Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Conteúdo: PROJETO INTEGRADOR- SAÚDE CORPO E MENTE Ivonilce Venturi ALIMENTOS TRANSGÊNICOS 4 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: • Identificar o processo em que ocorre a modificação genética. • Reconhecer as legislações brasileiras sobre OGM. • Analisar os malefícios e benefícios do consumo de alimentos geneticamente modificados para a saúde humana. ALIMENTOS TRANSGÊNICOS Desde a década de 1970, quando tornou-se possível alterar o DNA de organismos vivos, a engenharia genética vem realizando alterações em plantas e animais, com os objetivos de obter uma melhor produção agrícola, fazer uso de menos agrotóxicos e melhorar a qualidade dos alimentos. No entanto, ainda é um assunto que gera muita polêmica no meio científico devido a possíveis efeitos danosos ao organismo humano e malefícios à natureza. Os alimentos geneticamente modificados ou transgênicos estão nos mais diferentes produtos disponíveis para compra e consumo humano. As diferentes opiniões sobre os organismos geneticamente modificados (OGM) refletem uma disputa técnica que envolve consumidores, agricultores, governo, ambientalistas, políticos, empresas privadas, cientistas e muitos outros órgãos, sendo que cada um defende um ponto de vista em relação aos OGM. Portanto, é importante que você, sendo nutricionista, conheça e entenda o processo de modificação genética de alimentos para não apenas orientar seus pacientes e a comunidade sobre o consumo seguro de alimentos, mas também para compreender a repercussão dos OGM na sociedade. Neste capítulo, você vai conhecer os OGM, suas vantagens e desvantagens para o homem, a sociedade e o meio ambiente. Você vai compreender também os riscos e benefícios para a saúde humana. Bons estudos! 5 ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS A década de 1950 foi marcada pela descoberta da síntese química do DNA e do DNA recombinante, descoberto a partir do uso das técnicas de manipulação genética. Em 1953, os cientistas James Watson e Francis Crick publicaram um artigo na revista Nature mostrando o DNA em sua estrutura tridimensional em dupla hélice. Na década de 1970, cientistas conseguiram alterar o gene da bactéria E. coli para a produção da insulina humana, e, em 1983, foi aprovada a comercialização e o uso da insulina recombinante para a medicina humana. Em 1994, entrou na cadeia alimentar americana o primeiro alimento geneticamente modificado, o tomate de amadurecimento retardado (Flavr Savr®). No ano seguinte, liberou-se o plantio de soja geneticamente modificada pelos Estados Unidos, o que ocorreu também na Argentina, em 1996. No Brasil, em janeiro de 1995, criou-se a Lei nº 8.974, que dispõe sobre biossegurança. Além disso, foi formada a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), passando a ser este o órgão controlador dos produtos transgênicos no Brasil. Outro acontecimento importante foi o nascimento de duas ovelhas com genes humanos, as quais produziram leite com proteína anticoagulante. A União Europeia aprovou, em 1998, as regras para inserir nas embalagens de alimentos uma etiqueta mostrando que o alimento era geneticamente modificado. No ano seguinte, entrou em vigor o Protocolo de Cartagena – protocolo internacional que fornecia diretrizes para o transporte de organismos geneticamente modificados (OGM). Em 1999, foi fundada no Brasil a Associação Nacional de Biossegurança (ANBio), mas foi somente em 2005 que foi aprovada a Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005, que dispõe sobre biossegurança e ações de fortalecimento em biossegurança no Brasil. A partir de então, vários experimentos passaram a ser realizados com o uso da engenharia genética, desde a criação de animais de laboratório até alimentos (XAVIER, LOPES e PETERS, 2009). 