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SUMÁRIO PARTE 1 Aula 1: Introdução à Farmacologia Aula 2: Farmacocinética I Aula 3: Farmacocinética II Aula 4: Farmacodinâmica Aula 5: Sistema Nervoso; Sistema Nervoso Autônomo Simpático Aula 6: Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático Aula 7: Gânglios Autonômicos; Junção Neuromuscular Aula 8: Antimicrobianos; Antibacterianos; Antifúngicos Aula 9: Antivirais; Antiparasitários PARTE 2 Aula 1: Farmacologia das dislipidemias Aula 2: Anti-hipertensivos Aula 3: Farmacologia da insuficiência cardíaca Aula 4: Antianginosos; Antiarrítmicos Aula 5: Farmacologia gástrica Aula 6: Farmacologia da motilidade intestinal Aula 7: Diabetes Aula 8: Anti-inflamatórios não-esteroidais (AINES) Aula 9: Anti-inflamatórios esteroidais (AIES) Aula 10: Farmacologia do sistema respiratório Aula 11: Opioides Aula 12: Ansiolíticos e antidepressivos Aula 13: Antipsicóticos 1 FARMACOLOGIA AULA 1 Farmacologia das dislipidemias Dislipidemias: alteração nos níveis de lipídeos. É mais comum que os lipídeos estejam acima dos valores considerados normais. A hipocolesterolemia é extremamente rara. Altos níveis de colesterol estão relacionados a diversos problemas de saúde, principalmente, os cardiovasculares. A aterosclerose pode provocar infarto e isquemias. O uso de estatinas diminui as complicações provocadas por acidentes cardiovasculares. O controle dos triglicerídeos e do colesterol total deve ser eficaz para que esses eventos não aconteçam. Quanto mais alto o nível de colesterol, maior a taxa de mortalidade. Colesterol total acima de 200 mg/dL é considerado alto. Lipídeos Quem são os lipídeos? São compostos constituídos por uma série de outras substâncias. ▪ Lipídeos de membrana celular: bicamada de fosfolipídeos; 2 cadeias de ácidos graxos interligadas por um grupamento fosfato. ▪ Triglicerídeos: são fontes importantes de energia, principalmente para os músculos; 3 cadeias de ácidos graxos interligadas por um grupamento glicerol; compostos por gordura saturada, não possuindo dupla ligação em sua estrutura. Os ácidos graxos saturados, no fígado, são convertidos em cadeias circulares, formando o colesterol. Esses ácidos graxos são mais prejudiciais ao organismo humano. O colesterol é obtido por meio da ingestão de alimento animal (origem exógena), sendo absorvido no intestino delgado. Alguns órgãos do nosso organismo produzem colesterol, como fígado, ovários, adrenal e testículos (origem endógena). O colesterol de origem endógena é utilizado para síntese de hormônios pelas glândulas que o produzem. ▪ Lipídeos insaturados: a grande maioria é obtida por meio da ingestão de vegetais. Colesterol Biossíntese do colesterol: 1. O colesterol é sintetizado a partir do metabolismo da glucose, de ácidos graxos ou de proteínas. Essa metabolização origina Acetil-CoA. 2. O Acetil-CoA sofre ação da enzima HMG-CoA sintetase e HMG- CoA é formado. 3. A metabolização do HMG-CoA, substância precursora do colesterol, pela HMG-CoA redutase origina mevalonato. 4. O mevalonato é convertido em esqualeno, um colesterol primitivo. 5. O esqualeno origina, então, o colesterol. 6. O colesterol juntamente com a lecitina forma o colesterol esterificado, forma do colesterol passível de ser conduzida pelas lipoproteínas. !! A inibição da HMG-CoA redutase inibe a produção de colesterol (mecanismo de ação das estatinas). !! A redução de colesterol no plasma sanguíneo faz com que o fígado tente aumentar a captação dessa substância. Para isso, o órgão aumenta a expressão de receptores de LDL. Assim, a síntese do colesterol e o nível de colesterol circulante diminuem. O colesterol compõe hormônios esteroides, sais biliares e membranas plasmáticas. Para que ele seja distribuído pelo organismo ele não pode estar em sua forma livre. As lipoproteínas são moléculas carreadores de colesterol. Lipoproteínas Lipoproteínas: estruturas moleculares que transportam gordura. As lipoproteínas são constituídas por triglicerídeos e colesterol esterificado, internamente (região hidrofóbica), e por fosfolipídeos, externamente (moléculas anfipáticas). O colesterol livre fica entremeado aos fosfolipídeos. O principal componente das lipoproteínas são as apoproteínas. CONSTITUIÇÃO DAS LIPOPROTEÍNAS: apoproteína + colesterol livre + fosfolipídeo + triglicerídeo e estér de colesterol ...o colesterol NÃO fica livre no plasma, sendo sempre carreado por diferentes lipoproteínas. Quais os tipos de lipoproteínas? HDL, LDL, VLDL e quilomícron – de maior para menor densidade. 2 FARMACOLOGIA AULA 1 A densidade das lipoproteínas é inversamente proporcional ao seu volume. Quanto mais densa uma molécula, menor ela é e mais conteúdo ela possui em seu interior. ▪ HDL: “colesterol bom”; leva colesterol dos tecidos para o fígado; reduz os níveis de colesterol do plasma sanguíneo. ▪ LDL: “colesterol ruim”; carreia um volume muito grande de colesterol; leva colesterol para os tecidos. ▪ VLDL: transporte de triglicerídeos, principalmente. ▪ Quilomícron: transporte de triglicerídeos, principalmente. ▪ IDL: possui densidade intermediária entre VLDL e LDL; rapidamente metabolizada pelo fígado; dura pouco tempo no plasma sanguíneo. Apoproteínas As apoproteínas interagem com os receptores teciduais permitindo a troca de colesterol entre tecidos. Elas também agem como co-fatores de determinadas enzimas. As apoproteínas do tipo B aparecem em todas as lipoproteínas de baixa densidade. A B100 está presente em LDL e VLDL e a 48 está presente no quilomícron. As apoproteínas dos tipos A-I e A-II são as principais existentes na HDL. !! Existem fármacos que interferem na produção da proteína B100, que atuam diminuindo a produção de LDL e VLDL. Metabolismo dos lipídeos → Via exógena: absorção de colesterol após ingestão de alimento que contém gordura. O alimento ingerido chega no intestino delgado, onde sofre ação de enzimas pancreáticas, que degradam gordura em ácidos graxos. Os ácidos graxos são absorvidos pelos enterócitos e são incorporados aos quilomícrons. Os quilomícrons caem no ducto linfático. O ducto linfático, na altura da aorta, despeja o seu conteúdo no sangue. O colesterol pode ser absorvido em sua forma livre através de transportadores. O NPC1-L1 é um transportador de colesterol exógeno que leva o colesterol presente no lúmen do intestino até a corrente sanguínea. Os quilomícrons circulantes, ao se encontrarem com tecido adiposo e muscular interagem com tais células. As células liberam lipase lipoproteica capaz de quebrar os TG presentes dentro do quilomícrons em ácidos graxos, que são incorporados pelos tecidos. Os remanescentes de TG chegam no fígado, onde são captados e utilizados para produção de VLDL com o auxílio da proteína MTP. !! Existem fármacos (Ezetimiba) que inibem a ação da NPC1-L1, inibindo a absorção do colesterol exógeno. → Via endógena: órgãos do corpo produzem colesterol. O VLDL produzido pelo fígado cai na circulação e interage com tecido adiposo e muscular, principalmente, liberando ácidos graxos livres. Surgem, então, os remanescentes do VLDL. O IDL é o principal remanescente, ficando pouco tempo consistente no organismo e pode interagir com HDL, se transformando em LDL, ou pode ser captado pelo fígado, onde é metabolizado pela lipase hepática. O LDL produzido interage com os tecidos com o auxílio da apoproteína B100. Após interagir com os tecidos, o HDL capta os remanescentes de colesterol e os leva novamente para o fígado. O VLDL também consegue interagir com HDL, trocando TG por colesterol. !! Quanto maior a captação de LDL pelo fígado, menor é o nível de colesterol circulante. A expressão de receptores de LDL no fígado é dependente da concentração de colesterol que é produzido pelo organismo. A proteína PCSK9inibe a reciclagem dos receptores de LDL pelo fígado, impedindo que eles se expressem novamente e aumentando o LDL circulante. Existem fármacos que inibem o funcionamento dessa proteína. !! A síntese hepática máxima de colesterol pelo fígado ocorre entre 00:00 e 02:00. Eliminação do colesterol: A eliminação do colesterol acontece principalmente via fecal. Os sais biliares são compostos de colesterol e são degradados pelas bactérias intestinais, sendo, posteriormente, excretados. Apenas 5% do colesterol é excretado do organismo. No ciclo entero-hepático, os sais biliares são secretados no intestino delgado, onde emulsificam gorduras. Posteriormente, eles são reabsorvidos pelo fígado, permitindo que o colesterol presente em sua composição seja reutilizado. Alguns fármacos atuam no ciclo entero-hepático. Dislipidemias As dislipidemias são alterações metabólicas lipídicas decorrentes de distúrbios em qualquer fase do seu metabolismo. Essas alterações ocasionam alteração no nível sérico das lipoproteínas. Dislipidemia primária: ocasionada por alterações genéticas (mutações nos receptores de LDL, mutação em gene que codifica Apo-B); classificadas em 6 fenótipos de acordo com a classificação de Frederickson. 3 FARMACOLOGIA AULA 1 Dislipidemia secundária: aparece como consequência de outras condições (DM, etilismo, insuficiência renal, obesidade e uso de determinados fármacos - isotretinoína, tamoxifeno, ciclosporina, inibidores de protease). !! O tipo mais grave de dislipidemia é a hipercolesteromia familiar. Terapêutica: A terapêutica das dislipidemias é baseada na prática de exercícios físicos, no consumo de alimentos que contenham gorduras insaturadas, no consumo moderado de bebidas alcoólicas e no uso de fármacos. O tratamento farmacológico é indicado de acordo com o risco do paciente a recebê-lo. Ele deve ser empregado quando o efeito da mudança de hábitos é insatisfatório. Cada fármaco está relacionado a um diferente tipo de dislipidemias. Medicamentos contra hipercolesterolemia 1. ESTATINAS: atuam inibindo a síntese do colesterol. Quando o paciente apresente hipercolesterolemia isolada e pode utilizá-las, as estatinas são os medicamentos de primeira escolha. Elas podem ser usadas combinadas em casos estritamente analisados (estatina + ezetimiba, estatina + colestiramina, estatina + fibratos ou ácido nicotínico). ▪ Mecanismo de ação: inibe a HMG-CoA redutase; competição. O colesterol disponível para uso pelas células diminui e a quantidade de receptores de LDL aumenta. Tanto o LDL quanto o VLDL circulantes diminuem. Estatinas de primeira geração: lovastatina, mevastatina, sinvastatina, pravastatina. Estatinas de segunda geração: atorvatastina, cerivastatina, rosuvastatina, pitavastatina. Ambas as gerações possuem uma molécula parecida com a da enzima HMG-CoA redutase em sua estrutura. Assim, esses fármacos competem com a enzima e impedem a formação do colesterol. “Regra dos 6%”: a dose inicial, quando dobrada, reduz mais 6% dos níveis de colesterol. → Valores médios de inibição do colesterol: LDL tem redução de 15 a 55% e TG, de 7 a 28%; HDL tem aumento de 2 a 10%. !! A maior parte das estatinas é metabolizada por meio da ação do CYP. ▪ Problemas: intolerância ou falta de resposta. ▪ Efeitos adversos: transtornos no TGI (estatinas lipofílicas; náuseas, vômitos, dor abdominal, flatulência, diarreia), efeitos no SNC (tontura, visão borrada, cefaleia), distúrbios transitórios dos exames da função hepática e hepatite (raro), miopatias (dor muscular, inflamação muscular). - As estatinas são contraindicadas na gravidez (risco C). - As miopatias aparecem com maior frequência quando as estatinas são administradas em associação com outros fármacos (interação medicamentosa), como fibratos, ciclosporina, varfarina, macrolídeos e azólicos. Por isso, as terapias combinadas devem ser feitas apenas para pacientes de alto risco. 2. INIBIDORES DA ABSORÇÃO DE COLESTEROL: A absorção de colesterol pode ser alterada por meio de dois diferentes tipos de medicamentos, os sequestradores de sais biliares (colestiramina, colestipol, colesevelam) e os inibidores da absorção do colesterol no intestino (ezetimiba). I. Sequestradores de sais biliares: resinas de carga positiva; se unem aos sais biliares, tornando-os estruturas grandes e que não são passíveis de serem reabsorvidas; devem ser administrados antes das refeições; podem ser usados por crianças e mulheres em período reprodutivo porque não são absorvidos. Esses fármacos aumentam a excreção de sais biliares, fazendo com que o fígado produza maior quantidade de sais biliares. Assim, o fígado aumenta a quantidade de receptores de LDL para que consiga produzir a substância. Os sais biliares possuem carga negativa e, por isso, os sequestradores de sais biliares conseguem se unir a eles. Efeitos adversos: constipação, náusea, flatulência, alteração da absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) e fármacos (digoxina, varfarina), aumento dos níveis de TG (não usar em pacientes com hipertrigliceridemia!). II. Inibidores seletivos da absorção do colesterol: associação com estatinas (uso coadjuvante); não afeta a absorção de vitaminas, TGs ou ácidos biliares; pode ser administrado em qualquer momento do dia. Esses fármacos atuam bloqueando o transportador NPC1-L1 nas microvilosidades dos enterócitos. !! Ao inibir a absorção intestinal, o fígado aumenta a biossíntese do colesterol e deve-se começar o uso das estatinas. Os inibidores são ruins como monoterapia porque AUMENTA a síntese de colesterol! 3. INIBIDORES DA PCSK9: anticorpos monoclonais que atuam inibindo a reciclagem dos receptores de LDL (avolocumabe e alirocumabe). - Administração via subcutânea; - Inibem a PCSK9 o que aumenta a expressão de LDL-R na superfície dos hepatócitos. Medicamentos contra a trigliceridemia 1. FIBRATOS: bezafibrato, ciprofibrato, genfibroliza, fenofibrato, clofibrato – derivados do ácido fíbrico; estimulam o receptor nuclear PPAR-alfa; atuam diminuindo VLDL e TG, principalmente; diminuem LDL moderadamente; aumentam HDL moderadamente. 4 FARMACOLOGIA AULA 1 O estímulo do PPAR-alfa induz a síntese de apoproteína A, fazendo com que maior quantidade de HDL seja produzida. Aumento da oxidação de ácidos graxos e da expressão de lipase lipoproteica também acontecem. !! São a primeira a opção de tratamento quando há hipertrigliceridemia isolada. A genfibrozila aumenta a concentração plasmática da estastina... evitar a associação! 2. ÁCIDO NICOTÍNICO: niacina (acipimox) – derivado da vitamina. Esse fármaco atua diminuindo a lipase tecidual no adipócito, diminuindo a concentração de ácidos graxos no sg. Assim, o substrato para síntese de TG cai. Consequentemente, os TGs que formam o VLDL não estarão disponíveis e os níveis de VLDL e LDL diminuem. A niacina também induz o aumento da produção de ApoA, aumentando a concentração de HDL. ▪ Efeitos adversos: mal tolerado; rubor e prurido por vasodilatação cutânea; dor abdominal, dispepsia e diarreia; hepatotoxicidade (1,5 a 2g); exacerbação de gota, aumentando a quantidade de ácido úrico no sangue. !! Fazer aumento gradual da dose quando houver indicação de uso. Outras terapias: 1. Inibidores da proteína de transporte microssômico (MTP): não existem no BR; Lomitapida. INDICADA PARA CASOS DE HIPERCOLESTEROMIA GRAVE! Esses fármacos impedem MTP de montar e liberar ao plasma lipoproteínas que contêm Apo B (VLDL, LDL e IDL), diminuindo a concentração de lipídeos no sg. 2. Fármacos que alteram a Apo B: Mipomerseno. Esses fármacos atuam inibindo a síntese de ApoB-100 e de LDL. 3. Ácidos graxos e ômega 3. Adendos 1 FARMACOLOGIA AULA 2 Anti-hipertensivos O aumento do volumesanguíneo leva ao aumento da pressão arterial, naturalmente. O aumento da pressão é percebido pelos centros de integração do corpo. - A resposta é rápida quando o sistema nervoso autônomo e os baroceptores autuam. A compensação é feita pelo sistema cardiovascular que promove vasodilatação ou queda do DC, fazendo com que a pressão retorna à normalidade. A resposta é lenta quando o SRAA entra em ação. A compensação é feita pelos rins que excreta maior quantidade de líquido e produz moléculas que levam ao controle da PA. Quando algum desses mecanismos fisiológicos falha, o aumento da pressão arterial não é compensado e ela fica elevada por um longo período de tempo. O não controle da pressão alta provoca danos, levando ao desenvolvimento do quadro de hipertensão. A hipertensão primária é multicausal (90-95%) e a secundária aparece como consequência de outro fator. Quem pode causar hipertensão secundária? Distúrbios endócrinos, distúrbios renais, gravidez e uso de determinados medicamentos (anticoncepcional, descongestionante nasal, antidepressivos, corticoides). Consequências da HAS: IAM (excesso de trabalho do músculo cardíaco), AVE, ICC (perda da atividade normal do coração), IR (falha do funcionamento dos rins), insuficiência vascular periférica e alterações na retina (retinopatia hipertensiva). A hipertensão pode ser tratada com ou sem o uso de medicações (duas frentes de tratamento). O tratamento não- farmacológico envolve mudanças do estilo de vida, como controle do peso corporal, prática de atividade física, menor ingestão de bebidas alcoólicas, sal e gorduras, adequada ingestão de potássio, cálcio e magnésio e deixar de fumar. Já o tratamento farmacológico atua na redução do débito cardíaco e/ou da resistência vascular periférica (anti-hipertensivos). “A hipertensão arterial é uma doença crônica caracterizada pelos níveis elevados da pressão sanguínea nas artérias, associados a alterações metabólicas e hormonais. Ela acontece quando os valores das pressões máxima e mínima são iguais ou ultrapassam os 140/90 mmHg. Na hipertensão, o coração exerce um esforço maior do que o normal para fazer com que o sangue seja distribuído corretamente no corpo. No Brasil, as mulheres ainda continuam com maior prevalência de diagnóstico médico de hipertensão arterial quando comparado aos homens, tendo registrado 26,4% contra 21,7% para eles.” Classes de anti-hipertensivos 1. Diuréticos; 2. Antagonistas de canais de cálcio; 3. Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA); 4. Antagonistas de receptores de angiotensina II (ARA II); 5. Inibidores de renina; 6. Fármacos simpatolíticos. Quais as características importantes de um fármaco anti- hipertensivo eficaz? Ser eficaz por via oral (tratamento ambulatorial), ser seguro e bem tolerado, menor número de doses diárias possíveis (maior adesão ao tratamento), início com menores doses efetivas, associações medicamentosas para pacientes com hipertensão estágios 2 e 3 (difícil controle de hipertensão mais avançada com apenas 1 classe de medicamento), ser utilizado por um período mínimo de quatro semanas para aumento de dose, substituição da monoterapia ou mudança das associações em uso, ter demonstração em ensaios capacidade de reduzir a morbidade e a mortalidade cardiovasculares associadas à hipertensão arterial (melhora da qualidade de vida). Diuréticos Os diuréticos são fármacos que atuam nos rins aumentando a eliminação de sódio e água com consequente aumento do volume e fluxo urinário. Esses fármacos têm mostrado redução das complicações cardiovasculares decorrentes da hipertensão arterial. AUMENTO DO FLUXO URINÁRIO + DIMINUIÇÃO DO FLUXO SANGUÍNEO !! Geralmente, são utilizados em associação com outras classes de medicamentos. 1. Diuréticos que atuam diretamente nas células do néfron: diuréticos de alça (atuam na alça de Henle), tiazídicos (atuam no túbulo distal) e poupadores de potássio (atuam como antagonistas de aldosterona ou no ducto coletor). CUIDADO! Paciente tratado com diurético deve dosar seu potássio sérico constantemente para evitar distúrbios eletrolíticos. ▪ Diuréticos de alça: furosemida, torasemida, bumetanida; aumentam muito a produção de urina; são os mais potentes dos diuréticos. Mecanismo de ação: atuam sobre o ramo ascendente espesso, inibindo o transportador Na+/K+/2Cl-, impedindo a reabsorção de NaCl, de K e de cloreto. Principais usos clínicos: tratamento da insuficiência cardíaca, hipertensão arterial, emergência hipertensiva, doenças complicadas por retenção de sódio e água. Efeitos adversos: hipovolemia, hipotensão, perda de potássio, alcalose metabólica, hiperuricemia. !! Podem ser encontrados em exames antidoping de ginastas. ▪ Diuréticos tiazídicos: hidroclorotiazida (HCT), clortalidona, indapamida; têm efeito vasodilatador indireto no paciente hipertenso, contribuindo para reduzir drasticamente a pressão sanguínea. Mecanismo de ação: inibição do transportador de Na+/Cl- das células tubulares distais causando perda de NaCl na urina (natriurese) + aumentam a excreção de magnésio. Principais usos clínicos: tratamento da hipertensão arterial e manejo da insuficiência cardíaca leve. Efeitos adversos: hiponatremia, perda de potássio, diminuição da tolerância à glicose, aumento do colesterol plasmático. !! É um dos diuréticos mais empregados em associações medicamentosas anti-hipertensivas. ▪ Diuréticos poupadores de potássio: espironolactona, amilorida, triantereno; têm eficácia diurética limitada, em monoterapia (local de ação muito distante do néfron, onde apenas 2% do sódio é reabsorvido). Mecanismo de ação: a espironolactona compete com a aldosterona pelo receptor, inibindo a retenção de Na+ e secreção de K+ no túbulo distal. A amilorida e o triantereno 2 FARMACOLOGIA AULA 2 atuam sobre os ductos coletores inibindo a reabsorção de Na+ e diminuindo a eliminação de K+. RETÉM POTÁSSIO... POR ISSO, POUPADOR DE POTÁSSIO! Principais usos clínicos: usados em conjunto com outros diuréticos para prevenir perda de K+ provocada por outros diuréticos, insuficiência cardíaca, hiperaldosteronismo. Efeitos adversos: hipercalemia, desconforto gastrointestinal, ginecomastia, distúrbios menstruais. 2. Diuréticos que modificam o conteúdo do filtrado: osmóticos; utilização restrita. ▪ Diuréticos osmóticos: manitol (inerte – não se liga em nenhum receptor do organismo); força a saída de água; via injetável; aumentam o volume da urina, com maior preservação das concentrações de íons sanguíneos que outros diuréticos. Mecanismo de ação: aumenta a pressão osmótica nos túbulos renais, impedindo que a água seja reabsorvida passivamente pelos rins. Principais usos clínicos: redução da pressão intracraniana, edema cerebral. Efeitos adversos: desidratação, cefaleia, náuseas e vômitos. Terapia diurética: inibe a reabsorção de sódio e de cloreto, aumentando o fluxo urinário. Antagonistas de canais de cálcio Os antagonistas de canais de cálcio são utilizados no tratamento de algumas doenças cardiovasculares, incluindo a HAS. Eles atuam como vasodilatadores, reduzem a frequência cardíaca e desaceleram a condução átrio-ventricular. 1. Di-hidropiridinas: nifedipino, anlodipino, nimodipino (vasos no SNC), isradipino, felodipino; atuam preferencialmente sobre a musculatura lisa vascular, relaxando-a; vasodilatadores indiretos. Mecanismo de ação: ligam-se a subunidade α1 dos canais de cálcio tipo L dos músculos lisos, impedindo sua abertura, bloqueando a entrada do cálcio nesses tecidos. Esses fármacos promovem a vasodilatação arterial generalizada e redução da pós-carga, diminuindo a PA. Usos clínicos: hipertensão arterial, prevenção de angina. Algumas formulações possuem liberação lenta = diminuição do número de cp a serem tomadaspelo paciente/dia + redução de efeitos colaterais Efeitos adversos: decorrem da vasodilatação generalizada; taquicardia reflexa, rubor, cefaleia, hipotensão ortostática, edema. !! Contraindicados na gravidez e amamentação por serem teratogênicos. 2. Benzotiazepinas: diltiazem; atuam tanto nos canais de cálcio da musculatura lisa vascular e da musculatura cardíaca. Mecanismo de ação: ligam-se a subunidade α1 dos canais de cálcio tipo L, impedindo sua abertura, bloqueando a entrada do cálcio. Esses fármacos promovem vasodilatação arterial generalizada e redução da força de contração miocárdica, reduzindo a PA. NÃO PROMOVE TAQUICARDIA REFLEXA porque a condução elétrica do coração fica diminuída! Usos clínicos: hipertensão arterial, prevenção de angina pós- infarto. Efeitos adversos: cansaço, cefaleia, tontura, desconforto gástrico, bloqueio atrioventricular (descontinuar uso quando acontecer). 3. Fenilalquilaminas: verapamil; atuam preferencialmente sobre a musculatura cardíaca, ou seja, são cardiosseletivos. Mecanismo de ação: ligam-se a subunidade α1 dos canais de cálcio tipo L, impedindo sua abertura, bloqueando a entrada do cálcio. SÃO ESPECÍFICOS PARA O CANAL DE CÁLCIO DA MUSCULATURA CARDÍACA! Efeitos farmacológicos: efeito inotrópico e cronotrópico negativo (diminui força de contração e FC, respectivamente) e redução da resistência periférica, sem efeito rebote na FC, reduzindo a PA. Usos clínicos: hipertensão arterial, prevenção de angina, taquicardia supraventricular, IAM. Efeitos adversos: constipação, bloqueio cardíaco (descontinuar uso quando acontecer/reavaliar tratamento), piora da ICC, tonturas, náuseas, hipotensão arterial. Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) Os IECA são fármacos que inibem a enzima conversora da angiotensina, que converte a angiotensina I em angiotensina II (inibição competitiva). Ao inibir essa conversão, os IECA promovem vasodilatação periférica, diminuindo a pressão arterial. A ECA é uma cininase, sendo responsável pela degradação das cininas, como a bradicinina, que são vasodilatadoras. Assim, inibindo a ECA, o efeito da bradicinina aumenta, contribuindo para o efeito anti-hipertensivo. 