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FACULDADE DO COMPLEXO EDUCACIONAL SANTO ANDRÉ- FACESA DISCIPLINA: ARTE, EDUCAÇÃO E MUSICALIDADE PROF°.: DANIELLE FERREIRA TURMA: II MÊS: NOV./2019 A IMPORTÂNCIA DA ARTE PARA A FORMAÇÃO DA CRIANÇA Daniela Cristina Coleto1 RESUMO Atualmente, a arte voltada para a educação do desenvolvimento do indivíduo, da formação de seu senso crítico e afetivo, está sendo desvalorizada. Muitas vezes as pessoas não são incentivadas a buscar dentro de si algo novo e criativo. A imagem que nos é passada é a de apreciação das grandes obras e não a do despertar da capacidade criadora. Para que isso ocorra, podemos como professores, fazer uso das linguagens artísticas (teatro, dança, música e artes visuais) que são carregadas de sentidos e fazem parte da condição humana, para desenvolver nos alunos a capacidade de se relacionar, de sentir e de assumir uma consciência crítica. Este artigo tem por finalidade apresentar uma reflexão sobre a arte, para mostrar como ela é importante na formação da criança. Assim como os outros componentes curriculares, a disciplina Arte é relevante em seu processo de formação. As aulas de Arte, assim como os professores, não precisam visar a formação de pintores, escultores ou peritos em artes, mas devem buscar ampliar o conhecimento e sensibilidade dos alunos tornando-os indivíduos criativos e dinâmicos inseridos no contexto da sociedade. Palavras-chave: 1. Arte, 2. Educação da criança, 3. Linguagem. Introdução Neste artigo, analisaremos de que forma a disciplina Arte pode ser aplicada na educação da criança, por sentirmos necessidade de entender e responder qual o valor dessa disciplina e como ela pode ajudar na educação da criança, visando estimular a sensibilidade do aluno, incentivando-o a pensar, sentir e agir de maneira diferente, por meio do uso das diversas linguagens artísticas, buscando favorecer o desenvolvimento do potencial criador do indivíduo. De acordo com os autores que contribuíram para este artigo, podemos notar, que a arte ainda não é ensinada e aprendida de uma maneira suficiente pela maioria das crianças e adolescentes brasileiros. É necessário um espaço para o desenvolvimento pessoal e social por meio de vivência e posse do conhecimento artístico e estético do aluno, e para isso é preciso pensar uma nova metodologia. A arte tem uma grande importância na educação escolar e em geral ela tem função indispensável na vida das pessoas desde o início das civilizações, tornando-se um fator essencial de humanização. “Cada um de nós, combinando percepção, imaginação, repertório cultural e histórico, lê o mundo e o reapresenta à sua maneira, sob o seu ponto de vista, utilizando formas, cores, sons, movimentos, ritmo, cenário...” (MARTINS, M. et al, 1998, p.57). De acordo com Ferraz e Fusari (1999, p. 16), “a arte se constitui de modos específicos de manifestação da atividade criativa dos seres humanos ao interagirem com o mundo em que vivem, ao se conhecerem e ao conhecê-lo”. Assim, o propósito deste artigo é explicar qual a importância da Arte para a criança. Para isso, nos apoiaremos nas idéias apresentadas pelas autoras Martins, Picosque e Guerra (1998), quando se referem a um estudo elaborado sobre o desenvolvimento expressivo da criança, que na obra “Didática do ensino de arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte” foi separado em quatro movimentos. É importante deixar claro desde o início que “esses movimentos não são estáticos, não delimitam seu território de maneira estanque, definitiva” (1998, p. 94). São importantes para o desenvolvimento da criatividade da criança, principalmente pelo trabalho do professor como mediador. Por esse prisma, consideramos que a Arte deixe de ser apreciada como uma atividade e passe a ocupar a categoria de disciplina de Arte, para que ela passe a ser mais do que algo para ser tratado só na escola, mas algo que provoque mudanças de comportamento. A arte e a formação da criança A arte é importante na vida da criança, pois colabora para o seu desenvolvimento expressivo, para a construção de sua poética pessoal e para o desenvolvimento de sua criatividade, tornando-a um indivíduo mais sensível e que vê o mundo com outros olhos. Os seres humanos são dotados de criatividade e possuem a capacidade de aprender e de ensinar. A criatividade da criança precisa ser trabalhada e desenvolvida, e é por meio do trabalho realizado com a arte nas escolas que isso será possível, pois, nas palavras de Buoro (2000, p. 39) “Arte se ensina, Arte se aprende”. Porém, nas escolas podemos ver que ocorre o contrário, a arte está sendo desvalorizada e colocada apenas como “momento de repouso” das outras disciplinas que são consideradas mais importantes, ou ainda recurso para enfeitarem datas comemorativas, como nos relata os PCN – Artes (1997). Além disso, ainda existem professores que intervém no processo de construção do aluno, tentando impor suas “técnicas” ou o que acham correto, desestimulando assim os alunos e impedindo que desenvolvam sua própria poética, seu próprio estilo. Para entendermos a importância que a arte exerce na criança analisaremos algumas características do seu desenvolvimento expressivo. Iniciaremos com as crianças de 02 anos e seguiremos até aproximadamente seus 12 anos. 2 A arte é vista e sentida de maneiras diferentes por crianças e adultos. Para o adulto está associada ao belo, às exposições, a museus, à estética. Já para a criança, a arte é uma forma de se expressar, pois “a natureza da criança é lidar com o mundo de modo lúdico, fazer o que lhe dá prazer e satisfação. Por isso gosta tanto de brincar e desenhar” (SANS, 1995, p. 21). A criança faz o que lhe dá prazer e alegria, brincar e 2 Essas idades são utilizadas por LOWENFELD, V.; BRITTAIN, W. L. Desenvolvimento da Capacidade Criadora. São Paulo: Mestre Jou, 1970 e aqui as utilizaremos para facilitar a compreensão, pois elas não são estanques, pode haver variações. desenhar envolve-a por completo e, sempre que age, valoriza os seus desejos e as suas vontades. Geralmente, a criança começa a desenhar por volta dos dois anos. Nesse período está aberta a experiências, não tem medo de se arriscar, pois o seu corpo é ação e pensamento: ela pode tocar, cheirar, pensar e experimentar com o corpo. Seu pensamento se dá na ação, na sensação, na percepção, sempre regado pelo sentimento. Convive, sente, reconhece e repete os símbolos do seu entorno, mas não é, ainda, um criador intencional de símbolos. Sua criação focaliza a própria ação, o exercício, a repetição (MARTINS, PICOSQUE e GUERRA, 1998, p. 96). É nesse período que a criança inicia suas garatujas, ou seja, quando manifesta de forma gráfica, sonora ou corporal o que está sentindo, o que conseguiu “pesquisar” no ambiente. É importante ressaltar que as garatujas não são apenas gráficas, pois os pequenos também podem explorar materiais sonoros e o próprio corpo para se expressarem, como quando fazem movimentos com a boca e produzem sons ou quando montam e desmontam pilhas de caixas por prazer. Em todas essas situações estão pesquisando o que existe ao seu redor e o que podem fazer. A criança valoriza mais o material que está utilizando, o processo, do que o resultado final. Ao se expressar de forma gráfica faz vários rabiscos, livremente, faz traços horizontais, verticais e inclinados até perceber que pode utilizar a linha curva para construir círculos de tamanhos diferentes. Por mais que para os adultos esses rabiscos não possuam significado algum, devem ser estimulados. A criança deve ser encorajada a garatujar, pois esses traços são o início de sua expressão gráfica e, posteriormente, a levarão até a escrita. Vários estudos foram feitos para apresentar a evolução dessas garatujas. Comomostram Martins, Picosque e Guerra (1998), a pesquisadora Rhoda Kellogg (1985) desenvolveu um mandala para expressar essas fases.3 Esse mandala é representado por um círculo com diversas sequências de figuras, que mostram a evolução dos desenhos das crianças. Os desenhos se iniciam com círculos de vários tamanhos que tem seu contorno cortado por riscos, que apresentam o formato de um sol. Aos poucos, devido 3 O mandala citado acima pode ser consultado em: MARTINS, PICOSQUE e GUERRA (1998). às interferências do meio e aos processos que a criança vai assimilando seu desenho se modifica, os círculos tornam-se casinhas, flores, carrinhos, figuras humanas etc. Para Kellogg (1985) todos os desenhos que uma pessoa fará têm por base os movimentos que tiveram início em sua primeira infância e que eram, geralmente, registrados em papel ou massinha. Como vemos em Lowenfeld e Brittain (1970, p. 115) “a arte pode contribuir imensamente para esse desenvolvimento, pois é na interação entre a criança e seu meio que se inicia a aprendizagem”. A interação é importante, pois a criança gosta de imitar o que o adulto faz, ela observa seus gestos e ações e tenta reproduzir, ela se interessa pela ação e não pelo que o adulto está fazendo. Por isso é fundamental o incentivo, tanto da família como da escola, oferecendo-lhe repertório suficiente para que possa ampliar seus conhecimentos e suas ações. Os pais e os professores devem ficar atentos para deixar a criança se expressar livremente, evitar comentários negativos e não devem apressá-la para que saia da fase das garatujas, pois essas manifestações são importantes para o seu desenvolvimento e ações futuras. Quando a criança é reprimida pode passar a ter medo de se arriscar