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Universidade de Brasília Instituto de Letras Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas COLOCAÇÕES LEXICAIS EM PORTUGUÊS E FRANCÊS: ocorrências em corpora e obras lexicográficas Elisa Maiby Carvalho Augusto Brasília - DF 2020 1 Universidade de Brasília Instituto de Letras Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas Elisa Maiby Carvalho Augusto Colocações lexicais em português e francês: ocorrências em corpora e obras lexicográficas Trabalho apresentado à disciplina “Projeto de Curso: Elaboração de Multimeios”, do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas do Instituto de Letras da Universidade de Brasília, como requisito parcial para obtenção de grau de licenciatura em Letras – Português do Brasil como Segunda Língua, sob orientação da Profa. Dra. Orlene Lúcia de Saboia Carvalho. Brasília - DF 2020 2 RESUMO Esta pesquisa tem como embasamento teórico a Linguística de Corpus (KUHN; FERREIRA, 2020; BERBER SARDINHA, 2004) e a Lexicografia (POLGUÈRE, 2018; CARVALHO, 2001), que motivaram a observação das possibilidades de combinatória lexical restrita, conforme o discutido por Carvalho (2017) e Williams (2001). O presente trabalho é pautado pelos seguintes percursos metodológicos: i) revisão bibliográfica sobre o fenômeno das colocações lexicais, que compõem o objeto de estudo; ii) identificação e análise do fenômeno estudado em corpora das línguas românicas português e francês, tendo como foco as ocorrências de combinação entre verbo + substantivo/adjetivo/advérbio (colocações verbais); iii) investigação da amostra de ocorrências em diferentes seções dos verbetes constantes de obras lexicográficas monolíngues e bilíngues. Como resultado, verificou-se a alta frequência de uso das colocações lexicais nas ferramentas de corpora, que se opõe à presença relativamente baixa destas combinações nos dicionários sob análise; discorreu-se, também, sobre a possibilidade de consulta às ferramentas analisadas, de forma mais consciente sobre o fenômeno colocacional, no processo de ensino-aprendizagem de léxico. Palavras-chave: Colocações lexicais. Combinatória lexical. Lexicografia. 3 ABSTRACT The present research is based on the theoretical framework of Corpus Linguistics (KUHN; FERREIRA, 2020; BERBER SARDINHA, 2004) and Lexicography (POLGUÈRE, 2018; CARVALHO, 2001). These fields motivated the observation of the possibilities of restricted lexical combinatorics, as discussed by Carvalho (2017) and Williams (2001). Our work is guided by the following methodological paths: i) bibliographic review on the phenomenon of lexical collocations, which compose the object of study; ii) identification and analysis of such phenomenon in corpora of the Portuguese and French languages, focusing on the occurrences of a combination of verb + noun / adjective / adverb (verbal collocations); iii) investigation of the sample of occurrences in different sections of entries in monolingual and bilingual dictionaries. As a result, we verified a high frequency of use of lexical collocations in corpora tools, in contrast to the relatively low presence of such combinations in the dictionaries under analysis. We also discussed the possibility of consulting the analyzed tools in a more conscious way about the collocational phenomenon, in the lexicon teaching-learning process. Keywords: Lexical collocations. Lexical combinations. Lexicography. 4 Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra. […] (Machado de Assis) 5 SUMÁRIO Introdução 7 1 Colocações e demais unidades linguísticas convencionais 8 1.1 Tipologias de colocações 9 2 Corpora de colocações verbais em português e em francês 14 2.1 O corpus Portuguese Web 2011 15 2.2 Contraste entre os corpora de português e francês 20 3 As colocações em obras lexicográficas monolíngues e bilíngues 23 3.1 Dicionários monolíngues padrão 23 3.2 Dicionários bilíngues 28 3.2.1 Informatizados 29 3.2.2 Impressos 32 Considerações finais 36 Referências 38 Anexo I – Wordlist: verbos e substantivos mais comuns da língua portuguesa, por Kilgarriff e Rychlý (s.d.) 41 6 https://drive.google.com/file/d/1BK2vzLa7BRsVGs4oUTS6w0vMuUl2z9wB/view?usp=sharing INTRODUÇÃO Os falantes de português brasileiro e das demais línguas naturais materializam atos comunicativos dotados de significado por meio de construções textuais de natureza simples, como conversas espontâneas ou narrativas, e complexas, como aulas ou documentos oficiais. Essas construções mobilizam diferentes recursos linguísticos e discursivos, e um dos recursos mais utilizados para atribuir significado às interações, ainda que não seja suficientemente explorado, é o de combinação lexical. Trata-se de uma relação sintagmática que permite associar as palavras que são usadas, normalmente, “em conjunto com outras palavras que as completam, ou no nível da construção de discurso que faz eco delas quando substituídas ou definidas" (TRÉVILLE; DUQUETTE, 1996 apud BINON; VERLINDE, 2000a, p. 124). Tomando por base esta constatação, apoiada inicialmente nos trabalhos de Carvalho (2017; 2001), Polguère (2018) e Williams (2001), e orientada metodologicamente pela pesquisa bibliográfica e documental (GIL, 2008), procedemos ao trabalho monográfico de pesquisa sobre combinações lexicais, também denominadas colocações lexicais ou, simplesmente, colocações, nos contextos gerais de uso das línguas românicas português e francês. Estas línguas foram escolhidas tanto pelo número expressivo e similar de falantes ao redor do globo, quanto pelo vínculo da pesquisadora como falante nativa da variedade brasileira do português (daqui em diante, PB) e aprendiz de longa data da variedade europeia do francês. A partir das inquietações decorrentes das reflexões sobre língua e linguagem, materializadas na pergunta “quais são as principais possibilidades de combinatória lexical em português e francês, em uso corrente?”, o presente trabalho foi organizado de forma a evidenciar as tipologias e critérios lexicais, sintáticos e semânticos que subdividem as colocações lexicais no primeiro capítulo, para, a partir desta subdivisão, destacar as ocorrências de uso das colocações verbais e possíveis implicações no processo de ensino- aprendizagem do léxico de PB, no segundo capítulo. Estas mesmas colocações lexicais serão analisadas, de igual modo, em obras lexicográficas monolíngues e bilíngues, no terceiro capítulo. Ao final, anexamos uma lista com os substantivos e verbos mais frequentes no PB, gerada a partir das ocorrências analisadas no segundo capítulo. 