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Maria Amália de Figueiredo Pereira Alvarenga (Organizadora) OS NOVOS PARADIGMAS DO DIREITO DE FAMILIA E AS POLITICAS PUBLICAS OS NOVOS PARADIGMAS DO DIREITO DE FAMILIA E AS POLITICAS PUBLICAS Franca - SP 2017 UNESP – Universidade Estadual Paulista UNESP – São Paulo State University Reitor Prof. Dr. Sandro Roberto Valentini Vice-Reitora Prof. Dr. Sergio Roberto Nobre Pró-Reitor de Pós-Graduação Prof. Dr. João Lima Sant'Anna Neto Pró-Reitora de Pesquisa Prof. Dr. Carlos Frederico de Oliveira Graeff FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS Diretora Profa. Dra. Célia Maria David Vice-Diretora Profa. Dra. Marcia Pereira da Silva Coordenador do Programa de Pós-graduação em Direito Prof. Dr. José Duarte Neto Vice-Coordenador do Programa de Pós-graduação em Direito Prof. Dr. Victor Hugo de Almeida Conselho Editorial: Prof. Dr. Paulo César Corrêa Borges (Unesp) Prof. Dr. Carlos Eduardo de Abreu Boucault (Unesp) Profa. Dra. Luciana Lopes Canavez (Unesp) Prof. Dr.Victor Hugo de Almeida (Unesp) Profa. Dra. Kelly Cristina Canela (Unesp) Organizadora Maria Amália de Figueiredo Pereira Alvarenga OS NOVOS PARADIGMAS DO DIREITO DE FAMILIA E AS POLITICAS PUBLICAS Autores ANNA CAROLINA CARVALHO DANTAS KUUSBERG AMANDA FORMISANO PACCAGNELLA AMARANTA VASCONCELOS SILVA BRENNER TOLEDO ROCHA BRUNA NOGUEIRA MACHADO MORATO DE ANDRADE ERTON EVANDRO DE SOUSA DAVID GABRIELA GIAQUETO GOMES GABRIELA PIRAJÁ CECILIO BUNHOLA GUILHERME FERNANDES PORTO ISADORA BEATRIZ MAGALHAES SANTOS JÉSSICA SANTIAGO CURY JOÃO VICTOR CARLONI DE CARVALHO JOSÉ GERALDO BERTINI JUNIOR JULIANA BALBINO DOS REIS LUCIANO CROTTI PEIXOTO LUÍS FILIPE RODRIGUES RIBEIRO MAIARA MOTTA MARIA AMÁLIA DE FIGUEIREDO PEREIRA ALVARENGA MARIANA LIMA MENEGAZ MARINA SILVEIRA PAULA BARALDI ARTONI PAULA SANTIAGO SOARES THAÍS REGINA SANTOS SAAD BORGES WILLIAM ALBANO ROCHA Câmpus de Franca 2017 Contato Av. Eufrásia Monteiro Petráglia, 900. Jd. Petráglia. CEP 14409-160. Franca/SP posgrad@franca.unesp.br Diagramação e Revisão Paula Baraldi Artoni Luciano Crotti Peixoto Capa Ícaro Henrique Ramos Ficha Catalográfica OS NOVOS PARADIGMAS DO DIREITO DE FAMILIA E AS POLITICAS PUBLICAS/ Maria Amália de Figueiredo Pereira Alvarenga (organizadora). –Franca (SP): Cultura Acadêmica , 2017 362p. 1. ISBN: 978-85-7983-810-1 2. 1. Formas de Família. 2. Direito de família. 3.Direitos Fundamentais. 4. Políticas Públicas (Direito) . I. Alvarenga, Maria Amália de Figueiredo Pereira . II. Título. CDD – 342.16 Índices para catálogo sistemático: 1. Direito Privado ................... 342 2. Direito de Família ............... 342.16 3. Direito Civil ....................... 342.1 4. Direitos Fundamentais ........ 341.27 APRESENTAÇÃO Os novos paradigmas do direito de família e as politicas publicas tem sido um tema de alta relevância no âmbito dos Direitos Privado, Público e Administrativo. O campo encontra-se repleto de dificuldades, tanto na teoria como na prática, em especial pela doutrina e jurisprudência. A cada passo, deparam-se divergências entre os mestres na doutrina e posições díspares nos tribunais que, fascinando os juristas, têm produzido extensa bibliografia para o contínuo aperfeiçoamento da disciplina, tanto no Exterior como no Brasil, com ênfase nos impactos que as distintas famílias representam na sociedade contemporânea e consequentemente nas políticas públicas. Observa-se o reconhecimento de certos direitos às chamadas entidades familiares paralelas, além de críticas efervescentes a impossibilidade jurídica dos arranjos familiares simultâneos, a exemplo de uniões estáveis paralelas, ou nomeadamente a concomitância de união estável e casamento, produzirem quaisquer efeitos jurígenos. Apegados ao dogma da família patriarcal, monogâmica e matrimonial, esquecem as situações extraídas da realidade social e que vem sendo reconhecidas pela jurisprudência, tanto do Superior Tribunal de Justiça, como de diversos tribunais estaduais, cada vez mais pujantes no amparo das multifárias manifestações familiares. Esta obra abrange várias opiniões e artigos de discentes da Pós Graduação Stricto Sensu (Mestrado em Direito) e, também, a posição de alguns alunos da Graduação, que participam do grupo de pesquisa (CNPq): O Direito de Família contemporâneo e as relações sociais , liderado pela Profª Drª Maria Amália, todos da UNESP, Franca, SP http://dgp.cnpq.br/dgp/faces/consulta/consulta_parametrizada.jsf http://dgp.cnpq.br/dgp/faces/consulta/consulta_parametrizada.jsf Profa. Dra. Maria Amália de Figueiredo Pereira Alvarenga (Organizadora) Chefe do Departamento de Direito Privado, Processo Civil e do Trabalho do Curso de Graduação em Direito da Unesp. Mestre e Doutora em Direito -FCHS. Coordenadora dos Programas de Mestrado em Direito Público e Direito Empresarial na Unifran (2002-2003). Avaliadora de Cursos e Institucional do MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Professora Assistente Doutor da FCHS no conjunto de disciplinas de Direito Civil . Docente do Programa de Mestrado em Direito da FCHS, Unesp, Franca. É Líder de Pesquisa da CNPQ e membro do IBDFAM. SUMÁRIO 1 FAMÍLIA MULTIESPÉCIE: DISPUTA DE GUARDA DE ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO EM SEDE DE DIVÓRCIO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL Amanda Formisano Paccagnelo Elisabete Maniglia.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 2 DESAFIOS PARA O PROTAGONISMO DO IDOSO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA Amaranta Vasconcelos Silva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24 3 GESTAÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO: A BARRIGA SOLIDÁRIA E A BARRIGA DE ALUGUEL Anna Carolina Carvalho Dantas Kuusberg Maria Amália de Figueiredo Pereira Alvarenga... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 4 A SITUAÇÃO DO ENSINO DOMÉSTICO NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO Brenner Toledo Roch Carlos Eduardo de Abreu Boucault Rejane Teodoro Guimarães.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59 5 FAMÍLIA EM TRÊS ATOS: FAMÍLIA PADRÃO, RUPTURA, REORGANIZAÇÃO Bruna Moreira Machado Norato de Andrade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .77 6 MÃE: DE OBJETO A SER LIVRE Bruna Moreira Machado Norato de Andrade Plínio Antônio Britto Gentil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .89 7 ALIMENTOS COMO MEDIDA PROTETIVA NA LEI MARIA DA PENHA Erton Evandro de Souza David Maria Amália de Figueiredo Pereira Alvarenga ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .101 8 A ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO Gabriela Giaqueto Gomes Maria Amália de Figueiredo Pereira Alvarenga .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .116 9 O RECONHECIMENTO DO VALOR DA BUSCA DA FELICIDADE NAS RELAÇÕES FAMILIARES Gabriela Pirajá Cecílio Bunhola Maria Amália de Figueiredo Pereira Alvarenga ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .134 10 A NELIGÊNCIA PARENTAL COMO CAUSADORA DA OBESIDA - DE EM CRIANÇAS Guilherme Fernandes Porto André Torres Pinheiro de Souza ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .145 11 A LEI DA PALMADA E O USO DE CASTIGOS FÍSICOS COMO FORMA DE EDUCAÇÃO NO BRASIL Isadora Beatriz Magalhães Santos Luciana Lopes Canavez.................................................................................................159 12 AS ALTERAÇÕES DA PATERNIDADE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA Jéssica Santiago Cury.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .172 13 DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA PERSONALIDADE JURÍDICA: APLICABILIDADE NO DIREITO DE FAMÍLIA E ASPECTOS PROCESSUAIS SEGUNDO O NOVO CPC João Vitor Carloni de Carvalho Yvete Flávio da Costa .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .185 14. INVENTÁRIO E A ALTERAÇÃO DO REGIME DE BENS POR ESCRITURA PÚBLICA José Geraldo Bertini Junior Maria Amália de Figueiredo Pereira Alvarenga .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .201 15 A POSSIBILIDADE DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL POR INFIDELIDADE VIRTUAL E A RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES FAMILIARES. Juliana Balbino dos Reis.