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Gestão de Tecnologia e Inovação para Engenharia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Paulo Renato Pakes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Elementos Introdutórios à Gestão da Tecnologia e Inovação • Introdução; • Atividade Inovativa; • As Fontes de Informação e de Cooperação para Inovação; • Sistemas de Inovação. • Introdução sobre o conceito e tipos de inovação; • Apresentação do conceito de atividade inovativa; • Apresentação da Classifi cação de Fontes de Informação para Inovação; • Apresentação do Conceito de Sistema de Inovação e dados sobre o Sistema Nacional de Inovação brasileiro. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Elementos Introdutórios à Gestão da Tecnologia e Inovação UNIDADE Elementos Introdutórios à Gestão da Tecnologia e Inovação Introdução Segundo Schumpeter (1988), o desenvolvimento econômico é governado pela inovação, por meio de um processo dinâmico em que as novas tecnologias suprem as antigas, um processo determinado por ele como “destruição criadora”. Dessa forma, o desenvolvimento econômico decorre da introdução de inovações pelos empresários, ou seja, novas formas de combinar os meios de produção dispo- níveis. Essas novas combinações são concebidas de modo amplo, podendo tratar- -se tanto da criação de novos produtos quanto da introdução de novos métodos de produção, da abertura de um novo Mercado, da conquista de uma nova fonte de matérias-primas ou, ainda, da criação de uma nova forma de Organização de uma Indústria – por exemplo, a criação (ou a quebra) de um monopólio. Nessa visão, as inovações tecnológicas representam a mola propulsora do fenô- meno do crescimento econômico no Sistema Capitalista, de maneira que as inova- ções são introduzidas na Economia pelas firmas na busca permanente por lucros extraordinários. É um processo inerente à concorrência entre firmas e o sucesso delas depende da eficácia com a qual realizam essa busca, com o Mercado selecio- nando positivamente às inovações (FINEGOLD, 2006). Do ponto de vista conceitual, é necessário diferenciar Tecnologias e Técnicas. A Tecnologia pode ser definida como conhecimento sobre técnicas, enquanto as técnicas envolvem aplicações desse conhecimento em produtos, processos e méto- dos organizacionais. Outra distinção importante é feita entre invenção e inovação. A invenção se refe- re à criação de um processo, técnica ou produto inédito. Ela pode ser divulgada por meio de Artigos Técnicos e Científicos, registrada em forma de patente, visualizada e simulada por meio de protótipos e planta piloto sem, contudo, ter uma aplicação comercial de sucesso. Já a inovação ocorre com a efetiva aplicação prática de uma invenção (TIGRE, 2014). Uma inovação só produz impactos abrangentes quando se difunde amplamente entre Empresas, Setores e Regiões, desencadeando novos empreendimentos, qua- lificações, Mercados e práticas produtivas (TIGRE, 2014). Diversos pesquisadores argumentam que inovações de produto e processo são centrais para a habilidade das Empresas em criar vantagem competitiva e crescer eco- nomicamente (JONES; TANG, 2000; NELSON; WINTER, 1982; DAMANPOUR; ARAVIND, 2006), tendo em vista que elas estimulam o crescimento e a produtividade 8 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce 9 não somente das Empresas que as desenvolvem, mas também outras Empresas que as adotam e utilizam. Dessa forma, seus impactos se estendem ao Setor Econômico, de lá para a competitividade nacional e internacional e, por fim, na balança comercial (HAGE; MEEUS, 2006). Para Tidd et al. (2005) e para Francis e Bessant (2005) existem 4 categorias de inovação, sendo elas: • Inovação de produto: mudanças nos produtos que uma Empresa oferece; • Inovação de processo: mudanças na forma em que os produtos são criados e entregues; • Inovação de posição: mudanças no contexto em que os produtos são introduzidos; • Inovação de paradigma: mudanças nos modelos mentais subjacentes que orientam o que a Empresa faz. Sobre tipos de inovação, assista ao vídeo disponível em: https://youtu.be/jueaPN_3Kt8 Ex pl or Já a Lei 10.973/2004 (BRASIL, 2004) – Lei da Inovação – concebe inovação como a introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou so- cial que resulte em novos produtos, processos ou serviços. Segundo a Lei, a inovação – assim como a invenção – envolve a concepção ou a realização de uma ideia nova. Mas, para uma novidade se configurar como inovação, ela tem que ser absorvida pelo ambiente produtivo ou social, ou seja, concretizada sob a forma de um novo processo, serviço ou produto disponível para a Sociedade. O termo criação, também definido na Lei, abrange as invenções e todas as for- mas de propriedade intelectual passíveis de proteção no Brasil (patentes, modelos de utilidade, desenhos industriais, programas de computador, topografia de circui- tos integrados, novas cultivares ou cultivares essencialmente derivadas), bem como qualquer outro desenvolvimento tecnológico que possa surgir de um novo produto, processo ou aperfeiçoamento incremental. A inovação, por sua vez, requer que a criação seja implementada e disponibilizada na sociedade de forma bem-sucedida (BRASIL, 2004). O Quadro 1 apresenta uma análise comparativa entre os conceitos de inova- ção propostos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (2005) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2011). 9 https://youtu.be/jueaPN_3Kt8 dougm Realce UNIDADE Elementos Introdutórios à Gestão da Tecnologia e Inovação Quadro 1 – Tipos de inovação OCDE (2005) PINTEC (2013) Inovação de produto É a geração de um bem ou serviço novo, expressi- vamente melhorado, que se refere a suas proprie- dades ou usos antevistos. Dentro desse conceito, incluem-se melhoramentos significativos em especificações técnicas, componentes, softwares incorporados, facilidade de uso ou outras carac- terísticas funcionais. As inovações de produto po- dem utilizar novos conhecimentos ou Tecnologias; podem basear-se em novos usos ou combinações para conhecimentos ou Tecnologias existentes. As inovações de produto incluem a introdução de novos bens e serviços, e benfeitorias significativas nas características funcionais ou de uso dos bens e serviços existentes. Inovação de produto ou processo: implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo novo ou significativamente melhorado. A inovação se refere a produto e/ou processo novo (ou substancialmente aprimorado) para a Empre- sa, não sendo, necessariamente, novo para o Mercado/ Setor de atuação, podendo ter sido desenvolvida pela Empresa ou por outra Empresa/Instituição. A inovação pode resultar de novos desenvolvimentos tecnológicos, de novas combinações de Tecnologias existentes ou da utilização de outros conhecimentos adquiridos pela Em- presa (PINTEC, 2013). Inovação de processo É a geração de um novo método de produção ou distribuição ou substancialmente melhorado. Abrange as mudanças significativas em técnicas, equipamentos e softwares. As inovações de pro- cesso visam a reduzir custos de produção ou de distribuição, melhorar a qualidade, produzir ou distribuir produtos novos ou significativamente melhorados. As inovações de processo incluem métodos novos ou expressivamente melhorados para a criação e a provisão de serviços, podem en- volver mudanças substanciais nos equipamentos e nos softwares utilizados. Inovação organizacional Implementação de novas Técnicas de Gestão ou de significativas mudanças na organização do traba- lho e nas relações externas da Empresa, com vis- tas a melhorar o uso do conhecimento, a eficiência dos fluxos de trabalho ou a qualidade dos bens ou serviços. Deve ser resultado de decisões estraté- gicas tomadas pela direção e constituir novidade organizativa para a Empresa. Não são incluídas: fusões e aquisições, mesmo sendo a primeira vez. É a geração de um novométodo organizacional nos métodos de negócios da Empresa, na organização do local de trabalho e nas relações externas. Inovações or- ganizacionais tem foco na melhoria do desempenho da Empresa por meio da redução de custos administrativos, custos de transação, provocando a satisfação no local de trabalho e, em decorrência, aumentar a produtividade do trabalho, reduzindo os custos de utilização dos re- cursos. Os aspectos característicos da inovação organi- zacional, em comparação a outras mudanças organiza- cionais, é a geração de um método organizacional que não tenha sido usado anteriormente na Empresa e que seja o resultado de decisões estratégicas tomadas pela alta administração. Inovação de marketing Implementação de novas estratégias ou concei- tos de marketing que diferem significativamente dos usados previamente pela Empresa. Supõe mudanças significativas no desenho ou embala- gem do produto, nos seus canais de venda, em sua promoção ou na fixação de preços, sem mo- dificar as características funcionais ou de uso do produto. Visam a abrir novos mercados ou repo- sicionar o produto no Mercado. Não são incluídas: as mudanças regulares ou similares nos métodos de marketing. É a geração de um novo método de marketing com mu- danças significativas na concepção ou design do pro- duto, na embalagem, no posicionamento do produto, na sua promoção ou na fixação de preços. Inovações de marketing são aplicadas para melhor atender as neces- sidades dos consumidores, acender novos mercados, ou reposicionar o produto de uma Empresa no Mercado com o objetivo de aumentar as vendas. A característica distintiva de uma inovação de marketing confrontada com outras mudanças nos instrumentos de marketing de uma Empresa é a implementação de um método de marketing que não tenha sido utilizado previamente pela Empresa. Isso deve fazer parte de um novo con- ceito ou estratégia de marketing que representa um distanciamento substancial dos métodos de marketing existentes na Empresa. 