Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Série Temas em Educação Escolar n.18 – 2013 PESQUISA, ENSINO E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA: OLHARES E POSSIBILIDADES Faculdade de Ciências e Letras, UNESP – Univ Estadual Paulista, Campus Araraquara Reitor: Julio Cezar Durigan Vice: Marilza Vieira Cunha Rudge Diretor: Arnaldo Cortina Vice: Cláudio César de Paiva Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar Coordenador: Prof. Dr. Ricardo Ribeiro Vice-Coordenador: Prof. Dr. Newton Duarte SÉRIE TEMAS EM EDUCAÇÃO ESCOLAR Nº 18 Conselho Editorial Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar Prof. Dr. Ricardo Ribeiro Prof. Dr. Newton Duarte Profa. Dra. Lígia Márcia Martins Prof. Dr. Luiz Antônio C. Nabuco Lastória Prof. Dr. Cláudio Benedito Gomide de Souza Prof. Dr. Sebastião de Souza Lemes Profa. Dra. Luci Regina Muzzeti Prof. Dr. Denis Domeneghetti Badia Editoração eletrônica Natália de Melo Castilho Montagem da Capa Eron Pedroso Januskeivictz Arte da capa Alexandre Aparecido Fachinette Normalização Ana Cristina Jorge PESQUISA, ENSINO E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA: OLHARES E POSSIBILIDADES Dirce Charara Monteiro Renata Maria Moschen Nascente (Organizadoras) Copyright © 2013 by Laboratório Editorial da FCL Direitos de publicação reservados a: Laboratório Editorial da FCL Rod. Araraquara-Jaú, km 1 14800-901 – Araraquara – SP Tel.: (16) 3334-6275 E-mail: laboratorioeditorial@fclar.unesp.br Site: http://www.fclar.unesp.br/laboratorioeditorial Pesquisa, ensino e aprendizagem da Língua Inglesa: olhares e possibilidades / Dirce Charara Monteiro; Renata Maria Moschen Nascente (Organizadoras). – São Paulo : Cultura Acadêmica, 2013. 230 p. - (Série Temas em Educação Escolar, 18) ISBN: 978-85-7983-422-6 1. Educação Escolar. 2. Língua Inglesa. I. Monteiro, Dirce Charara. II. Nascente, Renata Maria Moschen. III. Série Temas em Educação Escolar. SUMÁRIO Apresentação Dirce Charara Monteiro e Renata Maria Moschen Nascente .................. 7 PERSPECTIVAS HISTÓRICAS SOBRE PESQUISA, ENSINO E APRENDIZAGEM O ensino das línguas estrangeiras no Brasil: uma perspectiva histórico-metodológica Rosângela Sanches da Silveira Gileno ................................................... 13 Tendências de pesquisa em ensino-aprendizagem de inglês como língua estrangeira no Brasil: 2005-2010 Dirce Charara Monteiro ......................................................................... 45 Estágio supervisionado na sala de aula de língua inglesa: práticas e experiências Lusinilda Carla Pinto Martins ................................................................ 63 FORMAÇÃO DE PROFESSORES Promovendo formação refl exiva para professores de inglês por meio do uso de instrumentos e procedimentos de pesquisa sobre crenças Valdicea Moreira ..................................................................................... 97 Caminhos para o ensino criativo: desafi os para a educação e a formação de professores de língua inglesa do novo milênio Denise Maria Margonari ....................................................................... 111 ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA Estilos de aprendizagem e canais de percepção: contribuições para um ensino de língua estrangeira mais inclusivo Renata Maria Moschen Nascente ......................................................... 153 A música como recurso didático-pedagógico na aula de língua inglesa na rede pública Cláudia Jotto Kawachi Furlan ............................................................. 179 Contribuições para a compreensão da nova proposta curricular para língua inglesa no Estado de São Paulo Elizabete Aparecida Bernardino ........................................................... 209 Organizadoras e autores ................................................................ 227 7 APRESENTAÇÃO Esta coletânea é fruto de pesquisas sobre ensino-aprendizagem de Inglês como Língua Estrangeira (LE) produzidas no Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras, UNESP, Araraquara, São Paulo. Os capítulos constantes desta publicação abordam questões importantes para os professores e pesquisadores da área e podem trazer contribuições para um melhor entendimento de alguns dos aspectos relacionados ao ensino-aprendizagem da Língua Inglesa em nosso contexto. Desse modo, os capítulos foram agrupados, de acor- do com suas temáticas, em três seções: perspectivas históricas sobre pesquisa, ensino e aprendizagem; formação de professores e ensino e aprendizagem de Língua Inglesa (LI). Os dois capítulos que compõem a primeira parte da coletânea abordam questões mais amplas voltadas para a história do ensino e aprendizagem de LE e as tendências atuais de pesquisa nessa área. Em O ensino das línguas estrangeiras (LE) no Brasil: uma perspectiva histórico-metodológica, Rosângela Sanches da Silveira Gileno tem por objetivo contextualizar histórica e metodologicamente o ensino das LE no Brasil, focalizando algumas mudanças importantes ocorridas nesse ensino, mais especifi camente no ensino da LI nos níveis fundamental e médio, referentes às legislações, aos currículos escolares e às metodologias de ensino. Consideramos que essa 8 Apresentação contextualização possa facilitar a compreensão da trajetória do ensino desse componente curricular nas escolas de ensino regular, principalmente nas escolas públicas, em contexto nacional. O capítulo Tendências de pesquisa em ensino-aprendizagem de inglês como língua estrangeira no Brasil: 2005-2010, de autoria de Dirce Charara Monteiro, oferece um pano de fundo, apontando os principais temas de pesquisa na área de ensino-aprendizagem de inglês como LE nos principais centros de pós-graduação nessa área, no Brasil, no período 2005-2010. A metodologia utilizada na coleta de dados incluiu o levantamento de teses e dissertações defendidas no período mencionado nas principais universidades do país e que constam dos sites dos programas de pós-graduação que possuem áre- as ou linhas de pesquisa em Linguística Aplicada. Este levantamen- to permitiu apontar, não apenas as categorias mais produtivas no período investigado, bem como prever algumas tendências na área. A segunda parte da coletânea é composta de três capítulos volta- dos para a formação do professor de Língua Inglesa. O texto Estágio supervisionado na sala de aula de língua inglesa: práticas e experiências, de Lusinilda Carla Pinto Martins, tem como objetivo discutir o papel do estágio supervisionado na formação do professor de LI, problematizando os sentidos atribuídos e os saberes produzidos por esses professores durante sua formação inicial. Este estudo concentra-se em dados provenientes dos relatórios dos esta- giários, dos projetos pedagógicos do curso de Letras da Universidade Federal de Rodonia – UNIR, das matrizes curriculares e das leis que regulamentam os estágios. A análise dos dados revelou que a dimen- são social e heterogênea da prática desenvolvida no estágio permite aos professores em formação a construção de um conhecimento profi ssional e pessoal necessários ao exercício da docência. No capítulo Promovendo formação refl exiva para professores de inglês por meio do uso de instrumentos e procedimentos de pesquisa sobre crenças, Valdicea Moreira apresenta um trabalho cujo objetivo foi proporcionar aos professores de uma escola de LI no interior de São Paulo a oportunidade de refl etir e discutir sobre suas crenças, ati- tudes, e ações na prática. Nesta pesquisa qualitativo-interpretativista, 9 Dirce Charara Monteiro e Renata Maria Moschen Nascente de natureza etnográfi ca, a autora investiga alguns instrumentos e procedimentos de pesquisa sobre crenças e como esses poderiam contribuir no processo de formação refl exiva desses professores. O referencial teórico foi constituído de estudos sobre o pensamento do professor, crenças de professores e metodologia na investigação de crenças. O texto Caminhos para o ensino criativo:desafi os para a educação e a formação de professores de língua inglesa do novo milênio (LE), de Denise Maria Margonari, tem por objetivo explicitar a importância da criatividade no processo de formação de professores de modo geral, e, em particular, de professores de inglês como LE, oferecen- do um panorama sobre suas defi nições, o estudo da trajetória de suas concepções ao longo da história, demonstrando que, em cada abordagem teórica, a criatividade é enfocada a partir de um prisma diferente. A autora fi naliza o capítulo oferecendo exemplos de ati- vidades de ensino de LI que se baseiam em procedimentos criativos de ensino. A terceira parte da coletânea contém um conjunto de textos que podem contribuir para o ensino e aprendizagem de LI. Em Estilos de aprendizagem e canais de percepção: contribuições para um ensino de língua estrangeira mais inclusivo, Renata Maria Moschen Nascente apresenta uma síntese de estudos relativos a estilos de aprendizagem e canais de percepção relacionando-os ao campo específi co do ensino e aprendizagem de LE. Por meio das discussões e refl exões explicitadas, a autora acredita que seja possível contribuir para a ampliação e aprofundamento do conhecimento docente tanto sobre o papel dos estilos de aprendizagem e dos canais de percepção em diversos campos da educação escolar, como especi- fi camente sobre alguns dos possíveis caminhos pelos quais é possível aprender e ensinar uma LE, propiciando adequações pedagógicas que possibilitem incluir o maior número de pessoas possível nesses processos. Mais voltado para a questão da busca de recursos motivadores para os alunos do Ensino Fundamental e Médio, o texto A música como recurso didático-pedagógico na aula de língua inglesa na rede 10 Apresentação pública, de Cláudia Jotto Kawachi Furlan, apresenta os resultados de uma pesquisa sobre as potencialidades da música como recurso didático-pedagógico na aula de LI buscando investigar se e