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .216 16 O TESTAMENTO VITAL E O DIREITO DE ESCOLHA E SEUS REFLEXOS NOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. Luciano Crotti Peixoto Maria Amália de Figueiredo Pereira Alvarenga ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .231 17 O DIREITO FUNDAMENTAL À IDENTIDADE GENÉTICA E AO ANONIMATO NO CONTEXTO DA FECUNDAÇÃO IN VITRO NAS FAMÍLIAS MONOPARENTAIS. Luis Filipe Rodrigues Ribeiro.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .245 18 CONTRATO DE GERAÇÃO DE FILHOS Maira Motta Kelly Cristina Canela.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .260 19 O ABANDONO AFETIVO E A UTILIZAÇÃO DA MEDIAÇÃO FAMILIAR COMO ALTERNATIVA PARA SOLUCIONAR ESTES CONFLITOS Mariana Lima Menegaz .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .277 20 A TRANSEXUALIDADE ANALISADA SOB A PERSPECTIVA DA NECESSIDADE DE UMA LEI DE IDENTIDADE DE GÊNERO Marina Silveira Patrícia Borba Marchetto .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .294 21 A FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA E O RECONHECIMENTO DO AFETO NA EFETIVAÇÃO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA COMO DIREITO FUNDAMENTAL Paula Baraldi Artoni Maria Amália de Figueiredo Pereira Alvarenga ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .307 22 OS REFLEXOS DO SISTEMA JURÍDICO DE PROTEÇÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO INSTITUTO DA CAPACIDADE Paula Santiago Soares Maria Amália de Figueiredo Pereira Alvarenga ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .323 23 O EXERCÍCIO DA AUTORIDADE PARENTAL DURANTE A EXECUÇÃO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA POR ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI Thais Regina Santos Saad Borges Fernando Andrade Fernandes .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .334 24 TRANSEXUALIDADE - RETIFICAÇÃO DE NOME E GÊNERO SEM CIRURGIA DE REDESIGNAÇÃO SEXUAL. William Albano Rocha Maria Amália de Figueiredo Pereira Alvarenga ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .350 1. FAMÍLIA MULTIESPÉCIE: DISPUTA DE GUARDA DE ANIMAIS DE ESTI- MAÇÃO EM SEDE DE DIVÓRCIO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL Amanda Formisano Paccagnel la 0 Elisabete Manigl ia 0 SUMÁRIO: Introdução. 1 Status jurídico dos animais: mera propriedade ou sujeito de direitos? 2 A jurisprudência em sede de disputa pela guarda de animais de estimação. 3 Possibilidade de aplicação dos institutos de direito de família por analogia. Conclusão. Referências. RESUMO: O presente artigo busca elucidar o conceito de família multiespécie e analisar as possibilidades de resolução de disputas pela guarda de animais de estimação em sede de divórcio e dissolução de união estável. Para tal, são realizadas ponderações sobre as mudanças científ icas e filosóficas que vêm alterando a visão da sociedade em relação aos animais, e seus efeitos na determinação de seu status jurídico. Na legislação brasileira vigente, o Código Civil considera os animais como bens semoventes, ou seja, objetos submetidos aos regimes de propriedade; no entanto, os laços afetivos cada vez mais intensos formados entre animais e seus tutores trazem novas situações em que o li tígio não se forma em torno da propriedade do animal, e sim acerca dos vínculos emocionais formados. Nos casos de divórcio e dissolução de união estável, é comum haver a necessidade de decidir com quem ficará o animal de estimação; no entanto, na falta de acordo entre o casal, caberá ao Judiciário oferecer a solução adequada. A legislação referente ao direito de propriedade, geralmente aplicada nos casos em tela, mostra-se ineficaz na resolução dos conflitos; sendo assim, na falta de legislação específica, defende-se a possibilidade de uti lização da legislação concernente à família, util izando-se vastamente o instituto da analogia. Palavras-chave: família multiespécie. divórcio. dissolução de união estável. guarda de animal de estimação. ABSTRACT: This article seeks to explain the concept of multi-species family and analyze the possibilit ies of resolution when it comes to battles for the custody of pets in terms of divorce or union dissolution. For that purpose, the changes in scientific and philosophical views which have been altering society’s vision regarding animals are pondered, with special attention to its effects on the legal status of animals. According to the brazilian civil code, animals constitute property, which means they are objects that can be bought or sold; however, the ever growing affection between animals and their tutors bring new situations to l ight, in which the conflict doesn’t revolve around the issue of property, but 0 Mestranda em Direi to pela Univers idade Paul is ta “Júl io de Mesquita Fi lho” - UNESP; especial is ta em Direi to Ambiental e Gestão Estratégica da Sustentabi l idade pela Pont i f ícia Univers idade Catól ica de São Paulo. 0 Professora Adjunta de Direito Agrário na Universidade Estadual Paulista – UNESP. around the need to maintain emotional bonds. During divorce or union dissolution, i t is common for both parties to make a decision regarding guardianship of the common pet; however, when an agreement is not reached, it will be up to the court to offer the appropriate solution. Property law, which is generally applied on such cases, has proven to be ineffective; therefore, since specific legislation is lacking, it is possible to apply legislation concerning family, utilizing the concept of analogy. Key words: multi-species family. divorce. union dissolution. custody of pet. INTRODUÇÃO Os animais domésticos são definidos pelo IBAMA 0 como aqueles que, através de processos tradicionais e sistematizados de manejo e/ou melhoramento zootécnico, tornaram-se domésticos, apresentando características biológicas e comportamentais em estreita dependência do homem. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde, elaborada pelo IBGE, os brasileiros são tutores de 52 milhões de cães, 22 milhões de gatos e um total de 132 milhões de animais domésticos, resultando no segundo país com maior população total de animais de estimação e o terceiro maior mercado pet do planeta em termos de faturamento. Sendo assim, os animais domésticos têm participado de forma cada vez mais intensa do convívio familiar, estabelecendo fortes vínculos emocionais e laços afetivoscom seus tutores, vínculos estes dotados de reciprocidade; sendo assim, não surpreende a constatação de que muitas famílias consideram seus animais de estimação como membros familiares e muitos casais os visualizam em condição análoga à de filhos. Em face desta nova forma de família denominada “família multiespécie”, surgem diversos questionamentos acerca da resolução de conflitos referentes aos animais, especialmente em casos de divórcio e dissolução de união estável: seria o animal mero objeto passível de propriedade, devendo assim o li tígio ser resolvido com base em direitos reais, ou haveria a necessidade de uti lização de institutos do Direito de Família? Como decidir com quem o animal fica? Poderia sua guarda ser comparti lhada? Seria possível a determinação de direitos de visitação e pensão alimentícia? Ainda mais: estas determinações devem ser feitas 0 Portaria IBAMA nº 93, de 7de julho de 1998. com base no melhor interesse do animal ou de seus tutores? Dentre tantas outras questões. Nesta esteira, pretende-se explicitar e analisar problemas morais e filosóficos que surgem no confli to entre o antropocentrismo e a possibilidade de reconhecimento de direitos pertencentes aos animais, discutindo o status jurídico destes, e a possibilidade de aplicar insti tutos do Direito de Família em sede de discussões litigiosas acerca do tema, principalmente no que se refere à guarda do animal. 1. STATUS JURÍDICO DOS ANIMAIS: MERA PROPRIEDADE OU SUJEITOS DE DIREITOS? No atual ordenamento jurídico brasileiro, o status dos animais é, por força do art. 82 do Código Civil, de bens semoventes, ou seja, aqueles dotados de movimento próprio; sendo assim, os animais consti tuem uma categoria de propriedade. Ademais, a lei nº 6.938/81, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente, trouxe em seu art. 3º, inciso V, a definição da fauna como “recurso ambiental”, por possuir função ecológica. No entanto, ao analisar o texto da Constituição Federal do Brasil, é possível encontrar, em seu art. 225, § 1º, uma limitação ao direito de propriedade de animais: a vedação da crueldade. In verbis : Art . 