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quarta-feira, 8 de março de 2023 Artigos de Fibromialgia - Resumo UPTODATE A fibromialgia é a causa mais comum de dor musculoesquelética crônica generalizada, acompanhada, muitas vezes, de fadiga, distúrbios cognitivos, sintomas psiquiátricos e sintomas somáticos (POR PELO MENOS TRÊS MESES E NÃO EXPLICADOS POR NENHUMA OUTRA CONDIÇÃO MÉDICA). Ao exame físico observa- se sensibilidade em vários locais anatômicos de tecidos moles, e os exames laboratoriais são normais na ausência de outras doenças. É de etiologia desconhecida e a fisiopatoliogia não é bem explicada. O paciente que apresenta essa síndrome vem a relatar dor nos tecidos moles que afetam os músculos, ligamentos e tendões, PORÉM NÃO HÁ EVIDENCIAS DE QUE HAJA UM PROCESSO INFLAMATÓRIO NESSES TECIDOS. Os pacientes parecem bem, não apresentam anormalidades no exame físico além da sensibilidade nos tecidos moles. Além disso, os estudos laboratoriais e radiológicos das estruturas musculoesqueléticas são normais. Sendo assim, a fibromialgia tem sido considerada como psicogênica ou psicossomática, mas também considerada como um distúrbio da regulação da dor, classificada como uma forma de sensibilização central. A fibromialgia está associada a algumas condições que podem causar dor musculoesqueléticas, interrupção do sono ou sintomas psiquiátricos. Essas características dessas condições também podem assumir a forma de fibromialgia, sendo necessária na avaliação diagnóstica. É mais comum em mulheres (6x mais comum), e ocorre tanto em crianças como em adultos. Alguns distúrbios são vistos com maior frequência em pacientes com FM do que na população geral, sendo que algumas dessas condições podem se agrupar com a FM e ter algumas características 1 quarta-feira, 8 de março de 2023 fisiopatológicas comuns, como a síndrome do intestino irritável e a enxaqueca. Além disso, alguns distúrbios associados podem exacerbar os sintomas da FM, como dor crônica em pacientes com artrite, distúrbios de sono, fadiga em pacientes com depressão, apneia obstrutiva ou síndrome das pernas inquietas. Classificação: É considerada um distúrbio da regulação da dor, muitas vezes classificada sob o termo sensibilização central. A sensibilização central é definida como uma amplificação da sinalização neural dentro do SNC, resultando em hipersensibilidade à dor. Processamento alterado da dor do sistema nervoso central: Vários estudos demonstram que a fibromialgia é um distúrbio do processamento da dor, incluindo: 1. Soma temporal da dor: Pacientes com FM tem aumentos maiores que o normal na intensidade percebida da dor quando estímulos nocivos curtos e repetitivos são administrados, o que é denominado de SOMA TEMPORAL DA DOR. 2. Diminuição da inibição da dor endógena: Os sistemas analgésicos endógenos parecem ser deficientes na FM. 3. Receptores de dor e neuropeptídeos relacionados a dor: São observadas alterações nos receptores opióides, incluindo regulação positiva na periferia e redução no cérebro. A substância P, que é um neuropeptídio associado a dor crônica está aumentada no liquido cefalorraquidiano. O aumento do fator neurotrófico derivado no cérebro e plasma do cérebro foram encontrados na FM. 4. Aumento da sensibilidade dolorosa na FM faz parte de uma hipersensibilidade generalizada a estímulos sensoriais, incluindo 2 quarta-feira, 8 de março de 2023 estímulos visuais, auditivos e olfativos. Testes sensoriais quantitativos (QST) demonstraram hipersensibilidade ao som, bem como ao calor e dor mecânica, em pacientes com FM em comparação com controles saudáveis. Sintomas: 1. Dor crônica musculoesquelética generalizada ou multissítio: É a manifestação principal da FM. Normalmente seis locais estão envolvidos em pacientes com FM, sendo a cabeça, o tórax, o abdome, cada perna, a parte superior das costas, a coluna e a parte inferir das costas e da coluna (incluindo as nádegas). Às vezes a dor pode ser inicialmente localizada (geralmente no pescoço e nos ombros). Esses pacientes relatam dor em todos os músculos, que suas articulações doem e falam de inchaço, mesmo que a sinovite (inflamação pu proliferação da membrana sinovial) não esteja presente ao exame (exames de imagem como raio X, ressonância magnética ou ultrassom da articulação). 