia- ram o crescimento massivo dos movimentos da so- ciedade civil em todas as regiões do globo, com mui- tas organizações desempenhando um papel mais pró- ativo. As organizações não-governamentais estão crescentemente influenciando as decisões dos se- tores governamentais e privados e às vezes até par- ticipando delas. O poder do povo em influenciar políticas vem sendo reconhecido desde pelo menos a década de 1970. “Somente por meio de um profundo envol- vimento, da informação, do conhecimento e do com- promisso e da ação das pessoas de todo o mundo os problemas ambientais poderão ser sanados. As leis e as instituições não são suficientes. A vontade das pessoas deve ser poderosa o suficiente, e insis- tente o suficiente, para que uma qualidade de vida efetivamente boa seja proporcionada a toda a hu- manidade” (Commission to Study the Organization of Peace, 1972). A crescente integração das finanças, das eco- nomias, das culturas, das tecnologias e das adminis- trações por meio da globalização causa impactos pro- fundos, tanto positivos quanto negativos, sobre to- dos os aspectos das vidas das pessoas, bem como sobre o meio ambiente. O domínio que as forças do mercado começam a exercer sobre as esferas social, política e econômica resulta no perigo de que o poder e a riqueza concentrem-se em uma minoria, fazendo com que a maioria se torne crescentemente marginali- zada e dependente. No século XXI, o desafio será instituir uma forma de governo forte o bastante para assegurar que a globalização opere em benefício da maioria das pessoas e não somente dos lucros. Gestão pública CCNIC (2002). Semiannual Survey report on the Development of China’s Internet (January 2002). China Internet Network Information Center http://www.cnnic. net.cn/develst/rep200201-e.shtml Commission to Study the Organization of Peace (1972). The United Nations and the Human Environment – The Twenty-Second Report. New York, United Nations Costanza, R., d’Arge, R., de Groot, R., Farber, S., Grasso, M., Hannon, B., Naeem, S., Limburg, K., Paruelo, J., O’Neill, R.V., Raskin, R., Sutton, P. and van den Belt, M. (1997). 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Em termos gerais, essas informações são traduzidas em: baixa expectativa de vida: 52,5 anos, em contras- te com a média mundial de 66,3 anos (United Nations Population Division, 2001); baixos níveis de educação e alfabetização: apro- ximadamente 60% de adultos alfabetizados em 1999, em contraste com a estimativa média mun- dial de 75% (compilado de UNDP, UNEP, World Bank e WRI, 2000); e pobreza generalizada: PIB per capita (em dólares constantes de 1995) de US$ 749, em contraste com a média mundial de US$ 5.403 (World Bank, 2001a). As diferenças sub-regionais são mais marcantes entre o Norte da África, onde ocorreu um rápido progresso nos últimos trinta anos, e a África Subsaariana. Na primeira, a expectativa de vida au- mentou em quatorze anos no período de 1970-1975 a 1995-2000. A África Subsaariana, contudo, experimen- tou um progresso lento, e doze países sofreram retro- cessos em seus índices de desenvolvimento humano entre 1975 e 1999 (UNDP, 2001). Quase 350 milhões de pessoas, 44% da popula- ção total, vivem com um dólar ou menos ao dia (na Nigéria chega a 70% da população), e até 150 milhões de crianças vivem abaixo da linha de pobreza (ADB, 2000 e UNDP, 2001). A distribuição de renda é também altamen- te distorcida: os 10% mais carentes ganham menos que 5% do total, e os 10% mais ricos ganham de 25% a 45% desse mesmo total, dependendo do país (ADB, 2001). Há, ainda, uma grande desigualdade entre a condição social dos homens e a das mulheres; em muitas sociedades, as mulheres são proibidas de te- rem propriedades e terras. Em geral, ganham menos e não possuem representatividade em altos postos. Desenvolvimento humano As taxas de crescimento da população na África ainda são altas, 2,4% ao ano, se comparadas com a média mundial de 1,3%. Fonte: United Nations Population Division, 2001 O acesso aos serviços de saúde varia, mas geralmente situa-se abaixo da média mundial. O pe- queno crescimento econômico e as pressões da po- pulação crescente sobre e estrutura existente têm contribuído com o baixo investimento no setor de saúde. Em 1998, os gastos per capita do governo com saúde (em relação ao poder aquisitivo) variaram de US$ 623 na África do Sul, o mais alto da região, a somente US$ 15 em Madagascar (UNDP, 2001). A África vem apresentando uma das mais altas taxas de crescimento demográfico dos últimos trinta anos; a taxa atual de 2,4% é bem mais alta que a média mundial de 1,3%. A população cresceu mais que o dobro, passando de 375 milhões, em 1972, para 794 milhões em 2000, cerca de 13% da população mundial. As taxas de fertilidade da África também estão entre as