10 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce 11 Uma inovação pode ser classificada em mais de uma categoria. O Netflix, por exemplo, pode tanto ser considerado inovação de processo (novo método de distribuição e, nesse caso, a entrega de conteúdo para entretenimento de forma digital) quanto também inovação de marketing (novo método de preços, diferente das locadoras de vídeo, que cobravam por lo- cação, enquanto o Netflix cobra por mensalidade). Ex pl or Podemos, ainda, classificar a inovação de acordo com sua amplitude de mudan- ças tecnológicas. As mudanças tecnológicas são usualmente diferenciadas pelo seu grau de ino- vação e pela extensão das mudanças em relação ao que havia antes. O Quadro 2 apresenta a taxonomia das mudanças tecnológicas. Quadro 2 Tipo de mudança Características Incremental Melhoramentos e modificações cotidianas Radical Saltos descontínuos na Tecnologia de produtos e processos. Novo sistema tecnológico Mudanças abrangentes afetando mais de um Setor e dando origem a novas atividades econômicas. Novo paradigma técnico-econômico Mudanças que afetam toda a Economia envolvendo mudanças técnicas e organizacionais, alterando produtos e processos criando novas indústrias e estabelecendo trajetórias de inovações por várias décadas. Fonte: Tigre, 2014 O nível mais elementar e gradual de mudanças tecnológicas é representado pelas inovações incrementais. Elas abrangem melhorias feitas no design ou na qualidade dos produtos, aperfeiçoamentos em layout e processos, novos arranjos logísticos e organizacionais e novas práticas de compra e venda. As inovações incrementais ocorrem de forma contínua em qualquer Indústria, embora possa variar conforme o Setor ou país em função da pressão da demanda, fatores socioculturais, oportu- nidades e trajetórias tecnológicas. Elas não derivam necessariamente de atividades de P&D, sendo mais comumente resultado do processo de aprendizado interno e da experiência acumulada (TIGRE, 2014). A mudança tecnológica é considerada radical quando rompe as trajetórias exis- tentes, inaugurando uma nova rota tecnológica. A inovação radical, geralmente, é fruto de atividades de P&D e tem caráter descontínuo no tempo e nos Setores. A descontinuidade pode ser caracterizada pelo clássico exemplo de Schumpeter: “Muitas carroças enfileiradas não formam um trem”, ou seja, a inovação radical rompe os limites da inovação incremental, dando origem a novas trajetórias tecno- lógicas (TIGRE, 2014). O estágio seguinte nesta sequência evolutiva é o das mudanças no Sistema Tec- nológico, no qual um Setor ou grupo de Setores é transformado pela emergência de um novo campo tecnológico. Tais inovações são acompanhadas de mudanças organizacionais tanto no in- terior da firma quanto em sua relação com o Mercado. Os materiais sintéticos 11 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce UNIDADE Elementos Introdutórios à Gestão da Tecnologia e Inovação de origem petroquímica, como plásticos e elastômetros desenvolvidos a partir da segunda metade do século XX, são um bom exemplo, pois deram origem a novos materiais de uso generalizado na Indústria. A Internet também constitui uma mudança no Sistema Tecnológico, pois vem revolucionando as formas de interação e criando novas áreas de atividade econômica. As mudanças no paradigma tecno-econômico, por sua vez, envolvem inovações não apenas na Tecnologia como também no tecido social e econômico no qual estão inseridas. Tais revoluções não ocorrem com frequência, mas sua influência é pervasiva e duradoura. Um paradigma não é apenas técnico, pois necessita de mudanças organizacionais e institucionais para se consolidar. Uma mudança de paradigma abrange vários clusters de inovações radicais e incrementais afetando quase todos os ramos da Economia. Os ciclos longos de desenvolvimento são atribuídos a câmbios sucessivos de paradigma tecnológico como, por exemplo, a máquina a vapor, a eletricidade e as Tecnologias da Informação. Tais inovações constituíram, em diferentes épocas, os fatores-chaves que estavam na raiz das transformações tecnológicas e econômicas mundiais. Para constituir um fator chave de um novo paradigma, uma nova Tecno- logia deve apresentar as seguintes condições (TIGRE, 2014): • Custos baixos com tendências declinantes: somente grandes reduções de custos podem motivar mudanças de comportamento nos agentes econômicos; • Oferta aparentemente ilimitada: os fatores-chave não podem ser escassos, pois precisam estar disponíveis de forma abundante e sustentável em longo prazo. A insustentabilidade econômica e ambiental dos combustíveis físseis minou o paradigma das inovações intensivas em energia. Já a microeletrônica, a biotecnologia e a nanotecnologia praticamente não dependem de materiais e de energia, pois são revoluções em miniatura; • Potencial de difusão em muitos setores e processos: um fator-chave não pode ter uso restrito a poucos Setores específicos, mas sim universalmente apli- cável. A microeletrônica e a nanotecnologia apresentam tal característica, abrin- do oportunidades de inovação em praticamente todos os setores de atividades. Na subseção seguinte, apresenta-se o conceito de atividade inovativa, com vis- tas a elucidar as formas pelas quais uma Empresa que deseja inovar pode chegar a seu objetivo. Atividade Inovativa A inovação pode ser compreendida como parte de uma dinâmica, envolvendo uma série de atividades inovativas. Mais do que os resultados em si, torna-se de grande relevância retratar o processo de busca conduzido pelas Empresas e que se 12 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce 13 manifesta nos seus esforços inovativos, pois eles se constituem nos elementos cen- trais da dinâmica evolutiva presente nos Mercados, em que as Empresasprocuram se tornar mais competitivas. As opções disponíveis para uma Empresa que deseja inovar, isto é, mudar seus ativos tecnológicos, capacidades e desempenho de produção são de três tipos: es- tratégicas, de P&D e de não P&D (OCDE, 2005). Cabe elucidar que Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) pode ser considerado todo trabalho criativo, empreendido de forma sistemática, com o objetivo de aumentar o acervo de co- nhecimentos e o uso desses conhecimentos para desenvolver novas aplicações, tais como produtos ou processos novos ou substancialmente aprimorados. O desenho, a construção e o teste de protótipos e de instalações-piloto constituem muitas vezes a fase mais importante das atividades de P&D. Inclui também o desenvolvimento de software, desde que este envol- va um avanço tecnológico ou científico (PINTEC, 2013). Ex pl or • Estratégicas: como condição prévia necessária à atividade de inovação, as Empresas têm de tomar — explicitamente ou não — decisões sobre os tipos de mercados que servem ou tentam criar, e os tipos de inovações que neles tentarão introduzir; • de P&D, no caso de: » A Empresa engajar-se em pesquisa básica para ampliar seu conhecimento dos processos fundamentais relacionados com o que produz; » A Empresa engajar-se em pesquisa estratégica (no sentido de pesquisa de relevância para a indústria, mas sem aplicações específicas) para ampliar a gama de projetos aplicados que tem à sua disposição, e pesquisa aplicada para produzir invenções específicas ou modificações de técnicas existentes; » A Empresa desenvolver conceitos de produtos para julgar se são factíveis e viáveis; como no caso de: (i) desenho do protótipo; (ii) desenvolvimento e ensaios; e (iii) pesquisas adicionais para modificação do desenho ou de suas funções técnicas; • De não P&D: a Empresa pode engajar-se em muitas outras atividades que não têm nenhuma relação direta com P&D e que não são definidas como P&D, mas que, ainda assim, desempenham um papel importante na inovação e no desempenho corporativos, como por exemplo: » A Empresa identificar novos conceitos e Tecnologias de produção: (i) por meio de sua área de marketing e relações com os usuários; (ii) por meio da identificação de oportunidades de comercialização decorrentes de pesquisa básica, própria ou de terceiros, ou de pesquisa estratégica, (iii) por meio de suas capacidades de projeto e engenharia, (iv) monitorando os concorrentes, e (v) valendo-se de consultores; » A Empresa desenvolver unidades pilotos e, depois, instalações de produção em larga escala; 13 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce UNIDADE Elementos Introdutórios à Gestão da Tecnologia e Inovação » A Empresa adquirir informações técnicas, pagando taxas ou royalties por invenções patenteadas (que, geralmente, requerem trabalho de Pesquisa e Engenharia para serem adaptadas e modificadas), ou adquirir know-how e competências por meio de vários tipos de consultorias de engenharia e projeto; » A Empresa desenvolver competências humanas importantes para a produ- ção (por meio de treinamento interno) ou adquiridas (por contratação); » A Empresa pode também aprender “fazendo” (aprendizado tácito e informal); » A Empresa investir em equipamentos de processo ou insumos intermediários que incorporem o trabalho inovador de outros. Isso pode compreender com- ponentes, máquinas ou toda uma fábrica; » A Empresa reorganizar Sistemas de Gerenciamento e o Sistema Geral de Produção e seus métodos, incluindo novos tipos de administração de esto- ques e controle de qualidade e a melhoria contínua de qualidade. No Manual de Oslo (OCDE, 2005), as atividades de inovação são definidas como etapas científicas, tecnológicas, organizacionais, financeiras e comerciais que con- duzem, ou visam a conduzir à implementação de inovações. O Quadro 3 apresenta uma análise comparativa entre as classificações de ativi- dades inovativas propostas por OCDE (2005) e IBGE (2011). Quadro 3 Oito grupos, segundo