Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PROCESSOS PATOLÓGICOS Escaneie com seu Smartphone PROCESSOS PATOLÓGICOS Escaneie com seu Smartphone PROCESSOS PATOLÓGICOS Responsável técnico: Allison Silva de Andrade (CRB11/1102) Biblioteca CEUNI-FAMETRO S729p Souza, Andiara Silos Moraes de Castro e. Processos patológicos / Andiara Silos Moraes de Castro e Souza. – Manaus: FAMETRO, 2022. 50p. ISBN: 978-85-64293-34-2 1. Doenças. 2. Imunidade. 3. Patologias. I. CEUNI-FAMETRO. II. Título. CDU.: 616 FAMETRO Av. Djalma Batista, Nossa Sra. das Gracas. Manaus, AM Ficha catalogada na Biblioteca CEUNI-Fametro Todos os direitos reservados© FAMETRO IME Instituto Metropolitano de Ensino Ltda Wellington Lins de Albuquerque | Presidente - IME Maria do Carmo Seffair Lins de Albuquerque | Reitora Cinara da Silva Cardoso | Vice-Reitora Iyad Amado Hajoj | Diretor de EaD e Expansão Leonardo Florêncio da Silva | Diretor Editorial e Gestor de EaD Luciana Braga | Projeto Gráfico e Direção de Arte Andreh Braga Garcia | Diagramação Ana Augusta de Oliveira Simas | Supervisora de Produção e Revisão Leandro Carvalho | Revisor Imagens | depositphotos.com Imagens | unsplash.com Imagens | br.freepik.com "Nos termos da Lei n.º 9.610/98, o autor desta obra é titular de todo o complexo de direitos autorais sobre a presente criação. Assim, é vedada a cópia, reprodução, edição ou distribuição desta obra sem autorização expressa do Autor ou da Editora e, ainda é vedado utilizar, citar, publicar esta obra integral ou parcialmente sem deixar de indicar ou anunciar o nome, pseudônimo ou sinal convencional do autor sob pena da aplicação das medidas previstas nos Art. 101 a 110 da Lei n.º 9.610/98." Pa la vr a da Re ito ra “É a educação que faz o futuro parecer um lugar de esperança e transformação”. (Marianna Moreno) “Sejam todos e todas bem-vindos ao EaD do Centro Universitário Fametro” O Centro Universitário Fametro acredita que o papel de uma instituição de ensino é formar não apenas profissionais, mas também formar profissionais no Ensino Superior, com valores éticos, humanísticos e com respeito ao meio ambiente capazes de contribuir para o desenvolvimento da nossa Amazônia. A Fametro, portanto, tem premissas claras a cumprir como instituição de ensino de qualidade. Praticar o ensino, pesquisa e extensão é a sua principal bandeira. A Fametro, ao longo das últimas duas décadas, vem se consolidando como a melhor instituição de ensino do Norte, um espaço democrático e docentes com variadas visões de mundo. Somos uma instituição de ensino plural que avança a cada ano embusca sempre de desenvolver a economia da Amazônia. Nossa estrutura é moderna, estamos em diversos municípios levando uma educação inclusiva e de qualidade. Conheça o Centro Universitário Fametro e viva a experiência em estudar numa instituição com o corpo docente com mestres e doutores e de qualidade de ensino comprovada pelo MEC. Maria do Carmo Seffair Reitora Su m ár io UNIDADE I - RESPOSTAS IMUNES Imunidade inata 16 Imunidade adaptativa 17 Imunidade Humoral 19 Imunidade celular 25 Hipersensibilidade 31 UNIDADE II - HIPERSENSIBILIDADE Doenças autoimunes 34 Infecções na autoimunidade 35 Causas das doenças autoimunes 37 Doenças causadas por anticorpos 40 UNIDADE III - AGENTES ENDÓGENOS E EXÓGENOS Células do sistema imune 52 Alterações morfofuncionais nas células 56 Distúrbios de circulação 58 Neoplasias, desordens e carências 60 UNIDADE IV - PROCESSOS PATOLÓGICOS HUMANOS Tipos de lesões 71 Denominação das doenças 72 Divisões da patologia 73 Mecanismos de infecção e evasão dos microrganismos 75 Referências 77 U ni da de 1 Videoaula 1 Videoaula 3 Videoaula 5 Videoaula 2 Videoaula 4 12 13 RESPOSTAS IMUNES O termo imunidade significa proteger de doenças, especifica‐ mente, de patologias infecciosas. O sistema imune humano consiste em células e moléculas responsáveis pela defesa corporal. A área da imunologia é a responsável por estudar as respostas imunes, ou seja, a resposta coordenada do sistema de defesa frente a entrada de substâncias estranhas, as quais, por sua vez, podem ser microrganismos infecciosos, não infecciosos e, inclusive, partes de células. Em algumas situações, o ataque a substâncias estranhas no organismo pode causar lesões e gerar doenças. Anotações: 14 Asdoenças autoimunes correspondemàs respostas domecanismo de defesa contra as próprias células. A vacinação, por sua vez, tem a função de induzir artificialmente a imunidade do organismo contra doenças infecciosas. Figura 1: Edward Jenner, o primeiro cientista a realizar uma vacinação Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/ File:Edward_Jenner.jpg>. A primeira vacinação no mundo foi feita por Edward Jenner (Figura 1), em 1798, que utilizou o tecido de uma vaca recuperada de varíola bovina contra a doença humana. A palavra vacina tem origem no latim e derivando de vaca. A varíola foi a primeira doença a ser erradicada nomundo através da vacinação. A imunidadeseorganizaeminúmeras respostas sequenciais e coordenadas, sendo clas-sificada como inata ou adaptativa (Figura 2). A imunidade inata (ou natural) corresponde àquela queocorre nas primeiras horas ou dias da infecção, devido a Anotações: 15 respostas rápidas contra os microrganismos invasores. Já a imunidade adaptativa (ou adquirida) acontece a partir das respostas imunes que foram estimuladas depois da exposição a agentes infecciosos (antígenos). A imunidade aumenta em proporção e capacidade defensiva conforme o organismo é exposto amais agentes infecciosos, ou seja, o organismo se adapta mediante à infecção. Figura 2: Contraste das respostas das imunidades inata e adaptativa Fonte: <https://www.tiraojaleco.com.br/2016/06/ introducao-a-imunologia.html?m=1>. O sistema imune é capaz de detectar e combater inúmerosantígenosestranhos, noentanto, normalmentenãoatacaas suaspróprias substâncias (tolerância ou autotolerância). Os linfócitos são as células de defesa que atuam na imunidade adaptativa. Essas e outras células da imunidade são capazes de se locomoverem, fazendo com que a Anotações: 16 resposta imune que ocorre em um local do corpo seja espalhada rapidamente por todo o indivíduo (imunidade sistêmica). IMUNIDADE INATA O sistema imune inicial responde quase que imediatamente a microrganismos e células lesadas que se apresentam no corpo. Figura 3: Principais células que participam da imunidade inata Fonte:<https://planetabiologia.com/sistema-imunitario- caracteristicas-funcoes-e-celulas-de-defesa/>. Os