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Fichamento Os sentidos do trabalho

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Universidade Estadual de Montes Claros-UNIMONTES
Centro de Ciências Sociais Aplicadas-CCSA
Curso de Direito-4°período matutino
Disciplina: Direito do Trabalho I
Professor: Leandro Luciano da Silva
Acadêmica Anna Júlya Santos e Moreira
FICHAMENTO
ANTUNES, Ricardo. Os Sentidos do Trabalho- Ensaio sobre a Afirmação e a Negação do Trabalho. São Paulo: BOITEMPO. 2009. 
O sociólogo Ricardo Antunes, em sua obra Os sentidos do Trabalho, visa compreender as transformações que vêm ocorrendo no mundo contemporâneo, bem como quais são seus principais significados e suas mais importantes consequências, evidenciando como o trabalho continua no centro da sociabilidade contemporânea. Sendo assim, o autor expõe:
No que diz respeito ao mundo do trabalho, pode-se presenciar um conjunto de tendências que, em seus traços básicos, configuram um quadro crítico e que têm sido experimentadas em diversas partes do mundo onde vigora a lógica do capital. E a crítica às formas concretas da (des)sociabilização humana é condição para que se possa empreender também a crítica e a desfetichização das formas de representação vigentes, do ideário que domina nossa sociedade contemporânea (p.18)
Inserindo-se no contexto dessas formas de (des) sociabilização humana, também chamadas de mediações de segunda ordem, Ricardo explicita que elas passaram a se constituir como um elemento fundamental para a formação do sistema de metabolismo social do capital, em que o valor de uso das coisas tornou-se subordinado ao seu valor de troca, ou seja, as mediações de segunda ordem se sobrepuseram às mediações de primeira ordem.
O sistema de metabolismo social do capital nasceu como resultado da divisão social que operou a subordinação estrutural do trabalho ao capital. Não sendo consequência de nenhuma determinação ontológica inalterável, esse sistema de metabolismo social é, segundo Mészáros, o resultado de um processo historicamente constituído, em que prevalece a divisão social hierárquica que subsume o trabalho ao capital.3 Os seres sociais tornaram-se mediados entre si e combinados dentro de uma totalidade social estruturada, mediante um sistema de produção e intercâmbio estabelecido. Um sistema de mediações de segunda ordem sobredeterminou suas mediações primárias básicas, suas mediações de primeira ordem.(p, 21)
Dando continuidade ao tema, o autor aborda sobre as mediações de primeira ordem, cuja finalidade é a preservação das funções vitais de reprodução individual e societal. Segundo Ricardo:
Os indivíduos devem reproduzir sua existência por meio de funções primárias de mediações, estabelecidas entre eles e no intercâmbio e interação com a natureza, dadas pela ontologia singularmente humana do trabalho, pelo qual a autoprodução e a reprodução societal se desenvolvem. Essas funções vitais de mediação primária ou de primeira ordem incluem: 1) a necessária e mais ou menos espontânea regulação da atividade biológica reprodutiva em conjugação com os recursos existentes; 2) a regulação do processo de trabalho, pela qual o necessário intercâmbio comunitário com a natureza possa produzir os bens requeridos, os instrumentos de trabalho, os empreendimentos produtivos e o conhecimento para a satisfação das necessidades humanas; 3) o estabelecimento de um sistema de trocas compatível com as necessidades requeridas, historicamente mutáveis e visando otimizar os recursos naturais e produtivos existentes; 4) a organização, coordenação e controle da multiplicidade de atividades, materiais e culturais, visando o atendimento de um sistema de reprodução social cada vez mais complexo. (p.22).
Contudo, o autor ressalta que, durante a história da humanidade, com a introdução de elementos fetichizadores e alienantes de controle social metabólico, afetou-se a funcionalidade das mediações de primeira ordem, o que fez com que surgissem as mediações de segunda ordem.
Tendo se constituído como o mais poderoso e abrangente sistema de metabolismo social, o seu sistema de mediação de segunda ordem tem um núcleo constitutivo formado pelo tripé capital, trabalho e Estado, sendo que essas três dimensões fundamentais do sistema são materialmente inter-relacionadas, tornando-se impossível superá-las sem a eliminação do conjunto dos elementos que compreende esse sistema. Não basta eliminar um ou até mesmo dois de seus polos (p.24)
Prosseguindo, o autor enfatiza que o capital constitui uma poderosa estrutura totalizante de controle e organização do metabolismo societal, tendo como princípios a expansão e a acumulação, a qual todo ser deve se adaptar.
Por ser um sistema que não tem limites para a sua expansão (ao contrário dos modos de organização societal anteriores, que buscavam em alguma medida o atendimento das necessidades sociais), o sistema de metabolismo social do capital configurou-se como um sistema, em última instância, ontologicamente incontrolável. (p.25).
