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Prévia do material em texto

O	Apocalipse	para	leigos
	
—	você	pode	entender	a	profecia	bíblica	—
	
	
	
	
Kenneth	L.	Gentry	Jr.,	Th.D.
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
Dedicado	a
Steve	Hill
—	fiel	servo	de	Cristo,
meu	bom	amigo.
	
Sumário
Prefácio	à	segunda	edição
Prefácio
Abreviaturas	de	escritos	antigos
1.	Expectativa	e	interpretação
A	expectativa	de	João
A	interpretação	de	João
A	confirmação	de	João
Conclusão
2.	Tema	e	fluxo	literário
Tema	literário
Fluxo	temático	do	julgamento
Conclusão
3.	A	besta	e	sua	fúria
Introdução
O	tempo	da	besta
A	localização	da	besta
A	autoridade	da	besta
A	cronologia	da	besta
O	caráter	da	besta
O	número	da	besta
A	ação	da	besta
A	ressurreição	da	besta
Conclusão
4.	A	meretriz	e	a	noiva
O	tema	do	Apocalipse
A	grande	cidade
A	questão	da	proeminência	histórica
O	sangue	dos	santos
As	vestes	da	prostituta
O	padrão	de	nomeação
João	aplica	nomes	pagãos
João	denuncia	Satanás
O	contraste	literário
A	apresentação	das	mulheres
Conclusão
5.	Julgamentos	principais	e	seus	significados
A	queda	das	montanhas	e	esconderijos	nas	cavernas
O	sangue	correndo	e	os	freios	dos	cavalos
Conclusão
6.	O	milênio	e	as	ressurreições
O	reino	milenar	De	Cristo
Os	mil	anos
A	prisão	de	Satanás
O	reino	de	Cristo
As	duas	ressurreições
7.	A	nova	criação	e	a	igreja
A	nova	criação	declarada
A	descrição	da	nova	noiva
A	ausência	de	templo
Conclusão
Conclusão
Princípios	básicos
Personagens	e	ações	principais
Concordância	do	Novo	Testamento
Bibliografia
Prefácio	à	segunda	edição
	
Sou	 grato	 pela	 recepção	 entusiasmada	 da	 primeira	 edição	 de	 O	 Apocalipse	 para	 leigos.	 Também
agradeço	 a	 disposição	 da	 American	 Vision	 de	 publicar	 esta	 nova	 edição.	 Neste	 novo	 prefácio,
apresentarei	uma	breve	explicação	da	necessidade	da	nova	versão.
Depois	 de	 cinco	 anos	 de	 intensa	 pesquisa	 e	 escrita,	 acabo	 de	 completar	 o	 rascunho	 do	 meu
comentário	de	1500	páginas	sobre	o	Apocalipse.	Pelo	fato	de	eu	ter	 trabalhado	todos	os	versículos	do
Apocalipse	 com	 profundidade,	 descobri	 alguns	 elementos	 de	 minha	 compreensão	 anterior	 que
precisavam	de	correção.	De	forma	específica,	fiz	algumas	mudanças	importantes	na	minha	compreensão
de	Apocalipse	20,	o	grande	capítulo	em	torno	do	qual	o	debate	milenar	se	concentra.	Assim,	corrigi	o
capítulo	6	da	primeira	edição:	“O	milênio	e	a	nova	criação”.
Dada	a	necessidade	de	trazer	mais	material	para	o	debate	de	Apocalipse	20,	decidi	transformar	o
capítulo	6	da	primeira	edição	em	dois	capítulos.	Assim,	nesta	edição,	o	capítulo	6	é	agora	intitulado:	“O
milênio	e	as	ressurreições”,	e	o	capítulo	7	agora	se	chama:	“A	nova	criação	e	a	igreja”.
Nenhuma	das	minhas	convicções	preteristas	 foi	 alterada	por	 essas	mudanças.	Na	verdade,	 elas
foram	fortalecidas.	Caso	você	tenha	lido	a	primeira	edição	do	meu	livro,	espero	que	você	considere	as
mudanças	encontradas	aqui	úteis.
	
―	Kenneth	L.	Gentry	Jr.,	Th.	D.
	Dia	do	Trabalho,	2010
Prefácio
	
Ambrose	 Bierce	 definiu	 o	 vocábulo	 “apocalipse”	 em	 The	 Devil’s	 Dictionary	 [Dicionário	 do	 diabo]
como	 um	 “livro	 famoso	 em	 que	 João	 ocultou	 todo	 o	 seu	 conhecimento.	 A	 revelação	 é	 feita	 pelos
comentaristas	que	nada	sabem”.	O	Apocalipse	é	tão	difícil	e	requer	tanto	conhecimento	técnico	que	um
teólogo	 já	 reclamou	 que	 os	 comentários	 do	Apocalipse	muitas	 vezes	 são	 como	 um	 buraco	 negro,	 tão
densos	que	nenhuma	luz	lhes	pode	escapar.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Uma	das	grandes	 ironias	da	Escritura	é	que	 seu	 livro	mais	difícil	 chama-se	“Apocalipse”
[”revelação”,	 em	 grego].	 “Revelar”	 significa	 “descobrir,	 abrir”	—	 com	 vistas	 à	 compreensão.	 Como
pode	um	livro	tão	intrincado	como	esse	ser	chamado	“revelação”?	Se	déssemos	nome	ao	livro,	em	vez	de
chamá-lo	 “Revelação	 de	 Jesus	 Cristo”,	 poderíamos	 ser	 tentados	 a	 intitulá-lo	 “Mistério	 do	 apóstolo
João”.	Na	verdade,	de	tempos	em	tempos,	o	próprio	João	fica	perplexo	e	confuso	(Ap	7.13,14;	17.6,7;
19.10;	22.8,9).
														Uma	das	surpresas	constantes	da	experiência	pastoral	é	o	profundo	interesse	do	novo	convertido
em	estudar	o	Apocalipse.	A	fascinação	com	seus	mistérios	não	se	limita	aos	bem	preparados	em	estudos
cristãos,	prontos	para	as	coisas	mais	profundas	de	Deus.	Essa	curiosidade	percorre	todo	o	caminho	de
volta	até	os	crentes	mais	novos	em	Cristo.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Uma	 das	 grandes	 decepções	 do	 exegeta	 cristão	 sério	 consiste	 na	 quase	 inutilidade	 da
proliferação	de	literatura	sobre	o	Apocalipse.	Quando	combinamos	a	natureza	misteriosa	do	Apocalipse
com	a	fascinação	contínua	por	ele,	o	mercado	está	pronto	para	gerar	todo	tipo	de	supostos	“especialistas
em	profecias”	para	atender	à	demanda.	Em	vez	de	nutrir-se	com	o	puro	leite	da	Palavra,	não	raro	o	novo
cristão	é	alimentado	com	um	milk-shake	de	interpretações	confusas	sobre	o	Apocalipse.
			 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Neste	pequeno	estudo,	você	descobrirá	as	chaves	absolutamente	essenciais	para	destravar	a
mensagem	 de	 João,	 os	 marcos	 necessários	 para	 seguir	 seu	 sinuoso	 caminho,	 e	 as	 identificações
requeridas	para	discernir	suas	figuras	principais	e	seus	papéis.	Não	oferecerei	uma	exposição	completa
do	texto;	em	vez	disso,	eu	me	concentrarei	nas	chaves	necessárias	para	abrir	seu	significado.[1]	Espero
que	este	 texto	 introdutório	 ajude-o	 a	 entender	o	 significado	 fundamental	 e	 a	 força	propulsora	geral	 do
Apocalipse,	pois	só	assim	você	estará	preparado	para	se	engajar	na	exposição	detalhada	do	texto.
	
―	Kenneth	L.	Gentry	Jr.,	Th.M.,	Th.D.
Autor	de	Before	Jerusalem	Fell	[Antes	de	Jerusalém	cair]
Diretor	de	NiceneCouncil.Com
Abreviaturas	de	escritos	antigos
	
Asc.	Is.																												Ascension	of	Isaiah	[Ascensão	de	Isaías]
1	Clem																												1	Clement	[1	Clemente]
Sib.	Or.																												Sibylline	Oracles	[Oráculos	sibilinos]
	
Dião	Cássio
Rom.	Hist.														Roman	History	[História	romana]
	
Josefo
Ag.	Ap.															Against	Apion	[Contra	Apião]
Ant.																												Jewish	Antiquities	[Antiguidades	judaicas]
War																												Jewish	War	[Guerra	dos	judeus]
	
Juvenal
Sat.																												Satires	[Sátiras]
	
Fílon
Embassy														On	the	Embassy	to	Gaius	[Embassy	a	Gaio]
	
Filostrato
Vit.																												Vita	Apollonii	[Vida	de	Apolônio]
	
Plínio
Nat.	Hist.														Natural	History	[História	natural]
	
Suetônio
Lives																												Lives	of	the	Twelve	Caesars	[A	vida	dos	doze	césares]
Nero																												Nero
Vesp.																												Vespasian	[Vespasiano]
	
Tácito
Ann.																												Annals	[Anais]
Hist.																												The	Histories	[Histórias]
	
	
1.	Expectativa	e	interpretação
	
Neste	 capítulo	 apresentarei	 duas	 questões	 vitais	 e	 fundamentais	 para	 o	 entendimento	 adequado	 do
Apocalipse.	 No	 próximo	 capítulo,	 focarei	 no	 tema	 exposto	 por	 João,	 e	 então	 traçarei	 em	 pinceladas
amplas	como	seu	 tema	se	desdobra	no	Apocalipse.	Por	conseguinte,	os	dois	primeiros	capítulos	 têm	o
objetivo	de	prover	as	ferramentas	básicas	para	o	manejo	do	Apocalipse.
As	 duas	 questões	 tão	 cruciais	 para	 captar	 a	 intenção	 de	 João	 são:	 1)	 a	 afirmação	 de	 sua
expectativa	sobre	quando	suas	profecias	transcorrerão;	e	2)	o	método	declarado	relativo	a	como	as	suas
profecias	 devem	 ser	 interpretadas.	Como	 veremos,	 essas	matérias	 são	 essenciais	 para	 “manejar	 bem”
essa	 porção	 da	 Palavra	 da	 verdade	 (2Tm	 2.15).	 Embora	 elas	 possam	 surpreendê-lo,	 insto	 você	 a
examinar	as	Escrituras	para	ver	se	as	coisas	são	assim	(At	17.11).
Surpreendentemente,	 as	duas	matérias	 encontram-se	no	capítulo	 inicial	de	 João.	Elas	não	estão
escondidas	 atrás	 de	 todo	 o	 drama	 fantástico	 no	 centro	 do	 palco,	 perdidas	 sob	 o	 brilho	 de	 imagens
aterradoras.	Infelizmente,	no	entanto,	o	entusiasta	moderno	do	Apocalipse	tende	a	passar	rápido	por	elas
no	desejo	de	“chegar	logo	à	boa	parte”	dos	capítulos	posteriores.	Porém,	tão	logo	essas	duasquestões
sejam	 consideradas	 com	 cuidado,	 elas	 simplificarão	 e	 revolucionarão	 seu	 entendimento	 do	 livro,	 que
então	se	tornará	uma	“revelação”	para	você	de	verdade.
	
A	EXPECTATIVA	DE	JOÃO
Antes	de	eu	anunciar	a	expectativa	de	João,	elaborarei	meu	argumento	para	dá-lo	a	conhecer	em	seguida.
O	Apocalipse,	como	a	maioria	das	epístolas	do	Novo	Testamento,	é	um	escrito	“peculiar”.	Um
escrito	peculiar	lida	de	forma	direta	com	a	ocasião	e	as	circunstâncias	históricas	do	público	originário.
Por	exemplo,	em	1	Coríntios,	Paulo	orienta	como	a	igreja	de	Corinto	deve	lidar	com	diversos	problemas
que	 tanto	feriram	essa	comunidade.	Quando	ele	escreve	que	alguém	lá	se	relaciona	sexualmente	com	a
mulher	do	próprio	pai	(1Co	5.1),	Paulo	não	está	declarando	um	princípio	universal	prevalente	em	todas
as	igrejas.	De	fato,	 trata-se	de	uma	ocorrência	bem	rara	e	particular	dos	coríntios.	Entender	a	situação
histórica	do	público	originário	de	João	é	de	importância	fundamental	para	compreender	a	intenção	dele.
	
A	relevância	do	público
O	primeiro	passo	para	chegar	à	intenção	de	João	é	reconhecer	seu	público.	Como	veremos,	o	Apocalipse
foi	escrito	para	um	grupo	particular	de	pessoas.
	
As	igrejas	destinatárias
No	 Apocalipse,	 João	 escreve	 uma	 carta	 (veja	 Ap	 2-3)	 para	 quem	 ele	 conhecia	 e,	 de	 certo	 modo,
enfatizava	 suas	 circunstâncias	históricas	peculiares.	Devemos	nos	 colocar	 de	 fato	no	 lugar	 do	público
originário	para	sentir	a	plena	força	do	seu	ensino.	João	nomeia	com	especificidade	as	igrejas	às	quais	ele
envia	o	Apocalipse:
João,	às	sete	igrejas	que	se	encontram	na	Ásia,	graça	e	paz	a	vós	outros,	da	parte	daquele	que	é,	que	era	e	que	há	de	vir,	da	parte
dos	sete	Espíritos	que	se	acham	diante	do	seu	trono.	(Ap	1.4)
O	que	vês	escreve	em	livro	e	manda	às	sete	igrejas:	Éfeso,	Esmirna,	Pérgamo,	Tiatira,	Sardes,	Filadélfia	e	Laodiceia.	(Ap	1.11)
Nós	não	apenas	conhecemos	essas	cidades	a	partir	de	fontes	antigas,	mas	até	sabemos	que	a	ordem	de	seu
aparecimento	no	Apocalipse	 segue	uma	 rota	postal	 romana	conhecida.[2]	Essas	 são	 cidades	históricas
que	contêm	igrejas	históricas	do	século	I.
														Nos	capítulos	2	e	3,	João	endereça	cartas	curtas	a	cada	uma	delas.	Nelas,	descobrimos	várias
referências	históricas,	geográficas,	políticas,	culturais	e	religiosas	que	se	encaixam	com	perfeição	no	que
se	sabe	sobre	essas	regiões.[3]	Esses	são	cristãos	reais	do	século	I.	Devemos	manter	essa	informação	em
mente.
	
As	igrejas	aflitas
João	não	 escreve	 apenas	 para	 igrejas	 reais	 do	 século	 I;	 as	 igrejas	 passavam	por	 grandes	 sofrimentos.
Também	descobrimos	esse	fato	no	primeiro	capítulo:
Eu,	João,	irmão	vosso	e	companheiro	na	tribulação,	no	reino	e	na	perseverança,	em	Jesus,	achei-me	na	ilha	chamada	Patmos,
por	causa	da	palavra	de	Deus	e	do	testemunho	de	Jesus.	(Ap	1.9)
De	fato,	ao	longo	de	todo	o	Apocalipse,	discernimos	o	tema	do	mártir,	ao	suportar	as	“tribulações”	e	a
necessidade	de	“perseverança”	(p.	ex.,	Ap	2.9,10;	3.9,10;	6.9-11;	11.7,8,11-13,18;	12.10;	13.10;	14.11-
13;	 16.5,6;	 17.6;	 18.20,24;	 19.2;	 20.4,6).	 Essas	 pessoas	 sofrem	 bastante.	 Por	 exemplo,	 depois	 no
capítulo	6,	encontramos	as	bênçãos	especiais	de	Deus	sobre	os	assassinados	por	sua	fé:
Quando	ele	abriu	o	quinto	selo,	vi,	debaixo	do	altar,	as	almas	daqueles	que	tinham	sido	mortos	por	causa	da	palavra	de	Deus	e	por
causa	do	testemunho	que	sustentavam.	Clamaram	em	grande	voz,	dizendo:	Até	quando,	ó	Soberano	Senhor,	santo	e	verdadeiro,	não
julgas,	nem	vingas	o	nosso	sangue	dos	que	habitam	sobre	a	terra?	Então,	a	cada	um	deles	foi	dada	uma	vestidura	branca,	e	lhes
disseram	que	repousassem	ainda	por	pouco	tempo,	até	que	também	se	completasse	o	número	dos	seus	conservos	e	seus	 irmãos
que	iam	ser	mortos	como	igualmente	eles	foram.	(Ap	6.9-11)
Assim,	João	não	apenas	escreve	às	igrejas	do	século	I,	mas	a	igrejas	em	circunstâncias	terríveis.	O	que
João	espera	dessas	igrejas	em	sofrimento	enquanto	escreve	o	Apocalipse?
	
As	igrejas	instruídas
Quando	João	inicia	sua	carta	às	sete	igrejas,	ele	declara	com	ênfase	a	intenção	de	que	elas	o	entendam.
De	fato,	o	versículo	inicial	(de	onde	se	retirou	o	nome	do	livro)	diz:
Revelação	[apokalypsis]	de	Jesus	Cristo,	que	Deus	lhe	deu	para	mostrar	aos	seus	servos	[…]	que	ele,	enviando	por	intermédio
do	seu	anjo,	notificou	ao	seu	servo	João.	(Ap	1.1)
Ele	expressamente	afirma	a	pretensão	de	“revelar”,	“mostrar”,	“notificar”	algo	a	elas	—	e	não	esconder
informações	delas.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Assim,	dois	versículos	adiante,	 ele	 as	 instrui	 a	ouvir	 com	entendimento,	para	que	possam
guardar	as	obrigações	encontradas	no	livro:
Bem-aventurados	aqueles	que	leem	e	aqueles	que	ouvem	as	palavras	da	profecia	e	guardam	as	coisas	nela	escritas.	(Ap	1.3a)
Elas	devem	“ouvir”	e	“guardar”,	o	que	com	obviedade	requer	que	entendam.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Assim,	 João	 escreve	 às	 igrejas	 originárias	 do	 século	 I	 que	 sofrem,	 a	 fim	 de	 lhes	 dar
direcionamentos	que	devem	ser	entendidos,	e	que	devem	agir	de	acordo	com	eles.	Como	nós	veremos,
isso	se	torna	parte	crucial	da	evidência	para	captar	a	expectativa	de	João.
	
Expectativa	contemporânea
Talvez	tenhamos	chegado	agora	à	questão	mais	importante	para	entender	com	adequação	o	Apocalipse.
Creio	 que,	 para	 compreender	 o	 livro,	 você	 precise	 começar	 pelos	 três	 primeiros	 versículos.	 João
informa	a	seus	leitores,	de	forma	expressa,	esperar	que	os	acontecimentos	profetizados	ocorram	logo.
Vamos	observar	três	ângulos	que	enfatizam	sua	preocupação	imediata.
	
As	várias	expressões	de	João
João	 usa	 dois	 termos	 quando	 menciona	 sua	 expectativa	 temporal:	 “em	 breve”	 (gr.,	 en	 tachei)	 e
“próximo”	(gr.,	engys).	Se,	por	alguma	razão,	o	seu	público	original	não	conseguisse	entender	um	termo,
eles	tinham	outro	por	perto	para	elucidar.
A	palavra	traduzida	como	“em	breve”	aparece	como	a	explicação	pela	qual	ele	lhes	escreve:
Revelação	de	Jesus	Cristo,	que	Deus	lhe	deu	para	mostrar	aos	seus	servos	as	coisas	que	em	breve	devem	acontecer	e	que	ele,
enviando	por	intermédio	do	seu	anjo,	notificou	ao	seu	servo	João.	(Ap	1.1)
Insisto:	confira	qualquer	tradução	moderna.	Consulte	sua	versão	favorita.	Você	descobrirá	que	todas	elas
mencionam	a	proximidade	temporal.	O	termo	também	aparece	depois	em	Apocalipse	2.16	e	22.6.
					 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	palavra	traduzida	como	“próximo”	segue	logo	após	o	outro	termo,	apenas	dois	versículos
depois.	E,	mais	uma	vez,	João	expressa	a	proximidade	crescente	dos	acontecimentos	como	a	exata	razão
do	seu	escrito	para	eles:
Bem-aventurados	aqueles	que	leem	e	aqueles	que	ouvem	as	palavras	da	profecia	e	guardam	as	coisas	nela	escritas,	pois	o	tempo
está	próximo.	(Ap	1.3)
Essa	palavra	comumente	se	refere	a	acontecimentos	próximos	no	tempo,	como	a	proximidade	da	Páscoa
(Mt	26.18),	a	chegada	do	verão	(Mt	24.32)	e	ocorrência	de	uma	festividade	com	presteza	(Jo	2.13).	De
novo,	confira	qualquer	versão	moderna;	os	resultados	serão	os	mesmos.
														Se	você	duvida	de	um	dos	termos,	eis	o	outro!	Esses	termos	se	apoiam:	algo	acontecer	“em
breve”	 indica	 sua	 “proximidade”.	E	 apenas	um	versículo	os	 separa.	Eles	 tornam	necessária,	 de	 forma
inequívoca,	a	iminência	dos	acontecimentos	do	Apocalipse	quando	João	escreve.	Pense	no	seguinte:	de
que	outra	maneira	João	poderia	ter	declarado	que	os	acontecimentos	estavam	próximos?	Ele	usa	duas	das
palavras	mais	comuns,	conhecidas	e	claras	para	expressar	a	proximidade	temporal.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Agora,	 tenha	 em	mente	 nossos	 comentários	 anteriores:	 João	 escreve	 para	 igrejas	 reais	 e
históricas	do	século	I.	Elas	sofrem	penosa	“tribulação”.	João	seria	sarcástico	com	elas	ao	usar	 termos
conhecidos	sobre	a	proximidade	temporal?	A	esses	homens	e	mulheres	que	passam	sob	tais	provações?
Claro	que	não!	Ele	ministra	a	elas	—	e	espera	que	o	entendam	e	ajam	com	base	em	suas	orientações,	pois
o	tempo	está	próximo	(Ap	1.3).
	
																												AberturaEncerramento
Revelação	 de	 Jesus	 Cristo,	 que	 Deus	 lhe	 deu	 para
mostrar	 aos	 seus	 servos	 as	 coisas	 que	 em	 breve
devem	acontecer	 e	 que	 ele,	 enviando	 por	 intermédio
do	seu	anjo,	notificou	ao	seu	servo	João.	(Ap	1.1)
Disse-me	ainda:	Estas	palavras	são	fiéis	e	verdadeiras.
O	 Senhor,	 o	 Deus	 dos	 espíritos	 dos	 profetas,	 enviou
seu	anjo	para	mostrar	aos	seus	servos	as	coisas	que
em	breve	devem	acontecer.	(Ap	22.6)
Bem-aventurados	 aqueles	 que	 leem	 e	 aqueles	 que
ouvem	 as	 palavras	 da	 profecia	 e	 guardam	 as	 coisas
nela	escritas,	pois	o	tempo	está	próximo.	(Ap	1.3)
Disse-me	 ainda:	 Não	 seles	 as	 palavras	 da	 profecia
deste	livro,	porque	o	tempo	está	próximo.	(Ap	22.10)
	
A	localização	estratégica	de	João
Ele	não	apenas	emprega	dois	 termos	muito	comuns	e	claros	que	expressam	proximidade	temporal,	mas
ele	 os	 coloca	 nos	 comentários	 da	 abertura	 como	 nos	 do	 encerramento.	 Assim,	 eles	 aparecem	 na
introdução	e	conclusão.	Ele	afirma	sua	expectativa	para	o	público	quando	esse	entra	no	livro	e	quando
sai	dele.	Ele	literalmente	os	pega	na	ida	e	na	volta.
														Isso	se	torna	ainda	mais	relevante	quando	percebemos	que	os	indicadores	temporais	aparecem
antes	e	depois	das	visões	 difíceis.	Eles	 não	 se	 encontram	nas	 sessões	 simbólicas	 em	que	poderíamos
imaginar	a	necessidade	de	regras	interpretativas	especiais.	Em	vez	disso,	eles	estão	em	porções	claras,
diretas	e	didáticas	do	Apocalipse.
	
A	instrução	significativa	de	João
Os	acadêmicos	reconhecem	a	relação	 literária	entre	o	Apocalipse	e	Daniel,	 sendo	este	uma	das	 fontes
principais	 do	 pensamento	 e	 imaginário	 de	 João.	 Em	 cada	 livro,	 um	 anjo	 aparece	 ao	 escritor.	 É
interessante	que,	 embora	use	uma	 linguagem	bem	similar,	o	 anjo	 instrui	 João	a	agir	de	modo	oposto	à
ação	de	Daniel.	Essas	direções	contrárias	surgem	dos	momentos	na	história	bastante	separados	nos	quais
João	 e	 Daniel	 se	 encontram.	 Observe	 a	 similaridade	 literária	 dos	 mandamentos,	 mas	 suas	 ações
históricas	opostas:
	
Tu,	porém,	Daniel,	encerra	as	palavras	e	sela	o	livro,
até	 ao	 tempo	do	 fim;	muitos	 o	 esquadrinharão,	 e	 o
saber	se	multiplicará.	(Dn	12.4)
Disse-me	ainda:	Não	 seles	 as	palavras	da	profecia
deste	 livro,	 porque	 o	 tempo	 está	 próximo.
(Ap	22.10)
	
														Daniel	viveu	centenas	de	anos	antes	de	João,	e	o	anjo	lhe	ordena:	“sele	o	livro”.	Contudo,	muito
tempo	depois,	um	anjo	parecido	instrui	João	(ao	escrever	também	uma	obra	apocalíptica)	a	“não	selar	o
livro”	—	“pois	o	 tempo	está	próximo”	(Ap	22.10).	O	que	poderia	ser	mais	claro?	As	expectativas	de
Daniel	eram	de	longo	prazo;	as	de	João,	de	curto	prazo.
														Tudo	dito	e	feito,	João	escreve	o	Apocalipse	antecipando	acontecimentos	iminentes	em	seus
dias.	Ele	não	escreve	sobre	acontecimentos	de	dois	ou	três	mil	anos	depois.	Ele	zombaria	com	crueldade
do	 público	 originário	 do	 século	 I,	 que	 sofre	 dura	 tribulação	 e	 lê	 que	 os	 juízos	 divinos	 sobre	 os
malfeitores	“virão	em	breve”	ou	“estão	próximos”.
														Nosso	entendimento	da	força	propulsora	principal	do	Apocalipse,	então,	deve	ser	“preterista”,	e
não	“futurista”.	O	termo	“preterismo”	é	baseado	na	palavra	latina	praeteritus,	que	significa	“passado”.	A
abordagem	preterista	 do	Apocalipse	 ensina	 que	 João	 profetizava	 acontecimentos	 futuros	 em	 relação	 a
seus	 dias,	 mas	 que	 se	 encontram	 agora	 no	 nosso	 passado.	 O	 “futurismo”	 ensina	 que	 todos	 os
acontecimentos	 do	Apocalipse	 (do	 cap.	 4	 em	 diante)	 ainda	 estão	 no	 nosso	 futuro.	 Como	 veremos,	 as
catástrofes	antecipadas	por	João	se	encaixam	com	perfeição	nas	circunstâncias	históricas	do	século	I.
	
A	INTERPRETAÇÃO	DE	JOÃO
Outro	problema	que	enreda	o	 suposto	 intérprete	moderno	é	a	presunção	de	 literalismo	ao	 lidar	 com	o
Apocalipse.	Muitos	estudantes	contemporâneos	de	profecia	resistem	à	abordagem	simbólica	da	gloriosa
profecia	de	João.	“Literalismo!”	torna-se	o	grito	de	guerra	dos	que	creem	que	o	Apocalipse	refere-se	a
nosso	futuro	próximo.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Afirmo	que,	apesar	da	alegação	popular	pelo	 literalismo,	ninguém	 toma	o	Apocalipse	em
sentido	 literal.	 Nós	 o	 tomamos	 como	 a	 verdade	 de	 Deus,	 é	 claro.	 Sem	 dúvida,	 ele	 versa	 sobre
acontecimentos	históricos	reais.	Mas	nós	não	podemos	tomá-lo	como	a	verdade	divina	em	forma	literal.
Vejamos	como	isso	ocorre.
														Ao	interpretar	qualquer	obra	literária,	devemos	sempre	ouvir	com	atenção	o	próprio	autor.	Em
especial	 se	 ele	 apresenta	 uma	 informação	 que	 afeta	 a	 forma	 adequada	 para	 interpretar	 sua	 obra.	Com
certeza,	o	Apocalipse	é	considerado	o	livro	de	mais	difícil	interpretação	do	Novo	Testamento.	Dado	o
interesse	 generalizado	 por	 ele,	 isso	 exacerba	 as	 dificuldades	 para	 apresentar	 a	mensagem	de	 João	 no
contexto	 moderno.	 Como	 consequência,	 a	 metodologia	 hermenêutica	 torna-se	 a	 preocupação	 suprema
para	o	 intérprete.	Curiosamente,	no	 seu	evangelho,	 João	demonstra	o	problema	do	 literalismo	entre	os
primeiros	ouvintes	de	Cristo:	ao	raciocinar	com	rigidez	literal,	eles	interpretam	errado	o	ensino	de	Jesus
sobre	o	templo	(Jo	2.19-22),	nascer	de	novo	(3.3-10),	beber	água	(4.10-14),	comer	sua	carne	(6.51-56),
ser	livre	(8.31-36),	ser	cego	(9.39,40),	dormir	(11.11-14)	e	sobre	ele	ser	rei	(18.33-37).	Esse	problema	é
intensificado	no	Apocalipse	com	seu	rico	imaginário.
	
Pistas	para	interpretação
Como	já	demonstrei,	o	Apocalipse	tem	início	com	afirmações	poderosas	que	declaram	o	cumprimento	a
curto	 prazo	 de	 suas	 profecias.	Da	mesma	 forma,	 bem	 no	 primeiro	 capítulo,	 encontramos	 as	 primeiras
pistas	 do	 método	 de	 apresentação	 de	 João.	 Ele	 informa	 seus	 leitores,	 com	 especificidade,	 sobre	 a
natureza	simbólica	de	suas	visões,	e	apresenta	ideias	de	como	o	leitor	deveria	transpor	suas	visões	para
entender	o	ponto.
	
O	anúncio	de	abertura	de	João
João	não	perde	tempo	para	alertar	os	leitores	sobre	sua	abordagem	simbólica.	Bem	na	frase	inicial,	ele
declara:
Revelação	de	Jesus	Cristo,	que	Deus	lhe	deu	para	mostrar	aos	seus	servos	as	coisas	que	em	breve	devem	acontecer	e	que	ele,
enviando	por	intermédio	do	seu	anjo,	notificou	ao	seu	servo	João.	(Ap	1.1)
Aqui,	 ele	 nos	 informa	 que	 o	Apocalipse	 é	 dado	 “para	mostrar”	 (gr.,	deixai)	 a	mensagem	que	 se	 dá	 a
“conhecer”	(gr.,	esēmanen)	pelo	anjo	de	Deus	(Ap	1.1).
														Como	Friedrich	Düsterdieck	observou:
O	deixai	ocorre	no	modo	peculiar	a	sēmainein,	i.e.,	a	indicação	do	que	se	pretende	por	meio	de	figuras	significativas.[4]
De	fato,	em	41	vezes,	João	diz	“ver”	essas	profecias	(p.	ex.,	Ap	1.12,20;	5.6;	9.1;	20.1).
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	O	 comentarista	 pré-milenarista	Robert	Mounce	 observa	 quanto	 a	 isso:	 “Afirma-se	 que	 a
revelação	será	mostrada	a	João.	O	verbo	grego	carrega	a	ideia	de	representação	figurativa.	Falando	em
sentido	estrito,	isso	significa	tornar	conhecido	por	meio	de	algum	tipo	de	sinal	(Hort,	p.	6).	Logo,	muito
adequado	ao	caráter	simbólico	do	livro.	Isso	deve	alertar	o	leitor	a	não	esperar	a	apresentação	literal	da
história	futura,	mas	sim	a	imagem	simbólica	do	que	ainda	há	de	acontecer”.[5]	João	encoraja	os	leitores	a
esperar	símbolos	figurativos,	em	vez	de	acontecimentos	literais.
	
A	revelação	inicial	de	João
De	fato,	a	primeira	visão	de	João	estabelece	o	padrão	da	interpretação	simbólica	posterior	ao	apresentar
uma	visão	e,	então,	interpretar	os	seus	elementos	principais	de	modo	não	literal.	Em	Apocalipse	1.12-20,
ele	relata	uma	visão	de	Cristo	a	andar	entre	candeeiros.	No	pressuposto	literalista,	a	visão	deve	ensinar
que	o	Senhor	anda	por	entre	candelabros	no	céu.	No	entanto,	João	não	o	permitirá.
														No	versículo	20,	Jesus	interpreta	a	visão	para	nós:
Quanto	ao	mistério	das	sete	estrelas	que	viste	na	minha	mão	direita	e	aos	sete	candeeiros	de	ouro,	as	sete	estrelas	são	os	anjos	das
sete	igrejas,	e	os	sete	candeeiros	são	as	sete	igrejas.	(Ap	1.20)
Então,	na	verdade,	ainda	que	o	próprio	João	tenha	observado	sete	estrelas	e	sete	candeeiros,as	estrelas
representam	“os	anjos	das	sete	igrejas”	e	os	candeeiros	representam	“as	sete	igrejas”.	Isso	é	o	que	João
mesmo	ensina;	não	podemos	descartar	essa	pista	importante	para	a	interpretação	simbólica.
	
A	prática	constante	de	João
Mais	ainda,	 João	não	nos	apresenta	apenas	uma	amostra	de	 seu	método	simbólico.	Diversas	vezes	em
Apocalipse,	ele	para	e	provê	conceitos	interpretativos	para	as	visões.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Em	Apocalipse	5,	 João	vê	um	cordeiro	com	sete	olhos.	Mesmo	o	 literalista	mais	 ingênuo
reconhece	que	esse	cordeiro	representa	Cristo,	o	Senhor,	pois	ele	é	chamado	(não	literalmente!)	“Leão	da
tribo	de	Judá,	a	Raiz	de	Davi”	(Ap	5.5).	Afinal,	os	anjos	do	céu	cantam	em	seu	louvor	como	o	Redentor
do	povo	de	Deus	(5.9,10)	e	glorioso	por	causa	de	sua	obra	(5.12).	No	versículo	seguinte,	ele	é	louvado
com	Deus	Pai	(5.13).	Em	Apocalipse	14,	o	nome	do	Cordeiro	é	associado	ao	nome	divino	nos	eleitos	de
Deus	(14.1).
														João	também	provê	orientações	interpretativas	para	um	dos	aspectos	mais	incomuns	da	visão	do
Cordeiro.	Ele	explica	os	“sete	olhos”:
Então,	vi,	no	meio	do	trono	e	dos	quatro	seres	viventes	e	entre	os	anciãos,	de	pé,	um	Cordeiro	como	tendo	sido	morto.	Ele	tinha
sete	chifres,	bem	como	sete	olhos,	que	são	os	sete	Espíritos	de	Deus	enviados	por	toda	a	terra.	(Ap	5.6)
A	visão	dos	sete	olhos	não	significa	que	o	Cordeiro	conte	com	sete	globos	oculares	literais	na	cabeça.	O
próprio	João	nos	diz	isso.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Apesar	 de	 João	 falar	 do	 “incenso”	 nas	 taças	 angelicais	 no	 céu,	 ele	 redireciona	 nosso
entendimento.	 João	 afirma	 com	 clareza	 que	 o	 incenso	 visto	 por	 ele	 de	 modo	 literal	 representava,	 na
verdade,	as	“orações	dos	santos”:
E,	quando	 tomou	o	 livro,	 os	quatro	 seres	viventes	 e	os	vinte	 e	quatro	 anciãos	prostraram-se	diante	do	Cordeiro,	 tendo	 cada	um
deles	uma	harpa	e	taças	de	ouro	cheias	de	incenso,	que	são	as	orações	dos	santos.	(Ap	5.8)
Em	Apocalipse	17.7,	9,	10,	o	anjo	intérprete	esclarece	a	confusão	de	João	observando	que	uma	imagem
representa	de	fato	duas	realidades	diferentes	juntas:
O	anjo,	porém,	me	disse:	Por	que	te	admiraste?	Dir-te-ei	o	mistério	da	mulher	e	da	besta	que	tem	as	sete	cabeças	e	os	dez	chifres
e	que	leva	a	mulher...	Aqui	está	o	sentido,	que	tem	sabedoria:	as	sete	cabeças	são	sete	montes,	nos	quais	a	mulher	está	sentada.
São	também	sete	reis,	dos	quais	caíram	cinco,	um	existe,	e	o	outro	ainda	não	chegou;	e,	quando	chegar,	tem	de	durar	pouco.	(Ap
17.7,9,10)
Então,	 não	 apenas	 as	 sete	 cabeças	 não	 retratam	 sete	 cabeças	 literais	 na	 besta	 real,	 mas	 também
simbolizam	duas	outras	realidades:	sete	montes	e	sete	reis.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	E	o	que	diremos	dos	 chifres	 da	besta?	Eles	 não	 são	 chifres	—	embora	 certos	mamíferos
possuam	 mesmo	 chifres	 constituídos	 por	 um	 osso	 coberto	 por	 um	 revestimento	 de	 queratina.	 O	 anjo
interpreta	isso	para	João	e	para	nós:
Os	dez	chifres	que	viste	são	dez	reis,	os	quais	ainda	não	receberam	reino,	mas	recebem	autoridade	como	reis,	com	a	besta,	durante
uma	hora.	(Ap	17.12)
Até	a	água	que	João	vê	não	deve	ser	compreendida	como	referência	à	formula	H2O.	Em	vez	disso,	o	anjo
explica:
Falou-me	ainda:	As	águas	que	viste,	onde	a	meretriz	está	assentada,	são	povos,	multidões,	nações	e	línguas.	(Ap	17.15)
Como	podemos	ver,	João	nos	concede	amostras	explicativas	suficientes	da	interpretação	do	Apocalipse
para	 que	 possamos	 declarar	 que	 o	 livro	 não	deve	 ser	 interpretado	 de	 acordo	 com	 os	 princípios	 do
literalismo.
	
Os	absurdos	literalistas	de	João
Mesmo	 que	 colocássemos	 de	 lado	 o	 próprio	 anúncio	 de	 abertura	 de	 João	 com	 respeito	 à	 natureza
simbólica	da	profecia,	e	sua	explicação	da	primeira	visão,	e	a	prática	interpretativa	em	outros	lugares	do
Apocalipse,	deveríamos	evitar	o	 literalismo	com	base	no	bom	senso.	Considere	os	 seguintes	absurdos
que	surgiriam	da	abordagem	literalista:
Há	diante	do	trono	um	como	que	mar	de	vidro,	semelhante	ao	cristal,	e	também,	no	meio	do	trono	e	à	volta	do	trono,	quatro	seres
viventes	cheios	de	olhos	por	diante	e	por	detrás.	(Ap	4.6)
E	isso	apesar	do	 fato	de,	quando	os	homens	veem	de	 fato	anjos	na	 terra,	estes	podem	ser	confundidos
com	seres	humanos	(p.	ex.,	Gn	19.1,5;	Dn	9.21).
														Embora	João	observe	mesmo	um	cordeiro	em	algumas	de	suas	visões,	sabemos	que	ele	não	nos
ensina	literalmente	sobre	as	ações	de	um	mamífero	do	gênero	ovis	da	família	bovidae.
Então,	vi,	no	meio	do	trono	e	dos	quatro	seres	viventes	e	entre	os	anciãos,	de	pé,	um	Cordeiro	como	tendo	sido	morto.	Ele	tinha
sete	chifres,	bem	como	sete	olhos,	que	são	os	sete	Espíritos	de	Deus	enviados	por	toda	a	terra.	(Ap	5.6)
Observei	 previamente	 neste	 capítulo	 que	 esse	 “Cordeiro”	 é,	 na	 verdade,	 adorado	 e	 louvado	 como
Redentor	do	povo	de	Deus.
														Tampouco	deveríamos	esperar	um	tempo	no	futuro	em	que	o	mundo	testemunhe	uma	investida
global	por	quatro	cavaleiros	literais,	cada	um	cavalgando	em	um	equus	caballus:
Vi	quando	o	Cordeiro	abriu	um	dos	sete	selos	e	ouvi	um	dos	quatro	seres	viventes	dizendo,	como	se	fosse	voz	de	trovão:	Vem!	Vi,
então,	 e	 eis	 um	 cavalo	 branco	 e	 o	 seu	 cavaleiro	 com	 um	 arco;	 e	 foi-lhe	 dada	 uma	 coroa;	 e	 ele	 saiu	 vencendo	 e	 para	 vencer.
Quando	abriu	o	segundo	selo,	ouvi	o	segundo	ser	vivente	dizendo:	Vem!	E	saiu	outro	cavalo,	vermelho;	e	ao	seu	cavaleiro,	foi-lhe
dado	tirar	a	paz	da	terra	para	que	os	homens	se	matassem	uns	aos	outros;	também	lhe	foi	dada	uma	grande	espada.	Quando	abriu
o	terceiro	selo,	ouvi	o	terceiro	ser	vivente	dizendo:	Vem!	Então,	vi,	e	eis	um	cavalo	preto	e	o	seu	cavaleiro	com	uma	balança	na
mão.	E	ouvi	uma	como	que	voz	no	meio	dos	quatro	seres	viventes	dizendo:	Uma	medida	de	trigo	por	um	denário;	três	medidas	de
cevada	por	um	denário;	e	não	danifiques	o	azeite	e	o	vinho.	Quando	o	Cordeiro	abriu	o	quarto	selo,	ouvi	a	voz	do	quarto	ser	vivente
dizendo:	Vem!	E	olhei,	e	eis	um	cavalo	amarelo	e	o	seu	cavaleiro,	sendo	este	chamado	Morte;	e	o	Inferno	o	estava	seguindo,	e	foi-
lhes	dada	autoridade	sobre	a	quarta	parte	da	 terra	para	matar	à	espada,	pela	 fome,	com	a	mortandade	e	por	meio	das	 feras	da
terra.	(Ap	6.1-8)
Em	outro	ponto	do	Apocalipse,	João	descreve	homens	lavando	de	fato	suas	vestes	em	sangue	para	torná-
las	brancas:
Ele,	então,	me	disse:	São	estes	os	que	vêm	da	grande	tribulação,	lavaram	suas	vestiduras	e	as	alvejaram	no	sangue	do	Cordeiro.
(Ap	7.14)
E	o	que	diremos	dos	gafanhotos	que	ele	vê?
O	aspecto	dos	gafanhotos	era	semelhante	a	cavalos	preparados	para	a	peleja;	na	sua	cabeça	havia	como	que	coroas	parecendo	de
ouro;	e	o	seu	rosto	era	como	rosto	de	homem	(Ap	9.7)
Ou	dos	cavalos	e	seus	cavaleiros?
Assim,	nesta	visão,	contemplei	que	os	cavalos	e	os	seus	cavaleiros	tinham	couraças	cor	de	fogo,	de	jacinto	e	de	enxofre.	A	cabeça
dos	cavalos	era	como	cabeça	de	leão,	e	de	sua	boca	saía	fogo,	fumaça	e	enxofre.	(Ap	9.17)
Esperamos	mesmo	que	um	dragão	literal	de	muitas	cabeças	arraste	um	terço	dos	trilhões	de	estrelas	do
universo	e	as	lance	sobre	a	terra?
Viu-se,	 também,	 outro	 sinal	 no	 céu,	 e	 eis	 um	 dragão,	 grande,	 vermelho,	 com	 sete	 cabeças,	 dez	 chifres	 e,	 nas	 cabeças,	 sete
diademas.	A	sua	cauda	arrastava	a	terça	parte	das	estrelas	do	céu,	as	quais	lançou	para	a	terra;	e	o	dragão	se	deteve	em	frente	da
mulher	que	estava	para	dar	à	luz,	a	fim	de	lhe	devorar	o	filho	quando	nascesse.	(Ap	12.3,4)
Na	interpretação	literalista,	quem	é	a	mulher	alada	que	pisa	sobre	a	lua?	E	a	serpente	que	vomita	um	rio
de	água?
E	foram	dadas	à	mulher	as	duas	asas	da	grande	águia,	para	que	voasse	até	ao	deserto,	ao	seu	lugar,	aí	onde	é	sustentada	durante
um	tempo,	tempos	e	metade	de	um	tempo,	fora	da	vista	da	serpente.	Então,	a	serpente	arrojou	da	sua	boca,	atrás	da	mulher,	água
como	um	rio,	a	fim	de	fazer	com	que	ela	fosse	arrebatada	pelo	rio.	(Ap	12.14,15)
A	pavorosa	besta	de	 João	parecerá	 literalmente	com	um	conjunto	de	 três	 representantes	da	ordem	dos
mamíferos	carnivora?
A	besta	que	vi	erasemelhante	a	leopardo,	com	pés	como	de	urso	e	boca	como	de	leão.	(Ap	13.2a)
A	segunda	besta	que	João	vê	é	literal?
Vi	ainda	outra	besta	emergir	da	terra;	possuía	dois	chifres,	parecendo	cordeiro,	mas	falava	como	dragão.	(Ap	13.11)
O	anjo	de	Deus	vai	mesmo	ceifar	a	terra	com	uma	foice	literal?
Outro	anjo	saiu	do	santuário,	gritando	em	grande	voz	para	aquele	que	se	achava	sentado	sobre	a	nuvem:	Toma	a	tua	foice	e	ceifa,
pois	chegou	a	hora	de	ceifar,	visto	que	a	seara	da	terra	já	amadureceu!	(Ap	14.15)
Os	espíritos	demoníacos	aparecem	na	história	na	 forma	de	 rãs	 saindo	das	bocas	de	 seres	malignos	de
forma	literal?
Então,	vi	sair	da	boca	do	dragão,	da	boca	da	besta	e	da	boca	do	falso	profeta	três	espíritos	imundos	semelhantes	a	rãs.	(Ap	16.13)
A	grande	meretriz	é	de	fato	uma	vampira	que	bebe	sangue	até	se	embebedar?
Então,	vi	a	mulher	embriagada	com	o	sangue	dos	santos	e	com	o	sangue	das	testemunhas	de	Jesus.	(Ap	17.6)
Jesus	cavalgará	fisicamente	no	céu	enquanto	segura	uma	espada	por	entre	os	dentes?
Sai	da	sua	boca	uma	espada	afiada,	para	com	ela	ferir	as	nações.	(Ap	19.15a)
Esperamos	que	uma	cidade	literal	(completa	com	encanamento	e	eletricidade)	desça	do	céu	à	terra?
E	me	transportou,	em	espírito,	até	a	uma	grande	e	elevada	montanha	e	me	mostrou	a	santa	cidade,	Jerusalém,	que	descia	do	céu,
da	parte	de	Deus.	(Ap	21.10)
Ela	será	gigante	e	se	estenderá	sobre	a	superfície	da	terra,	alcançando	2400	quilômetros	de	altura,	quase
2000	quilômetros	mais	alta	que	os	satélites	espaciais?
A	cidade	é	quadrangular,	de	comprimento	e	largura	iguais.	E	mediu	a	cidade	com	a	vara	até	doze	mil	estádios	[2400	km].	O	seu
comprimento,	largura	e	altura	são	iguais.	(Ap	21.16)
Sem	dúvida,	ninguém	interpretaria	o	Apocalipse	assim.	Como	vimos,	o	texto	confronta	o	literalista	com
dificuldades	em	sequência.	Para	parafrasear	Mark	Twain,	poderíamos	dizer	 isso	sobre	os	absurdos	do
Apocalipse	literal:	“O	Apocalipse	é	apenas	uma	sucessão	de	problemas”.
	
