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UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES ANDRE LUIS RODRIGUES DA COSTA ARTHUR CAMARGO DE ALMEIDA MIRLENE SOARES DA SILVA RAFAEL PALHAS DOMINGOS PROCESSOS DE MELHORIAS DO FUNCIONAMENTO DE TRANSPORTES VERTICAIS (ELEVADOR TIPO PINHÃO/CREMALHEIRA) SÃO PAULO 2014 UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES ANDRE LUIS RODRIGUES DA COSTA ARTHUR CAMARGO DE ALMEIDA MIRLENE SOARES DA SILVA RAFAEL PALHAS DOMINGOS PROCESSOS DE MELHORIAS DO FUNCIONAMENTO DE TRANSPORTES VERTICAIS (ELEVADOR TIPO PINHÃO/CREMALHEIRA) Trabalho de conclusão de curso, apresentando ao departamento de engenharia da Universidade de Mogi das Cruzes como parte dos requisitos para obtenção do grau de bacharelado Engenheira Mecânica. Prof.º Orientador: Aldo Testa SÃO PAULO 2014 AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, por ter dado saúde e nos guiado para podermos atingir nossos objetivos. Ao professor Aldo Testa pela orientação, disposição e apoio transmitido durante a execução deste trabalho. A todos que colaboraram direta ou indiretamente na execução deste trabalho. E em especial aos nossos familiares e amigos que nos apoiaram no decorrer de todo o curso. RESUMO A introdução do uso de rolete de náilon nos elevadores tipo pinhão / cremalheira para a construção civil começou à ser adotado para a motivação de aumentar o melhor funcionamento no transporte e diminuir a manutenção corretiva mensalmente, fornecendo um bom equipamento para o mercado de construção civil e de todos os tipos de segmentos que necessitam do equipamento. A tecnologia de aplicação do rolete de náilon, foi com a necessidade de aumentar a eficiência de funcionamento sem impactar nas horas trabalhadas do equipamento. A poliamida 6.0 e 6.6 atende a aplicação de cargas em transportes verticais, por efeito de diminuir ruídos, vibrações mecânicas, lubrificação e desgastes da estrutura da torre do equipamento, decorrente com o uso do equipamento, o material está de acordo com o bom desempenho e passando a ter propriedades mecânicas necessárias. A escolha da realização desse trabalho se baseia na expectativa de aumentar estudo sobre o tema, ajudando as indústrias fabricante de elevadores a aprofundar o conhecimento sobre as variáveis de produto e processo, que até então é pouco dominada pelo mercado nacional. Devido ao crescente aumento da concorrência no mercado e novas normas estabelecidas pelo MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), os equipamentos devem ser adequados antes de irem para a obra, porque hoje tornou-se o item mais requisitado pelas construtoras ou outros segmentos, por motivos de muitos acidentes fatais em série ocorrendo em todo o Brasil, os equipamentos devem oferecer segurança e conforto para os operários, engenheiros e outros profissionais, proporcionando maior satisfação e proteção à saúde à eles. A indústria destes equipamentos reagiu com novas tecnologias, uma delas é o sistema melhoramentos ao equipamento. O objetivo deste trabalho é detalhar o funcionamento identificando as suas condições de funcionamento, processo de trocas de componentes mecânicos, vantagens e desvantagens para aplicação desta troca, diminuir o número de manutenções corretivas e reduzir custos nas manutenções decorrentes aos equipamentos instalados em obras. Palavras chaves: Roletes de Náilon. Poliamida 6.0. Poliamida 6.6. Elevador de Cremalheira. ABSTRACT The introduction of the use of the nylon roller at the elevators type pinion / rack for the civil construction began to be adopted to increase the motivation of the best functioning transportation and reduce corrective maintenance monthly, providing good equipment for the civil construction market and all types of segments that need equipment. The technology of applying roller nylon with the necessity to increase the working efficiency without impacting the equipment in hours worked. The polyamide 6.0 and 6.0 meets the application of vertical loads in transport to reduce the effect of noise, mechanical vibration, lubrication and wear of the tower structure of the equipment, due to the use of the equipment, the material is consistent with good performance and going to have required mechanical properties. The choice of performing this work is based on the expectation of increasing study on the subject, helping industries elevator manufacturer to deepen the knowledge about the product and process variables, which so far is somewhat dominated by the domestic market. Due to increased competition in the market and new rules established by the MLJ (Ministry of Labor and Job), the equipment must be adequate before going to work, because today became the most requested item by construction or other sectors, for reasons for many fatal accidents occurring in series in Brazil, the equipment must provide security and comfort for the workers, engineers and other professionals, providing greater satisfaction and health protection for them. The industry of this equipment reacted with new technologies, one of which is the improvements to the equipment system. The objective of this study is to detail the workings identifying its operating conditions, process of exchange of mechanical components, advantages and disadvantages for application of this exchange, decrease the number of corrective maintenance and reduce the maintenance costs arising from the equipment installed in the works. Key Words: Nylon Roller. Polyamide 6.0 and 6.6. Rack lift. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Rolete guia tubo do elevador de cremalheira ....................................................................................... 14 Figura 2 – O valor da produção mundial (em dólares americanos, em 2000) de alguns dos materiais mais importantes na engenharia ................................................................................................................................... 19 Figura 3 – Cristais .................................................................................................................................................. 26 Figura 4 – Diagrama de equilíbrio das ligas ferro carbono ................................................................................... 26 Figura 5 – Cristal de bainita ................................................................................................................................... 27 Figura 6 - Martensita ............................................................................................................................................. 28 Figura 7 – Perlita esferoidal ................................................................................................................................... 28 Figura 8 – Diagrama de grau de encruamento ..................................................................................................... 31 Figura 9 – Estrutura do náilon 6 (a) e náilon 6.6 (b) .............................................................................................. 38 Figura 10 – Obtenção do PA 6 ............................................................................................................................... 38 Figura 11 – Obtenção do PA 6.6 ............................................................................................................................ 39 Figura 12 – Esquema da absorção de água pelas poliamidas ............................................................................... 41 Figura 13 – Diagrama tensão - deformação .......................................................................................................... 52LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Principais grupos de aços nas classificações dos sistemas normativos mais comuns ......................... 21 Tabela 2 – Classificação ABNT, excluindo aços ferramenta .................................................................................. 22 Tabela 3 - Comparativa das vantagens e desvantagens da Poliamida. ................................................................ 36 Tabela 4 - Tipos de Poliamida. ............................................................................................................................... 37 Tabela 5 – Influência do grau de cristalinidade nas poliamidas ............................................................................ 40 Tabela 6 – Propriedades das poliamidas ............................................................................................................... 42 Tabela 7 – Comparação das propriedades do PA 6 x PA 6.6 ................................................................................. 43 Tabela 8 – Temperaturas limites de trabalho das poliamidas 6 e 6.6 ................................................................... 44 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABINT - Associação Brasileira das Indústrias de não tecidos ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas AISI - American Iron and Steel Institute ARBL - Aços de alta resistência e baixa liga ASP - Aerodynamic Particle Sizer, TSI Inc ASTM - American Society for Testing and Materials DIN - Deutsches Institut für Normun HEPA - High Efficiency Particulate Air MTE - Ministério do trabalho e emprego NBR - Norma brasileira regulamentadora PA - Poliamida SAE - Society of Automotive Engineer SI - Sistema internacional UNS - Unified Numbering System LISTA DE SIMBOLOS % - Porcentagem ϒ - Upsilon β - Beta δ - Sigma α - Alfa Kg/mm2 - Quilograma por milímetro quadrado 0 C - Escala celsius µm - Micrometro g - Grama t - Tonelada SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................12 1.1 OBJETIVOS ................................................................................................................................... 