7 1 COLOCAÇÕES E DEMAIS UNIDADES LINGUÍSTICAS CONVENCIONAIS As interações humanas que se estabelecem no mundo são mediadas por diferentes construções linguísticas e discursivas. Nosso estudo tratará da forma como essas construções mobilizam recursos de combinação lexical, que são um dos padrões recursivos que as línguas naturais oferecem (CARVALHO, 2017, p. 82). Esses padrões são parte importante do processo criativo dos falantes de determinada língua, pois é a partir deles que geramos “expressões estruturadas sem limites” (BERWICK; CHOMSKY, 2011 apud NEGRÃO, 2013, p. 88), que não são escolhidas de forma aleatória, mas obedecem a critérios sintáticos e semânticos (BERBER SARDINHA, 2004, p. 200; COSERIU, 1977, p. 143-161). Em realidade, quando adquirimos ou aprendemos uma língua, não nos apropriamos das palavras de forma isolada, mas, sim, no âmbito de interações que demandam a mobilização de diferentes recursos: a maneira como falamos com nossos familiares e amigos próximos não costuma ser a mesma de que nos valemos para interagir com colegas de trabalho; difere-se também da maneira como um autor se dirige aos seus leitores. Nessas diferentes interações, espera-se que saibamos o que dizer, quando dizer e como dizer (TAGNIN, 2013, p. 21) e, para facilitar este processo, temosà disposição alguns “sintagmas pré-construídos” (CARVALHO, 2017, p. 81), que são usados com grande frequência pelos interlocutores nativos e, idealmente, pelos não nativos em imersão. Esses sintagmas, no PB, podem ser: a) Fórmulas de rotina: expressões de função comunicativa, como saudações, agradecimentos e desculpas; b) Expressões idiomáticas: combinação de itens lexicais e gramaticais que funcionam em uma unidade de sentido, como “dor de cotovelo”; c) Binômios: estruturas coordenativas, como “noite e dia”, “ir e vir”, “cão e gato”. Alguns binômios se assemelham ao item (b), como “gato e sapato”; d) Coligações: combinação de um item lexical com um item gramatical, como “fugir de [algo/alguém]”. Na gramática tradicional, os fenômenos de coligação são categorizados como regência verbal ou nominal; 8 e) Colocações: combinação de dois ou mais itens lexicais em coocorrência regular, 1 como “linha tênue” (CARVALHO, 2017, p. 82-83; TAGNIN, 2013, p. 53 et seq.; CRYSTAL, 2008, p. 51, 104), entre outros. Como os itens lexicais são palavras que possuem referentes no mundo extralinguístico, como substantivos, verbos e adjetivos, enquanto os itens gramaticais possuem referentes apenas no mundo linguístico, como preposições, conjunções e artigos (VILARINHO, 2019, p. 152, 165; CRYSTAL, 2008, p. 222), interessa-nos analisar, neste primeiro momento, o quanto as colocações lexicais perpassam nossas interações como falantes de PB. 1.1 Tipologias de colocações Os estudos de combinatória lexical, bem como a utilização do termo “colocação" na linguística, foram difundidos por John R. Firth (1890-1960), para quem as colocações lexicais eram observáveis por meio de um “teste de colocabilidade”. Este teste, que revela aspectos semânticos das palavras, foi demonstrado de forma simples pelos pares “noite/dia” e “claro/ escuro”, em que se percebe uma maior regularidade de combinação entre “noite” e “escura”, “dia” e “claro” (FIRTH, 1951 apud ROBINS, 2013, p. 65; BARNBROOK et al., 2013, p. 37). Como o grau de dependência entre os itens lexicais na construção no significado pode variar, atualmente, os exemplos de Firth poderiam ser considerados como sintagmas livres, mais do que como colocações, uma vez que se pode substituir “noite” por “casa”, “óculos” e outros tantos; e “escura” por “fria”, “longa” etc. (CARVALHO, 2017). Em realidade, em uma colocação, é necessário que ambos os itens lexicais estejam envolvidos em uma relação de solidariedade semântica, normalmente manifesta no eixo sintagmático, para conferir às palavras escolhidas uma especificidade de sentido, como “montar a cavalo” (COSERIU, 1977, p. 144, 153). Assim, dentre as propostas tipológicas mais recentes para as colocações lexicais – daqui em diante, também denominadas apenas “colocações” – destacamos as de Deradra Apesar da discussão quanto ao número ideal de itens lexicais em uma colocação (CARVALHO, 2017, p. 84), 1 adotaremos dois itens como unidade padrão em nosso trabalho, sobretudo porque os sintagmas tendem a ser de natureza binária (cf. Mikus, 1947). 9 (2009a; 2009b), Tagnin (2013) e Carvalho (2017). Tais propostas têm em comum o fato de perceberem os itens lexicais em uma relação assimétrica de solidariedade: Deradra (2009a, p. 240, tradução nossa) fala de “lexia-base” e “consituinte/colocado”, enquanto Tagnin (2013, p. 64-65) trata de “base” e “colocado/elemento convencionado”, de forma similar à “base/ nódulo” e “colocado” de Carvalho (2017, p. 84). Como as semelhanças se situam, 2 basicamente, apenas neste âmbito, passamos à discussão das diferenças de cada proposta. A pesquisa de mestrado de Deradra (2009a; 2009b) visa apresentar “o contexto em que se emprega determinada colocação” a partir de um corpus literário: o romance Il était une fois un vieux couple heureux, de Mohammed Khaïr-Eddine (DERADRA, 2009a, p. 239, tradução nossa). Para a autora, critérios de ordem sintático-semântica, como testes de movimentação dos constituintes (ibid., p. 241), e critérios semânticos, como os de binaridade, assimetria e coocorrência restrita/seleção lexical, orientam o “grau de fixidez” das colocações, que podem ser […] opacas: quando o sentido do colocado em coocorrência com a base é diferente do sentido que tem fora dessa combinação, […] [enquanto] o sentido da base se mantém interpretável; transparentes: quando o sentido do colocado é facilmente compreensível […]; regulares: […] combinações de palavras ou de sequências de palavras nas quais o sentido do todo é, geralmente, dedutível e parece previsível […] (ibid., p. 240, tradução nossa) . 3 Além desses critérios, Deradra (2009b) emprega o consagrado critério morfossintático de divisão por classes de palavras para categorizar as colocações como: 4 a) colocações nominais, compostas por: substantivo (posição 1) + preposição [posição opcional] + substantivo (posição 2) la nuit des temps / tempos remotos; b) colocações verbais, compostas por: (verbo) + [preposição] + (substantivo ou adjetivo) crever de faim / morrer de fome; Estes termos também são aplicáveis à busca por ocorrências linguísticas em pesquisas da área de Linguística de 2 Corpus, como veremos no segundo capítulo. Original: “[Collocations] opaques : lorsque le sens du collocatif en cooccurrence avec la base est différent du 3 sens qu’il a en dehors de cette association, […] [tandis que] le sens de la base reste interprétable ; transparentes : lorsque le sens du collocatif est facilement compréhensible […] ; régulières, autrement dit des associations de mots ou de suites de mots dans lesquelles le sens du tout est généralement déductible et semble prédictible […].” Cf. Tagnin (2013, p. 63).4 10 c) colocações adjetivas, compostas por: (adjetivo) + (substantivo ou advérbio) armé jusqu’aux dents / armado até os dentes; d) colocações adverbiais, compostas por: (advérbio ou locução adverbial) + (adjetivo ou verbo) en même temps / ao mesmo tempo; e) colocações prepositivas e conjuntivas, compostas por: (preposição ou conjunção) + (substantivo) à défaut de / na falta de (DERADRA, 2009b, p. 52 et seq., tradução 5 nossa). Observamos que, para a autora, vários dos sintagmas pré-construídos se fundem em um só conceito. “Colocações”, segundo os dados de Deradra (2009a; 2009b), abrangem tanto a combinação de itens lexicais (item b), quanto a combinação de itens lexicais e gramaticais (item e) e, ainda, expressões idiomáticas, por ela denominadas “colocações opacas” (itens a e c). Assim, consideramos que os trabalhos de Tagnin (2013) e Carvalho (2017) delimitam mais o escopo deste fenômeno. Tagnin (2013) apresenta, em seu livro O jeito que a gente diz: combinações consagradas em inglês e português, as possibilidades de combinação lexical das duas línguas em contraste. A autora sinaliza, como Deradra (2009a), que as colocações lexicais podem apresentar um maior ou menor nível de fixidez de acordo com a categoria a que pertencem, mas difere da linguista argelina ao considerar que a opacidade semântica (ou “idiomaticidade”) não diz respeito às colocações, mas, sim, às expressões idiomáticas (TAGNIN, 2013, p. 22, 99). Para a autora, há: a) colocações adjetivas, compostas por (adjetivo) + (substantivo): foreign policy / política externa; b) colocações nominais, compostas por (substantivo) + [preposição] + (substantivo): credit card / cartão de crédito; c) colocações verbais, compostas por (verbo) + [preposição] + (substantivo ou adjetivo): take care / tomar cuidado, go wrong / dar errado; d) colocações adverbiais, compostas por (advérbio) + [preposição] + (adjetivo ou verbo): strictly prohibited / expressamente proibido, fully agree / concordar plenamente (ibid., p. 63-73). Nas traduções de Deradra (2009a; 2009b) e Tagnin (2013), consideramos que, por não haver "isomorfia lexical 5 entre duas línguas” (CARVALHO, 2001, p. 111), algumas colocações em portuguêsbrasileiro podem ser formadas por palavras de classes diferentes ou demandar diferentes preposições. 