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SUMÁRIO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DA BNCC .......................................................................................... 5 COMPETÊNCIAS GERAIS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA ................................................................... 5 EDUCAÇÃO INFANTIL ......................................................................................................................... 8 ENSINO FUNDAMENTAL ................................................................................................................. 10 ENSINO MÉDIO ................................................................................................................................. 12 Reforma do ensino médio ...................................................................................................... 13 TEMAS CONTEMPORÂNEOS ........................................................................................................... 15 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 20 PORTAIS CONSULTADOS ................................................................................................................ 21 PROFESSORES-AUTORES ..................................................................................................................... 22 Os fundamentos pedagógicos da BNCC e do currículo no contexto escolar são estabelecidos em ampla base legal, que vai da Constituição às diretrizes específicas para as etapas e modalidades da educação básica. Na BNCC, em particular, é apresentada a noção de competências a serem trabalhadas na educação básica, tanto do ponto de vista do conceito quanto das competências cognitivas e socioemocionais, propriamente ditas, a serem desenvolvidas. A seguir, os itens focam nessa discussão. Competências gerais para a educação básica A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz duas questões relevantes como fundamentos pedagógicos. A primeira é o foco no desenvolvimento de competências. A segunda é o compromisso com a educação integral. É possível afirmar, inclusive, que a educação integral de crianças, jovens e adultos é o objetivo central e ocorre por meio do desenvolvimento de dez competências ao longo da educação básica. Conforme exposto na introdução da BNCC, esse documento indica que as decisões pedagógicas devem estar orientadas para o desenvolvimento de competências. Por meio da indicação clara do que os alunos devem saber (considerando a constituição de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores) e, sobretudo, do que devem saber fazer (considerando a mobilização desses conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho), a explicitação das competências oferece referências para o fortalecimento de ações que assegurem as aprendizagens essenciais definidas na BNCC (BNCC, 2018, p. 13). FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DA BNCC 6 Essas dez competências consubstanciam, no âmbito pedagógico, os direitos de aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes. Nesse documento, “competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e sócio emocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho” (BNCC, 2018, p. 8). As competências definidas pela BNCC podem ser visualizadas no quadro a seguir: BNCC – Dez competências para assegurar o direito à aprendizagem 1. Conhecimento Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 2. Pensamento científico, crítico e criativo Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções – inclusive tecnológicas – com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3. Repertório cultural Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. 