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Cidadania no Tempo Presente VISCARDI, Claudia; PERLATTO, Fernando;

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. h © Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado, 2018 
Copyng t 
Capa: Ronaldo Alves ,. . 
Foto de capa: André Coelho/Agencia O Globo 
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 
T28 o tempo da Nova República: da transição democr
ática à crise 
política de 2016: Quinta República (1985-2016) / organização Jorge 
Ferreira, Lucilia de Almeida Neves Delgado. - 1 ª ed. - Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 2018. 
504 p. (O Brasil Republicano; 5) 
Inclui bibliografia 
ISBN 978-85-200-1361-8 
t. Democracia-Brasil-História. 2. Brasil-Política econômic _ 
História. 3. Brasil-Política e governo, 1985-2016. I. Ferreira Jo ª 
II. Delgado, Lucília de Almeida Neves. III. Série. ' rge. 
18-51804 
CDD: 981.066 
CDU: 94(81).089 
Vanessa Mafra Xavier Salgado - Bibliotecária - CRB-7/6644 
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução armaz 
-
. - d d 1· , d , enamento ou transm1ssao e partes este 1vro, atraves e quaisquer meio _ . 
autorização por escrito. s, sem p
revia 
Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico 
da Língua Portuguesa. 
Direitos desta edição adquiridos pela 
EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA 
Um selo da 
EDITORA RECORO LTDA. 
Rua Argentina 171, - Rio de Janeiro RJ - 20921-380 
Te!.: (21) 2585-2000. ' -
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mdireto@ ireta ao leitor: 
record.com.br ou (21) 2585-2002. 
Impresso no Brasil 
2018 
3 Cidadania no tempo presente 1 . 
Cláudia Viscardi * 
Fernando Perlatto* * 
Este capítu~o, que ~ncerra a ~oleção Brasil Republicano, volta-se para adis-
cussão da c1dadan1a no Brasil contemporâneo, tendo como ponto de partida 
a Constituição de 1988 até seus mais recentes desdobramentos. Tendo em 
vista a complexidade das discussões conceituais acerca da cidadania e de 
suas configurações no Brasil, algumas reflexões em torno do tema se fazem 
necessárias. Não pretendemos realizar um inventário exaustivo da ampla 
literatura que aborda essa temática, mas apenas realçar algumas abordagens 
com vistas à fundamentação de nosso argumento. 
Do ponto de vista substantivo, cidadania consiste na posse de um con-
junto de direitos, sejam eles civis, políticos ou sociais e que sejam previstos 
em lei. Uma vez que o conceito nasceu com a formação dos Estados na-
cionais, do ponto de vista formal, significa também pertencer a um desses 
Estados (Brubaker, 1992). O usufruto de um conjunto de direitos por parte 
dos cidadãos não é necessariamente um atributo exclusivo de Estados de-
mocráticos. Bem sabemos que a ampliação dos direitos sociais no Brasil, 
por exemplo, se deu, sobretudo, no âmbito de regimes autoritários, como 
o Estado Novo, e que em muitas ditaduras socialistas o povo usufruía de 
amplos direitos sociais, bem como de outros direitos políticos e civis, em 
• Professora Titular do departamento de História da Universidade Federal de Juiz 
de Fora. 
•• Professor Adjunto do departamento de História da Universidade Federal de Juiz 
de Fora. 
447 
O TEMPO DA NOVA REPÚBLICA 
menor monta. Portanto, há diferentes níveis e espécies de cidad · . ama, o que atesta a complcx1dadc do tema e o cuidado que devemos ter no seu t _ rato. 
Nao se pode falar em cidadania sem referenciar o clássico trabalho de T. 
H. Marshall (1967), uma conferência publicada em 1950 um ano d • d f ·d A · ' epo1s e ser pro en a. importante reflexão do intelectual inglês baseou-se no 
pr:ss~p_ost~ de que a pobreza poderia ser suportada pelas elites, mas não 
a md1genc1a, o que poderia colocar em ri sco sua própria sobrevivência. 
~essa forma, os altos índices de desigualdade social deveriam ser redu-
z,_dos a partir de políticas públicas capazes de garantir a sobrevivência 
d,g~a dos cidadãos, o que se daria pela difusão dos direitos sociais. Tal 
con1umo de direitos se ampliou após a Segunda Guerra Mundial 0 f · . , que azia do seculo XX, para Marshall, o tempo da expansão da cidadania 
soc_ial: O~tro conjunto de direitos, como os civis, havia sido para ele 
ma1onranamente estabelecido no século XVIII, ocasião em que as luras 
pela liberdade contra o arbítrio dos governantes assumiram caráter revo-
lucioná rio; e os direitos políticos foram consolidados pelos parlamentos, 
sobretudo ao longo do século XIX.1 
Em que pese o fato de sua abordagem ter sido fundamentada na expe-
riência inglesa, suas conclusões foram generalizadas para diversos outros 
países em d iferentes contextos históricos . Tal apropriação resultou na 
catego rização de nações como "modelares" - ou seja, as que segui ram o 
processo inglês - e as "desviantes", aquelas que não conseguiram estabe-
lecer esse conjumo de direitos, nem na ordem por ele identificada, nem em 
suas d imensões. 
Como o lehor já pode antecipar, o caso brasileiro foi em sua maior parte 
ir.rerpret.aêo como d!:s-:iante, uma vez que o estabelecimento dos direitos 
~ cida.d.2nia foi tardio, incomplew e principalmente instável, na medida 
em qll!: pod~m ser concedidos ou retirados ao sabor das conjunruras. 2 
~ão otl">t2me a vera.cidade cit ta is avaliações acerca do quadro nacional, 
o c:2.~ ir.gli::s foi muiro mais uma e;r..ceção do que regra, pois raros foram 
O!> países qll!:' implantaram e IT12ruiveram inta.etos, ao longo de toda a sua 
l:. .. :;:r.hr12.., O!> d1reitr.JS de cidadania. 
O soció!ogn a!.ernz.o R._ E,_ .. n.di ;r~ em seu estudo sobre os processos de 
IIYL~niv--Çã.o e cidz.ci2nia em vários continrntes, afirma que os projetos 
d.:: c ,,.;.;:.é;;ni2 ~urguam em ambientes completamente adversos, ou seja, 
111 
locais onde as circunstâncias não os teriam engendrado naturalmente, 
e hocando-se com as tradições em curso. Tal circunstância -que foi própria 
:
0 
caso brasileiro - teria produzido a formalização de direitos sem que 
aralelamente se desse a expansão do Estado, capaz de viabilizá-los. Ou 
~eja, ocorreu a formalização legal do direito sem que houvesse capacidade 
real do Estado em garanti-lo, gerando uma situação peculiar, distante em 
relação ao "tipo ideal", mas que não pode ser tomada como um desvio ou 
urna insuficiência, apenas como uma particularidade, o que se deu também 
em outros países. 
Nesse mesmo lastro, compartilhamos da visão de Charles Tilly (1996), 
para quem a discussão da cidadania deve envolver necessariamente as 
relações entre os interesses, as diferentes identidades, papéis e categoriais 
sociais dos atores nos diferentes países e em distintos contextos. Para ele, 
cidadania pode ser entendida como um exercício de direitos compartilha-
dos pelos agentes do Estado e membros de categorias sociais socialmente 
construídas, como as de gênero, raça, nacionalidade, classe, entre outras. 
Para Tilly, uma experiência cidadã forte pressupõe a imposição em um 
território unificado de um sistema relativamente padronizado, no qual uma 
hierarquia de servidores públicos atue, do centro para as periferias e delas 
de volta ao centro. Mas destaca que direitos não são nunca perenes, não 
são concedidos sem custos nem são impostos. A cidadania é um objeto de 
disputa permanente, mesmo em países onde direitos pareçam garantidos. 
Talvez fosse mais conveniente acompanharmos as reflexões de Sergio 
Tavolaro (2008), que apontam para a presença no Brasil de "modernidades 
múltiplas", as quais se constituem em configurações variadas de direitos 
em contextos marcados por variações e assimetrias regionais e temporais. 
Dessa forma, os direitos de cidadania são sempre condicionados às lutas 
em torno de recursos políticos, simbólicos, econômicos e sociais escassos, 
uma vez que não há justaposição automática entre aspirações e conquistas. 
Os resultados - êxitos e fracassos - variam no tempo e no espaço. 
É dessa forma que pretendemos abordar o avanço recente da cidadania 
no Brasi l. Não como um desvio ou como um devir incompleto, mas como 
um processo de construção coletiva, de perdas e ganhos, de disputaentre 
diferentes interesses, que encontraram no contexto da transição democr~tica 
uma nova janela de oportunidades. Grupos de interesses diversos, reunidos 
em torno de identid:1des específicas, se organizaram e disputaram 
O 
poder 
pa ra 6zer ,·alerem seus interesses. 
. Pretendemos :1comp:10har essa tr:1jetória, e para este fim, como decorrên-
ci.1 d.1 1mpossibilid.,de de abordar todas as disputas em torno da c,·d d • . a an1a no _Br:1s1l :10 longo das últimas décadas, optamos por dividir o capítulo con-
ferindo destaque a alguns segmentos sociais de grande relevância e às suas 
lutas pela c..xpansào de direitos. Serão, dessa forma, abordados três coni·unr d d . . os e 1re1tos associados a diferentes setores: os de gênero e aqueles vinculad - 1 os a popu ação LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais)· os - . . . ' em1co-rac1a1s e o dos trabalhadores. Nossa intenção é a de compreender 
como o conjunto de deliberações que conferiram à Constituição de 1988 
0 epíteto de '"Carta cidadã" e seus desdobramentos posteriores expressou a 
disputa entre variados grupos de interesse em diferentes conjunturas políticas. 
Ames, porém, de adentrarmos na reflexão sobre os três conjuntos de direitos 
destacados, faremos uma breve reflexão sobre o processo de elaboração da 
Constituição de 1988 e de que maneira ela conformou determinados senti-
dos, orientações e perspectivas para a garantia e a expansão da cidadania 
no Brasil, que marcaram o campo de disputas entre os diferentes grupos 
sociais nas décadas posteriores. 
