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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL REMOÇÃO DE OOCISTOS DE Cryptosporidium POR FILTRAÇÃO DIRETA – INFLUÊNCIA DE ALGUNS ASPECTOS OPERACIONAIS ANDRÉIA PAIVA FAGUNDES ORIENTADORA: CRISTINA CELIA SILVEIRA BRANDÃO CO-ORIENTADORA: PATRICIA DE CAMPOS GOMES MONTEIRO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS PUBLICAÇÃO: PTARH.DM – 097/06 BRASÍLIA/DF: SETEMBRO – 2006 ii UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL REMOÇÃO DE OOCISTOS DE Cryptosporidium POR FILTRAÇÃO DIRETA – INFLUÊNCIA DE ALGUNS ASPECTOS OPERACIONAIS ANDRÉIA PAIVA FAGUNDES DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL DA FACULDADE DE TECNOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM TECNOLOGIA AMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS. APROVADA POR: _________________________________________________ Prof a CRISTINA CELIA SILVEIRA BRANDÃO, PhD (ENC-UnB) (Orientadora) _________________________________________________ Prof. MARCO ANTÔNIO ALMEIDA DE SOUZA, PhD (ENC-UnB) (Examinador Interno) _________________________________________________ Prof. RAFAEL KOPSCHITZ XAVIER BASTOS, PhD (CCE -UFV) (Examinador Externo) BRASÍLIA/DF, 05 DE SETEMBRO DE 2006 iii FICHA CATALOGRÁFICA FAGUNDES, ANDRÉIA PAIVA Remoção de Oocistos de Cryptosporidium por filtração direta – Influência de alguns aspectos operacionais [Distrito Federal] 2006. xxiii, 143p., 210 x 297 mm (ENC/FT/UnB, Mestre, Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos, 2006). Dissertação de Mestrado – Universidade de Brasília. Faculdade de Tecnologia. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental. 1.Tratamento de Água 2.Filtração Direta Descendente 3.Remoção de oocistos de Cryptosporidium 4.Sulfato de Alumínio I. ENC/FT/UnB II. Título (série) REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA FAGUNDES, A. P. (2006). Remoção de Oocistos de Cryptosporidium por filtração direta – Influência de alguns aspectos operacionais. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos, Publicação MTARH.DM-97/06, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 148p. CESSÃO DE DIREITOS AUTOR: Andréia Paiva Fagundes. TÍTULO: Remoção de Oocistos de Cryptosporidium por filtração direta – Influência de alguns aspectos operacionais GRAU: Mestre ANO: 2006 É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta dissertação de mestrado e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte dessa dissertação de mestrado pode ser reproduzida sem autorização por escrito do autor. ____________________________ Andréia Paiva Fagundes SQN 316, Bloco J, Apartamento 510 – Asa Norte 70775-100 Brasília – DF – Brasil Endereço Eletrônico: andreiapfagundes@hotmail.com iv Aos meus pais, Degmar e Branca, por acreditarem na educação como instrumento de transformação. À Fabinho, por todo o apoio, amor e incentivo. Com todo o meu amor, dedico. v AGRADECIMENTOS A minha mais sincera gratidão a todos que me ajudaram a chegar até aqui. À Deus. À minha família, meu pai, Degmar, e minha mãe, Branca, pelo amor, esforço e incentivo. Ao meu irmão, Fábio, pelo apoio e aprendizado. À minha tia Déia, pelos momentos de oração. A todos os meus familiares, por torcerem e acreditarem no meu sucesso. À professora Cristina, pela orientação, aprendizado, dedicação e compreensão nos momentos difíceis. A professora Patrícia, pela co-orientação, aprendizado e amizade. A todos os professores do PTARH, pela compreensão e pelos conhecimentos transmitidos. À FINATEC e ao CNPQ, pelo suporte financeiro, com concessão de bolsa de estudos. À CAESB, pelo apoio operacional, em especial ao Engenheiro Gustavo, gerente da ETA Brasília. Ao pessoal do laboratório, Boy, Rosely, João, Júnior, Lilica e Carol pelo apoio incondicional e amizade, tão fundamentais para a realização dos trabalhos experimentais. Aos funcionários do Laboratório de Materiais, Xavier e Severino, pelo auxílio e dedicação. Às amigas Débora Brito e Bianca, por estarem sempre presentes e por dedicarem tempo precioso ao auxílio do desenvolvimento dos trabalhos experimentais. Às amigas de sala, Ana Elisa, Renata e Deborah pelas valiosas dicas e pelas conversas divertidas e descontraídas em momentos de fundamental importância. Aos amigos de turma do mestrado, Rafael, José Ricardo, Edson, Mariana, Flávia, Cláudia, Cristina e José Gabriel, pela convivência e aprendizado. Aos amigos do doutorado, Jussanã, Férnan, Gustavo, Jaqueline, Ronaldo, Jorge, Domingo, Selma, Luciana e Rosângela pelo carinho. vi Aos amigos firmados no PTARH: Fuad, Cristiane, Simone, Simoneli, Jailma, Thales, Camila, Jennifer, Alcione, Michele, Lygia, Andresa, Carol, Neusa, Renan, Eneida, Carlos, Lorena e Elisandra, pelos momentos compartilhados. A todos os amigos que acreditaram em mim e de alguma forma contribuíram para a minha formação, o meu muito obrigado. Ao meu namorado, Fabinho, por estar sempre presente, me apoiando nos momentos difíceis, me levantando quando preciso e acreditando, sempre. vii RESUMO REMOÇÃO DE OOCISTOS DE Cryptosporidium POR FILTRAÇÃO DIRETA – INFLUÊNCIA DE ALGUNS ASPECTOS OPERACIONAIS Autor(a) : Andréia Paiva Fagundes Orientador(a): Cristina Celia Silveira Brandão Co-Orientador(a): Patrícia de Campos Gomes Monteiro Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos Brasília, Setembro, 2006 O presente trabalho trata da remoção de oocistos de Cryptosporidium por filtração direta descendente em meio granular praticamente uniforme, verificando a influência de aspectos operacionais como dosagens de coagulante, taxas de filtração e características da água bruta. O trabalho experimental foi desenvolvido em escala piloto composta por dispositivo de mistura rápida e filtro descendente de areia. Os experimentos em escala piloto foram precedidos de estudos em escala de bancada (Testes de Jarros) para a definição da faixa de pH e dosagem de coagulante a serem empregados nos experimentos de filtração. Foram realizados 15 experimentos de filtração direta descendente, utilizando como coagulante o sulfato de alumínio. Optou-se por trabalhar com subdosagens, dosagens “ótimas” e super- dosagens de coagulante. Foram utilizadas águas provenientes do lago Paranoá e do córrego do Torto, sendo que toda a água empregada nos trabalhos de filtração foi inoculada com oocistos de Cryptosporidium na ordem de 10 2 a 10 3 oocistos/L. Além disso, o filtro foi operado com taxas constantes de 210 m/dia e 105 m/dia. Os resultados obtidos indicaram que, independente da origem da água bruta e da taxa de filtração utilizada, ao se adotar dosagens “ótimas” e super-dosagens de coagulante, os efluentes apresentaram valores de turbidez inferiores a 0,5 UT e de clorofila-a inferiores a 1,5 g/L. Quanto à remoção de oocistos de Cryptosporidium, para o filtro estudado, não foram observadas diferenças na remoção desse protozoário com a utilização de uma taxa conservadora, 105 m/dia, quando comparada ao valor de 210 m/dia. Por outro lado, para as águas estudadas, a utilização de super-dosagem parece promover uma maior remoção de oocistos de Cryptosporidium quando comparada com o uso de dosagem “ótima”.Similarmente, foi observado que durante a operação regular do filtro, a remoção de oocistos de Cryptosporidium tende a ser mais elevada do que no período de amadurecimento do mesmo. Entretanto, o fator operacional que influenciou de forma mais determinante a remoção desse protozoário foi a utilização de subdosagem de coagulante. Quando essa condição de coagulação foi adotada, verificou-se, independentemente da água bruta, que a remoção foi significativamente inferior. Dessa forma, pode-se considerar como dois fatores de risco importantes: possíveis falhas na dosagem de coagulante, com a aplicação de subdosagem, e o período de amadurecimento do filtro. viii ABSTRACT REMOVAL OF Cryptosporidium OOCYSTS BY DIRECT FILTRATION – THE INFLUENCE OF SOME OPERATIONAL ASPECTS Author: Andréia Paiva Fagundes Supervisor: Cristina Celia Silveira Brandão Co-Supervisor: Patrícia de Campos Gomes Monteiro Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos Brasília, September of 2006. The present work deal with the removal of Cryptosporidium oocysts by downflow direct filtration with almost uniform filter bed to verify the influence of operational aspects such as coagulant dosage, filtration flow rate and raw waters characteristcs. The experimental work was carried out in pilot-plant comprised by a hydraulic flash mixing device and a rapid downflow sand filter column. The studies in pilot-scale were preceded by benches studies (Jar Tests) for the definition of the coagulant dosages and the pH values to be used in the filtration experiments. Fifteen filtration experiments had been carried out, using aluminum sulphate as coagulant. Three different dosage levels were used: suboptimal, "optimal" and overoptimal dosages of coagulant. Raw waters from the Paranoá lake and from the Torto stream were used. During filtration experiments these waters were spiked with Cryptosporidium sp. oocysts in the order of 10 3 to 10 2 oocysts/L and the filter was operated with constant flow rates of 210 m/day and 105 m/day. Independently of the filtration flow rate and the raw water tested, when "optimal" and overoptimal coagulant dosages were used, the filter effluents presented turbidity values lower than 0,5 NTU and values of chlorophyll-a lower than 1,5 g/L. Regarding the removal of Cryptosporidium oocysts, for the studied filter, no appreciable differences on the removal of these protozoan were observed with the utilization of conservatives flow rates, 105 m/day, when comparing with 210 m/day.. On the other hand, for the raw waters studied, the use of overoptimal coagulant dosages tends to improve the removal of the Cryptosporidium oocysts, when comparing with optimal dosages. Similarly, it was observed that the removal of the Cryptosporidium oocysts was lower during ripening period when comparing with the stable filtration operation. However, the operational aspect that placed more influence on the removal of Cryptosporidium oocysts was the use suboptimal coagulation dosage. When this condition was adopted, it was verified that, independently of the raw water.used, the removal was significant lower. So, failures in the coagulation process, such the use of suboptimal coagulant dosages and the ripening filter period may be considered as the two major operational risk factors. ix SUMÁRIO 1 – INTRODUÇÃO ................................................................................................. 