e, conseqüentemente, de se expressar. Podemos concordar com Martins, Picosque e Guerra (1998, p. 102), quando dizem que a “arte é a linguagem básica dos pequenos e deve merecer um espaço especial, que incentive a exploração, a pesquisa, o que certamente não será obtido com desenhos mimeografados e „exercícios de prontidão‟”. Os processos pelos quais as crianças passam são mais importantes que o produto final e, por isso, merecem tanta atenção. Após a fase das garatujas, entre 04 e 07 anos a forma de se expressar da criança passa a apresentar outras características: ela descobre que tudo tem um nome, um significado e um porquê. Nessa fase, o jogo do faz de conta está muito presente na vida da criança quando uma vassoura pode ser seu cavalinho, ou uma caixa de papelão pode representar seu carro. No desenho os seus rabiscos vão, aos poucos, depois de inúmeras tentativas, se tornando letras e ela passa a diferenciar a escrita do desenho. Seus traços começam a ser controlados e, geralmente, o primeiro símbolo que a criança constrói é a figura humana. Como vimos na mandala desenvolvida por Rhoda Kellogg, as figuras nascem dos sóis e, em algumas ocasiões, a figura humana é representada por um círculo com olhos, nariz e boca. Para Sans (1995, p. 28), “depois que a criança desenha o sol irradiante, parece descobrir um tipo de fórmula para representar o rosto humano. Geralmente, ela desenha dois pequenos círculos representando os olhos, um ponto como se fosse o nariz e um risco horizontal como boca”. A criança nesta fase busca em suas experiências um modo para representar o homem como um todo. Ela não se preocupa em organizar as cenas no papel, seus desenhos são dispostos de forma aleatória, os objetos podem aparecer acima, abaixo, ou nos cantos do papel, pois a criança os desenha da forma como os compreende e não conforme a realidade. Procede da mesma maneira com as cores. Um cachorro pode ser azul ou rosa, uma vez que não se incomoda com o aspecto visual e sim o afetivo que a cor proporciona. A figura humana vai aos poucos se enriquecendo de detalhes, como as orelhas e o umbigo e isto influenciará outros desenhos, como por exemplo, ao representar flores ou animais manterá as características humanas como boca, nariz e olhos. Nas representações com massinha ou argila a criança também apresentará evoluções, e aos poucos, as figuras deixam de ser bidimensionais, para serem tridimensionais.4 Os desenhos das crianças, assim como todas as suas formas de expressão podem ser considerados um reflexo da sua criatividade infantil, pois são os registros dos seus sentimentos e das suas percepções do meio, o que proporciona ao professor um modo de compreender melhor seu aluno e assim ajudá-lo, pois “a arte infantil faculta-nos não só a compreensão da criança mas também a oportunidade de estimular seu desenvolvimento, através da educação artística” 5 (LOWENFELD e BRITTAIN, 1970, p. 176). É através das aulas de Arte que o professor irá estimular seu aluno a investigar, inventar, explorar e, mesmo cometendo erros, ele não terá medo de liberar sua 4 Nas representações com massinha e argila bidimensionais a criança constrói suas figuras apoiadas em superfícies, como em uma folha de papel, com o tempo passará a construir as figuras em pé, ocupando o espaço de modo tridimensional, ou seja, as figuras terão comprimento, altura e largura. 5 A edição do livro utilizada para essa pesquisa é datada de 1970, por isso o autor ainda utiliza o termo Educação Artística, sendo que a partir da publicação da LDB 9394/96, art. 26, § 2º a disciplina passou a se chamar Arte. criatividade. O professor deve apresentar a atividade como algo essencial para a criança, e também deve estar motivado com o trabalho, não apenas orientando de forma mecânica, mas fazendo a criança sentir sua importância para que a atividade seja significativa para o aluno. De acordo com as idéias de Martins, Picosque e Guerra (1998) é no jogo de faz de conta, ou jogo simbólico que a espontaneidade estética e a capacidade de criação ficam evidentes, quando a criança inventa e representa situações através da imagem simbólica de objetos ausentes. Ela representa de forma espontânea, mas não tem intenção de representar teatralmente uma história com começo, meio e fim. Podemos dizer que a principal característica desse segundo movimento expressivo é a possibilidade de inventar da criança, de criar a partir de suas próprias idéias. Nessa fase o trabalho do professor é muito importante devendo incentivar a criança a se expressar, a imaginar outras possibilidades, caso contrário o aluno poderá se tornar apenas um repetidor de respostas e modelos prontos, pois a “perda do „lúdico‟ provoca na criança o envelhecimento precoce e a atrofia da espontaneidade” (SANS, 1995, p. 22). Aos poucos a criança apresenta novas características quanto ao desenvolvimento expressivo. Por volta dos 07 anos, quando já está sendo alfabetizada, sente necessidade de registrar tudo o que descobriu ou inventou, “as soluções gráficas que encontra, a invenção de novas relações, são algumas das peripécias criativas que a criança vai produzindo para registrar o que vê, sabe, intui e imagina” (MARTINS, PICOSQUE e GUERRA, 1998, p. 110). A principal particularidade dessa fase do desenvolvimento expressivo é o aparecimento da linha de base ou o “chão” e nela a criança irá apoiar todos os seus desenhos, sendo que em algumas ocasiões poderá também utilizar a borda do papel como “chão”. Por ser exigente consigo mesma, busca fazer suas representações da forma mais realista que conseguir o que, muitas vezes, a deixa insegura e com medo de errar. Tentando evitar os erros usa constantemente a borracha ou se apóia no uso da régua. A linha de contorno também lhe dá segurança na representação. A busca pela realidade também influencia o uso das cores, pois as representações passam a ter cores convencionais, como os telhados vermelhos, a grama sempre verde e as nuvens sempre azuis sobre fundo branco. Outra característica presente no desenho é a transparênciaque, de acordo com Sans (1995, p. 30) [...] é comum, também, a criança desenhar o que sabe existir, mesmo que esteja escondido. Ao desenhar uma casa, ela pode colocar, no mesmo plano das linhas de contorno, os móveis que estão dentro dela. Por volta dos 09 e 10 anos a criança entra na fase do “eu não sei desenhar”. O professor precisa estar atento à autocrítica que está sendo desenvolvida por ela, ao comparar o real ao que foi produzido, “é comum um número grande de alunos perguntar ao professor se o seu trabalho de Arte está certo ou errado. A noção de aprovação e reprovação é tão forte, que eles se sentem tolhidos e inseguros para se expressar” (BUORO, 2000, p. 36). Nesse momento o professor precisa mostrar à criança que há outras possibilidades de representação e, para isso, pode enriquecer seu repertório através de observações de obras ou figuras, podendo, também, discutir com a classe ou individualmente outras maneiras de representação. O importante é que o professor desafie seu aluno para que ele desenvolva sua poética pessoal. A presença da organização e da regra faz surgir nas criações teatrais das crianças uma outra linha, a linha de palco, que divide o palco da platéia. De acordo com as autoras Martins, Picosque e Guerra (1998) é importante que nesse período a criança aprenda uma música que goste, pois ela está em sintonia com a produção musical de seu meio. É importante ainda que o professor coloque a criança em contato com produções de outras épocas e culturas para que ela desenvolva a “escuta ativa” e perceba os diferentes aspectos estruturais e emocionais da música aumentando, dessa forma, seu repertório e valorizando a produção musical do ser humano. Nessa fase também tem início o interesse por trabalhos em grupos, em todas as linguagens artísticas (teatro, dança, música e artes visuais) e essa necessidade será ainda maior na próxima fase do seu desenvolvimento expressivo. Ainda de acordo com Martins, Picosque e Guerra (1998, p. 114) podemos levar “desse terceiro movimento expressivo a invenção de relações e regras que geram critérios próprios, na busca de soluções criativas que vão alimentando um pensamento criador com maior autonomia”. A cada fase que a criança passa, desenvolve mais sua criatividade e conseqüentemente sua autonomia, tendo assim mais facilidade para se expressar e se comunicar com o mundo. Quando tem entre 09 e 12 anos, aproximadamente, a criança começa a deixar de ser criança e tornar-se adolescente, entrando na Idade da “Turma” (início do realismo) de acordo com Lowenfeld e Brittain (1970), e/ou no quarto movimento, quando desenvolve sua poética pessoal, como afirmam Martins, Picosque e Guerra (1998). Nesse período o adolescente sente a necessidade de estar em grupos, ele está mais crítico e autônomo, percebe que faz parte de uma sociedade, [...] a descoberta de interesses semelhantes, de segredos compartilhados em comum, do prazer de realizar coisas em conjunto, torna-se acontecimento fundamental. Existe a crescente conscientização de que se pode fazer mais em grupo do que estando só, e de que o grupo é mais poderoso do que a pessoa solitária (LOWENFELD e BRITTAIN, 1970, p. 229). Essa necessidade não deve ser reprimida. Por mais que a adolescência seja uma fase complicada na vida do ser humano, a família e a escola precisam ser pacientes e saber trabalhar esse quarto movimento, pois cada adolescente se expressa de uma maneira particular. Podemos