A	CONFIRMAÇÃO	DE	JOÃO
Pelo	 fato	 de	 eu	 afirmar	 que	 o	Apocalipse	 espera	 o	 cumprimento	 a	 curto	 prazo,	 preciso	 ser	 capaz	 de
especificar	quando,	onde	e	como	ele	se	realiza.	Um	dos	documentos	históricos	mais	úteis	que	demonstra
seu	cumprimento	foi	escrito	por	Flávio	Josefo.	Como	farei	várias	referências	a	ele	ao	longo	do	estudo,
segue	uma	breve	biografia	a	seu	respeito	e	sua	importância.
Flávio	Josefo	foi	um	historiador	 judeu	rico	e	proeminente	(não	cristão)	que	viveu	de	37	d.C.	a
101	 d.C.	 Ele	 descendia	 de	 sacerdotes	 e	 viveu	 na	 Palestina.	 Retomando	 nosso	 contexto	 histórico,
recordemo-nos	de	que	Cristo	foi	crucificado	no	ano	30,	e	o	templo	de	Jerusalém	destruído	no	ano	70	da
era	cristã.
Josefo	serviu	como	general	nas	defesas	judaicas	durante	a	guerra	contra	Roma	(entre	67-70	d.C.).
Na	 guerra,	 ele	 foi	 derrotado	 pelos	 romanos	 em	 Jotapata	 e	 rendeu-se	 ao	 general	 romano	 Flávio
Vespasiano.	 Ele	 tornou-se	 amigo	 de	 Vespasiano	 ao	 interpretar	 um	 oráculo	 profético,	 dizendo	 que
Vespasiano	 seria,	 um	 dia,	 imperador	 de	 Roma.	 Em	 seguida,	 começou	 a	 trabalhar	 com	Vespasiano	 ao
insistir	 com	os	 judeus	 que	 se	 rendessem	aos	 romanos	 e	 abandonassem	 sua	 causa	 autodestrutiva	 e	 sem
esperança.	Ele	não	obteve	sucesso,	e,	por	causa	dessa	tentativa,	os	 judeus	o	consideraram	ao	longo	da
histórica	um	desertor.[6]
Vespasiano	tornou-se	imperador	de	Roma	em	69	d.C.	e	patrocinou	o	famoso	livro	de	Josefo,	Peri
tou	ioudaikou	polemou	[Guerra	dos	judeus].	Essa	obra	foi	escrita	por	volta	de	75	d.C.	 (apenas	cinco
anos	após	a	queda	de	Jerusalém).	O	nome	de	Josefo	foi	mudado	de	Yoṣef	ben	Mattityahu,	que	era	muito
judeu,	para	o	mais	romano	Flávio	Josefo,	tendo	o	nome	de	Flávio	Vespasiano	como	seu	benfeitor.
Em	sua	extensa	obra	(publicada	em	sete	livros),	Josefo	escreve	como	testemunha	ocular,	presente
à	guerra	judaica	nos	lados	do	conflito.	Sua	obra	é	muito	útil	para	prover	lampejos	históricos	quanto	aos
nomes	e	acontecimentos	da	guerra,	muitos	dos	quais	 são	preditos	na	profecia	de	 João	em	Apocalipse.
Várias	correspondências	entre	a	profecia	de	João	e	a	história	de	Josefo	podem	ser	encontradas	no	meu
capítulo	em	Four	views	on	the	book	of	Revelation.[7]
Recomendo	muito	a	 leitura	do	 livro	de	Apocalipse,	capítulos	6	a	19,	e	em	seguida	a	 leitura	de
Jewish	War,	de	Josefo,	capítulos	4	a	7.[8]
	
CONCLUSÃO
O	Apocalipse	de	 João	 é	 interpretado	de	 forma	 equivocada	quase	universalmente,	 pois	 as	 chaves	para
destravar	seus	mistérios	são	negligenciadas	—	embora	tenham	sido	deixadas	na	porta	da	frente	por	João
há	muito	tempo.	O	apóstolo	afirma	com	clareza,	já	no	início	de	sua	obra,	que	os	acontecimentos	por	ele
profetizados	“em	breve	devem	acontecer”	porque	“o	tempo	está	próximo”	(Ap	1.1,	3;	cp.	22.6,10).	Por
mais	estranho	que	possa	parecer	hoje	ao	cristão,	quanto	mais	longe	nos	movemos	em	direção	ao	futuro,
mais	longe	nos	afastamos	dos	acontecimentos	do	Apocalipse.
João	repetidas	vezes	orienta	os	leitores	a	entender	as	profecias	de	modo	simbólico,	não	literal.	E,
embora	não	possamos	entender	as	imagens	reais	do	Apocalipse	de	maneira	literal,	podemos	interpretá-
las	por	meio	da	história.	Como	destacamos,	uma	das	ferramentas	mais	úteis	para	discernir	o	cumprimento
histórico	do	Apocalipse	é	o	Jewish	War	de	Josefo.	Perceberemos	que	suas	observações	históricas	são
muito	importantes	para	descobrir	as	realidades	históricas	subjacentes	às	imagens	simbólicas	de	João.	De
fato,	minha	linha	interpretativa	do	Apocalipse	é	bastante	histórica.
Minha	tarefa	nos	capítulos	remanescentes	do	livro	será	mostrar-lhe	como	isso	se	dá.	Espero	que
você	descubra,	para	 sua	 surpresa,	 ser	 capaz	de	começar	 a	 ler	 e	 entender	o	Apocalipse.	Afinal,	 “bem-
aventurado	é	aquele	que	lê	e	entende”	(Ap	1.3a).
	
	
2.	Tema	e	fluxo	literário
	
Os	dois	erros	mais	destrutivos	que	um	intérprete	do	Apocalipse	pode	cometer	são:	fazer	vistas	grossas
para	a	expectativa	temporal	afirmada	com	clareza	por	João	e	não	reconhecer	seu	método	interpretativo.
Se	 ignorarmos	 a	 perspectiva	 a	 curto	 prazo	 do	 próprio	 João,	 literalmente	 viraremos	 o	 Apocalipse	 de
cabeça	para	baixo,	colocando	no	fim	da	história	cristã	o	que	João	alega	jazer	no	início.	Se	ignorarmos	a
abordagem	simbólica,	não	entenderemos	a	natureza	histórica	das	profecias.
Sempre	que	buscamos	interpretar	uma	obra,	devemos	fazê-lo	com	base	no	tema	do	autor.	Isso	é
verdade	em	especial	quando	o	autor	declara	o	tema	de	modo	expresso.	Como	ocorre	com	os	indicadores
de	 tempo,	 João	 coloca	 sua	 declaração	 temática	 logo	 no	 começo	 da	 profecia.	De	 fato,	 ela	 aparece	 no
versículo	7	(nas	versões	modernas):
Eis	que	vem	com	as	nuvens,	e	todo	olho	o	verá,	até	quantos	o	traspassaram.	E	todas	as	tribos	da	terra	se	lamentarão	sobre	ele.
Certamente.	Amém!	(Ap	1.7)
	
TEMA	LITERÁRIO
	
A	interpretação	do	versículo	temático
A	 impressão	 inicial	 deixada	 por	 esse	 versículo	 hoje	 é	 que	 João	 está	 falando	 da	 segunda	 vinda.	 Sem
dúvida,	ele	envolve	uma	linguagem	bem	aplicável	à	futura,	gloriosa	e	definitiva	segunda	vinda	de	Cristo
na	história.	As	Escrituras	 falam	muitas	vezes	da	segunda	vinda,	 incluindo	o	 tipo	de	 linguagem	sobre	o
juízo	 e	 a	 vinda	 com	 as	 nuvens	 (cp.	 At	 1.9-11;	 1Ts	 4.16,17;	 2Ts	 1.7-10).	 A	 igreja	 cristã	 histórica	 e
universal	sempre	afirmou	esse	acontecimento	majestoso.[9]
														Contudo,	as	aparências	enganam.	Apesar	dessa	primeira	impressão,	há	fortes	evidências	que	nos
compelem	 a	 interpretar	 Apocalipse	 1.7	 de	 outro	 modo.	 Creio	 que	 esse	 versículo	 nos	 apresenta	 uma
profecia	de	 juízo	 contra	 a	 Jerusalém	do	 século	 I,	 cuja	destruição	ocorreu	 em	70	d.C.	O	 tema	de	 João
versa	sobre	a	devastação	iminente	do	templo	e	de	Jerusalém	sob	os	generais	romanos	Vespasiano	e	Tito.
Como	essa	interpretação	não	é	óbvia	e	é	pouco	conhecida	pela	maioria	dos	cristãos	modernos,	precisarei
defendê-la	com	um	pouco	mais	de	detalhes.	Diversas	razões	irresistíveis	nos	movem	da	interpretação	de
segunda	vinda	para	a	ocorrência	no	ano	70	d.C.	Explicarei	pormeio	de	sete	evidências.
	
O	contexto	antecedente	do	tema
Talvez	o	princípio	interpretativo	principal	para	entender	qualquer	documento	possa	ser	resumido	em	três
palavras:	 “Contexto,	 contexto,	 contexto”.	Antes	 de	 chegarmos	 a	Apocalipse	 1.7	 e	 abrirmos	 o	 livro	 de
João,	precisamos	passar	primeiro	pelos	versículos	1	e	3.	Como	vimos,	esses	dois	versículos	declaram
com	ênfase	que	as	ocorrências	esperadas	no	Apocalipse	“em	breve	devem	acontecer”	(Ap	1.1)	porque	“o
tema	está	próximo”	(Ap	1.3).
														Devemos	observar	com	cuidado	que	João	não	só	declara	que	os	acontecimentos	do	livro	estão
próximos,	mas	que,	nessas	declarações	de	proximidade,	ele	relata	o	propósito	da	composição	do	livro	e
aplica	esse	propósito	ao	público	do	século	I.	Apocalipse	1.1	informa	aos	destinatários	que	ele	escreve
sobre	“as	coisas	que	em	breve	devem	acontecer”	(Ap	1.1).	Alguém	suporia	que,	se	ele	escreve	sobre	“as
coisas	que	 em	breve	devem	acontecer”,	 isso	poderia	 envolver	 seu	 tema.	Seria	muito	 estranho	 se	 João
declarasse	a	proximidade	temporal	do	propósito	do	seu	escrito	e	então	versasse	sobre	um	tema	que	se
estendesse	 a	milhares	 de	 anos	 além	da	 sua	 época.	Afinal,	 ele	 não	 declara	 a	 proximidade	 “do	 tempo”
como	 o	 motivo	 de	 seus	 leitores	 de	 século	 I	 deverem	 ler,	 ouvir	 e	 “guardar	 as	 coisas	 […]	 escritas”
(Ap	 1.3)?	 Por	 que	 ele	 urgiria	 que	 guardassem	 as	 coisas	 escritas,	 se	 o	 propósito	 temático	 jazesse	 no
futuro,	muitos	séculos	adiante?
														Assim,	apenas	quatro	versículos	antes	de	João	afirmar	o	tema	do	Apocalipse,	ele	declara	que	os
acontecimentos	estão	próximos	e	os	aplica	ao	público	originário.
	
O	contexto	seguinte	ao	tema
João	 não	 só	 apresenta	 o	 tema	 de	modo	 a	 exigir	 seu	 cumprimento	 a	 curto	 prazo,	mas,	 dois	 versículos
depois	de	declará-lo,	ele	o	aplica	às	circunstâncias	severas	dos	leitores	originários:
Eu,	João,	irmão	vosso	e	companheiro	na	tribulação,	no	reino	e	na	perseverança,	em	Jesus,	achei-me	na	ilha	chamada	Patmos,	por
causa	da	palavra	de	Deus	e	do	testemunho	de	Jesus.	(Ap	1.9)
Como	observado	antes,	João	estava	ministrando	à	minoria	perseguida.	A	preocupação	de	Deus	com	quem
sofre	pela	fé	no	século	I	é	o	tema	principal	e	constante	em	todo	o	Apocalipse.	Sem	dúvida,	João	não	diz	a
esses	santos	perseguidos	que	o	tempo	está	próximo,	que	devem	guardar	o	que	lhes	escreve,	que	Deus	se
preocupa	 com	as	 perseguições	—	mas	que	 ele	 os	 vingará	milhares	 de	 anos	no	 futuro!	Apocalipse	1.7
deve	se	aplicar	às	circunstâncias	do	século	I.
	
A	linguagem	apocalíptica	na	profecia
João	retrata	sua	declaração	temática	de	acordo	com	o	imaginário	apocalíptico,	declarando:	Cristo	“vem
com	 as	 nuvens”	 (Ap	 1.7).	 E,	 embora	 isso	 soe	 como	 a	 segunda	 vinda,	 e	 ainda	 que	 esse	 glorioso
acontecimento	ocorrerá	de	forma	literal	“com	as	nuvens”,	descobrimos	que	esse	tipo	de	linguagem	pode
ser	usado	como	símbolo	dos	juízos	históricos	divinos	diferentes	da	segunda	vinda.	Qualquer	um	que	leia
o	Apocalipse	 reconhece	de	 imediato	que	 João	 trabalha	com	um	 imaginário	 estranho	 (como	mostrei	no
capítulo	anterior).	Esse	imaginário	deve	ser	entendido	muitas	vezes	como	algo	simbólico.	Creio	que	isso
também	 seja	 verdade	 aqui	 no	 versículo	 temático.	 Observemos	 apenas	 dois	 exemplos	 de	 imaginário
apocalíptico	usado	para	descrever	acontecimentos	históricos.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Encontramos	em	Isaías	19	um	alerta	ao	Egito	do	Antigo	Testamento.	Nessa	profecia,	Deus
ameaça	 aquela	 nação	 antiga	 com	o	 juízo,	 um	 julgamento	 que	 se	 tornou	 realidade	 quando	 o	 rei	 assírio
Esar-Hadom	conquistou	o	Egito	em	671	a.C.	Todavia,	observe	a	linguagem	empregada	por	Isaías:
Sentença	contra	o	Egito.	Eis	que	o	SENHOR,	cavalgando	uma	nuvem	ligeira,	vem	ao	Egito;	os	ídolos	do	Egito	estremecerão	diante
dele,	e	o	coração	dos	egípcios	se	derreterá	dentro	deles.	(Is	19.1)
A	profecia	se	aplica	com	clareza	ao	Egito.	E,	com	a	mesma	clareza,	ela	alega	que	o	Senhor	“vem”	ao
Egito.	Mas	nenhum	intérprete	crê	que	os	egípcios	viram	o	Deus	todo-poderoso	assentado	em	uma	nuvem
e	descendo	sobre	eles	em	juízo.
														Em	Mateus	26,	o	próprio	Senhor	Jesus	usa	essa	linguagem	para	falar	do	juízo	contra	Israel	no
ano	70	d.C.:
E,	 levantando-se	 o	 sumo	 sacerdote,	 perguntou	 a	 Jesus:	Nada	 respondes	 ao	 que	 estes	 depõem	 contra	 ti?	 Jesus,	 porém,	 guardou
silêncio.	E	o	sumo	sacerdote	lhe	disse:	Eu	te	conjuro	pelo	Deus	vivo	que	nos	digas	se	tu	és	o	Cristo,	o	Filho	de	Deus.	Respondeu-
lhe	 Jesus:	 Tu	 o	 disseste;	 entretanto,	 eu	 vos	 declaro	 que,	 desde	 agora,	 vereis	 o	 Filho	 do	 Homem	 assentado	 à	 direita	 do	 Todo-
Poderoso	e	vindo	sobre	as	nuvens	do	céu.	(Mt	26.62-64)
O	versículo	64	é	similar	ao	de	Apocalipse	1.7:
“…	vereis	o	Filho	do	Homem	assentado	à	direita	do	Todo-Poderoso	e	vindo	sobre	as	nuvens	do	céu”.
E	note	que	ele	se	refere	ao	sumo	sacerdote	e	às	pessoas	reunidas	ao	redor	dele:	“[Vós]	vereis”.	Isso	deve
ser	 uma	 referência	 ao	 juízo	 em	 70	 d.C.,	 profetizado	 em	 vários	 lugares	 por	 Jesus	 (veja	 em	 particular
Mt	21.33,34;	22.1-7;	24.1-34)	e	testemunhado	por	muitos	dos	que	se	posicionaram	contra	Cristo	naquele
dia.
														Assim,	Apocalipse	1.7	pode	ser	aplicado	ao	julgamento	histórico	que	recaiu	sobre	Israel	em	70
d.C.	Nada	na	Escritura	proíbe	essa	interpretação	apocalíptica.	À	medida	que	as	evidências	se	acumulam,
seremos	dirigidos	a	essa	exata	conclusão.
	
O	ensino	prévio	do	Senhor	sobre	o	assunto
Na	 evidência	 anterior,	 mencionei	 como	 adendo	 que	 o	 próprio	 Jesus	 empregou	 uma	 linguagem
apocalíptica	de	juízo	vindouro	ao	se	referir	à	destruição	iminente	do	templo.	Vamos	olhar	um	pouco	mais
de	perto	esse	fenômeno	enquanto	desembrulhamos	o	significado	de	Apocalipse	1.7.
														Em	Mateus	21.33-48,	Jesus	apresenta	a	parábola	do	dono	da	vinha.	Nessa	parábola,	temos	uma
figura	 das	 bênçãos	 amorosas	 de	 Deus	 sobre	 Israel	 ao	 longo	 dos	 séculos	 (21.33,34).	 Mas	 o	 cuidado
providente	de	Deus	para	com	Israel	é	retratado	contra	o	pano	de	fundo	da	desobediência	obstinada	deste,
que	a	 leva	a	matar	os	profetas	enviados	por	Deus	 (21.35,36).	Por	último,	Deus	envia	o	próprio	Filho,
apenas	para	vê-lo	ser	morto	por	Israel	(21.37-40).	Baseado	nessa	parábola,	Jesus	pergunta	aos	líderes
religiosos	de	Israel:
														Quando,	pois,	vier	o	senhor	da	vinha,	que	fará	àqueles	lavradores?	(Mt	21.40)
Os	líderes	de	Israel	respondem,	sem	pestanejar,	à	sua	inquirição:
Responderam-lhe:	Fará	perecer	horrivelmente	a	estes	malvados	e	arrendará	a	vinha	a	outros	lavradores	que	lhe	remetam	os	frutos
nos	seus	devidos	tempos.	(Mt	21.41)
Ele	os	deixa	chocados	ao	apanhá-los	em	suas	próprias	palavras:
Portanto,	vos	digo	que	o	reino	de	Deus	vos	será	tirado	e	será	entregue	a	um	povo	que	lhe	produza	os	respectivos	frutos.	Todo	o	que
cair	sobre	esta	pedra	ficará	em	pedaços;	e	aquele	sobre	quem	ela	cair	ficará	reduzido	a	pó.	(Mt	21.43,44).
Eles	então	entendem	o	ponto:
Os	principais	sacerdotes	e	os	fariseus,	ouvindo	estas	parábolas,	entenderam	que	era	a	respeito	deles	que	Jesus	falava.	(Mt	21.45)
Essa	parábola	e	a	discussão	que	a	segue	dizem	respeito	à	destruição	do	templo	em	70	d.C.,	mencionando
esse	 julgamento	 como	uma	“vinda”	do	Senhor:	 “quando	o	 senhor	 da	vinha	vier”	 (21.40).	No	 contexto
seguinte,	outra	parábola	vale-se	de	mais	literalidade:
O	rei	ficou	irado	e,	enviando	as	suas	tropas,	exterminou	aqueles	assassinos	e	lhes	incendiou	a	cidade.	(Mt	22.7)
Assim,	 com	 clareza,	 Apocalipse	 1.7	 pode,	 ao	 menos	 em	 teoria,	 ser	 aplicado	 a	 70	 d.C.	 E,	 dada	 sua
configuração	contextual	(e	outras	coisas	apresentadas	a	seguir),	esse	é	o	melhor	entendimento	do	tema	de
João.
	
A	causa	específica	do	julgamento
Havendo	 estabelecido	 o	 contexto	 e	 as	 possibilidades,	 devemos	 agora	 focar	 na	 redação	 expressa	 de
Apocalipse	1.7.	João	aplica	a	profecia	em	particular	contra	“aqueles	que	o	traspassaram”:
Eis	que	vem	com	as	nuvens,	e	todo	olho	o	verá,	até	quantos	o	traspassaram.	E	todas	as	tribos	da	terra	se	lamentarãosobre	ele.
Certamente.	Amém!	(Ap	1.7)
Isso	provê	uma	indicação	da	interpretação	correta	do	tema	—	tão	negligenciada	quanto	as	pistas	relativas
às	expectativas	temporais	de	João.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Todos	 nós	 estamos	 cientes	 de	 que	 os	 soldados	 romanos	 foram	 os	 instrumentos	 físicos	 e
imediatos	 da	 crucificação	 de	 Cristo.	 A	 Bíblia,	 porém,	 enfatiza	 com	 veemência,	 repetidas	 vezes,	 a
responsabilidade	 pactual	 de	 Israel	 por	 todo	 o	 terrível	 ocorrido.	 Eu	 listarei	 vários	 versículos	 que
apontam	de	modo	direto	para	Israel	como	a	causa	da	crucificação	de	Cristo	(em	um	capítulo	posterior,
veremos	quão	relevante	é	isso	para	a	mensagem	de	Israel):
E	o	povo	todo	respondeu:	Caia	sobre	nós	o	seu	sangue	e	sobre	nossos	filhos!	(Mt	27.25)
Eles,	 porém,	 clamavam:	 Fora!	 Fora!	 Crucifica-o!	 Disse-lhes	 Pilatos:	 Hei	 de	 crucificar	 o	 vosso	 rei?	 Responderam	 os	 principais
sacerdotes:	Não	temos	rei,	senão	César!	(Jo	19.15)
Sendo	 este	 entregue	 pelo	 determinado	 desígnio	 e	 presciência	 de	 Deus,	 vós	 o	 matastes,	 crucificando-o	 por	 mãos	 de	 iníquos.
(At	2.23)
O	Deus	 de	Abraão,	 de	 Isaque	 e	 de	 Jacó,	 o	Deus	 de	 nossos	 pais,	 glorificou	 a	 seu	Servo	 Jesus,	 a	 quem	vós	 traístes	 e	 negastes
perante	Pilatos,	quando	este	havia	decidido	soltá-lo.	Vós,	porém,	negastes	o	Santo	e	o	Justo	e	pedistes	que	vos	concedessem	um
homicida.	 Dessarte,	 matastes	 o	 Autor	 da	 vida,	 a	 quem	 Deus	 ressuscitou	 dentre	 os	 mortos,	 do	 que	 nós	 somos	 testemunhas.
(At	3.13-15)
O	Deus	de	nossos	pais	ressuscitou	a	Jesus,	a	quem	vós	matastes,	pendurando-o	num	madeiro.	(At	5.30)
Qual	 dos	profetas	 vossos	pais	 não	perseguiram?	Eles	mataram	os	 que	 anteriormente	 anunciavam	a	vinda	do	 Justo,	 do	qual	 vós
agora	vos	tornastes	traidores	e	assassinos.	(At	7.52)
E	nós	somos	testemunhas	de	tudo	o	que	ele	fez	na	terra	dos	judeus	e	em	Jerusalém;	ao	qual	também	tiraram	a	vida,	pendurando-o
no	madeiro.	(At	10.39)
Tanto	 é	 assim,	 irmãos,	 que	 vos	 tornastes	 imitadores	 das	 igrejas	 de	Deus	 existentes	 na	 Judeia	 em	Cristo	 Jesus;	 porque	 também
padecestes,	 da	 parte	 dos	 vossos	 patrícios,	 as	mesmas	 coisas	 que	 eles,	 por	 sua	 vez,	 sofreram	dos	 judeus,	 os	 quais	 não	 somente
mataram	o	Senhor	 Jesus	 e	 os	 profetas,	 como	 também	nos	 perseguiram,	 e	 não	 agradam	 a	Deus,	 e	 são	 adversários	 de	 todos	 os
homens,	a	ponto	de	nos	impedirem	de	falar	aos	gentios	para	que	estes	sejam	salvos,	a	fim	de	irem	enchendo	sempre	a	medida	de
seus	pecados.	A	ira,	porém,	sobreveio	contra	eles,	definitivamente.	(1Ts	2.14-16)
O	 testemunho	 incessante	 da	 Escritura	 culpa	 Israel	 pela	 morte	 de	 Cristo.	 A	 nação	 é	 pactualmente
responsável;	ela	deveria	ter	entendido	melhor	(Lc	19.41-44).	Então,	o	texto	de	Apocalipse	1.7	promete	o
juízo	contra	“aqueles	que	o	traspassaram”,	o	que	requer	que	esse	julgamento	ocorra	no	século	I,	enquanto
“aqueles	que	o	traspassaram”	ainda	estavam	vivos	—	em	especial	por	conta	dos	indicadores	temporais
de	curto	prazo	no	próprio	contexto	da	afirmação	 (Ap	1.3).	Os	acontecimentos	de	70	d.C.	brindam-nos
com	o	encaixe	mais	perfeito,	relevante	e	irresistível.
	
O	foco	máximo	do	julgamento
No	entanto,	há	mais!	Apocalipse	1.7	 também	afirma	que	“todas	as	 tribos	da	 terra	 se	 lamentarão	 sobre
ele”.	Quem	são	essas	“tribos	da	terra”?	E	por	que	elas	“lamentam”?
														O	leitor	deve	entender	que	a	palavra	grega	traduzida	por	terra	(gē)	pode	significar	o	pedaço	de
terra	local	e	também	todo	o	planeta.	De	fato,	ela	com	frequência	significa	a	“terra	de	Israel”,	isto	é,	“a
Terra	Prometida”	—	a	terra	local.	Em	vários	pontos	do	Novo	Testamento,	essa	palavra	faz	referência	à
totalidade	 da	 Terra	 Prometida,	 ou	 a	 alguma	 porção	 dela.	 Nesses	 lugares,	 nós	 a	 encontramos	 em
expressões	 semelhantes	 a	 “terra	 de	 Judá”	 (Mt	 2.6),	 “terra	 da	 Judeia”	 (Jo	 3.22),	 “terra	 de	 Israel”
(Mt	2.20-32),	“terra	de	Zebulom”	(Mt	4.15),	“terra	de	Naftali”	(4.15)	e	“terra	dos	 judeus”	(At	10.39).
Logo,	 de	 acordo	 com	considerações	 apenas	 lexicais,	 o	 termo	pode	 ser	 entendido	 como	designação	da
Terra	Prometida.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Quando	 observamos	 que	 essa	 “terra”	 contém	 “tribos”,	 chegamos	 ainda	 mais	 perto	 da
interpretação	certa.	A	palavra	grega	para	“tribo”	é	phylē,	que,	na	Escritura,	quase	sempre	se	 refere	às
tribos	 israelitas.	 O	 Novo	 Testamento	 muitas	 vezes	 dá	 nome	 às	 “tribos”	 particulares	 de	 Israel:	 Aser
(Lc	2.36),	Benjamim	(At	13.21;	Rm	11.1;	Fp	3.5),	Judá	(Ap	5.5;	Hb	7.14).	As	“tribos”	encontram	seu	lar
na	 Palestina;	 essas	 são	 “as	 tribos	 da	 terra”	mencionadas	 em	Apocalipse	 1.7.	 A	 referência	 de	 João	 à
“tribo	de	Judá”	em	Apocalipse	5.5	aponta	com	clareza	para	a	divisão	tribal	entre	os	israelitas	étnicos.	O
termo	“tribo”	obviamente	tem	essa	relevância	racial	em	Apocalipse	7.4-8	ao	ser	usado	para	designar	as
doze	tribos	especificadas	pelo	nome,	e	em	Apocalipse	21.12,	João	se	refere	às	“doze	tribos	dos	filhos	de
Israel”.	A	propósito,	várias	traduções	literais	da	Escritura	inclinam-se	nessa	direção:
Eis	que	vem	com	as	nuvens,	e	vê-lo-á	todo	olho,	até	os	mesmos	que	o	traspassaram;	e	lamentar-se-ão	sobre	ele	todas	as	tribos	da
nação.	Sim!	Amém![10]
Eis	que	vem	com	as	nuvens,	e	todo	olho	o	verá,	até	mesmo	os	que	o	traspassaram;	e	lamentar-se-ão	sobre	ele	todas	as	tribos	da
nação.	Sim,	amém.[11]
Isso	não	apenas	se	harmoniza	com	os	indicadores	temporais	de	curto	prazo,	mas	também	com	os	avisos
de	Jesus	sobre	o	juízo	iminente	contra	Jerusalém.	Repare	em	três	exemplos	do	Evangelho	de	Lucas	(em
acréscimo	às	parábolas	mencionadas	antes	em	Mateus):
Quando	ia	chegando,	vendo	a	cidade,	chorou	e	dizia:	Ah!	Se	conheceras	por	ti	mesma,	ainda	hoje,	o	que	é	devido	à	paz!	Mas	isto
está	agora	oculto	aos	teus	olhos.	Pois	sobre	ti	virão	dias	em	que	os	teus	inimigos	te	cercarão	de	trincheiras	e,	por	todos	os	lados,	te
apertarão	o	cerco;	e	te	arrasarão	e	aos	teus	filhos	dentro	de	ti;	não	deixarão	em	ti	pedra	sobre	pedra,	porque	não	reconheceste	a
oportunidade	da	tua	visitação.	(Lc	19.41-44)
Quando,	porém,	virdes	Jerusalém	sitiada	de	exércitos,	sabei	que	está	próxima	a	sua	devastação.	Então,	os	que	estiverem	na	Judeia,
fujam	 para	 os	montes;	 os	 que	 se	 encontrarem	 dentro	 da	 cidade,	 retirem-se;	 e	 os	 que	 estiverem	 nos	 campos,	 não	 entrem	 nela.
Porque	estes	dias	são	de	vingança,	para	se	cumprir	tudo	o	que	está	escrito.	(Lc	21.20,21)
Porém	Jesus,	voltando-se	para	elas,	disse:	Filhas	de	Jerusalém,	não	choreis	por	mim;	chorai,	antes,	por	vós	mesmas	e	por	vossos
filhos!	Porque	dias	virão	em	que	se	dirá:	Bem-aventuradas	as	estéreis,	que	não	geraram,	nem	amamentaram.	Nesses	dias,	dirão
aos	montes:	Caí	sobre	nós!	E	aos	outeiros:	Cobri-nos!	Porque,	se	em	lenho	verde	fazem	isto,	que	será	no	lenho	seco?	(Lc	23.28-
31)
A	evidência	a	favor	da	indicação	do	ano	70	d.C.	como	indicação	do	cumprimento	de	Apocalipse	1.7	está
ficando	imbatível.	O	tema	de	João	em	Apocalipse	é	o	juízo	de	Israel	decorrente	da	rejeição	do	Senhor
Jesus	Cristo.
	
O	paralelo	particular	nos	evangelhos
Curiosamente,	Apocalipse	1.7	encontra	um	paralelo	notável	no	ensino	do	Senhor	no	sermão	do	monte	das
Oliveiras.	Observe	as	similaridades	entre	Apocalipse	1.7	e	Mateus	24.30,	em	particular	as	palavras	que
eu	destaco:
Então,	aparecerá	no	céu	o	sinal	do	Filho	do	Homem;	todos	os	povos	[tribos]	da	terra	se	lamentarão	e	verão	o	Filho	do	Homem
vindo	sobre	as	nuvens	do	céu,	com	poder	e	muita	glória.	(Mt	24.30)
Eis	que	vem	com	as	nuvens,	e	todo	olho	o	verá,	até	quantos	o	traspassaram.	E	todas	as	tribos	da	terra	se	lamentarão	sobre	ele.
Certamente.	Amém!	(Ap	1.7)
Os	 dois	 versículos	 são	 únicos	 na	 Escritura,	 no	 sentido	 em	 que	 juntam	 porções	 de	 Daniel	 7.13	 e
Zacarias	12.10.	João	traça	o	imaginário	de	“vir	com	as	nuvens”	de	Daniel	e	da	“lamentação	das	tribos”
de	Zacarias.	Nenhuma	outra	passagem	da	Escritura	faz	isso.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Ademais,	os	dois	discursos	proféticos	em	que	encontramos	esses	versículos	mencionam	a
“grande	 tribulação”(Mt	 24.21	 e	 Ap	 7.14).	 A	 maioria	 dos	 comentaristas	 nota	 o	 paralelo	 entre
Mateus	24.6-11	e	os	primeiros	quatro	selos	em	Apocalipse	6.1-8.	As	duas	profecias	são,	de	algum	modo,
associadas	ao	templo	de	Deus	(Mt	24.1-3,15;	Ap	11.1,2).	Na	verdade,	devemos	observar	que	a	versão	de
Lucas	do	ensino	do	Senhor	parece	consistir	na	fonte	da	linguagem	de	João	em	Apocalipse	11	(repare	em
especial	nas	porções	grifadas):
Cairão	a	fio	de	espada	e	serão	levados	cativos	para	todas	as	nações;	e,	até	que	os	tempos	dos	gentios	se	completem,	Jerusalém
será	pisada	por	eles.	(Lc	21.24)
Mas	deixa	de	parte	o	átrio	exterior	do	santuário	e	não	o	meças,	porque	foi	ele	dado	aos	gentios;	estes,	por	quarenta	e	dois	meses,
calcarão	aos	pés	a	cidade	santa.	(Ap	11.2)
O	 Evangelho	 de	 João	 não	 contém	 o	 sermão	 do	 monte	 das	 Oliveiras,	 encontrado	 nos	 outros	 três
evangelhos,	talvez	porque	João	cubra	o	mesmo	material	em	outra	obra,	o	Apocalipse.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Ora,	digno	de	nota	para	o	que	desejamos	ressaltar	é	o	seguinte:	as	duas	profecias	 também
versam	sobre	acontecimentos	a	curto	prazo.	Já	demonstrei	que	João	insiste:	suas	profecias	no	Apocalipse
“devem	acontecer	em	breve”	(Ap	1.1;	22.6),	“pois	o	tempo	está	próximo”	(Ap	1.3;	22.10).	Em	Mateus,	o
sermão	do	monte	das	Oliveiras	é	antecedido	pela	denúncia	de	Cristo	contra	o	templo	(Mt	23.38)	e	pela
menção	 dos	 discípulos	 à	 beleza	 do	 templo	 (24.1).	 Jesus	 responde	 à	 admiração	 deles	 dizendo:	 “Não
vedes	 tudo	 isto?	Em	verdade	vos	digo	que	não	 ficará	aqui	pedra	sobre	pedra	que	não	seja	derribada”
(24.2),	 ao	 que	 os	 discípulos	 replicam:	 “Dize-nos	 quando	 sucederão	 estas	 coisas”	 (24.3).	 Após	 lhes
conceder	os	sinais	precursores,	por	último,	ele	lhes	responde	a	pergunta:	“Em	verdade	vos	digo	que	não
passará	esta	geração	sem	que	tudo	isto	aconteça”	(24.34).	Isso	combina	muito	bem	com	a	afirmação	de
João:	 essas	 coisas	 “em	 breve	 devem	 acontecer”.	 Sabemos	 pela	 história	 que	 esse	 mesmo	 templo	 foi
destruído	em	70	d.C.,	apenas	quarenta	anos	depois	de	Jesus	ter	falado.
	
Duas	objeções	populares	a	essa	interpretação
Antes	de	continuar,	devo	interagir	com	as	objeções	comuns	ao	meu	argumento	a	favor	da	perspectiva	de
curto	prazo	para	o	desenrolar	do	tema	do	Apocalipse.
	
O	problema	do	“tempo	de	Deus”
Alguns	respondem	às	evidências	acima	argumentando	que	“João	fala	do	tempo	de	Deus,	e	não	do	tempo
do	 homem”.	 Quase	 invariavelmente,	 os	 contestadores	 que	 apresentam	 esse	 ponto	 de	 vista	 citam
2	Pedro	3.8:
Há,	todavia,	uma	coisa,	amados,	que	não	deveis	esquecer:	que,	para	o	Senhor,	um	dia	é	como	mil	anos,	e	mil	anos,	como	um	dia.
Mas	há,	no	mínimo,	dois	problemas	que	enfraquecem	essa	objeção.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Primeiro,	Pedro	está	 falando	sobre	Deus,	enquanto	João	está	dando	direções	aos	homens.
Pedro	faz	uma	afirmação	teológica	a	respeito	de	Deus	e	da	percepção	de	tempo	dele;	João	apresenta	uma
diretiva	histórica	aos	homens	com	respeito	às	suas	tribulações	que	estão	se	desdobrando.	Não	podemos
confundir	verdades	teológicas	a	respeito	de	Deus	com	orientações	históricas	aos	homens.
														Segundo,	Pedro	lida	expressamente	com	a	objeção	de	que	certas	profecias	falharam	por	ainda
não	terem	ocorrido:
Tendo	em	conta,	antes	de	 tudo,	que,	nos	últimos	dias,	virão	escarnecedores	com	os	seus	escárnios,	andando	segundo	as	próprias
paixões	e	dizendo:	Onde	está	a	promessa	da	sua	vinda?	Porque,	desde	que	os	pais	dormiram,	todas	as	coisas	permanecem	como
desde	o	princípio	da	criação.	(2Pe	3.3,4)
Pedro	lida	com	a	lentidão	do	juízo	divino.	João,	porém,	avisando	aos	cristãos	sofredores	(entre	os	quais
ele	se	inclui,	Ap	1.9)	sobre	o	que	eles	devem	esperar.	E	declara	de	forma	dogmática,	repetida	e	variada,
que	suas	profecias	“devem	acontecer	em	breve”	porque	“o	tempo	está	próximo”.
	
Uma	leitura	errada	da	afirmação	de	João
Outros	reclamam	que	“a	interpretação	de	70	d.C.	de	Apocalipse	1.7	não	leva	em	conta	a	afirmação	de
João	de	que	‘todo	olho	o	verá’”.	O	futurista	objeta	que	essa	frase	requer	uma	ocorrência	global	que	será
visivelmente	 testemunhada	 por	 todos	 os	 habitantes	 do	 planeta,	 em	 vez	 de	 um	 acontecimento	 mais
localizado	e	 testemunhado	de	modo	direto	 só	pelos	presentes	na	área.	Dois	problemas	 invalidam	essa
objeção.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Primeiro,	 “todo	 olho	o	 verá”	 significa	 apenas	 que	 o	 acontecimento	 será	 público,	 e	 não
escondido	 em	 um	 beco.	 A	 Bíblia	 usa	 muitas	 vezes	 “todo”	 ou	 “todos”	 em	 sentido	 limitado,	 longe	 do
caráter	 universal	 e	 global.	 Sem	 dúvida,	 “toda	 a	 congregação”	 de	 Israel	 (incluindo	 crianças,	 idosos	 e
enfermos?)	 não	 foi	 para	 a	 guerra	 (Js	 22.12).	 Quem	 defende	 que	 o	 Israel	 rebelde	 pecou	 contra	 Deus
literalmente	“em	todo	outeiro	alto”	e	“debaixo	de	toda	árvore	frondosa”	(Jr	2.20)?	Ninguém	acredita	que
“toda	a	Judeia”	(incluindo	crianças,	 idosos	e	enfermos?),	de	modo	literal,	saiu	para	ouvir	João	Batista
(Mt	3.5).	Eram	absolutamente	“todos	os	homens”	do	mundo	que	conheciam	os	coríntios	como	seguidores
de	Cristo	(2Co	3.2)?
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Segundo,	 João	qualifica	 a	 expressão	“todo	olho	o	verá”	pela	 cláusula	 seguinte	 “até	 todos
quantos	 o	 traspassaram”.	 A	 palavra	 traduzida	 como	 “até”	 no	 grego	 (kai)	 pode	 ser	 entendida	 como
explicativa,	assim	traduzida:	“todo	olho	o	verá,	isto	é,	todos	quantos	o	traspassaram”.[12]	Note:	“todos
os	que	o	traspassaram”	estão	mortos	há	mais	de	1900	anos.	Devemos	nos	lembrar	do	que	Jesus	disse	ao
sumo	sacerdote	no	século	I:	“Desde	agora,	vós	vereis	o	Filho	do	Homem	assentado	à	direita	do	Todo-
poderoso	e	vindo	sobre	as	nuvens	do	céu”	 (Mt	26.64).	Como	observei	acima,	a	 interpretação	 futurista
destruiria	 o	 próprio	 propósito	do	 tema	 de	 João:	 a	 punição	 dos	 judeus	 do	 século	 I	 que	 rejeitaram	 o
Messias	e	exigiram	sua	morte	agonizante	na	cruz.
	
O	cumprimento	do	acontecimento	temático
Por	nossa	distância	no	tempo,	na	geografia,	na	cultura	e	nas	circunstâncias,	nós	—	cristãos	ocidentais	da
atualidade	—	não	sentimos	muitas	vezes	a	gravidade	da	queda	de	Jerusalém	em	70	d.C.	O	fato	de	João
caracterizá-la	 como	 uma	 vinda	 em	 julgamento	 de	 Cristo	 deveria	 nos	 alertar	 para	 seu	 significado	 na
história	da	redenção.	Por	que	ele	coloca	essa	matéria	de	uma	forma	tão	impressionante?
	
