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I_ETASocial unidade 1 exame

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Conteudista: Prof.ª M.ª Elisangela Pereira de Queiros Mazuelos
Revisão Textual: Thaís Teixeira Tardivo Stringaci
 
Objetivos da Unidade:
Adquirir conhecimentos a propósito da trajetória terminológica da Questão
Social;
Entender as articulações com a política social e os entraves impostos pelo
neoliberalismo na política;
Refletir a profissão de assistente social como prática técnica operativa e
reflexiva na política de seguridade social na direção do projeto ético-político
profissional.
 Material Teórico
 Material Complementar
 Referências
Questão Social e Assistência Social no Brasil
Análise da Construção do Conceito de Questão Social e
suas Implicações para a Operatividade Reflexiva da
Política Social
“A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da
fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago” (JESUS, 2014).
O recorte do livro da escritora Carolina Maria de Jesus “O Quarto de Despejo” nos convida a
refletir questões fundamentais para a sobrevivência de qualquer ser humano, que é alimentar-
se. Embora possa parecer algo recorrente na vida de qualquer pessoa, nem todos tem acesso à
segurança alimentar.
Nesta obra, a autora relata sua vida como moradora de uma comunidade carente, mulher pobre,
preta e chefe de família, sem trabalho formal na década de 1950, narrando os desafios de viver à
margem da sociedade sem apoio social. Esses apontamentos levam a compreender que a
questão da pobreza e da exclusão social está presente na sociedade brasileira desde sua
colonização.
Para nos ajudar nessas discussões para a análise da construção do conceito de Questão Social,
bem como as implicações para a sua operatividade, é relevante a aproximação da compreensão
do sistema econômico de produção e reprodução de mercadorias e como o(a) trabalhador(a)
está nesse cenário desse modo, uma vez que para que as pessoas tenham acesso ao básico é
necessário o trabalho. Assim, Marx (1982) relata que o capitalismo, que é o sistema econômico e
que se utiliza da exploração da força de trabalho para o acúmulo de capital por meio da mais
valia, contribui para as distorções sociais. A definição de mais valia é a disparidade entre o
salário pago e o valor produzido pelo trabalho, base da exploração e alienação. Essas
TEMA 1 de 3
 Material Teórico
contradições são consideradas fundamentais ao capitalismo e que deflagram as expressões da
questão social.
Segundo Iamamoto (1999, p. 27), a Questão Social pode ser definida como:
Desse modo, torna-se relevante a reflexão sobre o direito de todo ser humano:
- COUTO, 2004, p. 34
“O conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que
têm uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-
se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos se mantém
privada, monopolizada por uma parte da sociedade.”
“Existem dois paradigmas para compreender a ideia que iluminou o movimento de
conquistas de direitos. O primeiro é o defendido pelos jus naturalistas, que
compreendia o campo dos direitos como algo inerente a condição humana [...] a
natureza humana por si só é detentora de direitos. O segundo, representado pela
ideia de que os direitos são resultados do movimento histórico em que são
debatidos, correspondendo a um homem concreto e as suas necessidades [...] os
direitos dos homens são direitos históricos que emergem gradualmente das lutas
que o homem trava por sua própria emancipação e das transformações das
condições de vida que essas lutas.”
Nessa perspectiva, observa-se duas linhas vinculadas ao Direito que percorreram as sociedades:
a primeira compreendia que o ser humano era portador de direitos, afinal, somos humanidade; a
segunda linha vincula-se à análise de que os direitos, sejam eles quais forem, são conquistados
historicamente, na maioria das vezes envolvendo conflitos e guerras.
Percebe-se, portanto, que a ideia de direito não é simples. Uma vertente expressava que os seres
humanos nascem com direitos, e a outra compreendia que todos os direitos são adquiridos
historicamente, diferentes entendimentos em torno da mesma questão. Com o passar do tempo,
as sociedades foram desenhando suas diretrizes em torno do que é direito, entretanto, parece
que a segunda linha encontrou maior consonância com a humanidade.
Vídeo 
A História dos Direitos Humanos 
Assista o documentário a seguir, produzido por United for the Human
Rights.