13 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...............................................................................................................15 2.1 AÇOS .............................................................................................................................................. 15 2.1.1 Seleção de materiais ............................................................................................................. 17 2.1.2 Seleção de aços ..................................................................................................................... 18 2.1.3 Aços para construção mecânica ........................................................................................... 19 2.1.4 O sistema de classificação ABNT para aços de construção mecânica .................................. 19 2.1.5 Materiais de construção ....................................................................................................... 22 2.1.7 Elementos Constituintes das Ligas de Ferro-Carbono ........................................................... 24 2.1.8 Cristais ............................................................................................................................. 24 2.1.9 Tratamentos dos Metais ....................................................................................................... 27 2.1.10 Normalização ...................................................................................................................... 29 2.1.11 Recozimento ........................................................................................................................ 29 2.1.12 Tempera .............................................................................................................................. 29 2.1.13 Revenido.............................................................................................................................. 30 2.1.14 Tratamento termoquímico dos aços ................................................................................... 30 2.1.15 Tratamento a frio (encruamento) ....................................................................................... 30 2.1.16 Ligas de aço ......................................................................................................................... 31 3. PLÁSTICOS DE ENGENHARIA ..........................................................................................................34 3.1 POLIAMIDA 6 E POLIAMIDA 6.6 ........................................................................................................... 34 3.1.1 Vantagens e desvantagens ................................................................................................... 35 3.1.2 Tipos de poliamidas .............................................................................................................. 36 3.1.3 Polimerização das Poliamidas 6.0 e 6.6 ................................................................................ 37 3.1.4 Relação estrutura e propriedades ......................................................................................... 39 3.1.5 Propriedades características ................................................................................................. 41 3.1.6 Características térmicas das poliamidas ............................................................................... 43 3.1.7 Características elétricas ........................................................................................................ 44 3.1.8 Resistência química das poliamidas 6.0 e poliamidas 6.6..................................................... 44 3.1.9 Compostos e compósitos com náilon .................................................................................... 45 3.1.10 Termoestabilizantes / Antioxidantes .................................................................................. 45 3.1.11 Antiultravioleta ................................................................................................................... 45 3.1.12 Antichama ........................................................................................................................... 46 3.1.13 Antiestáticos ....................................................................................................................... 46 3.1.14 Agentes nucleantes ............................................................................................................. 47 3.1.15 Lubrificantes ........................................................................................................................ 47 3.1.16 Desmoldantes ..................................................................................................................... 47 3.1.17 Modificadores de impacto .................................................................................................. 48 3.1.18 Copolimeros 6.6/6. 6/6.6 .................................................................................................... 48 3.1.19 Características de processamento ...................................................................................... 48 3.1.20 Campo de aplicação das poliamidas ................................................................................... 50 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES .........................................................................................................51 4.1 CONSIDERAÇÕES GERAISSOBRE AS PROPRIEDADES .................................................................................. 51 4.1.1 Descrição geral ...................................................................................................................... 51 4.1.2 Aço comum ........................................................................................................................... 51 4.1.4 Resistência à compressão ..................................................................................................... 52 4.1.5 Resistência ao desgaste ........................................................................................................ 52 4.1.6 Resistência ao impacto (Flexão dinâmica) ............................................................................ 52 4.1.7 Corrosão ................................................................................................................................ 53 4.1.8 Fadiga ................................................................................................................................... 53 5. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................................54 5.1.1 Manutenção preventiva e corretiva do equipamento .......................................................... 54 5.1.1 Estratégia de melhoramentos no equipamento ................................................................... 55 5.1.3 Vantagem competitiva no mercado ..................................................................................... 55 5.1.4 Redução de custos ................................................................................................................ 55 5.1.5 Controle de horas trabalhadas do equipamento .................................................................. 56 5.1.6 Laudos fotográficos de testes realizados .............................................................................. 56 5.1.7 Fatores críticos de sucesso .................................................................................................... 56 6. CONCLUSÃO ..................................................................................................................................58 12 1. INTRODUÇÃO Desde a Antiguidade que se conhecem aplicações de polímeros naturais, no entanto, a ciência e indústria dos polímeros teve origem no início do século XIX, quando Hancock, na Inglaterra, descobriu o efeito da “mastigação” da borracha natural, tendo sido em 1843 patenteada a vulcanização da borracha por meio de enxofre. Em 1839, Goodyear, na América do Norte, tinha apresentado independentemente uma patente semelhante e, mais tarde, em 1851, viria a descobrir a ebonite, iniciando assim o desenvolvimento dos plásticos termoendurecíveis. A primeira experiência comercial bem sucedida na área dos polímeros deve- se a J. W. Hyatt que, em 1870, nos E.U.A., usando cânfora como plastificador do nitrato de celulose produziu a celulóide. Esta invenção surgiu na sequência dos seus trabalhos para conseguir sintetizar um substituto para o marfim para a produção de bolas de bilhar. Assim, a celulóide tornou-se rapidamente um sucesso comercial e controlou o mercado durante cerca de 30 anos, embora, devido à sua elevada inflamabilidade, logo se procurassem materiais alternativos mais estáveis. Até ao início da década de 20, não era possível um verdadeiro desenvolvimento neste domínio dada a ausência de conhecimentos fundamentais sobre a estrutura dos materiais poliméricos. Em 1933, três investigadores da