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Fundamentos do Serviço Social Movimento de Reconceituação Na América Latina e Brasil

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FUNDAMENTOS DO SERVIÇO SOCIAL: 
MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO NA 
AMÉRICA LATINA E BRASIL
CAPÍTULO 4 - MOVIMENTO DE 
RECONCEITUAÇÃO NA AMÉRICA LATINA
Rafaela Vieira
77
Objetivos do capítulo
Ao final deste capítulo, você será capaz de:
• Entender a origem e a orientação do processo de Reconceituação na América Latina.
• Conhecer as contribuições dos teóricos latino-americanos.
• Identificar as propostas das escolas latino-americanas em relação ao processo de Reconceituação.
Tópicos de estudo
• Serviço Social latino-americano
• Asociación Latinoamericana de Escuelas de Trabajo Social (ALAETS)
• Centro Latinoamericano de Trabajo Social (CELATS)
• Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS)
• Principais escolas de Serviço Social na América Latina
• Colômbia
• Uruguai
• Chile
• Argentina
• Militarismo na América Latina
• Golpes Militares
• A Reconceituação inconclusa
Contextualizando o cenário
Como já estudamos até aqui, a década de 1960 foi marcada por amplas manifestações populares, que explodiram
em diversas partes do mundo e continham diferentes reivindicações. Existia, naquele momento, um movimento
crítico ao . Na América Latina, mais especificamente, alguns economistas, sociólogos e outrosstatus quo
pensadores iniciaram estudos que evidenciavam a situação de dependência estrutural do continente em relação
aos Estados Unidos.
Nesse contexto de amplos questionamentos, setores do Serviço Social também questionaram a própria profissão.
Perguntavam-se a que interesses atendiam no cotidiano profissional e, ao concluir que serviam aos interesses da
classe dominante para preservar a ordem vigente, passaram a buscar possibilidades de transformar sua prática,
com vistas a representar a classe trabalhadora, na qual a categoria está inserida.
Diante desse cenário, questiona-se: como ocorreu a renovação do Serviço Social?
4.1. Serviço Social latino-americano
O chamado Movimento de Reconceituação do Serviço Social latino-americano ocorreu entre os anos de 1965 e
1975, embora haja algumas alterações de data para além desse período, dependendo do contexto interno de cada
país. Esse movimento consistiu, basicamente, no processo de renovação crítica da profissão e foi vivenciado pela
categoria em diversos países do continente.
É marcante nesse debate o reconhecimento, naquele momento, de que a América Latina se constitui,
geopoliticamente, como região una e diversa. Ou seja: ao mesmo tempo em que existe homogeneidade entre os
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países, sobretudo no que concerne à dependência, também existe a diversidade histórica e cultural que precisa ser
considerada.
Fonte: © gst / / Shutterstock.
Nesse sentido, duas entidades tiveram o papel de organizar os debates do Serviço Social em nível continental: a
Associação Latino-Americana de Escolas de Trabalho Social (ALAETS) e o Centro Latino-Americano de Trabalho
Social (CELATS). No Brasil, uma terceira organização também teve importância naquele momento: o Centro
Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS).
79
4.1.1. Asociación Latinoamericana de Escuelas de Trabajo Social (ALAETS) 
Os primeiros Congressos Panamericanos de Serviço Social datam da década de 1940, à época promovidos pela
Organização dos Estados Americanos (OEA). Já se tratava, portanto, de uma forma de integração profissional a
nível internacional. No entanto, naquele momento, isso se dava sob a hegemonia dos Estados Unidos da América
(EUA), o que significa, na prática, que o Serviço Social exercido na América Latina era pensado a partir das
concepções e orientações estadunidenses.
Clique a seguir e conheça mais sobre como se desenrolou essa história:
Criação da
ALAETS
Foi ainda nesse contexto que ocorreu a criação da Asociación Latinoamericana de
 (ALAETS), com sede em Lima, no Peru, como uma espécie deEscuelas de Trabajo Social
filial de organizações internacionais (CORNELY RAMOS, 2007).apud 
Questionamento
das bases
Na primeira metade dos anos 1960, já no cenário de efervescência social que levou,
dentre muitas outras consequências, ao questionamento das bases do Serviço Social
tradicional de forte influência estadunidense, a ALAETS foi relançada como uma
organização essencialmente latino-americana. A partir daquele momento, o Serviço
Social latino-americano passou a ser pensado com base na realidade do continente.
Assim, tanto a reestruturação da ALAETS quanto a criação do CELATS, pouco depois, receberam apoio financeiro
de agências internacionais, especialmente da Fundação Konrad Adenaeur (FKA), ligada à democracia-cristã alemã.
No entanto, a autonomia dos atores locais envolvidos foi respeitada nesse processo (SANTOS, 2007).
Virada do Serviço Social latino-americano.
Devido a essa reestruturação da entidade, muitos textos apresentam o ano de 1965 como sendo a sua fundação. O
objetivo da ALAETS, a partir de então, passa a ser de apoio mútuo e troca de recursos entre os centros de formação
profissional em Serviço Social da América Latina, tendo em vista a necessidade de maior articulação regional e de
fortalecimento das condições de formação.
Assim, a ALAETS se consolidou como um passo importante no processo de renovação profissional com destacado
papel no âmbito do Movimento de Reconceituação. Ao longo daquelas décadas, foi responsável pela promoção e
organização de importantes eventos que tinham o intuito de integrar o Serviço Social dos diferentes países do
continente e também de debater a sua renovação. De acordo com Alayón e Molina,
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neste cenário nos fóruns promovidos pela ALAETS por duas décadas, encontramos a ruptura com a
tese conservadora do serviço social de raízes positivistas, pragmáticas e de marcada influência
americana. Tudo isso expresso no movimento de reconceituação do serviço social latino-americano.
(Alayón e Molina, 2008, p. 35. Tradução nossa)
No ano de 2006, durante o 33º Congresso Mundial de Escolas de Serviço Social realizado no Chile, a ALAETS teve
seu nome alterado para Associação Latino-Americana de Ensino e Pesquisa em Trabalho Social (em espanhol, A
 – ALAEITS).rticulación Latinoamericana de Enseñanza y Investigación em Trabajo Social
4.1.2. Centro Latinoamericano de Trabajo Social (CELATS)
O Centro Latino-Americano de Trabalho Social (CELATS) foi criado na primeira metade dos anos 1970 como um
braço acadêmico da ALAETS. O Centro consistiu em um organismo de cooperação técnica internacional, que, junto
à ALAETS, teve papel de suma importância na renovação crítica do Serviço Social.
Leila Lima Santos, professora brasileira que foi diretora do CELATS nas décadas de 1970 e 1980, afirma que o
CELATS canalizou o processo renovador da profissão e o impulsionou por meio de formação continuada, pesquisa,
produção acadêmica, divulgação científica, encontros e debates, que rompiam as barreiras nacionais, mas não
desconsideravam as particularidades de cada país latino-americano (SANTOS, 2007).
Coube ao CELATS a criação do primeiro mestrado latino-americano em Serviço Social, desenvolvido em convênio
com a Universidade Autônoma de Honduras, em 1978. Esse curso ajudou na renovação profissional ao formar
novos quadros de intelectuais e pesquisadores no âmbito da profissão. Merece destaque também a revista da
instituição, que teve grande circulação e aceitação em diferentes âmbitos, inclusive em outras áreasAcción Crítica, 
(SANTOS, 2007). Entre o fim dos anos de 1970 e o início de 1990, 40 edições da revista foram impressas e circularam
entre os profissionais da área.
CURIOSIDADE
A professora Leila Lima Santos foi uma das principais responsáveis pelo chamado Método Belo
Horizonte (ou Método BH), que foi a primeira experiência de sistematização do Serviço Social por
meio de uma leitura marxista, realizada na Universidade Católica de Minas Gerais. Após a
demissão de alguns professores em circunstâncias desconhecidas, Santos foi convidada para
dirigir o CELATS.
81
Ações do CELATS.
Ainda segundo Santos (2007),
as investigações promovidas pelo CELATS eram,sem dúvida, questionadoras do cujosestablishement,
resultados permearam a formação profissional. Elas se constituíam em textos de referência
importantes e abriram um espaço que permitiu atribuir visibilidade à ação de uma profissão até então
pouco valorizada (SANTOS, 2007, p. 176).
ALAETS e CELATS foram, portanto, os principais viabilizadores da integração e disseminação do Serviço Social
crítico na América Latina. Diferente do que havia antes, quando existiam os Congressos Panamericanos de Serviço
Social, no âmbito dos eventos promovidos pelas entidades latino-americanas ocorriam debates em torno das
particularidades regionais e necessidade de articulação da prática profissional a estas particularidades.
82
Ramos (2007) ressalta a importância que ambas as entidades e todo esse contexto de interlocução tiveram na
constituição do Serviço Social crítico no Brasil, bem como nos demais países do continente. A Associação e o
Centro contribuíram com recursos financeiros e suporte profissional e político para organizar a categoria,
colocando em xeque o conservadorismo até então existente.
4.1.3. Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS)
O Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS) foi pensado ainda no final dos anos
1940 e ganhou vida em 1957 como um comitê destinado a preparar os assistentes sociais para participar dos
seminários organizados pelo Conselho Internacional de Bem-Estar Social (ICSW). Clique nas abas abaixo e conheça
mais sobre o CBCISS:
• Divulgação no Brasil
Além disso, esses assistentes sociais também teriam a incumbência de divulgar no Brasil aquilo que foi
debatido em tais eventos e incentivar a cooperação entre instituições e profissionais atuantes nos serviços
sociais. Segundo a página eletrônica oficial do CBCISS, suas principais contribuições financeiras provinham
do Serviço Social do Comércio (SESC) e do Serviço Social da Indústria (SESI).
• Renovação no Serviço Social brasileiro
Entretanto, a entidade não ficou imune às transformações ocorridas no mundo e no interior da profissão e,
a partir dos anos 1960, também teve papel importante no processo de renovação do Serviço Social
brasileiro. Segundo Aquino e outros (2017), embora o CBCISS não fosse uma instituição de formação
profissional, contou com a participação de alguns professores ligados às Pontifícias Universidades
Católicas do Rio de Janeiro e de São Paulo (PUC-Rio e PUCSP).
• Direções da profissão
No período em que ocorreu o Movimento de Reconceituação, não havia um consenso entre os
reconceituadores sobre qual direção a profissão deveria seguir. Existia uma vertente que buscava
modernizar o Serviço Social tradicional e outra que visava romper com as bases profissionais existentes, de
modo a realizar uma ampla transformação teórico-prática. Netto (2007) classificou essas vertentes como,
respectivamente, modernização conservadora e intenção de ruptura.
A seguir, veja figura ilustrativa dos seminários realizados pelo CBCISS.
PAUSA PARA REFLETIR
Por que é a integração regional é importante?
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•
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Fonte: © TZIDO SUN / / Shutterstock.
Podemos considerar que o CBCISS foi o protagonista da vertente modernizadora do Movimento de
Reconceituação. Coube a ele a organização de seminários de teorização do Serviço Social que ocorreram em Araxá
(MG) em 1967, Teresópolis (RJ) em 1970, em Sumaré (RJ) em 1978 e em Alto da Boa Vista (RJ) em 1984, dos quais se
originaram documentos que serviram para ampliar o debate em torno da questão da renovação. Esses
documentos – que consistem, na verdade, nas resoluções desses eventos – receberam os nomes dos locais de
realização dos seminários e tinham o intuito de orientar a conduta profissional dos assistentes sociais. Além desses
encontros, o CBCISS teve destacado papel em atividades de editoração e organização de cursos voltados a
profissionais e docentes (NETTO, 2007, p. 153, nota de rodapé).
Seminários organizados pelo CBCISS.
84
De acordo com Aquino e outros (2017), houve uma incorporação generalizada da categoria ao CBCISS, o que
delegou a ele
a sistematização da prática, o debate teórico e a ação profissional, com caráter de exclusividade, no
interior dos cursos de graduação e pós-graduação. Impõe orientação, tanto no âmbito da formação
profissional no interior dos cursos de Serviço Social, quanto na organização da categoria e no mercado
de trabalho. Amplia o universo de interlocutores em razão da pluralidade de sujeitos e organismos
envolvidos e do aumento do número de profissionais (AQUINO , 2017, p. 155).et al.
Pode-se considerar, portanto, que o CBCISS teve suas atribuições ampliadas. Nessa época, contudo, vivenciava-se
o período da ditadura militar no Brasil (classificada por José Paulo Netto e outros autores de autocracia burguesa),
o que impôs limites aos impulsos renovadores existentes. Assim, o CBCISS se constituiu como um “instrumento
institucional, formal, sistemático, operacional e legal em face das condições impostas pela autocracia burguesa, de
oposição às raízes do Movimento de Reconceituação no Brasil” (AQUINO et al, 2017, p. 153).
No entanto, apesar da contribuição do CBCISS na difusão de debates e pesquisas elaboradas no contexto da
Reconceituação, é preciso considerar que o contexto político-social da época não permitiu que a instituição fosse
além do que era possível naquele momento.
4.2. Principais escolas de Serviço Social na América Latina
Como já enfatizado, o Movimento de Reconceituação do Serviço Social ocorreu em diferentes países da América
Latina. No entanto, esse movimento não se processou da mesma forma em todos países. Pelo contrário, cada
localidade apresentou suas especificidades, que foram determinadas pelas conjunturas internas.
Porém, convém destacar dois pontos em comum. Primeiro, o projeto desenvolvimentista formulado pelos
organismos internacionais e que consistia em uma proposta de desenvolvimento econômico e social para ao
países considerados subdesenvolvidos. Segundo, as ditaduras militares que foram instauradas em muitos países
do continente nos anos 1960 e 1970. Dos países que serão estudados, apenas a Colômbia não teve ditadura.
Por outro lado, há uma curiosidade interessante que consiste em uma diferença dos países da América hispânica
em relação ao Brasil: antes da Reconceituação, a profissão era denominada em países como Argentina, Uruguai,
entre outros, como , e a mudança para aconteceu para marcar a ruptura com oServício Social Trabajo Social 
tradicionalismo profissional. No Brasil, essa troca de nomenclatura não aconteceu, embora a ruptura tenha
ocorrido.
ESCLARECIMENTO
O termo “autocracia burguesa” deriva do grego que significa “por si próprio”, e , que auto, kratos
significa “poder”. A sua associação com a ditadura militar brasileira vem do sociólogo Florestan
Fernandes, para quem a ditadura servia para garantir os interesses burgueses.
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4.2.1. Colômbia
A Colômbia ganhou sua primeira escola de Serviço Social em 1936. Tapiro (2012) explica que o desenvolvimento da
profissão no país se deu por etapas, mas pontua que elas são semelhantes às que ocorreram em outras
localidades.
Fonte: © pavalena / / Shutterstock.
Na época da criação da primeira escola, o Serviço Social colombiano esteve fortemente arraigado ao catolicismo e
se constituiu como uma profissionalização da assistência social. A segunda etapa foi marcada pelo projeto
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desenvolvimentista de meados do século XX. Já a terceira consiste na denominada Reconceituação. Todavia,
Tapiro (2012) tece críticas a respeito de como esse processo se deu na Colômbia, uma vez que, segundo ele, havia
uma visão superficial de que aquele era um momento de aproximação ao marxismo, mas não existiam análises
sobre os limites e as contradições das referências utilizadas, levando a uma falsa ideia de homogeneidade do
processo (TAPIRO, 2012).
Ainda que considere, ainda hoje, a necessidade de aprofundamento do debate marxista no Serviço Social
colombiano, o autor aponta três contribuiçõesimportantes do movimento reconceituador. Conheça essas
contribuições clicando nas abas a seguir:
Uma postura ética dos profissionais, embora, na opinião dele, seja, muitas vezes, neutra e ambígua, com
predominância de elementos liberais.
A exigência de análises das realidades da América Latina para dar respostas à profissão.
O reconhecimento da pesquisa como uma parte fundamental da formação e da prática profissional.
4.2.2. Uruguai
Diferente do Brasil, o Serviço Social no Uruguai não nasceu ancorado à Igreja Católica, mas ao movimento
higienista, o que significa que teve seu desenvolvimento subordinado à instituição médica. Portanto, sua base
prática e teórica estava ligada mais ao reformismo social burguês, e apenas em menor escala ao conservadorismo
católico (ACOSTA, 2014).
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Fonte: © pavalena / / Shutterstock.
No final da década de 1950 foi criado um curso de Serviço Social na Universidade da República (UDELAR), o
primeiro no âmbito universitário. Conheça mais sobre essa escola e o processo de mobilização docente e
estudantil que ocorreu no Uruguai clicando a seguir:
Trajetória da escola
A trajetória dessa escola, assim como a de outras que existiram anteriormente fora da Universidade, foi marcada
por uma série de revisões curriculares. Em 1966, o movimento estudantil suscitou a materialização de um novo
currículo. Este apresentava influências desenvolvimentistas.
Ditadura militar
88
No entanto, esse processo de mobilização docente e estudantil sofreu forte baque com a instauração da ditadura
militar, em 1973, quando a Universidade perdeu sua autonomia. A Escola de Serviço Social da UDELAR, ao longo
dos anos ditatoriais, foi fechada, reaberta, teve troca de direção, demissão de professores e ajustes no currículo.
Em certa ocasião, o diretor nomeado pelo governo chamou a imprensa para denunciar uma “infiltração
subversiva” na escola, mostrando livros de Marx para comprovar o que dizia e pedaços de madeira que, segundo
ele, poderiam ser usados como armas (ACOSTA, 2014).
Rearticulação
Ainda segundo Acosta (2014), os profissionais formados pela Universidade rearticularam, em 1981, o Sindicato dos
Assistentes Sociais do Uruguai, que havia sido posto na ilegalidade em 1973. Esse mesmo grupo de profissionais foi
fundamental para a reorganização da categoria em uma associação que apoiou a volta, a partir de 1984, do diretor
e dos docentes que atuavam na Escola Universitária de Serviço Social antes da ditadura.
Entre o final dessa década (a ditadura acabou em 1984) e os anos 1990, a Escola deu lugar ao Departamento de
Trabalho Social dentro da Faculdade de Ciências Sociais. O principal motivo dessa mudança foi a concepção do
Serviço Social como área de pesquisa, e não apenas profissão executora.
4.2.3. Chile
A primeira escola de Serviço Social da América Latina surgiu no Chile em 1925 por iniciativa do Estado, que buscou
inspiração no modelo de formação profissional belga. Isso ocorreu em um momento de acirramento da luta de
classes no país. Nesse sentido, a profissionalização do Serviço Social faz parte de um processo de
institucionalização das reivindicações populares, no qual diferentes especialidades foram chamadas para atender
às intervenções estatais no campo da assistência social (CASTRO, 2000).
Já no ano de 1929 foi criada a Escola Elvira Matte de Cruchaga, a primeira escola de Serviço Social católica chilena.
Este empreendimento esteve associado à pretensão da Igreja de reocupar a posição de “condutora moral da
sociedade”. Embora houvesse semelhanças entre ambas as escolas, a principal diferença é que a estatal visava
formar o assistente social para ser um auxiliar do médico, enquanto a católica não limitava o campo da
intervenção profissional, sendo que esta estava vinculada à caridade cristã (CASTRO, 2000, p. 73-74).
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Fonte: © pavalena / / Shutterstock.
Notadamente, algumas mudanças já haviam ocorrido até a década de 1960, quando teve início o Movimento de
Reconceituação na América Latina, como o aumento do número de escolas. O professor brasileiro Vicente de Paula
Faleiros trabalhou na Escola de Serviço Social da Universidade Católica de Valparaíso a partir de 1970 e relata que,
quando chegou, os alunos já faziam greve há mais de três meses pela renovação do corpo docente e reestruturação
do curso (FALEIROS, 1997).
Percebe-se, pois, a importância do movimento estudantil nesse processo, que vinha no trilho do movimento mais
global, a exemplo dos estudantes franceses de 1968. De acordo com o autor em tela, o objetivo dos universitários
chilenos era “transformar as práticas do Serviço Social, iniciando, impulsionando novas práticas a partir dos
estágios, e nas instituições num novo dimensionamento teórico-prático” (FALEIROS, 1997, p.114).
90
Ainda segundo o professor Faleiros (1997), os estudantes e docentes de Serviço Social não estavam isolados. Por
meio dos estágios que realizavam em indústrias, sindicatos, institutos de reforma agrária e centros sociais urbanos,
eles tinham contato com os operários, camponeses e movimentos sociais urbanos que também passavam por um
período de lutas populares. Aliás, essa transformação das práticas profissionais requerida por setores do Serviço
Social, por sua vez, exigia justamente um compromisso com as classes dominadas.
Todavia, a ditadura que se instaurou em 1973 sob o comando de Augusto Pinochet, que depôs o presidente
socialista democraticamente eleito Salvador Allende, interrompeu todo o processo de ebulição social com
repressões que envolviam prisões, torturas, assassinatos e exílios. Esta ditadura, considerada uma das mais cruéis
da América Latina, terminou em 1990. Durante esse período, a renovação profissional continuou a ser pensada no
Chile, mas de forma notadamente mais tímida.
4.2.4. Argentina
Na Argentina, assim como em diversos outros países do continente, a Reconceituação do Serviço Social também se
deu no lastro dos questionamentos ao imperialismo estadunidense e da crítica ao modelo positivista-funcionalista
que vigorava no interior da profissão. Moljo e outros (2017) destacam que no âmbito do movimento reconceituador
argentino teve mérito o Instituto de Serviço Social, também chamado de Instituto Bolivar, que foi o berço do Grupo
Ecro, formado por estudantes e docentes.
CONTEXTO
O movimento que ficou mais conhecido como Maio de 68 foi uma onda de protestos iniciados
pela ação de estudantes universitários franceses que reivindicavam melhorias na educação. As
manifestações cresceram e ganharam a adesão de operários, que realizaram uma grande greve
na França. Esse movimento influenciou outros ao redor do mundo.
91
Fonte: © pavalena / / Shutterstock.
O Instituto de Serviço Social surgiu dentro do contexto do desenvolvimentismo, quando o governo argentino
solicitou à ONU um trabalho de assessoria ao ensino de Serviço Social ofertado no país, uma vez que considerava
necessário que os assistentes sociais argentinos estivessem mais preparados para trabalhar com o
desenvolvimento de comunidades. Segundo Moljo e outros (2017), isso foi realizado pela assistente social chilena
Maidagán de Ugarte, que visitou as escolas de Buenos Aires, Rosário, La Plata e Santa Fé. Assim, ao considerar que
elas não possuíam o perfil desejado para o projeto desenvolvimentista, recomendou modificações na grade
curricular, perfil profissional e conteúdos teóricos estudados. Como as recomendações não foram atendidas, foi
criado o Instituto do Serviço Social em 1959, que se manteve em funcionamento até 1969.
92
Desse Instituto surgiu o Grupo Ecro, formado por estudantes e docentes que criaram uma editora homônima
responsável por difundir as ideias ascendentes à época, que questionavam o Serviço Social tradicional e acabou
gerando um movimento editorial (MOLJO et al, 2017).
Embora o Instituto e o Grupo tenham nascido com inspiração desenvolvimentista, o intercâmbio realizado com as
experiências que ocorriam, sobretudo, no Chile e no Uruguai, levou à radicalização das ideias, como o
questionamento do sistema capitalistae a defesa de que o Serviço Social deveria trabalhar para atender aos
interesses da classe trabalhadora, por exemplo. Esse fato consistiu em fator determinante para a Reconceituação
na Argentina.
Ainda conforme Moljo e outros (2017), correntes mais conservadoras da profissão consideravam o Movimento de
Reconceituação perigoso. Assim, ele foi ganhando força justamente por meio do desenvolvimento de comunidade,
uma vez que a aproximação de estudantes à realidade das comunidades acabou radicalizando a ação desses
jovens. Este processo foi acentuado pela criação de novas escolas de Serviço Social, cujo objetivo inicial era
atender ao desenvolvimentismo, mas que foram, assim como as escolas já existentes, mudando seus planos de
estudo e indo ao encontro da Reconceituação. Todavia, todo esse processo foi interrompido com a implantação da
ditadura militar em 1976.
4.3. Militarismo na América Latina
Como já observado, ditaduras militares foram instauradas em diversos países do continente durante a segunda
metade do século XX. Esses regimes, assim como os golpes de Estado que lhes deram origem, tiveram apoio
estratégico e financeiros dos Estados Unidos, que, naquele período de Guerra Fria, temiam perder influência na
América Latina, o que resultaria em perdas econômicas para a potência capitalista.
Em alguns casos, as ditaduras interromperam (e, em outros, dificultaram) o florescimento do debate que acontecia
no interior do Serviço Social. Por isso, a Reconceituação não teve, naquele período, todas as suas possibilidades
esgotadas. Ou seja: muitos debates e experiências foram interrompidos, o que torna difícil imaginar como seria o
Serviço Social hoje se o regime ditatorial não tivesse acontecido. Por outro lado, o debate pôde reflorescer após
aquele período.
4.3.1. Golpes militares
No período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial tivemos a polarização geopolítica entre as potências Estados
Unidos da América (EUA), capitalista, e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), comunista. Tal conflito,
que não era só ideológico, mas também econômico, ficou conhecido como Guerra Fria. Diferentes países sentiram
os efeitos, em maior ou menor grau, dessa rivalidade. Na América Latina, a ilha caribenha de Cuba passou, em
1959, por uma revolução que a libertou da ditadura de Fulgêncio Batista, e aderiu ao socialismo.
PAUSA PARA REFLETIR
Quais as principais semelhanças e diferenças entre os processos reconceituadores dos países
estudados?
93
Fonte: © gary yim / / Shutterstock.
Após a Revolução Cubana, os EUA redobraram suas atenções para a América Latina de modo a impedir outras
sublevações. É nesse contexto que se inicia uma série de golpes militares em diferentes países do continente. Em
comum, todos esses golpes tiveram o apoio dos EUA e visavam, por meio de métodos violentos, impedir o avanço
das esquerdas.
Os principais golpes militares ocorreram nos seguintes países: Brasil (1964), Bolívia (1964), Peru (1968), Chile
(1973), Uruguai (1973), Argentina (1966 e 1976). Cabem aqui dois esclarecimentos. Antes da Revolução Cubana os
EUA já vinham apoiando ditaduras e golpes de Estado no continente. Foi o que aconteceu com a Guatemala (1954)
e com o Paraguai (1954). Até mesmo o regime de Fulgêncio Batista tinha apoio da potência imperialista. Além
disso, a ditadura que se iniciou na Argentina em 1966 havia acabado em 1973, mas um segundo golpe ocorrido em
1976 instaurou outra ditadura, que perdurou até 1983.
No que se refere ao tema deste capítulo, é importante compreender que as ditaduras militares foram minando o
debate que ocorria em torno da renovação crítica do Serviço Social. Isso porque ela se dava com base na
aproximação da categoria a dois elementos combatidos por aqueles regimes: uma literatura acadêmica tida como
subversiva e os movimentos populares.
Com isso, segundo Santos (2007), as experiências renovadoras ficaram restritas à universidade devido à relativa
autonomia de que elas conseguiam dispor. Mas ainda assim, em alguns casos, como no Uruguai, essa autonomia
foi perdida.
ASSISTA
O filme Condor (Brasil, 2008) aborda a cooperação existente entre os governos militares da
América do Sul que tinha como objetivo reprimir os grupos de oposição.
94
Ditaduras do período.
Já no Brasil, o processo foi peculiar. Clique para acompanhar como se deu esse processo e compará-lo ao processo
no restante da América Latina.
• Movimento e ditadura
Enquanto o Movimento de Reconceituação na América Latina ocorreu de 1965 a 1975, a ditadura brasileira
já estava em andamento desde 1964. Isso significa que, antes desse período, já houve um primeiro
momento de questionamento ao Serviço Social tradicional.
• Leitura marxista
Posteriormente, no início dos anos 1970, existiu uma experiência na Escola de Serviço Social da
Universidade Católica de Minas Gerais que buscava compreender a profissão a partir de uma leitura
marxista. Mas essa experiência (conhecida como Método BH) chegou ao fim com a demissão dos
professores envolvidos.
• Seminários e ações da CBCISS
O CBCISS promovia seus seminários e demais ações apesar da ditadura. No entanto, é preciso observar que
a instituição não realizava uma crítica contundente ao regime militar e ao sistema capitalista, motivo pelo
qual Netto (2007) afirma que ela buscava incitar uma modernização conservadora, permanecendo dentro
dos limites impostos pela conjuntura.
• Ampliação dos cursos de Serviço Social
Outro fator que precisa ser destacado é a ampliação dos cursos de Serviço Social dentro das universidades
públicas naquele período. O regime militar tinha interesse na formação de assistentes sociais, mas desde
que desempenhassem a sua prática tradicional.
O período não estava preocupado em garantir políticas públicas pautadas na universalização dos direitos sociais.
Queria apenas a execução acrítica dos serviços públicos, suprindo as carências imediatas da população e
apassivando a luta de classes.
Todavia, a maior inserção da categoria no espaço acadêmico permitiu o aprofundamento do diálogo com outras
disciplinas e o acesso a diferentes autores. Esses fatores foram essenciais para a renovação profissional no Brasil.
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4.3.2 A Reconceituação inconclusa
Como vimos, os golpes militares ocorridos em vários países do continente interromperam os debates críticos
realizados na época. Todavia, após o fim das ditaduras, esses debates puderam ser retomados não apenas do
ponto de onde haviam parado, mas com o acúmulo de todas as contradições reveladas pelos regimes ditatoriais,
que ratificaram a condição subalterna da América Latina perante o imperialismo estadunidense e colocaram fim à
crença de que as burguesias nacionais tinham interesses nacionalistas.
Vamos clicar a seguir e conhecer mais sobre os fatores que incentivaram a continuidade dos debates no Serviço
Social:
Neoliberalismo
Outro fator importante impôs às ciências humanas novas mediações e reflexões: a implementação no
neoliberalismo (em alguns casos após a ditadura, como no Brasil, e em outros durante o regime militar, como no
Chile).
Lutas sociais
Esses elementos, assim como as lutas sociais que emergiram no período de redemocratização, incentivaram a
continuidade dos debates no interior do Serviço Social após o fim das ditaduras.
Acesso às obras marxistas
Cabe também assinalar o acesso de docentes, estudantes e profissionais às obras de Karl Marx. Se, antes, a
categoria recorria ao marxismo por meio de intérpretes, a partir da penúltima década do século XX, as obras
originais de Marx passaram a servir de base de estudo para amplo contingente de assistentes sociais.
Tudo isso, todavia, é um processo em aberto que continuamente precisa ser reforçado e aprofundado e que,
portanto, pode-se considerar inconcluso. Isso porque ainda se vivencia, no âmbito da profissão, um processo de
amadurecimento e de fortalecimento do projeto profissional forjado a partir do Movimento de Reconceituação do
Serviço Social, que teve como base os fundamentos da teoria social crítica.
Propostade atividade
Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu nesse capítulo! Então, elabore um infográfico destacando
as principais ideias abordadas ao longo do conteúdo. Ao produzir seu infográfico, considere as leituras básicas e
complementares realizadas.
Recapitulando
Ao longo do capítulo, vimos que a partir da década de 1960 ocorreu o que ficou conhecido como Movimento de
Reconceituação do Serviço Social. Esse movimento teve origem quando setores da profissão sentiram a
necessidade de debatê-la e modificar suas práticas. Estes setores questionavam o Serviço Social tradicional, numa
espécie de “crise de identidade profissional”. A partir de então, diferentes entidades contribuíram com o processo
de renovação crítica, a exemplo da ALAETS, do CELATS e do CBCISS. Os dois primeiros visavam integrar a profissão
em nível regional, o que é importante tendo em vista as características comuns presentes nos países latino-
americanos.
96
Vimos também como se deu a Reconceituação na Colômbia, Uruguai, Chile e Argentina. Nos três últimos países, o
processo renovador tinha mais força, mas foi interrompido pelas ditaduras militares iniciadas em 1973 (Uruguai e
Chile) e 1976 (Argentina). As ditaduras, aliás, foram instauradas em vários países da América Latina. Elas tinham o
apoio dos EUA, que visavam manter o domínio sobre a região.
Referências
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NETTO, J. P. uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. 11 ed. São Paulo: Cortez,Ditadura e Serviço Social: 
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97
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http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinppIII/html/Trabalhos/EixoTematicoJ/008100eb963407cde276Samya.pdf
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaempauta/article/view/167/193
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FUNDAMENTOS DO SERVIÇO SOCIAL: 
MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO NA 
AMÉRICA LATINA E BRASIL
CAPÍTULO 7 - A PRÁTICA INSTITUCIONALIZADA 
DO SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DA 
RECONCEITUAÇÃO
Micaela Alves Rocha da Costa
131
Objetivos do capítulo
Ao final deste capítulo, você será capaz de:
• Perceber as instituições públicas e privadas como espaços privilegiados de atuação profissional
Tópicos de estudo
• Instituições com espaços de prática
• Instituições como aparelhos funcionais
• Instituições como reprodução da força de trabalho
• Instituições como espaço de contradições
• Prática do Serviço Social nas instituições
• O Estado como espaço de prática
• Articulação com a sociedade
• Articulação com os movimentos sociais
• Instituições com espaços de transformação
• Objeto profissional e objeto institucional
• Possibilidades de transformações institucionais
Contextualizando o cenário
O Movimento de Reconceituação brasileiro provocou uma mudança significativa para o Serviço Social na teoria e
também na prática, considerando a luta da categoria profissional no rompimento com a herança conservadora e
na construção da perspectiva de intenção de ruptura. Essa ruptura, inclusive, agregou elementos de análise da
realidade social a partir de uma referência marxista e comprometida com a classe trabalhadora.
Neste período histórico, o exercício profissional recebeu importantes contribuições em relação aos limites e
possibilidades de atuação, frente à reprodução dos interesses dominantes e à viabilidade da resistência política
junto a outros profissionais, usuários, movimentos sociais, etc., no que diz respeito a defesa dos interesses
populares. Dessa maneira, a Reconceituação trouxe à tona do debate profissional a importância da prática
institucionalizada como espaço contraditório, de reprodução dos interesses dominantes e de luta do assistente
social articulado com a população.
Com base nas transformações orquestradas pelo Movimento de Reconceituação, qual a importância de o exercício
profissional institucionalizado estar articulado aos movimentos sociais e a classe trabalhadora?
7.1 Instituições como espaços de prática
As instituições, públicas ou privadas, foram e permanecem se configurando como espaços sócio ocupacionais em
que os assistentes sociais estão inseridos como profissionais executores de determinadas políticas sociais. A partir
do Movimento de Reconceituação, esses espaços foram alvo de reflexões críticas e intervenções profissionais que
qualificaram a prática profissional e o entendimento sobre os limites impostos nas instituições.
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Para tanto, é importante desvelar o fundamento contraditório das instituições na sociedade capitalista, visto que
elas orquestram a reprodução da força de trabalho e imprimem os interesses dominantes, mas que permanecem
sendo tensionados pelos setores populares. Neste subcapítulo estudaremos as principais categorias utilizadas por
teóricos no entendimento acerca das instituições.
7.1.1 Instituições como aparelhos funcionais
Na sociedade capitalista, permeada por interesses divergentes entre classe trabalhadora e burguesia, as
instituições públicas e/ou privadas sofrem os rebatimentos destes antagonismos das classes sociais. Por estareminseridas na estrutura da ordem do capital, esses espaços “fazem parte da rede, do tecido social lançado pelas
classes dominantes para amealhar o conjunto da sociedade” (FALEIROS, 1993, p.31). Ou seja: são aparelhos
funcionais determinados pelo Estado e pelos interesses dominantes.
Durante o Movimento de Reconceituação, este entendimento sobre as instituições enquanto aparelhos funcionais
teve respaldo na categoria de assistentes sociais e na intervenção profissional. Com base na teoria estrutural
funcional, que visa explicar a realidade a partir de boas ou más funções, este conceito de inspiração antropológica,
considerava que, “as instituições cumprem determinadas funções em resposta aos problemas específicos da
sociedade. Isto quer dizer que o Estado cumpre funções específicas para cada problema particular através das
instituições” (SERRA, 1983, p.29).
Em outras palavras, a cada problema encontrado na sociedade, o Estado determinaria uma instituição específica
para tratar dessa situação. Por exemplo:
A concepção das instituições como aparelhos funcionais.
Segundo Serra (1983), essa concepção utilizada na época da Reconceituação demonstra que o Estado está acima
das classes sociais. Ou seja: se configura enquanto um Estado de bem-estar social.
ESCLARECIMENTO
133
Essa concepção considera os ideais de poder e legitimidade separados das relações sociais e da dinâmica
contraditória da lógica capitalista. A limitação desta perspectiva deixa de considerar a totalidade e os
tensionamentos da luta de classes imbricados no processo e faz isso por levar em conta o Estado acima de todas as
classes sociais e como um elemento intocável e livre de contradições.
Para além desta perspectiva utilizada pela categoria de assistentes sociais durante a Reconceituação, outras
também serviram de base para a compreensão do exercício profissional nas instituições, conforme veremos a
seguir.
7.1.2 Instituições como reprodução da força de trabalho
A segunda concepção teórica utilizada pela categoria no contexto da Reconceituação, de origem funcionalista,
incorporou a historicização acerca da realidade e versou sobre as instituições como meios de produção da força de
trabalho. Isso porque “enfatiza o estudo das relações sociais em que as instituições são consideradas como reflexo
de dominação, o que implica que se constituam como práticas de dominação” (SERRA, 1983, p. 29).
Neste sentido, as instituições se configurariam como um aparelho ideológico do Estado, com vistas a incentivar a
reprodução da força de trabalho na sociedade, elemento fundamental para manter a estrutura de opressão e
exploração da sociedade capitalista.
A concepção das instituições como reprodução da força de trabalho.
Embora tenha herança funcionalista, esta concepção tem inspiração no marxismo clássico que compreende o
Estado como o comitê de interesses da burguesia e que legitima os interesses dominantes pela via do consenso ou
da coerção junto à população. Entenda melhor clicando a seguir:
O Estado de bem-estar social (chamado de , em inglês) pode ser compreendidoWelfare State
como a forma de organização econômica, política e social, em que o Estado desenvolve políticas
de controle social para a população. O assunto é passível de múltiplas interpretações do ponto
de vista teórico e, por isso, indica-se a leitura do artigo “Origem e desenvolvimento do Welfare
”, de Maria Ozanira da Silva e Silva (2015).State
134
P a p e l
ideológico
O papel ideológico perpassado pelas instituições possibilita a manutenção da estrutura
desigual da sociedade, ocorrendo por meio do convencimento, da educação e da
compreensão incutida nas classes dominadas pela classe dominante.
Consenso
c o m o
estratégia
A correlação de poder entre uma classe e outra permite que a criação do consenso seja uma
estratégia para manter as condições de acumulação do capital e a submissão da população
às ordens do capital.
O r d e m
vigente
Nesta perspectiva, enquanto aparelhos do Estado capitalista, as instituições públicas e/ou
privadas obedecem ao processo produtivo capitalista, criando e recriando as condições para
referendar a ordem social vigente.