dizer que a principal característica dessa última fase é a autonomia que está sendo desenvolvida pelo adolescente, a sua busca pela própria identidade e poética pessoal, que se reflete diretamente em sua expressão artística. Podemos enfatizar mais uma vez que é nas aulas de Arte, junto ao professor, que isso pode ocorrer, desde que seu trabalho seja instigante e voltado para o desenvolvimento pleno do aluno. O professor como mediador Durante todo o seu desenvolvimento expressivo a criança conhece e aprimora saberes, técnicas e sensações, construindo assim, sua poética pessoal. É nesse aprimorar/construir que se faz necessária uma boa prática pedagógica desenvolvida pelo professor. Podemos concordar com Ferraz e Fusari (1999, p. 49) quando explicam que “no encontro que se faz entre cultura e criança situa-se o professor cujo trabalho educativo será o de intermediar os conhecimentos existentes e oferecer condições para novos estudos”. O papel do professor é mediar os conhecimentos, apresentar novos saberes aos que a criança já possui. Tudo o que ela adquire, seja por intermédio do professor ou do seu meio (família, colegas, sociedade), ajuda no desenvolvimento de suas expressões e percepções. O professor como principal mediador dos conhecimentos, precisa apresentar à criança situações que lhe possibilitem ampliar e enriquecer suas experiências, de modo prazeroso e lúdico. De acordo com os PCN – Artes (1997, pp.47 e 48) “aprender com sentido e prazer está associado à compreensão mais clara daquilo que é ensinado”, dessa forma é função do professor escolher quais os recursos didáticos mais eficientes para expor os conteúdos, “observando sempre a necessidade de introduzir formas artísticas, porque ensinar arte com arte é o caminho mais eficaz”. Vários fatores são importantes para que as aulas sejam significativas para as crianças, como ter um ambiente estimulante e desafiador, acolher o que os alunos trazem e trabalhar com o cotidiano das crianças, ou seja, com o repertório oferecido pela comunidade. (PCN – Artes, 1997). De acordo com os PCN – Artes (1997, p. 110), o professor é um “criador de situações de aprendizagem”. Ele é o incentivador, estimulador, o profissional que trabalha para que suas aulas sejam significativas para seus alunos. O professor de Arte precisa estar atento ao trabalho que está desenvolvendo com seus alunos, analisar se está ajudando a desenvolver mais sua percepção, buscando assim a construção de sua poética pessoal, pois: [...] valorizar o repertório pessoal de imagens, gestos, “falas”, sons, personagens, instigar para que os aprendizes persigam idéias, respeitar o ritmo de cada um no despertar de suas imagens internas são aspectos que não podem ser esquecidos pelo ensinante de arte. Essas atitudes poderão abrir espaço para o imaginário (MARTINS, PICOSQUE e GUERRA, 1998, p. 118). É necessário que o educador analise e valorize o processo e não o produto final, incentive o aluno a buscar e criar, a se sensibilizar com as cores, gestos e sons. O trabalho do professor é incentivar e valorizar a imaginação dos alunos, ouvir e ver o que já sabem fazer. Segundo as autoras Martins, Picosque e Guerra (1998, p. 118) “é exercitando esse pensar imaginativo que podemos encontrar soluções inovadoras e ousadas, seja no campo da ciência, seja no da arte”. Já o autor Jorge Larrosa (2003, pp. 51 e 52) nos apresenta uma definição de professor um pouco mais poética. Afirma que professor é “alguém que conduz alguém até si mesmo” e, se olharmos para nossa vida encontraremos “alguém que, sem exigir imitação e sem intimidar, mas suave e lentamente, nos conduziu até nossa própria maneira de ser”. Após essas definições podemos dizer que o bom professor é aquele que se empenha no que faz e que tem como objetivo o crescimento e o desenvolvimento de seus alunos. O professor nas aulas de Arte deve visar o desenvolvimento da poética do aluno e do seu modo de se expressar, não de forma impositiva, mas incentivando suas produções. É preciso estar atento, pois de acordo com os autores Lowenfeld e Brittain (1970, p. 78) “um mau professor é pior do que não haver professor algum”. Ao conduzir o aluno a si mesmo, o professor pode trabalhar estimulando o desenvolvimento de sua criatividade, o que facilitará a construção de sua poética pessoal e de sua forma de ver,sentir e se expressar no mundo. Para Lowenfeld e Brittain (1970, p. 48) “as crianças que ficam inibidas em sua criatividade, por regras ou forças que lhe são alheias, podem retrair-se ou recorrer à cópia ou ao desenho mecânico”. Para que isso não ocorra é importante o trabalho do professor como mediador e incentivador. A poética pessoal, assim como a criatividade e o gosto pela arte, só serão desenvolvidos se fizerem sentido para a criança. Para Martins, Picosque e Guerra (1998, p. 128) [...] o que „decoramos‟ ou simplesmente copiamos mecanicamente não fica em nós. É um conteúdo momentâneo, por isso conhecimento vazio que no decorrer do tempo é esquecido. Não faz parte de nossa experiência. Só aprendemos aquilo que, na nossa experiência, se torna significativo para nós. As aulas de Arte precisam ser significativas. O professor precisa conhecer seus alunos, partir de suas preferências, do que já sabem e ampliar o seu repertório. Para isso ele pode levar para a aula materiais diferentes, incentivar as produções dos alunos, questionar qual o significado do que fizeram e propor situações problemas para que busquem diferentes respostas, novas formas de se expressar, colocando em prática seu potencial. Nas aulas de Arte o professor deve utilizar as quatro linguagens artísticas (artes visuais, dança, música e teatro) como forma do aluno se expressar significativamente e não apenas as visuais, como ocorre na maioria das vezes. Após o surgimento da fotografia, as artes visuais foram pouco a pouco se modernizando. Hoje, além das pinturas, gravuras e esculturas é possível trabalhar com vídeos, artes gráficas, programas de computador, etc. Para produzir, o aluno precisa conhecer os elementos que compõem as artes visuais, como ponto, linha, volume, textura, cor, luz. Também precisa experimentar diversos materiais como papéis, tintas, argila, máquinas fotográficas. Além disso, poderá apreciar e estudar obras de arte, de modo que aprenda a unir todos esses conhecimentos para se expressar, mas para isso é muito importante a mediação do professor. De acordo com os PCN – Artes (1997, p.61) “tal aprendizagem pode favorecer compreensões mais amplas para que o aluno desenvolva sua sensibilidade, afetividade e seus conceitos e se posicionar criticamente”. A dança também é uma linguagem que pode ser utilizada pelo professor. Ela sempre esteve presente na cultura humana, seja como atividade de lazer, trabalho ou manifestação religiosa. A criança é um ser em constante movimento, é dessa maneira que ela explora seu corpo e o ambiente. A dança pode ser utilizada como um estímulo à comunicação e à criatividade, pois, através dela, o professor pode trabalhar de forma lúdica e espontânea a estrutura e o funcionamento dos corpos, assim como o trabalho em grupo e a atenção. Os PCN – Artes (vol. 06, 1997, p. 67) apontam a dança na escola, como uma atividade que “pode desenvolver na criança a compreensão de sua capacidade de movimento mediante um maior entendimento de como seu corpo funciona. Assim, poderá usá-lo expressivamente com maior inteligência, autonomia, responsabilidade e sensibilidade”. A linguagem musical também sempre esteve presente na cultura humana. Para ser trabalhada na sala de aula, o professor precisa acolher o repertório trazido pelos alunos, contextualizá-lo e enriquecê-lo, levando até eles músicas às quais eles não têm acesso, para que conheçam e apreciem, sempre de forma significativa e contextualizada. Assim como nas artes visuais, o aprendiz precisa entrar em contato com técnicas e nomenclaturas musicais, como altura, som, partituras, instrumentos musicais (que já existem ou outros que podem ser fabricados). Também é importante apreciar apresentações musicais, conhecer a produção de grupos populares e participar, através do incentivo do professor, de festivais, shows e concertos (PCN – Artes, vol. 06, 1997). A capacidade teatral está presente na vida da criança desde seu ingresso na escola, quando vivencia de forma espontânea o jogo de faz de conta. Cabe à escola e ao professor incentivar desde esse momento as atividades teatrais. Para isso, pode utilizar jogos que trabalhem a imaginação, a ação e as relações em grupo, sem perder as características lúdicas e espontâneas. De acordo com os PCN – Artes (vol. 06, 1997, p. 84), [...] as propostas educacionais devem compreender a atividade teatral como uma combinação de atividade para o desenvolvimento global do indivíduo, um processo de socialização consciente e crítico, em exercício de convivência democrática, uma atividade artística com preocupações de organização estética e uma experiência que faz parte das culturas humanas. Podemos utilizar as linguagens descritas acima para conseguir despertar nos alunos uma aprendizagem significativa e prazerosa, mas é preciso lembrar o que nos diz Morin (2004, p. 36) “o conhecimento das informações ou dos dados isolados é insuficiente. É preciso situar as informações e os dados em seu contexto para que adquiram sentido”, portanto é necessário partir sempre da realidade dos alunos, do que já sabem, para então ampliar e instigar seus conhecimentos. De acordo com Fayga Ostrower (1987, p. 130), a