225. Todos têm direi to ao meio ambiente ecologicamente equi l ibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qual idade de vida, impondo-se ao Poder Públ ico e à colet ividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efet ividade desse direi to , incumbe ao Poder Públ ico: VII - proteger a fauna e a f lora, vedadas, na forma da lei , as prát icas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a ext inção de espécies ou submetam os animais a crueldade. Desta forma, é possível concluir que o direito de propriedade relacionado aos animais não é absoluto, ou seja, conforme Adede y Castro 0 bem pontua, “o dono de animais nada mais é do que detentor, 0 ADEDE Y CASTRO, João Marcos. Direito dos Animais na Legislação Brasileira. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris Ed., 2006. p. 46. guardião e responsável por sua manutenção”, não podendo usar e dispor do animal como bem entender. O mandamento constitucional previsto no art. 225, § 1º, VII, também veio como uma forma de explicitar e confirmar a nova visão antropocêntrica mitigada aplicada aos animais, baseada na ideia de bem- estar animal. Acerca de referida determinação constitucional e seus efeitos na visão filosófica referente aos animais, Silva e Vieira 0 atentam para a possibilidade de entendimento de que foram reconhecidos os direitos do animal ao não sofrimento: Em vis ta do mandamento const i tucional , apesar de os animais cont inuarem com seu status de objeto, são vedadas prát icas de crueldade, reconhecendo a esses seres vulneráveis o di rei to fundamental à vida e à integridade f ís ica, ecoando novas diret r izes às leis infraconst i tucionais e à sociedade. Por constituir discussão dotada de grande polêmica, a questão de reconhecimento dos animais como sujeitos de direitos representa grande desafio ao Direito e depende da efetiva quebra do paradigma antropocêntrico. O antropocentrismo, visão que coloca o homem em posição central e de absoluta superioridade, tem falhado em questões fundamentais, como o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado; em face desta quebra paradigmática, surge o antropocentrismo mitigado, que postula a adoção de uma atitude moderada e consciente do ser humano para com o meio ambiente, e, para com os animais, uma postura de bondade e certo grau de misericórdia. Existe, ainda, a posição senciocêntrica, que defende a inclusão dos animais dotados de senciência na esfera moral social; busca-se uma nova visão que considere não apenas se os animais são capazes de raciocinar ou se comunicar, mas se são capazes de sentir e sofrer, reconhecendo, assim, os animais dotados de senciência como sujeitos de direitos básicos, como o direito à vida, à integridade física e ao não sofrimento. Efetivamente, a senciência dos animais, ou seja, a capacidade que possuem de sofrer conscientemente, já é fato consolidado para a 0 SILVA, Camilo Henrique; VIEIRA, Tereza Rodrigues. A disputa pelo animal de estimação após o divór- cio. In: VIEIRA, Tereza Rodrigues; SILVA, Camilo Henrique. Animais: Bioética e Direito. Brasília: Por- tal Jurídico, 2016. p. 73. ciência; de forma a solidificar esta constatação, um grupo formado por vários neurocientistas cognitivos de renome internacional assinou, em 2012, a chamada Declaração de Cambridge, um manifesto sobre a consciência dos animais, declarando que mamíferos, aves e até polvos são possuidores de consciência. Em face do reconhecimento da senciência em animais pela neurociência e das novas visões filosóficas que se apresentam, foi colocado em xeque o status jurídico dos animais de mera propriedade; no Brasil, por exemplo, diversos diplomas legais foram insti tuídos de forma a protege-los, a exemplo da Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98), que criminalizou os maus tratos contra animais (art. 32). Acerca do embate entre insti tutos jurídicos consolidados, como a propriedade, e a nova ideia de direitos dos animais, Araújo 0 elucida: O respei to ét ico e jurídico pelos interesses dos animais tem ganho foros de i rrevers ibi l idade em muitos meios sociais e cul turais , tornando-se hoje prat icamente impensável que um fi lósofo moral formule um apoio genérico à subal ternização ou à inst rumental ização pura e simples de todos os interesses dos animais , ou defenda uma ét ica antropocêntr ica escamoteando completamente a consideração dos direi tos dos animais . Assim, apesar da clareza da lei vigente ao definir os animais como bens semoventes, os juristas e estudiosos do assunto vêm enfrentando a necessidade de mudança deste status jurídico, de forma a definir se os animais devem permanecer como mera propriedade, sujeitos de direitos ou categoria diversa. Nesta esteira, é o entendimento de Gordilho 0 que “o status jurídico dos animais já se encontra a meio caminho entre a propriedade e a personalidade jurídica”. Esta insegurança jurídica, por certo, afetou outras áreas do Direito, resultando em discussões e celeumas derivados da questão, como a possibilidade de um animal de estimaçãofazer parte de uma família como um sujeito e não um simples objeto, levando-se em consideração a afetividade. A família multiespécie é um novo tipo de formação familiar que merece consideração por parte do Direito, de forma a possibilitar a adequada solução de conflitos relacionados. Acerca da necessidade de 0 ARAÚJO, Fernando. A Hora dos Direitos dos Animais. Almedina: Coimbra, 2003. p. 37-38. 0 GORDILHO, Heron J S. Abolicionismo animal. Salvador: Evolução, 2008. p. 122. adequação da legislação aos novos casos em face da constante evolução do conceito de família, Vieira e Pires 0 atentam para o fato de que “não se pode perder de vista que a nova família é envolta por uma gama de ideias de seu processo evolutivo, o que antes eram grupo de pessoas envolvidas por laços afetivos, hoje, são pessoas humanas e não humanas”. Desta forma, em caso de divórcio ou dissolução de união estável, se o casal não entrar em acordo acerca da guarda do animal de estimação, caberá ao Judiciário solucionar a questão adequadamente. A princípio, a questão parece de fácil resolução: arrola-se o animal de estimação na parti lha de bens ou recorre-se ao título ou provas de propriedade do animal. O que sucede, no entanto, é a inadequação de tal solução; isto se deve ao fato de que o relacionamento com o animal de estimação envolve um vínculo afetivo e abarca um efetivo membro familiar com quem se preza a convivência. Para Silva e Vieira 0 , decidir sobre a guarda do animal com base nos institutos do direito de propriedade se traduz em uma "manutenção da visão arcaica do Direito", resultando em um litígio mal resolvido e ressentimentos familiares. Estes confli tos demandam uma solução adequada; no entanto, não existe no ordenamento jurídico brasileiro legislação específica a respeito. Desta forma, resta a indagação acerca de quais institutos jurídicos devem ser aplicados para a resolução da questão. 2 A JURISPRUDÊNCIA EM SEDE DE DISPUTA PELA GUARDA DE ANI- MAIS DE ESTIMAÇÃO Sendo acionado o Judiciário, em face da inexistência de legislação específica, a fundamentação da decisão caberá a cada magistrado individualmente, diante do caso concreto e de seu posicionamento paradigmático; assim, a ação deverá ser julgada com amparo nos costumes e princípios de Direito, valendo-se, principalmente, do instrumento da analogia. 0 VIEIRA, Tereza Rodrigues; PIRES, Loraini Candida Bueno. O animal de estimação é um integrante da família? In: VIEIRA, Tereza Rodrigues; SILVA, Camilo Henrique. Animais: Bioética e Direito. Brasília: Portal Jurídico, 2016. p. 57. 