mais altas do mundo, em- bora em declínio: de 6,8 crianças por mulher no período de 1965 a 1970 para 5,4 crianças por mulher de 1995 a 2000 (United Nations Population Division, 2001). A pandemia de HIV/AIDS, que matou 2,3 mi- lhões de pessoas na África, vem causando um impacto em todos os aspectos do desenvolvimento humano, social e econômico. O continente possui o mais alto índice de infecção e a maior proporção de portadores do vírus HIV (8,4% dos adultos) do mundo. Em 2001, eram 28,1 milhões de portadores do HIV na África Subsaariana – 70% do total mundial. Nos últimos vinte anos, a doen- ça causou um impacto significativo na expectativa de vida da região. Em países como Botswana e Malawi, a Uma população em mudança População (em milhões) por sub-região: África • • • 42 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Oceano Índico Ocidental África Central Norte da África África Ocidental Região África Oriental África Meridional expectativa média de vida já se encontra abaixo dos 40 anos (UNAIDS, 2001). Os países do Norte da África são menos gravemente afetados. Não obstante ações lou- váveis por parte de vários países, estima-se que o im- pacto da AIDS sobre o desenvolvimento social, o cres- cimento econômico e os sistemas de saúde chegue a bilhões de dólares. Por exemplo, na África do Sul o im- pacto previsto deverá chegar a 0,4% do PIB no decorrer da próxima década (UNAIDS, 2000). O impacto sobre famílias, comunidades e sociedades é incalculável. As economias dos países africanos são amplamente baseadas em produtos primários ou na extração de re- cursos naturais, sendo ambos exportados sem nenhum processamento. Como resultado, o crescimento econô- mico situa-se abaixo do potencial da região, uma vez que o valor agregado ao processamento se acumula fora do continente, tornando as economias africanas extremamente vulneráveis às flutuações dos preços ex- ternos e às normas de comércio. A primeira crise do pe- tróleo, em 1973-74, desencadeou diversos contratem- Desenvolvimento econômico Enquanto o PIB per capita cresceu de forma estável desde 1972 no Norte da África, na África Subsaariana manteve-se estável ou diminuiu. Nota: os dados para a África Oriental anteriores a 1992 não são confiáveis. Fonte: estimativa do World Bank, 2001a pos e recessões econômicas que duraram mais de um quarto de século. A queda dos preços do café, do cacau e de outras culturas comercializáveis na década de 1980 produziu impactos catastróficos sobre as economias da região. Entre 1970 e 1995, a África perdeu metade de seus mercados, o que representou uma queda de receita da ordem de US$ 70 bilhões ao ano (Madavo, 2000). A dependência da África em relação à agricultu- ra sem irrigação artificial significa que a produção é vul- nerável às variações climáticas, o que pode afetar gra- vemente a segurança alimentar humana e as exporta- ções. A ênfase na exploração mineral, nos cultivos de exportação e na extração madeireira também produziu impactos prejudiciais ao meio ambiente. Com a pressão adicional de uma população em crescimento, a África vem apresentando um fraco desem- penho econômico nos últimos vinte e cinco anos. O PIB anual per capita na região subsaariana diminuiu 1% en- tre 1975 e 1999, e a renda também se reduziu (UNDP, 2001). No entanto, 34 países africanos registraram aumentos em suas rendas per capita entre 1994 e 1997, e 18 apresenta- ram uma taxa de crescimento agregado superior a 5% ao ano, o que representa o nível necessário para a redução dos níveis de pobreza (Madavo e Sarbib, 1998). Há espe- culações no sentido de que tais fatos possam estar sina- lizando uma recuperação econômica sustentada, que, em parte, reflete os resultados positivos da implantação de reformas estruturais e do crescimento macroeconômico orientado (Madavo, 2000; Madavo e Sarbib, 1998). Des- de a metade da década de 1990, verifica-se um processo de suspensão ampla do controle sobre os preços, de eli- minação das associações de mercado, de racionalização das taxas de comércio, de liberalização dos mercados fi- nanceiros e de aceleração do processo de privatização (ADB, 2000). A dívidaexterna ainda é uma barreira significati- va para o crescimento econômico e para a redução da pobreza na África. Na região como um todo, a dívida aumentou quase 22 vezes, saltando de US$ 16 bilhões e 960 milhões, em 1971, para US$ 370 bilhões e 727 mi- lhões, em 1999 (World Bank, 2001a). Em 1970, os encar- gos da dívida da África Subsaariana totalizavam so- mente US$ 6 bilhões, ou 11% do PIB; esse valor aumen- tou para US$ 330 bilhões, ou 61% do PIB, em 1999 (ADB, 2000). Desde então, vem ocorrendo um pequeno declínio (World Bank, 2001b). No Norte da África, o crescimento da dívida externa seguiu padrão semelhante. Recente- mente, tem-se dado mais ênfase