Manual de Oslo (FINEP, 2005) Sete grupos, segundo Pintec/IBGE (2013) “Pesquisa e Desenvolvimento (P&D): enten- dida como o trabalho criativo desenvolvido em uma base sistemática a fim de aumentar o es- toque de conhecimento existente.” “Atividade interna de P&D: compreende o trabalho criativo, empreendido de forma sistemática, com o objetivo de aumentar o acervo de conhecimen- tos e o uso destes conhecimentos para desenvolver novas aplicações, tais como produtos ou processos novos ou tecnologicamente novos. O desenho, a construção e o teste de protótipos e de instalações piloto constituem, muitas vezes, a fase mais importante das atividades de P&D. Inclui, também, o de- senvolvimento de software, desde que este envolva um avanço tecnológico ou científico.” “Aquisição externa de P&D: compreende as atividades descritas acima, realizadas por outra organização (Empresas ou Instituições Tecnológicas) e adquiridas pela Empresa.” “Aquisição de Tecnologia intangível: aquisi- ção de Tecnologia na forma de patentes, licen- ças, know-how e serviços de conteúdo tecnoló- gico em geral.” “Aquisição de outros conhecimentos externos: compreende os acordos de transferência de Tecnologia originados da compra de licença de direitos de exploração de patentes e uso de marcas, aquisição de know-how e outros tipos de conhecimentos técnico-científicos de terceiros, para que a Empresa desenvolva ou implemente inovações.” “Aquisição de tecnologia tangível: aquisição de máquinas e equipamentos de cunho tecno- lógico conectados às inovações de produto e processo introduzidas pela Empresa.” “Aquisição de máquinas e equipamentos: compreende a aquisição de máquinas e equipamentos, hardware, especificamente comprados para a implementação de produtos ou processos novos ou tecnologicamente aper- feiçoados.” “Início da produção: compreende as modi- ficações (retrabalho) de produto e processo, treinamento de pessoal nas novas técnicas e lote experimental.” “Treinamento: compreende o treinamento orientado ao desenvolvimento de produtos/processos tecnologicamente novos ou significativamente aper- feiçoados às atividades inovativas da Empresa, podendo incluir aquisição de serviços tecnológicos especializados externos.” 14 15 Oito grupos, segundo Manual de Oslo (FINEP, 2005) Sete grupos, segundo Pintec/IBGE (2013) “Marketing de novos produtos: atividades em conexão com o lançamento do novo produto a diferentes mercados, comercialização pioneira.” “Introdução das inovações tecnológicas no mercado: compreende as ati- vidades de comercialização, diretamente ligadas ao lançamento de produto tecnologicamente novo ou aperfeiçoado, podendo incluir: pesquisa de Mer- cado, teste de Mercado e publicidade para o lançamento. Exclui a construção de Redes de Distribuição de mercado para as inovações.” “Aquisição de software: compreende a aqui- sição de software (de desenho, de Engenharia, de processamento e transmissão de dados, voz, gráficos, vídeos, para automatização de processos etc.), especificamente comprados para a implementação de produtos ou proces- sos novos ou tecnologicamente aperfeiçoados. Não inclui aqueles registrados em atividades internas em P&D.” “Projeto industrial e outras preparações técnicas para a produção e a distribuição: refere-se aos procedimentos e preparações técnicas para efe- tivar a implementação de inovações de produto ou processo. Inclui plantas e desenhos orientados para definir procedimentos, especificações técnicas e características operacionais necessárias à implementação de inovações de processo ou de produto. Inclui mudanças nos procedimentos de produção e controle de qualidade, métodos e padrões de trabalho e software requeridos para a implementação de produtos ou processos tecnologicamente novos ou aperfeiçoados, assim como as atividades de Tecnologia Industrial básica (metrologia, normalização e avaliação de conformidade), os ensaios e testes (não incluídos em P&D) para registro final do produtoe para o início efetivo da produção.” “Design: atividades relativas à definição de procedimentos, especificações técnicas e as- pectos operacionais necessários à produção do novo produto ou implementação do novo pro- cesso. O design artístico também é considerado uma atividade inovativa quando diretamente relacionado ao novo produto ou processo (ou seja, design meramente estético não é conside- rado atividade inovativa).” “Engenharia Industrial: aquisição ou mudan- ça nos equipamentos, ferramentas, procedi- mentos de controle de qualidade, métodos e padrões visando à manufatura do novo produ- to ou aplicação do novo processo.” Fonte: Adaptado de Parolin, 2008 A Figura 1 apresenta a evolução das taxas de inovação e de P&D interno nas Empresas brasileiras entre o período de 2000 e 2011: 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 2000 2003 2005 10,3 17,6 19,5 22,9 26,9 33,4 38,1 32,1 31,7 35,6 31,5 33,9 26,9 25,2 17,3 20,3 5,5 5 4,2 5,9 2008 2011 Inovadoras Inovadoras em processo Inovadoras em produto Empresas com P&D interno Figura 1 – Taxas de inovação e de incidência de P&D interno Fonte: IBGE, 2013 15 UNIDADE Elementos Introdutórios à Gestão da Tecnologia e Inovação Como visto na Figura 1, o nível de Empresas com P&D interno no Brasil aumen- tou entre o período de 2008 e 2011, entretanto, ainda constitui o segundo nível mais baixo auferido pela PINTEC no período analisado. No que se refere ao gasto com P&D externo nas Indústrias (no qual se inclui a relação com ICTs), este aumentou somente 0,4% na composição de gastos em ati- vidades inovativas entre os períodos de 2008 e 2011. Segundo Sbragia et al. (2006), a falta de investimentos em atividades inovativas dentro das Empresas brasileiras fez com que elas não fossem dotadas de produtos competitivos no Mercado internacional. As Fontes de Informação e de Cooperação para Inovação O processo de inovação pode ser favorecido por diversas fontes de informação – como fontes internas (dentro da Empresa), fontes externas (de Mercado, Educacio- nais e de Instituições de Pesquisa) e outras informações – e pode ser prejudicada por fatores econômicos, referentes à Empresa ou não, conforme visto no quadro 4 (OCDE, 2005). Quadro 4 – Fontes de informação para a inovação Fontes internas (dentro da Empresa ou do grupo Empresarial) Fontes externas (de Mercado/comerciais) Instituições Educacionais/Pesquisa Informações geralmente disponíveis • P&D dentro da Empresa; • Marketing; • Produção; • Outras fontes internas. • Concorrentes; • Aquisição de Tecnologia incorporada; • Aquisição de Tecnologia não incorporada; • Clientes ou fregueses; • Empresas de consultoria; • Fornecedores de equipamentos, materiais, componentes e software. • Instituições de ensino superior; • Institutos governamentais de pesquisa; • Institutos privados de pesquisa. • Divulgações de patentes; • Conferências, reuniões e jornais profissionais; • Feiras e mostras. Fonte: OCDE, 2005 A maioria das Empresas tem larga gama de fontes potenciais de informações técnicas e suas importâncias variam de acordo com as capacidades tecnológicas e estratégias empresariais. As fontes de mudança podem ser internas ou externas. Internamente, é provável que o interesse se concentre no papel — ou papéis — do departamento de P&D e no envolvimento de todas as partes da Empresa, particularmente da Área de Marketing, nas decisões de inovar e nas atividades de inovação. Externamente, as fontes remetem às instituições públicas de pesquisa como fontes de informações técnicas e sobre os fluxos de Tecnologia entre as Empresas e entre as Indústrias. Inserem-se aqui também as fontes internacionais de Tecnologia (IBGE, 2013). 16 17 Com o objetivo de levantar informações que visem à construção de indicado- res nacionais e regionais das atividades de inovação nas Empresas, Indústrias, de eletricidade e gás e de serviços selecionados, compatíveis com as recomendações internacionais em termos conceituais e metodológicos, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) promove a PINTEC (Pesquisa de Inovação) com intuito de analisar a inovação nas Empresas situadas no território brasileiro. Segundo os dados PINTEC 2013 (Figura 2), entre as principais fontes de infor- mação para inovação constam as Redes de Informações informatizadas (como a web, por exemplo), fornecedores, clientes e outras áreas da Empresa. Figura 2 – Importância atribuída às fontes de informação para inovação, pelas Empresas que implementaram inovação de produtos ou processo, por Setores de atividades – Brasil – período de 2009-2011 Fonte: PINTEC, 2013 Sistemas de Inovação Um Sistema de Inovação é o conjunto de organizações que envolve Empresas e várias Organizações de suporte, tais como Universidades, Institutos de Pesquisa, Centros de Formação e Treinamento, Escolas Técnicas, Empresas de Consultoria, Organizações de Metrologia, Patentárias etc. Logo, as Empresas são parte do Sis- tema de Inovação, que pode ser examinado pela perspectiva nacional, regional e/ ou setorial (FIGUEIREDO, 2011). Quadro 5 – Defi nições de Sistema de Inovação Freeman (1987) Rede de Instituições do Setor Público e Privado, cujas atividades e interações dão início à importação, à modificação e à difusão de novas tecnologias. Lundvall (1992) Elementos e relações que interagem na produção, na difusão e na utilização de novos conhecimentos economicamente úteis e estão enraizados ou localizados dentro de fronteiras de um estado nação. Nelson e Rosenberg (1993) Conjunto de Instituições cujas interações determinam o desempenho inovador das Empresas nacionais. 