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AULA 6 TECNOLOGIAS ASSISTIVAS Profª Simone Schemberg 2 INTRODUÇÃO Caro aluno, como você tem percebido até aqui, o contexto das Tecnologias Assistivas (TA) é repleto de possibilidades. A capacidade do ser humano de buscar alternativas e maneiras de adaptar-se a novas situações pode ser percebida quando caminhos indiretos são utilizados para a superação das limitações. É assim que se configuram os recursos de Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA), uma área das TA que traz meios possibilitadores de interação, acessibilidade, inclusão e equiparação de oportunidades. Assim, o conhecimento acerca dessa área e dos recursos disponíveis e possíveis é fundamental no processo de inclusão e desenvolvimento de sujeitos com dificuldades na comunicação, considerando ainda que esta é um aspecto fundamental no desenvolvimento cognitivo. Além disso, é primordial reconhecer a necessidade de planejar estratégias que ofereçam oportunidades de comunicação, promovendo a autonomia e a inclusão, a começar pelo meio escolar, visando à inserção social nos diversos contextos sociais (família, sociedade, trabalho). CONTEXTUALIZANDO Comunicar-se das mais diversas maneiras é o que possibilita nossa constituição como sujeitos. Tudo que aprendemos, conceituamos e construímos parte de uma comunicação inicial, sobretudo por meio da nossa língua, o que está relacionado ao desenvolvimento cognitivo. Assim, quando pensamos nos obstáculos e nas limitações nesse contexto, podemos refletir o quanto a aprendizagem, o desenvolvimento cognitivo e a interação social estarão comprometidos pela falta de interação a partir da linguagem. Pensando nos sujeitos que, por algum motivo, não desenvolvem a fala é que os recursos de comunicação alternativa surgem como possibilidades de acesso à comunicação, à interação e à inclusão. 3 TEMA 1 – PENSANDO SOBRE OS CONTEXTOS DA COMUNICAÇÃO Que tal parar para pensar sobre aquelas pessoas que, por algum motivo, não tiveram o desenvolvimento da fala? Quais suas possibilidades de comunicação? Aliás, nos comunicamos somente pela fala? Quando nos referimos à comunicação, podemos relacionar os diversos signos que nos passam ideias, conceitos e sentidos. Para França (2005, p. 39), comunicar é um “processo social básico de produção e partilhamento do sentido através da materialização de formas simbólicas.”. Isso significa que tudo que simboliza algo é uma forma de comunicação: um olhar pode comunicar, assim como um gesto, um desenho etc., mas é por meio da nossa língua que estabelecemos grande parte dos contextos comunicativos, principalmente pela modalidade falada, que é predominante na nossa sociedade. A interação verbal ocupa lugar privilegiado nas interações sociais, como já defendido pelo filósofo da linguagem Mikhail Bakhtin, pois é por meio da enunciação que expomos ideias, argumentamos, ordenamos, questionamos, dialogamos, enfim, estabelecemos sentidos na nossa comunicação com o outro. Para nos apropriarmos das ideias de Bakhtin em torno da interação verbal, vamos refletir sobre esse conceito, já pensando nos contextos que envolvem a comunicação humana: Qualquer enunciação, por mais significativa e completa que seja, constitui apenas uma fração de uma corrente de comunicação verbal ininterrupta (concernente à vida cotidiana, à literatura, ao conhecimento, à política, etc.). Mas essa comunicação verbal ininterrupta constitui, por sua vez, apenas um momento na evolução contínua, em todas as direções, de um grupo social determinado. Um importante problema decorre daí: o estudo das relações entre a interação concreta e a situação extralinguística – não só a situação imediata, mas também, através dela, o contexto social mais amplo. Essas relações tomam formas diversas, e os diversos elementos da situação recebem, em ligação com uma ou outra forma, uma significação diferente (assim, os elos que se estabelecem com os diferentes elementos de uma situação de comunicação artística diferem dos de uma comunicação científica). A comunicação verbal não poderá jamais ser compreendida e explicada fora desse vínculo com a situação concreta. A comunicação verbal entrelaça-se inextricavelmente aos outros tipos de comunicação e cresce com eles sobre o terreno comum da situação de produção. Não se pode, evidentemente, isolar a comunicação verbal dessa comunicação global em perpétua evolução. Graças a esse vínculo concreto com a situação, a comunicação verbal é sempre acompanhada por atos sociais de caráter não verbal (gestos do trabalho, atos simbólicos de um ritual, cerimônias, etc.), dos quais ela é muitas vezes apenas o complemento, desempenhando um papel meramente auxiliar (Bakhtin, 1986, p. 91). 