1988: a "Constituição cidadã" 
Resultado direto dos embates e disputas que tiveram curso na conjuntura de 
redemocrari.zação do país, o text0 elaborado pela Assembleia Constituinte, 
reunida entre 1º de fevereiro de 1987 e 5 de outubro de 1988, reflete em 
grande medida as tensões e contradições de uma sociedade que deixava para 
trás mais de vinte anos de ditadura e ingressava, aos trances e solavancos, 
em um novo período, marcado pela reabertura política. Apesar da com-
posição majoritariamente conservadora dos congressistas que elaboraram 
a carta constitucional, a Constiruição de 1988 assegurou a ampliação dos 
direiros civis e políticos aos cidadãos brasileiros e, especialmente, expandiu 
significativamente o escopo e a cobertura dos direitos sociais - o que lhe 
valeu o rírulo de "'cidadã", ournrgado pelo então presidente da Assembleia 
. ·nte Ulysses Guimarães-, além de abrir possibilidades para que CoflStlfUI ' 
direitos fossem reivindicados nos anos posteriores. 
nov~sampliação da cidadania ~ssegura~a ~a Constituição pode ser explica-
or diversas razões. É poss1vel relaciona-la, por exemplo, a uma cultura 
datrica consolidada historicamente no país orientada no sentido de conferir 
pO ~tado papel central no processo de expansão, ainda que autoritária, da 
~adania. Além disso, q~ando se obser~a a pró~ri~ din~mica_ interna das 
di 
utas cravadas no âmbito da Assembleia Constituinte, e poss1vel destacar sp d . .d a el importante que determina os congressistas pertencentes a parti os op P h .d d . -ressistas desempen aram no senti o e ocuparem cargos em com1ssoes prog d d h. . csubcornissões temáticas, asseguran o que pautas e agen as 1stoncamente 
identificadas com o campo da esquerda fossem incorporadas no texto cons-
ôrucional, ao final do processo. 3 
Porém, a compreensão da centralidade que a agenda da cidadania as-
sumiu na Constituição de 1988 deve levar em conta outra dimensão fun-
damental, relacionada à grande pressão exercida pela sociedade civil - em 
especial dos movimentos sociais organizados-, fortalecida no contexto da 
redemocratização do país, que procurou participar e influenciar, de diferentes 
maneiras, na preparação do texto constitucional. Nos meses de elaboração 
da Carta de 1988, milhares de pessoas e grupos, portando interesses diver-
sos, buscaram pressionar os congressistas com suas respectivas agendas em 
diferentes direções, quer ocupando os corredores do Congresso Nacional, 
quer mediante o envio de "emendas populares". Daí, Ulysses Guimarães, 
em seu discurso na conclusão dos trabalhos constituintes, ter destacado que 
a Constituição ali elaborada trazia em seu bojo "sopro de gente, de rua, de 
praça, de favela, de fábrica, de trabalhadores". 
Como decorrência desses processos, a Constituição de 1988 se con-
formou como um texto que não apenas instituiu procedimentos neutros e 
positivos, voltados para garantir e proteger a autonomia dos indivíduos, 
mas que se orientou abertamente para definição de compromissos érico-
·morais e valorativos (Lessa, 2008). A Carta de 1988 buscou estabelecer no 
seu corpo normativo um programa substantivo para o ~ra_sil, que afi_rma os 
direitos civis, políticos e sociais, como fica evidente nos mc1sos do arri~o ~ue 
institui os objetivos dos princípios fundamentais norteadores da ~epubhca: 
" . . 1-d , · . antir O desenvolv1memo na-construir uma sociedade Justa e so 1 ana, gar 
cional; erradicar a pobreza e a marginalizaçfo e reduzir as desigualdades 
sociais e regionais; promovcr o bem de todos, sem preconceitos de origem, 
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação" (Vianna, 
2008, p. 99). 
No caso dos direitos sociais, mais especificamente, o texto constitucional 
estabelecia que direitos, tais como educação, saúde, alimentação, segurança, 
previdência e assistência social, seriam considerados como "direito de todos 
e dever do Estado''. Além de proteg~r os direitos civis, concernentes aos 
indivíduos, e de assegurar a promoção dos direitos sociais, a Constituição 
de 1988 contempla a proteção dos "direitos coletivos e difusos", associados 
à proteção de determinados setores da sociedade, a exemplo dos indígenas, 
dos idosos, e das crianças e adolescentes, além de abrir novas possibilidades 
de incorporação dos direitos das chamadas "minorias". Nessa perspectiva, 
a Carta Constitucional se direciona normativamente não apenas para a 
afirmação da igualdade, ao instituir políticas universalistas como o Sistema 
Único de Saúde (SUS), mas também da diversidade, ao apontar para novos 
caminhos no sentido de trazer para a agenda pública políticas orientadas 
para o combate ao machismo, à homofobia e ao preconceito racial, como 
procuraremos discutir nas próximas seções. A amplitude e o detalhamento 
do texto constitucional no que concerne aos direitos civis e sociais permitem 
afirmar que, apesar de seus vários problemas e limitações, ele apontava 
como horizonte a conformação de um Estado de Bem-Estar Social no Brasil. 
No caso dos direitos políticos, mais especificamente, o texto constitu-
cional, além de assegurar a democracia representativa - estabelecendo, pela 
primeira vez na história republicana brasileira, o sufrágio universal, com a 
inclusão dos analfabetos no processo de votação-, instituía, no artigo 14, 
ao abrir o "Capítulo IV - Dos Direitos Políticos", que a soberania popular 
também poderia ser exercida por mecanismos de participação direta, com 
destaque para os projetos de iniciativa popular, os plebiscitos e os referen-
dos, confirmando o princípio da concepção de democracia exposto no seu 
artigo 1º, segundo o qual, "todo poder emana do povo, que o exerce por 
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos da Constituição". 
Além disso, a Carta de 1988 previa a existência de conselhos e audiências 
públicas, que, além de permitirem à sociedade civil organizada exercer um 
papel mais efetivo de fiscalização e controle das políticas públicas, abriam 
vos espaços para que se fosse conformada uma lógica mais democrática 110 
definição das prioridades de alocação dos recursos públicos.4 
0ª Outro elemento importante a ser destacado é que a Constituição de 1988 
segurou variados institutos e procedimentos judiciais que possibilitaram a 
:~a pluralidade de atores sociais atuarem como intérpretes da constitucio-
nalidade das leis, pressionando pela garantia e expansão de direitos. Dessa 
forma, as minorias parlamentares e da sociedade civilorganizada encontra-
ram novas formas de acesso junto ao Poder Judiciário, sob a mediação de 
institutos judiciais, como as ações de controle de constitucionalidade das 
leis, as ações diretas de inconstitucionalidade por omissão, o mandado de 
injunção e as ações civis públicas. Além desses mecanismos, o Ministério 
Público, como representante da sociedade civil, passou a adquirir um novo 
papel constitucional, orientado para a defesa do sistema da ordem criado 
pela Constituição de 1988. Somado ao papel de protagonismo que os cons-
tituintes asseguraram ao Supremo Tribunal Federal (STF), como instância 
apta a garantir a concretização das normas constitucionais, constata-se 
que o Judiciário, e não apenas o Legislativo, passou a adquirir um papel 
importante na garantia e na expansão dos direitos nos anos seguintes à 
aprovação da carta constitucional (Vianna e Burgos, 2002, pp. 337-492). 
Nas próximas seções analisaremos as transformações relacionadas aos 
direitos de gênero e LGBT, étnico-raciais e dos trabalhadores, nos anos que 
se seguiram à promulgação da Constituição de 1988. Buscaremos refletir de 
que maneira as disputas entre os diferentes grupos de interesses marcaram 
a conformação da ideia de cidadania no Brasil no tempo presente. 
Direitos de gênero, LGBT e cidadania 
Conforme destacamos anteriormente, os processos de expansão de direitos 
e de ampliação da cidadania não se conforma_m de forma p_acífica, devendo 
d.d mo diretamente vmculados a disputas protago-antes ser compreen i os co , . 
· · olíticos na esfera publica. Quando nizadas por diferentes atores sociais e P . . . d , . 1 te à temática dos d1re1ros associa os as nos referimos mais particu armen T d. utas se tornam ainda 1 - LGB estas 1sp mulheres e à chamada popu açao ' erspectiva a força do ma-. b d uando temos em P mais relevantes, so retu o q 
chismo e da homofobia em uma sociedade como a brasileira, atravessada 
por variadas formas de conservadorismos e preconceitos. Importa destacar 
nesse sentido. a relevância que os diversos movimentos sociais associado' 
ao feminismo, à defesa da igualdade de gênero e de combate à homofobi s 
vêm desempenhando no sentido de denunciarem cotidianamente as opres~ 
sões e pressionarem para que suas reivindicações sejam incorporadas como 
direitos. 
No que concerne à agenda dos direitos associados às mulheres . , mais 
especificamente, a pressão do movimento feminista contribuiu para que a 
Constituição de 1988 se abrisse às preocupações vinculadas à equidade d 
A D e genero. estaca-se, nesse sentido, o papel desempenhado pelo Conselho 
Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), que, criado em 1985, passou 
a se conformar como um espaço fundamental de organização e de pressão 
contra a discriminação das mulheres e pela igualdade de gênero nos mais 
diferentes espaços da sociedade e da política. A despeito da baixa repre-
sentatividade das mulheres entre os deputados constituintes - apenas 26 
parlamentares-, a Constituição de 1988 avançou no sentido de assegura r a 
igualdade de direitos entre homens e mulheres, sobretudo com a incorpora-
ção no artigo 5º da ideia de que ''homens e mulheres são iguais em direitos 
e obrigações" e no artigo 226, parágrafo 5°, da perspectiva segundo a qual 
"os direitos e os deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos pelo 
homem e pela mulher". 
