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AULA 2 EMOÇÃO, APRENDIZADO E MEMÓRIA Prof. Reginaldo Daniel da Silveira 2 CONVERSA INICIAL Ao tratar do tema emoção, memória e ensino/aprendizado, é preciso considerar a relevância de recursos tecnológicos de neuroimagem, analisar casos ilustrativos, e o papel efetivo da emoção na memória e aprendizagem. São também objeto de estudo as noções básicas sobre como a cognição-emoção se relaciona com a memória-aprendizagem, e os efeitos da emoção naquilo que lembramos e aprendemos. Buscam-se evidências, com destaque ao processo de avaliação das emoções. TEMA 1 – A NEUROCIÊNCIA ENTRE EMOÇÃO, MEMÓRIA E APRENDIZAGEM Neuroimagem refere-se ao processo de produzir imagens da estrutura ou atividade do cérebro ou outra parte do sistema nervoso por técnicas como ressonância magnética ou tomografia computadorizada. O uso recente de tecnologias de imagem nos proporcionou um olhar mais preciso da atividade cerebral, permitindo-nos verificar e entender o funcionamento de estados emocionais humanos. A eletroencefalografia (EEGI) e a ressonância magnética funcional (RMF) são exemplos, uma para detectar sinais elétricos e outra para medir o fluxo de sangue em diferentes partes do cérebro (Weeks, 2014). Essas técnicas impulsionaram pesquisas e possibilitaram a neurocientistas e psicólogos otimizar os resultados de aprendizagem e memória. Os achados recentes de neuroimagem, quanto à integração entre córtex pré-frontal e amígdala, revelam que a amigdala consolida a memória moduladora, o córtex media e codifica a memória, e o hipocampo atua na aprendizagem bem- sucedida e na retenção da memória de longo prazo (Tyng et al, 2017). As contribuições se estendem a uma maior compreensão do controle emocional dentro do cérebro e, no dizer de Carew e Magsament (2010), abrem caminho para maiores estudos sobre emoção, memória e aprendizado. Há que se considerar ainda que memória e aprendizado recebem de modo marcante a presença da emoção, o que também ocorre com outros processos cognitivos como percepção, atenção, aprendizagem, memória, raciocínio e resolução de problemas (Tyng et al., 2017). Ao longo dos anos, a neurociência tem estudado casos que nos ajudam compreender mais quem somos e como agimos. Procedimentos exitosos em relação a um problema são tão reveladores sobre o funcionamento cerebral 3 quanto aqueles que não obtém sucesso, ou mesmo os que por infelicidade provocam sequelas. O relato mais impactante, amplamente conhecido pela ciência e generosamente divulgado em jornais e revistas de todo o mundo é a história de Henry Molaison na década de 1950. Conhecido na psicologia como "HM", Henry perdeu a memória em uma mesa de cirurgia em um hospital em Hartford (USA), em agosto de 1953. Ele tinha 27 anos e sofria de ataques epilépticos por muitos anos. Citado como HM, Henry padecia de episódios seguidos de epilepsia desde os 10 anos, um ano após ter sofrido um acidente de bicicleta, segundo diziam seus parentes. Aos 16 anos, sofria espasmos musculares generalizados, perdia o controle dos esfíncteres, e também a consciência. A situação foi piorando, a ponto de, aos 27, Henry ter sido declarado incapacitado para trabalhar. O cirurgião Willian Scovile, após examiná-lo ofereceu-se para fazer uma cirurgia nos lobos temporais mediais dos dois hemisférios cerebrais, vistos por ele como a razão das crises. Após a ressecção cirúrgica dessas regiões encefálicas, percebeu-se melhora nas crises, porém havia uma sequela. HM passou a apresentar amnésia anterógrada gravíssima, ou seja, não conseguia lembrar nada do que aconteceu após a sua cirurgia. Henry Molaison morreu em 2008, com 82 anos de idade. Fazia palavras-cruzadas com frequência, mas só completava as palavras que aprendera antes da cirurgia. Após a sua morte, seu cérebro foi guardado na Universidade da Califórnia para pesquisas anatomopatológicas, e os resultados vêm sendo divulgados até os dias de hoje. O que a neurociência aprendeu com Henry Molaison? Os pesquisadores descobriram que funções complexas, como aprendizagem e memória, estão ligadas a processos e regiões biológicas distintas do cérebro, incluindo o hipocampo e a região para-hipocampal. A descoberta abriu caminho para uma exploração mais profunda das redes cerebrais que codificam memórias conscientes e inconscientes, assim como das emoções. O caso HM ainda nos leva a repensar como as emoções acontecem em nós, ou “não acontecem em nós”, como diriam Davidson e Begley (2013). Para os