Buscar

Microbiologia e Genética Forense

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 133 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 133 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 133 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DESCRIÇÃO
A aplicação dos conhecimentos da Microbiologia e da Genética como ferramenta científica para
a elucidação de diversas investigações forenses.
PROPÓSITO
Compreender a importância e a aplicabilidade dos conhecimentos científicos próprios da
Microbiologia e da Genética enquanto ferramenta para a solução de problemas forenses é
importante para a sua formação, pois permitirá sua atuação em uma atividade de muita
relevância para a sociedade.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer a aplicação da Microbiologia em investigações forenses
MÓDULO 2
Justificar a importância da Genética na solução de crimes
MÓDULO 3
Distinguir a aplicação da Genética nos exames de paternidade/maternidade
MÓDULO 4
Identificar os limites da Genética como ferramenta principal ou coadjuvante em desastres com
múltiplas vítimas fatais
INTRODUÇÃO
Trataremos de dois assuntos arrebatadores que são a Microbiologia Forense e a Genética
Forense. Ao estudarem esses assuntos, vocês perceberão como o desenvolvimento do
conhecimento científico e das tecnologias aplicadas às ciências é capaz de trazer novas
perspectivas para a segurança da população.
 Figura 1. A Genética e a Microbiologia Forense podem ser instrumentos para a elucidação
de crimes.
A APLICAÇÃO DA MICROBIOLOGIA, ENQUANTO DISCIPLINA
FORENSE, TEM POUCO TEMPO, CERCA DE 15 ANOS. PORÉM,
ESSA DISCIPLINA SE TORNOU TÃO IMPORTANTE NO MUNDO
ATUAL QUE NÃO APENAS PODE AJUDAR AS AUTORIDADES A
RESOLVER UM CRIME, COMO TAMBÉM PODE COLABORAR
PARA QUE A POPULAÇÃO SEJA DEVIDAMENTE PROTEGIDA
DO USO INESCRUPULOSO DE MICRORGANISMOS COMO
ARMA.
A partir de agora, vocês serão apresentados a uma série de conceitos e referências técnicas
importantes para a atuação nessa área.
Durante os estudos sobre Genética Forense, trataremos de três áreas de aplicação da
tecnologia do DNA, quais sejam, investigações criminosas, testes de paternidade e
identificação de vítimas em desastres, com os conceitos e as técnicas pertinentes ao assunto.
Esperamos que vocês apreciem e compreendam a relevância desses assuntos para a
sociedade.
MÓDULO 1
 Reconhecer a aplicação da Microbiologia em investigações forenses
MICROBIOLOGIA APLICADA ÀS
INVESTIGAÇÕES FORENSES
A Microbiologia Forense é uma disciplina que usa os conhecimentos da Microbiologia para
responder a uma investigação. Não há dúvidas que vocês já sabem que a Microbiologia se
trata de uma ciência que estuda os microrganismos.
 Figura 2. A Microbiologia Forense trata das técnicas de Microbiologia aplicadas à
investigação criminal.
 Figura 3. Entre os microrganismos, podem ser citados: bactérias, fungos, vírus e
protozoários.
Por certo, ao longo de todos esses anos, a Microbiologia evoluiu muito, sendo considerada
uma disciplina essencial da área de saúde.
Mas, então, como ela foi parar no campo Forense?
Infelizmente, do mesmo modo que as ciências evoluem, as ações de delinquência também. Por
isso, há cerca de 15 anos, de maneira sistemática, a Microbiologia passou a integrar o grupo
das ciências forenses e a ajudar a elucidar ações terroristas, o chamado bioterrorismo, e outros
biocrimes.
 VOCÊ SABIA
Logo após o início da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha lançou uma campanha de
sabotagem biológica contra Estados Unidos, Rússia, Romênia e França. Em 1915, um alemão
chamado Anton Dilger foi enviado aos Estados Unidos carregando culturas de mormo, uma
doença virulenta de cavalos e mulas. Dilger montou um laboratório em sua casa em Chevy
Chase, Maryland. Ele usou estivadores trabalhando nas docas em Baltimore para infectar
cavalos com mormo enquanto eles esperavam para serem embarcados para a Grã-Bretanha.
Dilger era suspeito de ser um agente alemão, mas nunca foi preso. Ele acabou fugindo para
Madrid, Espanha, onde morreu durante a pandemia de influenza de 1918. Em 1916, os russos
prenderam um agente alemão com intenções semelhantes. A Alemanha e os seus aliados
infectaram cavalos de cavalaria francesa e muitas mulas e cavalos da Rússia na Frente
Oriental. Essas ações dificultaram os movimentos de artilharia e tropas, bem como os
comboios de suprimentos.
Fonte: Wikimedia.
Antes, façamos uma breve análise sobre novas doenças e a possibilidade de propagação
dessas doenças com a intenção de causar danos.
 Figura 4.
DOENÇA INTENCIONAL: UMA ARMA COMO
OUTRA QUALQUER
Surtos de doenças infecciosas representam um constante risco para a saúde global. Quem não
sabe disso? 2020 vai entrar para a História da Humanidade como o ano em que o mundo
contemporâneo parou por causa de uma doença infectocontagiosa.
 Figura 5.
De modo geral, novas epidemias surgem devido a fatores climatológicos ou geográficos. Quem
nunca ouviu falar na varíola? Às vezes, entretanto, a interferência humana na natureza
influencia a disseminação de doenças.
 Figura 6. Os seres humanos podem influenciar na disseminação de doenças, como a
varíola.
javascript:void(0)
VARÍOLA
A varíola é uma doença exantemática causada pelo Poxvirus variolae, que, do século X ao
século XX, foi responsável por vários surtos epidemiológicos e ocasionou milhares de mortes
em todo mundo. A origem da varíola é muito controversa, mas os primeiros casos que se tem
notícias ocorreram a partir do século IV, no Egito, Mesopotâmia, Índia e China. Entre os
séculos XI e XV, a varíola atingiu praticamente toda a Europa. Por volta do ano de 1.500, a
varíola já estava disseminada pelo mundo.
O primeiro caso da varíola no continente americano data de 1507 e ocorreu na ilha de
Hispaniola (atual República Dominicana e Taiti), dizimando metade da população residente.
Importada da Espanha, a disseminação da doença por aqui teve franca relação com o tráfico
de escravos. Em todo o continente, os povos nativos foram duramente atingidos, inclusive com
a extinção de alguns deles.
Algumas zoonoses, por exemplo, saltam para um hospedeiro humano porque o habitat da
floresta tropical de ex-hospedeiros animais é reduzido. O desmatamento de áreas
montanhosas pode ocasionar inundação de áreas povoadas, levando, indiretamente, a surtos
de cólera e de outras doenças infecciosas.
 Figura 7. Cena de uma guerra medieval, na qual catapultas eram usadas.
HOJE, O USO DE ARMAS BIOLÓGICAS FAZ PARTE DE
POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS, ASSIM COMO, SERVE
DE MEIO DE AÇÃO PARA CRIMINOSOS E GRUPOS
TERRORISTAS. EMBORA, ATÉ AGORA, EPISÓDIOS
DESTA NATUREZA SEJAM ESPORÁDICOS, NÃO HÁ
DÚVIDA DE QUE O USO DELIBERADO DE AGENTES
BIOLÓGICOS É UMA AMEAÇA REAL E REPRESENTA
UM RISCO POTENCIALMENTE ALTO. ESSE ASSUNTO
É TÃO ATUAL QUE JÁ SÃO AVENTADOS
REGULAMENTOS INTERNACIONAIS MAIS SEVEROS,
ESTRATÉGIAS DE DETECÇÃO PRECOCE E
ATIVIDADES PREVENTIVAS INTEGRADAS E
COORDENADAS GLOBALMENTE.
REGULAMENTOS INTERNACIONAIS
Em 1925, foi assinado o Protocolo de Genebra, proibindo, em caso de guerras, o uso de gases
asfixiantes, venenosos e similares, bem como de métodos bacteriológicos. Posteriormente, em
1967, por meio da Resolução 2162 B (XXI), a Organização das Nações Unidas ratificou a
proibição.
No entanto, as nações não têm se mostrado muito afeitas a cumprir com esta regra, desde seu
surgimento no início do século XIX. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha Nazista
usou gases tóxicos para exterminar judeus nos campos de concentração.
ARMAS BIOLÓGICAS
javascript:void(0)
Segundo a Organização Mundial de Saúde, as armas biológicas alcançam seus alvos
pretendidos por meio da transmissão de microrganismos causadores de doenças e outras
entidades, incluindo bactérias, fungos, toxinas, vírus, ácidos nucleicos infecciosos e príons.
 Figura 8. No Campo de Concentração de Dachau, próximo à cidade de Munique, na
Alemanha, mais de 30.000 pessoas foram assassinadas, muitas das quais com o uso de gases
tóxicos.
 ATENÇÃO
Outro aspecto a se pensar com relação a esse tipo de arma é que o uso de microrganismos
como armas biológicas não visa apenas matar ou incapacitar a espécie humana, mas
também destruir plantações e gado.
O USO DE MICRORGANISMOS COMO ARMAS
BIOLÓGICAS
Notemque os microrganismos podem ser tão mortais que, ainda que não sejam efetivamente
usados como armas pelos exércitos, em época de guerra, acabavam levando a óbito mais
javascript:void(0)
soldados do que a própria batalha em si.
Dados americanos sobre a admissão de soldados em hospitais em razão de sintomas
ocasionados por doenças infectocontagiosas são alarmantes e deixam claro o potencial do uso
de microrganismos em guerras.
• Na Segunda Guerra Mundial: 95% dos soldados americanos saíam de combate e iam parar
nos hospitais em razão de doenças infectocontagiosas (percebam que somente 5% dos
pacientes que davam entrada nos hospitais apresentavam ferimentos de guerra).
• Na Guerra da Coreia, em 1950, o número de soldados americanos incapacitados de
combater por causa de doenças infectocontagiosas foi em torno de 82%.
• Na Guerra do Vietnã, só a malária tirou entre 56% a 75% dos soldados de combate, conforme
à época.
Em 1972, 170 países assinaram a Convenção sobre as Armas Químicas e Biológicas,
comprometendo-se a não desenvolver, produzir e armazenar esse tipo de armamento em seus
territórios. Como a convenção internacional não previu nenhum tipo de fiscalização e
considerando que um país consegue, facilmente, esconder um programa de armamento
biológico “sob o tapete da sua casa”, o mundo não é um lugar seguro.
 Figura 9. A Organização Mundial de Saúde identificou o uso de armas químicas e
biológicas na Guerra do Vietnã e na Guerra Fria.
BIOTERRORISMO
O bioterrorismo é a disseminação deliberada de vírus, bactérias ou outros agentes com a
intenção de causar doenças ou morte em pessoas, animais ou plantas, e, também, de
contaminar prédios e locais públicos. Ações bioterroristas têm por objetivo causar terror,
perturbação social ou perdas econômicas, e são motivadas por crenças ideológicas, religiosas
ou políticas. É o que chamamos do “modo de agir do fanático”.