No decorrer das décadas seguintes, ocorreram a lguns avanços significa-
tivos relacionados aos direitos das mulheres e à equidade de gênero. Para 
tanto, é importante chamar a atenção para o fato de que estes ava nços 
estiveram também associados às pressões exercidas por conferências inter-
nacionais e nacionais em torno desta temática, sejam aquelas convocadas 
pela Organização das Nações Unidas (ONU) ao longo das últimas décadas 
- a exemplo da Conferência de Beijing, realizada em 1995, que estabeleceu 
d?c~mentos e normativas internacionais voltadas para a promoção dos 
direitos das mulheres e da igualdade de gênero-, sejam aquelas rea lizadas 
no Brasil ao longo dos anos 2000 - que tiveram papel fundamental para a 
elaboração dos Planos Nacionais de Políticas para as Mulheres (PN PMs). 
Essa_s conferências em âmbito internacional e nacional se configuram, a 
partir de então, como marcos normativos orientados para a elaboração e 
implementação de políticas públicas direcionadas para o combate à desi-
gualdade de gênero e à garantia dos direitos das mulheres. 
Um marco fundamental para assegurar a proteção e a expansão dos 
direito às mulheres e à equidade de gênero no Brasil foi a criação em 2003, 
durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, da Secretaria de Políticas 
para Mulheres (SPM), que, em grande medida, simbolizava a instituciona-
lização, após anos de lutas nos âmbitos municipal, estadual e nacional, de 
um espaço institucional que pudesse conduzir, a partir do governo federal, 
p0líticas públicas orientadas para a promoção da igualdade de gênero. Em 
2015, j:.í no governo de Dilma Rousseff, a SPM passou a congregar, junto 
com outras secretarias, o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos 
Direitos Humanos (MMIRDH). Porém, em 2016, sob o governo de Michel 
Temer. o MMIRDH foi extinto, e a então instituída Secretaria Especial de 
Políticas para as Mulheres (SEPM), que, reestabelecida e reconfigurada, 
passou a estar vinculada ao Ministério da Justiça e da Cidadania. ' " 
O que importa destacar dessas mudanças institucionais é que a criação 
da SPM em 2003 impulsionou uma série de ações em codo o país, no âmbito 
de governos municipais e estaduais, no sentido do desenvolvimento não 
apenas de ações voltadas especificamente para as mulheres, mas também 
para a formulação de políticas públicas mais amplas, pensadas a partir da 
consideração da transversalidade de gênero. O objetivo, nesse sentido, era 
o de assegurar que as políticas públicas das diferentes áreas trouxessem 
também para o centro de suas preocupações, durante os processos de ela-
boração e de implementação, a perspectiva de gênero, de modo a garantir 
que todas as iniciativas estivessem sintonizadas com a agenda da equidade 
entre homens e mulheres. 
Sob essa orientação, ao longo dos últimos anos, em meio à pressão e ao 
diálogo com movime::ntos feministas, foram impulsionadas diversas inici~-
tivas por parte de difere::ntes governos voltadas para asseg~rar a _proteça? 
e ampliação dos direitos das mulheres. No que diz respeito mais espec1-
fi - , · , 61. · d executadas pelo governo federal, camenre as pohncas pu 1cas ena as e _ . A • 
merecem destaque aquelas direcionadas para o combate a violencia contra 
. M Ih Vver sem Violência. Lançado a mulher em especial o programa u er, 1 . 
' · a se voltava p:u a a m-em 2013 durante o governo Dilma, eSte program . 
tegração ,de serviços públicos especializados direcionados ao acolhimento 
1 1 ..\ 1 
e à proteção de mulheres em situação de violência, estando estruturado 
em torno de ações diversas, como a implementação da Casa da Mulh
er 
Brasileira, a ampliação da Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180, 
a implementação dos Centros de Atendimento às Mulheres nas regiões d
e 
fronteira seca e a constituição de unidades móveis para atendimento 
às 
mulheres em situações de violência no campo e na floresta. A esse program
a 
vieram se somar outras iniciativas governamentais nesta mesma direçã
o, 
a exemplo da publicação da Portaria nº 585 de abril de 2013, editada pelo 
Ministério da Saúde, para assegurar Serviços de Atendimento Integral 
às 
Pessoas em Situação de Violência, no âmbito do SUS, e a chamada Lei d
o 
Feminicídio, que, sancionada pela então presidente Dilma, alterou o C
ó-
digo Penal de sorte a incluir o crime praticado contra as mulheres no r
ol 
de crimes hediondos. 
Em relação à temática do combate à violência contra as mulheres, um mar-
co fundamental foi a promulgação, em agosto de 2006, da Lei nº 11.340, 
mais conhecida como Lei Maria da Penha, criada após anos de denúnci
as 
e pressões sistemáticas da farmacêuticaMaria da Penha Maia Fernande
s. 
A partir de então, a Lei Maria da Penha vem se consolidando como in
s-
trumento jurídico fundamental para a prevenção, punição e erradicaç
ão 
da violência conrra as mulheres, bem como para a assistência e proteç
ão 
às vítimas da violência doméstica e familiar. Com esta lei, as Delegaci
as 
Especializadas no Atendimento à Mulher {Deams), criadas em meados dos 
anos 1980 para realizarem o enfrentamento à violência contra as mulheres, 
passaram a assumir protagonismo central no processo de acolhimento d
as 
mulheres vítimas de violência doméstica e nos processos de investigaç
ão 
contra os seus agressores. 
Para além das questões relacionadas à violência contra as mulheres, ou-
tros avanços importantes tiveram curso ao longo dos últimos anos, no qu
e 
conce_rn~ ao combate às desigualdades de gênero e à garantia e expansã
o 
dos dHeitos das mulheres. Em 2012, por exemplo, o STF tomou a decisão 
segundoª qu_al mulheres grávidas de fetos anencéfalos poderiam interrom
-
per ª gestaçao, atendendo a uma reivindicação histórica do movimento 
feminista. Neste mesmo • . d . . .-. ano, com o mtu1to e contnbmr para a promoçao 
de uma linguagem não sexista, houve a aprovação da Lei nº 12.605, que 
estabeleceu a obrigar · d d d fl - A Ih one a e a exao de genero em diplomas de mu e-
res, garantindo que todas as profissões pudessem também ser nomea
das 
no feminino. Já em 2013, houve a aprovação da Proposta de Eme
nda 
Constitucional {PEC) das trabalhadoras domésticas, a chamada PEC 
das 
Domésticas, que regulamentou a profissão das trabalhadoras doméstic
as e 
garantiu direitos antes inexistentes para esta categoria, com destaque p
ara 
o estabelecimento de jornada máxima de 44 horas semanais, pagamento 
de hora extra, adicional noturno, seguro desemprego e Fundo de Garan
tia 
por ~empo de Serviço (FGTS}. Para além desses avanços, é importa
nte 
tamb~m cha':°ar a atenção para iniciativas no âmbito das políticas públic
as, 
que nv_e:am impactos importantes para o tema aqui abordado, a exem
plo 
da dec1sao de conferir a titularidade do cartão de programas sociais co
mo 
oABolsa Família às mulheres, possibilitando, dessa forma, como pesqu
isas 
vem dem_onstrando, um maior empoderamemo delas, ao lhes assegu
rar 
autonomia e independência financeira. 
Apesar dos avanços acima destacados e a despeito do fato de estarmos
 
testemunhando, ao longo dos últimos anos, um fortalecimento cada 
vez 
mais significativo dos movimentos feministas, ainda são muitos os desa
fios 
para se assegurar a equidade de gênero, sobretudo se levarmos em co
ma 
os empecilhos ainda maiores enfrentados por mulheres negras quan
do 
comparadas às brancas. Para além da permanência de práticas explíc
itas 
de machismo e da violência doméstica, resta ainda muito a progredir
 em 
várias direções, com destaque para a igualdade de rendimento no merc
ado 
de trabalho entre homens e mulheres, e para a igualdade de oportunida
des 
para o acesso a cargos de direção em empresas públicas e privadas, b
em 
como ao sistema político. Não obstante o país ter elegido, em 2010, pela 
primeira vez, uma mulher à Presidência da República, a sub-representação 
feminina permanece como uma característica notável dos poderes Le
gis-
lativos e Executivos do país, a exemplificar as marcas das persistência
s do 
machismo em nossa sociedade. 
Se as mulheres enfrentam dificuldades para fazer avançar a lura pelo
s 
seus direitos, o mesmo se pode dizer em relação à população LGBT, cujas 
reivindicações não encontraram acolhimento significativo na Constitu
ição 
de 1988. Porém, assim como ocorreu em relação à agenda de gênero, os 
avanços nas políticas públicas direcionadas à população LGBT passaram 
a ganhar espaço significativo nos últimos anos, em grande medida im
pul-
~,on.1dos pdJ prcssjo dos movimentos sociais e organizações vinculadas 
J t>tJ~ tcm.ll1cas. a exemplo da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas 
B1~e>.uJ1s, TrJVC:!>flS e Transexuais (ABGLT), bem como por ações dire: 
c1on.1dJs no sentido de dar visibilidade e chamar a atenção para as reivin-
d1cJções d.1 popuL1çfo LGBT, com destaque para as chamadas Paradas do 
Or~ulho LGBT. 
A pJrm dos anos 2000, o cenário em relação aos direitos da população 
LGBT começou a se alterar como decorrência de avanços importantes no 
âmbito dJs políticas públicas. Em 2001, durante o governo de Fernando 
Henrique C:irdoso, foi criado o Conselho Nacional de Combate à Discrimi-
nJç:io (CNCD), vinculado, então, ao Ministério de Justiça, com O objetivo 
de propor e acompanhar políticas públicas orientadas para o combate não 
apenas à discriminação racial, mas a outras formas de intolerância. Em 
2004, já no governo Lula, foi constituído, a partir de uma pa rceria entre 
governo e sociedade civil organizada, o programa Brasil sem Homofobia 
(BSH) - Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLBT 
e de Promoção da Cidadania Homossexual, que se configurou como a 
primeira política pública mais sistemática conduzida pelo governo federal 
orientada para o combate à homofobia e a qualquer forma de discriminação 
por orientação sexual. 