11 Tagnin (2013) tipifica, em seguida, as expressões especificadoras de unidade, que acompanham “substantivos que designam objetos incontáveis ou abstratos”, e os coletivos, “convencionalmente usados para se referir a um grupo de coisas” (TAGNIN, 2013, p. 74-75). A autora termina o capítulo com a exposição de quadros comparativos em que amplia sua análise contrastiva, pois adiciona equivalentes de colocações em alemão, espanhol, francês e italiano (ibid., p. 77-78). Na esteira do proposto por Tagnin (2013), Carvalho (2017, p. 82-84) adota os critérios de “autonomia sintática e transparência semântica” para subdividir as colocações lexicais do PB em: a) colocações nominais, compostas por (substantivo ou adjetivo) + [preposição] + (substantivo ou adjetivo): suaves prestações, modéstia à parte; b) colocações adjetivas, compostas por (advérbio) + (adjetivo ou particípio): gravemente ferido, redondamente enganado; c) colocações verbais (verbo ou substantivo) + [preposição] + (substantivo, verbo, adjetivo ou advérbio): prestar atenção, levar a sério, mentir descaradamente (CARVALHO, 2017, p. 82-87). Carvalho (2017) analisa, ainda, o quanto os traços semânticos positivos e negativos se estendem de um item lexical a outro, mediante o conceito de “prosódia semântica” (STUBBS, 1995 apud CARVALHO, 2017, 87-88): o verbo oferecer, por exemplo, apresenta prosódia semântica positiva, pois se associa a "cursos, serviços, vagas, oportunidades, condições, subsídios, vantagens […]” (ibid., p. 90). A autora também revisa dados de corpora de português e de obras lexicográficas, para propor, ao final, um processo de ensino-aprendizagem de PB como língua estrangeira mais atento às questões de combinatória lexical nos diferentes gêneros textuais que integram o processo. Desta feita, pode-se dizer que uma colocação é uma combinação lexical, geralmente binária, cujos itens se relacionam em regime de solidariedade e transparência semântica. Podemos dizer, de igual modo, que as colocações não são sintagmas abertos (casa amarela, anexar território), uma vez que ambos os itens lexicais podem ser trocados sem prejuízo da constituição do sintagma; tampouco são expressões idiomáticas (quebrar um galho, virar a 12 página), pois ainda que haja uma relação explícita em nível sintático, a semântica dos itens não é transparente . 6 Continuaremos a análise, no capítulo seguinte, de colocações verbais do português, porque, como discutido por Tagnin (2013) e Carvalho (2017), esta categoria de colocações evidencia as dificuldades que ocorrem no ensino-aprendizagem do léxico de PB como língua estrangeira: aprender os tipos de complementos que são demandados por um verbo, sem ter noção de quais são os complementos verbais de maior frequência, pode resultar em equívocos durante situações comunicativas concretas. Tais dificuldades decorrem, dentre outros fatores, da escassez de obras lexicográficas dedicadas à descrição das colocações em geral, conforme discutiremos no último capítulo. Carvalho (2017, p. 92), aliás, constata que “não há dicionários monolíngues direcionados para aprendizes de português brasileiro como língua estrangeira, seja semasiológico, de frequência ou de colocações”, e Tagnin (2013, p. 70) reforça que não há dicionário de colocações, “mesmo de língua materna”. Assim, com base na metodologia de coleta de dados adotada por Carvalho (2017), discutiremos as colocações verbais da língua em uso no próximo capítulo, e contrastaremos essas colocações em dicionários de português, nas variedades brasileira e europeia, e francês europeu no capítulo seguinte, adotando a tipologia de colocações proposta pela mesma autora (CARVALHO, 2017, p. 80-87). Lembramos que, conforme Williams (2001), ainda não há uma definição de colocação considerada consensual, 6 posto que esse tipo de combinação se situa num continuum entre sintagmas abertos, locuções e expressões idiomáticas. 13 2 CORPORA DE COLOCAÇÕES VERBAIS EM PORTUGUÊS E EM FRANCÊS Feita a diferenciação entre as categorias de colocações, lançamo-nos à análise de colocações verbais, conforme o levantamento de dados que fizemos no corpus linguístico de português Portuguese Web 2011. Antes, porém, é necessário discorrer sobre a constituição de um corpus (pl. corpora) e quais são as possibilidades de trabalho que ele oferece. Os corpora de texto são ferramentas da maior relevância para a Linguística de Corpus, uma corrente de análise linguística inaugurada nos anos 1960 cujo principal objetivo é explorar a “linguagem por meio de evidências empíricas, extraídas [de gêneros textuais diversos] por computador.” (BERBER SARDINHA, 2004, p. 3). Na era da sociedade da informação, existem corpora com bilhões de palavras que oferecem possibilidades de análise, por exemplo, dos contextos de ocorrência (concordâncias), das palavras mais frequentes, das relações sintáticas e semânticas, entre outros. Os corpora utilizados na atualidade disponibilizam conhecimento sobre uma determinada língua ou variedade linguística por meio de uma compilação de dados textuais, que são, normalmente, coletados de documentos on-line, como sites, documentos nos formatos HTML, PDF etc., e são acessados de acordo com as ferramentas disponíveis. Para o português, destacamos os corpora Brasileiro , coordenado por Tony Berber Sardinha, Corpus 7 do Português , coordenado por Mark Davies, e Portuguese Web 2011 , coordenado pela 8 9 equipe do Sketch Engine. Este último corpus foi o escolhido para nossa pesquisa por sua maior disponibilidade de ferramentas de análise e de dados compilados. Ressaltamos que os corpora foram inicialmente pensados para linguistas, mas sua utilização não se restringe ao contexto acadêmico. Profissionais e curiosos das áreas do jornalismo, audiovisual, licenciaturas, mídias sociais, entre outras, podem se beneficiar dessas compilações de dados textuais já existentes e até mesmo elaborar seus próprios corpora, posto que as ocorrências do uso permitem a exploração atenta, em nível quantitativo e qualitativo, da língua que se fala, observa e aprende (cf. KUHN; FERREIRA, 2020). O acesso ao corpus Brasileiro e a outros corpora de língua portuguesa pode ser feito de forma gratuita em: 7 https://www.linguateca.pt/ACDC/ (LINGUATECA). Também gratuito. Disponível em: https://www.corpusdoportugues.org/xp.asp (DAVIES).8 Disponível em: https://app.sketchengine.eu (KILGARRIFF; RYCHLÝ).9 14 https://www.linguateca.pt/ACDC/ https://app.sketchengine.eu