O fanatismo, seja ele religioso, político ou ideológico, é muito prejudicial, pois indica que a
pessoa aderiu cegamente a um sistema ou doutrina de forma obsessiva e apaixonada. Em
situações em que a pessoa perde contato com a razão, pode cometer ações de intolerância
extremadas.
 Figura 10.
Percebam que dada a necessidade de operar sem chamar a atenção e com meios
relativamente limitados, os bioterroristas, por sorte da humanidade, encontram dificuldades
para desenvolver, construir e realizar um ataque biológico em grande escala bem-sucedido.
Por outro lado, o sucesso da maioria deles provavelmente será definido pela quantidade de
perturbação social e pânico, e não necessariamente pelo número de vítimas. Assim, adoecer
apenas alguns indivíduos com o uso de métodos rudes pode ser suficiente, desde que crie o
impacto pretendido.
 COMENTÁRIO
É sempre bom lembrarmos que, do mesmo modo que a ciência do bem avança, aquela que
causa dor, sofrimento e pânico avança junto.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, considera que,
com relação ao potencial de ameaça à saúde e à segurança, existem três grupos de agentes
biológicos:
AQUELES QUE AFETAM APENAS OS SERES
HUMANOS.
AQUELES QUE AFETAM APENAS A AGRICULTURA E A
PECUÁRIA.
AQUELES QUE AFETAM OS SERES HUMANOS, A
AGRICULTURA E A PECUÁRIA.
PREPARAÇÃO DO RIO DE JANEIRO PARA
ENFRENTAR EVENTUAIS AÇÕES
BIOTERRORISTAS NOS JOGOS OLÍMPICOS
DE 2016
O CDC estabelece, ainda, três categorias de patógenos para fins de bioterrorismo, conforme
mostrado no quadro abaixo: Tabela: Categorias dos agentes biológicos de acordo com a
potencialidade para utilização enquanto arma biológica. Fonte: CDC, 2014 apud Rambauske,
2014.
BIOCRIME
 Figura 11. Os biocrimes não são motivados por crenças.
A diferença entre biocrime e bioterrorismo está apenas na ação motivadora.
BIOTERRORISMO
O que move um terrorista são suas crenças, sejam elas políticas, religiosas ou
ideológicas.

BIOCRIME
O criminoso faz uso de agentes biológicos para matar ou incapacitar, desde um único
indivíduo até um grupo de pessoas, motivado por vingança, ganância, poder ou
qualquer outra razão, que não seja crença.
 ATENÇÃO
No tocante aos crimes, de modo geral, a diferença entre eles e o biocrime é que, no
biocrime, a arma escolhida pelo criminoso para praticar sua ação delituosa é um
patógeno ou toxina.
No Brasil, ainda não há nenhuma exigência legal a ser tomada por médicos quando há
suspeita que uma pessoa foi vítima de um ataque biológico, como já há, por exemplo,
para crianças supostamente abusadas sexualmente ou em caso de indivíduos feridos
por arma de fogo. Nessas situações, o serviço médico deve comunicar o fato às
autoridades policiais. Nos Estados Unidos, no entanto, isso já é uma obrigação. Assim,
naquele país, caso o serviço médico suspeite da ocorrência de intoxicações e infecções
ocasionadas por patógenos com potencial para ser usado como arma biológica, deve,
imediatamente, comunicar às autoridades policiais.
COMUNICAR ÀS AUTORIDADES POLICIAIS
Situações observadas nos serviços de saúde americano que devem ser, imediatamente,
comunicadas às autoridades legais:
• Casos de doença, normalmente, não observados na área geográfica.
• Distribuição incomum de casos entre segmentos da população.
• Índices de doença significativamente diferentes dos do interior e exterior de edifícios.
• Surtos separados em áreas geograficamente diversificadas.
• Surtos múltiplos simultâneos ou em série de doenças diferentes na mesma população.
• Vias de exposição incomuns (como inalação).
• Uma doença que normalmente afeta animais em humanos.
• Uma doença que normalmente afeta animais surgindo em uma área na qual essa
espécie não está presente.
• Gravidade incomum da doença.
• Cepas incomuns de agentes infecciosos.
• Insucesso em responder à terapia padrão.
Fonte: Manual MSD.
javascript:void(0)
REPAREM QUE O QUE SE BUSCA COM ESSA
NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA É DETECTAR, DE
FORMA ANTECIPADA, O USO DE PATÓGENOS
CONHECIDOS OU DESCONHECIDOS COMO ARMA
BIOLÓGICA E, DESTA MANEIRA, GARANTIR QUE
EVENTUAIS AÇÕES NECESSÁRIAS À PROTEÇÃO DA
POPULAÇÃO POSSAM SER ADOTADAS. LEMBRANDO
QUE, COMO SE TRATA DE AGENTES BIOLÓGICOS,
QUALQUER MEDIDA A SER ADOTADA DEVE SER
BASEADA EXCLUSIVAMENTE EM CONHECIMENTO
CIENTÍFICO.
O uso de agentes patogênicos para a prática de crimes tem uma vantagem para os
criminosos. Como, por via de regra, há um período de incubação entre a introdução do
patógeno no organismo e o aparecimento dos primeiros sintomas, o criminoso
consegue estar distante das vítimas, quando estas começam a adoecer, dificultando,
como no caso ocorrido no Texas, a sua identificação. Outro aspecto característico deste
tipo de crime é que, minimamente, o criminoso deve ter conhecimento sobre
Microbiologia.
NO CASO OCORRIDO NO TEXAS
Em 1996, em um hospital, no Texas, 12 pessoas que estavam trabalhando ficaram
doentes após comer bolinhos que estavam à disposição no dormitório.
Exames periciais realizados nos bolinhos que não foram consumidos revelaram a
presença de Shigella dysenteriae, o mesmo patógeno que infectou as pessoas. Com
isso, a ação criminosa foi confirmada. Entretanto, o criminoso não foi identificado.
Até o momento, não são muitos os casos de biocrime. No entanto, considerando a
ocorrência natural e abundante de doenças infectocontagiosas, é possível que a
javascript:void(0)
detecção de crimes perpetrados com o uso de agentes biológicos seja ineficiente e que
esse tipo de conduta criminosa seja mais comum do que imaginamos.
 Figura 12 . A dificuldade na descoberta dos biocrimes pode fazer com que sua
ocorrência esteja sendo subestimada.
DIAGNÓSTICO E ESTUDO
EPIDEMIOLÓGICO EM INVESTIGAÇÕES
MICROBIOLÓGICAS FORENSES
As investigações Microbiológicas Forenses são essencialmente as mesmas que
quaisquer outras. Elas envolvem:
INVESTIGAÇÃO DA CENA DE CRIME
PRÁTICAS DE CADEIA DE CUSTÓDIA
COLETA, MANUSEIO E PRESERVAÇÃO DE VESTÍGIOS
BIOLÓGICOS
ANÁLISE
DE AMOSTRAS
INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS
APRESENTAÇÃO EM TRIBUNAL
Além de coletare analisar evidências forenses tradicionais, a investigação forense
tentará determinar a etiologia e a identidade do agente causal, muitas vezes, de maneira
semelhante a uma investigação epidemiológica. No entanto, para essa atribuição, é
necessária uma caracterização rápida e de alta resolução.
Um diferencial das amostras microbiológicas forenses é que, em se tratando de pessoas
que procuraram o serviço médico devido a sintomas de saúde, as amostras são
coletadas ali mesmo e não por peritos oficiais. Assim sendo, a fim de não haver quebra
da cadeia de custódia e, consequentemente, da validade da prova material em juízo, é
importante que, no momento da coleta do material, sejam adotados todos os cuidados
técnicos recomendados e que as amostras sejam devidamente documentadas e
adquiridas em abundância, para a hipótese de serem necessárias mais análises.
 Figura 13. O profissional de Microbiologia Forense deve prestar especial atenção ao
processo de obtenção das amostras para que elas sejam aceitas como evidências nas
investigações.
AS ANÁLISES LABORATORIAIS FORENSES USADAS
PARA AMOSTRAS MICROBIANAS PODEM INCLUIR
SEQUENCIAMENTO MOLECULAR, CULTURAS
MICROBIOLÓGICAS, BIOQUÍMICA, MICROSCOPIA
ELETRÔNICA, CRISTALOGRAFIA E ESPECTROMETRIA
DE MASSA.
As análises de ácidos nucleicos são, certamente, o carro chefe dos exames
microbiológicos forenses, pois podem relacionar o genoma do patógeno a fontes
específicas. Esta análise é análoga à análise forense de DNA humano, amplamente
usada para processar criminosos e exonerar inocentes, entre outras funções, como
veremos.
 ATENÇÃO
Atentem-se que existem diferenças importantes entre as análises de genomas
microbianos e aquelas usadas em análises forenses de DNA humano. Por causa do
grande número de patógenos potenciais que poderiam ser empregados como uma arma
biológica, identificar marcadores genéticos para microrganismos é uma tarefa mais
desafiadora do que identificar o DNA humano.
 Figura 14. Devido ao grande número de patógenos existentes, pode ser bastante
desafiadora a sua descoberta pelas análises de DNA.
No caso da identificação humana, apenas uma espécie está envolvida e, muitas vezes, é
possível identificar uma pessoa de forma personalíssima. Os vírus e a maioria das
bactérias são haploides e se reproduzem, em geral, assexuadamente, mas também
podem evoluir por recombinação, transferência horizontal de genes e duplicação de
genes. Portanto, as metodologias estatísticas e a interpretação exigirão ferramentas
diferentes das usadas atualmente para comparar e estimar a raridade de perfis de DNA
humano (diploide). No entanto, ressalta-se que eventuais obstáculos devido à
complexidade genética podem ser reduzidos com a obtenção de amostras o mais cedo
possível.
Notem que, em se tratando de mera suspeita de um crime biológico, diante do universo
de patógenos, as autoridades devem agir, como já dito, o mais rápido possível para
garantir a proteção da população. Isso porque não há dúvidas quanto ao potencial
patogênico das armas biológicas.
UNIVERSO DE PATÓGENOS
Tendo em vista a variedade de microrganismos e a pluralidade de doenças, desde as
assintomáticas até aquelas 100% letais, as armas biológicas exigem que toda a cadeia
de ações adotadas pelas autoridades seja diligente, dinâmica e eficiente. Nestes casos, a
frase “qualquer erro pode ser fatal” é aplicada com maestria.
 RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS
É imprescindível que se obtenha um diagnóstico rápido e seguro e que, em seguida, seja
realizado um amplo estudo epidemiológico sobre o patógeno em questão, incluindo
análises de período de latência, incubação e transmissibilidade; formas de transmissão,
intervalo serial, infectividade etc.
O conhecimento dessas informações irá subsidiar tomadas de decisões importantes,
como isolamento de pessoas ou de comunidades; definição da área de isolamento;
estabelecimento de período e modelo de quarentena; treinamento de profissionais de
diversas áreas e da população; medidas de vigilância; métodos de profilaxia e
tratamento; nível de equipamento de proteção individual requerido etc.
javascript:void(0)
 Figura 15. O universo de patógenos que podem ser utilizados na prática de crimes é
grande e a ação das autoridades para combatê-lo deve ser imediata.
