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Cultivo de Acácias: Acácia Australiana e Acácia Negra

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doi: 10.29372/rab202002 
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Cultivo de acácias: acácia australiana 
e acácia negra 
 
Bruno Marcos Nunes Cosmo* 
Tatiani Mayara Galeriani 
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Unesp 
Fabiula Patricia Novakoski 
Universidade Federal do Paraná – UFPR 
 
*Correspondência para: brunomcosmo@gmail.com 
 
 
1. Introdução 
Na atualidade existem diversas atividades agropecuárias pungentes a serem desenvolvidas, dentre elas a 
silvicultura vem ganhando destaque no mercado, a produção de madeira e outros derivados das florestas 
plantadas tornam-se cada vez mais essenciais para o desenvolvimento de certos produtos. 
Neste contexto, diversos gêneros florestais merecem destaque, neste trabalho serão abordados alguns 
aspectos do gênero Acacia que possui mais de 1.300 espécies distribuídas pelas regiões tropicais e subtropicais 
do globo, sendo a Austrália o principal centro de diversidade. 
Grande parte das espécies são arbustos e pequenas árvores de savanas e regiões áridas, entretanto, 
existe um grupo adaptado à região tropical úmida, caracterizado pelo rápido crescimento, alta 
competitividade, madeira densa e facilidade de cultivo comercial, havendo poucos problemas com pragas e 
doenças, como membros deste grupo cita-se a Acácia Australiana (Acacia mangium Willd.) e a Acácia Negra 
(Acacia mearnsii De Wild.). 
O gênero é considerado o terceiro de maior importância silvícola, estando atrás dos Eucaliptos e dos 
Pinus. O gênero pertencente à família Fabaceae, caracterizado pela Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) 
realizada pelas árvores, o que as destaca para recuperação de áreas degradadas e reflorestamento e possibilita 
a realização de consórcios muito interessantes com outras culturas, também podem ser utilizadas para fins 
ornamentais. 
Em termos gerais as árvores apresentam madeira dura é densa com diversas aplicações na marcenaria, 
indústria de celulose, energia, e destaque da Acácia Negra na produção de tanino, sendo sua principal 
finalidade de cultivo, colocando-a como a principal fonte vegetal do elemento e movimentando altos 
rendimentos. Desta forma seguem-se algumas informações sobre as exigências climáticas, produção e 
comercialização de dois representantes do gênero Acacia. 
 
2. Acácia Australiana 
2.1. Exigências Edafoclimáticas 
A Acácia Australiana é natural da Austrália, Nova Guiné e proximidades, apresenta copa densa, com 
tronco retilíneo, ramificado acima da metade da altura total, de cor cinza-pardo, no Brasil registra taxas de 
crescimento de 6,2 m ano-1. Possui folhas compostas após a germinação, substituídas em seguida por folhas 
simples de borda inteira, com aspecto coriáceo. As flores globulares brancas se reúnem formando 
 
 
http://www.fcav.unesp.br/rab 
e-ISSN 2594-6781 
Volume 4 (2020) 
 