à amortização da dívida e ao aumento do investimento externo direto (FDI – Foreing Direct Investiment). Embora vinte países afri- canos tenham sido contemplados com a aprovação de seus pacotes para a amortização da dívida, sob a égide da Iniciativa para os Países Pobres Muito Endividados (IMF, 2001), o endividamento permanece como uma questão muito preocupante. Quanto aos avanços tecnológicos, tanto a dissemina- ção quanto o acesso e a adoção da ciência e tecnologia são incipientes no continente africano, em termos ge- rais. A região possui um grande número de países margi- nalizados (como Gana, Quênia, Moçambique, Senegal, Sudão e Tanzânia), onde uma vasta parcela da popula- ção não se beneficia sequer de antigas tecnologias, como, Ciência e tecnologia PIB per capita (US$ 1995) por sub-região: África 43ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS por exemplo, linhas fixas de telefone. Todavia, a Áfri- ca possui vários países que costumam adotar de for- ma dinâmica novas tecnologias, tais como a Argélia, o Egito, a África do Sul, a Tunísia e o Zimbábue, mui- to embora a disseminação de antigas tecnologias ain- da seja lenta e incompleta mesmo nesses países. A região possui dois centros de inovação tecnológica: El Ghazala, na Tunísia, e Gauteng, na África do Sul. No entanto, a maioria dos países africanos não está incluída no Índice de Avanços Tecnológicos – TAI (Technological Achievement Index), e, mesmo a Áfri- ca do Sul, que possui o mais alto índice entre os paí- ses do continente, apresenta um TAI de 0,340, ou seja, menos da metade do valor mais alto, de 0,744, apresentado pela Finlândia (UNDP, 2001). O acesso limitado a tecnologias adequadas a preços acessíveis reprime seriamente as opções de de- senvolvimento sustentável. No setor agrícola, por exemplo, muitos países africanos dependem da irriga- ção e, no entanto, os sistemas mais eficientes de irriga- ção por gotejamento têm um custo muito alto para a maioria dos agricultores, o que resulta em desperdício de água. A África também permanece marginalizada no que diz respeito ao acesso à biotecnologia para produ- ção agrícola, produtos farmacêuticos e prevenção de doenças. As empresas estrangeiras estão aptas a ex- plorar comercialmente espécies biológicas, ao passo que as empresas locais não dispõem de tecnologia, de capital ou de know-how para tal investimento. Todos os países da região possuem conexões para acesso à Internet, com um total aproximado de 4 milhões de usuários (2,5 milhões na África do Sul) – ou um usuário para cada 200 habitantes, enquanto a média mundial é de um usuário para cada 30 habitan- tes (Jensen, 2001). A tecnologia de telefonia celular possibilitou à África superar as limitações estrutu- rais inerentes às comunicações por linhas terrestres. Em 1990, o acesso à telefonia celular era pequeno, ou inexistente, para os países africanos; já em 1999, a tecnologia obteve uma enorme disseminação em to- dos os países – por exemplo, na África do Sul, a dis- ponibilidade saltou de 0,1 por 1.000 habitantes para 132 por 1.000 habitantes (UNDP, 2001). Não obstante a ocorrência de significativas mudanças institucionais e políticas ao longo dos últimos trinta anos, a administração pública “eficiente” ainda é um aspecto parcial e frágil na África. A mudanças mais marcantes foram o fim do colonialismo, a instalação de regimes militares e de partido único na maioria dos países e o aumento da participação de ONGs, das co- munidades de base e de organizações da sociedade civil. A corrupção, contudo, é endêmica em muitos pa- íses. Por exemplo, em uma escala de um a dez, 14 países da região obtiveram classificação abaixo de cinco no quesito índice de corrupção, sendo que 4 desses paí- ses obtiveram um escore inferior a dois (TI, 2001). A crescente escalada de conflitos civis também tem sido uma barreira para a estabilidade, o crescimen- to econômico e o desenvolvimento social nesses últi- mos trinta anos. Tais conflitos, tipicamente surgidos a partir de diferenças étnicas ou sociais, ou a partir da competição pelos recursos naturais, têm resultado em massivos deslocamentos de populações, bem como no desvio de recursos financeiros que deveriam con- templar setores vitais como a saúde e a educação. Aproximadamente um em cada cinco africanos ainda vive em estado de conflito civil (Madavo, 2000). Gestão pública Referências: Capítulo 2, aspectos socioeconômicos, África ADB (2000). ADB Statistics Pocketbook 2001. 