Em 2008, foi realizada a I Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, 
Bissexuais, Travestis e Transexuais, na qual milhares de representantes da 
sociedade civil e dos poderes públicos se reuniram para discutir e formu-
lar estratégias orientadas para o monitoramento e proposição de políticas 
públicas de combate à discriminação e à promoção de direitos para a 
população LGBT. Tendo como base as diretrizes e orientações da Confe-
rência, foi lançado em 2009 o Plano Nacional de Promoção da Cidadania 
e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais 
(PNDCDH-LGBT), voltado para a construção de políticas intersetoriais e 
transversais de inclusão e de combate às desigualdades para a população 
LG~T, sobretudo para aquelas pessoas em situação de maior vulnerabilidade 
social_ e :xposição à violência. Também em 2009, a publicação do decreto 
de cnaçao da terceira versão do Plano Nacional de Direitos Humanos 
(PNDH-3) n ~ · d . , .ª sequencia a segunda versão lançada em 1996, trazia em 
seus eixos orientadores alg d. • . . , . -umas 1retnzes, ob1et1vos estrateg1cos e açoe• 
programáticas relacionadas à promoção de uma cultura de respeito à livre 
orientação sexua l, à adoção de estratégias de não discriminação e à ga-
rantia da cidadania LGBT. H á que se destaca r ta mbém nessa direção a 
importância da criação, em 2010, da Coordenadoria Nacional de Promoção 
dos Direitos de LGBT e do Conselho Nacional LGBT, com representaç .. 10 
paritária do governo federal e da sociedade civil. 
Dentre os ava nços mais significativos que ocorreram ao longo dos 
últimos anos concerne.ntes à cidadania LGBT, merece ênfase especial o re-
conhecimento, em 2011, por parte do STF, da união estável pa ra cas;:i is do 
mesmo sexo, o que lhes assegura a possibilidade de usufruírem os mesmos 
direitos que aqueles até então vigentes na união estável heterossexual. Esta 
medida teve desdobramentos importantes, com destaque pa ra a aprovaç:io, 
em 2013, por parte da Plenária do Conselho Naciona l de Justiça (CNJ) 
da Resolução nº 175, que veda "às autoridades competentes a recusa de 
habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável 
em casamento entre pessoas do mesmo sexo". Estas e outras iniciativas - a 
exemplo da decisão, em 2008, da Justiça Federal que obriga o SUS a incluir 
na lista de seus procedimentos cirurgias de mudança de sexo a transex uais 
(redesignação sexual), e do decreto assinado pela presidente Dilma Roussdf, 
em 2016, que autoriza travestis ou transexuais a utiliza rem o chamado 
"nome social" no âmbito da administração pública federal - evidenciam 
que, a despeito de todos os preconceitos e desafios a inda existentes, tem-se 
caminhado lentamente no sentido da criação e da ampliação de iniciativas 
que sejam capazes de assegurar a cidadania LGBT. 
Direitos étnico-raciaise cidadania 
A despeito da resiliência da interpretação segundo a qual o Brasil constitui 
um exemplo de democracia racial, diversas pesquisas vêm demonstrando, 
ao longo das últimas décadas, o quanto esta ideia esconde não apenas prá-
ticas de preconceitos cotidianas e institucionais, mas também a existência 
de desigualdades enormes entre brancos e negros, decorrentes do passado 
escravista do país. Sob a pressão de movimentos sociais vinculados à questão 
racial que se fortaleceram no decorrer dos anos 1980, com destaque para 
0 Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial (MNU), 
a Constituição de 1988 - que coincidia, ressalte-se, com o centenário da 
abolição da escravidão - trouxe alguns avanços importantes para o com-
bate à discriminação e à desigualdade racial, com relevo especial para o 
reconhecimento ao direito de posse aos remanescentes de territórios quilorn-
bolas - regulamentado, posteriormente, já no governo Lula, pelo Decreto 
Presidencial nº 4.887/2003 - e, sobretudo, à definição do racismo como 
crime "inafiançável e imprescritível", medida esta que foi posteriormente 
regulamentada pela Lei nº 7.716, de 1989, que estabeleceu de forma mais 
explícita os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça. 
Nas décadas de 1990 e 2000, sob a pressão não apenas dos movimentos 
sociais, mas também de organismos internacionais, como a Unesco - ins-
tituição responsável pela realização, em 2001, da Conferência de Durban 
contra o Racismo, na qual o Brasil desempenhou um papel importante e 
que estabeleceu diretrizes, compromissos e normativas fundamentais para 
o combate ao racismo-, os governos, em toda a federação, passaram gra-
dativamente a incluir na agenda de suas políticas públicas ações orientadas 
para o enfrentamento à desigualdade racial. Em âmbito federal, no governo 
de Fernando Henrique Cardoso foi cr.iado não somente o já mencionado 
Conselho Nacional de Combate à Discriminação (CNCD), mas também 
foram impulsionadas outras iniciativas, a exemplo da constituição do Grupo 
de Trabalho lnterminisrerial para a Valorização da População Negra (GTI), 
com o intuito de acompanhar e monitorar a implementação de políticas 
públicas voltadas para o combate ao racismo. 
No governo Lula, as ações direcionadas para a promoção da cidadania 
para a população negra ganharam novo impulso com a criação em 2003 
da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), que, 
em 2015, assim como ocorreu com a Secretaria de Políticas para Mulheres, 
mencionado anteriormente, foi incorporada ao Ministério das Mulheres, da 
Igualdade Racial e dos Direitos Humanos (MMIRDH), tendo retornado à 
condição de secretaria - porém sem o status de ministério que possuía - no 
,;f governo de Michel Temer. Data também de 2003 a constituição do Conselho 
Nacional de Participação da Igualdade Racial (CNPIR) e a publicação por 
parte do governo federal da Política Nacional de Promoção à Igualdade 
Racial, que, articulada ao Programa de Combate ao Racismo Institucional 
(PCRI) e ao Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Planapir) 
- aprovado em 2009, após a realização de três edições da Conferência 
Nacional de Promoção da Igualdade Racial -, conformou uma série de 
diretrizes para a elaboração de políticas públicas orientadas diretamente 
para o combate ao racismo e para a superação das desigualdades raciais 
no Brasil, bem corno para a garantia dos princípios da transversalidade, de 
modo a assegurar o recorte étnico-racial em todas as políticas executadas 
pelo governo federal. 
Outro marco fundamental para o avanço no combate às desigualdades 
raciais no país foi a aprovação, em 2010, do Estatuto da Igualdade Racial 
(Lei nº 12.888), "destinado a garantir à população negra a efetivação da 
igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coleti-
vos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância 
étnica", e do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir), 
voltado para assegurar a implementação das diretrizes ali estabelecidas. No 
campo educacional merecem especial ênfase duas iniciativas impulsionadas 
durante o governo Lula, a saber: de uma parte, a ampliação das políticas 
de ação afirmativa, que já tinham se iniciado anteriormente em instituições 
como a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), voltadas para 
garantir um sistema de cotas raciais nas universidades públicas federais; e, 
de outra parte, a criação da Lei nº 10.639, que passou a incluir no currículo 
oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura 
Afro-Brasileira. 
Apesar dos avanços destacados nas linhas acima, o racismo e as desi-
gualdades raciais ainda permanecem como características marcantes na 
sociedade brasileira no tempo presente. Para além das barreiras enfrentadas 
pela população negra no sentido de assegurar um acesso mais igualitário ao 
mercado de trabalho, a posições de liderança nos poderes público e privado, 
assim como a cargos de representação política, há que se chamar atenção 
para o fato de que os negros, sobretudo moradores das periferias, são aqueles 
mais atingidos pela violência do crime organizado e pela violência policial. 
Quando pensamos em termos de direitos émico-rJciais, devemos também 
trazer para a reflexão a temática dos direitos dos povos ind ígenas, que, a 
despeito das várias limitações, foram, em p~utc, protegidos pela Constitui-
ção de 1988, com destaque parJ um ca pítulo específico, que estabdece que 
"',á'l u rcconhcciJ011 ªº" índios ,;ua orga ni1.ação ,;ocíal, costumes, línguas, 
crcnç:i,, e rrntl1çõc-,, e or1 dirci1 011 origin:ínoc; ,;obrem; terras que rrndícional-
mc:111c ocurn m, compct indo ií Uni.lo dcmard-las, proteger e fazer rcspci ta r 
tr,do11 o 'l f.<:W, benr;". Oi, di reito, prcvi'ltos na Carta Coni;ritucional vieram c;c 
,;1,mnr l'I lc14i,ilação ordiná ria, cm c1,pccial a Lei nº 6.001, de 1973, o chama-
do E'ltrttuto J u fndío- que regula os direito<; 1ndfgen:rn, ma& que demanda 
rcviri1lcJ e n1u:1 lizaçilo pnrn 11e coadunar com 01> avançoc; das disc11s11ücs cm 
rornn do-. dire11 011 colc11vn11 dai. populnçõc•, inJígen:rn, que avn nça ram ao 
1,,nw, do" i'1lt1 mot1 anos - e foram complemcnrnc.lo1, por convenções inrer-
n:m'1nni11 r:111ficadnll pelo Hrn111 I, com de,raque para o Convençfio n. 169 
da O rg;rn1zoçiJo lnrcrnaciona l do Tr:ihalho (OIT) !lobrc l'ovo,; lnuígcnas e 
Trih.111,, q11e recon hece: d1rci101; variaJos OO'I ()1JV01> inJí!)C.:nas. 