Artigo publicado em 17/03/2020 
 
http://dx.doi.org/10.29372/rab202002
http://www.fcav.unesp.br/rab
 
 
doi: 10.29372/rab202002 
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inflorescências do tipo espiga. A floração ocorre o ano todo no Brasil e a frutificação ocorre na sequência após 5 
a 7 meses. 
Os frutos são vagens espiraladas, com sementes negras, pendentes, fixadas por um arilo alaranjado. A 
produção de sementes inicia aos 2,5 anos com 80 a 110 mil sementes por Kg. A planta pode alcançar 30 m de 
altura e 0,9 a 1,1 m de diâmetro na altura do peito. 
É encontrada em margens de matas densas, áreas costeiras, locais abertos e áreas perturbadas pelo fogo. 
O crescimento está relacionado com a luminosidade. Chegou ao Brasil em 1979, por meio da Embrapa 
Florestas. É considerada plástica, crescendo em locais secos ou úmidos, com temperatura entre 12 a 34ºC, 
precipitações de 1.000 a 4.500 mm ano-1 e altitude de 0 até 720 m, mas prefere ambientes úmidos e abaixo de 
300 m. 
Desenvolve-se em solos degradados, compactados, declivosos, com pH de até 3,5, prefere solos com altos 
teores de óxidos de ferro e alumínio, podendo alterar as condições edáficas do solo, e apresentando potencial 
acidificador, em função da decomposição da serrapilheira. Não tolera baixas temperaturas, salinidade e 
sombreamento, sendo suscetível ao vento e á veranicos. 
2.2. Manejos Culturais 
As sementes apresentam dormência, devido ao tegumento, necessitando de um tratamento pré-
germinativo que é realizado com imersão em água fervente. A germinação inicia 2 a 3 dias após a semeadura e 
completa-se aos 10 dias, com taxas superiores a 90%. 
A mudas são produzidas fazendo-se semeadura em canteiro, após a emergência do primeiro par de 
folíolos, as plântulas são transplantadas em sacos plásticos, podendo-se realizar semeadura direta nas 
embalagens. Até 2003, embora existam pesquisas sobre a propagação vegetativa, a mesma não é utilizada 
comercialmente. Trabalhos mostram taxas de enraizamento acima de 75% em estacas tratadas e 91% de 
germinação in vitro. 
Após três meses do transplante, as mudas podem ser levadas para o local definitivo, neste momento elas 
apresentaram de 25 a 30 cm de altura. Na primeira semana de transplante são necessárias regas diárias, após 
reduz-se as regas pela metade, e um mês antes do plantio a campo, reduz-se mais as regas, para a 
aclimatização. Recomenda-se a aplicação de 1g por planta de NPK 10-30-10, na idade de 10 semanas. 
Existem diversos parâmetros para avaliar a qualidade das mudas, em geral a muda ideal apresenta raiz 
pivotante, sem enovelamento ou tortuosidade da parte área, com diâmetro do coleto acima de 2 mm, uniforme 
e rústica, tais mudas devem ser protegidas do vento. 
A implantação inicia na escolha da área, que deve evitar locais recém-abertos. Deve-se realizar o preparo 
do solo e a correção com base na análise de solo. O plantio deve ser realizado entre novembro e dezembro, com 
solo úmido, após 3 a 4 semanas realiza-se a vistoria do pegamento das mudas, onde falhas acima de 5% 
indicam necessidade de replantio, que deve ser realizado até março. 
O espaçamento para cultivos comerciais depende do objetivo da produção, sendo adotados espaçamentos 
de 2 x 2 m (2.500 plantas ha-1) a 3 x 3 m (1.111 plantas ha-1) ou maiores. A ocupação do solo é rápida, pois as 
raízes apesar de rasas, concentradas a 0,3 m de profundidade, são vigorosas. A adubação deve seguir análises, 
e em geral a planta é exigente e responsiva ao fósforo, que estimula a nodulação e a fixação de nitrogênio, este 
por sua vez é essencial na implantação da cultura, sendo dispensado em aplicações posteriores. 
Existem ensaios que demonstram taxas de crescimento de 57 m ha-1 ano-1, superando outras culturas em 
diferentes ambientes de cultivo em especial aqueles mais extremos. A cultura geralmente não apresenta 
problemas significativos com pragas e doenças, os maiores problemas são atribuídos ao ataque de 
Cerambycides, como serrador (Oncideres saga) e ao ataque de formigas (Atta sp.). Com relação á patógenos, a 
ferrugem (Atelocauda digitata) têm destaque, junto aos nematoides e em algumas regiões o Oidium sp. em 
viveiros. Com relação às plantas daninhas, recomenda-se o controle apenas inicialmente. 
A cultura possui tendência a ramificar e formar fustes múltiplos, em espaçamentos adensados, essa 
tendência é reduzida. As podas ou desramas devem iniciar entre 18 a 24 meses de idade, visando à preparação 
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do fuste para produção de toras de alta qualidade, os fustes adicionais e ramos no primeiro terço da árvore 
devem ser retirados. 
O desbaste pode ser iniciado entre 2 a 5 anos, retirando metade das árvores, e aos 10 anos realiza-se o 
segundo desbaste mantendo de 350 a 400 plantas ha-1, que serão colhidas no corte final entre 15 e 20 anos. A 
colheita para celulose pode ser realizada com 6 a 7 anos, enquanto para serraria estende-se para mais de 15 
anos. A rebrota das cepas normalmente é pobre e fraca, assim não se realizam manejos de condução da 
brotação, a cultura pode apresentar regeneração natural que podeser conduzida, entretanto, considera-se um 
manejo pouco viável. 
2.3. Comercialização 
É uma cultura versátil com diversas aplicações, desde uso ornamental, potencial forrageiro, produção de 
mel e etc.. Com destaque para os produtos diretos da madeira, que é destinada para construção em geral, 
carvão, lenha, MDF, painéis, celulose, energia (poder calorífico de 4.900 Kcal Kg-1), serraria e movelaria, 
devido classificação de madeira dura, com densidade de 420 a 500 Kg m³, que pode ser facilmente trabalhada 
e permite tratamento para aumentar sua durabilidade. 
No mercado de exportação o metro cúbico de tábuas pode ser comercializado por até 100 dólares, 
enquanto a polpa de madeira é comercializada entre 14 a 26 dólares, considerados preços competitivos, a 
celulose obtida é semelhante a do eucalipto. 
 