principais componentes desta fase de defesa são as barreiras físicas e químicas (epitélios e agentes antimicrobianos), os fagócitos (neutró- Anotações: 17 filos, macrófagos), as células dendríticas, os mastócitos, as células NK (do inglês, natural killer) e as proteínas do sangue (Figura 3). Emgeral, existem dois tipos de respostas frente às infecções: a primeira é a destruição dos microrganismos pelos fagócitos, o que causa uma inflamação (Figura 4). Figura 4: Fagocitose no sistema de defesa inato Fonte: <https://www.sanarmed.com/a-vacina-e-o-sistema- imune-na-covid-19-colunistas>. A segunda é o bloqueio da replicação do material genético ou morte do vírus sem a necessidade de uma reação inflamatória. IMUNIDADE ADAPTATIVA Os linfócitos são os principais componentes da resposta adaptativa e são capazes de detectar inúmeros antígenos (10⁷ a 10⁹ aproximadamente), os quais são substâncias presentes nos organismos estranhos. Os linfócitos mais conhecidos são o T e o B (Figura 5). Anotações: 18 Figura 5: Tipos de linfócitos Fonte: <https://www.salute-nella-scienza.it/esami/ linfociti.htm>. Adaptado pelo autor. Os determinantes ou epítopos correspondem às porções dos antígenos que são reconhecidas pelos linfócitos, cujas variantes já existemno corpo, mas são ativadas e aumentadas após a infecção. Após a resposta imune inata frente a um antígeno, ocorrerá, em um próximo momento de infecção do mesmo microrganismo, uma resposta mais efetiva e rápida por parte do sistema dedefesa (resposta imune secundária ou adaptativa), (Figura 6). Figura 6: Resposta primária (inata) e secundária (adaptativa) do sistema de defesa frente ao mesmo antígeno Fonte: <https://bioclassi.wordpress.com/estudo-do- sistema-imunologico-imunologia-celular-e-molecular- abbas/>. Logo, há umamemória do sistema imune após o contato com os diferentes antígenos, sendo essa a forma como funciona a vacina. Há dois tipos de respostas imunes adaptativas induzidas por diferentes tipos de linfócitos e que trabalham para eliminar distintos microrganismos: a imunidade humoral e a celular. IMUNIDADE HUMORAL A resposta de defesa da imunidade humoral é mediada por anticorpos que são produzidos pelos linfócitos B (Figura 7), os quais podem ser encontrados no sangue e em secreções mucosas (fluídos corporais). Anotações: 19 Anotações: 20 Figura 7: Ativação das células B e produção de anticorpos Fonte: <https://myloview.de/poster-aktivierung-von-b-zell- leukozyten-nr-5F55614>. O foco dos anticorpos são os antígenos de microrganismos e suas toxinas fora das células, no interstício. Essas proteínas agem neutralizando a infecção e designando os fagócitos para eliminá- los. A imunidade ativa corresponde ao indivíduo que possui anticorpos contra determinado antígeno (Figura 8). Os indivíduos que já possuem anticorpos contra um determinado antígeno são ditos imunes. Figura 8: Comparação entre a imunidade ativa e a passiva Fonte: DUTRA (2021). Anotações: 21 Os anticorpos são proteínas séricas que se ligam a substâncias estranhas, como as toxinas. Já os antígenosconsistememsubstâncias que se ligam a receptores específicos em linfócitos, estimulando ou não respostas imunes. Indivíduos sensibilizados aos antígenos são aqueles que já tiveramumcontato anterior com a substância estranha (imunidade inata). A reação antígeno-anticorpo indica que há uma sensibilidade, ou seja, já houve anteriormente a produção de anticorpos contra o antígeno específico (Figura 9). Figura 9: Atuação da imunidade humoral Fonte: Autoria própria. A maioria dos microrganismos estranhos entram no indivíduo através da pele. Enquanto isso, as respostas imunes adaptativas se desenvolvem nos órgãos linfoides periféricos (secundários), onde ficam os linfócitos. As células apresentadoras de antígenos (APC, do inglês) são responsáveis por capturar os antígenos invasores e expô-los aos linfócitos T naive, ou seja, que nunca tiveram Anotações: 22 contato com os antígenos. As APCs mais especializadas são as células dendríticas. Quando os linfócitos T naive são ativados (após alguns dias), há uma expansão clonal que aumenta muito o número dessas células. Posteriormente, esses linfócitos são modificados para eliminar os antígenos, sendo chamados de células efetoras e células dememória, pois sobrevivempor longos períodos com respostas efetivas contra o mesmo antígeno (Figura 10). Figura 10: A sequência das respostas imunes adaptativas Fonte: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/ 5270149/mod_resource/content/0/ resposta%20imune%20adaptativa%20.pdf>. Outras células efetoras que ajudam a eliminar osantígenossãoosmacrófagoseneutrófilos (Figura 11). Após a erradicação da infecção, o estímulo para ativação dos linfócitos encerra e grande parte das Anotações: 23 células efetoras morrem, ficando apenas as células de memória para detectarem futuras infeções do mesmo antígeno. Figura 11: Glóbulos brancos Fonte: Depositphotos. Muitas interações entre as células que participam da imunidade inata e adaptativa são comandadas pelas citocinas (proteínas). Algumas de suas principais funções são proporcionar o crescimento e a diferenciação das células imunes, ativar os linfócitos e fagócitos e coordenar a movimentação das células no sistema circulatório (Figura 12). Por tudo isso, as citocinas possuem grande importância nas respostas imunes. Figura 12: As principais funções das citocinas Fonte: Depositphotos. Anotações: 24 Na imunidade humoral, os linfócitos B reconhecem os antígenos, apresentam expansão clonal e sediferenciamemplasmódiosque secretam diferentes tipos de anticorpos, principalmente as imunoglobulinas M (IgM) (Figura 13). A resposta dos linfócitos B só ocorre após a ativação realizada pelos linfócitos T auxiliares (imunidade celular). Os microrganismos invasores são neutralizados através da resposta imune adaptativa antes mesmo de infectarem as células e, por isso, a vacinação é tão importante, já que ela consiste na ativação dos anticorpos para uma defesamais eficiente e rápida. Figura 13: Os diferentes tipos de anticorpos Fonte: Depositphotos. Os anticorpos IgGmarcamosmicrorganismos invasores para serem fagocitados pelos neutrófilos emacrófagos. O sistemacomplemento é ativadopor IgM e IgG, que fagocitam os microrganismos e os destroem. A IgA tem a função de neutralizar os microrganismos da mucosa, principalmente gastrintestinal e respiratória, prevenindo que essas substâncias estranhas sejam inaladas ou ingeridas pelo hospedeiro. Os