3 FARMACOLOGIA AULA 2 INIBIÇÃO DA VASOCONSTRIÇÃO + EFEITO VASODILATADOR PERIFÉRICO INTENSO (bradicinina preservada) → Captopril, enalapril, fosinopril, ramipril, lisinopril. Mecanismo de ação: inibem a ECA, impedindo a conversão de angiotensina I em II e inibem a degradação da bradicinina (depressão do SRNAA e estímulo do sistema calicreína-cinina). Efeitos farmacológicos: redução da RVP, diminuindo a PA sem taquicardia reflexa, retardam a evolução da nefropatia diabética. ...se não tem angiotensina II, não há vasoconstrição. Usos clínicos: hipertensão arterial, cardiopatia isquêmica - principalmente, pós IAM. Efeitos adversos: tosse seca/pigarro (acúmulo de bradicinina na mucosa brônquica, irritando o tecido), hipercalemia, angioedema, alteração de paladar, erupções cutâneas, hipotensão (potencializada por diuréticos). !! Contraindicados na gravidez por serem teratogênicos. Antagonistas de receptores de angiotensina II (ARA II) Os ARA II são fármacos que bloqueiam competitivamente o receptor AT1, impedindo as ações da angiotensina II. Esses fármacos promovem vasodilatação direta e bloqueio da produção de aldosterona pelas glândulas adrenais, não havendo a retenção de sódio e água, reduzindo a PA. ...ECA funciona, há produção de angiotensina I e II, mas não há receptor para que a angiotensina II exerça seus efeitos fisiológicos. Os ARA II não possuem efeito sobre o sistema calicreína- cinina, sendo mais seletivos que os IECA e provendo inibição mais completa da ação da angiotensina II por meio do bloqueio do receptor. !! Atualmente, são os fármacos anti-hipertensivos mais utilizados. → Losartana, valsartana, candesartana, olmesartana, irbesatana; fármacos de escolha para pacientes que não toleram os IECA. Mecanismo de ação: bloqueiam competitivamente o receptor AT1 de angiotensina II, impedindo seus efeitos fisiológicos mediados por este receptor. Efeitos farmacológicos: redução da PA sem alterar a frequência cardíaca. Usos clínicos: hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, prevenção de AVE. Pacientes com hipertrofia do ventrículo esquerdo, ao utilizarem ARA II, têm sua mortalidade reduzida. Efeitos adversos: cefaleia, tonturas, astenia, dores musculares, hipercalemia, artralgias. !! Contraindicados na gravidez por serem teratogênicos. Inibidores de renina Os inibidores de renina são fármacos que bloqueiam a renina, responsável pela conversão de angiotensinogênio em angiotensina I. Esses fármacos não possuem aplicação tão ampla quanto os ARA II. Muitas vezes, acabam não sendo prescritos por serem caros. → Alisquireno, enalquireno. Mecanismo de ação: bloqueio do sítio catalítico da renina. O alisquireno impede a clivagem do angiotensinogênio e a produção de angiotensina I. ...bloqueio do início do sistema impede que todas as outras reações aconteçam. Efeitos farmacológicos: redução da atividade plasmática do sistema renina-angiotensina. Usos clínicos: hipertensão arterial. Efeitos adversos: hipotensão, hipercalemia, dor abdominal, diarreia, angioedema, fadiga, tosse seca. !! Ainda não existem dados sobre a segurança de uso durante a gravidez. !! Não administrar concomitantemente com outros agentes que atuam sobre o sistema renina-angiotensina (captopril, losartana). Fármacos simpatolíticos Os fármacos simpatolíticos inibem o funcionamento do SNAS, desde o sistema nervoso central até a célula efetora localizada na periferia. DEPRESSÃO DO FUNCIONAMENTO DO SNAS: redução de FC, força de contração e não acontecimento de vasoconstrição. → Antagonistas alfa-1 (prazosina, doxazosina) e beta-1 adrenérgicos (atenolol, pindolol, metropolol) + agonistas alfa-2 adrenérgicos (clonidina). Associações eficazes A condição inicial do paciente é que indica a forma de tratamento. Nem sempre, o primeiro tratamento proposto irá funcionar. 1 FARMACOLOGIA AULA 3 Farmacologia da insuficiência cardíaca A insuficiência cardíaca (IC) ocorre quando o DC é inadequado ao provimento de oxigênio necessário para o organismo. Trata- se de uma doença progressiva caracterizada pela redução gradual do desempenho cardíaco acompanhado de episódios de descompensação aguda que afetam a excitação-contração cardíaca. O sistema cardiovascular tenta compensar essa condição a todo momento. Na insuficiência cardíaca, acontece envolvimento de SNS, do SRAA e da apoptose das células cardíacas. Os fármacos acabam por agir em algum desses eventos. Manifestações: doença crônica e congestiva de longo prazo decorrente de outras patologias (adaptação) ou pode se instalar repentinamente (aguda). !! O DC inadequado compromete o fornecimento de sg e oxigênio para todos os outros órgãos e tecidos. Tipos de IC: ▪ Sistólica ou diastólica: na fração de contração ou de relaxamento; sistólica é mais comum. ▪ Aguda ou crônica: depende do tempo que ela demorar para se desenvolver. ▪ Congênita: deficiência estrutural na musculatura cardíaca. ▪ Adquirida: resultante de outras patologias adjacentes. ▪ Do lado esquerdo: mais provável. ▪ Do lado direito: geralmente, decorre da IC do lado esquerdo que não foi tratada adequadamente; mais grave. Causas da IC: → Doença valvar, DM, hipertensão, IAM, infecções, remodelamento cardíaco, inflamação, distúrbios congênitos, taquicardia, toxinas que alteram o sistema de condução elétrica do coração, estenose aórtica, hipertireoidismo, doença de Chagas, distúrbios genéticos. ...as causas, quando não tratadas, acabam gerando um quadro de IC. Sintomas da IC: → Dispneia (norepouso e no esforço físico), tosse, fraqueza generalizada, edema (sinal clássico, principalmente nos MMII), palpitação, tonturas, diminuição da emissão de urina. Mecanismos da IC: Como o organismo tenta corrigir a IC? 1. Diminuição do DC → inibição do estímulo carotídeo; 2. Diminuição do DC → diminuição do fluxo sanguíneo nos rins Como o organismo responde? 1. Aumento da descarga simpática. Esse aumento também influencia o aumento da liberação de renina. Resultados: aumento da força de contração de FC da pré- carga e da pós-carga. 2. Estímulo para aumento da liberação de renina e aumento da produção de angiotensina II, que reforça o mecanismo da descarga simpática e o aumento do tônus vascular; Resultados: aumento de pré-carga e pós-carga e remodelamento cardíaco (hipertrofia do ventrículo seguida de hipertrofia do septo interventricular). O remodelamento diminui a capacidade interna do ventrículo. A hipertrofia do miocárdio é uma compensação intrínseca. Inicialmente, o desempenho cardíaco se mantém porque o volume das células aumenta sua capacidade de contração. A longo prazo, as células se tornam cada vez mais hipertrofiadas, diminuindo a capacidade cardíaca. Os miócitos hipertrofiados, quando se proliferam, passam por apoptose acelerada. Agravamento do estresse miocárdico: Nesse processo, o DC aumenta por meio de compensação. Quando a compensação se torna um ciclo vicioso, a IC se instala. !! Tudo que o organismo tenta fazer acaba por sobrecarregar o músculo cardíaco. ENTÃO... A descarga simpática, além dos efeitos sobre o coração, também aumenta o tônus vascular; o SRAA contribui para aumento do tônus vascular; a vasoconstrição – aumento de pós carga, que reduz ainda mais a fração de ejeção e débito cardíaco. Esse ciclo vicioso leva, a longo prazo, à IC. Desempenho cardíaco na IC: → Pré-carga aumentada (tônus venoso) – aumento da demanda de oxigênio; → Pós-carga aumentada – atividade simpática (catecolaminas) e aumento de produção de angiotensina II; → Contratilidade reduzida; → FC aumentada – queda do volume sistólico e redução da perfusão tecidual global (todos os tecidos acabam sendo afetados pelo mal desempenho cardíaco). Tratamento da IC: O tratamento da IC tem como principal objetivo prolongar a vida do paciente e melhorar a sua qualidade de vida ao máximo. É importante descobrir e tratar doença subjacentes, que causam a IC. Pacientes com comprometimento devem usar fármacos que diminua a FC na tentativa de tratar o coração insuficiente. Reduzir a ingestão de sal, controle de peso e melhora da alimentação diminuem a sobrecarga de trabalho cardíaco. Quando todos os recursos não surtem efeitos, o transplante cardíaco é indicado como último recurso. Tratamento farmacológico: → IC aguda: vasodilatadores, agonistas beta-adrenérgicos. A IC aguda pode ser revertida porque o paciente ainda não possui remodelamento cardíaco. → IC congestiva (ICC): glicosídeos cardíacos (digitálicos) inibidores de fosfodiesterase, diuréticos, inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), antagonistas de receptores de angiotensina II (ARA II), inibidores de renina, antagonistas beta-adrenérgicos. Os diuréticos, inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), antagonistas de receptores de angiotensina II (ARA II), inibidores de renina e antagonistas beta-adrenérgicos 2 FARMACOLOGIA AULA 3 interrompem os mecanismos neuronais que agravam o quadro de ICC. Vasodilatadores Os vasodilatadores são eficientes na IC aguda uma vez que reduzem a pré-carga (venodilatação), a pós-carga (dilatação arteriolar) ou amba. Eles também apresentarem uma discreta redução da remodelação cardíaca. CAMINHO DO SG FICA LIVRE! FORÇA E TRABALHO DO CORAÇÃO REDUZIDOS! DIMINUIÇÃO DO ESTRESSE DA MUSCULATURA CARDÍACA! 1. Análogos do peptídeo natriurético: nesiritida (BNP) - EV, carperitida e ularitida (ANP); os ANP ainda estão em estudo clínico. Mecanismo de ação: aumentam GMPc na musculatura vascular reduzindo o tônus venoso e arteriolar. Efeito dilatador indireto! Além disso, possui efeito sofre os vasos dos rins provocando diurese (facilitam o processo natural de diurese). Principais usos clínicos: tratamento da IC aguda descompensada com dispneia em repouso. Efeitos adversos: hipotensão excessiva, diminuição da FC, falência renal, cefaleia, náuseas. Uma hipotensão muito grave pode gerar PCR. !! O peptídeo natriurético é produzido quando há aumento distensão do átrio. 2. Hidralazina: muito utilizada em emergências cardíacas; uso injetável (EV). Mecanismo de ação: ação direta sobre a musculatura lisa das arteríolas interferindo na ação do trifosfato de inositol (IP3), impedindo a liberação de cálcio, causando aumento do DC devido a diminuição da resistência periférica. O bloqueio do IP3 impede a liberação do cálcio e NÃO ACONTECE CONTRAÇÃO DA MUSCULATURA LISA ARTERIOLAR! Principais usos clínicos: IC aguda, hipertensão e eclampsia. !! A associação deste fármaco com os nitratos mostra-se bastante efetiva na IC. Efeitos adversos: taquicardia, cefaleia, irritação ocular, artralgia, erupção cutânea, vasculite 3. Nitratos. Agonistas beta-adrenérgicos → Dobutamina EV (agonista beta-1 seletivo). Na IC, a dobutamina aumenta o DC com diminuição na pressão de enchimento ventricular (aumenta a força e a FC). Precauções: risco de arritmias em pacientes com doença arterial coronariana subjacente e taquifilaxia (rápida diminuição do efeito em doses consecutivas). !! Esse medicamento é muito utilizado em emergências, principalmente quando há choque cardiogênico. BAIXO ÍNDICE TERAPÊUTICO! Glicosídeos cardíacos ou digitálicos Os glicosídeos cardíacos são provenientes da dedaleira (Digitalis spp.) e de plantas relacionadas. → Digoxina, digitoxina. Mecanismo de ação: inibem reversivelmente a bomba sódio- potássio- ATPase nos miócitos cardíacos. Uma vez no sg, o glicosídeo cardíaco chega até os miócitos, onde se liga no local de ligação do potássio, interrompendo o funcionamento da bomba. O potássio extracelular continua do lado de fora da célula e o sódio intracelular continua dentro da célula. O aumento de sódio intracelular lentifica a saída do cálcio. A concentração de grande quantidade de cálcio dentro da célula faz com que a quantidade de cálcio que é liberada pelo retículo sarcoplasmático aumente. Assim, acontece aumento da força de contração da musculatura cardíaca. O aumento da força de ejeção promove melhora do quadro de IC como um todo. !! Não são fármacos de primeira escolha por apresentarem baixa segurança de uso. A toxicidade pelo seu uso pode acontecer de maneira muito rápida. Efeitos cardíacos: AUMENTO DA FORÇA + DIMINUIÇÃO DA FC 1. Mecânicos: aumento da concentração de sódio + redução da expulsão de cálcio = aumento da contração cardíaca (efeito inotrópico positivo). 2. Elétricos: ações diretas e autônomas que alteram a condução elétrica do coração; retardo na condução AV em virtude do aumento da atividade vagal (efeito cronotrópico negativo) + batimentos ectópicos (aumento de cálcio). 3. Efeitos sobre o potássio extracelular: aumento do efeito dos glicosídeos (toxicidade) caso ocorra diminuição do potássio plasmático. Principais usos clínicos: tratamento da IC em pacientes com fibrilação atrial ou que ainda estão sintomáticos em uso de outras classes de fármacos. O glicosídeo é um fármaco de baixo índice terapêutico (não são a primeira escolha) porque a diferença entre suas doses terapêutica e tóxica é muito pequena. Usar somente em “situações de tudo ou nada”. Efeitos adversos: náuseas, diarreia, desorientação, letargia (efeitos extra cardíacos – estímulo vagal), distúrbios de ritmo cardíaco, bloqueio AV, despolarizaçõesventriculares prematuras. Interações medicamentosas importantes: ▪ Digitálicos + betabloqueadores: bloqueio AV; ▪ Digitálicos + antagonistas de canais de cálcio: diminuição da contratilidade cardíaca; ▪ Digitálicos + diuréticos de alça: diminuição do potássio plasmático eleva a toxicidade dos digitálicos; ▪ Digitálicos + quinidina: aumento dos níveis plasmáticos dos digitálicos. Intoxicação digitálica: Paciente em uso de digitálico pode entrar em intoxicação. Quando acontecer intoxicação → suporte básico a vida + manejo da hipercalemia + monitoração cardíaca e de eletrólitos. Arritmias! Podem levar o paciente a óbito! Como reverter a intoxicação? Primeiro, tentar reverter a bradicardia por meio do uso de atropina. Se isso não funcionar, 3 FARMACOLOGIA AULA 3 fazer uso de Ac anti-digitálicos (Digibind) - digoxina imune FAB. Os Ac interagem com a molécula da digoxina, deslocando-a de seu sítio e eliminando-a do organismo através da urina. Casos que não conseguem ser revertidos evoluem para arritmias graves e óbito. Inibidores de fosfodiesterase (PDE) Os inibidores da fosfodiesterase (PDE) são fármacos que bloqueiam um ou mais subtipos da enzima PDE. O bloqueio da PDE previne a degradação dos segundos mensageiros intracelulares (AMPc e GMPc), promovendo efeitos diferentes, dependendo do tecido em questão. A PDE é uma enzima que degrada GMPc e AMPc! Diversas isoformas em diversos locais do organismo... seletivas são específicas para a PDE e não-seletivas promovem diversos efeitos adversos. Os PDE do tipo 3 seletivos (bipiridinas) são aqueles utilizados para tratamento de IC. → Bipiridinas: inibidores da isoforma 3 da PDE; milrinona, inanrinona. Mecanismo de ação: inibem seletivamente a isoforma 3 da PDE (PDE3). Esta inibição resulta em aumento do AMPc (aumento do influxo de cálcio) elevando a contratilidade (inotropismo), a FC (cronotropismo) e a V de condução, além de gerar vasodilatação. !! O ionotropismo é menor do que o promovido pelo uso dos glicosídeos cardíacos. Principais usos clínicos: IC aguda ou exacerbações graves da ICC. Efeitos adversos: arritmia ventricular, cefaleia, hipotensão, náuseas, trombocitopenia. Diuréticos → Diuréticos de alça: furosemida; fármacos de escolha (mais potentes) → Antagonistas de aldosterona: espironolactona (poupador de potássio). Redução da pressão venosa (melhora do retorno venoso) + diminuição da pré-carga ventricular + diminuição da retenção hídrica e edema + benefício adicional da espironolactona que contorna o efeito sobre o SRAA = melhora cardiovascular !! A perda de potássio agrava a toxicidade dos digitálicos. Fármacos que afetam o SRAA → IECA: captopril, enalapril. → ARA II: losartana, valsartana, candesartana; possuem eficácia na redução do remodelamento cardíaco. → Inibidores de renina: alisquireno. Redução da resistência periférica + diminuição da pós-carga + redução da retenção hídrica + diminuição da atividade simpática (redução da angiotensina) + redução da remodelação cardíaca a longo prazo + redução da morbidade e mortalidade Agonistas beta-adrenérgicos Esses fármacos atuam no SN autonômico. → Beta-1 seletivos: metoprolol, nebivolol, bisoprolol. → Misto beta-1 e 2 e alfa-1: carvedilol. Atenuação dos efeitos relacionados ao excesso de catecolaminas (apoptose de miócitos) + regulação dos receptores beta adrenérgicos + redução da FC + redução da remodelação cardíaca !! A terapia com uso de antagonistas beta-adrenérgicos deve iniciada em baixas doses e monitorada por meses. Ela promove discreta elevação da fração de ejeção e torna a FC mais lenta. Adendos Os quadros vermelhos mostram o local de ação dos fármacos. 1 FARMACOLOGIA AULA 4 Antianginosos Angina: ocorre quando a oferta de oxigênio ao miocárdio é insuficiente para suas necessidades. Ocorre acúmulo de metabólitos em virtude da isquemia miocárdica. A dor tem distribuição característica no peito, membro superior e pescoço, e é ocasionada por esforço físico, frio ou agitação. Oxigênio insuficiente → acúmulo de metabólitos + isquemia → dor característica Tipos de angina: ▪ Estável: dor precordial proveniente ao esforço. É produzida por um aumento da demanda sobre o coração e geralmente causada por um estreitamento fixo dos vasos coronarianos por ateroma. - Vasos coronarianos sendo insuficientes para distribuir sg; - A dor cessa assim que o esforço físico termina. ▪ Instável: se caracteriza por dor que ocorre cada vez menos, por esforço físico, culminando em dor em repouso. A patologia é semelhante à envolvida no infarto do miocárdio (trombo de plaquetas e fibrina associado a uma placa ateromatosa rota) mas sem oclusão completa do vaso. Determinantes da demanda cardíaca: Determinantes da demanda de oxigênio: resultante de esforço físico ou de descarga simpática. A ansiedade patológica também pode provocar descarga simpática. → Estresse da parede muscular, causando aumento da espessura (hipertrofia) e da pressão intraventricular; aumento FC; aumento da contratilidade. Determinantes do fluxo sanguíneo coronário e aporte ao miocárdio: dificultam o fluxo sanguíneo nas coronárias; fluxo coronário – pressão de perfusão, pressão diastólica aórtica, lesão do endotélio coronariano – resistência vascular. Determinantes do tônus vascular: aumento de GMPc e AMPc, diminuição do cálcio intracelular (diminuição dos espasmos das aa.), estabilização da membrana da célula muscular lisa. O aumento da atividade simpática pode estar relacionado com uma arritmia pontual. Com isso, o trabalho cardíaco se eleva e a eficiência do miocárdio diminui. Assim, a isquemia do miocárdio pode acontecer. A isquemia do miocárdio causa, a nível molecular, redução do aporte de oxigênio, que pode promover morte celular. Vias que levam a apoptose também podem ser ativadas pela isquemia e, consequentemente, promover morte celular. Resultados da redução de aporte de oxigênio: redução da produção de ATP, do funcionamento das bombas de íons, aumento da concentração de cálcio, ativação de proteases e lesões de membrana. Fatores que promovem a apoptose: ativação de receptores, ativação de proteases relacionada à ECI, inativação de PARP, fragmentação do DNA. Objetivos do tratamento da angina: O tratamento da angina tem como finalidades: 1. Diminuir a demanda miocárdica de oxigênio: diminuir os determinantes de demanda; podem ser reduzidos farmacologicamente. 2. Aumentar o aporte de oxigênio para o tecido isquêmico: diminuir os espasmos da artéria coronária por meio de vasodilatação; podem ser reduzidos farmacologicamente. Tratamento farmacológico: → Vasodilatadores: nitratos e antagonistas dos canais de cálcio. → Fármacos que atuam sobre o músculo cardíaco: antagonistas beta-adrenérgicos e antagonistas dos canais de cálcio. Vasodilatadores Os nitratos mais utilizados têm formulações de uso sublingual para que sua absorção seja extremamente rápida. → Nitroglicerina (protótipo), nitrato de amila, mononitrato de isossorbida, dinitrato de isossorbida, propatilnitrato, nicorandil (ativa canais de potássio). Mecanismo de ação: os nitratos orgânicos são metabolizados com a liberação de NO, que ativa a guanilil ciclase na musculatura, aumentando a formação de GMPc, promovendo vasodilatação. ...o NO é um potente vasodilatador. O mecanismo de ação dos nitratos na verdade é o mecanismo de ação do NO. Principais usos clínicos: prevenção e tratamento de angina estável, angina instável para evitar IAM, IC aguda e crônica. !! Para IC, é opção terapêutica e não opção inicial de escolha. Efeitos adversos: desenvolvimento de tolerância, hipotensão postural, cefaleia pulsátil, taquicardia. !! Ao longo do tratamento, a dose do nitrato deve ser ajustada quandoacontece tolerância ao medicamento pelo paciente. Efeitos clínicos dos nitratos: ▪ Em pacientes com angina de esforço: melhora a perfusão do músculo cardíaco devido a diminuição do retorno venoso e redução do consumo de oxigênio pelo miocárdio; ▪ Em pacientes com angina variante: o relaxamento da musculatura lisa reduz os espasmos coronarianos; ▪ Em pacientes com angina instável: dilatação das artérias coronárias e redução do consumo de oxigênio pelo miocárdio. ...pensou em angina, pensou em nitratos! A ação antianginosa dos nitratos envolve a redução do trabalho cardíaco, pela redução da pré-carga (venodilatação) e da pós-carga (redução da onda reflexa arterial), levando à redução da necessidade de oxigênio pelo miocárdio a redistribuição do fluxo coronariano em direção a áreas 2 FARMACOLOGIA AULA 4 isquêmicas através de colaterais e o alívio do espasmo coronariano. !! A diminuição da pré- carga e da pós-carga diminui o esforço cardiovascular. Efeito do nitrato. Melhora da perfusão para a área isquêmica. Antagonistas de canais de cálcio como vasodilatadores Os antianginosos antagonistas de canais de cálcio são administrados VO e fazem parte do tratamento preventivo de angina. → Di-hidropiridinas (nifedipino, anlodipino, felodipino, isradipino). Benefício destes fármacos na angina: redução da resistência vascular periférica beneficia pacientes com angina de esforço, redução da pós-carga, vasodilatação coronariana - usados em pacientes com espasmo coronariano (angina variante). Antagonistas beta-adrenérgicos → Beta-1 bloqueadores seletivos (atenolol, metoprolol, bisoprolol). Benefício destes fármacos angina estável e instável: diminuição da FC, contratilidade e PA; redução do consumo cardíaco de oxigênio; redução do risco de morte após IAM. Esses fármacos são usados em conjunto com nitratos e devem ser evitados na angina variante devido à resposta terapêutica variável. Antagonistas de canais de cálcio atuando diretamente no músculo cardíaco → Diltiazem e verapamil. Benefício destes fármacos na angina: redução da contratilidade, redução do consumo de oxigênio pelo miocárdio. Esses medicamentos não provocam taquicardia reflexa. !! Pacientes com fibrilação atrial subjacente apresentam efeitos benéficos do diltiazem (controle da arritmia). Observações: ▪ Paciente com angina estável: tratamento da doença ateromatosa subjacente com estatinas e profilaxia contra trombose com um antiagregante plaquetário, geralmente a aspirina de baixa concentração. As associações evitam a evolução da angina para quadros mais graves. ▪ Paciente com angina instável: tratamento com antiagregantes plaquetários (aspirina e/ou clopidogrel) reduzem o risco de IAM nesta situação. Os fármacos antitrombóticos (enoxaparina) fazem um acréscimo a este benefício à custa de maior risco de hemorragia e os nitratos orgânicos aliviam a dor isquêmica. O controle da angina é feito para evitar o acontecimento de IAM. Mais recursos farmacológicos são utilizados porque o paciente possui mais risco de evolução para quadros muito graves. !! Pacientes que sofrem IAM, se recuperam e retornam para casa devem usar antitrombóticos. Antiarrítmicos Arritmias cardíacas: alterações elétricas que provocam modificações no ritmo cardíaco e que prejudica o funcionamento do coração. A anormalidade pode estar na origem do impulso, em sua frequência ou então em sua condução. Como resultado da arritmia o coração pode entrar em taquicardia, bradicardia ou em descompasso (pulsação irregular). !! O descompasso é a pior consequência da arritmia porque pode levar à morte súbita cardíaca (MSC). Mecanismos eletrofisiológicos cardíacos: Esses mecanismos promovem a contração e o relaxamento da musculatura cardíaca. Qualquer distúrbio no ajuste fino da condução elétrica do coração resulta em arritmia. Esses distúrbios podem ser identificados no ECG. ▪ Fase 0: despolarização rápida; entrada de sódio. ▪ Fase 1: repolarização parcial; corrente de sódio iniciada na fase 0 é inativada. ▪ Fase 2: platô; corrente de cálcio; contribuição de uma corrente de sódio persistente. ▪ Fase 3: repolarização; inativação da corrente de cálcio; corrente de saída de potássio. ▪ Fase 4: fase de repouso até recebimento de um novo estímulo no nó sinusal. Atividade de marca-passo (ritmo sinusal) + potencial de ação prolongado e período refratário longo + influxo de cálcio. Clinicamente, as arritmias são classificadas de acordo com o local de origem da anormalidade em atriais, juncionais ou ventriculares e de acordo com sua ação (aumento da frequência/taquicardia ou diminuição/bradicardia). 