https://www.corpusdoportugues.org/xp.asp 2.1 O corpus Portuguese Web 2011 O corpus Portuguese Web 2011 (ou ptTenTen11) integra a família TenTen, que conta com 41 corpora gerenciados pelo Sketch Engine, programa pago da empresa britânica Lexical Computing. Desde a última atualização, de 2018, o ptTenTen11 armazena mais de 10 milhões de documentos coletados de sites científicos e acadêmicos, com 3.896.392.719 palavras, em português brasileiro e europeu, cujo acesso se dá por meio das ferramentas do Sketch Engine destacadas a seguir: Figura 1 – Área inicial do Sketch Engine Fonte: Kilgarriff; Rychlý (s.d.). No corpus Portuguese Web 2011, lançamos mão das ferramentas Wordlist (lista das palavras mais frequentes no corpus), Word Sketch (lista de combinações lexicais e gramaticais) e Word Sketch Difference (comparação entre os itens lexicais que constituem uma colocação) para coletar os dados. As demais possibilidades de trabalho para este corpus são: compilar sinônimos e palavras similares (Thesaurus), exemplos de uso em contexto (Concordance), expressões com até 5 palavras (N-grams), extrair termos de áreas de 15 especialidade (Keywords) e estatísticas gerais dos documentos que compõem o corpus (Text type analysis), em uma interface de site apresentada em inglês, e dados nalíngua original. Eis as seguintes combinações das quais a palavra objetivo, 55º substantivo mais usado no português , é base/nódulo. Selecionamos os contextos de ocorrência de Verbo + 10 Substantivo e Substantivo + Verbo, nas vozes ativa e passiva. Figura 2 – Ferramenta Word Sketch: “objetivo” Fonte: Kilgarriff; Rychlý (s.d.). Nas categorias de colocações sob investigação, percebe-se uma maior frequência dos colocados atingir, alcançar e cumprir em coocorrência com objetivo, sendo atingir + objetivo e alcançar + objetivo as colocações de frequência mais alta. Isso é confirmado pelos Cf. anexo I.10 16 scores , índices numéricos de frequência das ocorrências nos contextos apontados pela 11 Figura 1: a média simples do score para alcançar + objetivo, é de 10.97, para atingir + objetivo, de 10.82, e para cumprir + objetivo, de 9.2. A comparação do Word Sketch Difference também demonstra estas nuances, como demonstrado nas figuras a seguir: Figura 3 – Ferramenta Word Sketch Difference: alcançar vs. atingir Fonte: Kilgarriff; Rychlý (s.d.). Figura 4 – Ferramenta Word Sketch Difference: cumprir vs. alcançar Fonte: Kilgarriff; Rychlý (s.d.). Os critérios de cálculo do score podem ser conferidos na página “Statistics used in Sketch Engine” (SKETCH 11 ENGINE, 2015). 17 Figura 5 – Ferramenta Word Sketch Difference: cumprir vs. atingir Fonte: Kilgarriff; Rychlý (s.d.). Seguindo estes passos, compilamos as colocações verbais mais frequentes nos usos do português como língua geral e as dispomos no quadro a seguir. Algumas dessas 12 combinações já foram discutidas por Tagnin (2013) e Carvalho (2017) – com base nessas autoras, aliás, mantivemos o destaque dos itens lexicais considerados como base/nódulo em negrito. Quadro 1 – Colocações verbais no português brasileiro Verbo Substantivo / advérbio Média simples do score alcançar / atingir objetivo 10.97 10.82 chamar atenção 7.59 dar o exemplo 7.21 dar continuidade 6.86 falar / dizer besteira 5.06 3.95 Distinguimos língua geral de linguagem de especialidade, no sentido de a primeira materializar-se nas 12 interações espontâneas, enquanto a segunda media as interações de especialistas em áreas diversas. Foram detectadas algumas colocações utilizadas no Direito e na Economia (decretar estado de emergência, deixar legado, tributar serviço), mas a discussão sobre esses dados é mais pertinente aos estudiosos da Terminologia, área da Linguística que estuda as linguagens de especialidade (cf. Vilarinho, 2019). 18 Fonte: Kilgarriff; Rychlý (s.d.). Chamamos atenção a alguns fatos linguísticos, para além da evidente relação sintático-semântica existente entre as colocações listadas. Para começar, pode-se observar que o padrão Verbo + Substantivo, na voz ativa, é o mais comum dentre as colocações verbais. No entanto, em colocações como travar batalha, prestar serviço e firmar/assinar acordo, há grande frequência de ocorrências na voz passiva. Percebe-se, de igual modo, que o item lexical considerado como base/nódulo é o de maior carga semântica. Na categoria das colocações verbais, a base/nódulo costuma ser o substantivo, uma vez que os verbos considerados suportes, como dar, falar, tomar “não têm semântica plena – não são, no entanto, completamente vazios de significado” (CARVALHO, 2017, p. 86) . 13 firmar / assinar acordo 10.56 9.1 juntar esforços 6.86 levar a sério (adv.) 7.56 levar em consideração 5.34 mentir descaradamente (adv.) 7.0 pedir desculpas 7.4 prestar serviço 10.32 promover desenvolvimento 6.2 ranger dentes 7.97 tirar / levar vantagem 5.79 5.64 tomar consciência 5.99 travar batalha 10.61 (não) vir ao caso 5.98 Na pesquisa, também encontramos combinações lexicais com verbos de carga semântica mais forte, cujo fator 13 de restrição semântica suplanta o de solidariedade semântica, que julgamos ser essencial em uma colocação (cf. capítulo 1.1). Por essa razão, não incluímos os pares folhear livro (verbo ligado a objetos com folhas) e fidelizar cliente (verbo restrito a relações comerciais) em nossas análises, ainda que seus elementos ocorram com frequência nos usos de PB. 19 Em colocações lexicais como alcançar/atingir objetivo, falar/dizer besteira ou tirar/levar vantagem, é possível que o colocado possa ser trocado por outro de significado similar, sem prejuízo da relação de solidariedade semântica, como apontado por Tagnin (2013, p. 64) e pelos resultados das ferramentas do corpus. A variação dos índices de frequência entre uma e outra colocação é baixa: em alcançar/atingir um objetivo, há uma lacuna de score de 0.15, sendo alcançar objetivo a mais frequente (média de 10.97); em tirar/levar vantagem, a lacuna de score tambem é de 0.15, com maior frequência de tirar vantagem (média de 5.79); em falar/dizer besteira, o score varia 1.11 e a colocação mais frequente é falar besteira (média de 5.06) (KILGARRIFF; RYCHLÝ). Finalmente, ressaltamos que algumas colocações incorporam em si uma função tradicionalmente atribuída às coligações, ao demandarem preposições e artigos para se concretizarem nas situações comunicativas. Colocações como dar o exemplo, levar a sério / em consideração, [não] vir ao caso tornaram-se tão consolidadas na língua em uso que são, inclusive, consideradas como locuções em alguns dos dicionários analisados, como se verá no terceiro capítulo desta pesquisa. 2.2 Contraste entre os corpora de português e francês A seguir, listam-se as equivalências das colocações analisadas em francês. Consultamos as equivalências tanto no corpus francês da família TenTen, quanto no Dictionnaire des combinaisons de mots (Le Robert, 2007) . Salientamos que, embora estas 14 línguas pertençam à mesma família, o processo histórico de formação de cada uma delas faz com que poucos itens lexicais apresentem equivalência plena: a formação linguística do português e do francês é perpassada pela relativa distância geográfica entre os territórios de Portugal e França, assim como pelo contato linguístico decorrente das ocupações dos mouros – no caso de Portugal –, normandos – no caso da França – e outros povos (BASSO; GONÇALVES, 2014). Agradecemos, ainda, ao sujeito nativo de francês, plurilíngue e amigo Yann Amoussou, que ratificou e 14 esclareceu as nuances de algumas das colocações registradas. 