Na,, J écnda•, 11cgulnte•,, npc,ar do imporranre pnpel desempenhado pela 
P11mlaç ,ln Naciona l do fndio (Fun :1 1), 1n~1ituiçi\n rcspom,5vcl pel:, cxccuç;Jo 
dnrJ polí11c:111 ind1gc111~1ns du governo fcJernl, os clircitofl colcrivm, dos povos 
indf~cnr,,1 virnm·"e cm con,;rnnrc nmençn , ,mbrcruclo como dccorrí:ncin da 
cxp:11111;1,, de nriviJnclc~ :1gr/cul:l', cm cli rcçilu n rcrrns pcrrcnccntc., a c<;tcs 
p11v11'i, de polhlc:11; "de•,cnv, ,lvi rncnt i1.ra.," exccut:1d:1~. pelo 14ovc:rno fcdernl 
- n exemplo dn co111,1ruç:ln do h1dr11clétr1cn ele Bclr) Monte, no rio Xing11, 
nn l'nrtí, d11rnnrc: oi. l)DVcrnoi, 1.uln e Ddmn, que nilo lcvar:i m cm conrn :tR 
rcivin<l lcnçl\cR Jn~ povo,, indígc 11n1, e:, prorcçílo ele 6cus rcrrit6rim,-, e de ini -
cla1i va1, lcvnd:, ,i ad111111 c pelo governu Temer, no 1,cntido de dific11l1:1r, qunndo 
nr111 1111 crrnmpc:r, o prm.e""' de dc:rmrrcnç:1o de 1crrn1, inclígcnm,, n1enJc11do 
o rciv111diu 11;1)c,. de P.ctorci, rurnlii.1:11,. N11o ob111anrc c,,;c1, prm:e.,.,oi-. , nvnnços 
Bi11,111ficr111vrn, ncc,rrc:r,,rn no-. último11 nno1, no que concerne :,o., clireiros cnn,;-
11111c1onnh, dm, povos lndígcn1111, o exemplo d n c<infirmru;rl o, cm 20 13, por 
p.rrrr du ~TF, conr rn n prci.-..fo de 1,erorc i. ru rnli1, r:1h, cln dc: 11111rcm; Jo crn 11 í 11un 
dn Terr,1 lncH,tc11n J< apn,11 Tcrrn do Snl, nn c-.rado de l{ur,1in1.1. 
Dlrolto~ ~ocloh dos trnbolhodorc!I 
(~ f1111d n111cn1nl q11c lcvc111n1, c 111 co111n q11c, nn co11 j11n1 11 rn de nmpli.1ç11ndu-. 
d1rcllrn, cJn I t11l)llll10 pl'in Co11 11 11111iç11u tlc 19H H, u Hr.1 ., i I pn,1111 v11 por rrn11s-
Ím1nn~ôcii cm N11 11 C:l1Hlll1111,1 l'.íl r,1~1cr1z11da11 pelo tl1·,111rn1tc de uni projet o 
nacional-dcscnvolvi mcntista, iniciado ao fim da década de 1980 e concre-
tizado na década segu inte, cujo tom foi o da desindustrialização (Pereira, 
2012). Ta l mudança teve impacro imediam sobre o mercado de trabalho, 
aumentando a informa lização das relações, a perda de direitos traba lh istas 
e previdenciários, a d iminuição da renda média, o crescimento excessivo 
do setor terciá rio e a ampliação do d esemprego. Dessa forma, a dcspc:ito 
de a C.i rta Constituciona l prever uma série de medidas protecionistas, a 
necessidade de regulamenrnção d e muitas delas e o conrexro de vigência 
no país de med idas econômicas neo libera is, marcadas pela liberalização 
comercial e fin anceira genera lizadas, impediriam a sua concretização. Em 
que pesem ns adversidades e.la conjunrura econô mica, a Constituição de 
1988 garantia aos trabalhadores os im,trumenros necessários à manutenção 
de seus direitos, sem que, no enranto, c::.tivcssem assegurados pelas normas 
infraconsrirucionais. 
Diante dcsi;a conjunturn, a bria-se um campo de disputas pela retificação 
de convenções internacio na is, pelo regulamentação de direitos previstos e 
pela manutenção de conqwsta::, a nterio rmente: obt ida:. no .imbico da Carta 
de 1988 . Como veremos, ao lo ngo de quasc trinca ano._, t:11 disputa envo lveu 
perdas e ganho s e esteve diretamente rcbcio nada às opções macroeconô-
micos feira s pelo" governos qui:: se sucedera m. 
Por o utro lado, foram mantido::, pc:b Consrit uiç:1o de 1988 a unicidade 
::.indica i, o enquadramento po r categoria::, espccífica:. dos trabalhadores nas 
o:.:.oci11c.;ões rrnbalhisrns, bem como o sistema confcdcrntivo dos sindicaros. 
f orn m ~nrnnritloi-. o livre dircito ele nssuciaçào, manifestaç.3o e auto nomia 
dai-. n~rcm1:1çôc:, dinnrc cio:, pu<lcrc:, públicos, cm rc:spciro :\ Convcnç:io 87 da 
orr (O r~nizaçi1o l11tcrnacio11ul do Tmb.1lho). a qu.1I previa o princípio da nfo 
imcrvcnç.lo do Esrndo sobre a orµnn izaçüu sind11.:a l. Para Vianna~ Burgos e 
Snllel> (20 10), isto se explica pelo fato de o:, com.t ituintes esforç.ircm-sc por 
reter no novo texto cum,t ituc iunn 1 .1 rrad,ç.io políricn br:1sikira do mundo 
do t rnbal ho, ma rcncJJ lw,turicn 111c11tc pcl.1 fo rtt: p:1rt11.:ipnç .iodo Estado com 
u lim de rq..:ulnr diH·i1us soci.1i,;. 
N.io ca hl· f.1t.crmus um invl·nt:írio cx.1usrivo de codn:. ,1s mudanças 
ornrrnln" npós u que foi cst.1hclcc1do pc:l.1 C.irtn Constirucion.11 de 1988, 
ou para 1m·ll1o r d,·finir n .,pl1cnçào J n Constitu ição, o u par.1 a lti:: r,í-1:i cm 
1,c:11:, prirn:ípiu~. M.1:. farc1no:-. uma . .111.\ li 'il' ela~ ., heraç0cs m.1is signilicativas 
de cada governo. Como O leiror ~ <lerá ~bs~rvar, muit~s mudanças impli-
ca ram perda significariva de direitos. Nao soa CLT foi desfigurada, corno 
a própna Consriruição, de modo geral , resultando em perdas significativ 
para os trabalhadores. Por outro lado, houve ampliação de direitos pa~ 
algumas categorias. É importante fazer o balanço de perdas e ganhos. Prova 
de que nen hum direito garanrido por lei é perene e intocável, mas objeto 
permanenre de disputa. 
Ao longo do governo Sarney, a mais importante regulamemação apro-
vada foi a relan,·a ao seguro-desemprego, previsto no inciso II do artigo 7 
da Constituição de 1988. A lei regulamentava o seguro, bem como criava 
0 FAT (Fundo de Amparo ao TrabaJbador), vinculado ao Ministério do 
Trabalho, cujo fim era financiar o pagamento do seguro, entre outras 
ações.. Cabe destacar que o seguro-desemprego era um direito já há muito 
reconhecido em democracias sociais; pelo menos na Inglaterra, datava de 
1911 - mas no Brasil. embora previsto na Constituição de 1946, só muito 
recememenre ha,·ia sido posto em vigéncia. 
Outra lei de fundamental importância, ainda aprovada no Governo 
Sarney. fo1 a que dispunha sobre o clireiro de greve (Lei nº 7.783/1989). Esta 
le, conferia amplo direiro aos trabalhadores, desde que não paralisassem 
atl\;dades essenciais e que notificassem seus patrões com amecedéncia mí-
nima de 48 horas. O julgamento da procedéncia das reivindicações caberia 
à Jusriça do Trabalho. 
O governo Collor, de matriz assumidamente neoliberal, pouco realizou 
no campo da redução ou flexibilização dos d.i!eiros trabalhistas. Das 11 
leis direramenre relacionadas ao trabalhador, destacam-se poucas, como 
mudanças na gestão do FGTS e do próprio F.-\T, criado no governo que lhe 
antecedera. Ourras medidas foram atinemes à assistência e à previdência 
dos rra ba lha dores. 
O que explicaria cais medidas. a maioria delas, aprovadas em beneficio 
dos trabalhadores? Segundo Vtan0a. Burgos e Salles (2010, pp. 40-l2), 
ta.is medidas foram apro,-adas por parlamentares que compunham um 
forre bloco oposiaooista de cariz progress:isra ou de esquerda. O d.iscUJ.-so 
do governo. no emanro.. era em deksa do negociado sobre o legislado e, 
p3r3 tal. Collor pl10ej:1,-a alre.rar a Constituição de 1988 no que ra.ng' à 
redução do poder dos smd1 ... ""3ros e da próprid Jusri,;:a do T r-.Ü.\:.l.ho. in.~a-
ovas interrompid~ pelo impeachment •- . L. • 
d 
e Ç>':14 s.ua :.wY>-tq1u-nr~ rer.t:r.c:?. ~..<J 
governo em ezembro de 1992. 
Substituído pelo seu vice J F 
. . . ' tamar ranco, uma n<r1a cr.nl1710 de f<>:'yj 
impedma que d1re-itos garantidos pela Ca Cr . · 1 f 
. . . rta .lf"tr!u<:1-0:1.a <h'Jém 7fr 
tos em nsco. Inumer~ leLS foram ~2.ncio· -d . . . .....1 d na .a-,, ":,egur2r.u-'1-Y. 1r~:r» 
aos trabalhadores, entre elas algum.as alterações ~ 
. d lá . . . no seg.ur .. ,çrey>, 
garannas o sa no mm,mo e rP01,fam ...... ~·-d<, --'e - , I" , _ -o- ..... ....,.,._ 1., au~s ao r::-~.ua . ..:.<J. 
Duas leis acerca da jornada de trabalho foram aru-rw-· ---' - . • 
r •J , =~ e SU2 , rr. p<>rt.a r ..Q4 
está no fato de regulament3rem os ....-:~~ d" ...1 •• - ...1. , • .,-~ .. ,~ - ~.an .. ~ e ~ eY..c. -.li:e:n 
da jornada atividades incompative-is CQm os fifü, e-:e-r:rualm.e:.u e-.r..eroc:as 
pelos trabalhadores. 