O	julgamento	da	população	judia
Em	Mateus	27.25,	ouvimos	a	terrível	maldição	que	os	judeus	do	século	I	invocaram	sobre	si	mesmos:	“E
o	povo	 todo	 respondeu:	Caia	 sobre	 nós	 o	 seu	 sangue	 e	 sobre	 nossos	 filhos!”.	E,	 logo	 depois,	 quando
Jesus	se	esforçou	sob	o	peso	da	cruz,	ele	alertou	as	mulheres	de	Jerusalém	que	estavam	chorando:
Porém	Jesus,	voltando-se	para	elas,	disse:	Filhas	de	Jerusalém,	não	choreis	por	mim;	chorai,	antes,	por	vós	mesmas	e	por	vossos
filhos!	Porque	dias	virão	em	que	se	dirá:	Bem-aventuradas	as	estéreis,	que	não	geraram,	nem	amamentaram.	Nesses	dias,	dirão
aos	montes:	Caí	sobre	nós!	E	aos	outeiros:	Cobri-nos!	Porque,	se	em	lenho	verde	fazem	isto,	que	será	no	lenho	seco?	(Lc	23.28-
31)
A	guerra	 judaica	dizimou	a	população	 judaica	em	Israel.	Ninguém	pode	 ler	os	 registros	da	 testemunha
ocular	do	século	I,	o	historiador	Josefo	(War,	livros	4-7),	sem	se	horrorizar	com	a	fome,	a	carnificina	e	a
devastação	generalizadas.	Jerusalém	foi	destruída	por	Tito	como	uma	catástrofe.	Josefo	escreveu:	“Agora
os	romanos	incendiaram	até	as	partes	extremas	da	cidade,	e	as	queimaram	até	o	chão,	e	demoliram	por
completo	 suas	 muralhas”	 (War	 6.9.4).	 Do	 cerco	 final	 de	 Tito,	 somos	 informados:	 “A	 matança	 e	 a
destruição	que	se	seguiram	foram	terríveis”.
														Depois	da	guerra	judaica,	“o	país	estava	em	ruínas;	suas	cidades	e	vilas,	outrora	florescentes,
quase	sem	habitantes;	cães	e	chacais	rondavam	pelas	ruas	e	casas	devastadas.	Em	Jerusalém,	registrou-se
o	perecimento	de	um	milhão	de	pessoas,	e	cem	mil	foram	levadas	cativas	para	saciar	os	traficantes	de
escravos	 do	 império”.	 A	 famosa	 arqueóloga	 Kathleen	 Kenyon	 comentou:	 “As	 escavaçõesrecentes
mostraram	 evidências	 impressionantes	 da	 destruição	 promovida	 por	 Tito.	 […]	 Na	 destruição	 dessas
construções,	muralhas	foram	demolidas,	pedras	de	pavimentação	dilaceradas,	e	bueiros	foram	entupidos
com	materiais	seguramente	datados	da	última	parte	do	século	pelas	olarias”.[13]
	
O	julgamento	da	religião	judaica
Ainda	mais	horrível	para	os	judeus	devotos	foi	a	devastação	incomparável	que	sobreveio	contra	as	suas
obrigações,	 esperanças	 e	 valores	 religiosos.	A	 antiga	 e	 famosa	 “cidade	 santa”	 de	 Jerusalém	 jazia	 em
ruínas.	 Não	 causa	 espanto	 Jesus	 ter	 chorado	 por	 causa	 dela	 (Mt	 23.37).	 Os	 exércitos	 romanos
saqueadores	desmantelaram	o	templo	de	Deus	pedra	por	pedra.	Não	surpreende	o	lamento	de	Jesus	por
sua	desolação	(23.38).	Josefo	relatou:
Assim	que	o	exército	já	não	tinha	mais	nenhuma	pessoa	para	matar	ou	saquear,	porque	não	sobrou	ninguém	para	ser	objeto	de	sua
fúria	 (pois	 eles	 não	 teriam	 poupado	 ninguém,	 caso	 houvesse	 restado	 qualquer	 trabalho	 do	 tipo	 para	 ser	 executado),	 César	 deu
ordens	para	que	demolissem,	então,	a	cidade	inteira	e	o	templo,	mas	que	deixassem	tantas	torres	em	pé	quantas	fossem	da	maior
eminência;	isto	é,	as	torres	de	Phasaelus,	e	Hippicus,	e	Mariamne,	e	toda	a	muralha	anexa	à	cidade	pelo	lado	oeste.	A	muralha	foi
poupada	a	fim	de	poder	conter	um	acampamento	dos	remanescentes	no	pelotão;	assim	foram	as	torres	também	poupadas,	a	fim	de
demonstrar	para	a	posteridade	que	tipo	de	cidade	era,	bem	fortificada,	e	subjugada	pela	bravura	romana;	mas,	quanto	a	todo	o	resto
da	muralha,	ela	foi	tão	inteiramente	deitada	ao	nível	do	chão	por	aqueles	que	a	cavaram	em	seus	fundamentos,	que	não	restou	nada
para	tornar	crível	aos	que	se	dirigiam	até	lá	que	ela	havia	sido	habitada	algum	dia.	Esse	foi	o	fim	de	Jerusalém	pela	insanidade	dos
seguidores	 de	 inovações;	 uma	 cidade,	 de	 outro	modo,	 de	 grande	magnificência	 e	 de	 enorme	 fama	 em	 toda	 a	 humanidade	 (War
7.1.1).
Essa	destruição	significa	que	a	adoração	religiosa	de	Israel,	centrada	no	sistema	de	sacrifícios	no	templo
central	da	cidade	santa,	tornara-se	impraticável.	Os	judeus	jamais	adorariam	de	novo	do	modo	ordenado
por	Deus	em	sua	Palavra.	Mesmo	hoje	—	dezenove	séculos	depois	—	Israel	permanece	sem	o	templo	e
seus	sacrifícios.	Como	o	autor	de	Hebreus	escreveu	na	metade	da	década	de	60	do	século	I:	“Quando	ele
diz	Nova	 [aliança],	 torna	 antiquada	 a	primeira.	Ora,	 aquilo	que	 se	 torna	 antiquado	 e	 envelhecido	 está
prestes	a	desaparecer”	(Hb	8.13).	Ela	desapareceu	em	70	d.C.
														João	declarou	com	especificidade	que	escreve	uma	profecia	sobre	acontecimentos	que	“devem
acontecer	em	breve”	(Ap	1.1;	22.6),	pois	“o	tempo	está	próximo”	(Ap	1.3;	22.10).	Como	consequência,	o
intérprete	 cauteloso	 buscará	 acontecimentos	 no	 século	 I	 que	 possam	 cumprir	 essas	 expectativas
impressionantes.	 Uma	 vez	 que	 Jesus	 e	 diversos	 escritores	 do	 Novo	 Testamento	 profetizaram	 o	 juízo
divino	 contra	 o	 Israel	 do	 século	 I	 e	 seu	 templo	 (p.	 ex.,	 Mt	 8.11,12;	 21.33-45;	 22.1-7;	 23.1,24.34;
Lc	19.41-44;	21.20-22;	23.28-31),	 e	pelo	 fato	de	esse	acontecimento	encerrar	de	uma	vez	por	 todas	a
antiga	aliança	(Hb	8.7-13;	12.22-29),	e	devastar	de	tal	maneira	o	povo,	a	cultura	e	a	religião	de	Israel
(Josefo,	War),	estou	convencido	de	que	o	Apocalipse	versa	sobre	a	era	da	guerra	judaica	contra	Roma.
De	fato,	não	vejo	como	essa	conclusão	pode	ser	evitada	quando	se	consideram	as	perspectivas	exegética,
teológica	e	histórica.
	
FLUXO	TEMÁTICO	DO	JULGAMENTO
Agora,	veremos	como	João	desenvolveu	o	tema	do	julgamento	contra	Israel.	O	Apocalipse	é	um	drama
vívido	 e	 cativante	 escrito	 em	 linguagem	 ousada,	 expressiva	 e	 dinâmica.	 Obviamente,	 não	 podemos
fornecer	aqui	um	comentário	sobre	cada	aspecto,	mas	eu	gostaria	de	demonstrar	seu	fluxo	temático	com
pinceladas	amplas,	observando	alguns	de	seus	aspectos	principais.
														Enquanto	começamos	a	destacar	o	drama	em	desdobramento	do	Apocalipse,	devemos	sempre	ter
em	mente	que	esse	é	o	 livro	com	mais	 sabores	do	Antigo	Testamento	de	 todo	o	Novo	Testamento.	Os
gramáticos	 notam	 sua	 gramática	 peculiar,	 fortemente	 influenciada	 pelas	 estruturas	 de	 pensamento
hebraicas	que	quebram	as	regras	da	gramática	grega.	Também	vemos	centenas	de	alusões	a	versículos,
imagens	e	temas	do	Antigo	Testamento.	Nós	até	encontramos	nomes	e	lugares	em	hebraico,	e	alguns	deles
são	traduzidos	da	forma	hebraica	para	uma	mais	helenizada	(“Abadom”	se	torna	“Apoliom”,	Ap	9.11),	ou
são	explicados	como	 formas	hebraicas	 (“Ar-magedom”,	Ap	16.16).	O	caráter	hebraico	do	Apocalipse
será	muito	importante	enquanto	traçamos	seu	desenvolvimento	surpreendente.
	
O	relacionamento	judicial	no	Apocalipse
Descobriremos	 que	 o	Apocalipse	 apresenta	 duas	mulheres	 importantes	 para	 sua	 história.	Antes	 de	 eu
mostrar	seu	relacionamento,	quero	 lembrar	ao	 leitor	que,	no	Antigo	Testamento,	 Israel	aparece	como	a
esposa	de	Deus.	Duas	passagens	(dentre	muitas)	demonstram	isso	de	modo	cabal:
Porque	o	teu	Criador	é	o	teu	marido;	o	SENHOR	dos	Exércitos	é	o	seu	nome;	e	o	Santo	de	Israel	é	o	teu	Redentor;	ele	é	chamado	o
Deus	de	toda	a	terra.	(Is	54.5)
Eis	aí	vêm	dias,	diz	o	SENHOR,	em	que	firmarei	nova	aliança	com	a	casa	de	Israel	e	com	a	casa	de	Judá.	Não	conforme	a	aliança
que	fiz	com	seus	pais,	no	dia	em	que	os	tomei	pela	mão,	para	os	tirar	da	terra	do	Egito;	porquanto	eles	anularam	a	minha	aliança,
não	obstante	eu	os	haver	desposado,	diz	o	SENHOR.	(Jr	31.31,32)
Portanto,	 quando	 Israel	 é	 infiel	 a	 Deus,	 as	 Escrituras	 consideram	 esse	 ato	 prostituição	 ou	 adultério
espiritual.	Os	profetas	do	exílio	acusam	Israel	em	especial	desses	pecados:
Sucedeu	que,	pelo	ruidoso	da	sua	prostituição,	poluiu	ela	a	terra;	porque	adulterou,	adorando	pedras	e	árvores.	(Jr	3.9)
Como,	 vendo	 isto,	 te	 perdoaria?	 Teus	 filhos	me	 deixam	 a	mim	 e	 juram	 pelos	 que	 não	 são	 deuses;	 depois	 de	 eu	 os	 ter	 fartado,
adulteraram	e	em	casa	de	meretrizes	se	ajuntaram	em	bandos.	(Jr	5.7)
Porque	adulteraram,	e	nas	suas	mãos	há	culpa	de	sangue;	com	seus	ídolos	adulteraram,	e	até	os	seus	filhos,	que	me	geraram,
ofereceram	a	eles	para	serem	consumidos	pelo	fogo.	(Ez	23.37)
O	 relacionamento	 pactual	 entre	 Israel	 e	 Deus	 é	 crucial	 para	 entender	 a	 ação	 legal	 e	 os	 julgamentos
criminais	no	Apocalipse,	como	veremos.
	
O	argumento	judicial	no	Apocalipse
É	interessante	a	proeminência	da	palavra	“trono”	no	Apocalipse.	Ela	ocorre	em	18	dos	22	capítulos	do
Apocalipse.	De	 fato,	 a	 palavra	 aparece	 62	 vezes	 no	Novo	 Testamento;	 delas,	 47	 no	Apocalipse.	 Por
conseguinte,	não	podemos	perder	de	vista	a	forte	ênfase	no	elemento	legal-judicial	de	João.
		 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	primeira	visão	do	enredo	principal	do	Apocalipse	tem	início	com	Deus	assentado	em	um
trono	judicial.
Imediatamente,	 eu	 me	 achei	 em	 espírito,	 e	 eis	 armado	 no	 céu	 um	 trono,	 e,	 no	 trono,	 alguém	 sentado	 […]	 Do	 trono	 saem
relâmpagos,	vozes	e	trovões,	e,	diante	do	trono,	ardem	sete	tochas	de	fogo,	que	são	os	sete	Espíritos	de	Deus.	(Ap	4.2,5)
Em	outros	pontos	do	Apocalipse,	ouvimos	a	 linguagem	judicial	com	referências	a	“julgamento”,	“ira”,
“testemunhas”,	e	assim	por	diante.	Mas	por	quê?	O	que	está	em	julgamento?
	
O	decreto	judicial	do	Apocalipse
Seguindo-se	 à	 apresentação	 que	 João	 faz	 de	 Deus	 em	 seu	 trono,	 testemunhamos	 uma	 transação
interessante:
Vi,	na	mão	direita	daquele	que	estava	sentado	no	trono,	um	livro	escrito	por	dentro	e	por	fora,	de	todo	selado	com	sete	selos.	Vi,
também,	um	anjo	forte,	que	proclamava	em	grande	voz:	Quem	é	digno	de	abrir	o	livro	e	de	lhe	desatar	os	selos?	Ora,	nem	no	céu,
nem	 sobre	 a	 terra,	 nem	 debaixo	 da	 terra,	 ninguém	 podia	 abrir	 o	 livro,	 nem	mesmo	 olhar	 para	 ele;	 e	 eu	 chorava	muito,	 porque
ninguém	foi	achado	digno	de	abrir	o	livro,	nem	mesmo	de	olhar	para	ele.	Todavia,	um	dos	anciãos	me	disse:	Não	chores;	eis	que	o
Leão	da	tribo	de	Judá,	a	Raiz	de	Davi,	venceu	para	abriro	livro	e	os	seus	sete	selos.	(Ap	5.1-5)
O	que	é	esse	livro	exigido	pelo	trono	judicial	de	Deus?
														Uma	das	mulheres	proeminentes	de	Apocalipse	aparece	repetidas	vezes	nos	capítulos	seguintes:
a	meretriz.	 Então,	 no	 final	 do	 livro,	 outra	mulher	 importante	 entra	 em	 cena:	 a	 noiva.	O	 que	 tudo	 isso
significa?
														Antes	que	eu	possa	conduzir	a	questão	ao	foco	apropriado,	precisamos	ter	em	mente	algumas
coisas	importantes:	João	nos	informa	que	as	profecias	do	seu	livro	“devem	acontecer	em	breve”	(Ap	1.1;
22.6),	 pois	 “o	 tempo	 está	 próximo”	 (Ap	 1.3;	 22.10);	 seu	 tema	 foca	 no	 juízo	 contra	 os	 que	 o
“traspassaram”	(os	judeus	do	séc.	I;	Ap	1.7);	ele	apresenta	sua	mensagem	com	um	forte	e	raro	sabor	de
Antigo	Testamento;	e	duas	mulheres	desempenham	um	papel	proeminente	no	drama.
														Com	essas	informações	diante	de	nós,	acredito	que	o	livro	judicial	é	o	decreto	de	divórcio	de
Deus	contra	sua	esposa	 infiel	 Israel.	As	Escrituras	 falam	de	um	“certificado	de	divórcio”	em	diversas
ocasiões	(Dt	24.1,3;	Is	50.1;	Mt	5.31;	19.7;	Mc	10.4).	No	Apocalipse,	João	parece	pegar	e	desenvolver	a
imagem	 do	 Antigo	 Testamento	 da	 prostituição	 de	 Israel	 e	 do	 divórcio	 de	 Deus	 contra	 ela	 por	 isso.
Jeremias	3	e	Ezequiel	2-3	são	particularmente	influentes	com	relação	a	esse	objetivo.
														Note	em	especial:
Quando,	por	causa	de	 tudo	 isto,	por	 ter	cometido	adultério,	eu	despedi	a	pérfida	Israel	e	 lhe	dei	carta	de	divórcio,	vi	que	a	 falsa
Judá,	sua	irmã,	não	temeu;	mas	ela	mesma	se	foi	e	se	deu	à	prostituição.	(Jr	3.8)
(No	capítulo	4,	exporei	as	evidências	de	que	Jerusalém	é	a	meretriz	do	Apocalipse;	por	enquanto,	apenas
o	presumo.)
														As	interessantes	circunstâncias	históricas	dos	dias	de	Jeremias	e	de	João	são	bem	parecidas.
Vejamos	como	João	delineia	o	imaginário	a	partir	da	experiência	de	Jeremias.	João	descreve	a	meretriz
no	Apocalipse:
Achava-se	a	mulher	vestida	de	púrpura	e	de	escarlata,	adornada	de	ouro,	de	pedras	preciosas	e	de	pérolas,	tendo	na	mão	um	cálice
de	ouro	 transbordante	de	abominações	e	com	as	 imundícias	da	 sua	prostituição.	Na	 sua	 fronte,	 achava-se	escrito	um	nome,	um
mistério:	BABILÔNIA,	A	GRANDE,	A	MÃE	DAS	MERETRIZES	E	DAS	ABOMINAÇÕES	DA	TERRA.	(Ap	17.4,5)
Agora,	observe	os	paralelos	entre	Jeremias	e	João.
														Jeremias	testemunha	a	destruição	do	primeiro	templo	pela	Babilônia	enquanto	chama	Israel	de
“prostituta”;	 João	 está	 para	 testemunhar	 a	 destruição	 do	 segundo	 templo	 enquanto	 chama	 Israel	 de
“Babilônia,	a	Grande,	a	Mãe	das	Meretrizes”	(Ap	17.5).
														Jeremias	até	denuncia	Israel	por	meio	da	declaração:	“Tu	tens	a	fronte	de	prostituta”	(Jr	3.3),
enquanto	 João	 enfatiza	 a	 fronte	da	 prostituta	 em	 sua	 descrição:	 “Na	 sua	 fronte,	 achava-se	 escrito	 um
nome,	um	mistério:	BABILÔNIA,	A	GRANDE,	A	MÃE	DAS	MERETRIZES	E	DAS	ABOMINAÇÕES	DA	TERRA”	(Ap	17.5).
														Jeremias	também	protesta	contra	a	impureza	abominável	de	Jerusalém:
Tenho	 visto	 as	 tuas	 abominações	 sobre	 os	 outeiros	 e	 no	 campo,	 a	 saber,	 os	 teus	 adultérios,	 os	 teus	 rinchos	 e	 a	 luxúria	 da	 tua
prostituição.	Ai	de	ti,	Jerusalém!	Até	quando	ainda	não	te	purificarás?	(Jr	13.27)
E	João	reitera	que	a	meretriz	tem	um	cálice	“transbordante	de	abominações	e	com	as	imundícias	da	sua
prostituição”	(Ap	17.4).
														Agora,	considere	Ezequiel	a	fonte	particular	que	João	usa	para	a	visão	do	trono	de	Deus	e	o
livro.	 Ezequiel	 vê	 Deus	 em	 seu	 trono	 em	 1.26,	 como	 João	 em	Apocalipse	 5.2.	 A	 visão	 do	 trono	 de
Ezequiel	até	menciona	o	esplendor	do	arco-íris	(Ez	1.28;	cp.	Ap	4.3),	os	quatro	seres	viventes	(Ez	1.5;
Ap	4.6)	e	o	pavimento	cristalino	(Ez	1.22;	Ap	4.6).	Em	seguida,	Ezequiel	vê	uma	mão	se	estendendo	do
trono	e	segurando	um	livro	todo	escrito	na	frente	e	no	verso:
Então,	vi,	e	eis	que	certa	mão	se	estendia	para	mim,	e	nela	se	achava	o	rolo	de	um	livro.	Estendeu-o	diante	de	mim,	e	estava	escrito
por	dentro	e	por	fora;	nele,	estavam	escritas	 lamentações,	suspiros	e	ais.	Ainda	me	disse:	Filho	do	homem,	come	o	que	achares;
come	este	rolo,	vai	e	fala	à	casa	de	Israel.	(Ez	2.9-3.1)
Isso	lembra	muito	a	visão	de	João:
Vi,	na	mão	direita	daquele	que	estava	sentado	no	trono,	um	livro	escrito	por	dentro	e	por	fora,	de	todo	selado	com	sete	selos.	(Ap
5.1)
Então,	Ezequiel	 2-3	 fala	 da	devastação	 contra	 a	 Jerusalém	do	Antigo	Testamento	 (Ezequiel	 até	 chama
Israel	 de	 prostituta:	 16.15-17,20,22,25,26,28-31,33-36,41).	 As	 seções	 principais	 de	 Apocalipse	 6-19
também	mencionam	a	devastação	de	Jerusalém	(como	eu	mostrarei).
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Ademais,	os	sete	selos	no	 livro	de	João	(Ap	5.1)	parecem	refletir	o	 imaginário	pactual	do
Antigo	Testamento.	Em	Levítico	26,	Israel	recebe	a	promessa	de	vingança	séptupla	se	romper	a	aliança
de	Deus:
Se	ainda	assim	com	isto	não	me	ouvirdes,	tornarei	a	castigar-vos	sete	vezes	mais	por	causa	dos	vossos	pecados…	E,	se	andardes
contrariamente	para	comigo	e	não	me	quiserdes	ouvir,	trarei	sobre	vós	pragas	sete	vezes	mais,	segundo	os	vossos	pecados	[…]	eu
também	serei	contrário	a	vós	outros	e	eu	mesmo	vos	ferirei	sete	vezes	mais	por	causa	dos	vossos	pecados	[…]	eu	também,	com
furor,	serei	contrário	a	vós	outros	e	vos	castigarei	sete	vezes	mais	por	causa	dos	vossos	pecados.	(Lv	26.18,21,24,28)
Estou	convencido	de	que	João	retrata	o	juízo	contra	Jerusalém	em	70	d.C.	sob	o	juízo	sétuplo	de	Deus,
não	apenas	com	o	livro	selado	com	sete	selos,	mas	 também	com	as	sete	 trombetas	e	as	sete	 taças.	Ele
vislumbra	o	divórcio	 e	 a	 punição	de	 Israel	 com	 toda	 a	dramaticidade	 como	a	 esposa	 em	aliança	 com
Deus.
	
O	julgamento	no	Apocalipse
Mas	o	que	é	o	julgamento	séptuplo	contra	Jerusalém/Israel?	Após	o	decreto	do	divórcio	de	Deus	contra
Israel	por	adultério	(Ap	4-5),	julgamentos	começam	a	cair	em	massa	sobre	ela	em	Apocalipse	6-19	(com
algumas	interrupções	e	interlúdios).
														Na	lei	do	Antigo	Testamento,	o	adultério	era	punido	com	morte:
Se	um	homem	adulterar	com	a	mulher	do	seu	próximo,	será	morto	o	adúltero	e	a	adúltera.	(Lv	20.10)
E	o	método	da	pena	capital	no	Antigo	Testamento	era	pelo	apedrejamento:
Então,	a	levarão	à	porta	da	casa	de	seu	pai,	e	os	homens	de	sua	cidade	a	apedrejarão	até	que	morra,	pois	fez	loucura	em	Israel,
prostituindo-se	na	casa	de	seu	pai;	assim,	eliminarás	o	mal	do	meio	de	ti.	(Dt	22.21)
Em	Apocalipse	16.21,	João	retrata	a	destruição	de	“Babilônia”	(Jerusalém)	por	apedrejamento:
Também	desabou	do	céu	sobre	os	homens	grande	saraivada,	com	pedras	que	pesavam	cerca	de	um	talento;	e,	por	causa	do	flagelo
da	chuva	de	pedras,	os	homens	blasfemaram	de	Deus,	porquanto	o	seu	flagelo	era	sobremodo	grande.	(Ap	16.21)
No	capítulo	5,	vou	mostrar	correspondências	notórias	entre	esse	versículo	e	o	registro	histórico	do	cerco
de	Jerusalém.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	O	 imaginário	 do	 julgamento	 em	Apocalipse,	 então,	mostra	Deus	 assentado	 em	 seu	 trono
judiciário	e	se	divorciando	de	Israel,	e	na	sequência	lhe	aplicando	a	pena	capital	de	apedrejamento	por
adultério.
	
O	resultado	judicial	no	Apocalipse
Havendo	Deus	legalmente	expulsado	sua	esposa	prostituta,	o	que	vemos	tomando	o	lugar	dela?	Uma	nova
noiva:
Vi	 também	 a	 cidade	 santa,	 a	 nova	 Jerusalém,	 que	 descia	 do	 céu,	 da	 parte	 de	Deus,	 ataviada	 como	 noiva	 adornada	 para	 o	 seu
esposo.	(Ap	21.2)
Agora,	considere	rapidamente	o	fluxo	até	esse	ponto:	em	Apocalipse	4,	Deus	está	assentado	em	seu	trono
de	juiz.	Em	Apocalipse	5,	ele	decreta	uma	ação	de	divórcio	selada	sete	vezes.	Em	Apocalipse	6-19	(com
algumas	 interrupções),	 ele	 executa	 juízos	 contra	 a	 meretriz,	 apedrejando-a	 até	 a	 morte.	 Então,	 em
Apocalipse	19,	João	começa	a	nos	preparar	para	a	aparição	da	nova	noiva:
Então,	me	falou	o	anjo:	Escreve:	Bem-aventurados	aqueles	que	são	chamados	à	ceia	das	bodas	do	Cordeiro.	E	acrescentou:	São
estas	as	verdadeiras	palavras	de	Deus.	(Ap	19.9)
Mais	tarde,	a	noiva	desce	do	céu.	Em	Apocalipse	21.2,	ela	é	chamada	de	“NovaJerusalém”,	deixando
implícita	 a	 tomada	do	 lugar	da	velha	 Jerusalém.	O	contraste	da	velha	 Jerusalém	histórica	 com	a	nova
Jerusalém	celestial	aparece	em	outros	pontos	do	Novo	Testamento.
Ora,	Agar	é	o	monte	Sinai,	na	Arábia,	e	corresponde	à	Jerusalém	atual,	que	está	em	escravidão	com	seus	filhos.	Mas	a	Jerusalém
lá	de	cima	é	livre,	a	qual	é	nossa	mãe.	(Gl	4.25,26)
Mas	tendes	chegado	ao	monte	Sião	e	à	cidade	do	Deus	vivo,	a	Jerusalém	celestial,	e	a	incontáveis	hostes	de	anjos.	(Hb	12.22)
Assim,	 a	 Jerusalém	 celestial	 de	 João	 é	 uma	 imagem	do	 cristianismo.	A	 igreja	 cristã	 substitui	 a	 igreja
judaica,	a	fé	cristã	substitui	a	fé	judaica	no	plano	divino	de	redenção.	Como	consequência,	na	conclusão
do	Apocalipse,	não	vemos	Deus	sozinho	sem	esposa,	sem	um	povo	em	aliança.	Em	vez	disso,	vemos	que
uma	nova	noiva	lhe	foi	preparada.
	
CONCLUSÃO
O	 Apocalipse	 explica,	 justifica	 e	 notifica	 a	 remoção	 de	 Israel/Jerusalém.	 Devemos	 entender	 os
acontecimentos	do	ano	70	d.C.	em	termos	do	desenrolar	da	história	da	redenção	com	a	primeira	vinda	de
Cristo.	Na	 igreja	apostólica	do	 século	 I,	 alcança-se	um	momento	crítico	no	 tratamento	de	Deus	com	o
homem.	Mais	cedo,	no	ministério	terreno	de	Jesus,	Israel	foi	preparado	para	a	mudança.
Digo-vos	que	muitos	virão	do	Oriente	e	do	Ocidente	e	tomarão	lugares	à	mesa	com	Abraão,	Isaque	e	Jacó	no	reino	dos	céus.	Ao	passo
que	os	filhos	do	reino	serão	lançados	para	fora,	nas	trevas;	ali	haverá	choro	e	ranger	de	dentes.	(Mt	8.11,12)
Portanto,	vos	digo	que	o	reino	de	Deus	vos	será	tirado	e	será	entregue	a	um	povo	que	lhe	produza	os	respectivos	frutos.	Todo	o	que	cair
sobre	esta	pedra	ficará	em	pedaços;	e	aquele	sobre	quem	ela	cair	ficará	reduzido	a	pó.	(Mt	21.43,44)
João	faz	essa	apresentação	mediante	um	drama	forense.
	
	
3.	A	besta	e	sua	fúria
	
Nos	dois	primeiros	capítulos,	eu	lhes	apresentei	as	chaves	necessárias	para	destrancar	os	mistérios	do
Apocalipse.	As	três	chaves	principais	para	o	Apocalipse	são:	1)	As	declarações	expressas	de	João	de
que	 os	 acontecimentos	 profetizados	 se	 encontram	 no	 futuro	 próximo	 e,	 portanto,	 devem	 ocorrer	 no
século	I.	2)	As	declarações	e	ilustrações	repetidas	da	natureza	simbólica	do	Apocalipse,	desencorajando
a	 abordagem	 literalista.	 3)	Sua	declaração	 rápida	do	 tema	do	Apocalipse,	 focando	no	 juízo	de	Cristo
contra	os	judeus	do	século	I.	Juntando	tudo	isso,	apresentei	uma	chave	consequente:	4)	O	fluxo	literário
da	ação	no	Apocalipse,	revelando	o	decreto	de	divórcio	de	Deus	contra	sua	esposa	infiel,	por	meio	da
aplicação	da	punição	capital,	e	de	seu	casamento	com	uma	nova	noiva,	a	igreja.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	fim	de	entender	o	Apocalipse	em	sentido	preterista,	e	a	fim	de	ver	como	essas	chaves	se
aplicam	explorarei,	 neste	 capítulo	 e	 no	próximo,	 duas	personagens	perversas	 e	 notáveis	 na	história:	 a
besta	de	sete	cabeças	e	Babilônia,	a	meretriz.
	
INTRODUÇÃO
Em	Apocalipse	13,	uma	nova	personagem	entra	em	cena:	a	besta	de	sete	cabeças.
Vi	emergir	do	mar	uma	besta	que	tinha	dez	chifres	e	sete	cabeças	e,	sobre	os	chifres,	dez	diademas	e,	sobre	as	cabeças,	nomes	de
blasfêmia.	(Ap	13.1)[14]
Talvez	 nenhum	outro	 aspecto	 do	Apocalipse	 seja	mais	 conhecido	 ou	mais	 intrigante	 que	 a	 besta.	 Sem
dúvida,	todo	cristão	adulto	conhece	o	temível	número	“666”.	Com	certeza,	muitas	autoridades	na	história
da	exegese	propuseram	soluções	para	a	sua	identidade.	Infelizmente,	a	maioria	dos	candidatos	resulta	de
“exegese	de	jornal”,	devido	ao	desejo	do	intérprete	de	tornar	a	besta	relevante	para	o	tempo	do	próprio
intérprete.
														Contudo,	acredito	que	a	evidência	clara	e	irresistível	nos	ajude	a	identificar	com	adequação	a
besta	quando	usamos	as	chaves	fornecidas	por	João.	Começarei	declarando	sua	identidade;	em	seguida,
elaborarei	 o	 argumento	 para	 apoiar	minha	 identificação.	 Faço	 isso	 para	 que	 o	 leitor	 possa,	 com	mais
facilidade,	seguir	e	criticar	minha	apresentação	enquanto	ela	se	desdobra.
														Antes	de	identificá-lo,	devo	destacar	uma	questão	confusa	a	respeito	da	besta	—	uma	questão
com	que	quase	todos	os	comentaristas	concordam:	no	Apocalipse,	a	besta	transita	entre	uma	identidade
genérica	e	uma	específica.	Isto	é,	a	besta,	às	vezes,	refere-se	a	uma	entidade	corporativa	e,	às	vezes,	a	um
indivíduo.	Por	exemplo,	o	dispensacionalista	Robert	L.	Thomas	observa	“a	permutabilidade	da	cabeça
com	a	besta	inteira	—	isto	é,	o	rei	com	seu	reino”.[15]	Comentaristas	da	ala	liberal	e	da	conservadora
reconhecem	esse	fato.	Isso	se	parece	com	o	“corpo	de	Cristo”,	que	às	vezes	significa	o	corpo	individual
de	Jesus	e,	outras	vezes,	o	conjunto	da	igreja.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Assim,	quem	é	 a	besta?	Em	sentido	 corporativo,	 ela	 é	o	 Império	Romano;	de	modo	mais
específico,	ele	é	Nero	César,	a	cabeça	contemporânea.	Que	evidências	me	levam	a	essa	conclusão?
	
O	TEMPO	DA	BESTA
Ao	identificar	a	besta,	é	essencial	que	os	indicadores	temporais	de	João	sejam	levados	em	consideração.
Como	ressaltei	no	capítulo	1,	João	sem	dúvida	espera	o	cumprimento	de	suas	profecias	no	tempo	de	sua
própria	vida.	Ele	escreveu	a	um	público	contemporâneo	sobre	o	que	“Deus	mostrou	aos	seus	servos”.	Ele
não	escreveu	algo	para	uma	cápsula	de	tempo	a	ser	aberta	depois.	E	ele	declarou	em	tom	dogmático	que
os	acontecimentos	contidos	no	que	ele	lhes	“comunicou”	“devem	acontecer	em	breve”.
Considerando	as	circunstâncias	do	século	 I,	 João	não	espera	que	cada	membro	das	sete	 igrejas
mantenha	 uma	 cópia	 do	Apocalipse.	 Em	 vez	 disso,	 ele	 os	 conclama	 a	 ouvir	 com	 atenção	 àquele	 que
publicamente	 lê	para	 eles	 (cp.	Cl	4.16;	1Ts	5.27).	De	 fato,	 ele	propõe	uma	bênção	para	os	que	 leem,
ouvem	e	guardam	suas	profecias	—	“pois	o	tempo	está	próximo”	(Ap	1.3).	Como	consequência,	a	besta
deve	ser	uma	figura	do	século	I.
														Essa	observação	temporal,	sozinha,	não	prova	que	a	besta	é	Nero	ou	o	Império	Romano.
Mas	ela	elimina	100%	das	suposições	modernas	pelos	“especialistas	em	profecia”	populares.	Veremos
as	várias	linhas	de	evidências	que	apontam	para	essa	direção.
	
A	LOCALIZAÇÃO	DA	BESTA
O	 segundo	 passo	 para	 identificar	 a	 besta	 consiste	 em	 determinar	 sua	 localização	 geográfica.	 A	 besta
aparece	primeiro	em	Apocalipse	13,	mas,	quando	ela	se	alia	à	grande	meretriz,	João	fica	confuso.
O	anjo,	porém,	me	disse:	Por	que	te	admiraste?	Dir-te-ei	o	mistério	da	mulher	e	da	besta	que	tem	as	sete	cabeças	e	os	dez	chifres
e	que	leva	a	mulher.	(Ap	17.7)
Na	 interpretação	 do	 anjo,	 aprendemos	 que	 as	 sete	 cabeças	 da	 besta	 concedem	 uma	 pista	 sobre	 sua
identidade:
Aqui	está	o	sentido,	que	tem	sabedoria:	as	sete	cabeças	são	sete	montes,	nos	quais	a	mulher	está	sentada.	(Ap	17.9)
Todos	 concordam	 que	 João	 escreveu	 o	 Apocalipse	 em	 algum	 momento	 no	 século	 I.	 Isso	 encerra	 a
identidade	geográfica	da	besta	como	a	famosa	“cidade	em	sete	colinas”,	Roma.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	João	sublinha	essa	pista	para	nós	ao	observar	que,	ao	surgir	a	besta	pela	primeira	vez,	ela
aparece	no	mar:
														Vi	emergir	do	mar	uma	besta.	(Ap	13.1a)
Como	 sabemos	 que	 João	 escreveu	 sobre	 a	 destruição	 do	 templo	 em	 Israel,	 a	 besta,	 nós	 suporíamos,
surgiria	do	mar	em	um	ponto	de	observação	de	Israel.	Roma	fica	a	noroeste	de	Israel	atravessando	o	mar
Mediterrâneo.	Por	exemplo,	Paulo	viaja	de	Israel	a	Roma	cruzando	o	mar	Mediterrâneo:	quando	ele	está
no	tribunal	em	Israel,	apela	a	César	em	Roma	(At	25.11,21;	26.32).
Então,	Agripa	se	dirigiu	a	Festo	e	disse:	Este	homem	bem	podia	ser	solto,	se	não	tivesse	apelado	para	César.	Quando	foi	decidido
que	 navegássemos	 para	 a	 Itália,	 entregaram	 Paulo	 e	 alguns	 outros	 presos	 a	 um	 centurião	 chamado	 Júlio,	 da	 Coorte	 Imperial.
(At	26.32—27.1)
Ele	 navegou	 “costeando	 a	Ásia”	 (27.2)	 até	 Chipre	 (27.4),	 Creta	 (27.7),	Malta	 (28.1),	 e	 então	 para	 a
Itália,	 parando	 em	Régio	 (28.13a)	 e	 Putéoli	 (28.13b),	 antes	 de	 prosseguir	 os	 últimos	 quilômetros	 por
terra	até	Roma	(28.14).A	limitação	temporal	e	as	alusões	geográficas	apontam	para	Roma	como	a	besta	corporativa.	No
entanto,	há	mais.
	
A	AUTORIDADE	DA	BESTA
Agora,	 saímos	 dos	 indicadores	 temporais	 e	 geográficos	 para	 os	 políticos.	 A	 figura	 que	 João	 faz	 da
autoridade	 da	 besta	 se	 encaixa	 bem	 na	 identidade	 romana.	 João	 não	 apenas	 vê	 a	 besta	 com	 muitos
diademas	 e	 a	 visualiza	 com	armas	 poderosas,	mas	 nota	 em	 especial	 que	Satanás	 lhe	 concede	 “grande
autoridade”:
Vi	emergir	do	mar	uma	besta	que	tinha	dez	chifres	e	sete	cabeças	e,	sobre	os	chifres,	dez	diademas	e,	sobre	as	cabeças,	nomes
de	blasfêmia.	A	besta	que	vi	era	semelhante	a	leopardo,	com	pés	como	de	urso	e	boca	como	de	leão.	E	deu-lhe	o	dragão	o	seu
poder,	o	seu	trono	e	grande	autoridade.	(Ap	13.1,2)
João	 destaca	 seu	 grande	 poder	 político	 pela	 imagem	 dos	 “dez	 chifres”	 com	 “dez	 diademas”.	 Na
antiguidade,	chifres	animais	simbolizavam	autoridade	política	e	força	militar:
Deus	 tirou	 do	 Egito	 a	 Israel,	 cujas	 forças	 [chifres]	 são	 como	 as	 do	 boi	 selvagem;	 consumirá	 as	 nações,	 seus	 inimigos,	 e
quebrará	seus	ossos,	e,	com	as	suas	setas,	os	atravessará.	(Nm	24.8)
Ele	tem	a	imponência	do	primogênito	do	seu	touro,	e	as	suas	pontas	são	como	as	de	um	boi	selvagem;	com	elas	rechaçará	todos
os	povos	até	às	extremidades	da	terra.	Tais,	pois,	as	miríades	de	Efraim,	e	tais,	os	milhares	de	Manassés.	(Dt	33.17)
Visto	que,	com	o	lado	e	com	o	ombro,	dais	empurrões	e,	com	os	chifres,	impelis	as	fracas	até	as	espalhardes	fora.	(Ez	34.21)
Depois	disto,	eu	continuava	olhando	nas	visões	da	noite,	e	eis	aqui	o	quarto	animal,	 terrível,	espantoso	e	sobremodo	forte,	o	qual
tinha	grandes	dentes	de	ferro;	ele	devorava,	e	fazia	em	pedaços,	e	pisava	aos	pés	o	que	sobejava;	era	diferente	de	todos	os	animais
que	apareceram	antes	dele	e	tinha	dez	chifres.	(Dn	7.7)
As	pessoas	na	visão	que	olham	a	besta	estão	perplexas	pelo	 seu	poder:	 “Quem	é	 semelhante	à	besta?
Quem	pode	pelejar	contra	ela?”	(Ap	13.4b).
														De	fato,
Foi-lhe	dado,	também,	que	pelejasse	contra	os	santos	e	os	vencesse.	Deu-se-lhe	ainda	autoridade	sobre	cada	tribo,	povo,	língua	e
nação.	(Ap	13.7)
Todos	nós	estamos	cientes	do	domínio	e	do	poder	de	Roma	no	século	I.	Josefo	fala	dos	romanos	como
“os	 senhores	 da	 terra	 habitável”	 (War	4.3.10),	 “os	 governantes	 do	mundo	 inteiro”	 (Ant.	15.11.1).	 Ele
chama	Roma	de	“a	maior	de	todas	as	cidades”	(War	4.11.5).	Fílon,	um	filósofo	judeu	do	século	I,	fala	do
imperador	de	Roma	“assumindo	a	 soberania	 sobre	 tudo”	 (Embassy	8).	Ele	 até	 escreveu	 a	 respeito	 da
“soberania	[de	Roma]	sobre	as	porções	mais	numerosas,	valiosas	e	importantes	do	mundo	habitável,	o
que,	na	verdade,	alguém	poderia	com	correção	chamar	de	todo	o	mundo”	(Embassy	10).	A	evidência	a
favor	de	Roma	está	aumentando.
	
A	CRONOLOGIA	DA	BESTA
O	 anjo	 intérprete	 de	 João	 apresenta	 ainda	 mais	 evidências	 nessa	 direção.	 Após	 afirmar	 que	 as	 sete
cabeças	representam	sete	montanhas,	acrescenta	que	elas	também	representam	sete	reis:
Aqui	está	o	sentido,	que	tem	sabedoria:	as	sete	cabeças	são	sete	montes,	nos	quais	a	mulher	está	sentada.	São	também	sete	reis,
dos	quais	caíram	cinco,	um	existe,	e	o	outro	ainda	não	chegou;	e,	quando	chegar,	tem	de	durar	pouco.	(Ap	17.9,10)
Isso	se	torna	muito	útil	em	identificar	o	imperador	particular	que	governava	Roma	quando	João	escreveu.
														Agora,	o	anjo	associa	a	série	de	sete	reis	a	esse	império	famoso.	Revela-se,	então,	que	os	cinco
reis	 caídos	 representam	os	primeiros	 cinco	 imperadores	de	Roma:	 Júlio,	Augusto,	Tibério,	Calígula	 e
Cláudio	(para	a	sua	enumeração,	consulte	Lives	of	the	Twelve	Caesars,	do	biógrafo	Suetônio	do	séc.	II).
Eles	 já	 estavam	 mortos	 quando	 João	 escreveu;	 portanto,	 já	 “caíram”.	 O	 sexto	 rei	 está	 reinando	 no
momento,	pois	“um	existe”.	Esse	é	Nero	César.	O	anjo	então	explica	para	João	sobre	o	sétimo	rei:	ele
“ainda	não	chegou;	e,	quando	chegar,	tem	de	durar	pouco”.	O	sétimo	imperador	de	Roma	foi	Galba,	que
reinou	de	junho	de	68	a	janeiro	de	69	—	apenas	seis	meses,	o	imperador	de	reinado	mais	curto	até	essa
época	(o	reinado	de	Nero	durou	mais	de	treze	anos).
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Assim,	 não	 só	 a	 besta	 retrata	 o	 Império	Romano	 em	 sentido	 corporativo,	mas,	 de	 forma
específica,	Nero,	o	sexto	 imperador.	E	Nero	não	foi	apenas	o	primeiro	 imperador	a	perseguir	a	 igreja
cristã,	 mas	 também	 a	 autoridade	 que	 comissionou	 o	 general	 romano	 Vespasiano	 a	 atacar	 e	 destruir
Jerusalém	 (Josefo,	War,	 3.1.2).	 Ele	 se	 encaixa	 no	 drama	 e	 no	 tema	 de	 Apocalipse	 com	 perfeição.
Todavia,	existem	mais	evidências!
	