Fonte: © Sangoiri / / Shutterstock.
Apesar de contribuir para a compreensão da dimensão coercitiva imbricada no papel das instituições neste
processo, esta concepção desconsidera a complexidade da realidade e das contradições, como veremos a seguir.
135
7.1.3 Instituições como espaço de contradições
A terceira definição utilizada para compreender o papel das instituições durante o Movimento de Reconceituação
discorre acerca dos espaços permeados pelas contradições e da inspiração marxista. Na sociabilidade capitalista,
as instituições públicas e/ou privadas apresentam um papel político importante, que ora submete a classe
trabalhadora aos mandos dos setores dominantes, ora possibilita avanços oriundos do proletariado sob burguesia.
As instituições, de acordo com Faleiros (1993, p.31-32) “se organizam como aparelhos [...] para desenvolver e
consolidar o consenso social necessário à sua hegemonia e direção sobre os processos sociais”. Aqui resgata-se o
conceito de hegemonia de Antônio Gramsci, que a considera como a dominação que a burguesia exerce sobre a
classe trabalhadora por meio da estrutura (as relações sociais de produção) e a superestrutura (as ideias, os
comportamentos, a moral, etc.). E que considera também, o poder de organização política da classe trabalhadora
para resistir e fomentar ações de resistência à classe dominante, instituindo seus próprios mecanismos de
hegemonia.
Deste modo, para Serra (1983, p. 34),
a ideia central é de que a hegemonia é um processo e como tal se modifica historicamente frente as
condições concretas da realidade social, condições essas oriundas da correlação de forças entre o polo
dominante e os grupos subordinados. Nesse sentido, a hegemonia traz, no seu interior, a contradição
como elemento central, uma vez que será um contínuo combate entre a tentativa do grupo dominante
de sobrepor-se e as reações organizadas ou não dos grupos subalternos.
Para tanto, enquanto elemento inerente ao estabelecimento da hegemonia da classe dominante, as contradições
possibilitam, ao mesmo tempo, a coerção, o consenso e a resistência política de uma classe sobre a outra.
BIOGRAFIA
Antônio Gramsci (1891 – 1937) foi um importante teórico marxista que contribuiu com o
pensamento crítico por meio da sua militância no Partido Comunista da Itália. Suas obras
versam acerca da categoria hegemonia, bloco histórico, consciência de classe, revolução, entre
outros temas pertinentes ao marxismo.
136
A concepção das instituições como espaço de contradições.
Esta concepção possibilitou a categoria profissional compreendesse a contradição nos espaços institucionais no
contexto da Reconceituação. Isso forneceu elementos para repensar a intervenção do assistente social em
consonância com a luta da classe trabalhadora que se desenrolou na época e no rompimento com o lastro
conservador da profissão.
No próximo subcapítulo estudaremos sobre as possibilidades dadas pelas contradições nos espaços institucionais
para a articulação entre o Serviço Social, a sociedade e os movimentos sociais.
7.2 Prática do Serviço Social nas instituições
A compreensão acerca da importância das instituições, tanto públicas como privadas, para a atuação profissional
foi sendo construída coletivamente e ganhou maiores contribuições a partir do contexto do Movimento de
Reconceituação no Brasil. Foi neste período que a categoria de assistentes sociais pôde refletir acerca das
mudanças conjunturais (fim da ditadura, redemocratização da sociedade e uma grave crise econômica) e seus
impactos para o Serviço Social e o exercício profissional nas instituições.
Alguns elementos ganharam destaque nesse processo de mudanças profissionais: a articulação com a sociedade e
com os movimentos sociais se tornaram estratégicos para o fortalecimento das demandas populares (como saúde,
PAUSA PARA REFLETIR
Qual a importância do entendimentoda categoria “hegemonia” para o Serviço Social e para o
exercício profissional nas instituições?
137
educação, assistência social, etc.) por meio das instituições, espaço privilegiado de atuação do assistente social em
sintonia com as pautas da classe trabalhadora. A aproximação entre os sujeitos profissionais e os diversos
movimentos sociais possibilitou as transformações na formação e no exercício profissional.
7.2.1 O Estado como espaço de prática
O contexto da Reconceituação no Serviço Social brasileiro sinalizou a importância do entendimento sobre alguns
temas que incidiam e ainda incidem na profissão. Clique para saber mais sobre um dos conceitos importantes na
profissão: o de Estado.
• Estado como espaço de exercício profissional
A discussão sobre o Estado como espaço de exercício profissional se mostrava insuficiente devido à
carência teórica da profissão sobre o tema e à ausência de discussões aprofundadas a respeito.
• Conceito de Estado
Aqui é importante relembrar que ainda não havia uma proposta de currículo mínimo para a formação
profissional, de modo que conceitos importantes ainda eram insuficientemente trabalhados no Serviço
Social. É o caso, por exemplo, do próprio conceito de Estado.
• Confusão conceitual
Deste modo, a profissão, naquele período, tardou a compreender os limites e as possibilidades dadas neste
âmbito. Para Serra (1983), o conceito de Estado provocava uma confusão conceitual para a categoria
profissional, que confundia e aglutinava ao tema as discussões sobre regime político e instituição.
Enquanto as discussões metodológicas recebiam mais contribuições, a compreensão sobre o Estado como
espaço sócio ocupacional permanecia em segundo plano.
A importância de compreender este conceito e suas implicações para a atuação profissional interfere diretamente
no modo de pensar e exercer suas atribuições e competências profissionais. Por isso seu entendimento é
significativo para o horizonte político da profissão.
Fonte: Shutterstock.
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138
Esse panorama só foi modificado a partir das mudanças determinadas pela conjuntura econômica da época. As
novas políticas exigidas pelo processo de modernização cobraram da profissão um entendimento a respeito do
trabalho profissional institucionalizado no contexto da Reconceituação. De acordo com Faleiros (1993, p. 39),
a rapidez, a eficiência, a especialização, o atendimento quantitativo da clientela e uma certa melhora
na sua qualidade favorecem as novas condições do mercado de trabalho: produtividade, circulação
rápida, adaptação às mudanças tecnológicas.
A partir de 1975, com os primeiros sinais de desgaste dos governos militares e a abertura gradual do regime
político, que culminou com a Constituinte em 1988, a crise política e econômica exigiu do Estado maiores respostas
frente ao aumento das expressões da questão social e a constante pressão feita pelos movimentos sociais, partidos
políticos, sindicatos e demais setores organizados da classe trabalhadora
Com base neste cenário, o Estado passou a se configurar como um dos maiores empregadores de assistentes
sociais, concebendo as políticas públicas como espaços sócio ocupacionais do Serviço Social. No âmbito da
academia, a urgência em aprofundar as discussões sobre a complexidade do Estado e refletir sobre o exercício
profissional também foram determinantes para o Serviço Social a partir do marco da Reconceituação.
Neste desenvolvimento histórico da profissão, o reconhecimento do Estado como elemento central para o pensar e
o fazer profissional possibilitou ao Serviço Social posteriormente (a partir da década de 1990) uma maior
compreensão acerca das estratégias de trabalho e de luta frente à legitimação das demandas populares nas
instituições empregadoras.
Neste mesmo espaço, a categoria também pôde compreender as determinações impostas pelo vínculo de
trabalhador assalariado junto ao Estado e as limitações da atuação profissional oriundas deste processo. Todavia,
é preciso destacar que essa transformação se deu de forma lenta e gradual tanto no âmbito da formação, como na
atuação profissional.
7.2.2 Articulação com a sociedade
No âmbito da prática profissional nas instituições articuladas com o conjunto da sociedade durante a
Reconceituação, as mesmas dificuldades encontradas se repetiam. Os profissionais não conseguiam enxergar a
articulação com a sociedade como uma estratégia profissional e tampouco tinham acúmulo sobre este tema
durante sua formação acadêmica.
Para Serra (1983), um dos entraves para a profissão neste período foi a visão acrítica dos profissionais de Serviço
Social no que se refere à natureza da instituição, das relações de poder inerentes neste espaço e na articulação
com a sociedade.
DICA
Para compreender a complexidade do processo histórico e as forças sociais que determinaram
as transformações nos espaços sócio ocupacionais da profissão, leia o texto “Os espaços sócio
ocupacionais do assistente social” de Marilda Vilela Iamamoto (2009).
139
Fonte: © Sergey Nivens / / Shutterstock.
Segunda a autora, havia uma visão monolítica sobre o papel das instituições junto à sociedade, visto que os
assistentes sociais referendavam a lógica institucional por meio de alianças com a direção institucional. Isso
porque eles concebiam o exercício profissional tecnicista como único meio de atingir a transformação da
sociedade. Deste modo, havia “uma postura sem fundamentação teórica acerca da estrutura social e dos
mecanismos de manutenção da hegemonia pelo poder vigente, através das instituições” (SERRA, 1983, p. 62).
Fica evidente que, durante o contexto da Reconceituação, não havia um direcionamento político comprometido
com a classe trabalhadora que guiasse a formação e o exercício profissional, o que respaldava uma atuação
profissional voltada apenas para a legitimação da burguesia nas esferas do pensar e do fazer no âmbito do Serviço
Social. O tensionamento dos movimentos sociais, por meio da aproximação com a categoria profissional, foi
essencial para que o Serviço Social vivenciasse a Reconceituação, incorporando o compromisso com os setores
populares.
7.2.3 Articulação com os movimentos sociais
Diferente dos temas acerca da prática profissional no âmbito do Estado e da articulação da profissão com a
sociedade dentro das instituições, a discussão sobre os movimentos sociais se destacou como um dos temas mais
debatidos.
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Fonte: © tr3gin / / Shutterstock.
O acúmulo sobre a articulação com os movimentos sociais pode ser considerado um dos avanços trazidos pelo
Movimento de Reconceituação que sinalizou para os assistentes sociais, desde sua gênese, a importância da
articulação com as camadas populares. Transitando entre o âmbito teórico e a esfera prática, a discussão sobre os
movimentos sociais foi aprofundada e trabalhada pela categoria no contexto de transformações profissionais.
Essa aproximação com os movimentos sociais possibilitou a maturação de uma consciência política coletiva da
categoria de assistentes sociais, se configurando como uma preocupação das/dos profissionais da época. Esse
momento foi instigado pela vertente Intenção de ruptura durante o movimento de Reconceituação e foi
fundamental, pois orientou a profissão a romper com a herança conservadora oriunda do seu surgimento,
inaugurando um compromisso com a classe trabalhadora e com os rumos políticos do Serviço Social.
A atuação junto aos movimentos sociais.
141
Nesse sentido, as práticas profissionais realizadas em consonância com os movimentos sociais passaram a
contribuir para a profissão e para a luta destes sujeitos em muitos aspectos. Um exemplo que podemos utilizar é a
consolidação das pautas dos setores populares junto às instituições e o entendimento para a profissão, do papel
contraditório do Estado, que ora avança e incorpora as reivindicações sociais, ora retrocede e fomenta um maior
grau de exploração. Conforme aponta Serra (1983, p.67),
as instituições como executoras de política social, sofrem os seus efeitos, uma vez que o sistemase
altera e absorve essas reivindicações populares. Configura-se, assim, a natureza do Estado como
espaço contraditório e, consequentemente as instituições como aparelhos também contraditórios.
A autora ainda afirma que, neste período, a necessidade da categoria profissional em consolidar uma prática
coletiva que almejasse a transformação social era crescente entre os assistentes sociais. Para a categoria
profissional, “a sensação de isolamento no exercício de sua prática provoca, no assistente social, consequências
bastante negativas, tendo em vista sua proposta de contribuir para o processo de transformação social” (SERRA,
1983, p.68).
Deste modo, ficou evidente a importância da articulação da categoria junto aos outros funcionários nos locais de
trabalho que tivessem em comum o mesmo horizonte de transformação social. É o caso, por exemplo, do
fortalecimento, em uníssono, dos setores de Psicologia e Serviço Social de uma secretaria de assistência social. E,
sobretudo, a articulação com os setores populares como pré-requisito para o exercício profissional,
engrandecendo a luta coletiva.
Fonte: © Palto / / Shutterstock.
Essa articulação coletiva entre profissionais e usuários das instituições pôde contribuir para o fortalecimento das
lutas populares via políticas públicas e também no fortalecimento dos sujeitos enquanto trabalhadores
assalariados. Enquanto profissionais institucionalizados, os assistentes sociais poderiam sofrer as consequências
dessa articulação política coletiva por meio de demissões dos locais de trabalho, visto o enfrentamento com os
142
interesses da burguesia. Essa preocupação paralisou muitos profissionais do período em seus espaços sócio
ocupacionais, mas também provocou o aprofundamento da consciência política coletiva e fomentou a experiência
profissional na luta institucional.
Esse avanço foi determinante para a profissão entender sua atuação dentro das instituições e compreender o papel
contraditório destes espaços, ora possibilitando a abertura para as lutas e para as reivindicações dos movimentos
sociais, ora sofrendo as limitações de trabalho enquanto sujeitos assalariados, por meio da coerção e do consenso.
As experiências vivenciadas nas instituições pela categoria profissional propiciaram o entendimento dos desafios
impostos e, sobretudo, as possibilidades de transformação nestes locais, conforme veremos a seguir.
7.3 Instituições como espaços de transformação
A institucionalização do Serviço Social e a problematização desses espaços pela categoria de assistentes sociais foi
um movimento importante para entender a funcionalidade das instituições no Estado capitalista e também para a
profissão repensar sua conduta frente aos interesses em disputa (da classe trabalhadora e da classe dominante).
Essa reflexão encontrou respaldo no contexto da Reconceituação e inaugurou um novo momento para a profissão,
quando a prática profissional, ao entrar nas instituições, passou a ser compreendida dentro da lógica contraditória
da ordem capitalista. Nesse momento, as possibilidades de transformação estão postas na realidade e também
nos limites.
7.3.1 Objeto profissional e objeto institucional
A compreensão da prática institucionalizada do Serviço Social durante a Reconceituação permitiu à categoria
profissional aprofundar o conhecimento acerca do objeto institucional – no caso, as políticas sociais frente à
questão social, objeto de intervenção da profissão.
Tal reflexão levantou elementos importantes de análise para o Serviço Social. Isso considerava, por exemplo, os
profissionais enquanto agentes transformadores e/ou mantenedores da ordem vigente, cumprindo um papel
contraditório. Segundo Serra (1983, p.42),
se tomarmos como referência as suas origens e as razões da institucionalização do Serviço Social como
profissão bem como os seus níveis de atrelamento ao Estado e ao poder constituído, é de se concluir
que, em vista dessa relação, é uma profissão por excelência, constituída como um subpoder
institucional.
PAUSA PARA REFLETIR
O aprofundamento da consciência política coletiva da categoria profissional no contexto da
Reconceituação contribuiu com a dimensão ético-política da profissão? Por quê?
143
A autora destaca a importância do saber institucional utilizado pela categoria profissional enquanto ferramenta
para manter a hegemonia das instituições na sociedade. Mas também sinaliza a potencialidade dessa mesma
ferramenta ser utilizada para viabilizar os direitos da população e manter a articulação com os movimentos sociais
e as lutas em prol de melhorias.
Fonte: © Lightspring / / Shutterstock.
Um dos obstáculos identificados por Serra (1983) neste período, que atravancaram o exercício profissional do
assistente social, foi a ausência de produções teóricas sobre a prática profissional institucionalizada nos diversos
espaços sócio ocupacionais. A ausência destes debates fomentou entre a categoria profissional o reforço à lógica
institucional e a subordinação dos profissionais à classe dominante.
A articulação junto aos movimentos sociais e as bandeiras de luta que estavam em efervescência durante o
contexto da Reconceituação instigaram o questionamento a esse perfil profissional conformativo e, com isso, o seu
enfrentamento político. Para Serra (1983, p. 44),
o Serviço Social traz em si mesmo, em razão de sua relação com as classes dominadas, um possível
potencial de reação institucional, na medida em que, em função da sua ideologia e por pressões da
clientela, possa imprimir uma nova intencionalidade à sua prática, colocando-se ao lado das classes
dominadas, tendo em vista a alteração de relações de poder.
CURIOSIDADE
No contexto da Reconceituação, o Código de Ética do Serviço Social passou a incorporar, aos
poucos, orientações normativas sobre direitos e deveres profissionais nas instituições. Foi o
caso, por exemplo, da alteração da correlação de forças dentro destes espaços. Tais orientações
só seriam oficializadas a partir de 1986, demarcando o rompimento com o conservadorismo.
144
É por meio dessa nova intencionalidade que as possibilidades de mudança dentro das instituições passaram a ser
identificadas e trabalhadas pela profissão, de modo a contribuir com o rompimento do conservadorismo e com a
construção política de um compromisso profissional com os setores populares.
7.3.2 Possibilidades de transformações institucionais
O caráter político das instituições, voltado para a coerção e o consenso da população, foi questionado pela
categoria profissional articulada aos movimentos sociais do período da Reconceituação, conforme já pontuado.
Clique para conhecer melhor os ganhos gerados pela reflexão feita pelos Serviço Social nesta época.
Entendimento
Tanto na esfera teórica, como na prática, a reflexão realizada pelo Serviço Social foi fundamental para o
entendimento dos espaços institucionais e do próprio exercício profissional, atravessados pelas contradições.
Articulação
A aproximação com os movimentos sociais assegurou o compromisso com os setores populares e fomentou um
compromisso político com vistas a contribuir com a alteração da correlação de forças dentro das instituições.
Deste modo, um dos ganhos mais importantes da Reconceituação consagram esta articulação como horizonte
para as transformações institucionais.
Algumas ações de transformação institucional identificadas pelo Serviço Social durante o contexto da
Reconceituação contaram com a participação da população.
Fonte: © Konstantinos Kokkinis / / Shutterstock.
A seguir, clique e conheça exemplos destas ações de transformação e sua importância:
Ações conjuntas
145
Reuniões conjuntas com os representantes dos movimentos sociais, a participação conjunta em atividades, o
apoio da profissão às manifestações, a elaboração de documentos e os posicionamentos institucionais arbitrários,
feitos em articulação com os movimentos populares para fomentar a resistência política (SERRA, 1983).
Articulação com outras áreas
Destacou-se também a necessidade de articulação comos profissionais de outras áreas que compactuassem do
mesmo posicionamento político profissional dentro das instituições e que pudessem contribuir com a alteração da
correlação de forças e na luta pela democratização.
Dupla importância
Tais ações foram duplamente importantes. Além do sentido mobilizador, elas também fomentaram a expansão da
consciência política coletiva da categoria profissional, da população presente nos movimentos sociais e dos
demais profissionais inseridos no espaço institucional.
O exercício da cidadania, por meio da participação política, contemplou todos os sujeitos envolvidos na luta pela
transformação institucional nos espaços sócio ocupacionais.
Nessa dinâmica, a profissão passou a compreender que, embora sejam espaços de reprodução da ideologia da
classe dominante, as instituições também podem incorporar as reivindicações populares como resultante das
pressões e lutas dos movimentos sociais.
Neste sentido, o Serviço Social, no contexto da Reconceituação, incorporou uma nova intencionalidade ao seu
exercício profissional ao considerar a articulação com as lutas sociais como estratégia profissional para a
efetivação dos direitos da classe trabalhadora.
Além destas possibilidades postas no contexto referido, os assistentes sociais também puderam compreender a
importância da organização da categoria por meio das entidades representativas como respaldo para a ampliação
do espaço institucional (SERRA,1983).
Nesta época, as entidades profissionais correspondiam ao Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS), ao
Conselho Regional de Assistentes Sociais (CRAS) e à Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social (ABESS). Por
outro lado, a representação estudantil e a Subsecretaria de Serviço Social na União Nacional dos Estudantes
(SESSUNE) só viria a se formalizar a partir da década de 1980, contribuindo com a consolidação de uma formação
profissional qualificada e com a defesa dos interesses populares.
Os fatores que propiciaram a expansão da organização das entidades representativas da profissão destacam-se a
conjuntura política da sociedade neste período e o aumento do contingente de profissionais (SERRA, 1983).
DICA
Para compreender a complexidade da organização política profissional durante o contexto da
Reconceituação, leia o texto “80 anos de Serviço Social no Brasil: organização política e direção
social da profissão no processo de ruptura com o conservadorismo”, de Maria Beatriz Costa
Abramides (2016). Neste artigo, a autora aborda as lutas travadas pelas entidades da categoria e
sua importância para a consolidação do Serviço Social no Brasil.
146
Neste sentido, a contínua reflexão e discussão sobre a prática institucionalizada comprometida com os interesses
populares permaneceram sendo a tônica nos espaços institucionais após este período, construindo um legado
histórico fundamental para a formação e para o exercício profissional.
Proposta de atividade
Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu nesse capítulo! Elabore um mapa conceitual destacando as
principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir mapa considere as leituras básicas e
complementares realizadas.
Dicas: comece com um termo ou expressão principal, em seguida, conecte esse termo ou expressão a palavras de
ligação, para dar sentido ao texto. Por exemplo: A do possibilitou prática institucionalizada Serviço Social
 acerca da , visto que...reflexões atuação profissional
Elabore o mapa com até 25 conceitos.
Recapitulando
Neste capítulo estudamos a prática institucionalizada da profissão no período da Reconceituação e apreendemos
sobre inúmeras transformações oriundas deste processo. Vimos que a concepção acerca das instituições foi sendo
discutida e melhor compreendida entre os profissionais da época, que passaram a entendê-las como um espaço
permeado por contradições, próprias da ordem capitalista.
O entendimento acerca da categoria hegemonia, resgatada pelo teórico Antônio Gramsci, foi fundamental para o
Serviço Social. Possibilitou, por exemplo, o descortinamento da dominação exercida pela classe dominante por
meio da sua estrutura (as relações sociais de produção) e superestrutura (as ideias e comportamentos humanos).
Também a prática profissional precisou aprofundar seu entendimento acerca dos limites e das possibilidades
postas na relação com o Estado como espaço de atuação dos assistentes sociais.
A realidade do contexto da Reconceituação confirmou essa exigência, tanto no âmbito da formação, como do
exercício profissional no interior das políticas sociais. A mesma necessidade de entendimento se deu em relação à
temática sobre a articulação com a sociedade, visto a incipiência de compreensão da categoria.
Já a articulação com os movimentos sociais, um dos principais avanços da Reconceituação foi o aprofundamento
desta relação entre a profissão e os setores populares. Destacamos o acúmulo teórico das/dos assistentes sociais
nesta temática e ressaltamos a importância deste compromisso firmado, na ruptura com o conservadorismo.
O aprofundamento da consciência política, propiciada pela articulação com os movimentos sociais, foi
imprescindível para o avanço na dimensão ético-política do Serviço Social, que passou a considerar as
contradições institucionais, a identificar as pautas e reivindicações de luta, a mobilizar os setores populares e se
compreender como parte deste processo.
Por fim, avaliamos as instituições enquanto espaços possíveis de transformações, a partir do compromisso
profissional com os movimentos sociais e classe trabalhadora. Essa condição possibilitou o rompimento com a
herança conservadora da profissão que legitimava a classe dominante em detrimento da classe dominada. O apoio
das entidades profissionais nesta luta foi substancial para o compromisso da profissão com a classe trabalhadora.
147
Referências
ABRAMIDES, M. B. C. 80 anos de Serviço Social no Brasil: organização política e direção social da profissão no
processo de ruptura com o conservadorismo. São Paulo, n.127, p. 456-475, dez. 2016.Serviço Social & Sociedade, 
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
>. Acesso: 27/08/2019.66282016000300456&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
FALEIROS, V. P. . 4ª. ed. São Paulo: Cortez, 1993.Saber profissional e poder institucional
IAMAMOTO, M. V. Os espaços sócio-ocupacionais do assistente social. In: direitos e competênciasServiço Social:
profissionais. Brasília: CFESS/Abepss, 2009. Disponível em: <http://www.cressrn.org.br/files/arquivos
>. Acesso: 25/08/2019./FH41e7O0eM1MvI8g3552.pdf
SERRA, R. M. S. : determinações e possibilidades. 2ª ed. São Paulo:A prática institucionalizada do Serviço Social
Cortez, 1983.
SILVA, M. O. S. Origem e desenvolvimento do . v.1, n.1, p.77-104, 1995.Welfare State Revista de Políticas Públicas.
Disponível em: < >. Acesso em: 09http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rppublica/article/view/3709
/09/2019.
148
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282016000300456&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
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http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/FH41e7O0eM1MvI8g3552.pdf
http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/FH41e7O0eM1MvI8g3552.pdf
http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rppublica/article/view/3709
FUNDAMENTOS DO SERVIÇO SOCIAL: 
MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO NA 
AMÉRICA LATINA E BRASIL
CAPÍTULO 8 - O SERVIÇO SOCIAL 
RECONCEITUADO
Rafaela Vieira
149
Objetivos do capítulo
Ao final deste capítulo, você será capaz de:
• Identificar as bases ideológicas que passaram a influenciar o Serviço Social.
• Reconhecer o esforço profissional na busca de sistematizar o trabalho com o objetivo de teorizar a prática 
profissional.
Tópicos de estudo
• A Metodologia e a Reconceituação.
• Ação política e a teoria dialética.
• O paradigma das correlações de forças.
• Polarização.
• As ideologias do Serviço Social reconceituado.
• Liberal.
• Desenvolvimentista.• Revolucionária.
• Sistematização do trabalho social.
• A construção de uma proposta metodológica de atuação.
• Ciência e técnica social.
• A ação profissional, atores e a estrutura.
• Aplicação da teoria reconceituada.
• O Assistente Social como intelectual orgânico.
• O profissional como sujeito da história.
Contextualizando o cenário
Como já vimos, a partir da década de 1960, os profissionais do Serviço Social passaram a questionar o
tradicionalismo presente na profissão. Esse processo de debates profissionais ficou conhecido como Movimento de
Reconceituação e se espalhou por diversos países da América Latina, incluindo o Brasil. No país, a ruptura
definitiva com o chamado Serviço Social tradicional ocorreu em 1979 durante a realização do III Congresso
Brasileiro de Assistente Sociais (CBAS), em São Paulo. Devido à sua importância, o evento ficou conhecido como
Congresso da Virada.
O debate em torno dessa renovação profissional engloba a prática profissional e a metodologia utilizada pelos
assistentes sociais durante o processo de trabalho. O fato é que, a partir do Movimento de Reconceituação, ocorreu
uma profunda revisão metodológica da prática cotidiana, cuja orientação teórica foi predominantemente marxista.
Dessa forma, embora se considerasse neutro, o Serviço Social tradicional era pautado por uma ideologia. A
Reconceituação, portanto, foi motivada por uma parcela significativa de profissionais que passou a assumir outra
ideologia.
Dentro desse contexto, como as ideologias estão presentes nesse processo?
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8.1 A metodologia e a Reconceituação
Como já estudado anteriormente, alguns autores com formação em Serviço Social e que atuavam como
professores universitários tiveram papel destacado durante o Movimento de Reconceituação. Um deles é o
brasileiro Vicente de Paula Faleiros, que, a partir da concepção marxista, defendeu a vinculação da profissão à
defesa dos interesses da classe trabalhadora e contribuiu para a elaboração de uma metodologia condizente com
essa concepção ideológica e esse arcabouço teórico.
O principal livro de Faleiros na época é Metodologia e ideologia do trabalho social, publicado originalmente na
Argentina (com o título de Trabajo Social – ideologia y método), em 1972. Somente dez anos depois, a obra foi
traduzida para o português e publicada no Brasil pela Editora Cortez. A edição brasileira conta com um capítulo
extra, que traz outras informações e reflexões feitas pelo autor após a versão argentina.
Por tratar especificamente da questão da metodologia reconceituada e por trazer contribuições importantes sobre
as ideologias que orientaram a profissão, a obra será fartamente citada ao longo desse capítulo junto a outros
autores.
8.1.1 Ação política e a teoria dialética
A Reconceituação teve como principal corrente norteadora a teoria social inaugurada por Karl Marx, o marxismo ou
teoria dialética. A teoria dialética consiste no método de análise e compreensão da realidade inaugurado por Marx
a partir da dialética idealista do filósofo alemão Friedrich Hegel e do materialismo fundado pelo filósofo alemão
Ludwig Feuerbach.
Com efeito, Hegel merece o crédito pelo desenvolvimento do pensamento dialético ao formular o esquema tese-
antítese-síntese, dando, assim, mais corpo a uma ideia que teve origem na filosofia antiga grega - quando Heráclito
afirmou que, ao mergulhar pela segunda vez em um rio, nem o homem é mais o mesmo homem, nem o rio é o
mesmo rio, pois tudo muda, tudo se transforma continuamente (KONDER, 2008).
Hegel, no entanto, era um filósofo idealista, que acreditava que o mundo material era determinado pelo mundo
das ideias. Marx, dessa forma, adotou o raciocínio dialético hegeliano, mas negou seu idealismo. Inspirou-se no
materialismo de Feuerbach (para quem o mundo material determina a consciência dos sujeitos) e criou a dialética
materialista, também chamada de materialismo histórico. Assim, quando se fala no contexto da teoria dialética, o
capítulo se refere à teoria marxiana e marxista.
ESCLARECIMENTO
Na dialética do conhecimento, a tese é um momento inicial, no qual se tem uma afirmação
definida a partir de conceitos iniciais. A antítese é o momento de negação da tese, que ocorre
quando esta última é confrontada por outros conceitos. A síntese é um momento de conciliação
de elementos da tese e da antítese. A síntese aparece, então, como uma nova tese, e o ciclo
recomeça (TURIN, 2014, p. 189).
151
Teoria dialética
Inserida no contexto da teoria dialética, a ação política diz respeito à luta das classes subalternas daqueles que se
reconhecem como uma classe explorada pelo capitalismo e dominada politicamente. A ação, nesse caso, visa a
superação do sistema que gera a divisão da sociedade entre exploradores e explorados, dominantes e dominados.
Ainda que as lutas populares e de minorias por ampliação de direitos sociais, civis e políticos no interior do
capitalismo sejam importantes, quando falamos de lutas sociais no contexto deste capítulo estamos nos referindo
à luta pela transformação societária. Isto é, pela superação do modo de produção capitalista e da sociedade
baseada nele, e desenvolvimento de outras formas e relações de produção e sociais.
Essa luta, no entanto, resulta de um longo processo. Como assinala Faleiros (1997), as organizações populares, no
Brasil, já existiam na forma de escolas de samba, centros de macumba, etc. Foi a maior intervenção do Estado na
vida cotidiana, através de ações em diversas áreas, como habitação, transportes etc., que mudou a relação das
classes dominadas com o poder político. Assim, passaram a existir organizações populares que visavam reivindicar
outras ações do Estado, e até mesmo, em alguns casos, a revolução social.
Fonte: © roompoetliar / / Shutterstock.
152
Faleiros (1997, p. 111) considera que o Serviço Social, ao se colocar na defesa dos interesses dos trabalhadores,
deve contribuir para organizar essas massas para a luta política. Nas palavras dele, a estratégia da profissão deve
ser a “participação decisional da população no seu próprio destino”. Para tanto, tendo em vista a necessidade de
uma perspectiva global, é preciso articular a teoria dialética à prática. Nesse sentido, o autor afirma que o Serviço
Social consiste em uma atividade tática, de apoio e suporte aos movimentos populares, o que se dá efetivamente
no trabalho cotidiano em diferentes espaços, considerando-se as possibilidades existentes.
8.1.2 O paradigma das correlações de forças
Nos primeiros textos de Marx, como o escrito em parceria com Friedrich Engels emManifesto do Partido Comunista
1848, aparece a concepção de que a sociedade capitalista se divide em duas classes sociais, que se diferenciam
pelo lugar que ocupam na estrutura produtiva. De um lado, há os capitalistas (ou burgueses), que são os
proprietários dos meios de produção e, portanto, detêm o poder econômico e, por consequência, o poder político.
De outro lado, há os trabalhadores (operários/proletários, uma vez que são trabalhadores fabris), que, por não
possuírem meios de produção, têm a venda de sua força de trabalho como única forma de subsistência.
Essa formulação permanece nos escritos posteriores, quando é ampliada e enriquecida. Em O 18 de Brumário de
Luís Bonaparte, por exemplo, Marx traz a questão das classes de forma mais complexa, fazendo referência à
burguesia industrial, comercial e financeira, à pequena burguesia e ao campesinato e lumpemproletariado, entre
outros conceitos.
Para Faleiros (1997), que se baseia na teoria marxista, a correlação de forças é definida não só pelo lugar ocupado
pelas classes na estrutura produtiva, mas também pela conjuntura e pela mobilização e combatividade das
organizações populares contra o bloco no poder. Se antes o operariado era o quadro mais mobilizado da classe
trabalhadora, a própria intervenção estatal ampliou o campo de lutas. Com isso, “a ação de transformação implica,
pois, a luta pelas novas relações sociais em todos os campos e não só no âmbitorestrito da fábrica e dos setores
diretamente vinculados à produção” (FALEIROS, 1997, p. 134).
Fonte: © Everett Historical / / Shutterstock.
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Tal afirmação advém da concepção de que não são apenas as relações fabris entre patrões e empregados que
refletem as injustiças do modo de produção capitalista. A carência, por exemplo, que aparece para o assistente
social em diferentes espaços de atuação, é produto direto do capitalismo. Como explica o autor, “quanto mais
explorada, mais a classe se torna carente, pois a riqueza social aumenta e as distâncias entre as classes se alargam”
(FALEIROS, 1997, p. 134).
No entanto, ainda que se fale em luta pelo poder político, o mesmo autor frisa que essa luta vai se dando a longo
prazo, cotidianamente, ao nível dos micropoderes nos espaços institucionais. Dessa forma, a correlação de forças
ganha uma nova perspectiva. O trabalho social, nesse sentido, ganha dimensão política, uma vez que vai
visualizando e modificando as relações de poder. Com isso, contribui para o acúmulo de forças pelas classes
subalternas para que estas possam, em um momento conjuntural propício, empreender maiores esforços na
disputa política.
8.1.3 Polarização
Tais concepções, no entanto, não eram unânimes entre os assistentes sociais. De acordo com Faleiros (1997), o
processo que visava ressignificar o Serviço Social e que ficou conhecido como Movimento de Reconceituação
acabou gerando uma polarização entre os profissionais. Nem todos estavam próximos das lutas sociais.
Essa polarização, no entanto, já vinha acontecendo desde o início do movimento, mas ficou ainda mais clara no III
Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) devido às diversas e calorosas discussões realizadas. Esse
evento ocorreu em 1979 e ficou conhecido como Congresso da Virada.
O III CBAS é chamado de Congresso da Virada por marcar a ruptura com o Serviço Social tradicional e a adoção da
teoria dialética como orientação teórico-metodológica e ético-política da profissão (NETTO, 2007). No entanto, até
então, ainda não era consenso entre os assistentes sociais que esse deveria ser o caminho a ser seguido. Lopes
(1980) sistematizou as duas correntes divergentes que disputavam a hegemonia profissional e as denominou de
perspectiva integradora e perspectiva libertadora.
PAUSA PARA REFLETIR
Na prática, como acontece essa luta pelo poder?
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Polarização das tendências profissionais
No Brasil e em outros países do continente latino-americano, a separação das concepções acerca da profissão
opunha duas vertentes. Uma delas entendia que os assistentes sociais deveriam atuar no sentido de contribuir
para a integração social daqueles indivíduos que não conseguiam se integrar por conta própria. A outra
considerava que o Serviço Social deveria assumir uma posição de classe e contribuir para a formação da
consciência da classe trabalhadora e sua organização para a libertação social.
8.2 As ideologias do Serviço Social reconceituado
Para Marx (1989), ideologia é como se fosse um espelho invertido. É como levar a classe trabalhadora a acreditar e
se reconhecer em um conjunto de valores forjados pela classe dominante, cuja função seria manter as condições
de dominação no plano da consciência. Nesse sentido, a ideologia dominante pode aparecer de diferentes formas,
dependendo da conjuntura político-econômica e das correlações de forças existentes.
A classe trabalhadora, por sua vez, cria a sua própria ideologia em meados do século XIX, quando surge o
movimento operário. Trata-se de algo revolucionário, uma vez que pretende transformar a sociedade e superar as
condições de dominação. No entanto, a maioria dessa classe ainda não se reconhece nessa ideologia, que está
imbuída no que Marx chama de falsa consciência ou ideologia das classes dominantes. Isso torna necessário um
longo processo de conscientização.
Nesse sentido, foram três as ideologias que orientaram o Serviço Social ao longo da história da profissão. Clique no
recurso a seguir para conhecer essas três ideologias.
Liberal
Presente na gênese da profissão.
Desenvolvimentista
Bastante influente na América Latina no início da segunda metade do século XX.
Revolucionária
Cuja base teórica é o marxismo.
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A seguir você acompanha cada uma dessas ideologias.
8.2.1 Liberal
O pensamento liberal surgiu no século XVII com John Locke, filósofo que questionou o regime absolutista,
defendeu a divisão dos poderes e lançou as bases para a Revolução Francesa. No século seguinte, Adam Smith
formulou o liberalismo econômico, defendendo a autorregulação do mercado, o que deu base para o
desenvolvimento do capitalismo. Smith acreditava que os mecanismos do mercado (que ele chamou de mão
invisível) permitiriam a gradual integração de todos, sem necessidade de intervenção do Estado.
No Serviço Social, especificamente, esse pensamento teve maior relevância antes do Movimento de
Reconceituação: o liberalismo era a ideologia que regia o Serviço Social tradicional. Faleiros (1997), ao analisar a
resolução do I Congresso Panamericano de Serviço Social, realizado em 1945, observou que a visão de mundo era
a-histórica e os conflitos sociais não eram considerados. Ou seja: a miséria e demais distorções sociais que (hoje
sabemos) são produtos do capitalismo, eram percebidas como fenômenos isolados e naturais.
Assim sendo, a prática do Serviço Social orientado por essa ideologia dava ênfase a uma suposta promoção do
bem-estar, que era vista como “uma das obrigações mais importantes do mundo do pós-guerra” (FALEIROS, 1997,
p. 33), denotando uma visão pautada no a-historicismo, no universalismo e no humanismo. Tratava-se, portanto,
de um bem-estar universal, que fazia uma referência abstrata a uma suposta necessidade do mundo pós-guerra,
sem nenhuma vinculação com a realidade social local, por isso a-histórica. Era humanista também porque partia
de uma suposta igualdade natural entre os homens, e entendia que aqueles que estavam em situação de pobreza
poderiam ascender socialmente caso se esforçassem.
Fonte: © Enrique Ramos / / Shutterstock.
A resolução do Congresso propunha o intercâmbio entre os Estados Unidos e os países da América Latina, trazendo
uma ideia de cooperação harmônica para que os países subdesenvolvidos alcançassem o nível de bem-estar dos
desenvolvidos, mistificando, assim, as relações de dominação imperialista. Além disso, propunha também a
colaboração entre os setores patronais e operários, numa clara mistificação das relações de exploração. Como
resumiu Faleiros (1997), a ideologia liberal no Serviço Social, na teoria e na prática, pode ser definida nos seguintes
elementos: promoção, bem-estar, humanismo, colaboração de classes.
