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GESTÃO EMPREENDEDORA E INOVAÇÃO Marcia Maria da Graça Costa , 2 4 INOVAÇÃO E TECNOLOGIA Inovação e tecnologia são, no ambiente atual, os combustíveis que movimentam a economia. Ao longo de vários séculos, o capital e a mão de obra eram os fatores considerados como elementos centrais para o crescimento econômico, enquanto o conhecimento e o capital intelectual ocupavam papel de coadjuvantes. Essa nova economia é baseada no uso intensivo de conhecimentos para criação de bem-estar social, como mostra o quadro de Mattos e Guimarães (2012). Quadro 4.1 – Comparação entre a velha e a nova economia Fonte: Mattos e Guimarães (2012, p. 30-31). , 3 Enquanto na era industrial os avanços foram conquistados com a mecanização, que substituiu a mão de obra por máquinas, na nova economia o avanço se dá com a utilização de conhecimento e informação. O rápido desenvolvimento de novas tecnologias, especialmente da informação e comunicação, ocupa papel central na promoção das inovações e na criação da chamada “sociedade da informação”. Isso ocorre porque essas tecnologias permitem a manipulação, armazenagem e distribuição do conhecimento de maneira cada vez mais rápida, com qualidade e para um número maior de pessoas (MATTOS; GUIMARÃES, 2012). Para Reis (2018), a tecnologia, ao aplicar novos métodos e novos produtos nos meios de produção, gera reflexos socioeconômicos sobre uma comunidade. Enquanto isso, a inovação está relacionada aos fatores comerciais e econômicos, pois uma tecnologia se transforma em inovação quando é produzida pelas empresas e colocada à disposição da sociedade. 4.1 Tecnologia e economia digital O aparecimento da Internet intensificou o processo de globalização, não apenas pelo próprio acesso à rede mundial de computadores, mas também pela redução das distâncias globais com acesso muito mais rápido às informações e o avanço dos meios de comunicação. Por sua vez, a evolução dos meios de comunicação trouxe uma evolução na economia mundial com o surgimento do comércio eletrônico. O crescimento acelerado desse tipo de comércio provocou mudanças na maneira como as transações comerciais passaram a ser realizadas, bem como na forma como produtos e serviços são oferecidos (SILVA; ALMEIDA; MARTINS, 2017). Nessa perspectiva, a economia digital é compreendida como o processo de convergência entre as tecnologias da informação e as da comunicação por meio da internet e outras redes digitais. É um modelo econômico no qual a sociedade utiliza uma infraestrutura global de telecomunicação que permite comunicação, interação, planejamento, busca e aquisição de bens e serviços. Logo, a interação virtual ocorre não apenas entre pessoas, mas entre governos e mercados, que se comunicam e , 4 realizam transações online configurando um novo cenário econômico e uma nova forma de pensar a própria economia (ITS RIO, 2017; REIS, 2018). A lógica do mercado aos poucos vai sendo questionada por novas formas de relações econômicas, cuja base é o compartilhamento e a colaboração, viabilizados pela conectividade proporcionada por tecnologias baseadas em sistemas, alterando a cultura econômica. Essas mudanças são estimuladas pela pressão do mercado e por manifestações sociais que se utilizam dessas novas conexões em rede. No contexto da economia digital e em rede, informação e conhecimento são os principais capitais necessários para gerar inovações, especialmente por viabilizar o acesso às informações necessárias ao processo empreendedor. Além disso, o acesso ao mercado consumidor se amplia à medida que novos usuários são integrados à rede mundial, o que reduz as fronteiras entre consumidores e produtores e contribui para acelerar a fase de crescimento e maturação de novos negócios (ITS RIO, 2017; SALERNO, 2018). O amplo acesso à internet e a redução dos custos para aquisição de novas tecnologias, algumas delas podendo ser obtidas gratuitamente na própria rede, oferecem novas alternativas econômicas para geração de trabalho e renda, tornando-se um fator relevante para impulsionar as inovações, além de simplificar e reduzir os custos de produção. Assim, novos espaços são abertos e beneficiam o empreendedorismo, viabilizando o acesso a oportunidades de negócios antes impossíveis de acessar pelo alto investimento requerido. Como a inovação não apenas promove produtividade como dá condições para se criar novas e melhores formas de produzir, gera