O	CARÁTER	DA	BESTA
João	 chama	 a	 besta	 por	 um	 termo	 derrogatório	 que	 reflete	 seu	 caráter	maligno:	 “besta”	 (Ap	 13.1).	A
imagem	da	“besta”	com	certeza	indica	que	ele	possuía	um	caráter	mau.	João	apresenta	essa	besta	como	o
composto	de	três	carnívoros	amedrontadores:
A	besta	que	vi	era	semelhante	a	leopardo,	com	pés	como	de	urso	e	boca	como	de	leão.	(Ap	13.2a)
Esses	 animais	 seriam	 aterrorizantes	 para	 qualquer	 conhecedor	 das	 arenas	 romanas	 onde	 homens	 e
mulheres	eram	cruelmente	“jogados	aos	leões”	e	outras	feras.
														Sem	dúvida,	Nero	possuía	um	caráter	imoral	e	bestial.	Ele	matou	a	própria	mãe,	o	irmão,	a	tia	e
a	esposa	—	além	de	muitos	cidadãos	romanos	eminentes.[16]	Ele	era	conhecido	por	amarrar	escravos
em	 postes,	 vestir-se	 na	 pele	 de	 um	 leão	 e	 atacá-los	 e	 estuprá-los	 (Suetônio,	Nero,	 29).	 Era	 temido	 e
odiado	 pelo	 próprio	 povo.	A	 leitura	 da	 literatura	 antiga	 demonstra	 que	Nero	 “era	 de	 uma	 brutalidade
cruel	e	irrestrita”.[17]
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Tácito,	 o	 famoso	 historiador	 romano	 do	 século	 II,	 fala	 da	 “natureza	 cruel”	 de	Nero	 que
“condenou	à	morte	tantos	homens	inocentes”	(Hist.	4.7,8).	O	naturalista	romano	Plínio,	o	Velho,	descreve
Nero	como	“o	destruidor	da	raça	humana”	e	“o	veneno	do	mundo”	(Nat.	Hist.	7.45;	22.92).	O	satirista
romano	Juvenal	 lamenta	a	“tirania	cruel	e	 sangrenta	de	Nero”	 (Sat.	7.225).	Em	outro	 lugar,	 ele	 chama
Nero	 de	 “tirano	 cruel”	 (Sat.	 10.306).	 No	 século	 I,	 Apolônio	 de	 Tiana	 até	 chama	 Nero	 de	 “besta”
(registrado	em	Filostrato,	Vit.	4.38).
														Não	só	a	besta	é	imoral	e	selvagem,	mas	é	também	presunçosamente	blasfema:
Foi-lhe	 dada	 uma	boca	que	 proferia	 arrogâncias	 e	 blasfêmias	 e	 autoridade	 para	 agir	 quarenta	 e	 dois	meses;	 e	 abriu	 a	 boca	 em
blasfêmias	contra	Deus,	para	lhe	difamar	o	nome	e	difamar	o	tabernáculo,	a	saber,	os	que	habitam	no	céu	[...]	e	adorá-la-ão	todos
os	que	habitam	sobre	a	terra,	aqueles	cujos	nomes	não	foram	escritos	no	Livro	da	Vida	do	Cordeiro	que	foi	morto	desde	a	fundação
do	mundo.	(Ap	13.5,6,8)
Nero	cunhou	moedas	com	uma	imagem	da	própria	cabeça	lançando	raios	do	sol.	Com	essa	manobra,	ele
intencionalmente	imitou	o	poderoso	deus	sol	romano	Apolo.	Uma	inscrição	em	Atenas	o	louva	como	“o
todo-poderoso	Nero	César	Sebasto,	o	novo	Apolo”[18].
														Em	66	d.C.,	Tirídates,	rei	da	Armênia,	aproximou-se	de	Nero	em	adoração,	de	acordo	com	o
historiador	romano	Dião	Cássio,	do	século	II:
De	fato,	os	procedimentos	da	conferência	não	foram	limitados	a	meras	conversas,	mas	uma	plataforma	elevada	havia	sido	erigida
na	 qual	 encontravam-se	 imagens	 de	Nero	 e,	 na	 presença	 de	 armênios,	 partos	 e	 romanos,	Tirídates	 aproximou-se	 e	 prestou-lhes
reverência;	então,	após	sacrificar	a	elas	e	chamá-las	por	nomes	laudatórios,	ele	tirou	o	diadema	de	sua	cabeça	e	colocou-o	sobre
elas.	 Tirídates	 publicamente	 prostrou-se	 diante	 de	 Nero,	 que	 estava	 assentado	 sobre	 a	 tribuna	 no	 fórum:	 “Mestre,	 eu	 sou	 o
descendente	de	Arsaces,	irmão	dos	reis	Vologaesus	e	Pacorus,	e	teu	escravo.	E	vim	a	ti,	meu	deus,	para	adorar-te	como	faço	com
Mitra.	A	sina	que	traçaste	para	mim	será	minha;	pois	tu	és	minha	sorte	e	meu	destino”.[19]
Com	certeza	Nero	se	adequa	ao	caráter	de	uma	“besta”.
	
O	NÚMERO	DA	BESTA
Sem	dúvida,	o	aspecto	maisconhecido	do	imaginário	da	besta	no	Apocalipse	é	o	número	“666”:
Aqui	está	a	sabedoria.	Aquele	que	 tem	entendimento	calcule	o	número	da	besta,	pois	é	número	de	homem.	Ora,	esse	número	é
seiscentos	e	sessenta	e	seis.	(Ap	13.8)
O	que	esse	número	significa?	E	como	ele	nos	ajuda	a	identificar	a	besta	do	Apocalipse?
														Antes	de	mostrar	como	esse	número	aponta	para	Nero,	devo	comentar	sobre	o	número	em	si
encontrado	 no	 Apocalipse.	 Alguns	 populistas	 modernos	 tentam	 encontrar	 a	 besta	 no	 mundo
contemporâneo	mediante	 a	procura	da	 série	de	 três	números	 seis	 em	conjunto.	Alguns	 anos	 atrás,	 uma
teoria	sugeriu	que	o	presidente	Reagan	era	a	besta	porque	cada	um	dos	seus	três	nomes	era	composto	de
seis	 letras:	 Ronald	 Wilson	 Reagan.	 Alguns	 propõem	 que	 ele	 consista	 em	 um	 código	 de	 computador
baseado	nesses	três	dígitos.	Outros	declaram	que	refere-se	ao	Mark	VI	Personal	Identity	Verifier	usado
em	leituras	biométricas	da	mão	humana.	Ou	os	códigos	de	barra,	que	começam	com	o	código	para	“6”,
têm	uma	barra	central	representando	o	“6”,	e	finalizam	o	código	de	barras	com	as	linhas	representando	o
“6”	de	novo.
														Esses	palpites	perdem	a	leitura	exata	do	Apocalipse.	João	não	afirma	que	essa	marca	envolve
uma	 série	de	 três	 seis.	No	grego	de	Apocalipse	13.18,	o	número	 realmente	 é	 “seiscentos	 e	 sessenta	 e
seis”,	 e	 não	 “seis	 seis	 seis”.	 Várias	 traduções	 deixam	 isso	 claro	 ao	 escrever	 o	 valor	 no	 formato
alfabético,	em	vez	de	em	algarismos	(Almeida	Revista	e	Atualizada,	Nova	Versão	Internacional,	Almeida
Século	21,	Nova	Tradução	na	Linguagem	de	Hoje,	Tradução	Brasileira,	Nova	Almeida	Atualizada).	Uma
série	de	seis	não	tem	nada	a	ver	com	o	número	da	besta.	Na	verdade,	o	número	é	o	valor	total:	seiscentos
e	sessenta	e	seis,	uma	soma	aritmética	específica.
														Enquanto	tentamos	decifrar	o	significado	de	João,	devemos	ter	em	mente	que	o	sistema	numérico
arábico,	 tão	 conhecido	por	 nós,	 não	 fazia	 parte	 do	mundo	 antigo.	Ele	 foi,	 na	verdade,	 importado	pela
cultura	ocidental	no	século	XII.	Antes	dessa	época,	os	alfabetos	tinham	duas	funções:	não	eram	apenas
alfabetos,	 mas	 sistemas	 de	 enumeração	 (considere	 os	 números	 romanos	 que	 você	 conhece).	 Muitos
dicionários	bíblicos	observam	essa	prática	em	relação	às	línguas	bíblicas	antigas	na	palavra	principal:
“Números,	numerais”.
														Continuando	nossa	busca	pela	identidade	do	que	está	escondido	por	trás	do	valor	do	número
“seiscentos	e	sessenta	e	seis”,	devemos	nos	lembrar	de	que	João	era	judeu,	e	ele	escrevia	sobre	o	juízo
divino	contra	os	judeus.	Em	adição,	devemos	reconhecer	que	o	Apocalipse	é	o	livro	mais	hebraico	do
Novo	Testamento,	contendo	marcas	de	imagens	visuais	traçadas	no	Antigo	Testamento,	com	centenas	de
referências	 literárias	 a	 versículos	 do	Antigo	 Testamento,	 e	 uma	 forma	 hebraica	 de	 grego	 diferente	 de
qualquer	outro	registro	do	Novo	Testamento.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Se	 fizermos	 a	 suposição	 razoável	 de	 que	 o	 hebraico	 seja	 a	 língua	 para	 procurarmos	 o
significado	do	número	da	besta,	chegaremos	à	mesma	conclusão	que	outras	linhas	de	evidência	sugerem:
a	besta	é	Nero	César.[20]	A	soletração	do	seu	nome	em	hebraico	do	século	I	era	nrwn	qsr	(pronunciado:
“Neron	Kesar”).	Alguns	arqueólogos	documentaram	esse	modo	de	soletrar	em	hebraico,	que	apresenta	o
valor	 exato	 “seiscentos	 e	 sessenta	 e	 seis”.[21]	 O	 léxico	 de	 Jastrow	 do	 Talmude	 contém	 essa	 mesma
escrita.[22]	A	forma	hebraica	do	nome	de	Nero	é	escrita:	Nrwn	Qsr.	A	valoração	numérica	desse	modo
de	soletrar	é	a	seguinte:
														n	=	50				r	=	200				w	=	6				n	=	50				q	=	100				s	=	60				r	=	200
														A	soma	dessas	letras	resulta	no	número	666.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Muitos	 acadêmicos	 bíblicos	 reconhecem	 esse	 nome	 como	 “a	 solução	mais	 provável”	 do
problema.[23]	E	por	que	não?	O	nome	“Nero	César”	não	apenas	se	encaixa	em	sentido	numérico,	como	a
pessoa	de	Nero	se	adequa	no	contexto	do	drama	de	João.
														Mas	agora:	e	quanto	à	besta	impondo	sua	marca	aos	homens?
A	todos,	os	pequenos	e	os	grandes,	os	ricos	e	os	pobres,	os	livres	e	os	escravos,	faz	que	lhes	seja	dada	certa	marca	sobre	a	mão
direita	ou	sobre	a	fronte,	para	que	ninguém	possa	comprar	ou	vender,	senão	aquele	que	tem	a	marca,	o	nome	da	besta	ou	o	número
do	seu	nome.	(Ap	13.16,17)
Ao	 responder	 essa	 pergunta,	 devemos	 recordar	 a	 natureza	 simbólica	 do	 Apocalipse	 e	 as	 imagens
paralelas	em	seu	interior	que	parecem	se	basear	em	uma	prática	do	Antigo	Testamento.
														Em	primeiro	lugar,	marcar	homens	a	serviço	da	besta	não	é	um	sinal	mais	literal	que
marcar	os	servos	do	Cordeiro	na	próxima	cena:
Olhei,	e	eis	o	Cordeiro	em	pé	sobre	o	monte	Sião,	e	com	ele	cento	e	quarenta	e	quatro	mil,	tendo	na	fronte	escrito	o	seu	nome	e	o
nome	de	seu	Pai.	(Ap	14.1)
Em	segundo	lugar,	essa	marca	parece	uma	metáfora	sobre	o	domínio	e	o	controle	exercidos	pela	fonte	da
marca.	Em	Apocalipse	13,	ninguém	pode	comprar	nem	vender	sem	a	marca.	Isto	é,	todos	os	súditos	do
Império	Romano	estão	sob	o	domínio	do	imperador,	que,	na	realidade,	detém	o	sustento	deles	em	suas
mãos.
														Em	terceiro	lugar,	na	exigência	da	besta	por	adoração	(Ap	13.4,8),	assim	demonstrando	suas
presunções	divinas,	 João	apresenta	 essa	 alegação	pretenciosa	de	 soberania	 contra	o	pano	de	 fundo	de
Antigo	Testamento.	Esse	livro	bastante	orientado	pelo	Antigo	Testamento	usa	a	marca	na	mão	direita	e	na
fronte	com	imagem	oposta	à	que	Deus	exigiu	de	seu	povo	a	respeito	da	lei	por	ele	concedida:
Estas	palavras	que,	hoje,	te	ordeno	estarão	no	teu	coração.	[…]	Também	as	atarás	como	sinal	na	tua	mão,	e	te	serão	por	frontal
entre	os	olhos.	(Dt	6.6,8)
Isso	é	sublinhado	pelo	fato	descrito	antes:	o	versículo	seguinte	apresenta	os	servos	do	Cordeiro	com	uma
marca	na	testa.
														Em	quarto	lugar,	qualquer	marca	dos	dias	de	hoje	contraria	o	significado	do	curto	prazo	dado	de
João	 (Ap	1.1,3;	22.6,10),	a	 relevância	para	os	cristãos	perseguidos	do	século	 I	 (Ap	1.9;	3.10;	6.9-11;
12.4-6,17),	 o	 tema	 apresentando	 o	 juízo	 contra	 Israel	 (Ap	 1.7)	 e	 a	 conexão	 da	 besta	 com	 a	 era	 dos
primeiros	sete	imperadores	de	Roma	(Ap	17.9,10).	Logo,	a	procura	da	marca	nos	dias	de	hoje	contraria	o
contexto.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Como	consequência,	com	esse	imaginário	da	marca	João	está	ensinando	que	a	besta	(Nero)
desempenhará	 suas	 pretensões	 divinas,	 agindo	 como	 soberano	 absoluto	 sobre	 a	 vida	 e	 o	 destino	 dos
súditos.	Ela	não	imporá	uma	marca	mais	literal	em	seus	súditos	do	que	Cristo	nos	seus.	Isso	é	imaginário
fantasioso,	não	realidade	literal.
	
A	AÇÃO	DA	BESTA
Enquanto	 continuamos	 desenvolvendo	 a	 imagem	 de	 João	 acerca	 da	 besta,	 descobrimos	 evidências
adicionais	a	respeito	de	Nero	vindo	ao	foco.	Lê-se	em	Apocalipse	13.5,7:
Foi-lhe	 dada	 uma	 boca	 que	 proferia	 arrogâncias	 e	 blasfêmias	 e	 autoridade	 para	 agir	 quarenta	 e	 dois	meses.	 […]	 Foi-lhe	 dado,
também,	que	pelejasse	contra	os	santos	e	os	vencesse.	Deu-se-lhe	ainda	autoridade	sobre	cada	tribo,	povo,	língua	e	nação.
Como	 ficamos	 sabendo	 pela	 leitura	 de	 Atos,	 o	 cristianismo	 não	 foi	 molestado	 pelo	 Império	 Romano
durante	seus	primeiros	anos.	De	fato,	no	final	de	Atos,	Paulo	chega	a	apelar	a	César	para	se	proteger	da
perseguição	 judaica	 (At	 25.11,12).	 Isso	 aconteceu	mesmo	 nos	 primeiros	 dias	 do	 reinado	 de	Nero.	As
coisas	mudaram	muito,	no	entanto,	quando	Nero	 lançou	ataques	aos	cristãos	na	 tentativa	de	desviar	as
suspeitas	de	ser	ele	o	responsável	pelo	incêndio	destrutivo	e	mortal	que	destruiu	grande	parte	de	Roma
em	64	d.C.
														O	historiador	romano	Tácito	(que	nasceu	no	reinado	de	Nero)	registrou	a	horrível	perseguição
que	envolveu	os	cristãos	em	Roma:
Nero	 infligiu	 punições	 inauditas	 nos	 que,	 odiados	 por	 seus	 crimes	 abomináveis,	 eram	 geralmente	 chamados	 de	 cristãos
(Ann.	15.44).
Ele	até	fala	do	“imenso	número”	de	cristãos	assassinados	por	Nero.	Ocristão	Clemente	de	Roma,	que
viveu	nesse	tempo,	menciona	“uma	vasta	multidão	dos	eleitos”	que	morreu	sob	Nero	(1Clem	6).	Sabemos
que	Pedro	e	Paulo	foram	executados	nesse	período.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Logo,	a	perseguição	de	Nero	contra	os	cristãos	—	incluindo	alguns	dos	maiores	líderes	—
representou	 a	 “peleja”	 travada	 pela	 besta	 contra	 os	 santos	 a	 fim	 de	 vencê-los	 (Ap	 13.7).	Mas	 como
deveríamos	entender	o	período	de	“quarenta	e	dois	meses”	mencionados	por	João	(Ap	13.5)?
														Sabemos,	pelos	registros	históricos,	que	o	primeiro	ataque	de	Nero	contra	os	cristãos	em	Roma
ocorreu	em	novembro	de	64	d.C.	Nero	morreu	no	começo	de	junho	de	68.	Johann	Lorenz	von	Mosheim,	o
grande	historiador	da	igreja,	resumiu	esse	período	com	estas	palavras:
Principalmente,	 na	 série	 daqueles	 imperadores,	 dos	 quais	 a	 igreja	 se	 recorda	 com	 horror	 como	 seus	 perseguidores,	 destaca-se
Nero,	 um	príncipe	 cuja	 conduta	 para	 com	os	 cristãos	 não	 admite	 atenuação,	mas	 foi,	 até	 o	último	grau,	 desumana	 e	 caótica.	A
horrenda	 perseguição	 que	 se	 realizou	 por	 ordem	desse	 tirano	 começou	 em	Roma	perto	 em	meados	 de	 novembro	 do	 ano	 64	 de
nosso	Senhor…	Essa	horrenda	perseguição	só	cessou	com	a	morte	de	Nero.	O	império,	como	se	sabe	bem,	não	foi	 libertado	da
tirania	desse	monstro	até	o	ano	68,	quando	ele	deu	fim	à	própria	vida.[24]
Assim,	temos	o	período	em	que	a	besta	pelejou	contra	os	santos	por	quase	42	meses:	de	novembro	de	64
até	junho	de	68.	O	encaixe	é	relevante	e	notável.
	
A	RESSURREIÇÃO	DA	BESTA
Chego	agora	à	parte	da	revelação	que,	muitos	acreditam,	coloca	um	obstáculo	insuperável	à	interpretação
de	Nero/Roma	como	a	besta	do	século	I.	 Ironicamente,	no	entanto,	essa	revelação	confirma	a	visão.	A
revelação	que	tenho	em	mente	é	a	que	envolve	a	morte	e	a	ressurreição	da	besta:
Então,	vi	uma	de	suas	cabeças	como	golpeada	de	morte,	mas	essa	ferida	mortal	foi	curada;	e	toda	a	terra	se	maravilhou,	seguindo
a	besta.	(Ap	13.3)
Como	posso	explicar	esse	conceito	sem	declarar	que	Nero	morreu	e	foi	ressuscitado	dos	mortos?	É	essa
a	objeção	fatal	da	posição	de	Nero/Roma?
														Para	interpretar	com	correção	essa	visão,	devemos	começar	recordando-nos	da	identidade	dupla
da	besta:	ela	pode	 transitar	entre	Roma	(em	sentido	corporativo)	e	o	governante	de	Roma	(em	sentido
individual).	 Isto	 é,	 a	 besta	 representa	 os	 dois:	 o	 Império	Romano	 como	uma	 entidade	 política	 e	Nero
César	como	líder	dessa	entidade.[25]	Com	isso	em	mente,	notemos	que	o	significado	transita	na	visão,	o
que	permite	uma	correspondência	fascinante	com	a	história	do	século	I.
														Nero	governou	Roma	de	54	d.C.	até	a	sua	morte	em	9	de	junho	de	68	d.C.	Nas	últimas	semanas
de	 vida,	 as	 destrutivas	 guerras	 civis	 romanas	 eclodiram.	 Em	 desespero,	 Nero	 suicidou-se	 quando	 as
forças	imperiais,	sob	a	liderança	do	general	Galba,	estavam	prestes	a	capturá-lo.	O	império	foi	lançado
em	 convulsões	 devastadoras	 em	 sentido	 político	 e	 social.	O	 historiador	 romano	Tácito	 lamentou	 esse
período	negro	na	vida	de	Roma	no	século	I:
A	história	em	que	estou	entrando	é	de	um	período	sobejo	em	desastres,	terrível	em	batalhas,	destroçado	por	conflitos	civis,	horrível
mesmo	na	paz.	Quatro	imperadores	caíram	sob	a	espada;	houve	três	guerras	civis,	mais	guerras	internacionais	e,	de	modo	geral,	as
duas	 coisas	 ao	mesmo	 tempo.	 Houve	 sucesso	 no	 leste	 e	 infortúnio	 no	 oeste.	 O	 Ilírico	 foi	 transtornado,	 as	 províncias	 da	 Gália
vacilaram,	a	Bretanha	se	rendeu	e	desistiu	de	 imediato.	Os	sármatas	e	os	suevos	se	 levantaram	contra	nós;	os	dácios	ganharam
fama	 pelas	 derrotas	 infligidas	 e	 sofridas;	 até	 os	 partos	 quase	 pegaram	 em	 armas	 pelo	 charlatanismo	 de	 um	 pretenso	 Nero.
Ademais,	a	 Itália	 foi	perturbada	por	desastres	nunca	vistos	ou	que	voltaram	após	o	 lapso	das	eras.	Cidades	dos	 litorais	 férteis	e
ricos	 da	Campânia	 foram	 tragadas	 ou	 arrasadas;	Roma	 foi	 devastada	 por	 conflagrações,	 pelas	 quais	 os	 santuários	mais	 antigos
foram	consumidos	e	o	próprio	Capitólio	 incendiado	pelas	mãos	dos	cidadãos.	Sítios	 sagrados	 foram	profanados;	houve	adultérios
nos	 lugares	altos.	O	mar	 se	encheu	de	exilados,	 seus	penhascos	 se	contaminaram	com	os	corpos	dos	mortos.	Em	Roma,	houve
mais	crueldade	medonha	(Hist.	1.2,3).
Com	essa	guerra	civil	caótica	abalando	os	fundamentos	do	império,	o	mundo	testemunha	“os	senhores	da
terra	 habitável”	 (War	4.3.10)	 sediados	 na	 “maior	 de	 todas	 as	 cidades”	 (War	4.11.5)	 sucumbindo	 em
horrendos	espasmos	mortais.	Como	Tácito	expressou:
Essa	foi	a	condição	do	Estado	romano	quando	Sérvio	Galba,	eleito	cônsul	pela	segunda	vez,	e	seu	colega	Tito	Vínio	iniciaram	o	ano
que	era	para	ser	o	último	de	Galba	e,	para	o	Estado,	quase	o	fim	(Hist.	1.11;	grifo	adicionado).
De	acordo	com	Josefo,	a	morte	de	Nero	suspendeu	até	a	guerra	judaica	com	Roma,	quando	o	poderoso
general	Vespasiano	e	seu	filho	Tito	cessam	as	hostilidades:
E	agora,	os	dois	estiveram	em	suspense	sobre	os	afazeres	públicos,	estando	o	Império	Romano,	então,	em	uma	condição	instável;	e
não	 prosseguiram	 com	 a	 expedição	 contra	 os	 judeus,	 mas	 consideraram	 agora	 inoportuno	 empreender	 qualquer	 ataque	 contra
estrangeiros,	considerando	o	cuidado	com	o	próprio	país	(War	4.9.2).
Os	 relatórios	 que	 chegaram	 até	 o	 campo	 de	 batalha	 em	 Israel	 são	 tão	 horríveis	 que	 lemos	 sobre
Vespasiano:
E	seu	pesar	foi	tão	violento	que	ele	não	pôde	suportar	os	tormentos	que	havia	sobre	ele,	nem	a	se	dedicar	mais	em	outras	guerras
quando	a	sua	terra	natal	estava	desolada	(War	4.10.2).
De	 fato,	 “Roma	 estava	 próxima	 da	 ruína”	 (War	 4.11.5),	 de	 modo	 que	 “o	 Estado	 romano	 estava	 tão
enfermo…	 [que]	 cada	 parte	 da	 terra	 habitável	 encontrava-se	 em	 uma	 condição	 indefinida	 e	 instável”
(War	7.4.2).
														Assim,	depois	do	suicídio	de	Nero	com	a	própria	espada,	parecia	para	o	mundo	que	a	poderosa
Roma	estava	morrendo.	 João	descreveu	 esse	 fenômeno	como	a	besta	 recebendo	uma	 ferida	mortal	 em
“uma	de	suas	cabeças”	(Ap	13.3).	Mas	então,	o	que	acontece?
														O	famoso	biógrafo	romano	Suetônio	fala	da	ressurreição	de	Roma	do	estado	de	morte:
O	 império	 que	 por	 muito	 tempo	 esteve	 indefinido	 e,	 assim,	 arrastando-se	 ao	 longo	 da	 usurpação	 e	 da	 morte	 violenta	 de	 três
imperadores,	foi	por	fim	colocado	sob	controle	e	recebeu	estabilidade	da	família	Flaviana	(Vesp.	1,	grifo	adicionado).
Josefo	expressa	a	mesma	surpresa	com	respeito	à	resiliência	de	Roma:
Portanto,	 com	 a	 confirmação	 de	 todo	 o	 governo	 de	 Vespasiano,	 agora	 estabelecido,	 e	 a	 libertação	 inesperada	 dos	 deveres
públicos	romanos	da	ruína,	Vespasiano	voltou	o	pensamento	para	os	insubmissos	na	Judeia	(War	4.11.5;	grifo	adicionado).
Assim,	depois	de	um	período	de	penosas	guerras	civis,	o	império	reviveu,	para	a	perplexidade	do	mundo
que	agora	 retornava	ao	domínio	de	Roma.	Como	João	afirmou:	 “Então,	vi	uma	de	 suas	 cabeças	 como
golpeada	de	morte,	mas	essa	 ferida	mortal	 foi	 curada;	e	 toda	a	 terra	 se	maravilhou,	 seguindo	a	besta”
(Ap	13.3),	dizendo:	“Quem	é	semelhante	à	besta?	Quem	pode	pelejar	contra	ela?”	(Ap	13.4b).
Isso,	sem	dúvida	e	de	modo	notável	confirma	o	ponto	de	vista	que	aponta	para	Nero/Roma.
CONCLUSÃO
Estou	convencido:	da	mesma	forma	que	“todos	os	caminhos	levam	a	Roma”,	também	toda	a	evidência	da
besta	leva	a	ela.	A	evidência	apresenta	não	só	uma	adequação	notável	(mesmo	onde	não	esperaríamos),
mas	uma	adequação	relevante:	Nero	vive	em	um	período	que	se	encaixa	(Ap	1.1,3).	Seu	império	parece
surgir	do	mar,	da	perspectiva	de	Israel	(13.1).	O	Império	Romano	possui	incrível	autoridade	política	e
poderio	 militar	 (13.2,4).	 Nero,	 como	 a	 sexta	 cabeça	 de	 Roma,	 aparece	 em	 cena	 na	 cronologia	 dos
imperadores	(17.10)	e	apresenta	o	caráter	de	um	homem	bestial	(13.5,6,8).
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Até	o	nome	de	Nero	se	encaixa	no	misterioso	número	da	besta	(Ap	13.18).	Quando	a	besta
“peleja	contra	os	santos”,não	ficamos	surpresos	ao	saber	que	Nero	foi	o	primeiro	perseguidor	imperial
da	igreja	(13.7)	—	e	pela	exata	duração	indicada	em	Apocalipse	(13.5).	Pode-se	até	aplicar	o	aspecto
mais	 improvável	da	profecia	de	João	a	Nero	e	ao	 Império	Romano:	a	morte	e	a	 ressurreição	da	besta
(13.3).
	
4.	A	meretriz	e	a	noiva
	
Neste	capítulo,	vou	focar	em	uma	personagem	de	importância	vital	no	Apocalipse:	a	grande	meretriz	da
Babilônia.	Ela	é,	na	verdade,	mais	 importante	para	o	 tema	de	João	que	a	besta.	Em	sua	aparição	mais
espetacular,	João	a	vê	assentada	sobre	a	besta:
Transportou-me	 o	 anjo,	 em	 espírito,	 a	 um	 deserto	 e	 vi	 uma	mulher	montada	 numa	 besta	 escarlate,	 besta	 repleta	 de	 nomes	 de
blasfêmia,	com	sete	cabeças	e	dez	chifres.	Achava-se	a	mulher	vestida	de	púrpura	e	de	escarlata,	adornada	de	ouro,	de	pedras
preciosas	e	de	pérolas,	tendo	na	mão	um	cálice	de	ouro	transbordante	de	abominações	e	com	as	imundícias	da	sua	prostituição.	Na
sua	fronte,	achava-se	escrito	um	nome,	um	mistério:	BABILÔNIA,	A	GRANDE,	A	MÃE	DAS	MERETRIZES	E	DAS	ABOMINAÇÕES	DA	TERRA.
Então,	vi	a	mulher	embriagada	com	o	sangue	dos	santos	e	com	o	sangue	das	testemunhas	de	Jesus;	e,	quando	a	vi,	admirei-me	com
grande	espanto.	(Ap	17.3-6)
Mais	uma	vez,	começarei	identificando	quem	eu	considero	ser	a	meretriz,	e	então	exporei	as	evidências
que	me	 levaram	 a	 essa	 conclusão.	A	grande	meretriz	 que	 João	 vê	montada	 na	 besta	 é	 a	 Jerusalém	do
século	I,	a	capital	de	Israel,	o	lar	do	templo	de	Deus.
	
O	TEMA	DO	APOCALIPSE
Minha	primeira	linha	de	evidência	que	embasa	a	Jerusalém	do	século	I	como	a	prostituta	é	sua	perfeita
correspondência	com	o	tema	do	Apocalipse.	Como	indiquei	no	capítulo	2,	João	escreveu	o	Apocalipse
como	uma	profecia	do	juízo	de	Cristo	contra	os	que	o	“traspassaram”	(Ap	1.7).	Vimos	nesse	capítulo	que
o	Novo	Testamento	enfatiza	repetidas	vezes	a	culpa	pactual	de	Israel	pela	morte	de	Cristo.	A	evidência
está	 bem	 espalhada	 nos	Evangelhos,	 em	Atos	 e	 nas	 epístolas	 para	 que	 não	 a	 descartemos	 tão	 rápido.
Paulo,	um	hebreu	dos	hebreus	(Fp	3.5),	observa	sobre	os	judeus:	eles	“não	somente	mataram	o	Senhor
Jesus	e	os	profetas,	como	também	nos	perseguiram,	e	não	agradam	a	Deus,	e	são	adversários	de	todos	os
homens”	 (1Ts	2.15).	Como	consequência,	 ele	destaca:	 “A	 fim	de	 irem	enchendo	sempre	a	medida	dos
seus	pecados.	A	ira,	porém,	sobreveio	contra	eles,	definitivamente”	(1Ts	2.16b).
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Devemos	entender	que	o	 tema	do	julgamento	contra	Israel	é	 limitado	ao	Israel	do	século	I.
Afinal,	 o	 Apocalipse	 menciona	 com	 especificidade	 a	 derrubada	 do	 templo	 —	 não	 mais	 existente
(Ap	11.1,2;	cp.	Lc	21.20-24).	Visto	que	a	meretriz	representa	a	Jerusalém	do	século	I,	isso	corresponde
com	perfeição	aos	 indicadores	 temporais	de	João	(Ap	1.1,3;	22.6,10).	Não	apenas	 isso,	mas	concorda
com	 a	 denúncia	 dos	 judeus	 feita	 por	 Jesus	 no	 século	 I,	 quando	 ele	 chama	 essa	 geração	 particular	 de
“geração	adúltera”	(Mt	12.39;	16.4;	Mc	8.12,38;	Lc	11.29).	Ele	repreende	essa	“geração”	vez	após	vez:
as	 pessoas	 do	 século	 I	 (Mt	 11.16-19)	 como	 a	 “geração	 má”	 (Mt	 12.41-45),	 a	 “geração	 incrédula	 e
perversa”	(Mt	17.17)	e	a	“geração	ímpia”	(Lc	11.29).	Ele	profetiza	com	ênfase:	“Para	que	desta	geração
se	peçam	contas	do	sangue	dos	profetas,	derramado	desde	a	fundação	do	mundo;	desde	o	sangue	de	Abel
até	ao	de	Zacarias,	que	foi	assassinado	entre	o	altar	e	a	casa	de	Deus.	Sim,	eu	vos	afirmo,	contas	serão
pedidas	a	esta	geração”	(Lc	11.50,51).	Ele	foi	rejeitado	por	“essa	geração”	(Lc	17.25),	e	não	por	outra.
É	curioso	a	meretriz	aparecer	na	geração	adúltera.
														Em	nossa	época	do	“politicamente	correto”,	alguns	acusam	esse	ponto	de	vista	de	que	a	grande
meretriz	da	Babilônia	é	a	Jerusalém	histórica	de	antissemitismo.	Contudo,	ele	não	é	mais	antissemita	que
a	denúncia	de	Isaías	contra	Jerusalém	como	“Sodoma”	e	“Gomorra”	(Is	1.10-12),	a	“cidade	fiel”	que	“se
tornou	 prostituta”	 (Is	 1.21)	 e,	 a	 seguir,	 a	 profecia	 de	 seu	 juízo.	 Lamentavelmente,	 as	 principais	 obras
sobre	 antissemitismo	 tendem	 a	 rastrear	 a	 apresentação	 desse	 “pecado”	 desde	 Jesus,	 segundo	 sua
apresentação	nos	evangelhos.[26]	Qualquer	reclamação	de	antissemitismo	é	lamentável	e	inadequada.
														Logo,	minha	identificação	de	Jerusalém	como	a	grande	meretriz	se	encaixa	no	tema	declarado	de
João.
A	GRANDE	CIDADE
No	 Apocalipse,	 a	 prostituta	 aparece	 como	 “a	 Grande	 Babilônia”	 (Ap	 17.5).	 Ela	 é	 repetidas	 vezes
chamada	de	“a	grande	cidade”	(Ap	16.19;	17.18;	18.10,16,18,21).	No	entanto,	pelo	fato	de	Babilônia	ser
uma	cidade	que	aparece	em	outros	pontos	da	Escritura,	 como	devemos	aplicar	esse	conceito	odioso	à
cidade	santa	de	Jerusalém?	Considere	a	seguinte	evidência.
	
O	princípio	da	primeira	menção
Encontramos	a	expressão	“a	grande	cidade”	pela	primeira	vez	em	Apocalipse	11.8:
E	o	seu	cadáver	 ficará	estirado	na	praça	da	grande	cidade	que,	espiritualmente,	 se	chama	Sodoma	e	Egito,	onde	 também	o	seu
Senhor	foi	crucificado.
Em	geral,	a	primeira	aparição	de	um	descritor	no	texto	controla	o	significado	dos	usos	posteriores.	Aqui,
“a	 grande	 cidade”	 está	 conectada	 com	 especificidade	 ao	 lugar	 “onde	 também	 o	 seu	 Senhor	 foi
crucificado”.	 Isso	 deve	 se	 referir	 a	 Jerusalém,	 pois	 ela	 é	 o	 local	 histórico	 da	 crucificação	 de	 Cristo
(Lc	 13.33;	 Mt	 23.34-37).	 Ademais,	 apenas	 seis	 versículos	 antes	 dessa	 afirmação	 (Ap	 11.1,2),	 João
menciona	o	templo	na	cidade	santa,	que	deve	ser	o	templo	de	Deus	em	Jerusalém.
	
A	questão	do	status	pactual
João	chama	Jerusalém	de	a	“grande”	cidade	não	por	sua	posição	política,	mas	pelo	status	pactual.	Na
Escritura,	Jerusalém	é	a	cidade	mais	importante	da	história	da	redenção	e	da	revelação	divina.	Seu	nome
aparece	623	vezes	na	Bíblia.	Por	exemplo,	Davi	a	exaltou:
Grande	é	o	SENHOR	e	mui	digno	de	ser	louvado,	na	cidade	do	nosso	Deus.	Seu	santo	monte,	belo	e	sobranceiro,	é	a	alegria	de	toda
a	terra;	o	monte	Sião,	para	os	lados	do	Norte,	a	cidade	do	grande	Rei.	(Sl	48.1,2)
Ou,	como	afirmou	Jeremias:
Jerusalém	é	a	“perfeição	da	formosura”	e	“a	alegria	de	toda	a	terra”.	(Lm	2.15)
Afinal,	 o	 Senhor	mesmo	 “habita	 em	 Jerusalém”	 (Sl	 135.21),	 de	modo	 que	 ela	 deve	 ser	 “preferida”	 à
“maior	alegria”	do	judeu	(Sl	137.6).
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Jeremias,	 o	 grande	 profeta	 do	Antigo	 Testamento	 fez	 predições	 durante	 a	 destruição	 de
Jerusalém	pela	antiga	Babilônia.	Não	só	a	profecia	de	Jeremias	tornou-se	uma	das	fontes	principais	de
material	para	o	Apocalipse,	mas	também	ele	chamou	Jerusalém	de	“grande”	duas	vezes:
Muitas	nações	passarão	por	esta	cidade,	e	dirá	cada	um	ao	seu	companheiro:	Por	que	procedeu	o	SENHOR	assim	com	esta	grande
cidade?	(Jr	22.8)
														Como	jaz	solitária	a	cidade	outrora	populosa!	Tornou-se	como	viúva	a	que	foi	grande	entre	as	nações;	princesa	entre	as
províncias,	ficou	sujeita	a	trabalhos	forçados!	(Lm	1.1)
João	até	delineou	o	imaginário	da	viúva	a	partir	do	versículo	de	Lamentações	de	Jeremias	ao	descrever	a
prostituta:
O	quanto	a	si	mesma	se	glorificou	e	viveu	em	luxúria,	dai-lhe	em	igual	medida	tormento	e	pranto,	porque	diz	consigo	mesma:	Estou
sentada	como	rainha.	Viúva,	não	sou.	Pranto,	nunca	hei	de	ver!	(Ap	18.7)
	
A	QUESTÃO	DA	PROEMINÊNCIA	HISTÓRICA
Embora	eu	acredite	que	a	grandeza	de	Jerusalém	provenha	em	especial	do	status	pactual,	ela	também	era
uma	cidade	renomada	na	antiguidade.	Até	o	historiador	romano	Tácito	mencionou	seu	status:
Como	vou	agora	registrar	a	morte	agonizante	de	uma	cidade	famosa,	parece-me	apropriado	informar	ao	leitor	sobre	suas	origens.
(Hist.	5.2;	grifos	meus)
E,	é	claro,	Josefo	louvou	sua	fama	histórica:
Esse	 foi	 o	 fim	 a	 que	 Jerusalém	 chegou	 pela	 insanidade	 dos	 seguidores	 de	 inovações;	 uma	 cidade,	 de	 outro	 modo,	 de	 grande
magnificência	e	de	enorme	fama	em	toda	a	humanidade.	(War	7.1.1)
E	onde	está	agora	a	grande	cidade,	a	metrópole	da	nação	judaica.	(War	7.8.7)
Há	um	povo	chamado	judeu,que	vive	na	cidade	mais	forte	de	todas,	chamada	Jerusalém	por	seus	habitantes.	(Ag.	Ap.	1.22)
Então,	 Jerusalém	 se	 encaixa	 no	 conceito	 de	 uma	 “grande	 cidade”	 em	 sentido	 pactual	 e	 histórico.	 No
Apocalipse,	ela	aparece	como	a	“grande	cidade”,	a	“grande	meretriz”.
	
O	SANGUE	DOS	SANTOS
João	apresenta	várias	vezes	a	meretriz	ao	leitor	como	“cheia	do	sangue	dos	santos”.	Por	exemplo,	lê-se
em	Apocalipse	18.24:
E	nela	se	achou	sangue	de	profetas,	de	santos	e	de	todos	os	que	foram	mortos	sobre	a	terra.
Essa	linguagem	também	surge	em	16.6,	17.6,	18.20,	24.	Vejamos	como	isso	aponta	para	Jerusalém.
	
O	evangelho	como	pano	de	fundo
Ao	que	parece,	João	reverberou	uma	declaração	de	Jesus	aos	líderes	de	Israel:
Para	que	desta	geração	se	peçam	contas	do	sangue	dos	profetas,	derramado	desde	a	fundação	do	mundo;	desde	o	sangue	de	Abel
até	ao	de	Zacarias,	que	foi	assassinado	entre	o	altar	e	a	casa	de	Deus.	Sim,	eu	vos	afirmo,	contas	serão	pedidas	a	esta	geração.
(Lc	11.50,51)
Não	 só	 a	 linguagem	 é	 muito	 conhecida,	 mas	 o	 período	 de	 tempo	 combina:	 João	 menciona	 fatos	 que
“devem	acontecer	em	breve”,	enquanto	Jesus	fala	da	ocorrência	desse	juízo	“nessa	geração”.
	
A	experiência	em	Atos
A	perseguição	de	Israel	contra	os	primeiros	cristãos	é	recorrente	em	todo	o	livro	de	Atos:
Persegui	 este	 Caminho	 até	 à	 morte,	 prendendo	 e	 metendo	 em	 cárceres	 homens	 e	 mulheres,	 de	 que	 são	 testemunhas	 o	 sumo
sacerdote	e	 todos	os	anciãos.	Destes,	 recebi	cartas	para	os	 irmãos;	e	 ia	para	Damasco,	no	propósito	de	 trazer	manietados	para
Jerusalém	os	que	também	lá	estivessem,	para	serem	punidos.	(At	22.4,5;	v.	tb.	os	seguintes	capítulos	de	Atos:	4-7;	9;	11-13;	16-18;
20-25)
Isso	teve	início	veemente	em	Atos	8.1:	“Naquele	dia,	levantou-se	grande	perseguição	contra	a	igreja	em
Jerusalém;	 e	 todos,	 exceto	 os	 apóstolos,	 foram	 dispersos	 pelas	 regiões	 da	 Judeia	 e	 Samaria”	 (cp.	At
11.19;	13.50).
	
As	preocupações	particulares
Embora	Roma	 tivesse	começado	a	perseguir	os	santos	pouco	 tempo	atrás,	 Jerusalém	contava	com	uma
longa	 experiência	 nessa	 obra	maligna,	 estendendo-se	 desde	 os	 tempos	 do	Antigo	Testamento.	 Estêvão
denunciou	Israel	com	essas	palavras:
Homens	de	dura	cerviz	e	incircuncisos	de	coração	e	de	ouvidos,	vós	sempre	resistis	ao	Espírito	Santo;	assim	como	fizeram	vossos
pais,	 também	 vós	 o	 fazeis.	Qual	 dos	 profetas	 vossos	 pais	 não	 perseguiram?	Eles	mataram	 os	 que	 anteriormente	 anunciavam	 a
vinda	do	Justo,	do	qual	vós	agora	vos	tornastes	traidores	e	assassinos.	(At	7.51,52)
Roma	nunca	matou	um	profeta	do	Antigo	Testamento	(como	em	Ap	18.24);	Jerusalém,	sim.
														No	sermão	do	monte,	Jesus	mencionou	a	perseguição	de	Israel	contra	os	profetas:
Regozijai-vos	e	exultai,	porque	é	grande	o	vosso	galardão	nos	céus;	pois	assim	perseguiram	aos	profetas	que	viveram	antes	de	vós.
(Mt	5.12)
O	 Novo	 Testamento	 volta	 ao	 tema	 da	 perseguição	 judaica	 contra	 os	 profetas	 vez	 após	 vez	 em
Mateus	 23.9,	 29-37,	 Lucas	 6.23-26,	 11.47-50,	 13.34,	 Romanos	 11.3,	 1	 Tessalonicenses	 2.15	 e
Hebreus	11.32-38.	A	 imagem	da	prostituta	 embriagada	 com	o	 sangue	dos	 santos	 e	 profetas	 se	 encaixa
bem	na	história	de	Israel
	
O	fracasso	pactual
Para	entender	a	imensidão	do	fracasso	de	Israel,	devemos	refletir	sobre	suas	bênçãos	pactuais.	Moisés
desafiou	Israel	antes	de	entrar	na	Terra	Prometida:
Porque	tu	és	povo	santo	ao	SENHOR,	teu	Deus;	o	SENHOR,	teu	Deus,	te	escolheu,	para	que	lhe	fosses	o	seu	povo	próprio,	de	todos
os	povos	que	há	sobre	a	terra.	Não	vos	teve	o	SENHOR	afeição,	nem	vos	escolheu	porque	fôsseis	mais	numerosos	do	que	qualquer
povo,	pois	éreis	o	menor	de	todos	os	povos,	mas	porque	o	SENHOR	vos	amava	e,	para	guardar	o	juramento	que	fizera	a	vossos	pais,
o	SENHOR	vos	tirou	com	mão	poderosa	e	vos	resgatou	da	casa	da	servidão,	do	poder	de	Faraó,	rei	do	Egito.	(Dt	7.6-8)
Amós	avisou	Israel	das	responsabilidades	procedentes	das	bênçãos	especiais:
De	todas	as	famílias	da	terra,	somente	a	vós	outros	vos	escolhi;	portanto,	eu	vos	punirei	por	todas	as	vossas	iniquidades.	(Am	3.2)
Paulo	falou	com	muita	estima	sobre	as	vantagens	dos	judeus:
Qual	é,	pois,	a	vantagem	do	judeu?	Ou	qual	a	utilidade	da	circuncisão?	Muita,	sob	 todos	os	aspectos.	Principalmente	porque	aos
judeus	foram	confiados	os	oráculos	de	Deus.	(Rm	3.1,2)
Estêvão	acusou	Israel	de	quebrar	a	lei	da	aliança:	Vós	“que	recebestes	a	lei	por	ministério	de	anjos	e	não
a	guardastes”	(At	7.53).	Em	tudo	isso,	devemos	lembrar	que	Jesus	“veio	para	os	que	eram	seus,	e	os	seus
não	o	receberam”	(Jo	1.1).	Essa	é	efetivamente	a	mensagem	de	Jesus	em	Mateus	23.37,38:
Jerusalém,	Jerusalém,	que	matas	os	profetas	e	apedrejas	os	que	 te	 foram	enviados!	Quantas	vezes	quis	eu	 reunir	os	 teus	 filhos,
como	a	galinha	ajunta	os	seus	pintinhos	debaixo	das	asas,	e	vós	não	o	quisestes!	Eis	que	a	vossa	casa	vos	ficará	deserta.
Isso	agrava	o	 fracasso	pactual	de	 Israel,	pois	a	nação	detinha	muitas	vantagens	 relativas	à	 redenção	e
responsabilidades	pactuais	designadas	para	guiá-la	nos	caminhos	da	retidão,	por	amor	ao	nome	de	Deus.
O	Senhor	Jesus	Cristo	avisou:	“A	quem	muito	é	dado,	muito	será	cobrado”	(Lc	12.48).	Ele	até	disse	a
Pilatos:
Nenhuma	 autoridade	 terias	 sobre	 mim,	 se	 de	 cima	 não	 te	 fosse	 dada;	 por	 isso,	 quem	 me	 entregou	 a	 ti	 maior	 pecado	 tem.
(Jo	19.11)
A	epístola	aos	Hebreus	inteira	expõe	o	grave	fracasso	da	rejeição	judaica	de	Cristo.	Por	exemplo:
Sem	misericórdia	morre	pelo	depoimento	de	duas	ou	três	testemunhas	quem	tiver	rejeitado	a	lei	de	Moisés.	De	quanto	mais	severo
castigo	julgais	vós	será	considerado	digno	aquele	que	calcou	aos	pés	o	Filho	de	Deus,	e	profanou	o	sangue	da	aliança	com	o	qual
foi	santificado,	e	ultrajou	o	Espírito	da	graça?	Ora,	nós	conhecemos	aquele	que	disse:	A	mim	pertence	a	vingança;	eu	retribuirei.	E
outra	vez:	O	Senhor	julgará	o	seu	povo.	Horrível	coisa	é	cair	nas	mãos	do	Deus	vivo.	(Hb	10.28-31)
O	fracasso	de	Israel	é	tão	grande	que	João	a	apresenta	a	nação	como	a	grande	meretriz	embriagada	com	o
sangue	do	povo	de	Deus!	Então,	 ela	não	apenas	é	culpada	de	“traspassar”	o	Messias	 (Ap	1.7),	mas	é
impenitente	e	até	aumenta	sua	rebelião	ao	lhe	atacar	os	seguidores.
AS	VESTES	DA	PROSTITUTA
Enquanto	 continuamos	 apresentando	 as	 evidências	 de	 que	 a	 grande	meretriz	 é	 Jerusalém,	 encontramos
outra	 linha	 argumentativa	 excepcional	 quando	 observamos	 suas	 roupas	 no	 grande	 drama	 de	 João.	 Seu
vestido	não	parece	ser	incidental,	um	mero	colorido	artístico	da	obra-prima	vívida	de	João.	Na	verdade,
o	 apóstolo	 apresenta	 uma	 informação	 importante	 para	 definir	 seu	 verdadeiro	 papel.	 João	 faz	 duas
afirmações	curtas,	mas	reveladoras,	sobre	os	ornamentos	dela:
Achava-se	a	mulher	vestida	de	púrpura	e	de	escarlata,	adornada	de	ouro,	de	pedras	preciosas	e	de	pérolas,	tendo	na	mão	um
cálice	de	ouro	transbordante	de	abominações	e	com	as	imundícias	da	sua	prostituição.	(Ap	17.4)
Ai!	Ai	 da	 grande	 cidade,	 que	 estava	 vestida	 de	 linho	finíssimo,	 de	 púrpura,	 e	 de	 escarlata,	 adornada	 de	 ouro,	 e	 de	 pedras
preciosas,	e	de	pérolas.	(Ap	18.16)
Dada	a	forte	ligação	de	João	com	o	Antigo	Testamento,	o	que	podemos	aprender	da	Escritura	a	respeito
de	suas	roupas?
	