criatividade da criança é diferente da criatividade do adulto; “nas crianças, o criar – que está em todo seu viver e agir – é um tomada de contato com o mundo, em que a criança muda principalmente a si mesma”, ela pode até mudar o ambiente, mas não é esse o seu propósito, pois tudo o que faz é para saciar suas necessidades. A criança se expressa através da arte com mais facilidade, pois em sua produção artística, que é sua criação, não há certo ou errado. Para Lowenfeld e Brittain (1970), a criatividade é uma ação, é um comportamento em que a criança produz e constrói continuamente. O trabalho mediador desenvolvido pelo professor ajuda no desenvolvimento da capacidade de criação da criança. Através de suas orientações o professor pode motivar os alunos. Para isso pode utilizar perguntas, situações problemas, projetos, partindo sempre das necessidades dos alunos e do que lhes desperta o interesse, ampliando seus conhecimentos e sua visão. Outro fator importante é o professor conhecer as características do desenvolvimento expressivo das crianças, mesmo que estas não sigam regras fixas de comportamento e idade, pois podem favorecer o seu trabalho de mediação e, o fundamental, é que ele conheça cada um de seus alunos. Podemos concluir dizendo que a arte é importante para a criança, pois enquanto cria, desenha, canta, dança ou representa uma cena ela é livre para expressar suas idéias e seus sentimentos. É durante as aulas de Arte que a criança vai aprender a ouvir, a ver e a sentir. Não queremos dizer que essas habilidades não possam estar presentes nas outras disciplinas, até devem, pois os conhecimentos precisam ser integrados, mas é no contato com a arte, com o professor que gosta de arte e que a leva para a sala de aula, que a criança vai aprender a gostar de arte. Ele vai entender, através do comportamento de seu educando e dos seus momentos de apreciação e reflexão que essa disciplina é mais do que um “momento de repouso”, ela representa um agente transformador de atitudes que poderão ser levadas para toda a vida. Para Larrosa (2003) “se alguém lê ou escuta ou olha com o coração aberto, aquilo que lê, escuta ou olha ressoa nele; ressoa no silêncio que é ele, e assim o silêncio penetrado pela forma se faz fecundo. E assim, alguém vai sendo levado à sua própria forma” (p. 52). Podemos dizer que quando o professor e a criança alcançarem esse momento, terão entendido o verdadeiro significado da arte. Considerações Finais Buscamos no decorrer deste artigo oferecer informações, despertar reflexões e análises, com a expectativa de gerar caminhos para melhorara forma como o ensino e a aprendizagem de Arte vêm sendo conduzidos nas escolas. Apontamos no decorrer desta análise a importância do professor estabelecer uma prática pedagógica que valorize a arte, assim como suas linguagens artísticas, procedimentos, desenvolvimento da criatividade e poética pessoal da criança como conteúdos que devem estar presentes constantemente. Também um ambiente adequado, o domínio por parte do professor do que está sendo ensinado e o conhecimento sobre o desenvolvimento expressivo da criança, seu entusiasmo e, acima de tudo, conhecer cada aluno e trabalhar com a sua realidade, sempre de forma contextualizada, proporcionarão aulas de Arte significativas. Podemos concluir dizendo que para a arte ter o mesmo valor das outras disciplinas e ser considerada importante para o desenvolvimento da criança, será necessária uma conscientização e tomada de atitude por parte do professor e de toda a escola. Não uma atitude conformista ou lamentadora, que olha para os acontecimentos com pesar, buscando culpados e prosseguindo com os mesmos objetivos e atitudes já instaurados, mas um agir, que busque uma verdadeira mudança, em que todos assumam a postura de educadores e trabalhem para essa conquista, visando sempre o melhor para o aluno, com o objetivo de torná-lo um cidadão crítico, criativo e que saiba ver, ouvir e sentir com o coração, preparado para atuar na sociedade e construir a sua história. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Secretaria de Ensino Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: arte – Brasília, 1997. FUSARI, Maria F. R; FERRAZ, Maria H.C.T. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1993. (coleção magistério 2º grau. Série formação geral). .Metodologia do Ensino de Arte. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1999. (coleção Magistério. 2º grau. Série formação do professor.). LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. 4. ed. Tradução de Alfredo Veiga-Neto. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. LOWENFELD, V.; BRITTAIN, W. L. Desenvolvimento da Capacidade Criadora. São Paulo: Mestre Jou, 1970. MARTINS, Mirian C.; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, M. Terezinha Telles. Didática do ensino de arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. 9. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2004. OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 1987. SANS, Paulo de Tarso Cheida. A criança e o artista: Fundamentos para o ensino das artes plásticas. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 1995. (Coleção Ágere). Além de utilizar as artes visuais para trabalhar o afetivo e a interação social da criança, o professor pode utilizá-las no auxílio da motricidade infantil que deve ser bem trabalhada desde a infância para que, futuramente, ela possa sentir a diferença desse recurso na sua vida pessoal, escolar e profissional. Sendo assim, destaca cinco tipos de linguagens nas artes visuais que são utilizadas com as crianças no cotidiano escolar. São elas: desenho, pintura, modelagem, recorte/colagem e mídia (informática). Desenho O desenho é uma das manifestações semióticas, isto é, uma das formas através das quais a função de atribuição da significação se expressa e se constrói. Desenvolve-se concomitantemente às outras manifestações, entre as quais o brinquedo e a linguagem verbal (PIAGET, 1973). A criança, inicialmente, vê o desenho como simplesmente uma ação sobre uma superfície, sentindo prazer em “rabiscar”, explorar e descobrir as cores e novas superfícies. Essa é a chamada fase da garatuja. Com as novas experiências de mundo que a criança adquire, as garatujas vão evoluindo, ganhando formas definidas com maior ordenação. O papel não é mais apenas uma superfície para os rabiscos infantis. Ele passa a ser uma superfície na qual a criança expressará o que vive diariamente, ou seja, expressará a alegria, a tristeza, os passeios que mais interessaram, a dinâmica familiar (inclusive os conflitos vividos dentro de casa). Segundo Cunha, “devemos lembrar que os registros resultam de olhares sobre o mundo. Se o olhar é desinteressado e vago, as representações serão opacas e uniformes. (Referencial Curricular Nacional, 1999, p. 12)”. [...] a criança desde bebê mantém contato com as cores visando explorar os sentidos e a curiosidade dos bebês em relação ao mundo físico, tendo em vista que, nesse período, descobrem o mundo através do conhecimento do seu próprio corpo e dos objetos com que eles têm possibilidade de interagir. (CUNHA, 1999, p. 18). Desenhar, além de ser algo prazeroso para a criança, é extremamente importante no cotidiano escolar. De acordo com o Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil: Por meio de diferentes gestos em um plano vertical (ou pelo menos inclinado), a criança aprende a segurar corretamente o giz e o lápis. Para que a criança adquira um traço regular, precisará trabalhar com certa rapidez, sobre uma grande superfície colocada a sua altura. A criança que não domina bem seu gesto será solicitada a trabalhar, sobretudo, com o ombro e o cotovelo: fará então desenhos grandes. Somente mais tarde, quando os movimentos altura do ombro e do cotovelo tornarem-se desenvolvidos, faremos diminuir as proporções dos desenhos, exigindo assim da criança um trabalho mais específico do punho e dos dedos.” (1998, p. 106). O professor pode explorar superfícies diferentes como lixa, papelão, papel branco, madeira, chão, entre outros, para ajudar no desenvolvimento motor da criança. No ato de desenhar, a criança expressa seu lado afetivo com a manifestação orgânica da emoção, a criança usa o papel e o lápis para expressar os seus sentimentos no desenho, a sua relação com a família, os amigos, a escola. Através dos traços feitos pela criança, até mesmo pelas cores usadas, o professor consegue perceber o que está acontecendo com ela, e que pode estar levando-a ao fracasso escolar. Com o avançar do desenho infantil, a criança também desenvolve melhor o seu cognitivo, já que ela, primeiro, representa o que vê para depois representar o que está gravado (fotografado) na memória, ou seja, ela aprende a sair do plano palpável para o plano abstrato. O que ajudará muito na iniciação matemática, futuramente, com as tão “temidas continhas” que são trabalhadas de forma tátil para depois ser retratadas de forma abstrata. Dessa forma, o desenho passa a ter uma significação muito mais ampla na educação infantil e, assim, merece ser tratado como mais que simples rabiscos, sendo valorizado como um auxiliador importante no desenvolvimento da criança. Pintura A pintura pode ser definida com a arte da cor. Se no desenho o que mais se utiliza é o traço, na pintura o mais importante é a mancha da cor. Ao pintar, vamos colocando sobre o papel, a tela ou a parede cores que representam seres e objetos, ou que criam