Buscar

Epidemiologia da Ferrugem do Alho

Prévia do material em texto

doi: 10.29372/rab202212 
1 
 
Epidemiologia temporal da ferrugem do alho 
 
Leandro Luiz Marcuzzo* 
Aline Cristina Paulakoski 
Djonatan Deivid Mariano 
Instituto Federal Catarinense – IFC/Campus Rio do Sul 
 
*Correspondência para: leandro.marcuzzo@ifc.edu.br 
 
 
INTRODUÇÃO 
 Diversos são os fatores que contribuem para a baixa produtividade do alho, e dentre estes, estão às 
doenças de diversas etiologias, que causam danos à cultura. Entre estas, a ferrugem causada por Puccinia 
porri (Ellis) Cif. é comumente encontrada em todas as regiões produtoras, sendo com mais intensidade em 
condições com temperatura elevada e alta umidade. A doença promove a destruição da parte aérea da cultura 
e como consequência a redução da produtividade (Marcuzzo e Silva, 2021; Marcuzzo, 2020; Pavan et al., 2017; 
Becker, 2004). 
 No estudo de epidemias, a dinâmica temporal das doenças de plantas tem sido enfatizada, pois o 
progresso de doenças é frequentemente é facilmente visualizada (Jeger, 1983). Para estabelecer relações entre 
o progresso de uma epidemia é necessário conhecer as condições ambientais favoráveis para o 
desenvolvimento do patógeno (Vale e Zambolim, 1996). Trabalhos envolvendo acompanhamento 
epidemiológico têm como objetivo constatar períodos da cultura em que ocorre maior intensidade da doença 
(Bergamim Filho e Amorim, 2011; Bergamim Filho e Amorim, 1996), onde o monitoramento da flutuação da 
população de esporos no ar também é utilizado para avaliar a dinâmica do progresso da doença (Reis e Mário, 
2003; Reis e Santos, 1985). 
 Para o caso da ferrugem do alho, dentre os aspectos epidemiológicos, desconhece-se o comportamento da 
doença nas condições de campo quanto ao início e progresso de epidemia e, portanto, este trabalho pretendeu 
relacionar variáveis ambientais com a flutuação da população de conídios no ar, a severidade da doença e a 
produtividade total da cultura. 
MATERIAL E MÉTODOS 
 O estudo epidemiológico da queima das folhas da cenoura foi conduzido no Instituto Federal Catarinense 
- IFC/Campus Rio do Sul, no município de Rio do Sul – SC, (Latitude: 27º11’07’’ S e Longitude: 49º39’39’’ W, 
altitude 655 metros acima do nível do mar) durante o período de 15 de junho a 9 de novembro de 2020 e 14 de 
junho a 8 de novembro de 2021, totalizando 21 semanas após a semeadura. 
 O registro das variáveis meteorológicas, tais como temperatura, umidade relativa e precipitação pluvial 
foram obtidos diariamente em uma estação meteorológica (Davis vantage vue®) instalada no local do 
experimento. 
 Bulbilhos de alho do cultivar Chonan foram vernalizados a 4 ºC durante 50 dias e semeados em quatro 
canteiros contendo cada um 5 metros de comprimento por 1,25 m de largura. Em cada canteiro com cinco 
linhas foram semeados 250 bulbilhos, com espaçamento de 0,25 entre filas e 0,10 entre plantas. 
 A calagem, adubação de plantio e de cobertura e os tratos culturais foram feitos conforme recomendação 
para a cultura (Lucini, 2004). 
 
 
http://www.fcav.unesp.br/rab 
e-ISSN 2594-6781 
Volume 6 (2022) 
 