20 Quadro 2 – Colocações verbais no português e equivalências em francês Fontes: Le Robert (2007); Kilgarriff; Rychlý (s.d.). Em relação a estes dados, destacamos que o francês, via de regra, demanda um elemento determinante na ligação do verbo ao substantivo – artigo, preposição, pronome etc. –, como nas colocações donner l'exemple, prendre au sérieux, joindre ses efforts, s’engager dans / livrer une bataille. Sobre a inexistência de isomorfia lexical (CARVALHO, 2001), assinala-se que algumas das colocações encontradas em português não mantêm a mesma organização sintagmática em francês, como os itens lexicais profiter / bénéficier [de quelque chose]: estes foram os equivalentes mais próximos de tirar / levar vantagem encontrados. Colocação em português Colocação em francês atingir / alcançar objetivo atteindre un objectif chamar atenção attirer l'attention dar o exemplo donner l’exemple dar continuidade donner suite falar / dizer besteira dire / raconter des bêtises firmar / assinar acordo conclure un accord juntar esforços unir ses efforts levar a sério (adv.) prendre au sérieux levar em consideração prendre en compte mentir descaradamente mentir effrontément pedir desculpas présenter ses excuses / demander pardon prestar serviço rendre service promover desenvolvimento promouvoir le développement ranger dentes grincer des dents tirar / levar vantagem profiter / bénéficier tomar consciência prendre conscience travar batalha s’engager dans / livrer une bataille (não) vir ao caso (ne pas) être question de 21 Passemos, então, à investigaçãosobre estas colocações em ferramentas mais usuais que o corpus, ainda que tenham importância similar, e onipresentes no processo de ensino- aprendizagem de léxico: as obras lexicográficas monolíngues e bilíngues. 22 3 AS COLOCAÇÕES EM OBRAS LEXICOGRÁFICAS MONOLÍNGUES E BILÍNGUES Os dicionários são um tipo de obra lexicográfica que oferecem um modelo de descrição lexical mais ou menos padronizado, possibilitando que especialistas e não especialistas de língua tenham acesso a um seleto repertório de itens lexicais e dispondo informações específicas sobre estes itens em verbetes. Há vários tipos de dicionário, com diferentes tamanhos e estruturas organizacionais: dicionário histórico, dicionário etimológico, minidicionário, dicionário infantil, dicionário fundamental, dicionário escolar, dicionário para aprendizagem, dicionário bilíngue, dicionário semibilíngue, dicionário de uso, dicionário padrão, dicionário ilustrado, dicionário de imagens e dicionário analógico (VILARINHO; MAIA-PIRES, 2016, p. 88). Dentre as obras lexicográficas tipificadas por Vilarinho e Maia-Pires (2016), importa-nos analisar o quanto as colocações se fazem presentes nas obras de referência para falantes de português e francês. Analisaremos os dicionários monolíngues padrão Houaiss (2009) e Aulete (on-line), assim como os bilingues TheFreeDictionary / K Dictionaries (2013), Michaelis (on-line; 2002) e Larousse (1988), nos formatos impresso e informatizado. 3.1 Dicionários monolíngues padrão Um dicionário monolíngue apresenta o léxico da língua, à exceção de nomes próprios, “do ponto de vista de suas características linguísticas: pronúncia, parte do discurso, sentido”, etimologia etc., e enumera suas “conexões paradigmáticas”, como sinônimos, antônimos etc., e “sintagmáticas”, ou seja, “propriedades de combinatória restrita”, dentre as quais destacamos nosso objeto de estudo, colocações lexicais (POLGUÈRE, 2018, p. 242, 249). Alguns dicionários que apresentam essa gama de informações gramaticais sobre os itens lexicais são considerados dicionários padrão, pois visam “descrever o léxico do idioma na sua totalidade” (BIDERMAN, 1998, p. 165 apud VILARINHO, 2013, p. 59), incluindo o registro de “terminologias de áreas do conhecimento, lexemas da língua comum e variantes da norma 23 padrão”, para “atender a demandas de jovens e adultos das diversas áreas de formação” (VILARINHO; MAIA-PIRES, 2016, p. 99). Consideramos, assim, para este subcapítulo, as versões informatizadas dos dicionários padrão Houaiss (2009) e Aulete (on-line). Ambos possuem cerca de 100.000 verbetes cada, e apresentam características similares de macroestrutura, como o ordenamento alfabético acessado por uma barra de pesquisa e a disposição das palavras-entrada pela forma canônica, e de microestrutura, como informações gramaticais, definições, exemplos lexicográficos etc. (POLGUÈRE, 2018, p. 244-248). Vejam-se, a título de exemplo, os verbetes do substantivo objetivo: objetivo s.m. (1720) 1 aquilo que se pretende alcançar quando se realiza uma ação; propósito […] ETIMOLOGIA lat.escl. objectīvus,a,um 'id.' SINÔNIMOS/VARIANTES ver sinonímia de propósito HOMÔNIMOS objetivo (fl. objetivar) (HOUAISS, 2009, grifos do autor). objetivo (ob.je.ti.vo) […] sm. 4. Meta a ser alcançada; OBJETO; ESCOPO; PROPÓSITO: Atingiu seu objetivo 5. Fil. Diz-se da ideia ou de tudo que se refere aos objetos exteriores ao espírito 6. Mil. Alvo principal das operações ou manobras militares: “A expedição endireitava para o objetivo da luta como se voltasse de uma campanha” (Euclides da Cunha, Os sertões) [F.: Do lat. objectivus] (AULETE, grifos do autor). Em ambos os verbetes, constam informações de ordem gramatical (classe gramatical em ambos, separação silábica em Aulete), semântica (uma definição para se referir a cada acepção da palavra-entrada), sintática (exemplos lexicográficos), etimológica (origem da palavra) e sobre as relações paradigmáticas (sinonímia e antonímia) (POLGUÈRE, 2018). 24 Como a menção às relações sintagmáticas, ou seja, às possibilidades de combinatória lexical, costuma se restringir às locuções (ibid.; CARVALHO, 2017; 2001), logramos verificar a presença de ambos os constituintes das colocações pesquisadas no segundo capítulo deste trabalho nos verbetes dos itens lexicais que as compõem, e se poderiam estar em outras partes da microestrutura, além da seção de locuções – como na definição ou no exemplo lexicográfico. Quadro 3 – Ocorrências de colocações verbais em diferentes seções da microestrutura de dicionários monolíngues padrão de PB Houaiss (2009) Verbete Ocorrência ¹acordo \ô\ Exemplo “1 ajuste formal; pacto, convenção, concerto <os países beligerantes assinaram um a.>” atingir Definição “3 t.d. fig. conseguir, obter (p.ex. um objetivo, uma meta)” batalha Exemplo “2 troca de golpes; luta, duelo <os gladiadores romanos travavam b. sangrentas>” caso Locução e exemplo “vir ao c.: vir a propósito, ser pertinente <seu comentário não vem ao c.