formas. (COLL; TEBEROSKY, 2004, p. 30). A pintura trabalhada com as crianças tem objetivos que vão além do simples prazer em manipular mãos e pincéis. Através do contato com diversos materiais disponíveis para a manipulação com as tintas, cola, álcool, entre outros, as crianças podem expressar sentimentos diversos na superfície trabalhada, além de desenvolver, assim como o desenho, sua habilidade motora que, futuramente, na sua alfabetização, será fundamental no desenvolver das letras. Pintar é, antes de tudo, uma arte que deve ser usada também na Educação Infantil como fator de desenvolvimento motor, afetivo e social da criança. Interpretarobras, recriar imagens, pintar por observação são atividades que mostram possibilidades de transformações, de reconstrução, de reutilização e de construção de novos elementos, formas, texturas, etc. A relação que a criança estabelece com os diferentes materiais se dá, no início, por meio da exploração sensorial e da utilização em diversas brincadeiras. Tudo isso influenciará na sua criatividade e imaginação. Uma característica essencial da pintura é o que se pode ou não fazer com ela através do jogo de cores. A criança não constitui um conceito de cor olhando simplesmente algo colorido, mas durante repetidas ações de comparar, nomear, transformar, enfim, falar das relações entre as cores que são apenas três básicas (azul, vermelho, amarelo), que formam todas as outras. Percebendo isso, o lado sensível e imaginário da criança pode ser aguçado, ajudando-a a se formar como um ser completo, criativo, concentrado. Mídia, arte e educação Dizer que estamos no mundo da informação e na era da informática já virou clichê. Na verdade, o que vemos é que os meios de comunicação garantiram uma forma de que o acesso à informação fosse possível a todas as camadas sociais. Aqui não entraremos na discussão sobre a qualidade e veracidade da informação, o que nos interessa realmente é entender minimamente qual a influência da mídia como veiculo de divulgação e de produção artística. Com alguns cliques em um teclado, somos capazes de ver por uma tela de computador obras de Da Vinci, Picasso, Monet. Sem sequer sairmos de casa, entramos em contato com séculos de história e culturas, desde as manifestações artísticas mais clássicas até as contemporâneas. Um universo de possibilidades se abre. A imagem na tela do computador ou da televisão, os impressos, os jornais, as revistas e os catálogos são hoje os grandes divulgadores da arte. As novas formas de produção artística que brotam das novas tecnologias impressionam com suas cores, formas e movimento. São editorações gráficas, web designs, montagens de fotografias, vídeos. É a arte visual se atualizando e se modificando, sem, contudo, abandonar a grande razão da existência da arte que é a expressão de ideias e sentimentos. A tecnologia não veio para nos afastar dos ideais artísticos, embora seja o que aconteça em alguns casos. É possível e necessário ver nos avanços tecnológicos uma forma segura de produção e resgate do fazer artístico aliado às novas exigências sociais. No processo de educação realizam-se, ainda, dois movimentos: um primeiro, em que é feita a mediação entre o social, a prática construída e o indivíduo, no qual se forma a base dos pensamentos individual e coletivo e é quem possibilita a continuidade do processo histórico da cultura; e em segundo, que se caracteriza pela mediação que a palavra e a imagem fazem entre o pensamento individual e o social e pela possibilidade que cada um tem de ser sujeito, de reelaborar produzindo o novo, revelando como a educação se envolve na tensão entre o individual e o social (MELO; TOSTA, 2008, p. 55). Como mediadora desse processo de interação, entra a escola, local privilegiado da construção e reprodução cultural, cumprindo o papel de tecer as relações necessárias entre o conhecimento do clássico e do novo, como uma ponte entre os sujeitos e o mundo artístico. Recorte e colagem O recorte e a colagem são um processo usado há muitos anos para decorar igrejas, praças, casas, quadros, usando diferentes materiais como, por exemplo, ladrilhos, pedras, papéis e outros. A junção desses materiais formava uma figura, denominada mosaico. Com as crianças, esse processo também é muito utilizado: Uma maneira interessante de trabalhar com colagem consiste em cortar ou rasgar formas de figuras de cores e texturas variadas. Começa-se recolhendo papéis, papelões e tecidos de texturas e cores diferentes. Podem ser empregados muitos tipos de papel: lisos, rugosos, brilhantes, grossos, finos... As fotografias das revistas são muito úteis, porque têm uma grande quantidade de cores diferentes. (COLL; TEBEROSKY, 2004, p. 64.). Tendo uma folha de papel à sua frente, a criança pode explorar vários aspectos dela. Surgem ideias sobre o que se pode fazer com ela; experimentam-se sensações passando a mão sobre ela. Toda exploração leva à aquisição de conhecimentos sobre suas características: se a folha é lisa ou áspera; se pode ser dobrada ou amarrotada; como ela fica se submetida a amassos, rasgões e picagem; se ela pode ficar de um jeito que expresse alegria ou tristeza... Os trabalhos de recorte, colagem e aplicação propiciam à criança dos primeiros anos escolares o aperfeiçoamento de conteúdos de coordenação motora, criatividade e desenvolvimento da sensibilidade, noções de espaços e superfície. O primeiro interesse da criança, ainda pequena, é no recorte puro, sem a intenção de formar figuras. À medida que ganha segurança no domínio da tesoura sobre o papel, surge a ideia de transformar pedaços de papel em figuras significativas e de utilizá-las a fim de compor cenas. A partir daí, ela vai manifestando preferências dentro da atividade, distinguindo papéis e possibilidades de recortes, colagens e aplicações. Revistas, jornais, papéis de diferentes texturas e pequenos objetos passam a ser vistos como fonte de pesquisa. Imitar Educa: qual o valor da imitação no processo de aprendizagem? as crianças aprendem imitando pessoas com as quais convivem e situações que vivenciam. as crianças são extremamente observadoras, desde muito pequenas. Estão sempre atentas ao que vêem e vivenciam. E é por meio da observação que as crianças também imitam e aprendem muito. A imitação é um dos recursos mais valiosos de que dispõem os pequenos para realizar novas aprendizagens, dia a dia. A aquisição inicial da fala, por exemplo, se dá pela imitação, pela reprodução de sons e palavras que as crianças escutam no contato com as pessoas com as quais convivem, como pais, cuidadores, irmãos etc. Essa é uma das razões pelas quais é tão importante falarmos com as crianças, desde que são bebês. Por esse mesmo recurso, outras aprendizagens ocorrem como as primeiras interações com objetos, como os brinquedos, as primeiras tentativas de se alimentar sozinho, as primeiras interações sociais com outras crianças, enfim, seja do ponto de vista físico, emocional, social e cognitivo inúmeras conquistas feitas pela criança se dão por meio da imitação. As crianças reproduzem aquilo que intencionalmente queremos que aprendam, como quando desejamos que repitam o nome de algo (“você quer água? Isso chama ‘água’”) ou quando queremos que repitam uma ação (“joga a bola para mim, assim, agora é sua vez”) ou um comportamento (“agora, diga, ‘por favor’…”). Porém, é fato que observam todo o tempo e também são capazes de reproduzir aquilo que efetivamente não temos a intenção de ensinar. Se presenciam alguém gritando com outra pessoa, mesmo que isso não as envolva, as crianças podem aprender que gritar com os outros é algo que elas também podem fazer. É assim que aprendem, ainda, sobre questões de gênero, sobre respeito, sobre preconceito, sobre como cuidar dos espaços coletivos e muito mais. Importa, por essa razão, refletirmos sobre o papel que nós, adultos, temos como modelos para as crianças. Se observar e imitar são recursos para aprender, tudo o que observam, de fato, por ser reproduzido e apropriado por elas, seja algo positivo ou não. A influência da brincadeira na socialização da criança Para Piaget (1975), quanto mais nova a criança, mais individual e egocêntrica é a sua brincadeira: "A essa centração da criança nela mesma, Piaget chama de egocêntrica. Não significando com isso uma hipertrofia da consciência do eu, mas simplesmente uma incapacidade momentânea da criança de descentrar-se, isto é,colocar-se em outro ponto de vista que não o próprio". (Freire, J.B, 1992). À medida que a criança interage com os objetos e com os outros, vai construindo relações e conhecimentos a respeito do mundo em que vive, porém, nesta fase, esse conhecimento ainda não é suficiente para que a criança estabeleça relações de grupo. Essa autocentração é característica nas crianças quando ingressam nas classes de Educação Infantil. Aos poucos, a escola e a família, em conjunto, devem favorecer uma ação de liberdade para essa criança e, desta forma, o processo de socialização se dará gradativamente, através das relações que ela irá estabelecer com seus colegas na escola. Para que isto ocorra, a criança não deve sentir-se bloqueada, nem tampouco oprimida em seus sentimentos e desejos. Suas diferenças e experiências individuais devem, principalmente na escola, ter um espaço relevante sendo respeitadas nas relações com o adulto e com as outras crianças. Brincando em grupo as crianças envolvem-se em uma situação imaginária onde cada um poderá exercer papel diversos aos de sua realidade, além do