A História dos Direitos Humanos (legenda)
https://www.youtube.com/watch?v=uCnIKEOtbfc
Somente nos séculos XVII e XVIII é que surgiu o reconhecimento de que o homem genérico é
portador de direitos reconhecidos como individuais. Buscando uma aproximação histórica, a
Europa, influenciada pelo Iluminismo, mudou a política, economia e a sociedade pela vertente do
conhecimento, o que antes não era simples, já que as explicações para os desafios, guerras e
desigualdades fundamentava-se na vertente religiosa.
As sociedades se constituíram entre pensamentos distintos (filosofias). A palavra “filosofia”
significa amor pela sabedoria, pelo conhecimento. Desse modo, o saber foi adentrando nas
sociedades, e a reflexão em torno das desigualdades foi tomando consciência para as pessoas
que sofriam dessa questão e que reivindicavam sua posição enquanto cidadãos. É importante
analisar que, para se constituir como um ser, é necessário cuidados, sobretudo quando esse
indivíduo está inserido em sociedades desiguais, como é o caso brasileiro.
As ideias do Iluminismo contribuíram para avanços nas sociedades. Essa vertente propunha
mudanças pelo conhecimento e pela razão, fundamentada em ideias, culturas e conhecimento,
contrapondo-se ao domínio do clero.
Figura 1 – Catedral de Santa Maria Dei Fiori, período da
Renascença, origem do Iluminismo 
Fonte: Getty Images
Outro pensamento que se disseminou pela Europa, e consequentemente pelo mundo, foi o
liberalismo. Os adeptos dessa filosofia estavam insatisfeitos com o regime monarca,
representado pela figura do Rei, que era comparada à de um deus. Esses súditos, exauridos pela
exploração desse regime que não cuidava da população mais empobrecida, promoveram
revoluções. Um dos seus pensadores era Adam Smith. As pessoas que seguiam o liberalismo
comungavam da premissa da retração do Estado na vida comum e no mercado, hoje conhecido
como neoliberalismo.
O neoliberalismo caminha par e passo com o sistema econômico hegemônico e interfere
demasiadamente na economia, trazendo pouca ressonância ao desequilíbrio estrutural do país,
somado à história de colonização do Brasil, que contribuiu para o enraizamento da pobreza. O
resultado é uma nação desigual.
Essas desigualdades precisam ser arrefecidas. Para tanto, existem mecanismos de contenção
que são as políticas sociais. Ocorre que as diferenças de posicionamentos ideológicos podem
promover políticas sociais e as manter ou, a depender do poder político ideológico, retraí-las e
as extinguir. Nesse contraponto, as manifestações e lutas sociais são fundamentais para
garantir a manutenção e o aumento das políticas sociais.
A título de ilustração, vamos entender introdutoriamente as lutas do Movimento Sem Terra
(MST). Independentemente de questões políticas partidárias, esse movimento representa as
desigualdades sociais na falta de moradia, para tanto é importante a pressão desse movimento
por políticas públicas.
Viana (2000, p. 50) entende que o palco dos movimentos sociais nos anos 1980 foi a cidade, as
ruas; nos anos de 1990, foi o campo, com a força do MST colocando a reforma agrária na agenda
política nacional, com suas marchas, bandeiras, ocupações e confrontos, resgatando “o velho
problema fundiário brasileiro”, esquecido “pelos ventos da industrialização e da expansão
urbana”.
Saiba Mais 
Adam Smith foi escritor e filósofo, e seu
tratado “A Riqueza das Nações” inspirou
muitos seguidores.
Os objetivos do MST, para além da reforma agrária, estão
no bojo das discussões sobre as
transformações sociais importantes ao Brasil, principalmente àquelas no tocante à inclusão
social. Se por um lado existiram avanços e conquistas nessa luta, ainda há muito por se fazer em
relação à reforma agrária no Brasil, seja em termos de desapropriação e assentamento, seja em
relação à qualidade da infraestrutura disponível às famílias já assentadas. Segundo Caldart (2001,
p. 210):
Segundo Oliveira e Marinho (2012), as mobilizações foram frequentes na América Latina e Brasil
no final desde 1970, nas quais se observou várias associações autônomas que exigiam mais
atenção e cuidados com suas questões, tanto por habitação, saúde, assistência social ou
educação quanto por demandas novas e outras já conhecidas juntas, ou seja, questões
complexas da sociedade que se modificaram e, por serem urgentes, mereciam espaço e
valorização.
Nos anos de 1990, surgiram o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua e as lutas dos
aposentados e pensionista por seus direitos previdenciários, juntamente com as iniciativas do
segmento denominado “melhor idade”, que pressionava pela efetivação de direitos sociais.