>” consciência Locução “tomar c.: perceber com clareza (a importância, a gravidade, o perigo etc.); compreender, conscientizar-se” consideração Locução “levar ou tomar em c. levar em conta; considerar” exemplo Locução “dar o e.: agir exemplarmente, de modo que os outros se sintam impelidos a adotar o mesmo comportamento” firmar Definição “4 t.d. realizar (pacto, acordo); ajustar, pactuar” objetivo Definição “1 aquilo que se pretende alcançar quando se realiza uma ação; propósito” 25 prestar Exemplo “9 t.d. realizar (uma ação) por imposição legal; cumprir, fazer <p. juramento> | <p. serviço militar>” ranger Definição “1 t.d. atritar (os dentes) uns contra os outros, por efeito de nervosismo, dor etc.” sério Locução “levar ou tomar a s. : 1 dar importância a; considerar como coisa grave; 2 melindrar-se, magoar-se” vantagem Locução “levar v.: 1 ser ou tornar-se superior a <com esta altura, ele leva v. sobre a turma> 2 tirar proveito de algo ou alguém, ger. de maneira esperta” Aulete (s.d.) Verbete Ocorrência atingir Definição “3. Fig. Alcançar (objetivo, finalidade). […]” batalha Definição em outra locução “Batalha naval 1 Mar. Batalha travada entre esquadras inimigas” caso Locução “Vir ao caso 1 Vir à propósito, ter a ver (com algo).” consideração Locução “Levar/tomar em consideração 1 Considerar, levar/ter em conta; lembrar de (coisa, fato etc.) como elemento importante para formar juízo ou decisão; incluir (coisa, fato etc.) entre os demais fatores analisados ou observados” desculpa Exemplo “1. Ação ou resultado de desculpar(-se) [+ de, por : pedir desculpas de/por ter chegado tarde.]” levar Exemplo “32. Ter certa compreensão, entendimento ou comportamento em relação a (certo fato, acontecimento, atividade, ação etc.) [td. : Ela leva tudo na brincadeira: Vocês levam tudo a sério: Ele leva a vida na maciota: Levou a conversa a ferro e fogo]” objetivo Definição e exemplo “4. Meta a ser alcançada; OBJETO; ESCOPO; PROPÓSITO: Atingiu seu objetivo” 26 Fontes: Houaiss (2009); Aulete (s.d.). 15 A partir dos dados acima descritos, constata-se que os itens que constituem as colocações lexicais aparecem, de forma equilibrada, nas seções dedicadas à definição semântica e às locuções dos verbetes, ocorrendo menos na seção de exemplos do dicionário Houaiss (2009). Em contrapartida, os exemplos com colocações aparecem, frequentemente, de forma associada à definição no dicionário Aulete. Neste mesmo dicionário, aliás, há menos ocorrências das combinações pesquisadas na seção de locuções, em comparação ao dicionário Houaiss (2009) . 16 Verifica-se, também, a ocorrência de remissões a itens lexicais de carga semântica similar, mas que não são colocações. Por exemplo, o verbete “batalhar” possui, em uma de suas acepções, a definição “travar (batalha)” (HOUAISS, 2009), mas conforme discutidopor Carvalho (2017, p. 85-86), a forma colocacional pode ser escolhida em detrimento do verbo único, ou o contrário – o uso depende do tipo de interação que motiva sua utilização. prestar Exemplo “5. Realizar (algo) por imposição legal; CUMPRIR [td. : prestar serviço militar.]” ranger Definição e exemplo “2. Atritar (os dentes) por dor, medo, raiva etc. [td. : Ficou com medo do avô ao vê-lo ranger os dentes]” sério Locução “Levar/tomar a sério 1 Dar importância a, considerar com seriedade: Ele levou/tomou a sério as ameaças e pediu proteção. 2 Considerar seriamente, a ponto de ofender-se, o que foi feito ou dito como brincadeira: Não se ofenda, não precisa me levar/tomar tão a sério.” serviço Definição em outra locução “Serviço de utilidade pública 1 Serviço útil prestado pelo Estado à sociedade mediante pagamento pelos que o utilizam.”15 A colocação “prestar serviço” costuma ocorrer na voz passiva, conforme discutido no capítulo 2.1, mas 15 também ocorre na voz ativa quando associada à locução “serviço militar”, como se pode ver nos verbetes “prestar” (HOUAISS, 2009) e “serviço” (AULETE). Sobre as ocorrências, sinalizamos que, das combinações listadas no Quadro 1, não foi encontrado verbete para 16 “descaradamente” no dicionário Houaiss (2009), e que não foi possível acessar o verbete “acordo” no dicionário Aulete devido a uma mensagem de erro. 27 Ademais, assinalamos que os itens lexicais de algumas locuções são registrados tanto na variedade brasileira, quanto na variedade europeia do português, como levar / tomar a sério (HOUAISS, 2009; AULETE). Este lusismo foi confirmado no dicionário bilíngue Larousse (1988), direcionado a falantes de ambas as variedades do português, cuja discussão será desenvolvida no próximo subcapítulo desta pesquisa. Por fim, registre-se que, nestas obras, não foram mencionadas outras possibilidades de combinação de palavras, para além das apontadas nas locuções, e que o público de PB como língua estrangeira, possível consulente deste tipo de dicionário em níveis mais avançados de aprendizagem, pode não captar, de forma transparente, as informações presentes sobre combinatória lexical. Aliás, é importante tomar consciência desse tipo de relação sintagmática, e cremos que o uso de corpora em contextos de ensino-aprendizagem, se associados à consulta a verbetes adaptados ao público, podem despertar essa consciência (CARVALHO, 2017; TAGNIN, 2013). 3.2 Dicionários bilíngues O dicionário bilíngue é, tradicionalmente, um dos recursos mais utilizados no processo de ampliação da rede lexical de falantes de línguas orais. Este tipo de dicionário pode fazer parte do grupo de dicionários elaborados com fins pedagógicos, como os dicionários escolares, fundamentais e infantis (VILARINHO; MAIA-PIRES, 2016, p. 91-92). Considerando que a categoria bilíngue de dicionários tem público-alvo mais bem definido que a dos dicionários monolíngues padrão, a estrutura desse dicionário tende a ser mais delimitada que a deste último. A microestrutura de um verbete de dicionário bilíngue, nas direções de língua-fonte para língua-alvo e vice-versa, abrange, basicamente, uma palavra-entrada, a informação de sua classe gramatical e equivalência(s). De fato, essa estrutura é bastante tradicional no Brasil: não costumam ser apresentadas definições em 28 nenhuma das línguas, tampouco são apresentadas propriedades semânticas, sintáticas ou etimológicas das lexias (ibid., p. 95; CARVALHO, 2001, p. 49). 17 A seguir, apresentaremos a presença das colocações verbais na versão informatizada do TheFreeDictionary / K Dictionaries (2013), na versão impressa do Dictionnaire Français- Portugais Larousse (1988, coleção “Apollo”) e nas versões impressa e informatizada do dicionário escolar Michaelis português/francês (2002; on-line). 3.2.1 Informatizados Os dicionários bilíngues informatizados beneficiam da não linearidade, própria ao mundo digital: os verbetes podem ser acessados e conectados uns aos outros a partir de um hiperlink, saltando de um ponto a outro da obra lexicográfica de acordo com a necessidade do consulente e enriquecendo sua experiência (SANTAELLA, 2014). Para prosseguir com nossa análise, acessamos a versão para dispositivos móveis do TheFreeDictionary / K Dictionaries (2013). O dicionário disponível em versão on-line (gratuita ) e eletrônica (disponível para 18 compra em lojas de aplicativos para dispositivos móveis) TheFreeDictionary, gerenciado pela empresa norte-americana Farlex, compila várias bases de dados a fim de disponibilizar verbetes distintos para a mesma palavra. Entre bases de dados monolíngues, etimológicas e outras, o que interessa à nossa análise é a base multilíngue Kennerman / K Dictionaries Ltd., gerida pela empresa israelense Lexicala e usada como base para dicionários bilíngues e semibilíngues (LEXICALA API BY K DICTIONARIES). Sobre sua microestrutura, vale ressaltar que há, para além da estrutura tradicional de um dicionário bilíngue, definições e paráfrases curtas que são apresentadas em ambas as línguas, a depender da direção, e que, se o consulente assim desejar, também pode salvar verbetes como favoritos ou criar flashcards na Um tipo de dicionário que resolve esta lacuna estrutural, mas que ainda é pouco difundido, é o dicionário 17 semibilíngue, que apresenta, para além da entrada de determinada palavra, a “definição ou paráfrase, o exemplo de uso e a unidade linguística correspondente” na língua de aprendizagem (VILARINHO; MAIA-PIRES, 2016, p. 96). Do par português/francês, encontramos o dicionário impresso Palavra-chave (2011), para estudantes brasileiros, e o dicionário informatizado multilíngue Kennerman, para públicos lusófonos. Mais detalhes sobre esta obra lexicográfica serão dados no próximo subcapítulo. Disponível em: https://fr.thefreedictionary.com/ (DICTIONNAIRE FRANÇAIS). 