1 2 – OBJETIVOS ...................................................................................................... 3 2.1 – OBJETIVO GERAL................................................................................. 3 2.2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS.................................................................. 3 3 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........... 4 3.1 – FILTRAÇÃO............................................................................................. 4 3.1.1 – Tecnologia de filtração direta....................................................... 7 3.1.1.1 – Considerações iniciais..................................................... 7 3.1.1.2 – Tecnologia de filtração direta descendente..................... 9 3.1.1.3 – A coagulação aplicada a filtração direta.......................... 11 3.2 – O Cryptosporidium .................................................................................... 15 3.2.1 – Introdução...................................................................................... 15 3.2.2 – O ciclo de vida dos oocistos de Cryptosporidium........................ 17 3.2.3 – Fontes e ocorrência de Cryptosporidium e surtos de Criptosporidiose........................................................................................ 17 3.3 – EFEITOS DO TRATAMENTO DE ÁGUA NA REMOÇÃO DE Cryptosporidium ................................................................................................. 21 3.3.1 – Remoção de Cryptosporidium por meio de tratamento convencional e filtração direta................................................................. 22 3.3.2 – Influência da operação de filtração e do mecanismo de coagulação na remoção de oocistos de Cryptosporidium........................ 33 3.4 – ASSOCIAÇÃO ENTRE INDICADORES E OOCISTOS DE Cryptosporidium.................................................................................................. 47 4 – METODOLOGIA.............................................................................................. 61 4.1 – ÁGUA DE ESTUDO................................................................................. 61 4.2. – EXPERIMENTOS EM ESCADA DE BANCADA............................... 62 4.3 – EXPERIMENTOS EM ESCALA PILOTO........................................... 66 4.3.1 – Descrição da instalação piloto...................................................... 66 4.3.1.1 – Sistema de alimentação de água bruta e dosagem de coagulante........................................................................................ 67 4.3.1.2 – Coluna de filtração......................................................... 70 4.3.2 – Desenvolvimento dos experimentos de filtração......................... 72 x 4.4 – METODOLOGIAS PARA A DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS DE QUALIDADE DA ÁGUA.............................................. 76 5 – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS............................... 85 5.1 – ENSAIOS DE BANCADA........................................................................ 85 5.1.1 – Água do lago Paranoá................................................................... 85 5.1.2 – Água do córrego do Torto............................................................ 87 5.2 – EXPERIMENTOS DE FILTRAÇÃO EM ESCALA PILOTO............ 91 5.2.1 – Vazões e taxas de filtração............................................................ 92 5.2.2 – Residual de alumínio..................................................................... 94 5.2.3 – Clorofila-a...................................................................................... 95 5.2.4 – Coliformes totais e E. coli............................................................. 96 5.2.5 – Turbidez......................................................................................... 97 5.2.6 – Perdas de carga.............................................................................. 98 5.2.7 – Experimentos de filtração direta descendente – Água do lago Paranoá...................................................................................................... 103 5.2.8 – Experimentos de Filtração direta descendente – Água do córrego do Torto........................................................................................ 106 5.2.8.1 – Experimentosde filtração direta descendente – água do córrego do torto – fevereiro e março de 2006................................. 106 5.2.8.2 – Experimentos de filtração direta descendente – água do córrego do torto – maio a julho de 2006......................................... 108 5.2.9 – Influência da qualidade da água na remoção de oocistos de Cryptosporidium e parâmetros indicadores............................................. 112 5.2.10 – Comparação entre as remoções dos parâmetros de qualidade da água no período de inicial de funcionamento do filtro e no período de estabilização do filtro........................................................ 114 6 – CONCLUÕES E RECOMENDAÇÕES.......................................................... 116 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 119 APÊNDICES................................................................................................................. 127 APÊNDICE A – CÁLCULO DO DISPOSITIVO DE MISTURA RÁPIDA.......... 128 APÊNDICE B – VAZÕES EFLUENTES DO FILTRO DESCENDENTE AO LONGO DOS EXPERIMENTOS DE FILTRAÇÃO DIRETA ............................. 130 APÊNDICE C – TURBIDEZ AO LONGO DOS EXPERIMENTOS DE FILTRAÇÃO DIRETA DESCENDENTE................................................................ 133 xi APÊNDICE D – TAXA DE CRESCIMENTO DAS PERDAS DE CARGA NAS CAMADAS DO MEIO FILTRANTE AO LONGO DOS EXPERIMENTOS DE FILTRAÇÃO DIRETA DESCENDENTE................................................................ 136 xii LISTA DE FIGURAS Figura 3.1 – Fluxogramas esquemáticos dos sistemas de filtração direta sem pré- floculação (a, b e c) e com pré-floculação (d)................................................................. 9 Figura 3.2 – Diagrama de coagulação com sulfato de alumínio e potencial zeta – Cleasby, 1990 (modificado)............................................................................................. 12 Figura 3.3 – Seção do diagrama de coagulação do sulfato de alumínio, indicando a melhor faixa para a filtração direta – Armirtharajah e O’Melia, 1990 (modificado)...... 15 Figura 3.4 – Imagem de Cryptosporidium parvum (USEPA, 2006)............................... 15 Figura 4.1 – Filtro de laboratório de areia (a) esquema; (b) foto..................................... 63 Figura 4.2 – (a) Adaptação do aparelho de teste de jarros para uso de filtro de laboratório de areia; (b) Detalhe do disco.................................................................... 64 Figura 4.3 – Intalação piloto: foto.................................................................................... 66 Figura 4.4 – Intalação piloto: esquema............................................................................ 67 Figura 4.5 – Reservatório de coagulante e bomba dosadora........................................... 68 Figura 4.6 – Dispositivo de mistura rápida...................................................................... 68 Figura 4.7 – Coluna de filtração direta descendente........................................................ 71 Figura 4.8 – Localização dos piezômetros no filtro descendente.................................... 71 Figura 4.9 – Resumo dos experimentos de filtração realizados durante o desenvolvimento do trabalho em instalação piloto.......................................................... 73 Figura 4.10 – Lavagem do fitro....................................................................................... 76 Figura 4.11 – Filtração com auxílio de bomba peristáltica.............................................. 79 Figura 4.12 – Detalhe do encaixe do Filta-Max ® , IDEXX.............................................. 79 Figura 4.13 – Estação de eluição: (a) compressão; (b) descompressão........................... 79 Figura 4.14 – (a) Filta-Max íntegro; (b) Filta-Max após a eluição.................................. 80 Figura 4.15 – Filtração a vácuo em membrana utilizando bomba a vácuo manual......... 80 Figura 4.16 – Lavagem da membrana.............................................................................. 80 Figura 4.17 – Tubos cônicos de 50 mL............................................................................ 81 Figura 4.18 – Tubos cônicos de 15 mL............................................................................ 81 xiii Figura 4.19 – Etapa de homogeniezação......................................................................... 