3 FARMACOLOGIA AULA 4 Tipos mais comuns de taquiarritmia: 1. Fibrilação atrial: batimentos cardíacos completamente irregulares; 2. Taquicardia supraventricular: batimentos cardíacos rápidos, mas regulares. As taquiarritmias ventriculares são menos comuns, mas muito mais graves. Elas incluem a taquicardia ventricular e a fibrilação ventricular, nas quais a atividade elétrica nos ventrículos é completamente caótica e o débito cardíaco cessa. A fibrilação ventricular é muito grave e precisa de intervenção imediata. As bradiarritmias incluem vários tipos de bloqueio cardíaco (nodos AV ou SA) e a parada completa da atividade elétrica (“parada assistólica”). Mecanismos das arritmias: As arritmias originam-se em razão de retardo da pós- despolarização, que desencadeia batimentos ectópicos; reentrada, decorrente de bloqueio parcial de condução; atividade ectópica de marca-passo; bloqueio cardíaco. Essas origens podem sofrer intervenções farmacológicas. Objetivos do tratamento das arritmias: Os fármacos antiarrítmicos diminuem a automaticidade das células marca-passo, reduzem a condução e excitabilidade e aumentam o período refratário em maior extensão no tecido despolarizado. Finalidades: reduzir a atividade de marca-passo ectópica e modificar a condução ou refratariedade nos circuitos elétricos. Tratamento farmacológico: Classificação de Vaughan Williams: classificação dos fármacos de acordo com os efeitos eletrofisiológicos que eles estão envolvidos. → Classe I: fármacos que bloqueiam canais de sódio sensíveis a voltagem (voltagem dependentes); são subdivididos em Ia, Ib e Ic de acordo com o tempo de bloqueio do canal de cálcio. → Classe II: antagonistas dos receptores beta-adrenérgicos. → Classe III: fármacos que prolongam, substancialmente, o potencial de ação cardíaco. → Classe IV: antagonistas dos canais de cálcio. CLASSE I: A maioria dos fármacos dessa classe são injetáveis. → Ia (quinidina e procainamida): dissociação intermediária; diminuição do número de despolarizações. → Ib (lidocaína): dissociação rápida, bloqueiam os canais de cálcio preferencialmente quando as células estão despolarizadas. → Ic (flecainida, encainida): dissociação lenta; condução elétrica acentuadamente inibida através do sistema Purkinje. Mecanismo de ação: bloqueio dos canais de sódio, inibindo a propagação do potencial de ação nas células excitáveis (redução da corrente de sódio e do número de disparos do marca-passo). O efeito característico sobre o potencial de ação é reduzir a velocidade máxima de despolarização durante a fase 0. Principais usos clínicos: situações de emergência. → Ia: segunda ou terceira escolha em arritmias ventriculares, prevenção de fibrilação atrial. → Ib: tratamento e prevenção de taquicardia ventricular imediatamente pós IAM. → Ic: fibrilação atrial, supressão de contrações ventriculares prematuras. Efeitos adversos: risco de desenvolver insuficiência cardíaca, parestesia, tremores, visão turva, distúrbios de fala, diarreia, náuseas,vômitos. CLASSE II: → Antagonistas beta-adrenérgicos (propranolol, metoprolol, esmolol). Benefício destes fármacos nas arritmias: supressão de despolarizações ectópicas ventriculares (principal), evita a morte súbita de pacientes que se recuperam de IAM, redução de infartos recorrentes (redução de atividade simpática no sistema cardiovascular), aumento do período refratário no nodo AV (impedindo taquicardia supraventricular), prevenção da fibrilação atrial. CLASSE III: Fármacos de tratamento ambulatorial. → Amiodarona, dronedarona, sotalol. Mecanismo de ação: prolongam o potencial de ação cardíaco. O mecanismo deste efeito envolve o bloqueio de canais de potássio envolvidos na repolarização cardíaca. Como resultado, tem-se aumento do período refratário, interrompendo taquicardias reentrantes e suprimindo atividade ectópica. Principais usos clínicos: taquiarritmias supraventriculares, supressão de extrassístoles ventriculares e períodos breves de taquicardia ventricular. !! Necessidade de reavaliação constante para avaliar a dose medicamentosa e se o fármaco está causando bradicardia. ...controle da dose! Fármacos com estreita janela terapêutica. Efeitos adversos: bradicardia sintomática, bloqueio cardíaco, rash cutâneo, distúrbios da tireoide, hepatite, fotodermatose azulada, fibrose pulmonar. CLASSE IV: → Antagonistas dos canais de cálcio - verapamil. Benefício destes fármacos nas arritmias: supressão de batimentos ectópicos (redução da entrada de cálcio na musculatura cardíaca), prevenção da recorrência de taquicardia supraventricular (condução mais lenta retardando a propagação do potencial de ação), redução a frequência ventricular em pacientes com fibrilação atrial, redução da força de contração. Adendos Mulheres em estado pré-trombótico e que desejam engravidar = se atentar ao seu problema e iniciar tratamento com antitrombótico. Durante a gestação o estado pré- trombótico aumenta! 1 FARMACOLOGIA AULA 5 Farmacologia gástrica “Além de sua função principal de digestão e absorção de alimentos, o trato gastrointestinal é um dos principais sistemas endócrinos do corpo e tem sua própria rede neuronal integradora, o sistema nervoso entérico, que contém quase o mesmo número de neurônios que a medula espinhal. É o local de muitas patologias comuns, variando desde uma simples dispepsia até complexas afecções autoimunes, como a doença de Crohn, e os medicamentos para tratar esses distúrbios gastrointestinais compreendem cerca de 8% de todas as prescrições”. !! O SN entérico é autônomo e influenciado pelos SNAS e SNAP, mas não dependente de ambos os sistemas. Muitos dos fármacos de tratamento do TGI, como IBPs e antagonistas de receptores de histamina, têm venda livre o que facilita a automedicação. PERIGO! PACIENTE PODE USAR AS MEDICAÇÕES DE FORMA DEMASIADA! Fisiologia da secreção gástrica Todos os vasos e glândulas do TGI estão sob duplo controle hormonal e neuronal. → Controle da secreção de enzimas regulado pelo sistema neuronal e pela liberação de hormônios endócrino e parácrinos. Inervação do TGI: ▪ Plexos mioentéricos: localizado entre a musculatura longitudinal e a musculatura circular do TGI; responsável pelos movimentos peristálticos. ▪ Plexos submucosos: localizado na submucosa; relacionado com as secreções glandulares e com a secreção de estímulos. Mecanismo de secreção gástrica: Fundo + corpo + cárdia + antro = partes do estômago O esfíncter inferior esofágico (EIE) é fisiológico porque ele não possui musculatura circular. A contração induzida pelo m. diafragma e que faz o final do esôfago funcionar como um esfíncter. O epitélio estomacal possui diversas ranhuras que são entremeadas por glândulas. Essas glândulas presentes na superfície do estômago são compostas por diferentes tipos de células. !! O fator intrínseco participa da absorção da vitamina B12 no duodeno. A anemia perniciosa aparece quando há falta de vitamina B12. O muco é uma camada de glicoproteínas que contem eletrólitos (principalmente bicarbonato). Ele é secretado por suas células produtoras e forma uma barreira mucosa física de íons e bicarbonato. O bicarbonato provém da corrente sanguínea e é difundido até a região do muco através de capilares. O lúmen estomacal possui pH extremamente baixo (2 – 2,5) e nocivo às células epiteliais. É o muco que protege essas células e que altera o pH próximo da superfície celular (7), tornando-o adequado para a vitalidade celular. A pepsina também é capaz de danificar as células epiteliais do estômago. Glândulas: ▪ Corpo e fundo do estômago: predominância de células parietais e principais ▪ Antro do estômago: predominância de células produtoras de muco e células G produtoras de gastrina. A célula G produz gastrina que é liberada na circulação porta- hepática. Regulação da secreção de ácidos pelas células parietais: A regulação da secreção de ácidos pelas células parietais acontece por meio de mediadores diretos ou indiretos. Estimuladores: ▪ Histamina: ação parácrina (efeito em células próximas); proveniente das células enterocromafins; atua nas células parietais; SNAP. ▪ Gastrina: estimula síntese de histamina; induz secreção ácida. ▪ Acetilcolina: proveniente dos neurônios do SNAP; induz a liberação ácida; estimulação vagal do estômago - influenciada pela visão, olfato, paladar, mastigação, etc Inibidores: ▪ Prostaglandinas: produzidas pela maioria das células do TGI; efeito citoprotetor; aumenta a secreção de bicarbonato, diminui a produção de ácido gástrico e aumenta a produção da mucina protetora; inibe a liberação de histamina pelas células enterocromafins. ▪ Somatostatina: ação parácrina – se concentra na região em que é liberada; “inibição geral do TGI”; inibe a liberação de gastrina, de histamina e de ácido; produzida pelas células D estomacais. Secreção ácida e a bomba de prótons: As células parietais secretam o ácido clorídrico, ou seja, os prótons. A célula parietal possui em sua constituição, gás carbônico e água, produtos de seu metabolismo. Na presença da anidrase 2 FARMACOLOGIA AULA 5 carbônica acontece a produção de ácido carbônico, substância instável que se dissocia em bicarbonato e íon hidrogênio. O bicarbonato cai na corrente sanguínea através do transporte ativo antiporte que compete a entrada do cloreto no interior da célula. O cloreto, devido sua força eletronegativa, deixa a célula atraindo potássio. O potássio sai junto com o cloreto para o lúmen, então, por meio de transporte ativo simporte. A célula precisa captar o potássio que perdeu ao mesmo tempo que precisa eliminar o íon hidrogênio produzido na dissociação da anidrase carbônica. A bomba de prótons permite a entrada do potássio para a saída do hidrogênio. AÇÃO DOS IBPs, inibindo a troca iônica de forma irreversível! Doenças que acometem o estômago: Existe um equilíbrio entre fatores agressivos e protetores. As doenças surgem quando há desequilíbrio entre os mecanismos secretores e os protetores. Principais doenças: úlcera, DRGE, SD de Zollinger-Ellison (TU produtor de gastrina de maneira desordenada). PRINCIPAIS INDICAÇÕES PARA USO DE FÁRMACOS QUE REDUZEM A SECREÇÃO GÁSTRICA! 1. ÚLCERA PÉPTICA: Causas: infecção da mucosa do estômago por H. pylori, uso de AINES, estresse severo (induz liberação de cortisol endógeno e a produção ácida estomacal via central), consumo de bebida alcoólica em excesso (induz inflamação gástrica), tabagismo, SD de Zollinger-Ellison. ▪ H. pylori: principal causador da úlcera péptica. - Bacilo curvo ou espiralado, gram-negativo, flagelado, de grande mobilidade; - Produz urease, enzima que converte ureia e água em amônia e gás carbônico, criando um microambiente básico; - Produz mucinase, enzimadegradadora de muco; - Produz citocina VacA relacionada com a indução da formação de vacúolos e com a apoptose das células; - Produz citocina CagA relacionada com a disruptura celular e com a indução de resposta inflamatória intensa; - Possui adesinas que se ligam a superfície epitelial da célula; - A bactéria inibe a produção de somatostatina pelas células D estomacais. ...intensa destruição tecidual no local em que a bactéria se instala. Diagnóstico: biópsia da mucosa gástrica (coloração de Gram), teste sorológico para anticorpos de H. pylori, teste respiratório da ureia marcada com 13C. 2. DRGE: O EIE não se contrai normalmente, na DRGE. Assim, o ácido estomacal atinge o esôfago e uma reação inflamatória intensa é desencadeada. Fatores de risco: obesidade, hérnia de hiato, gravidez, uso de cigarro, consumo de álcool, uso de determinados fármacos (anticolinérgicos, betabloqueadores). Sintomas: queimação dolorosa no peito – pirose, eructação, regurgitação do conteúdo estomacal, alterações da voz, dificuldade de engolir, tosse. A pirose piora quando pessoa está deitada ou após se alimentar e melhora com o uso de antiácidos. Ela é mais frequente ou pior à noite. 3. SD DE ZOLLINGER-ELLISON: Tumores produtores de gastrina existentes no pâncreas, na parede duodenal ou no estômago. A presença desse tumor promove hipersecreção gástrica. Apresentação comum: úlcera péptica refratária, dor abdominal, diarreia e doença gastroesofágica. Objetivo do tratamento: controlar hipersecreção gástrica. Antiácidos São bases fracas que reagem com o ácido clorídrico estomacal, formando sal e água. Os antiácidos são usados no tratamento da dispepsia e para alívio sintomático da úlcera péptica. !! São menos eficazes nas úlceras gástricas do que nas úlceras duodenais. Exemplos: bicarbonato de sódio, bicarbonato de cálcio, hidróxido de alumínio, hidróxido de magnésio. ▪ Ação direta: diminuição da acidez do estômago pela produção de sal e água; aumento do pH + neutralização do ácido. ▪ Ação indireta: inibição da atividade de enzimas pépticas. !! Os compostos que contêm cálcio deixaram de ser utilizados porque eles aumentam a produção de ácido após serem reconhecidos por sensores de cálcio existentes na célula G. Os antiácidos absorvíveis, ao atingirem o estomago, reagem com o próton estomacal, formando gás carbônico e água. Eles provocam alcalose e eructação. Os antiácidos não absorvíveis formam sais ao reagir com o HCl, que são insolúveis. Eles promovem efeito laxante ou estimulam o relaxamento da musculatura do TGI. → Sais de magnésio e de alumínio: mais utilizados. Sais de magnésio: efeito laxativo; efeito osmótico do aumento do peristaltimo; provoca diarreias e cólicas. Sais de alumínio: constipação; é incorporado a células, alterando a ação do cálcio para a contração muscular; relaxa a musculatura lisa. → Bicarbonato de sódio: ação mais rápida e efetiva para diminuir a acidez estomacal, elevando o pH para aprox. É absorvido pelo intestino, podendo causar alcalose. Não usar em tratamento a longo prazo nem em pacientes com dieta de restrição sódica. Nos tratamentos a longo prazo pode acontecer efeito rebote com aumento exagerado na produção de gastrina. Usos clínicos: dispepsia, alívio sintomático na úlcera péptica ou refluxo esofágico. Inibidores do receptor H2 da histamina Os inibidores do receptor H2 da histamina estão sendo substituídos pelos IBPs ou estão sendo utilizados em associação com esses medicamentos. 3 FARMACOLOGIA AULA 5 Esses fármacos são altamente seletivos para H2 e impedem a liberação de histamina, impedindo que ela atue como estimulante ácido (inibem 60-70% da secreção total de ácido). Mecanismo de ação: inibem competitivamente a ação de histamina nos receptores H2. → Cimetidina, Ranitidina, Nizatidina, Famotidina. Farmacocinética dos antagonistas dos receptores H2. A Cimetidina tem maior efeito sobre a atividade do sistema P450 e, consequentemente, maior chance de interação medicamentosa quando comparada a outros fármacos. A Famotidina é o fármaco mais vantajoso. Uso clínico: úlcera péptica e esofagite de refluxo; sangramento relacionado ao estresse em terapia intensiva (IV). Principal via de administração: VO (boa absorção) Efeitos adversos: raros; diarreia, cefaleia, tontura, fadiga muscular, constipação, confusão, delírio, alucinações (mais comum em idosos e depois da administração IV). Consequências do uso crônico e desenvolvimento de tolerância: 1. O uso crônico de cimetidina diminui a ligação de testosterona com seu receptor e inibe a enzima do citocromo P450 que hidrolisa estrógeno, provocando ginecomastia, oligoespermia e impotência. 2. A administração contínua causa tolerância e diminui a efetividade terapêutica. 3. A sensibilidade diminuída a esses fármacos causa efeito secundário de hipergastrinemia, que estimula a liberação de histamina das células enterocromafins. 4. Pode ocorrer efeito rebote quando há fim abrupto do tratamento, aumentando a secreção ácida. Interações farmacológicas: - Cimetidina: inibição de enzimas do sistema P450; aumento da meia-vida de varfarina, fenitoína, antidepressivos tricíclicos, benzodiazepínicos, sulfonilureias etc. Inibidores da bomba de prótons (IBPs) Classe farmacológica de referência para o tratamento as desordens gástricas, sendo os mais potentes inibidores da secreção gástrica (80 a 95% da produção basal e estimulada). Uso clínico: úlcera péptica, esofagite de refluxo, componente no tratamento de H. Pylori, SD de Zollinger-Ellison. Exemplos: Lansoprazol, Omeprazol, Rabeprazol, Pantoprazol. Os IBPs são pró-fármacos que se ativam em ambiente ácido. Eles são administrados na forma de comprimidos revestidos ou cápsulas ácido resistentes para que não sejam degradados pela acidez do estômago. O revestimento é degradado do intestino delgado e a absorção do pró-fármaco acontece. O pró-fármaco cai na corrente circulatória e atinge as células parietais, chegando no ambiente ácido produzido por essas células e são ativados. Assim, eles se ligam de maneira covalente (irreversível) a bomba de prótons (H+/K+ ATPase) – acúmulo nos canalículos secretores da bomba. Os IBPs inibem tanto a secreção ácida basal quanto a estimulada. Eficácia terapêutica: semelhante para todos os fármacos; rápida absorção, administração durante a alimentação diminui 50% da biodisponibilidade, sofrem metabolismo de primeira passagem, excreção renal, administração VO, revestimento ácido-resistente, acúmulo nos canalículos secretores. Efeitos adversos: náusea, vômito, dor abdominal, constipação, flatulência, diarreia, rashes cutâneos, tontura, sonolência, confusão mental, miopatias, hipergastrinemia de rebote, diminuição da absorção de B12, CA (?). Interações farmacológicas: diminuição da acidez do estômago diminui a absorção de cetoconazol e digoxina; inibição de enzimas P450 aumenta a meia vida de benzodiazepínicos, varfarina e fenitoína. Gastroprotetores → Quelato de bismuto O bismuto forma uma camada protetora de gel que recobre úlceras e é pouco absorvido. Ele é usado em combinação para tratamento de H. pylori e promove efeito tóxico sobre o bacilo, impedindo sua aderência na mucosa. Efeitos adversos: náusea, vômito e escurecimento das fezes. → Sucralfato O sucralfato é um sal de sacarose complexado com Al(OH)3, uma pasta viscosa que se liga às úlceras. O hidróxido de alumínio produz ambiente básico, atuando contra a acidez. !! O sucralfato forma polímeros, em ambiente ácido. Efeito adverso: constipação. Análogos das prostaglandinas Utilizados somente em casos específicos. → Misoprostol: análogo metílico da prostaglandina (PGE); estimula a produçãode muco; diminui a secreção de HCl. A PGE inibe a secreção gástrica e aumenta a secreção de muco. Farmacocinética: administração VO (rápida absorção), metabolizado em ácido livre (metabólito ativo), ½ vida 30 min (administração 3 a 4x/dia), eliminação renal. Contraindicações: hipersensibilidade, gravidez. PG1E e PG1F promovem contrações coordenadas do corpo lúteo grávido, enquanto produzem relaxamento do colo uterino. Eles induzem aborto no início e metade da gravidez. Reações adversas: diarreia, dor abdominal. Novos fármacos ▪ Bloqueadores ácidos competitivos do potássio: começaram a ser produzidos no Japão, em 2015; inibidores competitivos de K+ (bomba de prótons). 4 FARMACOLOGIA AULA 5 → Vonoprazan (Brasil), linazapran, tegoprazan (Coreia do Sul). VONOPRAZAN: alta potência de inibição ácida; efeito inibitório de ácido maior que a do Esomeprazol ou Rabeprazol. RESUMINDO: Regulação da secreção de ácidos pelas células parietais: eixo células G- enterocromafins-parietais. Todo o eixo pode ser inibido pela somatostatina. Adendos Estímulo alimentar do SNC. Mecanismo de produção de ácido estomacal. 1 FARMACOLOGIA AULA 6 Farmacologia da motilidade intestinal No intestino, há uma barreira física composta por células justapostas que apresentam camada de muco em sua superfície denominada barreira intestinal. Também existentes eletrólitos que permite trocas e trânsito de substância. O quilo se desloca pelo intestino como consequência da peristalse. Reflexo do vômito Vômito: evacuação forçada do conteúdo gástrico pela boca que promove proteção fisiológica contra agressões ao organismo, como toxinas bacterianas e questões emocionais. O que induz o vômito? → Resposta fisiológica: Reflexo protetor na presença de MOs → Efeitos colaterais indesejáveis de muitos fármacos clinicamente úteis que induzem náuseas e vômitos → Cinetose: enjoo decorrente de movimentos → Início de gravidez: alterações hormonais → Enxaqueca: indução de vias superiores cerebrais e atuação sistêmica da enxaqueca → Doenças bacterianas e virais Regulação central (SNC): centro do vômito e zona do gatilho quimiorreceptora (ZGQ), localizada no bulbo; a ZGQ transmite sinais para o centro do vômito – COMUNICAÇÃO INTENSA! O centro do vômito dispara estímulos neuronais para que aconteça o reflexo do vômito. Ele recebe estímulos vindos de outras áreas do corpo. Fora da barreira hematocefálica recebe muitas informações do fluxo sanguíneo, impedindo que substâncias do sg entre em contato com a ZGQ. A ZGQ é sensível a estímulos químicos, sendo principal ponto de ação de muitos fármacos eméticos e antieméticos. A ZGQ regula a cinetose porque recebe informações do ouvido interno, também. Mecanismo reflexo do vômito: Na ZGQ, há receptores de serotonina - sendo o 5-HT3R o principal, receptores de dopamina, receptores de substância T, receptores de opioides e receptores de canabinoides. Qualquer substância que atinja os receptores da ZGQ, ativando-os, promove estímulos que chegam ao centro do vômito. No centro do vômito, os receptores muscarínicos, principalmente, reconhecem esses estímulos e induzem o reflexo do vômito. Estímulos recebidos na região do labirinto, via vestibulococlear, chegam até o núcleo vestibular, que apresenta receptores H1 (histaminérgicos do tipo 1) e M1. A informação que chega no núcleo é transmitida para a ZQG que depois parte para o centro do vômito induzindo o reflexo do vômito. Situações de nervoso, fortes emoções, dores e de cheiro repulsivo captadas por áreas superiores corticais também são capazes de induzir o centro do vômito. !! A serotonina estimula o peristaltismo quando em contato com os receptores 5-HT3R presentes no intestino. Ativações via TGI: O principal neurotransmissor envolvido é a serotonina, produzida pelas células enterocromafins do TGI. A serotonina estimula vias aferentes vagais. A via aferente faz sinapse no centro do vômito que faz resposta reflexa de indução do vômito. Todo o sistema nervoso autônomo fica ativado, nesse caso. O centro do vômito envia sinais para contração dos músculos abdominais e diafragma, aumentando a pressão abdominal e forçando a saída do conteúdo gástrico. Mudanças autonômicas (aumenta da FC e do peristaltismo) + fechamento da epiglote (evita que o conteúdo gástrico seja aspirado) !! As vias aferentes do nervo vago são ricas em receptores de serotonina. → Ao longo do TGI existentes receptores dopaminérgicos que quando estimulados alteram o peristaltismo de todo o trato, inibindo-o. Há presença, também, de receptores opiodes que alteram mecanismos secretórios, diminuem o peristaltismo e promovem fechamento de esfíncteres. Vias envolvidas no controle do vômito. Fármacos antieméticos Antagonistas de receptores H1 → Anti-histamínico de primeira geração: Dimenidrinato = difenidramina + 8cloroteofilina, Cinarizina, Ciclizina, Prometazina. Uso clínico: amplo; tratamento de cinetose, êmese pós- operatória. Efeitos adversos: sonolência e sedação (atuação em nível central). Mecanismo de ação: inibição dos receptores de histamina principalmente no núcleo vestibular. Esses fármacos atravessam facilmente a BHE. Os anti- histamínicos de segunda geração não atravessam a BHE com facilidade, não sendo eficazes no tratamento de vômitos. Antagonistas de receptores muscarínicos → Escopolamina, agente parassimpatolínico antagonista de M3 (ação anticolinérgica). Mecanismo de ação: inibição dos receptores M3 do TGI. Uso clínico: profilaxia e tratamento de cinetose, náusea, vômito PO e cólicas abdominais. Esses fármacos não atravessam a BHE com facilidade. Efeito principalmente periférico! 