0 SILVA, Camilo Henrique; VIEIRA, Tereza Rodrigues. A disputa pelo animal de estimação após o divór- cio. In: VIEIRA, Tereza Rodrigues; SILVA, Camilo Henrique. Animais: Bioética e Direito. Brasília: Por- tal Jurídico, 2016. p. 74. Na maioria das ocasiões em que tais l itígios foram levados ao Poder Judiciário, as decisões basearam-se estri tamente no direito de propriedade. Rodrigues, Flain e Geissler 0 bem constatam esta ocorrência ao analisar a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul; porém, fazem a importante observação de que “em alguns casos se manteve o animal de estimação com quem, de certa forma, comprovou que desempenhava a guarda/posse responsável, ou seja, conseguiu uma comprovação de que havia o zelo pelo bem-estar animal”. Entretanto, nos casos em que as decisões judiciais foram embasadas no direito de propriedade, verifica-se uma solução inadequada para o lit ígio, pois muitas vezes a pessoa que possui o mais forte vínculo afetivo com o animal ou a principal responsável por seus cuidados não é a pessoa proprietária. A questão é que, quando se trata da discussão sobre a guarda de um animal, a preocupação não se refere a uma coisa, um objeto, uma propriedade de valor monetário, e sim a um vínculo familiar e emocional. Percebe-se a ineficácia da decisão, que não coincide com a realidade fática. Um pouco mais condizente com a realidade da família multiespécie foi a decisão da 22ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro a respeito do cão “Dully”: Direi to civi l - reconhecimento/dissolução de união estável - part i lha de bens de semovente - sentença de procedência parcial que determina a posse do cão de est imação para a ex- convivente mulher – Direi to do apelante/varão em ter o animal em sua companhia – animais de est imação cujo dest ino, caso dissolvida sociedade conjugal é tema que desafia o operador do direi to – semovente que, por sua natureza e f inal idade, não pode ser t ratado como simples bem, a ser hermét ica e i rref let idamente part i lhado, rompendo-se abruptamente o convívio até então mant ido com um dos integrantes da famíl ia – cachorrinho “Dully” que fora presenteado pelo recorrente à recorrida, em momento de especial dissabor enfrentado pelos conviventes , a saber, aborto natural sofr ido por es ta – vínculos emocionais e afet ivos construídos em torno do animal , que devem ser, na medida do possível , mant idos – solução que não tem o condão de conferi r di rei tos subjet ivos ao animal , expressando-se, por outro lado, como mais uma das variadas e mul t i fár ias manifestações do princípio da dignidade da pessoa humana, em favor do recorrente –parcial acolhimento da i rres ignação para, a despei to da ausência de previsão normat iva regente sobre o tema, mas sopesando todos 0 RODRIGUES, Nina Tricia Disconzi Rodrigues; FLAIN, Valdirene Silveira; GEISSLER, Ana Cristina Jardim. O animal de estimação sob a perspectiva da tutela jurisdicional: análise das decisões do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Direito Animal. Salvador, v. 11, n. 22. 2016. p. 111. os vetores acima evidenciados, aos quais se soma o princípio que veda o non l iquet , permiti r ao recorrente, caso queira, ter consigo a companhia do cão Dul ly, exercendo a sua posse provisória , facul tando-lhe buscar o cão em fins de semana al ternados, das 10:00 hs de sábado às 17:00hs do domingo. (Apelação cível nº 0019757-79.2013.8.19.0208. 22ª Câmara Cível do Tribunal de Just iça do Estado do Rio de Janeiro. Relator: Des. Marcelo Lima Buhatem). Percebe-se que o relator de referida decisão levou em consideração os aspectos familiares e os laços afetivos resultantes da relação entre tutor e animal de estimação, decidindo pelo não rompimento do convívio e determinando a possibilidade do recorrente exercer a “posse provisória” do animal em fins de semana alternados; apesar da linguagem utilizada remeter aos direitos reais e do fato do animal ter sido tratado como bem semovente, a determinação de direito de convívio aos finais de semana lembra vividamente as decisões referentes a filhos em sede de direito familiar. Outra decisão importante foi a do caso “Braddock”, proferida pela juíza Gisele Silva Jardim, da 2ª Vara de Família do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Em certo momento da decisão judicial, a juíza asseverou: Muito embora bichos de est imação possuam a natureza de bem semovente, é inegável a t roca de afeto entre os mesmos e seus proprietár ios , c r iando vínculos emocionais . [ . . . ] Assim, presentes os requis i tos legais , defi ro a posse al ternada provisória do cachorro, da raça Bul ldog Francês, nominado Braddock, entre os requerentes , cabendo ao requerente a primeira metadede cada mês e à requerida a segunda metade, autorizando, desde logo, a busca e apreensão, caso não haja entrega voluntária , devendo o requerente acompanhar a medida.(Processo: 0009164-35.2015.8.19.0203. 2ª Vara de Família do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro – Regional de Jacarepaguá.) . Ambas as decisões possuem semelhanças, principalmente por utilizarem-se do instituto da propriedade como base para fundamentação jurídica; no entanto, interessante observar que, enquanto a decisão referente ao cão “Dully” se deu em sede de vara cível, a sentença atinente ao cão “Braddock” originou-se em uma vara de família. Para que sejam efetivamente tratados pelo Direito de Família os casos de guarda de animais, cabe à doutrina e aos juristas a tarefa de disseminar o conceito de família multiespécie e exigir tratamento jurídico mais adequado, qual seja, a uti lização dos dispositivos legais referentes à família por analogia, enquanto ainda na falta de legislação específica. 3 POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DE INSTITUTOS DE DIREITO DE FAMÍ- LIA POR ANALOGIA Devido ao fato de que a legislação de propriedade não vai resolver um conflito afetivo, devem ser uti lizados os institutos de direito de família em analogia. A opinião dos juristas animalistas é convergente no sentido de que, ao fazer suas considerações sobre a guarda, o juiz deve priorizar o critério do melhor interesse dos animais, uti lizando como base as regras do Estatuto da Criança e do Adolescente e do Código Civil e, nas palavras de Silva e Vieira 0 , “levando em consideração seus interesses, quebrando, portanto, os paradigmas antropocêntricos e especistas formadores da sociedade”. Em sede de divórcio e dissolução de união estável, o animal ocupa posição análoga àquela normalmente ocupada pelos filhos; sendo assim, pode ser considerado o membro vulnerável da relação. Em face deste quadro, Silva e Vieira 0 atestam que seus tutores terão as mesmas imposições do art. 33 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou seja, deverão prestar ao animal toda a assistência necessária. Devido ao fato de a espécie humana não possuir a mesma linguagem que o restante dos animais, torna-se mais difícil reconhecer quais são os interesses de cada animal; no entanto, com base na razoabilidade, é possível identificar alguns interesses básicos, a depender da espécie em tela. Acerca das minúcias a serem consideradas, Eithne e Akers0 discorrem: Este cr i tér io é muito amplo, mas dentro de sua rubrica ex is tem cri tér ios mais especí f icos , tais como prevenção de qualquer efei to adverso sobre o cuidado com o animal de est imação ou qual parte pode melhor cuidar do animal . Is to inclui 0 SILVA, Camilo Henrique; VIEIRA, Tereza Rodrigues. A disputa pelo animal de estimação após o divór- cio. In: VIEIRA, Tereza Rodrigues; SILVA, Camilo Henrique. Animais: Bioética e Direito. Brasília: Por- tal Jurídico, 2016. p. 76. 0 Ibidem. p. 77. 0 EITHNE, Mills; AKERS, Kreith. Quem fica com os gatos... você ou eu? Análise sobre a guarda e o di - reito de visita. Questões relativas aos animais de estimação após o divórcio ou a separação. Revista Bra- sileira de Direito Animal. Salvador, v. 9. 