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Tradutor e intérprete de língua de sinais (TILS) Com o reconhecimento e divulgação do direito dos surdos em participarem do mundo por meio da Libras, uma nova categoria de pro�ssionais emergiu para subsidiar o acesso das pessoas surdas aos mais diferentes espaços da sociedade, especialmente, à escola. Nesse sentido, começaremos os nossos estudos compreendendo o papel do tradutor e intérprete de línguas de sinais (TILS). No âmbito legal, antes da o�cialização da Libras (BRASIL, 2002), a Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, já indicava, em seu artigo 18, o dever do Poder Público em implementar a formação do tradutor e intérprete de língua de sinais no país. No entanto, a regulamentação dessa pro�ssão ocorreu anos mais tarde, por meio do Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005 (BRASIL, 2005), e da Lei nº12.319, de 1º de setembro de 2010 (BRASIL, 2010). Fonte: Shutterstock. De acordo com o artigo 2º da Lei nº 12.319/10, o pro�ssional tradutor e intérprete é aquele com pro�ciência em Libras e língua portuguesa para realizar a interpretação/tradução dessas línguas de maneira simultânea ou consecutiva. Importa destacar que o ato tradutório consiste na passagem de uma língua para outra envolvendo um texto escrito, enquanto a função de interpretação está relacionada ao texto oral. Segundo Quadros (2004), o pro�ssional com aptidão para realizar a tradução e interpretação da Libras para a língua portuguesa (na modalidade oral e escrita) é denominado “tradutor e intérprete de língua de sinais”, também conhecido pela sigla TILS. De acordo com a legislação, a formação de nível superior do TILS deve ser efetivada por meio do curso superior de Tradução e Interpretação, com habilitação em Libras/Língua Portuguesa (BRASIL, 2005), contudo a oferta desse curso é bastante limitada no país. Por isso, a maioria dos TILS tem a formação de nível médio indicada pelo Decreto nº 5.626/05 e pela Lei nº 12.319/10, que exige apenas cursos de educação pro�ssional, cursos de extensão universitária ou cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por secretarias de educação (BRASIL, 2005; 2010). Libras – Língua Brasileira de Sinais Tradução e interpretação de Libras Você sabia que seu material didático é interativo e multimídia? Isso signi�ca que você pode interagir com o conteúdo de diversas formas, a qualquer hora e lugar. Na versão impressa, porém, alguns conteúdos interativos �cam desabilitados. Por essa razão, �que atento: sempre que possível, opte pela versão digital. Bons estudos! A- A A+ Na ausência de pro�ssionais com a formação adequada, os documentos supracitados determinaram ainda que, até 22 de dezembro de 2015, a União promoveria o Exame Nacional de pro�ciência em tradução e interpretação de Libras/Língua Portuguesa, conhecido como Prolibras. Esse ocorreu durante 10 anos, certi�cando pro�ssionais TILS em nível médio e/ou superior para atuarem, nesse período, mesmo sem a formação exigida pela legislação. Espaços como fóruns, hospitais, delegacias e outras empresas têm buscado se adequar ao atendimento das pessoas surdas, geralmente investindo na capacitação em Libras aos seus funcionários. Em alguns municípios, têm sido implantadas centrais de intérpretes de Libras, que, quando solicitadas, enviam um pro�ssional ao local para, por exemplo, uma consulta médica ou audiência, ou, ainda, disponibilizam de forma virtual a comunicação entre o intérprete e o surdo. O intérprete educacional de Libras A maioria dos TILS atua nas instituições de ensino de educação básica à superior, espaços que precisaram contratar tais pro�ssionais para viabilizarem o direito à educação bilíngue das pessoas surdas. Segundo Quadros (2004), o pro�ssional envolvido com a tradução e/ou interpretação no espaço escolar é denominado “Intérprete Educacional” e, conforme apresentado em estudo anterior (KUMADA; PEREIRA; ALBANESE, 2015), existem diversos desa�os inerentes à sua atuação. O primeiro desa�o consiste em explicitar que a função do TILS se restringe à tradução/interpretação das línguas envolvidas e não à docência dos conteúdos ou da língua de sinais. Muitas vezes, o professor ouvinte, por não saber como lidar com o aluno surdo, ignora-o em sala de aula, ministrando os conteúdos tal como faz com os ouvintes e deixa com intérprete a responsabilidade do aprendizado desse aluno. É necessário esclarecer que o intérprete não é o docente, inclusive, pois ele nem sempre possui formação e/ou conhecimento didático para desempenhar tal função. É possível que, coincidentemente, o intérprete acumule uma formação pedagógica, mas isso não é uma exigência e, mesmo