4 Podemos, então, atribuir às interações verbais, que se dão por meio da comunicação, papel fundamental na construção de significados e conceitos, manifestando-se em nossa língua. Se você já conheceu um pouco sobre a área da surdez, observou que os surdos fazem uso da Língua de Sinais (no Brasil, Língua Brasileira de Sinais – Libras) para se comunicar, ou seja, há uma língua a ser compartilhada que promove a interação. Mas e no caso de outras deficiências que afetam a capacidade linguística, como, por exemplo, a paralisia cerebral, os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD), além de outros transtornos da linguagem, ou até mesmo de uma sequela como as ocasionadas por Acidente Vascular Cerebral (AVC)? É possível alguma forma de comunicação? Mais que isso, como é possível que se estabeleça a interação para a constituição do desenvolvimento como sujeito social? É assim que se pode referir os meios culturais artificiais produzidos pelo homem, como é o caso dos recursos de CAA, que surgem como forma de possibilitar a interação, a comunicação e um lugar social aos sujeitos que, por algum motivo, não podem desenvolver a fala. TEMA 2 – COMUNICAÇÃO, LINGUAGEM E DESENVOLVIMENTO Antes de tratarmos da CAA, é importante pensarmos sobre os termos comunicação e interação linguística, conforme ilustrado na Figura 1: Figura 1 – Comunicação x interação linguística Créditos: Vladgrin/Shutterstock. 5 Ao discutir as funções da linguagem, é possível atribuir função comunicativa e função cognitiva. Como afirma Vigotsky (2001, p. 12), “para comunicar alguma vivência ou algum conteúdo da consciência a outra pessoa não há outro caminho a não ser a inserção desse conteúdo numa determinada classe, em um grupo de fenômenos, e isto, como sabemos, requer necessariamente generalização.”. Ou seja, comunicar implica atribuir significado a algo. Quando falamos em generalização, referimo-nos aos conceitos que estabelecemos na comunicação. No entanto, posso me comunicar de diversas formas, mas só posso interagir linguisticamente por meio da linguagem estruturada, isto é, da língua. Assim, a aquisição de conceitos é fundamental e os sentidos na comunicação, que permitem a interação, só são possíveis conforme ocorrem as relações com o outro e a evolução dessas relações. Vigotsky tratou de discutir a diferença entre significado e sentido, o que nos faz repensar o trabalho com a linguagem. Vamos considerar um exemplo prático: no ensino, quando se trabalha com o significado de uma palavra, fora de uma prática social de seu uso, não se estará trazendo os sentidos para ela/dela. O significado por si só é estável, enquanto o sentido é instável e dinâmico. Um mesmo significado pode ter vários sentidos: Em contextos diferentes [sic] a palavra muda facilmente de sentido. O significado, ao contrário, é um ponto imóvel e imutável que permanece estável em todas as mudanças de sentido da palavra em diferentes contextos. Foi essa mudança de sentido que conseguimos estabelecer como fato fundamental na análise semânticada linguagem. (Vigotsky, citado por Barros et al., 2009, p. 179) Então, assim como defendem Barros et al. (2009, p. 179), “O ‘sentido’ se produziria nas práticas sociais, através da articulação dialética da história de constituição do mundo psicológico com a experiência atual do sujeito.”