MICRORGANISMOS E SUAS APLICAÇÕES
COMO FERRAMENTAS FORENSES
Vejamos agora duas aplicações relativamente recentes, mas muito interessantes, de
como os microrganismos podem colaborar com as investigações forenses. Observem
que essas aplicações ainda não estão sendo plenamente aplicadas e precisam ser
melhor estudas para garantir a confiabilidade e a reprodutibilidade de seus resultados.
EXAME DE MICROBIOMA HUMANO
 Figura 16. Microbioma humano no intestino.
Microbioma ou microbiota humana é o conjunto de microrganismos que residem, em
simbiose, nos tecidos e fluidos humanos vivos. Essa população é composta,
principalmente, de bactérias, mas também inclui vírus, fungos e arquea. E não pensem
que ela é pequena: estudos sobre o microbioma humano revelaram que 75 a 90% das
células, no corpo, antes da morte, são microbianas.
ARQUEA
Domínio de seres vivos composto de microrganismos unicelulares procariontes.
 ATENÇÃO
Cada local anatômico possui a sua microbiota específica. Além disso, ao longo da vida
de uma pessoa, a população de microrganismos sofre alterações, devido a vários
fatores, tais como: clima, localidade, idade, estilo de vida, sistema imunológico, doenças
e uso de medicamentos.
javascript:void(0)
Como o mix de microrganismos de um indivíduo é uma característica muito particular,
ele pode ser usado para conectar um suspeito ao local do crime. Além disso, os fatores
que dissemos há pouco que são responsáveis por variar o microbioma de uma pessoa,
ao longo da vida, podem ser usados para diminuir o rol de suspeitos, pois, por meio da
análise da microbiota, é possível inferir o sexo, a idade, o estilo de vida, como, por
exemplo, se a pessoa é fumante ou se faz uso de algum medicamento regularmente,
entre outras características.
É importante lembrar que, uma vez que a análise da microbiota é baseada em exames de
DNA, possivelmente, na amostra biológica da qual se extraiu o material genético para a
identificação dos microrganismos de uma pessoa, também há material biológico desta
mesma pessoa. Neste caso, não faria o menor sentido examinar tal microbiota, não é
mesmo?
 Figura 17. O microbioma humano é estudado por meio de técnicas de análise de
DNA.
Outras críticas a essa técnica são:
Se a microbiota de uma pessoa varia ao longo do tempo, então, sua capacidade
informativa sobre um suspeito é limitada.
Se a pessoa fizer uso de determinadas substâncias, poderá alterar rapidamente
seu padrão de microbiota.
Necessidade de uma biblioteca de microbiota por pessoa e, possivelmente, por
fases da vida.
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
BIBLIOTECA
Hoje, existem bibliotecas de impressões digitais, nas quais são mantidos os registros
datiloscópicos das pessoas.
Atualmente, análises da microbiota humana podem ser úteis para auxiliar o
direcionamento de uma investigação. No entanto, essa metodologia é ainda muito
recente e precisa evoluir bastante para que suas análises sejam aceitas como prova
material em juízo.
EXAME DO MICROBIOMA POST MORTEM
 Figura 18.
javascript:void(0)
Outro ramo recente de aplicação da Microbiologia Forense diz respeito à determinação
do intervalo post mortem através do estudo do exame do microbioma de um cadáver.
Como aprendemos ainda pouco, 75 a 90% das células, no corpo, antes da morte, são
microbianas. Contrariando o que se pensava, os órgãos internos de um indivíduo não
são estéreis, ou seja, parte dessa populosa microbiota também pode ser encontrada
nesses locais. Além disso, é bom lembrar que o processo de decomposição de um
cadáver começa logo depois da morte e é mediado por bactérias.
Com base nisso, cientistas forenses estãoestudando o papel que a microbiota,
sobretudo a oral, a intestinal e a de outros órgãos internos, desempenha na forma como
o corpo se decompõe após a morte.
 Figura 19. A microbiota presente no corpo interfere na decomposição do cadáver.
O ESTUDO DO MICROBIOMA POST MORTEM
(TANATOMICROBIOMA) É BASEADO NA
IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES BACTERIANAS
ENVOLVIDAS NA DECOMPOSIÇÃO DO CORPO
HUMANO, CONSIDERANDO AS SUCESSIVAS
MUDANÇAS DESSA POPULAÇÃO AO LONGO DOS
ESTÁGIOS DE DECOMPOSIÇÃO. PARA A
IDENTIFICAÇÃO DA MICROBIOTA EM CADA UM
DESSES ESTÁGIOS, É UTILIZADA A TECNOLOGIA DO
DNA.
Ainda que a técnica seja incipiente e vários fatores ambientais interfiram nos resultados,
como temperatura, umidade, pH, disponibilidade de oxigênio, os cientistas forenses
acreditam que a análise da microbiota poderá ser usada para determinar a hora da morte
com uma relativa precisão.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
 Justificar a importância da Genética na solução de crimes
GENÉTICA APLICADA ÀS INVESTIGAÇÕES
CRIMINAIS: GENÉTICA FORENSE
 Figura 20. O estudo dos genes focado nas investigações criminais é chamado de
Genética Forense.
O uso do conhecimento genético em investigações criminais é, sem dúvida, algo
relativamente novo e revolucionário, conforme veremos ao longo dos nossos estudos.
Antes de começarmos a tratar da aplicação dos conhecimentos genéticos em prol do
sistema judiciário e de apresentarmos alguns casos reais que ilustram bem essa
questão, vamos descobrir como tudo isso começou.
BREVE HISTÓRICO EM GENÉTICA
FORENSE
Somente a partir da década de 1970, os avanços na Genética permitiram que esta fosse
usada, já desde 1986, como ferramenta forense na identificação segura de pessoas.
 Figura 21. A Genética Forense utiliza análises de DNA para obter evidências que
ajudam na solução de crimes.
GENÉTICA
CONHEÇA COMO COMEÇARAM OS ESTUDOS
GENÉTICOS, ATÉ A DESCOBERTA TRIDIMENSIONAL
DA MOLÉCULA DO DNA, MUITO ANTES DE EXISTIR A
GENÉTICA FORENSE
O fato de os filhos se parecerem com seus pais ou de animais apresentarem
características semelhantes às de seus progenitores foi percebido há bastante tempo.
Por conta disso, acreditava-se que parte dos corpos parentais se misturava para formar
o novo indivíduo.
A PARTIR DO SÉCULO XIX, VÁRIOS ESTUDIOSOS
COMEÇARAM A QUESTIONAR A IDEIA DE A HERANÇA
BIOLÓGICA SER UMA MERA MESCLAGEM, HAJA VISTA QUE
OS FILHOS NEM SEMPRE ERAM UMA MISTURA
INTERMEDIÁRIA DOS CARACTERES DOS PAIS. NAQUELA
ÉPOCA, AS PESQUISAS, FEITAS SEM RIGOR CIENTÍFICO,
BASEAVAM-SE EM ANALISAR CARACTERÍSTICAS
SEMELHANTES E CONTRASTANTES ENTRE OS PAIS E SUA
PROLE. NO ENTANTO, OS ESTUDOS INCIPIENTES DEIXAVAM
DE LADO O SIGNIFICADO DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS.
Empregando o método científico, a partir de experimentos realizados com as ervilhas
que dispunha no espaço limitado do jardim do mosteiro onde vivia e trabalhava, Gregor
Mendel contou e classificou as ervilhas resultantes de cruzamentos feitos por ele
mesmo, comparou as proporções com modelos matemáticos e formulou hipóteses para
explicar essas diferenças em termos individuais.
 Gregor Mendel
EM 1866, OS ESTUDOS DE MENDEL FORAM PUBLICADOS.
ENTRETANTO, O MUNDO CIENTÍFICO DA ÉPOCA NÃO FOI
CAPAZ DE VALORIZAR A IMPORTÂNCIA DE SUA PESQUISA.
ISSO SÓ OCORREU NO INÍCIO DO SÉCULO XX, QUANDO
TRÊS BOTÂNICOS, SIMULTANEAMENTE, MAS DE MANEIRA
INDEPENDENTE, CONFIRMARAM AS EVIDÊNCIAS DE
MENDEL. E ASSIM, A CIÊNCIA DA HEREDITARIEDADE, QUE
FICOU CONHECIDA COMO GENÉTICA, DESPONTOU.
Notem que, ao longo do século XIX, várias pesquisas foram feitas e o conhecimento
genético foi se ampliando e se consolidando. A estrutura tridimensional do DNA, por
exemplo, só foi descoberta em 1953, pelos pesquisadores Francis Crick, James Watson
e Maurice Wilkins. Contudo, sua aplicação ainda estava longe dos tribunais e do
contexto jurídico.
Entre esses avanços, três merecem destaque:

POR VOLTA DE 1975
O inglês Frederick Sanger sequenciou moléculas de DNA, mostrando que, se a
replicação do DNA fosse interrompida em pontos diferentes, seria possível juntar esses
fragmentos menores e, novamente, formar a sequência do DNA completa.
NA DÉCADA DE 1980
A pesquisa de outro inglês, chamado Alec Jeffreys, mostrou que todos os indivíduos
poderiam ser identificados a partir de um padrão específico de seu DNA.


AINDA NA DÉCADA DE 80
O americano Kary Mullis descobriu como gerar, a partir de uma única cópia ou de
poucas cópias de um segmento de DNA, milhares de cópias. Essa técnica ficou
conhecida como Reação em Cadeia da Polimerase ou PCR, que é a sigla, em inglês, de
Polymerase Chain Reaction.
Em Biologia Molecular, a geração de várias cópias de uma dada sequência de DNA, a
partir de um fragmento de DNA, é chamada de amplificação.
Considerando que o DNA pode ser encontrado em todos os fluidos e tecidos biológicos
humanos, vocês conseguem imaginar como as novas possibilidades de aplicação da
biologia molecular trazidas, a partir das pesquisas realizadas pelos cientistas acima
mencionados e tantos outros, foram e são consideradas uma verdadeira revolução na
área criminal?
 Figura 22. A utilização da análise de moléculas de DNA proporcionou uma revolução
nas investigações criminais.
Um caso específico, o de Colin Pitchfork, foi bastante emblemático e, além de mostrar o
enorme potencial do uso de exames de DNA para a solução de crimes, a reboque, deu
início a discussões filosóficas e jurídicas quanto ao emprego da tecnologia de DNA para
fins de identificação criminal de pessoas.
O CASO DE COLIN PITCHFORK
Em 1983, em Narborough, que fica no condado de Leicestershire, na Inglaterra, uma
moça de 15 anos foi estuprada e assassinada. Sem pistas do crime, a polícia recolheu,
javascript:void(0)
no corpo da garota, amostras de sêmen. Três anos depois, perto de Narborough, outra
mocinha de 15 anos foi encontrada morta. Os exames feitos no corpo da garota
revelaram que ela também havia sido estuprada. O crime chamou a atenção da polícia,
pois se assemelhava àquele ocorrido anteriormente, ainda sem solução. De novo, os
peritos realizaram a coleta de amostras de sêmen no corpo da vítima. Após este
segundo caso, um homem chamado Richard Buckland confessou ter realizado os dois
crimes. No entanto, sua história não convenceu os policiais. Por sorte, esses dois
crimes ocorreram em Leicestershire e os policiais envolvidos nas investigações, de
algum modo, souberam do trabalho do geneticista Alex Jeffreys, professor da
Universidade de Leicester.