6 Conceito de alimento geneticamente modificado A Lei Federal Brasileira nº 11.105, de 24 de março de 2005, no art. 3º, inciso V descreve que organismo geneticamente modificado é o organismo cujo material genético (DNA/RNA) foi modificado por qualquer técnica de engenharia genética, excluídos desta classificação os organismos resultantes de técnicas que impliquem na introdução direta, num organismo, de material hereditário, desde que não envolva a utilização de moléculas de DNA/RNA recombinante ou OGM, tais como: fecundação in vitro, conjugação, transdução, transformação, indução poliplóide e qualquer outro processo natural (BRASIL, 2005). No processo de transgenia, portanto, os alimentos são geneticamente modificados, passando a ter em seu DNA um gene de outra planta ou animal. A função da inserção de um gene diferente no DNA da planta é torná-la resistente a alguma praga, herbicida ou escassez de água. Pode-se resumir o processo de transgenia em: (a) isolamento e clonagem de um gene útil; (b) transferência desse gene para dentro da célula vegetal; (c) integração desse gene ao genoma da planta; (d) regeneração de plantas a partir da célula transformada; (e) expressão do gene introduzido nas plantas regeneradas; (f) transmissão do gene introduzido de geração em geração (BESPALHOK FILHO, GUERRA e OLIVEIRA, 2016). LEGISLAÇÕES SOBRE ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS NO BRASIL A legislação brasileira regulamenta os OGM. Confira, a seguir, os textos resumidos de algumas legislações. Lei nº 11.105/2005 (BRASIL, 2005) Regulamenta os incisos II, IV e V do § 1o do art. 225 da Constituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados - OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança - CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança - PNB, revoga a Lei no 8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a Medida 7 Provisória no 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os arts. 5o, 6o, 7o, 8o, 9o, 10 e 16 da Lei no 10.814, de 15 de dezembro de 2003, e dá outras providências. Art. 1o Esta Lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia, a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a observância do princípio da precaução para a proteção do meio ambiente. § 1o Para os fins desta Lei, considera-se atividade de pesquisa a realizada em laboratório, regime de contenção ou campo, como parte do processo de obtenção de OGM e seus derivados ou de avaliação da biossegurança de OGM e seus derivados, o que engloba, no âmbito experimental, a construção, o cultivo, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a liberação no meio ambiente e o descarte de OGM e seus derivados. § 2o Para os fins desta Lei, considera-se atividade de uso comercial de OGM e seus derivados a que não se enquadra como atividade de pesquisa, e que trata do cultivo, da produção, da manipulação, do transporte, da transferência, da comercialização, da importação, da exportação, do armazenamento, do consumo, da liberação e do descarte de OGM e seus derivados para fins comerciais. Art. 2o As atividades e projetos que envolvam OGM e seus derivados, relacionados ao ensino com manipulação de organismos vivos, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico e à produção industrial ficam restritos ao âmbito de entidades de direito público ou privado, que serão responsáveis pela obediência aos preceitos desta Lei e de sua regulamentação, bem como pelas eventuais consequências ou efeitos advindos de seu descumprimento. Art. 8o Fica criado o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, vinculado à Presidênciada República, órgão de assessoramento superior do Presidente da República para a formulação e implementação da Política Nacional de Biossegurança – PNB. 8 Lei n° 11.460/2007 (BRASIL, 2007) Dispõe sobre o plantio de organismos geneticamente modificados em unidades de conservação; acrescenta dispositivos à Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, e à Lei no 11.105, de 24 de março de 2005; revoga dispositivo da Lei no 10.814, de 15 de dezembro de 2003; e dá outras providências. Art. 1o Ficam vedados a pesquisa e o cultivo de organismos geneticamente modificados nas terras indígenas e áreas de unidades de conservação, exceto nas Áreas de Proteção Ambiental. § 4o O Plano de Manejo poderá dispor sobre as atividades de liberação planejada e cultivo de organismos geneticamente modificados nas Áreas de Proteção Ambiental e nas zonas de amortecimento das demais categorias de unidade de conservação, observadas as informações contidas na decisão técnica da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio sobre: I - o registro de ocorrência de ancestrais diretos e parentes silvestres; II - as características de reprodução, dispersão e sobrevivência do organismo geneticamente modificado; III - o isolamento reprodutivo do organismo geneticamente modificado em relação aos seus ancestrais diretos e parentes silvestres; e IV - situações de risco do organismo geneticamente modificado à biodiversidade.” (NR) Rotulagem de alimentos transgênicos Decreto n° 4.680/2003 (BRASIL, 2003) Regulamenta o direito à informação, assegurado pela Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, quanto aos alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de organismos geneticamente modificados, sem prejuízo do cumprimento das demais normas aplicáveis. Art. 2o Na comercialização de alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir 9 de organismos geneticamente modificados, com presença acima do limite de um por cento do produto, o consumidor deverá ser informado da natureza transgênica desse produto. § 1o Tanto nos produtos embalados como nos vendidos a granel ou in natura, o rótulo da embalagem ou do recipiente em que estão contidos deverá constar, em destaque, no painel principal e em conjunto com o símbolo a ser definido mediante ato do Ministério da Justiça, uma das seguintes expressões, dependendo do caso: “(nome do produto) transgênico”, “contém (nome do ingrediente ou ingredientes) transgênico(s)” ou “produto produzido a partir de (nome do produto) transgênico”. [...] Art. 4o Aos alimentos e ingredientes alimentares que não contenham nem sejam produzidos a partir de organismos geneticamente modificados será facultada a rotulagem “(nome do produto ou ingrediente) livre de transgênicos”, desde que tenham similares transgênicos no mercado brasileiro.” Portaria n° 2.658/2003 (BRASIL, 2003) Define o símbolo de que trata o art. 2º, § 1º, do Decreto 4.680, de 24 de abril de 2003. 1. ÂMBITO DE APLICAÇÃO E OBJETIVOS: O presente regulamento se aplica de maneira complementar ao disposto no Regulamento Técnico para Rotulagem de Alimentos Embalados aprovado pela resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária de nº 259, de 20 de setembro de 2002, ou norma que venha a substituir, e tem o objetivo de definir a forma e as dimensões mínimas do símbolo que comporá a rotulagem tanto dos alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal embalados como nos vendidos a granel ou in natura, que contenham ou sejam produzidos a partir de organismos geneticamente modificados, na forma do Decreto nº 4.680, de 24 de abril de 2003. Instrução Normativa n° 01/2004 (BRASIL, 2004) Define os procedimentos complementares para aplicação do Decreto no 4.680, de 24 de abril de 2003, que dispõe sobre o direito à informação, assegurado pela Lei n o 8.078, de 11 de setembro de 1990, quanto aos alimentos e ingredientes alimentares, destinados ao consumo humano ou animal, que contenham ou sejam produzidos a partir de Organismos Geneticamente Modificados. 10 ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS: MALEFÍCIOS X BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE HUMANA Você sabia que há uma lista de alimentos geneticamente modificados disponíveis à venda no mercado? Alguns produtos ainda não são vendidos no Brasil. Confira, a seguir, quais produtos são comercializados no Brasil e quais não se encontram à venda. Alimentos geneticamente modificados vendidos no Brasil – soja, milho, trigo, centeio, óleo de cozinha extraído da soja, milho e algodão, feijão (variedade desenvolvida pela Embrapa para ser resistente ao vírus do mosaico dourado). Alimentos geneticamente modificados ainda não vendidos no Brasil – mamão papaya, abobrinha, salmão e arroz (algumas variedades ainda em teste). Atualmente, o Brasil é o segundo maior produtor de soja, milho e algodão transgênico. A produção destes itens com sementes transgênicas chega a 93,4% do total produzido no País. Discute-se muito a relação entre vantagens e desvantagens quanto à produção dos transgênicos, pois há empresários que defendem o cultivo, a comercialização e o consumo dos transgênicos, e há também quem seja contra essa produção. Conheça agora alguns pontos de discussão levantados nos