. Isso justifica os aspectos de contexto, cultura e sociedade defendidos atualmente em relação ao ensino, pensando para além do significado por si só. É por isso que, ao tratar dos recursos de CAA, é importante que estes estejam inseridos em um contexto, para que se possa dar sentidos, além do significado do que se pretende comunicar, levando em conta os contextos em que estarão sendo utilizados. Essa perspectiva implica dizer que o profissional deve se atentar às formas de uso dessa tecnologia, considerando contextos significativos, e não propostas isoladas e sem função. Ou seja, inserir o uso desses recursos em práticas de uso 6 social, partindo de situações de uso real, para que a comunicação possa se estabelecer, também, em contextos significativos e de interação. Outro ponto a ser considerado no desenvolvimento é a mediação. Quando abordamos as diversas tecnologias, estas também serão mediadoras da linguagem e, consequentemente, da aprendizagem. Entretanto, os outros mediadores, os pais, o professor ou outros profissionais, atuarão como sujeitos determinantes na construção dos sentidos por meio da mediação. TEMA 3 – DÉFICITS NA COMUNICAÇÃO Os déficits na comunicação podem ser ocasionados por diversos fatores: deficiência, como deficiência motora da fala; transtornos, como é o caso do espectro autista; lesões cerebrais, quando ocorre um AVC, que afeta a área da linguagem; e distúrbios de linguagem, como a dislexia. Esses déficits podem ou não acarretar comprometimento linguístico, sendo de maior ou menor grau. Uma pessoa pode apresentar um déficit na fala, mas ter uma língua constituída, enquanto outras podem ter comprometimento num nível linguístico mais amplo, na aquisição da língua. Vejamos como um déficit pode se manifestar em um desses casos: Em relação à área de Linguagem e Comunicação, o autismo apresenta diversos déficits, seja na comunicação não verbal, com ausência, por exemplo, de intercâmbios corporais expressivos, seja na comunicação verbal, com a falta de intercâmbios coloquiais, falas não ajustadas ao contexto, repetitivas ou ecolálicas como exemplos mais recorrentes. Para Jordan e Powell (1995), os elementos da fala de um sujeito com autismo que a tornam estranha, não produtiva, monótona e com entonação não usual são: a) a dificuldade de utilizar os pronomes adequadamente, especialmente na inversão pronominal; b) a repetição de perguntas que já foram respondidas ou de frases prontas, num processo ecolálico mediato; c) o entendimento literal de metáforas ou gírias idiomáticas e d) a dificuldade no uso das abreviações predicativas. [...] pessoas com autismo se comunicam e utilizam a linguagem de forma peculiar, não somente com relação à sintaxe e à gramática, que em geral quando adquiridas são utilizadas corretamente, mas com relação à semântica e à pragmática da comunicação. Nesses casos, sistemas de comunicação alternativa podem auxiliar os sujeitos com autismo a desenvolver uma comunicação significativa. [...] Dado o impacto que o desenvolvimento da linguagem tem na formação humana, sujeitos que apresentam déficits na comunicação podem se beneficiar muito com o uso de sistemas de CA, extrapolando o caráter meramente instrumental, com enfoque no desenvolvimento de habilidades para uso intencional de símbolos linguísticos que auxiliem na comunicação verbal. (Passerino; Bez, 2015, p. 24-30-31) É diante desses déficits que os recursos de CAA irão atuar para possibilitar a comunicação. 7 TEMA 4 – COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA: CONCEITO A comunicação alternativa faz parte da área de TA, de modo a complementar, suplementar ou proporcionar meios para que ocorra a comunicação por meio de ajudas técnicas. Assim, tem como foco possibilitar alternativas para que os sujeitos com déficits na comunicação possam desenvolver autonomia frente às situações de interação social. Nesse sentido, a comunicação alternativa é o “conjunto de procedimentos técnicos e metodológicos direcionado a pessoas acometidas por alguma doença, deficiência, ou alguma outra situação momentânea que impede a comunicação com as demais pessoas por meio dos recursos usualmente utilizados, mais especificamente a fala.” (Manzini; Deliberato, 2006, p. 4). Visa, então: compensar as perdas e facilitar, permanentemente ou não, danos ou incapacidades de indivíduos com perturbações expressivas de compreensão e comunicação (gestual, falada e / ou escrita). É uma área de pesquisa clínica, educacional e prática, e, acima de tudo, um conjunto de procedimentos e processos que visam maximizar a comunicação, complementando ou substituindo a fala e/ou a escrita (Cesa; Mota, 2015, p. 264, tradução nossa). Portanto, tem o intuito de ampliar ou, em muitos casos, possibilitar a comunicação, de modo a utilizar recursos que proporcionem autonomia ao sujeito, levando em conta o desenvolvimento das habilidades comunicativas