2 FARMACOLOGIA AULA 6 Efeitos adversos: efeitos anticolinérgicos periféricos (boca seca, visão turva, aumento de pressão intraocular, taquicardia, tontura, retenção urinária), sonolência, fraca sedação e fadiga (efeitos no SNC - raros). Contraindicações: glaucoma de ângulo fechado, obstruções intestinais ou urinárias e taquiarritmias. Antagonistas de receptores 5-HT3 PRINCIPAL classe de fármacos antieméticos! → Ondansetrona (Vonau), Granisetrona, Palosentrona. Sítio primário de ação: ZGQ; antagonizam efeitos da serotonina. Mecanismo de ação: inibição de receptores 5-HT3 em nível central e ao longo do TGI. Inibem a ativação eferente vagal causada pela serotonina. Uso clínico: êmese induzida por quimioterapia ou por irradiação do trato abdominal superior, hiperêmese gestacional. Esses fármacos são menos efetivos para náusea pós- operatória e não são efetivos para cinetose. Vantagens farmacocinéticas: longo efeito antiemético mesmo em baixa concentração no sg (longa interação com receptor), podem ser administrados apenas 1 vez ao dia, têm boa absorção no TGI e metabolização hepática. Efeitos adversos: cefaleia (nível central) e constipação ou diarreia (nível TGI). Cuidado com pacientes em uso de ISRS porque esses fármacos ao inibirem a atuação de serotonina podem aumentar a presença de serotonina em SNC aumentando a possibilidade de acontecimento de SD colinérgica. Esses fármacos podem promover pequeno prolongamento do intervalo QT e devem ser cuidadosamente administrados para pacientes com histórico de arritmias. Antagonistas de receptores dopaminérgicos → Antipsicóticos fenotiazínicos (clorpromazina, perfenazina, proclorperazina, trifluoperazina); antagonismo dos receptores D2, na ZGQ, principalmente. Os antipsicóticos fenotiazínicos atuam também nos receptores de histamina e muscarínicos em menor ou maior grau. Uso clínico: manifestações intensas de náuseas e vômitos associados a câncer, radioterapia, citotóxicos, opioides,anestésicos e outros fármacos. Efeitos adversos: sedação, hipotensão, sintomas extrapiramidais (distonias e discinesia tardia). Metoclopramida (Plasil): Ação central (ZGQ) diminuindo a êmese e periférica sobre o TGI, promovendo aumento da motilidade do esôfago, estômago e intestino por diminuição da dopamina e ativação colinérgica (TGI superior, principalmente). ATUAÇÃO COMPLEXA! → Promotor de esvaziamento gástrico. Uso clínico: vômito causado por uremia, irradiação, distúrbios gastrintestinais e por citotóxicos. Efeitos adversos: distúrbios do movimento, inquietação motora, torcicolo espasmódico, movimentos oculares para cima (involuntários). Domperidona: Usado em vômitos causados por fármacos citotóxicos e em distúrbios gastrintestinais. Possui menor propensão a efeitos colaterais porque não atravessa facilmente a BHE. Uso restrito: aumenta risco de reações adversas cardíacas graves, principalmente em idosos (aumento do intervalo QT, induzindo arritmias). !! O uso de domperidona tem deixado de ser frequente por causa de seus efeitos adversos. Antagonistas da neurocina 1 (NK1) Aprepitanto: Bloqueia receptores da substância P na ZGQ e no centro do vômito. !! A substância P causa êmese e é liberada pelos nervos aferentes vagais gastrintestinais. Uso clínico: controle de fase tardia da êmese causada por fármacos citotóxicos. Efeitos adversos: pouco significativo. Mecanismo de ação: atuam na sinapse aferente do nervo vago, no centro emético e na ZQG. Outros fármacos: → Nabilona, Dronabinal (canabioides); canabinol sintético (nabilona) ou natural (dronabinol). NÃO SÃO FÁRMACOS DE PRIMEIRA ESCOLHA! Atuam diminuindo o vômito causado por agentes estimulantes da ZGQ e são antagonizados por naloxona. Uso terapêutico: profilaxia de êmese em pacientes que recebem quimioterápicos e quando há falha de outros agentes, estimulador de apetite em pacientes com AIDS e anorexia. Efeitos adversos: sonolência, tonturas, boca seca, alterações de humor, hipotensão postural, alucinações e reações psicóticas (menos frequentes), ativação simpática. Motilidade intestinal e eliminação das fezes Motilidade gastrointestinal: movimento do conteúdo alimentar ao longo do TGI produzido pela contração e relaxamento do músculo liso das camadas circular e longitudinal da parede do TGI e dos esfíncteres gastrointestinais. Entre as duas camadas musculares, tem-se a presença de um plexo mioentérico que gera as contrações desses músculos. 3 FARMACOLOGIA AULA 6 Principais funções da motilidade intestinal: 1. Propelir o alimento ao longo do TGI; 2. Degradar mecanicamente o alimento; 3. Misturar o alimento com as secreções gastrointestinais. Plexos regulatórios de neurônios do sistema nervoso entérico. Os plexos submucosos estão relacionados com mecanismos sensoriais e de secreção. Os plexos mioentéricos estão relacionados com o peristaltismo. Formas de contração do TGI: 1. Peristálticas: propelem o alimento do alimento em direção cauda/anal; contração da musculatura anterior ao quimo e relaxamento da musculatura posterior a ele; atividade durante e após as refeições; contrações progressivas; realizados principalmente pela musculatura longitudinal. 2. Segmentares: contrações que auxiliam na mistura do quimo com substâncias do lúmen intestinal; realizados principalmente pela musculatura circular; pequenos segmentos do intestino se relaxam e se contraem. 3. Complexo de migração motora: programação intestinal de contrações que ocorre entre as refeições, removendo o alimento restante e eliminando bactérias provenientes da porção superior do TGI. Reflexo peristáltico intestinal: Propagação ondulatória ativada por neurônios aferentes que induz o alimento em direção caudal. Com a passagem do quimo, acontece distenção e estímulo da mucosa. Há efeito excitatório onde o anel contrátil do lado oral do segmento fica distendido. Ao mesmo tempo, ocorre o “relaxamento receptivo” por efeito inibitório adiante do quimo. Esses efeitos antagônicos facilitam a impulsão do alimento na direção anal. CONSTIPAÇÃO: Dificuldade de evacuar relacionada principalmente com a diminuição do peristaltismo. Constipação: frequência de eliminação das fezes < 3x/semana associada à dificuldade de evacuar e à presença de fezes ressecadas e endurecidas ao evacuar. Causas: idiopática (defeito inerente na motilidade do cólon ou disfunção neuromuscular na região reto-anal), dieta pobre em fibras (alimentação inadequada impede a formação de bolo fecal), falta de exercícios, hábito intestinal irregular, medicamentosa (opiáceos, antimuscarínicos), mecânica (obstrução, neoplasia). DIARREIA: Diarreia: perda excessiva de água e eletrólitos; aumento da frequência de evacuações e diminuição da consistência das fezes. A diarreia pode ser osmótica ou secretória quando aparece na presença de bactérias, vírus e protozoários. Esses MOs induzem o aumento da atividade de transportadores de íons por ativação irreversível da proteína G. A proteína G passa a expressar excessivamente a adenilato ciclase fazendo com que grande quantidade de íons passe para o lúmen intestinal (perda mineral e eltrolítica). Na diarreia, a motilidade está aumentada quando há SD intestino irritável ou quando acontece efeito adverso de terapia medicamentosa ou de radioterapia. Doença diarreica aguda: causa de morte em lactentes desnutridos de países subdesenvolvidos. Laxantes ou purgativos Aceleram a passagem das fezes através do intestino e são utilizados no tratamento de constipação intestinal quando outras medidas não surtem efeito. Uso clínico: suplementação com laxativos formadores de volume, laxativos osmóticos ou laxativos estimulantes, antes de procedimentos cirúrgicos, radiológicos e endoscópicos para esvaziamento do intestino grosso. 1. Laxantes formadores de volume: fibras com efeito laxativo; mais demorados para agir e para regular o fluxo do intestino grosso; formam massa hidratada volumosa na luz intestinal. A massa de polímeros polissarídicos não ingeridos na parte alta do TGI, via receptores físicos, induz o peristaltismo. Além disso, promovem a formação de fezes menos ressecadas. Podem formar: - Fibras insolúveis: lignina (farelos), metilcelulose; - Fibras hidrossolúveis ou fermentáveis: pectinas e hemicelulose (em frutas e vegetais), preparações com psilio (contém mucilóide hidrofílico). Contraindicação: sintomas obstrutivos e megacólon (impactação fecal). 2. Laxantes osmóticos: promovem saída intensa de água e com ela saída do bolo fecal; promovem a retenção de água; têm efeito rápido. O fluxo de água promovido por solutos pouco absorvidos aumenta o peristaltismo. - Laxantes salinos: sulfato, magnésio, fosfato; - Açúcares indigeríveis: lactulose (dissacarídeo sintético formado por galactose e frutose) que libera ácidos graxos de cadeia curta por ação bacteriana induzindo a estimulação da 4 FARMACOLOGIA AULA 6 motilidade intestinal e a atração de água; macrogol (polímero de etilenoglicol). !! O macrogol possui íons em sua composição e ajuda no impedimento da perda de eletrólitos. Contraindicação: agentes contendo sais de magnésio em paciente com função renal comprometida. NUNCA UTILIZAR LAXANTES OSMÓTICOS POR MUITO TEMPO! 3. Laxantes estimulantes: induzem resposta inflamatória nas células intestinais; efeitos diretos em enterócito ou nos neurônios intestinais que estimulam a musculatura lisa; estimulação dos nervos entéricos. Aumentam a secreção de eletrólitos e água pela mucosa, aumentando o peristaltismo. - Antraquinonas: derivado de plantas como a cascara sagrada, sene e babosa; ao serem hidrolisadas pelas bactérias, irritam o epitélio intestinal;- Óleo de rícino (triglicerídeo do ácido ricinoleico): derivado de semente de mamona que induz resposta inflamatória muito intensa. Seu uso constante pode desencadear o desenvolvimento de TU; - Derivados do difenilmetano: bisacodil (Lacto Purga) e picossulfato de sódio. Contraindicação: o óleo de rícino não usado tem efeitos tóxicos na mucosa intestinal; os derivados do difenilmetano podem lesar a mucosa e desencadear resposta inflamatória no intestino delgado e no intestino grosso; o Bisacodil promove atonia intestinal se for usado por mais de 10 dias seguidos. NUNCA UTILIZAR LAXANTES ESTIMULANTES POR MUITO TEMPO! 4. Laxantes umectantes: agentes surfactantes. Diminuem a tensão superficial das fezes, facilitando a mistura de substâncias aquosas e gordurosas. Como resultado, acontece amolecimento das fezes e evacuação facilitada. → Docusato cálcico e docusato de sódio. 5. Laxantes emolientes: induzem o amaciamento das fezes e interferem na reabsorção de água (óleo mineral). → Glicerina: via retal (supositório ou enema), atrai água e promove distensão intestinal; agente higroscópico e lubrificante. !! A retenção de líquido promove peristalse e o distensão intestinal causada pelo supositório induz o reflexo da evacuação. Procinéticos Ao inibir a dopamina do TGI, aumentam a liberação de ACh. Além disso, estimulam seletivamente a função motora do intestino (colinérgicos). → Metoclopramida e domperidona (antieméticos antagonistas dos receptores dopaminérgicos D2). Atuam aumentando a motilidade intestinal, o esvaziamento gástrico e o peristaltismo duodenal. !! São eficazes em distúrbios do esvaziamento gástrico e refluxo. Efeito adverso grave: aumento do intervalo QT. → Tegaserode, procaloprida (agonista parcial de receptores 5- HT4 - serotonina); pouco utilizados. Esses fármacos promovem a liberação de Ach aumentando a motilidade esofágica, estomacal, intestinal (delgado e cólon ascendente). Efeito adverso grave: aumento do intervalo QT. → Lubiprostona: aumenta a produção de AMc e a apresentação de transportadores de cálcio no lúmen intestinal. Esse fármaco atua aumentando a secreção de cloreto e água no lúmen do cólon que resulta em liquefação das fezes. Uso clínico: em pacientes com SD do intestino irritável (sintomas: dor, desconforto e constipação intestinal). → Naloxegol, metilnaltrexona (antagonista opioide sem ação central); uso subcutâneo. Uso clínico: constipação induzida por opioides. Antidiarreicos Abordagens ao tratamento de diarreia aguda grave: 1. Manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico: reidratação oral (“soro caseiro” - cloreto de sódio e glicose para hidratação oral); o soro caseiro ativa o mecanismo de simporte. ATRAÇÃO DE ÁGUA INDUZIDA PELO SORO CASEIRO! No íleo e no néfron há cotransporte de glicose e sódio através da célula epitelial. A presença de glicose aumenta a absorção de sódio e a captação de água, promovendo reidratação parenteral. 2. Uso de antimicrobiano em infecções. As infecções poder ter origem viral ou bacteriana, sendo autolimitadas. Alguns casos exigem uso de antimicrobianos (Campylobacter sp, E. coli, Salmonella, Shigella, parasitoses giardíase, ancilostomose, teníase). 3. Uso de espasmolíticos ou antidiarreicos: opioides e inibidores de encefalinases (induzem constipação intestinal), salicilato de bismuto e probiótico. !! Além do efeito no peristaltismo, as encefalinas inibem, via AMPc, a secreção de eletrólitos, promovendo constipação. → Loperamida: opioide que atua nos receptores μ (mi) periféricos; é um dos principais antidiarreicos. Esse fármaco não atravessa facilmente a BHE e é usado apenas por suas ações no intestino. Ação: seletiva sobre o TGI; aumento do tônus do esfíncter anal, atividade antissecretora de toxinas de alguns microrganismos, diminuição da frequência das cólicas abdominais e diminuição da eliminação de fezes. Uso clínico: fármaco de escolha para o tratamento da “diarreia do viajante”; uso isolado ou com antimicrobianos, acompanhado de hidratação oral ou intravenosa. Diarreia do viajante: diarreia aguda inespecífica; 20 a 50% de pessoas que cruzam fronteiras internacionais apresentam intercorrências gastrintestinais. → Difenoxilato: opioide que atua nos receptores μ. Esse fármaco pode atravessar a BHE induzindo efeitos no SNC. O difenoxilato é comercializado em associação com sulfato de atropina (doses subterapêuticas). Essa associação desestimula o abuso pelo paciente porque as superdosagens levam a efeitos periféricos causados pela ação da atropina (boca seca e turvação visual). PODE CAUSAR DEPENDÊNCIA! → Rececadotrila: pró-fármaco do tiorfan e inibidor de encefalinase. Ao ser metabolizada, origina o tiorfan. O tiorfan inibe a encefalinase, aumentando a concentração das encefalinas endógenas intestinais. As encefalinas endógenas têm efeito opioide e promovem constipação. 5 FARMACOLOGIA AULA 6 Probióticos Alterações no equilíbrio ou composição da microflora agravam as diarreias. Para que esse equilíbrio seja reestabelecido, os probióticos podem ser utilizados. → Floratil, Prolive. Preparações probióticas: variadas preparações bacterianas > Lactobacillus GG; Saccharomyces boulardii. Seu uso possui alguns benefícios nas diarreias agudas, infecciosas ou associadas a antimicrobianos. 1 FARMACOLOGIA AULA 7 Diabetes Diabetes: doença metabólica caracterizada pela presença de hiperglicemia crônica que resulta de uma deficiência ou ausência de secreção de insulina pelas células β do pâncreas (DM1), resistência periférica à ação da insulina (DM2) ou ambas. Sintomas: cansaço, polaciúria, perda de peso, polifagia, visão turva, formigamento, má cicatrização, polidipsia, problemas sexuais, infecções vaginais. O aumento da glicemia sanguínea altera todo o metabolismo do corpo porque ela faz com que sejam produzidos compostos finais de glicação avançada – AGEs (proteínas e lipídeos glicados). Esses compostos desencadeiam respostas inflamatórias, predispondo a ocorrência de aterosclerose, prejuízo na cicatrização e neuropatias. Complicações crônicas da hiperglicemia = retinopatia, neuropatia, nefropatia, doença cardiovascular A alta concentração de glicose no sg provoca: 1. Desidratação celular: a glicose contribui para a alteração da pressão osmótica do LEC; 2. Perda de glicose na urina; 3. Diurese osmótica aumentada pelos rins: depleção de líquidos e eletrólitos; 4. Lesões em diversos tecidos: principalmente nos vasos sanguíneos. !! A excreção de glicose indica alteração de trabalho dos néfrons. Com o tempo, essa alteração compromete a função renal. Tipos de diabetes: Portadores de DM1 não são capazes de produzir insulina. Portadores de DM2 têm secreção de insulina diminuída e menor entrada de glicose em tecidos insulinodependentes. A DM gestacional é ocasionada pelo aumento da produção de determinados hormônios durante a gravidez. A DM monogênica é consequente de alterações genéticas envolve indivíduos jovens e é uma ocorrência precoce do DM. Glicose A glicose é uma substância essencial para o organismo. Ela é fonte obrigatória de energia para SNC, uma vez que o tecido nervoso não é insulinodependente. Durante a alimentação, uma concentração de glicose maior do que a necessária para o momento é obtida. A insulina funciona como anabólico para armazenar esse excesso de energia. ALTA DISPONIBILIDADE DE ENERGIA! A energia é armazenada na forma de glicogênio e de gordura. Quando o corpo entra em estado de jejum, essas reservas são mobilizadas com a participação do glucagon, hormônio catabólico. Principal hormônio regulador da captação de glicose = insulina Insulina e glucagon A hiperglicemia induz as células beta das ilhotas pancreáticasa secretarem insulina na corrente sanguínea. A insulina faz com que tanto o tecido adiposo quanto o tecido muscular captem a glicose que está em excesso no sangue. A insulina também age no fígado promovendo a formação de glicogênio por esse órgão. É assim que a insulina atua diminuindo os níveis glicêmicos. A hipoglicemia induz as células alfa do pâncreas a secretarem glucagon. O glucagon atua no fígado promovendo a quebra do glicogênio em glicose e a quebra de gordura, liberando ácidos graxos para a corrente sanguínea. É assim que o glucagon atua aumentando os níveis glicêmicos. A insulina é uma proteína constituída de duas cadeias de aminoácidos interligadas por pontes de sulfeto. Depois de produzida pelas células pancreáticas ela fica armazenada em vesículas. A produção de insulina pode ser basal ou rápida. Nas células beta, existem transportadores de glicose GLUT2 que são ativados por altos níveis de glicose sanguínea. A partir da hiperglicemia, a glicose entra no interior das células beta, onde é metabolizada e gera ATP. O ATP bloqueia os canais de potássio das células pancreáticas, promovendo acúmulo de eletrólitos de carga positiva no interior da célula, diminuindo o limiar de excitabilidade da célula, facilitando a ocorrência de despolarização. A despolarização promove a abertura de canais de cálcio e a consequente entrada de cálcio no meio intracelular. O cálcio induz a liberação da insulina armazenada nas vesículas pancreáticas. Principais efeitos da insulina: controle do metabolismo intermediário; efeitos sobre fígado, gordura e músculo; aumenta a captação de glicose pelas células, aumenta a captação de aminoácidos pelo músculo, estimula síntese proteica, induz a 2 FARMACOLOGIA AULA 7 expressão de transportadores GLUT4 em células adiposas e musculares insulinodependentes. INSULINA = HORMÔNIO ANABÓLICO Diabetes Mellitus tipo I Ausência da produção de insulina + aumento da liberação de glucagon O glucagon atua em todos os tecidos, exercendo função catabólica. Como a glicose em excesso permanece no sangue, acontece hiperglicemia e o glucagon continua atuando na quebra de gorduras para aumentar a produção de energia. A metabolização dos ácidos graxos promove a formação de corpos cetônicos e de proteínas transportadoras de colesterol (lipoproteínas de baixa densidade). !! O acúmulo de corpos cetônicos pode provocar cetoacidose, alteração do pH sanguíneo. TERAPÊUTICA: insulinoterapia. Tratamento: A curva de liberação fisiológica de liberação de insulina deve ser seguida no tratamento de DM tipo 1. No DM1, não acontece liberação basal de insulina. Diabetes Mellitus tipo 2 Nesse tipo de DM, o pâncreas é funcional e consegue liberar insulina, mas de maneira insuficiente. A resistência à insulina pelos tecidos insulinodependentes também pode gerar DM2. !! Na DM2 não acontece formação intensa de corpos cetônicos. Causas da resistência à insulina: alterações no receptor da insulina, alteração na estrutura molecular da insulina, liberação de hormônios contrarreguladores (cortisol, catecolaminas, glucagon e hormônios de crescimento), formação de Ac antiinsulina. TERAPÊUTICA: dieta + exercícios → hipoglicemiantes → hipoglicemiantes combinados > hipoglicemiantes e insulina → insulinoterapia !! No DM2, o paciente não consegue realizar a liberação basal de insulina. Tratamento: Hipoglicemiantes de uso oral. Os hipoglicemiantes orais agem em células betas pancreáticas íntegras. 1. Hipoglicemiantes: aumentam a secreção de insulina; sulfonilureias e glinidas. 2. Anti-hiperglicemiantes: não aumentam a secreção de insulina; metformina, acarbose e glitazona. 3 FARMACOLOGIA AULA 7 3. Fármacos que aumentam a secreção de insulina de maneira dependente da glicose, além de promoverem a supressão do glucagon; miméticos das incretinas e gliptinas 4. Fármacos que promovem glicosúria sem relação com a secreção de insulina; gliflozinas. Insulinas - Insulina de origem porcina/bovina: produzidas pelo pâncreas dos animais; sua utilização em seres humana pode desencadear resposta imune - Insulina humana: tecnologia de DNA recombinante (alteração de DNA bacteriano); bactérias produzem insulina análogas a insulina humana. A insulina por ser destruída pelo TGI e, por isso, deve ser utilizada via parenteral. Usualmente, ela pode ser administrada via subcutânea ou endovenosa. A administração endovenosa acontece nas emergências diabéticas. A insulina é inativada enzimaticamente no fígado e rim e 10% dela sofre eliminação renal. Efeito adverso = hipoglicemia! A concentração da administração da insulina deve ser cautelosamente calculada para se evitar o acontecimento de hipoglicemia. - Insulina inalável (Afrezza®): insulina análoga à insulina humana (DNA recombinante); ação muito rápida - 10 min - e duração longa - 6 horas (VANTAGEM!); utilizar antes das refeições; MUITO CARA. - Bombas de insulina: dispositivos que se infiltram no subcutâneo; o próprio paciente calcula a quantidade de insulina a ser introduzida em determinado momento. Tipos de insulinas: Esquemas de tratamento para reposição de insulina. !! Marca-passos/sensores podem ser utilizados em conjunto com as bombas de insulina, retirando a responsabilidade de cálculo do paciente da insulina a ser administrada. Hipoglicemiantes 1. Sulfonilureias: bloqueiam os canais de potássio, estimulando as células beta a produzirem mais insulina. - Boa absorção V.O.; - Possibilidade de interação farmacológica > forte ligação a proteínas plasmáticas; - Eliminação renal prolongada e produção de metabólitos ativos. Efeitos adversos: hipoglicemia (relacionada com a potência e duração do fármaco), ganho de peso, possíveis efeitos cardiovasculares. Interações medicamentosas: acontecem mais com o uso dos fármacos de primeira geração; podem aumentar a biotransformação da digoxina; os betabloqueadores podem inibir a liberação da insulina; risco de reações tipo dissulfiram; quando administradas com AINEs, cimetidina, clofibrato, IMAO, sulfonamidas aumentam hipoglicemia; quando administradas com cetoconazol, miconazol diminuem a biotransformação das sulfonilureias; quando administradas com fenobarbital aumentam a biotransformação das sulfonilureias. Efeito dissulfiram = inibição da metabolização adequada do álcool promovendo acúmulo de acetaldeído. !! Em idosos e em doentes renais, pode acontecer acúmulo e maior duração de ação desse fármaco. Maior potência farmacológica = menor dose necessária. Farmacocinética comparativa. Entre parênteses aparece a geração do fármaco. 2. Glinidas ou derivados do ácido benzoico: repaglinida e nateglinida. Mecanismo de ação: estimulam as células beta pancreáticas a secretar insulina por meio da inibição do transportador de potássio em locais diferentes aos das sulfonilureias. 4 FARMACOLOGIA AULA 7 - Meia-vida < 1 hora (tempo de duração do efeito farmacológico MUITO BAIXO); - Ação mais rápida do que as sulfonilureias; - Menor risco de hipoglicemia (consequência da sua baixa meia- vida); - Utilizá-las antes de se alimentar. Anti-hiperglicemiantes 1. Biguanidas: metformina. As biguanidas atuam diminuindo a gliconeogênese hepática, aumentando a captação e utilização de glicose no músculo – tendo como consequência a queda da glicemia, aumentando a oxidação de ácidos graxos, diminuindo LDL e VLDL circulantes, diminuindo a absorção intestinal da glicose (carboidratos) e aumentando o metabolismo anaeróbico (ações bioquímicas). Mecanismo de ação: precisa ser melhor elucidado; ativação da AMPK (adenosina monofosfato proteína cinase) no fígado e no duodeno, enzima ativada por AMP, subproduto do ATP, quando há baixa energética. - Aumenta a captação de glicose pelo músculo esquelético; - É eliminada inalteradana urina; - Não causa hipoglicemia. Efeitos adversos: distúrbios no TGI (anorexia, náusea ou diarreia dependendo da dose), acidose láctica em pacientes com doença renal/hepática, pulmonar hipóxica, IC (raro). Contraindicações: IR, doença hepática, elitismo, doença hipóxica pulmonar crônica (produzem acidose metabólica). 2. Inibidores da alfa-glicosidase: acarbose, voglibose, miglitol. Mecanismo de ação: impedem a absorção de glicose pelo TGI; se ligam competitivamente às enzimas da borda em escova presentes no intestino delgado, inibindo-as. Essas enzimas quebram oligossacarídeos e dissacarídeos em monossacarídeos, atrasando a absorção da glicose/carboidratos. - Principal inibição = α-glicosidases; - Opção terapêutica segura para idosos porque não possui interações medicamentosas). Efeitos adversos: gastrointestinais (desconforto abdominal, flatulência e diarreia acontecem em 30% dos pacientes) e NÃO POSSUI efeitos sistêmicos indesejáveis. !! Os efeitos adversos gastrointestinais diminuem com o uso contínuo 3. Glitazonas (Tiazolidinedionas): pioglitazona, rosiglitazona Mecanismo de ação: induzem a ativação genética celular através da ligação ao PPAR-gama (receptor nuclear gama ativado por proliferadores de peroxissomos). ▪ Ações do PPAR-gama: transcrição de genes em resposta à insulina e regulação do metabolismo lipídico nos adipócitos. Esses fármacos, na presença de insulina endógena ou exógena, diminuem a gliconeogênese, a oferta de glicose e a produção hepática de triglicerídeos, aumentam a captação e a utilização de glicose pelo músculo esquelético e aumentam a captação de glicose e diminuem a oferta de ácidos graxos no tecido adiposo. - Usados em monoterapia ou associados à metformina ou às sulfonilureias Efeitos adversos: retenção hídrica (edema, anemia leve), ganho de peso dose-dependente, segurança na gravidez e lactação não determinada, não produzem acidose láctica, mesmo em pacientes com IR. → Pioglitazona: pode gerar interações farmacológicas por possuir diferentes metabolismos hepáticos. - Administração VO (alimento não interfere em sua absorção); - Pico plasmático em 3 horas; - Meia-vida de 3 a 7h, metabólitos ativos (t1/2 vida: 16-24h); - Metabolismo hepático por 2 CYPs, excreção fecal (2/3) e renal (1/3). - Interações medicamentosas via CYP diminuem os níveis de contraceptivos orais (etinil-estradiol e noretindrona). → Rosiglitazona: - Pico plasmático em 1 hora; - Meia-vida de 3 a 4h; - Metabolismo hepático via 1 CYP. Fármacos que aumentam a secreção de insulina dependente da glicose 1. Miméticos das incretinas: GIP, GLP-1. Esses fármacos induzem a liberação de insulina pelo pâncreas e regulam a hipersecreção de glucagon via GLP-1 e via GIP. Tanto o GIP, quando o GLP-1 são degradados pela enzima DDP-4. ...controle fisiológico da hiperglicemia pela liberação de ambos os peptídeos via TGI. !! Os fármacos dessa classe também podem ser utilizados para perda de peso. → Exenatida e Liraglutida: agonistas das incretinas (GLP1 e GIP). - Uso injetável; - Mais resistentes à degradação das DPP-4; - Uso associado à metformina. 