18 29 https://fr.thefreedictionary.com/ versão para dispositivos móveis, o que se mostra profícuo no contexto de criação de redes lexicais (POLGUÈRE, 2018). Listamos, a seguir, os verbetes em francês e português encontrados nesta base de dados em cujo conteúdo ocorreram colocações. Sinalizamos que as equivalências listadas tendem a considerar a variedade europeia do português. Quadro 4 – Colocações verbais no dicionário TheFreeDictionary / K Dictionaries (2013) Direção português-francês Verbete Ocorrência alcançar Definição “1. atingir um objectivo. atteindre, arriver à” consciência Definição “2. ter/tomar consciência - dar-se conta de algo. avoir / prendre conscience” objectivo Definição “1. aquilo que se quer atingir. objectif” pedir Exemplo “1. dizer a alguém o que se quer. pedir desculpa a alguém […] demander pardon à qqn” promover Definição “2. favorecer o desenvolvimento de algo. promouvoir” ranger Definição “1. roçar os dentes uns nos outros. grincer” Direção francês-português Verbete Ocorrência accord Exemplo “6. arrangement, traité. conclure / signer un accord. concluir / assinar um acordo” atteindre Exemplo “2. figuré. réussir, parvenir à […] Atteindre son objectif. Atingir o objectivo […]” 30 Fonte: K Dictionaries (s.d.). conscience Definição “1. Avoir / prendre conscience de - savoir se rendre compte de. ter/tomar consciência de” demander Exemplo “1. dire à qqn ce que l’on veut. […] demander pardon à qqn. pedir desculpa a alguém” excuse Exemplo “1. pardon. […] faire / présenter des excuses à qqn. pedir desculpa a alguém” grincer Definição “2. grincer des dents - frotter les dents du haut contre celles du bas. Ranger os dentes” objectif Definição “1. ce que l’on veut atteindre, but. objectivo […]” pardon Exemplo “1. action de pardonner. […] demander pardon à qqn. pedir desculpa a alguém” promouvoir Definição “2. favoriser le développement de qqch. promouvoir” rendre Definição e exemplo “3. rendre service à qqn - aller voirqqn.. prestar serviço a alguém” sérieux Definição e exemplo “3. Prendre qqch au sérieux - considérer comme important.. Un problème à prendre au sérieux. Levar um problema a sério” unir Exemplo “1. mettre ensemble. […] Il faudrait unir nos efforts. É preciso unir os nossos esforços” 31 A partir dos dados acima, percebe-se como a direção da obra para consulentes de francês como língua estrangeira possui mais dados, tanto pela maior quantidade de verbetes encontrados, quanto pelo maior número de informações neles contidas. Vejam-se, por exemplo, as acepções de “consciência”, na direção português-francês, em relação à “conscience”, na direção oposta: a primeira traz a forma colocacional e definição curta, enquanto a segunda traz, além destes dados, uma informação de combinatória gramatical – indica a preposição de. No que concerne às equivalências em diferentes variedades, considerando a mesma direção de francês como língua-alvo, foram constatadas outras equivalências em português europeu, apontadas como menos frequentes no corpus Portuguese Web 2011: “atrair atenção” para “attirer l’attention”, “tratar-se” para “être question”, entre outras. Verificou-se, de igual modo, que o verbete “profiter”, apesar de não apresentar estrutura colocacional, como discutido no capítulo anterior, apresenta definição semântica que converge com o seu equivalente binário em português: “obter uma vantagem sobre algo” (K DICTIONARIES, tradução nossa). 3.2.2 Impressos O dicionário bilíngue francês/português Larousse, cuja primeira edição data dos anos 1950, é uma obra de referência elaborada para “alunos e viajantes” que utilizam francês e português europeu. Tal informação pode ser inferida desde o prefácio, em que é indicado o espaço dado pela obra a usos mais distantes da norma culta portuguesa, como “os neologismos, a língua familiar e os brasileirismos” (LAROUSSE, 1988). Sua microestrutura compreende a palavra-entrada, informação de classe gramatical, indicação de acento tônico e pronunciação figurada, seguidas pelas equivalências, que podem contar com notas adicionais em ambas as direções. Nesta edição, há, ainda, uma concepção diferenciada de verbete: agrupam-se itens lexicais, não de forma individual, mas de acordo com os radicais, sejam eles reais ou simulados para fins pedagógicos, como se pode ver em um único verbete “ren || -dre vt. […] || -du, ue adj. […]” (ibid., p. 290). 32 Salvo indicação em contrário, as colocações lexicais encontradas nesta obra são indicadas na seção de locuções, ao final do verbete, como se observa em “sérieux”: “sérieux, euse adj. (cêriã, ãz). Sério, ia. || s.m. Seriedade (f.) […] || Loc. prendre au sérieux, tomar a sério” (ibid., p. 310). O quadro a seguir compila as demais colocações – antes, sinalizamos que não foram encontrados verbetes de três palavras, na direção português-francês, e de uma palavra, na direção oposta: Quadro 5 – Equivalências de colocações verbais no dicionário Larousse (1988) Fonte: Larousse (1988). Quanto ao dicionário escolar Michaelis, assinala-se que o público-alvo é de estudantes brasileiros que aprendem francês, e que seus cerca de 30.000 verbetes apresentam “divisão silábica, transcrição fonética, classe gramatical, área de conhecimento, várias acepções e expressões atuais” (MICHAELIS, 2002). Direção português-francês Verbete Colocação batalha dar batalha [lusismo] dente ranger dentes prestar [indicação de colocação na seção de equivalências] prestar serviço serviço sério tomar a sério [lusismo] Direção francês-português Verbete Colocação livrer livrer bataille pardon demander pardon rendre rendre service sérieux prendre au sérieux tenir tenir compte 33 Todas as equivalências de colocações lexicais identificadas neste dicionário, tanto na direção português-francês, quanto em francês-português, foram encontradas na seção de expressões, logo após as equivalências. À guisa de exemplo, veja-se o verbete “sérieux”: “sérieux, -ieuse [seʀjø, -jøz] adj+nm 1 sério, razoável, refletido […] nm seriedade. […] prendre quelqu’un au sérieux levar alguém a sério” (ibid., p. 403). Listamos as demais colocações encontradas, e ressaltamos que, pela delimitação do público-alvo e limitação de tamanho da obra, não foram encontrados verbetes para sete palavras constantes do corpus, em ambas as direções. Quadro 6 – Equivalências de colocações verbais no dicionário Michaelis (2002) Fonte: Michaelis (2002). Direção português-francês Verbete Colocação chamar chamar atenção desculpa pedir desculpas levar levar a sério ranger ranger os dentes dentes tomar tomar consciência consciência Direção francês-português Verbete Colocação bataille livrer bataille bêtise dire des bêtises compte tenir compte question (ne pas) être question de rendre rendre service service sérieux prendre [qqn] au sérieux suite donner suite (à) 34 Algumas equivalências foram mais literais do que as encontradas no corpus Portuguese Web 2011, como “prendre en considération”, no verbete “consideração”, e “tirer avantage”, no verbete “tirar” (MICHAELIS, 2002). Cabe destacar, também, que os verbetes contidos no Michaelis on-line são idênticos aos da versão impressa, mesmo após a revisão de 2016, apontada no site (MICHAELIS ON- LINE). Como ferramenta adicional, nota-se uma lista de parônimos logo após o verbete, para facilitar o acesso do consulente a itens lexicais similares. 