anticorpos, emgeral, vivempor pouco tempo e são sintetizados aos poucos, o suficiente para combater uma infecção. As células dememória auxiliam na resposta rápida quando são ativadas, aumentando a produção dos plasmócitos que produzem os anticorpos. IMUNIDADE CELULAR A imunidade mediada por células é coman- dada pelos linfócitos T e ocorre na parte interna da célula (Figura 14) contra microrganismos que não morrem dentro dos fagócitos ou vírus que se espalham durante a infecção. Figura 14: Ativação dos linfócitos T Fonte: Depositphotos. Anotações: 25 Anotações: 26 Os linfócitos T detectam os microrganismos invasores dentro das células e os marcam para a fagocitose ou apoptose (morte celular) (Figura 15). . Figura 15: Função das células B e T auxiliares Fonte: Depositphotos. Os antígenos associados à superfície celular são detectados através do reconhecimento do complexo principal de histocompatibilidade (MHC, do inglês) da substância estranha. Os principais linfócitos são as células T auxiliares e os linfócitos T citotóxicos ou citolíticos. As células auxiliares são responsáveis pela produção das citocinas, enquanto os citotóxicos matam as substâncias estranhas. Após a ativação dos linfócitos T naive nos órgãos linfoides secundários, estes se diferenciam em células efetoras e migram para a superfície celular (Figura 16). Figura 16: Diferenças entre a imunidade humorar e celular Fonte: <https://medium.com/biolhar/aspectos-gerais-das- respostas-imunes-6de98eb3fc0e>. Os leucócitos também participam da reação imune. Os linfócitos T citotóxicos são capazes de reconhecer tumores que expressam antígenos estranhos. Anotações: 27 U ni da de 2 Videoaula 1 Videoaula 3 Videoaula 5 Videoaula 2 Videoaula 4 30 31 HIPERSENSIBILIDADE A tolerância imunológica (ou auto-tolerân‐ cia) ocorre quando o sistema imune não ataca (tolera) um antígeno estranho já conhecido pelas células de memória, o que pode causar o surgimento de doenças autoimunes (Figura 17). Em geral, os linfócitos são inativados ou eliminados antes do combate ao próprio antígeno, mas erros podem ocorrer. Alguns antígenos induzem a tolerância e, por isso, são chamados de tolerógenos ou tolerogênicos. Anotações: 32 Figura 17: Doenças autoimunes Fonte: <https://pt.dreamstime.com/>. A autotolerância pode ser induzida em linfóci‐ tos imaturos nos órgãos linfoides geradores (timo e medula óssea), sendochamadade tolerância central, ou em linfócitos maduros nas áreas periféricas, sendo a tolerância periférica. Comoéproduzida uma grande diversidade de células T e B para combater diversos antígenos, não é estranho surgir células imunes com afinidade aos próprios antígenos. A tolerância central garante que a resposta imune de linfócitos ainda imaturos não afete os autoantíge‐ nos os elimine, modificando a especificidade ou diferenciando-os em linfócitos reguladores. No entanto, quando ocorrem erros, a tolerância peri‐ Anotações: 33 férica também trabalha para prevenir a ativação desseslinfócitos po-tencialmente perigosos (Figura 18). Figura 18: Tolerância central e periférica contra autoantígenos Fonte: <https://www.passeidireto.com>. Os antígenos presentes nos órgãos centrais geralmente são próprios, já que os antígenos de microrganismos estranhos, quando encontrados, são levados aos tecidos periféricos, como o linfono‐ do, baçoeasmucosas. Por isso, nos órgãos centrais, os linfócitos são específicos a autoantígenos. Os linfócitos T reguladores criados nos órgãos centrais ajudam na supressão de linfócitos maduros nas áreas periféricas. Anotações: 34 Doenças autoimunes As doenças autoimunes podem ocorrer dentro de determinados órgãos (miastenia grave, esclerose múltipla, diabetes tipo 1) ou afetar todo o sistema corporal (lúpus – Figura 19). Essas doenças, em geral, são crônicas, progressivas e de autoper‐ petuação. Isso ocorre porque os autoantígenos são persistentes e, após combater com a resposta imunológica, os mecanismos de amplificação são ativados e acabam perpetuando a resposta inicial. Figura 19: Características de uma pessoa com Lúpus, uma doença autoimune Fonte: Depositphotos. Anotações: 35 Além disso, após a autoimunidade, outros antígenos acabam sendo liberados e alterados para também combater os autoantígenos, sendo esse processo chamado de propagação de epítopo. Algumas anormalidades autoimunes ocorrem comumente, como a autotolerância defeituosa, responsável por causar todas as doenças autoimu‐ nes. O defeito pode ocorrer na deleção de linfócitos B ou T autoimunes, no número ou função dos linfócitos T reguladores, na apoptose defeituosa ou na função inadequada de receptores de inibição. Pode ocorrer também um aumento anormal de autoantígenos, como um epítopo, com tolerância a ele por parte do sistema imune. Uma inflamação ou uma resposta imune inata inicial podem contribuir para o surgimento de uma doença autoimune pelo excesso de produção de linfócitos T. Infecções na autoimunidade Infecções bacterianas e viroses podem proporcionar umaumento na chance de surgimento dedoençasautoimunesouacelerá-las. Amaior parte dessas doenças está associada a uma infecção prévia ou posterior. Sendo assim, as infecções podem provocar a autoimunidade por meio de dois mecanismos: (1) Uma infecção específica em tecido provoca a produção de células T que são tolerantes ao antígenodomicrorganismo. A este tipo deprocesso, denomina-se ativação bystander (Figura 20). Anotações: 36 Figura 20: Duasmaneiras de ocorrer doenças autoimunes a partir de infecções demicrorganismos Fonte: Autoria própria. Ao invés dos linfócitos atacarem os antígenos do agente infeccioso, agridem os pró-prios autoan‐ tígenos. (2) Os microrganismos infecciosos possuem umantígeno similar ao autoantígeno, o que provoca uma resposta imunológica contra o corpo dopróprio hospedeiro. Este processo se denomina demimetis‐ mo molecular. A febre reumática consiste em uma doença autoimune, a qual possui o autoantígeno do miocárdio similar ao de bactérias estreptocócicas. Nessa situação, há um acúmulo de anticorpos no coração e o surgimento demiocardite. Noentanto, podeocorrer dealgumas infecções protegerem para que não ocorra uma resposta autoimune. Estudos apontam que a redução de infecções causa um aumento na incidência de doenças como a esclerose múltipla (Figura 21) e Anotações: 37 diabetes. Entretanto, o motivo de tal ocorrência ainda não é claro para os pesquisadores. Figura 21: Características da esclerosemúltipla, uma das doenças autoimunesmais conhecidas Fonte: Depositphotos. A suscetibilidade genética também consiste em um dos mecanismos de surgimento e aumento da incidência das doenças autoimunes. Outras questões que também afetam o surgimento de reações autoimunes são as alterações anatômicas nos tecidos e as alterações hormonais. Causas das doenças autoimunes A imunidade adaptativa tem a função de proteger o hospedeiro contra microrganismos invasores, entretanto, as respostas imunes podem também causar lesão tecidual e doenças. Os distúrbios causados pelas respostas imunes são Anotações: 38 chamados de doenças de hipersensibilidade. Na maioria das vezes, a resposta imune é capaz de eliminar as substâncias invasoras sem prejudicar o próprio hospedeiro. No entanto, pode haver erros no controle imune, com as células da imunidade sendo direcionadas ao tecido errado, havendo a presença de microrganismos comensais (que vivem em associação dentro do corpo) ou antígenos ambien‐ tais desencadeando respostas indevidas. Assim, as respostas imunes podem ocorrer devido a: • Erros no mecanismo de tolerância, provo‐ cando o ataque aos autoantígenos; • Reaçõesexcessivascontramicrorganismos invasores que podemcausar uma resposta autoimune frente a graves lesões, comono caso da tuberculose, enteropatia e hepati‐ te; • Ao ataque a antígenos ambientais e não de microrganismos, como em algumas doenças alérgicas. Apóso início deuma reaçãoautoimune, émuito difícil controlá-la ou eliminá-la, pois os causadores da reação fazemparte do sistema humano corporal. Além disso, o sistema imune possuimuitas alças de amplificação, o que intensifica ainda mais as reações. Por isso, as doenças autoimunes são frequentemente crônicas, progressivas, debilitan‐ tes e mais comuns em pessoas de 20 a 40 anos de idade e em mulheres. Uma observação importante a se fazer é que a hipersensibilidade se caracteriza pelo fato de não haver a sensibilidade (tolerância) aos autoantígenos e não descrever as lesões que ocorrem no processo. Tais doenças podem ser Anotações: 39 classificadas pelo tipo de resposta imune e o mecanismoefetor responsável pelas lesõescelulares e teciduais, o qualmecanismo pode ser comandado pelos anticorpos ou células T. Os diferentes tipos de doenças assim descri‐ tos: • Hipersensibilidade imediata (tipo I): cau- sada por anticorpos IgE que ativam os mastócitos e eosinófilos que atacam antígenos ambientais, causando inflama‐ ção. Consiste no tipo de doença mais comum, sendo conhecidas comoalergia ou atopia (Figura 22). • Hipersensibilidade mediada por anti-cor‐ pos (tipo II): ocorre devido aos anticorpos IgG e IgM combaterem antígenos da superfície celular ou matriz extracelular. Causam lesão tecidual com a inflamação e prejudicam as funções normais da célula. • Hipersensibilidade mediada por imuno- complexos (tipo III): os anticorpos IgG e IgM combatem os antígenos dispostos no sangue e formamcomplexos quepodemse depositar na parede dos vasos sanguíneos e causar inflamação, trombose e lesão no tecido. • Hipersensibilidade mediada por células T (tipo IV): os linfócitos T são ativados e atacam os antígenos através de uma inflamação oumorte celular. As cito-cinas produzidas pelos linfócitos causam a inflamação e ativam os leucócitos (neu‐ trófilos e macrófagos) que causam as lesões celulares. 40 Quadro 1: Principais diferenças entre as doenças de hipersensibilidade Fonte: <https://www.passeidireto.com>. Tipo de Hipersen‐ sibilidade Mecanismos Imunopatológicos Mecanismos de Lesão Tecidual e Doença Imediata: Tipo I Anticorpo IgE, Célu‐ las Th2 Mastócitos, eosinófilos e seus me‐ diadores (aminas vasoativas, me‐ diadores lipídicos, citocinas) Mediada por anti‐ corpos: Tipo II Anticorpos IgM e IgG contra an‐ tígenos de superfi‐ cie celular ou da matriz extracelular Opsonização e fagocitose de célu‐ las. Recrutamento e ativação de leucócitos (neutrófilos e macrófa‐ gos) mediadas por receptor Fc e complemento. Anormalidades nas funções celu‐ lares, por exemplo, sinalização por receptor de hormônio, bloqueio de receptor neurotransmissor Mediada por imunocomplexos: Tipo III Imunocomplexos de antígenos circu‐ lantes e anticorpos IgM ou IgG Recrutamento e ativação de leucócitos mediados por receptor Fc e complemento Mediada por célula T: Tipo IV 1. Células T CD4+ (Th1 e Th17) 2. CTLs CD8+ 1. Inflamaçãomediada por citoci‐ nas e ativação demacrófagos 2. Morte Celular direta, inflamação mediada por citocinas. Anotações: 41 Os diferentes mecanismos de atuação dos anticorpose células T geram distúrbios com características clínicas e patológicas diferentes. É importante ressaltar que o surgimento de determi‐ nada doença humana é um resultado de uma combinação de respostas imunes humorais condu‐ zidas por células, além de outros mecanismos efetores. Doenças causadas por anticorpos As doenças que entram nesta categoria são as de hipersensibilidade do tipo I, II e III. Os anticor‐ pos se combinam com os antígenos celulares ou extracelulares, ou combatemsubstâncias entranhas na circulação sanguínea. As doenças que surgemda resposta imune emcélulas e namatriz são específi‐ cas aos locais em que se localizam os antígenos, ou seja, as doenças são órgão-específicas, não sistê‐ micas. Em relação aos antígenos dispostos no sangue, a doença surgirá nos locais de depósito do complexo antígeno-anticorpo, e não nos locais de origem da substância entranha. Assim, as doenças de hipersensibilidade mediadas por imunocomple‐ xos são sistêmicas, afetando inúmeros órgãos (Figura 22). Anotações: 42 Figura 22: Localização dos diferentes tipos de anticorpos Fonte: <https://www.morfofuncionando.com/cópia- imagens-testículos>. Os anticorpos atacam os autoantígenos e causam as doenças por meio de três mecanismos: opsonização ou fagocitose, inflamação ou devido à falha nas funções celulares (Figura 23). Anotações: 43 Figura 23: Diferentes mecanismos que levam os anticorpos a produzirem doenças autoimunes Fonte: <https://www.passeidireto.com/>. A opsonização e fagocitose ocorrem nas doenças de anemia hemolítica autoimune (Figura 25) e na trombocitopenia autoimune. A glomerulonefrite consiste emuma inflamação causada pelos anticor‐ pos e ativação dos leucócitos que causam a lesão no tecido. No que diz respeito às doenças que surgem devido a falhas nas funções corporais, não há incidência de inflamação oudanos teciduais, pois os anticorpos agem contra os receptores ou proteínas, como ocorre na doença de Graves, na Miastenia grave e na anemia perniciosa. Anotações: 44 Figura 24: Sintomas da