81 Figura 4.20 – Concentrador magnético para volume de 10 mL...................................... 82 Figura 4.21 – Concentrador magnético para volume de 1,5 mL..................................... 82 Figura 4.22 – Microscópio de epifluorescência............................................................... 84 Figura 4.23 – Oocisto de Cryptosporidium em imunofluorescência (à esquerda) e em contraste de fases (à direita)............................................................................................. 84 Figura 5.1 – Diagrama de coagulação do sulfato de alumínio para água proveniente do lago Paranoá – Janeiro/2006. Turbidez da água bruta: 5,4: UT e pH da água bruta: 6,9.......................................................................................................................... 86 Figura 5.2 – Estudos preliminares com o coagulante sulfato de alumínio anidro em água proveniente do córrego do Torto – Fevereiro/2006. Água bruta com turbidez: 7,2, pH da água bruta: 5,6 e Alcalinidade da água bruta: 207 mg/L de CaCO3.............. 88 Figura 5.3 – Diagrama de coagulação do sulfato de alumínio para água proveniente do córrego do Torto – Agosto/2006 (Fernandes, 2006). Água bruta com turbidez: 2,7 UT e pH da água bruta: 6,7.............................................................................................. 89 Figura 5.4 – Ensaios para a verificação da estabilidade do pH e da alcalinidade da água do córrego do Torto após alcalinização com bicarbonato de sódio – Fevereiro/2006................................................................................................................. 91 Figura 5.5 – Concentrações de alumínio em amostras de água bruta e filtrada nos experimentos de filtração direta descendente.................................................................. 94 Figura 5.6 – Concentrações de clorofila-a em amostras de água bruta e água filtrada nos experimentos de filtração direta descendente............................................................ 95 Figura 5.7 – Perda de carga nos experimentos de filtração direta descendente com água proveniente do lago Paranoá no período de Janeiro e Fevereiro/2006.................... 99 Figura 5.8 – Perda de carga nos experimentos de filtração direta descendente com água proveniente do córrego do Torto no período de Fevereiro e Março/2006.............. 101 Figura 5.9 – Perda de carga nos experimentos de filtração direta descendente com água proveniente do córrego do Torto no período de Maio a Julho/2006....................... 102 Figura B.1 – Vazão efluente ao longo do experimento 2................................................ 130 Figura B.2 – Vazão efluente ao longo do experimento 3................................................ 130 xiv Figura B.3 – Vazão efluente ao longo do experimento 4................................................ 130 Figura B.4 – Vazão efluente ao longo do experimento 5................................................ 130 Figura B.5 – Vazão efluente ao longo do experimento 6................................................ 130 Figura B.6 – Vazão efluente ao longo do experimento 7................................................ 130 Figura B.7 – Vazão efluente ao longo doexperimento 8................................................ 131 Figura B.8 – Vazão efluente ao longo do experimento 9................................................ 131 Figura B.9 – Vazão efluente ao longo do experimento 10.............................................. 131 Figura B.10 – Vazão efluente ao longo do experimento 11............................................ 131 Figura B.11 – Vazão efluente ao longo do experimento 12............................................ 131 Figura B.12 – Vazão efluente ao longo do experimento 13............................................ 131 Figura B.13 – Vazão efluente ao longo do experimento 14............................................ 132 Figura B.14 – Vazão efluente ao longo do experimento 15............................................ 132 Figura C.1 – Turbidez da água filtrada ao longo do experimento 1................................ 133 Figura C.2 – Turbidez da água filtrada ao longo do experimento 2................................ 133 Figura C.3 – Turbidez da água filtrada ao longo do experimento 3................................ 133 Figura C.4 – Turbidez da água bruta e da água filtrada ao longo do experimento 4....... 133 Figura C.5 – Turbidez da água bruta e da água filtrada ao longo do experimento 5....... 133 Figura C.6 – Turbidez da água bruta e da água filtrada ao longo do experimento 6....... 133 Figura C.7 – Turbidez da água bruta e da água filtrada ao longo do experimento 7....... 134 Figura C.8 – Turbidez da água bruta e da água filtrada ao longo do experimento 8....... 134 Figura C.9 – Turbidez da água bruta e da água filtrada ao longo do experimento 9....... 134 Figura C.10 – Turbidez da água bruta e da água filtrada ao longo do experimento 10... 134 Figura C.11 – Turbidez da água bruta e da água filtrada ao longo do experimento 11... 134 Figura C.12 – Turbidez da água bruta e da água filtrada ao longo do experimento 12... 134 Figura C.13 – Turbidez da água bruta e da água filtrada ao longo do experimento 13... 135 Figura C.14 – Turbidez da água bruta e da água filtrada ao longo do experimento 14... 135 Figura C.15 – Turbidez da água bruta e da água filtrada ao longo do experimento 15... 135 xv Figura D.1 – Taxa de crescimento das perdas de carga nas camadas do meio filtrante ao longo do experimento de filtração direta descendente – Experimento 1 Água do lago Paranoá – Dosagem “ótima” de coagulante............................................................. 136 Figura D.2 – Taxa de crescimento das perdas de carga nas camadas do meio filtrante ao longo do experimento de filtração direta descendente – Experimento 2 Água do lago Paranoá – Dosagem “ótima” de coagulante............................................................. 136 Figura D.3 – Taxa de crescimento das perdas de carga nas camadas do meio filtrante ao longo do experimento de filtração direta descendente – Experimento 3 Água do lago Paranoá – Dosagem “ótima” de coagulante............................................................. 137 Figura D.4 – Taxa de crescimento das perdas de carga nas camadas do meio filtrante ao longo do experimento de filtração direta descendente – Experimento 4 Água do lago Paranoá – Subdosagem de coagulante.................................................................... 137 Figura D.5 – Taxa de crescimento das perdas de carga nas camadas do meio filtrante ao longo do experimento de filtração direta descendente – Experimento 5 Água do córrego do Torto em fevereiro de 2006 – Dosagem “ótima” de coagulante................... 138 Figura D.6 – Taxa de crescimento das perdas de carga nas camadas do meio filtrante ao longo do experimento de filtração direta descendente – Experimento 6 Água do córrego do Torto em fevereiro de 2006 – Dosagem “ótima” de coagulante................... 138 Figura D.7 – Taxa de crescimento das perdas de carga nas camadas do meio filtrante ao longo do experimento de filtração direta descendente – Experimento 7 Água do córrego do Torto em fevereiro de 2006 – Dosagem “ótima” de coagulante................... 139 Figura D.8 – Taxa de crescimento das perdas de carga nas camadas do meio filtrante ao longo do experimento de filtração direta descendente – Experimento 8 Água do córrego do Torto em março de 2006 – Subdosagem de coagulante............................... 139 Figura D.9 – Taxa de crescimento das perdas de carga nas camadas do meio filtrante ao longo do experimento de filtração direta descendente – Experimento 9 Água do córrego do Torto em maio de 2006 – Taxa de filtração reduzida para 105 m 3 /m 2 dia..... 140 Figura D.10 – Taxa de crescimento das perdas de carga nas camadas do meio filtrante ao longo do experimento de filtração direta descendente – Experimento 10 Água do córrego do Torto em maio de 2006 – Taxa de filtração reduzida para 105 m 3 /m 2 dia..... 140 xvi Figura D.11 – Taxa de crescimento das perdas de carga nas camadas do meio filtrante ao longo do experimento de filtração direta descendente – Experimento 11 Água do córrego do Torto em junho de 2006 – Super-dosagem de coagulante............................. 141 Figura D.12 – Taxa de crescimento das perdas de carga nas camadas do meio filtrante ao longo do experimento de filtração direta descendente – Experimento 12 Água do córrego do Torto em junho de 2006 – Super-dosagem de coagulante............................. 141 Figura D.13 – Taxa de crescimento das perdas de carga nas camadas do meio filtrante ao longo do experimento de filtração direta descendente – Experimento 13 Água do córrego do Torto em junho de 2006 – Dosagem “ótima” de coagulante......................... 142 Figura D.14 – Taxa de crescimento das perdas de carga nas camadas do meio filtrante ao longo do experimento de filtração direta descendente – Experimento 14 Água do córrego do Torto em junho de 2006 – Dosagem “ótima” de coagulante......................... 142 Figura D.15 – Taxa de crescimento das perdas de carga nas camadas do meio filtrante ao longo do experimento de filtração direta descendente – Experimento 15 Água do córrego do Torto em junho de 2006 – Dosagem “ótima” de coagulante......................... 