Derivou desse movimento o Estatuto do Idoso. 
O associativismo das pessoas com deficiências e doenças graves visava a garantia de direitos e
acesso a medicamentos e tratamentos, como um conjunto de ações coletivas distintas, algumas
“A formação dos Sem Terra nos remete a um processo de fazer-se humano na
história que está produzindo e sendo produzido em um movimento de luta social,
também constituído como parte de um movimento socio-cultural mais amplo;
mesmo sem que os Sem Terra tenham plena consciência disso, tal movimento
extrapola seus interesses corporativos e projeta novos contornos para a vida em
sociedade.”
com alto grau de institucionalização, não se constituindo, necessariamente, em lutas de escopo
emancipatório.
Para Viana (2000, p. 48), as redes de movimentos sociais são “articulações despreocupadas com
o formalismo organizacional e que têm como objetivo se constituírem em força de pressão
institucional e de mobilização” de maior escopo, o que só aconteceu na medida em que essas
experiências não avançaram para intervenções mais críticas e menos imediatas, no sentido de
combater a fome pelas raízes que a engendram.
Essas observações estão imergidas na forte presença neoliberal que recrudesce a questão social
e gera desigualdades na produção e reprodução de mercadorias. Essas desigualdades são
manifestadas no cotidiano das pessoas, e os(as) assistentes sociais atuam exatamente nessa
assimetria na tentativa de efetivar os direitos sociais destinados à população.
O pensamento neoliberal defende uma segmentação entre as esferas do Estado e do mercado. O
neoliberalismo entende a existência e permanência das questões econômicas no âmbito do
mercado, enquanto ao Estado cabem os processos da política formal e, eventualmente, algumas
atividades sociais. Desse modo, trata-se de uma concepção de o Estado como público, e de tudo
o que não é estatal como privado.
- IAMAMOTTO, 2011, p. 169
“[...] o enfrentamento da voga neoliberal em suas características conservadoras e
primitivas, que reduzem o cidadão à figura do consumidor ao erigir o mercado
como eixo regulador da vida social, obscurecendo as funções públicas do Estado a
favor de sua privatização.”
Para Netto (2000), as concepções liberais clássicas foram destruídas quando o capitalismo
entrou na sua fase monopolista, evento que ocorreu no final do Século XIX. O que se
convencionou chamar de “livre mercado” transformou-se em mero discurso, já que o próprio
capital exigiu um Estado necessariamente intervencionista, capaz de regular “a seu contento”
as relações sociais. E a fórmula liberal, pela qual os interesses particulares em disputa
produziriam automaticamente (naturalmente) o bem público e o equilíbrio social, mostrou-se
igualmente falsa. Ainda no entendimento do que é a corrente liberal que comunga com o sistema
econômico, este após a Segunda Guerra adentrou com força nos países capitalistas.
A ofensiva neoliberal agarrou-se a essa falsificação histórica para, logo em seguida às crises
aqui discutidas, erguer-se e impor-se mundialmente. Aproveitou-se de crises que,
aparentemente, comprovavam as ideias neoliberais de que “economias planejadas não se
sustentam” (NETTO, 2000, p. 35), “estados intervencionistas não sustentam o crescimento
econômico e o bem-estar”. Com isso, conseguiu a façanha de esconder sua própria “folha-
corrida” burguesa da primeira metade do Século XX (guerras mundiais, nazifascismos,
ditaduras, aumento desmedido da desigualdade social no mundo, destruição dos recursos
naturais).
Para Faleiros (1997, p. 37):
“A expressão questão social é tomada de forma muito genérica, embora seja usada
para definir uma particularidade profissional. Se for entendida como sendo as
contradições do processo de acumulação capitalista, seria, por sua vez,
contraditório colocá-la como objeto particular de uma profissão determinada, já
que se refere a relações impossíveis de serem tratadas profissionalmente, através
de estratégias institucionais/relacionais próprias do próprio desenvolvimento das
práticas do Serviço Social. Se forem as manifestações dessas contradições o objeto
profissional, é preciso também qualificá-las para não colocar em pauta toda a
Figura 2 – Criança em situação de pobreza 
Fonte: Getty Images
Com o apoio de autores que debatem esta temática, como Iamamoto (2005); Faleiros (1997) e
Netto e Braz (2006), pode-se perceber que a Questão Social tem sua origem na desigualdade da
formação econômica. O sistema capitalista, na sua concepção, precisava de trabalho braçal. Ao
utilizar-se desse trabalho, extraía o que Karl Marx (1982) denominou de mais-valia. Com o
avançar do sistema econômico e as novas tecnologias, a mão de obra da classe trabalhadora é
cada vez menos utilizada ou subutilizada, todavia, a maneira de extrair a mais-valia não mudou.
heterogeneidade de situações que, segundo Netto, caracteriza, justamente, o
Serviço Social.”