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Dos 53 países da região, considera-se que 7 possuem alto nível de desenvolvimento humano,21 nível mé- dio e 5 nível baixo (os demais países, incluindo pe- quenas ilhas do Pacífico Sul, não possuem classifica- ção). As sub-regiões do Noroeste do Pacífico e do Leste Asiático lograram um rápido e sustentado pro- gresso na maioria das áreas do desenvolvimento hu- mano, ao passo que o Sul da Ásia encontra-se em atraso, com níveis ainda altos de pobreza. O PIB per capita (em dólares de 1995) varia de US$ 506 no Sul da Ásia até US$ 4.794 no Noroeste do Pacífico e no Leste Asiático. A expectativa de vida ao nascer au- mentou em toda a região, passando, no Sul da Ásia, de 50 anos, em 1970-1975, para mais de 60 anos, em 1995-2000. No Noroeste do Pacífico e no Leste Asiá- tico, o aumento no mesmo período foi de aproximada- mente 61 anos para cerca de 70 anos. As taxas de alfabetização em adultos também apresentaram cres- cimentos semelhantes, passando de 33% para 55% no Sul da Ásia, no período de 1972 a 1999, e de 55% para 84% no Noroeste do Pacífico e no Leste Asiático (World Bank, 2001). Aspectos socioeconômicos: Ásia e Pacífico Desenvolvimento humano A numerosa população da Ásia e do Pacífico concentra-se em apenas três sub- regiões. Em termos gerais, a velocidade de crescimento diminuiu, alcan- çando a média mundial de 1,3% por ano. Fonte: compilado de United Nations Population Division, 2001 Aproximadamente três quartos da população carente mundial vivem no continente asiático, sendo essa carência particularmente significativa na Índia, em Bangladesh, no Camboja, no Afeganistão, na Re- pública Democrática Popular do Laos, no Nepal e no Paquistão. No Sul da Ásia, 40% da população vive com menos de um dólar ao dia (UNDP, 2001). A carên- cia, no entanto, não é determinada somente por fato- res econômicos. Indicadores convencionais sugerem que muitas populações das ilhas do Pacífico encon- tram-se na linha de pobreza (UNESCAP, 1999) – no entanto, muitas comunidades ainda desfrutam de al- tos graus de subsistência, com base em sistemas não- monetários tradicionais (UNEP, 1999). Para muitos países da região, a pobreza é o resultado de gritantes desigualdades e falhas ins- titucionais que fazem com que os benefícios do cres- cimento econômico sejam usufruídos por uma elite minoritária. Além disso, a urbanização, a mudança para a economia de mercado e o alto crescimento demo- gráfico, sem o devido crescimento do número de opor- tunidades de emprego, compõem o problema. O mes- mo acontece com a exploração excessiva dos recur- sos naturais, que ameaça a viabilidade agrícola e a agricultura de subsistência (UNESCAP, 1999). A população da região cresceu de 2 bilhões e 173 milhões, em 1972, para 3 bilhões e 514 milhões, no ano 2000 (United Nations Population Division, 2001). As taxas de crescimento demográfico decresceram de 2,3%, em 1972, para 1,3% (igual à média mundial), em 2000, embora haja significativas variações sub-regio- nais. Isso pode ser, em parte, atribuído ao declínio dos níveis de fertilidade, que caíram de 5,1 para 2,1 crianças por mulher ao longo das três últimas déca- das (United Nations Population Division, 2001). No entanto, alguns dos países mais populo- sos do mundo encontram-se na região, onde a China e a Índia respondem por 38% da população mundial. A região também abriga cinco dos seis países que, conjuntamente, respondem por metade do crescimen- to demográfico do mundo – Bangladesh, China, Ín- dia, Indonésia e Paquistão (United Nations Population Division, 2001). O alto crescimento demográfico reflete-se nas estruturas populacionais da região. A maioria dos países tem população jovem; 30% da população asi- ática situa-se abaixo dos 15 anos de idade (United Nations Population Division, 2001). Embora isso pos- sa ser visto como uma característica positiva, do ponto Uma população em mudança População (em milhões) por sub-região: Ásia e Pacífico Ásia Central Pacífico Sul Noroeste do Pacífico e Leste Asiático Sudeste da Ásia Austrália e Nova Zelândia Sul da Ásia 45ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS parcela da população que trabalha na indústria cres- ceu de 15% para 21% (ADB, 1997). Na sub-região do Pacífico, o estilo de vida mudou da subsistência para sociedades capitalistas baseadas em fundos financeiros de fomento. O pa- drão de vida para os moradores da região é relativa- mente alto, quando comparado ao de outros países em desenvolvimento. Contudo, existem algumas ten- dências preocupantes, com indicações de aumento de desemprego, particularmente entre jovens, altas taxas de abandono no ensino básico, baixa renda fa- miliar e uma crescente incidência do uso de drogas e da criminalidade (SPC, 1998). Muitas das pequenas e remotas ilhas do Pacífico não possuem nenhum tipo de indústria, enquanto outros países da sub-região possuem pequenas indústrias de processamento de alimentos e bebidas, vestuário e montagem ou repa- ros de pequenos maquinários (UNEP, 1999). A economia agrícola tradicional da região da Ásia e Pacífico está perdendo terreno para o setor