143 xvii LISTA DE TABELAS Tabela 3.1 – Resumo de limites para a filtração direta – Carrión e Esparza, 1992 (modificado)..................................................................................................................... 8 Tabela 3.2 – Resumo de limites para a filtração direta – Cleasby,1990 (modificado).... 8 Tabela 3.3 – Resumo de registros de oocistos de Cryptosporidium e cistos de Giardia (States et al., 1997 e Cardoso et al., 2002)...................................................................... 19 Tabela 3.4 – Registros de surtos de criptosporidiose e giardíase (Cardoso et al., 2002) 20 Tabela 3.5 – Remoção de oocistos de Cryptosporidium e cistos de Giardia por meio de tratamento convencional – Hashimoto et al., 2001 (modificado)............................... 23 Tabela 3.6 – Ocorrência de cistos de Giardia e oocistos de Cryptosporidium nas amostras de água provenientes da seqüência 3 da estação piloto – Hsu e Yeh, 2003 (modificada)..................................................................................................................... 24 Tabela 3.7 – Ocorrência de cistos de Giardia e oocistos de Cryptosporidium nas amostras de água provenientes da seqüência 1 da estação piloto – Hsu e Yeh, 2003 (modificado)..................................................................................................................... 25 Tabela 3.8 – Ocorrência de cistos de Giardia e oocistos de Cryptosporidium nas amostras de água provenientes da seqüência 2 da estação piloto – Hsu e Yeh, 2003 (modificado).....................................................................................................................25 Tabela 3.9 – Remoção de oo(cistos) de Giardia e de Cryptosporidium por tratamento convencional com filtro descendente – Bastos et al., 2004 (modificado)....................... 29 Tabela 3.10 – Remoção de oo(cistos) de Giardia e de Cryptosporidium por tratamento convencional por filtro ascendente – Bastos et al., 2004 (modificado)......... 30 Tabela 3.11 – Detecção de cistos de Giardia e oocistos de Cryptosporidium nos diferentes compartimentos da ETA piloto – Marques et al., 2005 (modificada)............ 31 Tabela 3.12 – Remoção de oocistos de Cryptosporidium e cistos de Giardia por meio de tratamento convencional e filtração direta em escala piloto – Nieminski, 1997 (modificado)..................................................................................................................... 32 Tabela 3.13 – Remoção de oocistos de Cryptosporidium e cistos de Giardia por meio de tratamento convencional e filtração direta em escala real – Nieminski, 1997 (modificado)..................................................................................................................... 32 xviii Tabela 3.14 – Resumo das características dos filtros utilizados em escala piloto em Ohio Swertfeger et al.,1999 (modificado)....................................................................... 35 Tabela 3.15 – Remoção média de cistos de Giardia e oocistos de Cryptosporidium, em escala piloto, para filtros distintos, no verão e no inverno, no estado de Ohio, USA Swertfeger et al.,1999 (modificado)................................................................................ 35 Tabela 3.16 – Qualidade da água bruta e parâmetros operacionais utilizados nas estações piloto de tratamento de água – Huck et al., 2002b (modificado)...................... 37 Tabela 3.17 – Remoção média de oocistos de Cryptosporidium – Huck et al., 2002b (modicado)....................................................................................................................... 37 Tabela 3.18 – Remoção de oocistos de Cryptosporidium inativados – Emelko, 2003 (modificado)..................................................................................................................... 38 Tabela 3.19 – Remoção de oocistos de Cryptosporidium viáveis – Emelko, 2003 (modificado)..................................................................................................................... 39 Tabela 3.20 – Remoções de oocistos de Cryptosporidium – Dugan e Willimas, 2004 (modificado)..................................................................................................................... 40 Tabela 3.21 – Remoção de oocistos de Cryptosporidium – States et al., 2002 (modificado)..................................................................................................................... 42 Tabela 3.22 – Concentração de turbidez e de oocistos de Cryptosporidium em experimentos em escala de bancada – Pereira et al., 2005 (modificado)........................ 44 Tabela 3.23 – Condições experimentais e valores dos coeficientes de filtração ka e 0 – Gistis et al., 2002 (modificado)....................................................................................... 46 Tabela 3.24 – Remoção média de oocistos de Cryptosporidium e cistos de Giardia Swertfeger et al.,1999 (modificado)................................................................................ 54 Tabela 3.25 – Remoção média de turbidez e de partículas totais – Swertfeger et al.,1999 (modificado)....................................................................................................... 54 Tabela 3.26 – Residual de turbidez, de partículas e remoção de oocistos de Cryptosporidium – Edzwald et al., 2001 (modificado)................................................... 55 Tabela 3.27 – Coeficientes de correlação de Pearson Berino e De Luca, 2003 (modificado...................................................................................................................... 59 Tabela 4.1 – Características do sulfato de alumínio........................................................ 62 xix Tabela 4.2 – Características do dispositivo de mistura rápida......................................... 69 Tabela 4.3 – Características do meio filtrante................................................................. 71 Tabela 4.4 – Freqüência de medição dos parâmetros de qualidade da água filtrada....... 74 Tabela 4.5 – Parâmetros avaliados e métodos e equipamentos ...................................... 77 Tabela 5.1 – Caracterização da água bruta do lago Paranoá ao longo dos experimentos de filtração 1, 2, 3 e 4 – Janeiro e Fevereiro/2006........................................................... 86 Tabela 5.2 – Caracterização da água bruta do córrego do Torto ao longo dos experimentos de filtração 5, 6, 7 e 8 – Fevereiro e Março/2006..................................... 90 Tabela 5.3 – Caracterização da água bruta do córrego do Torto ao longo dos experimentos de filtração 9, 10, 11, 12, 13, 14 e 15 – Maio, Junho e Julho/2006........... 90 Tabela 5.4 – Resumo dos experimentos de filtração direta descendente......................... 92 Tabela 5.5 – Vazões médias efluentes nos experimentos de filtração direta descendente...................................................................................................................... 93 Tabela 5.6 – Concentração de coliformes totais e E. coli em amostras de água bruta e água filtrada nos experimentos de filtração direta descendente....................................... 96 Tabela 5.7 – Turbidez residual nos experimentos de filtração direta descendente.......... 98 Tabela 5.8 – Caracterização da água de estudo preparada com água do lago Paranoá utilizada em cada experimento de filtração – Janeiro e Fevereiro/2006.......................... 103 Tabela 5.9 – Residual e remoções de turbidez, clorofila-a, ocistos de Cryptosporidium e E. coli em experimentos com água de estudo preparada com água do lago Paranoá – Janeiro e Fevereiro/2006.................................................................................................. 104 Tabela 5.10 – Caracterização da água de estudo preparada com água do córrego do Torto utilizada em cada experimento de filtração – Fevereiro e Mraço/2006................. 106 Tabela 5.11 – Residual e remoções de turbidez, clorofila-a, ocistos de Cryptosporidium, coliformes totais e E. coli em experimentos com água de estudo preparada com água do córrego do Torto – Fevereiro e Março/2006.............................. 107 Tabela 5.12 – Caracterização da água de estudo preparada com água do córrego do Torto utilizada em cada experimento de filtração – Maio a Julho/2006.......................... 109 xx Tabela 5.13 – Residual e remoções de turbidez, clorofila-a, ocistos de Cryptosporidium, coliformes totais e E. coli nos experimentos 9, 10, 11 e 12, com água de estudo preparada com água do córrego do Torto – Maio a Julho/2006............. 109 Tabela 5.14 – Residual e remoções de turbidez, clorofila-a, ocistos de Cryptosporidium, coliformes totais e E. coli nos experimentos 13, 14 e 15, com água de estudo preparada com água do córrego do Torto – Maio a Julho/2006...................... 110 xxi LISTA DE SÍMBOLOS, NOMENCLATURAS E ABREVIAÇÕES A665............... Absorbância da solução de clorofila medida em 665 nm A750............... Absorbância da solução de clorofila medida em 750 nm AB........... Água Bruta AE........... Água de Estudo AF........... Água Filtrada AIDS....... Síndrome da Imunodeficiência Adquirida c............... Diâmetro do Orifício no injetor de perda de carga CAC........ Carvão Ativado Granular d............... Diâmetro da contração adotado no injetor de perda de carga D.............. Diâmetro interno da tubulação do injetor de perda de carga DIC.......... Contrastede Interferência Diferencial DMR....... Dispositivo de Mistura Rápida ETA......... Estação de Tratamento de Água EUA........ Estados Unidos da América Exp.......... Experimento F.............. Fator de correção de unidades na detecção de clorofila-a FDD Filtro direto descendente FIME....... Filtração em Múltiplas Etapas FLA......... Filtro de Laboratório de Areia FMTM..... Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro G.............. Gradiente de Velocidade Ho............ Hipótese Nulitiva H1................... Hipótese Alternativa IBGE....... Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Kgf…….. Kilograma-força xxii LAA…… Laboratório de Análise da Água log........... Logaritmo de Base 10 M............. Molar MCLs...... Níveis Máximos de Contaminantes MF........... Microfiltração MON....... Matéria Orgânica Natural MS........... Ministério da Saúde n………... Número de amostras N……….. Normal N’……… Número de oocistos de Cryptosporidium quantificados em cada poço NF........... Nanofiltração NMP........ Número Mais Provável P…..…… Constante de proporcionalidade em mg.cm/L, devido ao coeficiente de extração molar de clorofórmio-metanol PAC……. Policloreto de Alumínio PBS......... Solução Tampão de Fosfato pH........... Potencial Hidrogeniônico PL............ Caminho óptico na detecção de clorofila-a (espessura da cubeta utilizada) ppm......... Partes por Milhão PVC......... Policloreto de Vinila PZ............ Potencial Zeta Qf............ Vazão no filtro R 2 ............ Coeficiente de Correlação rpm......... Rotações por minuto S.............. Volume da amostra filtrada (em mL) para detecção de clorofila-a T.............. Soma do menor rank no teste estatístico de Wilcoxon t1..................... Tempo inicial de coleta de amostra de água filtrada xxiii t2..................... Tempo final de coleta de amostra de água filtrada tcal......... Estatística teste para a distribuição t de Student TF............ Taxa de Filtração UC........... Unidade de Cor UT........... Unidade de Turbidez USEPA ... Agência de Proteção Ambiental Americana V.............. Volume da solução de clorofórmio-metanol usada em mL Vc............ Volume final do concentrado após o processo de preparação da amostra Val........... Volume do concentrado adicionado a cada poço da lâmina Vam......... Volume da amostra submetido ao processo de concentração h............ Perda de carga na expansão no injetor de mistura rápida Média x............ Desvio Padrão 1 1 – INTRODUÇÃO O principal objetivo dos sistemas de abastecimento de água potável é proteger a saúde pública pela provisão de água potável. A água para consumo humano é considerada potável se forem atendidos os parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos do padrão de potabilidade e se não oferecer riscos à saúde (Brasil, 2004). Os oocistos de Cryptosporidium são protozoários patogênicos de veiculação hídrica que causam a criptosporidiose, doença de remição espontânea em adultos sadios, mas que pode levar a morte pessoas imunocomprometidas. A remoção físico-química de protozoários patogênicos, particularmente dos oocistos de Cryptosporidium parvum, tem recebido atenção especial devido à dificuldade de inativação química desses organismos (Huck et al., 2002b). Nos Estados Unidos e outros países chamados desenvolvidos, a proteção das águas para abastecimento contra a veiculação dos protozoários parasitas emergentes, sobretudo o Cryptosporidium parvum e a Giardia lamblia, é uma das maiores preocupações relativas ao abastecimento de água para consumo humano. O surgimento de epidemias causadas por esses organismos, desencadeou o aumento de estudos com a finalidade de remover patógenos das águas de abastecimento, induzindo assim, a evolução da eficácia dos processos de tratamento de água, incluindo a filtração em meio granular. No Brasil, o desenvolvimento de pesquisas nessa linha é recente. Dados de ocorrência desses micoorganismos em água bruta e tratada são escassos; entretanto, algumas ocorrências já foram relatadas por Vieira et al. (2000), Berino e De Luca (2003), Bastos et al., (2005), entre outros. As regras para prover a água com segurança devem fazer uso do conceito de múltiplas barreiras, que envolvem proteção de água das fontes (superficiais e subterrâneas), otimização dos processos das estações de tratamento de água e a manutenção adequada do sistema de distribuição (Betancourt e Rose, 2004). A tecnologia de tratamento por ciclo completo composta por coagulação, floculação, sedimentação e filtração rápida é a mais difundida no Brasil, mas é crescente o uso de 2 sistemas de filtração direta. A não realização de experimentos em escala piloto e a dificuldade de obtenção de dados sobre a qualidade da água bruta, contribuem para que a tecnologia de ciclo completo seja adotada, mesmo em casos em que a qualidade da água permita a adoção de tecnologias mais simplificadas. A opção por ciclo completo, muitas vezes, se dá também pela sua capacidade de tratar águas brutas com maior variação de qualidade. O uso de filtração direta para tratar águas com turbidez, cor e concentração de algas não elevadas tem sido incentivado no Brasil, principalmente nas pesquisas do Prosab. Isso porque, essa tecnologia quando comparada ao tratamento convencional tem como principais vantagens a utilização de menor número de unidades de tratamento; utilização de menor área física; o menor consumo de produtos químicos no processo de tratamento, operação e manutenção mais simples e menor produção de lodo. Entretanto, a filtração direta apresenta menos barreiras sanitárias do que o tratamento “convencional” e, dessa forma, atenção especial deve ser dada ao projeto e operação do filtro, para minimizar os riscos de traspasse de cistos de Giardia e oocistos de Cryptosporidium, pois estes não serão efetivamente inativados na desinfecção com cloro. Sendo assim, o presente trabalho buscou avaliar a utilização de meio granular praticamente uniforme em filtração direta descendente de areia, em instalação piloto, na remoção de oocistos de Cryptosporidium. 3 2 – OBJETIVOS 2.1 – OBJETIVO GERAL O trabalho tem como objetivo geral avaliar o processo de filtração direta descendente utilizando granulometria praticamente uniforme em relação à remoção de oocistos de Cryptosporidium, por meio de estudos em instalação piloto. 2.2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS O estudo em questão tem como objetivos específicos: (1) Comparar a eficiência de remoção de oocistos de Cryptosporidium no período de amadurecimento com a remoção com o processo de filtração já estabelecido. (2) Avaliar a influência do uso de dosagens não ótimas na eficiência de remoção de oocistos de Cryptosporidium. (3) Avaliar de forma preliminar a influência da utilização de águas distintas na remoção de oocistos de Cryptosporidium. (4) Avaliar, também de forma preliminar, a influência da taxa de filtração na remoção de oocistos de Cryptosporidium. 4 3 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 – FILTRAÇÃO A filtração é a combinação de processos físicos, químicos e em alguns casos, biológicos, que viabiliza a remoção de partículas suspensas e coloidais e de microorganismos, como os cistos de Giardia e oocistos de Cryptosporidium, presentes na água pela utilização de um meio poroso apropriado. Reconhecendo a importância da etapa de filtração na produção de água segura para o consumo humano, a Portaria do Ministério da Saúde MS 518/2004 (Brasil, 2004) estabelece que toda a água para consumo humano, suprida por manancial superficial e distribuída por meio de canalização deve incluir tratamento por filtração. Em linhas gerais, as técnicasde tratamento por filtração podem ser divididas em dois grupos: as que se baseiam na filtração rápida e as que se baseiam na filtração lenta. O primeiro grupo incorpora a coagulação química e a utilização de taxas de filtração elevadas como etapas fundamentais para clarificação da água, ao passo que no segundo grupo a etapa básica é a utilização de taxas baixas e o uso de coagulantes é dispensável. Em ambos os grupos, a filtração pode ou não ser precedida de outros processos de clarificação. Os mecanismos pelos quais as partículas em suspensão são removidas por meio do processo de filtração são complexos e influenciados pelas características físicas e químicas da suspensão e do meio filtrante, pela taxa de filtração, pelas características químicas da água e pelo método de operação do filtro (Amirtharajah, 1988). De acordo com Amirtharajah (1988), os mecanismos de remoção têm sido desenvolvidos em duas direções: a teoria fenomenológica com coeficientes empíricos e a teoria da trajetória que tem como princípio que o leito filtrante é um conjunto de coletores e se propõe a determinar a extensão da deposição de partículas nesses coletores. No princípio, acreditava-se que a filtração em areia era restrita a ação física de coar, mas a retenção de partículas com dimensões menores do que os vazios inter-granulares indicou que seria impossível explicar a remoção das partículas somente por meio desse mecanismo (Ives, 1969). Atualmente, vários autores (Ives, 1969, Cleasby, 1990, entre outros) 5 descrevem a filtração rápida como sendo a combinação de dois mecanismos distintos: transporte e aderência. A seguir, é apresentado um resumo do discutido nos referidos textos. Os mecanismos de transporte são responsáveis por conduzir as partículas suspensas para a proximidade da superfície do meio filtrante, de modo que as partículas pequenas são carreadas para as linhas de correntes mais próximas dos grãos filtrantes. Quando as partículas estão bem próximas do meio filtrante, as forças de superfície favorecem a aderência ao meio, de modo que as forças de aderência resistam às forças de cisalhamento resultantes