3. Acácia Negra 
3.1. Exigências Edafoclimáticas 
A Acácia Negra é natural de regiões temperadas, úmidas ou sub-úmidas do sul e sudeste da Austrália, 
especialmente da planície costeira. Apresenta folhas compostas alternas, inflorescências densas de cor 
amarelo-claras e perfumadas, que geraram vagens com pequenas sementes escuras, que permanecem viáveis 
por até 37 anos. O porte da árvore encontra-se entre 5 a 18 m de altura. 
A espécie é adaptável, se distribuindo em diferentes tipos e condições de solo, semelhante a A. mangium, 
não tolerando acidez tão elevada quanto a mesma. O desenvolvimento está ligado a intensidade luminosa, 
ocorrendo em ambientes semelhantes a A. mangium. Embora seu crescimento inicial seja lento, também é 
considerada espécie pioneira. 
A cultura está distribuída pelo globo, adaptada a climas amenos, mas se desenvolve entre 0 a 40ºC, não 
tolerando longos períodos abaixo de 0ºC ou acima de 40ªC, sobrevive em altitudes de 0 a 1.000 m, com 
precipitação de 625 a 1.600 mm.ano-1, não suportando longos períodos de estiagem. 
No Brasil, deve-se evitar áreas com riscos de geadas, uma vez que ela suporta geadas leves, mas é 
prejudicada por geadas intensas e contínuas. O ideal são temperaturas médias de 16ºC, com precipitação por 
volta de 1.500 mm. Evitar áreas de vento devido a suscetibilidade ao tombamento. 
3.2. Manejos Culturais 
Os manejos de cultivo desta cultura, são semelhantes aos da A. mangium, sendo mais sensível em 
especial ao baixo pH, as sementes necessitam do mesmo processo pré-germinativo, apresentando mais de 
75.000 sementes Kg-1. Existe um programa de melhoramento genético no RS, do qual provêm mais de 1/5 das 
sementes da área plantada no estado. 
Pode-se realizar semeadura direta na área definitiva com 6 a 8 sementes por cova, realizando-se raleio 
com 10 a 20 cm de altura, deixando duas mudas e realizando segundo raleio com 1 a 2 metros. Entretanto, o 
mais usual é o uso de mudas, na qual a semeadura para sua obtenção pode ser realizada o ano todo, utilizando 
3 a 4 sementes por recipiente, com raleio posterior, a emergência ocorre de 7 a 30 dias após semeadura e 
devido a FBN, as mudas podem receber inoculação de estirpes de bactérias. As mudas selecionadas para 
plantio devem apresentar diâmetro de coleto acima de 1,5 mm e altura de 15 a 30 cm. 
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O Plantio das mudas vai de maio a outubro no Rio Grande do Sul, porém, para evitar geadas geralmente 
é realizado em agosto/ setembro. O espaçamento oscila entre 2 x 2 m (2.500 plantas ha-1) até o mais comum de 
3 x 1,5 ou 2 m (2.222 a 1.667 plantas ha-1), em geral quanto menor o espaçamento maior a produção de 
madeira e casca, porém, menor é a concentração de taninos. 
Durante a condução da floresta deve-se manter a área livre de plantas daninhas na fase inicial. A cultura 
não necessita de desramas ou podas ao longo do ciclo. 
Diferente da A. mangium, a Acácia Negra é mais sensível a injúrias, destacando o Cascudo Serrador (O. 
impluviata), que deve ser controlado de forma cultural, juntando ramos cortados por ele, caídos ou não e 
