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Estudo das Relações Ético-Raciais para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena 02 1. Conceitos de Raça e Etnia, Preconceito e Discriminação: Como o Estado vem Tratando estas Questões no Brasil Atual? 4 2. Raça, Etnia e Cor no Brasil 13 3. As Cotas Raciais 22 4. Referências Bibliográficas 31 03 4 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA 1. Conceitos de Raça e Etnia, Preconceito e Discri- minação: Como o Estado vem Tratando estas Questões no Brasil Atual? Fonte: Diferença1 os dias atuais é muito comum o debate sobre a existência de conflitos étnico raciais, os quais se resultam em episódios de violência e morte. É corrente a informação na história da humanidade muitos po- vos foram escravizados, mortos e so- freram as mais terríveis torturas que se pode explicitar em livros de histó- ria. Dentre estes tipos de violência podemos destacar a questão racial e étnica, as quais foram importantes combustíveis para fomentar a vio- lência entre povos. 1 Retirado em https://www.diferenca.com/raca-e-etnia/ Em nossa apostila optamos por analisar cada critério e diferen- ciá-lo em sua particularidade para que possamos ter uma dimensão de como este problema foi instituciona- lizado a ponto de promover a elimi- nação de um grupo étnico com base em suas características físicas e na cor de sua pele. Para ilustrar este primeiro momento trazemos a luz um impor- tante material produzido por Dalila Fernandes de Negreiros sobre rela- ções étnico raciais o qual a referida autora informa que “a partir da N 5 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA Constituição de 1988, há uma nova etapa no desenvolvimento das polí- ticas de educação.”2 Esta etapa pode ser ilustrada com novas diretrizes legais que ver- sam sobre as questões étnico raciais que mencionamos aqui neste es- tudo. A referida autora reitera que “o texto constitucional classifica a educação como política social uni- versal, com o objetivo de formar os estudantes para a vida e para o mer- cado de trabalho.” Idem, Ibidem. Pág. 82. É importante salientar da nossa parte que no momento em que se cria uma política pública social universal está se privilegiando exa- tamente a chamada “inclusão social” para proporcionar aos estudantes o acesso à educação. Nestes termos a autora deste estudo informa também que “há também a ratificação do princípio da igualdade, do padrão de qualidade e do respeito à diversidade” Idem, Ibi- dem. Pág. 82. Estes últimos valores mencionados pela referida autora deste estudo estão presentes tam- bém em nossa constituição federal a qual vale ser ilustrada para que se possa verificar sua consonância e 2 NEGREIROS, Dalila Campos de. Educação das relações étnico-raciais: Análise da formação de docentes por meio dos programas UNIAFRO e Africanidades. Planejamento e Políticas Públicas | PPP | n. 48 | jan./jun. 2017. Disponível em: http://reposito- rio.ipea.gov.br/bitstream/11058/7997/1/ppp_n48_educa%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 08/09/2021. Pág. 82. 3 Artigo 205 da Constituição Federal. Disponível em: https://www.senado.leg.br/ativi- dade/const/con1988/con1988_08.09.2016/art_205_.asp. Acesso em: 08/089/2021 ressonância com a linha constitucio- nal. Veja o que diz a carta constituci- onal: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da fa- mília, será promovida e incenti- vada com a colaboração da soci- edade, visando ao pleno desen- volvimento da pessoa, seu pre- paro para o exercício da cidada- nia e sua qualificação para o trabalho.3 Com base na ilustração do dis- positivo jurídico acima pode-se afir- mar que a educação não é um privi- légio, onde determinados cidadãos possuirão tratamento especial dian- te dos demais, mas um direito de to- dos os cidadãos colocando-os em es- tado de igualdade. A autora do estudo também reforça que “a educação com res- peito à diversidade é uma meta ins- titucional proposta na Constituição e reforçada posteriormente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 (Lei no 9.394/1996)” Idem, Ibidem. Pág. 82. Da nossa parte é imperioso afirmar o quanto os dispositivos le- gais são importantes para reforçar as diretrizes do Estado para assegu- 6 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA rar o direito à educação e os cuida- dos que se devem ser tomados para que o processo de inclusão social amparado pelo processo que versa sobre as relações étnico raciais dão direção ao processo de cidadania nos dias atuais. Ela também argumenta em seu estudo que “segundo o texto ori- ginal da LDB, o currículo escolar de- ve ter uma base comum que condiga com os valores culturais do país e o respeito às características regionais no currículo específico de cada re- gião.” Idem, Ibidem. Pág. 82. Da nossa parte, podemos afir- mar que essa assertiva jurídica da lei é muito importante para a chamada construção da identidade cultural de um povo, onde os costumes que são derivados da tradição cultural deste povo podem ser preservados ao mesmo tempo em que dão a identi- dade e ainda garantem seu processo de inclusão na sociedade. Nestes termos, estes dispositi- vos legais estarão oferecendo não somente a preservação das tradições e da história de nosso povo como também oferecendo um importante instrumento que assegure a inclusão e combatem o preconceito, a discri- minação religiosa, que também po- de ser exemplificada nestes trâmites legais. Dentro deste espectro, a auto- ra deste estudo salienta que “tam- bém é indicada a necessidade do en- sino da história do país que inclua e contemple a participação de pessoas negras e indígenas em sua forma- ção.” Idem, Ibidem. Pág. 82. Esta afirmativa corrobora exa- tamente com o que afirmamos no parágrafo