como atividades musicais podem contribuir para o envolvimento dos alu- nos com atividades na língua-alvo, infl uenciando positivamente na motivação desses estudantes. O texto fi nal de Elizabete Aparecida Bernardino, Contribuições para a compreensão da nova proposta curricular para língua inglesa no Estado de São Paulo analisa o novo currículo de Língua Estrangeira Moderna (LEM) – Inglês, implementado em 2008, no estado de São Paulo, focalizando mais especifi camente a necessidade de sua proposição, seus fundamentos e as atividades propostas, apontando algumas possibilidades e difi culdades na sua implementação. Não basta que pesquisas sejam realizadas nos programas de Pós- Graduação. É preciso que sejam divulgadas para que possam, de alguma forma, trazer novos olhares sobre temas relevantes da área de ensino-aprendizagem de Inglês como LE, auxiliando na formação e atuação dos profi ssionais da área. Este foi nosso objetivo com esta coletânea. Esperamos tê-lo atingido. Boa leitura! Dirce Charara Monteiro Renata Maria Moschen Nascente PERSPECTIVAS HISTÓRICAS SOBRE PESQUISA, ENSINO E APRENDIZAGEM 13 O ENSINO DAS LÍNGUAS ESTRANGEIRAS NO BRASIL: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICO- METODOLÓGICA Rosângela Sanches da Silveira GILENO Introdução O presente capítulo tem por objetivo contextualizar historica- mente o ensino das línguas estrangeiras (LE) no Brasil. A base para essa contextualização foi Silveira (2002), complementada por outras informações decorrentes de alterações surgidas após 2002. Nesse sen- tido, aponta-se a necessidade de focalizar algumas mudanças impor- tantes ocorridas no ensino de LE nos níveis fundamental e médio, referentes às legislações, aos currículos escolares e aos métodos de ensino, de modo que essa contextualização possa facilitar a com- preensão da trajetória do ensino desse componente curricular nas escolas de ensino regular, em contexto nacional, principalmente nas escolas públicas, focalizando a importância atribuída ao estudo de LE, mais especifi camente da língua inglesa, em diversos momentos da educação brasileira. Ademais, esse resgate histórico, mostrando os “movimentos de centralização e descentralização”, “ascensão e 14 O ensino das línguas estrangeiras no Brasil: uma perspectiva histórico-metodológica declínio da língua estrangeira” (LEFFA, 1999), pode elucidar alguns aspectos do panorama atual do ensino da LE no Brasil. O ensino das línguas no período colonial Tendo em vista que tanto a língua portuguesa quanto o latim eram línguas estrangeiras para os índios que aqui habitavam no início da colonização, pode-se dizer que os padres jesuítas, com a tarefa de catequizar os referidos índios, foram os pioneiros no ensi- no das línguas (HOLANDA, 1978). Nessa perspectiva, os jesuítas, e especialmente, o padre José de Anchieta, não só aprenderam a falar o tupi, como fi zeram “[...] cantar e rezar nessa língua os anjos e santos do catolicismo medieval nos autosque encenavam com os curumins” (BOSI, 1995, p.31)e ainda compuseram gramáticas1 daquela que foi denominada a língua geral, “a língua mais usada na costa atlântica”. Nesse panorama, as gramáticas do tupi produzidas pelos jesu- ítas “[...] foram um genuíno esforço de invenção de uma língua padrão que fi zesse referência aos dialetos falados”por toda a referida costa (EISENBERG, 2000, p.71). Este esforço, no entanto, levou a uma“latinização da língua nativa”, à medida que o tupi – língua exclusivamente falada, sem tradição escrita – passa a ser grafado no alfabeto latino e a seguir a estrutura das línguas neolatinas. Assim, a partir da gramaticalização da língua tupi, verifi ca-se o surgimento de uma língua padrão que se transforma no principal instrumento de comunicação entre as duas culturas. Além desse fato, a dicionari- zação e a gramaticalização das línguas indígenas tornaram possível a produção escrita de uma variedade de textos catequéticos na língua geral: o catecismo romano (incluindo a doutrina cristã), as cartilhas, as orações, os sermões, os cantos, autos e poemas religiosos2. 1 O padre José de Anchieta compôs à mão, em apenas seis meses, a Arte de grammatica da lingua mais usada na costa do Brasil em 1554, sendo esta gramática editada em 1595 (DAHER, 1998). 2 Sobre o assunto, consultar Daher (1998). 15 Rosângela Sanches da Silveira Gileno No plano pedagógico, a obra dos jesuítas alcançaria dimensões ainda maiores com a fundação dos seminários e colégios. Nos colé- gios jesuítas, no que correspondia ao ensino secundário, havia classes de: Retórica, Humanidades e Gramática. Segundo Franca (1952), nas Humanidades, o Latim e o Grego eram as disciplinas domi- nantes; as outras disciplinas, tais como o vernáculo, a História e a Geografi a, eram ensinadas concomitantemente na leitura, versão e comentários dos autores clássicos. O monopólio exercido pelos jesuítas na educação brasileira foi atacado quando o ministro de Portugal, o Marquês de Pombal, com o propósito de reformar o ensino das humanidades, em 1758, proi- biu o ensino e o uso do tupi e instituiu o português como única língua do Brasil. E com a fi nalidade de enfraquecer ainda mais o poder da Igreja Católica sobre a colônia, expulsou os jesuítas em 1759. Desse modo, houve o desmantelamento de um sistema educa- cional organizado, graduado, e que foi reduzido ao sistema das “aulas régias” e avulsas de Gramática Latina, Grego e Retórica. De acordo com Chagas (1984), cada aula régia representava uma unidade de ensino, com professor único nomeado por indicação ou sob concordância de bispos e que se tornava “proprietário vitalício” de suas aulas régias. Instalada para determinada disciplina, a aula régia era autônoma e isolada, pois não se articulava com outras, nem pertencia a qualquer escola. Também não havia currículo, no sentido de um conjunto de estudos ordenados e hierarquizados e o aluno poderia se matricular em tantas aulas quantas fossem as disci- plinas que desejasse. Para agravar essa situação, os professoreseram geralmente mal preparados para a função, já que eram improvisados e mal remunerados. O ensino das línguas clássicas e modernas no período imperial Mesmo com a vinda da família real em 1808, a situação do ensi- no primário e secundário pouco mudou no Brasil, tendo em vis- ta que as medidas de D. João VI, no que se referiram à instrução 16 O ensino das línguas estrangeiras no Brasil: uma perspectiva histórico-metodológica pública, limitaram-se à criação de escolas superiores (NEEDELL, 1993). No tocante ao estudo das “línguas vivas”3, em 1809, foram nomeados, por carta régia, para lecionar no Rio de Janeiro, um professor de inglês e um professor de língua francesa. A cadeira de língua inglesa foi criada em consequência da “difusão e riqueza de assuntos escritos nessa língua”, e a de língua francesa, “por ser a língua mais difundida e, por assim dizer, universal”(ALMEIDA, 2000, p.42). É fato que as duas línguas passaram a ter prestígio na Europa depois da Independência dos Estados Unidos (1776) e da Revolução Francesa (1789), o que de certo modo colaborou para a ofi cialização de ambas na corte imperial. Quanto ao inglês, cabe ressaltar que, com a abertura dos portos para o comércio estrangeiro em 1808, esse idioma passou a ter expressiva fi nalidade prática durante os anos correspondentes ao reinado de D. João VI no Brasil (1808-1821). Nesse sentido, o ensino de inglês, restringindo-se aos seus objetivos mais imediatos – instrumento de comunicação nas relações comerciais da nação portuguesa com a inglesa, justifi cadas, principalmente, pelo aumento do tráfi co – não teve o mesmo prestígio que o francês já que aquele não era exigido para o ingresso nas academias, configurando-se apenas como “disciplina complementar aos estudos primários”, ou de “primeiras letras”4. A língua inglesa só passou a fazer parte do currículo obrigatório das escolas com a inauguração, em 1837, do Colégio Pedro II, pri- meira instituição de “ensino secundário” criada na corte e mantida pelo governo para servir de modelo às demais. No entanto, embora fosse introduzido o estudo das línguas vivas nos currículos escolares, o latim ainda era considerado “indispensável para o estudo do por- tuguês” e “igualmente para o estudo do francês” (ALMEIDA, 2000, 3 O termo é utilizado em oposição às “línguas mortas” não faladas, apenas escritas como o latim. Sobre o assunto consultar Chagas (1984). 4 Essas revelações podem ser constatadas no prefácio do Compêndio da gramática inglesa e portuguesa para uso da mocidade adiantada nas primeiras letras, escrito por Manuel José de Freitas e publicado pela Imprensa Régia em 1820. Trata-se da primeira obra do gênero escrita e publicada em território nacional, sendo desenvolvida dentro da perspectiva teórico-metodológica da aprendizagem comparativa das gramáticas das línguas. Sobre o assunto, consultar: Lajolo e Zilberman (1996). 