4. Comunicação Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos, além de produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Cultura digital Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 7 6. Trabalho e projeto de vida Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais, apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho, e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentação Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 8. Autoconhecimento e autocuidado Conhecer-se, apreciar-se e cuidar da sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana, e reconhecendo as suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Empatia e cooperação Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, os seus saberes, as suas identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 10. Responsabilidade e cidadania Agir, pessoal e coletivamente, com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. Fonte: http://movimentopelabase.org.br/acontece/competencias-gerais-de-bncc/ Como pode ser observado, algumas dessas competências dizem respeito, diretamente, a aspectos cognitivos dos estudantes que precisam ser trabalhados nas etapas da educação básica, como a primeira, que estabelece “valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital” (...). Outras dizem respeito, majoritariamente, a aspectos socioemocionais, como a oitava, que prevê “conhecer-se, apreciar-se e cuidar da sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana”. Também há aquelas que integram essas duas esferas, como a quarta, que orienta “utilizar diferentes linguagens (...), bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos (...)”. http://movimentopelabase.org.br/acontece/competencias-gerais-de-bncc/ 8 Desse modo, a formação integral é objetivo maior a ser perseguido nesse processo. Como afirmado na introdução daBNCC, “a educação básica deve visar à formação e ao desenvolvimento humano global, o que implica compreender a complexidade e a não linearidade desse desenvolvimento, rompendo com visões reducionistas que privilegiam ou a dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva” (BNCC, 2018, p. 14). Educação infantil Conforme a LDB de 1996, a educação infantil “tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, nos seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (Art. 29). Para alcançar esse objetivo, as diretrizes curriculares para essa etapa da educação básica aportam considerações relacionadas ao currículo a ser trabalhado com as crianças. Com expresso nas diretrizes para a educação infantil, “o currículo (…) é concebido como um conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade” (Art. 3o). A BNCC para a educação infantil estabelece seis direitos de aprendizagem para as crianças: 1) conviver, 2) brincar, 3) participar, 4) explorar, 5) expressar e 6) conhecer-se. Tais direitos são organizados para três faixas etárias: 1) bebês, de 0 a 1 ano e 6 meses, 2) crianças bem pequenas, de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses, e 3) crianças pequenas, de 4 anos a 5 anos e 11 meses. Define, ainda, cinco campos de experiências, assim organizados: 1) o eu, o outro e o nós; 2) corpo, gestos e movimentos; 3) traços, sons, cores e formas; 4) escuta, fala, pensamento e imaginação, e 5) espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. Esses direitos de aprendizagem e campos de experiência dialogam, de modo a favorecer o desenvolvimento integral daqueles nas creches e pré-escolas brasileiras. 9 A seguir, a figura ilustra essa organização: Figura 6 – Organização da educação infantil Fonte: BNCC, 2018, p. 25. Vale registrar que a BNCC reitera o previsto nas diretrizes curriculares para a educação infantil, ao apontar as interações e brincadeiras como eixos estruturantes das práticas pedagógicas dessa etapa da educação básica. Por meio desses eixos, “as crianças podem construir e apropriar-se de conhecimentos por meio das suas ações e interações com seus pares e com os adultos, o que possibilita aprendizagens, desenvolvimento e socialização (Brasil, 2018, p. 37). 10 Ensino fundamental Conforme a LBD de 1996, a finalidade do ensino fundamental é a formação básica do cidadão, mediante: I. o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II. a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III. o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV. o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social (Art. 32). Como mencionam Vieira, Vidal e Nogueira (2020), a instituição educativa deve-se organizar com vistas a facilitar o alcance desses objetivos de desenvolvimento e de aprendizagem. Isso requer uma gestão escolar voltada para a aprendizagem. O alinhamento dos professores em torno dessa meta também representa um aspecto estratégico para o sucesso dos estudantes. Para além das questões detalhadas em suas finalidades, essa lei estabelece que “o ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo” (Art. 33). As diretrizes