anterior desta apostila, o qual mencionamos que a história de nosso país seria privilegiada por pre- servar as tradições culturais ao mes- mo tempo em que garantia às pes- soas o direito de ser. É muito importante da nossa parte chamar a atenção para este fa- to e esta interpretação que relaciona a história com a preservação das tra- dições culturais, uma vez que nos dias atuais o processo de expansão das atividades comerciais e a moder- nização ganham espaço e força para que o mundo acompanhe as evolu- ções da modernidade seguindo mo- dismos e muitas das vezes eliminan- do o espaço para as tradições cultu- rais do passado. Dentro de nossa ótica apresen- tada neste estudo, queremos chamar a atenção para o fato de que a pre- servação garante o processo de in- clusão e o “direito de ser” do ser hu- mano. Mas o que vem a ser o cha- mado “direito de ser” do ser huma- no? É exatamente o direito de lhe ser assegurado a sua prática cultural que durante todo o transcorrer da 7 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA história da evolução de seu povo au- xiliou no processo de construção de sua identidade. Garantir a estas pessoas e gru- pos este direito é assegurar a preser- vação de sua identidade cultural frente aos desafios que a moderni- dade e os modismos do tempo pre- sente oferecem. Por outro lado, vale aqui men- cionar também o fato de que esta preservação de tradição cultural é também um excelente mecanismo de geração de empregos que alimen- ta o turismo e promove uma impor- tante fluidez do mercado que asse- gura a sobrevivência de pessoas esti- mulando também o artesanato, as artescênicas dentre outras ativida- des culturais que não serão focaliza- das no estudo que estamos levan- tando. Senegalês faz sucesso no Brasil com peças artesanais com estética africana Fonte: https://revista- pegn.globo.com/Empreendedo- rismo/noticia/2018/07/senegales-faz- sucesso-no-brasil-com-pecas-artesa- nais-com-estetica-africana.html. Dentro desta linha de raciocí- nio, Dalila Campos Negreiros afirma que “a questão racial ganha algum destaque no que tange ao aspecto curricular dentro do debate da edu- cação” Idem, Ibidem. Pág. 82. Prin- cipalmente, segundo esta autora, “em função da participação de enti- dades do movimento negro e de or- ganizações indígenas na proposição de políticas públicas.” Idem, Ibidem. Pág. 82. É importante acrescentar que uma situação está ligada diretamen- te a outra. A participação de uma en- tidade cultural está diretamente re- lacionada à preservação desta cul- tura e destes costumes, como viemos apresentando no decorrer desta apostila e estes fatores são impor- tantes mecanismos para assegurar a comunidades afro e indígenas em um país como o Brasil a preservação de seus costumes na mesma propor- ção em que lhe garante o que chama- mos anteriormente o “direito de ser” e principalmente um importante mecanismo que assegura a sua so- brevivência frente aos desafios da economia de mercado que estamos vivenciando na atualidade. Como viemos apresentando no transcorrer desta apostila, tudo isso é resultado de um processo que envolve respeito ao semelhante, pre- servação cultural, formação da iden- tidade, garantia de proteção do Esta- 8 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA do da identidade cultural, inclusão social, cultural, política e econômica de um povo para assegurar os cha- mados direitos e princípios da equi- dade na sociedade. Dalila Campos Negreiros afir- ma também em seu estudo que “a LDB estabelece que o ensino de his- tória deva considerar as matrizes africanas, indígenas e europeias da formação do Brasil” Idem, Ibidem. Pág. 82. Veja o que diz o documento que sustenta a afirmação da referida autora: Art. 1º O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a se- guinte redação: “Art. 26-A. Nos estabelecimen- tos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e priva- dos, torna-se obrigatório o es- tudo da história e cultura afro- brasileira e indígena. § 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo inclu- irá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasi- leira, a partir desses dois gru- pos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos afri- canos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasi- leira e o negro e o índio na for- mação da sociedade nacional, resgatando as suas contribui- ções nas áreas social, econômi- ca e política, pertinentes à his- tória do Brasil. 4 LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2008/lei/l11645.htm. Acesso em: 09/09/2021. § 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasilei- ra e dos povos indígenas brasi- leiros serão ministrados no âm- bito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educa- ção artística e de literatura e história brasileiras.” (NR) Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 10 de março de 2008; 187o da Independência e 120o da República. 