neurocientistas americanos, as emoções e os pensamentos não acontecem conosco, eles são rotineiros, possíveis e enraizados na estrutura de nossos cérebros, embora a formação de personalidade aconteça sem conhecimento do cérebro. As emoções se apresentam para nós como “estados ou estilos 4 emocionais”, entendidos como processos emocionais curtos ou processos emocionais mais consistentes em nossa forma de responder à vida (Davidson; Begley, 2013). Isso nos impele a buscar conhecer a diferença entre ambos e sua implicação para a memória e a aprendizagem. Teremos, em outro conteúdo, mais dados sobre os estilos emocionais; por hora, uma outra questão é esclarecer dúvidas sobre o fato de a emoção estar interligada à cognição, e a memória e à aprendizagem. TEMA 2 – O PAPEL DA EMOÇÃO NA MEMÓRIA E NO APRENDIZADO Na memória emocional, a excitação emocional aumenta a memória. Na aprendizagem emocional, determinados medos podem ser aprendidos. Na atenção emocional, situações emocionais melhoram a atenção. A leitura de Gazzaniga e Heatherton (2005) nos diz que as pessoas com melhor memória para eventos ou estímulos produzem mais emoção. Isso é explicado pela descoberta de as memórias pessoais mais claras e importantes costumam ser as altamente emocionais. Se lhe perguntarem quais momentos são mais vívidos em sua mente, por certo você falará sobre sentimentos de regozijo, ou de raiva, por exemplo. Essas lembranças parecem vir à tona mais facilmente do que situações do cotidiano, com as quais temos pouca ou nenhuma ligação emocional. O vínculo entre emocionalidade e memória foi diretamente testado em um experimento que utilizou o procedimento de lembrar/saber, em que os sujeitos são questionados sobre o reconhecimento de um item de um experimento anterior. Os sujeitos devem dizer se sentem que o item é familiar, o que é um julgamento de saber, ou se sua recordação do item é acompanhada por um detalhe sensorial, semântico ou emocional, o que é um julgamento de lembrar. Esse estudo descobrir que fotografias altamente negativas tendiam mais a ser identificadas como itens de “lembrar” do que as fotos neutras ou positivas”. (Ochsner, 2000, citado por Gazzaniga; Heatherton, 2005) Um modo abreviado e não definitivo, devido à ampliação das pesquisas é ver a emoção vinculada ao armazenamento de informações, à interpretação dos estímulos (especialmente os sociais) e à busca do significado afetivo de nossas expressões faciais. Ao discorrer sobre isso, Gazzaniga e Heatherton (2005) citam outros autores (Dolan, 2000; Whalen et al. 1998; Adolphs et al., 1998) e apresentam três explicações importantes: (1) imagens de ressonância magnética funcional (IRMf) mostram que ela é especialmente sensível à intensidade de rostos que demonstram medo; (2) isso ocorre mesmo que os participantes não 5 estejam cientes de terem visto o rosto; (3) pessoas com lesões na amígdala não conseguem utilizar as informações contidas nas expressões faciais para fazer julgamentos interpessoais. Ao falar do papel das emoções sobre o que aprendemos, é oportuno ampliar o termo “aprendizado” para “ensino/aprendizado”. Todos nós entendemos as coisas com base em experiências passadas. O professor baseia-se em suas experiências passadas com “mestres” que lhe deramas primeiras aulas; aquele que aprende se ampara em coisas que leu, ouviu, tocou, sejam aulas ou outros eventos. Educadores têm dito que ensinar é aprender a ensinar; aprender é ensinar a aprender; ou que não pode haver ensino sem aprendizagem e vice- versa (Freire, 1996; 2003). Nesse seguimento, o que a emoção produz quanto ao aprender se aplica ao ensinar. O papel comunicacional-informacional da emoção transcende o uso de palavras. Olhando para uma pessoa pode-se ter certa sensação, que explicada em palavras seria algo como “ele está com raiva” ou “ela está com medo” ou ainda “os dois estão alegres”, mas as sensações vão além dos milhares de palavras que existem na língua portuguesa ou outros idiomas. Podem ser de 400 a 600 mil, segundo diferentes fontes de pesquisa, mas se tomarmos apena o Michaelis, reuniremos para consulta 167 mil verbetes, 350 mil acepções, 27 mil expressões e 47 mil exemplos e abonações. Entretanto, não precisamos disso quando comunicamos estados de emoção, humores e necessidades emocionais, pois elas se revelam não verbalmente. A interpretação informacional de uma emoção tem influência particularmente forte na atenção. Tyng et al. (2017) revelam um “controle atencional e executivo” que na sua visão “está intimamente ligado aos processos de aprendizagem, pois as capacidades de atenção intrinsecamente limitadas são mais focadas em informações relevantes”. Os autores ainda complementam a ação da emoção sobre a aprendizagem pela faculdade de facilitar a codificação e ajudar a recuperar informações de forma eficiente. Ao estudar o caráter comunicacional-informacional da emoção, em um evento emocional intenso e marcante, ela representa uma espécie de memória emocional. Da mesma forma quando aprendemos determinados comportamentos que nos fazem mudar padrões de respostas diante de certas situações: é como se tivéssemos uma aprendizagem emocional. Por fim, sempre que algo se 6 apresenta em um determinado evento, nos faz direcionar nossa atenção, por uma determinada emoção; ela nos afeta como se fosse uma atenção emocional. TEMA 3 – A INTEGRAÇÃO COGNIÇÃO-EMOÇÃO E MEMÓRIA-APRENDIZADO Eventos emocionais são lembrados mais claramente, com mais precisão, e por períodos de tempo mais longos do que os eventos neutros. Aprendizagem e memória integram-se na relação cognição-emoção. Se fôssemos pensar em consonância com Grabner (2016), para que algo seja guardado em nossa memória, precisamos da emoção, o que nos faz depreender que todo evento cognitivo tem emoção. Outros estudiosos sublinham a presença da emoção na cognição. Leahy (2013, p. 29, citado por Grabner), 2016 baseia-se nos psicólogos Gordon H. Bower e Roberto B. Zajonc, Leahy (2013) para afirmar que, ao lado de pensamentos, sensações e tendências comportamentais, as emoções “são conectadas associativamente nas redes neurais. Assim, ativar um processo ativa os outros”. Em nossa existência, aprendemos várias coisas na relação emoção- cognição, que permanecem em nossas mentes. Se houve um período em que se buscou separá-las, nas duas últimas décadas acentuou-se um corpo de trabalho, atestando a interdependência entre as duas. Se a cognição é uma função psicológica que nos faz obter o conhecimento através de processos como atenção, memória e linguagem, entre outros, por estar integrada à emoção, como poderia ser considerada uma condição inata? LeDoux Brown (2017) buscam responder a essa dúvida. Para eles, as emoções não são inatas em nossos cérebros; a rigor, são estados cognitivos resultantes de informações. Vejamos: Argumentamos que as experiências conscientes, independentemente de seu conteúdo, surgem de um sistema no cérebro. Nessa visão, o que difere em estados emocionais e não emocionais são os tipos de insumos que são processados por uma rede cortical geral de cognição, uma rede essencial para experiências conscientes. Embora os circuitos subcorticais não sejam diretamente responsáveis pelos sentimentos conscientes, eles fornecem insumos não-conscientes que se fundem com outros tipos de sinais neurais na montagem cognitiva de experiências emocionais conscientes. (Ledoux; Brown, 2017) Quanto à memória e aprendizagem, a leitura mais recente de estudiosos e especialistas nos faz pensar que ambas compartilham os mesmos paralelos. Se imaginarmos que as duas existem e dependem do cérebro, podemos considerar que uma e outra só existem por ele. Um ponto de análise é se sublinhar: a 7 aprendizagem é um processo cognitivo relativo a eventos passados, presentes ou futuros, e a memória se relaciona com eventos que já ocorreram. Diríamos que aprendemos a qualquer momento, entretanto as informações só fazem parte da mente se armazenadas na memória após a aprendizagem. Também não podemos deixar de considerar que, para aprender, dependemos da memória. Aprendemos por uma estimulação cerebral a partir da memória, assim como aprendemos porque precisamos da aprendizagem para armazenar novas informações. Esse entendimento encontra consonância na perspectiva de Gazzaniga e Heatherton (2005) que consideram qualquer distinção entre aprendizagem e memória um tanto arbitrária, “pois há uma sobreposição significativa na visão que os cientistas psicológicos contemporâneos têm dos dois processos”. Na verdade, mecanismos biológicos similares estão envolvidos na aprendizagem e na memória. Sobre a atuação da memória no cérebro em favor da aprendizagem, é oportuno lembrar que, em sentido literal, o cérebro não armazena realmente memórias, mas armazena traços de informação que são posteriormente usados para criar memórias (Baddeley et al., 2000). Esta condição possibilita aprendizagem; nem sempre “o que se aprendeu” corresponde à imagem verídica da realidade que foi vivenciada no passado. Segundo