Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O SISTEMA ECONÔMICO VIGENTE Professora: Drª Andréia Moreira da Fonseca Boechat Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Head de Planejamento de Ensino Camilla Cocchia Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey Projeto Gráfico Thayla Guimarães Designer Educacional Editoração Produção de Materiais Ilustração Bruno Pardinho Qualidade Textual Ariane Andrade Fabreti DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site shutterstock.com C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; BOECHAT, Andréia Moreira da Fonseca; Empreendedorismo Social e Economia no Pós-Capitalismo. Andréia Moreira da Fonseca Boechat; Maringá-Pr.: Unicesumar, 2017. 34 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Empreendedorismo Social. 2. Economia. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 306 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 sumário 06| EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO 14| O NEOLIBERALISMO ECONÔMICO 17| AS PRINCIPAIS CRISES ECONÔMICAS MUNDIAIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Estudar a evolução do pensamento econômico. • Compreender o neoliberalismo econômico. • Conhecer as principais crises econômicas mundiais. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Evolução do Pensamento Econômico • O Neoliberalismo Econômico • As Principais Crises Econômicas Mundiais O SISTEMA ECONÔMICO VIGENTE INTRODUÇÃO introdução Olá, caro(a) aluno(a), tudo bem com você? Seja muito bem-vindo(a) ao estudo do tema O Sistema Econômico Vigente. Como é de seu conhecimento, o Brasil, assim como a maioria dos países, adotou o capitalismo como sistema econômico há muitos séculos. Porém, o capitalismo sofre diversas críticas de economistas, sociólogos, assistentes sociais, cientis- tas políticos, antropólogos, entre outros. Essas duras críticas são em função de certas características que o capitalismo tem. Por exemplo, o papel limitado que o Estado exerce sobre a economia, o lucro ser o objetivo principal dos agentes econômicos, e a não preocupação com a situação social. Assim, esses estudiosos afirmam que é inviável, atualmente, manter o padrão de produção e consumo que o capitalismo propõe, sendo necessária uma alteração no sistema econô- mico. É neste sentido que surge o que se começa a chamar de pós-capitalismo. Porém, você sabe dizer-me, exatamente e conceitualmente, o que é o capita- lismo? E principalmente, qual foi o caminho percorrido pelas teorias, pensadores e fatos históricos para que fosse possível estarmos na situação atual? Estas serão as nossas discussões. Para atingir nosso objetivo, teremos três aulas. Na primei- ra, estudaremos a evolução do pensamento econômico para que seja possível compreender como as teorias evoluíram conforme os fatos históricos acontece- ram para que a economia tomasse a forma que conhecemos atualmente. Neste sentido, falaremos dos mercantilistas, fisiocratas, clássicos, Marx e keynesianos. Na segunda aula, nosso objetivo é compreender o tal neoliberalismo eco- nômico que ganhou muita importância na economia mundial a partir dos anos de 1960/70, e no Brasil, a partir da década de 80 e começo da década 90. Nesta aula, você conseguirá entender, principalmente, as críticas que algumas pessoas fazem ao capitalismo e ao seu impacto na vida das pessoas. Para finalizar, co- nheceremos as principais crises econômicas mundiais as quais demonstraram a fragilidade (ou não) do sistema capitalista. Animado(a) para nossas discus- sões? Espero que sim! Pós-Universo 6 Evolução do Pensamento Econômico Pós-Universo 7 Nesta primeira aula, discutiremos a evolução do pensamento econômico, para isto, trabalharemos com cinco “escolas”, que são os mercantilistas e fisiocratas, que apesar de não serem escolas, procuraram explicar os motivos que fazem uma nação ser rica. Os clássicos, que foram as primeiras teorias econômicas formalizadas, Karl Marx, um pensador que revolucionou o estudo dos sistemas econômicos ao propor a criação de um novo sistema, e Keynes, considerado o pai da econômica moderna. Vamos lá? Mercantilistas e Fisiocratas Quando começamos a falar em economia e crescimento econômico, falamos nos mercantilistas e fisiocratas, e apesar de as teorias por eles defendidas não serem teorias econômicas consolidadas, eles foram os primeiros que procuraram explicar os motivos que fazem uma nação ser rica e outra não. Assim, a visão dos mercanti- listas surgiu na França e na Inglaterra, e foi aceita pelos países entre os séculos XV e XVIII, durante o período das grandes navegações. Para eles, a riqueza das nações depende do afluxo externo de metais preciosos, ou seja, quanto mais ouro e prata um país tinha, mais rico ele era. Então, já que era fundamental ter metais preciosos, era preciso encontrá-los, levando à expansão do comércio internacional e à procura de tais bens em outros territórios. Assim, pode- ríamos ter um saldo positivo na balança comercial (exportação ser maior do que a importação). Para que isto fosse possível, era preciso que houve intensa intervenção do Estado na economia, e que a indústria recém-formada na época fosse protegida, e con- sequentemente, as atividades agroindustriais fossem deixadas um pouco de lado. Certamente você deve estar cheio(a) de dúvida acerca da minha afirmação, correto? Vou te explicar. Se um dos objetivos era manter a balança comercial positiva, era preciso exportar mais do que importar, e uma forma de atingir este objetivo era dificultar as importações. Já para alterar o foco do setor agrícola para o industrial, a proposta mercantilista era que se aumentasse o preço dos alimentos e das matérias-primas. Outra característica desse período é que estamos na época das colônias, assim, para os mercantilistas, todo o comércio das colônias deveria ser feito com as metró- poles, e a quantidade e o preço eram fixados de forma que a metrópole ficasse rica, e as colônias, não. Por exemplo, o Brasil produzia açúcar, que era enviado a Portugal para ser vendido aos demais países, e a riqueza ficava