17 Rosângela Sanches da Silveira Gileno p.103). Não só o latim, mas também o grego – as chamadas “línguas clássicas” - foram por muito tempo as mais prestigiadas nos vários currículos do Colégio Pedro II, e em segundo lugar, fi guravam as línguas modernas (francês e inglês). Dentre as reformas curriculares, destacam-se a de 1841 – que introduz o estudo do alemão como língua obrigatória, ao lado do francês e do inglês, e a de 1855, a Reforma Couto Ferraz, que aumentou o número de anos de estudos das línguas modernas que, pela primeira vez, ganharam destaque nos currículos escolares, à semelhança das línguas clássicas. Em 1857, os estudos das línguas modernas, compreendendo os estudos de fran- cês (três anos), inglês (quatro anos) e alemão (dois anos) e o estudo facultativo de italiano (um ano), perfaziam um total de nove anos o que equivalia aos estudos obrigatórios das línguas clássicas: sete anos de latim e dois anos de grego (CHAGAS, 1967). Nesse sentido, até o fi m do regime imperial, o equilíbrio entre o estudo das línguas clássicas e modernas permaneceu estável, no entanto, reduziu-se, gradualmente, o número de anos de estudo das mesmas. Em 1881, passou-se a estudar quatro anos de latim, dois anos de grego, dois de inglês, dois de francês, dois de alemão e um ano facultativo de italiano, com uma média de 3 horas semanais tanto para as línguas clássicas como para as línguas modernas (CHAGAS, 1967). Com relação à orientação didática para o ensino das línguas modernas, observou-se a falta de uma específica, já que as cha- madas “línguas vivas” eram estudadas à semelhança das “línguas mortas”5, ou seja, por meio de traduções de textos e da análise gra- matical (LEFFA, 1999). Este método, que vigorou exclusivo até o início do século XX, era conhecido como o “método da gramática- -tradução”(grammar-translation method), e tinha como objetivo transmitir um conhecimento sobre a língua, permitindo o acesso a textos literários e ao domínio da gramática normativa. Para o estu- do da literatura, propunha-se a tradução e a versão como base de compreensão da língua em estudo. O dicionário e o livro de gra- mática eram, portanto, os materiais de ensino. A aprendizagem da 5 É a concepção de ensino do latim, língua morta, considerada como disciplina mental, necessária à formação do espírito que vai servir de modelo ao ensino das línguas vivas (GERMAIN, 1993). 18 O ensino das línguas estrangeiras no Brasil: uma perspectiva histórico-metodológica língua estrangeira era vista como uma atividade intelectual em que o aluno deveria memorizar as regras e os exemplos com o propósito de dominar a morfologia e a sintaxe. Para isso, recebia e elaborava listas exaustivas de vocabulário, exercícios de aplicação das regras de gramática, ditados, tradução e versão. Em contrapartida, o professor detinha o controle da aprendizagem, não sendo permitido o erro. Assim, pouca iniciativa era atribuída ao aluno de modo que a inte- ração professor/aluno era praticamente inexistente. De acordo com Richards e Rodgers (1986), a crítica feita é que a aprendizagem da língua estrangeira poderia signifi car, para os alu- nos, uma experiência maçante de memorização de listas sem fi m de regras gramaticais e vocabulário sem utilidade e de produção de traduções perfeitas da literatura. A insatisfação com o método da gramática-tradução levou muitos educadores a reconhecerem a necessidade de se privilegiar a profi ciência oral nos programas de ensino de língua estrangeira. Segundo Almeida Filho (1998), no Brasil, somente após 1931, com a Reforma Francisco de Campos, houve um esforço ofi cial para se introduzir um método alternativo que enfatizasse a autoexpressão oral. O ensino de língua estrangeira com a Reforma Francisco de Campos (1931) De 1890 a 1930, continuou-se a verifi car o gradual declínio das línguas estrangeiras nos currículos escolares: o total de horas foi reduzido pela metade, o ensino de grego foi extinto, o de italiano quase não era oferecido e o de inglês e alemão eram exclusivos, isto é, o aluno poderia estudar um ou outro idioma. De acordo com Chagas (1967, p.109), além desses fatos, “o anacronismo dos méto- dos aliado à quase certeza das aprovações gratuitas” – já que tanto os liceus quanto os colégios particulares transformaram-se “[...] em meros cursinhos preparatórios para os exames de admissão ao ensi- no superior” – contribuíram para “[...] o descrédito do estudo de idiomas e da escola secundária de um modo geral” no período que antecedeu a Reforma de 1931. 19 Rosângela Sanches da Silveira Gileno Com a Reforma Francisco de Campos, as línguas estrangeiras modernas passaram a ser mais privilegiadas do que as línguas clás- sicas pela redução nos anos de estudo de latim. De acordo com Romanelli (1978), o estudo das línguas estrangeiras, durante os cinco anos obrigatórios do ciclo fundamental6, fi cou assim distri- buído: francês (quatro séries), inglês (três séries), latim (duas séries) e alemão (facultativo). No ciclo complementar, os alunos poderiam estudar mais duas sériesde latim ou inglês. No que se refere à orientação didática para o ensino das lín- guas modernas, foi adotado, pela primeira vez, um método ofi cial, o “método direto indutivo”que era, em essência, “o ensino da língua estrangeira diretamente na língua estrangeira”. Surgindo como uma reação ao método da gramática-tradução, o método direto (direct method) recebe esta denominação ao postular que a LE deve ser ensi- nada sem tradução ou o uso da língua nativa do aprendiz. Embora se trabalhe desde o início com as quatro habilidades (ler, escrever, falar e ouvir), o objetivo principal é que os alunos aprendam a falar na língua-alvo e para que isso ocorra o aluno é encorajado a pensar na língua estrangeira. Dessa forma, os alunos devem, a princípio, ouvir a língua para depois vê-la na forma escrita. Na fase inicial do curso, espera-se que o professor utilize objetos que envolvam o aluno na sala de aula para, posteriormente, por meio de gravuras, desenhos, ir ampliando o vocabulário inicialmente adquirido. As habilidades comunicativas orais são ensinadas progressivamente por meio de perguntas e respostas. Especialmente na fase inicial, grande cuidado é conferido ao ensino da pronúncia correta. Em uma etapa seguin- te do curso, enfatiza-se a leitura extensiva. A gramática é ensinada indutivamente de modo que o aluno tenha que descobrir as regras depois ter se familiarizado com diversos exemplos. Quanto ao papel do professor, continua central e ativo; por outro lado, o papel do aluno é menos passivo do que no método da gramática-tradução. O sistema de avaliação está baseado no uso das habilidades orais e 6 Com a Reforma de 1931, extinguiram-se os “preparatórios” e institui-se, em seu lugar, o sistema obrigatório de “regime seriado”. A frequência tornou-se obrigatória e a duração do curso secundário, que era de seis anos desde 1900, voltou a ser de sete anos – cinco anos para o “ciclo fundamental” e dois para o “complementar”.(ROMANELLI, 1978). 20 O ensino das línguas estrangeiras no Brasil: uma perspectiva histórico-metodológica escritas e, sempre que possível, o professor tenta fazer com que o aluno se autocorrija. A crítica a esse método é que os exercícios ditos de conversação eram baseados em perguntas/respostas, perguntas essas fechadas, em que se fazia uma preparação oral dos exercícios que deveriam seguir um modelo, anteriormente proposto. Ademais, a comunicação era organizada por perguntas e respostas artifi ciais e descontextualizadas entre professores e alunos na língua-alvo. Na Europa, os linguistas reconheceram as limitações do método direto, ao verifi carem que, embora oferecesse inovações com relação aos procedimentos de ensi- no, carecia de uma base metodológica mais desenvolvida. No Brasil, segundo Leff a (1988, p.217), “[...] em que pese seu prestígio e apoio ofi cial”, o método direto teve sempre difi culdade de ser implantado ao sistema educacional em âmbito nacional7 devido, principalmente, à falta de “pré-requisitos linguísticos” (fl uência oral e boa pronúncia na língua-alvo) dos professores e à carência de formação pedagógica para uma metodologia tão avançada para a época. Assim, na prática, os professores acabavam “sistematicamente regredindo” a uma versão da gramática-tradução. A Reforma Capanema: os “anos dourados das línguas estrangeiras modernas” Com a reforma de 1942, não só o estudo do latim e do grego, mas também o estudo das línguas estrangeiras modernas foi privile- giado. Segundo Leff a (1999, p.19), “[...] vistas de uma perspectiva histórica, as décadas de 40 e 50 foram os anos dourados das línguas estrangeiras no Brasil” já que o latim estava previsto para todas as séries do ciclo ginasial8 e para as três séries do curso clássico e o gre- go, extinto desde 1915, voltou a aparecer nos currículos escolares. 7 O método direto foi introduzido no Brasil em 1932, no Colégio Pedro II, pelo professor Carneiro Leão, por meio de uma reforma radical: turmas de 15 a 20 alunos; seleção rigorosa de professores; escolha de material adequado; etc. (LEFFA, 1988, 1999). 8 Em 1942, o Ministro Gustavo Capanema decretou que o ensino secundário passou a ser reestruturado da seguinte forma: um primeiro ciclo denominado “ginásio” (quatro anos) e um segundo ciclo ou “colégio” (três anos). Confi ra Romanelli (1978). 21 Rosângela Sanches da Silveira Gileno No entanto, de acordo com Chagas (1967), na prática, as línguas modernas foram mais estudadas do que as línguas clássicas uma vez que o grego não chegou a ser ensinado, pois, dado seu caráter optati- vo, era preterido por uma língua moderna. Por outro lado, o ensino do francês e do inglês foi incentivado desde o ginásio até os cursos clássico e científi co. A novidade foi a introdução do ensino da língua espanhola nas duas modalidades do colegial. Segundo Capanema (1974, p.257), a justifi cativa para a inclusão do espanhol seria “[...] por ser uma língua de antiga e vigorosa cultura e de grande riqueza bibliográfi ca”, cuja adoção, por outro lado, seria “[...] um passo a mais que damos para a nossa maior e mais íntima vinculação espi- ritual com as nações irmãs do continente”. Para o ensino das línguas estrangeiras, recomendava-se o uso do método direto, com ênfase prática, levando em consideração não só objetivos instrumentais “compreender, falar, ler e escrever”, como também objetivos educativos “formação da mentalidade, observação e refl exão” e culturais “conhecimentos da civilização estrangeira”. Os procedimentos que deveriam ser utilizados para atingir esses obje- tivos foram também detalhados até o nível da aplicação pedagógica na sala de aula, a saber: a escolha do vocabulário deveria “obedecer a critérios de frequência” em contexto frasal; a leitura deveria iniciar- -se por manuais “de preferência ilustrados” dentro e fora da sala de aula, depois em “trechos mais longos, com o fi to de compreensão do sentido geral”, e afi nal em “livros de histórias fáceis” que