grupos. As vantagens da produção de transgênicos estão nos seguintes aspectos: aumento da produtividade, maior resistência a pragas (insetos, bactérias, fungos e vírus), diminuição do uso de agrotóxicos e maior resistência e durabilidade no tempo de estocagem de alimentos. As desvantagens da produção estão na alteração ambiental, pois os transgênicos são mais resistentes a pesticidas, exigindo o uso de uma maior quantidade. Por eliminarem pragas prejudiciais à plantação, podem também eliminar populações benéficas, como abelhas, minhocas e outras espécies. Plantas com genes manipulados podem cruzar com plantas nativas, alterando o meio ambiente. Além disso, discute-se a segurança ambiental, que pode mudar de acordo com as condições locais. 11 Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2014), os alimentos geneticamente modificados são avaliados quanto à segurança nos seguintes aspectos: • efeitos diretos sobre a saúde (toxicidade); • potencial para causar reações alérgicas (alergenicidade); • componentes específicos considerados como tendo propriedades nutricionais ou tóxicas; • estabilidade do gene inserido; • efeitos nutricionais associados à modificação genética; • outros efeitos indesejados que possam resultar da inserção do gene. Mesmo a OMS tendo definido critérios quanto à segurança dos alimentos transgênicos, tais itens ainda são causa de uma polêmica discussão quanto aos potenciais riscos e benefícios para a saúde humana. Riscos para a saúde humana Alguns estudos realizados demonstraram os resultados apresentados a seguir. Confira! Efeito potencial na saúde humana resultante do uso de DNA viral em plantas – a maioria das culturas geneticamente modificadas utiliza o 35S proveniente do Cauliflower Mosaic Virus 35S promoter (CaMV35S) para ligar o gene introduzido. Há muitas controvérsias relativas à dúvida se o CaMV35S pode ser transferido horizontalmente ao ser humano, causando doenças (p. ex., câncer), reativando vírus latentes ou gerando novos vírus. Frente a esses questionamentos, alguns autores encontraram o CaMV em alimentos normais e não identificaram risco de infecção, pois este não pode ser absorvido por mamíferos (HO, RYAN e CUMMINS, 2000). Paparini e Romano-Spica (2004) não encontraram relação causal de doenças com o promotor 35s, mesmo que o consumo de CaMV e seu promotor seja alto. Possível transferência de genes resistentes a antibióticos para bactérias no trato gastrintestinal – outra área de preocupação em relação aos transgênicos é a possibilidade de os genes de resistência a antibióticos (utilizados nas culturastransgênicas) serem transferidos horizontalmente para as bactérias patogênicas intestinais, reduzindo a eficácia de antibióticos utilizados pela população. 12 Mesmo a possibilidade sendo considerada baixa (não inexistente), há necessidade de realizar estudos de toxicidade a longo prazo, pois cada planta transgênica pode ter um novo marcador genético, os quais precisam de comprovação científica quanto à segurança, visto que os alimentos são consumidos durante a vida toda (HALFORD e SHEWRY, 2000; RICHARDS et al., 2003). Possível absorção de genes introduzidos em uma planta geneticamente modificada a partir do intestino – a preocupação é que os genes introduzidos nas plantas possam ser absorvidos pelo intestino humano e, consequentemente, incorporados à sua composição genética. Um estudo realizado por Jennings e colaboradores (2003), utilizando amostras de tecido suíno para verificar a existência de fragmentos de glifosato resistente, não detectou esses fragmentos. Outros estudos verificaram a presença de genes recombinantes no leite de vaca e em tecidos de frango de animais que foram alimentados com soja e milho transgênico, além de fragmentos de gene transgênico no trato gastrintestinal de suínos alimentados com milho transgênico (BEEVER e KEMP, 2000; EINSPAINER et al., 2001; PHIPPS e BEEVER, 2001). Flachowsky, Chesson e Aulrich (2005) descrevem que a incorporação de DNA geneticamente modificado em células do trato gastrintestinal não traz consequências biológicas, pois o DNA será degradado na célula. A dúvida é em relação aos portadores de doenças gastrintestinais graves, pois não se conhece a probabilidade de