de serviços: no período de 1972 a 1999, a contribuição da agricultura com o PIB caiu de 23% para 16%, ao passo que a contribuição do setor de serviços cresceu de 43% para 50%. Fonte: UNEP, Topham Picturepoint de vista da maior disponibilidade de trabalhadores jovens, em algumas sub-regiões, especialmente nas ilhas do Pacífico, isso também tem significativas im- plicações socioeconômicas negativas, particularmen- te no que se refere ao alto índice de desemprego. Ademais, o grande número de jovens que entram na idade produtiva compõe o quadro de pressões exercidas pelo crescimento demográfico. Apesar dos ganhos em termos de expectativa de vida, estima-se que 7,1 milhões de pessoas sejam portadores do vírus HIV na Ásia e no Pacífico (quase 18% do total mundial). Aproximadamente 435 mil mor- tes e mais de um milhão de novos casos foram registrados (UNAIDS, 2001). Nos últimos trinta anos, os países da região vêm se empenhando na busca do desenvolvimento econô- mico e de melhores padrões de vida. No entanto, as taxas de crescimento anual do PIB decresceram de um patamar máximo de 9,76%, em 1970, para 2,54%, em 1999, verificando-se uma queda de 1,04% em 1998, devido à crise econômica asiática (World Bank, 2001). Em termos globais, contudo, a renda per capita (em dólar de 1995) quase dobrou no Noroes- te do Pacífico e no Leste Asiático, alcançando um crescimento médio de 2,4% ao ano entre 1972 e 1999 (ver gráfico na página seguinte). No Sul da Ásia, a taxa de crescimento também excedeu os 2% (compi- lado de World Bank, 2001). Entretanto, o crescimen- to foi muito lento nas ilhas do Pacífico, o que é coe- rente com estudos recentes que indicam um declínio geral dos padrões de vida nos países das ilhas do Pacífico (UNESCAP, 1999). A região da Ásia e Pacífico responde por 41,7% da dívida externa global, o que totaliza US$ 1 trilhão 73 bilhões e 977 milhões em 1999 – um encargo maior que o quíntuplo, se comparado aos US$ 189 bilhões e 968 milhões registrados em 1981 (World Bank, 2001). A estrutura econômica da região mudou subs- tancialmente ao longo dos últimos trinta anos, com a diminuição da importância do setor agrícola e o cres- cimento do setor de serviços. Mesmo no Sul da Ásia, a contribuição da agricultura no PIB caiu de 39% em 1980 para 30% em 1995, enquanto a contribuição do setor de serviços aumentou de 35% para 41% (World Bank, 1997). Essas mudanças estruturais também se refletem no nível de empregos. Em 1960, 75% dos asi- áticos eram empregados na agricultura. Em 1990, esse número caiu para aproximadamente 60%, enquanto a Desenvolvimento econômico 46 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 centros rurais de informação montados em Pondicherry, Índia, que permitem o acesso à Internet por meio de energia solar e elétrica e por meio de sistemas de co- municação sem fio ou fixos. Como resultado, agriculto- res e pescadores podem acessar tudo, desde informa- ções do mercado a imagens de satélite. No entanto, somente 0,4% dos indianos utilizavam a Internet em 2001 (UNDP, 2001). NaChina, a utilização da Internet cresceu quase dez vezes, de 3,9 milhões de usuários, em 1998, para mais de 33 milhões em janeiro de 2002 (UNDP, 2001; CCNIC 2002) – cifra que representa so- mente 2,75% da população total, enquanto mais da metade da população de Hong Kong tem acesso à Internet (UNDP, 2001). Na Índia, a indústria de infor- mação e comunicação gerou aproximadamente US$ 7,7 bilhões em 1999, quinze vezes mais que em 1990, com quase US$ 4 bilhões em exportação (UNDP, 2001). As oportunidades de emprego e desenvolvimento econô- mico associadas oferecem potenciais significativos para a solução do problema da pobreza da região. O cenário otimista em relação ao futuro da Ásia, do início ao meio da década de 1990, foi eclipsado por recentes acontecimentos no Sudeste Asiático e na Coréia. A perda de confiança na região fez com que os seus líderes, a fim de evitar futuros retrocessos na atividade econômica, devotassem mais atenção à ne- cessidade de uma administração eficiente e de um gerenciamento fiscal mais adaptável. Para que os pa- íses voltem a prosperar, os governos e as instituições devem fomentar os mercados novos e os que se en- contram em crescimento, bem como implementar polí- ticas que beneficiem simultaneamente a economia, o meio ambiente e a população. A região conta com, no mínimo, dez centros de inova- ção tecnológica situados na Austrália, na China, na Índia, no Japão, na Malásia, na República da Coréia, em Cingapura e em Taiwan (Hillner, 2000). A Ásia res- ponde por aproximadamente 30% dos gastos globais com pesquisa e desenvolvimento, metade dos quais corresponde somente ao Japão (Unesco, 2000). Em sintonia com o desenvolvimento em outras partes do mundo, a disseminação de novas tecnologias, tais