Impactos no mundo do trabalho interferem na vida das pessoas. O trabalho nas sociedades é
constitutivo do ser social, é construção de identidade, valor, manutenção da vida, portanto, a
falta desse elemento ou trabalhos precários atingem as sociedades e transformam as relações
sociais. Percebe-se que esse mecanismo de trabalho permeado de concepções embutiu ao longo
da história a naturalização de que todos(as) devem trabalhar independentemente das condições
do trabalho, da saúde de quem executa ou dos meios de acesso. O trabalho é inerente às
sociedades, o que não faz parte dessa natureza é a exploração, o não cuidado com o trabalhador é
conviver com crianças que trabalham ou naturalizar meios de exploração. Esses
posicionamentos precisam ser revisitados e redefinidos, não se pode naturalizar a exploração, o
trabalho infantil e o não cuidado com os mais vulneráveis.
É importante utilizar os retrovisores da história para evitar erros que aconteceram na Revolução
Industrial. Sabe-se que o trabalhador executava suas tarefas de 12 a 14 horas diárias, sem
descanso remunerado, trabalhavam homens, mulheres, crianças e idosos. Esses operários, por
mais horas que trabalhassem, não enriqueciam; ao contrário, o aumento da pobreza se espalhou
por toda a Europa.
Porquanto, é relevante refletir que a Questão Social é consequência do sistema capitalista, o
operário que depende da venda da sua força de trabalho para sobreviver fica subordinado a ele, a
“acumulação do capital é, portanto, multiplicação do proletariado” explorado (MARX, 1996, p.
246).
Segundo Montaño (1997), com o aprofundamento do capitalismo e do pensamento neoliberal, o
Estado se ausenta da responsabilidade das práticas sociais reduzindo as verbas e investimentos
nos setores públicos de saúde, habitação e assistência, aumentando, por consequência, a
desigualdade já existente em nosso país e fazendo aumentar a divisão
de classe social.
A trajetória das políticas sociais no Brasil se iniciou de forma tardia, o modo de produção
capitalista também. Enquanto na Europa ocorria a II Revolução Industrial e a passagem do
capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista, período em que a industrialização é
expandida, a economia brasileira do início do Século XX permanecia em torno da produção
agrícola e da exportação de café.
Vídeo 
A Revolução Industrial 
O documentário a seguir explica sobre o crescimento industrial nos
Estados Unidos, e as mudanças ocorridas na Inglaterra durante o
Século XIX:
A Revolução Industrial - Documentário
https://www.youtube.com/watch?v=7h8E_LV6VQY
O início da assistência social ocorreu com a regulamentação de um campo de práticas
beneméritas que podem ser identificadas como assistência social, que aparecem pela mediação
do Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS). Esse conselho é o que se entende como a
primeira forma do Estado na prática da assistência, todavia, ressalta-se que a operação da
assistência social estava imersa a um caráter religioso e assistencialista nos primórdios do
Serviço Social no Brasil.
Em 1942, no Governo Getúlio Vargas, cria-se a Legião Brasileira de Assistência (LBA). Essa
instituição evidenciou a figura das primeiras-damas com a assistência social e “caracterizava-
se pelo assistencialismo envolvendo as religiosas e o primeiro damismo. Esse modelo
predominou até o Golpe de 1964” (FALEIROS, 1997, p. 46).
Historicamente, a Igreja era a responsável em administrar a pobreza. Essa prática comum estava
na identificação da Igreja com o voluntariado e o trabalho com a pobreza no Brasil. É importante
Livro 
Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: Esboço de uma
Interpretação Histórico-metodológica 
IAMAMOTO, M.; CARVALHO, R. Instituições Assistenciais e Serviço
Social. In: IAMAMOTO, M.; CARVALHO, R. Relações Sociais e Serviço
Social no Brasil: Esboço de uma Interpretação Histórico-
metodológica. São Paulo: Cortez, 2012.
que todos(as) entendam a história do Brasil para avançar na compreensão da assistência social
e o lastro da política assistencialista.