queimando-os, segundo a Lei Estadual do RS nº 9.482/1991, Decreto Lei nº 48.304/2011 e Portaria 154/2011 da 
SEAPA. As formigas devem ser monitoradas desde a implantação da cultura, e a lagarta-da-acácia-negra é 
outra praga de relevância. 
Dentre os patógenos a principal doença e a gomose (Phytophthora sp.), que gera lesões necróticas na 
casca, formando exsudação de goma através dos órgãos da planta, outra doença de menor relevância é a 
Murcha de Cerotocystis. 
A colheita desta cultura, pode ocorrer entre 5 a 10 anos de acordo com o clima, considerando-se 7 anos a 
idade na qual os teores de tanino da casca apresentam a melhor qualidade. A produtividade gira em torno de 
10 a 25 m³ ha-1 ano-1 de madeira e de 15 t ha-1 de casca. No Paraná, experimentos indicam produtividade de 
31-36 m³ ha-1 ano-1. 
3.3. Comercialização 
Pode-se visar a geração de produtos madeireiros, aliado a extração de tanino. 
A acácia negra é vista como uma atividade de bons rendimentos visto seu rápido crescimento, 
adaptabilidade, múltiplos usos e aproveitamento de derivados, possuindo mercados diversificados, como a 
madeira descascada para cavacos de celulose, aglomerados, chapas e painéis, lenha, carvão vegetal, geração 
de energia (poder calorífico superior a 4482 Kcal Kg-1), madeira branca, goma, dentre outros, entretanto, é 
uma madeira pouco durável em contato com o solo, com tendência a rachar com a aplicação de pregos, 
portanto, apesar de possuir densidade de 560 a 850 Kg m-3, tem uso com certas restrições e/ ou especificidades 
para móveis e serrarias. 
Seu principal produto é a extração de tanino da casca, a cultura chegou no Brasil por volta de 1918, e 
hoje é o terceiro segmento florestal do RS, sendo que o Brasil e a África do Sul produzem 89% do tanino 
mundial. O tanino é empregado em curtumes de couro, além de corante, anticorrosivo, emprego farmacêutico, 
dentre outros. Em relação a valores a EMATER em março de 2017, cotou a tonelada da casca a R$ 300,00 e o 
metro da madeira a R$ 75,00. 
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Referências 
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Carvalho PER (1999) Acacia mearnsii (Acácia-negra) 
Centro de Inteligência em Florestas (2017) Acácia negra 
Eloy E (2013) Quantificação e caracterização da biomassa florestal em plantios de curta rotação 
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Foelkel C (2012) Os eucaliptos e as leguminosas: Parte 03: Acacia mangium 
Higa RCV et al. (2009) Acácia-negra: Parte III - cultivos permanentes 
Kuhn C (2017) Panorama geral 
Melotto AM et al (2017) Espécies florestais em sistemas de produção e integração 
Mochiutti S (2007) Produtividade e sustentabilidade de plantações de acácia-negra (Acacia mearnsii de Wild.) no Rio Grande do Sul 
Rossi LMB et al. (2003) Acacia mangium 
Silva FP (2017) Reflorestamento de Acacia mangium 
Santos AF et al. (2001) O complexo gomose da acácia–negra 
Tanac-Tanagro (2017) Cultura da acácia negra - recomendações técnicas 
Tôrres D et al. (2017) Acacia mangium 
 
 
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