156
8.2.2 Desenvolvimentista
A ideologia desenvolvimentista teve origem no contexto do pós-Segunda Guerra Mundial, em especial devido à
Guerra Fria, pois fazia parte da estratégia de consolidação da hegemonia estadunidense, e do capitalismo, em
contraposição à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e ao socialismo (PRADO, 2015).
Para Faleiros (1997), o desenvolvimentismo consistia em outra face da ideologia dominante, que trazia as ideias de
modernização, democratização, melhoria, desenvolvimento, técnica e planificação. Ao contrário do liberalismo,
preconizava a intervenção estatal no desenvolvimento econômico, sobretudo na industrialização e infraestrutura.
Para analisar a prática do Serviço Social cuja ideologia era desenvolvimentista, Faleiros usou a resolução do V
Congresso Panamericano de Serviço Social, realizado em 1965. No texto, os países latino-americanos eram vistos
como “em desenvolvimento”, e não mais “subdesenvolvidos”, como constava no texto de 1945. Assim, rompe-se
com a visão de uma sociedade estática, uma vez que o desenvolvimento é entendido como um processo de
crescimento, mas de forma gradual, etapista, sem mudanças bruscas.
Fonte: © Jirsak / / Shutterstock.
Tem-se, nessa concepção, a centralidade do Estado, que aparece como neutro. Isso mistifica a luta de classes, que
perpassao Estado. Os indivíduos são chamados a atuarem nos planos governamentais, denotando um apelo ao
consenso, o que tende a apassivar as lutas populares.
CONTEXTO
Cabe ressaltar que o desenvolvimentismo ocorreu no momento de abertura dos países latino-
americanos para o capital estrangeiro. Como observa Faleiros (1997), por isso era necessário
garantir o desenvolvimento social de forma pacífica e organizar as massas populares para a
mudança, sendo que estas se portariam de maneira passiva e subordinada às decisões vindas do
alto.
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Nesse contexto, as funções atribuídas ao Serviço Social eram, basicamente, reduzir as condições de conflito,
induzir a institucionalização da mudança e promover atitudes positivas para o desenvolvimento. Faleiros (1997)
avalia que essas funções demonstram que essa ideologia aceita a existência dos conflitos e a mudança, mas
pretende institucionalizá-los para controlar as contestações à ordem estabelecida.
8.2.3 Revolucionária
Uma ideologia revolucionária visa não apenas a mudança, mas a transformação radical das estruturas sociais,
políticas, econômicas e culturais. A burguesia, por exemplo, foi uma classe revolucionária, destruiu a velha ordem
feudal e se consolidou como a classe politicamente dominante. As revoluções burguesas marcaram essa virada no
plano político, mas elas só foram possíveis porque já vinha se gestando um processo de transformações
econômicas, sociais e culturais, no qual se consolidava a hegemonia burguesa.
Fonte: © Everett Historical / / Shutterstock.
Após figurar como a classe dominante, a burguesia se tornou conservadora, como forma de manter a ordem que
estabeleceu. Na atual ordem, portanto, os trabalhadores (sejam operários, camponeses, trabalhadores informais,
desempregados etc.) representam a classe revolucionária, pois são eles que passaram a ter interesse na
transformação societária, uma vez que o capitalismo os submete a relações de exploração e dominação, sem as
quais o próprio capitalismo não seria possível. O marxismo é, com efeito, a base teórica da ideologia
revolucionária.
Para abordar a influência da ideologia revolucionária no Serviço Social, Faleiros (1997) analisou o projeto da Escola
de Trabalho Social da Universidade Católica de Valparaíso (Chile), elaborado no âmbito da Reconceituação. Esse
projeto buscou estabelecer uma aliança entre o Serviço Social e as classes subalternas, exigindo da profissão a
explicitação de suas vinculações de classe.
Segundo o autor,
faz-se apelo ao homem dominado como classe e como um sujeito protagonista da transformação,
capaz de rejeitar a dominação, a submissão, a manipulação, no confronto com as classes dominantes e
em razão de sua situação estrutural nas relações de produção. A realidade é vista como luta de classes,
num processo histórico, de temporalização (FALEIROS, 1997, p. 41).
158
Percebe-se, pois, a denúncia do e a proposta de mudança (transformação) do sistema. Com isso,status quo 
podemos é possível notar a diferença substancial entre essa ideologia e aquelas vistas anteriormente. Para ficar
mais claro, observe o quadro abaixo:
Diferenças entre as ideologias do Serviço Social
Fonte: FALEIROS, 1997 (Adaptado).
Embora cada uma dessas três ideologias tenha predominado em determinada fase da história do Serviço Social,
elas coexistiram na maior parte do tempo. Por exemplo, enquanto alguns segmentos profissionais defendiam a
vinculação ao marxismo, outros discutiam pautas desenvolvimentistas, e outros, que ainda não haviam aderido à
Reconceituação, ainda desempenhavam práticas liberais. A ideologia revolucionária, especialmente, ganhou
destaque a partir do Movimento de Reconceituação e depois dele, mas não é possível afirmar que as outras
ideologias foram superadas no interior da profissão.
8.3 Sistematização do trabalho social
De acordo com Faleiros (1997), o Serviço Social está inserido no contexto da prática que implica as relações entre
os seres humanos e deles com o mundo, em sua recíproca transformação. Essas relações entre os seres humanos,
no entanto, não são harmônicas ou despossuídas de historicidade.
Fonte: © Grasko / / Shutterstock.
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Fonte: © Grasko / / Shutterstock.
Pelo contrário. Elas se inserem nas relações de classe próprias da sociedade capitalista. É nesse sentido que o
trabalho social deve ser entendido, uma vez que ele opera diretamente com esses homens e mulheres e suas
vivências permeadas pelas relações sociais de classe.
8.3.1 A construção de uma proposta metodológica de atuação
Quando falamos em organizar os trabalhadores para a luta política, ou conscientizar as classes subalternas sobre
as relações de dominação, talvez possa parecer que nos referimos a ações deslocadas dos espaços institucionais e
/ou atividades de palestras ou técnicas desse tipo. Não é disso que se trata. O assistente social pós-reconceituação
permanece atuando nos espaços institucionais, sobretudo estatais, e atendendo às diversas demandas que
chegam de diferentes formas e expressam as contradições da sociedade baseada na propriedade privada dos
meios de produção: capitalista.
Cabe ao profissional, portanto, relacionar a demanda que chega como algo imediato à realidade social,
entendendo, assim, que a aparência (a demanda primária) esconde uma essência (os determinantes sociais) que
precisa ser desvendada. Nesse sentido, não naturalizar as contradições sociais (que aparecem como injustiças),
como a miséria e o desemprego, por exemplo, é condição sine qua non para a execução de uma prática renovada,
distanciada do tradicionalismo profissional.
8.3.2 Ciência e técnica social
Faleiros (1997) aponta a existência de uma cisão entre ciência e técnica. Essa cisão deriva de uma concepção liberal
proveniente das profissões do século XIX, segundo a qual os cientistas se ocupam apenas da pesquisa, de forma
contemplativa, sem exercer nenhum trabalho prático, enquanto os técnicos são os executores, aqueles que
solucionam problemas específicos. Ela também se faz presente no Serviço Social opondo aqueles que
consideravam a profissão como uma tecnologia frente aos que a consideram uma etapa científica.
Uma crítica a essa separação vem das ciências sociais. Segundo essa crítica, “o técnico introduz na prática ou deve
introduzir elementos teóricos. A elaboração de teorias faz-se a partir da prática, de uma atuação controlada dentro
de um marco referencial global, a partir de conceitos e também de referências ideológicas” (FALEIROS, 1997, p. 86).
O autor concorda com tal crítica, enfatizando que prática e teoria dependem uma da outra.
Por isso, Faleiros (1997) demonstrou preocupação com a predominância dos modelos tecnocráticos no trabalho do
Serviço Social nas instituições. Para ele, a desvinculação da teoria impede a apreensão da realidade social, e é
somente a observância desta que pode gerar a crítica, no interior da profissão, à própria atuação. A falta dessa
autocrítica consiste, assim, em um entrave à necessária renovação profissional.
8.3.3 A ação profissional, atores e a estrutura
Alguns aspectos determinam a ação profissional, como o caráter científico, o desenvolvimento das políticas sociais
no Estado capitalista e a correlação das forças sociais. De acordo com Faleiros (1997), é na prática cotidiana, ainda
que esta se dê no âmbito de velhas atribuições do Serviço Social tradicional (como a gerência de recursos), que se
deve produzir a reflexão teórica. Ao se identificar contradições específicas de cada problemática, o profissional
deve relacioná-las às contradições globais resultantes do processo histórico.
160
Os protagonistas dessas ações consistem nos assistentes sociais que, ao contrário do que apregoam certas análises
(funcionalistas/neopositivistas), não devem ser vistos como profissionais desinteressados/as, altruístas ou simples
executores/as. Tampouco são indivíduos sem nenhuma autonomia, presos às estruturas (como acreditam os
estruturalistas). Dessa forma,
há que combinar na análise e na ação as determinações estruturais e as possibilidades coletivase
individuais, pois a história se constrói na luta determinada pelas contradições objetivas, mas
aprofundadas pelas organizações, pelas mobilizações das lutas sociais em suas respectivas estratégias
e táticas (FALEIROS, 1997, p. 95).
Ainda segundo o autor, é a análise constante, no cotidiano profissional, que vai permitir o desvelamento de atores
e contradições. Buscando demonstrar como se dá efetivamente o processo de trabalho na perspectiva que adota,
ele elaborou o esquema a seguir:
Processo de trabalho do Serviço Social
Fonte: FALEIROS, 1997 (Adaptado).
161
O autor alerta, porém, que essa ilustração serve apenas como exemplo, e não como um esquema rígido. Isso
porque, ao se basear na realidade social, que é dinâmica, o trabalho social também deve ser dinâmico e estar
atento às mudanças que se dão permanentemente, tanto no interior do Estado propriamente dito, quanto no seio
das classes trabalhadoras e na correlação de forças entre as classes. Aliás, é por meio dessa observação, que o
Serviço Social desenvolve novas propostas, formula uma autocrítica e se renova, de forma dialética, conforme
podemos observar no esquema de Faleiros (1997).
8.4 Aplicação da teoria reconceituada
Embora tivesse um cunho ideológico notadamente liberal, o Serviço Social pré-reconceituação era
predominantemente empirista, dando ênfase à experiência em detrimento da ciência. Dessa forma, era tecnicista,
atribuindo relevância para as práticas puramente executoras, e demonstrando pouca ou nenhuma preocupação
com a teoria.
A Reconceituação contribuiu, assim, para desenvolver uma base teórico-metodológica sólida para a profissão, cujo
arcabouço é a dialética materialista. Precisamente por isso, como aponta Faleiros (1997), o eixo de preocupação do
Serviço Social se deslocou das situações individuais para uma visão política da intervenção.
8.4.1 O assistente social como intelectual orgânico
O teórico marxista italiano Antonio Gramsci é o responsável pela categoria de intelectual orgânico. Para ele,
embora todos os homens e mulheres sejam intelectuais, nem todos exercem essa função na sociedade, da mesma
forma que nem todos que fritam um ovo ou costuram um buraco em um paletó são cozinheiros ou costureiros
(GRAMSCI, 2011, p. 206).
Assim, formam-se, historicamente, categorias especializadas para o desempenho dessa função no interior de
grupos específicos, instituições ou corporações. Tratam-se de intelectuais tradicionais, que expressam interesses
particulares desses grupos. Clique nos ícones e confira alguns exemplos de intelectuais tradicionais.
Eclesiásticos.
Administradores.
Cientistas.
Teóricos etc.
162
Fonte: © Rawpixel.com / / Shutterstock.
O intelectual orgânico, por sua vez, é aquele que tem origem no interior de uma classe social e permanece
vinculado a ela defendendo seus interesses no sentido de disputar a hegemonia no seio da sociedade. Dessa forma,
pode-se definir um intelectual orgânico como o porta-voz de uma classe na luta política. Quanto mais intelectuais
orgânicos essa classe é capaz de elaborar, mais condições ela tem de disputar a hegemonia, embora a quantidade
não deva ser destacada da qualidade, como pondera o próprio Gramsci (2011, p. 207).
É nesse sentido, considerando a Reconceituação do Serviço Social e a adoção da teoria dialética e da ideologia 
revolucionária, que o assistente social pode ser considerado um intelectual orgânico da classe trabalhadora. Suas
ações visam, dessa forma, elucidar os trabalhadores acerca das contradições do capitalismo e propor formas de
enfrentamento e luta. Mas ao contrário do que possa parecer, essas ações não devem se confundir com militância
político-partidária. Elas ocorrem no cotidiano profissional, em atividades que visam conscientizar a população
usuária acerca de seus direitos e dos fatores que impedem o seu acesso e a sua ampliação.
8.4.2 O profissional como sujeito da história
Como visto, embora as estruturas sejam fator importante e devam ser consideradas, existem possibilidades de
transformação social. Todavia, essas possibilidades dependem de condições objetivas (ligadas à conjuntura
político-social) e subjetivas (ligadas à consciência de classe). Assim sendo, as ações dos assistentes sociais não
visam organizar a classe trabalhadora para a revolução imediata. Tal concepção fez parte de um momento da
história da profissão e ficou ultrapassada devido ao seu idealismo.
ESCLARECIMENTO
Segundo Gramsci (2011), hegemonia é uma ação de classe, mais precisamente o conjunto dos
elementos culturais que permitem a dominação da classe burguesa. O proletariado precisa, pois,
construir uma contra-hegemonia para se libertar dessa dominação.
163
Dessa forma, o profissional de Serviço Social que tem como base a teoria reconceituada realiza intervenção com
vistas ao desenvolvimento de processos capazes de contribuir para acesso e ampliação dos direitos sociais. Ele
possui, frente à população atendida nos diversos espaços de trabalho, uma postura de não naturalização da
miséria e outras injustiças sociais que atingem essas pessoas. Ao contrário, essas distorções sociais consistem em
produtos de um sistema que depende da miséria para se manter. Com isso, o profissional contribui para a disputa
hegemônica e para a mudança, a longo prazo, da correlação de forças.
Proposta de atividade
Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu nesse capítulo! Elabore uma síntese destacando as
principais ideias abordadas ao longo do texto. Ao produzir o material, considere as leituras básicas e
complementares realizadas.
Recapitulando
Ao longo deste capítulo, vimos que o Serviço Social recebia influência da ideologia liberal, mas isso mudou com a
Reconceituação, contexto em que a ideologia revolucionária, cuja base teórica é o marxismo, passou a predominar
no interior da profissão. No entanto, houve um momento de polarização entre esta tendência profissional e a
desenvolvimentista.
Vimos também que o Serviço Social, ao se fundamentar na teoria dialética, enfatizou a importância da ciência e da
articulação entre teoria e prática. Isso fez com que a profissão reformulasse a sua metodologia de modo a
considerar as contradições de classe no processo de intervenção profissional, em detrimento dos problemas
individuais, como acontecia no Serviço Social tradicional. Dessa forma, ao se vincular à defesa dos interesses da
classe trabalhadora, os/as assistentes sociais podem ser considerados intelectuais orgânicos e sujeitos da história.
Referências
COUTINHO, C. N. (Org.). : escritos escolhidos 1916-1935. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,O leitor de Gramsci
2011.
FALEIROS, V. P. . 9 ed. São Paulo: Cortez, 1997.Metodologia e ideologia do trabalho social
KONDER, L. . 28 ed. São Paulo: Brasiliense, 2008.O que é dialética
PAUSA PARA REFLETIR
Então, qual é o objetivo da atuação profissional nesse contexto?
164
LOPES, J. B. . 2 ed. São Paulo: Cortez, 1980.Objeto e especificidade do Serviço Social a
MARX, K. . São Paulo: Boitempo, 2011.O 18 Brumário de Luis Bonaparte
MARX, K. São Paulo: Conrad, 2004.Teses sobre Feuerbach.
MARX, K.; ENGELS, F. . São Paulo: Martins Fontes, 1989.A ideologia alemã
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NETTO, J. P. : uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. 11 ed. São Paulo: Cortez,Ditadura e serviço social a
2007.
PRADO, F. C. . 2015.A ideologia do desenvolvimento e a controvérsia da dependência no Brasil contemporâneo
Tese (Doutorado em Economia) – Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.ie.ufrj.br/images/pos-graducao/pepi
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TURIN, R. Método dialético. In. TEIXEIRA, F. C. . . Rio de Janeiro: Fundaçãoet al Metodologia da pesquisa histórica
CECIERJ, 2014.
165
http://www.ie.ufrj.br/images/pos-graducao/pepi/dissertacoes/Fernando_Correa_Prado.pdf
http://www.ie.ufrj.br/images/pos-graducao/pepi/dissertacoes/Fernando_Correa_Prado.pdfFUNDAMENTOS DO SERVIÇO SOCIAL: 
MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO NA 
AMÉRICA LATINA E BRASIL
CAPÍTULO 5 - EXPRESSÕES DO MOVIMENTO 
DE RECONCEITUAÇÃO NO BRASIL
Micaela Alves Rocha da Costa
98
Objetivos do capítulo
Ao final deste capítulo, você será capaz de:
• Reconhecer as características da reconceituação no Brasil.
• Identificar a influência marxista nas propostas teórico-metodológicas do Serviço Social.
Tópicos de estudo
• Características da reconceituação no Brasil.
• Reconceituação brasileira.
• Bases sócio-políticas.
• Intenção de ruptura.
• Proposta metodológica da Intenção de Ruptura.
• Influência da teoria marxista na construção da metodologia.
• Belo Horizonte: uma proposta alternativa.
• Crítica ao método Belo Horizonte (BH).
Contextualizando o cenário
O Movimento de Reconceituação no Brasil é atravessado por uma complexa conjuntura política que o acompanha
desde a consolidação e a erosão dos pilares da ditadura militar (a partir de 1964) até a redemocratização do regime
político (1985 em diante), provocando um redirecionamento do Serviço Social, seja na formação ou no exercício
profissional.
Dentre as diversas expressões surgiram a partir do Movimento de Reconceituação, a vertente chamada intenção de
ruptura assinala um novo período histórico em que a luta de classes e a articulação com a classe trabalhadora se
destacam enquanto elementos importantes para a profissão, resultante do diálogo com a teoria social crítica. É
neste período que o método Belo Horizonte se difunde entre a categoria de assistentes sociais e se constitui um
marco para a profissão.
A partir destas reflexões, questiona-se: quais consequências o Movimento de Reconceituação provocou no Serviço
Social brasileiro contemporâneo?
5.1 Movimento de Reconceituação
O Movimento de Reconceituação é um marco histórico no Serviço Social. Como já vimos nos capítulos anteriores,
ele determinou o rompimento com as e sinalizou um novo tempo de discussão ebases do conservadorismo
fomento de novas bases teóricas para a profissão no que diz respeito à formação e ao exercício profissional do
assistente social. Esse processo ocorreu na América Latina a partir da década de 1960 e simboliza um período de
crítica e resistência da categoria.
No Brasil, o Movimento de Reconceituação foi acompanhado por uma conjuntura política em que a censura e a
perseguição política, traços históricos da ditadura militar, ainda eram vigentes. Isso fez com que ele ocorresse de
forma tardia em relação ao restante do contexto latino-americano.
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99
Neste capítulo, estudaremos as duas vertentes do Movimento de Reconceituação no país e as suas implicações
para a profissão e aprofundaremos a leitura sobre a terceira vertente.
5.1.1 Reconceituação brasileira
A erosão do Serviço Social tradicional, o questionamento de suas bases teóricas conservadoras e pragmáticas e a
influência do pensamento social crítico foram construídos coletivamente pela categoria de assistentes sociais
latino americanos que inauguraram um novo período histórico para a profissão: o Movimento de Reconceituação.
Esse movimento, segundo Lopes (2016, p. 238), “foi fundamental na formação da consciência crítica e de uma nova
cultura dos profissionais de Serviço Social, em torno de questões cruciais do exercício da profissão nas sociedades
dependentes e profundamente desiguais da América Latina”.
A partir de 1965, em uma conjuntura política demarcada por ajustes econômicos oriundos da expansão capitalista -
com consequências negativas para os países latino-americanos e o fortalecimento de movimentos sociais -, o
Movimento de Reconceituação passou a ser discutido de forma crítica por parte da categoria profissional. Todavia,
os impactos dessa luta coletiva chegaram ao Brasil apenas na década seguinte.
Os motivos da adesão tardia se justificam pela conjuntura política no país: a ditadura militar brasileira foi
responsável por dificultar, por meios coercivos e controladores, os desdobramentos críticos e combativos do
Movimento de Reconceituação. Por isso, as ideias de reformulação demoraram a entrar no país.
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ESCLARECIMENTO
O Serviço Social tradicional deve ser entendido, neste contexto, como a formação e o exercício
profissional embasados a partir de um viés moralista e de controle das famílias e dos indivíduos.
Tudo isso com influências teóricas cristãs e da teoria positivista.
100
Quando aconteceu, no entanto, o movimento se desenvolveu em três vertentes principais, conforme aponta Netto
(2007): a perspectiva modernizadora, a perspectiva de reatualização do conservadorismo e a perspectiva de
intenção de ruptura. 
Diagrama sobre as perspectivas do Movimento de Reconceituação no Brasil
A primeira vertente, chamada de , foi elaborada no marco dos processos doperspectiva modernizadora
desenvolvimento capitalista pós-1964. O objetivo era adequar o perfil tecnocrático da profissão para fomentar o
desenvolvimento capitalista e aceitar o golpe militar de forma incontestável.
Na prática, portanto, ela reforçava uma leitura profissional pautada no pragmatismo e na reiteração de práticas
profissionais conservadoras que já não respondiam à complexa conjuntura política da época. De acordo com Netto
(2007), a vertente modernizadora buscou inserir os valores profissionais em uma intervenção pautada em um viés
mais “moderno”, superando a debilidade da atuação profissional de outrora, oriunda do tradicionalismo. Esse
direcionamento, agregado ao fato de que a ditadura militar possibilitou a abertura de espaços sócio ocupacionais,
faz com que o Serviço Social aceite o golpe de abril de 1964 sem questionamentos, mesmo incorporando uma
roupagem modernizadora. A maior expressão deste período, o documento de Araxá, será abordado mais adiante.
Fonte: © Lightspring / / Shutterstock.
101
Essa vertente, no entanto, começou a perder espaço a partir da consolidação da ditadura militar em meados da
década de 1970, devido ao seu conteúdo de caráter reformista que ia de encontro ao tradicionalismo defendido
por segmentos profissionais e pelo traço conservador que era questionado pelos setores mais críticos da profissão.
Assim, frente a uma conjuntura de mudanças evidenciadas a partir dessa crise da ditadura militar, o Serviço Social
brasileiro se movimenta para a segunda vertente chamada de perspectiva de .reatualização do conservadorismo
Segundo Netto (2007, p. 157), ela “recupera os componentes mais estratificados da herança histórica e
conservadora da profissão nos domínios da (auto)representação e da prática, e os repõe sobre uma nova base
teórico-metodológica que se reclama nova”.
A perspectiva de reatualização do conservadorismo aproveita o momento político para repudiar a herança da
teoria positivista do Serviço Social tradicional, já questionada por parte da categoria de assistentes sociais. Além
disso, também passa a rechaçar as aproximações com os referenciais teóricos do pensamento crítico, que ganhava
respaldo perante as lutas sociais lideradas pelos movimentos populares da época. Esse contexto acabou
configurando o surgimento da terceira vertente, conforme veremos em breve.
Dessa forma, a perspectiva de reatualização do conservadorismo era pautada em um viés psicossocial e atendia a
dimensão da subjetividade. De acordo com Netto (2007, p.158),
em nome da “compreensão”, dissolvem- se quaisquer possibilidades de uma análise rigorosa e crítica
das realidades macrossocietárias e, derivadamente, de intervenções profissionais que possam ser
parametradas e avaliadas por critérios teóricos e sociais objetivos.
Ou seja: o viés de ajuda psicossocial enfatizava ainda mais o pensamento tradicional, destituindo o Serviço Social
de uma análise objetiva e reiterando o conservadorismo presente no regime militar. Embora tenha sido
importante, a perspectiva de reatualização do conservadorismo não incitou polêmicas e maiores debates na
categoria profissional.
Foi nesse contexto que surgiu a terceira vertente do Movimento de Reconceituação,a perspectiva de intenção de
ruptura, que, devido à sua importância nos estudos do Serviço Social, será trabalhada mais adiante.
5.1.2 Bases sócio-políticas
A formulação dessas vertentes teve como base teórica produções intelectuais que fundamentavam a direção
política, dando embasamento a ela. Construídos por assistentes sociais de diversas concepções políticas, esses
documentos expressavam as perspectivas adotadas pelos profissionais da época.
As bases teóricas da vertente modernizadora foram discutidas e formuladas coletivamente no I Seminário de
Teorização do Serviço Social, organizado pelo Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais
(CBCISS), em 1967, na cidade de Araxá (MG). Na ocasião, todas as reflexões feitas pelos assistentes sociais foram
sistematizadas no chamado documento de Araxá.
Esse documento versava sobre o exercício profissional do assistente social em seu cotidiano, reiterando a sua ação
pragmática. De acordo com Netto (2007, p. 168),
a reposição de traços históricos da prática profissional (atuação microssocial “junto a indivíduos com
desajustamentos familiares e sociais”, só acidentalmente derivados de “estruturas sociais
inadequadas”) num marco macrossocietário, o “processo de desenvolvimento” (NETTO, 2007, p.168).
Deste modo, a intervenção profissional obedece a lógica da conjuntura política daquele período, quando o
desenvolvimentismo ainda reverberava nas ações do governo militar.
102
O conservadorismo presente por meio do ajustamento dos indivíduos e famílias reforça as bases tradicionais do
Serviço Social, ainda que disfarçado em um viés mais moderno. Conforme aponta Netto (2007, p. 168), “não há
rompimento: há a captura do ‘tradicional’ sobre essas novas bases”.
Os limites encontrados no documento de Araxá implicam em um exercício profissional pautado no deslocamento
entre o pensamento neotomista (movimento filosófico, inspirado em São Tomás de Aquino que objetivava superar
as contradições entre a fé e a razão) para o positivismo (teoria sociológica que reconhece o conhecimento
científico como verdadeiro, renegando os princípios da teologia ou metafísico). Ou seja: vai de uma visão pautada
na fé cristã e na filosofia para uma análise que considera a centralidade de ações sociais na configuração da
sociedade, sem se debruçar sobre a causa que as determinam.
Diagrama sobre a vertente modernizadora e sua influência teórica preponderante
Na segunda edição do Seminário de Teorização da profissão, que ocorreu em 1970 na cidade de Teresópolis (RJ),
os assistentes sociais puderam aperfeiçoar as reflexões oriundas do documento de Araxá. Esse encontro resultou
no documento de Teresópolis. De acordo com Netto (2007, p.190),
o avanço que se processa nas reflexões de Teresópolis é inequívoco, se se considera que, na
perspectiva afirmada em Araxá, urgia conferir à profissão indicadores, pautas e referenciais que
normativizassem o seu desempenho de modo a enquadrá-lo nas lógicas operativas dos aparatos
institucional-organizacionais a que ela se alocava.
A máxima do documento de Teresópolis se dá por meio do incentivo a práticas voltadas para a classificação e
categorização de situações sociais-problema e a definição de procedimentos técnico-operativos para enfrentá-las
(Netto, 2007). Isso significa que o papel do assistente social neste período era voltado para fomentar o
desenvolvimento capitalista, por meio de uma intervenção pragmática e de forma a consolidar a ação profissional
na vertente modernizadora. Um dos principais nomes deste período de elaboração sobre o documento de
Teresópolis é José Lucena Dantas que foi responsável por fortalecer a vertente modernizadora.
A partir das elaborações teóricas realizadas, outras contribuições também ajudaram a enriquecer o Serviço Social
brasileiro. Os seminários realizados pelo CBCISS no Centro de Estudos do Sumaré (em 1978) e no Alto da Boa Vista
CURIOSIDADE
José Lucena Dantas foi autor do ensaio A teoria metodológica do Serviço Social: uma abordagem
, publicado em 1978, e que, segundo Netto (2007), foi a obra que mais representou osistemática
direcionamento político da perspectiva modernizadora.
103
(em 1984) são exemplos disso. Esses dois eventos que discutiram a metodologia do Serviço Social indicaram um
movimento de abertura a outras referências teóricas que faziam oposição aos setores mais conservadores da
profissão e que eram oriundos da crise política da ditadura militar.
Fonte: © lolloj / / Shutterstock.
Neste período, a partir de 1975, a categoria profissional se mostrava mais diversificada e aberta ao debate teórico
no Serviço Social, com influências oriundas das lutas travadas no contexto latino-americano de Reconceituação.
Todavia, a carência teórica não foi suficiente para possibilitar o diálogo desses grupos com as vanguardas oriundas
dos documentos de Araxá e Teresópolis neste momento. 
É a partir deste contexto que os setores mais conservadores da profissão buscaram se fortalecer a partir da
vertente de reatualização do conservadorismo nos espaços da categoria profissional que se encontravam mais
inflexíveis às mudanças do período histórico. De acordo com Netto (2007, p. 157), “esta perspectiva se faz legatária
das características que conferiram à profissão o traço microscópico da sua intervenção e a subordinaram a uma
visão de mundo derivada do pensamento católico tradicional”, ressaltando um caráter de modernidade, ausente
no tradicionalismo da vertente anterior. O descrédito oriundo do caráter positivista possibilita que a reatualização
conservadora possa se fortalecer a partir de matrizes teóricas mais sofisticadas (Netto, 2007).
Com isso, os representantes desta perspectiva defendem dois objetivos apoiados na ética cristã: uma visão de
mundo embasada a partir da compreensão homem e mundo, com base em uma fenomenologia existencial, e a
PAUSA PARA REFLETIR
Qual foi a importância do Seminário de Teorização do Serviço Social para a vertente
modernizadora?
104
transformação social. Neste sentido, a influência do pensamento fenomenológico é significativa na vertente
reatualização do conservadorismo, visto que o viés de ajuda psicossocial se sobrepõe a análises rigorosas de
caráter macrossocietário. Ou seja: pautado em um viés que contemple a complexidade da sociedade.
É importante lembrar que a fenomenologia é uma corrente filosófica que considera a importância dos fenômenos
na consciência dos indivíduos. Em outras palavras, tem uma direção psicologizante e subjetivista quando utilizada
no âmbito do Serviço Social. Na prática, isso se dá, por exemplo, quando o profissional faz a análise da realidade
social e considera as manifestações psicológicas oriundas das expressões da questão social na personalidade dos
usuários das políticas sociais.
Diagrama sobre a vertente de reatualização do conservadorismo e sua influência teórica preponderante
Assim, a vertente de reatualização do conservadorismo reforçou os pilares do conservadorismo na profissão, sem
conseguir modificar substancialmente sua instrumentalidade.
As discussões e elaborações teóricas da categoria de assistentes sociais permaneceram em desenvolvimento no
Serviço Social brasileiro durante o final da década de 1970 e início dos anos 1980. A vertente de intenção de ruptura
vem contribuir com a profissão, conforme veremos a seguir.
5.2 Intenção de ruptura
Conforme vimos, as vertentes modernizadora e de reatualização do conservadorismo suscitaram debates
importantes sobre a metodologia da profissão, direcionando o processo de formação e da prática profissional de
acordo com teorias propostas.
Além delas, no entanto, o Movimento de Reconceituação também teve a contribuição de uma perspectiva: a
intenção de ruptura. Diferente das demais, essa nova visão colocou em cena exatamente a literalidade do seu
conceito. Ou seja: tinha a intenção de romper com as ideias anteriores e, para isso, contava com a influência do
pensamento social crítico atuando junto à defesa dos interesses da classe trabalhadora. Uma de suasmaiores
expressões é o chamado Método Belo Horizonte.
5.2.1 Proposta metodológica da intenção de ruptura
A vertente de intenção de ruptura emerge no espaço universitário a partir de 1975. Seu surgimento é motivado pela
organização de setores críticos da profissão frente à aproximação das camadas populares e do descrédito das
vertentes anteriores.
Esta nova vertente, segundo Netto (2007, p.159), “manifesta a pretensão de romper quer com a herança teórico-
metodológica do pensamento conservador (a tradição positivista), quer com os seus paradigmas de intervenção
social (o reformismo conservador)”. Ou seja: seu caráter é de uma crítica sistemática ao conservadorismo presente
no Serviço Social, defendido pelas vertentes já assinaladas.
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Fonte: © Mmaxer / / Shutterstock.
Diversos fatores possibilitaram os desdobramentos dessa intenção de ruptura no Serviço Social brasileiro. Os
principais envolvem a crítica às ciências sociais acadêmicas; as condições de trabalho da categoria profissional na
crise econômica que se arrastava no regime ditatorial, a aproximação com a classe trabalhadora, as lutas
engajadas pelo movimento estudantil contra a ditadura militar e a conjuntura política que se desenvolveu com o
fim do regime autoritário e as reivindicações a favor da redemocratização do país, que envolveram um grande
contingente da população no início da década de 1980 (Netto, 2007).
A influência da organização política dos docentes, profissionais e estudantes de Serviço Social inseridos na
universidade pública neste período foi um polo resistência importante contra a censura e truculência oriunda do AI-
5.
Mesmo com limites, a organização política dentro da universidade encontrou estratégias e táticas, por meio da
articulação com profissionais, estudantes e setores populares, para dar continuidade à elaboração teórica e
política que questionava o conservadorismo da profissão.
5.2.2 Influência da teoria marxista na construção da metodologia
A influência das lutas sociais organizadas no contexto latino-americano durante o processo de reconceituação
trouxe reflexões importantes que foram incorporadas pela vertente de intenção de ruptura e que permitiram aos
assistentes sociais um novo modo de compreender a realidade em sua complexidade. A perspectiva teórica que foi
preponderante para o desenvolvimento de um perfil crítico na categoria profissional foi o pensamento marxista,
em razão da influência de docentes e profissionais inseridos no espaço universitário e da configuração como um
pensamento que fornecia as bases para a ruptura com o tradicionalismo na profissão.
Diagrama sobre a vertente de reatualização do conservadorismo e sua influência teórica preponderante
106
Diagrama sobre a vertente de reatualização do conservadorismo e sua influência teórica preponderante
O trabalho realizado por professores inseridos no âmbito da formação universitária corroborou com a influência da
teoria marxista (ou teoria social crítica) na construção da vertente da intenção de ruptura, pois, de acordo com
Netto (2007, p. 249),
a importância da efetiva inserção dos cursos de Serviço Social no circuito acadêmico – mais
exatamente: a inscrição da formação (graduação e pós-graduação) do assistente social no âmbito
universitário – foi avaliada por nós como um dos vetores mais significativos que intervieram de forma
decisiva no processo de renovação da profissão no Brasil.
O surgimento dessa vertente intenção de ruptura na universidade se deve ao clima de instabilidade a que os
assistentes sociais de base estavam expostos devido à censura e à repressão oriundas do regime militar em seus
espaços sócio-ocupacionais.
A prática política fragmentada e clandestina eram expressões de resistência dos setores da esquerda para driblar o
isolamento político determinado a eles pelo regime militar. No caso da universidade pública, essas ações de
controle e violência também eram aplicadas; todavia, este espaço se configurava menos adverso para a elaboração
de propostas de rompimento (Netto, 2007).
Fonte: © MarclSchauer / / Shutterstock.
Por esses motivos, a vertente de intenção de ruptura foi gestada no âmbito acadêmico e posteriormente pôde
romper os muros da universidade e se espraiar pelos diversos espaços de trabalho onde estava inserida a categoria
de assistentes sociais. Essa difusão se deu por meio da atuação profissional na área da assistência social, como a
Legião Brasileira de Assistência (LBA), por exemplo, e de prefeituras e agências prestadoras de serviços, conforme
aponta Batistoni (2017).
Neste contexto questionador e crítico, a categoria profissional empenhou-se na construção de alternativas
metodológicas que pudessem contemplar a análise complexa da realidade e das relações sociais. Uma das
expressões mais significativas deste período foi o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), chamado
de Congresso da Virada, que ocorreu em 1979 em São Paulo e rompeu com o direcionamento conservador na
vanguarda do Serviço Social que organizava o evento. O Congresso da Virada recebeu esse nome, pois os
107
assistentes sociais de base reverteram o caráter conservador do evento, comumente marcado por representações
da burguesia e militares. No lugar disso, foram inseridas representações sindicais e movimentos sociais que
ajudaram a deliberar o compromisso político coletivo com a classe trabalhadora.
Mas além do Congresso da Virada, outras manifestações foram construídas coletivamente para driblar esse
momento. E um exemplo importante disso foi o chamado Método Belo Horizonte.
5.2.3 Método Belo Horizonte: uma proposta alternativa
Durante o regime ditatorial, a Escola de Serviço Social (ESS) da Universidade Católica de Minas Gerais (UCMG) foi
um importante espaço de resistência e luta frente às ações do regime, visto que sediava posturas, pensamentos e
forças contrárias a ele. Dessa forma, esse ambiente se configurou como um lócus fértil para a elaboração da
vertente da intenção de ruptura.
Com as greves operárias ocorridas na região mineira, que inspiraram a categoria profissional de docentes,
profissionais e estudantes, a ESS/UCMG, possibilitava o protagonismo político destes sujeitos, fomentando a
criação de espaços de resistência política e intelectual às ordens do regime militar.
É neste contexto que as docentes da ESS/UCMG possibilitaram um projeto de formação e exercício profissional
com vistas a romper com o tradicionalismo na profissão (Batistoni, 2017). A equipe liderada por essas profissionais
tinha acumulado experiências oriundas do Serviço Social Rural, do Movimento de Educação de Base (MEB) e
práticas do desenvolvimento de comunidade desde a década de 1950, reunindo vivências significativas acerca da
erosão do Serviço Social tradicional.
Como sabemos, essas experiências são oriundas do período do desenvolvimentismo, do governo de João Goulart
(1961-1964), em que as reformas de base eram uma reivindicação da classe trabalhadora e uma ameaça aos
interesses dos setores dominantes.
Desde então, o conservadorismo assinalado pelo Serviço Social de caráter tradicional já era questionado por
alguns grupos de assistentes sociais ainda que de forma incipiente. Ou seja: esse questionamento já vinha sendo
refletido e gestado pela categoria profissional.
Além disso, outras áreas, docente de outras como a Filosofia, a Sociologia e as Ciências Políticas, por exemplo,
também foram incorporados à ESS/UCMG e contribuíram para fomentar as referências teóricas do pensamento
social clássico e a crítica à sociedade capitalista brasileira dependente (Batistoni, 2017). 
DICA
Leia o livro , produzido pelo Conselho Federal de Serviço Social,30 anos do Congresso da Virada
que narra as contribuições significativas do período e dos profissionais que vivenciaram o
momento. Para ter acesso, clique em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/CFESS-
>. CongressodaVirada-Site.pdf
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http://www.cfess.org.br/arquivos/CFESS-CongressodaVirada-Site.pdf
http://www.cfess.org.br/arquivos/CFESS-CongressodaVirada-Site.pdfFonte: © estudio Maia / / Shutterstock.