para o ensino fundamental de 9 anos trazem uma importante definição de currículo, segundo as quais esse documento é “constituído pelas experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações sociais, buscando articular vivências e saberes dos alunos com os conhecimentos historicamente acumulados e contribuindo para construir as identidades dos estudantes” (Art. 9). É importante o registro de que: As experiências escolares abrangem todos os aspectos do ambiente escolar: aqueles que compõem a parte explícita do currículo, bem como os que também contribuem, de forma implícita, para a aquisição de conhecimentos socialmente relevantes. Valores, atitudes, sensibilidade e orientações de conduta são veiculados não só́ pelos conhecimentos, mas por meio de rotinas, rituais, normas de convívio social, festividades, pela distribuição do tempo e organização do espaço educativo, pelos materiais utilizados na aprendizagem e pelo recreio, enfim, pelas vivências proporcionadas pela escola (Art. 9, §2). 11 A BNCC organiza o ensino fundamental em cinco áreas do conhecimento: 1) Linguagens, 2) Matemática, 3) Ciências da Natureza, 4) Ciências Humanas e 5) Ensino Religioso. A ideia dessas áreas é favorecer a interação e diálogo entre os conhecimentos dos componentes curriculares que as compõem. São nove os componentes curriculares ao todo, assim denominados: 1) Língua Portuguesa, 2) Arte, 3) Educação Física, 4) Língua Inglesa, 5) Matemática, 6) Ciências, 7) Geografia, 8) História e 9) Ensino Religioso. Enquanto todos os demais componentes estão presentes nos anos iniciais e finais do ensino fundamental, o componente de Língua Inglesa passa a ser obrigatório apenas a partir dos anos finais dessa etapa. A seguir, a figura ilustra esse modo de organização: Figura 7 – Organização do ensino fundamental Fonte: BNCC, 2018, p. 27. 12 Conforme o documento legal, cada área do conhecimento possui competências específicas, que devem ser desenvolvidas ao longo do ensino fundamental de 9 anos, junto com as dez competências gerais para a educação básica. Naquelas áreas com mais de um componente curricular, ainda existem competências por componentes. Por fim, para desenvolver tais competência, são definidas habilidades. “Essas habilidades estão relacionadas a diferentes objetos de conhecimento – aqui, entendidos como conteúdos, conceitos e processos –, que, por sua vez, são organizados em unidades temáticas” (BNCC, 2018, p. 28). Ensino médio Conforme a LDB de 1996, a finalidade do ensino médio é: I. a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II. a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III. o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV. a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina (Art. 35). As diretrizes curriculares específicas para essa etapa destacam a organização curricular em uma base comum e uma parte diversificada, que devem ser integradas ao longo da formação dos estudantes. São apresentados os componentes curriculares obrigatórios da formação, já presentes na LDB de 1996 e também reiterados no âmbito da BNCC. A BNCC organiza o ensino médio em quatro áreas do conhecimento: 1) Linguagens e suas Tecnologias, 2) Matemática e suas Tecnologias, 3) Ciências da Natureza e suas Tecnologias e 4) Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Língua Portuguesa e Matemática são os dois componentes curriculares que devem ser oferecidos ao longo dos três anos dessa etapa da educaçãobásica. São detalhadas habilidades para esses componentes, mas para o ensino médio de um modo geral, e não por série. 13 Figura 8 – Organização do ensino médio Fonte: BNCC, 2018, p. 32. A construção e implementação da base para o ensino médio é parte de uma reforma maior proposta para essa etapa da educação básica. Dada a sua relevância, tal reforma será discutida de modo mais detalhado no item a seguir. Reforma do ensino médio O novo ensino médio prevê quatro principais ações estruturantes: a implementação da Base Nacional Comum Curricular, a implementação da escolha por itinerários formativos, a formação técnica profissional no ensino regular, e a ampliação e distribuição da carga horária. 