No ano anterior, em 1985, Jeffreys havia publicado um artigo na revista Nature, dizendo
que seria capaz de identificar pessoas através de testes de DNA. Munida das amostras
de sêmen coletadas no local dos delitos, a polícia procurou Alex Jeffreys. Este explicou
aos policiais que os testes de DNA eram comparativos e, já que os investigadores
queriam confirmar se Richard Buckland havia, de fato, cometido os dois crimes, era
preciso que Buckland fornecesse amostras de seu material biológico também.
AO COMPARAREM O DNA DAS DUAS AMOSTRAS DE SÊMEN
ENTRE SI E COM A DO MATERIAL GENÉTICO FORNECIDO
PELO ENTÃO SUSPEITO, ALEX JEFFREYS CONCLUIU QUE O
SÊMEN ENCONTRADO NAS VÍTIMAS NÃO PERTENCIA A
RICHARD BUCKLAND. ALÉM DISSO, O GENETICISTA
CONSTATOU QUE O ESPERMA PROVENIENTE DAS DUAS
AMOSTRAS QUESTIONADAS PERTENCIA A UMA MESMA
PESSOA, CUJA IDENTIDADE, À ÉPOCA, NÃO PODIA SER
REVELADA POR FALTA DE MATERIAL PADRÃO PARA FINS DE
CONFRONTAÇÃO.
Como, àquela altura, ainda não havia lei que regulamentasse a coleta de material
biológico para identificação criminal, para identificar o culpado dos crimes, Jeffreys e os
investigadores bolaram uma campanha estimulando a população de Narborough a doar
sangue. Por conta da ação, Jeffreys comparou mais de 3.600 amostras de material
genético com aquelas mantidas pela polícia. Entretanto, segundo o geneticista, nenhum
daqueles homens poderia ser o estuprador.
EM 1988, ENTRETANTO, A POLÍCIA SOUBE QUE, NA ÉPOCA
DA CAMPANHA DE DOAÇÃO DE SANGUE, UM HOMEM,
CHAMADO COLINPITCHFORK, PEDIU AO AMIGO IAN KELLY
PARA QUE ESTE DOASSE SANGUE EM SEU NOME. DE POSSE
DESSA INFORMAÇÃO, A POLÍCIA FOI ATRÁS DE PITCHFORK,
QUE FORNECEU SEU PRÓPRIO SANGUE PARA A
REALIZAÇÃO DE NOVOS EXAMES DE DNA COMPARATIVOS.
OS RESULTADOS MOSTRARAM QUE COLIN PITCHFORK TEVE
RELAÇÃO SEXUAL COM AS DUAS MENINAS. SEM TER COMO
NEGAR ESSA EVIDÊNCIA, O HOMEM ACABOU
CONFESSANDO TER COMETIDO OS DOIS CRIMES.
Ao longo do nosso estudo, vamos falar um pouco mais sobre essas questões. Mas,
antes de avançarmos, vamos rever alguns conceitos em Genética que são
indispensáveis à compreensão da razão pela qual o exame de DNA tornou-se uma das
mais importantes, senão a mais importante, ferramenta forense empregada pela polícia e
pela justiça na identificação de criminosos e na absolvição de inocentes.
CONCEITOS BÁSICOS EM GENÉTICA
 Relembraremos, a partir de agora, alguns conceitos fundamentais em genética.
O QUE É GENÉTICA?
Por certo, vocês sabem que a Genética é a parte da Biologia que estuda a
hereditariedade, ou seja, a maneira como a informação relativa aos caracteres biológicos
é mantida e transmitida através das gerações. Vocês também devem se recordar que o
processo de transmissão da herança genética segue um padrão quanto à expressão das
diferentes características alternativas.
POR CONTA DA “PREVISIBILIDADE” DE TRANSMISSÃO DA
INFORMAÇÃO GENÉTICA, OS CONHECIMENTOS DESSA ÁREA
SÃO MUITO IMPORTANTES E BASTANTE UTILIZADOS, ENTRE
OUTROS PROPÓSITOS, PARA FINS DE IDENTIFICAÇÃO
HUMANA.
Vocês se recordam onde as informações genéticas de um indivíduo ficam armazenadas?
Quem pensou em DNA acertou.
O QUE É DNA?
Resumidamente, podemos descrever o DNA como uma molécula orgânica, que se
apresenta como uma longa fita torcida, formada por duas cadeias que se
complementam. Essa fita é uma estrutura formada a partir da união de várias partes
menores, que chamamos de nucleotídeos.
 Molécula de DNA.
Outro aspecto interessante da molécula de DNA é a maneira como os nucleotídeos se
unem para formar uma cadeia e como esta se une à outra para formar uma dupla hélice.
Vejamos como isso funciona na imagem a seguir.
javascript:void(0)
javascript:void(0)
Os nucleotídeos são unidos entre si pelo grupamento fosfato de uma base e a pentose
da base seguinte, formando uma cadeia longa, na qual as bases nitrogenadas ficam
expostas nas laterais. Uma cadeia longa se une à outra de forma complementar, a partir
das bases nitrogenadas de cada fita, que formam pontes de hidrogênio entre si, de uma
maneira específica, onde uma base de Adenina (A) se pareia com uma base de Timina
(T), e uma base de Citosina (C) se pareia com uma base de Guanina (G). Esse tipo de
ligação favorece o pareamento de duas cadeias complementares, formando uma
molécula na qual duas fitas orientadas em direções opostas são pareadas e enroladas
entre si, com o formato semelhante a uma escada em espiral, a qual é conhecida como
dupla hélice.
ONDE PODEMOS ENCONTRAR O DNA? COMO
ELES ESTÃO ORGANIZADOS?
Todo material de origem biológica, como o sêmen do caso de Colin Pitchfork, contém
DNA. De modo geral, vamos considerar que o DNA está presente em todas as células de
todos os seres vivos, sendo que, nos homens e nos demais seres eucariotos, o DNA é
encontrado no núcleo das células, organizado em estruturas chamadas cromossomos.
javascript:void(0)
javascript:void(0)
 Amostras de DNA podem ser encontradas nos locais dos crimes e utilizadas para
identificar os envolvidos.
 Opa! Então, em um local de crime, há DNA por toda parte!
Mais adiante, vamos falar mais sobre os cromossomos. Além do DNA presente no
núcleo das células, existem, também, pequenas moléculas circulares de DNA localizadas
no interior de organelas citoplasmáticas conhecidas como mitocôndrias. Este tipo de
DNA recebe o nome de DNA mitocondrial.
 A diferença do DNA organizado nos cromossomos (DNA cromossomal) e do DNA
mitocondrial.
QUE OUTROS CONCEITOS PRECISAMOS
RELEMBRAR?
 É importante que o profissional de Biologia Forense domine os conceitos de
Genética.
Agora que vocês já se recordam o que é DNA, para que ele serve, onde pode ser
encontrado e como se apresenta, vamos relembrar mais alguns conceitos que serão
importantes para darmos continuidade aos nossos estudos.
GENE
São as partes do cromossoma que, de fato, contêm uma pequena sequência de DNA
responsável por definir uma característica no ser vivo. Por isso, dizemos que o gene é
uma unidade básica.
CROMOSSOMA
 Na imagem, podemos ver: 1 - Os cromossomos dentro das células; 2 - Os
cromossomos dentro do núcleo celular; 3 - A estrutura de um cromossomo; 4 - A fita de
DNA que está organizada no cromossomo.
Representam o DNA organizado e, nas células eucarióticas, são encontrados dentro do
núcleo. Notem que todo o material genético de uma espécie não fica armazenado em um
único cromossomo, mas, sim, em grupos de cromossomos.
Do total de cromossomos de um indivíduo, metade foi herdado da mãe e metade foi
herdado do pai. Sendo assim, uma pessoa tem duas versões de cada gene (alelos), os
quais estão localizados em cromossomos homólogos.
javascript:void(0)
CARIÓTIPO
 O cariótipo da espécie humana.
Representa o conjunto de cromossomos de uma dada espécie. A morfologia e a
quantidade de cromossomos é uma característica específica. Notem que a quantidade
de cromossomos não define a complexidade do organismo.
GENOMA
É o conjunto de todos os genes de uma espécie. A expressão “sequenciamento de
genoma” é equivalente a “sequenciamento de DNA” e significa a determinação da ordem
em que as informações genéticas estão dispostas nos genes.
GENÓTIPO
É o conjunto de genes de um indivíduo. Portanto, o genoma da espécie humana é
praticamente igual para todos os seres humanos, mas o genótipo é individual.
FENÓTIPO
É o conjunto de características físicas de um indivíduo formado a partir da interação do
genótipo deste indivíduo com o meio onde vive. Em outras palavras, fenótipo é aquilo
que a gente vê!
LOCUS
Locus é o local (espaço físico, lugar) que um dado gene ocupa em um cromossomo.
ALELOS
Os alelos são formas alternativas de um mesmo gene e podem produzir fenótipos
diferentes.
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
 Na imagem, as cores verde, vermelha, roxa e amarela representam quatro loci
diferentes. O locus verde é ocupado pelos alelos relacionados ao gene responsável pela
cor dos olhos; o vermelho, pelo grupo sanguíneo; o roxo, pela cor do cabelo; e o
amarelo, pelo crescimento. Cada alelo desses possui uma variabilidade própria,
podendo apresentar números variáveis de genótipos e de fenótipos.
POLIMORFISMOS GENÉTICOS OU REGIÕES POLIMÓRFICAS
As regiões no DNA de um organismo que apresentam as variações individuais. As
regiões polimórficas, na espécie humana, correspondem a menos de 1% do DNA. Mais
adiante, quando formos tratar do DNA aplicado a investigações de
paternidade/maternidade, falaremos mais sobre os tipos de polimorfismos.
POR ORA, ESSA REVISÃO CONCEITUAL É SUFICIENTE PARA
CONTINUARMOS NOSSOS ESTUDOS EM GENÉTICA
FORENSE. ENTÃO, AVANCEMOS!
MOLÉCULA ORGÂNICA
Moléculas orgânicas são substâncias químicas que, na sua estrutura, possuem
carbonos ligados entre si.
NUCLEOTÍDEOS
Os nucleotídeos são formados pela associação de três tipos de moléculas: uma base
nitrogenada (que pode ser de quatro tipos diferentes: Adenina, Timina, Citosina e
Guanina), um grupamento fosfato e uma molécula de açúcar do grupo das pentoses.
Na verdade, todos os seres vivos possuem DNA e/ou RNA, sendo ambas as estruturas
relacionadas à manutenção e à transmissão de material genético.
EUCARIOTOS
Eucariotos são seres que possuem células com núcleo definido por membrana.
As características definidas pelos genes podem ser bem gerais (ou seja, podem definir
as características próprias de uma determinada espécie), como também podem ser
particulares (ou seja, definir as características personalíssimas de cada indivíduo). Ei!!!
Atentem-se aisso, pois é justamente por causa dessa capacidade que os genes
possuem que os testes de DNA podem ser usados, por exemplo, para identificar a
espécie animal do sangue ou do pelo, eventualmente, encontrado em um local de crime,
bem como determinar à qual indivíduo tal sangue ou pelo pertence. Deu para notar a
diferença?