relacionados tanto à fala quanto à escrita. A área da tecnologia assistiva que se destina especificamente à ampliação de habilidades de comunicação é denominada de Comunicação Alternativa (CA). A comunicação alternativa destina-se a pessoas sem fala ou sem escrita funcional ou em defasagem entre sua necessidade comunicativa e sua habilidade de falar e/ou escrever. A CA pode acontecer sem auxílios externos e, neste caso, ela valoriza a expressão do sujeito, a partir de outros canais de comunicação diferentes da fala: gestos, sons, expressões faciais e corporais podem ser utilizados e identificados socialmente para manifestar desejos, necessidades, opiniões, posicionamentos, tais como: sim, não, olá, tchau, banheiro, estou bem, sinto dor, quero (determinada coisa para a qual estou apontando), estou com fome e outros conteúdos de comunicação necessários no cotidiano. (O que..., [S.d.], grifo do original) Convém esclarecer os termos que podemos encontrar nessa área aqui no Brasil: alternativa, suplementar ou ampliada/aumentativa. Eles estão relacionados à função que os recursos assumem – alternativa, quando não há outra forma de comunicação; suplementar ou ampliada, quando a forma de comunicação utilizada é insuficiente. Podem dividir-se em apoiada e não apoiada, conforme explicado no Quadro 1: 8 Quadro 1 – Comunicação alternativa/suplementar/ampliada/aumentativa apoiada e não apoiada APOIADA NÃO APOIADA Modos de comunicação com expressão linguística na forma física e fora do corpo do usuário Expressões próprias do sujeito Objetos reais, miniaturas de objetos, pranchas de comunicação, sistemas computadorizados Expressão facial, sinais, manuais, movimentos, gestos, piscar de olhos Recursos adaptados Quanto aos elementos necessários na comunicação alternativa, Browing (citado por Santarosa, 2010, p. 322) aponta os seguintes: “Símbolos: gestos, vocalização, sinais, fotos, imagens; Recursos: prancha, álbum, software, vocalizador, preditores de texto, etc; Técnicas: apontar, acompanhar, segurar, escanear, etc.; Estratégias: uso em histórias de faz de conta, brincadeira, imitações etc.”. TEMA 5 – COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA: TIPOS Quando falamos em tecnologias, logo pensamos em recursos altamente desenvolvidos ou industrializados. Porém, como você já pôde perceber, as tecnologias estão relacionadas com os artefatos culturais produzidos para solucionar problemas e proporcionar melhor qualidade de vida, que vão desde aqueles mais simples, como uma roda, até os mais sofisticados, como um aparelho celular. Isso também acontece com os recursos de CAA, que podem ser mais simples, como uma ficha produzida manualmentepara estabelecer a comunicação, ou mesmo um programa de computador. O uso da comunicação alternativa dependerá da necessidade específica do sujeito. 9 Assim, os tipos de comunicação alternativa dividem-se em recursos de baixa tecnologia e de alta tecnologia. 5.1 Recursos de baixa tecnologia Os recursos de baixa tecnologia dizem respeito àqueles com caráter de confecção caseira. Podem ser produzidos a partir do uso de fotografias, desenhos e imagens, ou mesmo confeccionados em papel ou cartolina. Como exemplo temos as Pictures Exchange Communication Sistem (Pecs), um sistema de comunicação por meio de trocas de figuras. Vejamos como esse sistema funciona: PECS* - Sistema de comunicação através da troca de figuras O PECS foi desenvolvido para ajudar crianças e adultos com autismo e com outros distúrbios de desenvolvimento a adquirir habilidades de comunicação. O sistema é utilizado primeiramente com indivíduos que não se comunicam ou que possuem comunicação [sic] mas a utilizam com baixa eficiência. O nome PECS significa “sistema de comunicação através da troca de figuras”, e sua implementação consiste, basicamente, na aplicação de uma sequência de seis passos. O PECS visa ajudar a criança a perceber que através da comunicação ela pode conseguir muito mais rapidamente as coisas que deseja, estimulando-a assim a comunicar-se, e muito provavelmente a diminuir drasticamente problemas de conduta. Tem sido bem aceito em vários lugares do mundo, pois não demanda materiais complexos ou caros, é relativamente fácil de aprender, pode ser aplicado em qualquer lugar e quando bem aplicado apresenta resultados inquestionáveis na comunicação através de cartões em crianças que não falam, e na organização da linguagem verbal em crianças que falam, mas que precisam organizar esta linguagem. (Mello, 2007, p. 39) A seguir, temos exemplos de pranchas que foram produzidas no contexto da Sala de Recursos Multifuncional, no Atendimento Educacional Especializado (AEE) para alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) – Figuras 2, 3 e 4. Observe que, na Figura 2, focou-se a comunicação em torno da rotina da criança, de forma que, ao apontar, pode manifestar seu desejo. 