novas oportunidades e investimentos. O empreendedorismo, neste contexto, é um dos principais vetores para o crescimento econômico e social de um país (ITS RIO, 2017). Em síntese, a economia digital aos poucos avança e torna o empreendedorismo agente central em gerar prosperidade. Em um cenário econômico mais cooperativo e aberto, disponibilizado pelos recursos disponíveis em uma plataforma em rede, o empreendedor encontra acesso a todos os fatores produtivos necessários para o desenvolvimento de sua atividade. Cabe destacar, porém, que esse crescimento depende da implementação de ambientes conectados e dinâmicos, que sustentem valores próprios e, principalmente, que exijam atenção à disseminação dos recursos , 5 necessários e disponíveis no mercado para seu desenvolvimento. O objetivo é envolver todos os participantes do processo, tornando-os capacitados a participar. 4.2 Inovação e o desenvolvimento tecnológico O desenvolvimento tecnológico é um fator central nas análises econômicas como forma de proporcionar competitividade às empresas, inclusive no ambiente internacional, a partir do progresso das tecnologias. No entanto, introduzir novas tecnologias é um desafio considerando as limitações impostas pelos recursos disponíveis, conhecimento acumulado sobre as tecnologias apropriadas às atividades e da situação do país na qual as empresas estão instaladas. Também deve ser considerada a capacitação dos trabalhadores e sua adequação aos requisitos das novas tecnologias. Portanto, a utilização de novas tecnologias está associada ao estágio tecnológico dos agentes produtivos envolvidos: mão de obra, produtores e governo (HENRIQUES, 2018; MATTOS; GUIMARÃES, 2012). As rápidas mudanças da tecnologia, e a sua variedade, exigem que a organização se mantenha atualizada em relação ao estágio tecnológico do seu setor para que o processo de tomada de decisão seja realizado de maneira consistente. As escolhas realizadas tem impacto sobre diversos aspectos empresariais, incluindo os recursos humanos e o desenho de seus processos, por isso, selecionar e escolher tecnologias é uma questão estratégica nas organizações. Em suma, uma tecnologia apropriada é aquela que impulsiona a estratégia e dá à empresa uma vantagem sustentável, o que direciona para o descarte daquelas que, apesar de apresentarem avanços científicos, não estão alinhadas à estratégia central da empresa (MATTOS; GUIMARÃES, 2012). Dessa forma, podemos concluir que a adoção de uma nova tecnologia deve proporcionar vantagem competitiva à empresa, ou, aumentar o valor do produto e reduzir os custos da sua produção e oferta ao mercado. O potencial da tecnologia para aumentar valor e reduzir custos é grande, no entanto, é preciso que a gestão organizacional avalie os diferentes fatores envolvidos na redução de custos para , 6 definir em que medida esses custos reduzidos podem reduzir o potencial de diferenciação da empresa (MATTOS; GUIMARÃES, 2012; REIS, 2018). Ao avaliar os investimentos em tecnologia, com o propósito de gerar inovações, as organizações precisam estar atentas à sua capacidade de financiamento e às condições necessárias à aplicação dessa tecnologia, tais como a exigência de novas instalações ou modificações nas existentes. Cabe destacar, que os projetos desse tipo apresentam algum grau de incerteza, além de custos ocultos, comomostra a figura a seguir. Figura 4.1 – Custos ocultos da tecnologia Fonte: Mattos e Guimarães (2012, p. 112). A estrutura de custos apresentada na figura 4.1 demonstra a necessidade de planejamento para o desenvolvimento de inovações tecnológicas. Sob essa ótica, Trott (2012) apresenta os fatores críticos de sucesso, que devem servir de base aos , 7 investimentos para geração de inovações tecnológicas que resultem em produtos de sucesso. Figura 4.2 – Fatores críticos de sucesso para inovações tecnológicas Fonte: Trott (2012, p. 85). A figura 4.2 demonstra a complexidade do processo de inovação tecnológica e a necessidade de a empresa administrar esse processo com eficiência. Como fator central da estrutura presente na figura, a Viabilidade Tecnológica depende do estágio de desenvolvimento tecnológico envolvido. É a atenção a esse fator que contribui para uma análise do potencial de uma ideia, como base da inovação, se converter em produtos que serão aceitos pelo mercado, bem como dos custos envolvidos nesse processo. 