Suas	vestes	sacerdotais
O	esquema	de	cores,	joias	e	o	cálice	de	ouro	da	prostituta	mostram	outro	afluente	a	correr	para	o	lago	de
evidências	que	 a	 identificam	como	a	 Jerusalém	do	 século	 I.	Suas	 roupas	 refletem	 sua	posição	pactual
como	 um	 reino	 de	 sacerdotes,	 lembrando,	 em	 particular,	 ao	 leitor	 do	 século	 I	 o	 templo	 central	 de
Jerusalém	 e	 seu	 eminente	 sumo	 sacerdote	 (repare	 em	 sua	 grande	 autoridade	 em	 At	 23.4).	 Lê-se	 em
Êxodo	28	sobre	o	vestuário	do	sumo	sacerdote:
As	vestes,	pois,	que	farão	são	estas:	um	peitoral,	uma	estola	sacerdotal,	uma	sobrepeliz,	uma	túnica	bordada,	mitra	e	cinto.	Farão
vestes	sagradas	para	Arão,	teu	irmão,	e	para	seus	filhos,	para	me	oficiarem	como	sacerdotes.	Tomarão	ouro,	estofo	azul,	púrpura,carmesim	e	linho	fino.	[…]	E	o	cinto	de	obra	esmerada,	que	estará	sobre	a	estola	sacerdotal,	será	de	obra	igual,	da	mesma	obra
de	ouro,	e	estofo	azul,	e	púrpura,	e	carmesim,	e	linho	fino	retorcido.	Tomarás	duas	pedras	de	ônix	e	gravarás	nelas	os	nomes
dos	filhos	de	Israel.	(Êx	28.4,5,7,8)
As	roupas	dela	também	combinam	com	a	decoração	do	tabernáculo	(precursor	do	templo):
Farás	o	tabernáculo,	que	terá	dez	cortinas,	de	linho	retorcido,	estofo	azul,	púrpura	e	carmesim;	com	querubins,	as	farás	de	obra
de	artista.	(Êx	26.1)
A	 descrição	 do	 Antigo	 Testamento	 sobre	 o	 templo	 indica	 que	 o	 altar	 (que	 recebia	 o	 sangue	 dos
sacrifícios,	Êx	24.6;	29.12;	Lv	1.5)	era	de	ouro	—	como	o	cálice	do	qual	a	meretriz	bebeu	o	sangue	dos
santos:
Assim,	cobriu	de	ouro	toda	a	casa,	inteiramente,	e	também	todo	o	altar	que	estava	diante	do	Santo	dos	Santos.	(1Rs	6.22)
De	fato,	o	templo	continha	muitos	utensílios	de	ouro:
Demais	disto,	os	utensílios	de	ouro	e	de	prata,	da	Casa	de	Deus,	que	Nabucodonosor	 tirara	do	templo	que	estava	em	Jerusalém,
levando-os	 para	 a	 Babilônia,	 serão	 devolvidos	 para	 o	 templo	 que	 está	 em	 Jerusalém,	 cada	 utensílio	 para	 o	 seu	 lugar;	 serão
recolocados	na	Casa	de	Deus.	(Ed	6.5)
Josefo	foi	testemunha	ocular	do	templo	do	século	I,	que	também	se	compara	ao	vestido	da	meretriz:	“A
tapeçaria	do	 templo	era	babilônica	 [!],	 nessa	 tapeçaria	 estavam	misturados	 azul,	púrpura,	escarlata	 e
linho”	(War	5.5.4).	Ele	também	mencionou	o	destaque	do	ouro	nos	recipientes	do	templo:	“A	maior	parte
do	que	os	cálices	eram	feitos	era	prata	e	ouro”	(War	5.4.5).
	
A	tiara	sacerdotal
Um	detalhe	extremamente	interessante	sobre	o	vestuário	da	meretriz	diz	respeito	à	sua	tiara:
Na	sua	 fronte,	achava-se	escrito	um	nome,	um	mistério:	BABILÔNIA,	A	GRANDE,	A	MÃE	DAS	MERETRIZES	E	DAS	ABOMINAÇÕES	DA
TERRA	(Ap	17.5).
O	foco	incomum	de	João	na	testa	dela	é	significativo	não	apenas	em	relação	ao	argumento	presente,	mas
também	em	outro	contexto	mais	adiante.
														Lê-se	na	descrição	do	sumo	sacerdote	do	Antigo	Testamento:
Farás	também	uma	lâmina	de	ouro	puro	e	nela	gravarás	à	maneira	de	gravuras	de	sinetes:	Santidade	ao	SENHOR…	E	estará	sobre	a
testa	 de	Arão,	 para	 que	Arão	 leve	 a	 iniquidade	 concernente	 às	 coisas	 santas	 que	 os	 filhos	 de	 Israel	 consagrarem	 em	 todas	 as
ofertas	de	suas	coisas	santas;	sempre	estará	sobre	a	testa	de	Arão,	para	que	eles	sejam	aceitos	perante	o	SENHOR.	(Êx	28.36,38)
João	coloca	as	vestes	da	meretriz	de	modo	a	chamar	a	nossa	atenção	para	a	testa	dela.	E,	quando	olhamos
para	lá,	vemos	o	oposto	do	que	aparece	na	testa	do	sumo	sacerdote,	o	que	mostra	a	avaliação	de	João
para	 o	 que	 a	 santa	 cidade,	 o	 templo	 de	 Deus	 e	 o	 sacerdócio	 se	 tornaram.	 (Curiosamente,	 Jeremias
também	menciona	a	fronte	de	prostituta	de	Jerusalém	em	Jr	3.3).
	
O	PADRÃO	DE	NOMEAÇÃO
Poderíamos	nos	perguntar	por	que	João	dá	a	Jerusalém	o	nome	“Babilônia”,	em	vez	de	chamá-la	pelo
próprio	 nome.	 Assim,	 ele	 segue	 o	 padrão	 comum	 da	 denúncia	 profética.	 Para	 entender	 o	 significado
desses	nomes	na	Escritura,	precisamos	reconhecer	a	significado	bíblico	de	dar	nomes.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Na	Escritura,	os	nomes	não	consistiam	apenas	em	modulações	tonais	atrativas	(como	o	são
muitíssimos	 nomes	 modernos).	 Na	 verdade,	 quando	 alguém	 dava	 um	 nome	 a	 algo,	 isso	 impunha
autoridade	 sobre	 a	 pessoa	 ou	 o	 objeto;	 o	 nome	 definia	 o	 caráter	 ou	 a	 função	 da	 coisa.	 Por	 exemplo,
durante	a	semana	da	criação,	o	Criador	soberano	nomeia	seus	aspectos:	“Chamou	Deus	à	 luz	Dia	e	às
trevas,	Noite”	(Gn	1.5;	cp.	v.	8,10).	Também	vemos	Adão	nomeando	os	animais,	a	fim	de	lhes	especificar
a	 função	 sob	 o	 seu	 governo	 (Gn	 2.19)	 —	 um	 exercício	 de	 seu	 “domínio”	 como	 imagem	 divina
(Gn	1.26,28).	Ele	até	dá	nome	à	sua	mulher,	mostrando	o	papel	dela	em	seu	reino	como	sua	auxiliadora
em	gerar	filhos	(Gn	2.23;	3.20).
														Várias	vezes,	quando	um	santo	sofria	uma	crise	espiritual	ou	renovação,	seu	nome	era	mudado
para	 refletir	 sua	 nova	 condição,	 caráter	 ou	 função.	 Por	 exemplo,	 veja:	 Abrão/Abraão	 (Gn	 17.5);
Jacó/Israel	 (Gn	 32.27,28);	 Simão/Pedro	 (Mc	 3.16;	 Jo	 1.42).	 Curiosamente,	 os	 santos	 redimidos	 no
Apocalipse	 recebem	um	novo	nome	 (Ap	2.17).	De	 fato,	há	um	 lugar	em	que	os	 redimidos	 recebem	“o
nome	da	cidade	do	meu	Deus,	a	nova	Jerusalém”	—	um	“novo	nome”	(Ap	3.12).
														No	entanto,	por	que	João	não	chama	a	Jerusalém	histórica	por	seu	nome?	O	nome	“Jerusalém”
significa	 “cidade	de	paz,	 plenitude”.	Por	 causa	dessa	 associação	 com	a	 “paz”,	 João	não	 aplicou	 esse
nome	à	Jerusalém	histórica	no	livro	do	Apocalipse;	ele	só	pertence	à	nova	Jerusalém	(Ap	3.12;	21.2,10).
Na	 verdade,	 à	 medida	 que	 o	 caráter	 da	 Jerusalém	 histórica	 torna-se	 mais	 evidente,	 ele	 mais	 tarde
consigna	o	nome	“Babilônia”	à	Jerusalém	velha,	histórica	e	condenada.	Essa	prática	de	dar	nomes	é	uma
forma	de	 discurso	 profético	 de	 juízo.	 Isaías	 repreendeu	 os	 governadores	 e	 o	 povo	 de	 Israel	 de	 forma
parecida:
Ouvi	a	palavra	do	SENHOR,	vós,	príncipes	de	Sodoma;	prestai	ouvidos	à	lei	do	nosso	Deus,	vós,	povo	de	Gomorra.	(Is	1.10)
Jeremias	fez	o	mesmo:
Mas	 nos	 profetas	 de	 Jerusalém	 vejo	 coisa	 horrenda;	 cometem	 adultérios,	 andam	 com	 falsidade	 e	 fortalecem	 as	 mãos	 dos
malfeitores,	para	que	não	se	convertam	cada	um	da	sua	maldade;	todos	eles	se	tornaram	para	mim	como	Sodoma,	e	os	moradores
de	Jerusalém,	como	Gomorra.	(Jr	23.14;	cp.	Lm	4.6)
Ezequiel	também	agiu	assim	(Ez	16.46,48,53,55).	Como	mostrarei	no	próximo	ponto,	é	assim	que	João
usa	“Babilônia”	para	descrever	Jerusalém	no	Apocalipse.
	
JOÃO	APLICA	NOMES	PAGÃOS
Como	profeta	instigado	pelo	juízo,	João	aplicou	a	Jerusalém	nomes	que	envolvem	associações	bíblicas
malignas.	Em	Apocalipse	11,	ele	seguiu	a	forma	específica	de	Isaías	de	denúncia	ao	chamar	Jerusalém	de
“Sodoma”	(Is	1.10;	3.9).	Ele	até	acrescentou	a	esse	apelo	maligno	o	nome	odioso	de	“Egito”.	Falando
dos	dois	profetas	mortos,	ele	escreveu:
E	o	seu	cadáver	 ficará	estirado	na	praça	da	grande	cidade	que,	espiritualmente,	 se	chama	Sodoma	e	Egito,	onde	 também	o	seu
Senhor	foi	crucificado.	(Ap	11.8)
Note	que	ele	chama	essa	cidade	“espiritualmente”	de	Sodoma	e	Egito,	mas	ele	de	fato	a	localiza	no	lugar
“onde	também	o	seu	Senhor	foi	crucificado”,	isto	é,	Jerusalém	(Lc	9.31;	13.33;	18.31;	24.18).
														Depois,	no	Apocalipse,	João	chama	Jerusalém	de	“Babilônia”.	Ele	parece	fazer	isso	por	causa
da	destruição	vindoura	do	segundo	 templo,	o	 templo	da	época	de	Jesus.	O	primeiro	 templo	havia	sido
destruído	pela	Babilônia	histórica	no	Antigo	Testamento	(2Rs	25.8,9;	2Cr	36.17-20;	Ed	5.12;	Jr	52.13).
Agora,	a	própria	Jerusalém	está	conectada	com	a	Babilônia	como	destruidora	do	 templo,	por	causar	a
destruição	final	da	casa	de	Deus.
	
JOÃO	DENUNCIA	SATANÁS
Por	todo	o	Apocalipse,	pode-se	ver	Satanás	por	trás	das	cenas.	João	associa	a	própria	nação	de	Israel
com	 Satanás	 quando	 denuncia	 os	 judeus	 como	 meros	 reivindicadores	 da	 herança	 judaica,	 mas,	 na
verdade,	 são	 membros	 da	 “sinagoga	 de	 Satanás”	 (Ap	 2.9).	 Ele	 promete	 aos	 cristãos	 que	 eles
testemunharão	 a	 derrota	 desses	 judeus	 inspirados	 por	 Satanás	 que	 os	 haviam	 perseguido	 com	 tanta
severidade:
Eis	farei	que	alguns	dos	que	são	da	sinagoga	de	Satanás,	desses	que	a	si	mesmos	se	declaram	judeus	e	não	são,	mas	mentem,	eis
que	os	farei	vir	e	prostrar-se	aos	teus	pés	e	conhecer	que	eu	te	amei.	(Ap	3.9)
A	 forma	 da	 repreensão	 de	 João	 nos	 lembra	 das	 palavras	 do	 Senhor	 contra	 Israel	 em	 seu	 ministério
terreno,	quando	ele	menciona	Satanás,	nega	a	relação	dos	judeus	com	Abraão	e	fala	sobre	a	mentira:
Então,	lhe	responderam:	Nosso	pai	é	Abraão.	Disse-lhes	Jesus:	Se	sois	filhos	de	Abraão,	praticai	as	obras	de	Abraão.	[…]	Vós
sois	 do	 diabo,	 que	 é	 vosso	 pai,	 e	 quereis	 satisfazer-lhe	 os	 desejos.	 Ele	 foi	 homicida	 desde	 o	 princípio	 e	 jamais	 se	 firmou	 na
verdade,porque	nele	não	há	verdade.	Quando	ele	profere	mentira,	fala	do	que	lhe	é	próprio,	porque	é	mentiroso	e	pai	da	mentira.
(Jo	8.39,44)
Os	judeus	do	século	I	que	rejeitam	Cristo	também	rejeitam	a	própria	herança;	eles	não	eram	judeus	de
verdade,	no	melhor	sentido	do	termo	(Rm	2.28,29;	9.6),	embora	afirmassem	com	frequência	sua	relação
com	Abraão	(Mt	3.9;	Lc	3.8;	Jo	8.39;	Rm	2.17).
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Logo,	João	segue	o	exemplo	do	Antigo	Testamento	de	chamar	Jerusalém	por	nomes	pagãos
quando	ela	se	rebela	contra	Deus.	Como	vimos	antes,	o	nome	“a	grande	Babilônia”	aparece	primeiro	na
forma	truncada	de	“a	grande	cidade”,	que	é	onde	Cristo	foi	crucificado,	isto	é,	Jerusalém	(Ap	11.8).
	
O	CONTRASTE	LITERÁRIO
Os	rios	de	evidências	que	estamos	traçando	aparentemente	nunca	se	esgotam.	Agora,	descobrimos	outro
afluente	correndo	através	do	Apocalipse	para	a	mesma	conclusão.	João	estrutura	o	material	focando	nas
duas	principais	 imagens	 femininas	do	escrito	de	modo	a	exigir	nosso	 reconhecimento	delas	como	uma
imagem	positiva	e	a	outra	negativa.	Vejamos	como	é	isso.
														Havendo	chamado	a	meretriz	de	“a	grande	Babilônia”	e	a	apresentado	em	todo	o	seu	caráter
maligno	em	Apocalipse	17,	João	relata	a	destruição	dela	em	Apocalipse	18-19.
														Por	exemplo,	leem-se	algumas	declarações	sobre	esse	fato	no	capítulo	18:
Então,	exclamou	com	potente	voz,	dizendo:	Caiu!	Caiu	a	grande	Babilônia	e	se	tornou	morada	de	demônios,	covil	de	toda	espécie
de	espírito	imundo	e	esconderijo	de	todo	gênero	de	ave	imunda	e	detestável.	(Ap	18.2)
E,	conservando-se	de	longe,	pelo	medo	do	seu	tormento,	dizem:	Ai!	Ai!	Tu,	grande	cidade,	Babilônia,	tu,	poderosa	cidade!	Pois,	em
uma	só	hora,	chegou	o	teu	juízo.	(Ap	18.10)
Então,	 um	 anjo	 forte	 levantou	 uma	 pedra	 como	 grande	 pedra	 de	moinho	 e	 arrojou-a	 para	 dentro	 do	mar,	 dizendo:	 Assim,	 com
ímpeto,	será	arrojada	Babilônia,	a	grande	cidade,	e	nunca	jamais	será	achada.	(Ap	18.21)
Havendo	profetizado	sua	destruição,	o	apóstolo	apresenta	uma	nova	mulher	no	ápice	do	drama:	“a	cidade
santa,	a	nova	Jerusalém”	(Ap	21.2):
Vi	 também	 a	 cidade	 santa,	 a	 nova	 Jerusalém,	 que	 descia	 do	 céu,	 da	 parte	 de	Deus,	 ataviada	 como	 noiva	 adornada	 para	 o	 seu
esposo.
Em	outras	passagens,	o	Novo	Testamento	usa	a	nova	 Jerusalém	celestial	para	desclassificar	 a	velha	e
histórica:
Ora,	Agar	é	o	monte	Sinai,	na	Arábia,	e	corresponde	à	Jerusalém	atual,	que	está	em	escravidão	com	seus	filhos.	Mas	a	Jerusalém
lá	de	cima	é	livre,	a	qual	é	nossa	mãe.	(Gl	4.25,26)
O	escritor	aos	Hebreus	encoraja	os	judeus	professos	a	permanecer	fiéis	à	conversão	cristã,	pois:
Mas	tendes	chegado	ao	monte	Sião	e	à	cidade	do	Deus	vivo,	a	Jerusalém	celestial,	e	a	incontáveis	hostes	de	anjos,	e	à	universal
assembleia.	(Hb	12.22)
O	modo	 de	 João	 estruturar	 esses	 últimos	 capítulos	 acrescenta	 forte	 evidência	 sobre	 a	 identidade	 de
Babilônia	como	Jerusalém.	Aqui,	aprendemos	que,	por	causa	da	queda	da	velha	Jerusalém,	Deus	envia	a
“nova	 Jerusalém”	 para	 substituí-la.	 Ele	 intencionalmente	 descreve	 as	 duas	mulheres	 usando	 a	 mesma
estrutura	literária.	Como	Cristo,	que	ensina	que	o	odre	velho	do	judaísmo	não	pode	conter	o	vinho	novo
do	cristianismo	(Mt	9.17),	como	Paulo,	que	compara	e	contrasta	a	“antiga	aliança”	com	a	“nova	aliança”
(2Co	3.7-14;	cp.	Hb	8.1-13),	assim	João	traça	um	paralelo	entre	a	velha	e	a	nova	Jerusalém,	mostrando
que	a	nova	substitui	a	velha.
	
A	APRESENTAÇÃO	DAS	MULHERES
João	registra	para	nós	sua	experiência	visionária	ao	testemunhar	a	grande	meretriz	e	a	noiva	celestial.	O
registro	faz	um	paralelo	tão	próximo	entre	elas	que	uma	se	torna	a	imagem	negativa	da	outra.
Veio	um	dos	sete	anjos	que	têm	as	sete	taças	e	falou	comigo,	dizendo:	Vem,	mostrar-te-ei	o	julgamento	da	grande	meretriz	que
se	acha	sentada	sobre	muitas	águas.	(Ap	17.1)
Então,	veio	um	dos	sete	anjos	que	têm	as	sete	taças	cheias	dos	últimos	sete	flagelos	e	falou	comigo,	dizendo:	Vem,	mostrar-te-
ei	a	noiva,	a	esposa	do	Cordeiro.	(Ap	21.9)
	
O	caráter	das	mulheres
Não	só	isso,	mas	o	caráter	das	duas	mulheres	contrasta	bastante	—	sugestão	de	seu	relacionamento.
Veio	um	dos	sete	anjos	que	têm	as	sete	taças	e	falou	comigo,	dizendo:	Vem,	mostrar-te-ei	o	julgamento	da	grande	meretriz	que
se	acha	sentada	sobre	muitas	águas.	(Ap	17.1)
Então,	veio	um	dos	sete	anjos	que	têm	as	sete	taças	cheias	dos	últimos	sete	flagelos	e	falou	comigo,	dizendo:	Vem,	mostrar-te-ei	a
noiva,	a	esposa	do	Cordeiro.	(Ap	21.9)
	
O	ambiente	das	mulheres
O	contraste	positivo-negativo,	em	que	a	nova	Jerusalém	desclassifica	a	velha,	continua	na	apresentação
de	João.	O	anjo,	nas	duas	instâncias,	carrega	João,	mas	para	ambientes	muito	diferentes.
Transportou-me	 o	 anjo,	 em	 espírito,	 a	 um	 deserto	 e	 vi	 uma	mulher	 montada	 numa	 besta	 escarlate,	 besta	 repleta	 de	 nomes	 de
blasfêmia,	com	sete	cabeças	e	dez	chifres.	(Ap	17.3)
E	me	transportou,	em	espírito,	até	a	uma	grande	e	elevada	montanha	e	me	mostrou	a	santa	cidade,	Jerusalém,	que	descia	do	céu,
da	parte	de	Deus.	(Ap	21.10)
A	estrutura	artística	utilizada	por	João	na	visão	das	duas	mulheres	demonstra	um	contraste	 intencional.
Ele	 sublinha	 a	 relação	 das	 duas	 mulheres:	 uma	 (a	 nova	 Jerusalém)	 é	 a	 gloriosa	 substituta	 da	 outra
repreensível	(a	velha	Jerusalém).
	
CONCLUSÃO
O	Apocalipse	dramatiza	a	“troca	de	guarda”	na	história	da	redenção.	João	profetiza	o	 juízo	do	Senhor
contra	o	povo	do	Antigo	Testamento	enquanto	estabelece	a	igreja	do	Novo	Testamento.	Assim,	ele	segue
o	padrão	de	substituição	dos	avisos	de	Jesus	a	Israel:
Digo-vos	que	muitos	virão	do	Oriente	e	do	Ocidente	e	tomarão	lugares	à	mesa	com	Abraão,	Isaque	e	Jacó	no	reino	dos	céus.	Ao
passo	que	os	filhos	do	reino	serão	lançados	para	fora,	nas	trevas;	ali	haverá	choro	e	ranger	de	dentes.	(Mt	8.11,12)
Portanto,	vos	digo	que	o	reino	de	Deus	vos	será	tirado	e	será	entregue	a	um	povo	que	lhe	produza	os	respectivos	frutos.	(Mt	21.43)
Aprendemos,	em	outros	lugares	na	Escritura,	que	o	povo	judeu,	um	dia,	converter-se-á	a	Cristo	(p.	ex.,
Rm	 11.1,25).	 A	 queda	 de	 Israel	 foi	 devastadora,	 mas	 não	 total	 (Rm	 11.11,15).	 Os	 judeus	 virão	 ao
Messias	nos	mesmos	 termos	do	evangelho	como	todas	as	outras	pessoas.	Porém,	seu	 lugar	especial	de
proeminência	 no	 plano	 de	 Deus	 foi	 removido.	 Sua	 distinção	 geopolítica	 terminou;	 Israel	 não	 será
exaltada	acima	nem	destacada	entre	as	outras	nações.	Isaías	profetiza	essa	mudança	de	status	com	estas
palavras:
Naquele	dia,	haverá	estrada	do	Egito	até	à	Assíria,	os	assírios	irão	ao	Egito,	e	os	egípcios,	à	Assíria;	e	os	egípcios	adorarão	com	os
assírios.	Naquele	 dia,	 Israel	 será	 o	 terceiro	 com	os	 egípcios	 e	 os	 assírios,	 uma	bênção	 no	meio	 da	 terra;	 porque	 o	SENHOR	 dos
Exércitos	 os	 abençoará,	 dizendo:	 Bendito	 seja	 o	 Egito,	 meu	 povo,	 e	 a	 Assíria,	 obra	 de	 minhas	 mãos,	 e	 Israel,	 minha	 herança.
(Is	19.23-25)
Com	a	vinda	da	nova	aliança,	“não	há	judeu	nem	grego”,	pois	“sois	todos	um	em	Cristo	Jesus”	(Gl	3.28).
	
5.	Julgamentos	principais	e	seus	significados
	
Até	este	ponto,	salientei	os	princípios	e	as	personagens	principais	do	livro	do	Apocalipse.	Acredito	que
os	capítulos	antecedentes	são	cruciais	para	entender	esse	livro	misterioso	com	correção.	Neste	capítulo,
destacarei	 alguns	 tipos	 de	 acontecimentos	 históricos	 que	 demonstram	 a	 plausibilidade	 de	 seu
cumprimento	no	século	I.	Mas	antes,	recordarei	com	brevidade	os	pontos	importantes	já	apresentados.
														No	Apocalipse,	João	profetiza	sobre	o	juízo	divino	contra	Israel,	resultando	na	devastação	do
povo,	da	terra	e	do	templo.	Por	meio	desse	julgamento,	Deus	remove	o	templo	do	palco	histórico	de	uma
vez	 para	 sempre,	 usando	 os	 exércitos	 romanos	 (que	 Jesus	 chamou	 de	 “seus	 exércitos”,	 em	 sentido
profético,	em	Mt	22.7).	A	rejeição	do	Messias,	por	parte	de	Israel,	e	a	perseguição	contra	os	seguidores
de	Jesus	 resultam	em	consequências	desoladoras.	Elas	deram	ensejo	à	expansão	da	verdadeira	 fé,	por
meioda	 nova	 aliança,	 até	 alcançar	 influência	 universal,	 sem	 as	 restrições	 raciais,	 geográficas	 e
ritualísticas	inerentes	à	economia	da	antiga	aliança.
														A	chave	primária	para	entender	o	Apocalipse	são	as	palavras	iniciais	do	próprio	João	sobre
quando	os	acontecimentos	ocorrerão.	João	envia	o	Apocalipse	para	cristãos	sofredores	(p.	ex.,	Ap	1.9;
6.9-11)	a	respeito	de	acontecimentos	que	se	aproximavam	com	rapidez	durante	sua	existência.
Revelação	de	Jesus	Cristo,	que	Deus	 lhe	deu	para	mostrar	aos	seus	servos	as	coisas	que	em	breve	devem	acontecer	e	que	ele,
enviando	por	intermédio	do	seu	anjo,	notificou	ao	seu	servo	João.	(Ap	1.1)
Bem-aventurados	aqueles	que	leem	e	aqueles	que	ouvem	as	palavras	da	profecia	e	guardam	as	coisas	nela	escritas,	pois	o	tempo
está	próximo.	(Ap	1.3)
Esses	indicadores	temporais	claros	lançam	a	luz	interpretativa	essencial	sobre	a	declaração	do	tema	de
João:
Eis	que	vem	com	as	nuvens,	e	 todo	olho	o	verá,	até	quantos	o	 traspassaram.	E	todas	as	 tribos	da	terra	se	 lamentarão	sobre	ele.
Certamente.	Amém!	(Ap	1.7)
João	emprega	o	imaginário	apocalíptico	no	esboço	do	seu	tema.	A	linguagem	da	“vinda”	divina	não	raro
diz	respeito	a	julgamentos	históricos,	como	o	ocorrido	contra	o	Egito	em	Isaías	19.1.	Como	essa	“vinda”
é	contra	“quantos	o	traspassaram”,	causando	“as	tribos	da	terra	[local]”	a	“lamentarem”,	e	visto	que	isso
“deve	acontecer	em	breve”	(Ap	1.1),	o	entendimento	apropriado	desse	tema	aponta	para	o	juízo	do	ano
70	d.C.	contra	Israel.
														Nos	capítulos	anteriores,	tracei	o	fluxo	do	Apocalipse	em	pinceladas	amplas,	desenvolvendo	os
acontecimentos	 de	 curto	 prazo	 nos	 termos	 do	 tema	do	 julgamento	 contra	 os	 judeus.	Em	Apocalipse	 4,
João	viu	Deus	assentado	como	juiz	sobre	seu	trono.	No	capítulo	5,	Deus	entregou	ao	Messias	crucificado
(cp.	Ap	1.7;	5.5,9,12)	sua	carta	de	divórcio	contra	Israel.	Nos	capítulos	6-19	(com	algumas	interrupções
do	 drama),	 ele	 se	 concentra	 na	 pena	 capital	 da	 mulher	 de	 Deus	 segundo	 o	 Antigo	 Testamento	 pelo
adultério	 promíscuo.	Nos	 últimos	 capítulos,	 vemos	 uma	nova	 noiva	 descendo	 do	 céu	 para	 substituir	 a
primeira	esposa	condenada	por	Deus.
														Em	tudo	isso,	indiquei	o	absurdo	de	interpretar	o	Apocalipse	de	modo	literalista.	O	drama	de
João	 é	 escrito	 em	 estilo	 impressionante,	 apocalíptico,	 hiperbólico.	 Embora	 escreva	 por	 meio	 de
símbolos,	ele,	não	obstante,	retrata	acontecimentos	históricos	sob	essa	roupagem	simbólica.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Agora,	estamos	prontos	para	considerar	alguns	 tipos	do	simbolismo	 tão	 lavrado	por	 João,
mostrando	como	os	acontecimentos	históricos	estão	por	trás	da	imagem.	Tanto	as	limitações	de	espaço
como	 meu	 propósito	 introdutório	 proíbem	 a	 exposição	 exaustiva	 das	 várias	 profecias.[27]	 Todavia,
acredito	que	alguns	exemplos	mostrarão	ao	leitor	a	plausibilidade	do	cumprimento	no	século	I.
	
A	QUEDA	DAS	MONTANHAS	E	ESCONDERIJOS	NAS	CAVERNAS
Focarei	em	dois	elementos	do	sexto	selo	de	Apocalipse	6,	pois	ele	abre	de	fato	as	cenas	de	julgamento.
	
As	montanhas	se	movendo
Em	Apocalipse	6,	uma	das	imagens	mais	incríveis	envolve	o	tremor	de	todas	as	montanhas	em	razão	do
despejo	da	ira	de	Deus:
E	o	céu	recolheu-se	como	um	pergaminho	quando	se	enrola.	Então,	todos	os	montes	e	ilhas	foram	movidos	do	seu	lugar.	Os	reis	da
terra,	os	grandes,	os	comandantes,	os	ricos,	os	poderosos	e	todo	escravo	e	todo	livre	se	esconderam	nas	cavernas	e	nos	penhascos
dos	montes.	(Ap	6.14,15)
Como	explicaremos	esse	movimento	de	todas	as	montanhas?	Qual	é	a	realidade	histórica	por	trás	desse
imaginário	apocalíptico?
														Para	entender	a	imagem,	devemos	considerar	as	circunstâncias	do	século	I	envolvidas	no	ataque
romano	contra	Israel.	Grande	parte	do	terreno	de	Israel,	ao	redor	das	cidades	importantes,	provia	defesas
naturais	 significativas	 que	 serviam	 como	 obstáculos	 a	 exércitos	 saqueadores.	 Isso	 é	 verdadeiro	 em
especial	 para	 as	 forças	 armadas	 dos	 exércitos	muito	 organizados	 e	mecanizados	 dos	 romanos.	 Josefo
mencionou	várias	vezes	os	obstáculos	montanhosos	no	caminho	dos	romanos:
Agripa	 observou	 que	 até	 os	 afazeres	 dos	 romanos	 estavam	 provavelmente	 em	 perigo,	 enquanto	 uma	 multidão	 tão	 imensa	 de
inimigos	havia	capturado	a	área	ao	redor	das	montanhas.	(War	2.19.3)
Agora,	Jotapata	está	quase	toda	construída	em	um	precipício,	e	todos	os	seus	outros	lados	são	vales	muito	profundos	e	íngremes,	de
tal	modo	que	quem	olhasse	para	baixo	não	conseguiria	enxergar	até	o	fundo.	Só	é	possível	chegar	até	ela	pelo	lado	norte,	no	qual	a
maior	parte	da	cidade	está	construída	na	montanha,	e	termina	obliquamente	em	uma	planície.	Josefo	havia	envolvido	essa	montanha
com	uma	muralha	quando	fortificou	a	cidade,	para	que	seu	 topo	não	pudesse	ser	conquistado	pelos	 inimigos.	A	cidade	é	coberta
com	outras	montanhas,	 e	 ela	 não	 pode	 ser	 vista	 de	 forma	 alguma,	 a	 não	 ser	 que	 alguém	 suba	 nelas.	 E	 essa	 era	 a	 situação	 de
Jotapata.
Portanto,	a	fim	de	tentar	ver	como	ele	poderia	sobrepujar	a	força	natural	do	lugar,	como	a	ousada	defesa	dos	judeus,	ele	resolveu
prosseguir	 e	 capturá-la	 com	vigor.	Para	 esse	 fim,	 convocou	os	 comandantes	que	estavam	sob	 sua	 autoridade	a	um	conselho	de
guerra,	e	os	consultou	sobre	a	maneira	mais	vantajosa	para	executar	o	ataque	(War	3.7.7,8).
Uma	 grande	multidão	 evitou	 a	 aproximação	 deles,	 e	 saiu	 de	 Jericó,	 e	 fugiu	 para	 as	 partes	montanhosas	 encontradas	 diante	 de
Jerusalém,	 enquanto	 aquela	parte	que	 foi	 deixada	para	 trás	 e,	 em	grande	medida,	 destruída;	 eles	 também	encontraram	a	 cidade
desolada.	Ela	 se	 situava	 em	uma	planície;	mas	 uma	montanha	 estéril	 e	 pelada,	 de	 enorme	 comprimento,	 se	 colocava	 sobre	 ela,
estendendo-se	 para	 a	 terra	 perto	 de	Bete-Seã,	 ao	 norte,	mas	 alcançando	 a	 terra	 de	Sodoma,	 e	 os	 limites	mais	 remotos	 do	 lago
Asphaltiris,	ao	sul.	Essa	montanha	é	toda	bastante	irregular	e	sem	habitantes	por	causa	da	esterilidade	(War	4.8.2).
Uma	 característica	 notável	 da	 tática	 bélica	 romana	 do	 cerco	 subjaz	 à	 imagem	 das	 montanhas	 sendo
movidas.	As	 legiões	 romanas	 incluíam	 equipes	 de	 demolição	 que	 trabalharam	 para	 vencer	 as	 defesas
montanhosas	 diante	 delas.	 O	movimento	 de	 cada	montanha	 do	 seu	 lugar	 simboliza	 seu	 trabalho	 bem-
sucedido,	como	Josefo	registrou.
Vespasiano	tinha	o	grande	desejo	de	demolir	Jotapata,	pois	recebera	a	informação	de	que	a	maior	fração	do	inimigo	se	retirara	de
lá,	e	que	lhes	era,	em	outros	aspectos,	um	lugar	de	grande	segurança.	Por	conseguinte,	ele	enviou	a	infantaria	e	a	cavalaria	para
nivelar	 o	 caminho	montanhoso	 e	 rochoso,	 difícil	 de	 ser	 atravessado	 pela	 infantaria,	mas	 de	 todo	 impraticável	 à	 cavalaria.	Esses
trabalhadores	conseguiram	acabar	o	que	estavam	fazendo	no	período	de	quatro	dias,	e	abriram	um	caminho	largo	para	o	exército
(War	3.7.3).
Tito,	no	entanto,	pretendendo	montar	o	acampamento	mais	perto	da	cidade	que	de	Escopo,	colocou	tantos	dos	melhores	cavaleiros
e	 soldados	 quantos	 achou	 suficientes	 do	 lado	 oposto	 ao	 dos	 judeus,	 para	 prevenirem	 que	 estes	 se	 lançassem	 contra	 aqueles,
enquanto	deu	ordens	para	 todo	o	 exército	nivelar	 a	distância,	 até	 a	muralha	da	 cidade.	Então	eles	destruíram	 todas	 as	 cercas	 e
muros	construídos	pelos	habitantes	em	volta	dos	jardins	e	arvoredos,	e	derrubaram	todas	as	árvores	frutíferas	que	estavam	entre
eles	 e	 a	 muralha	 da	 cidade,	 e	 entulharam	 todos	 os	 lugares	 fundos	 e	 os	 abismos,	 e	 demoliram	 os	 precipícios	 rochosos	 com
instrumentos	 de	 ferro;	 assim,	 aplainaram	 toda	 a	 área	 desde	Escopo	 até	 os	monumentos	 de	Herodes,	 que	margeavam	 a	 piscina
chamada	da	Serpente	(War	5.3.2).
Essas	ocorrências	históricas	impressionantes	em	Josefo	se	encaixam	bem	com	as	profecias	espantosas	e
simbólicas	 de	 João.	 Dada	 a	 expectativa	 de	 curto	 prazo	 estabelecida	 por	 João	 e	 o	 absurdo	 da
interpretação	literal	direta,	nada	impede	o	intérpreterazoável	de	reconhecer	esses	acontecimentos	como
os	cumprimentos	históricos	em	vista.
	
Os	esconderijos	nas	cavernas
Esconder-se	em	cavernas	é	algo	bastante	fácil	de	entender	de	modo	literal.	Todavia,	precisamos	perceber
quão	 importante	 uma	 ação	 assim	 se	 torna	 na	 guerra	 judaica.	 Sua	 aparição	 no	 Apocalipse	 não	 é	 uma
simples	questão	de	dar	cores	ao	relato;	era	algo	de	grande	significado.	Josefo	registra	muitos	exemplos
que	mostram	 como	 cavernas	 e	 grutas	 foram	 usadas	 pelos	 judeus	 nas	 tentativas	 de	 escapar	 da	 ira	 dos
exércitos	romanos,	como:
Nesse	dia,	ocorreu	que	os	romanos	abateram	toda	a	multidão	que	apareceu	ao	ar	livre;	mas,	nos	dias	seguintes,	eles	procuraram
nos	esconderijos	e	arremeteram	contra	o	que	estavam	sob	o	solo	e	nas	cavernas	(War	3.7.36).
Assim,	 agora,	 a	 última	 esperança	 que	 dava	 força	 aos	 tiranos,	 e	 aos	 recrutas	 de	 salteadores	 que	 estavam	 com	 eles,	 estava	 nas
grutas	 e	 nas	 cavernas	 sob	 o	 chão;	 para	 onde,	 se	 eles	 pudessem	 voar	 uma	 vez,	 não	 esperariam	 que	 fossem	 buscados;	 mas
resolveram	que,	depois	que	toda	a	cidade	fosse	destruída,	e	os	romanos	fossem	embora,	pudessem	sair	de	novo	e	escapar	deles.
Isso	não	passou	de	um	sonho,	pois	não	puderam	ficar	escondidos	nem	de	Deus	nem	dos	romanos.	Porém,	eles	dependeram	desses
subterfúgios	subterrâneos	(War	6.7.3).
Simão,	 no	 cerco	 de	 Jerusalém,	 estava	 na	 parte	mais	 alta	 da	 cidade;	mas,	 quando	 o	 exército	 romano	 adentrou	 suas	muralhas,	 e
desolava	 a	 cidade,	 então	 ele	 tomou	 os	 seus	 amigos	mais	 fiéis	 consigo,	 e	 alguns	 que	 sabiam	 cortar	 pedras	 dentre	 eles,	 com	 as
ferramentas	de	ferro	que	pertenciam	à	sua	ocupação,	e	uma	quantidade	de	provisões	grande	o	suficiente	para	que	lhes	bastasse
por	muito	tempo,	e	desceram	todos	para	uma	certa	caverna	subterrânea	que	não	era	visível	acima	do	chão	(War	7.2.1).
Ao	contrário	das	esperanças	dos	judeus,	as	montanhas	não	eram	imóveis,	nem	as	cavernas	impenetráveis.
Como	Apocalipse	6.16,	17	alerta:
E	disseram	aos	montes	e	aos	rochedos:	Caí	sobre	nós	e	escondei-nos	da	face	daquele	que	se	assenta	no	trono	e	da	ira	do	Cordeiro,
porque	chegou	o	grande	Dia	da	ira	deles;	e	quem	é	que	pode	suster-se?
Seus	esforços	para	fugir	falharam,	como	Josefo	nota:
…	não	 esperariam	que	 fossem	buscados;	mas	 resolveram	que,	 depois	 que	 toda	 a	 cidade	 fosse	 destruída,	 e	 os	 romanos	 fossem
embora,	pudessem	sair	de	novo	e	escapar	deles.	Isso	não	passou	de	um	sonho,	pois	não	puderam	ficar	escondidos	nem	de	Deus
nem	dos	romanos.	(War	6.7.3).
Os	 romanos	 abateram	 alguns	 deles,	 alguns	 levaram	 cativos	 e	 outros	 procuraram	 no	 subterrâneo	 e,	 quando	 descobriram	 onde
estavam,	arrebentaram	o	chão	e	mataram	todos	os	que	encontraram	(War	6.9.4).
Agora,	 tendo	 conseguido	 cavar	 uma	 distância	 nunca	 antes	 alcançada,	 eles	 prosseguiram	 sem	 empecilhos;	 mas,	 quando	 se
depararam	com	chão	sólido,	cavaram	uma	mina	sob	o	chão,	na	esperança	de	que	conseguissem	continuar	 longe	o	bastante	para
emergir	do	subterrâneo	em	um	local	seguro	e,	desse	modo,	fugir.	No	entanto,	quando	começaram	a	fazer	o	experimento,	tiveram	a
esperança	frustrada;	os	mineradores	conseguiram	fazer	pouco	progresso,	com	dificuldade;	de	tal	modo	que	suas	provisões,	embora
houvessem	sido	distribuídas	com	racionalidade,	começaram	a	esgotar-se	(War	7.2.1).
Eles	não	puderam	se	esconder	da	presença	de	Deus	nem	da	ira	do	Cordeiro,	pois	ninguém	é	“capaz	de
suportar”	(Ap	6.17).	A	profecia	de	João	faz	um	paralelo	com	a	anterior	de	Jesus,	em	Lucas	23.28-30:
Porém	Jesus,	voltando-se	para	elas,	disse:	Filhas	de	Jerusalém,	não	choreis	por	mim;	chorai,	antes,	por	vós	mesmas	e	por	vossos
filhos!	Porque	dias	virão	em	que	se	dirá:	Bem-aventuradas	as	estéreis,	que	não	geraram,	nem	amamentaram.	Nesses	dias,	dirão
aos	montes:	Caí	sobre	nós!	E	aos	outeiros:	Cobri-nos!
Mais	 uma	 vez,	 a	 profecia	 de	 João	 encontra	 cumprimento	 adequado	 e	 relevante	 na	 guerra	 judaica	 do
século	I.	Todavia,	há	mais.
	