com Portugal, a metrópole. Pós-Universo 8 Outros percursores foram os fisiocratas, que surgiram na França no século XVIII como uma reação ao mercantilismo e às características feudais do antigo regime. Para os fisiocratas, O Estado não deveria intervir na economia, trazendo a ideia do laissez-faire, que significa, conforme Brue (2013, p. 35), “deixe as pessoas fazerem o que quiserem sem a interferência do governo”. Em outras palavras, o Estado deveria intervir o mínimo possível na economia, somete nos assuntos essenciais, como a pro- teção à vida e à propriedade. Além disto, a agricultura seria o principal setor econômico, e as indústrias e o co- mércio dariam apoio, transformando e transportando os valores, sendo, portanto, um desdobramento. Assim, somente a agricultura era produtiva, pois ela produzia um ex- cedente, um produto líquido acima do valor dos recursos usados na produção. Assim, eram necessários três mecanismos para que se gerasse crescimento econômico: • capitalizar o setor para que aumentasse a produtividade e o nível de pro- dução, para gerar excedente cada vez maior; • taxação do proprietário de terra, já que somente a agricultura gerava produto líquido, somente os proprietários da terra recebiam na forma de rendimentos, então eles que deveriam ser taxados. Além disto, ao aliviaros consumido- res, a demanda por produtos agrícolas era estimulada; • estímulo ao comércio exterior para escoar a produção agrícola. Os clássicos e neoclássicos Segundo Brue (2013), a escola clássica teve início em 1776 com a publicação do tra- balho de Adam Smith, intitulado A riqueza das nações. Para você entender melhor, houve duas revoluções significativas para o desenvolvimento do pensamento eco- nômico clássico. A primeira foi a revolução científica de 1687, promovida por Isaac Newton por meio da lei da gravidade universal, que explica o movimento dos pla- netas. A segunda revolução foi a industrial, a partir de 1776. A partir daí, o pensamento clássico foi desenvolvido tendo como principais bases: a liberdade pessoal, a propriedade e a empresa privadas, a iniciativa individual e a mínima interferência do Estado na economia. Somente por essas características você pode perceber que a doutrina clássica pregava o liberalismo, conhecido também como liberalismo econômico. Pós-Universo 9 Como se dava essa liberdade? Segundo Brue (2013), é preciso considerar o con- texto histórico para a melhor compreensão do termo liberalismo. As ideias clássicas eram liberais em contraste com as restrições feudais e mercantilistas, o que remete à ideia do que hoje são chamados de conservador. Neste sentido, os dogmas da escola clássica podem ser resumidos segundo Brue (2013): • mínima intervenção do Estado, pois as forças do mercado livre e compe- titivo guiariam a produção, a troca e a distribuição. A economia ajusta-se sozinha, e o governo deveria intervir somente na garantia do direito de propriedade, no fornecimento da defesa nacional e da educação pública; • comportamento econômico de autointeresse, ou seja, para os clássicos, o autointeresse do ser humano faz parte da natureza, e por isto, os produto- res forneciam bens e serviços para obter lucro, os trabalhadores ofereciam sua mão-de- obra para obter salário e os consumidores compravam produ- tos para satisfazer seus desejos. Porém, ao buscar seu interesse individual, as pessoas atendiam aos melhores interesses sociais; • a riqueza da nação dependia de todos os recursos econômicos (terra, mão- -de-obra e capital) e de todos os setores econômicos (agricultura, comércio, indústria, comércio internacional). Os principais pensadores da escola clássica são Adam Smith e David Ricardo, e além deles, temos Malthus, Bentham Say, Senior e Mill. Vamos compreender as ideias mais importantes de Smith, que foi o “pai” da economia clássica? Para Adam Smith, o trabalho produtivo era o responsável pela geração de riqueza na economia, por isto, ele defendia que era fundamental a especialização do trabalho por meio do aumento da produtividade do capital e da tecnologia. Assim, a riqueza derivava da quantidade de trabalho produtivo (aquele que cria exceden- te sobre o custo) empregada no processo produtivo em relação à população total. Esse trabalho, o qual Smith chamava de produtivo, dependia da adição de capital na produção de excedente de valor sobre o custo de reprodução e da divisão/espe- cialização do trabalho. Existia, porém, um obstáculo à divisão do trabalho, que era a pequena dimensão do mercado. A solução encontrada por Smith foi o comércio internacional, já que, Pós-Universo 10 para ele, o mercado é ampliado pelo crescimento demográfico, pela elevação dos salários totais pagos e pela abertura econômica. Além disto, Smith defendia que o mercado deveria funcionar livremente, e que uma “mão invisível” o regularia, sendo necessário que o Estado interviesse apenas na defesa nacional e na justiça e fosse responsável por algumas obras. Karl Marx Os críticos socialistas da economia clássica defendiam que era preciso uma reforma drástica no capitalismo e nos seus males morais. Porém, Karl Marx não concorda- va com isto e procurou mostrar que o capitalismo tinha contradições internas que garantiriam seu fim (BRUE, 2013). Assim, Karl Marx foi o primeiro pensador a criticar duramente o sistema capitalista, mas propondo a criação de um novo sistema, que apesar de nunca ter sido posto em prática, tornou-se uma doutrina, o marxismo. Marx, apesar de ter uma visão similar aos clássicos, tinha como preocupação des- vendar as leis de movimentos de capitais, ou seja, compreender a relação entre o capital e o trabalho. Assim, para Marx, existia uma relação de exploração entre os capitalistas, que são os donos do capital, e os trabalhadores, que são o proletariado. Dessa exploração no trabalho que o capitalista obtém o lucro. Neste sentido é que surgiu o termo provavelmente mais conhecido de Marx, a mais-valia. Para ele, o valor do trabalho é determinado pelo tempo gasto com o tra- balho e as necessidades das famílias dos trabalhadores. Assim, se as necessidades