4 Como se verifica nos fragmen- tos legais acima expressos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Bra- sileira, a LDB, os estudos relativos a história da cultura afro brasileira e indígena são garantidos por lei para que as identidades culturais de nos- so povo possam ser asseguradas dentro do aprendizado das gerações do presente e do futuro. A importância da preservação destes valores para a formação da identidade cultural de um povo aju- da a combater o preconceito e à dis- criminação étnico racial tão presen- te como argumentam os autores que se debruçam sobre essa temática no transcorrer de nossa história. Dando continuidade ao pro- cesso de análise deste tema conferi- do por Dalila Campos Negreiros, a referida autora informa em seu es- tudo que “de 1989 a 1996, foram promulgadas sete leis de estados, 9 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA municípios e do Distrito Federal ins- tituindo a inclusão da história afro- brasileira no currículo escolar” Idem, Ibidem. Pág. 82. Estes dados levantados pela referida autora chamam a atenção para o fato de que com a prática da lei prevista pela LDB citada no pará- grafo anterior as escolas e municí- pios brasileiros começaram a reali- zar um importante trabalho de cons- cientização sobre a temática desen- volvida e as prefeituras das cidades interioranas começaram a desenvol- ver processos legais com a criação de leis municipais para proteção ao pa- trimônio cultural material e imaterial. A defesa destes patrimônios materiais e imateriais (tema estes que serão desenvolvidos em outro material de estudo) dentro do âm- bito municipal ofereceram situações essenciais para assegurar o “direito de ser” dos grupos afro e indígena do Brasil, os quais ganharam notorie- dade para outras atividades legais que versam sobre sua preservação e inclusão na sociedade. Este foi um importante passo na direção da criação de dispositivos legais que versam e garantem a cida- dania das pessoas ao mesmo tempo que promove a interação cultural de nosso povo. Com base nestes elementos, Dalila Campos Negreiros afirma que “os objetivos da educação das rela- ções étnico-raciais são possibilitar o reconhecimento de pessoas negras na cultura brasileira.” Idem, Ibidem. Pág. 82. E em detrimento desta linha de raciocínio ela afirma que é impor- tante também “promover o conheci- mento da população brasileira sobre a história do Brasil com a visão de mundo da população negra” Idem, Ibidem. Pág. 82. Creche na Cidade de Deus realiza projetos pautados na história da cultura Afro Brasileira Fonte: https://www.vozdascomuni- dades.com.br/comunidades/creche- na-cidade-de-deus-realiza-projetos- pautados-na-cultura-afrobrasileira/. Outro ponto bastante impor- tante mencionado por Dalila Cam- pos Negreiro diz respeito ao traba- lho dos professores nas escolas. Se- gundo a autora deste estudo, é muito importante “formar os professores para ministrarem disciplinas que contemplem a perspectiva negra na 10 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA história, cultura e sociabilidade do país” Idem, Ibidem. Pág. 82. Com base neste raciocínio, a história da cultura afro e indígena no Brasil será construída tendo como ponto de partida a percepção de mundo destes povos para que dentro deste processo de “construção de co- nhecimento” ele, o aluno possa co- nhecer a visão de mundo destes po- vos para assim ser oportunizado a não entrar em conflito cultural atra- vés de comparações que colocariam em choque as culturas. Da nossa parte, podemos dizer que este é um dos principais fatores que promovem o preconceito e a dis- criminação dentro do ambiente cul- tural. O desconhecimento da visão de mundo do outro proporciona um choque de culturas que culmina no preconceito, na discriminação e em toda a sorte, para não dizer o azar, dos conflitos por questões de ordem cultural que existem em nossa soci- edade. Em outras palavras podería- mos dizer que este raciocínio desen- volvido dentro da estrutura legal do Estado vem oferecendo situações es-senciais para combater o precon- ceito e a discriminação étnico racial até nos dias atuais. A autora deste estudo também argumenta que “a educação das rela- ções étnico-raciais visa também ca- pacitar os professores como comba- ter e discutir sobre o racismo e seus efeitos (dentro e fora do ambiente escolar)” Idem, Ibidem. Pag. 82. E, finalmente, “propiciar a reeducação para relações étnico-raciais plurais e diversas” Idem, Ibidem. Pag. 82. Fato interessante que reforça a importância desta reflexão trabalha- da pela referida autora diz respeito ao trabalho dos professores dentro da sala de aula dando um enfoque importante na cultura destes povos e nos costumes de cada povo dentro da mais tenra idade. Como vimos em uma imagem postada acima sobre um trabalho desenvolvido em uma creche na Ci- dade de Deus, uma comunidade da cidade do Rio de Janeiro, podemos perceber o quanto é importante de- senvolver estas atividades com cri- anças para que o preconceito possa ser extirpado da sociedade já desde os primeiros momentos de desen- volvimento da criança. Este tipo de trabalho, como foi argumentado pela autora deste es- tudo se torna de grande relevância para a eliminação de todos os confli- tos de ordem política e ideológica proporcionando assim uma geração de pessoas para o futuro onde o ra- cismo e o preconceito e seus deriva- dos que proporcionam instabilidade social possam desaparecer ao sabor do tempo e das atividades pedagógi- cas. 11 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA Saberes e Fazeres: Ancestrais e Tradicionais - Indígenas e Africanos Fonte: https://www.sed.ms.gov.br/sa- beres-e-fazeres-ancestrais-e-tradici- onais-indigenas-e-africanos-sao-te- maticas-de-feira-na-e-e-luisa-vidal- borges-daniel/. Ao analisar a imagem acima, temos a dimensão de quão impor- tante é o desenvolvimento destas atividades pedagógicas dentro do ambiente escolar desde a infância, a adolescência e a vida adulta do aluno brasileiro. Dalila Campos Negreiro tam- bém afirma que “a educação das re- lações étnico-raciais é uma política pública que surge em um período es- pecialmente profícuo para políticas de combate ao racismo no governo federal.” Idem, Ibidem. Pág. 83. E tais ações, segundo ela, “articulam- se por um conjunto de diretrizes pa- ra o enfrentamento ao racismo e pa- ra a promoção da população negra.” Idem, Ibidem. Pág. 83. As assertivas levantadas pela referida autora corroboram com a nossa análise levantada nos pará- grafos anteriores que versam sobre o combate ao racismo e a discrimina- ção. Pois o trabalho das escolas é fundamental para a construção de uma sociedade inclusiva e mais justa frente aos desafios levantados no transcorrer de nossa história. 