10 Figura 2 – Prancha de comunicação produzida por profissional da Sala de Recursos Multifuncionais no AEE para aluno com TEA Crédito: Simone Schemberg. Figura 3 – Criança utilizando a PEC para estabelecer a comunicação Crédito: Simone Schemberg. 11 Figura 4 – Aluno confeccionando sua própria PEC Crédito: Simone Schemberg. Já neste outro modelo ilustrado na Figura 5, foram coletadas imagens da internet para a produção da PEC: Figura 5 – PEC produzida com imagens coletadas na internet Crédito: Shutterstock. 12 Cabe destacar que devem ser estabelecidos objetivos prévios para a produção de uma PEC, tendo em vista o que se pretende focar e desenvolver na comunicação, sempre dentro de contextos significativos de uso da linguagem. Como você pôde verificar, é possível, a partir da percepção acerca da necessidade específica da criança, produzir recursos com baixo custo para efetivar a comunicação. Vale lembrar que o intuito é promover a autonomia, ou seja, deve-se mediar a aprendizagem do sujeito acerca do uso desses recursos com funcionalidade, estendendo-se para contextos além do ambiente escolar, como o familiar, atendimentos psicopedagógicos, entre outros. 5.2 Recursos de alta tecnologia Quanto aos recursos de CAA de alta tecnologia, temos os softwares e teclados especiais, que podem ser utilizados de diferentes formas. Em sua maioria, têm custos e são importados, porém, alguns podem ser encontrados de forma gratuita e com produção nacional. De acordo com Garcia e Fernandez (citados por Santarosa, 2010), há pelo menos três propostas de programas, que visam o desenvolvimento de estratégias linguísticas, o desenvolvimento da fala e o desenvolvimento para aprendizagem de outros sistemas de comunicação. Os programas para o desenvolvimento de estratégias linguísticas são de caráter educativo, adaptados às necessidades da criança, e permitem a aprendizagem individualizada. Um exemplo são os softwares educacionais com atividades de alfabetização, tarefas de associação, leitura e escrita. Dica de estudo Explore os softwares educativos da Turma da Mônica (disponível em <http://www.sitededicas.com.br/software_jogo_memoria.htm>) e HagaQuê (disponível na página <http://www.nied.unicamp.br/?q=content/hag%C3%A1qu%C3%AA>). Quanto aos programas para o desenvolvimento da fala, existem os sintetizadores de voz, como leitores de tela e equipamentos portáteis especiais, chamados vocalizadores. Um exemplo são as pranchas disponíveis como aplicativos de celular, as quais, quando acionadas, reproduzem os nomes do que se selecionou (Figura 6). 13 Figura 6 – Screenshot de uma tela do aplicativo Let Me Talk em execução O Let Me Talk é um aplicativo gratuito para celular que apoia a comunicação e vocaliza as informações requeridas pelo sujeito. Para conhecê-lo melhor, que tal instalá-lo no seu aparelho celular (está disponível em <www.letmetalk.info>) e explorá-lo? Além desse, há outros aplicativos disponíveis, então vale fazer uma busca e refletir sobre as diferentes possibilidades de uso. Os programas de desenvolvimento para aprendizagem de outros sistemas de comunicação estão relacionados à CAA propriamente dita e envolvem a combinação de símbolos para estabelecer a comunicação. Um exemplo são os softwares para a produção de pranchas de comunicação, como o Boardmaker (Figura 7). 14 Figura 7 – Boardmaker De acordo com o Manual do Usuário (Mayer-Johnson, 2011), trata-se de um “programa de desenho combinado com uma base de dados gráficos que apresenta mais de 4.500 Símbolos de Comunicação Pictórica (Picture Communication Symbols – PCS).”