pudessem ser produzidas em quatro horas por dia, o valor de força de trabalho da mercadoria seria de quatro horas por dia. Para ser mais fácil de compreender, imagine que seis horas de tempo de trabalho socialmente necessárias estejam embutidas nas mercadorias que os trabalhadores comuns e suas famílias precisam consumir diaria- mente. Desta forma, metade da mão-de-obra de um dia de trabalho de doze horas forma o valor da hora de trabalho de um dia. Imagine agora que, com um tempo de trabalho de seis horas, cada trabalhador converta dez libras de algodão em dez libras de fios. Supondo que o algodão con- sumido em seis horas de trabalho tenha valor de 20 horas de trabalho ou dez xelins de ouro, e que o processo de produção dos fusos (espécie de carretel) some quatro horas de trabalho ou dois xelins durante meio dia de trabalho. Assim, o total de fios Pós-Universo 11 produzidos em meio dia é de 30 horas de tempo de trabalho: seis para a força de tra- balho, 20 para o algodão e quatro para o valor consumido dos fusos. Esta situação pode ser vista na Figura 1. Figura 1 – Teoria da exploração de Marx Fonte: Brue (2013, p.180). Na situação apresentada, três horas do tempo gasto com o trabalho é explorado pelo capitalista, assim, essas três horas são a chamada mais-valia. Os keynesianos A escola keynesiana é uma das principais teorias da atualidade, surgindo em 1936 com a publicação do livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de Jonh Maynard Keynes. Neste trabalho, Keynes criticou fortemente os postulados da economia clás- sica e combateu a lei de Say, que afirma que a oferta cria sua própria demanda. Para ele, os postulados clássicos, aceitos até então, não conseguiam explicar a Grande Depressão que estourou em 1929 com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque e que afetou toda a economia mundial. Os principais dogmas da escola keynesiana, segundo Brue (2013), são os seguintes. • Ênfase macroeconômica, ou seja, a preocupação era com as variáveis agrega- das de consumo, poupança, renda, produção e emprego. Em outras palavras, os keynesianos estavam mais interessados em saber como é o consumo de toda uma população em conjunto do que os gastos individuais. Pós-Universo 12 • Demanda efetiva em qual é o determinante da renda nacional, da produ- ção e do emprego. Para Keynes, as empresas produzem a quantidade que esperam vender, mas nem sempre conseguem vender tudo que produzi- ram e acabam demitindo funcionários para reduzir a produção. • Instabilidade na economia. Como o próprio nome já diz, para Keynes, a economia não é estável em função dos níveis de gasto com investimento serem irregulares. • Salários e preços são inflexíveis em razão das instituições. Como contratos, sindicatos, lei do salário mínimo, entre outros. Assim, quando as vendas reduzem, as empresas demitem funcionários e não reduzem o salário. • Intervenção do Estado na economia por meio das políticas monetária (taxa de juros e moeda em circulação) e fiscal (gastos e arrecadação). Então, é uma obrigação do governo promover o pleno emprego, a estabilidade dos preços(inflação) e o crescimento econômico. Como você percebeu, apesar das ideias de Keynes terem origem na escola clássica, ele e os teóricos dessa escola discordavam em muitos pontos. Para tornar mais fácil a compreensão, analisaremos o Quadro 1. Variáveis Estado Classico / Neoclássico Estado Keynesiano Funcionamento da Economia Oferta gera própria demanda Demanda gera oferta Mercado Autorregulado Os mercados falham = Oferta é maior que demanda Intervenção Limitadas as garantias para funcionamento do mercado Intencional para conduzir o desempenho da Demanda Agregada Ação do Governo Fazer cumprir os contratos e garantir a propriedade privada A melhoria nas condições de emprego é um objetivo para ser alcançado por vontade política. Quadro 1 – Clássicos x Keynesianos Fonte: a autora. Pós-Universo 13 Analisando o Quadro 1, podemos perceber claramente a diferença entre as escolas clássicas e keynesianas. Por exemplo, para os clássicos, a oferta criava sua demanda, enquanto para Keynes, a demanda gera a oferta. Para os clássicos, o mercado é capaz de autorregular-se por meio da mão invisível, e o governo não devia intervir na eco- nomia, diferente da escola keynesiana, que acredita que o governo deve intervir na economia já que os mercados falham. O Estado deve ter presença conforme o pensamento de Adam Smith, ou conforme Keynes, nas economias em desenvolvimento, como é o caso do Brasil? reflita Pós-Universo 14 O Neoliberalismo Econômico Pós-Universo 15 Quando falamos no sistema econômico capitalista, atualmente, sempre vem a dis- cussão sobre a necessidade de intervenção ou não do Estado na economia. Este debate ganhou mais importância a partir dos anos 80, não apenas nos países consi- derados desenvolvidos, como Estados Unidos e Alemanha, mas, no Brasil, também é muito presente essa discussão. Mas o que é o neoliberalismo? Como surgiu? Estas são as perguntas que nortearam esta aula. Vamos lá? O neoliberalismo não é um sistema econômico ou político ou uma teoria eco- nômica, e sim, uma doutrina econômica do capitalismo, que tem sua origem no liberalismo defendido pela escola clássica. Porém, não existe um consenso sobre o início, de fato, do neoliberalismo. Alguns estudiosos sobre o tema afirmam que antes do início da Segunda Guerra Mundial, mais precisamente em 1938, que o neolibe- ralismo foi “criado”. Outros afirmam que a concepção neoliberal surgiu após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1947, com Friedrick August Von Kayek. Por outro lado, o que se sabe é que o neoliberalismo começou a ser discutido com maior propriedade a partir dos anos 70, com dogmas bem próximos da escola clás- sica, mas com pontos distintos. E sabe por quê? Porque estamos falando de épocas/ séculos diferentes, ou seja, a realidade econômica, social e política do século XVIII é bem diferente daquela do século XX. Hoje existem paradigmas distintos do capita- lismo, como a globalização. O que se sabe realmente é que a política neoliberal