O avanço do capitalismo industrial na década de 1930 acarretou a intensificação da exploração da
força de trabalho no país e o agravamento significativo nos níveis de desigualdade social,
ocasionando um aprofundamento das expressões da questão social, principalmente a pobreza.
No Brasil, com recorte para a década de 1930, período em que surgiu a profissão de Serviço
Social, esse profissional objetivava administrar o avanço da pobreza, obviamente vinculado à
ação social da Igreja e imerso nas filosofias iniciais da profissão, como o Tomismo, positivismo
e a influência americana. As filosofias iniciais da profissão caracterizavam a forma de atender e
interpretar determinada questão. Nesse início, os(as) assistentes socais não tinham bagagem
teórica suficiente e prática para uma interpretação crítica da sociedade.
Deste modo, é imperativo compreender que as posições políticas e ideológicas determinam a
forma que uma sociedade é. No Brasil, as desigualdades sociais quase sempre eram tratadas com
elementos da caridade, e a elite dominante reforçou o assistencialismo ao longo do tempo. Como
o ato de dar aos pobres é parte cultural das sociedades elitizadas e estratégia benemérita, a
política social como direito demorou para se concretizar.
Desta feita, ao tornar a política de assistência social um direito, é importante destacar que a
seguridade social está relacionada à emergência da questão social, haja vista a necessidade
crescente de proporcionar alguma proteção social em uma nação extremamente desigual.
Com a promulgação da Constituição de 1988 e a regulamentação da Lei Orgânica de Assistência
Social (LOAS) em 1993, a assistência social como direito passou a ser reconhecida. A LOAS
estabelece os objetivos, princípios e diretrizes das ações.
A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) instituiu uma série de direitos e reordenamentos
que tiveram rebatimentos na dinâmica do gasto social federal. Pode-se destacar a redefinição
das funções entre as esferas governamentais, que implicou numa redistribuição dos poderes de
decisão e, principalmente, de recursos do governo central para os estados e municípios, tendo,
como resultado, o fortalecimento fiscal e financeiro das esferas subnacionais.
A política de assistência social significa garantir a todos os necessitados uma proteção sem que
seja exigida contribuição prévia. Essa política permite a padronização, melhoria e ampliação dos
serviços de assistência no país, respeitando as diferenças territoriais. Em 2005, o Sistema Único
de Assistência Social (SUAS) foi implementado e passou a articular meios, esforços e recursos
para a execução dos programas, serviços e benefícios socioassistenciais.
O SUAS é composto de um conjunto de ações como serviços, programas, projetos, benefícios e
transferências de renda. A Constituição Federal de 1988 determina a integração de duas
ferramentas de gestão vitais para o Poder Público. A Política Nacional de Assistência Social
(PNAS) e a Norma Operacional Básica (NOB/SUAS), que amplia a concepção trazendo para a área
outros instrumentos de gestão do SUAS, como a informação e o monitoramento.
Mesmo com a mudança de conceito a partir da Constituição de 1988, colocando a assistência
social como parte da segurança social dos brasileiros que dela necessitar, ainda temos no
contexto muitas pessoas que associam à política de direito ao assistencialismo. Esse ponto é
uma barreira que os profissionais e a população precisam ultrapassar. Nesse sentido, é relevante
diferenciar os termos.
Diferenciação entre Serviço Social, Assistente Social e a
Política Social no Brasil
- SANTOS, 1987, p. 35
“Política Social é um termo largamente usado, mas que não se presta a uma
definição precisa. O sentido em que é usado em qualquer contexto particular é em
vasta matéria de conveniência ou de convenção [...] e nem uma, nem outra,
explicará de que trata realmente a matéria.”
Serviço Social é uma profissão de nível superior regulamentada pela Lei 8.662/1993. (O)A
assistente social é o(a) profissional que executa a profissão. É exigida graduação universitária, e
o registro profissional deve ser homologado em um Conselho Regional de Serviço Social
(CRESS), que é o órgão responsável por fiscalizar o(a) profissional. Na atualidade, após o
movimento de reconceituação, esse(a) técnico(a) atua com a política social e tem um projeto
voltado para uma sociedade mais igualitária.