2. Fadiga e distúrbios do sono: Fadiga persistente moderada a grave + distúrbios de sono são características centrais do diagnóstico de FM. A inatividade ou a atividade prolongada aumentam os sintomas. Os pacientes mesmo após 8 a 10 horas de sono não se sentem revigorados. Além disso, de manhã é comum a rigidez matinal (caracterizada pela sensação de endurecimento das articulações ao acordar). Esses pacientes dormem “levemente”, acordando com frequência no início da manhã e tem dificuldade para voltar a dormir (descrição: “não importa o quanto eu durma, parece que um caminhão me atropelou de manhã”). A fadiga pode ser uma sensação de exaustão física ou emocional, quando esse quadro é prolongado. Outros sintomas comuns: 1. Distúrbios cognitivos: Estão presentes na maioria dos pacientes e são chamados de “névoa fibro”. Os pacientes relatam problemas de 3 quarta-feira, 8 de março de 2023 atenção e dificuldade em realizar tarefas que exigem mudanças rápidas de pensamento. 2. Sintomas psiquiátricos: Depressão e ansiedade são comuns em 30 a 50% desses pacientes no momento do diagnóstico. A depressão se correlacionou com idade mais jovem, sexo feminino, solteira, insegurança alimentar, número de condições crônicas e limitações nas atividades. Transtornos de ansiedade, transtorno bipolar, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e características como catastrofização (distorção da realidade em que a pessoa é pessimista e negativa em relação a situações cotidianas) e alexitimia (pessoas com dificuldade ou incapacidade de expressar emoções) são mais comuns em pacientes com FM do que na população em geral. 3. Cefaleia: Dores de cabeça são presentes em mais de 50% dos pacientes com FM, incluem enxaqueca e tensão muscular. A comorbidade da FM se correlacionou com a frequência de dores de cabeça, ansiedade, sensibilidade pericraniana, sono ruim e incapacidade física. A FM é especialmente comum em pacientes com enxaqueca episódica. 4. Parestesias: Pacientes relatam formigamento, dormência, queimação e sensação de rastejar ou rastejar, em ambos os braços e pernas. 5. Outros sintomas e distúrbios: Pacientes podem ter sintomas de dor mal compreendidos, incluindo dor abdominal e na parede torácica. Além disso, síndrome do intestino irritável (mais comum associada a FM) dor pélvica, sintomas vesicais de frequência e urgência (cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa). Há também sintomas de disfunção do SNA, olhos secos, etc. 6. Achados físicos: O único achado que geralmente está presente no exame físico é o de sensibilidade, as vezes de forma acentuada a palpação em vários tecidos moles, particularmente, mas não exclusivamente nos locais de pontos dolorosos (localizados no músculo trapézio superior médio, no epicôndilo lateral, na 4 quarta-feira, 8 de março de 2023 segunda junção costocondral e no trocânter maior). Em relação as articulações, os pacientes não são tão sensíveis, e a FM não causa inchaço ou eritema de tecidos moles ou articulações. 7. Avaliação neurológica: Às vezes revela pequenas anormalidades sensoriais e motoras na ausência de outra condição. Testes laboratoriais e outros estudos: A FM não causa nenhuma anormalidade nos testes laboratoriais clínicos de rotina (ex. Hemograma ou de imagem). É aconselhado obter um hemograma completo (CBC) e uma taxa de hemossedimentação (VHS) ou proteína C reativa (PCR), para excluir doença inflamatória sistêmica. Testes laboratoriais adicionais devem ser baseados na suspeita clínica de um distúrbio específico, como um teste de hormônio estimulante da tireoide (TSH) ou uma creatina quinase (CK), se houversuspeita de hipotireoidismo ou miopatia inflamatória, respectivamente. Diagnóstico: A FM deve ser suspeitada em pacientes com dor crônica de pelo menos 3 meses de duração sem outra causa identificada. O diagnóstico é feito baseado em sintomas de dor generalizada em vários locais, acompanhado de problemas moderados a graves de sono ou fadiga. Apesar da sensibilidade em vários locais, há ausência de edema ou de alterações inflamatórias no exame físico. O diagnóstico é baseado no relato subjetivo dos sintomas. Avaliação diagnóstica: Inclui Anamnese e exame físico + testes laboratoriais para excluir outras patologias. O médico deve perguntar sobre o sono, energia mental e física, distúrbios cognitivos, de humor e outras condições psiquiátricas, enxaqueca crônica (migrânea), SII, dor pélvica e/ou bexiga crônica e dor temporomandibular crônica. Além disso, a história de outras condições que podem causar dor músculo esquelética e imitar a fibromialgia é necessário, como, a existência de artrite reumatóide, lúpus eritematoso sistêmico e espondiloartrite. 