foi utilizada pela primeira vez no Reino Unido na gestão de Margareth Thatcher, e nos Estados Unidos, com Ronald Reagan a partir dos anos 80, e foi adotada posteriormente por outros gover- nos, inclusive o brasileiro. Pós-Universo 16 Para ficar mais claro, vamos analisar a Figura 2 que apresenta algumas caracterís- ticas dessa doutrina tão polêmica. Figura 2 – Características da doutrina do neoliberalismo Fonte: a autora. Ao analisar as características apresentadas na Figura 2, você pode perceber que ela mostra exatamente a discussão que existe atualmente, correto? De um lado, temos pessoas defendendo a adoção da doutrina neoliberal, e do outro lado, agentes eco- nômicos que são totalmente contra. Assim, podemos afirmar que a base da economia neoliberal é a empresa privada, pouca intervenção do Estado no mercado, inclusive no mercado de trabalho, e a defesa dos princípios econômicos do capitalismo, como a busca pelo lucro e a competição acirrada. Para aprofundar seus conhecimentos sobre a doutrina neoliberal, leia o artigo “O neoliberalismo como doutrina econômica” de Theotônio dos Santos. Para saber mais, acesse: <http://www.uff.br/revistaeconomica/v1n1/theotonio>. Fonte: a autora. saiba mais http://www.uff.br/revistaeconomica/v1n1/theotonio Pós-Universo 17 As Principais Crises Econômicas Mundiais Pós-Universo 18 Nesta aula, você será levado(a) a compreender as principais crises econômicas que ocorreram no mundo nos séculos XX e XXI e como tais crises afetaram a economia brasileira e o sistema econômico vigente. Porém, antes de estudarmos cada crise, com- preenderemos o que são crises financeiras internacionais. Uma crise financeira acontece quando uma ou algumas situações fazem instituições ou ativos financeiros desvalori- zarem-se repetidamente. Em geral, em uma crise financeira, os investidores, como não desejam perder dinheiro, saem daquele país; ou seja, acontecem as fugas de capitais, e todos os países com aquelas mesmas características acabam sofrendo consequências. A Grande Depressão Apesar de todos os problemas que ocorreram no Brasil durante a economia cafeeira, como a oscilação do preço do café e a escassez de fontes de financiamento para as políticas de proteção desse produto, até o final de década de 20, a economia brasileira dependia quase exclusivamente da produção e exportação do café. Por esta razão, em momentos em que não havia uma crise internacional, os recursos existentes no país eram voltados quase inteiramente para essa atividade, o que provocou uma superprodução nos últimos anos do ciclo cafeeiro. Por outro lado, não existia mais um mercado consumidor tão grande, já que a situação internacional não era das mais favoráveis. E, para agravar ainda mais a situação econômica brasileira, em 1929, estourou uma grande crise mundial (a maior crise econômica conhecida até esse momento), chamada de Grande Depressão. A Grande Depressão foi desencadeada na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América, quando a Bolsa de Valores “quebrou”. Mas, como isso ocorreu? Durante e após a Primeira Guerra Mundial, houve uma superprodução nos Estados Unidos, já que a Europa estava participando ativamente da guerra. Com isto, as em- presas norte-americanas obtinham lucros enormes, o que fez o país tornar-se o mais rico do mundo, produzindo aço, máquinas, carvão, entre outros. Além disto, as empresas também faturavam lucros exorbitantes. Isto perdurou por dez anos, che- gando-se até a falar em American Way of Life, expressão utilizada por muitos até os dias de hoje, que significa “Modo de Vida Americano”, já que o consumo era enorme e novos produtos eram lançados o tempo todo. Esse boom econômico valorizou as ações das empresas no mercado de capitais, e os americanos passaram a investir cada vez mais no mercado acionário, fazendo o preço unitário aumentar significan- temente, e as empresas, para financiar sua produção, vendiam mais e mais ações. Pós-Universo 19 Em 24 de outubro de 1929, porém, em uma quinta-feira, os valores das ações caíram significantemente em função do aumento da oferta de ações na Bolsa de Valores, e, como você sabem, com os preços mais baixos, os investidores desejam vender rapidamente o ativo para que não continuem perdendo dinheiro. Foi exata- mente isto que ocorreu nessa época: os investidores queriam vender as ações, mas ninguém queria comprar, o que fez o preço das ações reduzir-se ainda mais, e assim, a famosa Bolsa de Valores de Nova Iorque quebrou. Qual foi o impacto desse crash da Bolsa norte-americana? Com os preços baixos das ações de uma empresa (no caso americano, muitas empresas viram o preço de suas ações despencarem), os empresários não investiam nessa empresa, pois, segundo a microeconomia clássica, o ser humano é racional. Sem investimentos, menor era a produção, sendo gerados menos empregos, renda e consumo. Desta forma, várias empresas faliram, assimcomo diversos bancos (que fizeram empréstimos a essas empresas e não conseguiam receber de volta o dinheiro). Ou em outras palavras: a quebra da Bolsa de Valores dos Estados Unidos acarretou desemprego e falência ge- neralizada na economia norte-americana. Para compreender melhor a Grande Depressão pela ótica norte-americana e a semelhança dela com as últimas crises mundiais, leia o texto “A economia política da Grande Depressão da década de 1930 nos EUA: visões da crise e política econômica, semelhanças e diferenças com a crise atual”. Para saber mais, acesse: <http://www.ie.ufrj.br/datacenterie/pdfs/seminarios/pesqui- sa/texto1509.pdf>. Fonte: a autora. saiba mais Só que o problema não se restringiu apenas aos Estados Unidos: as Bolsas de Londres, Berlim e Tóquio também quebraram, pois existia uma relação comercial e não co- mercial dos Estados Unidos com os demais países, e o mundo inteiro foi impactado, tornando esta a maior crise econômica mundial, já que os Estados Unidos e outros países não importavam mais mercadorias de diversas nações que dependiam dessas exportações, o que aumentava os estoques dessas nações (como aconteceu com a economia cafeeira do