que, estarão necessariamente submetidas a regras de comportamento e atitude. A brincadeira e o jogo receberam atenção, também, dos teóricos da vertente históricocultural. É através da atividade lúdica que a criança desenvolve a habilidade de subordinar-se a uma regra. Dominar as regras significa dominar o próprio comportamento, aprendendo a controlá-lo e a subordiná-lo a um propósito definido. (LEONTIEV, 1998, p.139). O brinquedo é oportunidade de desenvolvimento. Brincando a criança experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração e atenção. Brincar é indispensável à saúde física, emocional e intelectual da criança. Irá contribuir, no futuro, para a eficiência e o equilíbrio do adulto. Brincar é um momento de auto-expressão e auto- realização. As atividades livres com blocos e peças de encaixe, as dramatizações, a música e as construções desenvolvem a criatividade, pois exige que a fantasia entre em jogo. Já o brinquedo organizado, que tem uma proposta e requer desempenho, como os jogos (quebra-cabeça, dominó e outros) constituem um desafio que promove a motivação e facilita escolhas e decisões à criança. O brinquedo suaviza o impacto provocado pelo tamanho e pela força dos adultos, diminuindo o sentimento de impotência da criança. Brincando, sua inteligência e sua sensibilidade estão sendo desenvolvidas. A qualidade de oportunidades que estão sendo oferecidas à criança através de brincadeiras e brinquedos garante que suas potencialidades e sua afetividade se harmonizem. A ludicidade, tão importante para a saúde mental do ser humano, é um aspecto que merece atenção dos pais e educadores, pois é o momento para expressão mais genuína do ser, direito de toda criança para o exercício da relação afetiva com o mundo, com as pessoas e com os objetos. Um bichinho de pelúcia pode ser um bom companheiro. Uma bola é um convite ao exercício motor, um quebra-cabeça desafia a inteligência e um colar faz a menina sentir-se bonita e importante como a mamãe. Enfim, todos são como amigos, servindo de intermediários para que a criança consiga integrar-se melhor. As situações problemas contidas na manipulação dos jogos e brincadeiras fazem a criança crescer através da procura de soluções e de alternativas. O desempenho psicomotor da criança enquanto brinca alcança níveis que só mesmo a motivação intrínseca consegue. Ao mesmo tempo, desenvolve a concentração, a atenção, o engajamento e a imaginação. Como conseqüência, a criança fica mais calma, relaxada e aprende a pensar, estimulando sua inteligência. Para que o brinquedo seja significativo para a criança é preciso que tenha pontos de contato com a sua realidade. Através da observação do desempenho das crianças com seus brinquedos podemos avaliar o nível de seu desenvolvimento motor e cognitivo. No lúdico, manifestam-se suas potencialidades e ao observá-las poderemos enriquecer sua aprendizagem, fornecendo através dos brinquedos os nutrientes ao seu desenvolvimento. A relação criança x brinquedo x adulto A criança trata os brinquedos conforme os recebe. Ela sente quando está recebendo por razões subjetivas do adulto, que muitas vezes, compra o brinquedo que gostaria de ter tido, ou que lhe dá status, ou ainda para comprar afeto e outras vezes para servir como recurso para livrar-se da criança por um bom espaço de tempo. É indispensável que a criança sinta-se atraída pelo brinquedo e cabe-nos mostrar a ela as possibilidades de exploração que ele oferece, permitindo tempo para observar e motivar-se. A criança deve explorar livremente o brinquedo, mesmo que a exploração não seja a que esperávamos. Não nos cabe interromper o pensamento da criança ou atrapalhar a simbolização que está fazendo. Devemos nos limitar a sugerir, a estimular, a explicar, sem impor nossa forma de agir, para que a criança aprenda descobrindo e compreendendo, e não por simples imitação. A participação do adulto é para ouvir, motivá-la a falar, pensar e inventar. Brincando, a criança desenvolve seu senso de companheirismo. Jogando com amigos, aprende a conviver, ganhando ou perdendo, procurando aprender regras e conseguir uma participação satisfatória. No jogo, ela aprende a aceitar regras, esperar sua vez, aceitar o resultado, lidar com frustrações e elevar o nível de motivação. Nas dramatizações, a criança vive personagens diferentes, ampliando sua compreensão sobre os diferentes papéis e relacionamentos humanos. As relações cognitivas e afetivas da interação lúdica propiciam amadurecimento emocional e vão pouco a pouco construindo a sociabilidade infantil. O momento em que a criança está absorvida pelo brinquedo é um momento mágico e precioso, em que está sendo exercitada a capacidade de observar e manter a atenção concentrada e que irá inferir na sua eficiência e produtividade quando adulto. Brincar junto reforça os laços afetivos. É uma manifestação do nosso amor à criança. Todas as crianças gostam de brincar com os pais, com a professora, com os avós ou com os irmãos. A participação do adulto na brincadeira da criança eleva o nível de interesse, enriquece e contribui para o esclarecimento de dúvidas durante o jogo. Ao mesmo tempo, a criança sente-se prestigiada e desafiada, descobrindo e vivendo experiências que tornam o brinquedo o recurso mais estimulante e mais rico em aprendizado. Guardar os brinquedos com cuidado pode ser desenvolvido através da participação da criança na arrumação feita pelo adulto. O hábito constante e natural dos pais e da professora ao guardar com zelo o que utilizou, faz com que a criança adquira automaticamente o mesmo hábito, ocorrendo inclusive satisfação tanto no guardar como no brincar. Os professores podem guiá-las proporcionando-lhes os materiais apropriados mais o essencial é que, para que uma criança entenda, deve construir ela mesma, deve reinventar. Cada vez que ensinamos algo a uma criança estamos impedindo que ela descubra por si mesma. Por outro lado, aquilo que permitimos que descubra por si mesma, permanecerá com ela. (PIAGET, 1975) O papel do professor frente à questão do brincar O papel do professor na aprendizagem dos seus alunos é, indiscutivelmente, essencial. A atuação do educador infantil voltada ao desenvolvimento de seus educandos possui aspectos importantes, que serão a seguir destacados. O primeiro ponto fundamental para a demonstração efetiva da importância do professor no papel da aprendizagem é existir, de forma clara, a imagem, um estereotipo, de sua atuação perante a todos, tanto nos seus aspectos emocionais, incluindo aqui a sua moral e ética, como também nos seus aspectos profissionaise todo o conseqüente conteúdo que ele possui e pode transmitir. Um professor com características bem definidas e, sobretudo, com qualidades didáticas notavelmente efetivas conseguirá ter a premência e a sensibilidade de verificar, caso a caso, as reais necessidades de seus alunos e conseqüentemente aplicar ao caso concreto a melhor prática possível, a fim de auxiliar o educando em seu processo de desenvolvimento. E obviamente que toda esse faro educacional que o bom professor possui depende de sólidas construções teóricas advindas dos estudos como também da prática e vivência do ensinar. Somente um profissional bem preparado saberá da importância desse período em que as crianças passam em suas vidas para o seu processo de aprendizagem e crescimento. Em seus primeiros anos de vida, a criança fatalmente vive experiências que marcarão o seu perfil emocional e educacional pelo resto da vida. Todo o perfil da pessoa adulta, todo esse momento de construção de caráter, dependerá também do papel desempenhado pelo professor. Certamente as primeiras habilidades, boas competências e até deficiências das crianças já poderão ser notados e, se o caso, aprimorados ou tratados desde já. Assim sendo, além desse perfil profissional, o professor também precisa, pessoalmente, ter um grande apreço pelo seu trabalho e, sobretudo, gostar muito de crianças para ter a dimensão e a capacidade de se inserir no mundo delas e conseguir extrair as melhores práticas e ações. E nada mais concreto para inserção no mundo das crianças do que a brincadeira, que é a forma pela qual ela, a criança, interage com o mundo e com os acontecimentos que lhe cerca. A brincadeira, portanto, é meio utilizado para a construção de conceitos e conhecimentos adquiridos cotidiana e espontaneamente pelas crianças. Por essas razões, o educador infantil necessariamente deve promover e externar atividades que estimulem a observação das competências e carências de seus educandos, a fim de que restem identificados os pontos fortes e os que necessitam de mais trabalho nesse processo de desenvolvimento. A brincadeira, nesse contexto, é fundamental na identificação destes aspectos relevantes para a formação da criança, cabendo ao professor utilizá-la na captação de informações, identificar as ocorrências e formular o(s) plano(s) de ação(ões) adequado(s), de acordo com as conclusões realizadas. Assim, o estímulo do brincar deve ser precedido de uma atuação teórica e prática do professor, para que os momentos e situações ocorridos satisfaçam esse mecanismo de desenvolvimento. O faz-de-conta proporcionado pelo brincar é muito rico para o desenvolvimento da criança, principalmente no seu aspecto emocional, ligado à criatividade e fantasia, e social, no que diz respeito o contato com as demais pessoas e o mundo que lhe rodeia. O faz-de-conta ocasiona a participação da criança em uma situação criada, assim como a busca