5 quarta-feira, 8 de março de 2023 Exame físico: Atenção especial para um exame neurológico e articular cuidadoso para identificar sensibilidade generalizada dos tecidos moles e excluir outras doenças. Ao exame: palpação de tecidos moles e locais articulares, sendo que o exame articular é importante para procurar qualquer sinovite. Não é recomendado palpar os locais específicos de pontos dolorosos, mas sim estimar a sensibilidade generalizada. A localização dos pontos dolorosos são: músculo trapézio médio superior, no epicôndilo lateral (o chamado local do cotovelo de tenista), na segunda junção costocondral (o local da costocondrite), no trocanter maior (o local da bursite trocantérica do quadril). Exames laboratoriais: Não há exames laboratoriais diagnósticos .ou achados em radiografia. Pede-se somente um hemograma completo e uma medida de VHS ou uma PCR, necessário para excluir proteínas de fase aguda e consequentemente um processo inflamatório. Teste sorológico só deve ser pedido apenas se a história e o exame físico sugerirem uma doença reumática sistêmica inflamatória. Neuroimagem do cérebro: A ressonância magnética funcional (fMRI) demonstrou que pacientes com FM tiveram maior atividade neuronal nas regiões do cérebro de processamento de dor em comparação com os controles. Diferenças na ativação de áreas sensíveis à dor do cérebro também foram observadas em pacientes com FM (áreas: córtex somatossensorial secundário, ínsula e córtex cingulado anterior). A fMRI também é utilizada para demonstrar o importante papel dos fatores psicológicos na percepção da dor nesses pacientes. Alterações na morfologia cerebral: A análise morfométrica por ressonância magnética em pacientes com FM mostra em comparação com indivíduos saudáveis uma redução na 6 quarta-feira, 8 de março de 2023 massa cinzenta e aumento de três vezes quando associada a idade, sugerindo envelhecimento prematuro do cérebro. Função alterada do neurotransmissor: Pacientes com FM apresentam níveis mais altos de glutamina na ínsula posterior direita, sendo que o glutamato elevado na Fm está associado à dor experimental. Já na ínsula posterior direita, níveis mais altos de glutamato estão associados a limiares de cor à pressão mais baixos. *Todos esses exames foram feitos por espectroscopia de ressonância magnética de prótons.* Anormalidades do sono/humor/cognitivas: A disfunção do SNC é sugerida pelo sono, humor e distúrbios cognitivos observado na maioria dos pacientes com FM. -A atividade do sono alfa fásico é a mais característica da FM. Sendo assim, distúrbios do sono, de humor e de cognição, bem como fatores relacionados ao estresse envolvendo o sistema nervoso autônomo contribuem para a hiperirritabilidade do SNC. Stress/Disfunção do Sistema Nervoso Autônomo (SNA): A associação de dor com sono, humor e cognição está ligada ao estresse e disfunção do sistema nervoso autônomo na FM. Os distúrbios de sono aumentam a dor, o que consequentemente aumenta a reatividade cardiovascular simpática. Mecanismos de dor periférica: Geradores de dor periférica em pacientes com FM incluem gatilhos miofasciais, de ligamentos ou osteoartrite das articulações e da coluna. 7 quarta-feira, 8 de março de 2023 Ex: Fibromialgia é mais comum em pacientes com doenças reumáticas, dores lombares ou síndrome de dor regional complexa. Tratamento inicial de FM: O tratamento da fibromialgia é direcionado a redução dos principais sintomas desse distúrbio, incluindo dor crônica generalizada, fadiga, insônia e sono não reparador e disfunção cognitiva. A maioria das diretrizes de tratamento recomenda que o manejo inicial de pacientes com fibromialgia pode e deve ser realizado na atenção primária. O tratamento deve ser individualizado e multidisciplinar, envolvendo tanto medidas não farmacológicas, como terapia medicamentosa. Pacientes que não apresentam transtorno de humor ou sono coexistentes, podem responder bem ao tratamento apenas com as medidas não farmacológicas, sendo: 1. Educação do paciente: inclui ensino e aconselho sobre a doença, boa higiene do sono e os efeitos adversos do sono ruim na dor. Inclui também a importância de tratar as comorbidades que podem contribuir para os sintomas, incluindo distúrbios do humor ou do sono, e outras condições musculoesqueléticas. TCC (Terapia cognitivo comportamental), foi considerada o tratamento mais custo-efetivo para a fibromialgia. 2. Um programa de exercícios: A prática de exercícios é importante para o recondicionamento e para a capacidade funcional. O sedentarismo é um importante fator de risco para a fibromialgia. É recomendado treinamento de condicionamento cardiovascular, geralmente com exercícios aeróbicos de baixo impacto. 