Artigo publicado em 26/05/2022 
 
http://dx.doi.org/10.29372/rab202212
http://www.fcav.unesp.br/rab
 
 
doi: 10.29372/rab202212 
2 
 Para que houvesse inóculo na área, mudas de cebolinha-verde (Allium fistolusum L.) infectada 
naturalmente com P. porri e apresentando sintomas nas folhas foram transplantadas a cada um metro linear 
ao redor do experimento no dia do plantio. 
 A coleta dos uredósporos de P. porri no ar foi feita utilizando-se um coletor de esporos tipo “cata-vento” 
(Reis e Santos, 1985), posicionado a 0,4 metro acima do solo e localizado no centro do experimento. No coletor 
colocou-se uma lâmina de microscopia (7,5 x 2,5cm) untada com vaselina e substituída semanalmente. Em 
laboratório, a superfície da lâmina foi dividida em dois pontos centrais nos quais se adicionou 2 gotas de azul 
de metileno 33% diluído em água e cobertas com uma lamínula de 1,8 x 1,8 cm (3,24 cm2). Através da 
visualização em microscópio óptico, com a objetiva de 10 vezes, quantificou-se o número de uredósporos 
coletados. 
 Após o plantio, foi avaliada semanalmente a severidade da doença em cada folha de 25 plantas 
demarcadas aleatoriamente em cada repetição com auxílio de uma escala diagramática proposta por Azevedo 
(1997). 
 Nas 100 plantas avaliadas para a intensidade da doença determinou-se a produtividade total (Kg.ha-1) 
após cura de 20 dias em galpão de armazenamento. 
 O progresso da doença foi relacionado à variação da população de conídios no ar e comparada com 
as condições ambientais para a elaboração de uma fundamentação teórica da epidemiologia da ferrugem do 
alho. 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 Para estabelecer as relações entre o progresso de uma doença e as condições ambientais é necessário 
conhecer os fatores ambientais favoráveis ao desenvolvimento da doença (Vale e Zambolim, 1996). Durante o 
período de avaliação constatou-se que ocorreu na safra de 2021 uma precipitação pluvial de 554,3 mm, tendo 
89,1 mm a mais do que em 2020, na qual foram registrados 465,2 mm (Figura 1A). No entanto em 2021 elas 
foram mal distribuídas, se concentrando no início e final do ciclo cultura, o que fez com que a doença 
progredisse menos no começo e mais no final (Figura 3). Mesmo em função disso, houve pouca redução na 
severidade final para 2021 e 2020 (Figura 3). Apesar de um maior índice pluvial que ocorreu em 2021, a 
doença teve um acentuado progresso a partir da 13° semana, isso, provavelmente, porque os uredósporos 
coletados anteriores (Figura 2) a esse período garantiram a infecção e, por isso, a chuva não influenciou o 
progresso da doença (Figura 3). 
 A temperatura média do ar foi de 15,7ºC e 14,8ºC respectivamente em 2020 e 2021 no período de 21 
semanas (Figura 1A), condição que possibilitou o desenvolvimento da doença, já que está dentro da faixa que 
vai de 15 a 26ºC (Marcuzzo e Duarte, 2021; Marcuzzo, 2020; Pavan et al., 2017). 
 Constatou-se que o período de duração da umidade relativa do ar acima dos 90%, foi de 13,5 e 15,5 horas 
respectivamente em cada ano (Figura 1B). A presença de umidade relativa alta é fundamental para progresso 
da doença (Marcuzzo e Duarte, 2021; Becker, 2004). Independentemente da temperatura e da umidade 
relativa do ar as condições ambientais foram satisfeitas em ambos os anos de avaliação. O fato de ter 
encontrado altas horas de umidade relativa acima dos 90% (Figura 1B) é característica da região, pois é em 
um vale próximo a serra geral e o que resulta no acúmulo de umidade. 
 Outro aspecto evidenciado foi que a doença teve início (Figura 3) uma semana após a coleta de conídios 
no ar (Figura 2), mesmo tendo inóculo no ambiente. No entanto esse processo varia com o patossistema, pois 
na ferrugem asiática da soja foi encontrado posteriormente (Juliatti et al., 2010). À medida que aumenta a 
severidade da doença (Figura 3) praticamente manteve-se o número de uredósporos em ambos os anos. Após a 
12ª semana do início da doença em ambos os anos, observou-se um decréscimo dos uredósporos coletados, o 
que pode ser atribuído precipitação pluvial que ocorreu nas últimas semanas (Figura 1A). O menor número de 
uredósporos antes da colheita também pode ser associado ao fato de que as folhas já se encontravam em 
senescência (Figura 2). Keske (2009) avaliando a flutuação de esporos de Monilinia fructicola (Wint) Honey, 
agente causal da podridão parda do pessegueiro, coletados em armadilhas do tipo “cata-vento”, observou que 
foi constante a coleta durante o período vegetativo da cultura e não apenas na colheita que teve uma alta 
http://dx.doi.org/10.29372/rab202212
 
 
doi: 10.29372/rab202212 
3 
incidência da doença. A tendência da curva de progresso da severidade ficou próxima da constatada por 
Marcuzzo et al. (2021) para a doença na região de estudo. 
 