14 A Lei nº 13.415/20171 alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, ampliando a carga horária mínima do educando, nessa etapa do ensino, de 2.400 para 3.000 horas, considerando a sua efetivação nas redes públicas e privadas até o ano de 2022. Além disso, a oferta de uma organização curricular mais flexível, que ofereça aos estudantes diferentes possibilidade de escolhas por meio de cinco itinerários formativos, com foco nas áreas de conhecimento e na formação técnica e profissional. Segundo o MEC (2017), os itinerários formativos são o conjunto de disciplinas, projetos, oficinas, núcleos de estudo, entre outras situações de trabalho, que os estudantes poderão escolher no ensino médio. Os itinerários formativos podem se aprofundar nos conhecimentos de uma área do conhecimento (Matemáticas e suas Tecnologias, Linguagens e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas) e da formação técnica e profissional (FTP) ou mesmo nos conhecimentos de duas ou mais áreas e da FTP. As redes de ensino terão autonomia para definir quais os itinerários formativos irão ofertar, considerando um processo que envolva a participação de toda a comunidade escolar. Além da Lei nº 13.415/2017, citada anteriormente, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e do Plano Nacional de Educação (PNE), os principais documentos normativos que regulamentam o novo ensino médio são: as Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino médio (DCNEM) – normas criadas pelo Conselho Nacional de Educação que trazem orientações e definições; a Portaria que estabelece Referenciais Curriculares para a Elaboração de Itinerários Formativos (Portaria nº 1.432/2018) – um material de suporte que esclarece a construção dos itinerários formativos com base nos 4 eixos estruturantes; a Portaria do Programa de Apoio ao novo ensino médio (Portaria nº 649/2018), que institui e estabelece diretrizes e parâmetros objetivando apoiar as redes de ensino com suporte técnico e financeiro para implementação das mudanças do novo ensino médio; a Portaria da avaliação de impacto do Programa de Fomento às Escolas de ensino médio em Tempo Integral – EMTI (Portaria nº 1.023/2018) –, que estabelece diretrizes, parâmetros e critérios para a realização de avaliação de impacto e a seleção de novas unidades escolares para o Programa; 1 Lei nº 13.415/2017: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13415.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13415.htm 15 a Portaria do Programa Dinheiro Direto na Escola às unidades escolares pertencentes às Secretarias participantes do Programa de Apoio ao Novo ensino médio e às unidades escolares participantes da avaliação de impacto do Programa de Fomento às Escolas de ensino médio em Tempo Integral – EMTI (Portaria nº 1.024/2018) –, que define as diretrizes do apoio financeiro; a Resolução FNDE nº 21/2018 (PDDE Novo ensino médio), que regulamenta os moldes operacionais do Programa Dinheiro Direto na Escola, a fim de apoiar a implementação do novo ensino médio e a realização da avaliação de impacto nas Escolas de ensino médio em Tempo Integral, e o Documento Orientador – Programa de Apoio ao Novo ensino médio, que detalha as diretrizes, parâmetros e cronograma. Esses e outros documentos poder ser encontrados no Portal Novo ensino médio, criado pelo MEC para orientar gestores em relação aos marcos legais2 e, também, com um guia de implementação3. O uso da educação a distância no ensino médio foi um item que gerou grande polêmica e merece destaque. De acordo com as normas estabelecidas, é possível lançar mão de até 20% da carga horária total do ensino médio diurno nessa modalidade de ensino, até 30% do ensino médio noturno e até 80% da carga horária da educação de jovens e adultos (Art. 17, § 5 e § 15). No entanto, a questão da conectividade ainda é um entrave tanto para escolas quanto para educandos. Temas contemporâneos Ao versar sobre o pacto interfederativo e a implementação da BNCC, o texto legal apresenta um conjunto de temas contemporâneos que fazem parte da vida das pessoas, seja em um contexto local, seja em um contexto nacional ou internacional. Esses temas são objeto de legislação específica no Brasil, desde leis da década de 1990 até pareceres do Conselho Nacional de Educação da década de 2010. Na própria BNCC, essas questões são tratadas nas habilidades dos componentes curriculares. Conforme apontado no documento, tais temas devem ser contemplados também nos currículos dos sistemas e redes de ensino bem como nas propostas pedagógicas das escolas, dada a sua relevância para a existência e o convívio na sociedade. Devem, ainda, ser trabalhados de modo transversal nas várias áreas do conhecimento e componentes curriculares. 