Os humanos, por exemplo, possuem 46 cromossomos, já os gatos, 38, e os cães, 78. Os
cromossomos se apresentam formando pares homólogos. Os pares homólogos
apresentam genes para as mesmas características genéticas, sendo um cromossomo do
par herdado da mãe e o outro, do pai.
Na maioria das espécies, do total de pares de cromossomos (n), n – 1 são chamados de
pares autossômicos, havendo, ainda, um par de cromossomos sexuais. Na espécie
humana, que possui 23 pares de cromossomos homólogos, 22 pares são cromossomos
autossômicos e um par, cromossomo sexual.
Lembram que dissemos que, no sequenciamento do genoma humano, descobriram que
temos, enquanto espécie, 99% de genes iguais, mas que 1% dos nossos genes tem uma
variação individual? A diferença entre genoma e genótipo está baseada nessa pequena
parcela de DNA que nos diferencia uns dos outros.
MOLÉCULA ORGÂNICA
O plural de locus é loci.
ALELOS
Vejamos o seguinte exemplo: os grupos sanguíneos ABO possuem 3 alelos: A, B e O.
Eles podem ser combinados para formar três genótipos homozigotos possíveis (AA, BB
e OO) e três genótipos heterozigotos (AO, BO e AB). Percebam, então, que com 3 alelos,
podem ser formados 6 genótipos. Contudo, como AA e AO, assim como BB e BO, são
fenotipicamente iguais, esses 3 alelos podem formar 4 fenótipos diferentes: A, B, AB e
O.
EXAMES DE DNA
Maravilha! Depois de fazermos essa breve revisão, ficará fácil entender a lógica que há
por trás do emprego da tecnologia de DNA no campo criminal.
É importante ter em mente que a identidade genética através de exames de DNA tem
várias aplicações, que vão além de demonstrar a culpabilidade de criminosos, tais
como: absolver inocentes, identificar corpos e restos humanos relacionados a desastres
em massa ou a campos de batalha, determinar paternidade, elucidar trocas de bebês em
berçários, detectar erros de rotulação de amostras biológicas em laboratórios de
patologia, fazer análises de riscos para a saúde, estudar estimativas de etnias, investigar
genealogia familiar etc.
 Figura 23. As análises de amostras de DNA podem oferecer importantes elementos
que solucionam crimes.
Fora isso, não se esqueça que as técnicas de DNA também podem ser aplicadas a
estudos envolvendo vegetais e animais, além dos seres humanos.
O DNA APLICADO AO COMBATE AO
CONSUMO DE CARNE DE CAÇA
CLANDESTINA
Fiquem atentos também ao fato de que a tecnologia de DNA avança a todo instante.
Assim, um exame que não podia ser feito no passado ou, até mesmo, nos dias de hoje,
poderá ser feito no futuro, haja vista os novos conhecimentos adquiridos no campo da
Genética.
 ATENÇÃO
Sobretudo na área criminal, os peritos não podem desperdiçar nenhum vestígio
biológico, assim como devem cuidar para que ele seja devidamente guardado, de modo
que, a qualquer momento, possa ser usado em análises laboratoriais. Lembrem-se
sempre de que, para a justiça, a confiabilidade da prova material é imprescindível e está
diretamente relacionada à integridade do vestígio que a embasa.
Para ilustrar como o DNA pode ser determinante para resolver uma história, vejamos o
caso da grã-duquesa russa Anastásia Romanova.
O CASO DA GRÃ-DUQUESA ANASTÁSIA ROMANOVA
A Dinastia Romanov foi uma família da nobreza russa que, por gerações, durante 400
anos, governou o Império Russo. No entanto, em 1917, os Romanov e o Regime Czarista
que eles personificavam foram depostos do poder pela Revolução Bolchevique.
Os últimos governantes do Império Russo foram o Czar Nicolau II e a Czarina Alexandra
Feodorovna. O casal e seus quatro filhos foram executados no porão da casa onde
estavam sendo mantidos presos, em Ecaterimburgo, em julho de 1918. Seus corpos não
foram encontrados à época.
Durante anos, na Rússia, circularam rumores de que Anastásia Romanova, uma das
filhas do casal, havia conseguido sobreviver ao atentado. Várias mulheres se
apresentavam dizendo ser a grã-duquesa sobrevivente, inclusive Anna Anderson, que,
durante mais de 60 anos, levou uma vida de luxo se passando como filha do Czar e da
Czarina assassinados. Os rumores quanto à sobrevivência de Anastásia Romanova
ficaram mais fortes, quando em 1991, em uma vala comum, os corpos do casal e de dois
de seus filhos foram encontrados, nas proximidades da casa em que eles viviam.
Em 1994, a fim de verificar a veracidade da história de Anna Anderson, embora esta
tivesse morrido dez anos antes e seu corpo fora cremado, a partir de pedaços de roupas
e de cabelos da mulher, foram extraídas amostras de seu material genético e realizados
exames de DNA. Os resultados dos exames de Anna Anderson foram comparados com o
perfil genético de um descendente dos Romanov. As análises foram categóricas e
demonstraram que Anna Anderson era uma impostora e não tinha qualquer vínculo com
a Dinastia Romanov. Anos mais tarde, em 2008, perto de Ecaterimburgo, foram
encontrados os restos mortais de um rapaz e de uma moça. Exames de DNA
comprovaram que aqueles corpos eram, de fato, dos dois irmãos Romanov que não
haviam sido encontrados com a família.
Em 2009, foram publicados os últimos resultados das análises genéticas referentes aos
corpos dos Romanov e restou provado, de forma definitiva, que nenhum dos integrantes
da família imperial havia sobrevivido, encerrando-se, assim, um capítulo da história
Russa.
Neste caso, a tecnologia do DNA não foi usada para apontar os assassinos, mas, sim,
para confirmar a identidade das vítimas e excluir eventuais impostores.
O caso de Anastásia Romanova é um bom exemplo de como a tecnologia do DNA
resolveu uma história do passado, que, à época do ocorrido, não poderia ser
solucionada desta forma, pois a própria Genética, enquanto ciência, ainda estava
engatinhando.
Vejamos agora, de forma breve e resumida, em que consiste os exames de DNA.
A LÓGICA DOS EXAMES DE DNA
 Figura 24. Exemplo de um resultado de uma análise de DNA.
Como já falamos, o DNA carrega nossas informações genéticas, mas, diferente de um
retrato falado, que destaca as características físicas de um indivíduo, o perfil genético de
uma amostra questionada apresenta uma série de informações que, de forma isolada,
não querem dizer muita coisa. Por isso, quando falamos de exames de DNA, é bom
javascript:void(0)
lembrarmos que estamos nos referindo a um tipo de exame comparativo, no qual uma
amostra questionada referente ao indivíduo que se quer identificar é confrontada com
uma ou várias amostras de referência, obtidas de indivíduos conhecidos.
AMOSTRA QUESTIONADA
Todo e qualquer vestígio coletado em local de crime ou em pessoa vitimada.
AMOSTRAS DE REFERÊNCIA
Amostra biológica coletada exclusivamente para estabelecer o vínculo biológico ou
confronto genético com a amostra questionada. Podem ser diretas, quando do próprio
indivíduo que se pretende identificar, ou indiretas, quando obtidas de familiares com
vínculo biológico para fins de comparação.
javascript:void(0)
FALAMOS, BASTANTE, TAMBÉM, QUE A MAIOR PARTE
DO GENOMA HUMANO É IDÊNTICA ENTRE OS
INDIVÍDUOS. PORÉM, NAS CHAMADAS REGIÕES
POLIMÓRFICAS, ESTÃO AS INFORMAÇÕES
GENÉTICAS QUE SÃO VARIÁVEIS DE INDIVÍDUO PARA
INDIVÍDUO.
Os exames de DNA para identificação de pessoas se dedicam, justamente, a analisar os
polimorfismos genéticos, ou seja, aquilo que varia de um indivíduo para outro. De
preferência, são escolhidas as regiões que sabidamente:
Possuem maior concentração de variabilidade genética, isto é, um alto nível de
polimorfismo.
São estáveis em diferentes ambientes, o que torna o DNA, neste local, menos
sujeito a degradações químicas e estruturais.
Apresentam informações capazes de distinguir progenitores.
São reproduzidas com precisãona progênie.
Devem apresentar uma configuração padrão de maneira que os resultados possam
ser reproduzidos e comparados em diversos laboratórios.
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
EM CONJUNTO, ESSAS REGIÕES SÃO OS CHAMADOS
MARCADORES GENÉTICOS.
Adiante, quando formos tratar da aplicação do DNA para fins de investigação de
paternidade ou para identificação de vítimas de acidentes em massa, vamos falar mais
sobre o vínculo genético familiar e a importância do DNA mitocondrial.
ETAPAS DOS EXAMES DE DNA
Desde o início da aplicação da Genética para a identificação de pessoas até a atualidade,
os sistemas de tipagem genético vêm evoluindo consideravelmente. Nos dias de hoje,
os marcadores genéticos permitem discriminar geneticamente um indivíduo em um pool
gênico de um trilhão de pessoas.
A capacidade resolutiva das análises genéticas tende a aumentar, pois novas
metodologias de exames de DNA estão, constantemente, sendo desenvolvidas,
buscando marcadores genéticos cada vez mais eficientes, capazes de tornar os
resultados das análises altamente confiáveis, mesmo quando essas são geradas a partir
de amostras escassas e severamente degradadas, que é, por via de regra, o caso das
amostras colhidas em locais de crime.
 Figura 25. A análise de DNA tem várias etapas, como veremos agora.
VAMOS VER, SUPERFICIALMENTE, QUAIS SÃO AS
ETAPAS DOS EXAMES DE DNA FORENSE.
É importante ressaltar que alguns elementos podem afetar a qualidade e, portanto, a
confiabilidade dos exames de DNA. Vejamos alguns deles:
CONTAMINAÇÃO DA AMOSTRA
INIBIÇÃO
DEGRADAÇÃO
CONTAMINAÇÃO DA AMOSTRA
Várias pessoas entram em contato com o material biológico no local do crime e durante
o todo o seu processamento. Por isso, é indispensável: o uso de EPIs apropriados, a
preservação do local do crime e a adoção de quaisquer outros cuidados para evitar
contaminações cruzadas.
javascript:void(0)
INIBIÇÃO
A reação de PCR está sujeita a vários tipos de agentes inibidores, como hemoglobina,
melanina, ácido húmico do solo e corantes índigo, afora outras substâncias que,
eventualmente, podem estar presentes na composição do suporte do vestígio, como
corantes e pigmentos. A coleta de amostras controle pode ajudar a identificar o fator
inibidor presente na amostra.
DEGRADAÇÃO
Embora a molécula de DNA seja bastante resistente, certas condições, como calor ou
temperatura excessivos ou incidência direta de luz solar, assim como algumas
substâncias, como fenóis e polissacarídeos, podem levar à degradação.