A	cidade	dividida	e	a	grande	meretriz
Apocalipse	16	revela	a	sétima	taça	da	ira	de	Deus.	Assim,	o	texto	continua	revelando	os	acontecimentos
de	 70	 d.C.,	 provendo-nos	 com	mais	 evidências	 apontando	 para	 o	 cumprimento	 no	 século	 I.	 Lê-se	 no
Apocalipse	16.17-21:
Então,	 derramou	 o	 sétimo	 anjo	 a	 sua	 taça	 pelo	 ar,	 e	 saiu	 grande	 voz	 do	 santuário,	 do	 lado	 do	 trono,	 dizendo:	 Feito	 está!	 E
sobrevieram	relâmpagos,	vozes	e	trovões,	e	ocorreu	grande	terremoto,	como	nunca	houve	igual	desde	que	há	gente	sobre	a	terra;
tal	foi	o	terremoto,	forte	e	grande.	E	a	grande	cidade	se	dividiu	em	três	partes,	e	caíram	as	cidades	das	nações.	E	lembrou-se	Deus
da	grande	Babilônia	para	dar-lhe	o	cálice	do	vinho	do	furor	da	sua	 ira.	Todas	as	 ilhas	 fugiram,	e	os	montes	não	foram	achados;
também	desabou	do	céu	sobre	os	homens	grande	saraivada,	com	pedras	que	pesavam	cerca	de	um	talento;	e,	por	causa	do	flagelo
da	chuva	de	pedras,	os	homens	blasfemaram	de	Deus,	porquanto	o	seu	flagelo	era	sobremodo	grande.
Eu	me	concentrarei	em	dois	aspectos	notáveis	da	profecia:	a	divisão	da	cidade	em	três	partes	e	a	chuva
de	pedras	de	um	talento.
	
A	divisão	da	cidade
Um	aspecto	 trágico	 da	 guerra	 judaica	 enfatizado	 repetidas	 vezes	 por	 Josefo	 é	 a	 convulsão	 interna	 em
Jerusalém.	A	guerra	civil	destruiu	todas	as	esperanças	de	uma	frente	unificada	contra	o	cerco	de	Roma	a
essa	cidade	murada.	De	fato,	a	divisão	se	dava	em	uma	linha	tripartida,	bem	conhecida	por	Josefo:
Assim,	quando	Tito	marchou	sobre	o	deserto	entre	o	Egito	e	a	Síria,	da	maneira	supracitada,	chegou	a	Cesareia,	tendo	resolvido	pôr
em	ordem	 suas	 forças	 nesse	 lugar	 antes	 de	 começar	 a	 guerra.	E	mais,	 na	verdade,	 enquanto	 ajudava	 seu	pai	 em	Alexandria	 a
organizar	 o	 novo	 governo	 que	 havia	 sido	 outorgado	 a	 eles	 por	 Deus,	 aconteceu	 que	 a	 sedição	 em	 Jerusalém	 foi	 reavivada,	 e
dividida	 em	 três	 facções,	 e	 elas	 lutavam	 entre	 si;	 partição	 essa	 que,	 nesses	 casos	 maus,	 pode	 ser	 chamada	 de	 coisa	 boa,	 e
resultado	da	justiça	divina.	Agora,	quanto	ao	ataque	dos	zelotes	contra	o	povo,	eu	o	considero	o	princípio	da	destruição	da	cidade
—	 ele	 já	 havia	 sido	 explicado	 de	 maneira	 precisa;	 e	 também	 a	 respeito	 de	 quando	 ele	 surgiu,	 e	 quão	 grandes	 danos	 causou.
Todavia,	quanto	à	presente	sedição,	ninguém	deve	subestimá-la	se	fosse	chamada	de	sedição	gerada	por	outra	sedição,	e	de	ser	ela
como	uma	besta	selvagem	enlouquecida,	e	que,	pela	falta	de	alimento	externo,	passou	a	comer	a	própria	carne	(War	5.1.1).
E	 havia	 três	 facções	 traiçoeiras	 na	 cidade,	 uma	 tendo	 saído	 da	 outra.	 Eleazar	 e	 seu	 partido,	 que	 mantinham	 as	 primícias
sagradas,	vieram	contra	João	com	seus	golpes.	Os	que	estavam	com	João	saquearam	as	massas	e	se	lançaram	com	zelo	contra
Simão.	Esse	Simão	detinha	o	suprimento	de	provisões	da	cidade,	ao	contrário	dos	sediciosos.	(War	5.1.4).
Josefo	lamenta	o	potencial	destrutivo	dessa	facção	tríplice:	foi	“sedição	gerada	por	outra	sedição,	e	de
ser	ela	como	uma	besta	selvagem	enlouquecida,	e	que,	pela	falta	de	alimento	externo,	passou	a	comer	a
própria	carne”.	Ele	considera	a	divisão	em	Jerusalém	“o	princípio	da	destruição	da	cidade”.
														Como	a	profecia	de	João	expressa:
E	a	grande	cidade	se	dividiu	em	três	partes,	e	caíram	as	cidades	das	nações.	(Ap	16.19a)
	
A	chuva	de	pedras	de	um	talento
Como	 indiquei,	 o	 Apocalipse	 se	 desenrola	 como	 um	 processo	 judicial	 pactual	 contra	 Israel	 pelo
adultério	 espiritual	 contra	Deus.	Na	 lei	 divina,	 o	 adultério	 era	 punido	 com	apedrejamento	 (Dt	 22.21).
Isso	não	escapou	da	vista	de	João,	pois	ele	escreveu:
Também	desabou	do	céu	sobre	os	homens	grande	saraivada,	com	pedras	que	pesavam	cerca	de	um	talento	[gr.,	talantiaia];	e,	por
causa	do	flagelo	da	chuva	de	pedras,	os	homens	blasfemaram	de	Deus,	porquanto	o	seu	flagelo	era	sobremodo	grande.	(Ap	16.21)
Mais	uma	vez,	Josefo	nos	fornece	material	histórico	que	ajuda	a	explicar	a	visão.	Ele	menciona	o	cercodas	catapultas	romanas	contra	Jerusalém,	salientando	em	especial	o	tamanho	enorme	das	pedras	(grifos
meus):
As	máquinas	preparadas	por	todas	as	legiões	foram	inventadas	de	modo	admirável;	no	entanto,	as	mais	extraordinárias	pertenciam
à	décima	 legião:	 elas	 lançavam	pedras	—	sua	 capacidade	 e	 tamanho	 eram	maiores	 que	o	 restante.	Por	meio	delas	 eles	 não	 só
repeliram	as	incursões	dos	judeus,	mas	expulsaram	também	os	que	se	encontravam	sobre	as	muralhas.	Ora,	as	pedras	lançadas
pesavam	um	talento	[gr.,	talantiaia],	e	eram	carregadas	por	mais	de	duzentos	metros.	Era	impossível	suportar	a	explosão	causada
por	 elas,	 não	 apenas	 por	 quem	 ficava	 no	 caminho,	mas	 também	 por	 quem	 estaria	 atrás	 deles,	mesmo	 à	 distância.	 Quanto	 aos
judeus,	eles	observavam	logo	a	 trajetória	da	pedra,	pois	ela	era	branca;	portanto,	poderia	 ser	percebida	não	apenas	pelo	grande
barulho	 que	 fazia,	mas	 seria	 também	notada	 de	 longe	 pelo	 brilho;	 por	 conseguinte,	 as	 sentinelas	 sobre	 as	 torres	 davam	o	 alerta
quando	o	mecanismo	era	solto,	e	a	pedra	vinha,	e	gritavam	na	língua	do	povo:	“Vem	a	pedra”,	para	que	quem	estivesse	no	caminho
dela	 saísse	 e	 se	 lançasse	 ao	 chão;	 ao	 agir	 assim,	 e	 proteger	 a	 si	 mesmos,	 a	 pedra	 caía	 e	 não	 os	 feria.	 Todavia,	 os	 romanos
resolveram	evitar	essa	reação	escurecendo	a	pedra,	pois	poderia	ser	mirada	neles	com	sucesso:	não	sendo	a	pedra	observada	de
antemão,	como	antes,	eles	matavam	muitos	adversários	com	uma	só	explosão.	(War	5.6.3)
Imagine	 a	 cena:	 Jerusalém	 cercada	 por	 catapultas	 que	 lançavam	 pedras	 brancas	pesando	 um	 talento
[cerca	de	30	kg]	cada.	Isso	se	encaixa	incrivelmente	bem	com	o	retrato	simbólico	de	João	da	destruição
como	 um	 granizo	 enorme.	 Os	 acontecimentos	 históricos	 se	 engrenam	 muito	 bem	 com	 o	 imaginário
impressionante.	A	interpretação	histórica	não	é	nem	um	pouco	absurda.
	
O	SANGUE	CORRENDO	E	OS	FREIOS	DOS	CAVALOS
Em	Apocalipse	 14.17-20,	 João	 registrou	 a	 visão	 do	 banho	 de	 sangue	 que	 sobreviria	 aos	 inimigos	 de
Deus:
Então,	saiu	do	santuário,	que	se	encontra	no	céu,	outro	anjo,	tendo	ele	mesmo	também	uma	foice	afiada.	Saiu	ainda	do	altar	outro
anjo,	aquele	que	tem	autoridade	sobre	o	fogo,	e	falou	em	grande	voz	ao	que	tinha	a	foice	afiada,	dizendo:	Toma	a	tua	foice	afiada	e
ajunta	 os	 cachos	 da	 videira	 da	 terra,	 porquanto	 as	 suas	 uvas	 estão	 amadurecidas!	Então,	 o	 anjo	 passou	 a	 sua	 foice	 na	 terra,	 e
vindimou	a	videira	da	terra,	e	lançou-a	no	grande	lagar	da	cólera	de	Deus.	E	o	lagar	foi	pisado	fora	da	cidade,	e	correu	sangue	do
lagar	até	aos	freios	dos	cavalos,	numa	extensão	de	mil	e	seiscentos	estádios.
A	Escritura	muitas	 vezes	 usa	 o	 símbolo	 da	 vinha	 de	 Deus	 para	 representar	 Israel	 (Sl	 80.8;	 Is	 5.1-7;
Jr	2.21;	12.10;	Ez	17.2,6;	19.1,10;	Mt	21.33-40).	João	seguiu	o	mesmo	padrão	do	Antigo	Testamento	aqui
no	Apocalipse.	Onde	ficava	esse	 lagar	pisado	“fora	da	cidade”?	E	como	esse	enorme	fluxo	de	sangue
pode	ser	aplicado	aos	acontecimentos	do	ano	70	d.C.?	Acreditamos	que	o	sangue	realmente	correu	por
1600	 estádios	 (c.	 de	 300	 km),	 e	 sua	 altura	 chegava	 aos	 freios	 dos	 cavalos?	 São	 essas	 perguntas	 que
vamos	considerar	agora.
	
A	distância	do	fluxo	de	sangue
Vimos	acima	que	João	define	“a	cidade”	em	Apocalipse	como	o	lugar	onde	Cristo	foi	crucificado,	isto	é,
Jerusalém	 (Ap	 11.8).	 Essa	 “ceifa”	 ocorre	 “na	 terra”,	 ou	 seja,	 na	 “terra”	 de	 Israel	 (Ap	 14.15-19;	 cp.
Ap	1.7)	no	lugar	em	que	Jesus	foi	crucificado:	“fora	da	cidade”	(Jo	19.20;	cp.	Hb	13.11-13).	Tudo	isso
se	encaixa	bem	com	o	tema	declarado	de	João	(Ap	1.7).	Curiosamente,	o	comprimento	de	Israel	como
província	 romana	 era	 de	 1664	 estádios	—	 da	 maneira	 registrada	 por	 João.	 Aprendemos	 isso	 com	 o
cristão	 do	 século	 III	 Antônio	 de	 Piacenza,	 que	 escreveu	 o	 Itenerarium,	 em	 que	 encontramos	 essa
dimensão.	A	imagem	de	João	sugere	que	Israel	sofrerá	um	banho	de	sangue	que	correrá	por	toda	a	terra.
Josefo	registra	que	“todo	o	país	pelo	qual	eles	haviam	fugido	foi	tomado	pela	carnificina”	(War	4.7.6).
	
A	profundidade	do	fluxo	de	sangue
A	profundidade	do	sangue,	claro,	é	fisicamente	impossível	como	fato	literal	(pois	o	sangue	coagula	em
minutos	quando	exposto	 ao	ar,	 e	não	poderia	percorrer	grandes	distâncias	 em	quantidades	 tão	vastas).
Pode-se	ver,	no	entanto,	na	guerra	judaica	acontecimentos	que	podem	ser	retratados	de	forma	simbólica
como	 esse	 derramamento	 de	 sangue	 tão	 impressionante.	 Josefo	 menciona	 os	 cadáveres	 e	 o	 sangue
correndo	em	grandes	volumes	de	água:
Todo	o	país	pelo	qual	eles	haviam	fugido	foi	tomado	pela	carnificina	e	o	Jordão	não	poderia	ser	atravessado,	por	causa	dos	corpos
mortos	que	estavam	nele.	(War	4.7.6)
Ele	destaca	que	“o	mar	estava	repleto	de	sangue	por	uma	longa	extensão”	(War	3.9.3)	e	“seria	possível
ver	então	o	lago	todo	sanguinolento	e	cheio	de	cadáveres”	(War	3.10.9).
														Quando	Josefo	registrou	a	devastação	final	em	Jerusalém,	escreveu:	“Sangue	corria	por	todas	as
partes	mais	baixas	da	cidade,	desde	o	ponto	mais	alto”	(War	4.1.10);	“O	exterior	do	templo	estava	todo
inundado	com	sangue”	(War	4.5.1);	“O	sangue	de	todos	os	tipos	de	carcaças	estava	nos	lagos	e	nos	átrios
santos”	(War	5.1.3);	e	“Vertia	sangue	de	 toda	a	cidade	em	tal	nível	que	o	 incêndio	de	muitas	casas	foi
apagado	com	o	sangue	desses	homens”	(War	6.8.5).
	
O	significado	do	fluxo	de	sangue
Assim,	ao	 longo	da	história,	a	carnificina	repleta	de	sangue	estendeu-se	não	só	através	da	extensão	da
terra	 (1600	 estádios	 ou	 c.	 de	 300	 km),	 mas	 também	 no	 mar.	 Isso	 se	 encaixa	 em	 outras	 imagens	 do
Apocalipse,	 como	 o	mar	 virando	 sangue	 (Ap	 8.8;	 16.3).	 João	 vê	 isso	 como	 se	 o	 sangue	 corresse	 até
alcançar	os	freios	dos	cavalos.	Seu	imaginário	é	forte	—	e	histórico.	O	Cordeiro	que	foi	morto	(Ap	5.5-
8,12)	derrama	a	sua	ira	(Ap	6.16,17)	sobre	os	que	o	crucificaram	(Ap	1.7).
	
CONCLUSÃO
Ainda	que	o	cumprimento	do	Apocalipse	no	século	I	surpreenda	os	evangélicos	modernos,	a	evidência	a
seu	favor	é	muito	ampla	e	convincente.	Uma	vez	que	nos	desiludimos	com	a	suposta	abordagem	literalista
do	Apocalipse,	estamos	em	uma	posição	melhor	de	entender	o	livro	como	João	pretendia.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Embora	 as	 grandes	 imagens	 no	 Apocalipse	 não	 sejam	 literais,	 elas	 de	 fato	 retratam
acontecimentos	históricos.	Quando	pesquisamos	os	 registros	históricos	da	guerra	 judaica,	descobrimos
correspondências	 incríveis	entre	a	simbologia	de	João	e	a	 realidade	de	Josefo.	Apresentei	 só	algumas
amostras	ilustrativas,	mas	há	muitas	outras	disponíveis.	Os	acontecimentos	previstos	por	João	abalaram
de	fato	judeus	e	cristãos	do	século	I.	Daí	o	uso	que	João	fez	de	imagens	que	sacodem	a	terra.
	
	
6.	O	milênio	e	as	ressurreições
	
Por	fim,	quando	se	chega	ao	final	do	Apocalipse,	deixamos	para	trás	muitas	cenas	de	juízo	para	observar
assuntos	mais	gloriosos.	Nos	últimos	dois	capítulos	de	João,	chegamos	aos	resultados	finais	dos	juízos
de	Deus.	O	Apocalipse	não	está	totalmente	entregue	à	ira	e	ao	juízo.
	
O	REINO	MILENAR	DE	CRISTO
Nos	 capítulos	 anteriores,	 demonstrei	 que	 o	 Apocalipse	 se	 concentra	 em	 ocorrências	 que	 “devem
acontecer	 em	 breve”	 porque	 “o	 tempo	 está	 próximo”.	 Descobrimos	 que	 os	 juízos	 espetaculares	 do
Apocalipse	 retratam	 as	 catástrofes	 históricas	 conducentes	 ao	 ano	 70	 d.C.	 Ainda	 que	 não	 tenha	 sido
possível	explorar	o	material	com	profundidade,	acredito	que	pudemos	perceber	que	os	acontecimentos
históricos	respeitantes	à	destruição	de	Jerusalém	e	do	templo	se	encaixam	com	facilidade	no	imaginário
impressionante	do	Apocalipse.
														No	entanto,	aproximamo-nos	agora	de	algo	que	não	parece	se	encaixar:	Apocalipse	20	menciona
o	 reino	 de	 Cristo	 de	 mil	 anos.	 Como	 podemos	 afirmar	 que	 mil	 anos	 cobrem	 um	 curto	 período?	 Na
verdade,	não	precisamos	fazê-lo.	Pela	própria	natureza	do	caso,	os	mil	anos	não	ocorrem	“em	breve”.	Se
pudéssemos	aplicaros	mil	anos	a	um	período	curto,	então	teríamos	de	perguntar:	por	que	não	inverter	o
processo	e	aplicar	a	limitação	temporal	“próxima”	para	cobrir	mil	anos?	Na	verdade,	em	Apocalipse	20,
João	 vislumbra	 o	 futuro	 distante,	 além	 dos	 acontecimentos	 de	 curto	 prazo,	 para	 descobrir	 suas
consequências.	Ainda	 assim,	 os	mil	 anos	 começam	 no	 século	 I,	 de	modo	 que	 o	 período	milenar	 está
enraizado	 nas	 expectativas	 de	 curto	 prazo	 do	 Apocalipse.	 Em	 Apocalipse	 20,	 João	 nos	 revela	 os
resultados	a	longo	prazo	dos	juízos	a	curto	prazo.	O	capítulo	20	estabelece	os	julgamentos	do	século	I
no	grande	quadro	histórico.	Vejamos	como	devemos	entender	o	reino	milenar	de	Cristo.
	
OS	MIL	ANOS
Em	Apocalipse	 20,	 lemos	 sobre	 o	 reino	milenar	 de	Cristo:	 “Serão	 sacerdotes	 de	Deus	 e	 de	Cristo	 e
reinarão	com	ele	os	mil	anos”	(Ap	20.6b).	Contudo,	devemos	perceber	logo	que,	embora	ela	seja	comum
nos	 debates	 escatológicos,	 a	 designação	 do	 reino	 de	 Cristo	 com	 a	 duração	 de	 mil	 anos	 é	 rara	 na
Escritura.	De	fato,	ela	só	ocorre	aqui,	nessa	única	passagem	no	livro	mais	simbólico	de	toda	a	Escritura.
Isso	deve	nos	alertar	para	a	possibilidade	de	que	o	período	de	mil	anos,	em	si,	possa	representar	algo
maior	e	mais	grandioso.
	
As	imagens	do	Apocalipse
O	Apocalipse	está	repleto	de	simbolismos	notáveis.	Vimos	isso	no	primeiro	capítulo;	nele	observamos
que	João	fala	de	gafanhotos	com	rostos	de	homem,	dentes	de	leão,	diademas	de	ouro	e	caudas	como	de
escorpião	(Ap	9.6).	Testemunhamos	cavalos	com	cabeça	de	leão	e	cauda	de	serpente	expelindo	fogo	e
fumaça	(9.17).	Fomos	 impressionados	pelo	dragão	de	sete	cabeças	com	dez	chifres	e	sete	diademas,	e
que	consegue	arrastar	ao	chão	um	terço	das	estrelas	do	céu	(12.3,4).	Sem	dúvida,	João	não	pretende	que
tomemos	o	Apocalipse	em	sentido	literal.	Talvez	isso	seja	verdade	sobre	os	mil	anos.
	
Valor	simbólico
Quando	pensamos	no	número	“mil”,	descobrimos	que	a	Escritura	usa	várias	vezes	esse	exato	valor	em
sentido	 simbólico.	Ele	 representa	 consequências	 de	 longo	 alcance.	A	Bíblia	 nos	 informa	de	 que	Deus
mostra	 sua	misericórdia	 para	mil	 gerações	 (Êx	 20.6)	—	 o	 que	 não	 implica	 que	 a	milésima	 primeira
geração	não	recebe	misericórdia.	O	Senhor	promete	 tornar	a	nação	de	 Israel	mil	vezes	mais	numerosa
que	nos	 tempos	de	Moisés	 (Dt	1.11)	—	o	que	não	 encerra	um	 limite	máximo	para	o	potencial	 do	 seu
crescimento.	O	Senhor	até	reclama	para	si	o	gado	de	mil	colinas	(Sl	50.10)	—	mas,	em	nenhum	lugar,
sugere	 que	 o	 gado	 dos	 outros	 milhões	 de	 colinas	 na	 terra	 pertençam	 a	 outra	 pessoa.	 Nem	 podemos
presumir	que	um	dia	nos	átrios	celestiais	do	Senhor	é	melhor	que	apenas	mil	(Sl	84.10)	—	mas	nenhum
dia	 a	mais.	Com	certeza	 não	 calcularíamos	o	 tempo	de	 forma	gradual	 acumulando	 cansaço	 e	 desgaste
para	 Deus	 como	 se	 mil	 anos	 se	 tornassem	 um	 dia	 no	 tempo	 de	 Deus	 (2Pe	 3.8),	 mas	 dois	 mil	 anos
dobrassem	para	dois	dias	o	impacto	sobre	ele,	e	assim	por	diante.	Nenhuma	dessas	afirmações	deve	ser
interpretada	 com	 literalidade;	 a	 cifra	 “mil”	 expressa	 resultados	 assombrosos,	 consequências
impressionantes	de	longo	alcance,	e	não	contabilidade	numérica	exata.
														O	emprego	amplo	do	número	“mil”	na	Escritura	desencoraja	a	limitação	desse	valor	à	soma
bruta.	Na	verdade,	o	 fato	de	mil	 ser	um	número	 tão	 redondo	deveria,	 só	por	 isso,	 indicar-nos	que	ele
significa	 algo	 maior.	 A	 expressão	 mil	 anos	 parece	 sugerir	 a	 perfeição	 quantitativa	 (10	 x	 10	 x	 10),
tornando-se	figura	de	consequências	enormes.	Demonstrarei	que	os	mil	anos	tiveram	início	no	século	I,	já
consumiram	dois	mil	anos	do	nosso	tempo	e	ainda	não	acabaram.
	
A	PRISÃO	DE	SATANÁS
Em	Apocalipse	20.1-3,	João	abre	a	visão	do	reino	de	mil	anos	de	Cristo	associando-a	à	prisão	de	mil
anos	de	Satanás:
Então,	vi	descer	do	céu	um	anjo;	tinha	na	mão	a	chave	do	abismo	e	uma	grande	corrente.	Ele	segurou	o	dragão,	a	antiga	serpente,
que	é	o	diabo,	Satanás,	e	o	prendeu	por	mil	anos;	lançou-o	no	abismo,	fechou-o	e	pôs	selo	sobre	ele,	para	que	não	mais	enganasse
as	nações	até	se	completarem	os	mil	anos.	Depois	disto,	é	necessário	que	ele	seja	solto	pouco	tempo.
Como	observei	acima,	os	mil	anos	começaram	no	século	I,	embora	não	sejam	limitados	a	ele.	O	que	essa
prisão	 de	 mil	 anos	 de	 Satanás	 representa?	 Qual	 é	 seu	 propósito?	 Quando	 ela	 começa?	 Em	 sentido
fundamental,	 essa	 imagem	fala	da	 redução	do	poder	de	Satanás	 feita	por	Cristo,	no	século	I,	 para	 o
avanço	do	evangelho	por	todo	o	mundo.
	
A	prisão	de	Satanás	de	declarada	abertamente
O	próprio	Senhor	Jesus	Cristo	afirmou	prender	Satanás	durante	seu	ministério	terreno.	Em	Mateus	12,	os
fariseus	 o	 acusam	 de	 ser	 aliado	 de	 Satanás	 (v.	 24).	 Jesus	 ressaltou	 o	 absurdo	 dessa	 alegação,	 pois	 a
expulsão	de	demônios	realizada	por	ele	consiste	no	oposto	do	que	se	esperaria	de	um	aliado	de	Satanás
(v.	25-27).	Em	seguida,	ele	então	os	desafia	a	encarar	a	realidade:
Se,	porém,	eu	expulso	demônios	pelo	Espírito	de	Deus,	certamente	é	chegado	o	reino	de	Deus	sobre	vós.	Ou	como	pode	alguém
entrar	na	casa	do	valente	e	roubar-lhe	os	bens	sem	primeiro	amarrá-lo?	E,	então,	lhe	saqueará	a	casa.	(v.	28,29)
Na	 passagem,	 ele	 declara	 sua	 vitória	 sobre	 Satanás,	 pois	 o	 “reino	 de	 Deus”	 vem	 nele.	 Ele	 define	 a
expulsão	de	demônios	que	ele	faz	mediante	uma	parábola	que	narra	a	prisão	de	Satanás:	este	é	o	homem
forte;	Cristo	é	o	intruso	que	pretende	levar	a	propriedade	de	Satanás	(os	endemoninhados).	Ele	“primeiro
amarra	 o	 homem	 forte”	 antes	 que	 possa	 “saquear	 a	 sua	 casa”.	O	 Senhor	 usa	 a	mesma	 palavra	 grega
utilizada	por	João	quando	ele	fala	da	“prisão”:	deō.	Mateus	12	faz	um	paralelo	com	Apocalipse	20.1-6,
ao	mostrar	a	vitória	de	Cristo	sobre	Satanás	enquanto	traz	o	reino.
														Esse	paralelo	de	pensamento	é	confirmado	em	Apocalipse	1.6.	Quando	João	abre	o	Apocalipse,
ele	afirma	que	o	reino	de	Cristo	já	havia	iniciado	e	que	seus	discípulos	já	eram	“sacerdotes”	nesse	reino:
E	nos	constituiu	reino,	sacerdotes	para	o	seu	Deus	e	Pai,	a	ele	a	glória	e	o	domínio	pelos	séculos	dos	séculos.	Amém!
Seu	“domínio”	no	século	I	inclui	a	prisão	do	maior	inimigo	do	homem,	Satanás.	Isso	é	efetivamente	o	que
ele	ensina	em	estilo	simbólico	em	Apocalipse	20.2,6b:
Ele	segurou	o	dragão,	a	antiga	serpente,	que	é	o	diabo,	Satanás,	e	o	prendeu	por	mil	anos.	[…]	[Eles]	serão	sacerdotes	de	Deus	e
de	Cristo	e	reinarão	com	ele	os	mil	anos.
Sem	dúvida,	Apocalipse	1.6	requer	que	o	reino	de	sacerdotes	já	exista	e	que	o	domínio	de	Cristo	já	tenha
começado.	Essas	realidades	gloriosas	não	estão	no	futuro	distante	(embora	elas	se	estendam	até	o	futuro
e	tenham	consequências	para	ele).
	
A	prisão	de	Satanás	realizada	com	legalidade
Quando	pensamos	na	prisão	de	Satanás,	não	devemos	compreendê-la	como	uma	restrição	absoluta	que	o
torne	de	 todo	 inoperante.	Tomada	em	sentido	 literal,	 a	 imagem	de	Apocalipse	20	 sugere	 isso,	mas,	na
verdade,	ocorre	algo	mais.
														Cristo	amarra	Satanás	como	um	fato	legal	por	meio	de	sua	morte	e	ressurreição.	Em	João	12.31-
32,	 lemos	a	 forte	declaração	de	Cristo:	Satanás	 “agora”	 foi	 “expulso”	 como	 resultado	de	 sua	obra	de
redenção:
Chegou	o	momento	de	ser	julgado	este	mundo,	e	agora	o	seu	príncipe	será	expulso.	E	eu,	quando	for	levantado	da	terra,	atrairei
todos	a	mim	mesmo.
Temos	aqui	os	dois	componentes	 fundamentais	da	prisão	de	Satanás	no	Apocalipse:	o	próprio	Satanás
atingido	em	sentido	negativo	e	o	mundo	 libertado	do	domínio	 satânico.	No	Apocalipse,	 João	expressa
esses	temas	da	seguinte	maneira:
Ele	segurou	o	dragão,	a	antiga	serpente,	que	é	o	diabo,	Satanás,	e	o	prendeu	por	mil	anos;	lançou-o	no	abismo,	encerrou-o
e	pôs	selo	sobre	ele,	para	que	não	mais	enganasse	as	nações	até	se	completarem	os	mil	anos.	(Ap	20.2,3)
Observamos	a	vitória	legal	de	Cristo	sobre	Satanás	também	em	outras	referências	do	Novo	Testamento.
Duas	delas	mencionam	a	perda	do	domínio	sobre	os	homens:
Tendo	 cancelado	 o	 escritode	 dívida,	 que	 era	 contra	 nós	 e	 que	 constava	 de	 ordenanças,	 o	 qual	 nos	 era	 prejudicial,	 removeu-o
inteiramente,	 encravando-o	 na	 cruz;	 e,	 despojando	 os	 principados	 e	 as	 potestades,	 publicamente	 os	 expôs	 ao	 desprezo,
triunfando	deles	na	cruz.	(Cl	2.14,15)
Visto,	pois,	que	os	filhos	têm	participação	comum	de	carne	e	sangue,	destes	também	ele,	igualmente,	participou,	para	que,	por	sua
morte,	destruísse	aquele	que	tem	o	poder	da	morte,	a	saber,	o	diabo,	e	livrasse	todos	que,	pelo	pavor	da	morte,	estavam	sujeitos	à
escravidão	por	toda	a	vida.	(Hb	2.14,15)
O	texto	de	Apocalipse	20	se	encaixa	no	padrão	de	outras	passagens	do	Novo	Testamento	(veja	Lc	10.18;
Jo	16.11;	17.15;	At	26.18;	Rm	16.20;	1Jo	3.8;	4.3,4;	5.18).
	
A	prisão	de	Satanás	explicada	em	sentido	redentor
A	prisão	de	Satanás	por	mil	anos	não	implica	sua	total	inatividade,	mas	sim	sua	restrição	e	frustração.
Afinal,	o	próprio	Jesus	declarou	ter	“amarrado”	Satanás	em	seu	ministério	terreno	(Mt	12.29)	—	embora
Satanás	continuasse	(e	ainda	continua!)	atuando	entre	os	homens	(p.	ex.,	Ef	6.11,12;	1Pe	5.8;	Tg	4.7b).
Com	certeza,	podemos	esperar	que	o	retrato	bastante	simbólico	de	João	permita	o	mesmo	tipo	de	prisão
—	com	a	continuação	do	mesmo	tipo	de	atividade	satânica	(restrita).
			 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Para	entender	a	prisão	de	Satanás,	precisamos	considerar	mais	uma	vez	o	pano	de	fundo	do
Antigo	Testamento	no	Apocalipse.	Antes	da	vinda	de	Cristo,	lemos	sobre	o	cuidado	singular	de	Deus	ao
favorecer	Israel:
Agora,	pois,	 se	diligentemente	ouvirdes	a	minha	voz	e	guardardes	a	minha	aliança,	então,	 sereis	a	minha	propriedade	peculiar
dentre	todos	os	povos;	porque	toda	a	terra	é	minha.	(Êx	19.5)
														De	todas	as	famílias	da	terra,	somente	a	vós	outros	vos	escolhi.	(Am	3.2a)
Nenhuma	outra	nação	recebeu	os	benefícios	do	favor	de	Deus	fluindo	de	tal	relação,	pois:
Mostra	a	sua	palavra	a	Jacó,	as	suas	leis	e	os	seus	preceitos,	a	Israel.	Não	fez	assim	a	nenhuma	outra	nação;	todas	ignoram	os
seus	preceitos.	(Sl	147.19,20)
Como	Paulo	afirmou,	a	vantagem	de	Israel	era:
Muita,	sob	todos	os	aspectos.	Principalmente	porque	aos	judeus	foram	confiados	os	oráculos	de	Deus.	(Rm	3.2)
Como	consequência,	o	 resto	do	mundo	estava	 sob	o	domínio	de	Satanás,	que	 inspirava	a	 adoração	de
falsos	deuses	no	Antigo	Testamento.	E,	com	essa	situação,	Satanás	manteve	cativas	as	nações	antigas	a	si
mesmo	 por	meio	 de	 temíveis	 ilusões.	O	 estudante	 de	 história	 antiga	 está	 acostumado	 com	 a	 adoração
idólatra	 universal	 da	 época.	 Cada	 nação	 contava	 com	 um	 panteão	 próprio	 —	 os	 deuses	 favoritos
adorados	 por	 elas.	Muitos	 dos	mais	 exaltados	 deuses	 das	 várias	 civilizações	 são	 conhecidos	 até	 dos
leigos:	 Isis,	Osíris	e	Rá,	do	Egito;	Cibele	 (ou	Mãe	dos	Deuses),	da	Anatólia;	Dionísio,	de	Creta	e	da
Trácia;	 Atargatis,	 da	 Síria;	 Dagom,	 da	 Filístia;	 Assur,	 da	 Assíria;	 Marduque,	 da	 Babilônia;	 Baal	 e
Astarote,	 de	 Canaã;	 An,	 Ki	 e	 Enki,	 da	 Suméria;	 Zeus,	 da	 Grécia;	 e	 Júpiter,	 de	 Roma.	 Poderíamos
expandir	a	lista	para	incluir	os	deuses	hititas,	moabitas,	fenícios,	ferezeus,	árabes,	arameus,	iranianos	e
mais.
														Todas	as	civilizações	antigas	contavam	com	deuses	nacionais	(demônios):
Porém	cada	nação	fez	ainda	os	seus	próprios	deuses	nas	cidades	em	que	habitava,	e	os	puseram	nos	santuários	dos	altos	que	os
samaritanos	tinham	feito.	(2Rs	17.29)
Satanás	reinava	com	grande	poder	enganador	antes	da	era	do	Novo	Testamento.	Quando	o	diabo	tentou
Jesus,	aprendemos	que	Satanás:
Elevando-o,	mostrou-lhe,	 num	momento,	 todos	 os	 reinos	 do	mundo.	Disse-lhe	 o	 diabo:	Dar-te-ei	 toda	 esta	 autoridade	 e	 a	 glória
destes	reinos,	porque	ela	me	foi	entregue,	e	a	dou	a	quem	eu	quiser.	(Lc	4.5,6)
Cristo	não	disputa	a	alegação	de	Satanás	de	domínio	sobre	o	mundo	naquela	hora.
														Com	a	vitória	de	Cristo	na	cruz	e	na	ressurreição,	isso	mudou,	pois	Satanás	foi	“preso”	para
“não	 mais	 enganar	 as	 nações”	 (Ap	 20.3).	 Logo,	 Cristo	 autoriza	 a	 Grande	 Comissão	 para	 efetuar	 a
libertação	de	indivíduos	e	nações	por	meio	da	conversão.	Ainda	que	Satanás	pudesse	tentá-lo,	no	começo
do	seu	ministério,	ao	dizer:	“Dar-te-ei	 toda	esta	autoridade	e	a	glória	destes	reinos,	porque	ela	me	foi
entregue”	(Lc	4.6),	agora	Jesus	declara	em	alta	voz	a	nova	situação:
Toda	a	autoridade	me	foi	dada	no	céu	e	na	terra.	Ide,	portanto,	fazei	discípulos	de	todas	as	nações,	batizando-os	em	nome	do
Pai,	e	do	Filho,	e	do	Espírito	Santo.	(Mt	28.18,19)
Por	causa	da	vitória	de	Cristo,	Paulo	pôde	afirmar:
Porque	o	Senhor	assim	no-lo	determinou:	Eu	te	constituí	para	luz	dos	gentios,	a	fim	de	que	sejas	para	salvação	até	aos	confins	da
terra.	(At	13.47)
Cristo	o	comissionou	ao	serviço	apostólico,	declarando-lhe	estar:
Livrando-te	do	povo	e	dos	gentios,	para	os	quais	eu	te	envio,	para	lhes	abrires	os	olhos	e	os	converteres	das	trevas	para	a	luz	e	da
potestade	de	Satanás	para	Deus,	a	fim	de	que	recebam	eles	remissão	de	pecados	e	herança	entre	os	que	são	santificados	pela	fé
em	mim.	(At	26.17,18)
Satanás	está	preso	“para	não	mais	enganar	as	nações”;	Cristo	afirmou	deter	“toda	a	autoridade”	para	que
ele	 “discipule	 as	 nações”.	 Qualquer	 gentio	 conhecedor	 de	 Cristo	 como	 Salvador	 é	 testemunho	 dessa
grandiosa	verdade.
	
O	REINO	DE	CRISTO
Embora	o	reino	presente	de	Cristo	já	tenha	sido	mencionado	antes,	agora	me	concentrarei	de	modo	mais
particular	em	sua	chegada	ao	poder.
	
O	anúncio	do	evangelho
Cristo	anunciou	sua	autoridade	régia	no	ministério	terreno.	Ele	proclamou	que	o	reino	chegou	por	meio
de	seu	ministério,	proibindo-nos	de	presumir	que	o	reino	aguarde	sua	segunda	vinda	no	futuro	distante.
Marcos	1.14,15	serve	como	poderosa	abertura	do	evangelho	de	Marcos:
Depois	de	João	ter	sido	preso,	foi	Jesus	para	a	Galileia,	pregando	o	evangelho	de	Deus,	dizendo:	O	tempo	está	cumprido,	e	o	reino
de	Deus	está	próximo;	arrependei-vos	e	crede	no	evangelho.
Isso	estabelece	o	tom	do	seu	ministério	de	pregação,	cura	e	exorcismo.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Quando	ele	fica	diante	de	Pilatos,	perto	do	fim	do	ministério	terreno,	Pilatos	exige	que	ele
responda	se	é	rei	ou	não.	A	resposta	do	Senhor	é	de	todo	clara:
Então,	lhe	disse	Pilatos:	Logo,	tu	és	rei?	Respondeu	Jesus:	Tu	dizes	que	sou	rei.	Eu	para	isso	nasci	e	para	isso	vim	ao	mundo,	a
fim	de	dar	testemunho	da	verdade.	Todo	aquele	que	é	da	verdade	ouve	a	minha	voz.	(Jo	18.37)
Claro	que	seu	reino	não	era	um	tipo	de	reino	terreno,	equipado	com	polícia	e	forças	armadas:
O	meu	reino	não	é	deste	mundo.	Se	o	meu	reino	fosse	deste	mundo,	os	meus	ministros	se	empenhariam	por	mim,	para	que	não
fosse	eu	entregue	aos	judeus;	mas	agora	o	meu	reino	não	é	daqui.	(Jo	18.36)
Em	vez	de	consistir	 em	um	 reino	geopolítico	 fazendo-se	visivelmente	presente	 e	 conhecido	com	 força
política	pela	súbita	conquista	militar,	trata-se	de	um	reino	redentor	e	espiritual,	operando	sua	presença	no
coração	humano	mediante	a	conquista	gradual	do	evangelho:
Interrogado	 pelos	 fariseus	 sobre	 quando	 viria	 o	 reino	 de	 Deus,	 Jesus	 lhes	 respondeu:	 Não	 vem	 o	 reino	 de	 Deus	 com	 visível
aparência.	Nem	dirão:	Ei-lo	aqui!	Ou:	Lá	está!	Porque	o	reino	de	Deus	está	dentro	de	vós.	(Lc	17.20,21)
Na	sequência,	ele	explica	o	desenvolvimento	progressivo	do	reino	nas	parábolas	da	semente	de	mostarda
e	do	fermento	(Mt	13.31-33;	cp.	Mc	4.26-29).
														Percebemos	essa	ideia	do	Rei	e	do	reino	entre	os	primeiros	cristãos	em	Atos	dos	Apóstolos.	Em
Atos	8.12,	o	evangelho	do	reino	é	declarado	por	Pedro:
Quando,	porém,	deram	crédito	 a	Filipe,	 que	os	 evangelizava	 a	 respeito	do	 reino	de	Deus	 e	do	nome	de	 Jesus	Cristo,	 iam	sendo
batizados,	assim	homens	como	mulheres.
Paulo	faz	o	mesmo	no	final	de	Atos:
Havendo-lhe	 eles	marcado	 um	 dia,	 vieram	 em	 grande	 número	 ao	 encontro	 de	 Paulo	 na	 sua	 própria	 residência.	 Então,	 desde	 a
manhã	até	à	 tarde,	 lhes	 fez	uma	exposição	em	 testemunho	do	 reino	de	Deus,	procurando	persuadi-los	a	 respeito	de	Jesus,	 tanto
pela	leide	Moisés	como	pelos	profetas.	(At	28.23)
Já	em	Atos	17.7,	as	autoridades	locais	até	reclamaram	que	os	cristãos	“procedem	contra	os	decretos	de
César,	afirmando	ser	Jesus	outro	rei”.
	
Os	paralelos	do	evangelho
Observei	antes	um	paralelo	forte	entre	Apocalipse	20.1-6	e	Mateus	12.28,	29.	Utilizarei	a	passagem	de
Mateus	mais	uma	vez	para	completar	o	meu	argumento.
														Como	Apocalipse	20	menciona	a	prisão	de	Satanás	(v.	1-3),	também	existe	a	menção	ao	reino	de
Cristo.	 Nos	 versículos	 4	 e	 6,	 João	 declara	 que	 os	 santos	 “reinarão	 com	 ele	 por	 mil	 anos”.	 Em
Mateus	12.29,	 Jesus	 retratou	a	prisão	de	Satanás	em	uma	parábola.	No	versículo	28,	 ele	apresentou	o
reino	chegando	pela	expulsão	de	demônios	e	a	prisão	de	Satanás:
Se,	porém,	eu	expulso	demônios	pelo	Espírito	de	Deus,	certamente	é	chegado	o	reino	de	Deus	sobre	vós.
	