A partir de 1994 ocorreram alguITl.2.5 m,v-1,, ___ po,.,..".., l , -
_ _ · ~",43 ,,,~is 112 eg:,:aÇ?-D 
trabalh!Sta e soc1a~ que, SOffi2d.as, implicariam ahe:ã_ç.óe-s s:.g:;:i.;f..:.,rn--:-~ da 
legislação consagrada pela CLT e refe-rendz.rl2 pelz G..na d-; 151~ . . --i..í;-:u 
nos referimos à Lei nº 8.949, ariflfT!t.e à organiz.:;_çj...o de cooperd!.i ,4, ;..,~ 
permitia a inexistência de vínculos empregaricios dos c:ocpe:~ dt ; r-
ma que os trabalhadores associados pudessem rra.h--,Jhar soi e;,:• U~.J)'S 
trabalhistas mínimos fossem respeitados. Embora tal merli<l.a oc,s.sa cr~~ 
inofensiva ao conjunto de direiros, a corrrra:tação cif ~<.Ir.~- ;):"...::a .a 
prestação de serviços iniciou um proces.so de preca_~ &s ~ & 
trabalho. 
A Lei nº 9.601 de 1998, já no go-;-e-:-no FeTD.2.nclo H~ur.ç-:...!... roo.:: a 
mudanças significativas-, ao possibilitar a c:om:ra~~ dr rr-..b:: ~~~i~ 
por tempo detenninado e com ra:kç.,~ de cus::üS socia!s ~ r"2 as. e. . es.Es... 
desde que fossem ,agas 2.dicionai.s.. -~ ali-q-...«2 dr co= 1r4o éo fGTS 
foi reduzida para esse tipo de corr~ i::eo co:r:o ~ e ~'~ , e::: r:::-.fo :::r 
rescisão u.nilareral Ess.: mesma h:grs'~Ç20 -c..ex:b~o~ ---~ e2,. .:::.::3 
elimina ,a direitos. pre"ia a re&:~o do r.::_~ - ~go à C.0 :-2 c:r_ ~ -; •~ .._ = ..: .., 
A jornada de a--dxtlho fo1 ffe:x:ibilizad.d ao a poss,"½ .:..:_..: = "' :: .:e = =-7 - c.t 
um banco de horas.. o qi..:t2 2.here..-a o ar t~o 59 da CL T. -~ -=-~~,:- ,.:,J ~m 
possibilira\-a que a jo.:-ü2..:!a ~ ~ ti dez c..:r-as : ~= - .:s... ~ ~ 
compc---:::L.'2-da.s em 0-4.,_~ é=.:s. · 
' ·-0 rr--nn - "" .: \ I ... ,i ._ ,i : 0-. .• ---==-....:.: \ ("D' l - ..: ----- . .: :e : :e : '-~ .: ~a -" i...L.~~"'-'~~ - -l .... ~"\,,,.....!. ~ ~\J •~"-.,_ _ - '.-I - - - "' -'""'--=- -- -
de rrab-...tlho r<>=- ~---v ç-:' ~ -~ --:o ç:t ~ ~- -~~ .! : .5 :i:>-K 
s".m..mai.., ,~....;,' .,,-:lv .:.:;-:...~,.~ 3 :xr;-c5- -:--~ -.:....'l'S 0C : -~:i:5,. ~ ;::_:::li! 
. 
1 b Ih dor Nesse caso, 0 salário seria proporcional às autorizados pe o era a a . . d . . 
b lh d S O q
ue implicava redução salarial e de outros 1re1tos horas era a a a , . · l ' · . l l 1 dos como férias décimo terceiro sa ano, entre proporciona mente ca cu a , ' 
ouuos. bºlºd d Fº 1 d 1 
- ·d es pu' blicos a Lei de Responsa 1 1 a e isca e Em re açao aos servi or , . 1998 e 2000 (Lei Complementar 101), que complementa~a o artigo 169 da 
Carta de 1988, estabeleceu que os gastas com pessoal nao ult~a~as~assei:n 
· f d 1 60º¼ das receitas estaduais e mu01c1pa1s. Tais 50% da receita e era ou O _ • 
limites achatavam os salários dos servidores, que so seriam a~menta~os_em 
caso de crescimento de receita. Como o período era de recessao eco_nom1ca, 
toda a burocracia estatal teve perdas consideráveis em_ se~s rend1m~ntos. 
Em junho de 1999, a Lei nº 9.801 possibilitava a de~1ssao de ~erv1dores 
públicos estáveis com vistas ao curoprimen~o da m~d1~a anterior. Como 
agravamento da perda de direitas dos serv'.d~res pubh~os, no ano 2~00 
foi permitida a contratação de servidores pubhcos celenstas, que perdiam 
a estabilidade no emprego. 
Os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso foram marcad~s 
pela polarização entre dois modelos em relação às políticas_ de_ prote~ao 
aos direitos do trabalhador. O primeiro, representado pelo propno parudo 
no poder defendia O paradigma da livre negociação entre trabalhadores e 
patrões, i revelia do papel regulador do Estado. O segundo, liderado~pe~a 
bancada do PT no Congresso, sustentava o oposto, ou seja, a prevalencia 
do legislado sobre o negociado (Viana, Burgos; Salles, 2010, P· l '.). _ 
Na conjuntura em que o modelo de FHC foi posto em vigor, os s111dicatos 
encontravam-se fragilizados, em decorrência da crise econômica, o que os 
colocava em condições vulneráveis nos momentos de negociação e emba-
tes. Em razão desse contexto, muitos sindicatos foram forçados a celebrar 
acordos que flexibilizavam salários e jornadas, em troca do compromisso 
com a manutenção do emprego (Delgado, 2007, p. 129). 
Em meio à conjuntura altamente desfavorável aos trabalhadores, a 
preocupação do governo, com o fim de evitar a retomada do crescimento 
inflacionário, foi a de desindexar os salários, o que foi feito por meio da 
MP 1.053, de 1995, pela qual ficava proibido qualquer reajuste automático 
de remunerações com base na inflação, passada ou projetada. Tal desinde-
xação atingiu em cheio o salário mínimo, que em 1997 (MP 1.906) deixou 
,cc 
de ser reajustado automaticamente e seu valor passou a ser arbitrado pelo 
Poder Executivo, em todo mês de maio. Os previdenciários tiveram seus 
benefícios igualmente desvinculados do salário mínimo, o que os deixava 
em uma situação de extrema vulnerabilidade. 
Em meio à crise econômica e às amarras postas sobre os sindicatos, 
restava a greve como forma de reação. O Projeto de Lei nº 1.802, editado 
em 1996, atribuiu a responsabilidade das greves aos sindicatos, que reriam 
que arcar com multas que variavam de 500 a 1.000 salários mínimos, se 
as greves fossem julgadas ilegais. 
Ademais, o governo de Fernando Henrique tentou reduzir as contribui-
ções sindicais obrigatórias. Na prática, criava um atalho ao imposto sin-
dical, ao prever uma contribuição negociada, de valores pré-pactuados em 
assembleias gerais de trabalhadores, para cuja realização bastava a presença 
de 10% da categoria, sindicalizada ou não (PL 3.003, 1997). 
Destaca-se, por iniciativa do Legislativo, a aprovação do Decreto nº 178 
em 1999, que regulamentou as convenções 182 e 190 da OIT, que proi-
biam formas degradadas de exploração do trabalho infantil com vistas à 
sua eliminação. Não houve veto por parte do Executivo, o que comprova 
cerra sensibilidade do governo em relação a setores muito marginalizados 
socia lmente. 
Duas medidas em prol dos interesses dos trabalhadores foram aprovadas, 
a MP 1.986 e a Lei nº 9.957, ambas no ano 2000. A primeira possibilitava 
que as empregadas domésticas, demitidas sem justa causa, tivessem d ireito 
ao saque imediato do FGTS e ao seguro-desemprego, no valor de um salá-
rio mínimo, durante três meses, pago com recursos do Fundo de Amparo 
ao Trabalhador (FAT). A segunda acrescentava à CLT a implantação de 
procedimentos sumários para dissídios individuais que não ultrapassassem 
quarenta salários mínimos, o que tornava mais ágeis as demandas proces-
suais individuais de cunho trabalhista. O processo sumaríssimo teve seus 
custos reduzidos, bem como suas exigências burocrát icas. Seu objetivo 
era promover em curto prazo a conciliação entre as partes, com vistas à 
solução dos conflitos. 
Nesse campo, no mesmo ano, a Lei nº 9.958 autorizava as empresas 
e sindicatos a criarem comissões prévias de conciliação para evitar que 
processos fossem encaminhados à Justiça do Trabalho. Caso as comissões 
paritárias chegassem a um acordo, um título executivo extrajudicial, de 
eficácia liberatória, poderia ser emitido. Caso o acordo não fosse possível, 
a comissão encaminharia o resumo das negociações junto com a petição à 
Justiça do Trabalho. Tais medidas tinham por fim contribuir com a livre 
negociação entre capital e trabalho, reduzindo custos e afazeres da Justiça 
do Trabalho e retirando o Estado do processo de regulação de tais relações. 
A Lei nº 10.101, do ano 2000, foi uma importante iniciativa do governo 
no espectro de sua agenda neoliberal, urna vez que previa a participação 
dos trabalhadores no lucro das empresas, sem o compromisso com o pa-
gamento de custos sociais e permitindo renda variável adicional para os 
trabalhadores, não incorporada aos salários. 
Em 2001 foi aprovada nova alteração da CLT (artigos 58 e 458) por 
meio da Lei nº 10.243, segundo a qual se alrerava o cálculo da jornada de 
trabalho e se estabelecia com maior precisão o que entrava no cálculo do 
salário dos trabalhadores. No primeiro caso, estavam excluídas as horas 
gasras com os deslocamentos para os locais de trabalho, e, no segundo 
caso, excluíam-se do cálculo equipamentos concedidos aos trabalhadores 
para o exercício de suas tarefas. 
Diante do exposro, torna-se patente a opção do governo Fernando Hen-
rique por regular o trabalho por meio de medidas provisórias. Algumas 
delas chegaram a ser reeditadas mais de setenta vezes. Tendo no Congresso 
Nacional forre oposição de grupos organizados à esquerda, FH valeu-se dos 
instrumentos que tinha para colocar em prática seu programa de governo, 
que privilegiava a lógica do modelo negociado sobre o legislado. Em seu plano 
de governo estava firmado o compromisso de elaborar um novo "Código de 
Tra_balho", que substituiria a CLT, a instituição do pluralismo sindical, o fim 
do im~o~to sindical e a implantação de um sistema que possibilitasse a livre 
negociaçao entre capital e trabalho (Vianna, Burgos e Saltes, 2010, p. 60). 