13 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA 2. Raça, Etnia e Cor no Brasil Fonte: Projeto Draft5 ste segundo tópico desta apos- tila tem como princípio básico apresentar um levantamento de da- dos feitos por Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva em seu estudo in- titulado: “Educação das Relações Ét- nico-Raciais nas instituições escola- res”, o qual a referida autora apre- senta dados de como o problema ét- nico racial têm crescido no Brasil. Segundo a referida autora, “o presente artigo realiza revisão de 38 artigos, 7 teses e 51 dissertações da área de educação publicados entre 5 Retirado em https://www.projetodraft.com/qual-e-a-sua-raca-a-que-etnia-voce-pertence-e-isso-e-real- mente-importante/ 6 SILVA. Petronilha Beatriz Gonçalves e. Educação das Relações Étnico-Raciais nas instituições escolares. Edu- car em Revista, Curitiba, Brasil, v. 34, n. 69, p. 123-150, maio/jun. 2018. Disponível em: https://www.sci- elo.br/j/er/a/xggQmhckhC9mPwSYPJWFbND/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 09/09/2021. Pág. 01. 2003 e 2014.”6 E que como afirma a autora deste estudo, “tratam do te- ma educação das relações étnico-ra- ciais em instituições educacionais.” Idem, Ibidem. Pág. 01. Com base nos dados apresen- tados pela referida autora podemos dizer da nossa parte que têm cresci- do o número de materiais de estudo nas academias de educação no Brasil nos últimos anos que versam sobre esta temática levantada por esta re- ferida autora. E 14 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA O que chama a atenção neste levantamento de dados é não so- mente a quantidade de materiais le- vantados mas o quanto o tema têm chamado a atenção dos estudantes para fazerem trabalhos dentro deste espectro de estudo. A autora deste estudo também chama a atenção para o fato de que “os escritos, em sua maioria, regis- tram resultados, experiências de educação em estabelecimentos de ensino, bem como considerações, avaliações, reflexões, sugestões no que diz respeito à educação étnico- racial” Idem, Ibidem. Pág. 01. Com base nestas assertivas po- demos da nossa parte afirmar que estes pontos de referência mostram que no Brasil a questão racial ainda é um fenômeno crescente e um de- safio a ser enfrentado dentro deste universo, uma vez que mesmo dian- te do quadro apresentado no tópico anterior desta apostila que ilustra o quanto a legislação têm contribuído para minorar estes problemas a questão ainda é crescente e grande dentro dos desafios apresentados pelos levantamentos desta autora. A autora deste estudo salienta que “os artigos foram analisados em relação ao seu tratamento de racis- mo, etnocentrismo e outras discri- minações nas escolas.” Idem, Ibi- dem. Pág. 01. Neste aspecto, da nossa parte podemos dizer que os levantamen- tos feitos por esta autora irão ajudar na ilustração dos problemas enfren- tados pelos professores e alunos pa- ra lidar com o problema do racismo, da discriminação e do preconceito. Esta pesquisa levantada por esta segunda autora irá mostrar também o quanto o problema que se combate, mesmo tendo sanções le- gais ainda é um grande problema que se configura dentro da socieda- de. Dando prosseguimento à aná- lise feita por esta autora, cabe aqui mencionar que “a análise da produ- ção mostrou que o maior avanço nesse processo foi o de reconheci- mento de manifestações e conse- quências do racismo, do etnocen- trismo e de outras discriminações na vida de aluno/ as” Idem, Ibidem. Pág. 01. Este levantamento feito por esta pesquisadora se torna salutar para compreender os desafios que os alunos possuem por causa do com- bate cultural e do choque das tradi- ções culturais que permeiam o cam- po social da sociedade plural que vi- vemos. Mas a autora deste estudo também chama a atenção para os professores também. Segundo ela este estudo abarca também “de seus 15 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA professores, não só dos negros, mas também dos não-negros, bem como na organização e funcionamento de instituições educacionais” Idem, Ibi- dem. Pág. 01. Ao estabelecer suas pesquisas em professores e alunos, colocando e sequenciando os grupos étnicos, a pesquisa levantada pela referida au- tora terá condições de fazer um le- vantamento étnico para verificar os problemas relacionados a professo- res, alunos de grupos étnicos que es- tão no mercado e na sociedade e que vivenciam este drama e esta situação relacionada ao preconceito e a dis- criminação. É importante lembrar e cha- mar a atenção para o fato de que o problema de mudança de interpre- tação cultural no que tange a discri- minação e o racismo não está pau- tado apenas nas leis que foram cria-das, mas na conscientização da situ- ação que envolve o respeito mútuo entre as pessoas e as partes envolvi- das. Fonte: https://novaescola.org.br/conteudo/1545/diversidade-etnico-racial-por- um-ensino-de-varias-cores. Com base nos levantamentos da autora deste segundo tópico des- ta apostila, Petronilha Beatriz afir- ma que “nas 58 dissertações e teses examinadas, mulheres mostraram mais interesse do que homens para pesquisar questões relativas à edu- cação das relações étnico-raciais em instituições de ensino.” Idem, Ibi- dem. Pag. 03. 