Toda a experiência angariada neste período foi de fundamental importância para a construção de uma alternativa
crítica no Movimento de Reconceituação. E assim surgiu o chamado Método Belo Horizonte, que recebeu essa
nomenclatura com referência à capital mineira: a partir do acúmulo teórico e prático adquirido pelas docentes da
ESS/UCMG na tentativa de enfrentar o conservadorismo do Serviço Social.
De acordo com Netto (2007, p. 278), “os formuladores de Belo Horizonte expressam a base ideopolítica da sua
projeção, rechaçando qualquer postura asséptica ou transclassista, ao definirem seu objeto e objetivos”.
109
O Método Belo Horizonte criticava, por exemplo, as versões do Serviço Social tradicional e as vertentes
conservadoras praticadas até então. Tais críticas circundavam, basicamente, em relação as seguintes dimensões.
Clique na interação para conhecê-las.
Dimensão
ideopolítica
Que diz respeito à forma de pensar e ao direcionamento político que o pensamento
obedece. O Método BH considerava, por exemplo, que a suposta neutralidade beneficiava,
na verdade, apenas uma classe com interesses específicos (no caso, a classe dominante).
Dimensão
teórico-
metodológica
Segundo as docentes, a fragmentação da realidade, quando motivada por uma visão
microscópica, promove a separação entre sujeito e objeto.
Dimensão
operativo-
funcional
Que está relacionada à forma de execução de determinadas ações. Neste caso, o Método BH
visava uma ação pautada na eliminação de disfunções e condutas consideradas desviadas,
sem um olhar que delimitasse o exercício profissional (Netto, 2007).
A partir desta crítica, o propósito do Método BH visava a transformação da sociedade e dos indivíduos por meio de
três pilares de um experimento: a conscientização, a capacitação e a organização. Esses três pilares, de acordo com
Santos (1982), eram baseados em sete etapas que buscavam a referida transformação social.
PAUSA PARA REFLETIR
Qual a relação do Método Belo Horizonte com o processo de politização da categoria profissional
e o rompimento com uma suposta neutralidade?
110
Tabela sobre as etapas do Método BH
Fonte: SANTOS, 1982 (Adaptado).
Dentre os principais avanços trazidos pelo método, podemos destacar a mobilização da população por meio da
intervenção social, possibilitando uma prática investigativa e crítica, que, além disso, também fomentava a
organização dos setores populares.
5.2.4 Crítica ao método de Belo Horizonte (BH)
Embora as contribuições do método BH à vertente de intenção de ruptura tenham sido de fundamental
importância para a construção de uma alternativa crítica ao Serviço Social brasileiro, alguns limites se colocaram
nesta perspectiva, no que se refere à dimensão teórico-metodológica.
Assim, a primeira crítica ao método BH diz respeito à apropriação do pensamento crítico realizada de modo
superficial, o que levou a uma ideia de “um marxismo sem Marx”. De acordo com Batistoni (2017, p.145),
a formulação da estrutura teórico-metodológica proposta no “método BH” [...] parte de uma reflexão
epistemológica (dirigida para a relação teoria prática) e apresenta-se com formalismos e empirismos
típicos da teoria da vulgarização marxista através de manuais, incorrendo em forte ecletismo.
Outro limite envolve a renovação teórica esperada no final do Método BH. De acordo com a expectativa gerada por
seus formuladores, ele teria sido foi insuficiente. Isso porque as referências teóricas que serviram de base seriam
111
enriquecidas por meio da prática profissional ao final do período, levando a um movimento contínuo acerca da
contribuição teórica. Todavia, não houve esse resultado, que teria motivado inclusive, a defasagem na apreensão
teórica já assinalada anteriormente.
Fonte: © Ohmega1982 / / Shutterstock.
Para Netto (2007), tais críticas dadas ao Método BH para o Serviço Social brasileiro indicam uma contaminação
positivista na prática profissional, visto o distanciamento das leituras de inspiração marxista e a tentativa de
aproximação com um viés científico por meio do mero metodologismo expresso em suas etapas. Para tanto, 
assim é que o “Método de Belo Horizonte”, combinando o formalismo e o empirismo na sua redução
epistemológica da práxis, estabelece vínculos iluministas entre concepção teórica e intervenção
profissional, deforma as efetivas relações entre teoria, método e prática profissional e simplifica
indevidamente as mediações entre profissão e sociedade (NETTO, 2007, p.288).
Com base nos limites postos e pelas próprias dificuldades oriundas do período, o método Belo Horizonte não
conseguiu alcançar, de maneira efetiva, a transformação dos indivíduos e da sociedade. Contudo, é importante
ressaltar seu valor para categoria profissional naquele período histórico e a sua contribuição para os rumos
profissionais contemporâneos.
Mesmo com essa limitação no âmbito metodológico, no entanto, o Método BH pôde contribuir com a vertente de
intenção de ruptura, que, a partir da década de 1990, levou a categoria profissional a repensar a formação e o
exercício (comprometidos com uma perspectiva crítica da realidade) e a romper com o tradicionalismo outrora
presente nas vanguardas de assistentes sociais. Seu legado histórico possibilitou essa contribuição para a
formação e o exercício profissional.
Ainda no âmbito do exercício profissional, a vertente intenção de ruptura fomentou o caminho para a construção
do projeto ético-político profissional na atualidade e para a instrumentalidade do Serviço Social, considerando as
dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa. Assim, das três vertentes que movimentaram
o Serviço Social brasileiro, a intenção de ruptura ainda desempenha influência para o conjunto de estudantes e
profissionais na contemporaneidade.
112
Proposta de atividade
Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu nesse capítulo! Elabore um mapa conceitual destacando as
principais ideias abordadas ao longo do material. Ao produzir mapa considere as leituras básicas e
complementares realizadas.
Dicas: comece com um termo ou expressão principal e, em seguida, conecte esse termo ou expressão a palavras de
ligação para dar sentido ao texto. Por exemplo: O foi um para o Movimento de Reconceituação marco histórico
, pois...Serviço Social brasileiro
Elabore o mapa com até 25 conceitos.
Recapitulando
O movimento de Reconceituação, marco histórico do Serviço Social, tanto no contexto latino americano, como no
contexto brasileiro, foi um processo histórico que levou a categoria de assistentes sociais a refletir e redirecionar a
formação e o exercício profissional, considerando a conjuntura histórica do período e o tensionamento entre os
interesses da burguesia e da classe trabalhadora.
No Brasil, esse processo se desenvolveu permeado por um contexto delicado, onde a ditadura militar ainda
determinava os rumos do país e exercia um controle político sobre o modo de viver da população.
Com o avanço do capitalismo e a crise econômica vigente no país, o Serviço Social brasileiro, influenciado pelos
rumos das lutas na América Latina, voltou sua atenção para a reconceituação.
Conforme estudamos, esse marco histórico é configurado por três vertentes: a modernizadora, a reatualização do
conservadorismo e a intenção de ruptura. A vertente modernizadora reforçava o pragmatismo da profissão e
aceitava o direcionamento político do golpe de abril.
Os documentos de Araxá e Teresópolis são as referências teóricas construídas pela categoria naquela época e tinha
como limite a manutenção de uma perspectiva conservadora para a profissão.
A vertente reatualização do conservadorismo, segunda perspectiva do Movimento de Reconceituação no Brasil,
promoveu a recusa das inspirações teóricas das demais vertentes. Esta reiterava o viés conservador da gênese da
profissão, agregando um viés psicologizante.
A vertente intenção de ruptura provocou a vanguarda profissional a romper com o conservadorismo, inspirada
pelas lutas sociaisem expansão no país, já no final da ditadura militar.
Vimos que o método Belo Horizonte, principal expressão desta vertente, possibilitou a politização do Serviço
Social, considerando o compromisso com as lutas dos movimentos sociais e da classe trabalhadora. A suposta
neutralidade científica é colocada em xeque pela categoria de assistentes sociais a partir de então.
Dessa forma, pudemos verificar ao longo deste capítulo que os rumos teórico-metodológicos do movimento de
Reconceituação do Serviço Social brasileiro contribuíram sobremaneira para a elaboração do Serviço Social
contemporâneo, comprometido com os setores populares.
A herança deixada por este período histórico, em que sujeitos importantes do Serviço Social contribuíram,
possibilitaram a construção do nosso Projeto ético-político, do Código de Ética Profissional de 1993, a Lei de
Regulamentação, entre outros avanços que hoje evidenciam-se no âmbito da profissão. 
113
Referências
BATISTONI, M. R. O Movimento de Reconceituação no Brasil: O Projeto Profissional da Escola de Serviço Social da
Universidade Católica de Minas Gerais (1964-1980). , Rio de Janeiro, n. 40, v. 15, 2017, p. 136-150.Revista Em Pauta
Disponível em: < >. Acesso em: 11https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaempauta/article/view/32745
jul. 2019.
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (CFESS). , 2009. Disponível em:30 anos do Congresso da Virada. Brasília
< >. Acesso em: 11 jul. 2019.http://www.cfess.org.br/arquivos/CFESS-CongressodaVirada-Site.pdf
LOPES, J. B.50 anos do Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina: a construção da
alternativa crítica e a resistência contra o atual avanço do conservadorismo. , SãoRevista de Políticas Públicas
Luís, v. 20, n 1, 2016, p. 237-252. Disponível em: <http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rppublica
>. Acesso em: 9 jul. 2019./article/view/5054/3103
NETTO, J. P. uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. 11. ed. São Paulo: Cortez,Ditadura e Serviço Social:
2007.
SANTOS, L. L. . São Paulo: Cortez, 1982.Textos de Serviço Social
114
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaempauta/article/view/32745
http://www.cfess.org.br/arquivos/CFESS-CongressodaVirada-Site.pdf
http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rppublica/article/view/5054/3103
http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rppublica/article/view/5054/3103
FUNDAMENTOS DO SERVIÇO SOCIAL: 
MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO NA 
AMÉRICA LATINA E BRASIL
CAPÍTULO 6 - SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO 
DA RECONCEITUAÇÃO
Rafaela Vieira
115
Objetivos do capítulo
Ao final deste capítulo, você será capaz de:
• Apresentar o debate sobre o objeto e as especificidades do serviço social no período da reconceituação.
Tópicos de estudo
• Especificidades do Serviço Social
• Processo para a construção do objeto profissional
• A diversidade de objetos
• Perspectiva libertadora
• A realidade social como objeto
• A formação de consciência
• A ação libertadora
• A busca de um conhecimento
• A dialética do conhecimento
• A relação sujeito-objeto-objetivos
Contextualizando o cenário
No início da década de 1960, alguns setores do Serviço Social começaram a questionar o conservadorismo que
estava presente na profissão desde sua origem. Aquele era um período de contestações mais gerais e diversos
movimentos sociais se insurgiram por demandas em diferentes partes do mundo. Na América Latina, dentre outras
pautas, havia contestações ao imperialismo estadunidense e ao próprio capitalismo.
Foi nesse cenário que assistentes sociais, docentes e estudantes, imbuídos de uma nova concepção de mundo
oriunda da influência externa à profissão, consideraram que as teorias e a prática que regiam o Serviço Social até
aquele momento já não correspondiam com a realidade. Isso exigiria, no entanto, uma profunda ressignificação da
profissão. Ao mesmo tempo, porém, existiam concepções divergentes sobre quais deveriam ser o objeto e os
objetivos da atuação profissional.Dentro desse cenário, questiona-se, você consegue imaginar como foi definido
esse conflito e qual caminho se optou?
6.1. Especificidades do Serviço Social
Quando passaram a negar as bases conservadoras da profissão, alguns profissionais do Serviço Social buscaram
novas formas de compreendê-la. Eles consideravam que era necessário estabelecer uma nova função social para
os assistentes sociais latino-americanos, tendo em vista que as práticas realizadas até aquele momento –
notadamente, moralizantes e assistencialistas - serviam apenas para reproduzir a ordem vigente e não resultavam
em mudanças efetivas na vida das pessoas atendidas.
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Fonte: © Protasov NA / / Shutterstock.
Todavia, as muitas discussões profissionais daquele período deixaram claro que entre os reconceituadores
existiam concepções distintas a respeito do mundo e, consequentemente, do que se pretendia para o futuro da
profissão. Nesse sentido, propostas diferentes surgiram, influenciando em maior ou menor grau a categoria. Mas,
independentemente de equívocos e divergências, aquela foi uma rica fase de intensos debates que determinaram
a forma como o Serviço Social se constitui atualmente.
6.1.1 Processo para a construção do objeto profissional
Entre as décadas de 1960 e 1970, alguns grupos de assistentes sociais, docente e estudantes buscavam
reconceituar o Serviço Social na América Latina. Para tanto, eram organizados encontros e seminários que tinham
a finalidade de debater o significado, o objeto e os objetivos da profissão. Os profissionais envolvidos nesses
debates publicavam suas contribuições em revistas da área, fomentando ainda mais o debate.
Algumas entidades também foram criadas ao longo desse processo, como o Centro Latino-Americano de Trabalho
Social (CELATS) e o Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS). Ambos possuíam
revistas destinadas a fomentar e divulgar os debates profissionais que iam se acalorando. Merece destaque
também a Editora Ecro, criada na Argentina por iniciativa de professores e alunos de Serviço Social.
117
Principais veículos impressos de divulgação das ideias reconceituadoras.
O consenso existente entre os reconceituadores era de que o Serviço Social não devia mais se limitar às práticas
tradicionais, vistas como assistencialistas e moralizantes. Conheça mais sobre essas práticas tradicionais e suas
principais características clicando nas abas a seguir:
P r á t i c a
assistencialista
Consistia em suprir as carências emergenciais dos indivíduos por meio de recursos que
chegavam a eles como se fossem favores ou atos de caridade.
C a r á t e r
moralizante
Partia do pressuposto de que todos os problemas individuais resultavam de
desajustamentos morais daqueles que os detinham. Portanto, essas pessoas deviam se
ajustar ao meio com a ajuda do assistente social, que atuava, principalmente, por meio do
aconselhamento.
Por outro lado, existiam divergências sobre quais eram as especificidades da profissão naquele contexto de
reconceitualização e qual direção os assistentes sociais deveriam seguir a partir daquele momento. Quais deveriam
ser os novos objeto e objetivos do trabalho, se os anteriores não serviam mais?
6.1.2 A diversidade de objetos
A professora brasileira Josefa Batista Lopes, ainda no final dos anos 1970, analisou uma série de textos publicados
pelos autores envolvidos no processo de reconceituação profissional e identificou diferentes propostas. Em suma,
duas vertentes se sobressaíam: aquela que considerava que o objetivo do Serviço Social deveria ser a integração
social, e aquela que acreditava que deveria ser a (LOPES, 1980). Mais tarde, na obra libertação social Ditadura e
 publicada em 1991, o professor José Paulo Netto usou os termos e iServiço Social, modernização conservadora
para caracterizar as diferentes vertentes da reconceituação (NETTO, 2007), baseadas nontenção de ruptura 
mesmo entendimento de Lopes, mas com sutis diferenças.
118
Em seu estudo, cujo resultado está nolivro , Lopes (1980) destacou as Objeto e especificidade do Serviço Social
abordagens dos assistentes sociais José Lucena Dantas, Helena Iraci Junqueira e Tecla Machado Soeiro como as
que melhor representavam a perspectiva da Os três autores escreveram suas contribuiçõesintegração social.
entre 1970 e 1974 e publicaram na Coleção Cadernos Verdes e na Revista Debates Sociais do CBCISS (com exceção
de dois trabalhos de Dantas, aos quais Lopes teve acesso, que foram utilizados pelo professor em cursos de
especialização, mas não foram publicados).
Fonte: © Andris Torms / / Shutterstock.
Dantas, Junqueira e Soeiro se opunham ao tradicionalismo profissional. Para eles, diferentemente do que defendia
o pensamento moralizante, os problemas dos indivíduos não eram causados apenas por eles, mas também pela
sociedade. Por isso, esses autores enxergavam que tanto os indivíduos quanto a sociedade precisavam mudar para
que fosse possível a integração social de um número cada vez mais amplo de pessoas. Essa concepção acreditava
que o Serviço Social devia atuar com ênfase no desenvolvimento socioeconômico. Assim, fica clara a influência do
projeto desenvolvimentista.
Sobre essa perspectiva, Lopes (1980) tece algumas críticas. Confira cada uma delas navegando no recurso a seguir:
CONTEXTO
O projeto desenvolvimentista foi elaborado pelos países ricos (como os Estados Unidos) por
volta dos anos 1940 como um plano de desenvolvimento para os países pobres. Entre as décadas
de 1950 e 1960, essa política econômica, que previa industrialização e ampliação da
infraestrutura, predominou nos países latino-americanos. No Brasil, essa política econômica
teve seu auge durante o governo de Juscelino Kubitschek.
119
Ainda que apresentassem nítida preocupação com os dois níveis (indivíduo e sociedade), os autores não faziam
referência à relação homem/estrutura, tratando sempre esses dois elementos de maneira isolada. Nos escritos
deles, “o homem é concebido como um ser individual a-histórico, isolado das relações sociais” (LOPES, 1980, p. 54).
Não havia, na perspectiva da integração, crítica à sociedade capitalista. O indivíduo seria capaz de ascender
socialmente dependendo de sua capacidade de encontrar e fazer uso dos recursos disponíveis no meio. Percebe-se
a negação da existência das classes sociais. O máximo que existia era uma estratificação social baseada na diferença
salarial.
A relação estabelecida entre teoria e prática não era satisfatória. Ao contrário, havia um desprezo pela teoria devido
a um entendimento de que ela deixaria a realidade presa a regras fechadas e não daria conta de explicar suas
transformações.
Para essa perspectiva, o objeto do Serviço Social se configura quando o indivíduo não consegue, por conta própria,
fazer uso dos recursos disponíveis na sociedade em que vive para se integrar a ela. Assim, caberia aos assistentes
sociais atuarem no sentido de promover essa integração pela disponibilização de recursos e meios para esse fim.
No entanto, essa formulação não se sustenta por desconsiderar a relação homem/estrutura, que é imprescindível
(LOPES, 1980). Perceber essa relação permitiria que os autores compreendessem as barreiras impostas pelas
estruturas sociais a essa pretendida “integração”.
O estudo de Lopes identificou ainda uma segunda perspectiva, oposta à de integração. Esta outra, denominada de
libertação social, foi proposta, principalmente, pelo assistente social e professor brasileiro Vicente de Paula
Faleiros e pelo assistente social e professor venezuelano Boris Alexis Lima em textos publicados por volta de 1974 e
1975 pela editora argentina Ecro.
6.2. Perspectiva libertadora
A perspectiva libertadora foi defendida por aqueles autores que tiveram mais contato com a tradição marxista e
dela receberam influência, como Faleiros e Lima. Esses professores apresentaram essa concepção teórico-prática
do Serviço Social como uma contestação à integração social. Eles argumentavam que o desenvolvimento da
sociedade capitalista e a integração a ela eram uma ilusão, uma vez que se baseia no conflito entre dois grupos: um
dominante e outro dominado. E esse antagonismo seria irreconciliável. Portanto, a sociedade não deve ser
desenvolvida, mas, sim, transformada de modo a superar a dominação.
PAUSA PARA REFLETIR
Ainda existe influência da perspectiva integradora no Serviço Social?
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Fonte: © porteador / / iStock.
Nesse sentido, caberia ao Serviço Social realizar intervenção com vistas a contribuir para o processo de libertação
social das classes oprimidas. Para essa perspectiva, esse deve ser o objetivo profissional dos assistentes sociais.
Para tanto, deve-se apreender a realidade social, pois somente ela vai revelar as teias do capitalismo, em especial o
capitalismo periférico existente na América Latina, e a situação das classes trabalhadoras latino-americanas. A
partir desse conhecimento, o Serviço Social deve atuar com vistas a fomentar a formação de consciência crítica dos
grupos dominados.
6.2.1 A realidade social como objeto
De acordo com a perspectiva libertadora, o Serviço Social integrador negava a contradição básica da sociedade
capitalista, que consiste na divisão de classes sociais. Isso levava o Serviço Social a negar sua própria contradição:
“pretender servir o homem abstrato em uma sociedade que destrói o homem concreto” (FALEIROS LOPES,apud
1980, p. 59-60).
Dessa forma, identificando esse elemento central, os autores da linha libertadora consideraram que a profissão
devia ter a realidade social como objeto. Para isso, enfatizavam a necessidade de articular conhecimento e ação.
Como método de análise, julgaram que a elevação do abstrato ao concreto (o método marxiano) responderia
melhor aos objetivos.
Nesse contexto, a percepção a respeito do indivíduo nunca é desconectada das relações sociais próprias da
sociedade baseada na propriedade privada dos meios de produção. O ser humano é, pois, ser social histórico. Por
ESCLARECIMENTO
No método dialético, a realidade como percebida de imediato (concreto) deve ser apreendida
pelo pensamento, analisada a partir de suas múltiplas determinações. Depois dessa mediação
realizada no plano do pensamento humano (abstrato), a realidade é compreendida em sua
essência (concreto pensado).
121
isso, os problemas que aparecem para o assistente social como problemas individuais, “devem ser visualizados
através das classes sociais que os caracterizam. Assim o homem que nos interessa é o explorado, aquele que a
realidade dependente e subdesenvolvida dimensionou em uma singular rede de estratos sociais” (LIMA apud
LOPES, 1980, p. 66).
Definição do objeto do Serviço Social na perspectiva libertadora.
Portanto, a perspectiva libertadora diferencia-se substancialmente da integradora por perceber as contradições do
capitalismo e considerar que ele impossibilita a integração conforme pretendida pela outra corrente, uma vez que
a existência de dominantes e dominados é condição essencial para a manutenção desse modo de produção.
Embora os trabalhos bibliográficos que surgiram nesse período tenham, ainda, uma dose de idealismo, é preciso
observar que essa perspectiva foi melhor desenvolvida ao longo dos anos posteriores conforme os profissionais
iam tendo acesso a maior embasamento teórico e melhor reflexão teórico-prática. Assim, o processo de
Reconceituação foi se solidificando e amadurecendo e outras obras importantes foram construídas, a exemplo do
livro publicado em 1982, de Iamamoto e Carvalho (2006), e do projetoRelações Sociais e Serviço Social no Brasil, 
ético-político elaborado a partir dos anos 1980 e que consiste no conjunto de valores, princípios e objetivos que
orientam a profissão.
6.2.2 A formação de consciência
Com base nesse entendimento da perspectiva libertadora, a realidade social – cujo fator predominante são as
relações de dominação forjadas na divisão da sociedade entre classes com interesses antagônicos – faz com que o
assistente social tenha como objetivo primordial dotar as classes exploradas de consciênciadessa exploração.
Assim, é tarefa profissional conscientizar as classes trabalhadoras sobre sua condição de dominadas e sobre a
realidade dependente do capitalismo latino-americano.
122
Fonte: © frankie's / / Shutterstock.
Com isso, os autores dessa corrente propõem que o Serviço Social passe de integrador a libertador. E a libertação
só pode acontecer quando grupos dominados tornam-se conscientes do processo de dominação. Essa tese advém,
diretamente, da categoria marxiana de Clique a seguir e conheça mais sobre essa categoria.consciência de classe. 
Quando acontece
Para Marx (1989), a consciência de classe acontece quando os grupos explorados se reconhecem coletivamente
nessa situação e entendem que formam uma unidade.
Em que consiste
Essa consciência coletiva consiste, inicialmente, na mera consciência em si. Mas quando ela se eleva ao patamar
político (a partir do momento que o coletivo busca empreender lutas pela transformação social), torna-se uma
consciência para si.
Superação da propriedade privada
Cabe pontuar que a luta pela transformação abrange a definitiva superação da propriedade privada dos meios de
produção, pois ela consiste na condição estrutural que permite a dominação.
Observe a imagem abaixo e entenda melhor o processo de formação da consciência:
Processo de formação da consciência.
A partir desse preceito, a perspectiva libertadora considerou que o Serviço Social tinha como atribuições ser
partícipe desse processo de formação da consciência visando a transformação social e contribuindo para o
desenvolvimento de estratégias que resultem na libertação daqueles que vivem sob a dominação de outros. Isso
significa, em outras palavras, que a luta de classes não se resume à questão econômica, uma vez que “a luta
123
econômica está vinculada à luta política e ideológica, como a luta política é econômica e ideológica e a luta
ideológica econômica é política” (FALEIROS LOPES, 1980, p. 69).apud
Dessa forma, os autores acreditavam que a luta das classes exploradas latino-americanas levaria não apenas a
transformações econômicas e sociais, mas também políticas e culturais. O que engloba também a libertação do
continente latino-americano de sua condição de dependência externa.
6.2.3 A ação libertadora
Na prática, a formação de consciência seria realizada por meio da “organização e mobilização social no sentido de
implementação e dinamização de formas de ação social organizada na solução de problemas” (LOPES, 1980, p. 68).
Nessa perspectiva, tendo em vista que não existe neutralidade, o Serviço Social deve assumir-se como disciplina
ideológica; o que, aliás, são todas as disciplinas sociais, segundo Kisnerman (1980). Cabe frisar que esse autor faz a
necessária distinção conceitual do termo ideologia, que ele separa em duas categorias: eideologia de mudança
ideologia de domínio. Compreenda mais sobre essas categorias clicando a seguir:
Ideologia de domínio
Para Marx (1989), ideologia consiste na apreensão da visão de mundo burguesa pelas classes trabalhadoras. É algo,
portanto, que tem como função mistificar a realidade social e naturalizar as relações de exploração. Kisnerman
(1980) não ignora essa passagem da obra marxiana, mas prefere chamar essa ideologia de ideologia de domínio.
Ideologia de mudança
O termo ideologia é mais corriqueiramente compreendido como sendo um conjunto de crenças e valores com o
qual determinados indivíduos ou grupos sociais se identificam. Frequentemente uma ideologia (quando o termo é
usado nesse sentido) incita o desejo por mudanças significativas na estrutura social ou mesmo a transformação
societária. Kisnerman (1980) chama isso de ideologia de mudança.
Portanto, ao defender que o Serviço Social assuma uma posição ideológica, o autor está se referindo a adotar a
posição das classes oprimidas. A prática profissional, nesse contexto, está relacionada ao processo de contribuir
para o favorecimento da conscientização dos grupos sociais atendidos pelos assistentes sociais para que adquiram
a consciência de sua condição e tomem a frente no processo de luta pela libertação.
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Fonte: © estudio Maia / / Shutterstock.
Especificamente na América Latina, Kisnerman (1980) acredita que é a aproximação à cultura popular que vai fazer
os assistentes sociais compreenderem as raízes das massas trabalhadoras, condição básica para orientar seu
trabalho de conscientização.
6.3. A busca de um conhecimento
O assistente social e professor argentino Natalio Kisnerman estava mais ligado à perspectiva libertadora, embora
seu trabalho bibliográfico seja permeado por certo ecletismo, o que é compreensível para o período em que
escreveu o livro “Sete estudos sobre Serviço Social”, que usaremos nos subtópicos finais deste capítulo.
Dentre suas contribuições, Kisnerman (1980) deu ênfase ao método marxiano para a apreensão do conhecimento e
defendeu a necessidade do Serviço Social se apropriar da teoria e elaborar uma prática teórica focada na relação
sujeito/objeto/objetivos.
125
6.3.1 A dialética do conhecimento
Kisnerman (1980) critica o Serviço Social tradicional pela falta de definição científica, o que levou a um vazio
epistemológico da profissão e uma consequente prática empírica. Buscando reverter essa situação, o autor
enfatizou a necessidade de construção do conhecimento, tendo por base a realidade social e a prática
transformadora. Isso porque ele entende que o Serviço Social deve ser uma prática teórica revolucionária e
contribuir para mudar as estruturas.
Conforme apontou, em consonância com a obra marxiana e a tradição marxista, a aparência dos fenômenos não é
o bastante para explicá-los. Por isso, a busca pela apreensão dos fenômenos deve levar o Serviço Social a “ir da
percepção do pensamento abstrato ou conceito ao pensamento concreto-real, através da prática, e deste à
formulação teórica (pensamento abstrato), num duplo processo de generalização e uma especialização solidária
com outras disciplinas sociais” (KISNERMAN, 1980, p. 25).
Para o autor, em nenhuma hipótese a teoria deve estar separada da prática, uma vez que o conhecimento consiste
em um fato social que surge da prática. Ou seja: “pela produção própria de um sujeito em relação a um objeto,
mediante uma prática e numa realidade concreta, mediante um processo contínuo de assimilação e acomodações
que compõem as estruturas cognoscitivas” (KISNERMAN, 1980, p. 26).
Fonte: © Onchira Wongsiri / / Shutterstock.
ESCLARECIMENTO
Os termos marxista e marxiano não são sinônimos. Marxista se refere não só à obra de Marx, mas
ao conjunto da teoria econômica, política e social inaugurada por ele, o que inclui todos os
autores influenciados por essa vertente. Já marxiano significa especificamente o pensamento de
Karl Marx.
126
A seguir, clique e conheça alguns dos fatores mais importantes para esta dialética:
• Sujeito e objeto do conhecimento em relação dialética
Dessa forma, é importante ter em mente que o sujeito e o objeto do conhecimento estão em relação
dialética. O ser humano, por sua vez, sempre é o conjunto das relações sociais e, por isso, é social e
histórico. Assim, como se origina no ser humano (social e histórico), o conhecimento nunca é neutro. A
neutralidade é, pois, uma abstração das teorias conservadoras que visavam a manutenção do status quo.
• A totalidade dos fenômenos
Outro fator importante é a totalidade. Com isso, queremos dizer que não se chega à essência dos
fenômenos analisando apenas as suas partes isoladas. Para o desenvolvimento de um conhecimento com
rigor científico deve-se estudar “os fatos em sua permanente interdependência e ação recíproca, em suas
modificações e movimentos” (KISNERMAN, 1980, p. 32).
• Conhecimento concreto
Ao enfatizar a relação entre sujeito e objeto, a necessidade de apreensão dos fenômenos em sua totalidade
e de articulação com a prática, o autor deixa claro que o conhecimento não é contemplativo. Ao contrário,
ele é concreto, embora não se manifeste imediatamente ao sujeito, exigindo um esforço exploratório para
asua plena apreensão.
Segundo o autor:
É preciso distinguir entre como o objeto se apresenta e como ele é na realidade. A representação das
coisas pela percepção não significa, de modo algum, compreender o objeto. A apreensão de sua
essência, sim. Fenômeno e essência não são radicalmente distintos. Um envolve o outro. Se o
fenômeno não se manifesta não é possível ceder à sua essência. Em Serviço Social os fenomenismos
são os problemas sociais tais como se apresentam, pressionando os homens. A essência é a causa
desses problemas (KISNERMAN, 1980, p. 32).
Portanto, como podemos perceber, o autor salienta que o Serviço Social deve conhecer as determinações dos
problemas sociais, não basta resolvê-los no plano imediato. Por isso, os assistentes sociais precisam estar
alicerçados por uma teoria sólida e ter domínio do processo de pesquisa social, necessária no cotidiano
profissional.
Da mesma forma que a prática não pode existir sem a teoria, na concepção do autor, a teoria é inútil sem a prática.
Por isso, defende uma prática teórica, que surge da síntese entre ambas. Por fim, é preciso destacar que o
conhecimento é infinito. Ou seja, aquele que se propõe a conhecer, está em permanente descoberta de novos
caminhos e perspectivas.
6.3.2 A relação sujeito-objeto-objetivos
De acordo com Kisnerman (1980), objeto é aquilo que determinada disciplina estuda e busca transformar por meio
de sua ação. O sujeito é o autor da ação e, ao mesmo tempo, aquele para quem ela se dirige. O objetivo, por sua
vez, é a finalidade dessa ação. Portanto, essa tríade se autodetermina e é inseparável.
•
•
•
127
Fonte: © IvanDbajo / / Shutterstock.
No Serviço Social tradicional, o objeto era a adaptação do indivíduo à sua sociedade. Já para o Serviço Social
reconceituado, o objeto são as expressões das contradições da sociedade capitalista. Esse objeto se apresenta
como uma evidência (por exemplo: a pobreza existe), mas essa evidência, por si só, não é suficiente para o
conhecimento científico. Por isso é necessário, como vimos, chegar à essência dos fenômenos.
Já o sujeito aparece apenas no Serviço Social reconceituado, para o qual o ser humano é transformador do mundo
(por isso, o sujeito). No Serviço Social tradicional não existia tal compreensão a respeito do indivíduo, já que ele era
apenas a pessoa que precisava ser adaptada à sociedade quando apresentasse problemas sociais.
Quanto ao objetivo profissional, no Serviço Social tradicional buscava-se controlar o comportamento humano. No
reconceituado, por sua vez, os fins devem ser compatíveis com o objeto e coerentes com o que é possível ser feito
no momento histórico do qual ele faz parte.
Serviço Social tradicional X Serviço Social reconceituado
128
Considerando a relação entre sujeito, objeto e objetivos, Kisnerman (1980) enfatiza que o Serviço Social é uma
tarefa humana (realizada por homens e mulheres para outros homens e mulheres). Diferentemente do Serviço
Social tradicional, para o qual o ser humano era o objeto de intervenção profissional (e assim, acabava sendo
coisificado), no Serviço Social crítico o ser humano é o sujeito dentro do mundo e para o mundo, com o poder de
transformar a realidade e a si mesmo.
A partir do momento em que assume essa tarefa, o ser humano sai da condição de alienação, que, segundo
definição do autor, consiste na “submissão a formas de controle e de poder, as quais estabelecem um mundo de
pseudos valores que deformam a forma de ser do mundo” (KISNERMAN, 1980, p. 53).
Assim, aquele que busca transformar o mundo está resgatando a essência humana. A mudança social, no entanto,
pode ser funcionalista (voltada para o progresso) ou estrutural (que estabelece transformações sociais profundas).
Somente esta última, que só pode ser feita pelas massas oprimidas, tem o poder de libertar essas mesmas massas.
Proposta de atividade
Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu nesse capítulo! Elabore uma síntese destacando as
principais ideias abordadas ao longo do texto. Ao produzir sua síntese, considere as leituras básicas e
complementares realizadas.
Recapitulando
Ao longo do capítulo, vimos que as discussões a respeito da reconceituação do Serviço Social que existiram por
volta das décadas de 1960 e 1970 levaram a duas propostas profissionais distintas: uma que entendia que o
objetivo da ação dos assistentes sociais deveria ser a integração social, e outra que acreditava que a finalidade
deveria ser a libertação social. A primeira proposta recebeu mais influência do projeto desenvolvimentista, em
voga no continente latino-americano naquele período. Já a segunda proposta tinha clara influência da tradição
marxista.
Vimos também que os autores ligados à corrente libertadora enfatizaram a necessidade dos profissionais de
Serviço Social buscarem elaborar uma teoria prática baseada no conhecimento concreto da realidade social e na
relação entre sujeito, objeto e objetivos. Tais elementos são necessários que os assistentes sociais tenham êxito na
função de favorecer para que a classe trabalhadora passe a ter consciência de sua condição de exploração, inscrita
na sociedade capitalista, como grupo dominado. Somente a partir dessa conscientização, a classe trabalhadora
poderá empreender a luta pela libertação social.
PAUSA PARA REFLETIR
O Serviço Social atual é orientado pela vertente libertadora?
129
Referências
IAMAMOTO, M.; CARVALHO, R. esboço de uma interpretação histórico-Relações sociais e Serviço Social no Brasil:
metodológica. 19 ed. São Paulo: Cortez, 2006.
KISNERMAN, N. São Paulo: Cortez & Moraes, 1980.Sete estudos sobre Serviço Social. 
LOPES, J. B. 2a ed. São Paulo: Cortez, 1980.Objeto e especificidade do Serviço Social. 
MARX, K.; ENGELS, F. São Paulo: Martins Fontes, 1989.A ideologia alemã. 
NETTO, J. P. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. 11a ed. São Paulo: Cortez,
2007.