das características do escoamento. Os mecanismos de transporte, que são comumente utilizados para explicar a aproximação das partículas aos meios filtrantes, são: sedimentação, interceptação, difusão, impacto inercial e ação hidrodinâmica. A difusão é resultante do movimento Browniano aleatório das partículas pelo bombeamento pelas moléculas de água, devido à energia térmica dessas moléculas. Devido ao movimento Browniano, existe uma tendência de as partículas pequenas se difundirem das áreas de maior concentração para as áreas de menor concentração, até encontrar as linhas de correntes mais próximas. Esta é a razão pela qual há a presença de sólidos aderidos ao meio filtrante em pontos onde a velocidade do fluxo é praticamente zero. Este mecanismo é predominante em partículas pequenas, menores do que 1 μm de diâmetro e que não sofrem interferência do movimento da água. O mecanismo de sedimentação ocorre devido à velocidade de sedimentação inerente às partículas. Nesse mecanismo, o vetor resultante da soma dos vetores velocidade de sedimentação e velocidade de escoamento faz com que as partículas cheguem às linhas de correntes mais próximas, até o momento em que ocorre a aderência. A densidade das partículas e a temperatura são muito importantes para que ocorra este fenômeno. Este mecanismo é importante para a remoção de partículas maiores do que 1 μm, com tamanho médio de 5 a 25 μm. Assim, a sedimentação geralmente ocorre quando há partículas em suspensão relativamente grandes e densas, cuja velocidade de sedimentação seja alta. Segundo Amirtharajah (1988), a combinação desses dois mecanismos, sedimentação e difusão, resulta no transporte eficiente de partículas com diâmetros de aproximadamente 1 6 μm. Dessa forma, o autor acredita que esta combinação seja capaz de remover oocistos de Cryptosporidium que possuem dimensões entre 3 a 5 μm, enquanto os cistos de Giardia, por suas dimensões maiores entre 10 a 15 μm, são provavelmente removidos pelo mecanismo de sedimentação. O mecanismo da ação hidrodinâmica ocorre devido à rotação das partículas e ao movimento através das linhas de corrente, sendo influenciado pela forma das partículas e pela interação com o campo do fluido. Partículas de tamanhos relativamente grandes (~10 m) em um meio viscoso, em movimento laminar, podem ter em seus extremos, velocidades diferentes devido aos gradientes de velocidades. Esta diferença entre as velocidades irá provocar um giro nas partículas, produzindo uma diferença de pressão perpendicular ao escoamento, fazendo com que a partícula seja conduzida para uma zona de velocidade mais baixa e que partículas passem de uma linha de corrente para a outra mais próxima do meio filtrante. Quando a velocidade de escoamento no meio poroso da água é baixa, as partículas se movimentam juntamente com as linhas de corrente do escoamento. Entretanto, quando a velocidade é alta e a partícula é grande, o efeito da inércia faz com que as partículas mantenham a trajetória inicial e colidam com o meio filtrante. Dessa forma, as partículas podem seguir uma trajetória distinta das linhas de corrente, se adqüirirem suficiente quantidade de movimento para isso. A eficiência desse mecanismo é diretamente proporcional à velocidade do escoamento e inversamente proporcional ao diâmetro do meio filtrante. A interceptação acontece quando o movimento das partículas ao longo das linhas de correntes ocorre suficientemente perto do meio filtrante para que possa ocorrer a aderência. Este mecanismo atua sobre as partículas que se encontram nas linhas de corrente cuja distância da superfície do coletor é inferior à metade do diâmetro das partículas. A aderência das partículas supensas aos meios filtrantes pode ser controlada pelas propriedas superficiais dos meios. Tanto as partículas em suspensão, quanto o meio filtrante granular reagem com espécies dissolvidas orgânicas e inorgânicas (ferro, alumínio e polímeros), presentes nas água. Ambos têm carga elétrica superficial negativa que são balanceadas pelo acúmulo do íon soluto de carga oposta formando camadas compactas e 7 difusas próximas às superfícies do sólido, em que cada região interfacial é eletricamente neutra. Dessa forma, a desestabilização das partículas é fundamental para minimizar a repulsão entre a partícula de impureza como os oocistos de Cryptosporidium e o meio filtrante, e entre as próprias partículas, permitindo uma maior aderência. Então, quando as partículas estão muito próximas do meio filtrante e a distância de separação entre o meio filtrante e as partículas se aproxima de zero, forças de aderência se aproximam do infinito e o contato não pode ocorrer sem a atração das forças de Van der Waals (O’Melia, 1985). Alguns autores consideram o desprendimento como sendo um mecanismo de filtração. Sendo assim, o mecanismo de desprendimento é resultado da superação das forças de aderência pelas forças de cisalhamento resultante do escoamento, transferindo as partículas retidas para a camada subseqüente do meio filtrante (inferiores, no caso de filtros descendentes e superiores, no caso de filtros ascendentes), viabilizando a filtração com ação de profundidade. Uma discussão mais aprofundada sobre os mecanismos de filtração pode ser encontrada em Ives (1969) e Amirtharajah (1988), entre outros. 3.1.1 – Tecnologia de filtração direta 3.1.1.1 – Considerações iniciais A função dos filtros rápidos no tratamento de água é clarificar a água pela remoção de partículas menores, suspensas e coloidais e de microorganismos presentes na água. Em algumas circunstâncias, outros benefícios são obtidos, como a oxidação da amônia ou a remoção de DBO emáguas residuárias. A filtração rápida tem grande aplicação na clarificação de águas com partículas em suspensão variando de 0,1 μm até 50 μm. Os principais modos de ação dos filtros rápidos são os processos físicos e físico-químicos, descritos no item 3.1, sendo que os processos biológicos são praticamente ausentes nesta tecnologia de tratamento (Ives, 1969). A filtração direta é um processo de tratamento que não utiliza a decantação para clarificação da água. Por este motivo, esta tecnologia é geralmente utilizada para tratar 8 água bruta com baixa turbidez e baixa cor verdadeira. Arboleda (1992) recomenda que a água bruta para a filtração direta possua as mesmas características das águas provenientes do sistema de decantação, isto é, uma turbidez inferior a 10 UT em 90% do tempo e preferencialmente menor que 5 UT e uma cor verdadeira menor do que 10 uC em 90% do tempo. As concentrações de ferro e magnésio devem ser inferiores a 0,3 mg/L. Outros autores recomendam outros limites de parâmetros de qualidade da água para a filtração direta, porém somente estudos em escala piloto fornecerão informações seguras sobre a pertinência de um tratamento para uma determinada água. As Tabelas 3.1 e 3.2 resumem alguns limites de parâmetros para a filtração direta. Tabela 3.1 – Resumo de limites para a filtração direta – Carrión e Esparza, 1992 (modificado) Parâmetros Filtração Direta Descendente Ascendente Ascendente/ Descendente Turbidez (UT) 90% ≤ 30 90% ≤ 100 90% ≤ 200 80% ≤ 20 80% ≤ 50 80% ≤ 100 100% ≤50 Esporád. > 200 Esporád. > 200 Cor Verdadeira (UC) 90% ≤ 40 100% ≤ 60 90% ≤ 100 80% ≤ 20 90% ≤ 40 80% ≤ 50 NMP Coliformes Fecal/100 mL MGM ≤ 100 MGM ≤ 100 MGM ≤ 200 Total/100mL MGM ≤ 500 (1) MGM ≤ 500 (1) MGM ≤ 1000 (1) Concentração de algas (mg/m 3 ) 90% ≤ 100 - ≤ 1000 Legenda: MGM = Média geométrica mensal (1) Se o valor de coliformes fecais não for superado, esse valor pode ser aumentado. Tabela 3.2 – Resumo de limites para a filtração direta – Cleasby, 1990 (modificado) Parâmetro Limites para Filtração Direta Cor (uC) < 40 Turbidez (UT) < 5 Algas (asu/mL) < 2000 Ferro (mg/L) < 0,3 Manganês (mg/L) < 0,05 9 Nas estações de tratamento de água (ETAS) que utilizam o ciclo completo os filtros retêm material que não foi removido no processo de decantação ou flotação. Por não se utilizarem desses processos, as ETAs de filtração direta têm menor capacidade de acumular impurezas que as estações de tratamento que incorporam a etapa de clarificação preliminar (Dugan e Williams, 2004), pois os filtros são as únicas unidades responsáveis pela retenção de material em suspensão presente na água. A tecnologia de filtração direta pode ser realizada com ou sem a etapa de floculação precedendo a filtração (Figura 3.1). AB Coagulação Floculação Filtração rápida descendente Desinfecção Correção pH Desinfecção AT (d) AB Coagulação Filtração rápida ascendente Filtração rápida descendente Desinfecção Correção pH Desinfecção AT (c) AB Coagulação Filtração rápida descendente Desinfecção Correção pH Desinfecção AT (b) AB Coagulação Filtração rápida ascendente Desinfecção Correção pH Desinfecção AT (a) Legenda: AB = água bruta; AT = água tratada Figura 3.1 – Fluxogramas esquemáticos dos sistemas de filtração direta sem pré-floculação (a, b e c) e com pré-floculação (d) 3.1.1.2 – Tecnologia de filtração direta descendente Na tecnologia de filtração direta descendente, o fluxo de água passa no sentindo descendente através dos poros do meio filtrante. Como no filtro descendente todas as partículas removidas da água ficam retidas no próprio filtro, há necessidade de um bom aproveitamento da profundidade do meio filtrante para que se atinja uma carreira de filtração com duração razoável. O filtro compreende um meio filtrante granular, que permanece saturado com água contendo material em suspensão, que se move através dos espaços porosos devido à formação de um gradiente de pressão hidráulica. O meio filtrante na filtração direta