16 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA Este dado é um levantamento muito interessante que ilustra a faci- lidade das mulheres de tratarem o tema relativo ao racismo e a discri- minação. A autora deste estudo reitera que “o exemplo está no fato de 88% das pesquisas de mestrado terem si- do realizadas por estudantes mulhe- res, bem como orientadas por 85% de doutoras.” Idem, Ibidem. Pag. 03. Da nossa parte podemos dizer que esta pesquisa também reflete a acessibilidade das mulheres dentro do campo da educação e da pesquisa o que representa um grande avanço da mulher dentro do mercado de trabalho no âmbito superior e tam- bém um grande avanço das mulhe- res dentro do campo de pesquisas relacionadas a temas que envolvem problemas sociais aos quais a mu- lher irá protagonizar um papel fun- damental na solução destes proble- mas. Dando ênfase ao que viemos argumentando no transcorrer da análise destas prerrogativas pode- mos dizer também que a mulher está ganhando um importante campo dentro deste tipo de pesquisa na busca por soluções aos problemas do cotidiano do ser humano que vive em sociedade. Isso representa um grande avanço levando-se em consideração que a pesquisa tratada até aqui não versa sobre a questão étnica racial das mulheres que fizeram essa pes- quisa mas a capacidade que cada uma se propôs a levantar essa ques- tão. A autora deste estudo salienta também que “algumas dessas pes- quisas foram desenvolvidas por pro- fessoras, sobretudo em exercício na Educação Básica, incluindo EJA - Educação de Jovens e Adultos, bem como na Educação Infantil.” Idem, Ibidem. Pag. 03. Esta referência se torna um importante elemento para se com- preender que a prática educacional está seguindo os ditames da lei ao mesmo tempo que ilustra os proje- tos educacionais desenvolvidos nas últimas décadas com o intuito de priorizar a educação de jovens e adultos com vistas ao mercado de trabalho e à inclusão social e identi- tária. A autora deste estudo argu- menta também que “a produção foi crescente, entre os anos de 2008 e 2014”. Idem, Ibidem. Pág. 03. Se- gundo ela, “registrou-se o maior nú- mero de produção que abordou pro- blemáticas relativas à educação das relações étnico-raciais em institui- ções educacionais, destacando-se os anos de 2010 e 2013.” Idem, Ibidem. Pág. 03. Da nossa parte podemos ex- plorar esta ideia avaliando não so- 17 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA mente o resultado da aplicabilidade das leis como foi argumentado no tópico anterior desta apostila, como também este resultado foi uma for- ma de se denunciar o problema en- frentado de forma corriqueira, como argumenta os autores utilizados pa- ra desenvolver este material de es- tudo que apresentam dados quanti- tativos para sustentar esta tese como foi apresentado no início deste tó- pico da apostila. Nestas circunstâncias, a au- tora deste estudo afirma também que é provável que a proximidade dos dez anos de promulgação da “Lei 10.639/2003, completados em 2013, tenha despertado interesse no sentido de avaliar em que me- dida e como a sua implantação vi- nha ocorrendo.” Idem, Ibidem. Pág. 03. Da nossa parte é importante avaliar conforme os dados apresen- tados por esta autora que diante do grande número de pesquisadores que se predispõem à trabalhar a com essa temática, as transforma- ções ocorridas no âmbito social es- tão sendo satisfatórias não somen- te para que novas pesquisas sejam feitas para veicular estes dados para uma análise do cumprimento destas prerrogativas legais na soci- edade, mas também para mostrar que as mudanças preteridas pelo órgão do Estado estão surtindo o efeito desejado em mudar a forma de tratamento no que diz respeito à inclusão social e principalmente no combate ao racismo e ao precon- ceito. 18/11 - Dia nacional de combate ao racismo Fonte: http://www1.imip.org.br/imip/noti- cias/o-dia-nacional-de-combate-ao- racismo-e-comemorado-neste-do- mingo-18.html. Veja agora os dados levanta- dos pela referida autora em seu es- tudo sobre o tema em questão: 18 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA Ano de Publicação das Dissertações e Teses 7 Como se pode verificar no grá- fico acima ilustrado pelo trabalho da referida autora, o momento de pico do aumento de produção de disser- tações de mestrado e teses de douto- rado irão ocorrer entre os anos de 2010 e 2013 tendo grande produção acadêmica sendo fomentada neste período. Outra interpretação que pode- mos reforçar da nossa parte ao visu- alizar este levantamento feito pela autora diz respeito ao crescimento que se fez de forma tímida entre os anos de 2003 até 2005 e o cresci- mento vertiginoso a partir de 2005 até 2013 que foi categoricamente rico e importante para que os dados ilustrassem a importância que este tema ganhou no mundo acadêmico. A autora deste estudo informa com base nos levantamentos dos da- dos acima em um segundo gráfico que “as instituições onde os traba- lhos foram defendidos foram 25 no total, com bastante dispersão.” Idem, Ibidem. Pág. 03. Estes dados levantados pela autora estão presen- tes neste segundo gráfico que será apresentado abaixo: 7 e 8 Gráfico sobre o ano de publicação das dissertações e teses. Disponível em: https://www.sci- elo.br/j/er/a/xggQmhckhC9mPwSYPJWFbND/?format=pdf. Acesso em: 09/09/2021. Apud. SILVA. Petroni- lha Beatriz Gonçalves e. Educação das Relações Étnico-Raciais nas instituições escolares. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, v. 34, n. 69, p. 123-150, maio/jun. 2018. Disponível em: https://www.sci- elo.br/j/er/a/xggQmhckhC9mPwSYPJWFbND/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 09/09/2021. Pág. 03. 19 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA Instituição de Publicação das Teses e Dissertações8 Fonte: https://racismoambiental.net.br/2020/11/20/a-luta-contra-o-racismo-no- brasil-e-uma-luta-de-refundacao-nacional/. 