CONTAMINAÇÕES CRUZADAS
As contaminações cruzadas ocorrem quando as amostras são contaminadas por
material que não tem relação com o crime. Nestes casos, usam-se amostras de exclusão
para determinar a contaminação cruzada. Amostras de exclusão são, portanto, amostras
de pessoas sem relação com o crime, mas cujo DNA é esperado na cena, como
moradores de uma casa, funcionários e colaboradores de um escritório ou clientes de
um bar, por exemplo. Em caso de crimes sexuais, são as amostras de parceiros
consensuais da vítima. As amostras de exclusão são de vital importância,
especialmente, quando são obtidos perfis de misturas de DNA de duas ou mais pessoas.
Às vezes, pode ser necessário coleta de amostras de exclusão dos dos policiais, peritos
e cientistas que tiveram contato com o material genético.
AMOSTRAS CONTROLE
javascript:void(0)
Amostra controle ou amostra padrão: são amostras do suporte (terra, tecido, parede),
coletadas em uma região onde não é observado o material biológico referente à amostra
questionada coletada no mesmo lugar. Servem para fins de comparação e identificação
de eventuais contaminantes ou inibidores do processamento do DNA.
Estamos falando muito em exames de DNA para identificação de pessoas, mas não se
esqueça que as análises de DNA de animais e vegetais também podem ajudar na
solução de crimes. Tais análises seguem as mesmas etapas metodológicas e requerem
os mesmos cuidados, conforme falamos há pouco. Vejamos um bom exemplo de como o
DNA de um animal pode ser importante para descobrir um assassino.
O CASO DO GATO DO VIZINHO
Em 2012, em Hampshire, na Inglaterra, o tronco e as pernas de um homem, identificado
como David Guy, foram encontrados acondicionados em sacos de lixo. As demais partes
do corpo da vítima, como a cabeça, os braços e a genitália, nunca foram localizadas. No
tronco de Guy, a polícia encontrou fibras sintéticas e pelos. Testemunhas disseram que,
na época do provável assassinato de David Guy, um vizinho da vítima, chamado David
Harper, foi visto passeando de bicicleta, transportando uma caixa nos locais onde os
restos mortais de Guy foram achados.
No apartamento de David Harper, os investigadores coletaram, entre outros vestígios,
amostras de uma cortina. A partir dessa amostra, foi constatada que as fibras do tecido
da cortina eram semelhantes àquelas encontradas no corpo de Guy. Além disso, foi
identificada a presença de sangue da vítima na cortina da casa de Harper. David Harper
possuía um gato de estimação. Ao compararem o pelo do gato de Harper com aqueles
encontrados no tronco de Guy, as policiais verificaram que eles eram geneticamente
compatíveis.
A confirmação de que os pelos encontrados no corpo da vítima poderiam ser do gato de
Harper aconteceu após a análise do DNA de 493 outros gatos, oriundos de um banco de
dados americano, haja vista que, na Inglaterra, não havia informações neste sentido. De
acordo com as análises propiciadas pelo banco de dados americano, a variação
encontrada no perfil genético do gato de David Harper seria muito incomum, não
havendo nenhum outro gato com perfil genético semelhante.
Como o resultado do exame do gato possuía alto grau de incerteza quanto à
identificação inequívoca do animal, a polícia procurou o cientista Jon Wetton, que já
havia criado um banco de dados de DNA de cães na Inglaterra, para se certificar sobre a
robustez da prova pericial. O cientista lhes esclareceu que seria necessário comparar o
DNA da amostra questionada com amostras coletadas em gatos da Inglaterra.
Por conta disso, 152 gatos ingleses tiveram seu material genético sequenciado. Apenas
três das amostras de referência foram compatíveis com o gato de David Harper. Isto,
segundo os cientistas, mostrou que a variação genética observada no gato de Harper
também era rara na Inglaterra, indicando, ainda que, com alto grau de incerteza, que os
pelos encontrados na cena do crime poderiam ser do gato de Harper.
O caso em questão mostrou que, mesmo de forma não conclusiva, o resultado das
análises de DNA do animal se somaram ao conjunto probatório e foi importante na
elucidação do assassinato. Além disso, uma vez que, na Inglaterra, a população de gatos
de estimação é muito alta, havendo gatos em cerca de um quarto dos lares ingleses,
estudos do genoma felino podem ajudar muitas investigações forenses, sendo
recomendada a construção de um banco de dados de material genético de gatos.
 Figura 26 . A resolução de crimes com base em amostras de DNA só é possível com a
sua comparação com perfis genéticos constantes de bancos de dados.
BANCO DE DADOS DE PERFIS GENÉTICOS
PARA FINS DE IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL
Estudaremos, a partir de agora, sobre banco de dados de perfis genéticos. Adianta-se
que a manutenção de bancos de dados desta natureza é uma ferramenta poderosa para
identificar, sobretudo, de maneira mais rápida, indivíduos suspeitos de cometerem
crimes.
NO ENTANTO, OS EXAMES DE DNA E,
PRINCIPALMENTE, OS BANCOS DE DADOS DE PERFIL
GENÉTICO TROUXERAM, A REBOQUE, DISCUSSÕES
JURÍDICAS E FILOSÓFICAS, QUE VÃO ALÉM DO
CAMPO CIENTÍFICO.
Daremos início explicando o que são os bancos de dados de perfil genético. Em
seguida, através da apresentação de alguns casos, pretendemos provocar algumas
reflexões sobre a intimidade genética, a produção de prova contra si mesmo e o caráter
discriminatório dos bancos de dados de DNA. Além disso, vamos mostrar que a lei
penal,no Brasil e no mundo, ainda não é capaz de acompanhar a evolução da ciência
enquanto ferramenta forense, precisando ser constantemente atualizada para combater
a criminalidade.
Então, mãos à obra, vamos começar a trabalhar!
O QUE É UM BANCO DE DADOS DE PERFIS
GENÉTICOS?
O conceito de banco de dados de perfis genéticos é bastante simples. Um banco de
dados significa o lugar onde, digitalmente, são armazenadas informações genéticas. Há
diversos tipos de banco de dados, como aqueles de cães e gatos que falamos
anteriormente, como também de pessoas.
 Figura 27. Os bancos de perfis genéticos contêm dados do DNA que podem ser
comparados com a amostra que está sendo investigada. Na imagem, uma ilustração do
resultado de uma análise de DNA.
NO CASO DOS SERES HUMANOS, HÁ BANCOS DE
DADOS DE PERFIS GENÉTICOS QUE SÃO
CONSTRUÍDOS PARA FINALIDADES ESPECÍFICAS,
COMO OS CRIMINAIS, OS DE PESQUISAS DE ETNIAS
E GENEALÓGICAS ETC. HÁ TAMBÉM BANCO DE
DADOS PARA CROMOSSOMOS AUTOSSÔMICOS,
CROMOSSOMO-X, CROMOSSOMO-Y E DNA
MITOCONDRIAL.
Por certo, haja vista que o nosso foco é a Genética Forense, vamos tratar aqui dos
bancos de dados de perfis genéticos usados para fins criminais. Mas atentem-se que,
cada vez mais, os demais bancos de dados têm sido usados na elucidação de crimes.
BANCO DE DADOS DE PERFIS GENÉTICOS
CRIMINAIS
A Inglaterra e os Estados Unidos foram pioneiros em armazenar dados em bancos de
perfis genéticos forenses.

INGLATERRA
Na Inglaterra, isso começou em 1994, com a edição de uma lei (Criminal Justice and
Public Order Act) que determinou que a coleta de células da mucosa bucal de um
indivíduo não é um ato invasivo e que deve ser realizada em caso de investigações
criminais. No ano seguinte, o banco de dados de perfis genéticos inglês (National DNA
Database) foi estabelecido. Atualmente, o banco do Reino Unido é considerado o mais
eficiente do mundo, armazenando o perfil genético de mais de 5 milhões de indivíduos
suspeitos de cometerem crimes.
ESTADOS UNIDOS
Nos Estados Unidos, a lei (DNA Identification Act), também de 1994, originou, em 1998, a
versão americana do banco de dados de DNA (National DNA Index System ou NDIS). O
NDSI armazena mais de 13,5 milhões de perfis genéticos de condenados, cerca de 895
mil perfis de vestígios de local de crime. As informações auxiliaram mais de 428 mil
investigações criminais nos Estados Unidos.

 SAIBA MAIS
Atualmente, o maior banco de dados de perfis genéticos do mundo é o da China, com
mais de 50 milhões de perfis inseridos.
Os americanos colaboraram para que, no Brasil, em 2004, fosse iniciada a construção do
nosso Banco Nacional de Perfis Genéticos, o qual foi instituído, em 2012, pela Lei
12.654/2012 (BRASIL, 2012). O Banco Nacional de Perfis Genéticos brasileiro possui
cerca de 6.500 perfis genéticos de condenados, 440 de investigados e 7.800 de vestígios
de local de crime. No Brasil, até o momento, 559 investigações foram auxiliadas por essa
ferramenta.
Notem que, através da INTERPOL, a perícia criminal dos diversos países tem acesso aos
bancos genéticos internacionais uns dos outros.
COMO FUNCIONA UM BANCO DE DADOS DE
PERFIS GENÉTICOS?
 Figura 28. Os bancos de perfis genéticos são utilizados por meio de programas
estatísticos que comparam a semelhança entre a amostra coletada no local do crime e o
DNA dos suspeitos.
Na ocorrência de um crime, os peritos devem coletar vestígios no local.
Caso haja material genético capaz de permitir o sequenciamento do DNA na amostra
coletada, o perfil genético questionado é comparado com outros armazenados em banco
de dados de perfis genéticos.
javascript:void(0)
Quando é encontrada uma coincidência entre o perfil genético questionado e um perfil
armazenado no banco de dados, obtém-se a identidade do possessor da amostra de
referência para que novas análises possam ser feitas de forma direta, de modo a
comprovar as análises.
O caso de Rachel Genofre demonstra claramente a importância do Banco Nacional de
Perfis Genéticos. Se não fosse essa ferramenta, como a polícia não suspeitava do
verdadeiro culpado, jamais esse crime bárbaro seria revelado. Entendam a história.
O CASO DE RACHEL GENOFRE
Em 2008, uma menina de apenas 9 anos, chamada Rachel Genofre, desapareceu, logo
depois que saiu da escola onde estudava em Curitiba, capital do Paraná. Dois dias após
o sumiço da garota, dentro de uma mala abandonada na rodoviária de Curitiba, seu o
corpo foi encontrado. O exame de corpo de delito revelou que Rachel foi estrangulada e
foi vítima de violência sexual.
No dia em que a mala foi encontrada, as câmeras do sistema de vigilância da rodoviária
não estavam funcionando. Para piorar, durante as investigações, a polícia não encontrou
nenhuma testemunha do crime ou qualquer pista que pudesse ajudar a explicar o que
havia acontecido com a menina. As únicas evidências que os investigadores
conseguiram foram amostras de material biológico colhidas na mala e no corpo da
própria vítima, inclusive em suas partes genitais.
Durante 11 anos, a polícia continuou investigando o caso. O material biológico obtido na
cena do crime foi comparado com o DNA de mais de 200 suspeitos, mas, em nenhuma
das análises, o resultado do confronto deu positivo. A família seguia desesperada para
pôr fim na história e entender o que havia acontecido com Rachel.