O projeto denomina-se ético-político do Serviço Social, uma vez que ele trata de mudanças em
várias esferas da vida, transformação de cultura, de modo de produção, buscando uma sociedade
mais justa.
Refletir sobre o projeto é buscar a origem da palavra. Projeto é algo que se pretende realizar, e é
possível também denominar de plano. As sociedades são constituídas de ideias, projetos ou
planos, e ao longo do tempo observamos vários exemplos do desenvolvimento de instituições e
sociedades que nasceram primeiro na perspectiva do projeto, da ideia.
Desse modo, nas sociedades existem projetos, chamados de projetos societários. Para
identificá-los, deve-se observar e analisar a conjuntura preliminarmente. A ordem vigente é um
projeto ultraliberal que tem concentração no desenvolvimento da economia, com explícito
protecionismo ao capital. Consequentemente, a desigualdade social se concentra cada vez mais.
Contrário a esse projeto de sociedade, o Serviço Social tem como matriz a justiça social, a
mudança radical da exploração social e a luta pela igualdade. O projeto ético-político tem:
- NETTO, 1999, p. 104‐105
“Autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais.
Consequentemente, o projeto profissional vincula -se a um projeto societário que
propõe a construção de uma nova ordem social, sem dominação e/ou exploração de
classe, etnia e gênero.”
Portanto, como qualquer projeto, deve-se
observar como alcançá-lo e quais são os elementos
essenciais para que se chegue ao objetivo de uma sociedade mais justa. Os projetos são como
uma “fotografia” da profissão, e o sujeito ao aderir a determinada categoria profissional deve se
reconhecer no compromisso assumido pela categoria profissional.
Em 1993, consolida-se a implementação do Código de Ética do Assistente Social, firmando o
compromisso de uma sociedade emancipada em busca da conquista, e a garantia de direitos e da
democracia foi formalizada e legitimada. Ou seja, o Serviço Social tem o papel de organizar e
assessorar os movimentos sociais, fortalecendo a classe trabalhadora e resguardando os diretos
violados ou enfraquecidos pelo Estado ou organizações privadas.
Todo projeto insere-se nas contradições econômicas e políticas em meio às ideias e classes
sociais de ideias e filosofias contrárias. Com o projeto profissional do Serviço Social não é
diferente, como nos lembra Iamamoto (1999), ao tratar da prática profissional, uma dimensão
- ABEPSS, 2015, p. 14
“De acordo com a Lei de Regulamentação da Profissão do Serviço Social e o Código
de Ética Profissional, ambos em 1993, e as Diretrizes curriculares da Associação
Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) de 1996, há um
compromisso dessa categoria profissional com a defesa dos direitos humanos, os
interesses da classe trabalhadora, suas organizações e movimentos sociais. Para
realizar tal tarefa, têm nos pressupostos do paradigma do materialismo histórico-
dialético as bases de sustentação das análises críticas sobre o sistema capitalista.”
política é definida pela inserção sociotécnica do Serviço Social entre os distintos e
contraditórios interesses de classes.
Porquanto, o Serviço Social tem sua história construída e teoricamente fundada na teoria social
crítica e está gabaritado a discutir estratégias e técnicas da intervenção profissional
considerando ações para a operacionalização da própria política social. Para tanto, desenvolve
múltiplas competências ao longo da graduação. Um profissional comprometido com as
questões sociais, atendendo as demandas dessas ações, atua com famílias, grupos e indivíduos,
além de comunidades.
As experiências do Serviço Social foram intensas a partir da década de 1990. Aconteceu a revisão
do código de ética em 1993 (CFESS, 2012), que não respondia à nova metodologia proposta da
profissão e às mudanças no cenário social, econômico e político e que culminou na efetivação da
Constituição de 1988. Isso contribuiu para que a profissão tivesse um novo desenho de ação e
uma metodologia próxima aos ideários de justiça social e equidade, buscando romper com o
modo capitalista.
Profissão foi reconhecida como parte da especialização do trabalho, regulamentada pela Lei
8662/1993 e vinculada aos Direitos Humanos, a defesa intransigente da democracia, da
liberdade e com projeto de uma sociedade mais equilibrada socialmente.
- CFESS, 2012, p. 23
“Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda
sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis, sociais e políticos das classes
trabalhadoras.”