2011. p. 221. considerações sobre as condições de vida do animal de est imação, tais como com que frequência o animal sai r ia para a caminhada, quaisquer confl i tos que possam surgir com outros animais domést icos e cr ianças devido ao novo domicí l io do cão após o divórcio do parceiro, e t ratamento humani tár io dos animais de est imação com todo o cuidado e atenção às suas necessidades, a mostra de afeição para com os animais de est imação e tantos outros assuntos . O art. 1.584 do Código Civil dispõe sobre guarda unilateral e comparti lhada; de acordo com Tartuce 0 , unilateral é “aquela em que um genitor detém a guarda e o outro tem a regulamentação de vistas em seu favor”, e compartilhada consiste naquela em que “o filho convive com ambos os genitores”. A regra supramencionada pode ser aplicada por analogia, desde que haja a compatibil ização com o melhor interesse do animal; há a possibilidade, inclusive, de aplicação do parágrafo 5º do artigo 1.584 do Código Civil. Silva e Vieira 0 ensinam que “em caso de disputa judicial, a guarda deve ser atribuída a uma das partes, independente do título de propriedade. Contudo, se durante a instrução processual ficar evidente tal impossibilidade, a guarda pode ser atribuída a uma pessoa idônea da família”. Quanto à pensão alimentícia, podem ser aplicados por analogia as regras dos artigos 1.694 e 1.695 do Código Civil, de forma a existir contribuição para a verba necessária para o custeio das despesas do animal. Neste sentido, é o ensinamento de Silva e Vieira 0 : Anal isando as normas sobre al imentos , essas podem ser ut i l izadas por analogia na relação exis tente entre os tutores e seus animais de est imação. Apesar de se es tar diante de uma responsabi l idade famil iar, embasada no parentesco sanguíneo, a relação entre os tutores e seus animais é de af inidade, cabendo, desse modo, uma responsabi l idade civil obrigacional . Não restam dúvidas das responsabi l idades de um tutor para com seus animais de est imação. Como nas civis entre familiares , ta is responsabi l idades vão além da al imentação, englobando as necessidades do animal com saúde, lazer, moradia, entre outras . A obrigação de prestar al imentos configura-se um dever indecl inável dos tutores para com seus animais , independentemente se es tão ou não em sua guarda. 0 TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. São Paulo: Editora Forense. 2017. p. 785. 0 SILVA, Camilo Henrique; VIEIRA, Tereza Rodrigues. A disputa pelo animal de estimação após o divór- cio. In: VIEIRA, Tereza Rodrigues; SILVA, Camilo Henrique. Animais: Bioética e Direito. Brasília: Por- tal Jurídico, 2016. p. 77. 0 Ibidem. p. 82. Decisão neste sentido foi proferida pela 1ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, em caso em que a ex- mulher, que após o divórcio havia ficado com a guarda de dois cachorros, requisitou pensão alimentícia a seu ex-marido, de forma a suprir as necessidades alimentares dos animais. O pedido foi acatado, ficando determinado o valor de R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais) para mensais para cada cão, a título de pensão alimentícia vitalícia. São apenas alguns apontamentos e exemplos da possibilidade de utilização da analogia nos casos em tela. De forma geral, havendo a devida ponderação e o respeito pelo critério de razoabilidade, é perfeitamente possível aplicar diversos artigos da legislação concernente à família quando da disputa pela guarda de animais de estimação, em sede de divórcio ou dissolução de união estável. CONCLUSÃO O conceito de família está em constante evolução, e a família multiespécie é somente mais uma possibilidade; em face dos fortes vínculos afetivos entre animais de estimação e seus tutores, em casos de divórcio ou dissolução de união estável, é possível que ocorra a disputa li tigiosa pela guarda do animal. Nestes casos, por conta da inexistência de legislação específica, caberá aos magistrados decidir e buscar a resolução do conflito; no entanto, por todo o exposto, é possível concluir que a utilização da legislação concernenteao direito de propriedade é inadequada e não fornece a melhor solução, pois trata o animal como mero objeto, e não como um ser senciente e membro familiar. Apesar de a lei brasileira ainda determinar o status jurídico dos animais como sendo de bens semoventes, os avanços científicos, filosóficos e sociais demonstram a necessidade de atualização por parte do Direito, de forma a considerar também os laços afetivos formados entre humanos e não humanos e os interesses dos animais. Desta forma, verifica-se a possibil idade de aplicação e maior adequação da legislação de direito de família aos casos de disputa pela guarda de animais de estimação, devendo ser utilizada a ferramenta da analogia, desde que com ponderação e respeito ao critério da razoabilidade. REFERÊNCIAS ADEDE Y CASTRO, João Marcos. Direito dos Animais na Legislação Brasileira . Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris Ed., 2006. ARAÚJO, Fernando. A Hora dos Direitos dos Animais . Coimbra: Almedina, 2003. EITHNE, Mills; AKERS, Kreith. Quem fica com os gatos:você ou eu? Análise sobre a guarda e o direito de visita. Questões relativas aos animais de estimação após o divórcio ou a separação. Revista Brasileira de Direito Animal . Salvador, v. 9. 2011. GORDILHO, Heron José de Santana. Abolicionismo animal . Salvador: Evolução, 2008. IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Portaria nº 93, de 7de julho de 1998. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatíst ica. Pesquisa Nacional de Saúde. 2013. RODRIGUES, Nina Tricia Disconzi Rodrigues; FLAIN, Valdirene Silveira; GEISSLER, Ana Cristina Jardim. O animal de estimação sob a perspectiva da tutela jurisdicional: análise das decisões do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Direito Animal . Salvador, v. 11, n. 22. 2016. SILVA, Camilo Henrique; VIEIRA, Tereza Rodrigues. A disputa pelo animal de estimação após o divórcio. In: VIEIRA, Tereza Rodrigues; SILVA, Camilo Henrique. Animais: Bioética e Direito . Brasíl ia: Portal Jurídico, 2016. VIEIRA, Tereza Rodrigues; PIRES, Loraini Candida Bueno. O animal de estimação é um integrante da família? In: VIEIRA, Tereza Rodrigues; SILVA, Camilo Henrique. Animais: Bioética e Direito . Brasíl ia: Portal Jurídico, 2016. TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. São Paulo: Editora Forense. 2017. 2 DESAFIOS PARA O PROTAGONISMO DO IDOSO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA Amaranta Vasconcelos Silva 0 SUMÁRIO: Introdução. 1 Perfil do Idoso. 2 Polit ica Públicas em favor do Idoso. 3 A institucionalização da velhice. 4 Mecanismos de atuação e protagonismo do idoso. Conclusões. Referências. RESUMO: O envelhecimento é algo natural, inerente à natureza humana. No entanto, assim como todas as fases da vida é preciso pensar suas limitações sejam elas dentro do meio social, familiar, espaço urbano ou 0 Mestranda no Programa de Pós Graduação em Direito pela FHCS – Unesp Franca. local de trabalho. Sabe-se que o ritmo de vida acelerado, a rotina corrida e as prioridades da vida moderna como trabalho e estudos muitas vezes fazem com que os idosos sejam invisibil izados e, a partir daí, não tenham suas necessidades atendidas. Aos idosos em situação de saúde mais vulnerável, que necessita de cuidados especiais, não há muita opção de obter dentro da rotina da família esses cuidados, seja por falta de tempo ou de recursos financeiros do núcleo familiar, o que acaba levando a insti tucionalização da velhice, ou, em termos mais corriqueiros, a decisão de manter o idoso em casas de repouso. A institucionalização da velhice é a 'ult ima ratio' em se tratando do bem estar do idoso. Este fenômeno geralmente ocorre quando as famílias percebem que não há mais possibilidade de manter idoso em tratamento em casa. Isso ocorre por inúmeros fatores, agravamento do quadro clínico, falta de tempo dos familiares de cuidar do idoso ou falta de recursos financeiros para custear os dispêndios. Dessa forma, é nít ida a necessidade de análise e reflexão de como as políticas públicas para idosos estão inseridas na agenda oficial, a forma de representação e participação dos idosos na construção de tais políticas e seu impacto na vida dos idosos. O presente artigo visa trazer uma rápida reflexão sobre o assunto, buscando debater os pontos mais importantes. Palavras-chave: envelhecimento, representação, polit icas públicas, insti tucionalização da velhice. ABSTRACT: Aging is something natural, inherent in human nature. However, just like all phases of life one has to think of their limitations whether they are within the social, family, urban or workplace environment. It is known that the fast pace of life, the run- ning routine and the priorities of modern life such as work and studies often make the elderly invisible and, from there, do