Figura 1. Flutuação da precipitação pluvial (mm), da temperatura média doar (ºC) (A) e da umidade relativa 
≥90% (horas) (B) durante o período do estudo da ferrugem do alho. IFC/Campus Rio do Sul 2020 e 2021. 
 
 
Figura 2. População de uredósporos de P. porri coletados semanalmente após o plantio do alho. IFC/Campus 
Rio do Sul 2020 e 2021. 
http://dx.doi.org/10.29372/rab202212
 
 
doi: 10.29372/rab202212 
4 
 Outro aspecto da severidade ter se acentuado à partir da 10ª semana pode ser devido a maior 
translocação de carboidratos das folhas mais velhas para os bulbos (Zuffelato-Ribas, 2002). Nas folhas que 
estão iniciando processo de senescência, ocorre a liberação desses compostos internamente no tecido foliar 
(Pereira Netto, 2002), disponibilizando esses nutrientes e facilitando a colonização e reprodução do patógeno. 
O desenvolvimento da doença e a fenologia do hospedeiro também foi relacionada por Barratt e Richards 
(1944) no patossistema Alternaria solani (Ell. e Martin) Jones e Grout. e Xanthomonas spp. por Marcuzzo et 
al. (2009) na cultura do tomateiro. 
 
Figura 3. Severidade (%) foliar observada da ferrugem (Puccinia porri) do alho em semanas após a 
semeadura. IFC/Campus Rio do Sul 2020 e 2021. 
 
 A produtividade média entre os anos foi de 2.147 Kg.ha-1, caracterizando a influência da doença sobre a 
produtividade da cultura. Os valores ficaram abaixo do descrito em Becker (2004) e Garcia et al. (1994), no 
entanto, os autores não caracterizaram a presença do inóculo no local, algo que no presente trabalho fez com 
que a doença fosse constatada já na 4ª e 7ª semana nos respectivos anos com aumento progressivo da 
severidade da doença (Figura 3) e como consequência refletiu na produtividade. 
CONCLUSÃO 
 Este estudo exploratório de alguns aspectos da epidemiologia contribuiu para estabelecer o momento do 
início e do progresso da doença com as condições ambientais, fatores que poderão ser úteis na validação de um 
sistema de previsão da ferrugem do alho. 
 
 
Referências 
AZEVEDO, L.A.S. Manual de quantificação de doenças de plantas. São Paulo: Grupo Quattro Digital Media. 1997. 
BARRATT, R.W.; RICHARDS, M.C. Physiological maturity in relation to Alternaria blight in the tomato. Phytopathology, St. Paul, v.34, 
n.12, p.997, 1944. (Abstract). 
BECKER, W.F. Doenças do alho: sintomatologia e controle. Florianópolis: Epagri, 2004. 
BERGAMIM FILHO, A.; AMORIM, L. Doenças de plantas tropicais: epidemiologia e controle econômico. São Paulo: Ceres, 1996. 
BERGAMIM FILHO, A; AMORIM, L.. Epidemiologia de doenças de plantas. In: AMORIM, L.; REZENDE, J.A.M.; BERGAMIM FILHO, 
A.; (Ed.). Manual de fitopatologia: princípios e conceitos. 4. ed. São Paulo: Ceres, 2011. v.1, cap.5, p.101-118. 
GARCIA, D.C.; BARNI, V.. DETTMANN, L.A. Fungicidas para controle da ferrugem do alho. Ciência rural, Santa Maria, v.24 n.1, p.25-
29, 1994. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-84781994000100006 
JEGER, M.J. Analysing epidemics in time and space. Plant Pathology, Oxford, v.32, n.1, p.5-11, 1983. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1365-
3059.1983.tb01295.x 
JULIATTI, F.C.; REZENDE, A.A.; VALE, F.X.R. Critérios práticos de fundamento epidemiológico que auxiliam na tomada de decisão 
para o controle de doenças de plantas. Tropical Plant Pathology, Brasília, DF, v.35, p.23-25, 2010. Suplemento. 
KESKE, C. Epidemiologia da podridão parda em pessegueiros conduzidos em sistema de produção orgânico no alto vale do Itajaí – SC. 
2009. 119f. Tese (Doutorado em Produção Vegetal) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 
LUCINI, M.A. Alho: manual prático de produção. 2ª edição atualizada. Bayer crop science: Curitibanos, 2004. 
http://dx.doi.org/10.29372/rab202212
 