4.3 Padrões de evolução tecnológica Compreender a evolução dos padrões de tecnologia é essencial para que o empreendedor acompanhe as mudanças que podem impactar seu negócio, pois a tecnologia é um componente importante do ambiente das empresas. As mudanças tecnológicas, ao longo do tempo, têm contribuído, tanto para criar oportunidades de novos negócios e para o crescimento de empresas novas e inovadoras, como para destruição de empresas e setores. É importante compreender que cada tecnologia é , 8 desenvolvida para competir e substituir outras tecnologias, mas antes disso, ela passa por períodos de evolução até o final de sua vida útil. Esses ciclos contínuos iniciam com uma nova tecnologia que substitui a anterior, e depois é superada e substituída por uma nova (MATTOS; GUIMARÃES, 2012; REIS, 2018). Por isso, compreender a evolução de uma tecnologia é um fator crítico de sucesso para o empreender. Dois modelos são utilizados para compreender essa evolução: o modelo de Foster, também chamado de Curva S, e o modelo de Abernathy-Utterback. Cada um desses modelos traz perspectivas diferentes na análise do processo. A. Modelo de Foster ou Curva S É um instrumento mais simples e prático para compreender o processo de evolução, que explica o desempenho de uma tecnologia específica. O crescimento é lento na fase inicial e mais rápido na fase seguinte, ficando mais lento novamente quando alcança seu limite técnico. Para Mattos e Guimarães (2012), o aumento do desempenho da tecnologia ao longo da curva S é explicado pela geração de inovação incremental. Esse comportamento é ilustrado em quatro fases: • Fase 1: evolução pequena ao longo do tempo, é necessário realizar elevado investimento para gerar um resultado discreto; • Fase 2: grande evolução em termos de resultados e performance, com investimento menor; • Fase 3: queda na taxa de evolução ao longo do tempo; • Fase 4: observa-se um salto para nova curva ou a tecnologia é substituída; A figura a seguir ilustra as fases da evolução de uma tecnologia com base no Modelo de Foster. , 9 Figura 4.3 – Modelo de Foster ou Curva S Fonte: Mattos; Guimarães (2012, p. 72). O modelo propõe que o desempenho de uma tecnologia aumente em taxa lenta na fase inicial e mais rapidamente na fase seguinte, a velocidade é novamente reduzida porque a tecnologia atinge seus limites. Trott (2012), detalha um pouco mais essa análise da evolução da tecnologia por meio da Curva S. O progresso lento inicial é comparável a uma linha horizontal; o progresso rápido, à medida que o conhecimento é adquirido, é comparável a uma linha vertical, e o progresso lento até o final é comparável a uma linha horizontal. Normalmente, nesse ponto uma nova tecnologia substitui a tecnologia existente; na realidade, é necessário que isso ocorra se quisermos que os avanços continuem (TROTT, 2012, p. 197). Em resumo, tecnologias novas são criadas por meio de inovação radical ou disruptiva e apresentam desempenho inferior comparado com a tecnologia antiga. A evolução desse novo padrão de tecnologia o torna o projeto dominante, ou seja, um produto ou combinação de componentes de um produto aceito pelo mercado por atender à maior parte das necessidades dos clientes. Ele supera, e muitas vezes substitui, a tecnologia anterior. À medida que uma nova tecnologia surge, o ciclo se repete. A proposta do modelo da Curva S é a de que os ciclos se mantêm indefinidamente, alternando tecnologias maduras e novas tecnologias. , 10 B. Modelo de Abernathy e Utterback Nesse modelo, seus autores também classificam a evolução de uma tecnologia em fases, sendo duas principais e uma de transição, como demonstram Mattos e Guimarães (2012). • Fase fluída: é a fase inicial na qual a tecnologia é desenvolvida, antes de se tornar dominante; • Fase específica: ocorre após a transformação da tecnologia em projeto dominante; • Fase transição: é aquela na qual uma inovação realiza a transição da inovação de produto para a inovação de processo. É um modelo útil para demonstrar o comportamento de um determinado mercado e de suas organizações conforme as tecnologias amadurecem. Seus autores argumentam que organizações de menor porte e com visão empreendedora promovem inovações de produtos, enquanto empresas maiores, cujo foco é a gestão de custos, são responsáveis por gerar inovações de processo. Dessa forma, o modelo procura capturar o cenário no qual o nascimento de um setor de mercado promove uma inovação radical de produto, seguida de uma transformação dos