Ricardo Antunes também ressalta que, sendo um modo de metabolismo social totalizante e incontrolável, dada a tendência centrífuga presente em cada microcosmo do capital, esse sistema assume uma lógica essencialmente destrutiva, que aumenta a cada ano.
Essa lógica, que se acentuou no capitalismo contemporâneo, deu origem a uma das tendências mais importantes do modo de produção capitalista, que Mészáros denomina taxa de utilização decrescente do valor de uso das coisas. O capital não considera valor de uso (o qual corresponde diretamente à necessidade) e valor de troca como coisas separadas, mas como um modo que subordina radicalmente o primeiro ao último. O que significa que uma mercadoria pode variar de um extremo a outro, isto é, desde ter seu valor de uso realizado, num extremo da escala, até, no outro extremo, jamais ser usada, sem por isso deixar de ter, para o capital, a sua utilidade expansionista e reprodutiva. (p.28)
Em sequência, o autor expõe a crise do taylorismo e do fordismo como expressão fenomênica da crise estrutural do capital, caracterizada pela tendência decrescente da taxa de lucro, o esgotamento do padrão de acumulação taylorista/fordista de produção; a hipertrofia da esfera financeira e o incremento acentuado das privatizações.” Essa crise estrutural fez com que fosse implementado um processo de reestruturação do capital, visando recuperar seu ciclo reprodutivo, repondo os patamares de acumulação antes existentes, o que afetou o âmbito trabalhista. Esse período caracterizou-se também – e isso é decisivo – por uma ofensiva generalizada do capital e do Estado contra a classe trabalhadora e contra as condições vigentes durante a fase de apogeu do fordismo”(p.34). 
O capital deflagrou, então, várias transformações no próprio processo produtivo, por meio da constituição das formas de acumulação flexível, do downsizing, das formas de gestão organizacional, do avanço tecnológico, dos modelos alternativos ao binômio taylorismo/fordismo, em que se destaca especialmente o “toyotismo” ou o modelo japonês. (p.49)
Opondo-se ao contrapoder que emergia das lutas sociais, o capital iniciou um processo de reorganização das suas formas de dominação societal, não só procurando reorganizar em termos capitalistas o processo produtivo, mas procurando gestar um projeto de recuperação da hegemonia nas mais diversas esferas da sociabilidade. Fez isso, por exemplo, no plano ideológico, por meio do culto de um subjetivismo e de um ideário fragmentador que faz apologia ao individualismo exacerbado contra as formas de solidariedade e de atuação coletiva e social. Segundo Ellen Wood, trata-se da fase em que transformações econômicas, as mudanças na produção e nos mercados, as mudanças culturais, geralmente associadas ao termo “pós-modernismo”, estariam, em verdade, conformando um momento de maturação e universalização do capitalismo, muito mais do que um trânsito da “modernidade” para a “pós-modernidade” (p.50).
Esse “toyotismo” ou modelo japonês repercutiu e teve grande impacto no mundo ocidental, já que:
Seu desenho organizacional, seu avanço tecnológico, sua capacidade de extração intensificada do trabalho, bem comoa combinação de trabalho em equipe, os mecanismos de envolvimento, o controle sindical, eram vistos pelos capitais do Ocidente como uma via possível de superação da crise de acumulação.( p.55)
Essa assimilação do toyotismo vem sendo realizada por quase todas as grandes empresas, a princípio no ramo automobilístico e, posteriormente, propagando-se também para o setor industrial em geral e para vários ramos do setor de serviços, tanto nos países centrais quanto nos de industrialização intermediária. Não poderia ser diferente na Inglaterra, onde o experimento de tipo toyotista associou-se ao neoliberalismo, vigente no Reino Unido desde a derrota do Labour Party em 1979. (p.61).
Com a implantação do neoliberalismo, contemplou-se o fortalecimento da liberdade de mercado, a privatização, a redução e extinção do capital produtivo estatal e o desenvolvimento de uma legislação que desregula as condições de trabalho e flexibilização dos direitos sociais.
Dentre as profundas repercussões na estrutura da classe trabalhadora inglesa durante os quase 20 anos de vigência do neoliberalismo, deve-se enfatizar, também, que o enorme processo de desindustrialização abalou profundamente o mundo do trabalho. A produção industrial no Reino Unido contava, em 1979, com mais de 7 milhões de trabalhadores empregados, ocorrendo uma redução para 3,75 milhões em 1995. (p.72).
A partir de 1994, foi-se adotado uma nova postura que visava preservar um traço social-democrático, associado a elementos básicos do neoliberalismo, fazendo surgir a “ Terceira Via”
A “Terceira Via” tem se configurado, portanto, como uma forma de continuidade do que é essencial da fase thatcherista. Isso porque, com o enorme desgaste que o neoliberalismo clássico acumulou ao longo de quase vinte anos, era necessário buscar uma alternativa que preservasse, no essencial, as metamorfoses ocorridas durante aquele período. (p.98).