. É importante ter em mente que o uso desses recursos deve ser ampliado para além do contexto escolar, estendendo-se ao âmbito familiar, laboral, enfim, aos diversos contextos sociais. Para isso, o trabalho em rede é fundamental: família e escola devem estar em harmonia. Além disso, conforme pontuado por Santarosa (2010, p. 336), é preciso “planejar estratégias adequadas para implantar um sistema de CAA que realmente ofereça oportunidade de comunicação”, daí importância de os profissionais envolvidos conhecerem profundamente essa área e saberem aplicar os recursos de forma competente e funcional. 15 FINALIZANDO Recapitulando o que vimos nesta aula, os recursos de CAA oferecem a oportunidade aos sujeitos com limitações na comunicação quanto à autonomia, à interação, à aprendizagem e à inclusão. Entretanto, devem estender-se a outros meios sociais, além da escola. Os sistemas de CAA devem: • fazer parte do cotidiano; • partir das necessidades específicas de cada sujeito; • partir de um planejamento e ter objetivos claros; • propiciar o desenvolvimento das potencialidades; • ampliar as possibilidades, não encerrando-se em si só, mas visando à capacidade de desenvolvimento. Saiba mais Texto de abordagem teórica PASSERINO, L. M.; BEZ, M. R. Sobre comunicação e linguagem. In: _____. Comunicação Alternativa: mediação para uma inclusão social a partir do Scala. Passo Fundo: Editora de Passo Fundo, 2015. p. 20-33. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/teias/wp- content/uploads/2018/04/Comunicao_alternativa_SCALA_PDF.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2021. Texto de abordagem prática MANZINI, E. J.; DELIBERATO, D. Portal de ajudas técnicas para educação – equipamento e material pedagógico especial para educação, capacitação e recreação da pessoa com deficiência física: recursos para comunicação alternativa. 2. ed. Brasília: MEC; SEESP, 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ajudas_tec.pdf>. Acessoem: 6 jul. 2018. Saiba mais Para refletir sobre os déficits na comunicação e as possibilidades de desenvolvimento da linguagem a partir de outros recursos, assista ao filme 16 indicado abaixo, observando atentamente os aspectos da mediação e o desenvolvimento das potencialidades por meio do desenvolvimento cultural. O ESCAFANDRO e a Borboleta. Direção: Julian Schnabel. EUA; França: 2007. 111 min. Seguem também algumas sugestões de site sobre o assunto: ASSISTIVA TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO. Disponível em: <http://www.assistiva.com.br/ca.html>. Acesso em: 6 jul. 2018. SCALA. Disponível em: <http://scala.ufrgs.br/siteScala/projeto/?q=node/9>. Acesso em: 10 ago. 2021. 17 REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. (V. N. Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do Modelo Sociológico na Ciência da Linguagem. Tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira com a colaboração de Lúcia Teixeira Wisnik e Carlos Henrique D. Chagas Cruz. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1986. BARROS, J. P. P. et al. O conceito de “sentido” em Vygotsky: considerações epistemológicas e suas implicações para a investigação psicológica. Psicologia & Sociedade, Florianópolis, v. 21, n. 2, p. 174-181, ago. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 71822009000200004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 6 jul. 2018. CESA, C. C.; MOTA, H. B. Augmentative ane alternative communication: scene of brazilian journal. Revista CEFAC, São Paulo, v. 17, n. 1, p. 264-269, jan./fev. 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v17n1/en_1982-0216-rcefac-17- 01-00264.pdf>. Acesso em: 6 jul. 2018. FRANÇA, V. V. O objeto da comunicação/a comunicação como objeto. In: HOHLFELT, A.; MARTINO, L. C.; FRANÇA, V. V. (Org.). Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2005. p. 39-60. MANZINI, E. J.; DELIBERATO, D. Portal de ajudas técnicas para educação – equipamento e material pedagógico especial para educação, capacitação e recreação da pessoa com deficiência física: recursos para comunicação alternativa. 2. ed. Brasília: MEC; SEESP, 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ajudas_tec.pdf>. Acesso em: 6 jul. 2018. MAYER-JOHNSON. Família de Programas Boardmaker – Manual do Usuário. 2011. 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Disponível em: <https://www.shutterstock.com/image-vector/communication-personpeople-talk- think-87113380>. Acesso em: 9 jul. 2018.
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