Brasil). Pós-Universo 20 Você lembra que, neste período, o Brasil dependia da produção e da venda de café? Então, se o mundo estava em crise, ninguém comprava o café brasileiro, redu- zindo o preço dessa commodity. Assim, segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2011), em 1930, dois elementos estavam presentes: a produção nacional era enorme e a economia mundial estava em crise. A depressão no mercado internacio- nal reduziu o preço do café ainda mais, obrigando o governo a intervir, comprando e estocando o produto, e desvalorizando o câmbio. Neste sentido, Furtado (1989) enfatiza que o impacto da Grande Depressão na economia brasileira teve dois lados: de um lado, o da demanda, e de outro, o da oferta. Para esse autor, a superprodução de café, mais a redução da demanda por esse produto em termos de preços e de quantidades, agravaram o déficit do Balanço de Pagamentos e aumentaram a dificuldade de acesso a capitais e em- préstimos externos para financiar o déficit em conta corrente. Para esse problema, a saída foi a expansão da oferta de moeda e a desvalorização cambial, que altera- ram os preços relativos em favor da produção interna, e assim, com as importações mais caras, um mercado interno foi fomentado, criando condições para o cresci- mento industrial. Então, a crise mundial deixou claro que não tinha mais como a economia brasi- leira sustentar a dependência de um único produto agrícola, sendo necessário outro caminho. Assim, a Grande Depressão foi um momento de ruptura na forma como o desenvolvimento econômico brasileiro era feito, trazendo à tona a necessidade da industrialização como modo de superar os constrangimentos externos e o subde- senvolvimento (GREMAUD; VASCONCELLOS, TONETO JÚNIOR, 2011). Mas como isto poderia ser feito? Via industrialização. A Crise do México (1994) A primeira crise financeira internacional que impactou a economia brasileira após a implantação do Plano Real foi a crise do México em 1994, que ficou conhecida como “efeito tequila” e deixou importantes lições ao governo brasileiro. Em 1994, o México apresentava profundos desequilíbrios macroeconômicos (anos de déficit em tran- sações correntes; é importante observar que o Brasil também estava nessa situação deficitária) e um conturbado quadro político, ou seja, o país estava vivendo uma crise política e social em decorrência do estrangulamento da economia interna. Pós-Universo 21 O saldo em transações correntes, segundo Souza (2008), é uma das contas que fazem parte do Balanço de Pagamentos. A conta corrente ou, como também é conhe- cida, conta de Transações Correntes, é composta pela balança comercial (exportações e importações), e pela Balança de Serviços (como transporte, seguros, remessas e re- cebimentos de juros e lucros) e transações unilaterais. Assim, o saldo em transações correntes pode ser visto de inúmeras formas: indica, por exemplo, se os habitantes de um país estão concedendo ou tomando empréstimos no exterior; o déficit menos investimento estrangeiro direto líquido demonstra a necessidade de financiamento externo; e alguns modelos econômicos, como os pós-keynesianos e os estrutura- listas, consideram o déficit em conta corrente como um dos maiores entraves ao crescimento econômico; já outros modelos acreditam que não. No final de 1994, após seis anos de peso mexicano sobrevalorizado, as reservas internacionais baixaram consideravelmente em função do déficit no saldo da conta de Transações Correntes. Neste contexto, o governo foi obrigado a desvalorizar a moeda e os investidores saíram do país, desencadeando uma grande crise financei- ra, a qual reduziu a produção e gerou desemprego de mais de 60%. Como os investidores do México perderam dinheiro, o medo dos investidores de outros países em situação semelhante, como Brasil e Argentina, aumentou, uma vez que esses locais poderiam seguir o mesmo caminho mexicano. Assim, em março de 1995, os investidores começaram a tirar dólares do Brasil, fazendo especulações sobre o Real. Deste contexto vem o nome “efeito tequila”. Com a crise no México, tornou-se claro que as contas externas não poderiam mais ser deterioradas, ou seja, apesar de o objetivo principal ser a estabilização da economia, a situação externa não poderia ficar de lado, caso contrário, poderíamos passar por uma crise cambial. Neste momento, Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2011) afirmam que o Plano Real passou para uma segunda fase. A solução encontrada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, em março de 1995, foi ampliar o controle da demanda interna ainda mais para evitar a perda das reservas. Para isto, a equipe econômica optou, entre outras medidas, por restrição do crédito, elevação da taxa de juros para atrair capital estrangeiro, desvalorização em 6% da taxa de câmbio e alargamento das bandas de flutuações. O impacto dessas medidas foi positivo, e o governo conseguiu minimizar os ataques especulativos. O principal instrumento do governo, então, passou a ser a taxa de juros, que foi utilizada para conter a demanda, controlar a inflação, impedir Pós-Universo 22 déficits comerciais elevados, manter o país atrativo ao capital estrangeiro, entre outros fatores (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011). No segundo semestre de 1995, porém, a atividade econômica retraiu, a inadimplência das empresas e dos consumidores aumentou significativamente e dois bancos faliram, res- taurando o princípio de uma crise financeira, que foi contornada pelo Banco Central por meio do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (PROER) e do Programa de Reestruturação dos Bancos Estaduais (PROES). Apesar disso, a crise financeira de 1995 e o processo de reestruturação do sistema financeiro provocaram aumento da dívida pública, que, em 1994, era de 30% do PIB e, em 1998, passou para 44% do PIB, com ruptura no crescimento econômico e aumento do desemprego. A Crise da Ásia (1997) A segunda crise financeira internacional que afetou a economia brasileira na década de 90 foi a crise asiática em 1997, conhecida como a