quando isso ocorrer, não isenta o professor da sua responsabilidade docente. A presença do intérprete de Libras não é su�ciente para garantir o sucesso escolar dos aprendizes surdos, haja vista que dependerá do professor da sala de aula. Nesse processo, Quadros (2004) defende que há algumas intervenções nas quais o intérprete de Libras poderá auxiliar, sobretudo, aquelas referentes à linguagem da criança, ao ato tradutório das línguas envolvidas e outras informações pertinentes que podem contribuir no ensino-aprendizagem dos alunos surdos. De acordo com a Lei nº 12.319/10, também é dever do intérprete atuar nos processos seletivos para cursos nas instituições de ensino e nos concursos públicos, ou seja, em condições de avaliação, especialmente, para dar as orientações necessárias ao aluno. Por essa razão, avaliações como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vestibulares já contam com a opção de os candidatos solicitarem dentre as condições especiais da prova, o acompanhamento de um pro�ssional tradutor e intérprete de Libras. Fonte: Shutterstock. Código de Ética do Intérprete O trabalho realizado pelos TILS é norteado pela preocupação e compromisso com a ética. Nesse sentido, Quadros (2004) divulgou o Código de Ética do Intérprete, que integra o Regimento Interno do Departamento Nacional de Intérpretes da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis) orientando a prática da interpretação e tradução da Libras. De acordo com a autora, os preceitos básicos da pro�ssão consistem em: 1. Con�abilidade (ser sigiloso com relação às mensagens transmitidas). 2. Imparcialidade (ser neutro e não se posicionar criticamente, atendo-se a transmitir a mensagem tal como foi passada). 3. Discrição (estabelecer limites no seu envolvimento durante a atuação). 4. Distância pro�ssional (separar a vida pro�ssional e pessoal). 5. Fidelidade (não alterar a informação durante a tradução, mesmo que com a intenção de ajudar). Orientações semelhantes regulam o Código de Conduta e Ética (CCE) da Federação Brasileira das Associações dos Pro�ssionais Tradutores e Intérpretes e Guia Intérpretes de Língua de Sinais (Febrapils), uma �liada da Associação Mundial de Intérpretes de Línguas de Sinais. De acordo com o Artigo 5º do CCE da Febrapils, os princípios de�nidores da conduta pro�ssional do TILS são: 1. Con�dencialidade. 2. Competência tradutória. 3. Respeito aos envolvidos na pro�ssão. 4. Compromisso pelo desenvolvimento pro�ssional. Desa�os na realização da tradução Existem inúmeros desa�os na realização da tradução que provocam pequenas alterações entre a mensagem do emissor e aquela produzida pelo TILS, mas o sentido original do enunciado deve sempre ser mantido. Kumada, Pereira e Albanese (2015) descrevem alguns desses desa�os na prática do intérprete educacional. Tradução simultânea Em virtude do pouco tempo de processamento da informação da língua fonte para a língua meta, ocorrem algumas perdas que são praticamente inevitáveis. Segundo Pires e Nobre (2004), o que é inaceitável são as situações de interpretação que deturpam totalmente o texto original, que podem ocorrer por falta de domínio na língua ou por lapsos de memória do intérprete. No entanto, como em todas as línguas,é possível que o intérprete de Libras se depare com situações de intraduzibilidade, ou seja, de conceitos que existem em uma língua, mas não na outra, ou cujo signi�cado é cultural e, portanto, não terá o mesmo efeito ao ser traduzido literalmente. Nesses contextos, o intérprete busca um conceito equivalente na outra língua ou precisa recorrer à descrição ou explicação do conceito. Tradução de diferentes disciplinas Consiste no fato do intérprete educacional precisar traduzir diferentes disciplinas com as quais ele pode não estar habituado ou não ter formação para administrar. O intérprete educacional precisa ter um amplo vocabulário nas duas línguas, isso inclui conhecimento em Ciências, Matemática, Filoso�a, Português etc. Quando intérpretes atuam em cursos de graduação, há termos especí�cos também nas áreas de formação como, por exemplo, Arquitetura, Engenharia, Enfermagem, Direito etc. Além de não ter a formação nas diferentes áreas do conhecimento com as quais esse pro�ssional lida, é preciso destacar que há ainda uma grande ausência de catalogação e divulgação de glossários em Libras para termos especí�cos de cada disciplina do saber. Nesta webaula compreendemos o papel do intérprete e tradutor de Libras no contexto educacional, estudando: o intérprete educacional de Libras, a diferença entre tradutor e intérprete de Libras e o Código de Ética do Intérprete.
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