anemia hemolítica Fonte: Depositphotos. Muitas doenças autoimunes são resultado de uma resposta imune dos anticorpos sobre os próprios antígenos, no entanto, em determinadas situações, pode ocorrer de antígenos de microrga‐ nismos hospedeiros resultarem também nessas doenças. Neste caso, os antígenos estranhos são similares aos autoantígenos e confundemo sistema de defesa. Um exemplo é o que ocorre na febre reumática, em que a resposta imune ataca os autoantígenos do coração, ao invés de responder aos antígenos das bactérias patológicas. Nas doenças originárias devido a imunocom‐ plexos, o ataque imune também pode ser contra autoantígenos ou antígenos estranhos. A resposta imune contra antígenos estranhos foi observada quando humanos recebem soro de anticorpos de doenças específicas como forma de prevenção a doenças, uma vez que os anticorpos respondemaos antígenos do organismo estranho que produziu os Anotações: 45 anticorpos (cavalo, camundongo). Este tipo de doença foi chamado de doenças séricas, pois os antígenos atacam as proteínas séricas do cavalo de onde foi retirado o soro. Oprincipalmecanismode lesão tecidual dessas doenças é a inflamação nos vasos sanguíneos. Algumas doenças que podem ser citadas, como exemplo, são a doença do soro, lúpus eritematoso sistêmico e a glomerulonefrite pós-estreptocócica. Nessasdoenças,oslinfócitosTprovocamlesãotecidual pelaproduçãodecitocinasque induzema inflamação ou a destruição direta da célula estranha (Figura 25). Figura 25: Resposta imune dos linfócitos T Fonte: <https://docplayer.com.br/81366874-Reacoes-de-hi‐ persensibilidade-profa-alessandra-barone-prof-archangelo- p-fernandes.html>. As células CD4+ são responsáveis por causar a inflamação, enquanto as CD8+ matam as células estranhas. Os linfócitos, por sua vez, agem contra os autoantígenos ou antígenos estranhos. No caso de microrganismos persistentes, a resposta imune pode ser bastante efetiva, principalmente se tratando das invasões intracelulares. Anotações: 46 As células responsáveis pela liberação das citocinas e, consecutivamente, dos leucócitos, são as células CD4+Th1 e Th17. As lesões nos tecidos são causadas pelas células de defesa. A inflamação geralmente é crônica e resulta em fibrose. Muitas doenças autoimunes existem devido à resposta imune contra autoantígenos, como a psoríase (Figura 26), esclerosemúltipla, artrite reumatoide e diabetes tipo 1. Algumas respostas imunes contra microrganismos invasores podem levar a inflamação e lesão nos tecidos do hospedeiro, como na tuber‐ culose. Figura 26: Pessoa com psoríase nos braços Fonte: <https://www.sanarmed.com/resumo-completo-so‐ bre-psoriase-posderm>. Muitas doenças de pele chamadas de sensibi‐ lidade de contato são oriundas da exposição tópica a agentes químicos e microrganismos ambientais, o que pode causar reações crônicas e até eczemas. Alguns exemplos deste tipo de resposta são as erupções cutâneas causadas por hera venenosa e carvalho, por contato commetais (níquel e berílio) e com tiourama, que compõe as luvas de látex. O tipo de reação imune que ocorre como resposta das células T é chamado de hiper-sensibi‐ lidade do tipo tardio (DTH, do inglês), pois ocorre de 24h a 48h após a detecção do antígeno por células Anotações: 47 dememória (reinfecção). As alergias correspondem a reações de hipersensibilidade imediata, pois ocorrem após minutos do contato com o antígeno. Os humanos podem ser sensibilizados pelo DTH através de uma infecçãomicrobiana, com produtos químicos, antígenos ambientais ou por injeção de antígenos (Figura 27). Figura 27: Processos da hipersensibilidade tardia (DTH) Fonte: <https://www.ufjf.br/imunologia/files/2010/08/Meca‐ nismos-efetores-da-imunidade-celular-e-humoral1.pdf>. Após 18h da injeção de antígeno por um indivíduo sensibilizado, as citocinas já foram produzidas e liberaram os leucócitos, fazendo com queo local fique inchadoeenrijecido comoacúmulo de células de defesa. A ausência dessas caracte‐ rísticas demonstra que o indivíduo possui um problema com as células T, denominada anergia. U ni da de 3 Videoaula 1 Videoaula 3 Videoaula 2 Videoaula 4 Videoaula 5 50 51 AGENTES ENDÓGENOS E EXÓGENOS As lesões e doenças são causadas por diversas agressões, as quais podem ser endógenas ou exógenas. As endóge‐ nas se referem a causas oriundas do interior do próprio organismo, enquanto as exógenas são ocasionadas devido ao meio ambiente. Nas ocorrências em que não se conhece a origem da lesão, a doença é denominada de criptogenética, idiopática ou essencial. O meio pode interferir no corpo de forma física ou social, enquanto o próprio organismo pode causar questões psíqui‐ cas e também sociais. Os agentes externos podem ser físicos, químicos ou biológicos. Internamente, os distúrbios envolvem a alteração no material genéti‐ Anotações: 52 co, nos mecanismos de defesa e nas emoções. Os mecanismos físicos podemser a forçamecânica, as radiações, alterações de temperatura e de pressão atmosférica. Os agentes químicos são substâncias tóxicas, como defensivos agrícolas, poluentes ambientais, contaminantes alimentares, medica‐ mentos e drogas. Já os agentes biológicos são principalmente osmicrorganismos (vírus, bactérias, fungos). As agressões ocorrem predominantemente através da diminuição de oxigênio das células, dos radicais livres, de anormalidade dematerial genéti‐ co e proteínas, de respostas imunes e distúrbios metabólicos. Células do sistema imune Ascélulas queparticipamdosistemadedefesa frequentemente estão localizadas no sangue, linfa, órgãos linfoides e distribuídas pelo restante do corpo. O sistema de defesa deve ser capaz de detectar rapidamente a entrada de inúmeros microrganismos invasores diferentes em qualquer local do corpo. Amaioria das células de defesa deve ser capaz de se deslocar prontamente a outras regiões do corpo. As células de defesa que atuam na imunidade inata e adaptativa são os fagócitos, as células dendríticas, linfócitos antígeno-específicose outros leucócitos (Figura 28). A maioria tem origem nas células-tronco hematopoiéticas na medula óssea. Os fagócitos e as dendríticas são denominados de células mieloides, enquanto os linfócitos são agrupados nas células linfoides. Anotações: 53 Figura 28: Glóbulos brancos Fonte: Depositphotos. Os neutrófilos emacrófagos são fagócitos que possuema função de destruir e ingerirmicrorganis‐ mos, além de remover tecidos danificados e regular respostas imunes. Neutrófilos emonócitos ficamno sangue enquanto não são