17 UNIDADE Elementos Introdutórios à Gestão da Tecnologia e Inovação Nelson (1993) Rede de Instituições Públicas e Privadas que interagem para promover o desenvolvimento científico e tecnológico de um país, incluindo como agentes Universidades, Escolas Técnicas, Ins- titutos de pesquisa, Agências Governamentais de Fomento, Indústrias, Associações Empresariais e Agências Reguladoras, num esforço de geração, importação, modificação, adaptação e difusão de inovações. Niosi et al. (1993) Sistema de interação de Empresas Públicas e Privadas (grande ou pequeno), universidades e agências governamentais voltadas para a produção de Ciência e Tecnologia dentro das fronteiras nacionais. A interação entre essas Unidades pode ser de caráter técnico, comercial, jurídico, social e financeiro, na medida em que o objetivo da interação é o desenvolvimento, a proteção, os financiamentos ou a regulamentação da nova Ciência e Tecnologia. Melcalfe (1998) Conjunto de Instituições distintas, o qual, conjunta e individualmente, contribuem para o desenvol- vimento e a difusão de novas Tecnologias e que constitui a estrutura de Governo, a qual forma e implementa políticas para influenciar o processo de inovação. Conforme o Quadro 5, verifica-se que o elemento central relacionado a siste- mas de inovação se traduz no fato de o desempenho em atividades de inovação depender não somente do desempenho de Empresas e Organizações de Ensino e Pesquisa, mas também de como elas interagem entre si e com os outros atores, e como as instituições afetam o desenvolvimento desses sistemas. Por fim, Edquist (2004) considera que Sistemas de Inovação são os determi- nantes do processo de inovação, ou seja, todos os fatores econômicos, sociais, políticos, organizacionais, institucionais e outros fatores que influenciam o desen- volvimento, difusão e uso das inovações. Um Sistema de Inovação pode assumir diferentes graus de maturidade. Quanto mais houver interações entre os elementos do Sistema de Inovação de maneira a auxiliar as Empresas a inovarem, mais maduro será. Quanto menos interações e menos inovações ocorrerem, assu- mirá graus de imaturidade. Ex pl or Logo, as Empresas são parte do Sistema de Inovação, que pode ser examinado pela perspectiva nacional, regional, local e/ou setorial (FIGUEIREDO, 2011). Portanto, embora o desenvolvimentode capacidade tecnológica industrial ocor- ra primariamente dentro de Empresas (BELL; PAVITT, 1995), as demais Orga- nizações do Sistema de Inovação (Universidades e seus diversos Departamentos, Institutos Públicos e Privados de Pesquisa, Centros de Formação e Treinamento e Consultorias, entre outros) podem contribuir para o processo inovador em nível de Empresas. Por isso, é ponto comum em documentos de política tecnológica no Brasil a recomendação de fortalecimento dos vínculos entre Empresas e as demais organizações que compõem os sistemas local, estadual e/ou nacional de inovação (FIGUEIREDO, 2011). 18 19 De maneira mais específica, essas Organizações de apoio são aqui definidas como um conjunto de arranjos institucionais, organizados com o objetivo básico de facilitar a disseminação de Tecnologia e outros conhecimentos relacionados, de fontes relevantes para as Empresas e outras Organizações, para auxiliá-las no desenvolvimento de suas capacidades tecnológicas e na adoção, produção e comer- cialização de inovações. Esses arranjos institucionais cobrem uma diversidade de mecanismos e proces- sos que servem de apoio para a provisão de serviços, tais como Contratos de Pes- quisa, Assistência Técnica, Certificação, Consultoria e Treinamento, entre outras instituições prestadoras de serviços tecnológicos (FIGUEIREDO, 2011). Em geral, tais arranjos são criados e/ou mantidos por meio da provisão de recur- sos (financeiros) públicos que permitem que a oferta de serviços, antes mencionada, ocorra a um preço abaixo do Mercado. Essa perspectiva sobre a infraestrutura tecnológica transcende a abordagem convencional de infraestrutura física – ba- seada somente no capital físico e humano, mas envolve, também, elementos ins- titucionais e organizacionais que apoiam as atividades inovadoras das Empresas ( FIGUEIREDO, 2011). Figura 3 – Importância atribuída aos parceiros das relações de cooperação, pelas Empresas que implementaram inovações de produto ou processo Fonte: PINTEC, 2013 Conforme a Figura 3, observa-se que a Universidade ainda não é significante como parceiro para relação de cooperação para inovação, exceto para o Setor de Eletricidade e Gás. 19 UNIDADE Elementos Introdutórios à Gestão da Tecnologia e Inovação Ademais, 41,52% das Empresas que implementaram inovação no período de 2009-2011 consideram escassas as oportunidades para cooperação com outras companhias/instituições. Outras dificuldades em relação ao processo de inovação se relacionam à: • Falta de serviços técnicos adequados; • Centralização da atividade inovativa em outra Empresa do Grupo; • Riscos econômicos excessivos; • Altos custos para inovar; • Falta de fontes de financiamento adequadas; • Rigidez organizacional; • Falta de pessoal qualificado; • Falta de informação sobre Tecnologias; • Falta de informação sobre os Mercados; • Oportunidades escassas de cooperações com outras Empresas/Instituições; • Dificuldade de atender aos padrões, regras e regulações; • Fraca resposta dos consumidores aos novos produtos. 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Interdisciplinaridade em Ciência, Tecnologia e Inovação PHILIPPI JR., A.; S. NETO, A. J. Interdisciplinaridade em Ciência, Tecnologia e Inovação. São Paulo: Manole, 2010. Gestão da inovação e do conhecimento POSSOLI, G. E. Gestão da inovação e do conhecimento. InterSaberes: São Paulo, 2012. 172p. Inovação em produtos e serviços PAIXÃO, M. V. Inovação em produtos e serviços. InterSaberes: São Paulo, 2014. 184 p. Vídeos O que é inovação: tipos e grau – Prof. Mario Salerno https://youtu.be/jueaPN_3Kt8 21 https://youtu.be/jueaPN_3Kt8 Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Paulo Renato Pakes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro Fontes de Inovação na Empresa • Introdução; • Fontes de Conhecimento para a Inovação; • Desenvolvimento Tecnológico Próprio; • Inovação Aberta e Inovação pelo Usuário; • Transferência de Tecnologia; • Conhecimento Tácito e Conhecimento Codificado; • Propriedade Intelectual; • Fontes de Inovação na Indústria Brasileira. • Apresentar conceitos sobre fontes de conhecimento para a inovação, desenvolvimen- to tecnológico, inovação aberta, transferência de tecnologia, conhecimento tácito e codifi cado, propriedade intelectual e fontes de inovação da indústria brasileira. OBJETIVO DE APRENDIZADO Fontes de Inovação na Empresa UNIDADE Fontes de Inovação na Empresa Introdução A literatura sobre inovação mostra que a tecnologia não é apenas exógena e nem totalmente endógena à empresa. Ou seja, o conhecimento da organização é estru- turado mediante diferentes fontes de tecnologia e de aprendizado, que podem ser de origem externa ou interna, e que são utilizadas pelas organizações para lançar novos produtos, melhorar processos, adotar novos métodos de gestão organizacional e aumentar a competitividade. Nesta unidade, iremos identificar as diversas fontes de tecnologia utilizadas pelas empresas, discutir suas características, oportunidades e limitações, bem como levantar seus impactos potenciais sobre a competitividade. Fontes de Conhecimento para a Inovação As fontes de inovação são geralmente classificadas segundo a origem da infor- mação e do conhecimento utilizado. As fontes internas se referem às atividades rea- lizadas dentro da organização que são explicitamente voltadas ao desenvolvimento de produtos e processos, inclusive aquelas voltadas à simples obtenção de melhorias incrementais por meio de programas de qualidade, treinamento de recursos huma- nos e aprendizado organizacional (TIGRE, 2014). Já as fontes externas se referem às atividades empresariais que envolvem a busca e aquisição de conhecimentos técnicos por meio de (OCDE, 2005): 1. aquisição de informações codificadas, a exemplo de manuais, software, livros e revistas técnicas, vídeos etc.; 2. contratação de consultorias especializadas; 3. obtenção de licenças de fabricação de produtos e processos; e 4. compra de tecnologias embutidas em máquinas e equipamentos. A seleção de diferentes fontes de tecnologia está associada às características da tecnologia em si, às escalas produtivas, às capacitações existentes e às estratégias adotadas pelas empresas. O Quadro 1 sumariza as principais fontes de tecnologia utilizadas nas empresas. Quadro 1 Fontes de Tecnologia Exemplos Desenvolvimento tecnológico próprio P&D, engenharia reversa, participação em redes de pesquisa. Contratos de transferência de tecnologia Licenças e patentes, contratos com universidades e centros de pesquisa. Tecnologia incorporada Máquinas, equipamentos e software embutido. Conhecimento codificado Livros, manuais, revistas técnicas, internet, feiras e exposições, software aplicativo, cursos e programas educacionais. 