20 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA A autora deste estudo também reforça que “a instituição onde se re- alizou o maior número de pesquisas relativas à educação das relações ét- nico-raciais em instituições escola- res foi a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).” Idem, Ibi- dem. Pág. 04. Segundo ela, a universidade consta “com 12 investigações, se- guida da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) com 7 e da Uni- versidade de São Paulo (USP), Uni- versidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Universidade do Es- tado da Bahia (UNEB) com 5” Idem, Ibidem. Pág. 04. Os dados extraídos de seu estudo podem ser mais bem explorados em um gráfico que a au- tora desenvolveu e que consta em seu trabalho o qual apresentamos anteriormente. Com base nos dados levanta- dos por ela, pode se afirmar que “ve- rifica-se que 28,47% se localizou naregião Sudeste, seguida da Centro- Oeste com 17,29% e da Nordeste com 12,20%. As regiões Norte e Sul participaram da produção com 1,2%, cada uma.” Idem, Ibidem. Pág. 04. Estes dados são importantes para demonstrar a presença da forte cultura açucareira nos tempos do Brasil império que caracterizou a forte presença da escravidão que movimentou a economia e as tradi- ções culturais presentes desse perío- do. 22 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA 3. As Cotas Raciais Fonte: Guia do Estudante8 este terceiro tópico desta apos- tila estaremos analisando o processo de criação das chamadas “cotas raciais”. Como forma de men- surar tudo o que foi debatido e cons- truído no decorrer desta apostila, o coroamento deste estudo se propõe a demonstrar e justificar a criação de aparatos legais para reparar danos que são resultado dos “choques cul- turais” que resultam daquilo que mencionamos no primeiro tópico 8 Retirado em https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/cotas-raciais-quem-pode-de-fato-concor- rer-como-ppi/ desta apostila que é o “direito de ser” do ser humano. Dentro destas prerrogativas estamos utilizando como referência o site do Brasil Escola, o qual é um órgão transmissor de informação do ministério da Educação que atualiza as informações ao mesmo tempo em que oferece uma exemplificação mais detalhada com uma comunica- ção mais acessível para que as pes- N 23 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA soas possam se inteirar mais das le- gislações que permeiam o campo da educação e das relações humanas. É importante também salien- tar que o ministério da educação ter entrado neste âmbito cultural para auxiliar no combate ao racismo, ao preconceito e a discriminação foi um importante passo a ser dado para que no futuro estas mazelas que fize- ram parte da nossa história seja ape- nas uma lembrança ruim de um pas- sado remoto para que a sociedade possa viver em paz, harmonia e em perfeito estado de justiça. Nestes termos, conforme os le- vantamentos do professor de socio- logia Francisco Porfírio “Cotas raci- ais são reservas de vagas em vestibu- lares, provas e concursos públicos destinadas a pessoas de origem ne- gra, parda ou indígena.”9 Da nossa parte, podemos dizer que este tipo de reserva se deu pelo fato de ao longo da história do Brasil e de relatos feitos por estudiosos do tema, como foi apresentado no se- gundo tópico desta apostila, negros, índios e pardos, segundo estes auto- res tinham muita dificuldade de acesso à instituições educacionais, empresas e concursos públicos por motivo de discriminação racial e ét- nica. 9 PORFíRIO, Francisco. "Cotas raciais"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/educa- cao/sistema-cotas-racial.htm. Acesso em 10 de setembro de 2021. Diante de tais circunstâncias, como afirma Francisco Porfírio, “as cotas visam a acabar com a desigual- dade racial e o racismo estrutural re- sultantes de anos de escravidão no Brasil.” Idem, Ibidem. Que ainda, segundo este autor, “excluem pes- soas negras e indígenas da universi- dade, do mercado de trabalho e dos espaços públicos”. Idem, Ibidem. É importante fazer uma refle- xão sobre esta temática, pois a histó- ria da humanidade traz exemplos terríveis de como povos por motivos raciais, étnicos e até discriminató- rios condenaram povos às periferias da sociedade afastando-os do mer- cado de trabalho, do convívio social, da educação e até mesmo os conde- nado à morte. Esse legado terrível que as- sombra o passado da história hu- mana tem de ser combatido às duras penas para que episódios como estes jamais venham a se repetir. É corrente na história da hu- manidade o episódio da ascensão de Adolf Hitler ao poder na Alemanha o qual dizimou vários grupos étnicos e em especial os judeus nos campos de concentração para que viesse a cons- truir uma nação étnica intitulada de “raça Ariana” sobre os cadáveres de 24 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA todos aqueles que não se enquadra- vam nos perfis e nas características desejadas para este fim. Judeus no campo de Concentração Nazista Fonte: https://www.todamate- ria.com.br/campos-de-concentra- cao-nazistas/. Como se verifica na imagem acima, os judeus eram colocados em locais insalubres para fazer trabalho escravo para atender a economia da Alemanha Nazista. Neste sentido é preciso enten- der também como funciona o sis- tema de “cotas raciais”, uma vez que este processo visa reparar danos que estes grupos étnicos sofrem ao ten- tar acessar o mercado de trabalho. Retornando às reflexões de Francisco Porfírio, ele alega que “as cotas são reservas de vagas para de- terminados segmentos minoritários da população, como pessoas negras (pretas ou pardas), indígenas e pes- soas com necessidades especiais” Para ilustrar melhor esta assertiva apresentada por Francisco Porfírio, veja na íntegra a lei que trata desta situação: Art. 1º Ficam reservadas aos negros 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas nos con- cursos públicos para provimen- to de cargos efetivos e empre- gos públicos no âmbito