not have their needs met. To the elderly in a situa- tion of more vulnerable health, who needs special care, there is not much option to ob- tain within the routine of the family this care, either for lack of time or financial re- sources of the family nucleus, which ends up leading to the institutionalization of old age , Or, more commonly, the decision to keep the elderly in nursing homes.The institu- tionalization of old age is the ultima ratio in the welfare of the elderly. This phenome- non usually occurs when families realize that there is no more possibility of keeping el- derly in treatment at home. This is due to a number of factors, worsening of the clinical picture, lack of time for relatives to care for the elderly, or lack of financial resources to defray expenditures. Thus, there is a clear need for analysis and reflection of how public policies for the elderly are included in the official agenda, the form of representation and participation of the elderly in the construction of such policies and their impact on the lives of the elderly. This article aims to bring a quick reflection on the subject, seeking to discuss the most important points. Key words: Aging, representation, public policies, insti tutionalization of old age. INTRODUÇÃO A atuação do idoso nos espaços públicos tem sido o principal fator de conquistas no que diz respeito à efetivação de direitos, ao menos no campo normativo. Já é um grande avanço em termos de aparato legal existir, na Constituição, previsão legal em seu art. 230 que determine a tutela dos direitos dos idosos. Segundo a Constituição Federal em seu art. 230: A família , a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas , assegurando sua part icipação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garant indo- lhes o direi to à vida. § 1º Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares . § 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garant ida a gratuidade dos t ransportes colet ivos urbanos. Sabe-se que a Constituição Brasileira é a primeira a estabelecer esse arcabouço de proteção aos direitos dos idosos, compreendendo que este é um grupo de minorias vulneráveis em todos os aspectos da vida cotidiana e para que haja efetividade no seu bem estar é necessário um trabalho conjunto de todas as instituições que os cercam, uma vez que a família é o principal “ locus” de cuidado. A sociedade é responsável por sua inclusão social e o Estado por assegurar seus direitos básicos para uma vida dignacomo para qualquer outro cidadão, não deixando de atender às suas peculiaridades. Outra questão importante a ser ressaltada dentro do enunciado da legislação Constitucional é de que, impelindo o Estado a tutela do bem estar dos idosos, necessariamente será preciso um substancioso número de políticas públicas que permeiem os mais variados aspectos da vida, sendo esses saúde, transporte, lazer, cultura, habitação e as demais peculiaridades que esta parte da população possuiu. Em termos de legislação, o Brasil possui um sistema privilegiado no que tange os direitos do idoso. Tanto a Política Nacional do Idoso, criada em 1993 quanto o Estatuto do Idoso criado em 2003 são respostas à atuação dos próprios idosos no que diz respeito a suas necessidades e trazem um rol completo de como deveriam ser traçadas as diretrizes de polít icas públicas em favor deste setor da sociedade. Entretanto, ao nos depararmos com a prática, a realidade é bem diferente. São poucos os números de polít icas voltadas para idosos, fator que motiva ainda mais a militância deste setor da população e sua articulação com demais órgãos e instituições para que o poder público tenha em sua agenda previsão de políticas efetivas que assegurem a vida digna do idoso. Um exemplo importante a se ressaltar é a falta quase total de políticas públicas de saúde que atendam o idoso em seu domicílio. Não é necessário dizer da necessidade de recursos médicos para tratamentos em um estágio de vida no qual algumas doenças específicas começam a surgir e, consequentemente, l imitar sua atuação cotidiana. No entanto, a falta de política públicas que atendam esta demandada acaba por obrigar a família, muitas vezes despreparada para vivenciar a realidade das limitações da pessoa com idade mais avançada, a optar pela realocação do idoso em casas de permanência, asilos ou abrigos. De maneira que o idoso, principalmente das classes mais baixas, por falta de amparo do poder público acaba sendo excluído do meio familiar, resignado a viver em condições muitas vezes diferentes da que estava acostumando. Assim, há que se ponderar até que ponto o descaso do poder público em alguns aspectos não acaba levando ao desrespeito da dignidade da pessoa idosa. Elemento que este mesmo é imputado de tutelar. 1 PERFIL DO IDOSO As mudanças na sociedade também fizeram com que se modificasse o esti lo de vida e as característ icas do idoso de um modo geral. Se antigamente tínhamos a imagem dos idosos vinculada a figuras arcaicas, frágeis, situadas dentro de uma realidade restrita e sem tecnologia, hoje não é mais bem assim. Os idosos são, em sua maioria, atuantes, dinâmicos, cheios de vida. E, isto deve-se aos avanços da medicina, não apenas no setor de expectativa e longevidade de vida, mas também no avanço da medicina em permitir que se viva de maneira melhor, com mais qualidade, principalmente na terceira idade. Sendo assim, os idosos hoje em dia gozam de melhor saúde e disposição, fato que permite que se mantenham ativos, realizando as atividades que lhe agradam e, por vezes, descobrindo outras novas. Pesquisas recentes demonstram também que há uma dicotomia de interesses entre as populações femininas e masculinas dentro do contingente de idosos: enquanto as mulheres encontram na velhice a libertação de paradigmas predominantes na sociedade machista como a obrigação de cuidar do esposo, da família e do lar e, buscam tempo par elas, para realizar atividades de seu interesse e, principalmente, buscarem por tratamentos estéticos e de rejuvenescimento, para o homem ainda há uma necessisdade de se manter como o líder da família portanto, tentam se manter sempre úteis e inseridos no mercado de trabalho. 0 Conforme dados do IBGE, cerca de 10% do PEA consiste em homens idosos trabalhando. Estes são, em sua maioria, donos de seu próprio negócio ou funcionários de confiança. Aliás, um traço marcante da população masculina de idosos é a sua necessidade de se manter útil, produzindo e sendo independente. As mulheres não ficam atrás, integrando cerca de 8% do PEA 0 . No que diz respeito à família, aumentou-se o número de idosos morando sozinhos ou nos chamados “ninhos vazios’’ em que se encontram sem a presença de filhos ou netos que saem de casa, seja por escolha pessoal, necessidade de trabalho ou estudos. Talvez seja este um dos principais motivos de uma reclamação recorrente do idoso: a ideia de invisibil idade social. Ainda que haja muitos idosos familiarizados com as novidades tecnológicas da vida moderna, a correria e a vida agitada muitas vezes não permitem que se possa dar atenção aos familiares de idade mais avançada. 0 GOLDENBERG, Mirian. A bela velhice. São Paulo: Ed. Record, 2013. 0 ______. Idosos voltam à ativa. Estadão – Portal do Estado de São Paulo, São Paulo. Maio 2017. Economia. Disponível em ˂http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,idosos-de-volta-a-ativa-- imp-,1748145> Acesso em: 01 jun 2017. http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,idosos-de-volta-a-ativa--imp-,1748145%3E%20Acesso http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,idosos-de-volta-a-ativa--imp-,1748145%3E%20Acesso Esta, juntamente com a questão do preconceito que, muitas vezes, se mostra dentro do próprio âmbito familiar, quando parentes mais jovens ignoram a opinião do idoso e passam a tratá-lo como criança, não levando em consideração sua vontade ou suas escolhas, têm sido, segundo pesquisas, as principais reclamações dos idosos 0 . Já se tratando de questões relacionadas a políticas públicas, as principais queixas são com saúde, transporte e segurança. 