 
doi: 10.29372/rab202212 
5 
MARCUZZO, L.L.; DUARTE, M. Interação entre temperature e duração do molhamento foliar na severidade da ferrugem do alho. 
Jaboticabal, v.5, 2021. 3p. 
DOI: 10.29372/rab202112 
MARCUZZO, L.L; SILVA, G.E. Sobrevivência de esporos da ferrugem na ausência de alho. Campo & Negócios hortifruti, Uberlândia, 
v.187, p.28-29, 2021. 
MARCUZZO, L.L. et al. Efeito de doses de nitrogênio na severidade da ferrugem do alho . Revista agronomia brasileira, Jaboticabal, v.5, 
2021. 6p. DOI: 
10.29372/rab202101 
MARCUZZO, L.L. Manejo da ferrugem do alho. Cultivar hortaliças e frutas, Pelotas, v.125, p.12-15, 2020. 
MARCUZZO, L.L.; BECKER, W.F.; FERNANDES, J.M.C. Alguns aspectos epidemiológicos da mancha bacteriana (Xanthomonas spp.) do 
tomateiro na região de Caçador/SC. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.35, n.2, p.132-135, 2009. DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-
54052009000200009 
PAVAN, M.A. et al. Manejo de doenças. In: NICK, C.; BORÉM, A. Alho: do plantio a colheita. UFV: Viçosa, Cap.7, p.108-121, 2017. 
PEREIRA-NETTO, A.D. Crescimento e desenvolvimento. In: WACHOWICK, C.M.; CARVALHO, R.I.I. (Org.). Fisiologia vegetal: produção 
e pós-colheita. Curitiba: Champagnat, cap.1, p.17-41, 2002. 
REIS, E.M.; MÁRIO, J.L. Quantificação do inóculo de Diplodia macrospora e de D. maydis em restos culturais, no ar, e sua relação com a 
infecção em grãos de milho. Fitopatologia Brasileira, Brasília, DF, v.28, n.2, p.143-147, 2003. DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-
41582003000200004 
REIS, E.M.; SANTOS, H.P. População de Helmintosporium sativum no ar quantificado através de uma armadilha tipo cata-vento. 
Fitopatologia Brasileira, Brasília, DF, v.10, n.5, p.515-519. 1985. 
SOUZA, P.E. Doenças do alho. In: SOUZA, R.J.; MACEDO, F.S. (Ed.). Cultura do alho: tecnologias modernas de produção. Lavras: UFLA. 
2009, p.109-126. 
VALE, F.X.R.; ZAMBOLIM, L. Influência da temperatura e da umidade nas epidemias de doenças de plantas. Revisão Anual de Patologia 
de Plantas, Passo Fundo, v.4, p.149-207, 1996. 
ZUFFELATO-RIBAS, K.C. ECOFISIOLOGIA. In: WACHOWICK, C.M.; CARVALHO, R.I.I. (Org.). Fisiologia vegetal: produção e pós-
colheita. Curitiba: Champagnat, cap.2, p.43-61. 2002. 
 
 
 
 
Publicação Independente 
 
 
© Autores 
 
Licença Creative Commons Atribuição NãoComercial 4.0 Internacional 
 
http://dx.doi.org/10.29372/rab202212
https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/deed.pt_BR

Continue navegando

Outros materiais