Crise dos Gigantes Asiáticos. Ela teve início no verão de 1997 na Tailândia, quando houve fuga de capital e deflação de ativos financeiros, atingindo, inicialmente, Malásia, Indonésia e Filipinas e, depois, os tigres asiáticos Coreia do Sul e Hong Kong. Os Tigres Asiáticos são quatro países da Ásia: Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan, que atingiram um acelerado crescimento industrial e econômico a partir dos anos 70. Esse crescimento foi oriundo do modelo industrial adotado chamado de Industrialização Orientada para a Exportação (IOE), cujo principal objetivo era a venda dos produtospara o mercado externo (países desenvolvidos era o foco). Assim, o nome Tigres Asiáticos se dá pela agressividade administrativa (tigre) e localização dos países (Ásia). A gota d’agua para a crise foi a desvalorização em 15% da moeda tailandesa, afetando a confiança das instituições financeiras domésticas. Dois meses depois, as moedas das Filipinas, da Malásia e da Indonésia também foram desvalorizadas, e assim, a crise tornou-se cada vez maior. Canuto (2000) aponta duas características da crise que foram responsáveis pela forte saída de capital: a acentuada desvalorização da moeda dos países envolvidos e a queda nos preços dos ativos em mercados acionários. Para ter uma noção da evasão de capital, em 1996, US$ 93 bilhões entraram nos países asiáticos, ao passo que, em 1997, US$ 12 bilhões saíram. Pós-Universo 23 Durante a crise asiática, as reservas brasileiras foram reduzidas em US$ 20 bilhões, e, em resposta à crise, o governo brasileiro aumentou a taxa de juros (a SELIC chegou a 20% ao ano) e lançou pacotes fiscais que não foram cumpridos, o que deteriorava as condições de financiamento. O impacto foi a recuperação das reservas, o aumento do desemprego e a redução do produto interno bruto. Além disso, o mercado passou a não confiar na política fiscal que foi descumprida pelo governo e reagiu rejeitando os títulos pré-fixados. A Crise da Rússia (1998) A economia brasileira ainda não tinha se recuperado da crise asiática e já sofria o impacto da crise russa, que ficou conhecida como a moratória russa. O que significa moratória? O termo moratória é empregado na economia e refere-se à espera que o credor concede ao devedor para pagamento de uma dívida, mas esse tempo é maior do que o definido inicialmente. Outra definição refere-se ao ato do devedor, no caso um país, adiar o pagamento da dívida externa. Em geral, esta prática é de- cretada por países que enfrentam graves crises econômicas internas ou outro tipo de instabilidade, como conflito armado, revolução e calamidade pública. Fonte: adaptado de Santiago ([2017], on-line)1. atenção Com o fim da União Soviética, em 1991, a Rússia realizou inúmeras medidas para se en- caixar no modelo capitalista ocidental, tais como privatização e redução do papel do Estado na economia, tendo de controlar a inflação. Ao realizar privatizações, o governo russo abriu a economia aos investimentos externos, e as exportações, em sua maioria commodities, entre elas o petróleo, tiveram o preço consideravelmente reduzido. A crise da Ásia em 1997 afetou as economias emergentes, entre as quais estava a russa, desvalorizando a moeda. No entanto, o governo russo manteve a paridade do rublo (moeda russa) com o dólar, política cambial que, entretanto, foi uma medida de alto custo para o governo. A paridade do rublo com o dólar e a queda nas recei- tas oriundas das exportações fizeram com que a dívida aumentasse. Sem dinheiro Pós-Universo 24 para pagar a dívida, o presidente russo Boris Yeltsin declarou moratória. Esta medida aumentou a desconfiança dos investidores internacionais. A Rússia, então, fez um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para pagamento da dívida. Com isto, houve troca de rublos por dólares no país e os dólares eram enviados ao exterior; o resultado interno foi o aumento do desemprego. Para reverter a situação, o governo russo desvalorizou a moeda com para os investido- res retornarem ao país. A recuperação da Rússia após a crise de 1998 ocorreu em virtude, principalmen- te, das receitas de exportação de petróleo e gás, que foram fortemente valorizadas no mercado internacional. Para você, caro(a) estudante, ter uma ideia, o país cresceu a uma taxa média anual de 7% em função do desenvolvimento do mercado de pe- tróleo e gás que atraiu exportadores e investidores internacionais. A conjuntura favorável apresentada anteriormente fez que, dez anos após a crise, a Rússia se transformasse em uma das dez maiores economias do mundo, com re- servas internacionais de, aproximadamente, US$ 584,4 bilhões, com redução do desemprego e aumento da renda nacional. Dona da maior reserva de gás natural do mundo e da segunda maior de petró- leo, a Rússia tem 60% de suas exportações sustentadas pelo setor energético. O país também é grande produtor de outras matérias-primas, como metais e madeira, tendo se beneficiado, como o Brasil, da alta no preço das commodities nos últimos anos. O impacto da crise russa para o Brasil foi conforme o que será apresentado a seguir. a. A perda de US$ 30 bilhões nas reservas brasileiras entre agosto e setembro de 1998. Vamos analisar a Tabela 1, que mostra a evolução das reservas in- ternacionais brasileiras entre 1997 e 2002. Ano Reservas internacionais (bilhões US$) 1997 52,173 1998 44,556 1999 36,342 2000 33,011 2001 35,866 2002 37,823 Tabela 1 - Evolução das reservas internacionais brasileiras Fonte: Banco Central ([2017], on-line). Pós-Universo 25 Analisando a tabela 1, podemos entender a variação das reservas internacionais bra- sileiras entre 1997, ano anterior ao da crise russa, até 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso. Vemos que, após as crises financeiras internacionais, as reservas brasileiras foram reduzidas consideravelmente, voltando a aumentar apenas em 2001. b. A queda no preço dos títulos da dívida externa, conforme é possível ver no gráfico 1. A “dívida bruta” engloba todo tipo de débito do Estado brasileiro: títulos públicos vendidos ao “mercado”, empréstimos