ICI, Gibson, Fawcett e Swallow descobriram o polietileno. Em 1934, W. H. Carothers, trabalhando para a Dupont descobriu o nylon e, subsequentemente, desenvolveu um trabalho pioneiro sobre a teoria das reações de polimerização por condensação. Nessa década, Hill e Crawford, da ICI, sintetizaram o poli (metacrilato de metilo), (perspex e vidro acrílico). Nessa mesma altura começou a produzir-se comercialmente o poliestireno e o (Policloreto de vinila- PVC). Em 1939 a ICI produzia industrialmente o polietileno de alta pressão. Depois da 2ª Guerra Mundial, acelerou-se a investigação científica e o desenvolvimento industrial. A maioria dos polímeros poliolefínicos modernos são o resultado direto do trabalho de Natta (e Ziegler) que desenvolveu catalisadores organometálicos de polimerização que permitiram obter, na década de 50, o polietileno de alta densidade e o polipropileno isostático. Juntamente com os poliuretanos (1937), os epóxidos (1939), o poli (tetrafluoroetileno) (1941), os silicones (1942), as resinas de poliéster 13 insaturadas (1946), o policarbonato (1956) e as poliamidas (descobertas em 1964), estes polímeros são a base de mais de 90 % dos plásticos utilizados atualmente. Com o desenvolvimento da indústria dos polímeros, muitos produtos que antigamente eram produzidos com materiais como o vidro, cerâmica, aço, entre outros, hoje são substituídos por diversos tipos de plásticos que, devido à sua versatilidade, menor peso, maior facilidade de manuseamento, menor custo de produção, entre outros aspectos cumprem de forma mais eficaz os requisitos pretendidos para os produtos. A utilização dos plásticos, quer em novas aplicações, quer como substituto dos materiais tradicionais (metais, madeira, vidro, aço), tem experimentado um significativo aumento nos últimos anos. As atuais sociedades desenvolvidas já não são capazes de manter-se sem a utilização dos plásticos, sendo inúmeras as situações em que se evidência a utilização deste material. Atualmente, existem mais de mil tipos de plásticos diferentes que se utilizam para os mais variados fins, como para a produção de fibras e novos materiais para a indústria têxtil, para a construção de materiais de construção civil com melhores desempenhos e menores custos que os materiais tradicionais, para a indústria dos transportes, da qual se destaca a indústria automotiva, na indústria farmacêutica, para a produção de embalagens, eletrodomésticos, etc. Devido ao fato do nylon ter as propriedades físicas necessárias, ter baixo custo, ser um material de fácil usinagem, este foi utilizado conforme citado anteriormente para a substituição dos roletes de aço usados nos elevadores de cremalheira utilizados na construção civil. 1.1 OBJETIVOS A introdução dos processos de melhorias do funcionamento de transportes verticais (Elevador tipo pinhão/cremalheira) no setor da construção civil, começou a ser adotado, após muitos acidentes fatais em todo Brasil. Com isso, é necessário motivar a segurança dos equipamentos para os usuários em geral, fornecendo um bom equipamento que atende todas as normas vigentes e obedece o programa de manutenção preventiva e fornece um bom treinamento operacional. 14 Por meio desses objetivos, pode-se deduzir que eles estão direcionados a uma finalidade maior e importante: redução de manutenção e aumento da produtividade. A escolha da realização desse trabalho se baseia na troca de roletes de aço (Society of Automotive Engineer-SAE) SAE 1020, para o náilon 6.0 e náilon 6.6, onde o mesmo é um termoplástico, obtido a partir da poliamida 6.0 e poliamida 6.6, cujas excelentes propriedades mecânicas, elétricas e térmicas, permitem as mais variadas aplicações, nos mais diversos ramos da indústria mecânica, elétrica e químicas. Sua substituição aos metais como materiais estruturais e/ou de construção, onde leva-se em consideração leveza, baixo coeficiente de atrito, isolação elétrica, boas resistência à fadiga e a agentes químicos, o torna vantajoso. Figura 1 – Rolete guia tubo do elevador de cremalheira 15 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 AÇOS A importância de especificações bem elaboradas para produtos industriais não pode ser subestimada.Especificações corretas conduzem à economia por parte dos produtores e dos compradores, a prazos mais curtos de entrega e, principalmente, ao melhor entendimento entre produtor e cliente. Uma especificação bem elaborada deve deixar claro que o que se espera e o que se aceita do produto. Por esse motivo, muito esforço é dedicado por diversas entidades, privadas ou não, tanto nacional como internacionalmente, no sentido de padronizar as especificações de produtos industriais, especialmente os materiais. Aços e suas ligas são classificados de diferentes maneiras. São métodos usuais de classificação: - Classificação baseada em características do aço ou liga. Exemplo: propriedades mecânicas, composição química etc. - Classificação baseada no emprego do aço ou liga. Exemplo: aços para ferramentas, para construção mecânica etc. Essas classificações não são excludentes, e um dos problemas que são encontrados, ao tentar compreendê-las e aplicá-las, decorre da freqüente superposição entre as classificações. Dois aspectos importantes devem ser ressaltados: em primeiro lugar, tais classificações não constituem critérios definitivos e imutáveis e são estabelecidas visando ajudar o processo de seleção. Aços classificados como “para ferramentas”, por exemplo, podem ser a melhor solução em determinadas aplicações em peças de equipamentos mecânicos. Em segundo lugar, determinados aços podem estar incluídos, simultaneamente, e, mais de uma classificação, em especial quando os critérios de classificação são diferentes: por exemplo, aços baixo carbono frequentemente são também classificados como “aços para conformação mecânica” e aços de “alta resistência baixa liga” (Aços de alta resistência e baixa liga-ARBL), tanto podem ser classificados como “aços estruturais” ou “aços para caldeiras e vasos de pressão”. Especificações de materiais são, em geral, derivadas do conhecimento acumulado sobre determinado material e sobre o seu comportamento e 16 desempenho. Assim, por exemplo, definida uma determinada combinação promissora de composição química e estrutura para determinado material, determina-se o seu comportamento e desempenho por meio de um processo mais ou menos longo de caracterização do material. Propriedades mecânicas e tecnológicas, resistência à corrosão etc. são determinadas em função das aplicações contempladas. Conhecidas tais propriedades para diversas ligas, o engenheiro de projeto pode selecionar, em função da aplicação em vista, o material mais adequado. Naturalmente, para definir os critérios de aceitação na compra do material, um escopo de testes e exames mais limitado do que o empregado na caracterização é estabelecido pela especificação do material. É importante ter em mente, entretanto, que as propriedades e características apresentadas em manuais e especificações são médias sobre universos de amostras amplas, sendo sempre recomendável um contato com o produtor de aço para definir, com maior exatidão, o que se pode esperar do material produzido segundo determinada especificação. Normalmente, o fabricante fornecerá um julgamento equilibrado sobre a adequação do material selecionado pelo projetista e poderá, inclusive, opinar quanto à possibilidade de o aço ter suas propriedades em uma faixa mais estreita que a citada nos manuais. Também pode fornecer garantias sobre propriedades ou características não constantes da especificação. No entanto, normalmente o material é garantido apenas no que tange à especificação segundo a qual foi comprado. Entre as propriedades que podem ser especificadas para um aço ou liga, além das características dimensionais (forma, dimensões e tolerâncias), estão: - composição química; - propriedades mecânicas e/ou tecnológicas; - tamanho de grão; - temperabilidade; - nível de inclusões não metálicas; - resistência ao impacto e; - propriedades físicas. Entretanto, como o custo do material varia diretamente com o número de propriedades especificadas, uma determinada especificação deve ser aceitável 17 economicamente, tanto para o fornecedor como para o cliente. Além disso, há diversas falhas que podem estar presentes em uma especificação: - Ser muito geral – causando aceitação de material inferior ao desejado. - Ser muito restritiva – causando recusa de material que seria adequado para a aplicação. - Ser baseada em critérios impróprios ou inadequados – por exemplo, especificar a composição química quando se deseja, e realmente, a garantia de propriedades mecânicas, ou exigir propriedades mecânicas elevadas de um material, cuja principal característica necessária na aplicação é a resistência à corrosão. - Ser impraticável, por exigir material ideal – por exemplo, especificar, ausência total de fósforo e enxofre no aço, ou especificar isenção completa de inclusões não metálicas. É importante, então, que o projetista tenha um espirito permanentemente crítico, perguntando-se sempre se está especificado realmente o que é importante, se não está sendo excessivamente restritivo, encarecendo o produto; em suma, se está sendo razoável. (SILVA, 2010.). 