2 Marco legal novo ensino médio: http://novoensinomedio.mec.gov.br/#!/marco-legal 3 Guia de implementação do novo ensino médio: http://novoensinomedio.mec.gov.br/#!/guia http://novoensinomedio.mec.gov.br/#!/marco-legal http://novoensinomedio.mec.gov.br/#!/guia 16 Esses temas e as suas respectivas fundamentações legais no Brasil são: direitos da criança e do adolescente (Lei nº 8.069/1990), educação para o trânsito (Lei nº 9.503/1997), educação ambiental (Lei nº 9.795/1999, Parecer CNE/CP nº 14/2012 e Resolução CNE/CP nº 2/2012), educação alimentar e nutricional (Lei nº 11.947/2009), processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso (Lei nº 10.741/2003), educação em direitos humanos (Decreto nº 7.037/2009, Parecer CNE/CP nº 8/2012 e Resolução CNE/CP nº 1/2012), educação das relações étnico- raciais e ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e indígena (Leis nº 10.639/2003 e 11.645/2008, Parecer CNE/CP nº 3/2004 e Resolução CNE/CP nº 1/2004), bem como saúde, vida familiar e social, educação para o consumo, educação financeira e fiscal, trabalho, ciência e tecnologia e diversidade cultural (Parecer CNE/CEB nº 11/2010 e Resolução CNE/CEB nº 7/2010) (BNCC, p.19-20). Em material complementar sobre temas contemporâneos transversais na BNCC, que traz proposta de práticas de implementação, o Ministério da Educação classifica tais temas em seis macroáreas temáticas, conforme ilustra a figura a seguir: Figura 9 – Temas contemporâneos transversais na BNCC Fonte: Brasil, 2019, p. 7. 17 Conforme exposto no guia sobre a temática desenvolvido pelo MEC, “ao contextualizar o que é ensinado em sala de aula juntamente com os temas contemporâneos, espera-se aumentar o interesse dos estudantes durante o processo e despertar a relevância desses temas no seu desenvolvimento como cidadão” (Brasil, 2019, p. 4). Além disso, o texto resume a finalidade dessas temáticas: O maior objetivo dessa abordagem é que o estudante conclua a sua educação formal reconhecendo e aprendendo sobre os temas que são relevantes para a sua atuação na sociedade. Assim, espera-se que a abordagem dos Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) permita ao estudante compreender questões diversas, tais como cuidar do planeta, a partir do território em que vive; administrar o seu dinheiro;cuidar da sua saúde; usar as novas tecnologias digitais; entender e respeitar aqueles que são diferentes e quais são seus direitos e deveres como cidadão, contribuindo para a formação integral do estudante como ser humano, sendo essa uma das funções sociais da escola (idem). Os temas contemporâneos citados pela BNCC são estratégicos para a vida em sociedade e, a partir deles, diferentes conceitos podem ser inseridos nas discussões pedagógicas. Os direitos da criança e do adolescente, por exemplo, figuram na legislação desde a década de 1990 e, apesar dos muitos avanços obtidos, assegurá-los ainda constitui um desafio ao poder público. Em sala de aula, podem ser tratados os “direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária” (Lei nº 8.069/1990, Art. 4o). No âmbito da educação para o trânsito, podem ser tratadas não apenas as regras básicas de conduta e de sinalização no trânsito mas também questões como o respeito ao outro, o procedimento consciente e seguro como pedestre, entre outros. Pode-se mencionar a questão do lixo e a sua relação com o trânsito, a questão da violência no trânsito e como evitá-la, entre outros assuntos. A escola pode criar ou divulgar campanhas educativas junto aos seus estudantes, promovendo a conscientização de todos sobre essas questões na vida cotidiana. A educação ambiental é uma temática de alta relevância, cuja compreensão e mudança de práticas está cada vez mais urgente. A lei que dispõe sobre o assunto estabelece que a educação ambiente envolve “os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (Lei nº 9.795/1999, Art. 1º). A sua relevância é tamanha para a vida em sociedade que a mesma lei disciplina que esse é um componente da educação formal e não formal, em todos os seus níveis e modalidades (Art. 2o). Em sala de aula, podem ser abordadas questões relacionadas à preservação do meio ambiente, ao uso consciente dos recursos naturais, às especificidades da água e da energia, à reciclagem e muitas outras temáticas relevantes. 