bancários, emprésti- mos feitos por organismos internacionais, débitos estaduais e municipais assumidos pelo governo federal. Por sua vez, no cálculo da “dívida líquida”, desconta-se tudo o que o país tem em caixa, seja em reais depositados aqui, seja em dólares mantidos no exterior, ou vai receber no futuro, inclusive o montante que vai receber do mesmo “mercado” de quem o Brasil é devedor. Gráfico 1 – Evolução da dívida pública brasileira Fonte: Banco Central ([2017], on-line). Conforme é possível ver no Gráfico 1, a dívida pública brasileira aumentou conside- ravelmente após a crise do México e continuou aumentando com a crise da Ásia e da Rússia, chegando a praticamente 50% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2000. c. A negociação com o FMI de um pacote de ajuda no valor de US$ 42 bilhões, no qual se exigia que o Brasil mantivesse, no mínimo, US$ 20 bilhões de re- servas cambiais, dificultando a defesa da taxa de câmbio e aumentando a possibilidade de especulação. Pós-Universo 26 O ano de 1998, no entanto, foi ano de eleição presidencial, e o presidente Fernando Henrique Cardoso tentaria a reeleição, dada a estabilidade conquistada com o Plano Real. Como afirma Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2011, p. 468) “o presiden- te ainda tinha a estabilização como a grande conquista de seu primeiro mandato; assim, esta não poderia ser colocada em risco. Para empurrar a crise, o governo teve que assumir o ônus de uma mudança latente na taxa de câmbio”. Assim, FHC foi eleito presidente do Brasil pela segunda vez. A Crise Argentina (2001/2002) A Argentina entra na década de 90 com hiperinflação, e Domingo Cavallo, ministro das Finanças, lança um plano de estabilização econômica no qual foi definido que um peso valeria um dólar. Essa política é conhecida como currency board (conselho de moeda), modelo que, segundo Batista Júnior (2002), é recomendado particular- mente para países que, como a Argentina, experimentaram crises monetárias agudas e prolongadas; é uma variante rígida da ancoragem cambial. As principais caracte- rísticas do currency board são: I - fixação da taxa de câmbio em relação ao dólar; II - eliminação de restrições à transformação de moeda nacional em moeda estrangeira e vice-versa; III - definição de um “lastro” para a moeda nacional. Com o modelo currency board adotado, o país voltou a crescer, assim como a dívida externa pública, já queera preciso financiar essa paridade. CURRENCY BOARD “Para o leigo, o termo soa esquisito, mas realmente não existe tradução de- finitiva para o português. Alguns traduzem como Caixa de Conversão ou Agência de Conversão; outros traduzem como Conselho da Moeda. saiba mais Pós-Universo 27 O princípio de operação de um Currency Board é bastante simples e, quando obedecido ortodoxamente, muito eficaz. O Currency Board é o arranjo que se implementa quando se quer adotar uma genuína “âncora cambial”, o que faz com que a moeda de um país se torne um mero substituto de uma moeda estrangeira. A única função de um Currency Board é trocar moeda nacional (que ele próprio emite) por moeda estrangeira, e vice-versa, a uma taxa fixa. No caso específico da Argentina, o Banco Central convertido em Currency Board tinha a função de trocar, sem custo e sem demora, 1 peso por 1 dólar e 1 dólar por 1 peso. Para cada dólar que entrasse no país, o Currency Board emitiria um peso argentino em troca desse dólar. A operação inversa ocorreria no caso de uma saída de dólar (peso argentino seria entregue ao Currency Board que, em troca, enviaria o dólar para o destinatário estrangeiro)”. Fonte: Roque (2015, on-line)2. A Argentina sofreu forte impacto das crises mexicana e asiática, que reduziram consideravelmente os investimentos. Para piorar a situação da Argentina, a política cambial brasileira em 1999, quando o Real foi desvalorizado, tornou as exporta- ções argentinas caras. Com redução da receita e a paridade rígida do peso com o dólar, a Argentina não tinha como pagar as altas dívidas externas e declarou mo- ratória em 2001. E qual foi o impacto da crise argentina para a economia brasileira? A crise ar- gentina fez ocorrer a saída de capital do Brasil, o que desvalorizou ainda mais nossa moeda (Real). Com a moeda desvalorizada, as exportações brasileiras continuaram aumentando, o que pressionou a inflação. Com a possibilidade de que ela retor- nasse, o Banco Central elevou as taxas de juros, o que reduziu os investimentos. Além disso, em 2001, passamos por uma crise energética que retraiu o consumo e o investimento ainda mais. Com baixo crescimento econômico, e consequen- temente, aumento do desemprego, câmbio pressionado e taxas de juros altas, a dívida pública brasileira aumentou. E assim termina o governo Fernando Henrique Cardoso, em 2002. atividades de estudo 1. A riqueza de uma nação é explicada por inúmeras correntes econômicas e por di- versos autores. Além disto, em cada momento da história econômica mundial, diferencia-se o que é a riqueza e como ela aumenta. Com base no exposto, leia as assertivas a seguir. I) Para os mercantilistas, a riqueza das nações depende do afluxo de metais precio- sos, como ouro e prata. II) Para os fisiocratas, a agricultura geradora do produto líquido, a indústria e o co- mércio transformam os valores. III) Para os clássicos, o mercado deve funcionar livremente, sem a intervenção estatal. IV) Para Keynes e os keynesianos, o Estado exerce função primordial para gerar de- senvolvimento econômico. Está correto o que se afirma em: a) I, II e III, apenas. b) II, III e IV, apenas. c) I, III e IV, apenas. d) I, II e IV, apenas. e) I, II, III e IV. 2. O neoliberalismo é uma doutrina econômica oriunda dos paradigmas da escola clás- sica, que começou a ser discutida nos anos 30/40, mas que ganhou força a partir das décadas de 70/80, quando os governos do Reino Unido e dos Estados Unidos adota- ram algumas de suas ideias. Em relação às características do neoliberalismo, analise as afirmativas a seguir. I) Presença do Estado na economia. II) Corte de tributos. III) Abertura