2.1.1 Seleção de materiais A seleção de materiais é uma das tarefas mais complexas da engenharia. Normalmente, para cada aplicação, há um conjunto de requisitos de desempenho que o material deve satisfazer. Nem sempre esses requisitos de desempenho se traduzem claramente em propriedades mensuráveis. Parte da complexidade da seleção de materiais está em traduzir esses requisitos de desempenho nas condições de trabalho em características desejadas do material (isto é, propriedades mensuráveis). Além disso, nem sempre as propriedades mensuráveis são adequadas para testes de controle de qualidade. Assim adicionalmente, é necessário traduzi-las em propriedades controláveis por meio de ensaios ou testes exequíveis para o controle de qualidade (testes de aceitação estabelecidos na especificação do material). Evidentemente, uma limitação constante no processo de seleção de material é que a adequação ao uso deve ser obtida a custo mínimo. Assim, exceto nos casos 18 extremamente simples ou em aplicações muito bem conhecidas, a seleção de um material para uma dada aplicação deve ser um processo iterativo. Nesse processo, visa-se a correlacionar parâmetros de desempenho (ou propriedades, cuja medida é mais difícil ou cara) com características mais facilmente controláveis dos materiais pré-selecionados para a aplicação (como dureza, resistência à tração etc.) até se encontrar um material otimizado para a aplicação. Uma vez selecionado o material, seu fornecimento pode ser controlado por meio desses ensaios tecnológicos, com os requisitos definidos durante o processo iterativo de homologação. (SILVA, 2010.). 2.1.2 Seleção de aços Há quase um século, os aços são os materiais mais amplamente empregados. A figura 6.1 mostra o valor da produção de diferentes materiais em 2000. O papel de destaque do aço é evidente. Possivelmente, o principal fator que levou o aço a ocupar este papel preponderante na engenharia é o amplo espectro de propriedades e características de desempenho que pode ser obtido a custos baixos, especialmente devido à disponibilidade do ferro na crosta terrestre e à extrema otimização dos processos de fabricação do aço. Naturalmente, o aço é um material em constante evolução, e os padrões de qualidade, bem como os níveis de propriedades que podem ser atingidos hoje com aços convencionais, superam, em muito, as características de aços que eram considerados “especiais” há poucas décadas. O processo de seleção de aços para determinada aplicação deve levar em conta, então não somente as propriedades dos aços presentemente disponíveis em comparação com os materiais alternativos, como as tendências de desenvolvimento na própria indústria do aço. A seleção é, portanto, um processodinâmico e deve ser revisto, periodicamente, se os melhores resultados são desejados. (SILVA, 2010.). 19 Figura 2 – O valor da produção mundial (em dólares americanos, em 2000) de alguns dos materiais mais importantes na engenharia Fonte: SILVA, 2010. 2.1.3 Aços para construção mecânica Enquanto aços estruturais são normalmente fornecidos para atender a requisitos mecânicos (com alguns limites de composição química especificados com vistas à soldabilidade, por exemplo), aços para construção mecânica são usualmente fornecidos para atender a faixas de composição química, uma vez que, normalmente, são tratados termicamente para obter as propriedades finais após o processamento pelo comprador. A principal característica visada, ao se definir a composição química, é a temperabilidade. (SILVA, 2010.). 2.1.4 O sistema de classificação ABNT para aços de construção mecânica O sistema de classificação de aços empregado pela ABNT (NBR NM 87) é basicamente o mesmo usado pela (American Iron and Steel Institute- AISI) e pela SAE J404. Nesses sistemas, os aços são divididos em grupos principais e, dentro desses grupos, em famílias de características semelhantes (Tabela 1). Essas 20 famílias são designadas por conjuntos de algarismos, em geral quatro, da seguinte forma: YY XX Família Teor de Carbono em Centésimos de porcentagem (0,01%) Assim, um aço 4340, é um aço da família 43, isto é, com 1,8%Ni, 0,8%Cr, 0,25%Mo e com 40 centésimos de porcentagem de C, isto é, 0,40%C. Além dos algarismos, são empregadas letras na classificação, principalmente “H”, após os algarismos, que indica temperabilidade assegurada e “B” entre os dois grupos de dois algarismos que indica a presença de boro, para aumento da temperabilidade. Por exemplo, um aço 8620H é aquele com resposta ao tratamento térmico mais consistente que o 8620, e suas propriedades situam-se na parte superior da faixa de dureza do 8620. Do mesmo modo, o aço 10B46 é essencialmente um aço 1046 (aço carbono com 0,46%C), ao qual se adiciona um mínimo de 5 ppm de boro, que melhora a temperabilidade. A partir de 1975, num esforço para estabelecer um sistema único para a designação de metais e ligas, a (American society for testing and materials-ASTM e a SAE passaram a publicar o (Unified Numbering System- UNS). Nesse sistema (ASTM E 527), um prefixo de uma letra é seguido por cinco algarismos. A letra dá uma indicação da família do metal ou liga indicado e os algarismos identificam a liga específica. Para os aços normalizados pela SAE, o UNS procurou manter o mesmo código numérico. Um sistema semelhante ao UNS é adotado na Alemanha. O número de material (W.Nr) é composto por um prefixo numérico (em que o algarismo 1 representa ligas à base de ferro), seguido de quatro algarismos que identificam cada liga. (SILVA, 2010.). 21 Tabela 1 – Principais grupos de aços nas classificações dos sistemas normativos mais comuns Aços Carbono Aços de alta resistência e baixa (ARBL) Aços para beneficiamento (ligados ou não) Aços para mola Aços para rolamentos Aços para construção mecânica Aços para cementação Aços para nitretação Aços de corte livre (ou usinagem fácil) Aços para trabalho a quente (AISI H) Aços resistentes ao choque (AISI S) Aços para ferramenta Aços para trabalho a frio (AISI A, D, O ou W) Aços para moldes de plásticos (AISI P) Aços rápidos (AISI M ou T) Ferríticos Austeníticos Duplex Endurecíveis por precipitação (PH) Martensíticos Fonte: SILVA, 2010. 22 Tabela 2 – Classificação ABNT, excluindo aços ferramenta Aços Carbono 10XX Aço carbono 11XX Aço carbono ressulfurado (corte fácil) 12XX Aço carbono ressulfurado e refosforado (corte fácil) Aços de baixa liga (Construção mecânica) 13XX Mn 1,75 23XX Ni 3,5 25XX Ni 5,0 31XX Ni 1,25, Cr 0,65 33XX Ni 3,50, Cr 1,55 40XX Mo 0,25 41XX Cr 0,50 ou 0,95, Mo 0,12 ou 0,20 43XX Ni 1,80, Cr 0,50 ou 0,80, Mo 0,25 46XX Ni 1,55 ou 1,80, Mo 0,20 ou 0,25 47XX Ni 1,05, Cr 0,45, Mo 0,20 48XX Ni 3,50, Mo 0,25 50XX Cr 0,28 ou 0,40 51XX Cr 0,80 a 1,05 5XXXX Cr 0,50 ou 1,00 ou 1,45, C 1,00 61XX Cr 0,80 ou 0,95, V 0,10 ou 0,15 min 86XX Ni 0,55, Cr 0,50 ou 0,65, Mo 0,20 87XX Ni 0,55, Cr 0,50, Mo 0,25 92XX Mn 0,85, Si 2,0 93XX Ni 3,25, Cr 1,20, Mo 0,12 98XX Ni 1,00, Cr 0,80, Mo 0,25 Aços inoxidáveis (resistentes ao calor e à corrosão) 2XX Cr, Ni, Mn Austenítico 3XX Cr, Ni Austenítico 4XX Cr Ferrítico 4XX Cr Martensítico 5XX Baixo cromo (resistente ao calor) Fonte: SILVA, 2010. 2.1.5 Materiais de construção Além dos processos já descritos, as peças de ferro também podem ser obtidas por forjamento, ou seja, pela ação de martelos ou prensas sobre o metal 23 quente, e por estampado a quente ou a frio. Este último procedimento se caracteriza pela alta exatidão e rendimento. 2.1.6 Classificações dos produtos siderúrgicos A classificação tradicional do ferro e suas ligas tem sido pelo teor de carbono: a. Aço doce, quando tem na sua composição menos de 0,2% de carbono; b. Aço ou carbono, quando esse teor fica entre 0,2 e 1,7%; c. Ferro fundido, quando esse teor se situa entre 1,7 e 6,7%. Posteriormente se verá que esses limites não foram estabelecidos arbitrariamente; mas corresponde a distintas propriedades. Modernamente, porém, esta classificação está sendo abandonada, visto que não só o teor de carbono que dá as propriedades especiais do ferro e do aço. Este último distingue-se do ferro por ser mais duro, admitir tempera, ser mais fusível e quebradiço. E isso pode ser obtido tanto pelo teor de carbono tanto pela adição de outros elementos: manganês, silício etc. O ferro fundido distingue-se do aço doce por não ser forjável. Assim sendo, hoje em dia há necessidade de especificar exatamente o que se deseja dos aços, visto que há muitos modos de classifica-los. A classificação pode ser feita, por exemplo, em aços efervescentes e acalmados. O aço acalmado é aquele em que houve desoxidação total durante a fabricação; ao sair do forno, desprende poucos gases e não ferve. Entre os dois tipos extremos há classificações intermediarias, como o semi-acalmado e o capeado. A classificação pode ser feita pela liga, e tem-se o aço-manganês, o aço volfrâmio, etc. pode ser feita pelo processo de fabricação ou pelo processo de moldagem, e, então, se terão os aços do conversor, aço elétrico. Ainda podem ser adotado outros critérios, tais como o tratamento sofrido (aços temperados, austenizados, galvanizados etc.) ou os cristais existentes (perlíticos, grafíticos etc.). Costumam-se adotar, para os produtos siderúrgicos as classificações (Associação brasileira de normas técnicas-ABNT), (Deutsches institut für Normun- DIN) ou ASTM, que são bastante complexas, mas bem definidas. (BAUER, 2010.) 