18 A educação alimentar e nutricional também figura como tema de destaque, sobretudo com a emergência de doenças associadas a uma prática alimentar inadequada, como pressão alta, diabetes e obesidade. Podem e devem ser abordadas práticas de alimentação saudável, mudança de hábitos que trabalhem a saúde preventiva, nutritiva e balanceada. Os conteúdos devem ir além da informação, chegando à conscientização. Atividades práticas são muito interessantes bem como a vivência da alimentação escolar de qualidade nutricional. Temas como higiene, doenças, vitaminas e outros são de interesse nessa matéria. O conhecimento sobre processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso também tem relevância no contexto da vida em sociedade e deve estar presente nas escolas públicas e privadas do País. Essa temática, assim como as demais, está bem relacionada à da educação em direitos humanos. Sobretudo em contextos em que predominam informações distorcidas do que consiste na defesa de tais direitos, cabe às escolas esclarecer e informar sobre a sua real missão e finalidades. O combate ao bullying, a apreciação à diversidade e o respeito ao outro são elementos que necessitam ser trabalhados no contexto escolar. Tema da mais alta relevância é a educação das relações étnico-raciais e o ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e indígena. O respeito à diversidade, de um lado, e o conhecimento das contribuições aportadas pelas diferentes etnias e raças à economia e à cultura nacional, de outro, podem contribuir para a construção de uma sociedade mais respeitosa, pacífica, justa e igualitária. Outras questões que merecem tratamento especial são a saúde, vida familiar e social, educação para o consumo, educação financeira e fiscal, trabalho, ciência e tecnologia e diversidade cultural. Em relação à vida familiar e social, problemas como a violência e o uso de drogas, entre outros, precisam ser abordados. Aspectos como a manutenção de tradições e o bom uso do tempo de convívio em casa e na sociedade também fazem parte desse terreno. No que diz respeito à educação financeira, o seu valor pode ser destacado tanto do ponto de vista individual como coletivo. A conscientização sobre o excesso de consumismo e o combate a corrupção ilustram temas essenciais desse campo. Por fim, uma educação que instrumentaliza para a vida não pode deixar de lado os temas do trabalho, da ciência e da tecnologia. Os conhecimentos tecnológicos e científicos podem auxiliar na solução do problema do acesso a uma cidadania plena, à cultura, ao saber e ao trabalho. Considerar e incluir esses temas, nas atividades pedagógicas, de modo transversal é um desafio importante, que vale ser enfrentado em função da sua importância. Essa forma de aproximação das temáticas não é nova, estando presente também em outros documentos educacionais brasileiros, como é o caso dos Parâmetros Curriculares da Educação (PCN). Em tais documentos, estavam presentes temas relacionados à cidadania, como: “ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual, trabalho e consumo e pluralidade cultural” (Menezes, 2001, p. 1). 19 Menezes (2001) caracteriza os temas transversais como aqueles que “correspondem a questões importantes, urgentes e presentes sob várias formas nas vidas cotidianas” (p. 1). Para o autor, “são assim adjetivados por não pertencerem a nenhuma disciplina específica, mas atravessarem todas elas como se a todas fossem pertinentes” (idem). Desse modo, podem ser abordados em projetos que envolvem mais de um componente curricular nas escolas, por exemplo. Nos PCN, havia uma boa caracterização do que é a transversalidade, diferenciando-a, inclusive, de outras abordagens, como a interdisciplinaridade. Conforme o autor antes referido: A proposta de transversalidade pode acarretar algumas discussões do ponto de vista conceitual como, por exemplo, a da sua relação com a concepção de interdisciplinaridade. De acordo com os PCNs, apesar de ambas apontarem a complexidade do real e a necessidade de se considerar a teia de relações entre os seus diferentes e contraditórios aspectos, diferem uma da outra, uma vez que a interdisciplinaridade refere-se a uma abordagem epistemológica dos objetos de conhecimento, enquanto a transversalidade diz respeito