de uma solução para o momento/situação ali deparado por conta do brincar. Cria- se, a partir disso, uma vasta oportunidade para a criança experimentar o mundo, aprender conceitos, situações e adquirir diversos conhecimentos e emoções. “É o adulto, na figura do professor, portanto, que, na instituição, ajuda a estruturar o campo das brincadeiras na vida das crianças. Conseqüentemente é ele que organiza sua base estrutural, por meio da oferta de determinados objetos, fantasias, brinquedos ou jogos, da delimitação e arranjo dos espaços e do tempo para brincar” (RCN, 1998, v.1, p.28). Cabe, assim, ao professor estruturar e também propagar as brincadeiras na vida e no processo de desenvolvimento das crianças. É o professor que delimita, em linhas gerais, os objetivos da brincadeira e, desde já, desenha a conclusão que a criança chegará (sabendo-se que, durante a brincadeira, surgirão também outros conceitos e aprendizagens), utilizando e ofertando aos educandos objetos certos, materiais adequados, fantasias, brinquedos, jogos, etc.. “O professor deve organizar suas atividades, selecionando aquelas mais significativas para seus alunos. Em seguida deverá criar condições para que estas atividades significativas sejam realizadas. (...) As brincadeiras enriquecem o currículo, podendo ser propostas na própria disciplina, trabalhando assim o conteúdo de forma pratica e no concreto. Cabe ao professor, em sala de aula ou fora dela, estabelecer metodologias e condições para desenvolver a facilitar este tipo de trabalho. O professor é quem cria oportunidades para que o brincar aconteça de uma maneira sempre educativa” (MALUF, 2003, p.29). Dessa forma, a seleção de objetivos, pelo professor, da brincadeira é fundamental. Porém, mais importante ainda é a verificação do desenvolvimento das crianças em conjunto e de cada criança, individualmente. Daí surge a função do professor de observador e espectador das manifestações livremente efetivadas pelas crianças. “Por meio das brincadeiras os professores podem observar e constituir uma visão dos processos de desenvolvimento das crianças em conjunto e de cada uma em particular, registrando suas capacidades de uso das linguagens, assim como de suas capacidades sociais e dos recursos afetivos e emocionais que dispõem” (RCN, 1998, v.1 p. 28). Ainda nesse contexto, quanto menos o professor influenciar, melhor. Em verdade, o educador deve é analisar e procurar pontuar as necessidades e habilidades da criança na brincadeira, com o objetivo de auxiliá-la na conclusão da atividade e no aprimoramento de suas funções. Mas, não se pode esquecer que há brincadeiras em que o professor deve agir como um mediador na realização da tarefa, para buscar os objetivos acima mencionados, como também outras tantas que não se deve admitir essa interferência do profissional da educação infantil. Há atividades espontâneas geradas pelo brincar, como também situações previamente pensadas e criadas para a busca de uma conclusão. Ambas situações fazem parte do desenvolvimento da criança e permitem a ela a criação de conhecimento, de modo que cabe ao professor ter a sensibilidade de notar essa diferença e tratar as situações de forma distintas, como facilmente demonstram ser. A intervenção do professor deverá existir para delinear toda a interação da criança com os códigos de vivência em sociedade, bem como para criar todo o conhecimento técnico necessário para o seu desenvolvimento emocional e intelectual, por meio dos mais diversos canais a serem explorados, como a expressão, comunicação de sentimentos, experimentação de situações, interpretação, etc. Não deve, entretanto, haver interferência em outras brincadeiras cuja finalidade não seja “técnica”, como naquelas em que há objetivo certo, determinado, direcionado para um fim específico. Com efeito, há brincadeiras em que o mais importante é o próprio desenvolvimento da criança com os objetos e situações, sem, porém, haver finalidade pré- determinada. Qualquer desvalorização dessas brincadeiras naturais ignora a dimensão educativa nela existente e privará a criança de valores e situações que podem influenciar no seu processo de desenvolvimento. “É preciso que o professor tenha consciência que na brincadeira as crianças recriam e estabilizam aquilo que sabem sobre as mais diversas esferas do conhecimento, em uma atividade espontânea e imaginativa. Nessa perspectiva não se deve confundir situações nas quais se objetiva determinadas aprendizagens relativas a conceitos, procedimentos ou atitudes explicitas com aquelas nas quais os conhecimentos são experimentados de uma maneira espontânea e destituída de objetivos imediatos pelas crianças” (RCN, 1998, v.1, p.29). Por conta disso, o professor precisa saber e jamais desconsiderar as características das crianças e de seus respectivos momentosna vida, como também toda a diversidade cultural, intelectual, política e étnica que cerca não só os educandos como a sociedade, para que, ao máximo, seja ampliada a gama de conhecimentos adquiridos, pautados em critérios reais de socialização e, ante de mais nada, inclusão. “É necessário apontar para o papel do professor na garantia e enriquecimento da brincadeira como atividade social do universo infantil. As atividades lúdicas precisam ocupar um lugar especial na educação. Entendo que o professor é figura essencial para que isso aconteça, criando os espaços, oferecendo materiais adequados e participando de momentos lúdicos. Agindo desta maneira, o professor estará possibilitando às crianças uma forma de assimilar a cultura e modos de vida adultos, de forma criativa, prazerosa e sempre participativa” (MALUF, 2003, p.31). O professor, em suma, é um canal de vital importância nesse processo de desenvolvimento e aprendizado das crianças. O professor é um grande apresentador de práticas que estimulam aprendizagem e o contato com o mundo exterior, para fins de criar habilidades emocionais, técnicas e sociais. Portanto, na instituição de educação infantil o professor possui o papel do parceiro mais experiente, cuja principal função é propiciar e garantir um ambiente rico, prazeroso, saudável e não discriminatório de experiências educativas e sociais variadas. Sendo assim, é o educador quem deve planejar atividades que envolvam o lúdico e propiciar um espaço privilegiado para que seus alunos possam exercitar o corpo, praticar brincadeiras que envolvam expressividade, a força, o equilíbrio, a coordenação e tantos outros aspectos fundamentais para o desenvolvimento das habilidades corporais e psíquicas. E o brincar, nesse contexto, é uma forma, um notável canal de conhecimento e aprendizagem estimulada, como também de agregação de valores pela simples vivência de situações diversas, com ou sem objetivos específicos. A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL A concepção do aluno de aprender passa pelo principal questionamento do porquê, na educação formal, as escolas de Educação Infantil devem trabalhar com a musicalização? Esta resposta pode ser melhor explicada quando observamos a questão que passe por entre as práticas musicais encontradas nas escolas e se difunda entre os educadores. Música é só um conhecimento, mas um conhecimento que desenvolve, amplia os campos a frente de um aluno. Musicalização é um processo de desenvolvimento para um aluno na construção do conhecimento musical com o objetivo de despertar e desenvolver o gosto musical da criança, contribuindo para sua capacidade de criação e expressão artística. A música pode ser utilizada em vários momentos do processo de ensino-aprendizagem, sendo de grande importância na busca do conhecimento, permitindo avanços no desenvolvimento lúdico, criativo, emotivo e cognitivo. As entidades escolares devem incentivar a interdisciplinaridade e suas várias possibilidades, pois a música ajuda em todas as fases e etapas do ensino. A utilização da música, bem como o uso de outros meios artísticos, pode incentivar a participação, a cooperação, socialização, e assim destruir as barreiras que atrasam o desenvolvimento curricular do ensino. Para isso acontecer é necessário a revisão dos métodos, da fundamentação, das bases que orientam as várias atitudes didático- pedagógicas dos conteúdos disciplinares. A interdisciplinaridade ainda não se apresenta com muita visibilidade em nossa educação, tanto nas áreas de pesquisa como no ensino, o que acontece são diferentes posições multidisciplinares. Som é tudo que soa! Segundo Teca Brito (2003, p.17): A música é uma linguagem universal. Tudo o que o ouvido percebe sob a forma de movimentos vibratórios. Os sons que nos cercam são expressões da vida, da energia, do universo em movimento e indicam situações, ambientes, paisagens sonoras: a natureza, os animais, os seres humanos traduzem sua presença, integrando-se ao todo orgânico e vivo deste planeta. De fato, a música é um elemento sempre presente na cultura humana. Sendo imprescindível na formação da criança para que ela, ao se tornar adulta, atinja a capacidade de pensar por conta própria e exerça sua criatividade de maneira crítica e livre, a música e também a dança são fundamentais na formação do corpo, da alma e do caráter das crianças e dos adolescentes. A música ganha ainda mais importância por arrebatar não só as crianças, mas também os adolescentes e os adultos. Nesse sentido, este trabalho se justifica na medida em que procura demonstrar a importância da música para a formação da criança. Isso vale tanto para as atividades