2. Gliptinas: sitagliptina (Januvia®) e vildagliptina (Galvus®). Fármacos inibidores da DPP-4, que aumentam a sobrevida e a atuação das incretinas. - Uso VO, em dose única; - Metabolização hepática; - Excreção renal. Fármacos promotores de glicosúria 1. Glifozinas: dapagliflozina, empagliflosina Inibem o co-transportador sódio-glicose-2 (SGLT2) presente nos túbulos proximal e distal dos néfrons. INIBIÇÃO DA REABSORÇÃO DE GLICOSE E AUMENTO DA EXCREÇÃO DE GLICOSE PELA URINA! Adendos 1 FARMACOLOGIA AULA 8 Anti-inflamatórios não-esteroidais (AINES) A primeira classe de anti-inflamatórios foi a dos anti- inflamatórios esteroidais, composta por derivados de corticoides. Na Medicina, os AINES possuem principal utilização no tratamento de processos inflamatórios. Eles tratam dores agudas de causa bem estabelecida que desaparece com o processo de cura. Ação anti-inflamatória + ação analgésica O que é dor? A dor é uma percepção subjetiva consciente de impulsos periféricos nociceptivos modulados que geram uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada com lesão real ou potencial dos tecidos ou descrita em termos de lesão. !! Quanto maior a lesão e a destruição tecidual, maior será a dor sentida pelo indivíduo e maior será o processo inflamatório esperado. RESUMINDO: estímulo nocivo → destruição ou lesão tecidual → liberação de mediadores da resposta inflamatória → sensibilização ou ativação de nociceptores periféricos → dor aguda A dor continua após a injúria tecidual porque há sensibilização do nociceptor por mediadores da resposta inflamatória. Na sensibilização, os nociceptores ficam mais responsivos aos estímulos da dor. Estímulo direto da dor = injúria Continuação da dor = sensibilização do nociceptor Alguns conceitos: Alodínia: sensibilização do nociceptor que responde a estímulos de dor em situações que não deveriam causar dor; dor provocada por estímulos que normalmente não gerariam dor. Hiperalgesia: sensibilização do nociceptor que já espera por estímulo doloroso; fácil captação de estímulos regionai; sensibilidade exagerada à dor ou sensação elevada a estímulos dolorosos. OS AINES DIMINUEM A SENSIBILIZAÇÃO DO NOCICEPTOR! Mecanismos relacionados a liberação de mediadores da resposta inflamatória: da dor inflamatória, do edema, da febre. Quando há injúria tecidual, acontecem lesões teciduais, fazendo com os mediadores inflamatórios sejam liberados promovendo vasodilatação local e aumento da permeabilidade capilar. Assim, surgem os sinais flogísticos na região acometida (dor, rubor, calor e tumor). Se o processo inflamatório evoluir, acontece degeneração tecidual e fibrose. !! A vasodilatação local permite a passagem de células inflamatórias para o local injuriado – infiltração leucocitária. Mediadores da resposta inflamatórias: histamina, serotonina, eicosanoides – leucotrienos e prostaglandinas (principais) e fator de ativação plaquetária (PAF); todos induzem resposta tecidual. A ocorrência da febre está relacionada com a presença de microrganismos que irão promover injúrias teciduais. Componentes das estruturas dos microrganismos induzem a liberação de citocinas pró-inflamatórias pelos macrófagos (IL-1β e TNF-α) promovem a produção de prostaglandina (PGE2), que estimula o centro promotor de calor no hipotálamo. Assim, a temperatura média corporal aumenta e aparece febre. Mecanismos compensatórios para diminuição da temperatura: - Aumento do nível pré-fixado de termorregulação: vasoconstrição, secreção de adrenalina, calafrios; - Perda de calor: vasodilatação e sudorese; - Presença da COX no SNC. Tipos de mediadores da dor inflamatória 1. Mediadores que ativam ou excitam diretamente os nociceptores. Estímulos mecânicos e térmicos + histamina e bradicina = estímulo direto do nociceptor promovendo dor 2. Mediadores que causam a sensibilização dos nociceptores. Sensibilização decorrente dos mediadores (produtos do metabolismo do ácido araquidônico – AA): prostaglandinas, leucotrienosn, IL-1, PAF, serotonina e dopamina = dor inflamatória aguda Os mediadores possuem receptores nos nociceptores. Quando há ativação desses receptores, acontece aumento do influxo de cálcio e dós níveis de AMPc tornando o nociceptor mais sensível aos estímulos e a condução de impulsos nervosos, respondendo com maior facilidade aos estímulos periféricos. Ácido araquidônico: ácido graxo proveniente da dieta abundante em quase todos os tecidos; aparece incorporado aos fosfolipídios das membranas das células (componente das membranas celulares). Metabolismo do AA: - Liberação da enzima fosfolipase A2 na região injuriada que induza saída do AA incorporado a membrana celular (ruptura da membrana) e o AA é disponibilizado para o citosol e para o meio extracelular; - AA é rapidamente metabolizado, principalmente, pelos sistemas enzimáticos das 5-lipoxigenase e cicloxigenase (COX); - Com a metabolização do AA, tem-se a formação dos mediadores de resposta inflamatória: leucotrienos, prostraglandinas, prostaciclinas e tromboxanos. AINES Todos os AINES, com exceção do Paracetamol, possuem atividade, mecanismo de ação e efeitos muito bem elucidados e semelhantes. Principais efeitos: anti-inflamatórios (modificação da reação inflamatória), analgésicos e antipiréticos. 2 FARMACOLOGIA AULA 8 Mecanismo de ação: inibição da cicloxigenase Os AINES bloqueiam a metabolização do AA pelo sistema enzimático da cicloxigenase. Como consequência, os produtos do metabolismo do AA não são produzidos. ...maior atuação da 5-lipoxigenase e maior produção de leucotrienos. Efeitos adversos: dor epigástrica, náusea, vômito, ulcerações estomacais, renais – pode causar IR, possíveis alterações na PA, eventos hemorrágicos e reações cutâneas. As prostaglandinas estão relacionadas com a regulação de funções biológicas, como proteção da mucosa gástrica, regulação da função renal (vasodilatação, vasoconstrição e regulação da PA) e agregação plaquetária. PROTEÇÃO DA MUCOSA GÁSTRICA: O estímulo fisiológico da alimentação induz a liberação da COX, que libera PGE2 (prostaglandina E2). A PGE2 induz o aumento da produção de muco protetor e a inibição da produção de HCl. ...proteção da mucosa gástrica frente a acidez gerada pela presença do alimento. Os AINES podem causar irritação da mucosa gástrica ao inibirem a COX, enzima relacionada com a liberação de prostaglandinas fisiológicas e relacionadas com o processo inflamatório. DIMINUIÇÃO DAS PROSTAGLANDINAS PROTETORAS DA MUCOSA GÁSTRICA! COX: As cicloxigenases estão envolvidas com a liberação de prostaglandinas pró-inflamatórias e reguladores de funções fisiológicas renais, plaquetárias e gástricas, principalmente. Os AINES, ao inibirem as COX, promovem seu efeito anti- inflamatório (isoforma COX-2) ao mesmo tempo em que geram efeitos adversos (isoforma COX-1). Fármaco com menor efeito adverso e diminuição da resposta inflamatória >>> fármacos mais seletivos para a inibição da COX- 2! Fármacos seletivos para COX-2: Nimesulida e Meloxicam. Maior seletividade para COX-2: 7 mil vezes mais seletivos. Celecoxibe, Etoricoxibe e Lumiracoxibe. !! Grande parte dos coxibes foram retirados do mercado porque seu uso prolongado pode causar a formação de trombos, acidentes vasculares, comprometimento cardíaco e mortes. Eles são os únicos AINES que devem ser prescritos com receita controlada, em duas vias. COX-2: faz parte de tecidos renais, vasculares e ósseos; contribui para controle da homeostasia da agregação plaquetária e da PA. A COX-2 libera prostaciclinas nas células endoteliais que regulam a agregação plaquetária. ...equilíbrio entre a produção de tromboxano A2 e de prostaciclinas liberadas pelas células endoteliais. Os coxibes impedem a produção de prostaciclina e aumentam a taxa de tromboxano, gerando problemas vasculares sérios e AVCs. No sistema renal, a COX-2 atua em conjunto com a COX-1 para regularem a modulação da PA e para protegerem o tônus vascular e o equilíbrio hídrico renal. O aumento da PA pode causar dano aos rins. A angiotensina, quando o SRAA é ativado, induz a liberação de prostaglandinas renais que promovem vasodilatação da ateríola aferente do glomérulo renal, protegendo a vasculatura renal. Problemas de IR também podem aparecer em pacientes com inibição da COX-2 porque não acontece homeostasia do funcionamento renal. Os coxibes promovem falha do mecanismo de proteção dos rins! Pacientes normais não sofrem grandes prejuízos a curto praz, mas pacientes idosos, com IC e com doenças renais prévias e diabéticos possuem maior dependência desse sistema para a homeostasia renal. COX-1: também participa na resposta inflamatória. O medicamento ideal deve atuar em ambas as isoformas da COX e com maior seletividade para COX-2. Seletividade dos AINES: Antes da prescrição de AINEs, seus riscos e benefícios devem sempre ser levados em consideração. Cuidados e contraindicações dos AINEs: hipersensibilidade (sensibilidade cruzada), úlcera péptica ativa, IR, asma ou rinite aguda, HAS ou doença cardíaca, gestantes (no último trimestre de gravidez, principalmente, há possibilidade de inércia uterina e/ou fechamento prematuro do canal arterial do feto), usuários de agentes anti-hipertensivos. Classes específicas dos AINES 1. Salicilatos: Ácido acetil salicílico (Aspirina/AAS) e diflunisal. Mecanismo de ação: inibição irreversível da COX-1 e da COX- 2 (principalmente da COX-1!). → Efeitos antiplaquetários (inibição da COX-1 plaquetária), que perduram por 8 a 10 dias (turnover das plaquetas). Esses efeitos são atingidos em baixas doses! Usos clínicos: terapia de doença cardiovascular, utilização prévia de AAS para evitar o desenvolvimento de CA colorretal, 3 FARMACOLOGIA AULA 8 bloqueio da síntese de prostaglandinas, estímulo de lisossomos a degradarem proteína beta-amiloide (acumulada na doença de Alzheimer). - Atividade analgésica e antitérmica: 500 a 650mg 6/6h; - Atividade anti-inflamatória: 4 a 5 g/dia (concentrações muito altas); - Inibição da agregação plaquetária: 40 a 100mg/dia (baixas doses). Efeitos adversos: SD de Reye, salicilismo SD de Reye: Em crianças portadores de infecção viral, há risco de desenvolvimento de SD de Reye perante ao uso de AAS. A SD de Reye promove danos irreversíveis ao cérebro e ao fígado. A causa dessa SD não é totalmente conhecida, ainda hoje. CONDIÇÃO RARA! Sinais e sintomas: vômitos persistentes e contínuos, languidez (perda de ânimo e de energia), sonolência, troca de personalidade, desorientação, delírio, convulsões e aumento da deposição de gordura em determinados tecidos (hepático e renal, principalmente). Salicilismo: O salicilismo é uma emergência médica em crianças e quando há ingestões elevadas de AAS. Os salicilatos aumentam a velocidade da fosforilação oxidativa, induzindo o aumento da temperatura corporal e da FC. Ao mesmo tempo, acontece queda da concentração de gás carbônico no sangue, que induz alcalose respiratória. Como mecanismo compensatório, acontece acidose metabólica e bicarbonato é liberado na urina, então, de maneira intensa. Distúrbios de equilíbrio ácido-base e eletrolítico + desidratação, vômitos e aumento da taxa metabólica + hemorragia + convulsões, coma e depressão respiratória Tratamento: manutenção das funções renal e cardiovascular. 2. Derivados do ácido acético: Diclofenaco potássico (Cataflam®), Diclofenaco sódico (Voltaren®) – melhor ação por via injetável, Indometacina, Etodolaco (Flancox®), Cetorolaco de trometamina (Toragesic®). Doses recomendadas: - Diclofenaco potássico: 50 mg a cada 8 a 12 horas; - Diclofenaco sódico: 150mg/dia ou uso de comprimidos de liberação prolongada, em dose única de 100 m; - Etodolaco: 200 a 400mg a cada 6 a 8 horas; - Cetorolaco de trometamina: via sublingual 10 a 20mg em dose única ou de 8/8 horas. A Indometacina é extremamente potente (20 vezes mais potente do que o AAS), sendo utilizada no fechamento do canal arterial em paciente que não tiveram fechamento fisiológico do canal arterial. Ela inibe a COX-1 e COX-2 de forma não seletiva e tem efeitos adversos bastante evidentes. O Flancox possui alguma seletividade para COX-2 e promove menos efeitos gástricos. O Toragesic promove controle de dor semelhante aos opioides. GRANDE EFICIÊNCIA NO CONTROLE DE DOR! Esse medicamente é utilizado em tratamentos curtos de dor moderadaa grave e em pós-operatórios nas situações de dor aguda a grave pela via parenteral. Ele possui ações analgésica e anti-inflamatória. 3. Derivados do ácido propiônico: Naproxeno (Flanax®, Naprosyn ®), Cetoprofeno (Profenid ®), Ibuprofeno (Alivium®, Motrin®, Advil ®), Flurbiprofeno. Essa classe de medicamentos apresenta importantes propriedade analgésicas. Eles inibem a COX-1 e COX-2 de forma não seletiva e são utilizados no tratamento de doenças reumáticas e osteoarticulares, como artrite reumatóide, osteoartrite, tendinite, gota e bursite. O Naxoprofeno possui efeitos inibitórios proeminentes na migração leucocitária. O Flurbiprofeno inibe a síntese de TNF-alfa e óxido nítrico. Doses recomendadas: - Naproxeno: 250mg a cada 6 a 8 horas; - Cetoprofeno: 50mg a cada 6 a 8 horas - Ibuprofeno: doses baixas de 200 mg promovem efeito analgésico apenas. A dose promotora de enfeito anti- inflamatório é de 400 a 600 mg a cada 8 a 12 horas. 4. Fenamatos: Ácido mefenâmico (Ponstan®). Acredita-se que essa classe de medicamentos possui melhor efeito analgésico – melhor controle da dor e de processos inflamatórios. Os fenamatos não são seletivos para nenhuma isoforma da COX. Usos clínicos: tto de dores de curta duração e de lesões em tecidos moles. Doses recomendadas: - Ácido mefenâmico: 250 a 500 mg a cada 6 horas. UTILIZAR POR NO MÁXIMO 7 DIAS! Esse fármaco promove alta incidência de diarreia e elevação das transaminases hepáticas., além de promover rashs cutâneos relacionados a anemias. 5. Nimesulidas: Nimesulida (Nisulid®). Tem seletividade para COX-2. Efeitos: diminuição de radicais livres (prejudicial aos tecidos), inibição de proteinases e de histamina. Doses recomendadas: - Nimesulida: 100mg de 12/12 horas. 6. Oxicans: Piroxicam (Feldene®), Meloxicam (Movatec®). Esses fármacos possuem meia vida plasmática longa, o que permite que eles sejam administrados em dose única. Mecanismos adicionais: inibição de colagenase e proteoglicanase nas cartilagens = tto de doenças osteoarticulares, com artrite reumatóide, osteoartrite, bursite, entorses e gota. Essa classe de medicamentos possui menor incidência de efeitos adversos sobre o TGI. Doses recomendadas: - Piroxicam: 20mg a cada 24 horas. - Meloxicam: 15 mg a cada 24 horas; tem maior seletividade para COX-2. !! O Piroxicam também é capaz de inativar neutrófilos, células relacionadas com processos inflamatórios. 7. Coxibes: Celecoxibe, Etoricoxibe, rofecoxibe (Vioxx) e valdecoxibe (Bextra) – os dois últimos foram retirados do mercado brasileiro. 4 FARMACOLOGIA AULA 8 Esses fármacos inibem a COX-2. Eles são recomendados quando o controle intenso do processo inflamatório deve ser feito. Usos clínicos: apenas para pacientes sem riscos cardiovasculares; pacientes com probabilidade de efeitos gastrointestinais adversos graves, doenças osteoarticulares, dor aguda, dismenorreia primária, gota. Efeitos adversos: risco aumentado de ataque cardíaco e AVE. Considerações sobre AINES segundo a ANVISA I. Efeito analgésico e anti-inflamatório: semelhante entre classes de AINEs (seletividade COX-1/COX-2); II. Coxibes: risco de sangramento TGI, sem risco de doença cardiovascular; III. COX-2 seletivos: não em menores 18 anos ou usuários de anti- agregantes plaquetários (aspirina ou clapidogrel); IV. Prescrever menor dose efetiva pelo menor tempo necessário; V. Todos inibidores da COX: retenção de sódio e água: diminuem a filtração glomerular e aumentam a PA (+ idosos); VI. Potencializa efeito anticoagulante da varfarina = hemorragias; VII. Uso concomitante a fármacos anti-hipertensivos: pode ocasionar brusco aumento da PA; VIII. Evitar: pacientes com história de infarto do miocárdio, angina ou stents em coronárias = risco inerente de trombose. Adendos Quais pacientes devem fazer uso crônico de AINES? Pacientes que sofrem com processos inflamatórios crônicos. Todos os grupos possuem mesmo mecanismo de ação. O que difere esses grupos é maior especificidade para determinada isoforma da COX. 1 FARMACOLOGIA AULA 9 Anti-inflamatórios esteroidais (AIES) Os AIES são análogos dos hormônios esteroidais, os corticosteroides. Hormônios do córtex da adrenal: 1. Glicocorticoides (cortisol): afetam o metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídeos e a resposta imune; 2. Mineralocorticoides (aldosterona): regulam o balanço de íons e água – balanço hídrico e eletrolítico; 3. Andrógenos (DHEA): precursores de hormônios sexuais - muito utilizados como suplemento alimentar e para diminuir os efeitos do envelhecimento. Porções do córtex da suprarrenal e medula adrenal e hormônios produzidos por cada uma delas. Os neurônios simpáticos controlam a liberação das catecolaminas. Controle da liberação do cortisol: Regulação: eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) Hipotálamo libera CRH/CRF → CRH estimula a hipófise a liberar o ACTH → ACTH estimula o córtex da adrenal a produzir e liberar o cortisol Quando há picos de concentração de ACTH no sg, acontecem picos de produção e liberação do cortisol na corrente sanguínea. !! O cortisol não fica armazenado no córtex da suprarrenal. Feedback negativo: alcançado pelas concentrações sanguíneas do cortisol ...o aumento do cortisol no sg inibe a secreção de corticotrofina E do CRH. !! O uso contínuo de AINES pode provocar trofismo e supressão da adrenal, inibindo o eixo endógeno de liberação do cortisol. O principal precursor biossintético de todos os hormônios produzidos pela adrenal é o cortisol. VIA DO CORTISOL: respeita o ciclo circadiano; corticoides são sintetizados sob influência do ACTH circulante e são liberados de forma pulsátil na corrente sanguínea. Secreção de ACTH e de cortisol. A regulação da liberação do cortisol se dá pelo ciclo circadiano, do ciclo do sono vigila, por situações de estresse, choque, hipovolemia e estresse cirúrgico. Em situações como esses, o aumento da liberação do cortisol dificilmente pode ser inibido. O cortisol disponibiliza glicose para todos os tecidos. Essa glicose é utilizada principalmente pelo SI e pelos adipócitos. Além disso, ele induz quebra do tecido adiposo, principalmente o subcutâneo, e de proteínas e aumento do glicogênio hepático circulante. ...o cortisol tem efeito contrário ao da insulina. !! O uso contínuo de análogos do cortisol pode induzir disposição irregular da gordura, fraqueza muscular, reabsorção óssea e excreção de cálcio. A atividade inflamatória e do SI também fica diminuída perante o uso prolongado desses fármacos. Glicocorticoides (Corticosteroides) São hormônios naturais ou sintéticos que possuem forte ação anti-inflamatória e imunossupressora, muito utilizados em doenças crônicas. Ações: regulação da resposta inflamatória (regulação de células e mediadores inflamatórios, prevenção da hiperalgesia e controle do edema inflamatório), resposta ao estresse, imunossupressão e ações ósseas. Mecanismo de ação: ligação a receptores intracelulares (GCR), que altera a transcrição gênica, induzindo ou inibindo a síntese de algumas proteínas. Para que isso aconteça, sofrem dimerização, migram para o núcleo e interagem com o DNA. 2 FARMACOLOGIA AULA 9 Ao se ligarem a GCR também podem apresentar efeitos indiretos, como alteração dos mediadores do metabolismo secundário da célula (aumento da ação dos segundos mensageiros) - o complexo corticoide-receptor interage com outros fatores de transcrição. AÇÕES ANTI-INFLAMATÓRIAS: Os glicocorticoides inibem diretamente a fosfolipase A2, induzindo a produção de lipocortina (anexina 1 - ANXA1). A lipocortina é uma proteína capaz de inibir a fosfolipase A2. Ao inibirem essa cascata, promovem inibição de hiperalgesia, de vasodilataçãoe de resposta lenta de anafilaxia. !! Os AIES possuem maior potência de ação anti-inflamatória quando comparados aos AINES. Eles também diminuem as reações alérgicas e são utilizados para controle de dor e edema. Ações dos glicocorticoides: supressão da inflamação e do sistema imune, inibição da fosfolipase A2 promovendo prevenção de hiperalgesia e edema (diminui AA nas células do foco inflamado e expressão de COX-2), inibição da liberação de prostaglandinas e leucotrienos, diminui ativação de neutrófilos e macrófagos por alterações do metabolismo dessas células, aumento da liberação de fatores anti-inflamatórios (IL-10; IL-1; anexina-1). Quanto aos mediadores inflamatórios, os glicocorticoides induzem a diminuição de liberação de histamina, diminuindo todas as manifestações do sistema imune. Assim, promovem diminuição de: sistema imune inato e adaptativo, sistema complemento, citocinas (IL-1, IL-2, IL-6, IL-8, TNF-α, fatores de adesão), NO e IgG. AÇÕES EM OUTROS SISTEMAS: 1. Cicatrização: diminui a função dos fibroblastos, diminuindo a produção de colágeno e glicosaminoglicano, alterando a cicatrização tecidual. !! Os glicocorticoides podem ser utilizados para indivíduos que desenvolvem queloides. 2. TGI: aumento de pepsina e HCl, no estômago. 3. Metabolismo ósseo: inibição do funcionamento dos osteoblastos e aumento da atividade de osteoclastos, induzindo o aparecimento de osteoporose; diminuição da absorção de cálcio no TGI e aumento da excreção renal de cálcio. ...a osteoporose aparece como consequência da reabsorção óssea excessiva e da grande perda de cálcio. !! 30 a 50% dos usuários crônicos de glicocorticoides desenvolvem osteoporose. AÇÕES NO METABOLISMO INTERMEDIÁRIO: Os glicocorticoides promovem o metabolismo intermediário normal, aumentando a gliconeogênese, o catabolismo proteico e a lipólise. Esses fármacos também aumentam da resistência ao estresse, fazendo com que a glicose plasmática e a PA (aumento discreto) se tornem maiores. !! O uso crônico de glicocorticoides pode gerar diabetes. No tecido adiposo, os glicocorticoides ativam lipases fazendo com que a gordura periférica que foi quebrada induza o aumento da produção da glicose. A gordura que sofreu quebra é realocada em regiões centrais, sendo depositada principalmente no abdome e na face. O apetite também é estimulado perante ao uso dos glicocorticoides. !! As porções centrais do nosso organismo possuem grande quantidade de receptores para glicocorticoides, o que explica a deposição central de gordura. USOS TERAPÊUTICOS: Os fármacos devem ser selecionados de acordo com a atividade que eles irão apresentar. ...a escolha do fármaco depende da patologia do paciente e da atividade anti-inflamatória, mineralocorticoide e tempo de meia-vida do fármaco. Principal representante dos glicocorticoides: hidrocortisona (possui efeito considerado padrão). 