chamados para áreas inflamatórias. Os monócitos se transformarão posteriormente emmacrófagos nos tecidos (Figura 29). Figura 29: Monócitos originam osmacrófagos e as células dendríticas. Fonte: Depositphotos. Anotações: 54 Estas células são mais importantes na imuni‐ dade inata. Osmastócitos, basófilos e eosinófilos também participam do sistema de defesa, destruindo microrganismos estranhos. No interior de suas células, há grânulos commediadores inflamatórios e antimicrobianos que digerem as substâncias alvo. Os mastócitos são particularmente importantes na defesacontraparasitase responsáveis por expressar as inflamações nas doenças alérgicas, além de secretar e liberar citocinas após ativação. Os basófilos são granulócitos, e constituem uma pequena porção dos leucócitos. Os eosinófilos também são granulócitos e se localizam principal‐ mente no sangue. As células dendríticas iniciam as reações de defesa inata e capturam substâncias estranhas para as células T, assim começando a resposta imune adaptativa. São conhecidas como as sentinelas de infecção, com respostas rápidas às substâncias estranhas. Também são responsáveis por secretar citocinas que ativamcélulas inatas nas áreas de infecção. Os linfócitos consistememumasdasprincipais células do sistema imune. Apresentam uma incrível capacidade clonal que é compatível com diversos antígenos diferentes, existindo mais de milhões de linfócitos distribuídos por todo o corpo. Cada clone de linfócito B ou T possui uma especificidade única, e a principal função se dá namediação da imunidade adaptativa (Figura 30). Anotações: 55 Figura 30: Maturação dos linfócitos Fonte: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/6589514/ mod_resource/content/1/BMI0296%20Aula%204%20-%20‐ Processamento%20apresenta%C3%A7%C3%A3o%20T‐ CR%20BCR.pdf>. Aorigemestá namedula óssea e no timo ,mas também podem ser encontrados no sangue, pele, tecidos linfoides dasmucosas do sistema gastroin‐ testinal e respiratório e nos órgãos linfoides (baço e linfonodos). Os linfócitos são classificados emBeT. Os linfócitos B são derivados damedula óssea e produzem os anticorpos. Os linfócitos T são produzidos por células precursoras namedula óssea que amadurecem no timo. Os linfócitos T auxiliares CD4, os citotóxicos CD8, as células reguladoras e natural killers (NKT) são alguns dos tipos de linfóci‐ tos T existentes. Já as células B auxiliares, da zona marginal, e B-1 consistem em classificações do linfócito B. As células natural killer (NK) e as linfoides inatas (ILC, do inglês) derivam da medula óssea, possuindo morfologia linfoide e funções efetoras similares às células T no sistema imune inato. As principais funções destas células na primeira defesa são: • Conferir defesa inicial contra patógenos; • Reconhecer células do hospedeiro que Anotações: 56 Estão estressadas ou lesadas; • Eliminar células defeituosasdohospedeiro; • Influenciar a resposta imune adaptativa. As NK circulam no sangue e estão tambémem vários tecidos linfoides. Enquanto isso, as ILCs secretam citocinas e são mais raras no sangue, sendoencontradas predominantemente nos tecidos das mucosas, dos pulmões e do intestino. Alterações morfofuncionais nas células Atualmente, as análises patológicas contam nãoapenascomasverificaçõesmicroemacroscópi‐ cas dos tecidos, mas também com a utilização de recentes tecnologias para se detectar as doenças e os organismos patogênicos. O estudo morfológico consiste em verificar alterações físicas nos tecidos do corpo, tanto para investigação de doença, quanto para o diagnóstico. Os exames citológicos verificam as células com o intuito de identificar neoplasias malignase lesões, agentes infecciososeparasitários. A imuno-histoquímica consiste em um exame morfológico que utiliza anticorpos como reagentes para se detectar antígenos localizados em células ou tecidos. Coma reação antígeno-anticorpo, pode- se notar a presença de células normais ou patológi‐ cas, além de substâncias estranhas, como os microrganismos invasores (Figura 31). Essa análise pode ser utilizada comodiagnóstico ou investigação científica. Anotações: 57 Figura 31: Vírus com os anticorpos ligados nos antígenos Fonte: <https://drawallyodontologia.com.br/herpes-labial/>. Amaior parte das doenças pode ser detectada simplesmente com análises morfológicas, em especial, as neoplasias e as doenças infecciosas, pois são mais comuns de serem diagnosticadas. Atualmente, existem inúmeros anticorpos específi‐ cos para se detectar várias doenças infecciosas. A técnica de morfometria, por exemplo, permite visualizar os leucócitos e detectar se a inflamação é discreta, moderada ou acentuada. Distúrbios de circulação As agressões feitas ao organismo podem ser em células parenquimatosas ou do estroma, nos componentes intercelulares (interstício ou matriz extracelular), na circulação sanguínea ou linfática e no sistema nervoso. Esses componentes podemser agredidos de forma isolada ou em conjunto com outros, envolvendo um tecido celular ou todos eles. Assim, as lesões são classificadas de acordo com o local da agressão. No caso das alterações de Anotações: 58 circulação, pode ocorrer um aumento, diminuição ou rompimento total do fluxo sanguíneo que vai para os tecidos corporais, provocando uma hipermia, oligoemia e isquemia, respectivamente. Figura 32: Isquemia nos vasos sanguíneos Fonte: Depositphotos. Pode ocorrer também uma coagulação no sangue de um vaso sanguíneo, provocando uma trombose. Figura 33: Coágulo nos vasos sanguíneos Fonte: <https://www.jornaldosite.com.br/?p=4271>. Anotações: 59 Substâncias estranhas que não se diluem no sangue podem surgir e causar uma obstrução nos vasos, que é denominada de embolia. Figura 34: Embolia nos vasos sanguíneos Fonte: Depositphotos. O sangue pode sair dos vasos sanguíneos e causar umahemorragia interna ou externa ao corpo. Figura 35: Hemorragia interna Fonte: https://pt.dreamstime.com/ Anotações: 60 Por último, podem ocorrer alterações no fluxo entre o plasma e o interstício e causando edemas. Figura 36: Edema nas pernas de umamulher idosa Fonte: <https://angiomais.com.br/varizes-5/>. Neoplasias, desordens e carências Como dito anteriormente, as agressões no corpo humano podemcausar tambémas lesões nas células, podendo ser letais ou não. A gravidade das lesões depende do local de ocorrência, tipo de célula atingida, qualidade, intensidade e duração da agressão. Nas lesões não letais, as células podem retornar à normalidade após a agressão. As agres‐ sões podem modificar o metabolismo das células, causandoumacúmulode substâncias intercelulares, sendo chamado de degeneração, mas também podem alterar os mecanismos que regulam a multiplicação e a diferenciação celular, causando alterações no tecido local ou em todo o corpo. Com essas agressões podem surgir hipotro‐ fias, hipertrofias, hiperplasias, hipoplasias, meta‐ plasias, displasias, neoplasias ou o acúmulo de pigmentos endógenos ou exógenos (pigmentação). Ahipotrofia éumestadoouprocessodecrescimento ou desenvolvimento subnormal, ou seja, abaixo do normal. Já a hipertrofia, como o próprio nome sugere, consiste no estado ou processo de cresci‐ Anotações: 61 mento e desenvolvimento acima do normal. A hipotrofia e a hipertrofia muscular têm uma menor e umamaior taxa demúsculos no corpo, respectiva‐ mente (Figura 37). Figura 37: Homem com hipertrofia e hipotrofia muscular Fonte: Depositphotos. A hipoplasia consiste em uma formação incompleta e anormal de alguma estruturaou órgão do corpo (Figura 38). Figura 38: A imagem apresenta a hipoplasia do útero de umamulher Fonte: Depositphotos. Anotações: 62 Em contrapartida, a hiperplasia representa a maior capacidade funcional de umórgão (Figura 39). Figura 39: Hiperplasia benigna da próstata Fonte: Depositphotos. Ametaplasia ocorre quando uma célula adulta é substituída por outra de um tipo celular diferente (Figura 40). Geralmente ocorre devido a umestresse sofrido pela célula. Figura 40: Metaplasia do epitélio respiratório Fonte: <https://pt.dreamstime.com/>. A displasia consiste em um crescimento anormal de células no corpo. Como exemplo, pode- se citar a displasia do quadril (Figura 41). Anotações: 63 Figura 41: Displasia do quadril Fonte: <https://www.heilpraxisnet.de/symptome/ziehen-in- der-leiste/>. A neoplasia é o crescimento desordenado de células que formam uma massa anormal de tecido (Figura 42). Pode ser benigna oumaligna. A neopla‐ sia benigna cresce de formamais lenta e ordenada, já a neoplasiamaligna é geralmente denominada de tumor. Figura 42: Imagem que representa uma neoplasia Fonte: Depositphotos. As lesões letais são representadas pela necrose, apoptose, dentre outras. U ni da de 4 Videoaula 1 Videoaula 3 Videoaula 2 Videoaula 4 Videoaula 5 66 67 PROCESSOS PATOLÓGICOS HUMANOS A patologia é a área que estuda as causas das doenças, os mecanis‐ mos que as produzem, os locais onde ocorremeas alteraçõesmorfológicas, molecularese funcionais queapresen‐ tam. Além disso, proporciona um melhor entendimento sobre a preven‐ ção, sinais, sintomas, prognóstico, diagnóstico, tratamento e evolução das doenças. Já o termo doença caracteriza-se por uma falta de adaptação ao ambiente físico, psíqui‐ co ou social, em que o doente apre‐ senta sinais (alterações detectadas clinicamente) e sintomas (mal-estar). Anotações: 68 Qualquer agressão sofrida pelo indivíduo provoca respostas que podem ser de defesa ou de adaptação. Nas situações em que o corpo não consegue se adaptar ou conter a agressão, há o surgimento de lesões, as quais podem ser crônicas ou agudas, e gerar doenças. As agressões podem ser de origem interna ou externa ao indivíduo, sendo provocadas por agentes químicos, físicos ou biológicos. A primeira defesa do corpo está nas barreiras mecânicas e químicas da pele e dasmucosas. Além disso, contra agentes infecciosos (patógenos) há a fagocitose, o sistema complemento e a reação inflamatória (expressão morfológica da resposta imune). Contra agentes genotóxicos (que agridemo genoma, material genético) existe o sistema de reparo no DNA, e contra compostos químicos tóxicos, como os radicais livres, as células possuem sistemasenzimáticos dedetoxificaçãoe antioxidan‐ tes. A adaptação se dá pelo ajuste das funções celulares dentro de certos limites, como forma de se acomodar às modificações induzidas pela agressão. Essa resposta adaptativa sistêmica e inespecífica que o organismo apresenta é chamada de estresse. Caso ocorra a lesão ou o processo patológico, esse consiste em algumas alterações morfológicas,moleculares e/ou funcionais (fenôme‐ nos fisiopatológicos) no local de agressão. O termo “processo” indica que há uma listagem de aconteci‐ mentos, em geral, como o início, evolução, cura ou cronicidade (tornar-se crônica). Uma questão importante a se elucidar é que todas as lesões iniciam a partir de uma alteração molecular. Os agentes agressores prejudicam as 69 Anotações:células através de uma ação direta ou indireta. A ação direta corresponde às alterações moleculares que se transformamemmudançasmorfológicas, já a ação indireta decorre de erro na adaptação das células frente a um invasor. Todas as agressões geramestímulos que induzem respostas adaptativas que tornamosmecanismosdedefesamais resisten‐ tes às próximas agressões. Figura 43: Respostas dos organismos frente às agressões Fonte: O próprio autor. Tipos de lesões As lesões podem ser classificadas de acordo com o tipo de local atingido, sendo: Lesões celulares: podem ser letais e não letais dependendo da qualidade, intensidade e duração das agressões, alémdo estado funcional ou tipo de célula atingida. Nas agressões não letais, as células podem voltar a sua normalidade após a finalização da lesão. Já as lesões letais consistem na necrose (morte celular seguida de autólise), apoptose (morte celular não seguida de autólise) ou Anotações: 70 outros tipos demortes celulares. Alterações no interstício (matriz celular): englobam asmodificações estruturais e de depósi‐ tos na substância fundamental amorfa e nas fibras elásticas, colágenas e reticulares. Distúrbios de circulação: podem ser oriundos do aumento (hiperemia), diminuição (oligoemia) ou cessação (isquemia) do fluxo sanguíneo para os tecidos, de coagulação do sangue (trombose), do surgimento de substâncias que causam obstrução dos vasos (embolia), da saída de sangue dos vasos (hemorragia) ou da alteração nas trocas de líquidos entre o plasma e o interstício (edema). Alterações de inervação: mudanças no funcionamento do sistema nervoso que ainda são pouco conhecidas. A inflamação é uma grave lesão que abrange todas as células do tecido devido a um problema na microcirculaçãoeaconsequente saídade leucócitos dos vasos sanguíneos, acompanhada, então, de lesões celulares e no interstício. Ou seja, a inflama‐ ção ocorre devido a respostas imunes acompanha‐ das pelas lesões. Denominação das doenças É importante que a denominação das doenças esteja envolvida comassuascaracterísticasbásicas, como a