processos de produção, acompanhados de inovações incrementais (MATTOS; GUIMARÃES, 2012; TROTT, 2012). A figura a seguir mostra a mudança na taxa de inovação e a transição da inovação de produto para a inovação de processo. , 11 Figura 4.4 – Modelo de Abernathy e Utterback Fonte: Mattos; Guimarães (2012, p. 74). O foco da inovação em produtos novos ou melhores está nas fases iniciais da tecnologia, decorrente da identificação de necessidades ou problemas do mercado consumidor. É uma fase com diversificação no desenvolvimento de produtos customizados. Os produtos utilizam os equipamentos disponíveis com componentes padronizados. De maneira geral, essa fase engloba empresas mais dinâmicas, como as startups (MATTOS; GUIMARÃES, 2012; TROTT, 2012). De acordo com os autores, o projeto dominante surge na fase seguinte, que desalinha a concorrência porque algumas empresas não têm capacidade para operar a nova tecnologia e saem do mercado. Nesse momento, pode ocorrer uma descontinuidade tecnológica em virtude de inovação radical. Depois, o foco da tecnologia se desloca para obtenção de melhorias incrementais de produtos ou em processos melhores para reduzir os custos de produção. Os produtos e os processos se tornam padronizados para proporcionar escala de produção, o que determina quais empresas terão sucesso com a aplicação da nova tecnologia. , 12 4.4 Empresas de base tecnológica (EBTs) As empresas de base tecnológica (EBTs) são empreendimentos relativamente recentes, de maneira geral, pequenos negócios originados a partir de grandes empresas e grandes laboratórios, em campos como eletrônicos, software e biotecnologia. Sua especialidade é a oferta de componentes, subsistemas, técnicas ou serviços cruciais para grandes empresas, as quais podem muitas vezes ser suas ex-empregadoras. Grande parte das EBTs em eletrônicos e softwares surgiu de laboratórios corporativos e do governo, envolvidos em atividades de desenvolvimento e teste. Com a evolução da biotecnologia e da demanda por softwares, laboratórios de universidades com centros de pesquisa se tornaram fontes regulares de EBTs (BESSANT; TIDD, 2009). ParaSantos e Pinho (2010), analisar as características das EBTs permite compreender a dinâmica de crescimento dessas empresas, que participam ativamente das mudanças tecnológicas, em segmentos genéricos, cujas plataformas tecnológicas se destinam a múltiplos usos e geram mercados amplos, em atividades relacionadas à biotecnologia e à microeletrônica. Outras EBTs operam em mercados específicos e delimitados de pequena extensão – nichos de mercado –, como a prestação de serviços especializados. Em uma definição mais ampla, elaborada pelo Sebrae a partir da definição de empresas de alta tecnologia do Office of Technology Assesment (OTA), as EBTS são: Micro e pequenas empresas de base tecnológica, são empresas industriais com menos de 100 empregados, ou empresas de serviço com menos de 50 empregados, que estão comprometidas com o projeto, desenvolvimento e produção de novos produtos e/ou processos, caracterizando-se, ainda, pela aplicação sistemática de conhecimento técnico-científico. Estas empresas usam tecnologias inovadoras, têm uma alta proporção de gastos com P&D, empregam uma alta proporção de pessoal técnico científico e de engenharia e servem a mercados pequenos e específicos (SEBRAE, 2011, p. 7). Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, essas EBTs apresentam características semelhantes, tais como um nível tecnológico relativamente baixo, desenvolvimento de produtos para um grupo de clientes já estabelecido, dependência de tecnologia importada e atuação centrada no aperfeiçoamento de tecnologias. Em alguns países, , 13 elas funcionam como agentes de difusão tecnológica e sua maior contribuição ao desenvolvimento tecnológico está na aquisição, transformação e disseminação de tecnologias existentes em plataformas de inovação (SANTOS; PINHO, 2010). Em países desenvolvidos, as EBTs são consideradas responsáveis por oferecer produtos e serviços inovadores, cuja proposta de valor é mais vantajosa, tendo em vista a utilização de mão de obra altamente qualificada e por obter recursos externos ao país com o recebimento de royalties ou resultados de participação acionária em negócios do exterior (NAKAGAWA, 2008). As empresas de base tecnológica podem ser classificadas de acordo com a frequência, o alcance e o modo de inovação, ou seja, de acordo com as diferentes