130
Fabiana Demetrio
Micaela Alves Rocha da Costa
Rafaela Vieira
Veronica Ferreira Pinto
FUNDAMENTOS DO SERVIÇO SOCIAL: MOVIMENTO 
DE RECONCEITUAÇÃO NA AMÉRICA LATINA E BRASIL
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Sumário
CAPÍTULO 1 - BASE TEÓRICA DO PROCESSO DE 
RECONCEITUAÇÃO: TEORIA SOCIAL DE MARX 9
Objetivos do capítulo 16
Tópicos de estudo 16
Contextualizando o cenário 17
1.1 Categorias da teoria marxista 17
1.1.1 Produção de mercadoria 18
1.1.2 Mais-valia 20
1.1.3 Ideologia 22
1.1.4 Alienação 24
1.2 A luta de classes e a economia política 25
1.2.1 Luta de classes como força motriz da história 27
1.2.2 A economia capitalista e o processo de produção 29
1.3 Valor, trabalho e sociedade 31
1.3.1 Valor-trabalho: transformação da natureza e constituição do ser social 321.3.2 Práxis, ser social e subjetividade 33
Proposta de atividade 34
Recapitulando 34
Referências 35
CAPÍTULO 2 - O SERVIÇO SOCIAL E A TEORIA SOCIAL MARXISTA 36
Objetivos do capítulo 37
Tópicos de estudo 37
Contextualizando o cenário 37
2.1. Influência marxista 37
2.1.1. O militantismo no Serviço Social 38
2.1.2. O messianismo no Serviço Social 40
2.1.3. O fatalismo e o Serviço Social 41
2.2. Interpretações da teoria marxista 42
2.2.1. Louis Althusser e os Aparelhos Ideológicos de Estado 43
2.2.2. Os marxismos de Lenin e Trotsky 46
2.2.3. A incorporação de interpretações marxistas no Serviço Social 49
2.3. Retorno aos textos de Marx 50
2.3.1. A obra de Iamamotto & Carvalho 51
2.3.2. Aplicação da teoria de Marx no Serviço Social 52
Proposta de atividade 53
Recapitulando 53
Referências 53
CAPÍTULO 3 - SERVIÇO SOCIAL E A INFLUÊNCIA GRAMSCIANA 56
Objetivos do capítulo 57
Tópicos de estudo 57
Contextualizando o cenário 57
3.1. Proposta teórico-metodológica 58
3.1.1 Concepção dialética da história 60
3.1.2 O intelectual orgânico 61
3.1.3 A filosofia da práxis 62
3.2 Principais conceitos em Gramsci 63
3.2.1 Conceito de cultura 63
3.2.2 Construção da contra-hegemonia 65
3.2.3 Sociedade civil 67
3.2.4 Estado ampliado 68
3.3 Contribuição da teoria de Gramsci para o Serviço Social 70
3.3.1 Superação do determinismo marxista 70
3.3.2 Economicismo perde força 71
3.3.3 Valorização da cultura 72
3.4 A direção histórica indicada por Gramsci 73
3.4.1 Protagonismo dos sujeitos 73
3.4.2 Nova ordem societária 74
Proposta de atividade 74
Recapitulando 74
Referências 75
CAPÍTULO 4 - MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO 
NA AMÉRICA LATINA 77
Objetivos do capítulo 78
Tópicos de estudo 78
Contextualizando o cenário 78
4.1. Serviço Social latino-americano 78
4.1.1. Asociación Latinoamericana de Escuelas de Trabajo Social (ALAETS) 80
4.1.2. Centro Latinoamericano de Trabajo Social (CELATS) 81
4.1.3. Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de 
Serviços Sociais (CBCISS) 83
4.2. Principais escolas de Serviço Social na América Latina 85
4.2.1. Colômbia 86
4.2.2. Uruguai 87
4.2.3. Chile 89
4.2.4. Argentina 91
4.3. Militarismo na América Latina 93
4.3.1. Golpes militares 93
4.3.2 A Reconceituação inconclusa 96
Proposta de atividade 96
Recapitulando 96
Referências 97
CAPÍTULO 5 - EXPRESSÕES DO MOVIMENTO DE 
RECONCEITUAÇÃO NO BRASIL 98
Objetivos do capítulo 99
Tópicos de estudo 99
Contextualizando o cenário 99
5.1 Movimento de Reconceituação 99
5.1.1 Reconceituação brasileira 100
5.1.2 Bases sócio-políticas 102
5.2 Intenção de ruptura 105
5.2.2 Influência da teoria marxista na construção da metodologia 106
5.2.3 Método Belo Horizonte: uma proposta alternativa 108
5.2.4 Crítica ao método de Belo Horizonte (BH) 111
Proposta de atividade 113
Recapitulando 113
Referências 114
CAPÍTULO 6 - SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DA RECONCEITUAÇÃO 115 
Objetivos do capítulo 116
Tópicos de estudo 116
Contextualizando o cenário 116
6.1. Especificidades do Serviço Social 116
6.1.1 Processo para a construção do objeto profissional 117
6.1.2 A diversidade de objetos 118
6.2. Perspectiva libertadora 120
6.2.1 A realidade social como objeto 121
6.2.2 A formação de consciência 122
6.2.3 A ação libertadora 124
6.3. A busca de um conhecimento 125
6.3.1 A dialética do conhecimento 126
6.3.2 A relação sujeito-objeto-objetivos 127
Proposta de atividade 129
Recapitulando 129
Referências 130
CAPÍTULO 7 - A PRÁTICA INSTITUCIONALIZADA DO SERVIÇO 
SOCIAL NO CONTEXTO DA RECONCEITUAÇÃO 131 
Objetivos do capítulo 132
Tópicos de estudo 132
Contextualizando o cenário 132
7.1 Instituições como espaços de prática 132
7.1.1 Instituições como aparelhos funcionais 133
7.1.2 Instituições como reprodução da força de trabalho 134
7.1.3 Instituições como espaço de contradições 136
7.2 Prática do Serviço Social nas instituições 137
7.2.1 O Estado como espaço de prática 138
7.2.2 Articulação com a sociedade 139
7.2.3 Articulação com os movimentos sociais 140
7.3 Instituições como espaços de transformação 143
7.3.1 Objeto profissional e objeto institucional 143
7.3.2 Possibilidades de transformações institucionais 145
Proposta de atividade 147
Recapitulando 147
Referências 148
CAPÍTULO 8 - O SERVIÇO SOCIAL RECONCEITUADO 149 
Objetivos do capítulo 150
Tópicos de estudo 150
Contextualizando o cenário 150
8.1 A metodologia e a Reconceituação 151
8.1.1 Ação política e a teoria dialética 151
8.1.2 O paradigma das correlações de forças 153
8.1.3 Polarização 154
8.2 As ideologias do Serviço Social reconceituado 155
8.2.1 Liberal 156
8.2.2 Desenvolvimentista 157
8.2.3 Revolucionária 158
8.3 Sistematização do trabalho social 159
8.3.1 A construção de uma proposta metodológica de atuação 160
8.3.2 Ciência e técnica social 160
8.3.3 A ação profissional, atores e a estrutura 160
8.4 Aplicação da teoria reconceituada 162
8.4.1 O assistente social como intelectual orgânico 162
8.4.2 O profissional como sujeito da história 163
Proposta de atividade 164
Recapitulando 164
Referências 164
FUNDAMENTOS DO SERVIÇO SOCIAL: 
MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO NA 
AMÉRICA LATINA E BRASIL
CAPÍTULO 1 - BASE TEÓRICA DO PROCESSO DE 
RECONCEITUAÇÃO: TEORIA SOCIAL DE MARX
Veronica F. Pinto
9
Compreenda seu livro: Metodologia
Caro aluno,
A metodologia da Universidade Positivo apresenta materiais e tecnologias apropriadas que permitem o
desenvolvimento e a interação entre alunos, docentes e recursos didáticos e tem por objetivo a comunicação
bidirecional entre os atores educacionais.
O seu livro, que faz parte dessa metodologia, está inserido em um percurso de aprendizagem que busca direcionar
a construção de seu conhecimento por meio da leitura, da contextualização teórica-prática e das atividades
individuais e colaborativas; e fundamentado nos seguintes propósitos:
• valorizar suas experiências;
• incentivar a construção e a reconstrução do conhecimento;
• estimular a pesquisa;
• oportunizar a reflexão teórica e aplicação consciente dos temas abordados.
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Com base nessa metodologia, o livro apresenta os itens descritos abaixo. Navegue no recurso para conhecê-los.
1. Objetivos do capítulo
Indicam o que se espera que você aprenda ao final do estudo do capítulo, baseados nas necessidades de
aprendizagem do seu curso.
2. Tópicos que serão estudados
Descrição dos conteúdos que serão estudados no capítulo.
3. Contextualizando o cenário
Contextualização do tema que será estudado no capítulo, como um cenário que o oriente a respeito do assunto,
relacionando teoria e prática.
4. Pergunta norteadora
Ao final do Contextualizando o cenário, consta uma pergunta que estimulará sua reflexão sobre o cenário
apresentado, com foco no desenvolvimento da sua capacidade de análise crítica.
5. Pausa para refletir
São perguntas que o instigam a refletir sobre algum ponto estudado no capítulo.
6. Boxes
São caixas em destaque que podem apresentar uma citação, indicações de leitura, de filme, apresentação de um
contexto, dicas, curiosidades etc.
7. Proposta de atividade
Sugestão de atividade para que você desenvolva sua autonomia e sistematize o que aprendeu no capítulo.
•
•
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•
10
8. Recapitulando
É o fechamento do capítulo. Visa sintetizar o que foi abordado, retomando os objetivos do capítulo, a pergunta
norteadora e fornecendo um direcionamento sobre os questionamentos feitos no decorrer do conteúdo.
9. Referências bibliográficas
São todas as fontes utilizadas no capítulo, incluindo as fontes mencionadas nos boxes, adequadas ao Projeto
Pedagógico do curso.
Boxes
Navegue no recurso abaixo para conhecer os boxes de conteúdo utilizados.
Afirmação
Citações e afirmativas pronunciadas por teóricos de relevância na área de estudo.
Assista
Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações complementares ou aprofundadas sobre o
conteúdo estudado.
Biografia
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante parao estudo do conteúdo
abordado.
Contexto
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstram a situação histórica, social e
cultural do assunto.
Curiosidade
11
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado.
Dica
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o
conteúdo trabalhado.
Esclarecimento
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada.
Exemplo
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto abordando a relação teoria-prática.
Apresentação da disciplina
Ao escolher uma profissão, queremos fazer o que há de melhor no mundo por meio dela. Mas cabe indagar: melhor
para quem?
No Serviço Social, por exemplo, como fazer o melhor sem conhecer os motivos que nos levam a viver relações
excludentes? Essas relações poderiam ser transformadas, por exemplo?
Tal questionamento nos leva a, pelo menos, duas respostas possíveis e opostas. A primeira envolve o fato de que a
realidade e sempre assim. Trata-se, portanto de uma visão a-histórica. Outra, contrária, diz que a realidade é foi
 assim. Ou seja: abre uma perspectiva de que ela já foi e pode ser diferente do que se encontra.está
A disciplina de Fundamentos do Serviço Social, ao abordar as mudanças que ocorrem na formação do assistente
social durante o Movimento de Reconceituação (1965-1975), nos permite conhecer a transformação que se
processa no âmbito do Serviço Social a partir do momento em que ele passa a receber a influência das ciências
sociais
A Reconceituação acontece num período histórico mundial efervescente, que deixava explícita a existência do
embate entre classes, cuja desigualdade começava a ser questionada. Essas mudanças acabam refletindo também
na profissão, que já vinha buscando “sua gênese, seu desenvolvimento, seus limites e possibilidades” (IAMAMOTO,
2015, p. 203).
Nessa busca, o Serviço Social se depara com produções teóricas como a de Karl Marx, teoria fundamental para
conhecer a sociedade capitalista. Por isso, trataremos de aspectos abordados por Marx e apontaremos a
necessidade desse saber para a profissão que passa a assumir um compromisso com a classe trabalhadora.
Caríssimo aluno, não se deixe abater por uma possível dificuldade inicial. Persista na leitura. Amplie os horizontes
de compreensão sobre o real. Aceite o desafio e enriqueça-se.
12
Bom estudo!
A autoria
Fabiana Demétrio
A Professora Fabiana Demétrio é mestre em Serviço Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (2010).
Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005) e tem experiência profissional
como Assistente Social, em instituições privadas, de terceiro setor e pública, além de experiência como docente,
supervisora pedagógica de estágio supervisionado, Assessoria para Conselhos de Direitos e entidades do terceiro
setor e orientação profissional para profissionais do Serviço Social.
Currículo Lattes: < >.http://lattes.cnpq.br/3393355367980617
Poderia dedicar este trabalho há várias pessoas especiais na minha vida, mas desta vez quero dedicar
exclusivamente ao homem mais especial e importante da minha vida, in memória meu paizinho, “Pedro Fernandes
Demétrio”.
Micaela Alves Rocha da Costa
Micaela Alves Rocha da Costa é assistente social e mestre em Serviço Social pelo Programa de Pós-Graduação em
Serviço Social (PPGSS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Integra o Grupo de Estudos e Pesquisa em Trabalho, Ética e Direitos (GEPTED) e Questão Urbana, Rural, Ambiental,
Movimentos sociais e Serviço Social (QTEMOSS) da mesma universidade.
13
http://lattes.cnpq.br/3393355367980617
Tem experiência na área da formação profissional, movimentos sociais, assistência social e regularização fundiária.
Currículo Lattes: <http://lattes.cnpq.br/2156820038707892>.
Para todas as mulheres da classe trabalhadora, que cotidianamente questionam e enfrentam as barreiras do
patriarcado, do machismo, do racismo na ordem do capital e sonham com uma vida sem medo.
Rafaela Vieira
Rafaela Vieira é mestre em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Bacharel em Serviço
Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Tem experiência como assistente social nas áreas de
assistência social e saúde.
Currículo Lattes: < >http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4274511D8
14
http://lattes.cnpq.br/2156820038707892
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4274511D8
Dedico a vocês, alunos e alunas. Que a busca pelo conhecimento seja eterna.
Veronica Ferreira Pinto
Veronica Ferreira Pinto é mestre em Educação Brasileira pela Universidade Federal de Alagoas (2009). É especialista
em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Alagoas (1995). Graduada em Serviço Social pela Universidade
Federal de Alagoas (1991) e em Agronomia pela Universidade Federal de Alagoas (1986). Ensinou as disciplinas
Fundamentos do Serviço Social IV, V e VI e Formação sócio-histórica.
Currículo Lattes: < >.http://lattes.cnpq.br/5981483102442298
15
http://lattes.cnpq.br/5981483102442298
Há pessoas que marcam nossa existência em largo e profundo. Todo carinho para Marieta, Vera, Bel e Leu, pela luta
constante que travam todos os dias numa sociedade que continua a diminuir o valor da mulher. Em vocês encontro a
força para existir e resistir.
Objetivos do capítulo
Ao final deste capítulo, você será capaz de:
• Identificar a influência da teoria social de Marx sobre o Serviço Social.
• Conhecer os principais conceitos que fundamentam a teoria marxista.
• Compreender o senso comum presente nas interpretações simplificadas da teoria social de Marx.
Tópicos de estudo
• Categorias da teoria marxista.
• Produção de mercadoria.
• Mais-valia.
• Ideologia.
• Alienação.
• A Luta de Classes e a Economia Política.
• Luta de classes como força motriz da história.
• A economia capitalista e o processo de produção.
• Valor, Trabalho e Sociedade.
• Valor-trabalho: transformação da natureza e constituição do ser social.
• Práxis, ser social e subjetividade.
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Contextualizando o cenário
Para entender a influência marxiana no curso de Serviço Social é necessário atentarmos para o contexto histórico.
Para Karl Marx, não é a consciência que determina a vida. É o processo histórico da existência humana que marca a
forma como pensamos (MARX, 2009).
Essa constatação que ele faz a partir dos estudos e da compreensão do processo de produção da existência
humana não é algo que se limita ao campo econômico. As mudanças que foram impressas no mundo do trabalho
terminam rebatendo nos diversos complexos sociais (como a educação, a política e a ideologia, entre outros).
Portanto, as mudanças ocorridas no real vão, de maneira mediada, marcando e sendo expressa na nossa forma de
ser, nos mais diversos campos.
Nesse sentido, é importante compreender a inserção do pensamento marxiano na formação do assistente social,
respaldada pelo contexto histórico em que esse evento acontece.
Diante desse cenário, questiona-se:
Qual a relação entre a teoria marxiana e o Serviço Social?
1.1 Categorias da teoria marxista
O estudo da teoria elaborada pelo filósofo Karl Marx possui algumas categorias fundamentais que ajudam a se
aproximar da ideia central defendida por ele: a produção de mercadorias, a mais-valia, a ideologia e a alienação.
Todos eles se apropriam do funcionamento das relações humanas, sobre as quais Marx se debruçou para tecer sua
crítica à sociedade regida pelo capital.
É importante entender que essa teoria deve ser um elemento orientador das ações dos indivíduos no que diz
respeito à necessidade de transformar as relações que sobrevivem da exploração do homem pelo próprio homem.
17
Fonte: © Elena Blokhina / / Shutterstock.
Nesse sentido, não se aplica teoria. Observa-se a coerência entre ela e o real. A veracidade dessa teoria é
constatada não pelo julgamento quese faz dela, mas do que reproduz, no campo das ideias, sobre as condições
reais da existência natural ou social.
1.1.1 Produção de mercadoria
Algumas pessoas podem se perguntar: por que a sociedade capitalista é chamada de sociedade mercantil?
Significa que antes não existia mercado?
Essa constatação está errada. Mesmo na antiguidade ou no período feudal é encontrada a presença do mercado.
No entanto, nesses momentos históricos, a vida não era eminentemente marcada pela venda e compra de
mercadorias, aspecto que passa a acontecer apenas na sociedade regida pelo capital.
Dizia Marx que “a riqueza das sociedades em que domina o modo de produção capitalista aparece como uma
‘imensa coleção de mercadorias’, e a mercadoria individual como sua forma elementar (MARX, 1988, I, 1:45).” Ou
seja, tudo é transformado em mercadoria, inclusive o ser humano. Afinal, ele possui apenas a sua força de trabalho,
vendendo-a para garantir sua existência e a de sua família.
18
Sociedade capitalista: imensa coleção de mercadorias
Dentro dessa sociedade, a produção mercantil tem sua especificidade marcada pela presença de duas classes
antagônicas: o capitalista (também chamado burguês), dono do dinheiro e dos meios de produção; e o proletário
(operário) que, estando livre para vender sua força de trabalho, é o produtor da riqueza.
Nas sociedades onde impera o modo de produção capitalista quanto mais este se desenvolve, mais a
lógica mercantil invade, penetra e satura o conjunto das relações sociais: as operações de compra e
venda não se restringem a objetos e coisas – é objeto de compra e venda, de artefatos materiais atudo
cuidados humanos (NETTO; BRAZ, 2007, p.85).
Nem sempre é fácil entender que os indivíduos constroem relações que os desumanizam, ou que os trata como
coisa. A apropriação desse conhecimento mais elaborado é algo determinante para que todos realizem escolhas
mais conscientes sobre a realidade onde estão inseridos.
Vejamos, então, mais um aspecto do processo de produção dentro do sistema capitalista.
PAUSA PARA REFLETIR
Você já havia pensado nessa condição do homem como mercadoria?
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1.1.2 Mais-valia
Para produzir mercadorias, o capitalista precisa dos (terra, ferramentas e instalações, pormeios de produção
exemplo, e das matérias naturais brutas ou já modificadas) e da (NETTO; BRAZ, 2007).força de trabalho 
Se os meios de produção e a força de trabalho são mercadorias, então é necessário destacar um dado importante:
a força de trabalho, ao ser utilizada no processo de produção de mercadorias, gera um valor excedente, maior do
que o capitalista pagou para ter direito em explorá-la. Este valor a mais produzido pelo trabalhador e que será
apropriado pelo capitalista é chamado de .mais-valia
Fonte: © nuvolanevicata / / Shutterstock.
Além disso, este valor a mais é o que proporciona a riqueza da classe burguesa. E o problema não está no fato do
enriquecimento burguês. Está na miséria socializada entre os que não são proprietários.
Eis o ponto. A existência da propriedade privada dentro da sociedade regida pelo capital é desencadeadora da
pobreza com a qual muitos humanos vivem e que cabe ao assistente social, entre outros, tentar arrefecer.
Contudo, a partir do Movimento de Reconceituação, o contato desses profissionais com a teoria social de Marx,
durante o processo de sua formação, promoverá embates calorosos a respeito das diferenças de classes e da
questão social, fazendo surgir um posicionamento crítico.
O Movimento de Reconceituação foi motivado pelo questionamento dos profissionais do Serviço Social a respeito
da sua própria formação e prática social. No entanto, ele não foi homogêneo, nem esteve ligado ao pensamento
marxiano em seu início. Segundo Netto (2009), o movimento é constituído por três tendências: a perspectiva
modernizadora; a reatualização do conservadorismo e a intenção de ruptura. É somente nesta última tendência,
com o trabalho de Iamamoto e Carvalho (1995), que o Serviço Social passará a ter um vínculo claro com o
pensamento marxiano.
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Fonte: © tuk69tuk / / iStock.
Assim, como é possível visualizar, não existe uma relação harmoniosa entre burgueses e proletários. Dentro da
sociedade capitalista, os primeiros exploram os segundos para obter o lucro desejado. Entre eles há uma diferença
antagônica de classes que faz surgir a luta entre burgueses e proletários. Enquanto os exploradores lutam para
manter o poder conquistado e que privilegia um número cada vez menor de pessoas, os explorados lutam para
eliminar o capital e construir uma sociedade onde não haja exploração do homem pelo homem.
E essa luta de classes não se limita à esfera econômica, à fábrica ou ao campo. Ela também se expressa no mundo
das ideias. E isso se dá em situações sutis do dia a dia.
Na bandeira brasileira, por exemplo, existe a expressão “ordem e progresso”, uma ideia positivista que leva todos
os brasileiros a acreditar que, para se obter o progresso, é necessário manter a ordem. Aceita-se essa ideia sem
maiores reflexões. Por isso, condenam-se os trabalhadores, professores e estudantes que promovem movimentos
contra a exploração existente e contra as desigualdades diárias, pois isso quebra a ordem. Tentam convencer as
pessoas (por meio da mídia e das redes sociais) de que não há necessidade dessa baderna. E, assim, transformam a
luta dos explorados em simples atitudes de baderneiros, sem explicitar que ali está presente a luta de classes.
Afinal, é mais fácil defender o próprio privilégio daqueles que não querem modificar a realidade que lhe é cômoda.
O próprio Movimento de Reconceituação, do Serviço Social, também revela essa luta de classes no campo das
ideias. Isso porque a profissão sai de uma postura de acomodação, em que os assistentes sociais atuavam com
caridade aos pobres, e passa para uma postura crítica diante da realidade. Assim, a assistência passa a ser
trabalhada como um direito do usuário e faz com que os profissionais assumam um compromisso com a classe
trabalhadora no sentido de promover a transformação da realidade.
ESCLARECIMENTO
Positivismo é a filosofia que se contrapõe às especulações metafísicas ou teológicas defendidas
por Augusto Comte, filósofo que considera as ciências experimentais como modelo para o
conhecimento humano.
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1.1.3 Ideologia
No confronto com as ciências (que diz a verdade), a ideologia foi - e ainda é - entendida como um falseamento da
verdade.
Para Marx, ideologia são as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas sob as quais os homens
adquirem consciência do conflito existente entre as forças produtivas materiais da sociedade e as relações de
propriedade no seio das quais elas se haviam desenvolvido até então (MARX, 2008).
Segundo Lessa (2007, p. 72-73, grifos do autor):
Com o desenvolvimento da sociabilidade e a complexificação da práxis social, explicita-se com força
crescente a necessidade de um conjunto de ideias, valores, etc., mais gerais acerca do mundo e da
vida, que organize e confira uma lógica, uma direção aos atos dos indivíduos no interior de cada
sociedade. As ideias que, a cada momento histórico, cumprem essa função recebem de Lukács a
denominação de ideologia. Com o surgimento das classes sociais, a ideologia passa a exercer, também
– sem prejuízo da função anterior -, uma função mais restrita, de instrumento na luta pelo poder entre
os diferentes grupos sociais. A ideologia, tanto na sua concepção mais ampla quanto na mais restrita,
portanto, é uma função social específica, e não um conjunto de ideações que se caracterizam por ser
mais ou menos verdadeiras.
Assim, de maneira sintética, pode-se afirmar que os atos sociais que têm como finalidade influenciar no agir dos
outros indivíduos são chamados de ideologia. E a ideologia serve, nas sociedades de classes, como instrumento na
luta pelo poder, o que é ratificado por Vaisman (2014). A autora diz que a ideologia se manifesta como um
instrumento ideal através do qual os homens e as classes se envolvem nas lutas sociais, em diversosplanos e níveis.
É importante perceber, então, que não é a falsidade das ideias que a torna uma ideologia, mas a função que essas
ideias exercem de tornarem conscientes os indivíduos e, assim, agirem sobre essas relações desiguais nas quais
estão mergulhados.
Como a sociedade é constituída de classes antagônicas, as ideias também refletem esse antagonismo. Apesar dos
meios de comunicação e das escolas, por exemplo, difundirem as ideias da classe dominante, isso não impede que
as ideias da classe dominada surjam e sejam debatidas nesses espaços. Não existem apenas os intelectuais ligado
à classe burguesa; existem os que defendem a classe trabalhadora. E eles revelam o antagonismo de classes:
contrapõem-se à naturalização de condições que não são naturais (a existência de ricos e pobres) e, por meio das
pesquisas, subsidiam as críticas ao processo desnecessário de destruição desmedida da natureza, comprometendo
a existência no planeta apenas para garantir a reprodução do capital. Assim, ao dizer o que a realidade é, as ideias
vinculadas à classe trabalhadora cumprem a função social de tornar conscientes os indivíduos explorados e
mostrar a necessidade da luta contra o capital.
CURIOSIDADE
Marxista e marxiano são expressões distintas. Marxista é o conjunto de autores que seguem
Marx. Marxiano refere-se à própria obra de Marx. Um texto é marxista quando produzido por um
seguidor de Marx e marxiano quando elaborado pelo próprio Marx.
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Por sua vez, a burguesia faz o mesmo. Contudo, neste caso, ela não pode revelar tudo sobre a realidade porque
legitimaria a necessidade de sua destruição enquanto classe, para não destruir a vida na Terra. Aqui a ideologia
adquire o aspecto de falseadora porque precisa garantir a reprodução da sociedade capitalista. Mas o faz
cumprindo sua função: organizar e dar uma direção aos atos dos indivíduos egoístas burgueses e seus aliados,
mesmo que isso implique na defesa de um grupo minoritário em prejuízo da maior parte da humanidade. Basta
olhar no entorno que constatamos a vida desarrazoada que vivemos (guerra, fome, desemprego, etc.). Mas os
burgueses continuam defendendo seus interesses, fazendo crer que a história foi sempre assim e continuará
sendo; enquanto os trabalhadores e seus ideólogos se contrapõem e dizem que não é assim. Que as condições de
existência de todos podem (e aqui estamos falando de possibilidade) ser bem distintas. Isso depende da escolha
que faremos: vida ao capital ou vida para todos.
Cenário sub-humano
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2018.
O mapa acima mostra as diferenças históricas entre as regiões brasileiras. As cidades do Norte e Nordeste, por
exemplo, continuam apresentando os maiores índices de pobreza: entre 30 a 45% das pessoas vivem com R$ 13
por dia. E essa população, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aumentou de
13,5 milhões em 2016 para 15,2 milhões de pessoas em 2017.
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Os dados referentes ao Brasil não se diferem muito de outros países. Para ampliar seu lucro, o capital tem
assumido uma postura cada vez mais agressiva. Essa agressividade se revela não só na violência que vem
crescendo assustadoramente, mas na falta de emprego para a maioria das pessoas – inclusive os jovens que têm
enfrentado muito essa dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Se não for possível vender essa força de
trabalho, como atender as necessidades básicas de comida, casa, saúde e lazer? Condições desfavoráveis como
essas fazem com que a população busque alternativas para sobreviver. E assim surgem as condições de
subemprego e o aumento da criminalidade oriunda da venda de drogas, roubos, assassinatos e sequestros.
Sem perspectivas e sem entender o funcionamento das relações, as pessoas tendem a achar normal atribuir aos
pobres toda essa situação caótica que é reproduzida sem questionar. A perspectiva teórica crítica elaborada por
Marx - e da qual o Serviço Social acaba se apropriando - possibilita entender que o caos pode ser superado se for
superada também a relação do capital e que a riqueza que já foi socialmente produzida pode atender as
necessidades de todos de forma efetiva.
Além disso, mostra também que, ao invés das pessoas trabalharem tantas horas, essa quantidade de horas de
trabalho pode ser distribuída entre mais pessoas, sem o prejuízo de cada trabalhador receber o que lhe é
necessário. Essas condições existem de fato e não é dita para que o capital continue explorando quem está
inserido no mercado.
E a situação é tão cruel que mesmo você alcançando patamares elevados de formação, não há garantia de
trabalho. A formação lhe torna empregável, mas não empregado. Se a situação é essa para quem consegue investir
na sua formação, imagine para os trabalhadores do campo ou da cidade que não têm a mesma chance.
Observando essas condições reais com as quais nos deparamos, dá para entender a crítica ferrenha que se faz ao
capital e a necessidade de desvelamento e combate ao mesmo.
1.1.4 Alienação
Para entender a alienação é preciso primeiro conhecer alguns aspectos relacionados à forma de ação humana.
Todo ato humano é composto de duas etapas. Clique nos ícones e confira.
A prévia-ideação - (momento imediatamente anterior à execução do ato).
E o ato propriamente dito.
Na prática, é o próprio pensar e agir. Contudo, esse movimento, quando executado, ocorre em uma malha de
relações que já não corresponde aos limites da cabeça do sujeito que a idealizou. Isso porque deixam de ser
controlados pelo seu criador: os objetos criados ou as ideias expostas tornam-se sociais.
Um avião, um computador, uma mesa, por exemplo, independem do seu criador e das intenções que ele teve.
Depois de criados, os objetos vão ter os mais diversos usos. Para o bem ou para o mal.
Ou seja: o ato singular de um sujeito é previamente pensado, mas, após criados, os objetos caem na malha de
relações sociais com um destino que pode não ter sido pensado por seu criador. Com isso estamos mostrando que
o ato realizado pelo sujeito tem uma finalidade, mas a história (composta pelas ações e pelas relações humanas,
por exemplo) não apresenta essa finalidade.
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É assim que, apesar dos indivíduos construírem o seu mundo e desenvolverem suas forças e capacidades criativas,
também alimentam, concomitantemente, relações que inviabilizam a continuação dessa evolução. A relação do
capital é um exemplo claro disso. Apesar de ter sido criado pelas pessoas, elas não conseguem controlá-lo. É essa
relação que dita as regras sob as quais se vive: se os indivíduos não comprarem, não terão acesso à comida, casa,
estudo, saúde e outras necessidades, pois, na sociedade regida por ele, o que importa é a sua reprodução e não as
carências humanas.
As relações capitalistas, que, de forma revolucionária, quebraram as barreiras impostas pelo feudalismo para o
desenvolvimento de todos, hoje impedem o processo do devir humano. Aquilo que foi uma relação promovedora
de liberdade tornou-se elemento impeditivo do desenvolvimento humano, um promovedor de alienação.
O capital, que é uma relação construída pelos humanos, torna-se o dirigente da vida de todos. Assim, o criador (ser
humano) está submetido à criatura (capital). Nesse aspecto, os humanos, para se considerarem bem-sucedidos,
devem acumular riqueza. As pessoas valem pelo que têm, não pelo que são. Se alguém empresta o seu carro e
acontece um acidente, qual é a primeira preocupação? Em geral, é como ficou o carro. Percebe? A coisa é mais
importante do que o ser humano! As pessoas despendem todas as suas energias para dar vida a algo que as
subjuga. Isso impede o desenvolvimento delas enquanto humanos.
Fonte: © SaulHerrera / / iStock.
Apesar de produzir a própria riqueza social (a mesa, o computador, o avião, o feijão, o arroz, etc.), o trabalhador
não se percebe e não se identifica nela e em tudo o que produz. Ou seja: todo objeto resulta de um tempo de vida
que os trabalhadores (subjetividades) despendem para que esse objeto exista. Contudo, na sociedadecapitalista
existe um estranhamento entre o trabalhador e as coisas que ele cria. Eis a alienação.
1.2 A luta de classes e a economia política
Produzir conhecimento não é tarefa fácil. Requer práticas de como proceder a pesquisa e qual método empregar,
só para citar alguns exemplos. A forma como a produção do saber é encaminhada gera polêmicas, principalmente
no campo das ciências sociais.
Um desses aspectos polemizadores é a defesa da neutralidade dessa produção. Há quem defenda, há quem rebata.
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Vale então uma pergunta: se a sociedade é constituída por classes com interesses distintos, como as ideias que
refletem essa realidade podem não ser perpassadas por tal antagonismo? Segundo a perspectiva de Karl Marx, isso
não é algo possível. As teorias elaboradas, de maneira explícita ou não, representam interesses das classes
existentes. Os interesses antagônicos entre burguesia e proletariado atravessa a esfera da economia e atinge a
todas as esferas da existência humana, inclusive o mundo das ideias. Portanto, afirmar uma neutralidade da
ciência é cometer um equívoco.
Sob a perspectiva marxiana ou mesmo de alguns intelectuais burgueses mais cuidadosos com as condições de
existência, pensar uma ciência social neutra é um disparate. Para Marx, a não neutralidade na produção não revela
falta de rigor, nem o vínculo do intelectual com determinada classe invalida o seu conhecimento. A questão requer
um cuidado maior.
Quando a burguesia viveu seu momento revolucionário, defendendo o saber baseado na experimentação, por
exemplo, o fez para produzir as mercadorias que necessitava para negociar. Clique nos ícones e acompanhe o que
a burguesia necessitava.
Precisava dominar a natureza.
Conhecê-la para transformá-la.
O saber científico veio, então, substituir o saber defendido pela Igreja. A ações da burguesia revolucionária
promoviam relações que possibilitavam a humanidade conquistar novos patamares de existência. Contudo, ao
conquistar o poder, o perfil transformador de classe é substituído por um viés conservador. A partir de então, a
verdade defendida pelos burgueses é parcial: interessa conhecer desde que não colocasse em xeque seu domínio
de classe.
O papel revolucionário ou conservador de classe não é fruto moral de alguns sujeitos. Essa condição é dada por um
conjunto de relações que possibilitam a forma de ser da classe em questão. Hoje, o papel revolucionário não é mais
da burguesia. Ela conquistou o poder e o manterá, mesmo que, para isso, destrua a humanidade em defesa de
fazer permanecer uma relação altamente destrutiva da natureza e do homem, que é o capital. Nesse contexto
histórico, a classe trabalhadora assume esse papel revolucionário. A ela não interessa esconder o que a realidade é.
Nem dizer parcialmente a verdade. Um grande defensor dessa classe foi Karl Marx.
Para ele, a classe que pode promover a superação da sociedade capitalista é o proletariado porque a ela só
interessa a verdade e a objetividade do conhecimento teórico. Para conhecer a sociedade capitalista, Marx estuda
a mercadoria, já que ela se apresenta como forma elementar da riqueza constituidora da sociedade onde ele vivia e
onde se vive até hoje. Em meio a seus estudos, portanto, estava a economia.
Marx toma a produção da economia política clássica e faz a crítica necessária à ela, desvelando a estrutura e a
dinâmica econômicas da sociedade capitalista. Entre Marx e a economia clássica havia elementos comuns. Os
economistas não queriam simplesmente constituir uma disciplina, mas compreender como funcionava a
sociedade onde viviam. Outro aspecto é que eles objetivavam intervir política e socialmente. Esse é o momento em
que a burguesia era revolucionária e os economistas clássicos auxiliaram no processo de superação das relações
feudais.
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É importante voltar a assertiva de que à classe trabalhadora só interessa a verdade. Essa postura nada tem a ver
com a bondade dos trabalhadores. Veja: ao ser a classe explorada na relação, a ela não interessa manter essa
condição, seja no campo material do trabalho, seja no campo das ideias. Desvelar a realidade é algo fundamental
para a construção de uma sociedade diferente da capitalista. Por isso da afirmação que para a classe trabalhadora
só interessa a verdade: ela é a única classe antagônica ao capital, portanto, sob a perspectiva marxiana, a única
classe que pode promover a transformação da realidade. E isso pode ser feito por meio da destruição do capital
pelo processo revolucionário encabeçado pela classe trabalhadora com o apoio dos grupos que não se conformam
com o processo de exploração sob o qual vive a maior parte das pessoas.
1.2.1 Luta de classes como força motriz da história
Na obra , Marx (2008) diz que a história das sociedades é a história das lutas deManifesto do Partido Comunista
classes, que acompanhou, impulsionou e desenvolveu toda a história humana. O antagonismo de interesses entre
classes se torna ainda mais explícito com o surgimento, na modernidade, das classes burguesa e proletária, o que
ajuda a identificar essas classes nos momentos históricos, Marx assim detalha:
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, membro das corporações e aprendiz, em
suma, opressores e oprimidos, estiveram em contraposição uns aos outros e envolvidos em uma luta
ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, que terminou sempre com a transformação revolucionária da
sociedade inteira ou com o declínio conjunto das classes em conflito (MARX, 2008, p. 8).
DICA
Leia a introdução do livro , de José Paulo Netto eEconomia Política: uma introdução crítica
Marcelo Braz, e procure distinguir o que é , e economia política clássica economia economia
. A obra permite superar a visão limitada da economia, assumida quando apolítica para Marx
burguesia se põe efetivamente no poder. O livro está disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/525331/mod_resource/content/0/NETTO%2C%
20Jos%C3%A9%20Paulo%20%20BRAZ%2C%20Marcelo.pdf
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https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/525331/mod_resource/content/0/NETTO%2C%20Jos%C3%A9%20Paulo%20%20BRAZ%2C%20Marcelo.pdf
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/525331/mod_resource/content/0/NETTO%2C%20Jos%C3%A9%20Paulo%20%20BRAZ%2C%20Marcelo.pdf
Fonte: © jcgwakefield / / iStock.
Depois da sociedade primitiva, as relações que vieram foram embasadas no processo de exploração das classes
dominantes sobre a dominada. Para manter essa exploração, a classe dominante passa a fazer uso de complexos
como a política, o Estado e a Administração Pública, por exemplo, como forma de garantir o processo de
reprodução das relações sociais e levar os trabalhadores a produzirem o que é determinado por ela e não aquilo de
que precisa.
Um exemplo disso são as decisões políticas que promovem a venda de empresas públicas para o grande capital,
como a Vale. Ou, então, quando o Estado torna-se mínimo no atendimento às carências sociais, estabelecendo
uma hierarquização da pobreza para atender o mais carente entre os carentes.
Assim, condições concretas de existência, como os limites enfrentados pelos comerciantes para ampliar a
produção de suas mercadorias, por exemplo, levaram à derrocada da sociedade feudal. E embora a sociedade
atual ainda não tenha superado a relação do capital, é importante observar que tal superação é uma possibilidade
que poderá ou não ocorrer. É relevante pensar sobre isso para mostrar que as relações capitalistas não são
intransponíveis. Isso só poderia ser admitido se a sociedade capitalista não fosse produto histórico da ação
humana. Mas ela é. Portanto, se foi criada por pessoas pode também ser modificada por elas. E a realidade
permanece mostrando que a luta de classes continua existindo.
O nível de violência, de desemprego e de tantos outros problemas sociais só revelam que a fase impulsionadora do
capital já não existe mais. E que, portanto, é preciso refletir e agir com urgência, decidindo sobre os rumos que a
história humana precisa tomar. Se as pessoas ainda vivem sob o antagonismo de classes,então precisam conduzir
a força desse motor para levar a sociedade a outro patamar de existência.
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1.2.2 A economia capitalista e o processo de produção
A sociedade capitalista certamente sofreu modificações desde o período em que se consolidou (séculos XVIII ao
XIX) até hoje. No século XX conviveu com o que alguns autores chamam de socialismo real, que sofre um desmonte
no final desse mesmo período. O socialismo real são as tentativas de superação da sociedade comandada pelo
capital e que foram implantadas em alguns lugares do mundo, como a antiga União Soviética, Cuba ou China, por
exemplo, países ditos comunistas.
Fonte: © daseugen / / Shutterstock.
Hoje, o capitalismo é o que Netto e Braz (2007) definem como um sistema planetário, devido à sua expansão para o
resto do mundo. Não que as experiências pós-capitalistas (as tentativas de superação da sociedade regida pelo
capital chamadas de socialismo real) tenham desaparecido de todo, mas a presença do capital em países
comunistas é algo inegável na atualidade. Embora considerados comunistas, tais países têm aberto espaço para a
presença do capital. Nesse sentido, duas questões devem surgir: a ideia marxiana de comunismo de fato existiu? E,
se existiu, esse avanço do capital sobre ele significa que não há alternativa para o capital?
Além disso, como já mencionado, a produção capitalista é fundada na exploração do trabalho e é na exploração
desse trabalho que advém o lucro burguês. No entanto, o processo de produção sofreu algumas modificações.
Inicialmente, ele era mais simples, tinha o dinheiro como um meio de troca (Mercadoria-Dinheiro-Mercadoria) e
objetivava adquirir mercadorias de que precisava. Esse processo é alterado pelo sistema capitalista, que não
incentiva a compra mercadorias para atender as necessidades de uso dos indivíduos. Na verdade, ele passa a
comprar para vender e obter mais dinheiro. É assim que o dinheiro deixa de ser um meio e passa a ser um fim.
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Outro aspecto a ser considerado nesse processo de produção é a exploração desenfreada dos recursos naturais
para satisfazer a obtenção por mais e mais dinheiro. Embora haja preocupação dos ambientalistas e de pessoas
apreensivas com o destino do planeta, a persistência do capital irá sempre levar a dados como os do gráfico a
seguir:
Quanto tempo vai levar para o plástico desaparecer
Fonte: Woods Hole Oceanographic Institution, 2019.
PAUSA PARA REFLETIR
Realmente há necessidade das pessoas terem dois carros, duas casas, dez sapatos, etc.? Isto é
necessidade ou consumismo?