como a Internet e a telefonia celular, vem ocorrendo em níveis sem precedentes, com im- pactos significativos nas vidas das pessoas e em al- gumas economias nacionais, como por exemplo, os Embora a renda na Austrália e na Nova Zelândia seja gigantesca em comparação às outras sub- regiões, nestas houve um crescimento estável, exceto na Ásia Central e nas ilhas do Pacífico Sul. Nota: não se dispõe de dados anteriores a 1984 para a Ásia Central e anteriores a 1981 para o Sul da Ásia. Fonte: estimativa de World Bank, 2001a Referências: Capítulo 2, aspectos socioeconômicos, Asia e Pacífico ADB (1992). Environment and Development: a Pacific Island Perspective. Manila, Asian Development Bank ADB (1997). Emerging Asia – Changes and Challenges. Manila, Asian Development Bank CCNIC (2002). Semiannual Survey Report on the Development of China’s Internet (January 2002). China Internet Network Information Center http://www. cnnic.net.cn/develst/rep200201-e.shtml [Geo-2-290] Hillner, J. (2000). Venture Capitals. Wired, 7 August 2000 SPC (1998). Pacific Island Populations. Noumea, Secretariat of the Pacific Community UNAIDS (2001). AIDS Epidemic Update; December 2001. Joint United Nations Programme on HIV/AIDS (UNAIDS) - http://www.unaids.org/worldaidsday/2001/ Epiupdate2001/Epiupdate2001_en.pdf [Geo-2-291] UNDP (2001). Human Development Report 2001. Oxford and New York, Oxford University Press http://www. undp.org/hdr2001/completenew.pdf [Geo-2-289] UNEP (1999). Pacific Islands Environment Outlook. Nairobi, United Nations Environment Programme UNESCAP (1999). Survey of Pacific Island Economies. Port Vila, UNESCAP, Pacific Operations Centre UNESCO (2000). Facts and Figures 2000 – Science & Technology. UNESCO Institute for Statistics http:// www.uis.unesco.org/en/pub/pub0.htm [Geo-2-292] United Nations Population Division (2001). World Population Prospects 1950-2050 (The 2000 Revision). New York, United Nations - www.un.org/esa/ population/publications/wpp2000/wpp2000h.pdf [Geo- 2-204] World Bank (2001). World Development Indicators 2001. Washington DC, World Bank http://www.worldbank. org/data/wdi2001/pdfs/tab3_8.pdf [Geo-2-024] PIB per capita (US$ 1995) por sub-região: Ásia e Pacífico Gestão públicaCiência e tecnologia Região Austrália e Nova Zelândia Ásia Central Sudeste da Ásia Noroeste do Pacífico e Leste Asiático Sul da Ásia Pacífico Sul 47ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS Os processos políticos, econômicos, sociais e industri- ais resultantes do fortalecimento e da expansão da União Européia (UE), bem como a transição de regimes de pla- nejamento centralizado para sociedades mais abertas e baseadas na economia de mercado, constituem os avan- ços mais importantes ocorridos na Europa nos últimos trinta anos (ver box à direita). Essas mudanças produzi- ram efeitos profundos no desenvolvimento dos vários países envolvidos, tanto nas sub-regiões quanto na re- gião como um todo. Embora as três sub-regiões da Eu- ropa (Ocidental, Central e Leste) apresentem similarida- des, existem diferenças em função de eventos recentes e históricos, que resultaram na heterogeneidade políti- ca, econômica e social da região. Após a queda do comunismo, no final da déca- da de 1980, uma nova era de cooperação pan-européia, voltada às questões ambientais, teve início no âmbito da infra-estrutura do processo denominado como “Meio Ambiente para a Europa” – EfE (Environment for Europe). Essa ampla agenda política incluía a meta de apoiar e fortalecer a democratização, que gradualmente transformou países sob o regime do socialismo de esta- do em países pós-comunistas (ver box à direita). Toda- via, durante os preparativos para a Convenção de Aarhus, na década de 1990, percebeu-se claramente que os direitos e a participação do povo permaneciam como um objetivo vago, tanto em muitas das democracias ocidentais já estabelecidas quanto na Europa Central e no Leste Europeu (REC, 1998). A Europa é uma região onde predominam níveis de de- senvolvimento humano de alto a médio (UNDP, 2001). Entretanto, embora o nível global continue a aumentar gradualmente em toda a Europa Ocidental e em partes da Europa Central, muitos países do Leste Europeu têm, desde o início do processo de transição, sofrido diver- sos retrocessos, incluindo aumento nos níveis de ca- rência relacionados exclusivamente à baixa renda. Tradicionalmente, a região apresenta altos ín- dices de alfabetização em adultos, estimados em 95% em toda a região, embora essas taxas tendam a ser ligeiramente mais baixas em algumas partes do sul da Europa Ocidental (Unesco, 1998). Em vários países da Europa Central e do Leste Europeu (Moldávia, Romênia, Federação Russa e Ucrânia), metade, ou mais, da população possuía ren- da abaixo da linha de pobreza oficial, no período de 