ênfases em inovações de produto e processo e, particularmente, ao foco dos esforços inovativos – modificações incrementais, novo design ou novidades mais amplas. A partir dessa classificação, Santos e Pinho (2010), apresentam os grupos do quadro a seguir. Quadro 4.2 – Classificação das EBTs Grupo 1 EBTs que se apoiam em ideias e conceitos vinculados a tecnologias já estabelecidas, desenvolvendo aplicações que alargam o escopo original da inovação. Como exemplo desse grupo, o autor apresenta estabelecimento de uma firma para produzir roupas à prova de água. Em geral, as EBTs desse tipo não possuem capacidades e habilidades técnicas específicas, podendo ser caracterizadas por uma intensidade tecnológica limitada. Grupo 2 EBTs baseadas em tecnologias realmente novas. Para elas, a ausência de rivais estabelecidos é muito benéfica, implicando que essas empresas não precisam competir com outras capazes de produzir os produtos que irão desenvolver. Por isso, a taxa de sobrevivência dessas firmas pode ser maior do que para aquelas baseadas no conceito de projeto, já que a , 14 base de clientes se dirigirá para a nova tecnologia como única opção de consumo disponível. Nesse subgrupo incluem-se muitas EBTs de microeletrônica e biotecnologia. Grupo 3 EBTs baseadas em tecnologia consolidada de nicho de mercado. Essa categoria é formada por firmas que foram bem- sucedidas no desenvolvimento de tecnologias, mas, devido à maturação de seus ativos tecnológicos, estabilizaram-se e apresentam um baixo crescimento. Buscam combinar os conhecimentos sobre as preferências de seus usuários com habilidades já estabelecidas para desenvolver novos produtos por meio de inovações incrementais. O principal risco enfrentado por elas advém das mudanças tecnológicas introduzidas por novas firmas, que podem destruir suas competências. Esse tipo de firma é comum nos setores de produção de máquinas, equipamentos médicos e cirúrgicos, softwares e instrumentos de precisão. Fonte: elaborado pela autora com base em Santos e Pinho (2010, p. 216-217). Em qualquer que seja o grupo de classificação, Nakagawa (2008) destaca que as EBTs foram criadas por empreendedores diferenciados e que proporcionam resultados relevantes. Eles souberam aproveitar os desafios dos ciclos de desenvolvimento tecnológico para expandir os negócios, conduzindo suas empresas a outros países, muitas vezes, tornando-as exemplos de competição global. No Brasil, o empreendedor de base tecnológica tem sido destacado pela sua formação acadêmica, na qual a Engenharia predomina, e pela sua capacidade de desenvolver pesquisas científicas. Para Nakagawa (2008), trata-se de uma nova geração de empreendedores com grande potencial para geração de riquezas e contribuições relevantes para a promoção de inovações tecnológicas. , 15 4.5 Processo de inovação tecnológica Como vimos nas seções anteriores, a inovação tecnológica é o principal agente de mudanças no cenário socioeconômico, medido pelo progresso social e econômico dos países e pelo sucesso das empresas, que dependem do conhecimento técnico e científico para obter eficiência. Nesse contexto, a inovação tecnológica é um processo que engloba criação, desenvolvimento e o uso disseminado de um novo produto ou processo e sua introdução na economia (HENRIQUES, 2018; REIS, 2018). No ambiente atual, segundo os mesmos autores, as inovações tecnológicas são caracterizadas pelo seu rápido ritmo de mudança, uma vez que os ciclos de vida dos produtos estão cada vez menores. Esse aumento no ritmo das inovações tecnológicas acarreta alterações nos processos das organizações, incluindo os de gestão e de criação de rotinas organizacionais, para facilitar a absorção de novas tecnologias. A adoção de novas tecnologias é baseada em um processo de colaboração intensiva entre vários agentes, que formam uma rede, o que requer facilidade para as organizações estabelecerem relações no ambiente empresarial para garantir a integração da qual depende a inovação tecnológica. O processo tecnológico tem estreita associação com as novas pesquisas científicas que oferecem alto potencial de rendimento. Mesmo em situações nas quais a pesquisa gera grandes rupturas, é preciso estabelecer uma ligação entre o campo científico e o campo tecnológico para intensificar a geração de inovações tecnológicas (HENRIQUES, 2018, REIS, 2018). Dessa forma, o processo de inovação tecnológica não ocorre de maneira linear, a partir de um