24 2.1.7 Elementos Constituintes das Ligas de Ferro-Carbono Dificilmente se consegue ferro puro. Apenas pela eletrólise se consegue ferro com pureza, e mesmo assim a 99,8%, mas esse processo não é econômico nem usual. O ferro sempre tem carbono junto, e conforme esse carbonoé distribuído, variam as qualidades da liga. Aços com mesmo teor de carbono podem ter propriedades bastantes diferentes. Além do carbono, há outras substancias que incluem nas ligas de ferro- carbono na fabricação, ou que já contam no minério e não conseguem ser eliminadas. Essas substancias lhe dão determinadas e variadas propriedades. O diagrama de equilíbrio das ligas de ferro e carbono na figura 3, representa, no eixo horizontal, as diversas porcentagens de carbono, e, no vertical, as temperaturas de fusão. Ele mostra, consequentemente, as transformações que sofrem os cristais nas diversas temperaturas e dosagens. 2.1.8 Cristais a. Cristais de ferro puro: A forma alotrópica α, é chamada ferrita. Os átomos tem distribuição cúbica magnética, existente no ferro entre 0 e 770ºC. Entre 770 e 910ºC forma-se o ferro β também cúbico centrado, mas com parâmetro de 2,90 amstrings, não magnético. Entre 910 e 1390ºC aparece a forma cúbica com cristais centrados (fig.3) nas faces (forma ϒ). Entre 1390 e 1535º C aparece a forma δ, também cúbica centrada nas faces. Nenhuma dessas ultimas é magnética. Em 1535ºC o metal funde. O ferro puro apresenta-se, no exame microscópico, na forma da (fig. 3A). O limite entre os cristais aparece como uma linha mais escura. No conjunto há uma estrutura homogênea, pouco resistente a tração, pouco dura de alta dutilidade (facilmente estirável). Quando atacada pelo iodo ou ácido pícrico, não apresenta reação. b. Cementita: A medida que se vai adicionando carbono, o quadro se modifica. O carbono, na forma pura cristalizada chamada grafita, não fica livre do interior do metal ele combina-se durante a solidificação, formando o carboneto de 25 ferro ou cementita, Fe3C. Esta é muito dura, sendo, aliás, o elemento que da natureza aos aços. Ela aparece, ao exame microscópico, sob a forma de lamelas no interior dos cristais de ferrita (fig. 3B). c. Perlita: Continuando-se a carbonetação, mas sem ir ainda a altas temperaturas, verifica- se que cada grão de ferrita só aceita 0,9% de carbono. O grão, nessas condições, apresenta propriedades particulares e é chamado perlita. Conclui-se daí que um aço cujo conjunto tenha 0,9% de carbono associado é constituído exclusivamente de perlita (fig. 3C). É o chamado aço perlitico ou entecdóide. Abaixo desse teor ficam as ligas hipoeutectóides, e acima ficam as hipereutenoides. d. Cementita: Ultrapassado o teor de 0,9% de carbono total, a cementita não encontra mais cristaisde ferro para se açociar. Permanece livre e vai depositar-se no contorno intercristalino (fig. 3D). Aos cristais com esta forma se dá o nome de ledeburita. e. Carbono puro: Até 1,7% (atende-se para a classificação geral) de carbono forma-se somente cementita. No entanto, esse limite é ultrapassado, o carbono começa a aparecer puro, na forma de cristais de grafita misturados aos de ledeburita e perlita (fig. 3E). Nesse ponto se deixa de ter aço para se ter ferro fundido, sendo este o limite até o qual é possível esmagar o aço, por forjamento. Acima de 1,7%, as propriedades só podem ser alteradas por processos químicos, ou seja, por alteração da constituição. f. Austenita: Isso tudo ocorre enquanto a liga não é levada acima de 723ºC. Quando isso acontece, a sementita se dissolve no ferro circunvizinho, formando um novo tipo de cristal importantíssimo (Fig. 3F), e a temperatura de 723°C é chamada crítica, por isso. (BAUER, 2010.) 26 Figura 3 – Cristais 3F Figura 4 – Diagrama de equilíbrio das ligas ferro carbono Fonte: BAUER, 2010. 27 2.1.9 Tratamentos dos Metais O aço pode existir numa larga variedade de condições, desde o bem macio ao bem duro, e pode ser mudado de uma para outra condição do tratamento térmico. Ele pode ser obtido macio, de maneira a ser moldado, e depois, por tratamento a quente, ser convenientemente endurecido. O aço é, essencialmente, uma liga de ferro e carbono, porém suas propriedades não são determinadas apenas pela proporção entre esses elementos, mas, mais especificamente, pela forma como se combinaram. E é o tratamento dito a quente que pode alterar essa distribuição, como se verá de maneira resumida. Veja-se um exemplo. Num aço com 0,6% de C, a 800ºC aparece a austenita. Os grãos de austenita crescem, uns as custas dos outros, dando granulação grosseira ou fina, conforme a temperatura alcançada e o tempo que permanecem nessas temperaturas. Se é deixado esfriar naturalmente, a 648ºC forma-se a perlita, que permanece. Perlita tem dureza Brinell 200, mas a sua formação requer algum tempo. Se aquele aço austenitico é passado rapidamente dos 800ºC até os 315ºC, sem dar tempo de formar a perlita, forma-se um novo cristal, a bainita (fig. 4), de dureza brinell 550. E, se for feito baixar rapidamente até os 125ºC, sem dar tempo de formar perlita ou bainita, parece ainda outro tipo, a martesita, de dureza Brinnell 650 (fig. 5). Além disso, esses novos critais vão ter dimensões e disposições que dependem daquelas que tinha a austenita. (BAUER, 2010.) Figura 5 – Cristal de bainita 28 Figura 6 - Martensita Para cada carbonetação, tipo de liga, composição etc. há um quadro semelhante, que permite controlar a, dureza e resistência do aço. Registre-se aqui que a austenita, uma vez transformada em pelita, bainita ou martensita, não se reconstrói; é que a perlita não se transforma em bainita ou martenista. Sempre preciso ir à austenita para se obterem as outras estruturas. Mas, seja austenita, perlita, bainita ou martensita, ainda se tem uma estrutura muito quebradiça. É preciso, em certos casos, aços mais maleáveis. Se, entretanto, levarmos um aço perlitico novamente a altas temperaturas, ao sobrevir o esfriamento forma-se um perlita esferoidal ou coalescida (Fig.6), com a mesma dureza e resistência da perlita, mas muito menos quebradiça. Logo, aqui se tem um outro elemento possível: o controle da rigidez, que é diferente do controle da dureza, antes visto. Figura 7 – Perlita esferoidal Seria exaustivo descrever todos os fenômenos que ocorrem quando se leva o ferro ou aço a altas temperaturas e estão baixadas com maior ou menor velocidade, mas o essencial é saber que com isso se podem alterar fundamentalmente as propriedades iniciais do metal. A esses processos dá-se o nome geral de tratamento a quente dos aços. 29 Os principais tratamentos térmicos são a normalização, o recozimento, a têmpera e o revenido. Há ainda outros, como o tratamento isotérmico e o trabalho mecânico a quente. (BAUER, 2010.) 2.1.10 Normalização Serve para eliminar as tensões internar que aparecem naturalmente na laminação ou outras formas de moldagem. Resulta um aço mais macio, menos quebradiço. Leva-se o aço até temperatura acima da crítica, espera-se a transformação total em austenita e deixa-se esfriar lentamente, ao ar livre. (BAUER, 2010.) 2.1.11 Recozimento O recozimento consiste no reaquecimento do metal até uma determinada temperatura, na permanência dessa temperatura durante algum tempo e no subsequente resfriamento lento. Resulta a eliminação das tensões que se originaram na fundição e evaporação dos índices tecnológicos do metal. As temperaturas adotadas ficam próximas a crítica, numa faixa dês de pouco acima até pouco a baixo (recozimento sub-crítico). (BAUER, 2010.) 2.1.12 Tempera A tempera consiste no aquecimento do metal até à temperatura de formação da austenita, na permanêncianessa temperatura durante algum tempo e no subsequente resfriamento brusco. Para resfriar rapidamente, usa-se, de preferência, azeite, ou água, ou salmoura etc. O esfriamento pode dar origem a vários tipos de cristais já citados (martensita, bainita, etc.) O tipo de cristal formado depende da velocidade de esfriamento. A tempera aumenta a dureza, o limite de elasticidade, a resistência a tração, e diminui o alongamento e a tenacidade. (BAUER, 2010.) 30 2.1.13 Revenido O revenido é semelhante ao recozimento, porém é feito a temperaturas a baixo da linha crítica e tem a finalidade de corrigir defeitos aparecidos durante uma têmpera. Esses defeitos podem ser: excesso de dureza, tensões internas. O resultado depende da temperatura alcançada e da velocidade de esfriamento ulterior. (BAUER, 2010.) 2.1.14 Tratamento termoquímico dos aços O tratamento termoquímico tem por finalidade enriquecer a camada superficial do aço com uma capa protetora onde apareçam outros elementos. Estes são o carbono (cementação), nitrogênio (nitretação), carbono e nitrogênio (cianetação), alumínio (aluminização), cromo (cromagem). Conforme a substancia empregada, ter-se-á aumento da resistência ao desgaste, a corrosão, á abrasão ou outras. Nesses tratamentos a substância a se ligar com o aço se dissocia nos seus átomos, que imergem superficialmente no aço aquecido. A cementação dá uma capa de grande dureza e resistência ao desgaste, enquanto o núcleo permanece mais brando e flexível. A nitretação eleva a dureza, resistência ao desgaste e a corrosão. A aluminização eleva a resistência ao calor. A cromagem eleva a resistência a corrosão, a dureza e a resistência ao desgaste. A silicitação aumenta a resistência a corrosão química, ao calor e ao desgaste. (BAUER, 2010.) 2.1.15 Tratamento a frio (encruamento) O metal é um solido com cristais de tamanho uniforme. Quando submetido a esforços que tendem a deforma-lo a frio, os grãos tendem a se orientar no sentido da deformação: é o encruamento. 