o DNA geneticamente modificado exercer efeito biológico nas células desses indivíduos. Possíveis efeitos dos alimentos geneticamente modificados sobre as respostas alérgicas – a alergia alimentar (incluindo nozes, trigo, ovos e produtos lácteos) está cada vez mais comum na população. Por isso, órgãos regulamentadores (FAO e OMS) dos alimentos geneticamente modificados vêm avaliando esses alimentos, a fim de que os genes introduzidos nas plantas não se tornem tóxicos ou alergênicos. A introdução de novas proteínas no DNA de plantas pode causar danos nocivos, incluindo hipersensibilidade alérgica, conforme a variedade do gene e da planta (CONNER, GLARER e NAP, 2003). Prescott e colaboradores (2005) descrevem que a introdução de um gene que expressa a proteína 13 não alérgica, como a ervilha, nem sempre pode resultar em um produto sem alergenicidade. Alguns estudos mostraram que o gene Bt, encontrado em muitas culturas, pode desenvolver hipersensibilidade cutânea em trabalhadores expostos ao pesticida Bt usado na cultura transgênica (CREVEL et al., 2007). Avaliação de alergenicidade – para avaliar a alergenicidade dos alimentos transgênicos, foi desenvolvida em 1996 e revisada pela FAO/OMS (2001) uma abordagem chamada “árvore de decisão” (METCALFE et al., 1996). A avaliação do risco de toda a unidade geneticamente modificada deve considerar se a alergenicidade ou a toxicidade da cultura poderia ser aumentada. Esta ação é importante quando a planta hospedeira não geneticamente modificada é conhecida como fonte de alérgeno ou de toxina. Os testes de toxicidade geralmente incluem um estudo com roedores durante 90 dias, e o teste de alergenicidade é feito por comparação do repertório de alérgenos da cultura geneticamente modificada com a cultura convencional não geneticamente modificada. Outro aspecto preocupante a ser considerado é a extrapolação dos estudos de toxicologia das culturas alimentares geneticamente modificadas, em função das potenciais interações dos genes, sequências reguladoras e proteínas recentemente introduzidas (ou seus metabólitos) com o genoma do hospedeiro. Sabe-se que, para os testes de alergenicidade e toxicidade, não deve ser utilizada apenas uma linhagem ou espécie de animal, pois podem ocorrer reações diversas devido ao metabolismo de cada espécie, incluindo diferentes reações gastrintestinais, respiratórias e dermatológicas, além das diferenças genéticas entre cada espécie (DONA e ARVANITOYANNIS, 2009). POSICIONAMENTO DO CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS SOBRE ALIMENTOS TRANSGÊNICOS E PRODUZIDOS COM O USO DE AGROTÓXICOS Você, como profissional nutricionista, deve sempre estar atento às orientações do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) e cumprir os aspectos éticos da sua profissão. Zelar pela saúde e pelo bem estar da população é dever do nutricionista, além de orientar sobre riscos e benefícios em relação ao consumo dos alimentos. 14 O Brasil é considerado, hoje, o segundo maior produtor de alimentos transgênicos do mundo e também o maior consumidor de agrotóxicos, fato que aponta a urgente necessidade de os profissionais de saúde estarem informados quanto às consequências do uso e consumo desses alimentos para a saúde e o meio ambiente. Há uma polêmica discussão sobre o consumo de alimentos transgênicos e alimentos produzidos com agrotóxicos, fomentada pela escassez de estudos científicos – os estudos disponíveis são inconclusivos – que comprovem que esses produtos não são danosos ao ser humano e ao meio ambiente. Isso se deve, também, à influência do marketing das indústrias produtoras de transgênicos e agrotóxicos, além de questões socioeconômicas. Nesse contexto, o CFN (BRASIL, 2013) disponibiliza aos profissionais o posicionamento da profissão quanto ao tema. Confira a seguir o posicionamento do CFN, apresentado aqui de forma literal e resumida. - Defende a aplicação do princípio da precaução na análise de risco dos organismos transgênicos. - Defende a realização de rigoroso monitoramento pós-comercialização dos transgênicos, que permita seu rastreamento e o estabelecimento de causa e efeito no caso de danos à saúde da população brasileira. - Exige o cumprimento da legislação