único evento gerador. Ao contrário, é um processo interativo e que envolve a combinação e a sinergia de muitos fatores, dentre os quais: o domínio de conhecimentos tecno científicos específicos; as necessidades e as atitudes sociais; a procura pelo mercado; o apoio governamental mediante definição de prioridades e aplicação de instrumentos de fomento apropriados; a capacidade de risco do poder público e do setor empresarial; a disponibilidade de capital para investimentos; a qualidade do sistema das tecnologias industriais básica (metrologia científica, normalização, informação científica e tecnológica, gestão da qualidade, propriedade , 16 industrial etc.); a disponibilidade e a qualidade dos serviços de apoio (marketing, design, informação, certificação de qualidade etc.); a dimensão e a qualidade do sistema de educação tecnológica; a dimensão, a qualidade e o perfil da base tecno científica local, regional e nacional etc. (REIS, 2018, p. 57). A evolução da tecnologia também considera a difusão tecnológica, ou seja,a disseminação e adoção de novas tecnologias, que envolve os processos específicos das empresas, dos setores econômicos. Para entender os motivos pelos quais um novo produto é implantado com mais rapidez do que outro, bem como por que uma empresa adota uma tecnologia antes das outras, é preciso avaliar os fatores que refletem na velocidade da difusão de novas tecnologias. Henriques (2018) consolida esses fatores determinantes para a adoção da nova tecnologia, como mostra o quadro a seguir. Quadro 4.3 – Fatores de difusão tecnológica Fatores Descrição Demanda Incerteza, qualificação dos trabalhadores, recursos, grau de diversidade das empresas, intensidade da competição do setor etc. Oferta Padronização dos produtos, reputação, cumprimento do prazo, intensidade competitiva dos fornecedores, atividades de marketing. Características da tecnologia inovadora Vantagem relativa, complexidade, compatibilidade, custo, risco e incerteza, rentabilidade esperada. Fatores institucionais ou de entorno Pressão competitiva, facilidade de financiamento, evolução da tecnologia antiga, fatores políticos etc. Características das empresas adotantes Tamanho, estrutura organizacional, capacidade tecnológica, localização da empresa, estrutura de propriedade, idade da empresa etc. Fonte: Henriques (2018, p. 37-38). , 17 Dessa forma, é possível concluir que as características próprias de cada tecnologia estão no centro da sua difusão, combinadas com os atributos das empresas adotantes, que guiam o processo da ação. Esse processo é influenciado, ainda, por variáveis do ambiente e pelos fornecedores da inovação tecnológica. Para compreender essa trajetória tecnológica, é preciso compreender o conceito de paradigma tecnológico, “Paradigma tecnológico é um modelo e um padrão de soluções de problemas tecnológicos selecionados, baseados em princípios selecionados das ciências naturais e sobre tecnologias materiais selecionadas” (HENRIQUES, 2018, p. 38). Com base no conceito de paradigma tecnológico, a trajetória tecnológica pode ser definida como o modelo de ações e atividades desenvolvidas para solucionar problemas com base em um determinado paradigma tecnológico. É, portanto, o paradigma tecnológico vigente em determinado momento, economia ou setor de atividades que define como se dará a trajetória, e a difusão, das inovações tecnológicas. 4.6 Gestão da inovação tecnológica Como estudamos na unidade 3 desta disciplina, a inovação se tornou fator crítico de sucesso para a sobrevivência das organizações. Contudo, a ação de inovar envolve inúmeros fatores que agem separadamente, mas que em geral, influenciam uns aos outros, trazendo grande complexidade ao processo inovador. Por um lado, a gestão da organização implica reduzir as incertezas em relação ao ambiente e aos resultados, garantindo a maximização dos capitais empregados. De outro lado, a gestão do processo de inovação tecnológica exige o desenvolvimento e o estímulo do potencial criativo da organização, requerendo incentivo à geração de ideias e a promoção da criatividade (TROTT, 2012). A gestão da tecnologia é uma área recente, cujos conceitos estão em construção e ainda em fase de mudanças. Mattos e Guimarães (2012), apresentam uma tipologia básica acerca da gestão da tecnologia em uma matriz como a figura a seguir. , 18 Figura 4.5 - Matriz da tipologia da gestão da tecnologia Fonte: Mattos; Guimarães (2012, p. 62). Para