descendente pode ser constituído de meio granular único, geralmente a areia, meio granular 10 duplo, constituído geralmente de antracito sobre a areia ou meio granular constituído de múltiplas camadas. No Brasil, o meio filtrante constituído unicamente de areia ou meio filtrante de camada dupla de antracito e areia são comumente utilizados em filtros descendentes. A vantagem de se utilizar meio filtrante de dupla camada é que em função da diferença de densidade entre os materiais, se consegue uma disposição granulométrica que permita que a filtração ocorra no sentido do maior grão para o menor grão do meio filtrante, permitindo maior aproveitamento do meio filtrante e com isso uma maior carreira de filtração (Di Bernardo et al., 2003). Segundo Di Bernardo e Prezotti (1991), a utilização de filtros de areia de camada única, com distribuição granulométrica praticamente uniforme, pode levar a um eficiente aproveitamento do meio filtrante, comparável com aquele conseguido com a utilização de filtros de camada dupla. Esses pesquisadores ressaltam que quanto mais uniforme o meio granular utilizado, a penetração de impurezas será mais profunda e mais longa será a duração da carreira de filtração. Ainda de acordo com Di Bernardo (1993a), quanto maior o tamanho dos grãos do meio filtrante, maior terá que ser a espessura da camada filtrante requerida para obter uma determinada eficiência de remoção e evitar o traspasse de impurezas no filtro. A filtração direta descendente apresenta algumas vantagens em relação ao tratamento convencional. Normalmente, essa seqüência de tratamento requer baixas dosagens de coagulante, o que acarreta economia de recursos e menor geração de lodo. Além disso, requer menos espaço físico porque há um menor número de unidades envolvidas e resulta em menor custo de implantação, manutenção e operação que o tratamento convencional (Cleasby, 1990). Em relação ao tratamento convencional, a filtração direta descendente apresenta a desvantagem de ser restritiva em relação à qualidade da água bruta, tendo dificuldade de tratar água bruta com turbidez ou cor verdadeira elevada. Além disso, é necessário um controle cuidadoso da dosagem de coagulante químico, principalmente quando não se utiliza a pré-floculação, porque variações de dosagem podem afetar a qualidade do efluente filtrado. 11 Outra desvantagem da filtração direta em relação ao tramento convencional é que mudanças na qualidade da água bruta afetam rapidamente a qualidade do efluente, sendo necessário realizar ajustes rápidos e precisos no controle das dosagens dos coagulantes. Ademais, podem-se produzir carreiras de filtração curtas, em especial quando é preciso utilizar dosagens elevadas de coagulante e/ou quando há grandes concentrações de algas (diatomáceas) que podem causam obstrução nos filtros. 3.1.1.3 – A coagulação aplicada à filtração direta A coagulação consiste na adição de substâncias químicas (coagulantes) na água para que ocorra a alteração das forças iônicas das impurezas presentes na água, como as partículas coloidais, as substâncias húmicas e microorganismos, permitindo a sua agregação e formação de flocos com tamanho e característica compatíveis com o processo de separação sólido-líquido subseqüente. As impurezas presentes na água apresentam cargas superficiais negativas e dificultam o mecanismo de aderência no processo de filtração, pois o meio filtrante, que geralmente é constituído de antracito e areia, também possui carga negativa. A aplicação de coagulantes é realizada na unidade de mistura rápida e geralmente é a primeira etapa no processo de tratamento de água, sendo muito importante na tecnologia de filtração direta. As reações e mecanismos de coagulação dependem da dosagem“ótima” do coagulante, da faixa “ótima” de pH e da quantidade de partículas coloidais presentes na água a ser tratada. A literatura considera a coagulação como resultado da ação de quatro mecanismos distintos: compressão da camada difusa, adsorção e neutralização de cargas, varredura e formação de pontes. No entanto, Amirtharajah e Mills (1982) ressaltam que a coagulação de águas de abastecimento, por sais de ferro e alumínio, é obtida na prática com maior freqüência, por adsorção e neutralização de cargas, por varredura ou pela combinação desses mecanismos. Para prever as condições químicas sob as quais a coagulação ocorre, de forma efetiva, são utilizados os diagramas de coagulação. Esses diagramas são construídos para definir a dosagem do coagulante a ser aplicado e as condições ótimas do pH para o processo. 12 Amirtharajah e Mills (1982) desenvolveram um diagrama integrado de estabilidade e coagulação do sulfato de alumínio (Al2(SO4)3) em que são definidas as regiões específicas onde ocorre coagulação efetiva para a remoção de turbidez, assim como os mecanismos atuantes (Figura 3.2). Figura 3.2 – Diagrama de coagulação com sulfato de alumínio e potencial zeta – Cleasby, 1990 (modificado) O mecanismo de adsorção e neutralização de cargas caracteriza-se pela reação de coagulantes metálicos como os sais de alumínio e de ferro com a água formando espécies hidrolisadas carregadas positivamente. Como as espécies hidrolisadas não são íons indiferentes, elas são adsorvidas na superfície das impurezas dispersas na águas, que são carregadas negativamente e pode ocorrer a neutralização das cargas. A neutralização promove a minimização ou eliminação das forças de repulsão eletrostática entre as partículas, permitindo a formação de flocos. 13 O mecanismo de adsorção e neutralização de cargas é muito importante quando o tratamento de água é realizado por processo de filtração direta, porque na filtração direta, não há necessidade de formação de flocos grandes para a posterior sedimentação, mas sim da desestabilização das partículas para que estas possam ficar retidas no meio filtrante. Para Johnson e Amirtharajah (1983), o modelo de adsorção e desestabilização para a coagulação indica que a mesma irá ocorrer quando as forças elétricas repulsivas entre as partículas forem mínimas. A carga das partículas é medida pelo Potencial Zeta (PZ). Quando o PZ é zero, pode-se esperar que a coagulação esteja atuando de forma a atingir o seu valor máximo. Porém, na prática, a coagulação “ótima” pode ocorrer para valores de PZ menores ou maiores do que zero. De acordo com a Figrua 3.2, os mecanismos de adsorção e neutralização para a remoção de turbidez com sais de alumínio geralmente são predominantes em valores de pH entre 4,0 e 7,0 e dosagens de sulfato de alumínio inferiores a 30 mg/L. A interação entre o hidróxido de alumínio carregado positivamente com as partículas carregadas negativamente geram dois pontos de potencial zeta zero para valores de pH 4,8 e 6,8. Nessas circunstâncias, podem ser esperadas condições favoráveis de coagulação. Para valores de pH entre 4,8 e 6,8, onde os valores de PZ são diferentes de zero, a estequiometria da coagualação pode levar à reversão de carga superficial da partículas e esta passa a ficar carregada positivamente, surgindo nova carga repulsiva entre as partículas. A relação entre a dosagem de coagulante e a concentração de partículas irá resultar em distintas zonas de reestabilização conforme a Figura 3.2 (A, B e C). Como a região para utilização deste tipo de processo de coagulação é bem restrita em relação à dosagem de coagulante e aos valores de pH, quando comparada às outras regiões, é imprescindível um rigoroso controle operacional para assegurar o correto funcionamento da ETA. O mecanismo de varredura é frequentemente utilizado em estações de tratamento que utilizam floculação e sedimentação antecedendo a filtração, pois este mecanismo gera flocos de maior tamanho, que apresentam velocidades de sedimentação relativamente altas. A varredura ocorre quando há a formação de hidróxidos decorrentes da precipitação de 14 produtos hidrolisados resultantes da reação do coagulante com a água e não há dependência da neutralização de cargas para que ocorra. Os precipitados envolvem as partículas coloidais porque apresentam vazios capazes de “capturar” as impurezas. De acordo com o diagrama de coagulação mostrado na Figura 3.2, há a predominância da varredura quando são aplicadas dosagens de sulfato de alumínio superiores a 30 mg/L e valores de pH entre 7,0 e 8,0. Amirtharajah e Mills (1982) ressaltam que no mecanismo de varredura, a intensidade da mistura rápida não é tão importante quanto no mecanismo de adsorção e neutralização de cargas. Ainda segundo a Figura 3.2, há combinação do mecanismo de adsorção e neutralização de cargas com o mecanismo de varredura numa região de pH de coagualação entre 7,0 e 8,0, quando se adicionam baixas dosagens de coagulante (até 10 mg/L). Amirtharajah e O`Melia (1990) destacam no diagrama de coagulação a região “ótima” para a remoção de turbidez com o uso do sulfato de alumínio ao utilizar processo de filtração direta, para baixas concentrações de partículas. Nessa região, o potencial zeta cai para valores próximos de zero. De acordo com a seção do diagrama mostrado na Figura 3.3, existe uma região “ideal” para a remoção de turbidez para essas condições. A região proposta compreende valores de pH entre 6,0 e 7,5 e dosagens de alumínio variando entre 3 e 15 mg/L. Nessa área ocorre predominância de mecanismos de adsorção e neutralização de cargas, mecanismo de varredura e combinação desses dois mecanismos de coagulação. Sendo assim, em decorrência da grande variedade de coagulantes e da qualidade da água bruta a ser utilizada, é essencial a realização de experimentos em escala de bancada para definir as condições adequadas do coagulante a ser utilizado, de maneira que se obtenha o valor do pH mais apropriado. Quando a coagulação não é realizada de modo adequado, compromete-se o desempenho de todas as unidades de tratamento a jusante, aumentando os riscos sanitários da água produzida. 