8 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce 9 Fontes de Tecnologia Exemplos Conhecimento tácito Aprendizado cognitivo, contratação de RH experiente, consultores, informações de clientes e fornecedores, estágios e treinamento prático. Aprendizado cumulativo Processo de aprender fazendo, usando, interagindo, etc. devidamente documentado e difundido na empresa. Fonte: Tigre (2014) Desenvolvimento Tecnológico Próprio É possível dividir as atividades de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) em: pesquisa básica, em que o foco é o avanço científico; pesquisa aplicada, que visa à solução de problemas práticos; e desenvolvimento experimental, voltado à geração de produtos, serviços e processos. A pesquisa básica é geralmente de longo prazo e seus resulta- dos são incertos, sendo assim evitada pela grande maioria das empresas. Entretan- to, destaca-se que seus resultados podem proporcionar avanços tecnológicos para a sociedade em longo prazo, e por isso são geralmente assumidos por instituições de pesquisa sem fins lucrativos e financiadas pelo Estado (OCDE, 2005).Ao centrar seus esforços nas etapas finais do processo de inovação, as empresas procuram reduzir as incertezas das atividades de P&D. A pesquisa empresarial visa principalmente ao desenvolvimento de novos produtos, ao aperfeiçoamento de pro- dutos existentes, à melhoria de processos produtivos e à introdução de inovações organizacionais. Estima-se que, na fase de pesquisa aplicada, na qual um projeto básico é transformado em um produto comercial, os investimentos em tecnologia sejam até dez vezes maiores do que na fase de concepção básica. Isso ocorre por- que a transformação de uma planta piloto ou protótipo em processos e produtos comercializáveis requer atividades complexas, como adequação da ideia às neces- sidades do mercado, busca e seleção de fornecedores, definição de processos de fabricação, desenvolvimento da rede de serviços aos clientes, obtenção de licenças junto a órgãos governamentais, registro de marcas e patentes e outras medidas práticas essenciais para o sucesso do novo produto ao mercado (TIGRE, 2014). Nos países desenvolvidos, ao contrário do que ocorre em países em desenvolvi- mento, a maior parte das atividades de P&D é realizada por empresas. Ainda assim o Estado exerce um papel fundamental na expansão do conhecimento e da base científica necessária para que o setor produtivo desenvolva tecnologias aplicadas, principalmente por meio da montagem de infraestrutura, do financiamento e da concessão de incentivos fiscais para a inovação. Os projetos de P&D nas empresas podem ter origem tanto na área de vendas, através da identificação de novas demandas do mercado (demand pull), quanto nas áreas técnicas que buscam oportunidades tecnológicas para inovar (technology push). As empresas mais orientadas para o mercado, nas quais a área comercial tem maior peso nas decisões estratégicas, costumam correr menos riscos. As áreas 9 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce UNIDADE Fontes de Inovação na Empresa de vendas costumam avaliar melhor as necessidades de seus clientes e o potencial do mercado nacional e internacional do que aquelas mais orientadas para tecnolo- gia. Por outro lado, empresas que vendem para mercados mais sofisticados e inten- sivos em tecnologia tendem a atribuir mais autonomia às áreas técnicas na definição de projetos de P&D e estão mais sujeitas às incertezas (FIGUEIREDO, 2011). Importante! O orçamento de P&D de uma empresa varia muito em função de sua estratégia tecno- lógica e do setor de atividades em que atua. As empresas que desenvolvem atividades formais de P&D são geralmente de grande porte, embora também existam pequenas empresas inovadoras, principalmente em novos segmentos industriais. Os esforços de P&D são geralmente medidos pelo percentual desses gastos em relação ao faturamento da empresa. Os setores de aeronáutica, farmacêutico e de microeletrônica costumam gastar mais de 10% de seu faturamento em atividades de P&D, enquanto setores menos dinâmicos tecnologicamente investem em média menos de 1%. Você Sabia? Um tipo particular de atividade de P&D realizada nas empresas é a engenharia reversa, uma fonte de tecnologia amplamente utilizada tanto em países desenvolvi- dos quanto nos países em desenvolvimento. Consiste na reprodução funcional de produtos e processos lançados originalmente por empresas inovadoras sem trans- ferência formal de tecnologia. A engenharia reversa é mais do que uma cópia, pois determinados componentes ou etapas de produção podem estar protegidos por pa- tentes ou segredo industrial. Para que a nova versão seja competitiva, é necessária capacitação tecnológica para compreender e modificar a tecnologia original, por meio do desenvolvimento de novas rotas, da substituição de componentes patente- ados e da solução de problemas de forma independente. Por fim, cabe apresentar também a formação de consórcios e redes de P&D, que tem sido uma tendência mundial diante da maior complexidade científica, da convergência tecnológica e dos altos custos das atividades de pesquisa. À medida que diferentes tecnologias convergem, a exemplo do que vem ocorrendo no cha- mado complexo eletrônico, nenhuma empresa consegue reunir internamente todas as competências necessárias para desenvolver novos produtos. Assim, precisam recorrer a alianças estratégicas para complementar suas competências e dividir os custos e riscos inerentes às inovações. A cooperação pode ocorrer tanto entre em- presas em uma determinada cadeia produtiva para desenvolver tecnologias comuns aos seus negócios como também entre empresas concorrentes, principalmente em soluções tecnológicas básicas típicas de uma fase pré-competitiva. Tradicionalmente, as empresas multinacionais concentram suas atividades de desenvolvimento tecnológico em suas matrizes e as subsidiárias mantêm pouca capacitação ou autonomia para inovar. Mais recentemente, entretanto, observa-se uma tendência das corporações globais de integrar subsidiárias em outros países no processo de geração de novas tecnologias. Isso se deve principalmente ao alto custo e à falta de disponibilidade de recursos humanos em grande escala, além da necessidade de adaptar produtos a mercados específicos (TIGRE, 2014). 10 dougm Realce dougm Realce dougm Realce 11 Inovação Aberta e Inovação pelo Usuário Os custos crescentes de P&D, associados a ciclos de vida do produto cada vez mais curtos, têm levado algumas empresas a lançar programas de inovação aberta (open innovation) e inovação pelo usuário. O termo Open Innovation, em português, Inovação Aberta (IA), surgiu com o autor Chesbrough (2003). Em seu livro “Open Innovation: The New Imperative for Creating and Profiting from Technology”, o autor aborda os obstáculos para as empresas manterem-se inovadoras utilizando apenas seus recursos internos. Assim, Chesbrough (2003) expõe observações sobre a experiência de algumas empresas em utilizarem novas formas de gerar inovação tecnológica, diante disso, propõe um novo modelo de geração de inovação – o modelo Open Innovation. Autores como Dosi (1988), Freeman (1999), dentre outros, já destacavam a interação entre partes externas e os membros internos da empresa como forma de prospectar possibilidade de desenvolvimento de novos conhecimentos e inovação. O modelo IA, em definição mais recente de Chesbrough et al. (2014, p. 17), é caracterizado como “um processo de inovação distribuído com base em gestão de fluxos propositais de conhecimento através das fronteiras organizacionais, utilizan- do mecanismos pecuniários e não pecuniários em conformidade com o modelo de negócio da organização”. Contrapõe-se, portanto, à inovação fechada, que trata o P&D internamente, e passa a explorar as transferências de conhecimento através dos limites físicos das organizações (HUIZINGH, 2011). A figura 1 retrata o conceito clássico de funil de inovação de Chesbrough (2003), o qual divide o processo IA em três etapas principais: (a) projetos de pesquisa; (b) desenvolvimento; e (c) comercialização. Novos mercados Mercado atual Novos produtos/serviçosLimites da empresa Ciência e Tecnologia Projetos de pesquisas Pesquisa Desenvolvimento Comercialização Figura 1 – Funil de Inovação (Open Innovation) Fonte: Adaptado de Chesbrough, 2003 Na fase de pesquisa, as empresas buscam ideias, conceitos, parcerias e proje- tos de fontes tecnológicas e científicas. Esse modelo enfatiza o fato de que opor- tunidades externas têm de ser bem exploradas, permitindo o desenvolvimento da inovação através da exploração de tecnologias e recursos (CHESBROUGH, 2007). 11 dougm Realce dougm Realce dougm Realce UNIDADE Fontes de Inovação na Empresa Por sua vez, na etapa de desenvolvimento, novas oportunidades, parcerias e projetos podem surgir. Esse estágio funciona como um filtro para os projetos, que pode ser endereçado a mercados atuais ou novos e pode resultar em acordos de licenciamen- to, produtos e serviços projetos de desenvolvimento, iniciativas de transferênciade tecnologia e de capital de risco. Por fim, na fase de comercialização, canais de negó- cios externos são explorados para gerar valor para a organização (OLIVEIRA, 2017). Sendo assim, compreende-se que a IA torna as fronteiras das empresas cada vez mais permeáveis aos ambientes que a circundam, favorecendo suas funções de ne- gócios e de gestão, minimizando a inércia organizacional e adaptabilidade ao meio ambiente, possibilitando, com isso, a criação de valor e vantagem competitiva para o negócio (HUANG et al., 2013). A Inovação Aberta parte dos seguintes pressupostos (TIGRE, 2014): 1. Por maiores que sejam as organizações de P&D, a maioria dos bons pro- fissionais da área está fora da empresa; 2. Fontes externas de tecnologia podem agregar valor ao negócio, o que não desobriga a empresa de ter um P&D forte; 3. Uma empresa não precisa ser inventora de uma tecnologia para comercializá-la; 4. Ser o primeiro a inovar não garante sucesso no mercado, pois o mais im- portante é ter um modelo de negócio; 5. Pode ser mais lucrativo licenciar para terceiros uma tecnologia desenvol- vida internamente, mas sem uso imediato, do que tentar explorá-la sem contar com uma estrutura comercial ou modelo de negócio apropriado. Importante! Redes de Inovação aberta incluem a prestação de serviços técnicos, a aquisição ou trans- ferência de tecnologia e o estabelecimento de alianças estratégicas e consórcios de pes- quisa. A pioneira nesse processo foi a Procter & Gamble, que mantém redes de coopera- ção em áreas relacionadas com sua ampla linha de produtos abrangendo embalagens, design, distribuição, modelos de negócios, modelos de marketing, métodos de pesquisa de mercado, licenciamento de marcas e pesquisa tecnológica em diferentes áreas. Em seus sites de relacionamento, a empresa lista suas demandas por inovação e oferece