Em setembro de 2019, 11 anos depois do assassinato de Rachel, finalmente, o criminoso
foi identificado. Isso aconteceu por meio da comparação das amostras questionadas
colhidas do corpo da menina e com o perfil genético de um homem cadastrado no
Banco Nacional de Perfis Genéticos.
O assassino e estuprador da menininha de apenas 9 anos, Carlos Eduardo dos Santos,
já estava preso, condenado por outros crimes. Diante da prova contundente de que ele
era o responsável pela violência que tirou a vida da garota, o criminoso confessou e
contou à polícia que havia atraído Rachel para o seu escritório com a finalidade de
estuprá-la, mas, como a menina não parava de gritar, acabou por matá-la também.
CASOS PARA REFLEXÃO
Agora, veremos quatro casos que, de um lado, mostram a eficiência das análises de DNA
na solução de crimes e, de outro, evidenciam como a nossa sociedade, de modo geral,
precisa se preparar legal e moralmente para se posicionar frente ao afã de combater o
crime e a preservação de direitos individuais.
CASOS PARA REFLEXÃO
O CASO DO ASSASSINATO NÃO CONDENÁVEL
Em 1987, uma moça de 22 anos, chamada Nelly Haderer, foi assassinada com dois tiros.
Seu corpo foi encontrado esquartejado em um depósito de lixo em Nancy, na França. De
acordo com as investigações, o principal suspeito do crime era Jacques Maire. Sem
provas materiais contundentes, depois de três julgamentos, em 2008, finalmente, Maire
foi absolvido em última instância pela justiça francesa.
EM 2014, 27 ANOS DEPOIS DO CRIME, ATENDENDO A
PEDIDOS DA FAMÍLIA, NOVAS PERÍCIAS FORAM ORDENADAS
PELA JUSTIÇA. NESTA NOVA OPORTUNIDADE, UMA MANCHA
DE SANGUE ENCONTRADA NA PARTE INTERNA DO BOLSO
DA CALÇA DA VÍTIMA FOI SUBMETIDA À TECNOLOGIA DO
DNA. AO FINAL DOS EXAMES, A POLÍCIA CONSTATOU QUE O
SANGUE PERTENCIA A JACQUES MAIRE. CASO ESTA PROVA
TIVESSE SIDO LEVADA A JULGAMENTO, NO CONTEXTO DO
CONJUNTO PROBATÓRIO QUE A ACUSAÇÃO POSSUÍA, À
ÉPOCA, TERIA SIDO DETERMINANTE PARA CONDENAR
MAIRE PELO ASSASSINATO DA MOÇA.
A questão, neste caso, é que a lei francesa proíbe categoricamente que uma pessoa
absolvida em última instância seja acusada pelo mesmo crime, ainda que diante de
provas novas. Neste caso, embora a família e a justiça saibam que Jacques Maire
assassinou Nelly Haderer, ele não será condenado pelo crime e permanecerá impune.
O CASO DA CURIOSIDADE GENEALÓGICA
Em 2004, uma mulher de 56 anos e um menino de 8 anos foram esfaqueados e mortos na
cidade de Linköping, na Suécia. Durante os últimos 16 anos, a polícia não conhecia a
identidade do suspeito, apenas seu perfil genético, obtido a partir de vestígios coletados
na cena do crime, comoum boné que continha uma mancha de sangue, que não
pertencia às vítimas assassinadas. Ocorre que, na Suécia, desde janeiro de 2019, é
legalmente permitido que a perícia consulte sites que trabalhem com exames de DNA
para fins familiares, e utilize as informações ali contidas em investigações criminais.
NO CASO EM QUESTÃO, O DNA DE DANIEL NYQVIST FOI
ENCONTRADO EM UM SITE DE GENEALOGIA ONLINE,
UTILIZADO PELO PRÓPRIO DANIEL EM SUAS PESQUISAS
PESSOAIS PARA SABER SOBRE SUA ANTECEDÊNCIA
FAMILIAR. AO CONSULTAR TAL SITE EM 2020, A POLÍCIA
VERIFICOU QUE O DNA DE DANIEL NYQVIST ERA
COINCIDENTE COM AQUELE EXTRAÍDO DO VESTÍGIO
MATERIAL COLETADO NO LOCAL DE CRIME. ASSIM, APÓS
NOVOS TESTES DE DNA TEREM CONFIRMADO,
SEGURAMENTE, A CORRESPONDÊNCIA ENTRE O PERFIL
GENÉTICO DE DANIEL NYQVIST E O DA AMOSTRA
QUESTIONADA, O SUSPEITO CONFESSOU O CRIME E FOI,
FINALMENTE, CONDENADO.
O CASO DE MANDY STAVIK
Em 1989, Mandy Stavik, uma moça de 18 anos, saiu de casa para dar uma corrida na
cidade de Acme, em Washington, e desapareceu. Três dias depois, seu corpo foi
encontrado no rio a 10 km de casa. Os legistas disseram que Mandy foi afogada e
estuprada. A polícia não tinha nenhuma pista do assassino; não havia sinais de luta no
local onde o corpo de Mandy foi encontrado.
NA CENA DO CRIME, FORAM COLETADAS AMOSTRAS DE
MATERIAL BIOLÓGICO. NAQUELA ÉPOCA, A TECNOLOGIA DO
DNA ESTAVA COMEÇANDO A SE DESENVOLVER E O FBI
(FEDERAL BUREAU OF INVESTIGATION) JÁ A APLICAVA EM
ALGUMAS INVESTIGAÇÕES. SABENDO DISSO, A POLÍCIA
ENVIOU AS AMOSTRAS COLETADAS NA CENA DO CRIME DE
MANDY STAVIK PARA O FBI. OS EXAMES REVELARAM DOIS
PERFIS GENÉTICOS: O DA VÍTIMA E O DE UM HOMEM NÃO
IDENTIFICADO.
Em 2009, 20 anos depois do crime, ainda sem informações sobre o caso, a polícia teve a
ideia de coletar amostras de DNA de homens que, à época do fato, residiam em Acme.
Durante 4 anos, foram colhidos e analisados diversos materiais genéticos de homens
que se enquadravam no perfil das investigações, entretanto, nenhum deles possuía DNA
coincidente com o da amostra questionada. Passados 27 anos, já em 2013, o nome de
Timothy Bass chamou a atenção dos investigadores, pois o sujeito, na época do
assassinato, morava na mesma rua que Mandy. A polícia descobriu que, logo depois do
crime, Timothy Bass mudou da cidade e, em janeiro de 1990, se casou com Gina Malone,
com quem teve três filhos. Ao ser procurado pela polícia, Timothy disse que não se
lembrava de Mandy Stavik e se recusou a fornecer seu DNA para os exames. Para a
polícia, aquilo soou muito estranho e Bass passou a ser o suspeito número um do caso.
A polícia, então, procurou uma moça chamada Kim Wagner, que trabalhava com Timothy
Bass desde a época do crime. Kim ficou intrigada, pois os policiais, sem lhe dar muitas
explicações, lhe pediram que contasse sobre a rotina de trabalho de Timothy e se ela
poderia coletar alguma coisa que o colega tivesse recém-tocado, como uma ponta de
cigarro, por exemplo. Assustada e sem saber se deveria ou não colaborar, Kim Wagner
pediu aos policiais que procurassem o departamento pessoal da empresa. O
departamento pessoal, por sua vez, disse que só poderia colaborar se a polícia lhes
apresentasse uma intimação ou um mandado de busca e apreensão. Como os policiais
não tinham provas contundentes sobre Timothy, não possuíam as devidas
determinações judiciais.
Anos depois, em uma conversa de bar com os amigos, Kim Wagner soube que Timothy
Bass, na época do crime, era vizinho de Mandy Stavik. Impressionada com aquilo, Kim
procurou a polícia e se ofereceu para ajudar. Kim, então, passou a vigiar Timothy Bass
de perto e notou que o homem, além de usar, constantemente, luvas, era bastante
cauteloso com seu lixo, não deixando nada que tivesse seu material biológico para trás.
UM DIA, NO ENTANTO, APÓS BEBER ÁGUA, BASS JOGOU O
COPO NO LIXO. KIM, IMEDIATAMENTE, ENTREGOU O COPO À
POLÍCIA. AO REALIZAREM O EXAME DE DNA EXTRAÍDO DO
COPO, A POLÍCIA DESCOBRIU QUE O PERFIL GENÉTICO DE
TIMOTHY BASS ERA EXATAMENTE IGUAL AO DA AMOSTRA
QUESTIONADA, COLETADA EM 1989, NA CENA DO CRIME.
TIMOTHY BASS FOI, ENTÃO, LEVADO A JULGAMENTO. PARA
JUSTIFICAR O ENCONTRO DO SEU MATERIAL BIOLÓGICO NO
CORPO DE MANDY, BASS AFIRMOU QUE MANTINHA
RELAÇÕES SEXUAIS ÀS ESCONDIDAS COM A VÍTIMA,
NEGANDO, VEEMENTEMENTE, QUE TERIA COMETIDO O
CRIME.
Duas testemunhas foram decisivas para o julgamento de Timothy: sua esposa e seu
irmão mais novo, Tom Bass. Isso porque foi apurado que Bass havia pedido à esposa
para mentir em juízo, dizendo que estava com ele no dia da morte de Mandy Stavik. Além
disso, foi revelado que Timothy, logo depois que a polícia o procurou, em 2013, foi atrás
de seu irmão e lhe pediu para dizer que ele, Tom, também mantinha relações sexuais
com Mandy e que também não iria fornecer seu DNA às investigações. Em 2019, o júri
declarou Timothy Bass culpado do assassinato de Mandy Stavik. Apesar da robustez
das provas apresentadas no julgamento, Bass continua alegando ser inocente.
UM CASO E MUITAS VERDADES ESCONDIDAS
Em 1996, uma moça de 18 anos, Angie Dodge, foi estuprada e assassinada em Idaho
Falls, nos Estados Unidos. No local do crime, foram coletados sêmen e cabelos.
Posteriormente, os exames de DNA indicaram que ambos os vestígios biológicos
pertenciam a um mesmo homem, cuja identidade não pôde ser identificada. A polícia deu
início às investigações do caso e, dois anos depois, em 1998, Christopher Tapp foi
condenado e preso pelo estupro e assassinato da garota.
O RAPAZ, CUJO MATERIAL GENÉTICO NÃO BATIA COM
AQUELE ENCONTRADO NA CENA DO CRIME, DIZIA SER
INOCENTE E QUE SUA CONFISSÃO HAVIA SIDO OBTIDA
MEDIANTE COAÇÃO POLICIAL. A POLÍCIA NEGOU TER
COMETIDO QUALQUER TIPO DE COAÇÃO E JUSTIFICOU O
NÃO ENCONTRO DO DNA DE TAPP, NA CENA DO CRIME, SOB
A ALEGAÇÃO DE QUE VÁRIAS PESSOAS ESTARIAM
ENVOLVIDAS. EMBORA A POLÍCIA TIVESSE DITO QUE
OUTRAS PESSOAS TERIAM PARTICIPAÇÃO NA MORTE DE
DODGE, NINGUÉM MAIS FOI OUVIDO OU PRESO.