31 O encruamento altera as propriedades mecânicas. A resistência à tração e a dureza aumentam, mas diminui a dutilidade, e o alongamento, conforme se pode ver na figura 8. Figura 8 – Diagrama de grau de encruamento Fonte: BAUER, 2010 O encruamento pode ser superficial, como o que acontece durante a laminação a frio, ou profundo, como o dos aços torcidos para concreto armado. Durante a laminação de chapas ou fios forma-se uma camada encruada, que fácilmente se oxida, e que, em certos casos, deve ser eliminada. É preciso notar que, se o aço encruado for aquecido (bastam 40% da temperatura de fusão), os cristais tenderam a se reagrupar e o encruamento, a desaparecer. O encruamento é bastante utilizado nos aços para indústria de construção, sendo sua aplicação mais importante os aços torcidos para concreto armado. (BAUER, 2010.) 2.1.16 Ligas de aço Além do carbono, o ferro pode ser associado a muitas outras substâncias, com alterações pronunciadas nas propriedades. Essas ligas podem ser só superficiais ou profundas. 32 Podem-se citar os elementos que se seguem como usados para fazer liga com os ferros e aços, seja propositadamente, seja por impurezas no minério. O silício (aço-silicio) torna o aço mais macio, com grande elasticidade e quase sem perda da resistência, daí sua preferência para molas. Sua proporção deve figurar na faixa de 0,17 a 0,37%, quando então desoxida o aço. (BAUER, 2010.) O oxigênio torna o aço mais frágil e, por isso, difícil de trabalhar. O nitrogênio torna-o mais, duro, porém ainda muito frágil. O enxofre é danoso. Forma um entectico de baixo ponto de fusão que deposita-se no contorno dos grãos e torna-os frágeis na laminação a quente. O fósforo também é danoso. Rebaixa o ponto de fusão. Embora aumente a dureza, diminui muito a resistência ao choque e a plasticidade. O enxofre e o fósforo, embora ruins para os aços, tornam-nos mais fáceis de usinar, diminuindo o desgaste das ferramentas empregadas e tornando mais polidas as superfícies. O manganês, na proporção de 0,25 a 1%, aumenta a resistências aos esforços e ao desgaste e a capacidade de soldagem. Acima de 13% aumenta tanto a dureza que o aço não pode ser mais trabalhado a frio. O cromo, na proporção de 2 a 3%, dá grande rureza, resistência a ruptura e a oxidação. O níquel, em proporção abaixo de 7%, dá grande elasticidade e resistência ao choque e á flexão. Entre 7 e 15%, torna o aço muito friável, e não é recomendado acima de 15% torna o aço inoxidável. O aço invar, que é liga de aço (64%) e níquel (36%), é uma liga praticamente sem dilatação térmica, sendo, por isso, usados para instrumentos de precisão. Aços rápidos é o nome dado as ligas de aço com tungstênio, molibdênio e vanádio, porque sua dureza permanece mesmo a elevadas temperaturas. Por essa razão são usados em ferramentas de corte rápido, em que a alta velocidade produz calor. Relativamente aos aços inoxidáveis, convém estuda-los em separado, após o exame da oxidação, devido a sua importância na indústria de construção. As normas técnicas classificam o aço por sua composição química pela P-NB- 82. Os aços são numerados de acordo com uma tabela dada na norma. Por exemplo, o aço ABNT 5120 deve ter teor de C entre 0,17-0,22; de Mn entre 0,70- 33 0,90; de Si entre 0,20-0,35; de Cr entre 0,70-0,90; um Máximo de 0,035 de P e um Máximo de 0,040 de S. (BAUER, 2010.) 34 3. PLÁSTICOS DE ENGENHARIA 3.1 POLIAMIDA 6 E POLIAMIDA 6.6 Dentre os plásticos de engenharia, as poliamidas (Poliamida – PA) se destacam pois caracterizam por suas ótimas propriedades mecânicas, e outras qualidades como: resistência ao tempo, baixo coeficiente de atrito, alta temperatura de fusão, boa resistência ao impacto e alta resistência à fadiga. Elas também possuem uma ótima resistência aos solventes orgânicos, exceto a alguns como o ácido fórmico, m-cresol, por exemplo. O consumo anual desse material na América do Sul, principalmente a da PA 6 e PA 6.6, chega a 30 000 t/ano, sendo o Brasil responsável pelo consumo de 24 000 t/ano. Nesta estimativa não estão inclusos os consumos destinados à produção de fios têxteis e de carpetes, que elevam essas cifras enormemente. Como exemplo de novas aplicações para as Poliamidas, podemos citar os coletores de admissão de gases e a tampa de válvulas para motores de veículos. Em ambos os casos, a poliamida 6.6 substituiu o metal com vantagens, pois é mais leve, dispensa trabalhos de usinagem ou rebarbação, confere ao interior do coletor uma superfície com índice inferior de rugosidade, reduzindo a perda de carga no fluxo de ar e resultado de alta produtividade na injeção das peças. A área de aplicações dos diversos tipos de PA 6 e PA 6.6 não modificados ou reforçados é bastante ampla, apresentando diversidade de aplicações de engenharia não só na indústria automobilística, mas também na indústria elétrica e eletrônica, indústria de construção, móveis, engenharia mecânica leve e de precisão. No intuito de atender normas cada vez mais rígidas no item segurança, para peças e componentes que estejam em contato direto com fontes de calor e energia, os formuladores de compostos termoplásticos utilizam aditivos que eliminam ou retardam a propagação do fogo. Atualmente, os mais usados são aqueles à base de halogênios (Bromo, Cloro) e Fósforo. Em geral, são empregados em conjunto com óxidos, propiciando um efeito de sinergismo, melhorando o desempenho do aditivo. O uso desses aditivos pode comprometer algumas propriedades mecânicas, melhorando as propriedades térmicas. Para compensar esta perda de propriedade mecânica, são adicionadosreforços à base de fibra de vidro. 35 O desenvolvimento inicial das poliamidas, ou comumente chamadas de náilon - derivado do inglês nylon – se deve principalmente ao trabalho de W. H. Carothers e seus colaboradores nos Estados Unidos, que sintetizaram a primeira poliamida náilon 6.6 em 1935, a partir da poli condensação de hexametileno diamina com ácido adípico. A produção comercial para aplicação de fibras têxteis foi iniciada pela DuPont em 1940, enquanto o plástico para moldagem, apesar de ser produzido em 1941 tornou-se popular em 1950. Para evitar os direitos das patentes da DuPont, os químicos alemães iniciaram investigações independentes no fim do ano de 1930 com os possíveis polímeros sintéticos têxteis, e o resultado foi o lançamento bem sucedido do náilon 6. Juntos, os náilons PA 6 e PA 6.6 são responsáveis pela maior parte da produção das poliamidas que incluem os náilons 6.10, náilon 11, náilon 12 e outros. A produção das poliamidas utilizada para aplicações em peças plásticas é da ordem de 12% da produção total. As poliamidas PA 6 e PA 6.6 e os seus tipos reforçados com fibras de vidro, e em menor escala as demais poliamidas, são consideradas os principais termoplásticos de engenharia, sendo responsáveis nos Estados Unidos, por 30% do consumo total dos termoplásticos. O náilon provocou um verdadeiro alvoroço no mercado norte-americano no final da década de 30, particularmente entre as mulheres, já que as meias de náilon eram mais baratas do que as de seda, não amassavam e secavam mais rápido. Apesar de ter sido a primeira fibra têxtil sintética a ser produzida, o náilon continua, até hoje, entre as mais importantes. A partir de fios desse polímero fabricavam-se o velcro, os tecidos usados nas meias para mulheres, nas roupas intimas, em maiôs e biquínis, e em linhas de pesca, graças à sua ótima resistência ao desgaste e ao tracionamento. (WIEBECK, 2005.) 3.1.1 Vantagens e desvantagens As resinas de poliamida apresentam várias propriedades que as colocam, no campo da aplicação, como um dos materiais mais nobres, técnicos e versáteis. Todas as poliamidas são higroscópicas, isto é absorvem água, contudo, são 36 altamente impermeáveis a gases (CO, CO2, O2, N2, NH3, etc.). A tabela 3, compara as vantagens e desvantagens da Poliamida. (WIEBECK, 2005.) Tabela 3 - Comparativa das vantagens e desvantagens da Poliamida. Vantagens Desvantagens Dispensa usinagem e rebarbação Limite na temperatura de trabalho São mais leves Baixa resistência a ácidos inorgânicos (nítrico, clorídrico, sulfúrico, etc.) Alta resistência à fadiga Baixa resistência a álcoois aromáticos (álcool benzílico, fenóis, cresóis, etc.) Boa resistência ao impacto Alta temperatura de fusão Baixo coeficiente de atrito Resistência a intempéries Ótimas propriedades mecânicas São recicláveis Fonte: WIEBECK, 2005. 3.1.2 Tipos de poliamidas As resinas de poliamida podem ser divididas em dois grupos distintos e caracterizadas pela matéria-prima à qual se deu origem. No primeiro grupo encontrem-se aquelas polimerizadas a partir de uma Diamina e de um Diácido. Por exemplo: Poliamida 6.6; 6.10; 6.12; etc. No segundo grupo encontram-se as polimerizadas a partir de um aminoácido. Por exemplo a poliamida 6.11, 12, conforme tabela 4. 37 Tabela 4 - Tipos de Poliamida. Tipo Fórmula- Manômero - Denominação Cadeia da poliamida 6 NH(CH2)5 CO - Caprolactama (...NH(CH2)5 CO...) n 11 NH2(CH2)10 COOH – Ácido Amino Undecanóico (...NH2(CH2)10 CO...) n 12 NH (CH2)11 CO - Laurilactama (...NH(CH2)11 CO...) n 6.10 NH2 (CH2)6 NH2 + COOH(CH2)8 – Hexametileno + COOH(CH2)8 COOH + ácido sebáceo (.NH(CH2)6 NHCO(CH2)CO.) n 6.12 NH2(CH2)6NH2+COOH(CH2)10COOH- Hexametileno amina ácido duodecanóico (.NH(CH2)6NHCO(CH2)10 CO.) n Fonte: WIEBECK, 2005. Naturalmente, existem outros tipos de poliamida, como a Poliamida 13, Poliamida 6.9, Poliamida 8, Poliamida 100, entre outras. (WIEBECK, 2005.) 