pre- parassem para a leitura de obras literárias completas; os exercícios deveriam variar desde a cópia, o ditado e os jogos de vocabulário até as composições orais e escritas, a conversação, as reproduções de trechos literários, as cartas e as descrições e narrações; e como “meios auxiliares” eram aconselhados o uso de recursos audiovisuais (LEFFA, 1999, p.18). De um modo geral, Chagas (1967) considera a Reforma Capanema positiva no sentido em que instituiu ou recomendou o que havia de mais avançado na época para o ensino de língua estrangeira no secundário. Mas, durante os vinte anos de sua vigência, o que de fato foi realizado nas escolas esteve muito longe 22 O ensino das línguas estrangeiras no Brasil: uma perspectiva histórico-metodológica do planejado. Na prática, “[...] venceram ainda uma vez a rotina e a improvisação, expressas no sonolento leia-e-traduza” (CHAGAS, 1967, p.119, grifo do autor). Assim, no “caminho entre o Ministério e a escola”, o método direto foi substituído por uma versão simplifi cada do método de leitura9, usado nos Estados Unidos. O ensino das línguas estrangeiras nas Leis de Diretrizes e Bases de 1961 e 1971 Em 20 de dezembro de 1961, foi promulgada a Lei nº 4024, regulamentando as diretrizes e bases da educação nacional (BRASIL, 1961). No que diz respeito ao ensino secundário, foi mantida a estrutura anterior que o dividia em dois ciclos: o ginasial de quatro anos e o colegial de três anos. Contudo, iniciou-se o processo de descentralização na divisão de responsabilidades para a elaboração do currículo. Com relação às línguas estrangeiras clássicas e modernas, sob a responsabilidade dos Conselhos Estaduais de Educação (CEE), elas passaram a ser consideradas “disciplinas complementares” ou “optativas”. De fato, a não obrigatoriedade do estudo das línguas estran- geiras no ensino secundário levou à redução do seu estudo. Como prova disso, temos que o latim, com raras exceções, foi retirado do currículo, o francês, quando não retirado,teve sua carga semanal diminuída, e o inglês, de modo geral, permaneceu sem grandes alterações. Dessa forma, o início da década de 60, ao mesmo tem- po em que inaugura a supremacia do inglês como língua estrangei- ra marca também o fi m “dos anos dourados do estudo das línguas estrangeiras” em matéria de extensão e variedade, pois, conforme Leff a (1999, p.20), a LDB de 61 “[...] reduziu o ensino das lín- guas estrangeiras a menos de 2/3 do que representava durante a Reforma Capanema”. 9 O método da leitura, com objetivos práticos, se expandiu pelas escolas secundárias dos Estados Unidos na década de 1930, tendo permanecido até o fi m da II Guerra Mundial, uma vez que esse país não aderiu ao método direto. Sobre o assunto, consultar Leff a (1988). 23 Rosângela Sanches da Silveira Gileno Após dez anos de vigência, a Lei nº 4024 foi reformada pela Lei nº 5692/71 (BRASIL, 1971a). Embora tenha incorporado os objeti- vos gerais da lei anterior, mudanças signifi cativas ocorreram quanto à estrutura e funcionamento dos sistemas de ensino: os anos de estudo foram reduzidos de 12 para 11 anos, sendo introduzido o 1º grau com 8 anos e o 2º com 3; e a habilitação profi ssional foi enfatiza- da nos currículos escolares. Com relação às línguas estrangeiras, a redução de um ano de escolaridade e a necessidade de se introduzir a habilitação profi ssional provocaram uma redução drástica nas suas horas de ensino. A situação piorou com o Parecer nº 853/71 (BRASIL, 1971b) “recomendando”que, em Comunicação e Expressão, “a título de acréscimo”, se incluísse uma Língua Estrangeira Moderna (LEM) dentro das condições de cada estabelecimento. Como consequên- cia, muitas escolas retiraram a língua estrangeira do 1º grau e, no 2º grau, não ofereciam mais do que uma hora por semana, às vezes durante apenas um ano. Inúmeros alunos, principalmente do suple- tivo, passaram pelo 1º e 2º grau, sem nunca terem visto uma língua estrangeira (LEFFA, 1999). Dadas as controvérsias suscitadas, o Conselho Federal de Educação (CFE), em 1976, com a Resolução nº 58/76 (BRASIL, 1976), determinou que o estudo de LEM passasse então a fazer parte donúcleo-comum, com “obrigatoriedade”para o ensino do 2º grau. Desse modo, em Comunicação e Expressão, deveriam estar incluídos os estudos de Língua Portuguesa e Língua Estrangeira Moderna. Para o 1º grau, ainda fi caria a título de “reco- mendação”, preferencialmente a partir da 5ª série. Assim, a extensão da obrigatoriedade do estudo de LEM para o 1º grau só seria atingi- da com a Lei nº 9394 (BRASIL, 1996), com a regulamentação das novas diretrizes e bases para a educação nacional, em 1996. Quanto à orientação didática, as Leis de Diretrizes e Bases de 1961 e 1971 indicaram que o ensino deveria atender “à variedade de métodos de ensino e formas de atividade escolar, tendo em vista as peculiaridades da região e de grupos sociais” (BRASIL, 1961, 1971a). No entanto, de acordo com Almeida Filho (1998, p.47), nos anos 60 e 70, predominaram para o ensino de LE “[...] o estru- 24 O ensino das línguas estrangeiras no Brasil: uma perspectiva histórico-metodológica turalismo linguístico acoplado às bases psicológicas behavioristas do ensino áudio-lingual”. O “método audiolingual” ou “áudio-oral” foi desenvolvido nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial em razão da necessidade de se aprender línguas estrangeiras rapidamente por pro- pósitos militares. Nesse sentido, o exército americano desenvolveu programas que tinham por objetivo a profi ciência oral dos alunos em uma variedade de línguas estrangeiras, por meio do contato inten- sivo com a língua-alvo. Os princípios básicos desse método são: “a língua é fala e não escrita”, (com isso restabelecia-se a ênfase na língua oral) e “a língua é um conjunto de hábitos condicionados” que se adquire por meio de um processo mecânico de estímulo e resposta (LEFFA, 1988, p.223). As repostas certas dadas pelo aluno deveriam ser imediatamente reforçadas pelo professor. Isso porque o método áudio-oral teve como suporte os princípios da psicologia da aprendizagem behaviorista10 – que advogava que a aprendizagem é um comportamento observável, produto de estímulo e resposta, ou seja, de condicionamento – e as contribuições da Linguística Estrutural e dos estudos da Análise Contrastiva (análise comparativa entre duas línguas). Fundamentado em uma concepção estrutura- lista, o método áudio-lingual concebe a língua como um sistema de formas ou elementos que podem ser organizados em um número limitado de estruturas linguísticas. O termo “estrutural”, de acor- do com Richards e Rodgers (1986), é utilizado tendo em vista as seguintes características: a. os elementos em uma língua devem ser considerados como sen- do linearmente produzidos de maneira governada (estruturada) por regras; b. as amostras de linguagem poderiam ser exaustivamente descritas em qualquer nível estrutural de descrição (fonético, fonêmico, morfológico, etc.); c. os níveis linguísticos devem ser considerados como sistemas dentro de sistemas, ou seja, como sendo hierarquicamente estru- 10 Sobre o assunto, consultar Skinner (1957). 25 Rosângela Sanches da Silveira Gileno turados: sistema fonêmico leva aos sistemas dos morfemas, e estes, por sua vez, levam aos níveis mais elevados: sistemas das frases, das orações. Para o exercício da prática oral eram fornecidos modelos de diá- logos que vinham, geralmente, acompanhados de ilustrações. O uso da língua materna era evitado a todo custo tanto para explicações como para traduções. Uma variante desse método era o audiovisual, cujo material consistia de textos, slides e fi tas gravadas de forma a expor os aprendizes ao som dos falantes nativos (PAIVA, 2005). Nesse contexto, o laboratório de línguas passou a constituir um elemento de extrema importância, onde o aluno repetia oralmente as estruturas apresentadas, a fi m de serem totalmente memorizadas e automatizadas. Como o conceito de aprendizagem era baseado no condiciona- mento, considerava-se que o erro era algo a ser evitado a todo preço, pois a interiorização de estruturas sintáticas ou sonoras erradas pode- ria criar hábitos incorretos. Nesse sentido, a gramática era ensinada indutivamente por meio de uma série de exemplos ou modelos, que serviam também para o aumento do vocabulário. Como técnica, fazia-se uso dos drills (exercícios que levavam à prática de padrões de memorização e repetição), conduzidos com base nos padrões estruturais (patterns) apresentados nos diálogos. Os vários tipos de exercícios estruturais eram repetidos pelos alunos de modo que o professor atuava como um maestro, decidindo sobre as dinâmicas das repetições (PAIVA, 2005). Desse modo, o professor continuava no centro do processo do ensino-aprendizagem, dirigindo e contro- lando o comportamento linguístico dos alunos. O método audiolingual é criticado por Almeida Filho (1998, p.47) quando“[...] tudo se resume numa lista de formas gramaticais” que vão sendo exercitadas “ativamente em pequenas porções situa- cionalizadas para eventualmente um dia possibilitar alguma forma de uso autônomo pelo aluno”. Segundo Richards e Rodgers (1986), a crítica dos alunos a esse método é o excesso de exercícios de fi xação que, muitas vezes, torna a aula monótona e cansativa. Além disso, os diálogos preparados didaticamente para apresentar ou fi xar uma 26 O ensino das línguas estrangeiras no Brasil: uma perspectiva histórico-metodológica estrutura são, frequentemente, artifi ciais e não representam amostras de comunicação real. Pode-se verificar nos métodos apresentados, que, embora a maioria deles tenha como objetivo capacitar o aluno a se comuni- car usando a língua-alvo, enfatizam o desenvolvimento da compe- tência linguística. O foco está no ensino das regras gramaticais, no vocabulário e na acuidade da expressão. Nesse sentido, os métodos até aqui descritos podem ser classifi - cados como pertencentes à “macroabordagemgramatical”de ensinar língua estrangeira11. Por outro lado, a discussão sobre comunicação, atos de fala, competência comunicativa e outros conceitos da Pragmática fi zeram avançar uma visão mais semântica e mais social da língua, ou seja, mais comunicativa, com consequências para o ensino das línguas estrangeiras. A abordagem comunicativa e a Proposta Curricular de Língua Estrangeira Moderna: Inglês (1986) De acordo com Richards e Rodgers (1986), o movimento para o ensino comunicativo teve origem a partir dos trabalhos do Conselho da Europa e dos estudos de Wilkins (1972), Widdowson (1979), Brumfi t e Johnson (1979), além de vários outros linguistas aplicados britânicos. De fato, na metade da década de setenta, o ensino comunicativo já era considerado como uma abordagem entre britânicos e americanos. O princípio básico da abordagem comunicativa é a suposição de que os aprendizes devem aprender não somente a construir sentenças gramaticalmente corretas, mas desenvolver habilidades para usar a língua em situações de comunicação uma vez que tal abordagem está fundamentada 11 Segundo Almeida Filho (1997, p.25), as abordagens de ensinar língua estrangeira podem ser agrupadas em duas macroabordagens: a gramatical e a comunicativa, uma vez que nestas macroabordagens, “[...] encontram-se os múltiplos métodos que seriam mate- rializações mais ou menos estáveis desses polos fi losófi cos constituídos por concepções amalgamadas de língua, ensinar e aprender línguas”. 