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Quanto tempo vai levar para o plástico desaparecer
Fonte: Woods Hole Oceanographic Institution, 2019.
Como o gráfico aponta, a produção abundante de mercadorias e o consumismo exacerbado provocam problemas
ambientais a partir de materiais que sujam, contaminam e apresentam dificuldade para se decompor.
Assim, para atender a necessidade da reprodução sempre ampliada do capital, o sistema capitalista vai deixando
seu rastro de destruição e comprometendo a vida no planeta. E o plástico é só um dos elementos causadores
desses problemas graves de poluição ambiental que são noticiados todos os dias.
1.3 Valor, trabalho e sociedade
Segundo Lukács (2018), na esteira de Marx, os indivíduos se fazem humanos por meio do trabalho. Ou seja: o que
eles são não resulta da genética. Embora tenham um corpo orgânico que os liga à natureza, esse ser natural torna-
se social à medida em que, na relação com a natureza, transforma-a para atender suas necessidades. Essa
atividade transformadora é o trabalho.
O trabalho é que gera o ser gregário que as pessoas são e que criaram as diversas sociedades ao longo da história.
Ou seja: o ato do trabalho (seja construindo a mesa mais simples ou a máquina mais complexa) conecta, agrega os
indivíduos. Pelo trabalho as pessoas estabelecem relação com a natureza, mas também com ou outros da sua
espécie. E é a quantidade de trabalho impresso no que produzimos que determina o valor do produto. Essas
informações, inquietante para alguns, nos aproxima da necessidade de estudar essa categoria trabalho.
Fonte: © SpicyTruffel / / iStock.
Afinal, as pessoas pensam que ele é importante porque as faz ganhar dinheiro. Mas isso só é importante nesta
forma de sociedade que existe hoje (a capitalista), pois sem o dinheiro não há acesso às mercadorias. No entanto,
sua importância vai além disso. Nas sociedades de classes (antiga, feudal e capitalista), devido ao processo de
CURIOSIDADE
Você sabia que, hoje, as pessoas só precisam trabalhar 17 minutos por dia produzindo toda a
riqueza que é fabricada atualmente? Isso seria possível se os humanos entre os 22 e 50todos
anos de idade trabalhassem, o que também solucionaria o grave problema do desemprego. Esse
levantamento foi feito pela ONU no fim do século 20 (LESSA, 2017).
31
exploração sob o qual acontece, perde-se de vista o aspecto fundamental do trabalho: o de atender as
necessidades humanas (com as coisas criadas) e de criar o próprio homem. Pelo trabalho fomos o homem antigo,
medieval, moderno e somos o homem de agora. A humanidade se põe por meio da atividade chamada trabalho. É
isso o que o faz importante.
1.3.1 Valor-trabalho: transformação da natureza e constituição do ser social
Marx (1988, p.142), ao falar do processo de trabalho, afirma que
Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem,
por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele mesmo se
defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais
pertencentes à sua corporalidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da matéria
natural numa forma útil para sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a Natureza
externa a ele e ao modificá-la, ele também modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza.
O que ele ensina é que, para atender as próprias necessidades, os indivíduos transformam a natureza. Ao fazer isso,
modificam a si mesmos. Imagine, por exemplo, o que acontece quando se faz algo pela primeira vez. Em geral, as
pessoas arquitetam diversas possibilidades e maneiras para realizar a tarefa necessária. Mas fazem a sua escolha e
efetivam a sua ação. Assim, durante o processo e com o resultado obtido, é possível perceber duas coisas: a
realidade foi mudada pelo ato feito e a própria pessoa, como ser humano, também. Afinal, ela adquiriu
conhecimento e desenvolveu habilidades. Percebe a mudança?
Processo de transformação do homem e da natureza
Agora imagine uma linha do tempo que mostra o caminhar do desenvolvimento do ser primata que todos foram
um dia e o que se tornaram hoje. A forma como ele atuou sobre a natureza, por meio do trabalho, provocou essa
mudança. E isso foi feito em grupo.
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A primeira experiência de educação, por exemplo, foi feita pelo trabalho. Alguém construiu um objeto (um
machado, por exemplo) e ensinou aos outros do bando a construírem também. Importante observar que as
construções humanas vêm como respostas às suas necessidades. E que se algo é idealizado por um sujeito, é nas
relações com os outros que a produção é feita.
O primeiro machado, então, foi construído e continua compondo o quadro de ferramentas desenvolvidas pelos
humanos até os dias de hoje. Os indivíduos são predominantemente sociais, sem precisar negar o vínculo com a
natureza (há um corpo orgânico). Mas o que caracteriza cada um é essa construção da nossa própria forma de ser
social.
Assim, sob a perspectiva marxiana, os indivíduos foram forjando a sua própria humanidade durante o processo de
atendimento às suas necessidades, ao transformar a natureza em machado, em mesa, em casa. E, ao mesmo
tempo em que conhecia a natureza e as suas propriedades que poderiam ser usadas em seu benefício, foram
conhecendo a si mesmos.
Ou seja: foram percebendo suas capacidades, desenvolvendo habilidades, deixando de ser apenas uma espécie
animal e se transformando em ser social. O problema da relação do capital é queele barra esse desenvolvimento
ao concentrar o poder nas mãos de uma classe cada vez mais minoritária e impede o acesso da riqueza
socialmente produzida a maior parte dos humanos.
Sob a regência do capital, as pessoas estão destruindo a natureza (sem a qual não dá para viver), tanto quanto a si
mesmas. Por isso, toda a crítica feita por Marx e seus seguidores, sobre essa relação que já não promove o
desenvolvimento dos humanos, faz tanto sentido até hoje.
1.3.2 Práxis, ser social e subjetividade
As pessoas se fazem por meio do trabalho, mas o ser social não se reduz a trabalho. Com o desenvolvimento das
relações sociais, o trabalho origina complexos que ultrapassam esse mero conceito, como a linguagem, a religião,
a educação, a arte, etc. São atividades, portanto, que não transformam a natureza.
Para marcar a diferença entre essas atividades e o trabalho, Netto e Braz (2007) apontam a categoria práxis.
Segundo esses autores, há a práxis que trata do controle e exploração da natureza (trabalho) e a práxis destinadas
a influenciar o comportamento e ação do ser social. Aqui, a atividade não implica em transformar a natureza, mas
em influenciar no comportamento humano. A práxis educativa é um exemplo desse último tipo de práxis.
A forma de ser humano (ser social) muda ao longo da história. “Em cada estágio do seu desenvolvimento, o ser
social é o conjunto de atributos e das possibilidades da sociedade, e esta é a totalidade das relações nas quais os
homens estão inseridos” (NETTO e BRAZ, 2007, p.45). Ou seja, o ser social concentra o máximo de humanização
construída pela ação e relação dos homens e essa humanização revela-se nos objetos, nos valores, nos projetos
sociais existentes.
CURIOSIDADE
Ser humano e ser social são expressões sinônimas. Quando Raul Seixas diz que “eu nasci há dez
mil anos atrás”, não faz referência a ele próprio, ser individual. O humano não começa, nem
termina na própria singularidade.
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Assim, quanto mais as pessoas se apropriam (no sentido de ter acesso e não de propriedade privada) dessas
riquezas produzidas, mais humanas elas se tornam. A subjetividade de cada um é produzida com base nas criações
existentes, assim como no conjunto de relações nas quais esse ser singular esteja inserido. Por isso, só numa
sociedade onde todos os humanos disponham das mesmas condições para socializar-se, a diversidade de sua
forma de ser poderá desenvolver-se.
Proposta de atividade
Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu nesse capítulo! Elabore uma apresentação em powerpoint
destacando as principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir sua apresentação considere as
leituras básicas e complementares realizadas.
Dica: na apresentação em Powerpoint tenha o cuidado de colocar o tema, apresentar os conceitos abordados no
capítulo de forma coerente e concatenada. Exemplificar, se possível.
Recapitulando
Para compreender um processo importante ocorrido no Serviço Social da América Latina – o movimento de
reconceituação, autores como Iamamoto (1995) e Netto (2007) nos possibilitaram conhecer alguns elementos da
teoria social de Marx. Categorias como trabalho, práxis, valor, mais-valia, etc. foram estudadas para entender a
sociedade regida pelo capital.
Iamamoto (1995) vai tratar, em seus estudos, dessas categorias no momento em que as relações monopolistas do
capital estão se pondo de maneira clara aqui no Brasil, imprimindo modificações consideráveis no cenário
brasileiro. E as mudanças sócio históricas rebatem no Serviço Social. A profissão até então influenciada pela igreja
católica, passa por um momento de análise crítica onde os profissionais buscam compreender os processos sociais
que fazem surgir a necessidade de sua existência na divisão social do trabalho; o sentido das ações do assistente
social na esfera das relações entre as classes burguesa e proletária. E não dá para realizar essa tarefa sem
contextualizar essa ação. Sem ver a relação entre a profissão e a sociedade na qual realiza suas ações.
Nesse sentido, a teoria social de Marx, ao afirmar que o homem se faz por meio do trabalho, possibilitou uma
noção de um fazer histórico desnaturalizador da existência humana. Mostrou que a relação mercantil, marca
predominante da sociedade regida pelo capital, é construto humano, portanto, passível de ser superada. Que
burgueses possuem interesses distintos dos trabalhadores. Que aos primeiros interessa obter o lucro advindo da
mais-valia, mesmo que essa riqueza gere, em contrapartida, uma miséria para a maioria dos humanos. Mesmo que
a apropriação privada da riqueza submeta o homem a condição de mercadoria.
Normalmente, os indivíduos não se percebem enquanto mercadoria. Não notam que estão dentro de uma
engrenagem onde são tratados como uma peça como outra qualquer. Se apresentam algum tipo de “defeito”
(mão-de-obra não qualificada; problemas de saúde, etc.) são imediatamente substituídos. Vale a pena observar um
detalhe: quantos estudantes conseguem seus diplomas todos os anos? Quantos sujeitos conseguem terminar
cursos técnicos? O problema é, de fato, falta de qualificação?
Vive-se, hoje, sob a regência do capital e não se procura entender seu funcionamento. Naturaliza-se o que é
construto humano. Quando se fala em “naturalizar” é porque o que é natural não pode ser mudado. A lei da
gravidade vale no Brasil ou no Japão. Se soltarmos um objeto, ele cai. Contudo, as leis que os humanos constroem
podem e são modificadas ao longo da história. As relações humanas não são as mesmas nas sociedades antiga,
medieval e moderna. Elas mudam. Por isso não dá para aceitar o conformismo de dizer que “sempre foi assim,
sempre será assim”. Isso não é verdade.
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Aceita-se como natural uma relação que nos leva a ter muitas roupas, muitos calçados, muitos perfumes, sem
questionar a razão disso. Quanto esse consumo desenfreado vem comprometendo seriamente a existência do
planeta? A mídia pede que os sujeitos economizem água e que saibam onde colocar o lixo, enquanto a grande
indústria utiliza uma quantidade de água absurda e despeja seus dejetos nas águas dos rios, provocando
verdadeiros desastres ecológicos.
Isso não quer dizer que não é importante cuidar do planeta. Mas não basta que o João e a Maria façam isso,
enquanto outras nações se recusam a tomar medidas para evitar os problemas de desgaste e poluição ambiental. E
isso, para continuar obtendo lucro. Ou seja, que viva o capital, mesmo que morramos todos nós.
Frente a todas essas condições problemáticas, a profissão do Serviço Social é uma das mais comprometidas em
elucidar as relações sociais sob as quais vivemos. Postura iniciada com o Movimento de Reconceituação. Desde
então, encontram-se, dentro do processo de formação e atuação, profissionais comprometidos com a classe
trabalhadora, que estudam e produzem textos voltados para a compreensão da sociedade capitalista, no sentido
de orientar suas ações junto à população que dela precisa. Fazendo desse trabalho não mais um atendimento
enquanto benesse, mas enquanto um direito da pessoa. Estão dadas aqui as linhas para a resposta da questão
inicial deste capítulo (a relação entre o Serviço Social e a teoria marxiana).
Referências
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Cortez, 2015.
IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. : esboço de uma interpretaçãoRelações sociais e Serviço Social no Brasil
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_____. . 3.ed.rev. e ampl. Ijuí: Ed. Unijuí, 2007.Para compreender a ontologia de Lukács
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(Org.). : teses e conferências do II Encontro Regional de Trabalho, EducaçãoMarxismo, educação e luta de classes
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Paulo: Instituto Lukács, 2014, p. 73-127.
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FUNDAMENTOS DO SERVIÇO SOCIAL: 
MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO NA 
AMÉRICA LATINA E BRASIL
CAPÍTULO 2 - O SERVIÇO SOCIAL E A TEORIA 
SOCIAL MARXISTA
Rafaela Vieira
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Objetivos do capítulo
Ao final deste capítulo, você será capaz de:
• Compreender o processo de incorporação do pensamento crítico de Marx pelo Serviço Social.
• Gerar debate sobre algumas perspectivas de aplicação da teoria de Marx no Serviço Social.
• Apresentar o discurso messiânico, militante e/ou fatalista.
Tópicos de estudo
• Influência marxista.
• Militantismo no Serviço Social.
• Messianismo no Serviço Social.
• Fatalismo e o Serviço Social.
• Interpretações da teoria marxista.
• Louis Althusser e os aparelhos Ideológicos de Estado.
• Os marxismos de Lenin e Trotsky.
• A incorporação de interpretações marxistas no Serviço Social.
• Retorno aos textos de Marx.
• A obra de Iamamoto & Carvalho.
• Aplicação da teoria de Marx no Serviço Social.
Contextualizando o cenário
Durante a década de 1960 ocorreu a eclosão de diversos movimentos sociais em diferentes partes do planeta. Um
dos principais destaques foi, por exemplo, o movimento estudantil na França de 1968 que, devido à grande adesão,
tornou-se um dos mais influente do mundo. No Brasil, as lutas populares também ocorreram, especialmente no
fim do regime militar, já que durante o período mais acirrado da ditadura os movimentos sociais foram reprimidos.
Essa conjuntura de inquietação social fez com que muitas organizações questionassem o mundo e também a si
próprias, buscando novas matrizes teórico-ideológicas que melhor pudessem representá-las.
Foi nesse cenário que alguns segmentos do Serviço Social, no Brasil e também outros países da América Latina,
passaram a não se reconhecer na sua prática profissional. Isso ocorreu porquea visão de mundo desses
profissionais estava mudando por influência de todo o contexto de lutas coletivas, o que os instigava a questionar
sua prática, tradicionalmente marcada pela aceitação da ordem social. A partir daí, teve início um processo de
busca por novos suportes teórico-metodológicos.
Dentro desse contexto, como o marxismo passou a ser a principal base teórico-metodológica do Serviço Social?
2.1. Influência marxista
Como estudamos no capítulo anterior, Karl Marx teve grande influência sobre o Serviço Social no Brasil e América
Latina. Mas nem sempre foi assim. O Serviço Social teve origem no bojo da consolidação da fase de monopólios do
capitalismo. Esteve, em seus primórdios, ancorado na doutrina social da Igreja Católica e desempenhava uma
prática moralizante e assistencialista.
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Foi a partir do Movimento de Reconceituação, como ficou conhecido esse processo de busca de um novo aporte
teórico, que o Serviço Social passou a ter a teoria social de Karl Marx (também chamada de materialismo histórico
ou método dialético) como sua principal base ético-política e teórico-metodológica. No entanto, naquela época, os
profissionais não tinham facilidade para acessar as obras originais de Marx, o que os levava a recorrer aos manuais
políticos e a intérpretes e a, muitas vezes, alcançarem, de forma não intencional, visões reducionistas acerca do
marxismo.
A compreensão errônea ou fragmentada, aliada à dificuldade natural de articular uma nova teoria à prática já
existente e modificar a prática profissional, provocou certas distorções. Resultam daí determinadas formas de
compreender a profissão que se traduzem em comportamentos equivocados diante do trabalho cotidiano. Mais
precisamente, podemos citar o militantismo, o messianismo e o fatalismo.
2.1.1. O militantismo no Serviço Social
Grande parte dos assistentes sociais que se interessaram pelo marxismo o fizeram a partir de sua militância,
sobretudo dentro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que, nos anos que antecederam a ditadura, teve
relevância no cenário político. O PCB, então filiado à Terceira Internacional Comunista, difundia o marxismo-
leninismo, doutrina oficial da União Soviética.
Fonte: © Manuel Esteban / / Shutterstock.
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Decorreu daí, entre os profissionais orientados por essa vertente do marxismo, um entendimento de que o Estado
e suas estruturas sociais eram injustas e, por isso, os assistentes sociais precisavam sair das instituições para atuar
exclusivamente nos movimentos sociais. Conforme Zacarias (2007, p. 7),
esse militantismo profissional […] cometia o erro de ignorar a condição de trabalhador assalariado a
qual o Assistente Social está sujeito. O chamamento feito da categoria à militância política, conduzida
por um apelo ao compromisso de classe, conferia por vezes intenções que ultrapassavam os limites da
profissão, ao fazer acreditar que a mesma por si só era capaz de produzir transformações na realidade
social, sustentando-se em uma leitura enviesada do marxismo.
Como é possível perceber, a autora sustenta que os assistentes sociais que defenderam esse posicionamento
ignoraram a condição dos profissionais de Serviço Social e dos trabalhadores assalariados e também
desconsideraram os limites da profissão.
O militantismo é um risco ainda atual. Claro que hoje não se defende mais que a categoria saia das instituições
para atuar somente nos movimentos sociais e há mais clareza a respeito de que o assistente social ocupa uma
posição de trabalhador assalariado na divisão sociotécnica do trabalho. No entanto, Iamamoto (2008) chama a
atenção para a necessidade do profissional ter domínio de três dimensões. Clique nos ícones e confira.
Teórico-metodológica (que se refere a um sólido embasamento da teoria, fugindo do senso comum).
Técnico-operativa (que diz respeito ao conhecimento dos instrumentos e técnicas do Serviço Social).
Ético-política (que consiste em ter ciência da dimensão política da profissão e seguir os princípios do Código de Ética
Profissional de 1993).
Concentrar-se apenas em uma delas pode levar a armadilhas como, respectivamente, o teoricismo (foco na teoria,
em detrimento das outras dimensões), o tecnicismo (foco nas técnicas) e o militantismo (foco na dimensão política
da profissão, em detrimento da teoria e das técnicas de atuação).
PAUSA PARA REFLETIR
Isso significa que assistentes sociais não podem ser militantes de movimentos sociais e partidos
políticos?
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Cabe esclarecer que ser militante de movimentos sociais e/ou partidos políticos, assim como participar, enquanto
profissional, de instâncias políticas, como fóruns e conselhos de direitos, é pertinente ao assistente social, desde
que ele esteja amparado por uma base teórica consistente e seja dotado de competência técnica para que não caia
no militantismo.
2.1.2. O messianismo no Serviço Social
Além do militantismo, outros dois dilemas irrompem no processo de renovação da profissão: o messianismo e o
fatalismo. Embora sejam aparentemente contrárias entre si, Iamamoto (2004) enfatiza que essas duas tendências
são, na verdade, complementares na medida em que reconhecem conflitos sociais, mas negam a possibilidade de
enfrentá-los com os meios que se apresentam com o desenvolvimento histórico.
O messianismo consiste em uma visãoidealista da profissão e da prática profissional. Ele deriva de uma concepção
utópica de que o assistente social, por meio de sua intervenção, tem a possibilidade de promover transformações
na sociedade e promover a emancipação humana. Marilda Iamamoto, importante autora do Serviço Social, foi
quem melhor definiu a tendência.
Segundo ela, o messianismo utópico é um comportamento diante da prática profissional que
privilegia as intenções, os propósitos do sujeito profissional individual, num voluntarismo marcante,
que não dá conta do desvendamento do movimento social e das determinações que a prática
profissional incorpora nesse mesmo movimento. O messianismo traduz-se numa visão “heróica”,
ingênua, das possibilidades revolucionárias da prática profissional, a partir de uma visão mágica da
transformação social (IAMAMOTO, 2004, p. 115-116).
Percebe-se, pois, que a principal diferença entre o messianismo e o militantismo é que o primeiro se situa no
interior da atuação profissional, entendendo que ela é capaz de promover mudanças radicais da sociedade,
enquanto o militantismo, como vimos, busca enfatizar a ação profissional por meio dos movimentos sociais num
processo de negação de espaços profissionais institucionalizados.
Fonte: © igorstevanovic / / Shutterstock.
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Outra diferença importante entre as duas vertentes é o fato de que o ponto central do messianismo é justamente
desconsiderar a realidade subjetiva, conforme mencionado na citação, o que o faz partir de uma determinação da
vida social pela consciência. Mas não se pode afirmar o mesmo sobre o militantismo.
Para Iamamoto (2004, p. 118), o messianismo deve ser superado, uma vez que ele parte de uma concepção
idealista, o que já foi transporto pelo próprio Marx “ao sustentar que o objeto não pode ser considerado mero
produto da consciência”. Isso significa que no pensamento marxiano é a realidade que determina a consciência, e
não o contrário. Precisamente por isso ele é considerado um filósofo materialista.
2.1.3. O fatalismo e o Serviço Social
Poderíamos dizer que messianismo e fatalismo são duas faces de uma mesma moeda. São opostos que, segundo
Iamamoto (2004), se articulam. Se o primeiro se origina de uma visão idealista, o fatalismo, por sua vez, está
enraizado no materialismo vulgar, aquele que despreza por completo o papel da subjetividade humana. Ele é,
ainda de acordo com a autora,
inspirado em análises que naturalizam a vida social, traduzido numa versão da profissão.“perversa” 
Como a ordem do capital é tida como natural e perene, apesar das desigualdades evidentes, o Serviço
Social encontrar-se-ia atrelado às malhas de um poder tido como monolítico, nada lhe restando a
fazer. No máximo, caberia a ele aperfeiçoar formal e burocraticamente as tarefas que são atribuídas
aos quadros profissionais pelos demandantes da profissão (IAMAMOTO, 2004, p. 115).
Ou seja, o fatalismo nega qualquer possibilidade de ação transformadora à medida que ignora a historicidade. Para
essa concepção, a realidade está dada e não é possível transformá-la. Assim, qualquer forma de intervenção
profissional tende apenas a resolver problemas imediatos, de maneira burocrática, superficial e fragmentada.
Perde-se, nessa lógica, qualquer capacidade de crítica, criatividade e proposição. O profissional fatalista está, pois,
destinado a cumprir tarefas meramente burocráticas.
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Messianismo e fatalismo
Ambas as concepções ignoram que, conforme ensina Marx (2006), os homens e mulheres fazem a história, mas não
a fazem como querem, pois dependem das condições materiais de que dispõem. O messianismo e o fatalismo são,
assim como o militantismo, riscos ainda atuais. Por isso, é necessário o domínio da teoria para a sua correta
articulação à prática profissional.
2.2. Interpretações da teoria marxista
No início dos anos 1960 houve um primeiro contato de alguns setores do Serviço Social com a tradição marxista, o
que ocorreu devido à participação de muitos profissionais nas lutas sociais que vinham acontecendo no mundo.
Esses profissionais já não se sentiam contemplados com as respostas dadas pelas teorias conservadoras às
demandas que se apresentavam. Eles questionavam o formato e o objetivo principal que o Serviço Social tinha à
época, de fazer a adaptação ao meio social daqueles que eram considerados “desajustados”. Então, conforme
passaram a ter contato com a teoria de Marx, começaram a questionar justamente esse meio social que envolvia a
sociedade capitalista.Segundo Iamamoto (2008), a adesão de alguns assistentes sociais à militância político-
partidária levou tais inquietações para a prática profissional.
Todavia, existia uma dificuldade de acesso direto às obras de Karl Marx, muitas das quais não estavam traduzidas.
E o fato dessa aproximação ter se dado pela via do PCB levou à forte adesão dos manuais de divulgação do
“marxismo oficial” como se estes fossem suficientes para a compreensão dessa teoria social. Tais manuais eram
elaborados para fins de propaganda política e se baseavam no marxismo-leninismo desenvolvido na União
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Soviética, durante a era Stalin. Havia a deturpação tanto do pensamento de Marx quanto de Lenin, que apareciam
nesses panfletos de maneira mais simplificada e ortodoxa, e refletiam, na verdade, a interpretação stalinista dos
escritos dos dois teóricos.
Além desses manuais difundidos pelo PCB, outra forma de aproximação dos profissionais à tradição marxista foi
por meio de alguns autores que estavam em voga entre a militância política da época, como Lenin, Trotsky, Mao
Tsé Tung e Che Guevara. Mas suas obras, muitas vezes, eram lidas apenas em partes, o que dificultava a
compreensão. Essa apropriação por meio dos intérpretes levou a um “marxismo sem Marx”, ou um marxismo
enviesado, que fizeram surgir distorções da aplicação da teoria à prática profissional. O militantismo, o
messianismo e o fatalismo, já discutidos, são exemplos disso.
No Serviço Social brasileiro, o intérprete que ganhou mais popularidade a partir dos anos 1970 foi Louis Althusser.
Ele teve forte influência sobre a profissão naquele contexto, sobretudo pela sua formulação dos chamados
Aparelhos Ideológicos do Estado. Outros autores que também tiveram influência foram Lenin e Trotsky.
2.2.1. Louis Althusser e os Aparelhos Ideológicos de Estado
Louis Althusser nasceu na Argélia em 1918 e foi criado na França. Filiou-se ao Partido Comunista Francês em 1948 e
foi professor da Escola Normal Superior de Paris. Publicou vasta obra na qual discutiu diferentes assuntos. Sobre
Karl Marx, escreveu os livros “Por Marx” e “Ler O Capital”, ambos de 1965. No entanto, a obra que exerceu maior
influência sobre as ciências sociais foi “Aparelhos Ideológicos de Estado”, de 1970. Althusser morreu em Paris em
1990.
BIOGRAFIA
Josef Stalin nasceu na Geórgia em 1878. Foi membro do Partido Bolchevique e participou da
Revolução Russa. Após a morte de Lenin, travou intensas disputas pelo poder com
correligionários do partido e acabou assumindo o comando da União Soviética. Permaneceu no
cargo até sua morte, em 1953.
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Fonte: © Marusya Chaika / / Shutterstock.
Em sua teoria sobre Estado, o autor identifica duas formas distintas de manutenção do A primeirastatus quo. 
ocorre pela via da violência, que é exercida pelo Aparelho Repressivo de Estado (ARE). Ou seja: o Estado
propriamente dito. A segunda é feita pela via da ideologia, exercida pelos Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE),
formado por meio das diversas instituições que compõem a vida social. Clique nos ícones e confira algumas
instituições.
Igrejas.
Escolas.
Sindicatos.
Família.
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Imprensa.
Artes, etc.
Independente se estas instituições são públicas ou privadas, seu objetivo é o mesmo: garantir a reprodução da
ordem social.
Ao formular a tese dos AIE, Althusser buscava ampliar a teoria do Estado da tradição marxista. Para o marxismo
clássico (Marx, Engels e Lenin), o Estado é um produto da divisão da sociedade em classes antagônicas e serve
como instrumento da classe dominante para mantera dominação. O filósofo francês não foge dessa concepção,
mas argumenta que a dominação não é mantida apenas pela violência, mas sobretudo por um grande aparato
ideológico.
Aparelhos ideológicos de Estado
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Porém, Althusser recebeu diversas críticas, geralmente feitas por outros marxistas que o acusaram de ser
estruturalista (por dar a entender que as estruturas da ordem estabelecida são imóveis) e funcionalista (pois sua
análise parecia excluir a lutas de classes). Em alguns escritos, Althusser se defendeu dessas críticas afirmando que
foi mal interpretado (CASSIN, 2009).
É possível que tenha sido, mas o fato é que Althusser ganhou notoriedade no Brasil como estruturalista e
funcionalista. Sua influência foi maior na Pedagogia, mas também se mostrou forte no Serviço Social. Por não
terem lido Marx, assistentes sociais da época compreendiam que aquela era a totalidade do marxismo, quando na
verdade era apenas uma das vertentes dessa tradição tão ampla. Na prática, os profissionais mais influenciados
pelo althusserianismo acabaram por desenvolver uma concepção estruturalista que desconsiderava as
possibilidades de transformação, embora houvesse crítica ao status quo.
2.2.2. Os marxismos de Lenin e Trotsky
Lenin, cujo nome verdadeiro era Vladimir Ilyich Ulyanov, nasceu em 1870 na cidade russa Simbirsk (que depois
passou a ser chamar Ulianovsk em homenagem a ele). Interessou-se ainda jovem pelo socialismo e teve papel de
destaque no Partido Operário Social-Democrata Russo. Mais tarde, quando esse partido se dividiu entre
bolcheviques (maioria em russo), e mencheviques (minoria em russo), assumiu a liderança do primeiro grupo.
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Teve intensa atividade política ao longo da vida, o que incluiu participações em motins e exílios, culminando na
liderança da Revolução Russa em outubro de 1917, um dos mais importantes episódios políticos e sociais do século
XX. Foi o dirigente do regime soviético até sua morte, em 1924.
Paralelamente à vida política, Lenin foi um teórico sui generis e, por ser diferenciado, produziu rica e vasta obra.
Dentre seus muitos escritos, destacam-se Que fazer? (1902), obra na qual discute questões táticas para a revolução
socialista na Rússia (em especial o papel do partido na organização dos trabalhadores), Imperialismo, fase superior
do capitalismo (1916), em que analisa a formação dos monopólios e o neocolonialismo, e O Estado e a Revolução
(1917), onde discorre sobre a função do Estado no capitalismo e busca teorizar sobre o que ocorreria com ele após
a revolução.
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Conforme Pazello e Ferreira (2017, p. 127), Lenin traz a “problemática da tática e da estratégia revolucionárias
como momentos de análise necessários para estabelecer uma forma de luta contra as estruturas capitalistas de
modo realista, mas sem cair no conformismo, e ousada sem, no entanto, acarretar em voluntarismos utópicos”.
Embora seja acusado por muitos de dogmático, Lenin, que era um prático por excelência, alertava para a
necessidade de se estar atento às mudanças da realidade, em especial às novas formas de organização da classe
trabalhadora. E isso deveria ser feito por meio de uma aproximação a ela, de modo a identificar e apoiar suas
formas de luta (PAZELLO e FERREIRA, 2017).
Contudo, como já mencionado, após sua morte, seu pensamento foi simplificado por Stalin e transformado na
doutrina oficial do Partido Comunista da União Soviética e, por consequência, dos países aliados à potência
socialista. O marxismo-leninismo, como foi nomeado, foi disseminado como “receita de bolo” em forma de
manuais pelos partidos filiados à Terceira Internacional Comunista. Por isso, foi esse suposto leninismo que ficou
conhecido na época, levando-se em conta que os militantes tinham pouco contato com as fontes originais.
Já Leon Trotsky, ou Lev Davidovich Bronshtein conforme nome registral, nasceu em 1978 na Ucrânia. Assim como
Lenin, também teve vida política ativa e foi um dos líderes do Partido Bolchevique e da Revolução Russa. Coube a
ele a função de organizar o Exército Vermelho, que tinha como fim defender o regime recém-implantado de uma
contrarrevolução. Após a morte de Lenin, Trotsky foi perseguido por Stalin, com quem tinha sérias divergências, e
acabou se exilando no México, onde foi assassinado, em 1940, por um agente de seu rival.
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CONTEXTO
O neocolonialismo ocorreu entre o final do século XIX e meados do século XX, quando as
potências europeias dominaram política e economicamente as regiões da África e da Ásia em
busca de matéria-prima de baixo custo e ampliação de seus mercados.
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Trotsky também dedicou seu tempo a registrar suas ideias políticas, que estão presentes em obras como História
 e , ambas de 1930. Pouco antes de morrer, fundou, em 1938, a Quartada Revolução Russa A revolução permanente
Internacional Comunista em oposição à Terceira Internacional, dominada pelo stalinismo.
De acordo com Bianchi (2007), Trotsky se negava a tratar o marxismo de maneira dogmática. Ou seja: ele
reconhecia a necessidade de compreender que o avanço do capitalismo faria a teoria também avançar. Isso não
significa que a obra de Marx ficou ultrapassada. Bem pelo contrário: ela continua sendo a base de uma ampla
tradição teórica. No entanto, os autores mais contemporâneos precisam se atentar às mudanças da realidade para
fazer novas mediações e foi nesse sentido que Trotsky empregou originalidade a essa tradição. Assim, ele trouxe
duas contribuições importantes: o internacionalismo metodológico e a centralidade da política nos processos
revolucionários.
A primeira contribuição - o internacionalismo metodológico - se refere a analisar a particularidade local
relacionando-a à totalidade do sistema político e econômico do capitalismo mundial. Assim, considerando que a
situação econômica e social de cada país tem reflexo do contexto externo, a luta contra o capitalismo deve ser
internacional e permanente.
A segunda contribuição - a centralidade da política nos processos revolucionários - consiste em negar a máxima de
que as condições para a revolução socialista aparecem quando a velha ordem já não permite mais o
desenvolvimento das forças produtivas. Ele alertou para o fato de que apenas esse fator econômico não é
suficiente para a transição social. O que determina, na sua óptica, o sucesso ou o fracasso de uma revolução é
capacidade do partido político organizar os trabalhadores (BIANCHI, 2007).
Contribuições de Trotsky
O pensamento de Trotsky deu origem a uma corrente do marxismo conhecida como trotskismo, que exerceu
grande influência sobre a militância brasileira e latino-americana a partir de meados do século XX. Essa corrente se
opunha ao stalinismo, tido como totalitário. Durante o regime militar brasileiro, grande parte daqueles que
arriscavam suas vidas na luta armada eram trotskistas, assim como significativa parcela daqueles que
protagonizaram as lutas pela reabertura política entre o final dos anos 1970 e início da década seguinte.
2.2.3. A incorporação de interpretações marxistas no Serviço Social
É necessário pontuar as inúmeras dificuldades que estudantes e profissionais tinham para acessar as obras
marxianas naquele período. Além de muitas não serem traduzidas para o português, com a ditadura se instaurou
uma fase de perseguição àqueles que se diziam marxistas ou participavam de organizações revolucionárias e
movimentos de resistência. Com isso, noções fragmentadas do marxismo foram sendo incorporadas pelos grupos
de esquerda.
No Serviço Social, marcado pela herança de teorias conservadoras, o marxismo foi sendo incorporado a partir de
intérpretes, como Althusser, Lenin (ou o marxismo-leninismo) e Trotsky, aos quais os profissionais e docentes
tinham acesso. Eram diferentes interpretações da obra e contribuições próprias dos autores que, agrupadas,
formam uma ampla teoria social.
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Fonte: © Billion Photos / / Shutterstock.
Tendo em vista a abrangência da tradição marxista, é maiscorreto afirmar que existem marxismos, no plural. No
entanto, a falta de rigor teórico ao buscar compreendê-los pode levar a imprecisões, como o que ocorreu com
segmentos do Serviço Social que se aproximaram da teoria na segunda metade do século passado. Foi comum, no
período, a referência a importantes pensadores marxistas, como os elencados acima, porém, desarticulados da
fonte que originou suas concepções de mundo. Tudo isso levou a diferentes entendimentos a respeito do
marxismo, sendo possível encontrar
um Marx que agiganta a determinação do fator econômico como elemento único, gerador do
desenvolvimento da sociedade; um Marx que supervaloriza o papel das classes, de sua luta, do
significado do sujeito construindo sua história, desvinculado da base material que o sustenta; um Marx
que é ‘metodológico’ na própria acepção positivista, ou seja, que se reduz ao método; um Marx
atrofiado à sua dimensão de cientista social ‘investigador’ da sociedade, desligado de sua convicção
da necessidade de transformação desta (QUIROGA TAVARES, 2013, p. 9-10).apud 
A partir dessas definições das interpretações do marxismo, podemos pensar como cada um daqueles
comportamentos profissionais que vimos acima (militantismo, messianismo e fatalismo) se encaixam em cada
concepção a respeito da teoria de Marx. No entanto, essa relação entre um determinado comportamento e uma
determinada interpretação não é rígida.
2.3. Retorno aos textos de Marx
O regime militar brasileiro iniciado em 1964 interrompeu o primeiro momento de aproximação do Serviço Social ao
marxismo. Durante a ditadura, ocorreu uma segunda aproximação, que consistiu em uma sistematização da
profissão a partir de uma leitura marxista, mas esta era ainda reducionista. Essa experiência aconteceu na Escola
de Serviço Social da Universidade Católica de Minas Gerais, e ficou conhecida como Método BH. Contudo, chegou
ao fim quando os professores envolvidos foram demitidos em circunstâncias desconhecidas.
No final da década de 1970, o cenário político-social ganhou novos ares com a crise do regime ditatorial. Isso
trouxe à tona a eclosão de uma infinidade de movimentos sociais que demandavam diversos direitos, além da
volta da democracia. Surgiram, inclusive, sindicatos de assistentes sociais que pressionavam o Conselho Federal
50
de Assistentes Sociais (CFAS) e a Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social (ABESS) a incorporarem as
demandas vindas das lutas populares. Isso provocou alterações substantivas na direção político-profissional e na
formação social, bem como, permitiu uma maior aproximação do Serviço Social ao pensamento marxista
(Zacarias, 2017).
Outro fator importante foi a expansão, durante o regime militar, dos cursos de graduação e pós-graduação na área.
Isso possibilitou maior interlocução do Serviço Social com outras disciplinas – como a Sociologia, a Antropologia, a
Ciência Política, a Economia e a Psicologia –, repercutindo em maior diálogo com diferentes autores e correntes de
pensamento, com destaque para Marx e a tradição inaugurada por ele. Os influxos de outras áreas de ensino
incentivaram a eclosão do Serviço Social tradicional na academia e permitiram um resgate do processo iniciado
pela experiência de BH (NETTO, 2007).
Aproximação entre o Serviço Social e a tradição marxista
Todo esse cenário de redemocratização foi propício para que, finalmente, o Serviço Social pudesse, a partir dos
anos 1980, ir direto à fonte e buscar as obras originais de Karl Marx. Nesse sentido, logo no início daquela década,
houve uma importante publicação que veio a influenciar toda a análise posterior da profissão: Relações Sociais e
Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológico, dos assistentes sociais Marilda
Vilella Iamamoto e Raul de Carvalho.
2.3.1. A obra de Iamamotto & Carvalho
A obra em questão foi lançada em 1982 e teve origem em estudos desenvolvidos por ambos os autores junto ao
Centro Latino-Americano de Trabalho Social (CELATS), dos quais também participaram Manuel Manrique Castro e
Alejandrino Maguiña Larco, importantes nomes do Serviço Social na América Latina.
Iamamoto e Carvalho explicam que a perspectiva de análise que orientou o estudo foi
o Serviço Social como profissão no contexto de aprofundamento do capitalismo na sociedade
brasileira, no período 1930-1960. Através desse estudo procurou-se desvendar o significado social
dessa instituição e das práticas desenvolvidas em seu âmbito, por agentes especialmente qualificados:
os Assistente Sociais. A análise sociológica nessa perspectiva implicou o esforço de inserir a profissão
no processo de reprodução das relações sociais (IAMAMOTO e CARVALHO, 2006, p. 15).