tec- nologias para terceiros. Você Sabia? Uma variante desse processo é a inovação pelo usuário, que parte da ideia de que muitos produtos e serviços são desenvolvidos ou aperfeiçoados por clientes durante o processo de implementação e uso. Isso ocorre porque os produtos são originalmente desenvolvidos de forma genérica e, quando usuários individuais se defrontam com problemas particulares não compartilhados com outros usuários, eles precisam fazer modificações, ou mesmo desenvolver produtos inteiramente novos para atender suas necessidades. Frequentemente, usuários compartilham 12 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce 13 suas ideias com fabricantes, levando-os a incorporá-las em seus produtos. Isso in- clui inovações na forma de usar um produto, na prestação de serviços associados, na configuração de tecnologias e no desenvolvimento de novas tecnologias propria- mente ditas (TIGRE, 2014). Transferência de Tecnologia O processo de transferência de tecnologia envolve diferentes formas de transmis- são de conhecimentos, incluindo contratos de assistência técnica, em que a empre- sa obtém ajuda externa para iniciar o processo produtivo, solucionar problemas ou lançar novos produtos, obtenção de licenças de fabricação, utilização de patentes e marcas registradas e a aquisição de serviços técnicos de engenharia (TIGRE, 2014). A comercialização de tecnologia via licenciamento é uma atividade mais interna- cional do que doméstica, já que as empresas procuram evitar o fomento de concor- rentes diretos nos mercados em que atuam. As empresas que obtêm licenças sem a necessária capacitação tecnológica buscam compensar a falta de competitividade por meio da obtenção de vantagens competitivas locacionais, menores custos de aluguéis e mão de obra, logística eficiente, acesso privilegiado a determinados mer- cados ou fontes exclusivas de matérias-primas e recursos minerais. Esses fatores podem compensar deficiências tecnológicas, garantindo a sobrevivência de peque- nas indústrias regionais. A compra de uma tecnologia mais avançada permite que a empresa inove em processos ou produtos. Porém, não havendo um esforço próprio para adaptar e aperfeiçoar a tecnologia adquirida, o ganho de eficiência é de “uma vez só”, sem produzir efeitos dinâmicos na produtividade. Uma tecnologia não permanece es- tável ao longo do tempo e, por isso, o licenciamento precisa vir acompanhado de um esforço interno para absorvê-la e aperfeiçoá-la, visando garantir sua evolução. Na maioria dos casos, é necessário adaptar a tecnologia adquirida às condições locais em termos de disponibilidade e custos de fatores de produção, necessidades dos clientes, escala produtiva e cultura organizacional. A disponibilidade interna de recursos humanos qualificados para conduzir programas de qualidade, introduzir melhorias contínuas e adaptar seus produtos e processos às mutantes necessidades da demanda é fundamental para promover uma efetiva transferência de tecnologia. Importante! As universidades e os centros de pesquisa representam uma fonte de tecnologia na qual o conhecimento gerado não tem necessariamente o objetivo comercial. As relações universidade-empresa vêm crescendo, mas esbarram em diferentes práticas e vocações institucionais que dificultam a cooperação. Você Sabia? 13 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce UNIDADE Fontes de Inovação na Empresa Conhecimento Tácito e Conhecimento Codificado A natureza do conhecimento utilizado em atividades econômicas é usualmente dividida em codificada e tácita. O conhecimento codificado é apresentado sob a forma de informação, por meio de manuais, livros, revistas técnicas, software, fórmulas matemáticas, documentos de patentes, bancos de dados etc. A codifi- cação permite que o conhecimento seja transmitido, manipulado, armazenado e reproduzido. Já o conhecimento tácito envolve habilidades e experiências pesso- ais ou de grupo, apresentando um caráter mais subjetivo. Tal conhecimento difi- cilmente é passível de transmissão objetiva e, portanto, não pode ser facilmente transformado em informação. O conhecimento tácito permite a diferenciação da capacitação entre diferentes empresas, pois constitui uma vantagem competitiva única. A forma mais comum de se adquirir conhecimento tácito é através da ges- tão do conhecimento, da acumulação de experiência e da contratação de consul- tores e profissionais de outras empresas (FIGUEIREDO, 2011). O conhecimento codificado é mais fácil de transferir, mas sua rápida evolução limita seus benefícios para quem não adquire a capacitação necessária para aprender a deco- dificar o conhecimento. A codificação cria a possibilidade de transformar informação em mercadoria, mas seu valor será muito limitado para aqueles que não têm a capacitação necessária para compreender e utilizar produtivamente o conhecimento (TIGRE, 2014). Propriedade Intelectual O valor de uma determinada tecnologia geralmente depende das condições de apropriabilidade, ou seja, da possibilidade de o inventor ou inovador manter exclu- sividade sobre a tecnologia por um determinado período de tempo. Tal controle é geralmente exercido através da propriedade intelectual sobre bens imateriais, por meio de patentes. Em alguns casos, a tecnologia não é patenteável, e a proteção é mantida por segredo industrial. Uma tecnologia facilmente imitável leva os rendi- mentos monopolistas de uma inovação a quase zero (TIGRE, 2014). A propriedade intelectual (PI) é essencialmente um direito outorgado pelo Estado por meio de leis específicas, por um prazo determinado, e que permite ao seu detentor excluir terceiros de sua comercialização. A PI abrange a propriedade industrial, copyrights e domínios conexos. A propriedade industrial é o regime de proteção conferido às invenções, modelos de utilidade, desenhos industriais, mar- cas e denominações de origem (TIGRE, 2014). Uma patente de invenção é concedida no caso de o objeto possuir os requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial, levando emconsideração não apenas a ideia tal como foi expressa, mas sua aplicação prática. 14 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce 15 O modelo de utilidade se refere mais a um detalhe de funcionamento, ou de uti- lização, do que, propriamente, de estética ou configuração. Trata-se de um disposi- tivo ou forma nova conferida a um objeto conhecido visando aumentar ou facilitar sua capacidade de utilização. Por exemplo, uma nova engrenagem em um isqueiro ou um novo dispositivo para abertura de uma lata constitui um modelo de utilidade passível de ser patenteado. O desenho industrial (design) é um bem material que se exterioriza pela for- ma ou pela disposição de linhas e cores de um objeto suscetível de utilização. A diferenciação do produto através de design exclusivo é muito importante para a competitividade de indústrias de bens de consumo e produtos embalados para o usuário final. Os produtos precisam ser constantemente redesenhados de forma a incorporar um visual mais atualizado, seguindo tendências culturais, novos padrões estéticos, mudanças de hábitos do consumidor, uso de novos materiais e compo- nentes que ganham a preferência do mercado. O design original é passível de ser protegido pelas leis de propriedade industrial. As marcas registradas conferem uma identidade ao produto, permitindo sua identificação pelo consumidor. Desenvolver uma marca forte requer grandes inves- timentos em propaganda e marketing, mas pode ser uma boa alternativa para fugir da competição por preços, típica dos produtos sem uma identidade marcante. Por fim, o direito autoral é o regime de proteção conferido especificamente a cria- ções literárias, artísticas e científicas. O registro de direito de autor de uma obra original confere o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra, ou seja, de impedir que terceiros copiem o que foi criado. Importante! A propriedade intelectual é regida por vários acordos internacionais, desenvolvidos a partir da Convenção da União de Paris e da Convenção de Berna, ambas de 1883. Atualmente, o acordo internacional mais importante é o Trade Related Aspextos of Intellectual Rights Including Trade in Counterfeit Goods (TRIPS), criado em 1994 pela Organização Mundial de Comércio. Você Sabia? Fontes de Inovação na Indústria Brasileira O estudo do comportamento inovador da empresa brasileira nos ajuda a enten- der o processo de desenvolvimento industrial do país. A literatura internacional está focada essencialmente na experiência dos países avançados nos quais as atividades de P&D constituem a principal fonte de aquisição de tecnologia. Já no Brasil, as tendências apontadas nas últimas versões da Pesquisa de Inovação Tecnológica do IBGE (PINTEC) indicam que a expensão das atividades inovativas tem se dado com base em outras fontes de tecnologia. No Brasil, a aquisição de 15 dougm Realce dougm Realce UNIDADE Fontes de Inovação na Empresa máquinas e equipamentos, a realização de treinamentos e de projetos industriais tem sido as atividades inovativas mais relevantes. Por outro lado, as atividades internas de P&D vêm perdendo importância. O Gráfico 1 apresenta o grau de importância atribuída para as atividades inovativas pelas empresas que responde- ram à última PINTEC (IBGE, 2016). Figura 2 – Importância relativa das atividades inovativas para a realização de inovações Fonte: IBGE, 2016 Assim como no período anterior (de 2009 a 2011), verificou-se no intervalo 2012-2014 um padrão baseado no acesso ao conhecimento tecnológico através da incorporação de máquinas e equipamentos, que figura como a atividade considera- da de importância alta ou média para 72,5% das empresas inovadoras pertencentes ao âmbito da pesquisa, seguida da atividade, frequentemente complementar, de treinamento (62,3%) e da aquisição de software (33,8%). No período de referência anterior (2009-2011), essa participação foi de 73,5% para aquisição de máquinas e equipamentos, 59,5% para treinamento e 33,2% para aquisição de software. 