35 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo deste trabalho, definiu-se a relação sintagmática das colocações como a coocorrência restrita de dois (ou mais) itens lexicais e verificou-se a sua grande frequência nas interações em português e francês. Foram analisadas ocorrências deste fenômeno, em sua subdivisão composta por um verbo e um complemento – substantivo, adjetivo ou advérbio –, em corpora de ambas as línguas, assim como em dicionários direcionados a seus diversos públicos, considerando as variedades de maior destaque. Nos corpora, foram constatadas as principais características das colocações verbais em português, a partir da lista de 100 verbos e substantivos mais frequentes desta língua (cf. Anexo I), acessadas por três ferramentas de análise. Foram listadas, de igual modo, suas equivalências em francês, que foram mais observadas no capítulo dedicado às obras lexicográficas. A respeito destas obras, verificou-se a necessidade de adaptação das informações apresentadas para o público de PB como língua estrangeira, sobretudo nas monolíngues. Tal adequação é feita, ligeiramente, pelos dicionários bilíngues que indicam contextos de uso, mas pode melhorar mediante o uso das ferramentas da lexicografia pedagógica e de corpora em contextos de ensino-aprendizagem, a fim de se representar e treinar, na medida do possível, a intuição do falante nativo (BINON; VERLINDE, 2000b). Ainda sobre corpora, acredita-se que os resultados apontados nestas compilações apontam o quanto as combinações lexicais são reveladoras de nossa organização sociocultural. Devido à interface entre o nível da frase e o nível textual que há nestas combinações, conforme discutido por Albuquerque e Lôpo Ramos (2019), espera-se que, em pesquisas futuras, seja factível o levantamento e a análise das colocações mais frequentes por gênero textual, a partir das ferramentas das quais já se dispõe, para viabilizar uma reflexão ainda mais apurada sobre a língua em uso. Assim, além das possibilidades de consulta recorrente a ferramentas de corpora, entende-se, também, que as obras lexicográficas possam ser utilizadas para a criação e o aprimoramento de redes lexicais, como algumas versões informatizadas de dicionários já o fazem, aliás (POLGUÈRE, 2018; SANTAELLA, 2014). Todas essas ferramentas podem 36 contribuir, nos contextos escolares e individuais de ensino-aprendizagem, para usos mais espontâneos e conscientes das implicações culturais dessas relaçõessintagmáticas convencionadas pelo uso (BARNBROOK et al., 2013; BINON; VERLINDE, 2000a). 37 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, R.; RAMOS, A. A. L. Coesão e coerência: da análise frástica à textual. In: DIAS, J. de F. (Org.). Ler e (re) escrever textos na universidade: da prática teórica e do processo de aprendizagem traço ensino. 2. ed. Campinas: Pontes, 2019. p. 107-146. BARNBROOK, G. et al. Collocation: applications and implications. New York: Palgrave Macmillan, 2013. BASSO, R. M; GONÇALVES, R. T. História concisa da língua portuguesa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. BERBER SARDINHA, T. Linguística de corpus. Barueri, São Paulo: Manole, 2004. BINON, J.; VERLINDE, S. Como otimizar o ensino e a aprendizagem de vocabulário de uma língua estrangeira ou segunda? In: LEFFA, V. J. 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Acesso em: 10 set. 2020. 40 https://www.sketchengine.eu/documentation/tenten-corpora/ https://www.sketchengine.eu/documentation/tenten-corpora/ https://www.sketchengine.eu/documentation/statistics-used-in-sketch-engine/#logdice 41 Anexo I – Wordlist: verbos e substantivos mais comuns da língua portuguesa, porKilgarriff e Rychlý (s.d.) # Noun Average Reduced Frequency Verb Average Reduced Frequency 1 ano 5077821 ser 47466148 2 dia 3861563 ter 14904281 3 vez 2646323 ir 14762624 4 pessoa 2432985 estar 10304610 5 trabalho 2164046 fazer 7529889 6 tempo 2141510 poder 7316396 7 forma 2062651 haver 3889620 8 parte 1962902 dever 3666326 9 estado 1690472 dizer 3612115 10 vida 1684176 dar 3207051 11 país 1571757 ver 2779269 12 projeto 1499026 ficar 2735848 13 mundo 1450943 passar 2679466 14 brasil 1449021 saber 2201658 15 área 1443972 querer 2042009 16 cidade 1429062 vir 1935743 17 caso 1427510 realizar 1750874 18 empresa 1415905 deixar 1533477 19 casa 1308071 apresentar 1515501 20 paulo 1251659 chegar 1483636 21 presidente 1221328 receber 1368713 22 serviço 1205368 levar 1368312 23 informação 1194419 falar 1310673 24 processo 1174977 encontrar 1272857 25 problema 1166222 conhecer 1259030 26 governo 1148255 começar 1243079 27 grupo 1147697 conseguir 1202269 28 hora 1136267 contar 1170054 29 meio 1134777 partir 1168371 30 coisa 1130829 acontecer 1165366 42 31 ação 1121126 existir 1153350 32 relação 1120416 usar 1115153 33 mês 1085461 criar 1056822 34 ponto 1085081 mostrar 1034276 35 programa 1080861 colocar 1023224 36 sistema 1073652 considerar 993706 37 momento 1068388 tornar 984946 38 exemplo 1032249 continuar 981426 39 atividade 1010498 trabalhar 924985 40 valor 994567 afirmar 916359 41 acordo 975743 seguir 912512 42 tipo 957890 chamar 905468 43 rio 956114 utilizar 900061 44 nome 954239 manter 894733 45 desenvolvimento 940520 precisar 884010 46 direito 935988 permitir 877837 47 região 934823 participar 866289 48 resultado 931406 achar 862382 49 lugar 930831 pensar 846297 50 fim 915436 tratar 837936 51 número 907560 entrar 827707 52 história 902419 desenvolver 816894 53 lado 900085 parecer 803644 54 semana 878655 voltar 792159 55 objetivo 862682 esperar 789427 56 centro 862469 acabar 773359 57 questão 855468 ocorrer 765875 58 saúde 824327 perder 763673 59 situação 817476 gostar 758627 60 mercado 812567 sair 746592 61 qualidade 810731 oferecer 746504 62 lei 799542 tomar 740153 63 final 798193 viver 737229 64 escola 792956 tentar 702119 65 evento 789601 trazer 677396 43 66 espaço 774521 lembrar 676068 67 filho 769041 ganhar 672595 68 produto 764809 equipar 666814 69 obra 756525 garantir 665911 70 professor 747457 explicar 647394 71 homem 745582 procurar 637736 72 local 733829 ajudar 634798 73 condição 728041 pedir 626913 74 conta 719662 ler 625064 75 recurso 719428 pelar 623841 76 janeiro 706955 possuir 623829 77 educação 701450 incluir 622766 78 período 699688 escrever 616808 79 curso 698983 acreditar 612598 80 sociedade 698480 entender 595366 81 família 694009 promover 591022 82 josé 680904 acompanhar 586814 83 início 672275 representar 586813 84 necessidade 668028 sentir 575371 85 fato 666275 publicar 570603 86 ideia 662930 marcar 561398 87 produção 661795 prever 557865 88 criança 659564 iniciar 552021 89 município 658842 envolver 544440 90 estudo 645088 destacar 540365 91 nível 640967 abrir 536637 92 rede 635400 unir 525716 93 base 634976 servir 522680 94 apoio 634381 aumentar 519578 95 tema 633777 produzir 514868 96 jogo 632447 obter 508471 97 uso 628151 formar 498559 98 site 627774 mudar 491246 99 amigo 622851 atender 491162 100 mulher 619575 determinar 490763
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