escolares quanto para todas as outras atividades desenvolvidas para e com a criança. Além de contribuir para que os diversos conhecimentos sejam mais facilmente apreendidos pelo infante, a música faz com que ele desenvolva sua criatividade, sua subjetividade e exerça sua liberdade, tornando-o, no futuro, um ser autônomo e capaz de exercer com responsabilidade seu papel de ser autônomo e cidadão. Segundo SCAGNOLATO, 2006: A música não substitui o restante da educação, ela tem como função atingir o ser humano em sua totalidade. A educação tem como meta desenvolver em cada indivíduo toda a perfeição de que é capaz. Porém, sem a utilização da música não é possível atingir a esta meta, pois nenhuma outra atividade consegue levar o indivíduo a agir. A música atinge a motricidade e a sensorialidade por meio do ritmo e do som, e por meio da melodia, atinge a afetividade. Para o autor a música é como um complemento na educação, pois o aprendizado leva a criança a pensar, já a música a leva movimentar-se. A educação musical auxilia todo o processo de formação do ser humano, e pesquisas científicas comprovam que crianças, jovens e adultos que estudam algum instrumento musical têm melhor desempenho na aprendizagem escolar. A cultura é o fundamento, que alicerça e identifica um povo e aprendendo sobre nossa cultura estamos valorizando nosso país. A música é um fenômeno global e não há cultura sem música, por isso seu papel é tão importante, quanto conhecer e preservar nossas tradições musicais, é também conhecer a produção musical de outros povos e culturas e, de modo, explorar, criar e ampliar os caminhos e os recursos para o fazer musical. Como umas das formas de representação simbólica do mundo, a música, em sua diversidade e riqueza, permite-nos conhecer melhor a nós mesmos e ao outro, próximo ou distante. Mais do que uma disciplina, o ensino musical é uma expressão de vida. A música é uma das competências a serem desenvolvidas na infância, e, como sabemos, outra importante trajetória se completa quando a criança adquire a habilidade de ler e escrever. Todavia, a educação musical infantil no Brasil ainda caminha lentamente, ela precisa ser constituída, e seus principais objetivos não podem se resumir a auxiliar no aperfeiçoamento dos alunos em outras áreas de conhecimento, fazer porque cada criança tem o direito de desenvolver sistematicamente suas habilidades musicais, precisa ser valorizada como conhecimento artístico e acadêmico valorizada por si mesma. A nova legislação abre múltiplas possibilidades para que a atividade musical encontre o seu espaço na educação básica. Entretanto, é preciso mencionar que “a lei em si não é capaz de modificar o cenário da educação escolar” (Martinez, 2012, p. 20), pois inúmeros fatores que influenciam esse processo, como a organização das diferentes secretarias de educação e dos diversos estabelecimentos de ensino, além da formação e atuação do professor. O processo de aprendizagem se torna mais fácil quando a tarefa escolar atender aos impulsos deste a exploração e descoberta, entre professor e aluno, quando o tédio e a monotonia setornarem ausentes das escolas, pois o professor, além das aulas expositivas e centralizadoras, possa proporcionar experiências diversas com seus alunos, o que facilita muito a aprendizagem. Portanto, a integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de integração e comunicação social, conferem um caráter significativo à linguagem musical. É muito importante a utilização da música no espaço de educação infantil, pois a criança além de aprender brincando, o ambiente escolar se torna mais agradável e estimula cada vez mais à vontade dela participar das aulas, introduzir conteúdos através da música as crianças de 0 a 5 anos desenvolvem relações afetivas, de socialização, cognitivo e ainda torna o aprendizado de qualquer área de conhecimento ainda mais fácil de ser absolvido. Desde o nascimento, a criança tem necessidade de desenvolver o senso de ritmo, pois o mundo que a rodeia, expressa numa profusão de ritmos evidenciados por diversos aspectos: no relógio, no andar das pessoas, no vôo dos pássaros, nos pingos de chuva, nas batidas do coração, numa banda, num motor, no piscar de olhos e até mesmo na voz das pessoas mais próximas. No período da alfabetização a criança beneficia-se do ensino da linguagem musical quando as atividades propostas contribuem para o desenvolvimento da coordenação viso motora, da imitação de sons e gestos, da atenção e percepção, da memorização, do raciocínio, da inteligência, da linguagem e da expressão corporal. Essas funções psiconeurológicas envolvem aspectos psicológicos e cognitivos, que constituem as diversas maneiras de adquirir conhecimentos, ou seja, são as operações mentais que usamos para aprender, para raciocinar. Rosa (1990) afirma que a simples atividade de cantar uma música proporciona à criança o treinamento de uma série de aptidões importantes. A musicalização é importante é importante na infância porque desperta o lado lúdico aperfeiçoando o conhecimento, a socialização, a alfabetização, inteligência, capacidade de expressão, a coordenação motora, percepção sonora e espacial e matemática. A música em suas inúmeras formas quando utilizada em sala de aula, desenvolve diferentes habilidades como: o raciocínio, a criatividade, promove a autodisciplina e desperta a consciência rítmica e estética, além de desenvolver a linguagem oral, a afetividade, a percepção corporal e também promover a socialização. Podemos observar que em vários segmentos a música é utilizada como meio de integração e melhoramento do indivíduo tanto pessoalmente como coletivamente. O canto coral é a atividade mais praticada, pois esta é uma atividade que permite a integração e exige cooperação entre seus membros, além de proporcionar relaxamento e descontração. Cantar é uma atividade que exige controle e uso total da respiração, proporcionando relaxamento e energização. O canto desenvolve a respiração, aumenta a proporção de oxigênio que rega o cérebro e, portanto, modifica a consciência do emissor. A prática do relaxamento traz muitos benefícios, contribuindo para a saúde física e mental. Cantar pode ser um excelente companheiro de aprendizagem, contribui com a socialização, na aprendizagem de conceitos e descoberta do mundo. A música como recurso pedagógico Alunos preparados para desempenhar funções motoras e cognitivas, bem como relacionar- se bem com o meio social pode ser uma tarefa difícil de se executar, quando não se coloca isto como objetivo principal. As ferramentas de trabalho caem para os profissionais como fontes de atividade que interagem o aluno com os demais, mostrando que a expressão é um fator decisivo no processo de aprendizagem. A música não somente é uma simples ferramenta, sendo acessível, ela não necessita, necessariamente, de mais nada além de alunos e professores para ser produtiva, ser adaptável, ela precisa apenas ser ouvida, sentida, pois um som produzido, tanto por instrumentos elétricos ou pelo corpo como assobios e palmas, pode transportar os alunos para um mundo de aprendizado amplo em que a intensidade deste processo varia de acordo com as diferenças individuais. Na educação infantil existem inúmeras possibilidades de se trabalhar a música e os benefícios que ela pode oferecer. Os materiais podem ser diversos, não necessariamente é preciso dispor de materiais caros. As escolas muitas vezes não dispõem de condições de elaborar projetos com alto custo, o que não seria viável para os professores, nem para os alunos. Isso evidencia que um trabalho criativo e competente colaborará com a criança para desenvolver sua criatividade, socialização, expressão e também serve como estímulo para o aluno da educação infantil aprender mais e de forma contextualizada. Os benefícios que as utilizações da música permitem é o desenvolvimento social/afetivo, pois crianças, até a fase adulta, estão desenvolvendo sua identidade, descobrindo e passando pelo auto aceitação e auto-estima, tudo isso acontecendo no contato com as outras crianças.um convívio extremamente fortalecedor. A afetividade é uma sensação de prazer que possibilita expressão dos sentimentos perante os outros, desenvolvê-la acarreta uma sensação de segurança. Quando expressamos nossos sentimentos ocorre o desenvolvimento da sensação e de realização. O ensino de música não precisa ser discutido e sim facilitado para que a escola consiga influenciar o principal objetivo que é o de não necessariamente a formação de instrumentistas, concertistas e nem dominar instrumentos ou cantar almejando uma carreira profissional como músico. O fator de importância é que o aluno pode sim no futuro desejar alcançar uma dessas carreiras, mas o ato do ensinar canto, trabalhar com a música ou tocar alguns instrumentos, deve ser o de ter como objetivo o desenvolvimento da criança, aliando a música a elementos pertinentes do currículo da educação infantil ATIVIDADE 1) O que significa o brincar para você? 2) Nas reuniões pedagógicas há subsídios para sua ação envolvendo o brincar? Como? 3) Relate sua rotina de trabalho (escolha um dia como referência). 4) A organização do espaço na sala de aula prevê o brincar? Como? 5) Quais materiais e brinquedos estão disponíveis para que seus alunos possam brincar? 6) Quais as brincadeiras mais freqüentes que você observa em seus alunos? Relate uma atividade que você considera mais significativa.
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