16 dougm Realce 17 Apesar de atribuir menor importância relativa às atividades de P&D, o cruza- mento com dados factuais da PINTEC revela que as empresas brasileiras estão inovando mais: no período 2012 a 2014, do universo de 132.529 empresas com 10 ou mais pessoas ocupadas, 47.693 implementaram produtos ou processos no- vos ou significativamente aprimorados, perfazendo uma taxa geral de inovação de 36,0%. Houve uma diferença foi de 0,3 ponto percentual acima do verificado no triênio 2009-2011, quando então a taxa havia sido de 35,7%. O principal objetivo dos esforços tecnológicos das empresas brasileiras é acom- panhar a dinâmica competitiva, por meio do lançamento de novos produtos, assim como pela adaptação de produtos existentes às necessidades do mercado, aos pa- drões mais rígidos de qualidade e maior aderência a normas técnicas internacionais. Já a demanda por tecnologias de processos e mudanças organizacionais reflete a necessidade de reduzir custos de produção, de buscar soluções para problemas am- bientais, e promover o aumento da produtividade do trabalho. Importante! O registro de propriedade intelectual vem perdendo importância relativa no país, pois apenas 7,2% das empresas que inovaram depositaram pedidos de patentes em 2008. Tal tendência sugere que políticas de estímulo à disseminação das fontes abertas de conhecimento podem constituir alternativas mais promissoras para o desenvolvimento tecnológico do que restringir a circulação de inovações por meio da concessão de direitos de propriedade intelectual. Você Sabia? 17 dougm Realce dougm Realce UNIDADE Fontes de Inovação na Empresa Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Interdisciplinaridade em Ciência, Tecnologia e Inovação PHILIPPI JUNIOR, A.; NETO, A. J. S. Interdisciplinaridade em Ciência, Tecnologia e Inovação. São Paulo: Manole, 2010. (e-book) Gestão da inovação e do conhecimento POSSOLI, G. E. Gestão da inovação e do conhecimento. InterSaberes: São Paulo, 2012. 172 p. (e-book) Inovação em produtos e serviços PAIXÃO, M. V. Inovação em produtos e serviços. InterSaberes: São Paulo, 2014. 184 p. (e-book) Leitura Manual de Oslo OCDE. Manual de Oslo. https://bit.ly/2n8EOK6 18 Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Paulo Renato Pakes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro Inovação e Estratégia Competitiva • Introdução; • Estratégia Ofensiva; • Estratégia Defensiva; • Estratégia Imitativa; • Estratégia Dependente; • Estratégia Tradicional; • Estratégia Oportunista. • Apresentar os diferentes tipos de estratégias tecnológicas relacionadas à adoção de inovações e sua relação com a competitividade. OBJETIVO DE APRENDIZADO Inovação e Estratégia Competitiva UNIDADE Inovação e Estratégia Competitiva Introdução As múltiplas incertezas que cercam a atividade econômica levam as empresas a desenvolverem, de maneira explícita ou implícita, estratégias competitivas que faci- litem seu posicionamento no mercado em que atuam. As estratégias são fundamen- tadas na avaliação das ameaças e oportunidades externas e da capacidade interna da firma de responder a esses desafios e influenciar o ambiente externo (PORTER, 1996). Ela pode ser definida como a seleção e implantação de um conjunto de objetivos com vistas a adaptar a empresa ao ambiente externo ou modificá-lo para melhorar suas chances de sucesso. Esta unidade apresenta os diferentes tipos de estratégias tecnológicas que po- dem ser consideradas um subconjunto das táticas competitivas mais gerais adotadas pelas empresas. Seguindo a taxonomia proposta por Freeman e Soete (1997), as estratégias tecnológicas são apresentadas por Tigre (2014) em seis tipos: ofensi- va, defensiva, imitativa, dependente, tradicional e oportunista. A classificação de estratégiaspor tipos tem algo de arbitrário, considerando a infinita variedade de circunstâncias existentes no mundo real. As estratégias não são exclusivas e as empresas acabam adotando gradações ou combinações de diferentes alternativas. Além disso, não costumam se sustentar em longo prazo, pois precisam ser flexí- veis de forma a incorporar mudanças tecnológicas e nos mercados. Apesar das limitações, a identificação de diferentes tipos de estratégias é útil para o gestor da tecnologia, pois contribui para manter a coerência das ações e para avaliar seus requisitos e potencialidades. Estratégia Ofensiva A estratégia ofensiva de inovação é adotada por empresas que buscam liderança tecnológica em determinados segmentos da indústria. A inovação pode estar no projeto do produto, no processo de produção, no modelo de negócios, na forma de prestação de um serviço, no modo de relacionamento com clientes, na logística de distribuição ou no desenvolvimento de design original. O inovador geralmente corre grandes riscos inerentes à inovação pioneira, pois introduz uma ideia ainda não testada no mercado (FREEMAN; SOETE, 1997). A empresa que adota uma estratégia inovadora ofensiva precisa contar com boa capacidade criativa e técnica, seja internamente ou através do acesso privilegiado a laboratórios e centros de pesquisa e da relação exclusiva com consultores e for- necedores de insumos e serviços críticos. A inovação dificilmente tem uma origem única, sendo frequentemente resultado da combinação de diversos elementos e pacotes tecnológicos. Para absorver e gerar novos conhecimentos, as empresas 8 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce 9 pioneiras necessitam contar com quadros técnicos qualificados em diferentes áreas, um recurso encontrado mais tipicamente em grandes empresas com atividades formalizadas de pesquisa e desenvolvimento (TIGRE, 2014). Empresas de menor porte também podem adotar estratégias ofensivas, espe- cialmente a nova empresa de base tecnológica formada especificamente para ex- plorar uma inovação ou ideia original. Em muitos casos, tais empreendimentos são originários de incubadoras de empresas vinculadas a universidades ou de spin-offs de empresas maiores. Muitas empresas de propósito específico são criadas para testar uma nova tecnologia ou modelo de negócios original e, em caso de êxito, são vendidas a investidores de maior porte. O êxito na geração de uma nova ideia não significa o sucesso da empresa em longo prazo. O ciclo de vida do produto exige investimentos e capacitação gerencial que, em muitos casos, só estão disponíveis em organizações de maior porte (FIGUEIREDO, 2011). Outra forma de inovar é por meio da identificação de soluções particulares de clientes existentes ou potenciais, desenvolvendo assim um novo mercado. Nesse caso, a capacitação tecnológica é combinada a um profundo conhecimento do per- fil do usuário, das necessidades específicas de determinados setores ou ramos de negócios ou de funções típicas da empresa (TIGRE, 2014). A empresa que adota uma estratégia ofensiva deve estar preparada para investir em longo prazo e assumir riscos. Não pode esperar retornos imediatos, pois os clientes precisam ser induzidos a experimentar o novo produto. Assim, a progressiva capitalização do empreendimento é crítica para o sucesso. Quando uma empresa introduz uma inovação, mas não conta com os recursos necessários para desenvolvê-la adequadamente, acaba por criar espaços para concorrentes em melhores condições para ocupar o mercado criado. Os nichos não permanecem abertos para sempre e, à medida que crescem e se tornam mercados relevantes, serão fatalmente visados por empresas maiores. Empresas bem-sucedidas na criação de um mercado são geralmente obrigadas a investir continuamente em P&D e marketing de forma a aperfeiçoar o produto e desenvolver o mercado. Por isso empresas inovadoras de pequeno porte bem-sucedidas costumam ser absorvidas por empresas maiores. A disponibilidade de economias externas em termos de infraestrutura científica e tecnológica é essencial para a empresa que adota uma estratégia ofensiva. Os cen- tros de excelência universitários atraem empresas de alta tecnologia, seja por ser a localização natural para alunos e professores empreendedores ou por atrair empre- sas de outras regiões pela qualidade dos recursos humanos. Os ambientes culturais, educacionais e os incentivos locais são fundamentais para a inovação. Isso inclui iniciativas de prefeituras e universidades de criarem parques tecnológicos, incuba- doras de empresas, serviços técnicos e tecnológicos, além de incentivos fiscais para atração de empresas. 