Baddeley (2000), para realizar esse processo, diferentes partes do cérebro atuam como nós importantes da rede neural, os quais codificam, armazenam e recuperam as informações que serão usadas para criar memórias. Os mecanismos biológicos que envolvem emoção-cognição e memória- aprendizagem são provenientes de nossa estrutura cerebral, em seus aspectos genéticos, em crenças que adquirimos em nossa história de vida pessoal, e pelos eventos externos que surgem em nosso cotidiano. É através da neurociência e da psicologia que podemos obter dados avaliativos sobre o que expressamos emocionalmente. TEMA 4 – AVALIAÇÃO DA EMOÇÃO Personalidade e faixa etária, entre outros fatores, podem servir de avaliação observável em testes psicológicos e em exames de neuroimagem. As emoções atuam como sinalizadores internos de alguma coisa que está ocorrendo, e a partir de então mobilizam recursos cognitivos, que passam a buscar na atenção e na memória informações que tenham efeito no processo de 8 ensino-aprendizado. Podemos ter mais ou menos ganho na memória e no aprendizado, conforme as nossas emoções. Podemos conhecê-la por saberes de nossa personalidade, nossa idade, e outros. A combinação entre neurociência e psicologia é importante para avaliar aspectos relativos aos processos emocionais, e sua relação com a memória e a aprendizagem. O que se tem como caminho é a avaliação da emoção em si, para considerar, a partir disso, possíveis implicações na memória e na aprendizagem. Aspectos como personalidade e capacidade intelectual são fatores individuais a serem reconhecidos na emoção. Alguns traços de personalidade parecem ter efeitos visíveis, como a extroversão e o neuroticismo. Nunes (2010, p. 130) descreve as características de pessoas com altos níveis de extroversão, como falantes, com senso de intimidade, e ativas. O autor aborda o neuroticismo como o que ocorre com pessoas que vivenciam formas mais intensa de sofrimentos psicológicos, instabilidade afetiva e vulnerabilidade. Essas duas facetas da personalidade podem por elas mesmas terinfluência na vida das pessoas, ao se revelarem em emoções. De acordo com Urry e Gross (2010) e Allard e Kensinger (2014), “estudos também mostraram que adultos mais velhos estão associados à maior familiaridade com o estresse psicológico e experiências emocionais, causando, assim, viés de positividade no processamento emocional e melhor controle emocional do que em adultos jovens” (citados por Tyng, 2017). Outros estudos parecem confirmar Tyng, e mesmo que não avaliemos os processos emocionais individuais pela diferença entre o que marca o calendário e o que indica as emoções, a idade dos participantes em uma amostra da população deve ser considerada para estudos cognitivos e emocionais. Podemos incluir os testes psicológicos sobre as emoções como “um procedimento sistemático para a obtenção de amostras de comportamento cognitivo ou afetivo e para a avaliação destas amostras de acordo com certos padrões” (Urbina, 2007, p. 11). Eles compreendem o “chamado crivo biológico, que filtra os estímulos para que possam ser adequadamente elaborados pelo organismo, até as formas mais sofisticadas dos testes psicológicos (Pasquali, 2010, p. 11). Os instrumentos oferecem uma visão psicológica de facetas emocionais, mas sua análise detalhada pode permitir conhecer melhor domínio de funcionamento da pessoa, tal como a natureza experiencial da emoção ou mesmo sua regulação, processos cognitivos ligados à percepção emocional em 9 si e nos outros, e a atenção vinculada a emoção e uso da memória. Técnicas de imagem cerebral, como tomografia computadorizada (TC), imagem ótica difusa (DOI), sinal óptico relacionado ao evento (EROS), Magnetoencefalografia (MEG), eletroencefalograma (EEG), imagens de ressonância magnética funcional (IRMf), tomografia por emissão de pósitrons (PET) e espectroscopia funcional próxima do infravermelho (fNIRS), entre outras, permitem o processamento de informações por centros do cérebro para visualizações diretas. Para citar duas delas, a IRMf é usada para detectar alteração do fluxo sanguíneo cerebral associada à atividade neural. Isso permite acessar imagens de estruturas cerebrais que estejam em atividades (num evento emocional) durante o momento em que elas acontecem. Já a PET mede emissões de substâncias químicas que estão ativas na corrente sanguínea, o que permite avaliar a presença de substâncias neuroquímicas em certos processos emocionais. Avaliações podem também ser feitas sobre