comercial. IV) Privatização. atividades de estudo Está correto o que se afirma em: a) I, II e III, apenas. b) II e IV, apenas. c) II, III e IV, apenas. d) III e IV, apenas. e) I, II, III e IV. 3. A economia mundial passou por diferentes crises financeiras que afetaram uma grande parte dos países, incluindo o Brasil. Em relação às crises do México, da Ásia, da Argentina e da Rússia e a principal lição deixada para o governo brasileiro, assi- nale a alternativa correta. a) Mudança na taxa de inflação. b) Mudança no regime cambial. c) Necessidade de valorização cambial. d) Aumento da taxa de juros. e) Alteração dos objetivos microeconômicos. resumo Olá, caro(a) aluno(a), chegamos ao final das nossas discussões sobre o tema Sistema Econômico Vigente. Vimos que a teoria da economia é antiga e teve início com os mercan- tilistas no século XV com as grandes navegações. Naquela época, um país rico era aquele que acumulava metais preciosos. Por outro lado, os fisiocratas não concordavam com isto, e defenderam que nação rica é aquela que desenvolve a agricultura. Porém, os primeiros que formularam uma teoria foram os clássicos, que defendiam, entre outros pontos, o livre mercado e o interesse individual como a chave para a geração do bem-estar social. Claro que dentro da escola clássica, temos autores como Adam Smith e David Ricardo que, dentro dos pressupostos clássicos, criaram suas teorias. Só que os clássicos não conseguiram explicar a grande crise econômica mundial que eclodiu nos Estados Unidos em 1929 e que afetou o mundo inteiro. Mas Jonh Keynes lançou seu livro em 1936 no qual discordava dos pressupostos da escola clássica e expli- cava a Grande Depressão. Neste momento, a teoria econômica toma outro rumo e passa a defender que o Estado deve intervir na economia. Outra teoria que surgiu e ia de encon- tro ao livre mercado foi o marxismo, o qual criticava o capitalismo e propunha um novo sistema econômico. Chegando às décadas de 70/80, a doutrina neoliberal ganha força e volta a discussão sobre os pressupostos da escola clássica de forma mais atual, como a não intervenção do Estado na economia, a abertura comercial, a privatização e o corte de impostos. Assim, o capitalismo como conhecemos hoje e que muitos economistas, sociólogos, antropólogos, entre outros, criticam, está diretamente relacionado às políticas de cunho neoliberal que alguns países, inclusive o Brasil, adotam. Para finalizar, discutimos algumas das principais crises econômicas e financeiras mun- diais, e como tais crises afetaram a economia brasileira. Entre elas, falamos da Grande Depressão (1929), das crises financeiras do México (1994), da Ásia (1997), da Rússia (1998) e da Argentina (2001/02). material complementar História do Pensamento Econômico Autor: Stanley L. Brue Editora: Cengage Sinopse: o objetivo deste livro é contar a evolução da história da eco- nomia de maneira clara e didática. Tendo em vista o grande interesse despertado pelo assunto, a reflexão das rápidas mudanças que acon- tecem no quadro social hoje e as novas ideias e tendências do mercado voltado para essa área. Efeito Tequila Ano: 2010 Sinopse: Jose Fierro é um jovem corretor da Bolsa de Valores. Em 1994, ele rende-se à tentação do aparente boom da economia mexicana, que mais tarde, torna-se um desastre nacional. Jose envolve-se em negociações financeiras ilícitas e depara-se com grandes forças políticas e econômi- cas, enquanto sua mulher, Ana Luiza, inicia uma relação extraconjugal. Comentário: o filme discute as consequências da crise mexicana. Na Web O mercantilismo é a prática econômica típica da Idade Moderna, marcada pela intervenção do Estado na economia. Conheça um pouco mais sobre os mercantilistas e seu contexto histórico no vídeo “Mercantilismo”. Segue sugestão de vídeo: <https://www.youtube.com/ watch?v=RfsEwWDIYYE>. referências BANCO CENTRAL DO BRASIL. Reservas Internacionais. Disponível em <http://www.bcb.gov.br/ pt-br/#!/n/RESERVA>. Acesso em: 1º nov. 2017. BATISTA JÚNIOR, P. N. Argentina: uma crise pragmática. Revista Estudos Avançados, São Paulo, v. 16, n. 44, p. 83-96, jan./abr. 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v16n44/v16n44a06. pdf>. Acesso em: 1º nov. 2017. BRUE, S.L. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Cengage, 2013. CANUTO, O. A crise asiática e seus desdobramentos. Revista Econômica, Niterói, v. 2, n. 3, p. 25-60, dez. 2000. Disponível em: <http://www.uff.br/revistaeconomica/v2n2/3-otaviano.pdf>. Acesso em: 1º nov. 2017. FURTADO, C. A fantasia desfeita. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989. GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M. A. S.; TONETO JÚNIOR, R. Economia brasileira contempo- rânea. São Paulo: Atlas, 2011. PRADO, L. C. D. A economia política da Grande Depressão da década de 1930 nos EUA: visões da crise e política econômica, semelhanças e diferenças com a crise atual. In: SEMINÁRIO DE PESQUISA DO INSTITUTO DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. 2009, Rio de Janeiro, campus Praia Vermelha. Anais... Rio de Janeiro: UFRJ/IE, 2009. p. 1-50. Disponível em: <http://www.ie.ufrj.br/datacenterie/pdfs/seminarios/pesquisa/texto1509.pdf>. Acesso em: 1º nov. 2017. SANTOS, T. O neoliberalismo como doutrina econômica. Revista Econômica, Niterói, v. 1, n. 1, p. 119-151, jun. 1999. Disponível em: <http://www.uff.br/revistaeconomica/v1n1/theotonio>. Acesso em: 1º nov. 2017. SOUZA, J. L. O que é? Saldo em conta corrente. Revista Desafios do Desenvolvimento, Brasília, a. 5, ed. 43, 17 maio 2008. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=- com_content&view=article&id=2152:catid=28&Itemid=23>. Acesso em: 1º nov. 2017. Referências on-line 1 Em: <http://www.infoescola.com/economia/moratoria/>. Acesso em: 1º nov. 2017. 2 Em: <http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1562>. Acesso em: 1º nov. 2017. resolução de exercícios 1. e) I, II, III e IV. 2. c) II, III e IV, apenas. 3. b) Mudança no regime cambial. Evolução do Pensamento Econômico O Neoliberalismo Econômico As Principais Crises Econômicas Mundiais
Compartilhar