27 Rosângela Sanches da Silveira Gileno na concepção da língua como comunicação dentro de um contexto. Halliday (1970), introduzindo a noção de função da linguagem, preocupa-se com o contexto da situação, no qual se pode compreender para qual função serve determinada estrutura gramatical. A noção de função da linguagem apresentada por Halliday (1970) está relacionada aos atos de fala. De acordo com essa teoria (AUSTIN, 1990), o falante utiliza-se de uma grande variedade de formas para desempenhar diversas funções: comandos, pedidos, relatos, descrições, entre outras. A teoria dos atos de fala tornou-se de grande importância para os estudos da Pragmática, que estuda os princípios da linguagem em situações de uso12. Os estudos sobre as funções da linguagem contribuíram também para desenvolver o conceito de “competência comunicativa”. O conceito de competência comunicativa, que tem como foco a aquisição de conhecimentos e habilidades para o uso da língua, foi introduzido nos Estados Unidos por Hymes, em 1972, como uma reação à noção de competência linguística proposta por Chomsky (1965). A teoria de Chomsky está concentrada na competência gramatical de um falante-ouvinte de línguas ideal. Em oposição, Hymes focaliza seu modelo no falante-ouvinte real em interação, que interpreta, expressa e negocia signifi cados em vários contextos. Para Hymes (1972), a competência não é apenas o conhecimento da gramática e do vocabulário da língua, mas também o conhecimento das regras socioculturais que regem o comportamento verbal, ou seja, o conhecimento do uso da língua em situações concretas. Widdowson (1979), linguista aplicado inglês, aponta que o objetivo primordial é adquirir competência comunicativa e se concentra em alternativas para atingir essa meta, principalmente em como ensinar as quatro habilidades relacionando a forma gramatical (usage) ao uso para a comunicação (use) e associando-as às várias disciplinas do currículo escolar. Já os linguistas aplicados canadenses Canale e Swain (1980) referem-se ao conceito de competência comunicativa como o conhecimento consciente ou inconsciente que o falante possui sobre a língua e sobre outros aspectos do seu 12 Sobre o assunto, consultar Levinson (1983). 28 O ensino das línguas estrangeiras no Brasil: uma perspectiva histórico-metodológica uso comunicativo e que os aplica por meio de habilidades quando interage em situações de real comunicação. Assim, Canale e Swain (1980) propuseram um esquema teórico no qual quatro dimensões básicas relacionadas ao conhecimento e às habilidades integram o conceito de competência comunicativa: competência gramatical, competência sociolinguística, competência discursiva e competência estratégica13. Outra questão extensivamente discutida na abordagem comuni- cativa tem sido o modelo de syllabus (seleção e ordenação do conte- údo do programa) apropriado. O primeiro modelo apresentado foi o syllabus nocional proposto por Wilkins (1976), como resultado dos trabalhos do Conselho da Europa. Wilkins (1976) defende o planejamento de conteúdos de programas nocionais, levando em consideração: a competência comunicativa; os fatos comunicati- vos, sem deixar de considerar os fatos gramaticais e situacionais; o uso; o conteúdo do ponto de vista semântico; e materiais autênti- cos para relacionar o conhecimento adquirido na sala de aula com a capacidade efetiva de participar em eventos reais de linguagem. Expandindo o trabalho de Wilkins, o Conselho da Europa publica a obra Th reshold Level English (VAN EK; ALEXANDER, 1980). As especifi cações contidas nesse trabalho que, a princípio, se restrin- giam a um syllabus que visava à competência mínima comunicati- va, passaram a exercer forte infl uência na elaboração de programas comunicativos de línguas e livros didáticos na Europa. A partir do conjunto dessas especifi cações foi possível elaborar programas fun- cionais/nocionais com o objetivo de ensinar habilidades comunica- tivas por meio de funções e noções (conceitos) gerais e específi cas, além de itens lexicais e gramaticais. No Brasil, o programa funcional/ 13 A competência gramatical diz respeito ao domínio do conhecimento e das habilidades sobre o código linguístico verbal ou não-verbal. A competência sociolinguística engloba um entendimento dos contextos sociais e culturais nos quais a comunicação acontece. A competência discursiva implica saber como combinar formas gramaticais (coesão) e signifi cados (coerência) para a estruturação de um texto escrito ou falado em diferen- tes gêneros (narrativos, argumentativos, científi cos, etc.). E a competência estratégica engloba estratégias verbais e não verbais que podem entrar em ação para compensar as falhas na comunicação, devido às variáveis do desempenho ou à competência insufi ciente (CANALE, 1996). 29 Rosângela Sanches da Silveira Gileno nocional infl uenciou o aparecimento de vários livros didáticos para o ensino de línguas sob o rótulo de comunicativos ou funcionais. O uso desses materiais foi incentivado no Estado de São Paulo, a partir da elaboração da Proposta Curricular para o ensino de Língua Estrangeira Moderna: Inglês (SÃO PAULO, 1991), pela Secretaria Estadual da Educação do Estado de São Paulo e pela Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP) para o primeiro grau em versão preliminar em 1986. A Proposta Curricular para o ensino de Língua Estrangeira Moderna, redigida após vários debates, envolvendo professores14 e especialistas na área, tornou-se um documento importante para as discussões sobre as razões para se ensinar língua estrangeira nas escolas e, consequentemente, para a tentativa de recuperação do prestígio do estudo da LEM, fortemente abalado pela Resolução da Secretaria da Educação de 07/01/85 que estabeleceu a mudança de status da Língua Estrangeira de “disciplina” para “atividade”15. A partir dessa medida, verifi cou-se, nas escolas públicas estaduais paulistas, certo descrédito com relação a esse componente curricular, constatado pelo desinteresse e desmotivação por parte de alunos e de professores. Nessa perspectiva, um dos objetivos principais da Proposta Curricular foi tentar resgatar a importância da LEM na escola como “peça complementar”16 à educação formal, concorrendo, assim, para o desenvolvimento global do indivíduo, na medida em que contribui para sua formação e desenvolvimento psicológico e social, aperfei- 14 Em 1985, foi fundada a Associação dos Professoresde Língua Inglesa do Estado de São Paulo – APLIESP, uma associação voltada para os interesses dos professores de língua inglesa cuja missão é organizar, compartilhar e promover questões relacionadas ao ensino/ aprendizagem de língua inglesa de forma política e acadêmica em todo o estado de São Paulo. 15 O aluno só poderia ser reprovado neste componente por falta de assiduidade. Sendo assim, a avaliação do aproveitamento dos alunos é feita apenas para fi ns de acompanha- mento e planejamento. 16 A proposta curricular cita as palavras da Profa Maria Antonieta A. Celani em palestra realizada na CENP em 24/04/85: “[...] a língua estrangeira na escola é, portanto, uma peça complementar à educação formal. Ela complementa. Ela não é uma peça suple- mentar que eu possa tirar a qualquer hora. E nem limítrofe, algo inferior, escondido no cantinho” (SÃO PAULO, 1991, p.14, grifo do autor). 