A	realidade	do	evangelho
De	 acordo	 com	 a	 teologia	 bíblica	 de	 salvação,	 os	 cristãos	 reinam	 neste	momento	 e	 em	 espírito	 com
Cristo	no	reino.	Como	João	ensina	que	os	cristãos	“reinarão	com	ele”,	também	Paulo	o	faz:
Mas	Deus,	sendo	rico	em	misericórdia,	por	causa	do	grande	amor	com	que	nos	amou,	e	estando	nós	mortos	em	nossos	delitos,	nos
deu	 vida	 juntamente	 com	Cristo,	—	 pela	 graça	 sois	 salvos,	 e,	 juntamente	 com	 ele,	 nos	 ressuscitou,	 e	 nos	 fez	 assentar	 nos
lugares	celestiais	em	Cristo	Jesus.	(Ef	2.4-6)
Ele	nos	libertou	do	império	das	trevas	e	nos	transportou	para	o	reino	do	Filho	do	seu	amor.	(Cl	1.13)
Portanto,	ninguém	se	glorie	nos	homens;	porque	tudo	é	vosso:	seja	Paulo,	seja	Apolo,	seja	Cefas,	seja	o	mundo,	seja	a	vida,	seja	a
morte,	sejam	as	coisas	presentes,	sejam	as	futuras,	tudo	é	vosso,	e	vós,	de	Cristo,	e	Cristo,	de	Deus.	(1Co	3.21-23)
Obviamente,	 o	 imaginário	 de	 João	 é	mais	 impressionante	 que	 o	 de	Paulo.	Mas	 é	 isso	 o	 que	 devemos
esperar	de	uma	obra	literária	como	o	Apocalipse.	Ainda	assim,	como	podemos	ver,	o	conceito	básico	de
reinar	neste	momento	com	Cristo	aparece	de	maneira	não	simbólica	em	outros	lugares.	Ele	governa	agora
com	seu	reino,	e	nós	representamos	o	reino:
Da	parte	de	Jesus	Cristo,	a	Fiel	Testemunha,	o	Primogênito	dos	mortos	e	o	Soberano	dos	reis	da	terra.	Àquele	que	nos	ama,	e,
pelo	seu	sangue,	nos	libertou	dos	nossos	pecados,	e	nos	constituiu	reino,	sacerdotes	para	o	seu	Deus	e	Pai,	a	ele	a	glória	e	o
domínio	pelos	séculos	dos	séculos.	Amém!	(Ap	1.5,6)
	
AS	DUAS	RESSURREIÇÕES
Em	Apocalipse	20,	João	menciona	duas	ressurreições	associadas	por	ele	ao	reino	do	Senhor:
Vi	 também	 tronos,	 e	nestes	 sentaram-se	aqueles	 aos	quais	 foi	dada	autoridade	de	 julgar.	Vi	 ainda	as	 almas	dos	decapitados	por
causa	do	testemunho	de	Jesus,	bem	como	por	causa	da	palavra	de	Deus,	tantos	quantos	não	adoraram	a	besta,	nem	tampouco	a
sua	imagem,	e	não	receberam	a	marca	na	fronte	e	na	mão;	e	viveram	e	reinaram	com	Cristo	durante	mil	anos.	Os	restantes	dos
mortos	não	reviveram	até	que	se	completassem	os	mil	anos.	Esta	é	a	primeira	ressurreição.	(Ap	20.4,5)
Como	 já	 argumentei	 que	 o	 reino	 milenar	 de	 Cristo	 começa	 no	 século	 I,	 a	 que	 João	 se	 refere	 aqui?
Devemos	 esperar	 duas	 ressurreições	 corporais?	 Essas	 são	 perguntas	 importantes	 que	 distinguem	 os
pontos	de	vista	preterista	e	futurista.
	
A	ressurreição	corporal
À	 medida	 que	 começamos	 a	 considerar	 a	 questão	 das	 duas	 ressurreições,	 enfrentamos	 um	 problema
potencial:	caso	o	Apocalipse	ensina	duas	ressurreições	físicas,	ele	é	o	único	lugar	da	Escritura	que	o	faz.
Não	 só	 isso,	 ele	 também	 contradiria	 o	 testemunho	 bíblico	 coerente	 em	 outros	 lugares.	No	 restante	 da
Escritura,	encontramos	apenas	uma	ressurreição	geral	de	todos	os	mortos	ao	mesmo	tempo.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	O	próprio	Senhor	 ensinou	que	 a	 ressurreição	ocorrerá	 “no	último	dia”.	Em	João	6,	 ele	o
declarou	repetidas	vezes,	e	então	afirmou	a	mesma	verdade	em	João	11.
E	a	vontade	de	quem	me	enviou	é	esta:	que	nenhum	eu	perca	de	todos	os	que	me	deu;	pelo	contrário,	eu	o	ressuscitarei	no	último
dia.	De	fato,	a	vontade	de	meu	Pai	é	que	 todo	homem	que	vir	o	Filho	e	nele	crer	 tenha	a	vida	eterna;	e	eu	o	 ressuscitarei	no
último	dia.	[…]	Ninguém	pode	vir	a	mim	se	o	Pai,	que	me	enviou,	não	o	trouxer;	e	eu	o	ressuscitarei	no	último	dia.	[…]	Quem
comer	a	minha	carne	e	beber	o	meu	sangue	tem	a	vida	eterna,	e	eu	o	ressuscitarei	no	último	dia.	(Jo	6.39,44,54)
Eu	sei,	replicou	Marta,	que	ele	há	de	ressurgir	na	ressurreição,	no	último	dia.	(Jo	11.24)
O	ensino	do	“último	dia”	é	importante	por	tratar	em	especial	da	ressurreição	dos	crentes.	A	abordagem
popular	dispensacionalista	e	futurista	ao	Apocalipse	interpreta	o	capítulo	20	como	se	ele	especificasse
duas	 ressurreições	 corporais	 distintas	 separadas	 por	 mil	 anos:	 a	 ressurreição	 dos	 crentes,	 no
arrebatamento,	e	então	a	 ressurreição	dos	descrentes,	no	 fim	do	 reinado	de	Cristo	dez	 séculos	depois.
Infelizmente	para	esse	ponto	de	vista,	Jesus	ensina	que	a	ressurreição	dos	crentes	ocorre	“no	último	dia”
—	não	mil	anos	antes	do	último	dia,	mas	no	próprio	fim.	É	interessante	que	ele	o	ensine	no	evangelho	de
João	—	escrito	pelo	autor	do	Apocalipse.	Sem	dúvida,	João	não	contradiria	seu	Senhor	nos	dois	livros
que	ele	mesmo	escreveu.
														Ademais,	o	Novo	Testamento	ensina	que	todos	os	homens	—	crentes	e	também	descrentes	—
serão	 ressuscitados	ao	mesmo	 tempo.	 Isso	 serve	 como	 outra	 complicação	 para	 a	 abordagem	 futurista
popular,	que	distingue	as	(alegadas)	duas	ressurreições:
Não	vos	maravilheis	disto,	porque	vem	a	hora	em	que	todos	os	que	se	acham	nos	 túmulos	ouvirão	a	sua	voz	e	sairão:	os	que
tiverem	feito	o	bem,	para	a	ressurreição	da	vida;	e	os	que	tiverem	praticado	o	mal,	para	a	ressurreição	do	juízo.	(Jo	5.28,29)
Devemos	 notar	 que	 isso	 ocorre	 na	 “hora”	 que	 está	 vindo,	 o	 que	 mostra	 simultaneidade.	 O	 versículo
também	declara	 de	 forma	 expressa:	 “Todos	os	 que	 se	 acham	 nos	 túmulos	 ouvirão	 a	 sua	 voz”	 naquela
“hora”.	Não	vejo	nenhum	modo	de	 contornar	 a	passagem	para	 favorecer	os	dispensacionalistas.	E,	 de
novo,	isso	foi	escrito	pelo	autor	do	Apocalipse.
														Paulo	concorda	com	o	ensino	da	ressurreição	simultânea	de	todos	os	homens.	Em	Atos	24.15,
ele	escreveu:
…	tendo	esperança	em	Deus,	como	também	estes	a	têm,	de	que	haverá	ressurreição,	tanto	de	justos	como	de	injustos.
Observe	que	ele	mencionou	a	“ressurreição”,	no	singular,	e	que	é	a	ressurreição	“tanto	de	justos	como	de
injustos”.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Esse	ensino	coerente	com	outras	passagens	nos	 leva	a	supor	que,	no	Apocalipse,	João	nos
informe	da	inexistência	de	duas	ressurreições	físicas.	Mas	o	que	ele	ensina?
Pode-se	suspeitar	no	 início	que	João	se	 refira	aqui	a	uma	verdade	gloriosa	ensinada	em	outras
partes	 da	 Escritura:	 a	 ressurreição	 espiritual	 que	 ocorre	 quando	 Deus	 salva	 pecadores	 mortos	 em
espírito,	concedendo-lhes	vida	nova.	Afinal,	João	—	o	autor	do	Apocalipse	—	registra	o	ensinamento	de
Jesus	sobre	uma	questão	que	se	refere	com	clareza	a	esse	tipo	de	distinção	na	ressurreição.	De	volta	a
João	5.24-29,	lê-se	sobre	duas	ressurreições	e	uma	disparidade	entre	os	fiéis	e	infiéis:
Em	verdade,	em	verdade	vos	digo	que	vem	a	hora	e	 já	chegou,	 em	que	os	mortos	ouvirão	a	voz	do	Filho	de	Deus;	e	 os	 que	 a
ouvirem	viverão.	Porque	 assim	como	o	Pai	 tem	vida	 em	si	mesmo,	 também	concedeu	ao	Filho	 ter	vida	 em	si	mesmo.	E	 lhe	deu
autoridade	para	julgar,	porque	é	o	Filho	do	Homem.	Não	vos	maravilheis	disto,	porque	vem	a	hora	em	que	todos	os	que	se	acham
nos	túmulos	ouvirão	a	sua	voz	e	sairão:	os	que	tiverem	feito	o	bem,	para	a	ressurreição	da	vida;	e	os	que	tiverem	praticado	o	mal,
para	a	ressurreição	do	juízo.
A	distinção	feita	aqui	por	Jesus	envolve	dois	tipos	de	ressurreição:	a	que	“já	chegou”	é	a	ressurreição
espiritual	(levantar-se	da	morte	espiritual	para	a	vida	espiritual	em	Cristo);	a	outra	em	que	“vem	a	hora”
é	a	ressurreição	física	(levantar-se	do	túmulo	para	a	vida	física	renovada).
A	Escritura	menciona	de	fato	a	salvação	comouma	espécie	de	ressurreição,	a	passagem	do	estado
de	morte	para	o	estado	de	vida:
Em	verdade,	em	verdade	vos	digo:	quem	ouve	a	minha	palavra	e	crê	naquele	que	me	enviou	tem	a	vida	eterna,	não	entra	em	juízo,
mas	passou	da	morte	para	a	vida.	(Jo	5.24)
Mas	Deus,	sendo	rico	em	misericórdia,	por	causa	do	grande	amor	com	que	nos	amou,	e	estando	nós	mortos	em	nossos	delitos,	nos
deu	vida	juntamente	com	Cristo,	—	pela	graça	sois	salvos,	e,	juntamente	com	ele,	nos	ressuscitou,	e	nos	fez	assentar	nos	lugares
celestiais	em	Cristo	Jesus.	(Ef	2.4-6)
Nós	 sabemos	 que	 já	passamos	 da	morte	 para	 a	 vida,	 porque	 amamos	 os	 irmãos;	 aquele	 que	 não	 ama	 permanece	 na	morte.
(1Jo	3.14)
João	 poderia	 apresentar	 simbolicamente	 o	 novo	 nascimento	 como	 a	 primeira	 ressurreição	 e	 a
ressurreição	corporal	da	morte	como	a	segunda	ressurreição.	Esse	é	o	ponto	de	vista	agostiniano	—	o
conceito	 que	 eu	 sustentava	 quando	 escrevi	 a	 primeira	 edição	 deste	 livro.	 No	 entanto,	 daí	 em	 diante,
envolvi-me	 na	 análise	 mais	 aprofundada	 e	 focada	 de	 Apocalipse	 20	 e	 de	 como	 ela	 se	 encaixa	 na
narrativa	mais	ampla	de	João.
Considere	 a	 seguir	 as	 três	 maiores	 mudanças	 no	 meu	 entendimento.	 Esses	 três	 temas	 são
importantes	no	debate	sobre	o	milênio,	bem	como	sobre	o	fluxo	e	significado	do	Apocalipse.
	
Os	temas	impactados
Inicialmente,	 eu	 sustentei	 existirem	dois	 grupos	 em	 foco	 em	Apocalipse	 20.4.	Eu	 afirmava	 o	 conceito
agostiniano	 mais	 comum	 de	 que	 os	 mártires	 representavam	 os	 cristãos	 falecidos	 no	 céu	 (a	 igreja
triunfante),	 e	 que	 os	 confessores	 representavam	 os	 santos	 vivos	 na	 terra	 (a	 igreja	militante).	 E	 juntos
esses	dois	grupos	representavam	todos	os	cristãos	ao	longo	da	história	eclesiástica.	Não	aceito	mais	essa
interpretação.
														Em	segundo	lugar,	eu	também	sustentei	antes	que	o	fato	de	eles	“viver[e]m	e	reinar[e]m	com
Cristo”	 (Ap	 20.4c)	 representava	 a	 experiência	 do	 novo	 nascimento,	 em	 que	 os	 cristãos	 ressurgem	 da
morte	espiritual	para	se	sentar	com	Cristo	nos	lugares	celestiais.	Ainda	creio	nessa	posição	doutrinária,
pois	 ela	 é	 ensinada	 em	 várias	 passagens	 das	 Escrituras	 (veja	 em	 especial	 Ef	 2.1-6).	 Todavia,	 não
acredito	que	ela	seja	a	posição	exegética	adequada	aqui	em	Apocalipse	20.	Em	outras	palavras,	creio
agora	que	esse	conceito	seja	boa	teologia	e	exegese	ruim	—	caso	tentemos	extraí-la	de	Apocalipse	20.
														Em	terceiro	lugar,	afirmei	antes	que	a	passagem	“Os	restantes	dos	mortos	não	reviveram	até	que
se	completassem	os	mil	anos”	(Ap	20.5)	apontava	para	a	ressurreição	corporal	de	todos	os	não	salvos	no
final	 da	 história	 como	parte	 da	 ressurreição	 geral	 de	 todos	 os	 homens.	Como	 cristão	 ortodoxo,	 creio,
naturalmente,	 que	 João	 ensine	 a	 ressurreição	 geral	 de	 todos	 os	 homens.	 Ele	 até	 mesmo	 a	 ensina	 em
Apocalipse	20.	Mas	agora	creio	que	ele	trate	dela	nos	versículos	11-15.
	
O	problema	criado
No	Apocalipse,	João	extrai	 imagens	das	Escrituras	do	Antigo	Testamento	—	muitas	vezes	trabalhando,
reestruturando	e	reaplicando-as.	Ele	de	fato	escava	as	Escrituras	à	procura	do	material	que	poderá	usar
para	 construir	 seu	 próprio	 mundo	 simbólico.	 Esse	 mundo	 simbólico	 apresenta,	 de	 modo	 principal,	 a
experiência	judaico-cristã	histórica	e	fantástica	do	século	I	que	levou	à	destruição	do	templo	em	70	d.C.
Uma	 característica	 do	 Apocalipse	 envolve	 sua	 gramática	 única,	 que	 não	 segue	 o	 padrão	 da
estrutura	grega.	Ao	que	parece,	João	assumiu	de	modo	consciente	o	manto	dos	profetas	clássicos	(como
João	Batista	 também	 o	 fez),	 e	 ao	 agir	 assim,	 imitou	 o	 hebraico	 dos	 antigos	 profetas	 da	 aliança,	 cujo
material	adotou	e	reaplicou	de	forma	sobeja.	Vários	estudiosos	observam	que	os	hebraísmos	únicos	de
João	ocorrem	com	mais	frequência	no	material	visionário	e	não	nas	outras	seções.[28]
Tudo	 isso	 foi	 feito	 de	 propósito;	 nada	 se	 deveu	 à	 incapacidade	 de	 João	 escrever	 em	 grego
(observe	o	nível	 linguístico	de	seu	evangelho	e	das	epístolas	—	mais	próximos	do	padrão	grego).	Ele
está	 “se	 tornando”	 um	 profeta	 do	 Antigo	 Testamento	 para	 formular	 seu	 desafio	 à	 moda	 do	 Antigo
Testamento	a	Israel.	Assim,	João	 lida	com	Israel	da	mesma	forma	que	Isaías	(veja,	em	especial,	 Is	1),
Jeremias	(Jr	2-3)	e	Ezequiel	(Ez	2;	6;	16).
	
A	explicação	oferecida
As	minhas	 três	 alterações	 aparecem	 em	 dois	 lugares	 no	 texto.	 Ainda	 que	 de	 aparência	 pequena,	 elas
comportam	 implicações	 radicais.	 Em	 minha	 opinião,	 o	 debate	 escatológico	 (os	 pontos	 de	 vista
“milenaristas”)	 não	 precisa	 chegar	 a	 Apocalipse	 20.	 Seria	 melhor	 realizá-lo	 em	 outras	 partes	 da
Escritura	—	quase	 em	 todo	 o	 restante	 das	 Escrituras.	O	 pós-milenarismo	 e	 amilenarismo	 sem	 dúvida
independem	 de	 Apocalipse	 20,	 embora	 o	 dispensacionalismo	 e	 pré-milenarismo	 o	 façam	 em	 sentido
absoluto.	 De	 fato,	 o	 texto	 de	 Apocalipse	 20,	 embora	 sirva	 como	 passagem	 fundamental	 do	 pré-
milenarismo	e	do	dispensacionalismo,	na	verdade	cria	problemas	insolúveis	que	minam	esses	sistemas.
	
Os	dois	serão	um
João	escreveu	em	Apocalipse	20.4b:
Vi	ainda	as	almas	dos	decapitados	por	causa	do	testemunho	de	Jesus,	bem	como	por	causa	da	palavra	de	Deus,	tantos	quantos	não
adoraram	a	besta,	nem	tampouco	a	sua	imagem,	e	não	receberam	a	marca	na	fronte	e	na	mão.
Antes,	minha	afirmação	era	que	esse	texto	apresentava	dois	grupos	separados:	mártires	e	confessores	—
representantes	de	 todos	os	cristãos	na	história,	mortos	ou	vivos.	Desse	modo,	eu	considerava	que	eles
retratassem	toda	a	igreja	cristã	ao	longo	da	era	cristã.
Agora	 creio	 que	 João	 concebia	 apenas	um	 grupo:	 os	mártires	 falecidos	 que	 não	 adoraram	 a	 besta.	A
expressão	“e	aqueles”	 em	grego	é	kai	oitines.	Esse	pronome	 relativo	pode	 servir	 tanto	para	 separar
duas	 ideias	quanto	para	detalhar	uma	 ideia.	Ou	seja,	em	sentido	gramatical,	 ele	pode	se	 referir	a	um
grupo	ou	a	dois.	Qual	é	o	sentido	aqui?	Os	estudiosos	estão	divididos.
Creio	 que	 ele	 se	 refira	 ao	 grupo	 precedente	 de	 pessoas	 e	 acrescente	 algumas	 informações
explicativas	 adicionais.	 Comecei	 a	 notar	 que	 em	 outros	 pontos	 do	 Apocalipse,	 João	 usa	 hostis	 para
explicar	melhor	o	precedente.	Por	exemplo,	em	Apocalipse	1.12,	ele	se	vira	para	ouvir	a	voz	que	(hetis)
falava	com	ele.	Em	Apocalipse	11.8,	os	corpos	dos	dois	profetas	estão	na	grande	cidade,	a	cidade	que
(hetis)	 é	 chamada	 em	 sentido	 místico	 Sodoma	 e	 Egito.	 Em	 Apocalipse	 12.13,	 o	 dragão	 persegue	 a
mulher,	a	qual	(hetis)	dá	à	luz	o	filho.	Em	Apocalipse	19.2,	Deus	julga	a	grande	prostituta,	que	 (hetis)
corrompe	a	terra.
Então	percebi	que	depois	de	ele	ter	visto	“tronos,	e	nestes	sentaram-se	aqueles	aos	quais	foi	dada
autoridade	de	julgar”	(Ap	20.4a),	 João	 também	observou	“as	almas	dos	decapitados”.	Pelo	fato	de	 ter
visto	 almas	 nos	 tronos,	 e	mencionar	 com	 especificidade	 pessoas	decapitadas,	 e	 também,	 no	 contexto,
dizer	que	elas	“viveram”,	ele	parece	se	referir	com	clareza	apenas	aos	crentes	mortos	no	céu.	Mas	isso
não	é	tudo.
Os	 entronizados	 não	 morreram	 apenas,	 eles	 foram	 mortos	 em	 circunstâncias	 específicas:
condenados	judicialmente	à	morte:	a	decapitação	consistia	no	padrão	da	pena	capital	—	bem	conhecida
no	Império	Romano	(Mt	14.10).	É	significativo	que	esse	imaginário	se	encaixe	em	toda	a	história	anterior
do	 Apocalipse:	 a	 besta	 romana	 e	 a	 prostituta	 de	 Jerusalém	 estão	 embriagadas	 do	 sangue	 dos	 santos
(Ap	13.7;	17.6).
Além	do	mais,	agora	percebo	que	a	estrutura	de	Apocalipse	20.4	é	de	fato	a	resposta	à	oração	de
Apocalipse	 6.9-11.	 Na	 verdade,	 o	 texto	 repete	 com	 clareza	 diversos	 pensamentos	 e	 palavras.
Apocalipse	6.9-11	menciona	“as	almas	daqueles	que	 tinham	sido	mortos”.	Essas	pessoas	não	caíram	e
morreram	apenas;	elas	 foram	mortas	 (esphagmenōn,	Ap	6.9).	E	clamam	a	Deus	para	vingar	 [ekdikeis]
seu	 sangue	 “dos	 que	 habitam	 sobre	 a	 terra	 [tēs	 gēs]”	 (Ap6.10).	 Apocalipse	 20.4	 e	 6.9	 são	 réplicas
baseadas	em	formulação	replicada	e	paralelos	fortes.	Repare:
O	paralelismo	vocabular	exato	inclui	eidon	(“eu	vi”),	tas	psychas	(“as	almas”),	e	dia	(“porque”).
Além	disso,	 as	 alusões	 claras	 são:	 ton	esphagmenōn	 (“dos	mortos”)[29]	 /	 ton	 pepelekismenōn	 (“dos
decapitados”)	e	ton	logon	tou	theou	(“a	palavra	de	Deus”)	/	tēn	martyrian	(“o	testemunho”).
Afirmo	que	essas	duas	passagens	representam	a	promessa	e	o	cumprimento.	Em	Apocalipse	6.9,
as	 almas	 encontram-se	 abaixo	do	 altar	 celestial	 orando	por	 vindicação	 e	 recebendo	 a	promessa	 a	 ser
cumprida	no	tempo	devido.	No	entanto,	em	Apocalipse	20.4,	elas	recebem	de	fato	sua	vindicação	ao	lhes
ser	dado	o	direito	de	julgar	seus	inimigos	(cp.	Ap	19.2).	Aos	vitimados	pelo	terror	terreno,	os	mártires
poderiam	parecer	terem	sido	mortos	tragicamente	e	terem	perdido	a	luta	de	forma	total	(cp.	Ap	11.9,10;
13.7,15).	Também	poderia	parecer	em	grande	escala	ao	mundo	que	os	mártires	haviam	perdido	a	batalha
e	 que	 os	 perseguidores	 vivos	 venceram.	 Todavia,	 João,	 de	 modo	 bem	 característico,	 apresente	 um
lampejo	celestial,	ao	mostrá-los	vivos	e	entronizados	com	Cristo.
Diz-se	às	“almas”	junto	ao	altar	em	Apocalipse	6.11	que	“repousassem	ainda	por	pouco	tempo”,
até	que	outros	se	juntem	a	elas	no	martírio,	sendo	“mortos	como	igualmente	eles	foram”.	Como	a	vinda
em	 juízo	 de	 Cristo	 contra	 Israel	 em	 Apocalipse	 19.11ss.	 (cp.	 Ap	 6.12-17)	 resulta	 na	 glória	 de
Apocalipse	20.1-4,	 João	parece	declarar	que	por	volta	do	ano	70	d.C.,	os	mártires	 serão	vingados	no
prazo	 prometido	 de	 “pouco	 tempo”	 (chronon	mikron,	 Ap	 6.11;	 cp.	 Lc	 8.7,8).	 Assim,	 o	 “viveram”,	 o
cumprimento	da	promessa	feita	a	eles	depois	de	sua	entrada	no	céu	(Ap	6.11),	parece	uma	imagem	de
sua	vindicação	na	morte	de	seus	oponentes	em	70	d.C.,	e	não	no	próprio	momento	em	que	os	mártires
entram	no	céu.	Isso	é	característico	de	João	—	mas	sua	obra	é	única	em	vários	aspectos.
	
Apocalipse	20.4
…	Vi	ainda	as	almas	dos	decapitados	por	causa	do	testemunho	de	Jesus,	bem	como	por	causa	da	palavra	de	Deus…
…	vi,	debaixo	do	altar,	as	almas	daqueles	que	tinham	sido	mortos	por	causa	da	palavra	de	Deus	e	por	causa	do	 testemunho	que
sustentavam.	(Ap	6.9)
Deve-se	reconhecer	o	alinhamento	político	entre	Israel	e	Roma	quando	os	judeus	gritaram:	“Não	temos
rei,	senão	César!”	(Jo	19.15c).	Essa	visão	cumpre	a	promessa	de	Jesus:
…	farei	que	alguns	dos	que	são	da	sinagoga	de	Satanás,	desses	que	a	si	mesmos	se	declaram	judeus	e	não	são,	mas	mentem,	eis	que
os	farei	vir	e	prostrar-se	aos	teus	pés	e	conhecer	que	eu	te	amei.	(Ap	3.9)
Esse	cumprimento	“há	de	vir”	[mellouses	erchesthai]”	em	breve,	e	ser	experimentado	ainda	no	século	I,
pois	 ele	 “vem	 sem	 demora”	 para	 julgar	 (Ap	 3.10,11).	 E	 apesar	 de	 eles	 precisarem	 esperar	 no	 início
“pouco	 tempo”	 (Ap	 6.11)	 pela	 vingança,	 as	 consequências	 da	 vindicação	 que	 ocorreria	 em	 breve	 se
estenderão	 por	 um	 longo	 período:	 “os	 mil	 anos”	 (Ap	 20.4).	 As	 ocorrências	 transcorridas	 na	 guerra
judaica	(de	67-70	d.C.),	em	especial	a	destruição	do	templo,	representam	seu	“galardão”	(Ap	11.18;	cp.
18.20;	19.1-3),	enquanto	seus	inimigos	são	destruídos	e	seu	reino	triunfante	e	de	longa	duração	tem	início
de	verdade.
Ora,	 tudo	 isso	 significa	 que	 os	 que	 se	 encontram	 sobre	 os	 tronos	 no	milênio	 não	 são	 cristãos
vivos.	 Tampouco	 são	 eles	 apenas	 cristãos	mortos.	 Nem	 são	 eles	 cristãos	 de	 todas	 as	 eras.	 Eles	 são
cristãos	mortos	e	que	se	encontram	no	céu,	tendo	sido	martirizados	no	século	I.	Esse	é	o	ponto	de	João:
Mantenham	a	fé!	Resistam	aos	opressores!	Vocês	serão	grandemente	recompensados	no	céu	mesmo	que
morram!	Na	verdade,	é	dessa	maneira	que	ele	apresenta	seu	livro:	“Eu,	João,	irmão	vosso	e	companheiro
na	tribulação,	no	reino	e	na	perseverança,	em	Jesus”	(Ap	1.9a).
É	claro	que	a	recompensa	no	céu	espera	por	todos	os	cristãos	de	todas	as	eras.	No	entanto,	não	é
esse	 o	 ponto	 de	 João	 aqui.	 Nós	 o	 aprendemos	 a	 partir	 da	 verdade	 extraída	 de	 outras	 passagens	 das
Escrituras.	Aqui,	em	Apocalipse	20,	ele	fala	a	partir	de	um	contexto	particular	ao	completar	o	chamado
de	longo	prazo	para	aceitar	o	martírio	em	lugar	de	ceder	à	besta	e	ao	falso	profeta.	Você	se	lembra	de
como	Hebreus	adverte	os	judeus	convertidos	a	Cristo	para	que	não	apostatem	—	em	especial	pelo	fato	de
a	antiga	aliança	estar	“antiquada	e	envelhecida”	e	“prestes	a	desaparecer”	(Hb	8.13)?	João	faz	o	mesmo
aqui	em	Apocalipse,	apenas	de	modo	mais	chamativo.
Assim,	as	duas	primeiras	alterações	do	meu	entendimento	de	Apocalipse	20	são:	agora	percebo
apenas	um	grupo	na	visão;	e	esse	grupo	único	envolve	apenas	os	mártires	do	século	I.	João	escreve	uma
epístola	peculiar	 que	 lida	 com	questões	 históricas	 específicas:	 seu	ensino	 expresso	 acerca	 da	 igreja
perseguida	do	século	I	e	de	seus	dois	perseguidores,	Roma	e	Israel.
	
Os	restantes	dos	mortos
Agora,	tendo	mudado	meu	ponto	de	vista	sobre	os	ocupantes	os	tronos	de	Apocalipse	20.4,	surge	outro
tema:	Quem	são	“os	restantes	[hoi	lopoi]	dos	mortos”	(Ap	20.5)	contrapostos	aos	entronizados?	Pelo	fato
de	Apocalipse	20.1-6	seguir-se	a	Apocalipse	19.11-21,[30]	o	contexto	de	João	apresenta	uma	indicação
para	 entender	 “os	 restantes	 dos	 mortos”	 que	 “não	 reviveram	 até	 que	 se	 completassem	 os	 mil	 anos”
(Ap	20.5).	Devemos	interpretar	esse	grupo	de	forma	contextual,	nos	termos	do	fluxo	literário	e	da	linha
histórica	espetacular	de	João.
“Os	 restantes	 dos	 mortos”	 são	 apenas	 os	 outros	 mortos	 mencionados	 no	 contexto	 precedente.
Quem	nós	ouvimos	morrer	por	último	nessa	narrativa	de	João?	Apocalipse	19.19-21	responde:
E	vi	a	besta	e	os	reis	da	 terra,	com	os	seus	exércitos,	congregados	para	pelejarem	contra	aquele	que	estava	montado	no	cavalo	e
contra	o	seu	exército.	Mas	a	besta	foi	aprisionada,	e	com	ela	o	falso	profeta	que,	com	os	sinais	feitos	diante	dela,	seduziu	aqueles	que
receberam	a	marca	da	besta	e	eram	os	adoradores	da	sua	imagem.	Os	dois	foram	lançados	vivos	dentro	do	lago	de	fogo	que	arde
com	enxofre.	Os	restantes	foram	mortos	com	a	espada	que	saía	da	boca	daquele	que	estava	montado	no	cavalo.	E	todas	as	aves	se
fartaram	das	suas	carnes.
“Os	restantes”	dos	mortos	consistem	nos	aliados	à	besta	e	a	seu	falso	profeta	do	século	I,	os	responsáveis
pela	execução	dos	mártires.	Em	Apocalipse	19.20,	a	besta	e	o	falso	profeta	são	lançados	de	forma	direta
e	 imediata	no	lago	de	fogo	—	o	que	acentua	seu	papel	de	 liderança	na	oposição	a	Deus	e	a	seu	povo.
Todavia,	 “os	 restantes	 [ho	 lopi]	 foram	 mortos	 com	 a	 espada	 que	 saía	 da	 boca	 daquele	 que	 estava
montado	no	cavalo”.	A	besta	 é	Nero	 (em	pessoa),	 e	o	 falso	profeta	 é	 a	 aristocracia	 judaica	 ligada	ao
sumo	 sacerdote;	 portanto,	 seus	 exércitos	 são	 seus	 apoiadores	 na	 perseguição	 e	 na	 guerra	 contra	 o
Cordeiro.
														João	encoraja	a	audiência	do	século	I	a	resistir	a	seus	atacantes.	Esses	inimigos	contam	com	uma
vitória	vazia:	eles	morrerão	e	jazerão	presos	nas	trevas	até	a	ressurreição,	no	fim	da	história.	No	entanto,
os	mártires	não	só	entrarão	no	céu	e	na	bem-aventurança	eterna,	como	também,	depois	da	entrada	no	céu,
serão	elevados	e	“reviverão”	e	começarão	a	reinar	na	presença	de	Deus	e	de	Cristo.
Lembre-se	 de	 que	 Jesus	morreu	 e	 foi	 ressuscitado,	 em	 seguida	 ascendeu	 ao	 céu	 e	 se	 assentou
vitorioso	à	direita	de	Deus.	Ele	foi	vindicado	em	público	de	seus	atormentadores	no	ano	70	d.C.	Como
Jesus	advertiu	o	sumo	sacerdote	e	o	sinédrio	durante	seu	julgamento:
Tu	o	disseste;	entretanto,	eu	vos	declaro	que,	desde	agora,	vereis	o	Filho	do	Homem	assentado	à	direita	do	Todo-Poderoso	e	vindo
sobre	as	nuvens	do	céu.	(Mt	26.64;	cp.	Mc	9.1)
Da	mesma	maneira,	seus	mártires	fiéis	também	morrerão,	ressurgirão	para	a	nova	vida,	e	experimentarão
a	 vindicação	 celestial.	Assim,	 eles	 viverão	 de	 verdade	 na	 glória	 do	 triunfo	 e	 na	 vindicação	 celestial
enquanto	seus	perseguidores	morrerão	na	ignomínia.	Esseé	ponto	de	João.	Isso	se	encaixa	com	tudo	que
foi	dito	antes.
	
7.	A	nova	criação	e	a	igreja
	
Em	Apocalipse	21,	lemos	a	visão	de	João	dos	novos	céus	e	nova	terra.	Já	aludi	a	isso	no	estudo	sobre	a
grande	meretriz,	quando	ela	se	apõe	à	“noiva	ataviada	para	o	seu	marido”.	Mas	devemos	retornar	a	esse
tema	e	apresentar	mais	detalhes	diretos	sobre	a	nova	criação:
Vi	novo	céu	e	nova	terra,	pois	o	primeiro	céu	e	a	primeira	terra	passaram,	e	o	mar	já	não	existe.	Vi	também	a	cidade	santa,	a	nova
Jerusalém,	que	descia	do	céu,	da	parte	de	Deus,	ataviada	como	noiva	adornada	para	o	seu	esposo.	(Ap	21.1,2)
João	 apresenta	 a	 noiva	 do	Senhor	 aqui	 como	uma	nova	 criação,	 um	“novo	 céu	 e	 nova	 terra”,	 pois	 “o
primeiro	 céu	 e	 a	 primeira	 terra	 passaram”	 (Ap	 21.1).	 Os	 cristãos	 ortodoxos	 creem	 que,	 no	 final	 da
história,	 nós	 literalmente	 entraremos	 nos	 novos	 céus	 e	 nova	 terra	 consumados,	 em	 corpos	 físicos
renovados	 pela	 ressurreição	 física.	 A	 figura	 de	 João	 da	 nova	 criação,	 porém,	 representa	 a	 realidade
presente	 que	 a	 ordem	 consumada	 em	 um	 momento	 futuro	 cumprirá,	 aperfeiçoará	 e	 substituirá.	 A
imagem	de	João	é	uma	figura	da	salvação	pela	nova	aliança	vinda	ao	mundo	no	século	I.	Vejamos	como
isso	se	dará.
	
A	NOVA	CRIAÇÃO	DECLARADA
De	Apocalipse	21.1	até	22.5,	João	descreve	a	noiva	da	nova	criação.	Assim,	ele	traça	uma	figura	ideal
da	fé	cristã	no	tempo	e	na	terra.	A	evidência	da	nova	criação	presente	é	a	seguinte:
	
O	prazo
A	descrição	da	nova	criação	termina	em	Apocalipse	22.5.	Logo	após	essa	descrição,	lê-se:
Disse-me	ainda:	Estas	palavras	são	fiéis	e	verdadeiras.	O	Senhor,	o	Deus	dos	espíritos	dos	profetas,	enviou	seu	anjo	para	mostrar
aos	seus	servos	as	coisas	que	em	breve	devem	acontecer.	(Ap	22.6)
Parece	exegeticamente	improvável	a	possibilidade	de	supor	que	a	descrição	antecedente	se	aplique,	na
verdade,	a	uma	realidade	milhares	de	anos	no	futuro.
	
O	fluxo	do	drama
Ao	recordar	uma	vez	mais	os	estudos	passados,	devemos	nos	lembrar	de	que	João	apresenta	o	divórcio	e
a	 pena	 capital	 da	mulher	 de	Deus	 do	Antigo	Testamento	 nas	 cenas	 de	 juízo	 do	Apocalipse.	A	 grande
meretriz	 é	 destruída	 pelas	 sanções	 judiciais,	 deixando	 Deus	 sem	 esposa.	 Esperaríamos	 que,	 uma	 vez
punida	a	mulher	 infiel,	ele	 tomaria	sua	nova	noiva	de	 imediato:	por	que	Deus	 ficaria	sem	um	povo	na
história?	Em	outras	palavras,	esperamos	que	a	ordem	da	Nova	Jerusalém	substitua	logo	a	ordem	da	velha
Jerusalém,	 como	 a	 nova	 aliança	 suplantou	 de	 pronto	 a	 antiga	 aliança	 (Hb	 8.13).	 A	 lacuna	 parece
irracional	—	em	especial	à	luz	do	prazo	declarado.
	
A	linguagem	da	nova	criação
De	 acordo	 com	 a	 afirmação	 anterior,	 a	 nova	 criação	 começa	 fluindo	 da	 história	 no	 século	 I	 e	 a
impactando,	 muito	 antes	 da	 ordem	 consumada.	 Mais	 uma	 vez,	 João	 utiliza	 uma	 imagem	 do	 Antigo
Testamento.	Vamos	comparar	a	declaração	de	João	com	a	profecia	de	Isaías	no	Antigo	Testamento	a	fim
de	ver	que	Isaías	é	a	fonte	evidente	da	descrição	dele.
Dada	 a	 predileção	 de	 João	 por	material	 originário	 do	Antigo	 Testamento,	 eu	 acho	 impossível
negar	que	essas	declarações	muito	similares	se	referem	ao	mesmo	fenômeno.
	
Isaías	65.17-19																																																Apocalipse	21.1,	4
Pois	eis	que	eu	crio	novos	céus	e	nova
terra;	 e	 não	 haverá	 lembrança	 das
coisas	 passadas,	 jamais	 haverá
memória	 delas.	 Mas	 vós	 folgareis	 e
exultareis	 perpetuamente	 no	 que	 eu
crio;	 porque	 eis	 que	 crio	 para
Jerusalém	 alegria	 e	 para	 o	 seu	 povo,
regozijo.	 E	 exultarei	 por	 causa	 de
Jerusalém	 e	 me	 alegrarei	 no	 meu
povo,	e	nunca	mais	se	ouvirá	nela	nem
voz	de	choro	nem	de	clamor.
Vi	 novo	 céu	 e	 nova	 terra,	 pois	 o
primeiro	 céu	 e	 a	 primeira	 terra
passaram,	 e	 o	 mar	 já	 não	 existe...	 E
lhes	enxugará	dos	olhos	 toda	 lágrima,
e	a	morte	já	não	existirá,	já	não	haverá
luto,	 nem	 pranto,	 nem	 dor,	 porque	 as
primeiras	coisas	passaram.
	
A	primeira	olhadela	em	qualquer	uma	das	passagens	inclina	o	leitor	a	supor	que	o	escritor	fale	da	ordem
eterna,	perfeita	 e	 consumada.	No	entanto,	 as	 aparências	 enganam	—	pois	nenhum	cristão	ortodoxo	crê
que,	na	ordem	eterna,	alguém	dará	à	luz	filhos,	experimentará	pecados,	envelhecerá,	morrerá	e	suportará
a	maldição.	No	entanto,	o	versículo	seguinte	de	Isaías	afirma:
Não	haverá	mais	nela	criança	para	viver	poucos	dias,	nem	velho	que	não	cumpra	os	seus;	porque	morrer	aos	cem	anos	é	morrer
ainda	jovem,	e	quem	pecar	só	aos	cem	anos	será	amaldiçoado.	(Is	65.20)
Como	entenderemos	a	descrição	poética	de	Isaías	da	nova	criação?
														Isaías	profetiza	sobre	a	vinda	de	Cristo	no	reino	da	nova	aliança,	a	era	do	evangelho,	a	era	da
igreja.	 João	desenvolve	esse	 tema.	Afinal,	o	próprio	Paulo	compara	a	 salvação	à	nova	criação	—	até
mesmo	usando	a	linguagem	de	Isaías:
E,	assim,	se	alguém	está	em	Cristo,	é	nova	criatura;	as	coisas	antigas	já	passaram;	eis	que	se	fizeram	novas.	(2Co	5.17)
Mas	longe	esteja	de	mim	gloriar-me,	senão	na	cruz	de	nosso	Senhor	Jesus	Cristo,	pela	qual	o	mundo	está	crucificado	para	mim,	e
eu,	para	o	mundo.	Pois	nem	a	circuncisão	é	coisa	alguma,	nem	a	incircuncisão,	mas	o	ser	nova	criatura.	(Gl	6.14,15)
A	declaração	de	Paulo:	“as	coisas	antigas	 já	passaram;	eis	que	se	 fizeram	novas”	 também	combina	de
modo	íntimo	com	a	afirmação	de	Deus	em	Apocalipse	21.1,	5:
Vi	novo	céu	e	nova	terra,	pois	o	primeiro	céu	e	a	primeira	terra	passaram,	e	o	mar	já	não	existe.	[…]	E	aquele	que	está	assentado
no	trono	disse:	Eis	que	faço	novas	todas	as	coisas.
	
A	DESCRIÇÃO	DA	NOVA	NOIVA
Se	 essa	 nova	 noiva	 representa	 a	 igreja,	 o	 que	 todo	 esse	 imaginário	 impressionante	 e	 espetacular
significa?	Dado	o	caráter	impressionante	do	Apocalipse,	João	fala	da	igreja	em	termos	elevados	e	ideais
por	 sua	 posição	 redentora	 com	 Deus.	 João	 apresenta	 seu	 repouso	 glorioso	 e	 seguro	 com	 base	 nas
promessas	 proféticas	 feitas	 para	 ela.	 Embora	 a	 igreja,	 no	 tempo	 de	 João,	 estivesse	 sob	 ataques
incessantes,	 João	 vê	 através	 da	 “neblina	 da	 guerra”	 e	 a	 visualiza	 como	 ela	 é	 diante	 de	 Deus,	 quase
fundindo	as	fases	celestial	e	terrena	da	igreja.
														A	imagem	por	ele	apresentada	não	é	apenas	simbólica,	mas	também	estendida:	ele	olha	para	os
resultados	 finais	da	 realidade	 presente	 da	 redenção.	Essa	 visão	 estendida	 é	 comum	na	Escritura:	 por
exemplo,	 quando	 lemos	 sobre	 o	 “vinho”	 encontrado	 no	 “cacho	 de	 uvas”	 (Is	 65.8).	 Sem	 dúvida,
encontram-se	uvas	 nos	 cachos,	 não	 o	 vinho,	 o	 produto	 final.	 Mas	 a	 qualidade	 inerente	 da	 uva	 para
produzir	vinho	e	o	uso	comum	para	isso	permitem	que	o	poeta	veja	o	desenvolvimento	do	vinho	por	meio
do	produto	originário.	 João	 é	 capaz	de	observar	na	 igreja	histórica	 e	perseguida	do	 século	 I	 a	beleza
pertencente	a	ela	—	por	causa	de	sua	origem	celestial,	bênção	divina,	promessas	de	redenção	e	glória
futura.
	
A	ausência	do	mar
Vê-se	em	Apocalipse	21.1,2	a	noiva	da	nova	criação/nova	Jerusalém	descendo	do	céu,	da	parte	de	Deus.
Ela	desce	à	terra	em	que	não	existe	mar:
Vi	novo	céu	e	nova	terra,	pois	o	primeiro	céu	e	a	primeira	terra	passaram,	e	o	mar	já	não	existe.	Vi	também	a	cidade	santa,	a	nova
Jerusalém,	que	descia	do	céu,	da	parte	de	Deus,	ataviada	como	noiva	adornada	para	o	seu	esposo.	(Ap	21.1,2)
A	ausência	do	mar	retrata	o	mundo	em	paz	e	harmonia,	o	mundo	vencido	pelo	evangelho.	Como	a	semente
de	mostarda	 que	 cresce	 e	 se	 torna	 uma	 grande	 planta,	 também	 a	 igreja	 do	 século	 I	 implementará	 sua
mensagem	de	paz	em	todo	o	mundo.	Não	por	causa	de	alguma	intrusão	nova	no	futuro	distante,	mas	pelo
estabelecimento	histórico	no	século	I.
														No	Antigo	Testamento,	o	mar	em	revolta	serve	como	imagem	do	mundo	incansável	e	rebelde
carregado	com	pecado:
Mas	os	perversos	são	como	o	mar	agitado,	que	não	se	pode	aquietar,	cujas	águas	lançam	de	si	lama	e	lodo.	(Is	57.20)[31]
Em	Salmos	2.1,	Davi	usa	a	palavra	que	frequentemente	se	aplicaa	mares	revoltosos:
														Por	que	se	enfurecem	os	gentios	e	os	povos	imaginam	coisas	vãs?
O	cristianismo	oferece	o	oposto:
Justificados,	pois,	mediante	a	fé,	temos	paz	com	Deus	por	meio	de	nosso	Senhor	Jesus	Cristo.	(Rm	5.1)[32]
	
A	AUSÊNCIA	DE	TEMPLO
Na	visão	de	João	da	Jerusalém	da	nova	criação	não	vê	nenhum	templo,	algo	tão	conhecido	do	povo	do
pacto	 de	Deus	 desde	 o	 tempo	 de	 Salomão	 (950	 a.C.).	No	 início,	 João	moldou	 a	 visão	 em	 termos	 do
tabernáculo:
Então,	ouvi	grande	voz	vinda	do	 trono,	dizendo:	Eis	o	 tabernáculo	de	Deus	com	os	homens.	Deus	habitará	com	eles.	Eles	 serão
povos	de	Deus,	e	Deus	mesmo	estará	com	eles.	(Ap	21.3)
No	fim,	ele	 substituiu	o	 imaginário	do	 tabernáculo	pelo	do	 templo,	mostrando	que	o	 templo	 físico	não
será	mais	necessário:
Nela,	não	vi	santuário	[templo],	porque	o	seu	santuário	é	o	Senhor,	o	Deus	Todo-Poderoso,	e	o	Cordeiro.	(Ap	21.22)
Apesar	 de	 Deus	 ter	 estabelecido	 seu	 santo	 templo	 como	 ponto	 alto	 da	 adoração	 do	 povo	 da	 antiga
aliança,	com	a	chegada	da	nova	aliança,	ele	destituiu	o	sistema	exterior	do	 templo.	A	 igreja-noiva	é	o
tabernáculo-templo	 de	Deus	 (Ap	21.3)	 porque	Deus	 habita	 nela,	 e	 nenhum	 templo	 literal	 é	 necessário
(Ap	21.22;	cp.	Ef	2.19-22;	1Co	3.16;	6.19;	2Co	6.16;	1Pe	2.5,9).	A	velha	Jerusalém	com	o	templo	físico
“feito	por	mãos	humanas”	está	passando	à	medida	que	a	Nova	Jerusalém-templo	sem	o	templo	a	suplanta
(Hb	8.13;	9.11,24;	12.18-28).	Isso	chegou	ao	fim	em	70	d.C.
	