C~mo se viu, embora renha tentado fazer valer seus projetos, Fernando 
Hennque não con · 1· , 1 · · s . . seguiu rea 12a- os em sua totalidade. Encontra na multa 
res1stencias não - d - -. _ ' so a opos1çao, como dos próprios trabalhadores, mesmo 
fragilizados pela · d cnse e emprego e pela recessão econômica. O governo 
tema va romper com d · - 1 , . uma tra 1çao trabalhista de fortes raízes na cu rura 
polmca brasileira S - · - . . - _ 
. _ _ _ · 0 conseguma operar tais mudanças por meio da impo 
s1çao sumaria ou . I . 
' se1a, pe as medidas provisórias. 
Os trabalhadores, por sua vez, fragilizados e ameaçados, só poderiam 
ter um comportamento meramente reativo. Os índices estacionários de 
crescimento econômico reduziam drasticamente a empregabilidade e infor-
malizavam ainda mais a economia. Como boa parte das mudanças eram 
impostas por meio de medidas provisórias, a única reação possível eram 
as Adins (Ações Diretas de Inconstitucionalidade), por meio das quais 
recorria-se ao STF para que os trabalhadores fossem protegidos da ação 
de um Estado que,segundo sua avaliação, os lesava. No mínimo, vinte 
ações foram perpetradas, a grande maioria delas por sindicatos ou por 
suas confederações. 
Cabe desracar a reforma previdenciária, proposta em março de 1995, 
que alterava as regras tanto do funcionalismo púbhco, quanto do setor 
privado para fins de aposentadoria. Tal reforma corporificou-se na PEC 33, 
que após tramitar no Congresso sem êxito foi reconfigurada e aprovada ao 
final de 1998, como Emenda Constitucional nº 20. 
Por meio da emenda foi suprimido o reto de até vinte salários mínimos 
para aposentadoria por tempo de serviço, bem como foram alterados os 
cálculos sobre as contribuições, as quais passaram a ser a média aritmética 
dos últimos 36 meses de contribuição. Para o cálculo do direito à aposen-
tadoria, o tempo de serviço foi substituído pelo tempo de contribuição. 
Tais medidas tinham por fim ampliar o período de contribuição e reduzir 
as remunerações. Como a idade permaneceu a mesma (60 anos para as 
mulheres e 65 para os homens), o governo criou o " fator previdenciário", 
que levava em conta a idade no cálculo do benefício. Para os servidores 
públicos, os limites de idade foram menores em cinco anos. 
Ao fim e ao cabo, os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso 
foram bem-sucedidos na alteração de três conjuntos de direitos: a flexibi-
lização das contratações, a resolução de conflitos entre capital e trabalho 
e a jornada de trabalho, com criação do banco de horas. Tais mudanças 
alteravam parte significativa da CLT. 
A vitória de Lula nas eleições de 2002 criaria novas expectativas, por 
parte do movimento sindical organizado, de que os avanços neoliberais 
finalmente tivessem fim, sobretudo como decorrência da origem sindical de 
Lula e do Partido dos Trabalhadores (PT). Embora, co mo to do governo 
de coaliz,10, houvesse divergências, alguns consensos foram esta belecidos ao 
o Tt: M PU u~ f\lUVM nLr VV'-•-~ 
longo do processo eleitoral em relação ao mundo do trabalho, que poderiam 
ser sintetizados em três pressupostos: autonomia sindical e fortalecimento 
das centrais sindicais; revisão e aprimoramento do papel da Justiça do 
Trabalho; respeito à integridade dos direitos do trabalho. 
Lula, em seu discurso de campanha, havia anunciado o interesse em garan-
tir que direitos perdidos pelos trabalhadores fossem eventualmente retomados. 
Em 2003, a Lei nº 10.790 concederia anisria a trabalhadores da Petrobras, que 
haviam sido punidos em virtude de sua participação nas greves que assolaram a 
empresa nos anos 1990. É de conhecimento dos contemporâneos as inicia tivas 
ocorridas no governo de Fernando Henrique no sentido de enfrentar com rigor 
as greves dos petroleiros, punindo-os com demissões e multas. 
O ano de 2004 ficou marcado pela aprovação da Emenda Constitu-
cional nº 45, relativa ao funcionamento da Justiça do Trabalho, que teve 
sua competência material ampliada para as ações oriundas das relações de 
trabalho e não mais das de emprego. Um importante artigo proposto pela 
reforma (§ 3º do art. 5º) introduzia a norma de que, caso fossem aprovados 
em dois turnos, tratados e convenções internacionais relativos aos direitos 
humanos se tornariam equivalentes às emendas constitucionais. 
Segundo o que previa o artigo 114 da Constituição de 1988, era a Justiça 
do Trabalho o ramo do Poder Judiciário encarregado de arbitrar todas as 
questões relativas a empregados e empregadores, pouco importando se tais 
questões envolvessem empregos informais, temporários, urbanos ou rurais. 
Mas para que tal competência - a de arbitrar relações de trabalho de for-
ma generalizada - se operacionalizasse seria necessária uma lei atributiva, 
0 que fazia com que se ocupasse a Justiça do Trabalho majoritariamente 
das relações de emprego. Com a Emenda Constitucional nº 45, qualquer 
trabalho humano passou a ser por ela tutelado. 
Fa_z parte do desmonre de algumas medidas aprovadas pelo governo 
antcr_,or um decreto de autoria do senador Paulo Pa im em 2004, que sus-
pendia a Portaria 180 ga . · d 'b · - · · · · · O . , rantm o a contn u1çao sindical obngatona. 
compromisso com a ga · d • . t . . rant,a a autonomia sindical - que passava pe a 
ausencia de regulação do E d fi . d 
1 
_ sta o com o m do imposto sindical-era frea 0 
pc a açao corporativa d · d' 
A L . e sm icatos e de suas pressões sobre o Congresso. 
e1 Complementar nº 123 d 20 . 
em direç- - fl .
6
.
1
. _ ' e 06, contudo, dava um passo maior 
ao a ex, , izaçao d 1 . b . 
as eis tra alh1stas. Truta-se do Esrnruco Na-
cional das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porre. Tais empresas 
estariam dispensadas de registrar férias em seus livros, o que impedia a 
fiscalização do cumprimento de um dos direitos mais importantes do tra-
balhador. No ano seguinte, a criação da chamada "Super-Receita" (Lei 
nº 11.457) ampliava o papel da fiscalização ao reestruturar o setor, mas, 
com o fim de reduzir a ampla rede de atuação do órgão para otimizar seu 
desempenho, acabou por diminuir o controle do Estado sobre empresas de 
uma só pessoa. Neste caso também se dava margem para a flexibilização. 
Ainda no caminho da retomada de direitos perdidos durante o governo 
anterior, o presidente Lula enviou ao Congresso Nacional a Mensagem Pre-
sidencial 59, no ano de 2008, relativa à adesão do Brasil à Convenção 158 
da OIT, já referida anteriormente, que versava sobre os limites às demissões 
dos trabalhadores. Em 1995, ainda no governo de Fernando Henrique, a 
convenção havia sido ratificada para passar a vigorar em até um ano. Juri-
dicamente passou a valer após a aprovação do Decreto nº 1.855, de 1996. 
Sete meses depois, o mesmo governo denunciou a ratificação, por meio de 
nota enviada ao diretor-geral da Repartição Internacional do Trabalho, a 
qual deu origem ao Decreto nº 2 .100, do mesmo ano, o qual previa que a 
convenção deixaria de vigorar no Brasil. Na ocasião, Fernando Henrique 
justificou que sua mudança de postura se explicava em razão da necessidade 
de flexibilização dos entraves ao livre mercado de trabalho para a solução 
da crise econômica em vigor. De imediato, a Contag (Confederação dos 
Trabalhadores na Agricultura) e a CUT (Central Única dos Trabalhadores) 
entraram contra a medida por meio de uma Ação Direta de Inconstitucio-
na lidade no STF. 
A Mensagem Presidencial de número 59 propunha novamente a ratifica-
ção da referida convenção. Tendo recebido parecer contrário do deputado 
Júlio Delgado (PSB-MG), a mensagem não foi apreciada e a disputa se 
estendeu durante os anos seguintes na Suprema Corre, sem solução. 
O governo Lula também legislou em prol das centrais sindicais, reco-
nhecendo-as como órgãos de representação geral dos trabalhadores e mo-
dificando o artigo 589 da CLT, para que fosse possível repassar às Centrais 
valores oriundos da cobrança do imposto sindical.~ De certa forma, tal 
medida ia ao encontro dos compromissos anunciados, tanto pelo PT quan-
to pela CUT, após a extinção do imposto sindical, agenda defendida por 
estas organizações em sua fundação nos anos 1980. Diante da ampliação 
de recursos, ambos se acomodaram. 
Diretamente relacionados aos direitos sociais dos trabalhadores foram 
a reforma da previdência operacionalizada por Lula em 2003 e os reajustes 
do salário mínimo. No primeiro caso, em razão de seus fortes índices de 
popularidade e da base que possuía no Congresso, Lula conseguiu aprovar 
medidas que, por causa da resistência dos servidores públicos, não puderam 
ser aprovadas no governo anterior. Entre elas, a cobrança da contribuição 
pre,,idenciária dos inativos, a fixação de idade mínima para aposentado-
ria e o estabdecimemo de um teto para os benefícios. Tais iniciativas se 
contrapunham às agendas históricas do PT em relação ao tema, bem corno 
aos compromissos estabelecidos ao longo da campanha eleitoral. Corno 
consequência desta e de outras posturas, ampliaram-se as críticas e se for-
> taleceu o coro dos dissidentes, o que le\·ou à criação do Partido Socialismol e Liberdade (PSOL). 
No que tange aos reajustes do salário mínimo e de sua equiparação ao 
salário de rodos os aposentados. são inconrestá,·eis os números que revelam 
uma apreci,ção prog:ressiT"a da renda do trabalhador e do aposentado ao 
lor:g:o d:: seu5 dois mandatos, sobrerudo se comparados aos indicadores do 
go\crnO 2.Iüêr:Or. quando houw decréscimo significaà,·o do salário mínimo 
a::i relação 20 PIB. 