3. Monoterapia medicamentosa; 8 quarta-feira, 8 de março de 2023 Antidepressivos tricíclicos e medicamentos relacionados: Na maioria dos pacientes iniciamos a terapia com uma dose baixa de um medicamento tricíclico (ex. Amitriptilina 5-10mg) à noite, sendo muito eficaz. A dose pode ser limitada por efeitos colaterais adversos. Em pacientes com sintomas leves a moderados, o uso de ciclobenzaprina (5-10mg) na hora de dormir é uma boa opção em vez da amitriptilina. Em pacientes que não respondem a um triciclo de baixa dose, ou que apresentem efeitos colaterais intoleráveis, mudamos de um tricíclico para um inibidor de receptação de serotonina-noradrenalina (ex. Duloxetina ou Milnaciprano) ou um anticonvulsivante alfa2-ligante (ex. Pregabalina). É importante ressaltar que qualquer classe de drogas pode ser eficaz, baseamos nossas preferências na individualização dos pacientes, nos sintomas que apresentam após uso da medicação, ex: fadiga, depressão ou dificuldades com o sono. Esses medicamentos podem ser usados em alternativa à amitriptilina para terapia inicial, sendo: 1. Fadiga ou depressão proeminente: Pacientes com problemas graves de fadiga, sugere-se um IRSN (ex. Duloxetina ou Milnaciprano) no café da manhã. A Duloxetina pode ser preferida em pacientes com depressão que necessitam de terapia medicamentosa, porém se deve ter cuidado, necessitando de acompanhamento de psicofarmacologia. 2. Distúrbios do sono proeminentes: Sugere-se o uso de Pregabalina na hora de dormir. A Gabapentina é uma alternativa viável quando a pregabalina não está disponível. 3. Inibidores da recitação de serotonina-norepinefrina: Os inibidores de receptação de serotonina-norepinefrina, incluem: duloxetina, milnaciprano e venlafaxina. 9 quarta-feira, 8 de março de 2023 Duloxetina é usado para: 1. Pacientes intolerantes à amitriptilina; 2. Pacientes com fadiga severa; 3. Pacientes que requerem terapia para depressão e dor; Dose inicial: 20 a 30 mg/dia, aumentada gradualmente até a dose de 60mg/dia, caso necessário. Milnaciprano é usado para: 1. Alternativaà duloxetina; 2. Pacientes com fadiga severa além da dor; Dose inicial: 12,5 mg todas as manhãs, aumentando gradualmente conforme tolerado para 50mg duas vezes ao dia. Alguns pacientes necessitarão de uma dose mais alta, podendo ser até 100mg 2x ao dia. *Venlafaxina geralmente não é utilizado.* Anticonvulsivantes (alfa2-ligantes): Os moduladores do canal de cálcio alfa-2/delta, também chamados de alfa2-ligantes, inclui os anticonvulsivantes pregabalina (Dose inicial: 25-50mg) e gabapentina (Dose inicial: 100mg), são benéficos para o tratamento da fibromialgia e outras condições que causam dor crônica. Eles podem ser preferidos em relação a outros agentes em pacientes com distúrbios do sono, especialmente. Em pacientes não responsivos ou intolerantes à amitriptilina e em pacientes com distúrbios do sono mais graves além da dor, sugerimos o uso de pregabalina. Esses dois agentes são os únicos anticonvulsivantes que há evidências no benefício da fibromialgia. A pregabalina e a gabapentina tem efeitos semelhantes nos canais de cálcio e podem exercer seus efeitos analgésicos bloqueando a liberação de neurotransmissores. 10 quarta-feira, 8 de março de 2023 Ineficácia dos Analgésicos: Pouco beneficios é obtido com o uso de paracetamol, AINES e opióides. Inclusive o uso de opióides pode estar associado a danos aumentados e deve ser evitado na fibromialgia, sendo que esses pacientes com uso de opióides tem resultados piores do que aqueles que não tomam opióides. Sintomas persistentes, resposta terapêutica inadequada: Muitos pacientes apresentam sintomas contínuos apesar das medidas não farmacológicas iniciais e do tratamento com sonoterapias farmacológicas na dose máxima tolerada. Esses pacientes devem primeiramente serem avaliados para identificar a baixa adesão a medicação e sua causa, podendo ser necessário abordar condições associadas que podem reduzir a eficácia do tratamento, incluindo distúrbios de sono, depressão e outras condições dolorosas. Tratamento de Fibromialgia persistente: Pacientes que não respondem à terapia inicial: É indicado combinação de drogas, encaminhamento para um programa supervisionado de avaliação e tratamento de medicina física e reabilitação e encaminhamento para intervenções psicológicas para controle da dor, incluindo TCC. Combinações: Fluoxetina + Amitriptilina Duloxetina + Pregabalina 11