3 FARMACOLOGIA AULA 9 Seleção dos corticoides de acordo com a meia-vida do fármaco: Meia-vida plasmática: tempo para que aconteça redução de 50% da concentração plasmática do fármaco; Meia-vida biológica: tempo de disponibilidade do fármaco no tecido (reflete sua duração de ação). - Curta duração: 8 a 12 horas; - Duração intermediária: 12 a 36 horas; - Longa duração: 36 a 72 horas. Comparação de diversos aspectos dos glicocorticoides. Dexametasona e Betametasona são os fármacos mais potentes. Farmacocinética dos glicocorticoides: - Vias de administração: oral, injetável, inalatória, oftálmica e tópica. - Absorção rápida e fácil quando administrado por VO e mais lenta quando, por via tópica. As vias tópica e inalatória promovem mínimos efeitos sistêmicos. - 80 a 90% se ligam às proteínas plasmáticas (alta ligação às proteínas plasmáticas). - Metabolização hepática e excreção renal. !! A prednisona é um pró-fármaco, sendo convertida no fígado em prednisolona para exercer seu efeito farmacológico. Corticoterapia: Corticoterapia ideal = máxima atividade anti-inflamatória e imunossupressor + mínima atividade retentora de sódio e menor quantidade de efeitos adversos (mínimo efeito mineralocorticoide) A indicação de um glicocorticoide depende da gravidade da doença, da duração do tto, da dose mínima efetiva e da forma de uso do medicamento que promove o mínimo efeito de alteração na regulação do cortisol (uso diário ou alternado). Usos clínicos: terapia de reposição hormonal (Doença de Addison, hipopituitarismo), reações e processos alérgicos, doenças articulares, doenças oftalmológicas, doenças dermatológicas, doenças neuronais, doenças renais, doenças infecciosas para supressão da inflamação excessiva, doenças hematológicas, doenças gastrintestinais (doença celíaca, doença de Crohn) e transplante de órgãos para evitar rejeição (imunossupressão do paciente transplantado). EFEITOS ADVERSOS: A terapia de reposição em doses baixas normalmente não causa problemas aos pacientes, mas doses elevadas ou administração prolongada promovem efeitos graves. Esses efeitos podem ser: - Decorrentes da supressão do HPA; - Decorrentes do aumento das ações do glicocorticoide; - Decorrentes da retirada abrupta do glicocorticoide. Efeitos adversos: supressão da resposta a infecções ou lesões, SD e Cushing, osteoporose, hiperglicemia (pode evoluir para diabetes), desgaste e fraqueza muscular, inibição do crescimento em crianças (USAR POR NO MÁXIMO 6 MESES), euforia e psicose em administrações de curto prazo, depressão em tratamento crônico, glaucoma, catarata. A retirada abrupta, após terapia prolongada pode causar insuficiência aguda da suprarrenal, levando a atrofia cortical. O desmame deve acontecer dentro de 8 semanas a 18 meses, dependendo do tratamento prévio. → SD de Cushing: corresponde ao excesso de glicocorticoides no organismo. Alterações que aparecem na SD de Cushing. Contraindicações para uso de corticosteroides: TB ativa ou tratada incompletamente, doenças fúngicas sistêmicas, herpes simples ocular, hipersensibilidade, doenças psicóticas. Analgésicos 1. Dipirona: → Novalgina®, Anador® Lisador ®. Mecanismo de ação analgésica: deprime diretamente os nociceptores já sensibilizados. Inibição da entrada de cálcio no nociceptor, impedindo que seu limiar de excitabilidade seja diminuído. DEPRESSÃO DIRETA DOS NOCICEPTORES! ▪ Controle da dor pós-operatória de grau leve a moderado (bom para dor já instituída). Contra-indicações: hipersensibilidade aos derivados da pirazolona, distúrbios hematopoiéticos (anemia ou leucopenia), porfiria hepática, PA sistólica < 100 mmHg, evitar uso nos 3 primeiros meses e 6 últimas semanas de gravidez (utilizar apenas quando o Paracetamol não puder ser usado). A dipirona não é vendida em determinados por alguns países porque ela pode causar agranulocitose, acentuada queda na taxa de granulócitos no sangue acarretada pela ação da dipirona na medula óssea. ...comprometimento dos tecidos hematopoiéticos da medula óssea. 4 FARMACOLOGIA AULA 9 !! O risco de agranulocitose é extremamente baixo (1:1 milhão) e não justifica a não utilização do medicamento. Além disso, ela só acontece após 7 dias de uso contínuo. 2. Paracetamol: Possui efeitos analgésicos e antitérmicos + fraco efeito anti- inflamatório. Mecanismo de ação: fraco inibidor da COX. O paracetamol possui hepatotoxicidade elevada, podendo promover danos ao fígado. Evitar o uso em indivíduos alterações hepáticas, fármacos hepatotóxicos e usuários de álcool. → Dose máxima diária: 3,25 g/dia. Contraindicações: usuários de varfarina e alérgicos a sulfitos (solução em gotas). !! Esse medicamento é indicado para gestantes e lactantes, respeitando-se as doses. Muitas gestantes desenvolvem hepatotoxicidade por uso excessivo.Doses usuais de analgésicos. Adendos Na terapêutica com corticosteroides: → À exceção da terapia de reposição nos estados de deficiência, o uso dos glicocorticoides é, em grande parte, empírico. → A dose única de glicocorticoide, mesmo em alta dose, é desprovida de efeitos prejudiciais quando for utilizada por em até 1 semana. ATÉ 1 SEMANA DE USO DO FÁRMACO NÃO PRECISA REALIZAR DESMAME DO PACIENTE. → Fármacos de ação intermediaria devem ser administrados, preferencialmente, em dose única pela manhã para diminuir supressão do eixo HPA. A terapia em pulsos (intervalos entre dias) também pode ser utilizada para evitar a alteração no eixo regulatório. Segurança da Dipirona - “Painel Internacional de Avaliação da Segurança da Dipirona” em 2001, na cidade de Brasília 1. Eficácia como analgésico e antitérmico é inquestionável; 2. Riscos relacionados à utilização são baixos: similares ou menores que outros analgésicos e antitérmicos disponíveis; 3. Retirada da dipirona do mercado aumentaria o uso de fármacos com maiores riscos para a mesma finalidade terapêutica. → A adição de cafeína ao Paracetamol aumenta seu potencial analgésico. 1 FARMACOLOGIA AULA 10 Farmacologia do sistema respiratório Sistema respiratório: O sistema respiratório é responsável pelas trocas gasosas. O controle da respiração se dá no bulbo, no centro respiratório. A respiração é involuntária, mas algumas vezes ela se torna voluntária e precisa de auxílio de outros músculos para acontecer. As inervações autonômicas se dirigem a musculatura lisa pulmonar e bronquiolar, controlando-a. As fibras sensoriais estão presentes em todo o sistema respiratório. Elas percebem substâncias que são irritantes ao tecido desse sistema. Doenças pulmonares O pulmão é um órgão-alvo importante de muitas doenças. Doenças mais comuns: - Fibrose pulmonar induzida por fármacos (amiodarona, metotrexato); - Edema pulmonar induzido por IC; - Tromboembolismo; - Hipertensão pulmonar (dificuldade de realizar trocas gasosas); - Asma; - DPOC. Todas essas doenças possuem sintomas em comum, como falta de ar, sibilos, dor no peito e tosse, com ou sem produção de escarro ou hemoptise. Asma Atualmente, no Brasil, a porcentagem de indivíduos com asma é muito alta, sendo uma das maiores do mundo. GRANDE PREVALÊNCIA DE PESSOAS ASMÁTICAS! 23% dos brasileiros tiveram sintomas de asma, no último ano (2019). Um inquérito nacional encontrou que apenas 12,3% dos asmáticos têm asma bem controlada. É necessário evitar a evolução desses doentes para condições complicadas de saúde para que o sistema de saúde não fique sobrecarregado. Apesar do país ter alta prevalência de sua população com asma, o acesso ao tratamento farmacológico da doença é baixo. !! Muitos portadores de asma são subdiagnosticados. Muitos profissionais da atenção básica não são capazes de identificar os asmáticos e iniciar seus tratamentos. ASMA BRÔNQUICA: doença crônica e inflamatória na qual há obstrução recorrente e reversível das vias aéreas em resposta a estímulos irritantes que são fracos demais para afetar os não asmáticos. Nela, há aumento da produção de muco e broncoconstrição. → O paciente pode ter seu quadro revertido sem ou com intervenção farmacológica. Crises intermitentes de sibilos e falta de ar + inflamação das VAs + hiper-reatividade brônquica (broncoconstrição) + obstrução de VAs !! A tosse não é característica clínica da asma brônquica. Asma grave aguda: mal asmático; tem difícil reversão e pode causar hipoxemia e hospitalização. ▪ Causas: alérgenos, ar frio, ressecamento da mucosa, poluentes, agentes infecciosos. ▪ Patogênese: A patogênese envolve três principais tipos celulares: linfócitos TCD4, eosinófilos e IgE. Os linfócitos TCD4 e os eosinófilos liberam grande quantidade de citocinas pró-inflamatórias. Já o IgE ativa os mastócitos, que liberam histamina, leucotrienos e prostaglandinas. A partir de um alérgeno, as células dendríticas (apresentadoras de antígeno) apresentam o alérgeno aos tecidos linfoides, induzindo a produção de linfócitos TCD4 (Th2). Os linfócitos liberam interleucinas que atraem eosinófilos para a superfície da mucosa. Outras citocinas liberadas pelos leucócitos aumentam a expressão de receptores para IgE em mastócitos e eosinófilos. Os eosinófilos ativados liberam citocinas pro- inflamatórias, que induzem a liberação de outras citocinas pró- inflamatórias e leucotrienos. Algumas interleucinas, como IL-4 e IL-5, atuam sobre os plasmócitos, fazendo com que eles liberem IgE. A IgE vão até os mastócitos que então liberam histamina, leucotrienos e prostaglandinas. Quando essa resposta inflamatória é intensa, acontece broncoconstrição e aumento na produção e liberação de muco. 2 FARMACOLOGIA AULA 10 - Fase imediata: inicial; broncoespasmo da musculatura lisa brônquica; interação do alérgeno com os mastócitos, através da IgE; liberação de histamina, leucotrieno B4 e prostaglandina D2 pelos mastócitos ativados, induzindo broncoespasmo; outros mediadores liberados: IL-4, IL-5, IL-13, TNF-α; atração de leucócitos. - Fase inflamatória ou tardia: processo inflamatório intenso nos tecidos pulmonares; influxo de Th2 e eosinófilos ativos; proteínas produzidas pelos eosinófilos promovem lesão tecidual (ECP e EMBP); liberação de citocinas que estimulam a liberação de leucotrienos, neuropeptídios, iNO e a ativação de adenosinas; inflamação persistente das VAs que leva a broncoespasmo, sibilos e tosse. → Hiperplasia e hipertrofia da musculatura lisa + hiper- reatividade brônquica Constrição da parede bronquiolar. Presença de infiltrado inflamatório, principalmente de eosinófilos. ASMA SENSÍVEL À ASPIRINA: asma sensível ao uso de AINES. Como os AINES inibem a COX, há desequilíbrio na produção de leucotrienos, que estão relacionados com a fisiopatologia da asma (broncoconstrção, principalmente). Ao tomarem essas medicações, esses pacientes predisponentes podem precipitar crises asmáticas. Eles produzem mais cisteinil-leucotrienos e têm maior hiperresponsividade das VAs. !! Asma associada com a presença de pólipos nasais. DPOC As DPOCs também são muito prevalentes no país. Estima-se que daqui a 3 anos elas sejam a terceira causa de morte no Brasil. A problemática da presença dessas doenças deve ser entendida para que o tratamento precoce seja instituído impedindo a progressão para suas formas graves. Na DPOC, há estreitamento progressivo das vias respiratórias, destruição dos alvéolos, que acarreta em aprisionamento do ar (enfisema) e hiperinsuflação. Seu portador possui limitação do fluxo aéreo que não é totalmente reversível, uma vez que acontece fibrose de miofibroblastos, tornando o tecido muscular que envolve os brônquios menos elástico, com o tempo. Dificuldade de funcionamento adequado da musculatura lisa bronquiolar que sobre fibrose → PERDA DA CAPACIDADE RESPIRATÓRIA Nessas doenças há predominância de células que promovem a degradação tecidual, como neutrófilos, macrófagos e linfócitos T citotóxicos (CD8). PROMOTORES DE LESÃO TECIDUAL INTENSA! A inflamação da DPOC tem padrão diferente da inflamação que acontece na asma. → A presença de tosses crônicas é fator diagnóstico. !! A poluição e o tabagismo são as principais causas de DPOC e asma. Tratamento farmacológico: - Via inalatória: preferida para o tto das doenças do sistema respiratório; atuação direta no tecido pulmonar (rápido início de ação); doses mais eficazes e com menos efeitos adversos sistêmicos. BOA EFICÁCIA LOCAL COM MÍNIMOS EFEITOS ADVERSOS! - Via oral: utilizada quando os pacientes são incapazes de usar inaladores; necessidade de dose maior e grande chance de efeitos adversos sistêmicos. - Via injetável: utilizada em pacientes gravementedoentes; promove efeitos colaterais sistêmicos frequentes. Fármacos: 1. Broncodilatadores: agonistas β2-adrenérgicos, metilxantinas, fármacos antimuscarínicos, antagonistas de receptores de leucotrienos. 2. Anti-inflamatórios: glicocorticoides. 3. Anticorpos monoclonais. Agonistas β2 adrenérgicos Essa classe de fármacos relaxa o músculo liso das vias aéreas respiratórias e causa reversão imediata da sua obstrução. → Ativação simpática promovendo broncodilatação e maior influxo de oxigênio. BRONCODILATAÇÃO + MOVIMENTAÇÃO CILIAR Mecanismo de ação: ativação dos receptores β2-adrenérgicos do músculo liso bronquiolar aumentam AMPc, induzindo o acontecimento de eventos fosforilativos que culminam no relaxamento da musculatura. Ações adicionais: inibição da liberação de mediadores de mastócitos e a liberação de TNF-α de monócitos; aumento da remoção do muco. 3 FARMACOLOGIA AULA 10 Vias de administração: inalação de aerossol, pó ou solução nebulizada, VO ou injetável. Esses fármacos possuem metabolização hepática e excreção renal (conjugado com sulfato). Tempo de ação curto: 4 a 6 horas; utilizados no resgate para tratamento das crises; salbutamol, fenoterol, terbutalina. → Uso clínico: prática de exercícios, após exposição ao ar frio e a alérgenos, se necessário. Tempo de ação longa: 12 horas; indicados para o tto de quase todos os pacientes asmáticos; salmeterol, formoterol. → Uso clínico: tto de asma quando combinado com glicocorticoide inalatório e de DPOC. Efeitos adversos: tremores musculares, taquicardia (efeito reflexo da vasodilatação na musculatura), inquietação, hipopotassemia, hipoxemia. Metilxantinas → Teobromina, teofilina, cafeína. As metilxantinas são broncodilatadores de potência leve. Essa classe de fármacos excitam o SNC. Mecanismo de ação: atuam na mesma via metabólica que os beta-2-adrenéricos; inibição da enzima fosfodiesterase-4 (PDE- 4), impedindo a quebra do AMPc, fazendo com que ele se torne mais concentrado e promova o relaxamento da musculatura lisa brônquica. AMPc MAIS ATIVO = BRONCODILATAÇÃO! Ações adicionais: diminui a expressão de genes inflamatórios, induz a apoptose de neutrófilos, eosinófilos e linfócitos T (efeito anti-inflamatório discreto), potencializa os efeitos dos glicocorticoides, estimula o SNC (estimulação respiratória). Vias de administração: VO ou injetável. Essa classe de fármacos possui rápida absorção pelo TGI, tempo de meia vida de 8 horas, metabolização hepática e excreção renal. Interações: eritromicina, claritromicina, ciprofloxacino (ATBs) e fluconazol (antifúngico); quando administrados em conjunto com as substâncias anteriores, inibem as enzimas P450 e aumentam toxicidade das metilxantinas. Efeito das metilxantinas nos tecidos respiratórios. Usos clínicos: asma aguda (em pacientes intolerantes aos β2- agonistas) e DPOC (broncodilatador), em conjunto com glicocorticoides. Efeitos adversos: insônia, nervosismo, cefaleia, náuseas, vômitos, arritmias e convulsões, diurese = necessidade de monitorar a concentração plasmática. Antimuscarínicos → Ipratrópio, tiotrópio, aclidínio. A eficácia no tratamento a longo prazo com o uso desses medicamentos não está demonstrada. Mecanismo de ação: antagonismo com receptores M3 (não seletivos), promovendo a inibição do efeito constritor direto sobre o músculo liso brônquico (tônus vagal) e a produção de muco. INIBE A BRONCOCONSTRIÇÃO PROMOVIDA PELA ATIVAÇÃO PARASSIMPÁTICA! !! Esses fármacos não têm efeitos sobre a fase inflamatória e não são eficientes contra estímulos alérgicos (POUCO EFICIENTES PARA TTO DE ASMA). Broncoconstrição promovida pela atuação vagal. Menor atuação da ativação parassimpático e diminuição do efeito broncoconstritor. Usos clínicos: para tto de asma, são utilizados em combinação com outro broncodilatador (agonista β2 de longa duração); para tto de DPOC, trazem benefícios do efeito inibitório sobre o tônus vagal. → Ipratrópio: curta duração e início de ação lento. → Tiotrópio e aclidínio: longa duração (melhoram a função pulmonar e reduzem as exacerbações). → Inaladores combinados: agonista β2 + antimuscarínico (salbutamol + ipratrópio); a associação é vantajosa quando comparado com o aumento da dose de agonista β2, em pacientes com efeitos colaterais. Vias de administração: aerossol por inalação (ação local), tendo efeito máximo atingido após 30 min e que perdura por 3 a 5 horas. Essa classe de fármacos possui metabolização hepática e excreção renal. Efeitos adversos: difíceis de acontecerem e relacionados ao bloqueio da ação parassimpática; glaucoma (em idosos, principalmente), boca seca, retenção urinária, sabor amargo e desagradável inerente a medicação promovem baixa adesão ao tto. Antagonistas de receptores de leucotrienos → Lucastes: montelucaste, zafirlucaste, pranlucaste. Mecanismo de ação: bloqueiam os receptores de cisteinil- leucotrienos (CysLT1), diminuindo a resposta imediata e tardia aos alérgenos inalatórios e o relaxamento da musculatura lisa. ESSES MEDICAMENTOS NÃO SÃO INDICADOS PARA CRISES AGUDAS DE ASMA! A atuação desses medicamentos está voltada para a diminuição da resposta inflamatória. 4 FARMACOLOGIA AULA 10 Melhoram a função pulmonar e + diminuição dos sintomas e necessidades de β2 O mecanismo que impede a broncoconstrição é o mais importante. Usos clínicos: primeira linha em asma leve-moderada (melhoram função pulmonar), prevenção da asma induzida por exercícios físicos, uso em pacientes com asma e rinite alérgica, vantagens na terapia adjuvante aos glicocorticoides, redução de reações agudas à aspirina em pacientes sensíveis; não apresenta efeito no tto de DPOC. Glicocorticoides ou corticoides inalatórios (CI) Ações: diminuem a inflamação e a hiperresponsividade das VAs, os sintomas e exacerbações das doenças pulmonares e a mortalidade e hospitalizações relacionadas ao agravamento dos quadros das doenças pulmonares, aumentam a função pulmonar e a qualidade de vida dos doentes. ANTI- INFLAMATÓRIOS! Mecanismo de ação: inibição direta sobre as células inflamatórias, atuando em sua transcrição proteica. Inibição da transcrição de genes pró-inflamatórios levando a efeito anti- inflamatório induzido pelo uso de glicocorticoides. - Diminuição da transcrição de IL-2: restringem a proliferação de linfócitos Th; - Diminuição do influxo de eosinófilos induzido por alérgenos; - Diminuição da transcrição e da produção de IL-3: diminuição de mastócitos na mucosa; - Inibição da produção de leucotrienos; - Reversão do efeito de ativação de fatores pró-inflamatórios. Efeitos dos costicosteroides sobre as células das vias respiratórias. Usos clínicos: pacientes que usam regularmente broncodilatadores, tto de asma grave (glicocorticoides inalatórios de alta potência) e de exacerbações agudas (glicocorticoide sistêmico). Os glicocorticoides possuem efeitos sinérgicos e recíprocos aos agonistas β2, potencializando os efeitos dos agonistas β2 ao aumentar a transcrição de receptores β2 no pulmão. Os agonistas β2 auxiliam na melhor interação do complexo esteroide-receptor no DNA. Esses fármacos possuem ação local na mucosa brônquica e com poucos efeitos sistêmicos. Quando administrados, uma fração é deglutida e metabolizada pelo fígado. Efeitos adversos: disfonia, candidíase orofaringea, tosse (locais), supressão das adrenais, hematomas, osteoporose, pneumonia, anormalidades metabólicas e distúrbios psiquiátricos, quando administrados em altas doses (sistêmicos). Anticorpos monoclonais → Omalizumabe: Ac anti-IgE. Mecanismo de ação: anticorpo monoclonal bloqueia a IgE, diminuindo a ação dos eosinófilos e dos mastócitos, diminuindo a liberação de citocinas por essas células e da resposta alérgica a asma. Bloqueiam a ação da IgE aos receptores nos mastócitos,diminuindo sua ativação por alérgenos. Também bloqueiam a ligação de IgE em linfócitos e macrófagos, diminuindo a inflamação crônica. Usos clínicos: tto de asma grave/muito grave não controlada (menor utilização de glicocorticoides e exacerbação da doença). Via de administração: injetável. MEDICAMENTO DE ALTO CUSTO!! → Mepolizumabe e Reslizumabe: Ac anti-IL. Mecanismo de ação: inibem a ação da IL-5, citocina-chave em crescimento e ativação de eosinófilos que medeiam o processo inflamatório alérgico, como o da asma. 5 FARMACOLOGIA AULA 10 Fármacos em desenvolvimento: 1. Anti IL-4: dupilumaba; 2. Anti IL-15: tralocinumabe. Objetivos do tratamento da asma e DPOC: → Tto de asma: diminuição dos sintomas crônicos (tosse ou dispneia durante o dia, a noite ou após exercício físico), diminuição do uso de β2 de ação curta (< dois dias/semana), manter função pulmonar normal e atividades diárias, prevenção de exacerbações, efeitos adversos mínimos ou ausentes. Recomendações para o manejo da asma. → Tto de DPOC: melhorar a condição de vida do paciente para que ele consiga realizar suas atividades diárias; evitar ou minimizar a evolução da doença e aliviar sintomas, melhorar tolerância ao exercício, prevenir e tratar exacerbações, evitar e tratar complicações. Adendos Farmacocinética dos glicocorticoides. Os fármacos se diferenciam quanto a sua potência, mas não se diferenciam quanto aos seus efeitos farmacológicos e adversos. 1 FARMACOLOGIA AULA 11 Opioides Os opioides são analgésicos de ação central e têm pouca atuação periférica. Eles agem diretamente no SNC, mais especificamente em receptores opioides, imitando as respostas proporcionadas pelas endorfinas e encefalinas. Os opioides são utilizados principalmente para controle da dor! “São fármacos que deprimem o Sistema Nervoso Central (SNC) eliminando ou reduzindo a sensação de dor, sem causar a perda de consciência. Eles agem complexando-se com múltiplos receptores, em muitos locais do SNC, no sistema nervoso periférico e no sistema nervoso entérico”. → Os opioides mimetizam peptídeos endógenos e ativam receptores mu, Kappa, delta e NOP. Diferentes tipos de receptores de opioides. O ópio: → Papaver somniferum (papoula) ÓPIO = SUCO DA PAPOULA Somente recentemente, os mecanismos de ação específicos do ópio foram descobertos. ...isolamento das morfinas, identificação dos receptores opioides e de encefalinas são muito recentes. O látex do ópio contém opiáceos, compostos naturais encontrados na papoula, principalmente morfina e codeína. Já os opioides são compostos sintéticos, semi-sintéticos, naturais ou endógenos que interagem com receptores opioides no SNC. Histórico: - 3 400 a.C.: papoula já era utilizada na Mesopotâmia e era chamada de “planta da alegria”; - 1300 a.C.: egípcios tinham plantações e comercializavam o ópio; - Médico grego Hipócrates usava opioides para tratar inúmeras doenças (dor e diarreias); - 1500: ópio se tornou popular em Portugal; - Final do século XVI: Paracelsius inventou o láudano, uma solução hidro alcoólica que contém morfina; - Século XVII: Inglaterra passou a importar ópio de suas colônias na Índia; - Século XVIII: holandeses e ingleses exportavam ópio para China; - 1803: sir Turner descobriu o princípio ativo do ópio, a morfina; “Morfeu” = deus grego do sono - 1827: manufatura comercial da morfina se inicia; - 1843: descobriu-se que a injeção da morfina era mais potente do que o xarope de morfina, utilizado na época (seringa hipodérmica); ...maiores efeitos analgésicos e colaterais. - 1895: Heinrich Jesse da Bayer diluiu a morfina em acetis e produziu um fármaco que acreditava-se possuir menos efeitos colaterais, a heroína; - 1905: com o aumento do vício em heroína, um congresso baniu o ópio dos EUA; - Séc XX: comercialização criminosa de narcóticos nos EUA; - 1925: proposição da estrutura química da morfina; - 1952: síntese da morfina; - 1970: descoberta dos receptores no cérebro que interagiam com opioides e que morfina e opioides sintéticos não eram seus ligantes naturais; - 1975: isolamento de compostos endógenos com atividade opioide, as encefalinas um tipo de endorfina. !! Todos os booms de uso desses fármacos acabaram por prejudicar a população mundial, de alguma forma. Hoje, um enorme número de indivíduos é viciado e dependente de opioides. Tipos de dor: 1. Dor nociceptiva: ativação dos receptores por lesão tecidual (inflamação, trauma, isquemias); detecção, transmissão e percepção do estímulo nocivo. 2. Dor neuropática: pode ser periférica ou central; doença neurológica que afeta a via sensitiva que transmite a dor para o SNC e pode produzir dor crônica intensa. 3. Dor mista: é a mais frequente na prática clínica; acometimento de raízes nervosas e nervos (dor neuropática) + acometimento de estruturas musculoesqueléticas (dor nociceptiva). Escada Analgésica da OMS: degraus do tratamento da dor nociceptiva e mista (OMS). Percepção da dor: Nociceptores periféricos → transmissão para o a medula → transmissão do estímulo para o SNC + percepção sentimental da dor. 2 FARMACOLOGIA AULA 11 Fármacos e seus locais de atuação. Nociceptores: são polimodais (NPMs), não respondendo a qualquer tipo de estímulo. Respondem somente estímulos que podem gerar dano tecidual (térmicos, mecânicos e químicos). → Principal tipo de neurônio sensitivo periférico, formado por fibras C não mielinizadas. Estímulo mecânico: lesão tecidual; estímulo térmico: abaixo de 16º C ou acima de 42°C; estímulo químico: presença de prótons, queda de pH, etc. Transmissão do estímulo para o SNC e para a medula: O estímulo recebido caminha até a região da medula espinal, onde acontecem sinapses interneuronais, que levam o estímulo pela via ascendente, até o SNC (estimulação sensitiva). A resposta ao estímulo acontece por via descendente, que traz resposta inibidora do estímulo e resposta motora. Os opioides atuam em receptores de opiodes de endorfinas e encefalinas endógenas localizados na região dorsal da medula espinal (receptores mu, kappa e delta). Os opioides possuem pequena atuação em nível periférico, nos nociceptores. ...modulação da resposta que chega na medula. Mecanismos e locais da analgesia induzida por opioides: Inibição da transmissão ascendente das informações nociceptivas provenientes do corno dorsal da medula espinhal > ativação da via descendente inibitória (mesencéfalo –>corno dorsal da medula espinhal) e inibição discreta dos nociceptores periféricos. ...os opioides são liberados na região do corno dorsal e vão atuar nos receptores opioides existentes entre os neurônios dali. Mecanismo de ação básico dos opioides: - No neurônio pré-sináptico: os opioides são liberados e se ligam a receptores opioides, por meio da proteína G inibitória, promovendo inibição da adenilato ciclase e diminuição de AMPc. Como consequência, o influxo de cálcio fica inibido e o NT presente na vesícula sináptica não é liberado. - No neurônio pós-sináptico: a ativação dos receptores opioides aumenta a saída de potássio (efluxo do íon potássio), alterando o limiar de excitabilidade do neurônio (hiperpolarização, célula mais negativa). A abertura de canais de Ca voltagem dependentes também fica inibida. Assim, o NT que chega até o neurônio dificilmente irá conseguir desencadear um potencial de ação. Menor liberação de NT + hiperpolarização do neurônio = diminuição da condução do estímulo doloroso para o SNC Peptídeos opioides endógenos 3 FARMACOLOGIA AULA 11 Receptores de opiodes: → MOP (mu; µ), KOP (kappa; ҡ), DOP (delta; δ) e NOP; todos são compostos por proteínas G e sofrem ação dos peptídeos opioides endógenos. !! O principal receptor é o mu. O NOP é um receptor FQ de nociceptinas orfanina.Sua ativação se relaciona com a reversão dos efeitos analgésicos supraespinais de receptor µ, analgesia (espinal) e com a promoção de imobilidade. O RECEPTOR SIGMA NÃO É UM RECEPTOR OPIOIDE, APESAR DE APARECER EM ALGUMAS LITERATURAS AINDA. Cada fármaco atua de diferente forma nos diferentes receptores. Afinidade dos opioides aos receptores. Classificação dos opioides: Classificação dos opioides de acordo com sua estrutura molecular: 1. OPIOIDES NATURAIS: codeína, tebaína. 