d a ad- ministração pública federal, das autarquias, das fundações pú- blicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União, na forma desta Lei. § 1º A reserva de vagas será aplicada sempre que o número de vagas oferecidas no concurso público for igual ou superior a 3 (três). § 2º Na hipótese de quantita- tivo fracionado para o número de vagas reservadas a candida- tos negros, esse será aumenta- do para o primeiro número in- teiro subsequente, em caso de fração igual ou maior que 0,5 (cinco décimos), ou diminuído para número inteiro imediata- mente inferior, em caso de fra- ção menor que 0,5 (cinco déci- mos). § 3º A reserva de vagas a candi- datos negros constará expressa- mente dos editais dos concur- sos públicos, que deverão espe- cificar o total de vagas corres- pondentes à reserva para cada cargo ou emprego público ofe- recido. Art. 2º Poderão concorrer às vagas reservadas a candidatos negros aqueles que se autode- clararem pretos ou pardos no ato da inscrição no concurso público, conforme o quesito cor ou raça utilizado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geogra- fia e Estatística - IBGE. 25 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA Parágrafo único. Na hipótese de constatação de declaração falsa, o candidato será eliminado do concurso e, se houver sido no- meado, ficará sujeito à anula- ção da sua admissão ao serviço ou emprego público, após pro- cedimento administrativo em que lhe sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa, sem prejuízo de outras sanções cabíveis. Art. 3º Os candidatos negros concorrerão concomitantemen- te às vagas reservadas e às va- gas destinadas à ampla concor- rência, de acordo com a sua classificação no concurso. § 1º Os candidatos negros apro- vados dentro do número de va- gas oferecido para ampla con- corrência não serão computa- dos para efeito do preenchi- mento das vagas reservadas. § 2º Em caso de desistência de candidato negro aprovado em vaga reservada, a vaga será pre- enchida pelo candidato negro posteriormente classificado. § 3º Na hipótese de não haver número de candidatos negros aprovados suficiente para ocu- par as vagas reservadas, as va- gas remanescentes serão rever- tidas para a ampla concorrência e serão preenchidas pelos de- maiscandidatos aprovados, ob- servada a ordem de classifica- ção. Art. 4º A nomeação dos candi- datos aprovados respeitará os critérios de alternância e pro- porcionalidade, que conside- ram a relação entre o número de vagas total e o número de va- gas reservadas a candidatos 10 LEI Nº 12.990, DE 9 DE JUNHO DE 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2014/lei/l12990.htm. Acesso em: 10/09/2021. com deficiência e a candidatos negros. Art. 5º O órgão responsável pela política de promoção da igualdade étnica de que trata o § 1º do art. 49 da Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010, será responsável pelo acompanha- mento e avaliação anual do dis- posto nesta Lei, nos moldes previstos no art. 59 da Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010. Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação e terá vigência pelo prazo de 10 (dez) anos. Parágrafo único. Esta Lei não se aplicará aos concursos cujos editais já tiverem sido publica- dos antes de sua entrada em vi- gor. Brasília, 9 de junho de 2014; 193º da Independência e 126º da República.10 Com base no dispositivo legal acima mencionado pode-se verificar que esta lei terá vigência por 10 anos e com o cumprimento deste prazo a lei deverá ser mantida novamente mediante ação política responsável. É de grande importância a compreensão destas prerrogativas legais para a garantia da acessibili- dade das pessoas ao mercado de tra- balho, uma vez que o dispositivo pa- ra garantir os chamados princípios da equidade e isonomia do direito estão previstos nestas ações. Retornando com as reflexões propostas por Francisco Porfírio, o 26 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA referido autor afirma que no caso da atribuição das cotas para ingresso em cursos de graduação em univer- sidades públicas federais, “além da origem étnico-racial, o candidato à vaga reservada deve ter cursado to- do o seu ensino médio em escolas públicas.” Idem, Ibidem. Este raciocínio é muito im- portante para entender que estas vagas estarão também sendo desti- nadas a pessoas de baixa renda que estudam em escolas da rede públi- ca no Brasil. O referido autor tam- bém afirma que “dessa maneira, as universidades públicas oferecem um duplo sistema de cotas.” Idem, Ibidem. Segundo ele, este sistema se- guirá uma metodologia onde “uma parcela da reserva de vagas destina- se a estudantes de escola pública, in- dependentemente da origem étnico- racial.” Idem, Ibidem. E a outra par- cela “destina-se a estudantes de es- cola pública que se autodeclaram pretos, pardos ou indígenas.” Idem, Ibidem. O autor deste estudo também informa que no atual sistema de ações afirmativas para ingresso em universidades e institutos federais de ensino, “50% das vagas devem ser destinadas a pessoas oriundas de es- colas públicas.” Idem, Ibidem. Sistema de Cotas Raciais nas escolas Fonte: https://querobolsa.com.br/re- vista/sistema-de-cotas-raciais. Neste sentido, o autor salienta que dessas vagas, “25% destinam-se a pessoas com renda familiar infe- rior a 1,5 salário mínimo, e a outra metade está liberada para pessoas com renda familiar superior a 1,5 sa- lário mínimo.” Idem, Ibidem. Desde que “tenham cursado os três anos do ensino médio em escolas públicas.” Idem, Ibidem. Outro ponto relevante nos es- tudos levantados pelo referido autor Francisco Porfírio, diz respeito às re- giões onde ocorrem maior número de pessoas afro descendentes, para equiparar o número e se fazer um equilíbrio