30 O ensino das línguas estrangeiras no Brasil: uma perspectiva histórico-metodológica çoando as habilidades de compreensão e produção, por meio de estratégias cognitivas; benefi cia o estudo da língua materna, levando à conscientização de que há semelhanças e contrastes entre ambas; além de contribuir para o desenvolvimento cultural do indivíduo por meio da ampliação de seu conhecimento de mundo e do con- traste entre o conhecido e o novo e para a formação educacional do aluno, oferecendo situações concretas de aprendizagem que o ajudam a aprender a estudar. Neste sentido, a LEM deve ser vista como um componente curricular que tem a mesma importância das outras disciplinas dentro do currículo (SILVA, 1992). Como orientação didática, a Proposta Curricular para o ensino de Língua Estrangeira Moderna (SÃO PAULO, 1991) coloca como enfoque a comunicação, a interação, sugerindo que o trabalho do professor de LEM esteja inserido dentro da abordagem comunicativa para o ensino de línguas. A proposta sugere aos professores a adoção de um programa baseado nos usos ou funções da linguagem. Ao lado das funções, são sugeridas estruturas gramaticais com as quais o professor possa trabalhar para ensinar as funções. As estruturas gramaticais mais simples são privilegiadas nos níveis iniciais, sendo que o professor poderá retomar cada função com uma estrutura gramatical mais complexa nos níveis mais adiantados. Esta retoma- da mostrará ao aluno que há várias maneiras de expressar a mesma função, o que amplia sua capacidade de se comunicar. O programa funcional/nocional, embora amplamente utilizado, tem sido alvo de muitas críticas. Morrow (1981) afi rma que a mera adoção de um programa nocional, ou mais especifi camente funcio- nal, não garante que vamos ensinar nossos alunos a se comunicarem, pois a comunicação depende crucialmente da habilidade do uso apropriado das formas. Ademais, a crítica feita aos livros didáticos funcionais da primeira geração é que eles têm concentrado excessiva atenção em estabelecer formas e não em praticar comunicação. Em que pese as críticas ao programa funcional/nocional, con- vém aqui reiterar a importância da Proposta Curricular da CENP uma vez que tal documento, embora se restringisse a uma iniciativa estadual, foi o pioneiro na reformulação curricular que acompa- 31 Rosângela Sanches da Silveira Gileno nhou o processo de redemocratização do país entre 1980 e 1990, de modo que muito do que foi discutido e produzido naquele momento no estado de São Paulo infl uenciou as orientações cur- riculares de outros estados e até mesmo os Parâmetros Curriculares Nacionais. As línguas estrangeiras na atual LDB e nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) De acordo com a atual Lei de Diretrizes e Bases, aprovada em 20 de dezembro de 1996, o ensino de 1º e 2º graus passa a ser denomi- nado “ensino fundamental” e “médio”, os quais, ao lado da educação infantil, passam a constituir a “educação básica”. Quanto à orga- nização curricular para o ensino fundamental e médio, as línguas estrangeiras se encontram, especifi camente, na parte diversifi cada do currículo, de modo que deve ser incluído, obrigatoriamente, a partir da 5ª série, “[...] o ensino de pelo menos uma língua estran- geira moderna, cuja escolha fi cará a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição” e, no ensino médio, além da inclusão obrigatória de uma língua estrangeira moderna poderá ser incluída uma segunda, “[...] em caráter optativo, dentro das dis- ponibilidades da instituição” (BRASIL, 1996, p.15). A ideia de um único método certo é fi nalmente abandonada, já que o ensino será ministrado com base no princípio do “pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas” (Art.3º, Inciso III), dentro de uma grande fl exibilidade curricular. Por outro lado, a Lei 9394/96, no seu artigo 9º, reconhece como obrigação da União, ou seja, do Ministério da Educação, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios estabelecer “competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio as quais nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a asse- gurar formação básica comum” (BRASIL, 1996, p.4). Desse modo, o Ministério da Educação e do Desporto passa a assumir a condu- ção do currículo escolar, estabelecendo os Parâmetros Curriculares Nacionais. 32 O ensino das línguas estrangeiras no Brasil: uma perspectiva histórico-metodológica Os PCN, confi gurando-se como uma proposta aberta e fl exível, uma vez que o termo parâmetro pressupõe a “construção de referên- cias” diante das diversidades, e baseados no princípio da transver- salidade, destacam o contexto maior em que deve estar inserido o ensino de LE e incorporam questões como: a relação entre a escola e a juventude, a diversidade cultural, os movimentos sociais, educação ambiental, educação para a segurança, orientação sexual, educação para o trabalho, tecnologia da comunicação, entre outras. Nos PCN, o papel educacional da língua estrangeira (LE) é enfa- tizado, considerando que sua aprendizagem vai muito além da aqui- sição de um conjunto de habilidades linguísticas. Em linhas gerais, a aprendizagem de uma LE levaria a uma nova percepção da natureza da linguagem, aumentaria a compreensão de como a linguagem funciona e desenvolveria maior consciência do funcionamento da própria língua materna. Ao mesmo tempo, ao promover uma apre- ciação dos costumes e valores de outras culturas, contribuiria para desenvolver a percepção do aluno da própria cultura por meio do contraste com as culturas estrangeiras. Essa “compreensão intercul- tural” promoveria, ainda, a aceitação das diferenças“nas maneiras de expressão e de comportamento”, e, por conseguinte, aumentaria “a autopercepção do aluno” como ser humano e como cidadão. Sendo assim, os PCN procuram resgatar a aprendizagem de LE como parte integrante da educação formal (BRASIL, 1998). Para o nível fundamental, a orientação dos PCN de LE é feita para o terceiro e quarto ciclos, período que corresponde para a maioria dos alunos aos primeiros contatos com a aprendizagem de LE de manei- ra formal e sistematizada. Embora os PCN não proponham uma metodologia específi ca para o ensino de línguas estrangeiras, sugerem uma abordagem sociointeracional17, na qual a linguagem é concebida como “prática social” por meio da qual as pessoas agem no mundo, 17 No enfoque sociointeracional, aprender é uma forma de estar no mundo social com alguém, em um contexto histórico, cultural e institucional. O processo de aprendizagem, mediado pela interação, vai levar à construção de um conhecimento conjunto entre o aluno e o professor ou um colega. E para que isso ocorra, o processo envolverá difi culda- des e sucessos na compreensão, negociação das perspectivas diferentes dos participantes e o controle da interação por parte deles até que o conhecimento seja compartilhado. 33 Rosângela Sanches da Silveira Gileno considerando-se as condições não só de produção como também de interpretação. Quanto àshabilidades, ênfase é dada no desenvolvimen- to da leitura, uma vez que a leitura não apenas atende às necessidades da educação formal, mas também é a habilidade que o aluno mais terá chance de usar em seu contexto social imediato. Outro objetivo para o Ensino Fundamental é que o aluno possa, por meio da LE, construir conhecimento sistêmico, sobre a organização textual e sobre como e quando utilizar a linguagem nas situações de comunicação, tendo como base os conhecimentos da língua materna (LM). Para o nível médio, no ano de 2000, foram lançados os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Neste documento, as Línguas Estrangeiras Modernas (LEM) – inseridas na área Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, e não mais como disciplina isolada no currículo - assumiram a função de veículo de acesso ao conhecimento para levar o aluno a comunicar-se de maneira adequada em diferentes situações. Nesse sentido, busca-se a competência comunicativa, contudo, considera-se que ela só será alcançada se forem desenvolvidas as demais competências como a sociolinguística, a discursiva e a estratégica. Assim, espera-se que, ao fi nal do ensino médio, o aluno saiba distinguir entre as variantes linguísticas, escolher o registro e o vocabulário adequados à comu- nicação, compreender de que forma determinada expressão pode ser interpretada em razão de aspectos sociais e/ou culturais, com- preender em que medida os enunciados refl etem a forma de ser, pensar, sentir e agir de quem os produzem, utilizar mecanismos de coerência e coesão e ainda estratégias verbais e não verbais. De modo geral, busca-se a interdisciplinaridade e que o aluno conheça e use a língua estrangeira como instrumento de acesso a outras culturas e grupos sociais. Complementando os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, em 2006, foram desenvolvidas as novas orientações para o ensino médio numa nova publicação sob o título de PCN+ Orientações Curriculares para o Ensino Médio, cujo volume 1 cons- ta de um item sobre os “Conhecimentos de línguas estrangeiras” e de um outro específi co para a disciplina espanhol: “Conhecimentos 34 O ensino das línguas estrangeiras no Brasil: uma perspectiva histórico-metodológica de espanhol”. Com relação à inserção do espanhol, esta novidade está respaldada na sanção da Lei nº 11.161 de 05 de agosto de 2005 (BRASIL, 2005) que torna obrigatória a oferta da Língua Espanhola em horário regular nas escolas públicas e privadas brasileiras que atuam no nível médio de ensino, facultando a inclusão do ensino desse idioma nos currículos da 5ª à 8ª série do Ensino Fundamental. As orientações curriculares para as Línguas Estrangeiras, contidas nos PCN+ Orientações Curriculares para o Ensino Médio, têm como objetivo, além de retomar a refl exão sobre o papel educacional do ensino de LE no ensino médio, introduzir as teorias sobre a linguagem e as novas tecnologias (letramentos, multiletramentos, multimodalidade, hipertexto) e dar sugestões para a prática do ensino de LE por meio dessas tecnologias. No que se refere às habilidades a serem desenvolvidas no ensino de LE no ensino médio, esse documento focaliza a leitura, a prática escrita e a comunicação oral contextualizadas. Considera-se que o uso da linguagem seja composto por conjuntos complexos de habilidades que antes eram isoladas e chamadas de “leitura”, “escrita”, “fala” e “compreensão oral” e passa-se a preferir o uso do termo “letramento” para se referir aos usos heterogêneos da linguagem. No letramento, as formas de “leitura” interagem com formas de “escrita” em “práticas socioculturais contextualizadas”. A partir desse conceito e diante dos complexos usos da linguagem por novas comunidades de prática, surgem termos como “letramento visual”, “letramento digital” e “multiletramentos”. As orientações para o ensino da disciplina Língua Estrangeira Moderna: Espanhol estão pautadas nos mesmos princípios dos PCN uma vez que se caracterizam pela fl exibilidade, abertura e dinamismo no desenho curricular, sugerindo um sequenciamento de conteúdos e atividades e propondo uma refl exão de caráter amplo, incluindo nessa refl exão as discussões já levantadas como a valorização da LE e especifi camente do espanhol como disciplina formativa no pro- cesso educativo global dos alunos, expondo-os “[...] à alteridade, à diversidade, à heterogeneidade, caminho fértil para a construção da sua identidade” (BRASIL, 2006, p.129). 