1989 a 1995 (UNDP, 1999a). O empobrecimento resul- ta em uma brutal queda nos salários reais e no PIB per capita, em altas taxas de inflação, assim como no au- mento da desigualdade de rendas – inclusive entre homens e mulheres, sendo estas, geralmente, as pri- meiras a perderem os seus empregos. Os preços rela- tivos também mudaram, sendo que os preços de bens e serviços necessários à população pobre geralmen- te aumentaram de forma mais rápida que outros (UN, 2000a). Embora o problema da baixa renda seja mais claramente disseminado e grave no Leste Europeu, o fenômeno não é desconhecido na Europa Ocidental, onde um número estimado em 17% da população da União Européia (exceto Finlândia e Suécia) ainda vive em situação de carência. A vulnerabilidade à carência é mais generalizada: 32% dos europeus passam por pelo menos um período anual de baixa renda a cada três anos, enquanto 7% vivem em estado de carência constante durante esse mesmo período (EC, 2001). Os custos humanos do processo de transição foram além da carência de renda. Em toda a Europa, a expectativa de vida aumentou no período de 1995 a 2000, se comparado ao período de 1975 a 1980, ou seja, de 70,3 Desenvolvimento humano Aspectos socioeconômicos: Europa Para os dez países da Europa Central e do Leste Europeu que se candidataram a aderir à União Européia (Países Candidatos à adesão), a filiação significa um meio de alcançar a estabilidade após as mudanças resultantes do processo de transição por que passaram,assim como para acelerar o desenvolvimento econômico. Para todos os treze Países Can- didatos, aderir a União Européia (UE) implica enormes desafios de ordem política e econômica, incluindo harmonização de legislações e institui- ções às exigências da UE. Tanto a UE quanto os Países Candidatos encon- tram-se em transição para formas mais sustentáveis de desenvol- vimento, porém em estágios diferentes. Nota: no início de 2002, os Países Candidatos eram: Bulgária, Chipre, República Checa, Estônia, Hungria, Letônia, Malta, Polônia, Romênia, Eslováquia, Eslovênia e Turquia. O crescimento da União Européia A informação, a participação e o acesso à justiça são elementos es- senciais a uma democracia verdadeiramente participativa. Esses te- mas, portanto, tornaram-se elementos centrais no processo do Meio Ambiente para a Europa EfE, resultando no endosso das Diretrizes de Sófia, em 1975; na adoção da Convenção sobre o Acesso à Informação e à Participação Pública nos Processos de Tomada de Decisões; e no Acesso à Justiça nas Questões Ambientais (Convenção de Aarhus), du- rante a Convenção Ministerial Européia sobre o Meio Ambiente, rea- lizada em Aarhus, Dinamarca, em 1998. A Convenção de Aarhus baseava-se na noção de que o en- volvimento público no processo de tomada de decisões, notadamente por intermédio das autoridades públicas, tende a melhorar a qualidade e a implementação das decisões finais. Ele garante o direito à infor- mação, à participação e à justiça no contexto da proteção dos direitos das gerações presentes e futuras de viver em um ambiente adequado à sua saúde e ao seu bem-estar. Disponibilidade e acesso à informação ambiental 48 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 relação padrão. As causas dessa “questão dos homens desaparecidos” são múltiplas e complexas, mas se origi- nam principalmente na falta de segurança humana: con- flitos militares, saúde deficiente, desemprego, perda de pensões e corrupção, tudo isso resultando em desinte- gração social e baixa qualidade de vida (UNDP, 1999b). O desmantelamento do sistema social da era co- munista também levou à desintegração social e a desi- gualdades na prestação de serviços sociais nos países da Europa Central e do Leste Europeu. Esse declínio foi associado à proliferação de fraudes, de negócios ilegais e do crime organizado (UNDP, 1999b). Em marcante con- traste com as condições anteriores à transição, a popu- lação agora se encontra privada de proteção e seguran- ça, estando freqüentemente à mercê de forças do crime organizado que surgiu em conluio com funcionários corruptos do governo. O aumento nos índices de criminalidade revela a fraqueza na autoridade do poder público e na aplicação das leis. A população da Europa aumentou em 100 milhões des- de 1972, perfazendo um total de 818 milhões em 2000, o que corresponde a 13,5% da população mundial (ver gráfico). A mudança mais significativa que atualmente ocorre na maioria da região é o envelhecimento da po- pulação em virtude das baixas taxas de fertilidade e do aumento da expectativa de vida. As taxas de fertilidade caíram de 2,3 para 1,4 criança por mulher nos últimos trinta anos e situam-se abaixo de 1,1 criança por mulher na Armênia, na Bulgária e na Letônia, muito abaixo do índice de 2,1 crianças por