Christopher Tapp, por sua vez, mesmo depois de preso há 20 anos, alegava ser inocente
e insistia em dizer que confessou sob coação. Em 2001, uma organização chamada
Innocence Project, que atua ajudando na absolvição de pessoas inocentes condenadas
injustamente, se interessou pela história de Tapp. Em 2017, foi provado que Christopher
Tapp não teve nenhum envolvimento com o estupro de Angie Dodge. Então, como ele já
havia cumprido a pena pelo assassinato da garota, foi libertado, mas a pecha de
assassino o acompanhava.
Intrigada com a alegação de inocência de Christopher Tapp e pelo fato de nenhum outro
suspeito do crime ter sido preso, a mãe de Angie Dodge pediu ajuda a CeCe Moore, a
geneticista chefe da empresa Parabon NanoLabs. Parabon NanoLabs é uma organização
que, entre outras atividades, desenvolve ferramentas forenses na área de DNA.
Em 2018, em um site público de genealogia genética, CeCe Moore encontrou um perfil
genético que se aproximava daquele encontrado na amostra questionada, obtida a partir
dos vestígios biológicos coletados na cena do crime, em 1996. De posse dessa
informação, Cece concluiu que o assassino de Angie Dodge poderia ser um descendente
da pessoa cujo DNA foi encontrado no site. Cece descobriu, então, que havia seis
homens que se enquadravam nesse perfil.
EM JANEIRO DE 2019, CECE MOORE PASSOU ESSAS
INFORMAÇÕES PARA A POLÍCIA, QUE DESCOBRIU QUE UM
DOS HOMENS VIVIA EM IDAHO. OS POLICIAIS, ENTÃO,
RESOLVERAM COMEÇAR POR ELE. A FIM DE CONSEGUIR
MATERIAL GENÉTICO DESSE HOMEM, DE FORMA VELADA,
OS INVESTIGADORES PASSARAM A SEGUI-LO. NO MÊS
SEGUINTE, A POLÍCIA CONSEGUIU COLETAR UM CHICLETE
QUE O SUSPEITO DESCARTOU, SUBMETENDO ESTA
AMOSTRA AOS EXAMES DE DNA. O PERFIL GENÉTICO DO
SUSPEITO, CHAMADO BRIAN DRIPPS, COINCIDIA
EXATAMENTE COM O DA AMOSTRA QUESTIONADA. A FIM DE
CONFIRMAR AS SUSPEITAS, A POLÍCIA CONTINUOU
SEGUINDO DRIPPS E, EM MAIO DAQUELE ANO, COLETOU
UMA PONTA DE CIGARRO QUE ELE JOGOU PELA JANELA DO
CARRO. MAIS UMA VEZ, O DNA DE BRIAN DRIPPS COINCIDIU
COM O DA AMOSTRA QUESTIONADA.Diante da prova material, Brian Dripps confessou o crime e foi condenado e preso, mas
CeCe Moore não parou suas investigações por aí, pois, ao descobrir que Brian Dripps
não conhecia nenhuma das outras pessoas relacionadas à árvore genealógica que
permitiu que ele fosse encontrado, suspeitou que ele fosse um descendente perdido
daquela família. Moore descobriu que um dos homens da família, há muito tempo, havia
se casado e, em seguida, se divorciado, sem, aparentemente, ter filhos dessa relação.
No entanto, ao ir atrás de sua ex-mulher, CeCe Moore descobriu que Brian Dripps era
filho do tal homem, que nunca soube de sua existência. A mulher havia se casado com
outro homem, que deu a Brian seu sobrenome Dripps.
Como vocês podem notar pela leitura dos casos, ainda há muito que fazer em termos de
lei e, mais ainda, em termos de consciência. Levando luz à reflexão de vocês, vejam o
que diz a Lei 12.004/2009 (BRASIL, 2009) sobre a aplicação do DNA às investigações de
paternidade. Será que o mesmo não poderia ser aplicado às investigações criminais?
Art. 2º-A. Na ação de investigação de paternidade, todos os meios legais, bem como os
moralmente legítimos, serão hábeis para provar a verdade dos fatos. Parágrafo único. A
recusa do réu em se submeter ao exame de código genético (DNA) gerará a presunção
da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
 Distinguir a aplicação da Genética nos exames de paternidade/maternidade
javascript:void(0)
GENÉTICA APLICADA NAS
INVESTIGAÇÕES DE
PATERNIDADE/MATERNIDADE
 Figura 29. As análises de DNA podem servir para elucidar questões relacionadas ao
parentesco.
Agora, estudaremos uma outra área de aplicação da Genética Forense: a determinação
de paternidade ou maternidade.
EM LINHAS GERAIS, TRATA-SE DE UM TESTE DE DNA
PARA A VERIFICAÇÃO DE VÍNCULO BIOLÓGICO
ENTRE PESSOAS. SERVEM COMO PROVA LEGAL
PARA DETERMINAÇÃO DE
PATERNIDADE/MATERNIDADE; REINVINDICAÇÕES DE
HERANÇA; FRUIÇÃO DE DIREITOS E DEVERES
RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS;
COMPROVAÇÃO DE GRAVIDEZ DECORRENTE DE
ESTUPRO; INTERRUPÇÃO DE GRAVIDEZ
DECORRENTE DE ESTUPRO ETC.
 SAIBA MAIS
Segundo divulgado pelo Observatório Brasil da Igualdade de Gênero (BRASIL, 2009),
30% das crianças não têm filiação paterna em seus registros. De acordo com Fonseca
(2004), em 2002, em média, mil pedidos de investigação paterna foram peticionados,
mensalmente, na Justiça Estadual do Rio Grande do Sul, o que representa cerca de 7%
do volume de nascimentos mensal naquele estado.
A questão da paternidade/maternidade é tão complexa que a legislação brasileira prevê
que resta presumida a paternidade quando o suposto pai se recusa a se submeter ao
exame de DNA.
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
A presunção de paternidade no caso de recusa de realização de exames de DNA está
prevista no artigo 1º, da Lei nº 12.004/2009 (BRASIL, 2009).
Vale destacar que, segundo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ, 2016),
“Nem a paternidade socioafetiva e nem a paternidade biológica podem se sobrepor uma
à outra. Ambas as paternidades são iguais, não havendo prevalência de nenhuma delas
porque fazem parte da condição humana.”
Nesta direção, de acordo com a Lei º 8.560 (BRASIL, 2009), o reconhecimento de filhos
tidos fora do casamento é irrevogável, a não ser que seja provado que o registro foi
baseado em algum vício do ato.
Por fim, afora a parte técnica das análises genéticas de paternidade/maternidade que
trataremos aqui, é bom que vocês saibam que existe todo um arcabouço jurídico que
regulamenta a questão, prevendo as circunstâncias, o tipo e a validade dos exames de
DNA para confirmação ou alteração de registro de nascimento. Por óbvio, embora crie
alguns entraves, a intenção da lei é proteger os envolvidos. No entanto, não iremos
javascript:void(0)
examinar esses aspectos, pois, caso contrário, nosso estudo iria debandar para outros
rumos
Já conseguimos perceber que, assim como o uso da tecnologia do DNA para a
elucidação de crimes, o assunto aqui exige conhecimento científico para garantir a
robustez das análises. Então, façamos um esforço e comecemos nossa caminhada.
Todos preparados?
VARIABILIDADE HUMANA
 Figura 31. Apesar de sermos da mesma espécie, a diversidade é bastante grande
entre nós.
Se pegarmos duas pessoas, ainda que com vínculos biológicos, como pai e filho, por
exemplo, veremos que, para cada 500 pares de bases de seus respectivos DNA, um par
será diferente. Parece pouco? Só que não! De acordo com o Projeto Genoma Humano,
nosso material genético tem mais de 3 bilhões de pares de bases nitrogenadas, o que
representa uma variação de 6 milhões de bases entre duas pessoas.
 Figura 32. Pessoas de uma mesma família, como pais e filhos, são muito distintas
geneticamente, ainda que sejam parecidas.
Como falamos antes, atualmente, os marcadores genéticos permitem discriminar
geneticamente um indivíduo em um pool gênico de um trilhão de pessoas. Não é à toa
que os testes de DNA possuem muito prestígio na área jurídica como meio de prova.
Vocês se lembram em que parte do DNA todas essas variações genéticas podem ser
encontradas? Isso mesmo, nas regiões polimórficas. Então, vamos estudar mais um
pouquinho sobre o polimorfismo genético.
POLIMORFISMO GENÉTICO: O SEGREDO
DA VARIAÇÃO HUMANA
 Figura 33. O polimorfismo genético é o segredo por trás da variação humana.
Para que vocês consigam entender o que é um polimorfismo genético, prestem atenção
na explicação didática que se segue.
O DNA humano possui 3 bilhões de pares de bases nitrogenadas. Estas bases se juntam
em grupos, uns maiores, outros menores, e formam 30.000 genes. Cada um desses
30.000 genes ocupa um espaço físico no DNA humano, espaço este que chamamos de
locus. Ao realizar um exame de DNA, por conta de muita pesquisa feita anteriormente
pelos cientistas que mexem com isso, o geneticista já sabe quais loci são interessantes
para as suas análises, que são exatamente aqueles que, evolutivamente, apresentam
variações individuais. Assim, em um laboratório forense, o perito examina diretamente
os loci que lhe interessam, não perdendo seu tempo, no esforço hercúleo de examinar
todos os 30.000 loci do DNA humano. A imagem a seguir explica essa questão.
A maior parte dessas bases está nos cromossomos autossômicos, mas também há
material genético nos cromossomos sexuais e no DNA mitocondrial.
javascript:void(0)
 Figura 34.
Na imagem ao lado, cada traço horizontal corresponde a um locus gênico, ou seja, a um
lugar físico, no DNA, que é ocupado por um gene. Pela imagem, dá para ver que, nesta
sequência de DNA, há vários genes, mas não todos os genes de uma pessoa, já que o
ser humano possui cerca de 30.000 genes. Cada gene é formado por sequências de
bases nitrogenadas. A depender do gene, essa sequência tem um padrão de
posicionamento ou de repetição. A ilustração logo abaixo representa um trecho
hipotético da sequência de DNA acima, da qual foram retirados 10 genes para serem
examinados e, dessa forma, verificar quais deles são iguais em todas as pessoas e quais
deles apresentam variações individuais.
 Figura 35.
Na imagem, estão representados, hipoteticamente, 10 genes encontrados no
sequenciamento do DNA do Indivíduo A. Cada um desses genes é responsável por uma
característica. Abaixo, são apresentadas as supostas características que cada um dos
genes acima comanda.
• Gene 1: Comprimento de dedos dos pés
• Gene 2: Ter duas pernas
• Gene 3: Ter duas orelhas
• Gene 4: Piscar o olho
• Gene 5: Frequência de piscadas do olho por minuto
• Gene 6: Ter dois olhos
• Gene 7: Coloração dos olhos
• Gene 8: Ter dentes
• Gene 9: Ter língua
• Gene 10: Cor dos dentes.
No esquema hipotético, para fins de identificação de pessoas, os genes 2, 3, 4, 6, 8 e 9
não têm valor, pois são comuns a todas as pessoas, com exceção daquelas que têm
alguma variação atípica (mutação pontual), que, pela raridade na população, não serve

Continue navegando