Em continuidade, Ricardo trata da classe trabalhadora atual, que, “inclui a totalidade daqueles que vendem sua força de trabalho, tendo como núcleo central os trabalhadores produtivos” (p.102). E engloba, também, os trabalhadores improdutivos, cujas formas de trabalho são usadas como serviço para uso público ou para o capitalista. 
Uma noção ampliada de classe trabalhadora inclui, então, todos aqueles e aquelas que vendem sua força de trabalho em troca de salário, incorporando, além do proletariado industrial, dos assalariados do setor de serviços, também o proletariado rural, que vende sua força de trabalho para o capital. Essa noção incorpora o proletariado precarizado, o subproletariado moderno, part time, o novo proletariado dos McDonald’s, os trabalhadores hifenizados de que falou Beynon, os trabalhadores terceirizados e precarizados das empresas liofilizadas de que falou Juan José Castillo, os trabalhadores assalariados da chamada “economia informal”,46 que muitas vezes são indiretamente subordinados ao capital, além dos trabalhadores desempregados, expulsos do processo produtivo e do mercado de trabalho pela reestruturação do capital e que hipertrofiam o exército industrial de reserva, na fase de expansão do desemprego estrutural. Compreender contemporaneamente a classe-que-vive-do-trabalho desse modo ampliado, como sinônimo da classe trabalhadora, permite reconhecer que o mundo do trabalho vem sofrendo mutações importantes. (p.104). 
. Ricardo Antunes discorre em seu livro sobre a interação crescente entre trabalho e conhecimento científico, sobre a interação entre trabalho material e imaterial, sobre trabalho produtivo e improdutivo. Analisa, também, as formas assumidas pela divisão sexual do trabalho, pela nova configuração da classe trabalhadora, e focaliza as formas contemporâneas do estranhamento do trabalho em relação a o que se produze para quem se produz.
Em seguida, o autor retoma que, “ de maneira sintética, a importância da categoria trabalho está em que ela se constitui como fonte originária, primária, de realização do ser social, protoforma da atividade humana, fundamento ontológico básico da omnilateralidade humana” (p.165). Ele destaca, também, que se refere ao trabalho como criador de valores de uso, em sua dimensão concreta, como atividade vital, e não ao trabalho assalariado, fetichizado e estranhado.
Se o trabalho, sob o sistema de metabolismo social do capital, assume uma forma necessariamente assalariada, abstrata, fetichizada e estranhada (dada a necessidade imperiosa de produzir valores de troca para a reprodução ampliada do capital), essa dimensão histórico-concreta do trabalho assalariado não pode, entretanto, ser eternizada e tomada a-historicamente(p. 165)
Numa forma societal emancipada, na qual se encontram superadas as mediações de “segunda ordem”, criadas pelo sistema de metabolismo social capital, a associação livre dos trabalhadores e das trabalhadoras, isto é, sua autoatividade, sua plena autonomia e seu domínio efetivo do ato laborativo, mostra-se como fundamento 166 ontológico para a sua condição de “ser livre e universal”, conforme a bela formulação marxiana presente nos Manuscritos de Paris (p.166).
Finalizando o livro, Antunes apresenta discussões sobre a questão do tempo de trabalho e do tempo livre, enfatizando que a redução da jornada diária de trabalho tem sido uma das mais importantes reivindicações do mundo do trabalho, visto que se constitui em um mecanismo de contraposição à extração do sobretrabalho feita pelo capital.
Com isso entramos em outro ponto que entendo crucial: uma vida cheia de sentido fora do trabalho supõe uma vida dotada de sentido dentro do trabalho. Não é possível compatibilizar trabalho assalariado, fetichizado e estranhado com tempo (verdadeiramente) livre. Uma vida desprovida de sentido no trabalho é incompatível com uma vida cheia de sentido fora do trabalho. Em alguma medida, a esfera fora do trabalho estará maculada pela desefetivação que se dá no interior da vida laborativa (p. 173).
Ademais, o autor explicita a necessidade de uma construção de um novo sistema de metabolismo social, no século XXI, em que o sentido da sociedade seja voltado exclusivamente para o atendimento das efetivas necessidades humanas e sociais; e o exercício do trabalho se torne sinônimo de auto atividade, atividade livre, baseada no tempo disponível. Numa forma de sociabilidade superior, o trabalho, ao reestruturar o ser social, terá desestruturado o capital. E nesse mesmo trabalho autodeterminado, que tornou sem sentido, o capital gerará as condições sociais para o florescimento de uma subjetividade autêntica e emancipada, dando um novo sentido ao trabalho.

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