35 Rosângela Sanches da Silveira Gileno Nessas orientações, o que é importante destacar é o tratamen- to dado a questões específi cas do ensino da língua espanhola para alunos brasileiros como a questão da heterogeneidade do espanhol, ou seja, que espanhol ensinar? O espanhol peninsular tido como “puro”, “clássico” ou as variedades hispano-americanas, ou ainda um “espanhol padrão”, mais neutro? É claro que o mais natural é que os alunos tendam a adotar a variedade que o professor adote. Assim, a orientação é que o professor crie condições para que o aluno conheça outras variedades “tão rica e válida quanto a usada por ele”. Deste modo, o professor precisa criar condições para que os alunos possam optar pela variedade que considerem “[...] mais viável, seja pela facilidade que encontram, seja pelo gosto pessoal, seja porque se identifi cam mais com a sua cultura e com os seus falantes”. Por outro lado, considera-se a impossibilidade de “abarcar toda a riqueza linguística e cultural do idioma” (BRASIL, 2006, p.137), no entanto, a exposição dos educandos às variedades levaria ao entendimento da heterogeneidade que marca todas as culturas, evitando-se a reprodução de estereótipos e preconceitos. Convém ainda esclarecer que nos objetivos a serem estabeleci- dos para o ensino de Língua Espanhola no nível médio, coloca-se a refl exão de se pensar o ensino de espanhol como “um conjunto de valores interculturais”, na questão do “estrangeiro” e nas suas “(inter)relações com o nacional”, nas noções de identidade, de plu- rilinguismo e de multiculturalismo. E por ser um documento aber- to e fl exível, privilegia-se a autonomia do professor na escolha dos materiais didáticos, escolha e articulação dos conteúdos, levando em consideração o seu contexto de ensino e necessidades de seu alunado. Além do mais, espera-se que os conteúdos e estratégias de ensino possam desenvolver no aluno, além da competência comunicativa, incluindo a competência linguística, sociolinguística e pragmático- -discursiva, a competência “inter(pluricultural)”. Enfatiza-se tam- bém o desenvolvimento da compreensão e produção oral, assim como a compreensão leitora e produção escrita. Embora os PCN priorizem o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, o que se observou, de fato, foi o domínio insa- 36 O ensino das línguas estrangeiras no Brasil: uma perspectiva histórico-metodológica tisfatório de tais habilidades pelos alunos da escola pública por meio de avaliações realizadas pelo SARESP – Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo no ano de 2005. Esse foi um dos motivos que levou a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, em 2008 a lançar a nova Proposta Curricular para os vários componentes do Ensino Fundamental e Médio, incluindo a Língua Estrangeira Moderna (LEM) – Inglês. O ensino de Língua Estrangeira Moderna (LEM) – Inglês – no atual Currículo Ofi cial do Estado de São Paulo18 A nova orientação para o ensino da língua inglesa no ciclo II do Ensino Fundamental e no Ensino Médio tem como enfoque os “letramentos múltiplos”, baseados no “saber” e no “fazer”, “em múl- tiplas linguagens e gêneros discursivos” (SÃO PAULO, 2008, p.42). Na perspectiva do letramento, busca-se trabalhar a língua situada histórica, social e culturalmente por meio de textos que possibilitem conhecê-la e usá-la, e ainda refl etir sobre os conhecimentos e usos da língua. Nesse sentido, privilegia-se a prática da leitura e escrita por meio de diferentesgêneros textuais, em detrimento da gramática ou das funções comunicativas que eram privilegiadas nas orientações anteriores. Convém aqui reiterar que o enfoque nas “funções comu- nicativas” pertence, como afi rma Bizon (1994) à primeira fase do movimento comunicativo19. No atual Currículo Ofi cial do Estado de São Paulo, tendo em vista que o currículo é considerado um “[...] espaço de cultura e 18 As orientações para o ensino do inglês no atual Currículo Ofi cial do Estado de São Paulo serão aprofundados em outro capítulo desta coletânea. 19 De fato, o que se tem observado nos trabalhos sobre o movimento comunicativo é que este não tem sido um movimento uniforme. Bizon (1994) esquematiza cinco tendências diferentes de materialização da abordagem comunicativa: os “comunicativizados”, aqueles que tentam dar ao estruturalismo uma roupagem nova; os “funcionalizados” da primeira geração do movimento que organizam o ensino a partir de uma listagem de funções; “os inocentes” que realizam o ideal da negociação da interação propositada, do encontro e da troca no discurso, mas não colocam como primordial a necessidade de tomar o discurso na sua dimensão histórico-crítica; “os espontaneístas ou ultracomunicativos” que almejam apenas muita comunicação; e os “críticos” que se preocupam com as refl exões teóricas acerca da abordagem. 37 Rosângela Sanches da Silveira Gileno de articulação de competências e conteúdos disciplinares” (SÃO PAULO, 2008, p.8), aescola passa a ser vista como “aquela que aprende”, “aprende a ensinar”. Nesse contexto, a capacidade de aprender terá de ser trabalhada não apenas nos alunos, mas na pró- pria instituição educativa. Assim, tanto a escola como os docentes terão de aprender. O aluno, por sua vez, deve adquirir autonomia para gerenciar sua própria aprendizagem, “aprender a aprender”, por meio do engajamento em projetos que levem à produção de objetos concretos e que possibilitem intervenções no ambiente, ou seja, “aprender a fazer”. O Currículo Oficial do Estado de São Paulo, seguindo os princípios da Lei de Diretrizes e Bases de 1996 que deslocou o foco “do ensino” para o “da aprendizagem”, considera importante que um “currículo referenciado em competências” aponte o que o aluno vai aprender. Neste sentido, para completar a Proposta Curricular foram lançados, para o ano letivo de 2009, os Cadernos do Professor, organizados por bimestre, por série e por disciplina, distribuídos pela Secretaria de Educação para professores da 5ª à 8ª série do Ensino Fundamental e Médio. Neles, são apresentadas situações de aprendizagem para orientar o trabalho do professor no que se refere ao ensino dos conteúdos disciplinares específi - cos. Os conteúdos, habilidades e competências são organizadas por série e seguidas de orientações para “[...] a gestão da sala de aula, para a avaliação e a recuperação, bem como de sugestões de méto- dos e estratégias de trabalho nas aulas, experimentações, projetos coletivos, atividades extraclasse e estudos interdisciplinares” (SÃO PAULO, 2008, p.9). Uma vez estabelecidas as novas orientações para o ensino da LEM no ensino regular, torna-se imprescindível a avaliação de tais propos- tas tanto nos seus fundamentos teóricos como na sua implementação em sala de aula, como o trabalho de Bernardino (2010) que avalia o primeiro ano de implantação da Proposta Curricular em uma classe do ensino fundamental de uma escola da rede pública de ensino do Estado de São Paulo, mostrando, entre outras categorias, as difi cul- dades enfrentadas pelos professores para aplicar as atividades propos- 38 O ensino das línguas estrangeiras no Brasil: uma perspectiva histórico-metodológica tas, mas, por outro lado, a motivação dos alunos para desenvolver várias atividades e tarefas sugeridas. Considerações fi nais O panorama apresentado revelou a queda gradual do prestígio do estudo das línguas estrangeiras nos currículos escolares ofi ciais, sobretudo das línguas clássicas, como o latim e o grego. Verifi cou-se que no século XX, a partir da década de 60, a língua inglesa fi rmou- -se como a língua estrangeira mais estudada no Brasil, tanto nas grades curriculares do ensino regular das escolas públicas ou privadas quanto nos institutos de idiomas. Hoje, deve-se considerar também a valorização da língua espanhola no contexto educacional brasileiro, tendo em vista que, a partir de 2005, com a Lei nº 11.161 (BRASIL, 2005), ela passou a integrar as grades curriculares, sendo sua oferta obrigatória nas escolas públicas e privadas do ensino médio e ainda pela inserção dessa língua no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) como item avaliativo possível ao lado da língua inglesa como opções de avaliação em língua estrangeira, a partir de 2010. Embora a implantação da língua espanhola na rede pública de ensino tenha progredido lentamente, de maneira gradual, essa língua está se fi r- mando como a segunda língua estrangeira mais ensinada no Brasil. É certo que hoje o mandarim também é bem procurado nas escolas de idiomas já que é considerado como uma das “línguas da moda ou do momento”, em função do fortalecimento da China como potência econômica, no entanto, a demanda ainda é pequena em relação ao espanhol e ao inglês. Especifi camente sobre a língua inglesa, como foi possível obser- var, ela foi introduzida no contexto nacional de ensino com caráter instrumental e este caráter se perpetua, de certo modo, até os dias de hoje. Se no império, ela servia como instrumento de comunicação nas relações comerciais com a Inglaterra, ainda hoje é procurada, frequentemente, por objetivos instrumentais como passar no vesti- bular ou em exames de profi ciência, para viajar, para se comunicar pela Internet, entre outros. Por outro lado, os documentos ofi ciais 39 Rosângela Sanches da Silveira Gileno aqui apresentados, como os Parâmetros Curriculares Nacionais e as Propostas Curriculares da CENP, mostram uma tentativa de discus- são sobre a importância do estudo do inglês e das LEM de modo geral na formação do