os autores citados, definições mais limitadas da gestão da tecnologia costumam abordar apenas os aspectos relacionados ao gerenciamento do processo de criação de tecnologias, no entanto, eles argumentam que esse tipo de gestão deve englobar as atividades de planejamento, organização, execução e controle de atividades empresariais desenvolvidas em ambientes intensivos em tecnologia. É por isso que o conceito avança para gestão da inovação tecnológica, articulando tanto o processo de criação como o de uso de tecnologias. Sob tal enfoque, a gestão da inovação tecnológica em uma organização deve ser suportada por cinco papéis: 1. identificar as demandas tecnológicas internas e externas – mercado – à organização; 2. identificar as ofertas tecnológicas internas e externas à organização; 3. fazer com que as ofertas existentes efetivamente satisfaçam às demandas identificadas; 4. fomentar interna e/ou externamente o desenvolvimento de ofertas para as demandas não atendidas; 5. fomentar interna e/ou externamente demandas para ofertas que ainda não encontraram aplicações, mas que têm potencial de difusão. (MATTOS; GUIMARÃES, 2012, p. 64). Nesse contexto, o processo de gestão das inovações tecnológicas atua no sentido de coordenar, mobilizar e integrar os recursos e os agentes internos aos externos para explorar oportunidades tecnológicas e de mercado, articulando essas oportunidades às estratégias da organização. Nesse contexto, a gestão da inovação tecnológica tem por , 19 objetivo estruturar e sistematizar as rotinas e processos para que as inovações estejam alinhadas ao planejamento estratégico da organização (QUADROS; VILHAS, 2007). O desafio de obter um modelo que atenda diferentes portes e segmentos das organizações resulta na necessidade de adaptar o processo de gestão de acordo com as prioridades e recursos disponíveis. Nesse sentido, os autores apresentam um modelo no qual processos e ferramentas são utilizados, de maneira genérica, para a gestão das inovações tecnológicas. Figura 4.6 – Modelo de gestão estratégica para inovação tecnológica Fonte: elaborada pela autora com base em Quadros e Vilha (2007, p. 130). Os autores descrevem os processos e as ferramentas que integram as etapas demonstradas no modelo (figura 4.6), no entanto, alertam sobre o fato de as etapas acontecerem em uma sequência lógica, mas não necessariamente temporal. O quadro a seguir apresenta o detalhamento das etapas. , 20 Quadro 4.4 – Processos do modelo de gestão da inovação tecnológica Etapa Processos Mapeamento Mapeamento e prospecção de oportunidades, compreendendo ferramentas de identificação de oportunidades de mercado, riscos e oportunidades estratégicas e monitoramento do ambiente competitivo, tecnológico e regulatório, com o intuito de criar inteligência que oriente a geração de novos projetos de inovação. Seleção Seleção estratégica das oportunidades, compreendendo ferramentas de gerenciamento do portfólio de projetos de inovação, de forma alinhada aos objetivos e metas estratégicas da empresa. Essa é a etapa em que as grandes linhas ou programas do portfólio de projetos são definidas à luz das prioridades estratégicas da empresa. Mobilização Mobilização de fontes internas e externas, compreendendo ferramentas de apoio à tomada de decisão com relação ao outsourcing ou internalização da P&D, como o mapeamento de competências externas e internas e a avaliação da localização da P&D. Outro elemento crítico da fase de mobilização é a engenharia de financiamento da inovação. Implementação Implementação dos projetos de inovação, compreendendo ferramentas de alinhamento estratégico da execução dos projetos, tais como o funil de inovação, além dos procedimentos organizacionais e estruturais necessários à criação de ambiente propício para a inovação tecnológica, como a organização de times multifuncionais de inovação e sistemas de , 21 reconhecimento e remuneração que promovam a inovação. Também nessa etapa são definidas as ferramentas de gestão das parcerias externas, do financiamento da inovação e da propriedade intelectual. Avaliação Avaliação do processo de gestão da inovação tecnológica, compreendendo a realização de métricas, utilizando indicadores de resultados, da qualidade dos processos e de impacto na organização,nos consumidores e no ambiente. Fonte: elaborado pela autora com base em Quadros e Vilha (2007, p. 131). Uma análise mais detalhada das etapas e de seus processos leva