9 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce UNIDADE Inovação e Estratégia Competitiva Importante! A estratégia inovadora ofensiva envolve não apenas P&D, mas também funções igual- mente importantes, como propaganda e marketing, logística e criação e adaptação de novas rotinas organizacionais. Serviços inovadores precisam funcionar bem e estar in- tegrados aos demais setores da empresa. Quando os novos produtos e serviços diferem muito dos preexistentes no mercado, a empresa inovadora precisa educar seus clientes potenciais por meio de cursos, material de apoio, testes gratuitos, promoções e boa as- sistência técnica ao usuário. Além de recursos financeiros, a estratégia inovadora requer capacitação dos recursos humanos nas áreas comercial e administrativa. Importante! No Brasil, pouquíssimas empresas adotam uma estratégia ofensiva em nível glo- bal. Dentre elas, podemos destacar a Petrobras, que desenvolveu tecnologias pio- neiras de exploração de petróleo em águas muito profundas que hoje estão sendo utilizadas no pré-sal. Para viabilizar tal estratégia, foram necessários investimentos de longo prazo em centros de pesquisa e também um contínuo esforço de capaci- tação e cooperação com universidades (TIGRE, 2014). Estratégia Defensiva Poucas empresas estão dispostas a seguir uma estratégia ofensiva e mantê-la consistentemente em todas as áreas em que atuam. Mesmo as tipicamente inovado- ras podem mesclar tecnologias maduras e avançadas visando formar um “mix” de produto mais seguro. Agindo seletivamente em relação à introdução de inovações, as empresas procuram evitar incertezas e erros que levam muitos pioneiros a su- cumbir. O sucesso inicial em uma inovação pode levar a uma atitude mais cautelosa no sentido de consolidar os resultados obtidos. A opção defensiva pode também ser involuntária, diante da rápida evolução da tecnologia, pois muitos inovadores são superados por concorrentes mais rápidos em introduzir novos produtos e serviços no mercado (FREEMAN; SOETE, 1997). Na corrida para cortar custos e aumentar a produtividade, a maioria dos execu- tivos não desenvolve uma visão de futuro corporativo, pois esse exercício exigiria muito tempo e energia intelectual. A empresa que adota uma estratégia defensiva não quer correr o risco de ser a primeira a inovar, mas também não quer ser deixada para trás em termos tecnoló- gicos. Ela espera aprender com os erros dos pioneiros e aproveitar a abertura de um novo mercado para oferecer soluções mais seguras e consistentes. Em muitos casos, a empresa defensiva tem uma marca conhecia no mercado e conta com boa capacitação em áreas complementares, como produção e distribuição, e aproveita essas vantagens para superar os inovadores ofensivos. A estratégia defensiva não pretende apenas copiar os inovadores, mas sim superá-los. Para isso, é necessário investir muito em capacitação técnica própria (TIGRE, 2014). 10 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce 11 A estratégia defensiva é típica dos mercados oligopolistas e está associada à diferenciação de produtos.Para a empresa oligopolista, a inovação defensiva é um “seguro” contra o risco de obsolescência tecnológica de sua linha de pro- dutos, permitindo que a empresa reaja e se adapte às mudanças tecnológicas introduzidas por seus concorrentes. As empresas tradicionais, líderes em seus mercados, tipicamente têm capacidade tecnológica para inovar, mas preferem esperar que outras empresas assumam o ônus de lançar novos produtos, cor- rendo os riscos inerentes à aceitação do mercado. Caso o produto seja um sucesso, as líderes vão reagir lançando produtos que incorporam as principais novidades. Considerando que uma empresa líder não pode ficar muito tempo atrás dos inovadores, ela precisa ser capaz de responder de modo rápido quan- do decidir efetivamente adotar a nova tecnologia. Para manter sua parcela de mercado, a empresa defensiva precisa desenvolver produtos tão bons quanto os do concorrente e incorporar novas características que os diferenciem em visual, preço e desempenho (FIGUEIREDO, 2011). A estratégia defensiva exige capacitação em produtos e processos, aproveita- mento de economias de escala e de escopo e incorporação de inovações organiza- cionais no sentido de promover maior integração dos processos internos e externos. Importante! Empresas com um amplo parque instalado têm interesse em prolongar o ciclo de vida de produtos que, mesmo maduros, ainda gozam da preferência do mercado. Tais produtos contam com pelo menos três vantagens competitivas frente às inovações mais recen- tes: a) são produtos amplamente utilizados por consumidores aprisionados pelo hábito; b) são fabricados por meio de processos produtivos otimizados ao longo do tempo em função das oportunidades de aprendizado dinâmico; e c) os custos de desenvolvimento já foram amortizados, permitindo preços competitivos. Nessas condições, empresas líde- res procuram retardar ou reverter o processo de obsolescência tecnológica, por meio de inovações incrementais que ofereçam uma sobrevida a seus produtos de sucesso. Você Sabia? Estratégia Imitativa Ao contrário dos inovadores defensivos que pretendem apreender com os erros dos pioneiros e aprimorar a nova tecnologia, a empresa que adota a estratégia imi- tativa não aspira ser líder ou ter lucros extraordinários com a introdução da inova- ção. Ela pretende apenas marcar sua presenta no mercado, oferecendo um produto semelhante aos existentes. O tempo de defasagem da introdução do produto vai depender das circunstâncias particulares do mercado, da região ou país. Quanto maior a proteção ao mercado local, maior a viabilidade de uma estratégia imitativa (FREEMAN; SOETE, 1997). 11 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce UNIDADE Inovação e Estratégia Competitiva A estratégia imitativa é usualmente dotada em mercados onde as empresas ino- vadoras não atuam diretamente. No passado recente, o protecionismo voltava-se a esse tipo de estratégia no Brasil, favorecendo a entrada no mercado de empresas nacionais de pequeno e médio porte. A proteção governamental contra a competi- ção dos produtos estrangeiros se dava por meio de uma política de substituição das importações baseada em altas tarifas alfandegárias, barreiras burocráticas (como a exigência de anuência prévia de determinadas instâncias do governo para impor- tação), além de incentivos fiscais para a produção nacional. Entretanto, a proteção efetiva vem caindo significativamente desde o início da década de 1990, tanto em função da abertura comercial quanto pela introdução de formas mais rígidas de proteção à propriedade intelectual (TIGRE, 2014). Outra forma de as empresas que adotam estratégias imitativas obterem vantagem competitiva em relação a empresas inovadoras é se localizarem geograficamente junto ao mercado. Produtos perecíveis como alimentos frescos são geralmente pro- duzidos localmente. As dificuldades de transportes também podem favorecer indús- trias localizadas junto a seus clientes (FIGUEIREDO, 2011). A estratégia imitativa pode ser sustentada quando a firma detém um nicho de mercado, composto por clientes fiéis a uma determinada marca ou tipo de serviço. A empresa pode ter acesso privilegiado a determinados mercados em função de sua localização ou inserção em comunidades específicas. Outra forma de assegurar o mercado é através do acesso privilegiado a canais de distribuição. Por exemplo, o controle de uma rede de supermercados em uma determinada região pode favore- cer alguns fornecedores em detrimento de outros. Grandes varejistas criam marcas próprias de produtos que, embora sejam apenas imitações, encontram mercado cativo em função do acesso direto ao consumidor final. As fontes de tecnologia utilizadas pelas empresas que adotam estratégias imi- tativas incluem a obtenção de licenças de fabricação, a engenharia reversa ou a simples cópia de produtos existentes no mercado. Para realizar a imitação de forma independente, a empresa precisa contar com certo nível de capacitação técnica. Quando a tecnologia já está difundida, é possível obtê-la a custos relativamente baixos junto a consultores especializados, contratação de técnicos com experiência em empresas concorrentes, acesso à informação técnica publicada ou através do uso de informações disponíveis em patentes vencidas. Importante! A estratégia imitativa apresenta a desvantagem de proporcionar margens de lucro muito apertadas, pois produtos indiferenciados são tomadores de preços estabelecidos pelo mercado. Diante da intensificação da concorrência, a busca pela redução de custos pode levar o setor à informalidade ou a se mudar para regiões mais pobres, onde os custos salariais são menores. Importante! 12 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce 13 Estratégia Dependente As empresas que adotam uma estratégia dependente assumem um papel su- bordinado em relação a outras empresas mais fortes. Elas não tomam a iniciativa de promover mudanças técnicas em seus produtos ou processos a não ser por demanda explícita de seus clientes ou de seus controladores e dependem de outras empresas para obter as instruções técnicas necessárias para inovar. Geralmente não contam com capacitação própria para alterar o processo produtivo ou lançar novos produtos, buscando apenas operar os equipamentos existentes de forma eficiente. A estratégia dependente não é necessariamente uma opção voluntária da firma, mas pode ser uma exigência de seus parceiros comerciais ou controladores. Há pelo menos quatro tipos de modelos de negócios que se apoiam em estratégias tecnológicas dependentes (FREEMAN; SOETE, 1997). O primeiro é adotado por empresas que fabricam produtos para serem comer- cializados sob a marca de terceiros. Nesse caso, o produto precisa ser exatamente como especificado pelo comprador que para isso fornece o desenho do produto e os parâmetros de qualidade. Dessa forma, a dependência comercial pode levar também à dependência tecnológica. Apesar de ser uma opção segura de acesso ao mercado, tal estratégia comprime as margens de lucro, pois o fornecedor está sempre em concorrência direta com outros fornecedores da rede em todo o mundo. O segundo tipo de estratégia dependente é seguido pelas empresas que ope- ram sob o regime de franquias. O franqueado recebe pronto o projeto da loja, os processos de vendas, a formulação dos produtos e o treinamento necessário para realizar as operações de forma padronizada. Ele não pode, por exigências contra- tuais, iniciar mudanças que possam descaracterizar sua filiação à rede de negócios. Para pequenas empresas, a franquia é uma forma de reduzir os riscos do empreen- dimento e superar a falta de capacitação ou experiência em um determinado ramo de negócios. Segundo o SEBRAE, a taxa de mortalidade de empresas franqueadas costuma ser menor que a das empresas independentes (FIGUEIREDO, 2011). O terceiro tipo de estratégia dependente é adotado por subsidiárias de outras empresas que mantêm
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