0 2 POLÍTICAS PÚBLICAS EM FAVOR DO IDOSO A Política Nacional do Idoso estabelece em seu artigo 3º, § IV que as políticas públicas em favor do idoso o tenham tanto como foco quanto como agente. Ou seja, estabelecem a necessidade e atuação do idoso na construção da política social em seu favor. No entanto, apesar de grande atuação de Insti tuições que defendem o idoso, lutem por uma política pública descentralizada e busquem auferir proteção para estes, ainda assim, não se vê políticas públicas para o idoso fora do âmbito da assistência social e, muitas vezes, ainda neste setor, o atendimento aos idosos é apenas razoável, até simbólico. Se as políticas públicas de transporte coletivo auferem gratuidade a passagem, em contrapartida, a falta de acessibil idade e a deficiência do transporte público como um todo, em muitas cidades, dificulta ainda mais o acesso ao idoso vedando seu direito de ir e vir. Há que se falar na precariedade de políticas públicas que não disponibilizam cuidadores, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e médicos que façam atendimento domiciliares aos idosos, visto que sua faixa etária por si só dificulta a locomoção e, muitas vezes, o estado de 0 CONGRESSO BRASILEIRO DE GERIATRIA E GERONTONLOGIA, n. XIX, 2014, Belém do Pará. A nova geração de idosos e os desafios contemporênos - estamos preparados?. Belém do Pará, 24 abr 2014. Disponível em ˂HTTP// http://sbgg.org.br/a-nova-geracao-de-idosos-e-os-desafios-contempora- neos-estamos-preparados/>.Acesso em: 01 de jun 2017. 0 Global AgeWatch. Global AgeWatch INDEX 2014. London, 2015. Disponível em ˂ http://www.helpa- ge.org/global-agewatch/reports/global-agewatch-index-2014-insight-report-summary-and-methodology/>. Acesso em: 01 jun 2017. http://www.helpage.org/global-agewatch/reports/global-agewatch-index-2014-insight-report-summary-and-methodology/ http://www.helpage.org/global-agewatch/reports/global-agewatch-index-2014-insight-report-summary-and-methodology/ http://sbgg.org.br/a-nova-geracao-de-idosos-e-os-desafios-contemporaneos-estamos-preparados/ http://sbgg.org.br/a-nova-geracao-de-idosos-e-os-desafios-contemporaneos-estamos-preparados/ hipossuficiência da família faz com que o idoso não possa ser transportado para uma consulta ou ambiente de tratamento. Tendo em vista esse quadro, percebe-se o quão gritante é a falta de acesso dos idosos a meios dignos de vida que, pela estrutura do sistema, deveriam ser geridos pelo Estado. Muito bem analisam as pesquisadoras Ângela Maria de Oliveira e Maria de Fátima de Souza Santos sobre a questão das políticas públicas para idosos: A dif iculdade de funcionamento daqui lo que está disposto na legis lação está mui to l igada à t radição central izadora e segmentadora das pol í t icas públ icas no Brasi l , que provoca a superposição desart iculada de programas e projetos vol tados para um mesmo públ ico. A área de amparo à terceira idade é um dos exemplos que mais chama a atenção para a necessidade de uma intersetorial idade na ação públ ica, pois os idosos mui tas vezes são vít imas de projetos implantados sem qualquer ar t iculação pelos órgãos de educação, ass is tência social e de saúde .0 No entanto, o que se vê é uma imprevisibilidade de políticas públicas sendo implementadas em favor dos idosos. Algumas políticas públicas têm dado certo e possui um caráter mais efetivo, como o caso da distribuição de renda. Sabe-se que o Estatuto dos Idosos, em seu artigo 4º §III determina que o idoso sem recursos financeiros seja auxiliado pela sua família e caso esta não possa prover suas necessidades, o idoso deverá ser atendido pelo programa de distribuição de renda da Lei Orgânica de Assistência social, mais conhecido como benefício LOAS que permite ao idoso direito a um salário mínimo. Muitas vezes a concessão do benefício não é conseguida apenas pela via administrativa, fazendo com que o idoso tenha que ingressar no judiciário, o que se sabe é um procedimento lento e, muitas vezes, demorado. Ainda assim, a política de distribuição de renda para idosos fez com que esse ficasse em 12º lugar no ranking mundial de distribuição de renda para idosos. Em outras categorias, porém, o país deixa a desejar, ocupando no ranking a posição de 58º lugar, abaixo de países como o 0 OLIVEIRA, A; SANTOS, M. O envelhecer: teorias científicas x teorias populares. Rev. Psico, Porto Alegre, v. 33, n. 2, p. 311-326, 2002. . http://pesquisa.bvs.br/brasil/?lang=pt&q=au:%22Oliveira,%20%C3%82ngela%20Maria%20de%22 Chile, Argentina, México, ganhando apenas da Guatemala e República Dominicana. Assim, deve-se elucidar qual a relação da sociedade com os idosos e como esta condição tem impacto nas relações familiares e onde o Estado entra, se, de fato, é uma atuação efetiva em todos os aspectos. A julgar pelos dados e, através da análise do panorama atual o Estado tem se omitido em seu dever de tutelar o bem estar dos idosos principalmente no que diz respeito ao setor de saúde. A ausência de medicamentos, médicos e sistemas de tratamento domiciliares são as principais reclamações dos idosos e suas famílias que, em face do agravamento do quadro clínico e impossibil idade de tratamento em casa muitas vezes pela falta de recursos financeiros acaba por optar pelo recolhimento do idoso a casas de permanência ou asilos. 3 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA VELHICE Analisando os dados das insti tuições e abrigos de idosos, ainda é mais notório o descaso do poder público. Sabe-se, com base em Estudos do IBGE, que há cerca de 6 mil abrigos no Brasil; deste contingente, apenas 218 são Estaduais e Municipais, sendo que o governo Federal possui apenas um abrigo que se situa no Rio de Janeiro 0 . A maioria das instituições é filantrópica e apenas 22% de sua receita provêm de verbas públicas. Assim, o contingente de idosos que se encontra em casas de abrigo, sobrevive por meio de doações ou com a sua própria renda que, conforme o artigo 35, parágrafo 2º do Estatuto dos Idosos não deve ultrapassar 70% do valor do benefício previdenciário ou assistencial recebido pelo idoso. 0 Assim, a insti tucionalização da velhice é também a insti tucionalização da pobre, e percebe-se que o quadro de vulnerabilidade do idoso é diretamente ligado a sua hipossuficiência econômica. Pois o Estado não dispõe de meios para que idoso tenha tratamentos de saúde digno e permaneça inserido na sociedade ou em seu meio familiar, questão de suma importância. 0IPEA. 71% dos municípios não têm instituição para idosos. [s.l.] Disponível em ˂http://www.ipea.gov.- br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=8574&catid=10&Itemid=9˃. Acesso em 01 jun 2017. 0 Idem. http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=8574&catid=10&Itemid=9 http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=8574&catid=10&Itemid=9 4 MECANISMOS DE ATUAÇÃO E PROTAGONISMO DO IDOSO Se mesmo com uma legislação bem estruturada que atenda, ainda que apenas na teoria, todos os aspectos que constituem a concepção de vida digna do idoso, atualmente ainda falta uma atuação efetiva do Estado. Deve-se elucidar que, sem a militância de insti tuições compostas por idosos, nem mesmo os avanços legalistas seriam possíveis. Desde a retomada democrática em 1988, a Confederação Nacional de Pensionistas e Aposentados tem estado presente, para que haja visibilidade sobre o direito do idoso nos espaços sociais. Posteriormente, a atuação do Conselho Nacional do Idoso que foi positivado na Lei Nº 8.842, DE 4 DE JANEIRO DE 1994, que consiste no plano nacional do idoso juntamente com o Conselho Nacional de Direitos Humanos criou, na I Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, a Rede Nacional de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa (RENADI) que teve sua implementação avaliada, em 2009, na II Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa. Foi também a pressão do Conselho Nacional que, diante da inércia do poder público em construir políticas públicas, de fato, efetivas, para os idosos e os inúmeros relatos de maus tratos e falta de cuidado que ocorriam em casas de repouso, culminando com a morte de centenas de idosos na Clínica Santa Genoveva, que foi pensado o Estatuto do Idoso, criado em 2003. Mesmo munidos de todo o arcabouço normativo, ainda assim, a realidade do idoso é penosa, tendo que conviver inserido em uma sociedade