mulher, necessário para man- ter estáveis os níveis populacionais (United Nations Population Division, 2001). Outra tendência que deve permanecer, e que re- presenta um enorme desafio para a região, é a dos movi- mentos populacionais em toda a Europa. Esses movi- mentos estão relacionados tanto a conflitos (pessoas em busca de asilo, pessoas desalojadas e refugiados, incluindo migrações transitórias originárias dos países em desenvolvimento) quanto à busca por melhores re- munerações (UNECE e outros, 1999; UNDP, 1999b). As economias da Europa Ocidental haviam se recupera- do da recessão do início da década de 1990 e cresciam a taxas aproximadas de 2,5% ao ano, no final do ano 2000 (UN, 2000a). Um importante fator foi a criação do merca- do único. Tendo iniciado com a criação do Sistema Monetário Europeu, em 1979, a conclusão do Mercado para 73,1 anos, respectivamente (ambos os sexos, da- dos compilados de United Nations Population Division, 2001). No entanto, em alguns países do Leste Europeu, a expectativa de vida decresceu durante o mesmo perío- do, particularmente a dos homens – por exemplo, de 62 para 58 anos na Federação Russa e de 65 para 64 na Ucrânia (UNDP, 1999b). Além disso, em muitos países da Europa Central e do Leste Europeu (Bielo-Rússia, Estônia, Letônia, Federação Russa e Ucrânia), a relação de homens para mulheres encontra-se muito abaixo da Uma população em mudança A população da Europa aumentou em 100 milhões desde 1972, mas atualmente as taxas de fertilidade caíram a níveis inferiores aos necessários à estabilidade da população em muitos países. Fonte: compilado de United Nations Population Division, 2001 Desenvolvimento econômico Embora o PIB per capita tenha crescido de forma estável na Europa Ocidental, e, portanto, na região como um todo, há nítidos contrastes com os níveis de PIB per capita na Europa Central e no Leste Europeu. Nota: os dados para a Europa Central e para o Leste Europeu anteriores a 1989 não são confiáveis. Fonte: estimativas de World Bank, 2001 População (em milhões) por sub-região: Europa PIB per capita (US$ 1995) por sub-região: Europa Leste Europeu Europa Ocidental Europa Central Europa OcidentalRegião Europa Central Leste Europeu 49ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS por cerca de 30% dos gastos globais com pesquisa e desenvolvimento, situando-se logo após a América do Norte e equiparando-se à região da Ásia e Pacífico (Unesco, 2001). O crescimento das tecnologias de in- formação e comunicação, particularmente da Internet, ligando milhões de lares e postos de trabalhos euro- peus é provavelmente o mais formidável avanço tecnológico ocorrido nos últimos trinta anos. O número de usuários da Internet cresceu 250% entre 1998 e 2000, passando de 539 em cada 10 mil habitantes para 1.366 em cada 10 mil habitantes (ITU, 2002), embora esses dados mascarem diferenças regionais distintas. A Agência Espacial Européia e o Canadá lança- ram, no início de 2002, o satélite ambiental Envisat, com a finalidade de monitorar a saúde do planeta por meio da coleta de dados sobre mudanças ocorridas no solo, nos oceanos, nas calotas de gelo e na atmosfera da Terra. Comum Europeu se efetivou em 1993, e a União Mone- tária Européia tornou-se uma realidade para 300 milhões de pessoas nos 12 países da União Européia, com o lançamento do euro em 1º de janeiro de 2002. A moeda deverá ser um instrumento de estabilidade econômica e crescimento em toda a Europa, fortalecendo o cresci- mento econômico e a política de cooperação na região. O PIB per capita (calculado em dólares constan- tes de 1995) cresceu em níveis estáveis em toda a região, de aproximadamente US$ 9 mil em 1972 para uma média de US$ 13.500 em 1999 (ver gráfico na página ao lado). No entanto, existem diferenças sub-regionais importantes, com variações que vão desde US$ 25.441 na Europa Oci- dental, em 1999, até US$ 3.139 na Europa Central e US$ 1.771 no Leste Europeu (compilado de World Bank, 2001). Entre 1980 e 1999, o PIB real decresceu em 14 países da Europa Central e do Leste Europeu, sendo que o decrés- cimo foi de mais de 50% em quatro países – Geórgia, Moldávia, Ucrânia e Iugoslávia (UN, 2000a). O consumo médio per capita aumentou em ní- veis estáveis na Europa Ocidental, ao ritmo médio de 2,3% ao ano nos últimos vinte e cinco anos (UN, 2000b). O consumo em alguns países da Europa Central e do Leste Europeu recentemente começou a crescer, à medi- da que parte da população obteve um aumento em seu poder de compra, particularmente na Polônia (com um aumento de 65% desde 1991), na Hungria e na Eslovênia (UN, 2000b). A Europa é líder em desenvolvimento e uso de tecnologias. A região possui, no mínimo, 19 centros de inovação tecnológica, liderados pela Suécia
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