educando como indivíduo e como cidadão, visto que possibilita o contato com outros modos de sentir, viver e expressar-se, contribuindo para o desenvolvimento de aspectos psicológicos, sociais, culturais e afetivos. No que diz respeito às orientações didáticas, os métodos de ensi- no sugeridos nos documentos ofi ciais sempre tiveram problemas para serem implementados na rede pública de ensino de maneira efi caz devido, principalmente, a fatores como o reduzido número de horas que acabou sendo reservado ao estudo das línguas estran- geiras nos currículos escolares, à carência na formação linguística e pedagógica dos professores e à própria estrutura escolar que muitas vezes impedia e ainda impede o desenvolvimento da disciplina, des- motivando alunos e professores. Além desses problemas de imple- mentação, muitas vezes, os próprios métodos não eram adequados aos interesses/necessidades dos alunos e, por outras vezes, revelam-se anacrônicos. De fato, as línguas estrangeiras nas escolas regulares de ensino quase sempre se pautaram “apenas” no estudo das formas gramaticais descontextualizadas, na memorização de regras e na prio- ridade da língua escrita e na norma culta. No que se refere ao desenvolvimento de habilidades na LE, a insistência na ênfase na leitura, sugerida pelos próprios PCN, acabou gerando muitas críticas. Segundo Leff a (1999), “embora haja muitos argumentos a favor dessa ênfase, a escola não vai recuperar o ensino da língua estrangeira, ‘deslocado para os cursos de línguas’”. Isso porque o aluno percebeu que para “falar” uma língua estrangeira, só frequentando um curso de idiomas. A ênfase na leitura continua presente no novo Currículo Ofi cial da Secretaria de Estadual de Educação (SEE), contudo, a ênfase está nos letramentos múltiplos, de modo que o aluno deve tornar-se um leitor que entende que aquilo que lê é uma representação textual de valores, ideologias, discursose visões de mundo. Mas e o professor? 40 O ensino das línguas estrangeiras no Brasil: uma perspectiva histórico-metodológica Será que ele está preparado para fazer as transposições didáticas dessas orientações? Este é um grande obstáculo para que novas propostas, embo- ra “antenadas” com as exigências de ordem mundial, consigam ser implementadas com efi cácia no ensino regular, principalmente, por- que fi cam distantes da realidade do aluno, do professor e do próprio ambiente de ensino. REFERÊNCIAS ALMEIDA, J. R. P. Instrução pública no Brasil: 1500-1889. 2.ed. São Paulo: EDUC, 2000. ALMEIDA FILHO, J. C. P. (Org.). Parâmetros atuais para o ensino de português língua estrangeira. Campinas: Pontes, 1997. ______. Dimensões comunicativas no ensino de línguas.2.ed. Campinas: Pontes, 1998. AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer:palavras e ação. Tradução de Danilo Marcondes de Souza Filho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990. BERNARDINO, E. A. Análise e implementação da nova Proposta Pedagógica Estadual para o Ensino de Língua Inglesa no Ensino Fundamental. 2010. Dissertação (Mestrado em Educação Escolar) – Faculdade de Ciências e Letras, UNESP, Araraquara, 2010. BIZON, A. C. C. Características da interação em contexto de ensino regular e em contexto de ensino interdisciplinar de português-língua estrangeira:um estudo comparativo. 1994. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) –Instituto de Estudos de Linguagem, Unicamp, Campinas, 1994. BOSI, A. Dialética da colonização. 3.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. BRASIL. Lei nº 4.024, de 20 de Dezembro de 1961. Fixa Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Brasília, DF, 1961. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-4024-20- 41 Rosângela Sanches da Silveira Gileno dezembro-1961-353722-promulgacaodevetos-47770-pl.html>. Acesso em: 19 abr. 2013. ______. Lei no 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Lei de Diretrizes e Bases para o ensino de 1º e 2º graus, e dá outras providências. Brasília, DF, 1971a. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/128525/ lei-de-diretrizes-e-base-de-1971-lei-5692-71>. Acesso em: 19 abr. 2013. ______. Parecer nº 853/71, de 12 de novembro de 1971, do CFE. Núcleo- comum para os currículos do ensino de 1º e 2º graus: a doutrina do currículo na Lei 5.692. Documenta, Brasília, n.132, p.166-190, nov. 1971b. ______. Resolução nº 58/76, de 22 de dezembro de 1976, do CFE. Altera dispositivos da Resolução nº 8, de 1 de dezembro de 1971, e dá outras providências. Brasília, DF, 1976. Disponível em: <http://www. prolei.inep.gov.br/exibir.do;jsessionid=5298563B51A3EB99215142 A083A01E06?URI=http%3A%2F%2Fwww.ufsm.br%2Fcpd%2Fine p%2Fprolei%2FDocumento%2F-6354905088953366017>. Acesso em: 23 maio 2013. ______. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Fixa Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Documenta, Brasília, n.423, p.569-586, dez. 1996. ______. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1998. ______. Lei nº 11.161 de 05 de agosto de 2005. Brasília, DF, 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004- 2006/2005/Lei/L11161.htm>. Acesso em: 19 abr. 2013. ______. Orientações curriculares para ensino médio: linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEF, 2006. v.1. BRUMFIT, C. J.; JOHNSON, K. Th e communicative approach to language teaching. Oxford: Oxford University Press, 1979. CANALE, M. From communicative competence to communicative language pedagogy. In: RICHARDS, J. C.; SCHMIDT, R. W. Language and communication. New York: Longman, 1996. p.1-27. 42 O ensino das línguas estrangeiras no Brasil: uma perspectiva histórico-metodológica CANALE, M.; SWAIN, M. Theoretical bases of communicative approaches to second language teaching and testing. Applied Linguistics, London, v.1, n.1, p.1-47, 1980. CAPANEMA, G. Exposição de motivos à reforma do ensino secundário. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v.60, n.134, p.253-260, abr./jun., 1974. CHAGAS, V. Didática especial de línguas modernas. 2.ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1967. ______. O ensino de 1º e 2º graus: antes, agora e depois? 4.ed. São Paulo: Saraiva, 1984. CHOMSKY, N. Aspects of the theory of syntax. Boston: MIT Press, 1965. DAHER, A. Escrita e conversão: a gramática tupi e os catecismos bilíngües no Brasil do século XVI. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n.8, p.31-43, maio/ago. 1998. EISENBERG, J. As missões jesuíticas e o pensamento político moderno:encontros culturais, aventuras teóricas. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 2000. FRANCA, L. O método pedagógico dos jesuítas. Rio de Janeiro: Agir, 1952. GERMAIN, C. Évolution de l’enseignement des langues: 5000 ans d’histoire. Paris: Clé International, 1993. HALLIDAY, M. A. K. Language structure and language function. In: LYONS, J. New horizons in linguistics. Harmondsworth: Penguin, 1970. p.140-165. HOLANDA, S. B. Cobra de vidro. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 1978. HYMES, D. On communicative competence. In: PRIDE, J. B.; HOLMES, J. Sociolinguistics. Harmondsworth: Penguin, 1972. p.269-293. 43 Rosângela Sanches da Silveira Gileno LAJOLO, M.; ZILBERMAN, R. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1996. LEFFA, V. J. Metodologia do ensino de línguas. In: BOHN, H. I.; VANDRESEN, P. Tópicos em linguística aplicada: o ensino de línguas estrangeiras. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1988. p.211- 236. ______. O ensino das línguas estrangeiras no contexto nacional. Contexturas: ensino crítico de língua inglesa, São Paulo, n.4, p.13- 24, 1999. LEVINSON, S. C. Pragmatics. Cambridge: Cambridge University Press, 1983. MORROW, K. Principles of communicative methodology. In: JOHNSON, K.; MORROW, K. Communication in the classroom. Essex: Longman, 1981. p.59-66. NEEDELL, J. D. Belle époque tropical: sociedade e cultura de elite no Rio de Janeiro na virada do século. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. PAIVA, V. L. M. O. Como se aprende uma língua estrangeira? In: ANASTÁCIO, E. B. A.; MALHEIROS, M. R. T. L.; FIGLIOLINI, M. C. R. (Org.). Tendências contemporâneas em letras. Campo Grande: Ed. da UNIDERP, 2005. p.127-140. RICHARDS, J. C.; RODGERS, T. S. Approaches and methods in language teaching: a description and analysis. Cambridge: Cambridge University Press, 1986. ROMANELLI, O. História da educação no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1978. SÃO PAULO (Estado). Proposta curricular de língua estrangeira moderna: inglês: 1º grau. 3.ed. São Paulo: SE/CENP, 1991. ______. Proposta curricular de língua estrangeira: inglês. São Paulo: SE/CENP, 2008. (Ensino fundamental - ciclo II e Ensino médio). 44 O ensino das línguas estrangeiras no Brasil: uma perspectiva histórico-metodológica SILVA, M. G. G. V. da. Por que ensinar uma língua estrangeira? Contexturas: ensino crítico de língua inglesa, São Paulo, n.1, p.17- 19, 1992. SILVEIRA, R. S. da. Um olhar sobre o ensino de língua estrangeira em contexto de escola pública:foco na abordagem de ensino. 2002. Tese (Doutorado) – Faculdade de Ciências e Letras, UNESP, Araraquara, 2002. SKINNER, B. F. Verbal behavior. New York: Appleton- Century- Crofts, 1957. VAN EK, J.; ALEXANDER, L. G. Th reshold level English. Oxford: Pergamon, 1980. WIDDOWSON, H. G. Explorations in applied linguistics. Oxford: Oxford University Press, 1979. WILKINS, D. A. The linguistic and situational content of the common core in a unit/credit system. Ms. Strasbourg: Council of Europe, 1972. ______. Notional syllabuses. Oxford: Oxford University Press, 1976. 45 TENDÊNCIAS DE PESQUISA EM ENSINO-APRENDIZAGEM DE INGLÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA NO BRASIL: 2005- 20101 Dirce Charara MONTEIRO Introdução O objetivo deste capítulo é apresentar as principais tendências de pesquisa em ensino de inglês como língua estrangeira (LE) no Brasil no período de 2005 a 2010,
Compartilhar