15 Legenda: A = adsorção e neutralização de cargas; B = combinação de adsorção e neutralização de cargas com varredura;C = varredura Figura 3.3 – Seção do diagrama de coagulação do sulfato de alumínio, indicando a melhor faixa para a filtração direta – Amirtharajah e O`Melia, 1990 (modificado) 3.2 – O Cryptosporidium 3.2.1 – Introdução O Cryptosporidium é um protozoário parasita emergente intracelular, pertence ao filo Apicomplexa, classe Coccidia, que infecta o trato gastrointestinal de animais e humanos. Os oocistos de Cryptosporidium são pequenos, esféricos a ovóides e possuem diâmetros que variam entre 3 a 7 μm, de acordo com a espécie, como pode ser observado na Figura 3.4. Figura 3.4 – Imagem de Cryptosporidium parvum (USEPA, 2006) O Cryptosporidium foi primeiro descrito por Ernest Edward Tyzzer em 1907, sendo observado como um protozoário parasita de animais inferiores, nesta época. Até 1976, todas as infecções causadas por Cryptosporidium tinham sido observadas em animais 16 como vacas e cordeiros até que dois casos foram notificados em seres humanos. Com o aparecimento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) nos anos subseqüentes, a criptosporidiose, doença causada por este protozoário, foi reconhecida como o agente causador de diarréia em indivíduos com sistema imunológico debilitado. Entretanto, estes parasitas não foram reconhecidos como agentes causadores de doenças de veiculação hídrica em humanos imunocompetentes até 1987 (Rose, 1988). Na década de 80, aproximadamente 20 espécies de Cryptosporidium foram identificadas e nomeadas de acordo com o parasita hospedeiro,porém estudos posteriores de morfologia e transmissão cruzada constataram a invalidação de muitas destas espécies (Fayer e Ungar, 1986). Segundo Carey et al. (2004), apesar das controvérsias quanto a taxonomia do parasita, existem hoje 11 espécies reconhecidas de Cryptosporidium. Porém, o C. parvum e o C. hominis são os agentes causadores da criptosporidiose humana. Para Carey et al. (2004), o Cryptosporidium é um patógeno de veiculação hídrica em destaque no mundo. A natureza robusta destes indivíduos, assim como a resistência às técnicas de desinfecção convencionais baseadas no cloro, a habilidade para passar através de processos de tratamento físico da água, a necessidade de baixas dosagens do organismo para causar infecção e os modos de transmissão, contribuem para a persistência desse parasita no meio ambiente. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças em Atlanta, Estados Unidos, atribuiu 71% dos casos de eclosão de doenças de veiculação hídrica em 1993 e 1994 ao Cryptosporidium parvum e a Giardia lamblia, que causam a criptosporidiose e a giardíase, respectivamente (Gostin et al., 2000 apud Carey et al., 2004). Os sintomas de criptosporidiose podem variar desde suave diarréia a diarréia impactante, acompanhada por desidratação, febre, dor abdominal, estado de gripe, vômitos e perda de peso. A criptosporidiose é uma doença de remissão espontânea em adultos sadios, mas é extremamente grave em grupos mais vulneráveis, tais como crianças, idosos e imunodeprimidos, como os pacientes transplantados, aqueles que estão sendo submetidos a tratamentos para certos tipos de câncer e principalmente aqueles portadores de AIDS. 17 3.2.2 – O Ciclo de vida dos oocistos de Cryptosporidium O complexo ciclo de vida dos oocistos de C. parvum e C. hominis consiste em estágios de desenvolvimento, que incluem o ciclo sexuado e assexuado. O Cryptosporidium difere de outros coccídeos por sua capacidade de desenvolver-se completamente em um único hospedeiro. O oocisto esporolado é o único estágio exógeno, que consiste em quatro esporozoítos móveis envolvidos por uma dupla camada de parede que confere resistência ao organismo. Os oocistos são excretados nas fezes de um hospedeiro infectado e a fase endógena começa após estes serem ingeridos por um hospedeiro susceptível, que ocorre pela contaminação do meio ambiente, comida ou água. Os esporozoítos são liberados através da ruptura da parede do oocisto quando são expostos a situações favoráveis como temperaturas corporais, pH ácido, tripsina, sais biliares e enzimas pancreáticas e aderem às células epiteliais do trato gastrointestinal e respiratório (mais comum em aves). O rápido ciclo de vida (onde cada geração de parasita pode se desenvolver e maturar em 12 a 14 horas) e o ciclo autoinfectivo contribuem para que um baixo número de oocistos seja requerido para causar infecção (Carey et al., 2004). 3.2.3 – Fontes e ocorrência de Cryptosporidium e surtos de Criptosporidiose A transmissão do protozoário Cryptosporidium ocorre pela rota fecal-oral, por contaminação de nascentes, contaminação de alimentos in natura ou contato de pessoa para pessoa. Pessoas podem ser expostas a oocistos de Cryptosporidium ao ingerirem água, alimentos frescos, ao utilizarem águas de recreação, ao entrarem em contato com animais, solos, outras pessoas ou ao terem contato com alguma superfície que não tenha sido desinfetada após ser exposta a fezes. As fazendas também podem ser consideradas fontes de parasitas, especialmente Cryptosporidium. Além disso, esgoto tratado e particularmente não tratado, pode ser fonte de protozoários, principalmente a Giardia. Efluentes de estações de tratamento de esgoto podem constituir um abrigo crônico para cistos de Giardia (States at al., 1997). 18 De acordo com Dumoutier e Mandra (1996), os cistos de Giardia e oocistos de Cryptosporidium são largamente disseminados no meio ambiente aquático quando há lançamento de efluentes de estações de tratamento de esgoto. Segundo esses pesquisadores, causas indiretas de transmissão de parasitas podem ser devido à insuficiência de saneamento básico e aplicação de estrumes como fertilizantes em lavouras. As concentrações de oocistos de Cryptosporidium podem variar dependendo do ambiente onde se encontram. Cardoso et al. (2002) observaram que em esgoto, geralmente encontram-se 1 a 20 oocistos/L, em efluente filtrado de tratamento secundário, 0,01 a 0,13 oocistos/L, em águas superficiais, 0,001 a 107 oocistos/L, em águas subterrâneas 0,004 a 0,922 oocistos/L e em água potável, 0,001 a 0,72 oocistos/L. No entanto, esses valores podem variar de região para região. São inúmeros os relatos de ocorrência de cistos de Giardia e oocistos de Cryptosporidium encontrados na literatura estrangeira, particularmente oriundos de países desenvolvidos. A Tabela 3.3 apresenta alguns desses exemplos. No Brasil, por sua vez, esses relatos não são abundantes e são relativamente recentes. Alguns desses estudos são descritos a seguir. Vieira et al. (2000) detectaram concentrações na ordem de 10 2 a 10 4 oocistos de Cryptosporidium/L e 10 3 a 10 5 cistos de Giardia/L em esgotos sanitários da bacia de Ribeirão Arrudas em Belo Horizonte, MG. A detecção dos microorganismos foi baseada em duas técnicas distintas para a concentração da amostra: a centrifugação e a floculação com carbonato de cálcio. A identificação dos protozoários nas amostras foi feita por meio da técnica de imunofluorescência utilizando o kit Merifluor C/G (Meridian Diagnostics, Inc.). Hachich et al. (2000) avaliaram a ocorrência e distribuição de cistos de Giardia e oocistos de Cryptospiridium em águas superficiais captadas para o consumo humano no estado de São Paulo. Segundo esses autores, dos 28 mananciais avaliados, detectou-se a ocorrência de Cryptosporidium em 29% dos mananciais e a ocorrência de Giardia em 57% dos mananciais estudados, sendo que nenhuma amostra avaliada apresentou concentrações médias de oocistos superiores a 10 oocistos/L. 19 Tabela 3.3 – Resumo de registros de oocistos de Cryptosporidium e cistos de Giardia (States et al., 1997 e Cardoso et al., 2002) Referência Local Amostras Fonte Registros oocistos de Cryptosporidium cistos de Giardia Rose et al., 1991 36 AT 17%; 0,5 a 1,17/100L LeChevallier, 1991 Canadá 83 AT 26,8%; média 1,52/100L 17,1% média 4,45/100L LeChevallier, 1992 Canadá 83 AB média 2,7/L média 2,8/L LeChevallier e Norton, 1995 Canadá 266 AB 13,4% - média 3,3/L 4,6% - média 2,6/L Gimason et al., 1993 Kenia ETE 2,25 a 50/L 3,125 - 230,7/L Kfir et al., 1995 África do Sul AT 50% 30% Chauret et al., 1995 Canadá AB 78% - 10 0 a 10 2 /100L. Hanccock et al., 1996 55 AT 7% - 1 a 26/100L 7% - 2 a 5/100L Rosen et al., 1996 USA 1237 AT 7,10% 4,90% States, 1997 Pittsburg AT 80%; média 2,01/100L 100% média 28,68/100L Zuckerman et al., 1997 Israel AB 80% 53,30% Bukhari et al., 1997 Inglaterra ETE 10 -170/L 10 - 13.600/L Karanis et al., 1998 Alemanha AT 33,3% - 257/100L Robertson et al., 2000 Scotland ETE 38% 94% Hashimoto et al., 2001 Japão 13 AB 100% - 40/100L 92% -170/1000L Hashimoto et al., 2001 Japão 26 AT 35%; média 1,2/1000L 12% média 0,8/1000L Hsu et al., 2002 Taiwan 8 AB 60% - 56,1/100L 80% - 11,4/100L Hsu et al., 2002 Taiwan 7 AT 4,7/100L Legenda: AB = água bruta; AT = água tratada; ETE = estação de tratamento de esgoto. Berino e De Luca (2003) verificaram a ocorrência de Cryptosporidium sp. e Giardia sp. em águas brutas dos formadores do lago Guaíba, de onde é captada a água para tratamento e distribuição para a população de Porto Alegre. A detecção dos microorganismos foi baseada no método 1623 da USEPA, com algumas modificações. Os oocistos de Cryptopsoridium e cistos de Giardia foram detectados em 35% das