que preza pela lógica mercadológica, que valoriza tudo que é rápido, novo e rentável. A falta de respeito é constante. Um exemplo irrefutável são os jovens ocupando assentos reservados aos idosos em ônibus e metrôs. A dificuldade de acesso aos espaços urbanos que não estão adaptados a suas limitações e o desrespeito tornam a realidade do idoso muito mais difícil. CONCLUSÃO Em razão do quadro exposto, não resta dúvida do caráter participativo e consciente do idoso na sociedade, na mili tância por seus direitos e buscar por bem estar. Em contrapartida, o que se percebe é um descaso do poder público e uma dificuldade muito grande da criação de politicas públicas descentralizadasadministrativamente que permitam que o idoso possa manter suas relações familiares e ainda possuir tratamento ambulatorial em domicílio para os cuidados de sua saúde. Essa dificuldade em construir uma rede de amparo aos idosos em todos os âmbitos que dizem respeito a sua vida social, seja na família, sociedade civil e com a tutela do Estado, pela sua dignidade contraria expressamente o que foi determinado pela Constituição em seu artigo 230 e cria uma condição de impossibil idade tão grande que não há outra saída senão optar pela instalação do idoso em casas de repousos. Além de não ser a melhor opção, tanto em termo médico, quanto no que diz respeito a questões legais (a PNI em um de seus artigos diz que havendo opção o idoso deve majoritariamente ficar com a família), muitas vezes coloca o idoso em condições de vida muita mais austera do que estava acostumado, ou pior, o submete a um ritmo totalmente diferente do que estava acostumado. As insti tuições no Brasil em sua maioria são filantrópicas, o que significa que sua manutenção depende de um contrato de prestação de serviço assinado pela família do idoso e que deverá arcar com o ônus destes serviços, por meio de um contrato pecuniário. Assim, o que se percebe é a ‘’longa manus do estado’’ não chegando a um ambiente, no qual se tem o idoso totalmente vulnerável e, a maioria das vezes, debilitado e precisando do melhor cuidado possível. A solução para este quadro triste é complexa, envolve mudanças culturais, conscientização e principalmente um espaço maior de atuação desta minoria dentro da construção das políticas sociais. É necessário que haja, não apenas, maior participação dos idosos na concepção das agendas públicas, mas um elo entre família e sociedade, para que os idosos que estão em situação de saúde grave possam ser representados e tenham voz, tenham, enfim, as suas reais necessidades atendidas. REFERÊNCIAS ______. Idosos voltam à ativa. 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A gravidez por substituição no mundo. 4.1 Países em que ambas as formas altruística e comercial da gravidez por substituição são legais. 4.2 Países em que a prática da gravidez por substi tuição é banida. 4.3 A gravidez por substi tuição no Brasil. 4.4 Gravidez por substituição e a globalização. 5. Quebra de contrato. 5.1 A não cessação da guarda ou dos direitos parentais. 5.2 O remanescer da criança legalmente em filia - ção ou sob custódia da gestante. 5.3 Desacordo entre os comissários e a gestante sobre a (in)execução do aborto. 5. Comissários que voltam atrás do arranjo depois da concepção. 6. Conclusão. Referências. RESUMO: O presente capítulo visa conferir ao leitor uma perspectiva das insti tuições envolvidas quando da prática da gravidez por substi tui - ção, tarefa essa realmente necessária diante da quase inexistência de tra - balhos elucidativos disponíveis ao estudo não só na língua portuguesa, mas que também envolvem a jurisdição brasileira. Para tanto, em seguida da apresentação das estruturas retromencionadas, será realizada uma im - portante a contextualização do referido procedimento numa perspectiva mundial, já que, como esclarecido no decorrer do capítulo, a heterogenei - dade das legislações respectivas no mundo, confere ao cidadão global a discricionariedade de procurar oferta em jurisdições que tratam da gravi - dez por substi tuição de maneira mais flexível, diante do instituto apre - sentado da ferti lity tourism. Essa arqueabilidade, no entanto, tende a ele - var a complexidade da já conturbada surrogacy, já que a migração entre jurisdições traz ainda maior incerteza ao cumprimento do arranjado, a sa - ber, e conforme será mencionado: aos pais comissários a não cessão da guarda e dos direitos parentais, e à gestante, o não pagamento de suas contas médicas, a compensação pela gravidez, ou ainda o remanescer da criança legalmente em sua fil iação e sob sua custódia . E justamente nes- se aspecto que se arrematará o capítulo, com o levantamento de hipóteses em que ocorre quebra de contrato no arranjo da gravidez por substi tui - ção, transcendendo o viés teórico para o tangível através da apresentação de casos reais em que incidirão nas ditas hipóteses. Palavras-chave: gravidez por substi tuição; barriga de aluguel; barriga so - lidária. 0 Graduanda em Direi to , FCHS/UNESP; membro do grupo de pesquisa “Os novos parâmetros da responsabi l idade civi l e as relações sociais”, coordenado pela professora Maria Amália de Figueiredo Pereira Alvarenga. 0 Mestre e doutora em Direi to , FCHS/UNESP; Chefe do Departamento de Direi to Privado da FCHS/UNESP; ex- coordenadora do Curso de Direi to da FCHS/UNESP; docente da cadei ra de Direi to Civi l FCHS/UNESP; docente do Programa de Pós Graduação em Direi to da FCHS/UNESP; orientadora de grupos de pesquisa, CNPq e aval iadora de Cursos pelo MEC. ABSTRACT: The purpose of this chapter is to grant the reader a per - spective on the institutions involved in the practice of surrogacy, a as - signment that shows itself really necessary considering the almost inex - istence of availabili ty of works as such not only in portuguese language, but that also involves the brazilian jurisdiction. In order to do so, after the presentation of the above mentioned structures, an important contex - tualization of the procedure in a global perspective will be given, since, as explained in the chapter, the heterogeneity of the respective legisla - tion in the world provides the global citizen the discretion to seek offers in jurisdictions that deals with surrogacy in a more flexible way, as the latter shown insti tute of the fertili ty tourism. This pliance, however, tends to raise the complexity of the already troubled matter of surrogacy, since the migration within jurisdictions brings even greater uncertainty to the fulfi llment of the arrangement, namely, and as will be mentioned: to the commissioners parents, the non grant of the custody or/and the parental rights, and to the surrogate, the non payment of the medical bil ls, the non monetary compensation for the pregnancy, if applies, or even the remaining of the child in their affiliation or/and their custody. And this is precisely the outcome of this chapter, the sett ing of the possi - ble hypothesis for surrogacy breaches of contract, transcending from the theoretical to the tangible bias though the presentation of real cases in which the aforementioned hypothesis succeed. Key-words: surrogacy; commercial surrogacy; altruistic surrogacy. INTRODUÇÃO Considerando a potencial universalidade que o tema de gesta - ção por substi tuição pode assumir, em respeito à primazia acadêmico- científ ica que neste artigo é proposta, iniciaremos o presente trabalho com uma apresentação dotada de definições e concepções genéricas - ou seja, que não necessariamente tenham aplicabilidade na legislação pátria. O termo surrogacy tem origem latina em surrogatus 0 , tem acep- ção como “o nomeado para agir no lugar de”; guarda tradução li teral do inglês para o português como “sub-rogação”, termo jurídico definido pelo professor Henri Capitant como “ substituição de uma pessoa por ou - tra, numa relação de direito (sub-rogação pessoal), ou atribuição de uma coisa das qualidade s jurídicas daquela a que substi tui num patrimô - nio ou numa universalidade jurídica (sub-rogação real) ”0 . 0 ______. Surrogatus - Wiktionary, the free dictionary. Disponível em ˂https: / /en.wiktionary.org/wiki/surrogate . Aceso em maio 2017. 0 ______. 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