natureza, o local de ocorrência e o tipo de lesão. Por exemplo, gastrite é o nome da doença que causa uma inflamação (“ite”) no estômago (“gastro”). No entanto,muitas doenças se referemao nome do pesquisador ou ao local de descoberta, o quedificulta o entendimentoda suanatureza. Assim, 71 Anotações:a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu uma nomenclatura universal como padronização do nome das doenças chamada Classificação Interna‐ cional das doenças (CID). Para a definição, é necessário o conhecimento dos sinais, sintomas e lesões que causam a doença, criando-se um número para se referir a cada uma delas. Com a padronização se espera que haja uma facilitação na determinação de açõesmais efetivas na prevenção, diagnóstico, tratamento e prognóstico. Divisões da patologia Asdoençaspodemsercausadaspor alterações moleculares ou morfológicas que resultam em alterações funcionais no organismo ou em regiões específicas, causando sinais (manifestações objetivas) e sintomas (subjetivas). Assim, a patologia pode ser dividida em determinadas áreas, como: • Etiologia: estudo das causas das doen- ças. • Patogênese: estudo dos mecanismos das doenças. • Anatomia patológica: estudo das altera‐ ções morfológicas (lesões). • Fisiopatologia: estudo das alterações funcionais de órgãos e sistemas. A semiologia são os sinais e sintomas detec‐ tados no paciente doente. A propedêutica é realiza‐ da pelos profissionais e nada mais é do que fazer o diagnóstico das doenças. Além disso, ainda é verificadooprognóstico, o tratamentoeaprevenção das doenças. Anotações: 72 Figura 44: Definições de importantes termos dentro da área da patologia Fonte: O próprio autor. A patologia geral é o estudo dos aspectos comuns de diferentes doenças, tanto humanas quanto de outros animais. Já a patologia especial dedica-se a doenças de um determinado órgão ou sistema, além de estudar tambémdoenças agrupa‐ das por causas. Mecanismos de infecção e evasão dos microrganismos Os principais alvos da resposta imune são as substâncias estranhas, as quais podem estar em agentes infecciosos ou moléculas endógenas alteradas por estresse oxidativo, bem como por agressão exógenas às células ou interstício. Nesse momento de resposta, as células imunes também podem ocasionar lesões ou doenças ao próprio organismo. Alterações que causam um aumento ou diminuição da resposta imune tambémpodemgerar doenças autoimunesou infecciosas, respectivamen‐ 73 Anotações:te. Os agentes biológicos,ou seja, os microrganis‐ mos, podem invadir um hospedeiro e causar as doenças infecciosas. Um microrganismo pode causar lesão no tecido hospedeiro a partir dos seguintes mecanismos: • Ação direta: o microrganismo invade as células e causa a morte. Alguns exemplos de agentes biológicos com essas caracte‐ rísticas são os vírus, bactérias, algas e protozoários. • Substâncias tóxicas liberadas pelos microrganismos: as bactérias, fungos e protozoários possuem essas exotoxinas. • Toxinas endógenas ou endotoxinas: liberadas pelosmicrorganismos após a sua morte e que também são capazes de lesionar as células do hospedeiro. • Ativação de componentes do sistema do complemento: o que causa uma inflama‐ ção no local da invasão. • Indução de resposta imunitária aos diferentes antígenos (de superfície, es- trutura ou excreção) do microrganismo: esse tipo de resposta pode ser humoral ou celular, assim como na resposta imune adaptativa. • Antígenos se aderem à superfície celular ou a outras estruturas teciduais: em resposta a isso, anticorpos ou respostas imunes são dirigidas aos epítopos dos antígenos. Esses epítopos de substâncias estranhas podem ser inclusive, similares a componentes do próprio organismo, o que pode acarretar em uma resposta autoimu‐ ne. Anotações: 74 • Integração ao genoma nuclear e altera‐ ções na síntese de proteínas: o que pode acarretar emneoplasias, ou seja, tumores. Todos essesmecanismos podemocorrer com maioroumenor intensidade, dependendodomaterial genético do organismo hospedeiro, pois cada DNA terá diferentes receptores para toxinas e diferentes tipos de respostas dependendo do agente agressor. Alémdisso, as condições de saúde do organismo no presente também podem afetar essas respostas imunes. 75 Anotações:REFERÊNCIAS ABBAS, Abul K.; LICHTMANN, ANDREW H.; POBER, J. S. Imunologia Celular e Molecular. 8ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. 536p. JANEWAY, Charles A.; MURPHY, Kenneth; TRAVERS, Paul; WALPORT, Mark. Imunobiologia: o sistema imune na saúde e na doença. 7ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. 767p. BOGLIOLO, B. Patologia. 8ª ed, 2012. Rubira, A. P.; Nogueira, I.A.T.; Almeida, L.A. Imuni‐ dade contra microorganismos. Uma análise em relação às defesas inatas e adquiridas. Revista Ciência Amazônida, ILES/ULBRAPorto Velho/RO. v. 1, n. 1 (2016). Machado, P.L.R.; Araújo, M.I.A.S.; Carvalho, E.M.; Carvalho, L. Mecanismos de resposta imune às infecções. An bras Dermatol, Rio de Janeiro, 79(6):647-664, nov/dez. 2004. CRUVINEL, W.M.; Mesquita J.D.; Araújo, J.A.P. Sistema Imunitário – Parte I. Fundamentos da imunidade inata com ênfase nos mecanismos moleculares e celulares da resposta inflamatória. Rev Bras Reumatol, 50(4):434-61, 2010. DUTRA, Mellanie Fontes; Disponível em: <https://twitter.com/mellziland/status/ 1412798057498955782>. Acesso: 13 demaio 2022. U ni da de 4 76 QUESTÃO 1 Fonte: Adaptada de PUC-RJ-2007. O assunto vacinação está bastante emalta em todo o mundo devido à pandemia do COVID-19. Desde o início, pesquisadores de inúmeras Univer‐ sidades vêm trabalhando como intuito de criar uma vacina contra o vírus. Sendo assim, a vacina consiste em: a. Anticorpos contra determinado patógeno, os quais estimulama resposta imunológica do indivíduo. b. Sorode indivíduospreviamente imunizados contra aquele patógeno. c. Anticorpos contra determinado patógeno produzidos por outro animal, os quais fornecem proteção imunológica. d. Células brancas produzidas por animais, as quais semultiplicam no corpo do indivíduo que recebe a vacina. e. Um patógeno vivo enfraquecido ou partes dele para estimular a resposta imunológica, mas não causar a doença. QUESTÃO 2 Fonte: Adaptada de UNISC. No sangue, além das hemácias, encontramos os leucócitos. Um dos tipos de leucócitos são os linfócitos, cuja frequência é relativamente alta no sangue. Em relação a essas células, podemos afirmar que: a. São células encontradas exclusivamente no sangue. ISBN 978-85-64293-34-2 9 788564 293342
Compartilhar