exame de pupilas (iluminação e movimento ocular), condutância da pele e análise de expressões faciais. TEMA 5 – EFEITOS DAS EMOÇÕES POSITIVAS E NEGATIVAS Emoções negativas que ficam mais tempo do que apenas por um momento bloqueiam o fluxo de glicose para o cérebro e privam o corpo de energia, o que afeta negativamente o processo de aprendizagem. A busca de evidências sobre os efeitos da emoção na memória e no aprendizado indica que algumas respostas podem ser consideradas. É nosso entendimento que as emoções positivas facilitam a aprendizagem e contribuem para o desempenho acadêmico, por meio de automotivação. As emoções negativas, por outro lado, são vistas como inibidoras em processos de ensino-aprendizagem, salvo em situações específicas. Uma delas é apresentada por D’Mello et al. (2014, citado por Tyng, 2017), que relatam em estudo recente que o estado negativo de aprendizagem (confusão) melhora a aprendizagem, porque resulta em um foco de atenção maior em material de aprendizagem, que por sua vez leva a desempenhos mais altos em testes. Para Vogel e Schwabe (2016) as pesquisas das duas últimas décadas, identificaram os hormônios e neurotransmissores observáveis durante e após um evento como os principais moduladores do aprendizado e da memória. Eles acrescentam que estágios de codificação, consolidação ou recuperação na 10 memória podem ser afetados diretamente por respostas fisiológicas após um encontro estressante. Outro dado relevante apresentado por Vogel e Schwabe (2016) é de que o estresse afeta a memória de uma maneira dependente do tempo, muitas vezes melhorando a formação da memória na época do encontro estressante, mas prejudicando a recuperação e a aquisição de informações codificadas muito depois do evento estressante. Scot (2008) relata uma metanálise em 113 estudos de estresse: Um dos achados é que o estresse pode impedir a formação de memórias (e por consequência atrapalhar a aprendizagem), se ocorrer antes ou durante a codificação, tempo durante o qual a memória é formada. Ao ocorrer um pequeno atraso entre a codificação e a formação da memória, esta melhora. O estresse aumenta o cortisol, mas a quantidade da substância não é diretamente relacionada aos efeitos do estresse na memória. Criar mais cortisol como resposta ao estresse não significa prejudicar a memória. O estresse ao levar a exaustão pode comprometer o processamento cognitivo da atenção e memória de trabalho. Este comprometimento pode ser detectado três anos depois, mesmo após o esgotamento ter sido abordado. Fredrickson (2001), uma pesquisadora de psicologia positiva na Universidade da Carolina do Norte, publicou em um artigo um experimento para testar as emoções. O estudo compreendeu 139 participantes durante 7 semanas, divididos em dois grupos – um deles submetido a atividades voltadas às emoções, e outros a atividades neutras. O grupo das emoções foi dividido em duas categorias: emoções positivas e emoções negativas. Para gerar emoções positivas, Fredrickson utilizou práticas de treinamento mental trabalhando com meditação da bondade amorosa, gerando alegria e contentamento. Para as emoções negativas, foram desenvolvidas atividades incluindo clips geradores de medo e raiva. No levantamento de dados obtidos, observou-se que a responsividade foi menor nos participantes da categoria de emoções negativas. Enquanto isso, a categoria de emoções positivas respondeu com um número significativamente maior de ações, em comparação ao grupo neutro. Os resultados confirmaram a hipótese de que as emoções ampliam o escopo do 11 repertório de atenção e pensamento, ações que como vimos anteriormente estão ligadas à memória e aprendizagem (Fredrickson, 2019). 12 REFERÊNCIAS BADDELEY, A. et al. The Brain Decade in Debate: I Neurobiology of learning and memory. Brazilian Journal of Medical and Biological Research, v. 33, n. 9, p. 993-1002, 2000. CAREW, T.J. E., MAGSAMENT, S. H. Neuroscience And Education: An Ideal Partnership For Producing Evidence-Based Solutions to guide 21st century learning. University of California, 2010. Disponível em: <https://www.cell.com/action/showPdf?pii=S0896-6273%2810%2900638-0>. Acesso em: 2 ago. 2019. DAVIDSON, R. J.; BEGLEY, S. The emotional life of your brain: how its unique patterns affect the way you think, feel, and live – and how you can change them. New York: Hudson Street Press, 2012. FREDRICKSON, B L. “The role of positive emotions in positive psychology. 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