2. OPIODES SINTÉTICOS: meperidina, fentanil, metadona, propoxifeno, pentazocina. 3. OPIOIDES SEMI-SINTÉTICOS: hidromorfona, oximorfona, hidrocodona, oxicodona, heroína. Classificação dos opioides de acordo com sua atividade farmacológica: 1. AGONISTAS: morfina, codeína, metadona, propoxifeno, tramadol; promovem resposta máxima ao se ligarem ao seu receptor - atividade farmacológica aparente. 2. AGONISTAS PARCIAIS: buprenorfina, butorfanol; promovem resposta média ao se ligarem ao seu receptor. 3. AGONISTA-ANTAGONISTA: nalorfina, pentazocina; apresentam efeito agonista em alguns receptores e efeito antagonista em outros. 4. ANTAGONISTAS: naloxona e naltrexona; não promovem resposta farmacológica. Potência dos opioides. Analgésicos opioides Os analgésicos opioides agem em nível central, deprimindo o componente afetivo-emocional, inibindo a sensação aversiva, desagradável da dor (sofrimento). Propriedades farmacológicas no SNC: 1. Analgesia: inibição de componentes sensitivo e emocional relacionados a dor (medo, ansiedade e sofrimento) e aumento da capacidade de tolerância à dor. 2. Euforia: sentimento de bem-estar (ativação de mu). → A disforia aparece quando há ativação de kappa (sentimento contrário da euforia). 3. Sedação, tolerância, dependência. → A sedação requer ajuste de doses e acompanhamento. → Tolerância, dependência química e dependência psicológica limitam o uso clínico dos opioides. 4. Depressão respiratória: atuação no bulbo; diminuição da sensibilidade do centro respiratório à tensão de CO2, que pode ocorrer em doses terapêuticas (efeito dose-dependente). ...grande problema do uso de opioides. 5. Supressão da tosse: uso de codeína. 6. Efeito emético: o uso de opioide induz náuseas e enjoos; ativação da zona de gatilho quimiorreceptora, no bulbo. 7. Constrição pupilar: estímulo do núcleo oculomotor (ativação de kappa e mu). Propriedades farmacológicas no SCV: Em geral, os opioides não alteram, significativamente, os parâmetros em pacientes na posição de supino, mas pode ocorrer hipotensão ortostática ao se levantar. Vasodilatação + redução da resistência vascular periférica + redução dos reflexos barorreceptores ...os efeitos acontecem perante altas doses de opioides. - Pacientes hipovolêmicos = queda da PA; 4 FARMACOLOGIA AULA 11 - Podem aumentar a pressão intracraniana com consequente aumento da PCO2. O aumento da PCO2 provoca vasodilatação cerebral, que acaba por diminuir a resistência vascular e aumentar o fluxo sanguíneo cerebral. Propriedades farmacológicas no TGI: A atuação dos opioides em neurônios do Sistema Nervoso Autônomo promove constipação (↓ motilidade + ↑ tônus dos esfíncteres) e constrição biliar (espasmos nas vias biliares). Reações adversas: constipação, náuseas, vômitos. Propriedades farmacológicas no sistema urinário: - Efeito antidiurético: a redução do fluxo sanguíneo renal aumenta a reabsorção tubular de sódio. - Aumento da contração da musculatura lisa dos ureteres; pode provocar o agravamento de cólicas decorrentes de cálculos renais, após a administração de opioides. Reações adversas: retenção urinária. Propriedades farmacológicas no útero: prolongamento do trabalho de parto. Propriedades farmacológicas na pele: vasodilatação e prurido. Outras propriedades farmacológicas: Os opioides promovem a liberação de histamina dos mastócitos (exceto petidina e fentanil), provocando urticária, prurido, broncoconstrição e hipotensão (efeitos locais e efeitos sistêmicos). CUIDADO COM OS ASMÁTICOS! SD de abstinência = agitação + tremores + diarreia + piloereção Farmacocinética Vias de administração: variam conforme as características físico- químicas do opioides); VO (lenta), inalatória, SB, IM, IV, intratecal, transdérmica. Absorção: liberação imediata ou liberação controlada (ajuste de doses). Distribuição: ampla; variável em SNC (dependente da lipofilicidade). Biotransformação: hepática com participação do Citocromo P450 e de esterases + conjugação. Excreção: renal. Reações adversas Tolerância: trata-se da diminuição dos efeitos farmacológicos; se desenvolve dentro de 12 a 24 horas. - Tolerância rápida: euforia; - Tolerância moderada: analgesia, depressão respiratória); - Quase nenhuma tolerância: miose e constipação. De efeito agudo = menor concentração de AMPc (diminui gradativamente) De efeito crônico = dessensibilização e interiorização de receptores ...com o tempo, a dose deve ser aumentada para conseguir continuar promovendo o mesmo efeito. Dependência: ativação da via de recompensa pelos receptores mu nos sistemas mesolímbico e dopaminérgico; envolve fatores psicológicos e socioeconômicos. !! Vê-se dependência no estado de tolerância. O córtex pré-frontal (libera glutamina) e a área tegmental ventral (libera dopamina) estimulam o núcleo accubens. A ativação do núcleo accubens libera GABA, que inibe o núcleo pálido ventral. O núcleo pálido ventral, quando estimulado, ativa a via de recompensa. Os opiodes impedem a liberação de dopamina e de GABA (“inibem a inibição”), aumentando o efeito de recompensa. Síndrome de abstinência: - Estágio I: até 8 horas; ansiedade e indivíduo suplica pela droga. - Estágio II: até 8 a 24 horas; ansiedade, insônia, distúrbios GI, rinorreia, midríase, diaforese. - Estágio III: até 3 dias; taquicardia, náusea, êmese, hipertensão, diarreia, febre, calafrios, tremores, convulsões, espasmos musculares. ...realizar desmame adequado para que o paciente não passe pela SD de abstinência. Usos clínicos/terapêuticos → Principal uso = analgésico para dor intensa e constante Ex: dor associada ao câncer e à doenças terminais graves. → Adjuvante da anestesia (fentanil, sulfentanil e alfentanil). - Medicação pré-anestésica: ações sedativa, ansiolítica e analgésica; - Intraoperatório: em associações com anestésicos ou como indutor anestésico (fentanil); - Analgesia regional: dor PO. → Antitussígeno: uso de codeína; cuidado com o uso porque pode causar de dependência. → Uso em afecções não dolorosas: IC aguda e IC crônica terminal. → Tratamento da toxicidade aguda dos opioides: uso de naloxona, um antagonista dos receptores opioides. OS OPIOIDES SÃO FÁRMACOS SUJEITOS A CONTROLE ESPECIAL, EM 2 VIAS. 5 FARMACOLOGIA AULA 11 Adendos Classificação dos opioides. Opioides e sua seletividade por diferentes receptores opioides. Farmacocinética dos opioides mais utilizados. Analgésicos opioides agonistas: Analgésicos opioides antagonistas: 1 FARMACOLOGIA AULA 12 Ansiolíticos e antidepressivos Muitas vezes eles apresentam atividades ansiolíticas, hipnóticas e antidepressivas concomitantes. Ansiolíticos BENZODIAZEPÍNICOS: são utilizadas como ansiolíticos e hipnóticos. BUSPIRONA: uso menos frequente para o controle da ansiedade. ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES BETA-ADRENÉRGICOS: controlam os sintomas da ansiedade. ANTIDEPRESSIVOS: fluoxetina, paroxetina e sertralina; muitos são utilizados para o controle da ansiedade e para transtornos depressivos. MELATONINA: ramelteona; controla determinadas situações depressivas. ANTIEPILÉTICOS: gabapentina e valproato; podem ser eficazes no tratamento do transtorno de ansiedade generalizada. ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: olanzapina e risperidona; podemser utilizados para tratamento de ansiedade e TOC. Benzodiazepínicos Os benzodiazepínicos são utilizados desde a década de 60. Estrutura = anel benzênico + anel aromático Mecanismo de ação básico: se ligam a sítios alostéricos do receptor GABAA (sítio benzodiazepínico), permitindo que os ansiolíticos atuem como ansiolíticos. Ao se ligarem ao sítio, estimulam a abertura do canal que permite a entrada de cloreto no interior do neurônio, induzindo a hiperpolarização da célula. A célula hiperpolarizada fica, então, inibida. Os benzodiazepínicos facilitam e potencializam efeitos inibitórios do GABA, neurotransmissor inibitório primário do SNC. Quando o GABA é ativado, diminui a excitabilidade dos neurônios efetores. Ligação do benzodiazepínico com o complexo GABA receptor → abertura dos canais de cloreto → hiperpolarização da célula (dificilmente responde a estímulos) → inibição do impulso nervoso e depressão dos efeitos excitatórios → Os benzodiazepínicos potencializam o efeito do GABA, aumentando a frequência de abertura dos canais de cloreto. A depressão do SNC é dose-dependente. Quando maior a dose, maior a depressão! Efeitos: ansiolítico, sedativo-hipnótico, relaxante muscular e diminuição da atividade convulsiva em maior ou menor grau. Os efeitos dos benzodiazepínicos estão relacionados, também, com a afinidade desses fármacos pelos subtipos de receptores alfa. Farmacocinética: essa classe de fármacos possui absorção rápida (VO), altas taxas de ligação às proteínas plasmáticas (70 a 99%) e atinge concentrações sanguíneas máximas em 1 a 3 horas. Sua distribuição se dá pelo modelo de 2 compartimentos, que se inicia em órgãos mais perfundidos e, posteriormente, atinge os menos perfundidos. Já a sua metabolização se dá pelo fígado. Os seus metabólitos são excretados nas fezes e na urina após conjugação com ácido glicurônico. !! Sua alta lipossolubilidade faz com que atravessem barreira placentária facilmente e sejam excretados pelo leite materno (fármacos tipo D) e, por isso, seu uso deve ser evitado durante a gravidez e o período de amamentação. O lorazepam não forma metabólitos e, por isso, é o mais indicado para uso em idosos e crianças. Nesses indivíduos, os benzodiazepínicos podem apresentar efeitos paradoxais (excitaróios). Para crianças, apenas diazeapam e prazepam são indicados. O clonazepam é o benzodiazepínico mais prescrito na clínica médica e o diazepam é um dos benzodiazepínicos mais utilizados no SUS. O midazolam pode ser utilizado como anestésico e promove amnésia anterógrada. Fármacos de ação longa provocam “ressaca” em seus usuários no dia seguinte ao uso. Usos clínicos: tto de ansiedade aguda (diminui ansiedade e agressão), uso ocasional para insônia (promove sedação e indução do sono), tensão muscular gerada pela ansiedade (diminuem o tônus muscular, promovendo efeito miorrelaxante, tto de epilepsia (clonazepam e diazepam > efeito anticonvulsivante) e sedação pré-operatória (sedação com amnésia anterógrada). 2 FARMACOLOGIA AULA 12 Efeitos colaterais: sonolência, ataxia, confusão mental, visão dupla, depressão, cefaleia, aumento ou diminuição da libido, incoordenação motora, dependência física e psíquica, prejuízos à cognição, amnésia anterógrada (resultante da maior lipossolubilidade - dizepam, midazolam) Quanto maior a duração, maiores são os efeitos colaterais. Fármacos de longa duração: diazepam, clonazepam. Toxicidade aguda e interações medicamentosas: Toxicidade aguda (grandes doses VO): sono prolongado, sem séria depressão respiratória e cardiovascular. A associação com outros depressores promove depressão respiratória séria. Cuidados com as associações com outros depressores do SNC e com álcool. Efeitos indesejáveis: 1. Tolerância e dependência: possível alteração nos receptores GABA (infrarregulação). A interrupção de tratamento pode gerar efeitos de ansiedade, tremor e tonturas. Os benzodiazepínicos são os medicamentos mais difíceis de serem retirados. Eles devem ser retirados gradualmente e com redução de dose fármaco (desmame). 2. Síndrome de abstinência: pode persistir por algumas semanas. ▪ Tremores, sudorese, agitação, irritabilidade, insônia, despersonalização. 3. Efeitos rebote: retorno aos sintomas originais em maior intensidade. Reversores: - Flumazenil IV (LANEXAT® - amp 0,5mg/5mL): antagonista de receptor GABA; pode ser utilizado tanto por crianças quanto por adultos; início de ação = 1 a 2 min. Buspirona A buspirona é um agonista parcial da serotonina que atua nos receptores 5-HT1A. Ela não causa sedação ou modifica o desempenho psicomotor. Vantagem: efeitos colaterais menores que os causados pelos benzodiazepínico; tontura, náuseas, cefaleia. Desvantagem: demora dias a semanas para produzir seu efeito ansiolítico por causa de seu mecanismo de ação complexo. Uso clínico: tratamento de distúrbios de ansiedade generalizada (menor efeito para controle de ansiedade do que os benzodiazepínicos); menos eficaz para controle de pânico ou ansiedade grave. PODE SER USADO POR GESTANTES! Antagonistas beta-adrenérgicos (betabloqueadores) Diminuem o componente fisiológico da ansiedade, ou seja taquicardia, tremores, sudorese, decorrentes de excessiva estimulação do SNA simpático. Uso clínico: fobias situacionais. → Propranolol e atenolol. Hipnóticos → Anti-histamínicos: difenidramina (Dramin) e prometazina; possuem efeito antagonista em receptor H1 central. → Benzodiazepínicos: de ação curta; são os mais usados para insônia; indutores do sono; possuem pouco efeito de “ressaca”. → Zolpidem e zopiclone: possuem ação semelhante à dos benzodiazepínicos, mas não apresentam atividade ansiolítica significativa; possuem ½ vida de 2,4 horas; não têm metabólitos ativos. Antidepressivos Os fármacos antidepressivos atuam, principalmente, no controle do transtorno depressivo maior (TDM). Eles também podem ser utilizados para tratar ansiedade, TOC e transtornos alimentares, como bulimia e anorexia. TDM = humor deprimido na maior parte do dia, durante pelo menos 2 semanas, ou por perda de interesse ou prazer na maioria das atividades ou por ambos + distúrbio do sono e do apetite, déficits na cognição e perda de energia + pensamentos de culpa, inutilidade e suicidas são comuns Depressão ▪ Teoria das monoaminas/”teoria clássica”: falta ou alteração do equilíbrio entre os NTs serotonina (5HT), noradrenalina (NA) e dopamina (DA), que auxiliam no controle das emoções. Quando essas substâncias estão em desequilíbrio, o paciente entra em depressão e, quando elas estão em equilíbrio, há uma emoção adequada para cada ocasião. ...queda nos NTs leva a suprarregulação compensatória dos receptores pós-sinápticos dos NTs. !! Todos os três NTs desempenham diferentes papéis no humor e na ansiedade. NA = atenção, motivação, prazer e recompensa; DA = estado de alerta, vigilância, resposta ao estresse, função neuroendócrina, controle da dor, atividade do sistema nervoso simpático; 5HT = obsessivo-compulsivo percepção e controle de dor, regulação visceral, modulação do humor, cognição, função endócrina. Liberação dos NTs: a 5HT se forma no neurônio pré-sináptico a partir do triptofano, seu precursor. Quando potencial de ação chega no neurônio, acontece abertura dos canais de cálcio, as vesículas contendo 5HT vão até a membrana e liberam a substância na fenda sináptica. A 5HT liberada se liga ao seu receptor pós-sináptico, ao seu autorreceptor regulador ou é recaptada. Quando em excesso, ao se ligar a seu autorreceptor, sua regulação é feita e acontece diminuição da sua liberação. Esse mecanismo de liberação também acontece com DA e NA. ▪ Outras hipóteses: - Hipótese neurotrófica da depressão: neurodegeneração (diminuição das sinapsesnervosas) e diminuição da neurogênese no hipocampo, levando a efeitos depressivos. Diminuição da atividade nervosa! Baixa neurogênese (A) e neurogênese adequada (B). 3 FARMACOLOGIA AULA 12 - Fatores neuroendócrinos: cortisol elevado e hipotireoidismo. - Outros mediadores relacionados com a depressão, como a glutamina em excesso e cetamina. Os antidepressivos Mecanismo de ação geral: aumento da concentração extracelular das monoaminas no SNC, promovendo infrarregulação dos receptores monoaminérgicos. Assim, acontece estímulo ou inibição de moléculas de sinalização intracelular. O aumento da disponibilidade de fatores neurotróficos promove reestruturação dos circuitos encefálicos. Inibidores da MAO (monoaminoxidase) → Fenelzina, tranilcipromina, iproniazida (ação longa/irreversíveis), clorgilina (MAO-A), selegilina (MAO-B), moclobemida (MAO-A) (ação mais curta/reversíveis/seletivos). !! Selegilina é utilizada principalmente no tto de Parkinson. A MAO promove a metabolização das monoaminas. Quando essa enzima é inibida, os NTs têm suas concentrações aumentadas na fenda sináptica. Esse aumento causa euforia e excitação. Subtipos de MAO/substrato: - MAO A/NA, 5-HT, DA; - MAO B/DA, feniletilamina. !! Os inibidores de MAO-A são mais eficazes. Efeitos adversos: resultantes da ativação simpática e central; visão embaçada, xerostomia, retenção urinária e constipação, sedação, confusão e fadiga, alucinações, confusão, convulsões, ganho de peso, tontura, insônia e agitação, hepatotoxicidade, alteração da disponibilidade de outros fármacos metabolizados por MAO. ▪ “Reação do queijo”: inibidores da MAO de longa duração induzem resposta hipertensiva intensa a alimentos contendo tiramina, precursor das monoaminas, como queijo, cerveja e vinho; pode ocorrer até 2 semanas após interrupção do tto. Imensa liberação de NE na fenda sináptica! Inibidores da recaptação de monoaminas I - Antidepressivos tricíclicos (ADTs): Imipramina (Tofranil), Desipramina (Norpramin ), Clomipramina (Anafranil), Amitriptilina (Elavil ), Nortriptilina (Pamelor). !! Menor tolerabilidade e maior risco em superdosagem, quando comparados a outros antidepressivos. Mecanismo de ação: bloqueio da recaptação de 5HT e NE por competição com o transportador de aminas. Usos clínicos: depressão não responsiva aos ISRS ou IRSNs. - Outros usos/off label: ansiedade e pânico, bulimia, cataplexia e narcolepsia, enurese, enxaqueca, náuseas à quimioterapia e neuralgias (dores crônicas). Os ADTs possuem rápida absorção oral, alto teor de ligação plasmática e boa distribuição decorrente de sua elevada lipofilicidade. Sua metabolização acontece vias citocromo P450 e conjugação. Eles podem ser eliminados tanto na urina quanto nas fezes. Efeitos adversos: ganho de peso, sonolência (H1), tontura, hipotensão, sonolência (alfa1), constipação, visão turva, boca eca, sonolência (M1), potencialização do efeito do álcool e de anestésicos (depressão respiratória), interações com outros antidepressivos, neurolépticos, psicoestimulantes e barbitúricos. II - Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRS): Fluoxetina, Fluvoxamina, Paroxetina, Sertralina, Citalopram, Escitalopram, Vortioxetina. Mecanismo de ação: inibição do transportadores de serotonina (SERT) aumentando a concentração do NT na fenda sináptica. Os efeitos tendem a diminuir no decorrer do tratamento em razão da infrarregulação desses receptores (diminuição da expressão dos receptores). 4 FARMACOLOGIA AULA 12 Atuam nos seguintes receptores para serotonina: 5-HT1A, 1B, 1C, 1D, 1E, 1F, 5-HT2A, 2B, 2C, 5-HT3 a 7. Eventualmente, se ligam a receptores de outros NTs, como a dopamina. Usos clínicos: se tornam relevantes após 2 a 4 semanas de uso; tto da depressão maior, TAG (Transtorno de ansiedade generalizada), TEPT (Transtorno do Estresse Pós-traumático), TOC, transtornos do pânico e transtornos alimentares. Efeitos promovidos pelo uso dos ISRSs. De acordo com o postulado dos receptores pré-sinápticos, quando há pouco NT sendo liberado na fenda sináptica, esses NTs se ligam com seu receptor autorregulador, inibindo sua liberação. Ao utilizar esses fármacos, a concentração do NT é aumentada e mais NTs se acoplam nos receptores autorreguladores, intensificando a liberação endógena do NT nas primeiras semanas de uso do medicamento. Falta de ajuste! Com o passar do tempo, a infrarregulação se adapta e não há mais inibição da liberação do NT. Uma outra hipótese que explica o porquê de os fármacos demorarem a fazer efeito é a hipótese neurotrófica. Ela diz que o fármaco promove estimulação neurogênica, aumentando o número de sinapses e de novas conexões neuronais. Vantagens: segurança em superdosagem, tolerabilidade relativa, baixo custo (todos os fármacos estão disponíveis em forma genérica), amplo espectro de uso. Esses fármacos possuem boa absorção oral e são altamente lipofílicos. - Fluoxetina e sertralina têm maior tempo de ação porque são metabolizados em compostos desmetilados eliminados lentamente. Meia-vida longa! - Interações com outros fármacos, promovem a inibição de isoenzimas do sistema P450 (fluoxetina e paroxetina). Perfis farmacocinéticos dos ISRSs. III - Inibidores da recaptação serotonina-noradrenalina (IRSN): Venlafaxina (Effexor ), Desvenlafaxina (Pristiq ), Duloxetina (Cymbalta ). Esses fármacos atuam somente nos receptores de serotonina e de noradrenalina, sendo não tricíclicos. Assim, não promovem efeitos amplos em outros sistemas. Suas reações adversas estão relacionadas com ações adrenérgicas. Em baixas doses, inibem a recaptação de serotonina e em doses elevadas, de serotonina e de noradrenalina. !! Utilizados por pacientes não responsivos aos ISRSs. IV - Outros inibidores → Inibidor seletivo de recaptação de noradrenalina (ISRN): Reboxetina (Norebox e Edronax ) → Inibidor da recaptação de noradrenalina e dopamina (IRND): Bupropiona (Wellbutrin , Zyban ). Fármacos utilizados para tto de depressão associada à ansiedade e para tto de pacientes dependentes de nicotina. Eles estimulam o SNC sem promover os efeitos adversos da serotonina. Antagonistas noradrenérgicos e de serotonina Fármacos que apresentam maior tolerabilidade e menor incidência de efeitos adversos. → Mirtazapina: bloqueia receptores alfa adrenérgicos (principalmente ⍺2) e 5-HT2. Aumentam a concentração de noradrenalina e inibem os efeitos adversos da serotonina. → Trazodona: bloqueio de receptores 5-HT2 e inibição da recaptação de 5-HT. Inibem a recaptação de serotonina e bloqueiam os receptores de serotonina que induzem os efeitos adversos desse NT. Agonistas de melatonina A melatonina é um NT liberado pela gl. pineal e que estabelece os ritmos circadianos. Sua secreção é elevada à noite e diminuída durante o dia, sendo controlada por impulsos da retina. → Agomelatina: agonista dos receptores de melatonina (MT1 e MT2) e antagonista 5-HT2; meia-vida curta. Uso clínico: corrige distúrbios do ritmo circadiano, geralmente associados à depressão. Novos produtos → Esketamina (spray nasal): derivado do anestésico Cetamina (antagonista dos receptores da glutamina). Indicação: resistência aos fármacos disponíveis Efeito antidepressivo rápido + combate pensamentos suicidas !! Por ter efeito narcótico, pode gerar abuso. Adendos Agente hipnótico: fármaco que induz o sono. Os barbitúricos aumentam o tempo de abertura dos canais de cloreto. Receptores da NA. Receptores da 5HT. 1 FARMACOLOGIA AULA 13 Antipsicóticos Psicose: senso distorcido ou inexistente da realidade. → Tipos de psicose: depressão maior, mania, transtornos psicóticos, demência (Alzheimer) e esquizofrenia.Os antipsicóticos são fármacos neurolépticos, antiesquizofrênicos ou tranquilizantes maiores utilizados no tto da esquizofrenia, principalmente, e outros transtornos psicóticos. Esquizofrenia = perda de contato com a realidade + deterioração do modo de vida diário + desintegração que se manifesta como transtorno de sentimentos, pensamentos e conduta Todos os fármacos que tratam esquizofrenia têm abordagem dopaminérgica. Antagonização da atividade da dopamina! ▪ Abordagem neuroanatômica: aumento dos espações interventriculares no esquizofrênico; perda de massa neuronal em córtex pré-frontal e hipocampo, principalmente. ▪ Abordagem dopaminérgica: aumento da atividade dopaminérgica (grande concentração de receptores dopaminérgicos). ▪ Abordagem serotoninérgica: aumento da atividade serotoninérgica promove alucinações. ▪ Abordagem glutamatérgica: diminuição da atividade glutamatérgica; abordagem menos válida e de menor importância. Vias dopaminérgicas: Existem 4 vias dopaminérgicas principais: 1. Via mesolímbica: excitatória; receptores D2 fazem parte dessa via e são inibitórios; relacionada com sintomas positivos da esquizofrenia (alucinações, delírios, transtornos de pensamento, comportamento anormal); liga a área tegmental ventral ao Nucleus accumbens. HIPERFUÇÃO no paciente esquizofrênico! Quando os receptores D2 são ativados, a dopamina diminui a ação do GABA, NT inibitório do SNC. A dopamina “inibe a inibição”, aumentando a atividade excitatória na via mesolímbica. Assim, o paciente passa a apresentar alucinações e delírios. 