A	remoção	do	lamento
O	Apocalipse	promete	sobre	a	noiva	da	nova	criação:
E	 lhes	 enxugará	dos	olhos	 toda	 lágrima,	 e	 a	morte	 já	não	existirá,	 já	não	haverá	 luto,	nem	pranto,	nem	dor,	 porque	as	primeiras
coisas	passaram.	(Ap	21.4)
Na	nova	criação	consumada,	 isso,	 é	 claro,	 virá	 à	 perfeita	 e	 plena	 fruição,	 quando	 entrarmos	na	 bem-
aventurança	eterna	com	os	corpos	ressurretos	(Mt	25.34).	Mas,	na	ordem	presente	da	redenção	da	nova
criação	baseada	no	evangelho,	nós	o	experimentamos	em	princípio.
														Quando	enfrentamos	a	perda	de	uma	pessoa	querida	na	morte,	“não	nos	entristecemos	como	os
demais,	que	não	têm	esperança”	(1Ts	4.13).	Para	o	cristão,	a	morte	perdeu	o	“aguilhão”	(1Co	15.55-58).
De	fato,	Tiago	até	instrui	os	cristãos:
…	tende	por	motivo	de	toda	alegria	o	passardes	por	várias	provações,	sabendo	que	a	provação	da	vossa	fé,	uma	vez	confirmada,
produz	 perseverança.	 Ora,	 a	 perseverança	 deve	 ter	 ação	 completa,	 para	 que	 sejais	 perfeitos	 e	 íntegros,	 em	 nada	 deficientes.
(Tg	1.2-4)
Paulo	escreveu	da	prisão	aos	cristãos:	“Alegrai-vos	sempre	no	Senhor”	 (Fp	4.4)	porque	nós	podemos
“tudo	naquele	que	nos	fortalece”	(Fp	4.13).
	
A	provisão	da	salvação	plena	e	de	graça
O	Senhor	Jesus	falou	de	modo	direto	a	João	com	uma	palavra	de	salvação	para	 todo	o	povo	de	Deus.
Essa	provisão	é	assemelhada	com	água	e	comida	da	parte	de	Deus:
Disse-me	ainda:	Tudo	está	feito.	Eu	sou	o	Alfa	e	o	Ômega,	o	Princípio	e	o	Fim.	Eu,	a	quem	tem	sede,	darei	de	graça	da	fonte	da
água	da	vida.	(Ap	21.6)
														Então,	me	mostrou	o	rio	da	água	da	vida,	brilhante	como	cristal,	que	sai	do	trono	de	Deus	e	do	Cordeiro.	No	meio	da	sua
praça,	de	uma	e	outra	margem	do	rio,	está	a	árvore	da	vida,	que	produz	doze	frutos,	dando	o	seu	fruto	de	mês	em	mês,	e	as	folhas
da	árvore	são	para	a	cura	dos	povos.	Nunca	mais	haverá	qualquer	maldição.	Nela,	estará	o	trono	de	Deus	e	do	Cordeiro.	Os	seus
servos	o	servirão.	(Ap	22.1-3)
Isso	 começou	 com	muita	 clareza	 na	 ordem	 anterior	 à	 consumação	 presente,	 pois	 o	 Senhor	 informou	 a
mulher	junto	ao	poço	que	ele	lhe	oferecia	“água	a	jorrar	para	a	vida	eterna”	(Jo	4.14).	Ele	conectou	com
especificidade	essa	esperança	gloriosa	ao	derramamento	do	Espírito	no	Pentecostes,	ocorrido	em	Atos	2:
Quem	 crer	 em	mim,	 como	diz	 a	Escritura,	 do	 seu	 interior	 fluirão	 rios	 de	 água	 viva.	 Isto	 ele	 disse	 com	 respeito	 ao	Espírito	 que
haviam	de	 receber	 os	 que	 nele	 cressem;	 pois	 o	Espírito	 até	 aquele	momento	 não	 fora	 dado,	 porque	 Jesus	 não	 havia	 sido	 ainda
glorificado.	(Jo	7.38,39)
Em	João	6.33-35,	nosso	Senhor	ensinou	a	multidão	com	respeito	ao	“pão	da	vida”:
Porque	o	pão	de	Deus	é	o	que	desce	do	céu	e	dá	vida	ao	mundo.	Então,	lhe	disseram:	Senhor,	dá-nos	sempre	desse	pão.	Declarou-
lhes,	pois,	Jesus:	Eu	sou	o	pão	da	vida;	o	que	vem	a	mim	jamais	terá	fome;	e	o	que	crê	em	mim	jamais	terá	sede.
Claro,	tudo	isso	se	torna	perfeito	e	pleno	na	eternidade,	mas	começa	entre	o	povo	de	Deus	no	século	I	e
continua	mesmo	agora.	Não	podemos	negligenciar	o	fato	de	que	o	imaginário	no	Apocalipse	que	combina
com	o	do	Evangelho	de	João	é	registrado	pelo	mesmo	apóstolo:	João.	Os	paralelos	são	impactantes;	a
evidência	das	provisões	atuais	é	irresistível.
	
A	glória	da	noiva	de	Cristo,	a	igreja
O	Apocalipse	 apresenta	 agora	 a	 gloriosa	 imagem	 que,	 em	 última	 instância,	 reflete	 nosso	 lar	 celestial
como	igreja	triunfante.	Mais	uma	vez,	no	entanto,	isso	se	aplica	à	igreja	militante	como	ela	aparece	diante
dos	olhos	de	Deus,	mesmo	enquanto	ela	existe	na	terra.	João	falou	sobre	a	igreja	em	termos	elevados:
Então,	veio	um	dos	sete	anjos	que	têm	as	sete	taças	cheias	dos	últimos	sete	flagelos	e	falou	comigo,	dizendo:	Vem,	mostrar-te-ei	a
noiva,	a	esposa	do	Cordeiro;	e	me	transportou,	em	espírito,	até	a	uma	grande	e	elevada	montanha	e	me	mostrou	a	santa	cidade,
Jerusalém,	 que	 descia	 do	 céu,	 da	 parte	 de	 Deus,	 a	 qual	 tem	 a	 glória	 de	 Deus.	 O	 seu	 fulgor	 era	 semelhante	 a	 uma	 pedra
preciosíssima,	como	pedra	de	jaspe	cristalina.	Tinha	grande	e	alta	muralha,	doze	portas,	e,	junto	às	portas,	doze	anjos,	e,	sobre	elas,
nomes	inscritos,	que	são	os	nomes	das	doze	tribos	dos	filhos	de	Israel.	Três	portas	se	achavam	a	leste,	três,	ao	norte,	três,	ao	sul,	e
três,	a	oeste.	A	muralha	da	cidade	tinha	doze	fundamentos,	e	estavam	sobre	estes	os	doze	nomes	dos	doze	apóstolos	do	Cordeiro.
Aquele	que	 falava	comigo	 tinha	por	medida	uma	vara	de	ouro	para	medir	a	cidade,	as	suas	portas	e	a	sua	muralha.	A	cidade	é
quadrangular,	de	comprimento	e	largura	iguais.	E	mediu	a	cidade	com	a	vara	até	doze	mil	estádios.	O	seu	comprimento,	largura	e
altura	são	iguais.	Mediu	também	a	sua	muralha,	cento	e	quarenta	e	quatro	côvados,	medida	de	homem,	isto	é,	de	anjo.	A	estrutura
da	muralha	é	de	jaspe;	também	a	cidade	é	de	ouro	puro,	semelhante	a	vidro	límpido.	Os	fundamentos	da	muralha	da	cidade	estão
adornados	de	toda	espécie	de	pedras	preciosas.	O	primeiro	fundamento	é	de	jaspe;	o	segundo,	de	safira;	o	terceiro,	de	calcedônia;
o	quarto,	de	esmeralda;	o	quinto,	de	 sardônio;	o	 sexto,	de	 sárdio;	o	 sétimo,	de	crisólito;	o	oitavo,	de	berilo;	o	nono,	de	 topázio;	o
décimo,	de	crisópraso;	o	undécimo,	de	 jacinto;	e	o	duodécimo,	de	ametista.	As	doze	portas	são	doze	pérolas,	e	cada	uma	dessas
portas,	de	uma	só	pérola.	A	praça	da	cidade	é	de	ouro	puro,	como	vidro	transparente.	(Ap	21.9-21)
Vou	 extrair	 vários	 elementos	 dessa	 descrição	 extensa	 e	 refletir	 sobre	 eles,	 mostrando	 sua	 realidade
contemporânea.	 Embora	 João	 os	 apresente	 de	 forma	 ideal,	 eles	 existem	 em	 princípio	 espiritual	 no
presente	—	como	o	Novo	Testamento	mostra	em	outros	lugares.
	
A	igreja:	luz
A	noiva	de	Cristo	esplende	como	luz	na	terra	(Ap	21.11,23).	De	fato,	esse	é	seu	chamado	por	Deus.
Vós	sois	a	luz	do	mundo.	Não	se	pode	esconder	a	cidade	edificada	sobre	um	monte;	nem	se	acende	uma	candeia	para	colocá-la
debaixo	do	alqueire,	mas	no	velador,	e	alumia	a	todos	os	que	se	encontram	na	casa.	Assim	brilhe	também	a	vossa	luz	diante	dos
homens,	para	que	vejam	as	vossas	boas	obras	e	glorifiquem	a	vosso	Pai	que	está	nos	céus.	(Mt	5.14-16)
Porque	o	Senhor	assim	no-lo	determinou:	Eu	te	constituí	para	luz	dos	gentios,	a	fim	de	que	sejas	para	salvação	até	aos	confins	da
terra.	(At	13.47)
Não	vos	ponhais	em	jugo	desigual	com	os	incrédulos;	porquanto	que	sociedade	pode	haver	entre	a	justiça	e	a	iniquidade?	Ou	que
comunhão,	da	luz	com	as	trevas?	(2Co	6.14)
Pois,	 outrora,	 éreis	 trevas,	 porém,	 agora,sois	 luz	 no	 Senhor;	 andai	 como	 filhos	 da	 luz	 (porque	 o	 fruto	 da	 luz	 consiste	 em	 toda
bondade,	e	justiça,	e	verdade).	(Ef	5.8,9)
	
A	igreja:	valiosa
O	Apocalipse	representa	a	igreja	como	tão	preciosa	para	Deus	quanto	ouro	e	joias	de	valor	(Ap	21.19-
21).	 Isso	 também	se	apoia	na	revelação	do	Novo	Testamento	com	respeito	à	sua	posição	aos	olhos	de
Deus,	pois	os	cristãos	executam	obras	do	evangelho	que	glorificam	o	nome	de	Deus	e	exercitam	a	fé	que
reflete	o	valor	da	igreja	diante	de	Deus.
Contudo,	se	o	que	alguém	edifica	sobre	o	fundamento	é	ouro,	prata,	pedras	preciosas…	(1Co	3.12)
Para	que,	uma	vez	confirmado	o	valor	da	vossa	fé,	muito	mais	preciosa	do	que	o	ouro	perecível,	mesmo	apurado	por	fogo,	redunde
em	louvor,	glória	e	honra	na	revelação	de	Jesus	Cristo.	(1Pe	1.7)
Chegando-vos	para	ele,	a	pedra	que	vive,	rejeitada,	sim,	pelos	homens,	mas	para	com	Deus	eleita	e	preciosa,	também	vós	mesmos,
como	pedras	que	vivem,	 sois	 edificados	casa	espiritual	para	 serdes	 sacerdócio	 santo,	 a	 fim	de	oferecerdes	 sacrifícios	espirituais
agradáveis	a	Deus	por	intermédio	de	Jesus	Cristo.	Pois	isso	está	na	Escritura:	Eis	que	ponho	em	Sião	uma	pedra	angular,	eleita	e
preciosa;	e	quem	nela	crer	não	será,	de	modo	algum,	envergonhado.	Para	vós	outros,	portanto,	os	que	credes,	é	a	preciosidade;
mas,	para	os	descrentes,	A	pedra	que	os	construtores	rejeitaram,	essa	veio	a	ser	a	principal	pedra,	angular.	(1Pe	2.4-7)
	
A	igreja:	segura
A	noiva	de	Cristo	não	 foi	deixada	 em	condições	 insalubres,	 indefesa	no	mundo	agonizante,	 incerta	do
futuro.	Antes,	ela	conta	com	um	fundamento	seguro	e	muralhas	impenetráveis	em	Cristo	(Ap	21.12-21).
Isaías	profetizou	o	futuro	glorioso	da	igreja,	apesar	de	as	crises	correntes	do	Israel	literal	em	seus	dias:
Naquele	dia,	se	entoará	este	cântico	na	terra	de	Judá:	Temos	uma	cidade	forte;	Deus	lhe	põe	a	salvação	por	muros	e	baluartes.
(Is	26.1)
Nunca	mais	se	ouvirá	de	violência	na	tua	terra,	de	desolação	ou	ruínas,	nos	teus	limites;	mas	aos	teus	muros	chamarás	Salvação,	e
às	tuas	portas,	Louvor.	(Is	60.18)
Quando	Jesus	estabeleceu	a	era	da	nova	aliança	da	igreja,	salientou	sua	estabilidade:
Também	eu	te	digo	que	tu	és	Pedro,	e	sobre	esta	pedra	edificarei	a	minha	igreja,	e	as	portas	do	inferno	não	prevalecerão	contra
ela.	(Mt	16.18)
Isso	porque	seu	fundamento	definitivo	está	em	Cristo:
Este	Jesus	é	pedra	rejeitada	por	vós,	os	construtores,	a	qual	se	tornou	a	pedra	angular.	(At	4.11)
Segundo	a	graça	de	Deus	que	me	foi	dada,	lancei	o	fundamento	como	prudente	construtor;	e	outro	edifica	sobre	ele.	Porém	cada
um	veja	como	edifica.	Porque	ninguém	pode	lançar	outro	fundamento,	além	do	que	foi	posto,	o	qual	é	Jesus	Cristo.	(1Co	3.10,11)
Paulo	ilustrou	bem	isso	para	os	efésios:
Vós	[…]	sois	da	família	de	Deus,	edificados	sobre	o	fundamento	dos	apóstolos	e	profetas,	sendo	ele	mesmo,	Cristo	Jesus,	a	pedra
angular;	no	qual	 todo	o	edifício,	bem	ajustado,	 cresce	para	 santuário	dedicado	ao	Senhor,	no	qual	 também	vós	 juntamente	estais
sendo	edificados	para	habitação	de	Deus	no	Espírito.	(Ef	2.19-22)
	
A	igreja:	influente
Por	causa	das	provisões	de	Deus	para	sua	noiva,	da	glória	dela	diante	dele,	e	do	fundamento	seguro	dela,
ele	lhe	prometeu	grande	influência	no	mundo	(Ap	21.16).	Ela	será	“exaltada	sobre	os	montes”	para	que
“todos	os	povos	afluam”	a	ela	(Is	2.2-4).	Será	como	o	renovo	pequeno	que	cresce	até	se	tornar	um	alto	e
grande	cedro	que	oferece	sombra	e	proteção	(Ez	17.22-24),	ou	um	rio	crescente	que	sai	de	Deus	e	inunda
o	mundo	(Ez	47.1-11);	uma	rocha	que	se	torna	uma	montanha	e	vence	toda	a	oposição	(Dn	2.31-35);	uma
semente	de	mostarda	que	cresce	para	grandes	proporções,	e	o	fermento	que	leveda	tudo	(Mt	13.31-33).
Por	causa	dessas	promessas	proféticas,	o	Senhor	a	comissiona,	com	base	em	sua	autoridade	universal,	a
fim	de	“fazer	discípulos”	(Mt	28.18-20),	pois	“Deus	enviou	o	seu	Filho	ao	mundo,	não	para	que	julgasse
o	mundo,	mas	para	que	o	mundo	fosse	salvo	por	ele”	(Jo	3.17).
	
A	igreja:	médica
A	influência	dela	entre	as	nações	trará	cura	(removendo	a	maldição),	salvação	e	luz:
No	meio	da	sua	praça,	de	uma	e	outra	margem	do	rio,	está	a	árvore	da	vida,	que	produz	doze	frutos,	dando	o	seu	fruto	de	mês	em
mês,	e	as	folhas	da	árvore	são	para	a	cura	dos	povos.	Nunca	mais	haverá	qualquer	maldição.	Nela,	estará	o	trono	de	Deus	e	do
Cordeiro.	Os	seus	servos	o	servirão,	contemplarão	a	sua	face,	e	na	sua	fronte	está	o	nome	dele.	Então,	já	não	haverá	noite,	nem
precisam	eles	de	luz	de	candeia,	nem	da	luz	do	sol,	porque	o	Senhor	Deus	brilhará	sobre	eles,	e	reinarão	pelos	séculos	dos	séculos.
(Ap	22.2-5)
Aprendemos	na	Escritura	que	Cristo	inaugura	essas	bênçãos	da	nova	aliança	no	ministério	terreno.	Isaías
profetizou	que	o	Messias	 traria	cura	salvadora	às	nações	(Is	53.5).	Quando	Jesus	veio	no	século	I,	ele
veio	 para	 curar	 (1Pe	 2.24)	 e	 para	 libertar	 os	 homens	 do	 cativeiro	 (Lc	 4.18;	 Jo	 8.34-36;	 At	 26.18;
Rm	6.6,18,22;	Gl	5.1)	e	da	maldição	(Rm	5.21;	7.24,25;	Gl	3.10-13).
	
CONCLUSÃO
Provavelmente,	as	duas	 imagens	mais	conhecidas	do	Apocalipse	são	a	besta,	que	ameaça	com	um	mal
terrível	sobre	os	homens,	e	o	milênio,	que	promete	grandes	bênçãos	de	Cristo.	Neste	capítulo,	comecei
focando	no	reino	milenar	de	Cristo,	e	então	considerei	a	nova	criação.	Ambas	são	promessas	gloriosas
do	Apocalipse.
														Notei	que	o	“reinado	de	mil	anos	de	Cristo”	é	símbolo	do	reino	redentor	e	expandido	de	Cristo.
Ele	 começa	 no	 século	 I,	 quando	 Cristo	 é	 exaltado	 à	 mão	 direita	 de	 Deus,	 e	 continua	 até	 o	 segundo
advento.	Seu	reino	inclui	a	prisão	de	Satanás	para	que	o	evangelho	tenha	eficácia	mundial.	Em	vez	de	ser
um	 reino	 político	 a	 impor	 um	 regime	 burocrático	 em	 um	 mundo	 recalcitrante,	 seu	 reino	 é	 uma	 obra
espiritual	 de	 redenção	 no	 coração	 e	 na	 vida	 dos	 homens.	Um	 aspecto	 espiritual	 glorioso	 desse	 reino
redentor	é	o	poder	do	evangelho	de	tirar	homens	do	estado	de	morte	espiritual	para	a	vida	eterna.	João
apresenta	 isso	 como	 ressurreição	—	 não	 apenas	 em	Apocalipse	 20,	 mas	 em	 outros	 lugares	 dos	 seus
escritos.
														Seguindo	a	revelação	do	reino	milenar,	João	pintou	uma	gloriosa	figura	da	redenção	efetuada
por	Cristo:	ela	tem	início	como	princípio	de	semente,	a	nova	criação,	a	qual,	em	última	instância,	resulta
na	ordem	consumada,	plena,	perfeita	e	eterna.	João	apresenta	a	igreja	de	Jesus	Cristo	em	uma	forma	ideal
e	eficácia	estendida,	subjugando	seus	inimigos.	Sua	ordem	de	salvação	vence	a	condição	pecaminosa	do
homem	e	estabelece	um	lar	para	os	santos	na	história,	com	vistas	à	conquista	histórica	do	coração	dos
homens	caídos.
														Embora	esses	aspectos	do	Apocalipse	sejam	gloriosos,	eles	não	são	muito	compreendidos	na
comunidade	 evangélica	 moderna.	 Porém,	 quando	 examinamos	 os	 paralelos	 bíblicos,	 encontramos
evidência	ampla	de	seu	início	no	século	I.	O	ponto	de	vista	preterista	—	requerido	pelos	indicadores	de
curto	prazo	de	João	—	provê	um	entendimento	coerente	do	governo	de	Cristo	sobre	seus	inimigos	e	sua
igreja.
Conclusão
	
No	curso	do	nosso	estudo,	apresentei	materiais	fundamentais	para	ler	e	entender	o	Apocalipse.	Pelo	fato
de	esses	princípios	e	insights	não	serem	muito	compreendidos	pelos	evangélicos	modernos,	o	livro	de
Apocalipse	 é	 em	 grande	 medida	 mal	 compreendido.	 Ele	 permanece	 um	 livro	 selado	 para	 a	 igreja
contemporânea,	ao	contrário	da	diretiva	angélica	de	que	ele	não	deveria	ser	selado	(Ap	22.10)!
	
PRINCÍPIOS	BÁSICOS
Nos	 capítulos	 1	 e	 2,	 apresentei	 os	 princípios	 básicos	 que	 nos	 devem	 guiar	 no	 entendimento	 do
Apocalipse.	O	 leitor	 atual	 deve	 compreender	 que	 João	 declara	 com	 franqueza	 que	 os	 acontecimentos
descritos	nele	“devem	acontecer	em	breve”	 (Ap	1.1;	22.6),	pois	“o	 tempo	está	próximo”	 (1.3;	22.10).
Qualquer	 abordagem	ao	Apocalipse	que	 tente	projetar	 as	profecias	para	o	 futuro	distante,	milhares	de
anos	depois,	contradiz	de	modo	expresso	as	afirmações	da	abertura	e	do	encerramento	de	João.Ademais,	deve-se	perceber	que	João	apresenta	suas	profecias	em	forma	simbólica:	elas	são
“enviadas	 e	notificadas	 [lit.,	 ‘significadas’]”	 (Ap	1.1).	Além	da	afirmação	direta	de	 João	na	abertura,
aprendemos	de	duas	maneiras	que	suas	profecias	não	podem	ser	 interpretadas	com	literalidade:	1)	Na
primeira	 visão,	 ele	 mostra	 que	 as	 imagens	 representam	 algo	 além	 de	 si	 mesmas.	 As	 sete	 estrelas
representam	“os	anjos	das	sete	igrejas”	e	os	sete	candeeiros	representam	“as	sete	igrejas”.	Ele	continua	a
fornecer	mais	exemplos	com	frequência	regular	(p.	ex.,	5.6,	8;	17.9,10,	12,	15).	2)	Muitas	imagens	seriam
absurdas	se	fossem	tomadas	em	sentido	literal.	Imagens	como	a	besta	de	sete	cabeças	(13.1),	gafanhotos
com	rostos	de	homem	(9.7),	uma	mulher	alada	em	pé	sobre	a	lua	(12.1),	uma	prostituta	embriagada	com
sangue	(17.6)	e	mais.
														Também	devemos	nos	recordar	do	tema	apresentado	por	João.	Em	Apocalipse	1.7,	ele	declara
que	Cristo	vem	para	julgar	os	responsáveis	por	sua	crucificação,	as	tribos	da	terra:
Eis	que	vem	com	as	nuvens,	e	todo	olho	o	verá,	até	quantos	o	traspassaram.	E	todas	as	tribos	da	terra	se	lamentarão	sobre	ele.	(cp.
At	2.22,23,36;	3.13-15a;	4.10;	5.28,30;	7.52;	10.39;	13.27-29;	26.10)
Essa	afirmação	temática	foi	extraída	do	pronunciamento	de	Cristo	no	sermão	do	Monte,	proferido	quando
da	sua	partida	cerimonial	e	impressionante	do	templo	(Mt	23.37-24.1):
Então,	aparecerá	no	céu	o	sinal	do	Filho	do	Homem;	todos	os	povos	da	terra	se	lamentarão	e	verão	o	Filho	do	Homem	vindo	sobre
as	nuvens	do	céu,	com	poder	e	muita	glória.	(Mt	24.30)
Curiosamente,	a	afirmação	de	Cristo	também	está	ligada	à	sua	geração,	como	ocorre	com	a	de	João:
Em	verdade	vos	digo	que	não	passará	esta	geração	sem	que	tudo	isto	aconteça.	(Mt	24.34).
Enquanto	 delineamos	 o	 desdobramento	 do	 tema	 do	 Apocalipse,	 aprendemos	 que	 João	 apresenta	 um
drama	 forense	 em	 que	Deus,	 judicialmente,	 divorcia-se	 da	mulher	 da	 antiga	 aliança	 (Israel)	 a	 fim	 de
tomar	uma	nova	esposa.	A	visão	principal	 tem	 início	com	Deus	assentado	em	seu	 trono	 (Ap	4.2).	Por
todo	o	Apocalipse,	 João	apresenta	Deus	como	“aquele	que	está	assentado	no	 trono”	 (4.2,3,9,10;	5.13;
6.16;	7.10,15;	19.4;	21.5).	De	lá,	Deus	despacha	um	mandado	de	divórcio	(5.1),	o	qual	Cristo	toma	(5.7)
e	 abre	 (6.1).	 Quando	 o	 rolo	 do	 divórcio	 é	 aberto,	 testemunhamos	 a	 pena	 capital	 contra	 Israel	 por
infidelidade	matrimonial	(6.1-19.2,	com	interlúdios),	pois	ela	aparece	como	meretriz	(17.1,5,15;	19.2).
Então,	 vemos	 uma	 nova	 noiva	 (a	 igreja)	 descendo	 do	 céu	 para	 substitui-la	 (21.2).	 Ela	 é	 a	 “Nova
Jerusalém”	que	assume	o	 lugar	da	velha	Jerusalém	(21.2);	ela	não	mais	precisa	de	um	 templo,	porque
Cristo	traz	a	presença	de	Deus	ao	povo	(21.22).
	
PERSONAGENS	E	AÇÕES	PRINCIPAIS
No	curso	do	drama,	João	aponta	uma	besta	do	mar,	que	representa	o	Império	Romano	e,	em	particular,
Nero	 César,	 o	 primeiro	 perseguidor	 romano	 contra	 a	 igreja	 (Ap	 13.1ss).	 A	 esposa	 infiel	 de	 Deus,
Jerusalém/Israel,	 alia-se	 com	Roma	 contra	 Cristo	 e	 contra	 seus	 seguidores:	 ela	 é	 como	 uma	meretriz
assentada	sobre	a	besta	(17.3,	7).	Isso	se	baseia	na	deferência	de	Israel	a	César	ao	rejeitar	Cristo	e	seus
seguidores	(cp.	Jo	19.12,15;	At	17.7;	cp.	At	4.27;	16.20;	18.12;	21.11;	24.1-9;	25.1,2).
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Ao	 ilustrar	a	ocorrência	desses	acontecimentos	no	século	I,	mostramos	que	os	 julgamentos
esquematizados	de	modo	apocalíptico	podem	ser	aplicados	com	facilidade	à	destruição	de	Jerusalém	no
século	I,	na	guerra	judaica	contra	Roma.	Expusemos	amostras	documentais	dos	juízos	históricos	a	partir
dos	escritos	do	historiador	judeu	do	século	I,	Josefo.
														Por	último,	apresentamos	os	resultados	da	turbulência	ao	redor	do	divórcio	contra	Israel,	no
século	 I,	 como	 povo	 de	Deus.	 A	 ordem	 final	 foi	 estabelecida:	 o	 reino	 de	 Cristo.	 Isso	 aparece	 sob	 a
imagem	 do	 reinado	 de	mil	 anos	 sobre	 o	mundo	 (Ap	 20.1-6;	 cp.	 1.6;	 5.10)	 e	 como	 uma	 intrusão	 dos
princípios	da	nova	criação	do	reino	da	salvação	(21.1;	cf.	 Is	65.17-20;	2Co	5.17;	6.15).	Com	a	antiga
aliança	concluída,	a	nova	aliança	traz	a	presença	direta	de	Deus	(em	contraste	com	a	presença	baseada
no	templo)	e	a	ordem	final	de	redenção.	O	cristianismo	está	aqui	para	ficar.
	
CONCORDÂNCIA	DO	NOVO	TESTAMENTO
Em	sentido	básico,	o	Apocalipse	é	uma	apresentação	espantosa	de	alguns	temas	básicos	desvendados	no
Novo	 Testamento.	 Eles	 são	 a	 vinda	 da	 nova	 aliança	 como	 ordem	 final	 de	 redenção,	 que	 aparece	 em
Cristo,	 e	 o	 perecimento	 da	 ordem	 (o	 sistema	 do	 templo)	 e	 do	 povo	 (Israel)	 da	 antiga	 aliança,	 pela
rejeição	 de	 Cristo	 e	 da	 nova	 ordem.	 Esses	 temas	 corolários	 são	 exibidos	 de	 modo	 sobejo	 no	 Novo
Testamento.
														Os	Evangelhos	Sinóticos	registram	que,	quando	a	aparição	de	Cristo	é	anunciada	pela	primeira
vez,	 os	 gentios	 “vêm	 adorá-lo”,	 embora	 “toda	 a	 Jerusalém”	 estivesse	 “alarmada”	 (Mt	 2.1-3).	Quando
Cristo	inaugura	seu	ministério,	declara	que	o	reino	da	nova	aliança	“está	próximo”	(Mc	1.15).	Contudo,
por	 causa	 da	 sua	 vinda	 e	 da	 nova	 ordem	 que	 ela	 representa,	 o	 pano	 velho	 de	 Israel	 não	 pode	 ser
remendado	 para	 se	 adaptar;	 o	 odre	 velho	 das	 restrições	 de	 Israel	 e	 do	 culto	 baseado	 no	 templo	 não
poderá	lhes	conter	as	glórias:	novos	odres	serão	necessários	(Mt	9.16,17).	Embora	Jesus	concentre	seu
ministério	terreno	em	Israel	(Mt	10.6;	15.24),	ele	avisa	os	discípulos	de	que	Israel,	por	fim,	o	rejeitará
(Mt	16.21;	20.18)	ao	persegui-los	(Mt	10.16,17;	23.34-37),	até	que	ele	venha	em	juízo	(Mt	10.23;	17.22;
20.18;	 24.2,16,30-34).	 Como	 os	 israelitas	 não	 reconheceram	 o	 Messias	 e	 sua	 mensagem	 (Mt	 23.38;
Lc	19.42,44),	serão	julgados,	e	o	reino	será	dado	aos	gentios	(Mt	8.10-12;	Lc	19.41-44;	21.20-24).
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Várias	das	últimas	ações	e	parábolas	de	 Jesus	estão	 relacionadas	com	Jerusalém	e	dizem
respeito	à	rejeição	de	Israel	e	do	seu	 juízo	consequente.	A	purificação	que	o	Senhor	fez	no	 templo	foi
uma	profecia	representativa	(chamada	“encenação	profética”	pelos	acadêmicos	bíblicos)	da	demolição
do	templo,	transformada	em	covil	de	salteadores	(Mt	21.12,13).	Assim	também	foi	sua	maldição	contra	a
figueira	estéril,	representação	de	Israel	(Mt	21.18-20).	Marcos	até	entrelaça	a	purificação	do	templo	e	a
maldição	da	figueira	para	mostrar	que	ambas	estão	conectadas	(Mc	11.11-24).	A	parábola	dos	lavradores
mostra	que	Deus	repetidas	vezes	procurou	Israel	por	meio	dos	profetas,	apenas	para	ser	rejeitado	quando
mataram	seu	Filho	(Mt	21.33-45).	Por	causa	disso,	“o	reino	de	Deus	vos	será	tirado	e	será	entregue	a	um
povo	que	lhe	produza	os	respectivos	frutos”	(Mt	21.43).
														O	chamado	de	Deus	a	Israel	para	si	mesmo	é	comparado	a	um	convite	de	festa	de	casamento
rejeitado,	 resultando	 na	 cólera	 do	 rei	 que	 lhes	 destrói	 a	 cidade	 (Mt	 22.1-14).	 Cristo	 denuncia	 com
veemência	 os	 fariseus	 como	quem	 continua	 a	 rebelião	 iniciada	 pelos	 antepassados	 (Mt	 23.1-32).	 Isso
resultará	 no	 fato	 de	 eles	 perseguirem	 os	 seguidores	 de	 Jesus	 e	 no	 juízo	 iminente	 no	 ano	 70	 d.C.
(Mt	23.33-36).	Como	resultado	dessa	palavra	final	a	Israel,	Jesus	lamenta	a	rejeição	deles	(Mt	23.37),
abandona	o	 templo,	deixando-o	“desolado”	 (Mt	23.38;	24.1),	 e	então	profetiza	a	destruição	do	 templo
(Mt	 24.2)	 e	 a	 desolação	 de	 Jerusalém	 (Mt	 24.16ss.;	 Lc	 21.20-24)	 durante	 a	 geração	 do	 século	 I
(Mt	24.34).	Como	consequência	da	infidelidade	e	rejeição	de	Israel,	Jesus	estabelece	a	grande	comissão
que	conduzirá	ao	batismo	e	discipulado	das	“nações”	(Mt	28.18-20).
														O	Evangelho	de	João	nos	informa	que	Cristo	veio	para	o	seus,	mas	eles	não	o	receberam	(Jo
1.1).	De	fato,	eles	pertenciam	a	“vosso	pai,	o	diabo”	(Jo	8.44;	Ap	2.9;	3.9)	e	o	rejeitaram	ao	preferirem
César	(Jo	19.12,15).	Como	consequência,	vem	o	momento	em	que	o	templo	será	desnecessário	(Jo	4.23;
Mt	12.6).	Isso	resultará	em	bênçãosabundantes	para	todo	o	mundo	dos	homens	(Jo	3.17;	12.31,32).
														Em	Atos	dos	Apóstolos,	traçamos	o	movimento	do	evangelho	de	Jerusalém	para	as	partes	mais
remotas	 do	mundo	 daqueles	 dias	 (At	 1.8).	Embora	 a	 igreja	 apostólica	 no	 início	 ganhe	 convertidos	 de
Israel	 (At	 2.41;	 4.4;	 6.7),	 ela	 deve	 sair	 de	 lá	 mais	 tarde	 e	 seguir	 até	 os	 gentios	 (At	 13.46;	 18.6).
Descobrimos	que	a	razão	disso	em	Atos	é	quase	um	registro	da	perseguição	incessante	dos	judeus	contra
o	 cristianismo	 (At	 4.1-3,15-18;	 5.17,18,27-33,40;	 6.12-15;	 7.54-60;	 8.1;	 9.1-4,13,21,23,29;	 12.1-3;
13.45-50;	14.2-5,19;	17.5-8,13;	18.6,12,17;	20.3,19;	21.11,27-32;	22.3-5,22,23;	23.12,20,21;	24.5-9,27;
25.2-15,24;	26.21;	28.17-29).	A	 igreja	apostólica	declara	 repetidas	vezes	a	 responsabilidade	de	Israel
pela	morte	de	Cristo	(At	2.22,23,36;	3.13-15a;	4.10;	5.28,30;	7.52;	10.39;	13.27-29;	26.10).
														Ainda	que	eu	não	vá	tomar	o	espaço	necessário	para	traçar	esses	temas	em	outras	porções	do
Novo	 Testamento,	 destacarei	 com	 brevidade	 que	 a	 antiga	 aliança	 passa	 e	 a	 nova	 aliança	 a	 substitui
(2Co	 3;	 Hb	 8.13;	 12.22-29).	 Em	 Apocalipse,	 João	 pega	 esses	 temas	 e	 os	 apresenta	 em	 um	 formato
judicial	de	drama.	O	cristianismo	da	nova	aliança	é	o	novo	modo	de	se	aproximar	de	Deus;	 Israel	 foi
rejeitado	como	o	povo	favorecido	por	Deus.
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1898]).
[1]	 No	momento	 trabalho	 em	 um	 comentário	 acadêmico	 extenso	 sobre	 o	Apocalipse,	 cujo	 título	 provisório	 é:	The	 Divorce	 of	 Israel:	 A
Redemptive-Historical	 Interpretation	 of	 the	 Book	 of	 Revelation.	 Nele,	 apresentarei	 um	 comentário	 versículo	 por	 versículo	 e	 a	 análise
completa	do	livro.
[2]	Ramsey,	Letters	to	the	Seven	Churches,	cap.	15.
[3]	Hemer,	Letters	to	the	Seven	Churches	of	Asia.
[4]	Revelation,	p.	96.
[5]	Revelation,	p.	65.
[6]	Literalmente:	“um	tipo	de	Benedict	Arnold”.	Arnold	foi	um	general	dos	EUA	que	passou	para	o	lado	britânico	na	Revolução	Americana.
[N.	do	T.]
[7]	Organização	de	C.	Marvin	Pate	(Michigan:	Zondervan,	1998)	[Lançado	em	português	com	o	título:	As	interpretações	do	Apocalipse:	4
pontos	de	vista	(São	Paulo:	Vida,	2003).]	Meu	comentário	completo	sobre	o	Apocalipse	proverá	muitas	citações	não	apenas	de	Josefo,	mas
de	outros	escritos	judaicos	antigos,	como	os	apócrifos,	os	pseudepigráficos	do	Antigo	Testamento,	a	Mishná,	a	Toseftá,	o	Talmude	e	outros.
Meus	argumentos	sobre	o	Apocalipse	são	confirmados	de	forma	sobeja	nesses	documentos	antigos.
[8]	A	tradução	inglesa	mais	comum	das	guerras	de	Josefo	encontra-se	em:	The	Works	of	Flavius	Josephus,	traduzida	por	William	Whiston
no	 começo	 do	 século	XVIII.	 (Foi	 publicada	 em	 dez	 volumes	 compactos	 pela	Harvard	University	 Press	 em	 1939.)	Uma	 versão	 técnica	 e
moderna	é	encontrada	na	edição	bilíngue	da	Loeb’s	Classical	Library,	que	fornece	não	só	uma	tradução	mais	nova,	mas	também	notas	textuais
críticas.	O	texto	grego	aparece	nas	páginas	pares,	e	a	tradução	inglesa	nas	páginas	ímpares.
[9]	Veja	Kenneth	L.	Gentry	 Jr.,	 “The	Historical	 Problem	with	Hyper-Preterism”,	 in:	Keith	A.	Mathison,	When	 Shall	 These	 Things	 Be?
Reformed	Response	to	Hyper-Preterism	(Phillipsburg,	N.J.:	Presbyterian	and	Reformed,	2004),	cap.	1.
[10]	Young,	Young’s	Literal	Translation,	167.
[11]	Marshal,	Interlinear	Greek-English,	956.
[12]	Os	dicionários	gregos	principais	de	nossos	dias	notam	que	kai	(“e”)	é	com	frequência	“explicativo,	 isto	é,	uma	palavra	ou	cláusula	é
conectada	pelo	kai	 com	 outra	 palavra	 ou	 cláusula	 com	 o	 propósito	 de	 explicar	 o	 que	 vem	 antes,	 e	 portanto,	 isto	 é,	 a	 saber”.	Gingrich,
Lexicon,	p.	495.
[13]	Learsi,	Israel,	p.	178.
[14]	Na	verdade,	ela	recebe	breve	alusão	em	Ap	11.7,	mas	só	em	antecipação	de	sua	revelação	posterior	e	maior.
[15]	Revelation	8-22,	p.	158.
[16]	Suetônio,	Nero,	33-35.	Veja	também	Dião,	Hist.	Rom.	61.1,2;	Asc.	Isa.	4.1;	Or.	Sib.	5.30;	12.82.
[17]	Harvey,	Oxford	Companion,	p.	287.
[18]	Smallwood,	Documents,	52	(#145).
[19]	Dião,	Hist	Rom..	62.5.2.
[20]	Essa	suposição	é	baseada	nesse	livro	bastante	hebraico.	João	emprega	um	rico	leque	de	imagens	judaicas	(p.	ex.,	as	duas	oliveiras	de
Zacarias,	Ap	11.4;	Moisés	e	Elias,	Ap	11.6;	15.3),	menciona	nomes	de	lugares	judaicos	(Ap	16.16;	21.2),	e	até	apresenta	a	tradução	grega	de
palavras	em	hebraico	(Ap	9.11;	cp.	16.16).
[21]	Hillers,	“Revelation	13:18”,	p.	65.
[22]	Dictionary	of	the	Targumim.	Veja	Charles,	Revelation	1:367.	Benoit,	et.	al,	Les	Grottes.
[23]	 B.	 C.	 Birch,	 “Number,”	 in:	Geoffrey	W.	Bromiley	 (org.),	The	 International	 Standard	 Bible	 Encyclopedia	 (2.	 ed.:	 Grand	 Rapids:
Eerdmans,	1982),	vol.	3,	p.	561.
[24]	Biblical	Commentaries,	vol.	1,	p.	138-9.
[25]	Devemos	nos	lembrar	de	que	o	anjo	intérprete	já	nos	informou	que	as	sete	cabeças	representam	as	duas	coisas	ao	mesmo	tempo	(Ap
17.9,10).
[26]	Crossan,	Who	Killed	Jesus?.	Veja	também:	Cohn-Sherbok,	The	Crucified	Jew,	esp.	p.	12.
[27]	Meu	comentário	futuro	lidará	com	o	Apocalipse	em	detalhes:	The	Divorce	of	Israel:	A	Redemptive-Historical	Interpretation	of	the
Book	of	Revelation.
[28]	 Por	 exemplo,	 Vern	 S.	 Poythress,	 “Johannine	 Authorshipand	 the	 Use	 of	 Intersentence	 Conjunctions	 in	 the	 Book	 of	 Revelation”,
Westminster	Theological	Journal	47	(1985):	329-36.	Veja	também	J.	P.	M.	Sweet,	Revelation	(Philadelphia:	Westminster,	1979),	p.	16.
[29]	Esphagmenōn	 implica	uma	morte	violenta,	 com	que	a	 imagem	de	decapitação	combina	bem.	Trata-se	da	mesma	palavra	grega	que
descreve	o	Cordeiro	“que	havia	sido	morto”.
[30]	 Em	meu	 comentário	 demonstrarei	 que	Ap	 20	 não	 recapitula	Ap	 19.11ss.	 O	 texto	 de	 Ap	 20	 resulta	 da	 ação	 do	 juízo	 de	 Cristo	 em
Ap	19.11ss.	(que	diz	respeito	ao	ano	70	d.C.).
[31]	Cp.	Is	8.7ss.;	23.10;	Jr	6.23;	46.7;	Ez	9.10.
[32]	Cp.	Lc	2.14;	Ef	2.12ss.;	Fp	4.7,9.
	Prefácio à segunda edição
	Prefácio
	Abreviaturas de escritos antigos
	1. Expectativa e interpretação
	A expectativa de João
	A interpretação de João
	A confirmação de João
	Conclusão
	2. Tema e fluxo literário
	Tema literário
	Fluxo temático do julgamento
	Conclusão
	3. A besta e sua fúria
	Introdução
	O tempo da besta
	A localização da besta
	A autoridade da besta
	A cronologia da besta
	O caráter da besta
	O número da besta
	A ação da besta
	A ressurreição da besta
	Conclusão
	4. A meretriz e a noiva
	O tema do Apocalipse
	A grande cidade
	A questão da proeminência histórica
	O sangue dos santos
	As vestes da prostituta
	O padrão de nomeação
	João aplica nomes pagãos
	João denuncia Satanás
	O contraste literário
	A apresentação das mulheres
	Conclusão
	5. Julgamentos principais e seus significados
	A queda das montanhas e esconderijos nas cavernas
	O sangue correndo e os freios dos cavalos
	Conclusão
	6. O milênio e as ressurreições
	O reino milenar De Cristo
	Os mil anos
	A prisão de Satanás
	O reino de Cristo
	As duas ressurreições
	7. A nova criação e a igreja
	A nova criação declarada
	A descrição da nova noiva
	A ausência de templo
	Conclusão
	Conclusão
	Princípios básicos
	Personagens e ações principais
	Concordância do Novo Testamento
	Bibliografia

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