3.1.3 Polimerização das Poliamidas 6.0 e 6.6 Apesar das poliamidas 6 e 6.6 não serem obtidas da mesma matéria-prima, as suas moléculas são bastante parecidas, diferenciando-se apenas pelo número de átomos de carbono presentes na molécula. O grupo funcional amida (CONH) é característico para todas as poliamidas. E as macromoléculas de PA 6, PA 11 e PA 12 são constituídas de apenas uma única base que possui o número de átomos de carbono correspondente ao número de átomos de carbono correspondente ao número da poliamida. A PA 6, por exemplo, é obtida a partir da Caprolactama, que é um composto orgânico que possui 6 átomos de carbono na sua composição, originando a PA 6 também constituída por 6 átomos de carbono. As poliamidas PA 4.6, PA 6.6, PA 6.9, PA 6.10 e PA 6.12 são constituídas de dois materiais base, cada um com um número de átomos de carbono correspondente ao número da poliamida. A PA 6.6 por exemplo é obtida a partir do ácido adípico, que possui 6 átomos de carbono, sendo assim a PA 6.6 possui 12 átomos de carbono, originários de cada uma das matérias-primas que o constitui conforme Figura 9. 38 Figura 9 – Estrutura do náilon 6 (a) e náilon 6.6 (b) Fonte: WIEBECK, 2005. A polimerização da Caprolactama para produção do PA 6 ocorre somente com a presença de água, as temperaturas acima de 200°C. As reações ocorridas estão representadas a seguir, na Figura 10. Figura 10 – Obtenção do PA 6 Fonte: WIEBECK, 2005. A polimerização do ácido adípico e do hexametilenodiamina para a produção de PA 6.6, dá-se em etapas e por policondensação, como mostra a Figura 11. (WIEBECK, 2005.) 39 Figura 11 – Obtenção do PA 6.6 Fonte: WIEBECK, 2005. 3.1.4 Relação estrutura e propriedades As poliamidas alifáticas, tais como os náilons 6, 6.6, 6.10, 11 e 12, são polímeros lineares, e, desse modo, termoplásticos. Contêm grupos amida polares (CONH) espaçados regularmente e, por isso, cristalizam com alta atração intermolecular. Essas cadeias poliméricas também possuem segmentos de cadeia alifáticos que conferem uma certa flexibilidade na região amorfa. Deste modo, a combinação de alta atração intercadeias, nas zonas cristalinas e flexibilidade nas zonas amorfas, faz com que esses polímeros sejam tenazes acima de suas temperaturas de transição vítrea. A estrutura cristalina depende do arranjo das cadeias moleculares. Se o arranjo for altamente ordenado tridimensionalmente, o polímero tem um alto grau de cristalinidade. E depende, em primeira instância, da concentração dos grupos amida e da simetria molecular. As unidades repetitivas mais curtas entre os grupos da amida (CONH) permitem às cadeias poliméricas se colocarem numa conformação zig-zag planar compacta, com ligações de hidrogênio (pontes de hidrogênio) entre elas. As unidades repetitivas mais longas, isto é, maior distância entre os grupos repetitivos (CONH), tal como no caso do náilon 11, diminuem a atração molecular (menor cristalinidade e menor ocorrência de ligações de hidrogênio) e, 40 consequentemente, reduzem a capacidade de cristalização, e também as propriedades do polímero, em relação à resistência mecânica e térmica. Porém, apresentam superior resistência à absorção de água. As poliamidas de unidades repetitivas mais curtas (maior número de pontes de hidrogênio), tal como no caso de PA 6 e PA 6.6, apresentam altos valores de absorção de água em relação às poliamidas 6.10, 11 e 12. As influências do grau de cristalinidade das poliamidas é marcante nas propriedades físicas do material, Tabela 5. No entanto, o efeito da cristalinidade difilmente pode ser discutido independentemente da absorção de água pelas poliamidas, devido à natureza higroscópica das ligações hidrogênio que se transformam em hidroxilas. A presença de água funciona como plastificanteno polímero, separando as cadeias moleculares e diminuindo a cristalinidade e a temperatura de transição vítrea (Tg) do polímero de um valor da ordem de 50°C para 0°C. Consequentemente, se reduz, e por outro lado, aumenta-se a resistência ao impacto e a tenacidade dos mesmos. A absorção de água interfere na cinética de cristalização dos náilons. Como a Tg da PA 6.6 rigorosamente seca é da ordem de 50°C, e com absorção normal de umidade este valor influi na cinética de cristalização pós-moldagem, que prossegue muito lentamente, resultando em efeitos de encolhimento pós-moldagem, que irão estabilizar somente num período não inferior a dois anos. No caso de PA 6 este efeito negativo é menos marcante. Tabela 5 – Influência do grau de cristalinidade nas poliamidas Influência do grau de cristalinidade nas poliamidas Propriedades que aumentam Propriedades que diminuem Densidade Módulo de elasticidade Resistência à tração Dureza e resistência à abrasão Tm Tg Resistência Química Propriedades elétricas Resistência ao impacto Tenacidade Permeabilidade Fonte: WIEBECK, 2005. 41 A interação entre o grau de cristalinidade e o teor de umidade do polímero é um fator crítico, pois apresentam efeitos opostos nas propriedades físicas, químicas e mecânicas dos náilons. De um lado, o aumento na cristalinidade significa superiores propriedades de resistência (tração, rigidez e fluência), alta dureza e resistência a abrasão, menor absorção de água e encolhimento pós-moldagem, boas propriedades elétricas e químicas. De outro lado, se a absorção de água reduz o grau de cristalinidade, deteriorando as características do polímero acima referidas, apresentam porém vantagens de superior tenacidade e resistência ao impacto. Visto que a PA 6 e a PA 6.6 somente atingem a tenacidade ótima após estabilização com 1-2% de umidade, seus produtos não podem ser colocados imediatamente em serviço. A alta densidade de energia coesiva e a estrutura cristalinda das poliamidas resultam em boa resistência química, sendo que, quanto maior o grau de cristalinidade, mais alta será a resistência dos náilons ao ataque químico. (WIEBECK, 2005.) Figura 12 – Esquema da absorção de água pelas poliamidas Fonte: WIEBECK, 2005. 3.1.5 Propriedades características As principais diferenças nas propriedades das poliamidas de interesse comercial dão apresentadas na tabela 6 a seguir: 42 Tabela 6 – Propriedades das poliamidas Propriedades PA 6 PA 11 PA 12 PA 6.6 PA 6.10 PA 6.12 Temperatura de fusão (°C) 215 185 177 252 215 210 Densidade (g/cm3) 1,14 1,04 1,02 1,15 1,08 1,07 Resistência à tração (Mpa) 83 55 52 83 62 59 Módulo de flexão (Mpa) 2758 1241 1172 2826 2413 1999 Absorção de água (%) em 24 horas de imersão 1,7 0,3 0,25 1,5 0,5 0,4 Fonte: WIEBECK, 2005. Como citado anteriormente, a combinação do grau superior de cristalinidade e o maior número de ligações de hidrogênio nas PA 6 e PA 6.6, conduzem a uma superior atração intermolecular, e consequentemente, no aumento da resistência mecânica e térmica desses náilons em relação às PA 6.10, PA 11, PA 12 e outras de unidades repetitivas mais longas. No entanto, estas últimas poliamidas são mais resistentes à absorção de água. De acordo com a tabela 7 a seguir, as propriedades do náilon 6.6 são levemente superiores às do náilon 6 quanto a resistência térmica e absorção de água. No entanto, o náilon 6 apresenta vantagens de melhor facilidade de processamento, devido a sua temperatura de fusão inferior e ao fato de apresentar menor encolhimento pós-moldagem. 43 Tabela 7 – Comparação das propriedades do PA 6 x PA 6.6 Propriedades PA 6 PA 6 30 FV PA 6 30 MEV PA 6 30 CM PA 6.6 PA 6.6 30 FV PA 6.6 30 MEV PA 6.6 30 CM Temperatura de fusão (°C) 220 220 220 220 260 260 260 260 Densidade (g/cm3) 1,14 1,35 1,38 1,38 1,14 1,35 1,38 1,38 Resistência à tração (Mpa) 65 a 80 150 65 a 80 65 a 80 80 a 90 170 70 a 75 70 a 75 Módulo de flexão (Mpa) 2800 9000 6 a 7000 5500 2800 8900 6 a 7000 6 a 7000 Flamabilidade (UL 94) V2 HB HB HB V2 HB HB HB Fonte: WIEBECK, 2005. FV = fibra de vidro MEV = microesfera de vidro CM = carga mineral Uma das principais características dos náilons está em sua excelente resistência a abrasão e autolubrificação, principalmente em moldados com alto grau de cristalinidade, o que induz alta dureza superficial. Devido a sua natureza polar cristalina, as poliamidas 6 e 6.6 apresentam excepcional resistência aos hidrocarbonetos, porem são atacadas por ácidos minerais de média-alta concentração, de acordo com o tipo de náilon. (WIEBECK, 2005.) 3.1.6 Características térmicas das poliamidas Uma das características das poliamidas está na sua temperatura de fusão. Em temperaturas abaixo da fusão, o material ainda está solido; e a temperaturas acima deste ponto, ele se torna fluido. Aliado a esta característica, a alta temperatura de fusão das poliamidas permite que elas sejam utilizadas em temperaturas de trabalho relativamente altas. A seguir, na tabela 8, aparecem, de maneira geral, as temperaturas limites de trabalho das poliamidas 6 e 6.6 e copolímeros. 44 Tabela 8 – Temperaturas limites de trabalho das poliamidas 6 e 6.6 Poliamida Trabalho Continuo °C Trabalho Esporádico °C Temperatura de Fusão °C PA 6.6 80 A 100 150 A 170 255 A 260 PA 6 80 A 100 140 A 160 217 A 223 PA6.6/6 80 A 100 140 A 160 240 A 250 PA6/6.6 50 A 70 80 A 100 180 A 190 Fonte: WIEBECK, 2005. As resinas não possuem uma perfeita estabilidade à oxidação, quando submetidas ao calor e aos raios ultravioletas presentes no meio ambiente. A sensibilidade à oxidação é muito alta quando o polímero está no estado de fusão. A exposição prolongada ao meio ambiente causa considerável amarelecimento, acompanhado pelo fenômeno de degradação. Abaixo da temperatura de fusão essa sensibilidade diminui de acordo com a queda da temperatura. No entanto, em temperaturas que excedem 70°C a 80°C, a superfície do produto pode se tornar amarelada. Em geral, sob condições de temperatura de trabalho, a variação de cor possui apenas um efeito superficial, não provocando mudanças significativas nas propriedades do produto acabado, especialmente se a espessura não for particularmente pequena. Mesmo os raios ultravioletas têm um certo efeito nas poliamidas. Para prevenir esses fenômenos, as resinas de poliamida são desenvolvidas e estabilizadas com aditivos específicos para essa aplicação. (WIEBECK, 2005.) 