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Introdução O sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central e sistema nervoso periférico. O encéfalo é dividido em 3 superestruturas: telencéfalo, cerebelo e tronco encefálico. Local da lesão X Sinais clínicos É necessário fazer um exame clínico correto, iniciando com uma possível localização da lesão, para ter um diagnóstico presuntivo, tratamento e prognóstico. Para o intercâmbio entre clínica e patologia, deve-se fazer uma necropsia sistemática, e o envio de material para exame é baseada em: • Retirada completa do sistema nervoso (cérebro/cerebelo/ponte); • Metade em formol 10% (20 a 30% para fixação mais rápida); • Metade refrigerado. Os dados do animal antes da necropsia são extremamente importantes, sendo eles: epidemiologia, histórico clínico e evolução da doença. A raiva sempre é um diferencial nos bovinos. Em casos de cistos, abcessos e neoplasias são doenças de evolução lenta, com poucos animais acometidos, idade específica, saber se ocorreu doenças anteriores ou se está associada a outra coisa. Para a realização da correlação, é necessário conhecimento do sistema nervoso, tanto anatomico quanto fisiológico. No sistema nervoso central, os neurônios estão presentes na substância cinzenta, na periferia do cérebro e cerebelo, area central de medula espinal e núcleos no tronco encefálico. O axônio mielinizados na substância branca faz parte do trato motor e trato sensitivo. As sindromes encefálicas envolvem lesões cerebral, hipotalâmica, mesencefálica, vestibular, cerebelar e pontinobulbar. As síndromes medulares envolvem lesões medulares cervical, cervicotorácica, toracolombar e lombossacral. As alterações podem ser identificadas de acordo com suas funções motora, proprioceptiva, sensitiva e sistema nervoso autônomo. Os neurônios motores podem ser: superior (tronco encefálico) e inferior (cornos ventrais medula), onde ocorrem paresia e paralisia. Quando as lesões ocorrem no neurônio motor superior são lesões espásticas. As lesões flácida ocorrem no neurônio motor inferior. Alterações de propriocepção Nas alterações de propriocepção, responsável pela noção espacial da localização dos membros, pescoço e cabeça. Essa noção espacial é transmitida por receptores localizados em articulações, tendões, músculos e ouvido interno através do: trato espinocerebelar, espinoreticular, espinotalâmico e neurônios em tronco encefálico e cerebelo. Em caso de lesões nestes tratos ou neurônios causam deficiências na propriocepção (ataxia). Porém, outras lesões que não envolvem SNC nessas regiões, não causam ataxia. Alterações na função sensitiva Nas alterações na função sensitiva, aqueles neurônios sensitivos que possuem informações de propriocepção e de dor ou desconforto. Os neurônios sensitivos estão presentes na medula, tronco encefálico e cerebelo. Na lesão nessas regiões, os reflexos de dor vão estar ausentes. Nas alterações de sistema autônomo (simpático ou parassimpático), que possuem o controle da atividade de musculatura lisa, cardíaca e glândulas. Pode ser uma lesão nos nervos cranianos. O cerebro e tálamo, as alterações que ocorrem são na atitude e estado mental, sendo: agressividade, sonolência, depressão, galope desenfreado, andar compulsivo, pressão da cabeça contra objetos, coma, convulsões e opistótono (edema cerebral) ou afecções cerebelares (polioencefalomalacia e abcesso cerebral). A cegueira tem origem central, onde a lesão está em região occipital do córtex cerebral, tendo ausência de lesões nos olhos e presença de reflexo pupilar. Em casos de ausência de reflexo pupilar, há lesões em nervo optico, retina, quiasma óptico ou trato óptico rostral. Caso ocorra ausência de reflexo pupilar sem cegueira, a lesão esta no óculomotor. As lesões no cerebelo causam ataxia, dismetria (hipermetria) e tremores de intenção, que são movimentos rítmicos que aumentam quando estimulado, os membros permanecem abertos e o animal cambaleia. As lesões em tronco encefálico causam depressão, paresia e alterações de nervos cranianos. O sistema vetibular engloba o ouvido interno, o vestíbulo- coclear e os núcleos vestibulares. As alterações nessas áreas, podem causar ataxia, torção de cabeça, nistagmo, estrabismo, impossibilidade Patologias do sistema nervoso de manter equilíbrio e, em lesões unilaterais, o animal gira ou cai para o lado lesionado. Em lesão na medula espinhal, ocorre debilidade, ataxia, alterações nociceptivas e alterações do sistema nervoso autônomo. A sintomatologia e gravidade dos sinais depende do segmento lesionado, extensão, profundida da lesão e os tratos afetados (sensitivo, proprioceptivos ou motores). As lesões em cornos dorsais causam alterações sensitivas ou proprioceptivas. As lesões nos cornos ventrais causam alterações motoras. Anomalias e má formações Elas ocorrem durante o desenvolvimento, sendo comuns nos animais domésticos, tendo alto grau de diferenciação e complexidade, além de alta susceptibilidade a agentes teratogênicos. As causas são por infecções virais, drogas e irradiação, podendo ser por causas multifatorias também, como genéticos ou ambientais. Doenças bacterianas e protozoários do sistema nervoso central Como proteção direta, o sistema nervoso possui as meninges e os ossos. O sistema nervoso central é susceptível a processos piogênicos em tecidos adjacentes (osteomielites). A chegada de bactérias no sistema nervoso central pode causar: fluxo axônico retrógrado (Listeria monocytogenes) ou extensão de processos infecciosos (bula timpânica, paranasais e etmóide). Por via hematógena, as infecções podem ser causadas por: E. coli, Streptococcus sp., Trueperella pyogenes, Salmonella spp., Pasteurella spp., Haemophilus spp. e Histophilus sommi, sendo elas mais comuns em animais de fazenda: bezerros, potros, cordeiros e suínos. Listeriose É uma doença causada pela Listeria monocytogenes, uma bactéria Gram +. As manifestações clínicas da doença são: Septicemias, abscessos hepáticos e esplênicos, abortos e meningoencefalite. Os fatores predisponentes são: temperatura, silagem de má qualidade (cama de frango com pH acima de 5,5. Botulismo O botulismo é um intoxicação não febril, geralmente fatal e que causa paresia e paralisia flácida (da musculatura locomotora, mastigatória e da deglutição). É causa por ingestão de neurotoxinas C e D do Clostridium botulinum, presentes em matéria orgânica vegetal e animal decompostas, além de água e alimentos contaminados. A neurotoxina atua nas terminações nervosas periféricas, inibindo a ligação de acetilcolina. Não ocorre envolvimento do sistema nervoso central e a morte ocorre por parada respiratória. Tétano O tétano pe uma doença infecciosa, causada por esporos presentes no ambiente, liberados pelo Clostridium tetani, um anaeróbio estrito. Em condições ideias ele esporula, que libera três toxinas: Tetanospasmina (neuropática), tetanolisina (necrose tecidual) e toxina não-espasmogênica, ambas atingem as terminações nervosas de neurônios periféricos (motor, sensitivo e adrenérgico) e por trajeto retrógrado alcança o SNC (neurônios motores de corno ventral do músculo esquelético). Babesiose cerebral É um distúrbio hemolítico causado pela Babesia bovis e Babesia bigemina. Ocorre anemia hemolítica associada a febre, icterícia e hemoglobinúria. O vetor é o Rhipicephalus (Boophilus microplus) e também pode estar associada a anaplasma (complexo tristeza parasitária boviina). No cerebro ocorre o entupimento de capilares da substância cinzenta por eritrócitos parasitados, fazendo os capilares se aderirem uns aos outros, diminuido a luz vascular e causando alterações degenerativas no encéfalo. Doenças virais Diversos virus invadem e se multiplicam no sistema nervoso central, causando doenças neurológicas agudas e crônicas, onde os vírus se ligam a receptores celulares específicos do sistema nervoso central (neurotrópicos). Possuidiversas vias de entrada: pelas celulas endoteliais (herpesvirus equino, hepatite infecciosa canina), carregado por células mononucleares e migração pelos nervos (via axônica)(raiva, herpesvirus bovino), que possui uma penetração no SNC causando danos diretamente nos neurônios, tendo uma reação do SNC diferente de outros órgãos (BHE impede migração de células sanguíineas e ocorre ausência de drenagem linfática). Raiva É uma zoonose, infecciosa e fatal, transmitida pela saliva com morcego infectado (Desmodus rotundus). Se apresenta de duas formas: raiva furiosa (carnívoros) e raiva paralítica (herbívoros), sendo uma doença cosmopolita. Os sinais clínicos são: agressividade, alheio ao ambiente, paralisia/paresia posterior, hipersalivação, excitabilidade, atonia de cauda e protusão da mucosa anal. Os bovinos são hospedeiros terminais da doença. Na microscopia, é possível observar meningoencefalite não supurativa, manguito perivascular e corpúsculo de negri (70% dos bovinos, não sendo comum em equinos). Herpesvírus bovino tipo 5 É uma doença cosmopolita, altamente fatal que ocorre em animais jovens (13 a 18 meses) e normalmente ocorre em surtos (morbidade baixa e alta letalidade). Possui sinais neurológicos (inflamação do cérebro e meninges associado a necrose do córtex), acessando pela mucosa nasal e trato olfatório. Esta associada a condições de