51
Segundo Netto (2007), a modalidade analítica adotada por Iamamoto e Carvalho é inédita, uma vez que inseriu a
origem e o desenvolvimento da profissão nas relações sociais próprias à sociedade capitalista. Soma-se a isso
também o fato do livro ter o aporte teórico das fontes clássicas da teoria marxiana, e só ocasionalmente recorrer a
intérpretes, o que permitiu compreender a perspectiva ontológica original de Marx e superar algumas
generalizações presentes na tradição marxista. Pode-se considerar que, com isso, eles também se tornaram
intérpretes de Marx; no entanto, a leitura da obra marxiana se tornou mais frequente entre os assistentes sociais e,
principalmente, nos cursos de graduação e pós-graduação da área.
Sem dúvida, o livro é um marco na história da profissão, pois significou uma nova forma de análise, até então
ignorada por aqueles que buscavam compreendê-la. Esse entendimento de que o Serviço Social insere-se
diretamente nas relações determinadas pelo sistema capitalista permitiu a ressignificação da prática profissional.
Se isso já vinha sendo ensaiado desde o início da aproximação dos assistentes sociais com a tradição marxista, foi a
obra de Iamamoto e Carvalho que representou o momento de amadurecimento desse processo.
2.3.2. Aplicação da teoria de Marx no Serviço Social
Uma impressão recorrente entre a categoria é a de que a teoria não se aplica à prática. Não é incomum
observarmos o desconhecimento de estudantes e mesmo de profissionais em relação à articulação do marxismo
ao processo de trabalho. Todavia, a utilização dessa teoria social não é apenas possível, mas também necessária
para a efetivação de uma prática comprometida com os direitos da classe trabalhadora e enfrentamento de
processos de desigualdade e injustiça social.
Fonte: © patpitchaya / / Shutterstock.
Sant'ana e Silva (2013) advertem que não é possível que o assistente social atravesse os limites institucionais e da
própria profissão e promova a emancipação social de si mesmo e da população atendida por meio de sua
intervenção. Pensar assim seria cair no messianismo. Ao contrário, é necessário apreender, a partir da análise da
realidade concreta, as contradições inerentes ao modo de produção capitalista e a impossibilidade de “consertar”
ou melhorar a ordem por ele regida.
Portanto, é essencial ao Serviço Social e ao assistente social apreender as contradições da ordem burguesa e as
nuances da luta de classes para assim “dar uma contribuição no âmbito das disputas materiais-ideológicas
instauradas no atual contexto” (SANT'ANA e SILVA, 2013, p. 91-2), e assim, fortalecer a defesa dos interesses
52
daqueles que vivem do trabalho. Para tanto, a perspectiva de totalidade consiste em elemento de suma
importância.
Dessa forma, essa possibilidade de fazer teórico-prático do assistente social não está baseada em dados
preestabelecidos, mas depende de uma constante investigação e análise da realidade concreta, o que pode se dar
na atuação cotidiana e em processos de participação social, tais como em fóruns, conselhos, conferências, etc.
Com isso, os mesmos autores chamam a atenção também para o potencial do “cotidiano miúdo”, que
aparentemente não tem papel significativo, mas que pode contribuir para solucionar questões amplas e complexas
que se colocam como demandas para o serviço socialno mais diversos espaços sócio-ocupacionais.
Todos esses apontamentos não são possíveis de serem realizados sem o aparato do materialismo histórico, pois é
somente ele que tem a perspectiva de totalidade como elemento central e que permite a apreensão das
contradições da realidade social. E, como ensina Marx, a realidade é dinâmica e complexa, o que significa que a
incorporação do marxismo pelo Serviço Social não está concluída. Ela é fluida e está em constante transformação.
Proposta de atividade
Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu nesse capítulo! Elabore um fichamento destacando as
principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzi-lo considere as leituras básicas e complementares
realizadas.
Recapitulando
Ao longo desse capítulo, nós vimos que o Serviço Social brasileiro incorporou o marxismo por meio de um processo
iniciado nos anos 1960. No entanto, no início esses profissionais não tinham contato direto com as obras de Marx,
ESCLARECIMENTO
A categoria totalidade é essencial na obra de Marx e significa, basicamente, que todas as
dimensões (econômica, social, política etc.) da realidade objetiva compreendem um todo e
estão, portanto, articuladas e determinando uma à outra mutuamente.
PAUSA PARA REFLETIR
Existe uma teoria correta para compreendermos a profissão e a sociedade?
53
apenas com manuais de propaganda política e intérpretes. Isso resultou em compreensões errôneas do marxismo
e, consequentemente, aplicações equivocadas da teoria à prática profissional (como o militantismo, o
messianismo e o fatalismo).
Além dos manuais políticos, alguns autores que influenciaram o Serviço Social foram Althusser, Lenin e Trotsky.
Apenas do final dos anos 1970, no período da reabertura política, assistentes sociais tiveram mais possibilidades de
contato direto com os livros de Marx. Um marco nesse processo foi a publicação de “Relações Sociais e Serviço
Social no Brasil”, de Iamamoto e Carvalho.
A partir dos anos 1980, o estudo do marxismo com base no próprio Marx se tornou mais comum entre os
profissionais, especialmente nos cursos de graduação e pós-graduação em Serviço Social. No entanto, cabe
lembrar, Marx é a base de uma ampla tradição, e a leitura de suas obras não elimina a necessidade de conhecer
outros autores.
Referências
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CASSIN, M. Louis Althusser e o marxismo: polêmicas e contribuições. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL MARX E
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PAZELLO, R.; FERREIRA, P. Tática e estratégia na teoria política de Lênin: aportes para uma teoria marxista do
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MARX, K. . São Paulo: Centauro, 2006.O dezoito brumário de Louis Bonaparte
NETTO, J. P. : uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. 11 ed. São Paulo: Cortez,Ditadura e Serviço Social
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54
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ZACARIAS, I. R. A aproximação entre o Serviço Social e o marxismo. In: ENCONTRO INTERNACIONAL DE POLÍTICA
SOCIAL e ENCONTRO NACIONAL DE POLÍTICA SOCIAL, 5. e 12., 2017, Vitória (ES). ... Vitória, 2017. DisponívelAnais
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55
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FUNDAMENTOS DO SERVIÇO SOCIAL: 
MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO NA 
AMÉRICA LATINA E BRASIL
CAPÍTULO 3 - SERVIÇO SOCIAL E A INFLUÊNCIA 
GRAMSCIANA
Veronica F. Pinto
56
Objetivos do capítulo
Ao final deste capítulo, você será capaz de:
• Identificar a incidência do pensamento gramsciano no Serviço Social.
• Reconhecer a importância da cultura na construção de uma nova ordem societária.
Tópicos de estudo
• Proposta teórico-metodológica
• Concepção dialética da história
• O intelectual orgânico
• A filosofia da práxis
• Principais conceitos em Gramsci
• Conceito de Cultura
• Construção da contra-hegemonia
• Sociedade Civil
• Estado Ampliado
• Contribuição da teoria de Gramsci para o Serviço Social
• Superação do determinismo marxista
• Economicismo perde força
• Valorização da cultura
• A direção histórica indicada por Gramsci
• Protagonismo dos sujeitos
• Nova ordem societária
Contextualizando o cenário
O Movimento de Reconceituação sofreu influência direta do pensamento marxista. No entanto, as primeiras
aproximações com essa teoria ocorreram por meio de outros pensadores, como Antonio Gramsci, por exemplo.
O Serviço Social se aproxima desse autor na década de 1970 por meio dos cursos de pós-graduação, quando
elementos como Estado ampliado, hegemonia, sociedade civil e filosofia da práxis aparecem no universo da
profissão como forma de analisar a realidade social.
Ao mesmo tempo, porém, Gramsci e Karl Marx possuem diferenças – especialmente ligadas ao tempo histórico que
separa a vida dos dois e os locais diferentes onde viveram - que precisam ser esclarecidas. Contudo, mesmo ao
compreender algumas categorias de forma distinta, Gramsci é considerado autor marxista e se configura por
muitos estudiosos da área como o autor que conseguiu promover avanços em relação à teoria marxiana. Um deles
é justamente a percepção de Estado ampliado.
Antes, no entanto, é importante se perguntar: será que é fácil estabelecer essas diferenças entre as percepções de
Marx e Gramsci?
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3.1.Proposta teórico-metodológica
Antonio Gramsci foi um pensador e filósofo italiano nascido em 1891 em Sardenha, uma ilha ao Sul da Itália.
Frequentou a escola até a quinta série e, aos 12 anos, em 1903, teve de deixar os estudos para trabalhar e ajudar a
mãe e os seis irmãos. Seu pai havia sido preso alguns anos antes, sob a acusação de falsificação de documentos no
cartório, deixando a família numa miséria cada vez maior.
Todas as condições precárias em que ele e o povo vivia provocava revolta e ressentimento em Gramsci. Ele não
entendia, por exemplo, como alguns jovens como ele, esforçados e com boas notas nos estudos, eram impedidos
de estudar por não ter meios financeiros.
Ao conseguir uma bolsa para estudar literatura em Turim, no norte da Itália, Gramsci começa a tomar cada vez
mais ciência das disparidades existentes entre o Norte e o Sul da Itália, conhecidos, à época, como a região rica e a
região pobre do país. Ele percebe, por exemplo, que o Norte era agraciado pelo progresso e pelo desenvolvimento
econômico oriundo das relações capitalistas que se instalavam, em contraposição à miséria do Sul cuja
produtividade agrícola estava baixa, havia emigração em massa, tanto quanto o aumento do desemprego
(SIMIONATTO, 2011).
Fonte: © Alessandro Giordano 1981 / / Shutterstock.
CURIOSIDADE
Quando suas ideias e pensamentos se popularizaram pelo mundo, Gramsci ganhou o apelido de
pensador sardo, justamente por ter nascido em Sardenha.
58
Observa, então, que o capitalismo nascente gerava um processo maior de exclusão para os camponeses e essa
situação ficava ainda mais delicada por não haver um movimento que os organizasse na perspectiva de lutar em
prol de reivindicar seus direitos.
No entanto, o desenvolvimento do pensamento gramsciano acontece apenas quando ele se envolve com a
militância socialista, cujo contato inicial se dá por meio dos jornais. É nessa época que ele elabora
um novo modo de pensar imbricado com o movimento da história e da sociedade e com os desafios
que a sua época suscitou. […] Os atores postos em marcha pelo processo histórico dessa época – a
classe operária e camponesa – constituirão o fio condutor do seu pensamento, principalmente na fase
anterior à prisão. Com eles aguça-se a sensibilidade para a luta, para a construção de uma nova ordem
social, de uma nova cultura, de um novo projeto político (SIMIONATTO, 2011, p. 35).
Das experiências de vida desde a Sardenha até Turim, Gramsci evolui seu processo de compreensão da realidade.
De uma postura crítica limitada à sua terra natal, o processo de conhecimento o faz perceber que a miséria não se
circunscreve apenas à Sardenha e que o acesso ao pensamento socialista é importante para essa ampliação de
visão. Essa percepção surge, especialmente, por meio dos jornais que Gramsci lia à época e da militância que passa
a exercer junto aos trabalhadores e aos Conselhos de Fábrica.
Fonte: © pop_jop / / Shutterstock.
Ele percebe, por exemplo, que a realidade é contraditória. E para trabalhar o real, tal como ele é, é preciso transitar
entre a aparência e a essência, entre o singular e o universal. Assim, sua ligação com o pensamento marxiano vai se
fazendo cada vez mais nítida.
59
Nesse sentido, de acordo com a proposta teórico-metodológica do pensamento marxista feita por Gramsci, o
movimento de captura do objeto pesquisado (a produção de conhecimento) não foca no sujeito (pesquisador)
como polo regente. A realidade é que o é. Portanto, o sujeito (ideia) deve apreender o movimento do real (objeto)
procurando ser o mais fiel nessa representação.
Contudo, por acreditar que a esfera econômica já havia sido devidamente trabalhada por Marx e Lênin, Gramsci
dedica seus estudos a outras esferas do ser social, em particular à cultura.
3.1.1 Concepção dialética da história
O compromisso que Gramsci assume com a luta dos trabalhadores o aproxima do pensamento marxiano, que tece
crítica à sociedade regida pelo capital. A partir desse pensamento, Gramsci entende que o mundo social é
composto de ideia e matéria, que se relacionam dialeticamente formando a história humana.
Essa percepção da articulação dialética entre ideia e matéria, possibilitada pela ação denominada trabalho, é um
marco diferenciador entre a perspectiva teórica elaborada por Marx, seguida por Gramsci, e tudo o que já havia
sido produzido na esfera do pensamento. Nesse sentido, a realidade dos acontecimentos da vida humana é
estudada a partir de sua materialidade e não pela transcendência. Assim, a existência social é histórica (processo
construído pelos humanos) e dialética (dinâmica e contraditória). Essa forma filosófica de compreender o real
recebe o nome de materialismo histórico-dialético.
Tal perspectiva de apreender o real é como Gramsci se identifica, influenciando suas ações e reflexões. Segundo
Lessa e Tonet (2008, p.45),
[…] descoberto por Marx ao estudar a sociedade capitalista, caracteriza-se por conceber o mundo dos
homens como a síntese da prévia-ideação com a realidade material, típica e elementarmente por meio
do trabalho. As dimensões ideal e material dos atos humanos são integradas, possibilitando tanto
reconhecer a importância das ideias para a história, quanto a sua impotência quando não encontram
as condições históricas necessárias para que sejam traduzidas em prática (para que sejam objetivadas)
por atos humanos concretos.
A menção à prévia-ideação no excerto acima é o momento imediatamente anterior à execução de um ato. Isso faz
Gramsci perceber como o pensamento e os atos humanos são provocadores de mudanças. O mundo humano é
resultado desse momento, que é realizado pelo sujeito, com suas ideias, e agindo sobre a realidade material. E isso
acontece quando há a transformação da natureza, por meio do trabalho. Assim, pelo trabalho, as pessoas
constroem a história, mas é necessário que haja condições históricas que possibilitem a sua realização. Nesse
sentido, a realidade social resulta da síntese entre ideia (sujeito) e matéria (realidade).
Esse aspecto, de um sujeito atuante e construtor da história, é elemento importante para a identificação de
Gramsci com seu pensamento materialista histórico-dialético, uma vez que nega a ideia de passividade do sujeito.
DICA
Leia a obra , de Ivo Tonet, que discute o processoMétodo científico: uma abordagem ontológica
de conhecimento e os fundamentos ontológicos do método científico. Disponível em: <
>.https://coletivoveredas.com/livros-em-pdf
60
https://coletivoveredas.com/livros-em-pdf
A forma materialista de expressar o mundo real mostra que todos os sujeitos fazem história à sua maneira. Assim, a
história humana não é construída por sujeitos ou grupos privilegiados, tampouco por seres transcendentais, mas,
sim, por todos os humanos.
Esse, aliás, é um dos fatores positivos trazidos pela sociedade capitalista. Ao conhecer a natureza para transformá-
la em mercadoria, o homem percebe o constante movimento da natureza e também dele próprio. Isso ajuda a
desvelar a realidade: se ela fosse constituída de desigualdades, exploração e ignorância, por exemplo, tais
condições resultariam das próprias relações humanas e, portanto, poderiam ser eliminadas. Para Gramsci, saber
essa verdade deveria ser dado não apenas aos intelectuais, mas também às massas.
Fonte: © Drazen Zigic / / Shutterstock.
Assim, o encontro com o pensamento materialista-dialético deu o norte necessário para a luta que ele assume
junto aos trabalhadores. Com seus estudos e vivência, Gramsci consegue compreender que a realidade social é
produto da ação humana (história), criadora de bens e valores, e que, portanto, ao criar uma nova ordem social,
novas relações e valores iriam surgir. Mas, para isso, é fundamental que as massas se disponham a participar,
especialmente no que diz respeito ao pensar e ao agir da realidade vivida.
3.1.2 O intelectual orgânico
Ao mudar para Turim, no norte da Itália, para estudar, Gramsci se depara com uma nova realidade. Em vez das
dificuldades enfrentadas pelos camponeses, tão comuns na regiãoSul de onde vinha, ele encontrou novos
problemas vividos pelos trabalhadores de fábrica.
Percebe, então, que o processo de exploração não se dava apenas no campo, mas se fazia presente também na
cidade, com os operários de fábrica. Ele passa a defender a necessidade de articulação entre camponeses e
operários, assim como a postura deles como dirigentes da luta política para superar a exploração a que estavam
submetidos.
Isso fez brotar uma percepção diferente de intelectual, substituindo o grande orador ou escritor por aquele que
realiza suas ações no cotidiano da sociedade e que se identifica e se liga organicamente com o grupo que defende.
É o chamado intelectual orgânico:
Hoje – diz Gramsci -, o capitalismo industrial cria essencialmente os técnicos, os cientistas ligados a
produção. São esses os intelectuais orgânicos do capitalismo, isto é, ligados intimamente a função
produtiva, a função da economia capitalista. Todo grupo social, quando se afirma no campo
econômico deve elaborar sua própria hegemonia política e cultural – deve criar portanto, os próprios
61
quadros, os próprios intelectuais -, encontra ao mesmo tempo intelectuais já formados pela sociedade
precedente, pela formação econômica-social anterior: os intelectuais tradicionais (GRUPPI, 1978, p.
80).
Dessa forma, é possível observar que intelectual orgânico, para Gramsci, é aquele ligado à classe que defende. No
caso da sociedade capitalista, ele pode defender os interesses da classe burguesa, ou representar os interesses da
classe trabalhadora.
Segundo Gramsci,
todo grupo social, nascendo no terreno originário de uma função essencial no mundo da produção
econômica, cria para si, ao mesmo tempo, organicamente, uma ou mais camadas de intelectuais que
lhe dão homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico, mas
também no social e político: o empresário capitalista cria consigo o técnico da indústria, o cientista da
economia política, o organizador de uma nova cultura, de um novo direito, etc., etc. (GRAMSCI, 2001, p.
15).
É necessário, então, que a classe trabalhadora tenha seus intelectuais para auxiliá-la nas elaborações e ações
necessárias para promover a construção de uma nova ordem social. Segundo o pensador italiano, é saudável
existir uma relação orgânica entre o intelectual e o movimento operário e entre o intelectual orgânico dos
trabalhadores e o socialismo. Essa relação humana, aliás, é defendida e vivida por Gramsci.
3.1.3 A filosofia da práxis
Como já mencionado, Antonio Gramsci é um defensor de uma forma de pensar comprometida com a realidade.
Clique nas abas a seguir e conheça mais sobre o pensamento de Gramsci:
A filosofia
A filosofia, para ele, deve ter esse vínculo e não ser constituída de expressões vazias ou desconectadas daquilo que
faz parte do real. Ideia e realidade, portanto, devem estar sempre articuladas.
A filosofia da práxis
Ele encontra a fundamentação para isso no marxismo e dá o nome de filosofia da práxis: é a forma de representar a
conexão entre o conhecer e o agir prático. Assim, a filosofia da práxis é aquela filosofia que desvela e combate as
desigualdades sociais e dá importância ao papel dos explorados na luta contra o capital. Dentro dessa ideia, o
filósofo não pode se apresentar como produtor de um saber distante da realidade. Pelo contrário: ele deve estar
envolvido com a práxis transformadora da realidade.
Outras formas de entender
Nessa época, no entanto, a Itália enfrenta um momento político de fascismo, levando Gramsci à prisão devido as
suas ideias e posicionamentos políticos. Alguns autores entendem que o termo filosofia da práxis usado por ele, na
verdade, serve como forma de substituir o “materialismo histórico” e o “marxismo”, como forma de burlar o
controle sob o qual vivia.
Assim, abordar a filosofia da práxis nos leva a perceber a relação orgânica que Gramsci estabelece entre alguns
elementos, como a economia, a política, a filosofia e a cultura). “A filosofia da práxis não concebe a matéria como
dado, e sim como produção histórica da relação homem-matéria” (DAINOTTO, 2017, p. 301). Ou seja: o que se
encontra na realidade social é produto histórico da ação humana. Diz Gramsci (apud DAINOTTO, 2017, p. 302),
62
numa filosofia da práxis, ‘na qual tudo é prática’ […] o ato eminentemente prático – a política – não
pode ser ‘autônomo’, mas filosofia ele mesmo – visão do mundo, criação de ‘relações humanas’ […]
entre homens e homens, entre homens e coisas, relação humana ela mesma. Não somente a política,
mas até mesmo o trabalho cultural e as ideologias, inclusive a própria ‘filosofia da práxis […] é uma
filosofia que é também uma política e uma política que é também uma filosofia’ […] tornam-se então o
‘primeiro momento’ em que os homens tomam consciência dos conflitos de estrutura e, ‘com
afirmação voluntária’, atuam para transformá-los.
Como se vê, há um vínculo existente entre estrutura econômica e superestrutura (política, cultura e filosofia da
práxis). Os elementos não aparecem soltos, desconectados: essa percepção do mundo humano como uma
totalidade dialeticamente articulada, apesar das inegáveis contradições, é uma dimensão importante da filosofia
defendida por Gramsci.
Essas ideias advêm do real e a realidade é por elas influenciada. Ou seja: a filosofia defendida por Gramsci indica
que o mundo é fruto da ação humana e que a realidade humana é passível de transformação justamente porque é
construída pelas próprias pessoas.
3.2 Principais conceitos em Gramsci
Ao considerar que as classes subalternas deveriam ter acesso a ideias e valores que traduzissem a sua existência
(de classe explorada) perspectivando uma transformação social, Gramsci dedica-se ao estudo da cultura, do
Estado ampliado, da sociedade civil e da contra-hegemonia. Com base nisso, ele defende a necessidade de
apropriação desses conhecimentos pelos trabalhadores para que eles compreendam a ideia de unidade de classe,
como forma de enfrentar a classe burguesa e a construção de uma nova sociabilidade.
Esses conceitos são importantes de serem estudados para que seja possível compreender a forma de pensar
gramsciana que, inclusive, influi na formação do assistente social.
3.2.1 Conceito de cultura
Uma característica de Gramsci, desde a infância, era o amor pela leitura. Nesse processo, ele percebe que não
existe uma literatura voltada para as pessoas mais simples como forma de possibilitar a elas a chance de uma
educação crítica e transformadora. Não há, portanto, uma manifestação literária para valorizar a realidade
nacional. Por isso, Gramsci passa a acreditar que essa situação deveria ser modificada.
Essa percepção que ele tem da cultura também deixa muito claro que não está relacionada com erudição ou
superioridade. Para ele, cultura (conhecimento, arte, costumes, etc.) tinha que ser acessada por todos. Tinha que
ser universal e não privilégio de poucos.
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Fonte: © file404 / / Shutterstock.
Gramsci atribui à cultura um papel fundamental para o processo de renovação de ideias e transformação da
realidade regida pelo capital. Para ele,
é preciso perder o hábito e deixar de conceber a cultura como saber enciclopédico, no qual o homem é
visto sob a forma de recipiente para encher e amontoar com dados empíricos, com factos ao acaso e
desconexos, que ele depois deverá arrumar no cérebro como nas colunas de um dicionário para poder
então, em qualquer altura, responder aos vários estímulos do mundo externo. Esta forma de cultura é
deveras prejudicial, especialmente para o proletariado. Serve apenas para criar desajustados, ente que
crê ser superior ao resto da humanidade porque armazenou na memória certa quantidade de dados e
de datas, que aproveita todas as ocasiões para estabelecer quase uma barreira entre si e os outros. O
período cultural […] chamado Iluminismo, tão difamado pelos críticos fáceis da razão teórica, não foi
ou, pelo menos, não foi completamente, aquele esvoaçar de superficiais inteligências que discorriam
de tudo e de todos com igualimperturbalidade, […] Foi uma magnífica revolução, pela qual, […] se
tinha formado em toda a Europa, como uma consciência unitária, uma internacional espiritual
burguesa sensível em cada parte às dores e às desgraças comuns e que era a preparação melhor para a
revolta sanguinolenta que depois se verificou em França (Gramsci, 1976, p. 82).
Como se vê, quando se reporta ao iluminismo, Gramsci está resgatando o momento em que a burguesia ainda tem
ideias revolucionárias. As ideias refletem as modificações que estão acontecendo no mundo econômico. Ao
resgatar o movimento cultural iluminista, ele tenta mostrar a importância da renovação cultural e da difusão das
ideias burguesas para conquistar também no mundo das ideias aquilo que já havia sido conquistado no campo
econômico.
Isso porque
cada revolução foi precedida por um intenso trabalho de crítica, de penetração cultural, de
permeabilização de ideias através de agregados de homens, primeiro refratários e somente virados
para resolver dia a dia, hora a hora, o seu problema econômico e político, sem laços de solidariedade
com os outros que se encontram nas mesmas condições. (GRAMSCI, 1976, p. 83).
64
Nesse processo revolucionário o papel dos intelectuais é incontestável. Gramsci (apud BARATTA, 2017, p. 173)
acredita que “a tarefa dos intelectuais é determinar e organizar a reforma moral e intelectual, ou seja, adequar a
cultura à função prática (…). A ‘reforma moral e intelectual’ aparece, em suma, como uma revolução cultural”.
Nessa revolução, os valores burgueses devem ser substituídos pelos valores da massa e os interesses expressos
nessas ideias e valores devem representar não os interesses egoístas e particulares do burguês, mas os valores que,
de fato, representam os valores humanos. Assim, todo esse processo de constituição dessa nova cultura deve ter a
participação das classes subalternas e seus intelectuais orgânicos.
Afinal, para Gramsci, não basta a classe trabalhadora dominar o campo econômico. Ela precisa fazer uso da
cultura, difundir os seus valores e construir a sua hegemonia, assim como fez e faz a burguesia. Dessa forma, fica
claro que o processo revolucionário a ser promovido pelos trabalhadores não pode se ater à esfera econômica
(estrutura), mas, sim, à importante função da cultura (superestrutura).
3.2.2 Construção da contra-hegemonia
Entre a publicação do Manifesto do Partido Comunista, de Karl Marx e Friederich Engels, em 1848, e os escritos de
Gramsci, no início do século XX, as relações do capital sofreram mudanças. No período do Manifesto, por exemplo,
não havia a organização e movimentação da sociedade civil, que, mais tarde, foi vivida por Gramsci.
Conheça mais sobre esse contexto histórico clicando a seguir:
• Reivindicações da classe trabalhadora e o conceito de hegemonia
No contexto histórico dele, por sua vez, a classe trabalhadora já promovia algumas reivindicações de seus
direitos, feitas por meio de sindicatos e partidos políticos que lutavam pelo sufrágio universal masculino e
pela garantia de ensino público, gratuito, laico e obrigatório. Tais reivindicações são incorporadas pelo
Estado para que o domínio sobre a classe explorada não ocorresse apenas por meios coercitivos, mas
também por meio do consentimento dos explorados. Desenvolve-se, então, o conceito de hegemonia.
• Domínio e consenso
O domínio de uma classe sobre outra não ocorre apenas via repressão da sociedade política. É necessário
também obter o consenso das massas não só para conquistar, mas também para conservar o poder de
uma classe sobre outra. Essa supremacia é chamada de hegemonia.
• Poder coercitivo
Quando a classe dominante perde esse consenso e seu poder é apenas coercitivo, essa situação reflete a
insatisfação dos dominados que já não acreditam nas ideias dominantes. Nesse processo de luta entre
classes e entre interesses antagônicos, as ideias representantes da classe dominada aparecem como ideias
contra-hegemônicas.
Segundo Cospito (2017, p. 365-366),
Segundo Gramsci, qual seria a relação entre o processo revolucionário e a cultura?
•
•
•
PAUSA PARA REFLETIR
65
no que diz respeito ao significado que deve ser atribuído a ‘hegemonia’, desde o início […] Gramsci
oscila entre um sentido mais restrito de ‘direção’ em oposição a ‘domínio’, e um mais amplo e
compreensivo de ambos (direção mais domínio). Com efeito, ele escreve que ‘uma classe é dominante
em dois modos, isto é, ‘dirigente’ e ‘dominante’. É dirigente das classes aliadas, é dominante das
classes adversárias. Portanto uma classe desde antes de chegar ao poder pode ser ‘dirigente’ (e deve
sê-lo): quando está no poder torna-se dominante, mas continua sendo também ‘dirigente’.
Portanto, para dominar, uma classe não pode se basear apenas na violência. O poder de convencimento é
fundamental e evita um desgaste imenso no sentido do exercício do poder conquistado. Daí a importância dos
exploradores assumirem parte das demandas da população.
Percebe-se, então, que o processo de transformação da realidade implica, no ideário gramsciano, mais do que as
modificações da esfera econômica. Ela se estende à esfera das ideias, da cultura, entre outros. Ou nas palavras de
Simionatto (2011, p. 49),
quando Gramsci fala da hegemonia como ‘direção intelectual e moral’, afirma que essa direção deve
exercer-se no campo das ideias e da cultura, manifestando a capacidade de conquistar o consenso e de
formar uma base social. Isso porque não há direção política sem consenso. A hegemonia pode criar,
também, a subalternidade de outros grupos sociais que não se refere apenas à submissão à força, mas
também às ideias. Não se pode perder de vista que a classe dominante repassa a sua ideologia e
realiza o controle do consenso através de uma rede articulada de instituições culturais, que Gramsci
denomina ‘aparelhos privados de hegemonia’, incluindo: a escola, a Igreja, os jornais e os meios de
comunicação de maneira geral. Esses aparelhos têm por finalidade inculcar nas classes exploradas a
subordinação passiva, através de um complexo de ideologias formadas historicamente. Quando isso
ocorre, a subalternidade social também significa subalternidade política e cultural.
Assim, a burguesia, além de exercer seu domínio no mundo da produção, também estende esse domínio ao campo
das ideias, ao inculcar nos explorados a ilusão de que os valores burgueses são universais e alimentar a idealização
de uma igualdade que efetivamente não existe.
Em certos ambientes de trabalho, por exemplo, o empregado não é assim denominado. São chamados de
colaboradores. O processo de exploração não foi alterado, mas no campo das ideias há a troca entre duas palavras
que, idealmente, elimina as desigualdades efetivamente existentes. Ao serem identificados como patrão e
empregado, as desigualdades de classe ficam expostas. Contudo, se o trabalhador é chamado de colaborador, a
contraposição é eliminada. A colaboração acontece entre iguais, entre parceiros. Inculca-se nos explorados uma
igualdade de relações. A mudança na forma de denominar os sujeitos provoca, no mundo das ideias, uma
mudança que, efetivamente, não ocorreu. Mas as pessoas incorporam.
Para a construção de uma nova ordem societária é preciso, então, transformar o processo de produção e a forma
de pensar existente na sociedade. É preciso construir uma nova hegemonia e o intelectual orgânico possui um
PAUSA PARA REFLETIR
Observando o seu cotidiano, você encontra algum exemplo de palavras ou ideias utilizadas para
esconder as diferenças de classe que ainda existem na sociedade hodierna?
66
papel importante nesse processo. A articulação entre as classes dominadas e o intelectual orgânico é uma
necessidade para a construção de uma vontade coletiva, que Gramsci chama de vontade coletiva nacional-
popular, ou nova hegemonia. Ou seja: a vontade coletiva não é meramente espontânea, mas dirigida
conscientemente considerando as condições objetivas da realidade histórica para se alcançar as metas
estabelecidas.
A dinâmica dos interesses de classes.Essa nova hegemonia incorpora transformações econômica, política, intelectual, cultural e moral. Ou seja: para
que as ideias contra-hegemônicas não apareçam apenas de maneira passageira (em um momento de expressão de
revolta e insatisfação dos trabalhadores, por exemplo), é necessário que as relações onde elas surgem também se
modifiquem concomitantemente.
Assim, as ideias que representam os interesses dos explorados (contra-hegemônica) precisam de condições reais
de existência, como a superação da exploração e domínio do homem pelo homem seja na esfera da produção
(trabalho), na política, no mundo do conhecimento, etc. As modificações, portanto, devem ser estruturais e
superestruturais, possibilitando o surgimento de uma nova sociedade onde não haja a necessidade da exploração
e do domínio do homem pelo homem.
3.2.3 Sociedade civil
A sociedade civil, para Gramsci, é constituída por organismos como os partidos políticos, as Igrejas, as escolas, etc.,
incumbidos de produzirem e difundirem as ideologias das classes sociais existente na sociedade capitalista. Trata-
se, portanto, do “conjunto dos organismos vulgarmente chamados privados e que correspondem à função de
hegemonia que o grupo dominante exerce em toda a sociedade” (GRAMSCI, WANDERLEY, 2012, p. 7).apud
67
Segundo ele, esses organismos não são constituídos ou perpassados apenas pelos interesses da classe dominante
que se utilizam deles para tentar perpetuar seu domínio e sua hegemonia perante os dominados. A sociedade
capitalista é constituída pelos trabalhadores também, que são seres tão ativos quanto a burguesia. E os embates
de classe também se faz presente na sociedade civil.
Wanderley (2012), citando Simionatto, diz que a concepção correta sobre sociedade civil tem
um caráter radicalmente classista” (Durighetto, 2006, p. 124), uma dimensão nitidamente política,
permitindo retomá la como esfera da ‘grande política’, o que remete à luta pela hegemonia e à
conquista do poder pelas classes subalternas (Coutinho, 2008). Esse movimento implica a criação de
alianças estratégicas entre a classe trabalhadora e os movimentos sociais, com vistas a ampliar o
horizonte emancipatório, elevando ao máximo de universalidade possível o ponto de vista dos grupos
subalternos, cuja síntese é a ‘vontade coletiva nacional popular (SIMIONATTO, WANDERLEY, 2012,apud
p. 10).
Ou seja: a sociedade civil é composta também pelas classes subalternas e é palco da luta política entre burguesia e
proletariado. Portanto, para obter hegemonia e poder, o proletariado precisa se aliar aos movimentos sociais e
mostrar que a luta dos trabalhadores não ocorre apenas por interesses exclusivos de um grupo. Pelo contrário: ela
também representa os interesses libertários de todos os humanos.
Assim, a sociedade civil é o campo da ação política por excelência ao ser compostas por organizações (sindicatos,
partidos, etc.) que ambicionam transformar o modo de pensar das pessoas.
3.2.4 Estado ampliado
Antonio Gramsci é um seguidor de Karl Marx. Este último entendia o Estado como instrumento de dominação de
uma classe sobre outras. O espaço de exercício da política (poder de classe, atividade do domínio). Gramsci vai
divergir de Marx ao defender que esse espaço não será ocupado apenas pela classe dominante. Vale lembrar que o
momento histórico vivido por ele é distinto do que foi experienciado por Marx. O pensador italiano vive um
momento em que a sociedade civil se organiza em busca da conquista de seus direitos. São organizações políticas
defensoras dos interesses dos trabalhadores. Dessa forma, o pensador italiano defende a ideia da participação da
sociedade civil na constituição do Estado. Resulta deste processo a percepção gramsciana de Estado ampliado.
Para o pensador italiano, o Estado é “um dos dois grandes planos’ superestruturais, sendo o outro a sociedade
civil” (GRAMSCI, LIGUORI, 2017, p. 261). Liguori (2017) ainda acrescenta que “nas sociedades ocidentais,apud 
Gramsci vê esses dois planos dialeticamente unidos no conceito de Estado Integral”.
Estado para Gramsci.
Portanto, Estado Integral é o termo gramsciano que foi difundido com o sinônimo de Estado Ampliado.
Para Liguori (2017, p. 262),
o novo conceito tem uma formulação clara na carta de 7 de setembro de 1931: ‘O projeto de estudo
que fiz sobre os intelectuais […] também leva a certas determinações do conceito de Estado, que,
habitualmente, é entendido como sociedade política (ou ditadura, ou aparelho coercitivo, para moldar
68
a massa popular segundo o tipo de produção e a economia de um dado momento), e não como um
equilíbrio da sociedade política com a sociedade civil (ou hegemonia de um grupo social sobre toda a
sociedade nacional, exercida através de organizações ditas privadas, como a igreja, os sindicatos, as
escolas etc.) e é especialmente na sociedade civil que operam os intelectuais’.
Fonte: © Akabei / / Shutterstock.
Ao ser constituído dessa forma (sociedade política + sociedade civil), o Estado, para existir, também precisa do
consenso e não apenas da força. Nele, portanto, a coerção e persuasão coexistem.
Nesse sentido, é possível identificar duas diferenças marcantes entre Karl Marx e Antonio Gramsci. Clique nas abas
abaixo e confira essa diferença:
Marx: o Estado
O Estado é uma exteriorização e um dispositivo de reprodução dos interesses das classes dominantes.
Gramsci: o Estado
O Estado também pode ser usado pelas classes dominadas (Estado ampliado).
Marx: a obra
A obra de Marx é marcada pela categoria trabalho (economia, infraestrutura).
Gramsci: a obra
A produção gramsciana será marcada pela cultura (superestrutura).
Num quadro, tais ideias poderiam ser assim distribuídas:
Portanto,
69
As diferenças entre Marx e Gramsci.
3.3 Contribuição da teoria de Gramsci para o Serviço Social
Quando as primeiras obras de Antonio Gramsci chegaram ao Brasil, na década de 1960, o Serviço Social já existia
como profissão. Nesta época, aliás, os profissionais da área questionavam seu papel, sua formação e sua prática na
sociedade. É o Movimento de Reconceituação do Serviço Social.
Como forma crítica da realidade gerada pelo capital, o Serviço Social passa a ser influenciado pelo pensamento
marxista representado por Antonio Gramsci. É quando se dissemina o conceito de Estado ampliado, cuja ideia é
levar a sociedade civil para compor essa instituição. Assim, o papel que Gramsci atribui à cultura, defendendo que
os saberes devem ser acessados por todos e não ser privilégios de alguns, ajudaram a influenciar a profissão nessa
fase.
3.3.1 Superação do determinismo marxista
Há uma interpretação equivocada do pensamento de Marx quando se atribui a ele uma defesa exclusiva da esfera
econômica como definidora da existência humana. Essa é uma visão equivocada sobre a ideia marxiana de que a
economia é a esfera determinante da existência humana: com isso, o pensador alemão quis afirmar apenas que o
trabalho é a esfera ontológica do ser humano e que é por meio dele que os indivíduos deixam de ser uma mera
espécie animal para se tornar humanos.
Contudo, Marx não restringe a vida humana à esfera do trabalho, que também é capaz de gerar outros complexos,
como a linguagem, a arte, a filosofia, etc. Assim, embora tenham uma relação ontológica com o trabalho, a ele não
podem ser reduzidas.
Engels sai em sua defesa ao afirmar que
CURIOSIDADE
As duas últimas décadas de vida de Gramsci foram vividas dentro da prisão. No entanto, isso não
o impediu de registrar e difundir suas ideias: ele continuou a defender a necessidade da
construção de uma outra ordem social, distinta da sociedade regida pelo capital, e assim fez
nascer os chamados Cadernos do Cárcere. Esse compromisso serve de referência para o Serviço
Social no sentido contribuir sempre para superar os excessos de uma sociedade capitalista
nociva. Gramsci morreu hospitalizado em 1937, quatro dias antes de ser libertado.