No que se refere à política de assistência social no Brasil, antes da existência da própria
profissão, como estudado, a assistência social estava associada à Igreja e ao trato com as
pessoas empobrecidas. Com o avançar do tempo, os governos foram cuidando da questão da
pobreza e/ou questão social como cada um entendia que era o correto e de acordo com seus
posicionamentos ideológicos.
O assistencialismo frequentemente é confundido com a política de assistência social,
entretanto, após o advento da Constituição, essa política passou a ser direito do cidadão e dever
do Estado.
Essa confusão está relacionada ao início do Serviço Social, em que as chamadas Damas da
Caridade atuavam com ações de doação e socorro aos mais necessitados. Assistencialismo é a
ação de doar tempo ou recursos em prol da ajuda ao próximo, por vezes, a depender do
momento, esse apoio pode estar associado a um viés político partidário e contribuir para
confundir a assistência ao ato de doação. É comum a vinculação de assistencialismo à
solidariedade, mas são palavras distintas. Solidariedade é amparo, apoio, identificação com o
sofrimento do outro. Essa condição é inerente ao ser humano e muitas vezes é manifestada em
catástrofes como alagamentos, desabamentos etc.
Assistencialismo, segundo o dicionário, é doutrina, sistema ou prática (individual, grupal,
estatal, social) que preconiza, organiza e/ou presta assistência a membros carentes
continuamente sendo realizada (ASSISTENCIALISMO, C2022). O assistencialismo retira o direito
da população e isenta o Estado e suas responsabilidades junto à sociedade.
Você Sabia? 
A primeira escola de Serviço Social do mundo
surgiu em Amsterdã, em 1899, para resolver a
Trocando Ideias... 
Observar, descrever e refletir a construção do conceito de Questão Social
não é tarefa fácil. Parte dos estudiosos aponta que o conceito é
intrínseco às desigualdades sociais, ou seja, o sistema econômico ao
mesmo tempo que cria tecnologias e empregos, também pela sua
própria natureza explora trabalhadores e/ou dá prioridade a avanços
tecnológicos, retirando trabalhos deles, uma contradição que necessita
de estudos mais aprofundados para melhor análise.
Perceber esses pontos certamente contribuem para executar e/ou
operacionalizar as políticas sociais. Ter a dimensão e uma análise real
de como a construção das políticas aconteceram é parte constitutiva da
profissão de assistente social, por essa razão é exigida dos profissionais
na atualidade a compressão exata do que cada terminologia significa.
Quadro 1 – Informações das Profissões
Serviço
Social
Profissão de nível superior.
questão do disciplinamento do tempo do
operário.
Assistente
Social 
Profissional graduado em Serviço Social com
registro no CRESS.
Política
Social 
Conjunto de ações e programas que o profissional
em Serviço Social, dentre outros, atua. 
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
  Livros  
Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada 
JESUS, C. M. Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada. São Paulo: Ática, 2014.
  Vídeos  
Profissão Assistente Social | De Olho no Futuro
TEMA 2 de 3
 Material Complementar
Pro�ssão Assistente Social | De Olho no Futuro
https://www.youtube.com/watch?v=J0uOTxpINhE
  Podcast  
Fronteiras do Tempo #6 – Revolução Industrial
  Leitura  
Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de
Assistência Social
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ACESSE
Fronteiras no Tempo #6 – Revolução Industrial
Jun 2015 • Fronteiras no Tempo
1:04:45
Fronteiras no Tempo #6 – Revolução Industrial
Jun 2015 • Fronteiras no Tempo
1:04:45
Fronteiras no Tempo #6 – Revolução Industrial
Jun 2015 • Fronteiras no Tempo
1:04:45
Fronteiras no Tempo #6 – Revolução Industrial
Jun 2015 • Fronteiras no Tempo
1:04:45
https://bit.ly/35dqOYM
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO E PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL (ABEPSS). Contribuição
da ABEPSS para o Fortalecimento dos Programas de Pós-Graduação em Serviço Social no Brasil.
Fórum Nacional de Coordenadores de Pós-Graduação da ABEPSS, 2015. Disponível em:
<https://www.abepss.org.br/arquivos/anexos/contribuicao-da-abepss-para-o-
fortalecimento-dos-programas--de-pos-revisto-201703241351072223440.pdf>. Acesso em
15/02/2022.
ASSISTENCIALISMO. In: DICIO: Dicionário Online de Português. [S. l.: s. n.], c2022. Disponível
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