vigente e a rigorosa fiscalização da rotulagem dos produtos e alimentos transgênicos e seus derivados, previstas na legislação brasileira. - Recomenda que a categoria abstenha-se de utilizar e recomendar produtos e alimentos transgênicos ou seus derivados, até que estudos independentes e conclusivos garantam sua inocuidade. - Recomenda que os nutricionistas mantenham postura crítica e fundamentada sobre o uso e prescrição dos alimentos transgênicos para a população, em detrimento de outras formas de produção orgânica e agroecológica que respeitem a cultura alimentar brasileira. - Defende um modelo de produção agrícola que fomente a agricultura familiar e camponesa, preferencialmente de base agroecológica, que geram desenvolvimento local e respeitam os hábitos alimentares regionais e locais em contraposição ao agronegócio e a monocultura. - Defende o banimento em território nacional dos agrotóxicos e ingredientes ativos já proibidos em outros países, bem como daqueles que apresentem potenciais riscos a saúde humana e ao meio ambiente. - Passa a integrar a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. 15 Alerta os profissionais de uma forma geral, e em especial os da área de saúde e os envolvidos com as etapas da produção e do consumo de alimentos, que incorporem a discussão sobre OGM e Agrotóxicos nas suas pautas técnicas de trabalho, como forma de criar massa crítica em relação a esses temas. Conclama as entidades e organizações da sociedade civil e instâncias de controle social de todas as esferas de governo e afins, especialmente as envolvidas com a segurança alimentar e nutricional, para somar forças no sentido de exigir a pauta desse tema na agenda nacional. REFERÊNCIAS BEEVER, D. E.; KEMP, F. Safety issues associated with the DNA in animal feed derived from genetically modified crops. A review of scientific and regulatory procedures. Nutrition Abstracts and Reviews. v. 70, p. 197-204, 2000. BESPALHOK FILHO, J. C.; GUERRA, E. P.; OLIVEIRA, R. I. Plantas transgênicas. In: ______; ______; ______. Melhoramento de plantas. 2016. Disponívelem: <www.bespa.agrarias.ufpr.br>. Acesso em: 02 fev. 2017. BRASIL. Decreto nº 4.680, de 24 de abril de 2003. Regulamenta o direito à informação, assegurado pela Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, quanto aos alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de organismos geneticamente modificados, sem prejuízo do cumprimento das demais normas aplicáveis. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/decreto/2003/d4680.htm>. Acesso em: 01 fev. 2017. ______. Instrução normativa nº 01/2004. Ficam definidos os procedimentos complementares para aplicação do Decreto nº 4.680, de 24 de abril de 2003, que dispõe sobre o direito à informação, assegurado pela Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, quanto aos alimentos e ingredientes alimentares, destinados ao consumo humano ou animal, que contenham ou sejam produzidos a partir de Organismos Geneticamente Modificados. Disponível em: <http://www.saude.rj.gov.br/comum/code/MostrarArquivo. php?C=MjI0MQ%2C%2C>. Acesso em: 03 fev. 2017. ______. Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005. Regulamenta os incisos II, IV e V do § 1o do art. 225 da Constituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam http://www.bespa.agrarias.ufpr.br/ http://www.planalto.gov.br/ http://www.saude.rj.gov.br/comum/code/MostrarArquivo. 16 organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança – PNB, revoga a Lei no 8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a Medida Provisória no 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os arts. 5o, 6o, 7o, 8o, 9o, 10 e 16 da Lei no 10.814, de 15 de dezembro de 2003, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/Lei/L11105.htm>. Acesso em: 01 fev. 2017. ______. Lei nº 11.460, de 21 de março de 2007. Dispõe sobre o plantio de organismos geneticamente modificados em unidades de conservação; acrescenta dispositivos à Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, e à Lei no 11.105, de 24 de março de 2005; revoga dispositivo da Lei no 10.814, de 15 de dezembro de 2003; e dá outras providências. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11460.htm>. Acesso em: 01 fev. 2017. ______. Portaria nº 2658, de 22 de dezembro de 2003. Define o símbolo de que trata o art. 2º, § 1º, do Decreto 4.680, de 24 de abril de 2003, na forma do anexo à presente portaria. Disponível em: <http://portal.anvisa. gov.br/documents/33916/388869/Portaria_2685_de_22_de_dezembro_ de_2003.pdf/61746978-84f7-4380-81f4-7e9d93ad26b5>. Acesso em: 02 fev. 2017. CONNER, A. J.; GLARE, T. R.; NAP, J. P. The release of genetically modified crops into the environment: Part II. Overview of ecological risk assessment. The Plant Journal. v. 33, p. 19-46, 2003. CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS. Mesa de controvérsia sobre transgênicos. 2013. Disponível em: <http://www4.planalto.gov.br/consea/ biblioteca/documentos/questoes-eticas-impactos-e-riscos-para-a- soberania-e-seguranca-alimentar-e-nutricional-e-o-direito-humano-a- alimentacao-adequada-e-saudavel>. Acesso em: 03 fev. 2017. CREVEL, R. W. et al. Lack of immunogenicity of ice structuring protein type III HPLC12 preparation administered by the oral route to human volunteers. Food and Chemical Toxicology. v. 45, p. 79-87, 2007. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11460.htm http://gov.br/documents/33916/388869/Portaria_2685_de_22_de_dezembro_ http://www4.planalto.gov.br/consea/ 17 DONA, A.; ARVANITOYANNIS, I. S. Health risks of genetically modified foods. Critical Reviews In Food Science And Nutrition, [s.l.], v. 49, n. 2, p.164-175, 2, 2009. EINSPANIER, R. et al. The fate of forage plant DNA in farm animals, a collaborative case-study investigating cattle and chicken fed recombinant plant material. European Food Research and Technology. v. 212, p. 129-134, 2001. FAO/WHO. Evaluation of allergenicity of genetically modified foods. Disponível em: < http://www.who.int/foodsafety/publications/biotech/en/ ec_jan2001.pdf>. Acesso em: 05 fev. 2017. FLACHOWSKY, G.; CHESSON, A.; AULRICH, K. Animal nutrition with feeds from genetically modified plants. Archives of Animal Nutrition. v. 59, p. 1-40, 2005. HALFORD, N. G.; SHEWRY, P. R. Genetically modified crops: methodology, benefits, regulation and public concerns. British Medical Bulletin. v. 56, p. 71, 2000. HO, M. W.; RYAN, A.; CUMMINS, J. Hazards of transgenic plants containing the cauliflower mosaic virus promoter. Microbial Ecology in Health and Disease. v. 12, n. 3, p. 189-198, 2000. JENNINGS, J. C. et al. Determining whether transgenic and endogenous plant DNA transgenic protein are detectable in muscle from swine fed Roundup Ready soybean meal. Journal of Animal Science. v. 81, p. 1447-1455, 2003. METCALFE, D. D. et al. Assessment of the allergenic potential of foods derived from genetically engineered crop plants. Critical Reviews in Food Science and Nutrition. v. 36, p. s165-s186, 1996. PAPARINI, A.; ROMANO-SPICA, V. Public health issues related with the consumption of food obtained from genetically modified organisms. Biotechnology Annual Review. v. 10, p. 85-122, 2004. 18 PHIPPS, R. H.; BEEVER, D. E. Detection of transgenic DNA in bovine milk: Preliminary results for cows receiving a TMR containing Yieldguard TM MON810. Proc Int Anim Agr Food Sci Conf Indianapolis. p Abst. 476, 2001. PRESCOTT, V. E. et al. Transgenic expression of bean alpha-amylase inhibitor in peas results in altered structure immunogenicity. Journal of Agricultural and Food Chemmistry. v. 53, p. 9023-9030, 2005. RICHARDS, H. A. et al. Safety assessment of recombinant green fluorescent protein orally administered to weaned rats nutrient interactions and toxicity. Journal of Nutrition. v. 133, p. 1909-1912, 2003. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Food safety. Frequently asked questions on genetically modified foods. 2014. Disponível em: <http://www.who.int/ foodsafety/areas_work/food-technology/faq-genetically-modified-food/ en/>. Acesso em: 06 fev. 2017. XAVIER, E. G.; LOPES, D. C. N.; PETERS, M. D. P. Organismos geneticamente modificados. Archivos de Zootecnia. v. 58, p. 15-33, 2009. Disponível em: <http://www.uco.es/organiza/servicios/publica/az/php/img/ web/19_18_56_1215REVISIONOrganismosXavier.pdf>. Acesso em: 04 fev. 2017. http://www.uco.es/organiza/servicios/publica/az/php/img/ 19 Conteúdo:
Compartilhar