~ ar--;,::i-.r:2do 2 ootros go\-emos, o aà\ismo regula ró rio no período 
Lula ~~""!? ir:e::s= .J ; ç f e p<>UC2.S mudanças foram realizadas, muito em 
r:zãod.a r::s:s::é::xia dos pJÓ?:-cos <:i:J:d:c-2tos.. que remiam por seu fururo sem 
0 ~~ ê2 rr-=' c:s.r---::çio e ' :'Til alrern.am·as financeiras que viabilizas-
scH,e:J ~ :i - ~ :o. E::::i 1008 foi criado um grupo de trabalho dentro 
d o ~!---s:==x>éo T-L•i.. - r-_ . . · · d . · •= e =;e~ com dirigentes das cenrra 1s s10 1cais 
~ 2 ~--Ç20 C:t- l!J.::l F:ü;Em d.= !ei ou.e ore...-i.ss.e o 6.m da contribuição 
s::::r:: ~ J a:- ~;, . . . . . . 
_ : ' - ~a ~ e: 2rordos inviabili.wu a proposta. 
t 't;. . G..-::.~ - · ' -= ff . ~ · - ... n: ·,:c.s ~:oo~da.s ~ go•;erno Dilma Rousse , que 
!.l- ~~"2=. &::::a 00 ; - .,J :c::2---r::re 20 mundo do trabalho desraca-se a 
~ - e: . G:cs:::: - , . ,. ª . e-- ::::'Q3aJ =-L. z;:,ry,<õ'3.i: em 20 13 e conhecida como a PEC 
~ ---:.~ ;:-f:"X,~ ,,_.. • . 
-- _ _ _ -= • · ·--------= =r=-_ --:o-::..ada. D 2 ela a sua im po na n C1 a, por 
- -; ~ •,r:. 
2
.:_~==-....a e.= ~ c -- '!.,;::-o e ;:Jj =..!l a ~dores, ela será abordada 
.._ 1 ..., M U' ,-,.. 1~ 1 "" r, u I t: IVI t"' u t"' K t :> t N I t 
Certamente, a Convenção 189 da OIT que versava sobre a proteção 
aos trabalhadores domésticos, aprovada em 2011 em Genebra, funcionou 
como um combustível necessário às discussões que já se processavam no 
Parlamento em torno da necessidade de regulamentar um dos ramos de 
trabalho mais precarizados do Brasil. Para que o país pudesse ratificar 
a convenção, tornava-se imperativo alterar o artigo 7° da Constituição 
Federal, que excluía os empregados domésticos de urna série de direitos 
trabalhistas previstos para as demais categorias. 
Dessa forma, em dezembro de 2012 foi enviada ao Congresso pela Pre-
sidência a proposta de uma PEC estabelecendo a igualdade de direitos enrre 
todos os trabalhadores, sendo eles domésticos ou não, residentes no campo 
ou na cidade. Corno é sabido, o trabalhador doméstico é aquele contratado 
para trabalhar para uma pessoa física ou família em ambiente residencial , 
que não tenha fins lucrativos, de maneira contínua (três vezes por semana 
ou mais). De imediara, após a aprovação da PEC, alguns direitos foram 
garantidos, como a jornada de 44 horas semanais e o pagamento de horas 
extras. Os demais ainda dependeriam de regulamentação posterior. 
No campo da previdência social, duas reformas impactaram diretamente 
os traba lhadores no governo Dilrna. A primeira foi o fim da aposentadoria 
integra l dos servidores públicos, que passaram a ter que contribuir para 
uma previdência particular com o fim de complementação da aposentadoria 
pública. Além disso, as regras de aposentadoria foram modificadas. Para 
as mulheres, a soma da idade com o tempo de traba lho deveria ser de 85 
anos, e, para os homens, 90 anos, sem faror previdenciário. 
Destacam-se, igualmente, restrições ao seguro-desemprego e ao paga-
mento de pensões, medidas que prejudicaram trabalhadores em situação 
de marginalização e risco e pouco impacto tiveram sobre o o rçamento. 
Tais medidas compunham uma receita de ajuste fiscal, incompatível com 
o programa de governo aprovado pelas urnas nas eleições de 2014. 
O governo de Michel Temer, ao aprovar a reforma trabalhista no Con-
gresso, deu passos la rgos em direção à flexibilização da legislação trabalhis-
ta, que, como se viu, vinha ocorrendo desde a década de 1990. A principal 
alteração em relação à C LT, que já vin ha abalada, foi a proeminência do 
negociado sobre o legislado, ou seja, direitos legais exisrenres poderiam 
deixar de ser contemplados, desde que re-sulranres de acordos encre era-
- c decorrência das fragilidades da organização balhadores e patroes. orno . d 
. d I b ·1 . s perdas para os trabalhadores foram muito gran es. sin ica ras1 eira, a I b I fi 
· d anhar por meio do relato g o a que zemos Como o leitor po e acomp , . . _ 
d ·d dani·a social a partir da Constttu1çao de 1988, algumas dos avanços a c1 a · _ , . h 
- r 'eiras à guisa de conclusao. E preciso recon ecer ponderaçoes merecem se ,, . . _ . , _ . fi . 
que a previsão de direitos sociais na Consmu1çao, por s1 so, nao fo1 ~u ~lente 
·dade dos direitos. Mas a sua tutela const1tuc1onal para assegurar a perem . 
· · n, poderoso ,·nstrumento nas mãos dos trabalhadores, assim consrnu1u u . 
como de ourros segmentos, que sempre puderam dele se valer para conquis-
ta r judicialmente seus direitos. 
Como procuramos refletir acima, os d ireitos do traba lha~or ~ tal como 
os demais - vivenciam fluxos e refluxos, quando analisados h1stor,1c~mente_-
Nenhum benefício é definitivo ou imune à caneta dos gestores publicos e a 
pressão de determinados segmentos da sociedade, dot~dos de ,mai~r cap~-
cidade de pressão, como o empresariado e o setor ruralista. Alem disso, di-
reitos não são necessariamente cumulativos. Esta provisoriedade, sobretudo 
em países em que nem a democracia nem o Estado de Bem-Estar Social se 
consolidaram, como é o caso do Brasil, gera uma insegurança permanente 
e a necessidade de que os movimentos sociais estejam prontos para reagir e 
mobilizar as suas bases a rodo instante. E em geral, no momento em que se 
demandam reações em cadeia conrra a perda progressiva de direitos, estes 
movimentos encontram-se fragilizados e pulverizados. 
A trajetória da cidadania brasileira nas últimas décadas espelha o que 
aqui buscamos d iscutir. Inúmeros avanços em direção a uma sociedade 
mais justa e igualitária foram previstos não só pelo texto constitucional, 
como também pelas regulamenrações que lhe foram posteriormente acres-
centadas. Ao mesmo tempo, apesar de previstos pela C a rra Magna, nada 
impediu que tais direitos fossem retirados ou reduzidos por agentes estatais, 
mediante pressão de certos segmentos. Isso se torna muito claro em relação 
aos direitos do trabalhador. 
Em relação aos direitos políticos e civis e demais direitos sociais, embora 
os ava~ços tenham sido consideráveis, é importante destacar que apenas 
ª vigilancia constanre por parte dos movimentos sociais e a mobilização 
reativa dos grupos org · d - · · · · · as 
aniza os serao capazes de frear eventuais 1mc1a t1v 
conservadoras que tamb · b·i · . ue 
. ' em se mo 1 12am no sentido de fazer com q 
mu1tos direitos já conquistados sejam reduzidos. 
Só o estudo d a histó ria da nossa cidadania, por meio d a análise de seus 
atores e interesses, bem como d a compreensão d as muda nças p olítica s 
ocorridas no país ao longo dos últimos a nos, é c a paz de desvelar a com-
plexidade do fenômeno, para que não percamos de vista a volatilida de das 
conquistas e avanços e a porosidade da sociedade brasilei ra em relação ao 
que se passa no restante do mundo. 
Notas 
1. Muitas críticas foram feitas ao trabalho de Marshall, como a linearidade de 
sua abordagem, a omissão dos conflitos étnico-raciais e de gênero, a subesti-
mação das lutas classistas, a ausência de uma análise geopolítica, entre outros 
problemas. No enta nto, seu traba lho ainda fundamenta boa parte da pesquisa 
sobre cidadania no Brasil. 
2. Esse é o caso das abordagens de Santos (1979); Carvalho (2002); Quirino e 
Montes (1987); Prado (2005), entre outros. 
3. Para uma discussão sobre a Constituinte de 1987 e 1988, ver entre outros: 
Pilarei (2008) e Lopes (2008). 
4. Sobre este tema, ver, entre outros: Nobre; Coelho (2004). 
5. Sobre elas destacam-se duas leis que a lteraram a CLT: a de número 8.726, de 
1993, que não considera ausência , quando motivada po r acidente de trabalho,e a de número 8.921, de 1994, quando o motivo da falta tenha sido materni-
dade o u aborto. 
6. Segundo Neto, o conceito de flexibilização está intima mente ligado ao de des-
regulamentação. A desregulamentação, na verdade, é um tipo de flexibilização 
promovida peb legislaçiio (Neto, 1997). 
7. Como complemento ao projeto contínuo de flexibilização das relações t raba-
lhistas, foram aprovados dois decretos complementares, a lém de três por~ar_ias, 
que a mpl iavam as possibilidades de negociação em detrimento de direitos 
· J • F 1 D t O 1 572 de 1995· Decreto nº 2.490, de previstos em e1. oram e es: ecre o n . , , 
1998; e Portarias 817,818 e 865, todas de 1995. 
8 E ·d d dos tra balhrido res a Lei nº 11.648/2008 estabeleceu que . para as ent1 a es • _ 
0 
• . . • 
0 5°/ d · · 1 desti·nados a· confederaçao, 10 1/o a central smd11.:al, 15 1/o , o ris receitas sena n 
· f d - 60'¾ s ·nd ·,cato e 10% à Conta Especial Emprego e Salá rio do a e eraçao, o ao 1 , 
Ministério do Trabalho e Emprego. 
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