principalmente à dimensão da didática (p. 1). Também há uma explicação sobre as diferenças e complementaridades de abordagens intradisciplinares, interdisciplinares e transdisciplinares no guia elaborado pelo MEC. A figura, a seguir, ilustra o grau crescente de complexidade ao tratar dos temas contemporâneos: Figura 10 – Formas de abordagem dos conteúdos Fonte: Brasil, 2019 (p. 9). Conforme explicado, essa proposta metodológica busca relacionar os diferentes componentes curriculares por meio desses temas, de modo que os estudantes ressignifiquem os conhecimentos obtidos e os integrem a um contexto social mais amplo. Desse modo, “as propostas estão vinculadas à perspectiva do conhecimento globalizado e relacional e buscam articular os conhecimentos escolares, organizar as atividades de ensino, mas não de uma forma rígida, nem, necessariamente, em função de referências disciplinares preestabelecidas” (Brasil, 2019, p. 9). 20 BIBLIOGRAFIA BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. BRASIL. Diretrizes curriculares para a educação básica. Brasília, MEC, 2013. CANDAU, Vera Maria. Multiculturalismo e educação: desafios para a prática pedagógica. In: MOREIRA, Antonio Flavio; CANDAU, Vera Maria. Multiculturalismo:diferenças culturais e práticas pedagógicas. 10. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. FERNANDES, José Henrique Paim; VIEIRA, Sofia Lerche; NOGUEIRA, Jaana Flávia Fernandes Nogueira. Ensino médio no Brasil: trajetória e implementação da proposta de reforma contemporânea. In: FERNANDES, José Henrique Paim; FERREIRA, Marieta de Moraes; NOGUEIRA, Jaana Flávia Fernandes. O novo ensino médio e os itinerários formativo. Rio de Janeiro: FGV, 2020 (mimeo). LIBANEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 6. ed. São Paulo: Heccus, 2015. LOPES, Alice Casimiro; MACEDO, Elizabeth. Contribuições de Stephen Ball para o estudo de políticas de currículo. BALL, Stephen; MAINARDES, Stephen J. Políticas educacionais: questões e dilemas. São Paulo: Cortez, 2011. MENEGOLLA, Maximiliano; SANT’ANNA, Ilza Martins. Por que planejar? Como planejar? Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete temas transversais. Dicionário Interativo da Educação Brasileira – Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001. Disponível em: https://www.educabrasil.com.br/temas-transversais. Acesso em: jan. 2020. MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa; CÂMARA, Michelle Januário. 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Portais consultados http://basenacionalcomum.mec.gov.br https://www.cenpec.org.br/ http://www.consed.org.br/ https://www.mec.gov.br/ http://movimentopelabase.org.br http://novoensinomedio.mec.gov.br/#!/pagina-inicial http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm https://www.todospelaeducacao.org.br/ https://undime.org.br/ http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ https://www.cenpec.org.br/ http://www.consed.org.br/ https://www.mec.gov.br/ http://movimentopelabase.org.br/ http://novoensinomedio.mec.gov.br/#!/pagina-inicial http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm https://www.todospelaeducacao.org.br/ https://undime.org.br/ 22 PROFESSORES-AUTORES Jaana Flávia Fernandes Nogueira é licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), especialista em Gestão Pública pela Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), mestre em Educação pela Universidade de Brasília (UnB) e doutora em Educação pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). É técnica em assuntos educacionais do Ministério da Educação (MEC), desde 2005, estando licenciada atualmente. Atua como coordenadora no Centro de Desenvolvimento da Gestão Pública e Políticas Educacionais (GDGPE), da Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro. Vinícius Farias Santos é licenciado em Português e Literatura pela Unigranrio, possui MBA em Gestão Empresarial pela FGV e mestrado executivo em gestão empresarial pela FGV. É gerente de novos negócios da FGV, professor de cursos do CADEMP, FGV, e professor (licenciado) de Língua Portuguesa do Município do Rio de Janeiro. SUMÁRIO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DA BNCC Competências gerais para a educação básica Educação infantil Ensino fundamental Ensino médio Reforma do ensino médio Temas contemporâneos BIBLIOGRAFIA Portais consultados PROFESSORES-AUTORES