estresse, como: viagens, desmame, vacinação, castração, mudanças climáticas e mudanças na alimentação. A sintomatologia envolve: febre, depressão, corrimento nasal e ocular, incapacidade de preensão e deglutição, andar em círculos, cegueira, bruxismo, opistótono e diminuição de propriocepção. Os achados necroscópicos são variáveis, sendo característico: malácia em área de córtex frontal, tumefeitas, marrom-amareladas, hemorrágicas, acinzentadas e gelatinosas. Os achados microscópicos são: necrose neuronal aguda, edema, tumefação, infiltrado inflamatório misto (neutrófilos, linfócitos, plasmócitos e células gitter) e corpúsculos intranucleares (astrócitos e neurônios). Cinomose É uma doença infecciosa, altamente mortal e se manifesta de 3 formas: aguda, subaguda e crônica. A duração e intensidade esta relacionados com a cepa. Atingem animais não vacinados, geralmente ocorrendo quando cessa a imunidade passiva (60-90 dias de vida), porém com possível ocorrência em animais de qualquer idade. A transmissão ocorre por aerossol e gotículas infectantes (excreções e secreções corpóreas). Doenças metabólicas/intoxicações É causada por toxinas (internas e externas) ou deficiências causadas por baixo consumo de vitaminas e minerais. Geralmente causam sinais nervosos agudos. As lesões são geralmente, bilaterais, simétricas e envolvem áreas específicas. Desenvolvem a malácia (necrose cortical). Quando atinge a substância cinzenta é chamada de polioencefalomalácia. Quando atinge a substância branca, é chamada de leucoencefalomalácia. Quando atinge ambas as substâncias, é chamada de encefalomalácia. Polioencefalomalácia Ocorre no córtex cerebral, onde há necrose. Os ruminantes são os afetados e todas as idades são ocometidos. Há baixa morbidade e letalidade variável (43 a 100%). A principal causa é a deficiência de tiamina que interfere no metabolismo da glicose no sistema nervoso central. Com isso gera uma diminuição de ATP. Pode ser primária por uma baixa ingestão de tiamina ou secundária: digestão ruminal que libera tiaminases, plantas ricas em tiaminases, uso de anti-helmínticos, antibióticos, acidose lática ruminal e quebra de tiamina Muito associado a dietas com alta concentração de carboidratos e pobre em fibras, além de mudanças bruscas de alimentação (pastos pobres para bons). Outros fatores estão correlacionados: aplicação de medicamentos (amprólio) e anti- helmínticos (Levamisole e Tiabendazole). Outra causa muito comum e importante é a intoxicação por enxofre (sulfatos, sulfetos e sulfitos) que atuam inibindo a enzima citocromo-oxidase, gerando a falta de ATP. Estão presentes em: aditivos de concentrados, gipso (sulfato de Ca), acidificadores de urina (sulfato de amonia), pastagens (solo) e água. Gera lesões primárias no telencéfalo e lesões secundárias no cerebelo e tronco encefálico. Os sintomas são: cegueira, andar sem rumo, head-press, ataxia, sialorréia, opistótono, nistagmo, estrabismo, pedalagem, excitação e agressividade. O curso é de 2 a 5 dias. Os achados de necropsia são: herniação do bulbo e cerebelo, achatamento de circunvoluções cerebrais, áreas amareladas, amolecidas, gelatinosas, hemorragias, ocorridas na substância cinzenta, sendo as áreas mais afetadas os giros corticais dorsais. Leucoencefalomalácia Acomete equinos e é causada por fungos do gênero Fusarium (Fusarium moliniforme) que cresce no milho (e seus subprodutos) mal acondicionados ou de má qualidade (alta umidade e temperatura baixa). É uma doença sazonal (julho a setembro – sudeste). Causado por diferentes toxinas (fumonisinas) mas principalmente, pela B1. A fumonisina interfere no metabolismo celular inibindo a excreção de metabólitos. A sintomatologia clínica é repentina, ocorrendo evolução e morte rápida (6 a 24 horas após o primeiro sinal clínico). Os sinais são: depressão, convulsão, andar compulsivo, incoordenação, ptose, cegueira, nistagmo, head-press e head-tilt. Mieloencefalite protozoária equina (EPM) É a principal doença neurológica em equinos, causada pelo Sarcocystis neurona. É mais comum em animais até 4 anos e não possui predisposição racial. Os equinos são hospedeiros acidentais. Ocorre reprodução assexuada no cérebro e músculo esquelético. Eles parasitam as células nervosas (neurônio) na parte anterior do cerebelo e medula espinhal. A rota até o SNC não é totalmente comprrendida, sugerindo ser por meio dos leucócitos. Os sinais dependem da área do SNC afetada. É uma doença de debilidade progressiva. Os sinais clínicos são inespecíficas: ataxia, andar em círculos, depressão, paralisia focal, paralisia multifocal, dificuldade de locomoção e claudicação.