70
a situação econômica é a base, mas os vários elementos da superestrutura […] também exercem sua
influência sobreo curso dos acontecimentos […] e em muitos casos têm preponderância na
determinação de sua forma. Há uma interação na qual, em meio a uma série interminável de
acidentes, o movimento econômico finalmente se afirma como necessário (ENGELS, apud
BOTTOMORE, 1993, p.100).
Portanto, os acontecimentos na história que o homem constrói não podem ser ditos como inevitáveis, previsíveis
ou fatídicos. O marxismo determinista superado não é o de Marx, mas o de seus equivocados intérpretes.
Assim como Engels, Gramsci também se contrapõe aos intérpretes equivocados de Marx. Afinal, a nova ordem
societária que defendia (sociedade socialista) não resultaria das leis naturais do desenvolvimento histórico. A
seguir, clique e conheça mais sobre essa ordem.
Papel do
sujeito ativo
Quando se refere à organização dos trabalhadores em comitês para tomar decisão sobre os
destinos da sociedade, reconhece o papel importante do sujeito ativo e repõe a ideia
marxiana de que a história não está pronta e acabada, mas iria advir da ação organizada dos
trabalhadores.
Papel da
cultura e
educação
Essa organização dos trabalhadores requer uma formação que possibilidade o acesso ao
conhecimento e aos valores que os representem enquanto classe. É por isso que Gramsci
ressalta a cultura e a educação: pelo importante papel que teriam na formação das ideias e
valores que, de fato, representam as massas exploradas.
Quando o Serviço Social mais crítico conhece as ideias gramscianas, no final da década de 1970 e 1980, percebe
nelas o elemento norteador para as ações de transformação da realidade que os profissionais queriam desenvolver
na sociedade. Afinal, a atividade desenvolvida por eles acontece na esfera da superestrutura (onde estão situadas a
cultura e a educação) e não na infraestrutura (economia). Desta forma, a afirmação de Gramsci sobre a importância
de elementos superestruturais no processo de transformação da realidade favorece a identidade do Serviço Social
com suas elaborações teóricas no sentido de transformar a realidade social.
3.3.2 Economicismo perde força
Assim como o determinismo, o economicismo é outra interpretação equivocada do pensamento de Marx, na
medida em que se atribui a ele a atitude de reduzir tudo à economia. Gramsci critica o economicismo por ser uma
vertente do pensamento em que se diminui o papel do sujeito ao mesmo tempo que se reduz o papel da
consciência na existência social. No caso dos trabalhadores, isso inibe sua luta política e torna-os incapazes de
entender que, para enfrentar sua classe antagônica, precisam construir uma organização forte que os represente.
Gramsci, em uma das observações que faz sobre o economicismo, fala sobre como as leis econômicas são tratadas
com uma rigidez como se fossem leis da natureza. Gramsci (apud BOTTOMORE, 1993, p. 121)
em sua análise do economicismo e de suas manifestações políticas, identifica-o com o sindicalismo, o
liberalismo do e várias outras formas de ‘abstencionismo eleitoral’ que expressam todas olaissez-faire
mesmo grau de oposição à ação política e ao partido político e relaciona-o com uma determinada
orientação teórica das ciências sociais, ou seja, ‘a convicção férrea de que existem leis objetivas do
desenvolvimento histórico semelhante à leis naturais, juntamente com uma crença numa teleologia
predeterminada, como a de uma religião.
71
Essa postura limitada, equivocada da perspectiva defendida por Marx e Gramsci, deve ser eliminada para que
todos tenham clareza da importância da organização e ação política a ser desempenhada pela classe trabalhadora.
Para que isso ocorra, o papel da classe trabalhadora é determinante, assim como também o é a participação de
organizações e indivíduos que compartilhem do projeto da classe trabalhadora na construção de uma nova ordem
societária.
A apropriação dessa crítica feita por Gramsci ao economicismo é um aspecto importante para a formação teórica e
prática do assistente social. Afinal, é preciso compreender como funciona a realidade social (as leis que regem a
sociedade capitalista são oriundas das ações humanas, passiveis, então, de serem alteradas) para melhor intervir.
E essa intervenção para os assistentes sociais críticos deve revelar seu compromisso com a classe trabalhadora.
Afinal, a profissão não pode ser entendida e realizada como um ato de caridade, mas como um direito em que os
sujeitos devem ter acesso na medida que necessitam.
3.3.3 Valorização da cultura
Para a constituição de uma nova sociedade, Gramsci considera importante o papel do intelectual orgânico e da
cultura - portanto, não basta a transformação da estrutura social, mas também da superestrutura. Isso quer dizer
que o campo das ideias precisa sofrer alterações: elas precisam ser elaboradas e difundidas de forma a representar
os trabalhadores e a grande massa expropriada.
Daí a importância do papel da escola, do partido, das organizações que representam a massa e, também, de uma
profissão que, desde o Movimento de Reconceituação, vem procurando estabelecer um compromisso com os
trabalhadores. Os assistentes sociais que comungam da perspectiva crítica da sociedade do capital, orientados por
elaborações como a de Antonio Gramsci, tentam organizar e orientar os sujeitos que necessitam de apoio.
Trabalham com a pobreza, com jovens infratores e com consumidores ou vendedores de drogas, por exemplo, mas
os encaram não como problemas originários de si próprios, mas como sequela das relações impostas pelo capital.
Fonte: © YAKOBCHUK VIACHESLAV / / Shutterstock.
O entendimento dos assistentes sociais, instruídos por ensinamentos gramscianos, é de que, sozinhos, não farão
revolução. No entanto, seu compromisso de transmitir valores que representam os interesses dos trabalhadores já
é algo extremamente significativo num momento histórico bastante avesso aos interesses dos trabalhadores, em
que direitos estão sendo retirados.
72
Mais do que nunca, esse compromisso que começou na década de 1970 e 1980 se faz necessário, especialmente
como forma de revelar aos trabalhadores a necessidade deles se unirem na luta para construir relações e superar
condições subumanas. Por isso, se torna imprescindível o processo educativo e cultural para ajuda-los a conquistar
a consciência do seu papel na sociedade e os valores a serem defendidos.
Torna-se compreensível, portanto, a vontade de Gramsci de ressaltar o papel da cultura e do divulgador dos novos
valores - no caso, os intelectuais orgânicos, que devem estar presentes nos mesmos espaços dos trabalhadores e
da massa para compartilhar ideias, orientar e também aprender. Na prática, portanto, eles devem ser oriundos do
próprio grupo - e não um estranho a ele -, de maneira a formar um corpo orgânico e construir as mudanças
necessárias para o surgimento de uma nova realidade social.
3.4 A direção histórica indicada por Gramsci
O compromisso de Gramsci sempre foi com a construção de uma sociedade diferente daquela estabelecida sob as
rédeas do capital. Suas produções se destinaram a refletir criticamente sobre uma realidade desumana tanto no
campo, quanto na cidade, ambas experiências vividas de perto por ele.
Ao conhecer as duas realidades, Gramsci passa a difundir aos próprios trabalhadores a consciência do papel
produtivo da riqueza social que eles efetivam. E não é só. Além disso, ele também passa a disseminar a ideia da
força que possuem para promover, quando organizados, a transformação necessária dessa realidade desigual
existente na sociedade capitalista.
3.4.1 Protagonismo dos sujeitos
A escola costuma ensinar que a história é feita por homens brancos e proprietários, como se a vida cotidiana fosse
construída apenas pelas mãos deles. Isso cria uma falsa imagem de que são apenas eles quem fazem a história, o
que não é verdade. A história, na verdade, é construída por todos os seres humanos, que se articulam no espaço e
no tempo e tecem o enredo da existência humana.
Quando Gramsci e os assistentes sociais que se baseiam na sua teoria defendem o protagonismo dos expropriadosé porque entendem que a história também é feita por eles e que não está acabada. Contudo, o processo de
transformação dessa realidade requer a ação organizada de todos os sujeitos explorados.
Apesar de todas as dificuldades, a luta dos trabalhadores, das mulheres, negros, índios e LGBTs tem sido assumida
e contada por eles como protagonistas de frequentes movimentações. É também inegável a presença do Serviço
Social junto a esses grupos, apoiando a sua luta. Isso era parte do que Gramsci reivindicava. Porém, ele queria
mais: queria também a superação da sociedade regida pelo capital.
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Fonte: © loranger / / Shutterstock.
E para que essa superação aconteça, as massas não podem ser passivas e submetidas a condições materiais e
espirituais de dominação. Precisam perceber e assumir o papel importante que têm na história.
3.4.2 Nova ordem societária
A perspectiva de Gramsci sempre foi a construção de uma nova sociedade, onde as classes subalternas conquistem
a liberdade para todos. Ele era, claramente, um intelectual orgânico, na medida em que sua vida no campo e,
posteriormente, em Turim revelou nos atos seu compromisso com a construção de uma nova ordem societária.
Essa nova ordem englobaria uma sociedade onde todos possam ser efetivamente livres, onde a diversidade
humana seja respeitada e onde a criatividade e o conhecimento não sejam usados para o enriquecimento de
poucos, mas, sim, em benefício de toda a humanidade. Essas, aliás, não são ideias que vêm do desejo subjetivo de
sujeitos como Marx e Gramsci. Elas são provenientes da própria realidade que eles enxergaram à época e que
vivemos até hoje.
Uma nova ordem é possível. Mas, para construí-la, é necessária a ação da classe trabalhadora e a colaboração dos
que comungam da ideia dessa construção. Parte do Serviço Social, desde o Movimento de Reconceituação,
assumiu tal compromisso.
Proposta de atividade
Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu nesse capítulo! Elabore um mapa conceitual, com 20
conceitos, destacando as principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir seu mapa, considere as
leituras básicas e complementares realizadas.
Recapitulando
O capítulo aborda o pensamento marxista gramsciano e mostra como o pensador italiano destaca o papel da
cultura na formação dos trabalhadores. Antonio Gramsci, em sua teoria, se opõe ao materialismo vulgar e
mecanicista que enrijece o movimento da história e desconsidera sua dinamicidade ao desvalorizar o papel ativo
74
dos sujeitos no processo de construção dessa história. Trata-se do chamado materialismo histórico ou marxismo,
que, em Gramsci, passa a ser designa filosofia da práxis.
Gramsci destaca ainda a transformação na superestrutura, elevando elementos como educação e cultura a um
papel fundamental. É por meio delas que o intelectual orgânico deve difundir as ideias de organização e combate
às forças dominantes. Essa postura gramsciana se contrapõe a ideias como o determinismo e o economicismo, que
defendem uma inevitabilidade, previsibilidade e facticidade dos acontecimentos históricos.
Com sua produção, Gramsci reforça a ideia marxiana do protagonismo do sujeito coletivo (trabalhadores e
parceiros) na construção da nova ordem societária. Os assistentes sociais passam a ter contato com tais ideias a
partir da década de 1970, influenciando, principalmente, a vertente mais crítica da categoria que se identificava
com a luta dos trabalhadores.
A valorização que Gramsci atribui à cultura (componente da superestrutura) permite aos assistentes sociais
perceber a possibilidade da intervenção ter um perfil crítico da realidade, mesmo que seu trabalho seja
marcadamente associado ao Estado. Afinal, para Gramsci, o Estado não representa apenas os interesses das
classes dominantes, mas incorpora os interesses dos trabalhadores na medida em que também é formado por
toda a sociedade civil.
Dessa forma, o Serviço Social, que buscava assumir uma postura teórica e prática distinta da sua formação
tradicional, encontra no pensamento gramsciano o aporte teórico necessário para responder às transformações
porque passava a realidade brasileira e que rebatia na profissão.
Fica reconhecido, então, o relevante papel do pensamento de Gramsci num momento importante de
transformações ocorridas na formação e prática do Serviço Social, verificadas a partir do Movimento de
Reconceituação.
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WANDERLEY, L. E. W. Sociedade civil e Gramsci: desafios teóricos e práticos. Revista Serviço Social e Sociedade,
São Paulo, n. 109, p. 5-30, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
>. Acesso em: 20 jun. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-66282012000100002&lng=en&nrm=iso
66282012000100002.
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https://www.ifch.unicamp.br/formulario_cemarx/selecao/2012/trabalhos/5824_Simionatto_Ivete.pdf
https://www.ifch.unicamp.br/formulario_cemarx/selecao/2012/trabalhos/5824_Simionatto_Ivete.pdf
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282012000100002&lng=en&nrm=iso
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282012000100002&lng=en&nrm=iso
	III_FSSMRALBrasil
	FSSMRALB_C01-C06
	FSSMRALB_C01-C04
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	FSSMRALB_C0
	FSSMRALB_C01
	Compreenda seu livro: Metodologia
	Compreenda seu livro: Percurso
	Boxes
	Apresentação da disciplina
	A autoria
	Fabiana Demétrio
	Micaela Alves Rocha da Costa
	Rafaela Vieira
	Veronica Ferreira Pinto
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	1.1 Categorias da teoria marxista
	1.1.1 Produção de mercadoria
	1.1.2 Mais-valia
	1.1.3 Ideologia
	1.1.4 Alienação
	1.2 A luta de classes e a economia política
	1.2.1 Luta de classes como força motriz da história
	1.2.2 A economia capitalista e o processo de produção
	1.3 Valor, trabalho e sociedade
	1.3.1 Valor-trabalho:transformação da natureza e constituição do ser social
	1.3.2 Práxis, ser social e subjetividade
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C02
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	2.1. Influência marxista
	2.1.1. O militantismo no Serviço Social
	2.1.2. O messianismo no Serviço Social
	2.1.3. O fatalismo e o Serviço Social
	2.2. Interpretações da teoria marxista
	2.2.1. Louis Althusser e os Aparelhos Ideológicos de Estado
	2.2.2. Os marxismos de Lenin e Trotsky
	2.2.3. A incorporação de interpretações marxistas no Serviço Social
	2.3. Retorno aos textos de Marx
	2.3.1. A obra de Iamamotto & Carvalho
	2.3.2. Aplicação da teoria de Marx no Serviço Social
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C03
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	3.1. Proposta teórico-metodológica
	3.1.1 Concepção dialética da história
	3.1.2 O intelectual orgânico
	3.1.3 A filosofia da práxis
	3.2 Principais conceitos em Gramsci
	3.2.1 Conceito de cultura
	3.2.2 Construção da contra-hegemonia
	Reivindicações da classe trabalhadora e o conceito de hegemonia
	Domínio e consenso
	Poder coercitivo
	3.2.3 Sociedade civil
	3.2.4 Estado ampliado
	3.3 Contribuição da teoria de Gramsci para o Serviço Social
	3.3.1 Superação do determinismo marxista
	3.3.2 Economicismo perde força
	3.3.3 Valorização da cultura
	3.4 A direção histórica indicada por Gramsci
	3.4.1 Protagonismo dos sujeitos
	3.4.2 Nova ordem societária
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C04
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	4.1. Serviço Social latino-americano
	4.1.1. Asociación Latinoamericana de Escuelas de Trabajo Social (ALAETS)
	4.1.2. Centro Latinoamericano de Trabajo Social (CELATS)
	4.1.3. Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS)
	Divulgação no Brasil
	Renovação no Serviço Social brasileiro
	Direções da profissão
	4.2. Principais escolas de Serviço Social na América Latina
	4.2.1. Colômbia
	4.2.2. Uruguai
	4.2.3. Chile
	4.2.4. Argentina
	4.3. Militarismo na América Latina
	4.3.1. Golpes militares
	Movimento e ditadura
	Leitura marxista
	Seminários e ações da CBCISS
	Ampliação dos cursos de Serviço Social
	4.3.2 A Reconceituação inconclusa
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C05
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	5.1 Movimento de Reconceituação
	5.1.1 Reconceituação brasileira
	5.1.2 Bases sócio-políticas
	5.2 Intenção de ruptura
	5.2.1 Proposta metodológica da intenção de ruptura
	5.2.2 Influência da teoria marxista na construção da metodologia
	5.2.3 Método Belo Horizonte: uma proposta alternativa
	5.2.4 Crítica ao método de Belo Horizonte (BH)
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C06
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	6.1. Especificidades do Serviço Social
	6.1.1 Processo para a construção do objeto profissional
	6.1.2 A diversidade de objetos
	6.2. Perspectiva libertadora
	6.2.1 A realidade social como objeto
	6.2.2 A formação de consciência
	6.2.3 A ação libertadora
	6.3. A busca de um conhecimento
	6.3.1 A dialética do conhecimento
	Sujeito e objeto do conhecimento em relação dialética
	A totalidade dos fenômenos
	Conhecimento concreto
	6.3.2 A relação sujeito-objeto-objetivos
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C07
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	7.1 Instituições como espaços de prática
	7.1.1 Instituições como aparelhos funcionais
	7.1.2 Instituições como reprodução da força de trabalho
	7.1.3 Instituições como espaço de contradições
	7.2 Prática do Serviço Social nas instituições
	7.2.1 O Estado como espaço de prática
	Estado como espaço de exercício profissional
	Conceito de Estado
	Confusão conceitual
	7.2.2 Articulação com a sociedade
	7.2.3 Articulação com os movimentos sociais
	7.3 Instituições como espaços de transformação
	7.3.1 Objeto profissional e objeto institucional
	7.3.2 Possibilidades de transformações institucionais
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C08
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	8.1 A metodologia e a Reconceituação
	8.1.1 Ação política e a teoria dialética
	8.1.2 O paradigma das correlações de forças
	8.1.3 Polarização
	8.2 As ideologias do Serviço Social reconceituado
	8.2.1 Liberal
	8.2.2 Desenvolvimentista
	8.2.3 Revolucionária
	8.3 Sistematização do trabalho social
	8.3.1 A construção de uma proposta metodológica de atuação
	8.3.2 Ciência e técnica social
	8.3.3 A ação profissional, atores e a estrutura
	8.4 Aplicação da teoria reconceituada
	8.4.1 O assistente social como intelectual orgânico
	8.4.2 O profissional como sujeito da história
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
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	Boxes
	Apresentação da disciplina
	A autoria
	Fabiana Demétrio
	Micaela Alves Rocha da Costa
	Rafaela Vieira
	Veronica Ferreira Pinto
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	1.1 Categorias da teoria marxista
	1.1.1 Produção de mercadoria
	1.1.2 Mais-valia
	1.1.3 Ideologia
	1.1.4 Alienação
	1.2 A luta de classes e a economia política
	1.2.1 Luta de classes como força motriz da história
	1.2.2 A economia capitalista e o processo de produção
	1.3 Valor, trabalho e sociedade
	1.3.1 Valor-trabalho: transformação da natureza e constituição do ser social
	1.3.2 Práxis, ser social e subjetividade
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C02
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	2.1. Influência marxista
	2.1.1. O militantismo no Serviço Social
	2.1.2. O messianismo no Serviço Social
	2.1.3. O fatalismo e o Serviço Social
	2.2. Interpretações da teoria marxista
	2.2.1. Louis Althusser e os Aparelhos Ideológicos de Estado
	2.2.2. Os marxismos de Lenin e Trotsky
	2.2.3. A incorporação de interpretações marxistas no Serviço Social
	2.3. Retorno aos textos de Marx
	2.3.1. A obra de Iamamotto & Carvalho
	2.3.2. Aplicação da teoria de Marx no Serviço Social
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C03
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	3.1. Proposta teórico-metodológica
	3.1.1 Concepção dialética da história
	3.1.2 O intelectual orgânico
	3.1.3 A filosofia da práxis
	3.2 Principais conceitos em Gramsci
	3.2.1 Conceito de cultura
	3.2.2 Construção da contra-hegemonia
	Reivindicações da classe trabalhadora e o conceito de hegemonia
	Domínio e consenso
	Poder coercitivo
	3.2.3 Sociedade civil
	3.2.4 Estado ampliado
	3.3 Contribuição da teoria de Gramsci para o Serviço Social
	3.3.1 Superação do determinismo marxista
	3.3.2 Economicismo perde força
	3.3.3 Valorização da cultura
	3.4 A direção histórica indicada por Gramsci
	3.4.1 Protagonismo dos sujeitos
	3.4.2 Nova ordem societária
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C04
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	4.1. Serviço Social latino-americano
	4.1.1. Asociación Latinoamericana de Escuelas de Trabajo Social (ALAETS)
	4.1.2. Centro Latinoamericano de Trabajo Social (CELATS)
	4.1.3. Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS)
	Divulgação no Brasil
	Renovação no Serviço Social brasileiro
	Direções da profissão
	4.2. Principais escolas de Serviço Social na América Latina
	4.2.1. Colômbia
	4.2.2. Uruguai
	4.2.3. Chile
	4.2.4. Argentina
	4.3. Militarismo na América Latina
	4.3.1. Golpes militares
	Movimento e ditadura
	Leitura marxista
	Seminários e ações da CBCISS
	Ampliação dos cursos de Serviço Social
	4.3.2 AReconceituação inconclusa
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C05
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	5.1 Movimento de Reconceituação
	5.1.1 Reconceituação brasileira
	5.1.2 Bases sócio-políticas
	5.2 Intenção de ruptura
	5.2.1 Proposta metodológica da intenção de ruptura
	5.2.2 Influência da teoria marxista na construção da metodologia
	5.2.3 Método Belo Horizonte: uma proposta alternativa
	5.2.4 Crítica ao método de Belo Horizonte (BH)
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C06
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	6.1. Especificidades do Serviço Social
	6.1.1 Processo para a construção do objeto profissional
	6.1.2 A diversidade de objetos
	6.2. Perspectiva libertadora
	6.2.1 A realidade social como objeto
	6.2.2 A formação de consciência
	6.2.3 A ação libertadora
	6.3. A busca de um conhecimento
	6.3.1 A dialética do conhecimento
	Sujeito e objeto do conhecimento em relação dialética
	A totalidade dos fenômenos
	Conhecimento concreto
	6.3.2 A relação sujeito-objeto-objetivos
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C07
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	7.1 Instituições como espaços de prática
	7.1.1 Instituições como aparelhos funcionais
	7.1.2 Instituições como reprodução da força de trabalho
	7.1.3 Instituições como espaço de contradições
	7.2 Prática do Serviço Social nas instituições
	7.2.1 O Estado como espaço de prática
	Estado como espaço de exercício profissional
	Conceito de Estado
	Confusão conceitual
	7.2.2 Articulação com a sociedade
	7.2.3 Articulação com os movimentos sociais
	7.3 Instituições como espaços de transformação
	7.3.1 Objeto profissional e objeto institucional
	7.3.2 Possibilidades de transformações institucionais
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C08
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	8.1 A metodologia e a Reconceituação
	8.1.1 Ação política e a teoria dialética
	8.1.2 O paradigma das correlações de forças
	8.1.3 Polarização
	8.2 As ideologias do Serviço Social reconceituado
	8.2.1 Liberal
	8.2.2 Desenvolvimentista
	8.2.3 Revolucionária
	8.3 Sistematização do trabalho social
	8.3.1 A construção de uma proposta metodológica de atuação
	8.3.2 Ciência e técnica social
	8.3.3 A ação profissional, atores e a estrutura
	8.4 Aplicação da teoria reconceituada
	8.4.1 O assistente social como intelectual orgânico
	8.4.2 O profissional como sujeito da história
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
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	A autoria
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	Micaela Alves Rocha da Costa
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	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	1.1 Categorias da teoria marxista
	1.1.1 Produção de mercadoria
	1.1.2 Mais-valia
	1.1.3 Ideologia
	1.1.4 Alienação
	1.2 A luta de classes e a economia política
	1.2.1 Luta de classes como força motriz da história
	1.2.2 A economia capitalista e o processo de produção
	1.3 Valor, trabalho e sociedade
	1.3.1 Valor-trabalho: transformação da natureza e constituição do ser social
	1.3.2 Práxis, ser social e subjetividade
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C02
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	2.1. Influência marxista
	2.1.1. O militantismo no Serviço Social
	2.1.2. O messianismo no Serviço Social
	2.1.3. O fatalismo e o Serviço Social
	2.2. Interpretações da teoria marxista
	2.2.1. Louis Althusser e os Aparelhos Ideológicos de Estado
	2.2.2. Os marxismos de Lenin e Trotsky
	2.2.3. A incorporação de interpretações marxistas no Serviço Social
	2.3. Retorno aos textos de Marx
	2.3.1. A obra de Iamamotto & Carvalho
	2.3.2. Aplicação da teoria de Marx no Serviço Social
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C03
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	3.1. Proposta teórico-metodológica
	3.1.1 Concepção dialética da história
	3.1.2 O intelectual orgânico
	3.1.3 A filosofia da práxis
	3.2 Principais conceitos em Gramsci
	3.2.1 Conceito de cultura
	3.2.2 Construção da contra-hegemonia
	Reivindicações da classe trabalhadora e o conceito de hegemonia
	Domínio e consenso
	Poder coercitivo
	3.2.3 Sociedade civil
	3.2.4 Estado ampliado
	3.3 Contribuição da teoria de Gramsci para o Serviço Social
	3.3.1 Superação do determinismo marxista
	3.3.2 Economicismo perde força
	3.3.3 Valorização da cultura
	3.4 A direção histórica indicada por Gramsci
	3.4.1 Protagonismo dos sujeitos
	3.4.2 Nova ordem societária
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C04
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	4.1. Serviço Social latino-americano
	4.1.1. Asociación Latinoamericana de Escuelas de Trabajo Social (ALAETS)
	4.1.2. Centro Latinoamericano de Trabajo Social (CELATS)
	4.1.3. Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS)
	Divulgação no Brasil
	Renovação no Serviço Social brasileiro
	Direções da profissão
	4.2. Principais escolas de Serviço Social na América Latina
	4.2.1. Colômbia
	4.2.2. Uruguai
	4.2.3. Chile
	4.2.4. Argentina
	4.3. Militarismo na América Latina
	4.3.1. Golpes militares
	Movimento e ditadura
	Leitura marxista
	Seminários e ações da CBCISS
	Ampliação dos cursos de Serviço Social
	4.3.2 A Reconceituação inconclusa
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C05
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	5.1 Movimento de Reconceituação
	5.1.1 Reconceituação brasileira
	5.1.2 Bases sócio-políticas
	5.2 Intenção de ruptura
	5.2.1 Proposta metodológica da intenção de ruptura
	5.2.2 Influência da teoria marxista na construção da metodologia
	5.2.3 Método Belo Horizonte: uma proposta alternativa
	5.2.4 Crítica ao método de Belo Horizonte (BH)
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C06
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	6.1. Especificidades do Serviço Social
	6.1.1 Processo para a construção do objeto profissional
	6.1.2 A diversidade de objetos
	6.2. Perspectiva libertadora
	6.2.1 A realidade social como objeto
	6.2.2 A formação de consciência
	6.2.3 A ação libertadora
	6.3. A busca de um conhecimento
	6.3.1 A dialética do conhecimento
	Sujeito e objeto do conhecimento em relação dialética
	A totalidade dos fenômenos
	Conhecimento concreto
	6.3.2 A relação sujeito-objeto-objetivos
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C07
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	7.1 Instituições como espaços de prática
	7.1.1 Instituições como aparelhos funcionais
	7.1.2 Instituições como reprodução da força de trabalho
	7.1.3 Instituições como espaço de contradições
	7.2 Prática do Serviço Social nas instituições
	7.2.1 O Estado como espaço de prática
	Estado como espaço de exercício profissional
	Conceito de Estado
	Confusão conceitual
	7.2.2 Articulação com a sociedade
	7.2.3 Articulação com os movimentos sociais
	7.3 Instituições como espaços de transformação
	7.3.1 Objeto profissional e objeto institucional
	7.3.2 Possibilidades de transformações institucionais
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C08
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	8.1 A metodologia e a Reconceituação
	8.1.1 Ação política e a teoria dialética
	8.1.2 O paradigma das correlações de forças
	8.1.3 Polarização
	8.2 As ideologias do Serviço Social reconceituado
	8.2.1 Liberal
	8.2.2 Desenvolvimentista
	8.2.3 Revolucionária
	8.3 Sistematização do trabalho social
	8.3.1A construção de uma proposta metodológica de atuação
	8.3.2 Ciência e técnica social
	8.3.3 A ação profissional, atores e a estrutura
	8.4 Aplicação da teoria reconceituada
	8.4.1 O assistente social como intelectual orgânico
	8.4.2 O profissional como sujeito da história
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
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	Rafaela Vieira
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	Contextualizando o cenário
	1.1 Categorias da teoria marxista
	1.1.1 Produção de mercadoria
	1.1.2 Mais-valia
	1.1.3 Ideologia
	1.1.4 Alienação
	1.2 A luta de classes e a economia política
	1.2.1 Luta de classes como força motriz da história
	1.2.2 A economia capitalista e o processo de produção
	1.3 Valor, trabalho e sociedade
	1.3.1 Valor-trabalho: transformação da natureza e constituição do ser social
	1.3.2 Práxis, ser social e subjetividade
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C02
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	2.1. Influência marxista
	2.1.1. O militantismo no Serviço Social
	2.1.2. O messianismo no Serviço Social
	2.1.3. O fatalismo e o Serviço Social
	2.2. Interpretações da teoria marxista
	2.2.1. Louis Althusser e os Aparelhos Ideológicos de Estado
	2.2.2. Os marxismos de Lenin e Trotsky
	2.2.3. A incorporação de interpretações marxistas no Serviço Social
	2.3. Retorno aos textos de Marx
	2.3.1. A obra de Iamamotto & Carvalho
	2.3.2. Aplicação da teoria de Marx no Serviço Social
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C03
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	3.1. Proposta teórico-metodológica
	3.1.1 Concepção dialética da história
	3.1.2 O intelectual orgânico
	3.1.3 A filosofia da práxis
	3.2 Principais conceitos em Gramsci
	3.2.1 Conceito de cultura
	3.2.2 Construção da contra-hegemonia
	Reivindicações da classe trabalhadora e o conceito de hegemonia
	Domínio e consenso
	Poder coercitivo
	3.2.3 Sociedade civil
	3.2.4 Estado ampliado
	3.3 Contribuição da teoria de Gramsci para o Serviço Social
	3.3.1 Superação do determinismo marxista
	3.3.2 Economicismo perde força
	3.3.3 Valorização da cultura
	3.4 A direção histórica indicada por Gramsci
	3.4.1 Protagonismo dos sujeitos
	3.4.2 Nova ordem societária
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C04
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	4.1. Serviço Social latino-americano
	4.1.1. Asociación Latinoamericana de Escuelas de Trabajo Social (ALAETS)
	4.1.2. Centro Latinoamericano de Trabajo Social (CELATS)
	4.1.3. Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS)
	Divulgação no Brasil
	Renovação no Serviço Social brasileiro
	Direções da profissão
	4.2. Principais escolas de Serviço Social na América Latina
	4.2.1. Colômbia
	4.2.2. Uruguai
	4.2.3. Chile
	4.2.4. Argentina
	4.3. Militarismo na América Latina
	4.3.1. Golpes militares
	Movimento e ditadura
	Leitura marxista
	Seminários e ações da CBCISS
	Ampliação dos cursos de Serviço Social
	4.3.2 A Reconceituação inconclusa
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C05
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	5.1 Movimento de Reconceituação
	5.1.1 Reconceituação brasileira
	5.1.2 Bases sócio-políticas
	5.2 Intenção de ruptura
	5.2.1 Proposta metodológica da intenção de ruptura
	5.2.2 Influência da teoria marxista na construção da metodologia
	5.2.3 Método Belo Horizonte: uma proposta alternativa
	5.2.4 Crítica ao método de Belo Horizonte (BH)
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C06
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	6.1. Especificidades do Serviço Social
	6.1.1 Processo para a construção do objeto profissional
	6.1.2 A diversidade de objetos
	6.2. Perspectiva libertadora
	6.2.1 A realidade social como objeto
	6.2.2 A formação de consciência
	6.2.3 A ação libertadora
	6.3. A busca de um conhecimento
	6.3.1 A dialética do conhecimento
	Sujeito e objeto do conhecimento em relação dialética
	A totalidade dos fenômenos
	Conhecimento concreto
	6.3.2 A relação sujeito-objeto-objetivos
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C07
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	7.1 Instituições como espaços de prática
	7.1.1 Instituições como aparelhos funcionais
	7.1.2 Instituições como reprodução da força de trabalho
	7.1.3 Instituições como espaço de contradições
	7.2 Prática do Serviço Social nas instituições
	7.2.1 O Estado como espaço de prática
	Estado como espaço de exercício profissional
	Conceito de Estado
	Confusão conceitual
	7.2.2 Articulação com a sociedade
	7.2.3 Articulação com os movimentos sociais
	7.3 Instituições como espaços de transformação
	7.3.1 Objeto profissional e objeto institucional
	7.3.2 Possibilidades de transformações institucionais
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C08
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	8.1 A metodologia e a Reconceituação
	8.1.1 Ação política e a teoria dialética
	8.1.2 O paradigma das correlações de forças
	8.1.3 Polarização
	8.2 As ideologias do Serviço Social reconceituado
	8.2.1 Liberal
	8.2.2 Desenvolvimentista
	8.2.3 Revolucionária
	8.3 Sistematização do trabalho social
	8.3.1 A construção de uma proposta metodológica de atuação
	8.3.2 Ciência e técnica social
	8.3.3 A ação profissional, atores e a estrutura
	8.4 Aplicação da teoria reconceituada
	8.4.1 O assistente social como intelectual orgânico
	8.4.2 O profissional como sujeito da história
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
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	Blank Page
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	Página em branco
	II_FSSMRALBrasil
	FSSMRALB_C01-C06
	FSSMRALB_C01-C04
	FSSMRALB_C01-C02
	FSSMRALB_C0
	FSSMRALB_C01
	Compreenda seu livro: Metodologia
	Compreenda seu livro: Percurso
	Boxes
	Apresentação da disciplina
	A autoria
	Fabiana Demétrio
	Micaela Alves Rocha da Costa
	Rafaela Vieira
	Veronica Ferreira Pinto
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	1.1 Categorias da teoria marxista
	1.1.1 Produção de mercadoria
	1.1.2 Mais-valia
	1.1.3 Ideologia
	1.1.4 Alienação
	1.2 A luta de classes e a economia política
	1.2.1 Luta de classes como força motriz da história
	1.2.2 A economia capitalista e o processo de produção
	1.3 Valor, trabalho e sociedade
	1.3.1 Valor-trabalho: transformação da natureza e constituição do ser social
	1.3.2 Práxis, ser social e subjetividade
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C02
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	2.1. Influência marxista
	2.1.1. O militantismo no Serviço Social
	2.1.2. O messianismo no Serviço Social
	2.1.3. O fatalismo e o Serviço Social
	2.2. Interpretações da teoria marxista
	2.2.1. Louis Althusser e os Aparelhos Ideológicos de Estado
	2.2.2. Os marxismos de Lenin e Trotsky
	2.2.3. A incorporação de interpretações marxistas no Serviço Social
	2.3. Retorno aos textos de Marx
	2.3.1. A obra de Iamamotto & Carvalho
	2.3.2. Aplicação da teoria de Marx no Serviço Social
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C03
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	3.1. Proposta teórico-metodológica
	3.1.1 Concepção dialética da história
	3.1.2 O intelectual orgânico
	3.1.3 A filosofia da práxis
	3.2 Principais conceitos em Gramsci
	3.2.1 Conceito de cultura
	3.2.2 Construção da contra-hegemonia
	Reivindicações da classe trabalhadora e o conceito de hegemonia
	Domínio e consensoPoder coercitivo
	3.2.3 Sociedade civil
	3.2.4 Estado ampliado
	3.3 Contribuição da teoria de Gramsci para o Serviço Social
	3.3.1 Superação do determinismo marxista
	3.3.2 Economicismo perde força
	3.3.3 Valorização da cultura
	3.4 A direção histórica indicada por Gramsci
	3.4.1 Protagonismo dos sujeitos
	3.4.2 Nova ordem societária
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C04
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	4.1. Serviço Social latino-americano
	4.1.1. Asociación Latinoamericana de Escuelas de Trabajo Social (ALAETS)
	4.1.2. Centro Latinoamericano de Trabajo Social (CELATS)
	4.1.3. Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS)
	Divulgação no Brasil
	Renovação no Serviço Social brasileiro
	Direções da profissão
	4.2. Principais escolas de Serviço Social na América Latina
	4.2.1. Colômbia
	4.2.2. Uruguai
	4.2.3. Chile
	4.2.4. Argentina
	4.3. Militarismo na América Latina
	4.3.1. Golpes militares
	Movimento e ditadura
	Leitura marxista
	Seminários e ações da CBCISS
	Ampliação dos cursos de Serviço Social
	4.3.2 A Reconceituação inconclusa
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C05
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	5.1 Movimento de Reconceituação
	5.1.1 Reconceituação brasileira
	5.1.2 Bases sócio-políticas
	5.2 Intenção de ruptura
	5.2.1 Proposta metodológica da intenção de ruptura
	5.2.2 Influência da teoria marxista na construção da metodologia
	5.2.3 Método Belo Horizonte: uma proposta alternativa
	5.2.4 Crítica ao método de Belo Horizonte (BH)
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C06
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	6.1. Especificidades do Serviço Social
	6.1.1 Processo para a construção do objeto profissional
	6.1.2 A diversidade de objetos
	6.2. Perspectiva libertadora
	6.2.1 A realidade social como objeto
	6.2.2 A formação de consciência
	6.2.3 A ação libertadora
	6.3. A busca de um conhecimento
	6.3.1 A dialética do conhecimento
	Sujeito e objeto do conhecimento em relação dialética
	A totalidade dos fenômenos
	Conhecimento concreto
	6.3.2 A relação sujeito-objeto-objetivos
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C07
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	7.1 Instituições como espaços de prática
	7.1.1 Instituições como aparelhos funcionais
	7.1.2 Instituições como reprodução da força de trabalho
	7.1.3 Instituições como espaço de contradições
	7.2 Prática do Serviço Social nas instituições
	7.2.1 O Estado como espaço de prática
	Estado como espaço de exercício profissional
	Conceito de Estado
	Confusão conceitual
	7.2.2 Articulação com a sociedade
	7.2.3 Articulação com os movimentos sociais
	7.3 Instituições como espaços de transformação
	7.3.1 Objeto profissional e objeto institucional
	7.3.2 Possibilidades de transformações institucionais
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
	FSSMRALB_C08
	Objetivos do capítulo
	Tópicos de estudo
	Contextualizando o cenário
	8.1 A metodologia e a Reconceituação
	8.1.1 Ação política e a teoria dialética
	8.1.2 O paradigma das correlações de forças
	8.1.3 Polarização
	8.2 As ideologias do Serviço Social reconceituado
	8.2.1 Liberal
	8.2.2 Desenvolvimentista
	8.2.3 Revolucionária
	8.3 Sistematização do trabalho social
	8.3.1 A construção de uma proposta metodológica de atuação
	8.3.2 Ciência e técnica social
	8.3.3 A ação profissional, atores e a estrutura
	8.4 Aplicação da teoria reconceituada
	8.4.1 O assistente social como intelectual orgânico
	8.4.2 O profissional como sujeito da história
	Proposta de atividade
	Recapitulando
	Referências
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