3.1.7 Características elétricas Na transição de um estado seco para um estado contendo um nível normal de umidade, as poliamidas sofrem um decréscimo nas propriedades elétricas de isolamento. Um decréscimo similar ocorre quando a temperatura aumenta. Isso não impede, no entanto, que esses polímeros sejam largamente empregados em aplicações de baixa tensão. (WIEBECK, 2005.) 3.1.8 Resistência química das poliamidas 6.0 e poliamidas 6.6 As poliamidas têm uma boa resistência a hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos; a óleos vegetais, animais, minerais e as gorduras; sais em soluções 45 neutras ou alcalinas; cetonas; ésteres; álcoois; ácidos orgânicos; exceto ácido fórmico. Mas possuem uma resistência limitada a soluções diluídas de ácidos inorgânicos e alguns hidrocarbonetos clorados. Elementos como, ácido acético, ácido fórmico concentrado, fenóis e cresóis dissolvem o polímero. A resistência química de materiais altamente cristalinos é, em geral, pouco maior do que os correspondentes produtos amorfos. (WIEBECK, 2005.) 3.1.9 Compostos e compósitos com náilon Assim como outros termoplásticos, as poliamidas também são modificadas com aditivos, cargas, esforços, etc., com o objetivo de melhorar algumas propriedadespara determinados tipos de aplicações. Os agentes modificadores podem ser classificados em: reforços, cargas minerais, pigmentos, estabilizantes, lubrificantes e modificadores de impacto. (WIEBECK, 2005.) 3.1.10 Termoestabilizantes / Antioxidantes São utilizados para proteção dos polímeros quanto à degradação termo- oxidativa durante o processamento ou uso da peça. Têm a vantagem de permitir a pigmentação do termoplástico em qualquer tonalidade, uma vez que não interferem em sua cor original. Para o caso da poliamida 6, ocorrerá degradação se, durante o processamento, o material for exposto a temperaturas acima de 270°C. Estas reações de oxidação podem ser inibidas pela adição de substâncias estabilizadoras. Estes compostos são usados em termoplásticos durante ou após a polimerização, e possuem característica redutora, não permitindo a oxidação do termoplástico. (WIEBECK, 2005.) 3.1.11 Antiultravioleta Estes aditivos são utilizados para proteger o polímero contra a degradação foto-oxidativa (luz + oxigênio). Este tipo de degradação pode modificar o polímero atingido desde aspectos visuais até suas propriedades físicas e mecânicas. A 46 inibição dessas reações de degradação tem considerável importância técnica e econômica. Caso contrário, as possíveis aplicações de vários plásticos seriam drasticamente reduzidas. Os aditivos anti-UV mais importantes são do tipo benzofenona e benzotriazol. Existem produtos específicos que não alteram a cor e a aparência do termoplástico. O negro-de-fumo pode ser usado quando a peça for preta. (WIEBECK, 2005.) 3.1.12 Antichama São utilizados principalmente em termoplásticos com aplicação na indústria automobilística, com a intenção de eliminar ou retardar a propagação do fogo. Atualmente, os mais utilizados são aqueles à base de halogênios (bromo, cloro). Em geral, são usados em conjunto com óxidos, propiciando em efeito de sinergismo, melhorando o desempenho do aditivo. Suas principais aplicações são componentes de aparelhos elétricos, peças internas de geladeiras, televisores, etc. O uso deste tipo de aditivo pode comprometer algumas propriedades mecânicas e melhorar propriedades térmicas. (WIEBECK, 2005.) 3.1.13 Antiestáticos Utilizados principalmente para minimizar os problemas de carga estática em materiais destinados à produção de filmes, evitando o acúmulo de partículas de poeira, prejudiciais à adesão superficial de tintas, por exemplo. São compostos à base de aminas ou ésteres de ácidos graxos e da mesma forma que os antioxidantes, permitem a coloração dos termoplásticos. Podem ser incorporados ao produto por imersão ou extrusão, sendo que a incorporação por extrusão produz um efeito mais duradouro. Além disso, quando adicionados aos termoplásticos, podem ser produzidas peças com superfícies sem porosidade. (WIEBECK, 2005.) 47 3.1.14 Agentes nucleantes São aditivos utilizados para diminuir o ciclo de processamento. Eles atuam aumentando os pontos de nucleação, produzindo um maior número de cristalitos de tamanho pequeno, resultando em boas propriedades em termos estruturais. A contração também se torna mais homogênea. A diminuição do ciclo ocorre porque é possível reduzir o tempo de resfriamento sem prejudicar a cristalinidade da peça. Materiais como sílica fina precipitada são comumente utilizados como agentes de nucleação. (WIEBECK, 2005.) 3.1.15 Lubrificantes Externos: são adicionados após a granulação do material tendo portanto ação limitada. São incompatíveis com o polímero localizando-se em sua superfície. Internos: são adicionados à massa do termoplástico tendo portanto ação prolongada. Proporcionam um acabamento superficial deslizante, reduzindo o coeficiente de atrito da peça com outros materiais. Os mais utilizados são: Grafite – altera as propriedades elétricas do termoplástico (aumenta a condutividade). Além disso, melhora as propriedades para trabalhos a seco, reduz a absorção de água e melhora a estabilidade dimensional. Confere tonalidade cinza ao náilon. Muito utilizado na fabricação de engrenagens, de roldanas, de buchas e capas de rolamentos. Bissulfeto de Molibdênio – quando utilizado, confere ao náilon ótima fluidez, resistência à abrasão e características de lubrificação superiores às do grafite. É usado em pequenas concentrações e também dá ao termoplástico uma tonalidade cinzenta. Tem a desvantagem de possuir custo elevado. Politetrafluoretileno (Teflon) – utilizado quando a condutividade elétrica é indesejável. (WIEBECK, 2005.) 3.1.16 Desmoldantes São utilizados para facilitar a desmoldagem de peças indesejadas. Os componentes mais usados para este fim são: estearatos metálicos, silicones e ceras. 48 Estes aditivos formam uma camada sobre a superfície da peça, o que facilita sua retirada do molde. Além disso, auxiliam o fluxo do polímero nos processos de extrusão e injeção, funcionando como auxiliares de processamento. (WIEBECK, 2005.) 3.1.17 Modificadores de impacto A resistência ao impacto é uma das propriedades de maior importância na indústria do plástico. O náilon 6.0, por exemplo, não possui resistência tão boa ao impacto. Estes modificadores, quando adicionados ao náilon, objetivam a diminuição da propagação de trincas através do produto, melhorando assim suas propriedades de impacto. Isto é conseguindo, principalmente, através da obtenção de blendas com elastômeros pois estes na matriz de poliamida absorvem energia e diminuem a velocidade de propagação das trincas. (WIEBECK, 2005.) 3.1.18 Copolimeros 6.6/6. 6/6.6 Copolímeros são a polimerização de dois ou mais monômeros, ou através de uma mistura no estado fundido dos homopolímeros em agitação constante, até que as reações de transmutação permitam a obtenção de um copolímero estatístico. Como característica dos copolímeros, podemos ressaltar uma mudança na temperatura de fusão do polímero, maior flexibilidade e transparência e menor absorção de água pois aumenta a corrente de hidrocarbonetos. As várias possibilidades de combinação de monômeros, permitem formular produtos para as mais diversas aplicações, tanto para extrudados como para injetados, desde os requisitos de alta resistência química até para contato com produtos alimentícios. 3.1.19 Características de processamento O processamento do náilon requer cuidado especial devido aos seguintes fatores: Natureza higoscópica da resina; 49 Alta temperatura de fusão cristalina e baixa viscosidade na temperatura de processamento; Tendência à oxidação a temperaturas elevadas de processamento; Alto grau de cristalinidade e, consequentemente, grande encolhimento no resfriamento. Estas características requerem cuidados especiais por parte dos processadores, como estufagem prévia dos grânulos a temperaturas entre 70°C - 90°C. As injetoras devem ser projetadas para evitar “pontos mortos” no fluxo do polímero fundido que levam a oxidação do material. Devido à baixa viscosidade, os bicos das injetoras devem apresentar sistemas de bloqueio para evitar vazamentos. Além disso, altas pressões de empacotamento devem ser mantidas para minimizar o efeito do alto grau de concentração do polímero no resfriamento, e portanto, compensar as perdas volumétricas. As temperaturas do molde e os tempos de resfriamento nos ciclos de moldagem das poliamidas são críticos, visto que o grau de cristalinidade depende da taxa de resfriamento. Para reduzir os ciclos de resfriamento e ao mesmo tempo atingir alta cristalinidade nos moldados, as resinas PA 6 e PA 6.6 são fornecidas com agentes de nucleação que precipitam rapidamente um maior número de esferolitos de dimensões menores e de características morfológicas superiores, resultando em melhores propriedades de resistência nos produtos acabados. Existem vários tipos de agentes de nucleação
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