no manejo e distribuição das vagas destinadas aos cotistas. Segundo o autor deste estudo, as ofertas de vagas restritas por cri- térios étnico-raciais encaixam-se nessa reserva de “50% das vagas to- 27 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA tais oferecidas pela universidade e por cada curso, de acordo com o edi- tal do vestibular ou do Sisu.” Idem, Ibidem. Cotas nas universidades Fonte: https://guiadoestu- dante.abril.com.br/universidades/es- tudo-aponta-aumento-das-classes- c-e-d-no-ensino-superior/. Ele afirma também que “para calcular o número de vagas destina- das a pretos, pardos e indígenas, uti- lizam-se dados dos censos demográ- ficos.” Idem, Ibidem. Com isso, segundo o autor, re- giões com maior número de negros “devem oferecer uma maior reserva de vagas para essas pessoas, estados com maior número de indígenas de- vem oferecer uma maior reserva de vagas para indígenas e assim suces- sivamente.” Idem, Ibidem. Outro exemplo importante que apresentaremos a seguir diz res- peito aos concursos públicos onde o percentual de 20% será destinado à cotistas como foi apresentado ante- riormente. Francisco Porfírio argumenta que no caso de concursos para inves- tidura em cargos públicos, “há uma reserva de 20% do total de vagas ofertadas em um edital para pessoas que se autodeclaram pretas ou par- das.” Idem, Ibidem. De acordo com o autor deste estudo, nesses casos, “a autodeclara- ção com documentação comproba- tória (como certidão de nascimento, certidão de alistamento militar ou RG do candidato e até de seus ascen- dentes diretos - mãe e pai) é sufici- ente para que uma pessoa possa concorrer a uma vaga no concurso pela lei de cotas.” Idem, Ibidem. Por outro lado, nas universi- dades e institutos federais existem algumas prerrogativas interessan- tes. O autor deste estudo, afirma que já no caso das universidades e insti- tutos federais, “além da autodeclara- ção, o candidato deve passar por uma entrevista com a banca exami- nadora a fim de comprovar a veraci- dade da autodeclaração.” Idem, Ibi- dem. Ele reitera também que um problema resultante desse último caso é que “não há como expressar uma objetividade concreta para re- conhecer pessoas pardas, e a subje- tividade dos critérios adotados por examinadores já causou injustiças e até fraudes.” Idem, Ibidem. 28 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA Materiais Complementares Links “gratuitos” a serem con- sultados para um acrescentamento no estudo do aluno de assuntos que não poderão ser abordados na apos- tila em questão: Artigo 205 da Constituição Federal. Disponível em: https://www.senado.leg.br/ativi- dade/const/con1988/con1988_08. 09.2016/art_205_.asp. Acesso em: 08/089/2021 Senegalês faz sucesso no Brasil com peças artesanais com estética afri- cana. Disponível em: https://revistapegn.globo.com/Em- preendedorismo/noti- cia/2018/07/senegales-faz-sucesso- no-brasil-com-pecas-artesanais- com-estetica-africana.html. Acesso em: 09/09/2021. LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci- vil_03/_ato2007- 2010/2008/lei/l11645.htm. Acesso em: 09/09/2021. Creche na Cidade de Deus realiza projetos pautados na história da cul- tura Afro Brasileira. Disponível em: https://www.vozdascomunida- des.com.br/comunidades/creche- na-cidade-de-deus-realiza-projetos- pautados-na-cultura-afrobrasi- leira/. Acesso em: 09/09/2021. Saberes e Fazeres: Ancestrais e Tra- dicionais - Indígenas e Africanos. Disponível em: https://www.sed.ms.gov.br/sabe- res-e-fazeres-ancestrais-e-tradicio- nais-indigenas-e-africanos-sao-te- maticas-de-feira-na-e-e-luisa-vidal- borges-daniel/. Acesso em: 09/09/2021. A questão racial no Brasil. Disponí- vel em: https://acontecendoa- qui.com.br/empreendedorismo/ar- tigo-conviccao-ou-conveniencia-o- papel-das-pequenas-empresas-na- inclusao-racial. Acesso em: 09/09/2021. Diversidade étnico Racial no Brasil. Disponível em: https://novaescola.org.br/con-teudo/1545/diversidade-etnico-ra- cial-por-um-ensino-de-varias-co- res. Acesso em: 09/09/2021. 18/11 - Dia nacional de combate ao racismo. Disponível em: http://www1.imip.org.br/imip/no- ticias/o-dia-nacional-de-combate- ao-racismo-e-comemorado-neste- domingo-18.html. Acesso em: 09/09/2021. 29 ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA Gráfico sobre o ano de publicação das dissertações e teses. Disponível em: https://www.sci- elo.br/j/er/a/xggQmhckhC9mPwS YPJWFbND/?format=pdf. Acesso em: 09/09/2021. Gráfico sobre o ano de publicação das dissertações e teses. Disponível em: https://www.sci- elo.br/j/er/a/xggQmhckhC9mPwS YPJWFbND/?format=pdf. Acesso em: 09/09/2021. Luta contra o racismo no Brasil é uma luta de refundação nacional. Disponível em: https://racismoambien- tal.net.br/2020/11/20/a-luta-con- tra-o-racismo-no-brasil-e-uma- luta-de-refundacao-nacional/. 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Educa- ção das relações étnico-raciais: Análise da formação de docentes por meio dos pro- gramas UNIAFRO e Africanidades. Plane- jamento e Políticas Públicas | PPP | n. 48 | jan./jun. 2017. Disponível em: http://reposito- rio.ipea.gov.br/bitstream/11058/7997/1/ ppp_n48_educa%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 08/09/2021. PORFíRIO, Francisco. "Cotas raciais"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/educa- cao/sistema-cotas-racial.htm. Acesso em 10 de setembro de 2021. SILVA. Petronilha Beatriz Gonçalves e. Educação das Relações Étnico-Raciais nas instituições escolares. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, v. 34, n. 69, p. 123-150, maio/jun. 2018. Disponível em: https://www.sci- elo.br/j/er/a/xggQmhckhC9mPwSYPJW FbND/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 09/09/2021. 03 2
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