à conclusão de que, em virtude do papel das inovações tecnológicas no sucesso dos negócios, a habilidade das organizações em gerenciar todas as etapas do processo determinará a obtenção de vantagens competitivas duradouras que garantirão a sua sobrevivência e o seu crescimento. Conclusão Inovação e tecnologia são, no ambiente atual, os combustíveis que movimentam a economia. Ao longo de vários séculos, o capital e a mão de obra eram os fatores considerados como elementos centrais para o crescimento econômico, enquanto conhecimento e capital intelectual ocupavam papel de coadjuvantes. Essa nova economia é baseada no uso intensivo de conhecimentos para criação de bem-estar social. A economia digital é compreendida como o processo de convergência entre as tecnologias da informação e as da comunicação por meio da internet e outras redes digitais. É um modelo econômico no qual a sociedade utiliza uma infraestrutura global de telecomunicação que permite comunicação, interação, planejamento, busca e , 22 aquisição de bens e serviços. Ela torna o empreendedorismo agente central para geração de prosperidade. Em um cenário econômico mais cooperativo e aberto, disponibilizado pelos recursos disponíveis em uma plataforma em rede, o empreendedor encontra acesso a todos os fatores produtivos necessários para o desenvolvimento da sua atividade. O processo de inovação tecnológica é complexo e requer das empresas uma administração eficiente desse processo. Como fator central da estrutura presente na figura, a Viabilidade Tecnológica depende do estágio de desenvolvimento tecnológico envolvido. É a atenção a esse fator que contribui para uma análise do potencial de uma ideia, como base da inovação, se converter em produtos que serão aceitos pelo mercado, bem como dos custos envolvidos nesse processo. As mudanças tecnológicas, ao longo do tempo, têm contribuído, tanto para criar oportunidades de novos negócios e para o crescimento de empresas novas e inovadoras, como para destruição de empresas e setores. É importante compreender que cada tecnologia é desenvolvida para competir e substituir outras tecnologias, mas antes disso, ela passa por períodos de evolução até o final de sua vida útil. Esses ciclos contínuos iniciam com uma nova tecnologia que substitui a anterior, e depois é superada e substituída por uma nova. Os modelos de Foster (Curva S) e de Abernathy- Utterback trazem perspectivas diferentes na análise do processo. As empresas de base tecnológica apresentam características diferentes quando localizadas em países emergentes ou desenvolvidos, sendo responsáveis pela criação de novas tecnologias ou atuando como agentes de sua difusão e disseminação. Criadas por empreendedores tecnológicos, proporcionam resultados relevantes. O processo de inovação tecnológica não ocorre de maneira linear, a partir de um único evento gerador. Ao contrário, é um processo interativo e que envolve a combinação e a sinergia de muitos fatores. A evolução da tecnologia também considera a difusão tecnológica, ou seja, a disseminação e adoção de novas tecnologias, que envolve os processos específicos das empresas, dos setores econômicos. Com base no conceito de paradigma tecnológico, a trajetória tecnológica pode ser definida como o modelo de , 23 ações e atividades desenvolvido para solucionar problemas com base em um determinado paradigma tecnológico. É, portanto, o paradigma tecnológico vigente em determinado momento, economia ou setor de atividades que define como se dará a trajetória, e a difusão, das inovações tecnológicas. A gestão da tecnologia é uma área recente, cujos conceitos estão em construção e ainda em fase de mudanças. Esse tipo de gestão deve englobar as atividades de planejamento, organização, execução e controle de atividades empresariais desenvolvidas em ambientes intensivos em tecnologia. É por isso que o conceito avança para a gestão da inovação tecnológica, articulando tanto o processo de criação como o de uso de tecnologias. REFERÊNCIAS BESSANT, J; TIDD, J. Inovação e Empreendedorismo. Porto Alegre: Bookman, 2009. HENRIQUES, S. H. Gestão da inovação e competitividade. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2018. ITS RIO - Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio. Empreendedorismo na economia em rede. 24 out. 2017. Disponível em: <https://bit.ly/32ormqP>. Acesso em: 03 jul. 2020. MATTOS, J. R. 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