2. Via mesocortical: excitatória; estimula principalmente receptores D1; relacionada com sintomas negativos da esquizofrenia (afastamento social, depressão, diminuição da atividade cognitiva e alterações emocionais); liga a área tegmental ventral ao córtex pré-frontal. HIPOFUNÇÃO no paciente esquizofrênico! Quando os receptores D1 são ativados, acontece diminuição da ativação do sistema mesocortical. Assim, o paciente passa a apresentar sintomas depressivos. 3. Via nigroestriatal: inibitória; relacionada com movimentos e estímulos sensoriais; liga a substância negra ao striatum. 4. Via tuberoinfundibular: inibitória; relacionada com a secreção de prolactina; liga o hipotálamo a hipófise. Sintomas positivos e negativos da esquizofrenia. O tratamento de esquizofrenia atua na diminuição da ação da dopamina na via mesolímbica e aumenta a ação da dopamina na via mesocortical (diminuição dos efeitos positivos e aumento dos efeitos negativos). Antipsicóticos: → 1ª geração: atuam como antagonistas de receptores da dopamina; têm como objetivo diminuir os efeitos positivos. - Fenotiazínicos: alifáticos (clorpromazina, levomepromazina) e piperidínicos (tioridazina, pipotiazina); - Tioxantenos (zuclopentixol); - Butirofenonas (haloperidol). → 2ª geração: atuam como antagonistas de receptores da serotonina e da dopamina; menores efeitos adversos do que os fármacos de 1ª geração. - Benzamidas (sulpirida, amisulprida); - Difenilbutilpiperidínicos (pimozida); - Dibenzodiazepínicos (clozapina, quetiapina); - Benzisoxazólicos (risperidona); - Tienobenzodiazepínicos (olanzapina); - Benzotiazolipiperazinicos (ziprasidona). Antipsicóticos de primeira geração ou típicos: → Heloperidol, tioridazina, clorpromazina 2 FARMACOLOGIA AULA 13 Esses fármacos são antagonistas dos receptores D2, M11, H1 e alfa1. Mecanismo de ação (1ª geração): os antipsicóticos de 1ª geração antagonizam a dopamina, inibindo-a nas vias mesolímbica, mesocortical, nigroestriatal e tuberoinfundibular. BLOQUEIO DAS 4 VIAS! Efeitos adversos motores: efeito extrapiramidal (bloqueio D2 via nigroestriatal) promove acatisia (SD das pernas inquietas), distonia (espasmos nos músculos de língua, face e pescoço) e Parkinson farmacológico (rigidez muscular, bradicinesia e tremores); discinesia tardia quando os antipsicóticos são retirados (mastigação constante, protrusão da língua e caretas). Tto dos sintomas positivos (pensamento desordenado, alucinações, delírios) = bloqueio D2 na via mesolímbica Efeitos adversos dos antipsicóticos de 1ª geração. Antipsicóticos de segunda geração ou atípicos: → Olanzapina, quetiapina, risperidona, clozapina. Esses fármacos atuam como antagonistas de receptores dopaminérgicos (D1, D2, D4) e serotoninergicos (5HT2A, 5HT2C 5HT3) M1, H1, α1. Baixa relação entre afinidade D2 e afinidade 5TH2A! Os antipsicóticos de segunda geração diminuem o efeito das ativações serotoninérgicas (principal efeito) e dopaminérgicas (agonistas parciais de 5HT2A). Efeitos: muito eficazes para alívio dos sintomas negativos, menos eficazes para alívio dos sintomas positivos, baixa propensão a efeitos extrapiramidais, eficazes em pacientes resistentes aos antipsicóticos típicos. → Apresentam baixa incidência de SEP (SD extrapiramidal), melhoram a função cognitiva por causa da atuação agonista parcial serotoninérgica, são eficazes nos sintomas negativos, não produzem discinesias tardias e são eficazes para pacientes que não respondem aos antipsicóticos típicos. Fármacos antipsicóticos. Antiepiléticos Convulsão x epilepsia Convulsão: evento agudo que ocorre devido a descargas anormais, excessivas e hipersincrônicas de um grupo neuronal. Epilepsia: convulsões recorrentes devido a uma causa crônica; despolarizações neuronais episódicas de alta frequência de impulsos por grupo de neurônios (= foco). A maioria dos casos de epilepsia apresenta convulsões, mas a doença pode se apresentar de diversas formas. O tipo de epilepsia varia de acordo com a parte do cérebro afetada, bem como seus sintomas. - Córtex motor: convulsões; - Hipotálamo: despolarização autônoma periférica; - Formação reticular: perda da consciência. Tem origem genética ou surge após injúria cerebral (AVE, infecção, tumor). ▪ Atinge cerca de 0,5 a 1% da população Crise convulsiva = excitação excessiva de neurônios + despolarização das membranas + liberação de neurotransmissores (principalmente excitatórios) As crises convulsivas podem ser focais, generalizadas ou de focos desconhecidos. Crise generalizada de ausência: Os neurônios GABAérgicos fazem parte do circuito nervoso autossustentável entre o córtex cerebral e o tálamo. Quando há 3 FARMACOLOGIA AULA 13 uma série de descargas neuronais, acontece despolarização do sistema GABAérgico, inibindo o circuito. Assim, o paciente perde a consciência e entra em crise de ausência. O aumento da liberação de GABA nos nn. reticulares do tálamo acontece a partir da estimulação feita pelos nn. relés talâmicos (canais de cálcio do tipo T dependentes). Excitação dos neurônios GABAérgicos pelos nn. relés talâmicos → liberação do GABA → inibição do circuito → crise de ausência Os fármacos antiepiléticos O objetivo da terapêutica antiepiléptica interromper a despolarização paroxística sem afetar a transmissão normal. Fármacos clássicos e não clássicos. POTENCIALIZAÇÃO DO GABA: - A GABA transamina é uma enzima que degrada o GABA. Vigabatrina e Valproato inibem essa enzima. - Tiagabina inibe o receptor neuronal de GABA, aumentando a concentração de GABA na fenda sináptica. - Benzodiazepínicos aumentam a frequência de abertura dos canais de cloreto. - Barbitúricos aumentam o tempo de abertura dos canais de cloreto. INIBIÇÃO DOS CANAIS DE Na: - Carbamazepina, fenitopina e topiramato aumentam a ação inibitória do canal de sódio (tempo de inibição maior). Canal de sódio menos responsivo aos estímulos excessivos! - Lacosamida, lamotrigina, valproato e zonisamida bloqueiam o canal de sódio. Aumento do período refratário! INIBIDORES DOS CANAIS DE Ca: - Etossuximida é utilizado para convulsõesdo tipo pequeno mal/ausência. A inibição da abertura dos canais de cálcio promove inibição da condução do impulso elétrico. ANTAGONISMO DE NTs GLUTAMATÉRGICOS: - Inibem a abertura de canais de sódio e cálcio. Fármacos clássicos: barbitúricos, hidantoínas, oxazolidinodionas e succinimidas. Outros fármacos: derivados do GABA, dibenzazepinas, valproato (ácido valpróico) e derivados, triazínicos, gabapentina e topiramato, benzodiazepínicos. 1. Barbitúricos → Fenobarbital, metilfenobarbital, metarbital, primidona. Mecanismo de ação: atuam potencializando a ação GABAérgica, aumentando o tempo de abertura dos receptores GABA e dos canais de cloreto, promovendo a hiperpolarização da célula. Uso clínico: controle da maioria das formas de epilepsia – principalmente crises tônico-clônicas. Esses fármacos possuem ½ vida de 50 a 140 horas, 25% deles são excretados inalterados na urina e 75% são metabolizados pela CYP (indutor de CYP = aumento da metabolização de outros fármacos). São contraindicados para portadores de porfirias hepáticas! 4 FARMACOLOGIA AULA 13 Efeitos adversos: sedação (alterações de cognição), anemia megaloblástica, reações leves de hipersensibilidade e osteomalácia. !! A superdosagem promove depressão do tronco cefálico (centro respiratório). 2. Hidantoínas → Fenitoína Mecanismo de ação: inibição dos canais de sódio. Usos clínicos: anticonvulsivante, antiarrítmico, antineurálgico, miorrelaxante esquelético e inibidor da colagenase. Esses fármacos são eficazes em crises parciais e generalizadas. A farmacocinética desses medicamentos é imprevisível e sua faixa terapêutica é estreita. - Boa absorção VO, competição pela ligação às proteínas plasmáticas (deslocamento de salicilatos, valproato, fenilbutazona e aumento de seus efeitos farmacológicos) e indução enzimática (CYP). Efeitos adversos: vertigem, ataxia, cefaleia, nistagmo, malformações fetais, hiperplasia gengival. 3. Oxazolidinodiona e succinimidas → Trimetadiona e etossuximida. Mecanismo de ação: inibição dos canais de Ca T. Fármacos efetivos nas crises de ausência, que têm efeito sobre as correntes talâmicas de Ca. - Trimetadiona: uso indicado para não responsivos à succinimida ou ácido valpróico; muitos efeitos adversos promovidos por seu metabólito ativo, a dimetadiona. - Etossuximida: fármaco de primeira escolha para tto das crises de ausência; efeitos adversos > náuseas e anorexia, letargia e tontura. 4. Derivados do GABA → Vigabratina: inibe GABA-T (GABA aminotransferase) que metaboliza GABA, aumentando a liberação de GABA. → Tiagabina: inibe preferencialmente GAT-1 (transportador da recaptação de GABA) = inibição da recaptação de GABA da fenda sináptica. 5. Dibenzazepinas → Carbamazepina Mecanismo de ação: inibição dos canais de Na. Usos clínicos: anticonvulsivante, antipsicótico, antineurálgico, antimaníaco. !! Fármaco de primeira escolha para tto de crises parciais e generalizadas. Efeitos adversos: sonolência, tontura, ataxia, alterações mentais e mentoras graves, retenção hídrica, efeitos TGI e cardiovasculares, neutropenia, hipersensibilidades, potente indução enzimático (acelera metabolismo de fenitoína, CO, varfarina, corticosteróides e ela mesma... CUIDADO COM AS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS). → Oxcarbazepina: prófarmaco com as mesmas características da carbamazepina, mas que é pouco indutor enzimático. 6. Valproato Mecanismos de ação: bloqueio de descargas repetitivas e sustentadas de alta frequência resultantes das correntes de Na + inibição da ativação de canais Ca tipo T + facilita a síntese de GABA (estimula GABA desidrogenase) Em altas concentrações esse fármaco inibe GABA-T cerebral, bloqueando a degradação de GABA. Usos clínicos: certos tipos de epilepsia infantil, doença bipolar e depressiva, crises tônico-clônicas, mioclônicas e crises de ausência. 7. Triazínincos → Lamotrigina Mecanismos de ação: bloqueio do disparo repetitivo dos canais de Na + bloqueio dos canais de Ca voltagem-dependentes = diminuição da transmissão glutamatérgica excitatória. Uso clínico: crises parciais e generalizadas não controladas por outros fármacos. 8. Gabapentina e topiramato Fármacos utilizados em crises de dores neuropáticas, crises parciais e crises tônico-clônicas generalizadas. Adendos → Aripiprazol: agonista parcial D2 + agonista parcial 5-HT1A = estabilizador do sistema dopaminérgico !! Não resolve completamente os sintomas da esquizofrenia para determinados pacientes. Fármacos antiepilépticos e suas ações. Aula 1 1 Farmacologia Farmacologia: estudo de substâncias - os fármacos -que interagem com os sistemas vivos por meio de processos químicos, especialmente pela ativação ou inibição de processos corporais normais. Histórico • Primórdios da civilização: remédios a base de ervas (Papiro de Ébers) A Medicina fazia observação clínica e diagnóstico, mas apresentava falhas no tratamento. • Século XIX: Farmacologia considerada como ciência; • 1858: Virchow propõe a teoria celular; • 1868: início do uso de fórmulas estruturais para descrição de compostos químicos; • 1878: Pasteur propõe a relação entre bactéria e doença. Conceitos introdutórios Medicamento: é uma preparação química contendo um ou mais fármacos utilizados de acordo com suas indicações e propriedades, com finalidade terapêutica. → Fármaco, excipientes, conservantes, solventes. *Um fármaco pode ser um medicamento, mas nem todo medicamento é um fármaco! Droga: composto químico capaz de provocar alterações somáticas ou funcionais, sendo elas benéficas ou não. Popularmente, é frequentemente associada a substâncias que causam dependência, narcóticas ou que alteram a consciência. Remédio: todo e qualquer tipo de cuidado utilizado para curar ou aliviar doenças, sintomas, desconfortos e mal-estares. Fármaco: composto químico de estrutura química conhecida, que provoca um efeito biológico e que deve ser administrado e não liberado por mecanismos fisiológicos. NÃO é nutriente ou ingrediente essencial da dieta! → Substâncias química sintéticas, substâncias extraídas de plantas e animais e produtos de engenharia genética (biofármacos). Propriedades importantes do fármaco: 1. Avaliação risco x benefício: avaliação onde é feita a verificação da probabilidade de que um efeito ou dano possa ser tolerado por um organismo. Trata-se do benefício real trazido pelo uso da substância, sendo que ele deve ser maior do que o risco. 2. Índice terapêutico (IT): relação entre dose letal média (DL50) e dose efetiva média (DE50). Quanto maior o IT, maior será a segurança do fármaco. IT = DL50/DE50 ➢ DL50: dose que causa a morte de 50% dos animais em ensaio, em dado período de tempo; ➢ DE50: dose que provoca o efeito desejado em 50% dos animais em ensaio, em dado período de tempo. Relação fármaco-indivíduo: envolve farmacocinética (“como o organismo interage com os fármacos”) e farmacodinâmica (”como o fármaco interage com o organismo”). Forma farmacêutica x fórmula farmacêutica Fórmula farmacêutica: relação de substâncias que entram na constituição de um medicamento → fármaco, coadjuvante terapêutico, coadjuvante farmacotécnico, estabilizante, conservante, veículo ou excipiente. Forma farmacêutica: estado final da fórmula farmacêutica. É estabelecida levando-se em conta propriedades da substância, vias de administração e fatores relacionados ao indivíduo. → Facilita a administração porque permite a obtenção de maior efeito terapêutico. ➢ Sólidas: cápsulas (produto dentro de involucro de gelatina), comprimidos (obtido com a compressão dos princípios ativos), drágeas (comprimido revestido com açúcar) e supositórios. ➢ Líquidas: soluções (mistura homogêneade 2 ou mais fases), xaropes (solução oral viscosa com alta concentração de açúcares), emulsões (constituído por 2 líquidos não miscíveis) e suspensões (dispersão com uma fase líquida e uma fase sólida insolúvel). ➢ Semi-sólidas: pomadas (dispersão de um ou mais princípios em uma base lipofílica e difíceis de sair com água), cremes (emulsão, formada por uma Aula 1 2 fase lipofílica e uma fase aquosa), emplastro (base adesiva contendo um ou mais princípios ativos distribuídos em uma camada uniforme), gel (contém um agente gelificante para fornecer firmeza a uma solução). ➢ Gasosas: aerossóis (sistema com partículas sólidas e líquidas dispersas em um gás o uso através de aparelhos como nebulizadores ou vaporizadores). Vias de administração A via de administração nada mais é do que o método de introdução do fármaco no organismo. Trata-se do primeiro contato do fármaco com o organismo. → Vias de administração influenciam a extensão e a velocidade da absorção. Alguns critérios devem ser considerados antes da administração de um fármaco. 1. Quanto ao paciente: consentimento, patologias existentes, nível de consciência e impedimento físico; 2. Quanto ao efeito desejado: sistêmico ou localizado, latência e duração; 3. Quanto ao medicamento: propriedades físico- químicas, solubilidade, estabilidade em meio ácido, pKa, propriedades organolépticas e farmacocinética. Vias enterais: → VIA ORAL(V.O.) • Vantagens: fácil administração, casos de administração diária e/ou por longo período, permite autoadministração, econômica, segura (aumento gradual da concentração plasmática e menor incidência de efeitos tóxicos); • Desvantagens: variação da taxa de absorção, motilidade gastrointestinal, automedicação depende da cooperação ou da adesão do paciente, vômito, inconsciência, metabolismo de primeira passagem. → VIA SUBLINGUAL: • Vantagens: rápida absorção, difusão pela trama capilar (circulação sistêmica), efeito terapêutico rápido, evita a metabolização de primeira passagem e a ação do suco gástrico pelo baixo pH; • Desvantagens: pequena área de superfície disponível, sabor ruim, ação irritante, criança, pacientes com xerostomia. → Via RETAL: alternativa para quando as outras vias enterais estão indisponíveis (pacientes com náusea, inconsciência). A absorção acontece no plexo hemorroidário, tendo-se uma passagem direta para a circulação. • Vantagens: evita a destruição por enzimas digestivas e pela ação do pH estomacal, evita a metabolização de primeira passagem, boa para pacientes que não conseguem engolir; • Desvantagens: absorção irregular (motilidade aumentada), administração desagradável, irritação anal, diarreia. Via intramuscular: utilizada quando há impossibilidade de uso oral e na presença de fatores que diminuem a absorção no TGI. → Barreira = endotélio capilar. *Quanto maior o fluxo sanguíneo, maior a velocidade de absorção. • Vantagens: rápida e completa absorção, permite formulação de liberação controlada e contínua; • Desvantagens: introdução acidental em veias, ação irritante, dor no local da aplicação, custo, mão de obra especializada. Via intravenosa: fármaco administrado diretamente na corrente sanguínea. • Vantagens: não sofre absorção, não sofre metabolismo de primeira passagem, permite administração de grandes volumes, permite administração de substâncias irritantes para o TGI, promove efeito imediato (bom para emergências medicas), seguro para fármacos com margem de segurança estreita; • Desvantagens: reações anafiláticas, possibilidade de embolia, introdução de bactérias para o meio interno, via menos segura (pacientes devem ser monitorados), maior custo, pode causar dor. Via subcutânea: fármaco administrado no tecido subcutâneo. • Vantagens: fármaco absorvido lentamente (efeito prolongado), fármacos depositados em cápsulas subcutâneas para ação contínua e duradoura (semanas ou meses), evita contato com TGI, não sofre efeito de primeira passagem; • Desvantagens: administração de pequenos volumes, dor, risco potencial de lesão tissular. Via tópica: → MEMBRANAS MUCOSAS: orofaringe, nariz, olhos, vagina. Promove absorção rápida e tem efeito principal Aula 1 3 no local da aplicação. Pode ser utilizada, também, para uso sistêmico. .→ VIA CUTÂNEA: é de difícil penetração, já que o fármaco deve atravessar a pele íntegra. A absorção depende da área da superfície aplicada, da lipossolubilidade do fármaco (epiderme é uma barreira lipídica), do estado de hidratação da pele). *A derme é mais permeável. *Pele irritada, queimada ou exposta = maior absorção. Via transdérmica: uso terapêutico sistêmico de adesivos, que permite a liberação lenta do fármaco (Ex: estrógeno, testosterona, fentanil, nicotina). Via inalatória: permite a obtenção de efeitos rápidos locais ou sistêmicos. A grande área de absorção e o fluxo sanguíneo levam a ajustes rápidos de concentração plasmática. Promove o aumento da concentração local e a diminuição dos efeitos adversos sistêmicos (Ex: glicocorticoides e broncodilatadores). TODAS AS VIAS DE ADMINISTRAÇÃO INFLUENCIAM A BIODISPONIBILIDADE DE UM FÁRMACO! Aula 2 1 Farmacologia O fármaco está sempre interagindo com o organismo (via de mão dupla). Primeiro, ele é administrado no organismo. Depois de ser absorvido, o fármaco vai para o fígado. Após chegar até a VCI, é, então, distribuído pelo corpo por meio da corrente sanguínea. Vias de administração Vias de administração: intramuscular, intravenosa, transdermal, por inalação e oral; em todas elas temos o movimento do fármaco até a corrente sanguínea. *A ÚNICA VIA EM QUE NÃO OCORRE ABSORÇÃO É A INTRAVENOSA! → As principais vias intramusculares são os mm. glúteo médio, glúteo máximo, deltoide. Por possuírem baixo fluxo sanguíneo, os mm. fazem com que os fármacos se tornem reservatórios teciduais. Efeito de primeira passagem: está relacionado à via oral; o fármaco é metabolizado antes de ser absorvido. → Ciclo enterohepático: “conversa” entre intestino e fígado. ▪ A parte metabolizada é excretada pelo intestino e a parte que cai na circulação sistêmica vai para o plasma sanguíneo. Etapas de disponibilização do fármaco Etapas da interação fármaco-organismo: o fármaco deve passar pelas seguintes etapas para ser disponibilizado. 1. Absorção: passagem do fármaco de seu local de administração até o plasma sanguíneo; influenciada pela via de administração e pela constituição do organismo do indivíduo. ➢ Fármacos devem atravessar as membranas celulares. Isso faz com que a absorção dependa das características físico-químicas da membrana celular e dos fármacos. ➢ Fatores que influenciam a absorção = tamanho e forma da molécula, grau de ionização, solubilidade lipídica, ligação com proteínas teciduais. ➢ Para atravessar a membrana plasmática o fármaco deve ser lipossolúvel e apolar. Proteínas carreadoras levam os fármacos polares para o interior da célula. Como o fármaco atravessa as membranas? → DIFUSÃO PASSIVA: predomina no transporte transmembrana; travessia pela membrana, que acontece sem gasto de energia e que obedece a um gradiente de concentração. A passagem através dos lipídios da membrana é realizada por não-eletrólitos (ausência de carga). ▪ Fatores que influenciam a travessia da membrana pelos fármacos na difusão passiva: 1 - Peso molecular; 2 - Lipossolubilidade (coeficiente de partição lipídeo/água): quanto maior a lipossolubilidade, maior a difusibilidade pela membrana plasmática; Coeficiente de partição lipídeo/água: C = C lip/C água 3 - Grau de ionização (pKa do fármaco): pH no qual o equilíbrio entre a porção ionizada e a porção não ionizada do fármaco é perfeita; somente moléculas não ionizadassão lipossolúveis e conseguem atravessar a membrana plasmática. AQUI TEMOS O pH INFLUENCIANDO NA TRAVESSIA DOS FÁRMACOS! *A distribuição transmembrana depende do pKa e do gradiente de pH transmembrana. *Fármacos que são básicos trabalham melhor em locais que são básicos. O mesmo é válido para os fármacos ácidos. *A maioria dos fármacos são ácidos ou básicos fracos. Isso faz com que eles se ionizem quando em contato com a água do corpo. → DIFUSÃO FACILITADA: proteínas carreadoras ajudam no transporte; obedece a um gradiente de concentração e não requer gasto de energia para que aconteça. Substâncias insolúveis em lipídeos + proteínas seletivas para o substrato → TRANSPORTE ATIVO PRIMÁRIO: acontece contra o gradiente de concentração e requer energia/ATP para que aconteça. Esses transportadores têm papel importante na absorção, distribuição e excreção de fármacos. Aqui, os fármacos podem atuar em alguns transportadores. → TRANSPORTE ATIVO SECUNDÁRIO OU COTRANSPORTE: fármaco usa a energia do transporte de uma outra molécula para percorrer o seu caminho. Aula 2 2 Esse tipo de transporte acontece contra um gradiente de concentração. ▪ Simporte: transporta o substrato na mesma direção. ▪ Antiporte: desloca o substrato em direção oposta. → DIFUSÃO POR POROS/TRANSPORTE PARACELULAR: necessidade de molécula de pequeno tamanho, portanto ocorre seletividade pelo tamanho da molécula (proteínas de baixo peso molecular). Travessia por meio de espaços existentes entre células endoteliais, as junções comunicantes (“filtração entre as células”). Importante meio de penetração para fármacos insolúveis em lipídios + presença de canais aquosos da membrana (aquaporinas) → TRANSPORTE TRANSCELULAR: acontece de célula para célula, entre as células. → PINOCITOSE, FAGOCITOSE: absorção de compostos de alto peso molecular. *Principal local de absorção de fármacos no TGI = intestino (grande superfície de absorção + presença de microvilosidades). 2. Distribuição: é muito influenciada pela travessia do fármaco entre as membranas. A distribuição acontece para que o fármaco atinja outras regiões do organismo até que chegue em seu local de ação. *Fígado, rim e coração são os locais mais perfundidos do corpo. ➢ Compartimentos do corpo que o fármaco tem que perfundir: plasma sanguíneo (5% do compartimento líquido do corpo ou 3L), líquido intersticial (15% ou 11L), líquido intracelular (35% ou 28L), água transcelular (locais onde existe um grupo de células envolvendo uma cavidade com líquido – ex: líquido sinovial, líquido cerebroespinal, líquido peritoneal; 2,5%), gordura. ➢ O equilíbrio de distribuição entre os compartimentos depende da permeabilidade através das barreiras teciduais, da ligação dentro dos compartimentos, do grau de ionização e da partição do lipídeo. ▪ Substâncias insolúveis em lipídeos ficam no plasma e no líquido intersticial, ou seja, não penetra na BHE. ▪ Substâncias lipossolúveis alcançam todos os compartimentos e podem se acumular no tecido adiposo. Volume de distribuição (Vd) = C administrada/C no plasma ➢ Fatores que influenciam a distribuição de um fármaco: via de administração, propriedades físico-químicas do fármaco, gradientes eletroquímicos e pH, DC/fluxo sanguíneo/volume tecidual determinando a taxa de liberação e quantidade potencial de fármaco distribuída para os tecidos, características anatômicas das membranas, ligação às proteínas plasmáticas, reservatórios teciduais. ➢ Fatores que interferem na distribuição de um fármaco: ▪ Barreira hematoencefálica (BHE): características singulares das células endoteliais dos capilares encefálicos e das células da glia compõem a BHE. A travessia da BHE ocorre por difusão passiva. Somente drogas com alta lipossolubilidade atravessam a BHE. → O endotélio do SNC é ocluso, extremamente unido e de baixa porosidade e isso faz com que os fármacos não consigam atravessá-lo. Só penetram no SNC fármacos apolares, lipossolúveis e de reduzido tamanho molecular. *A BHE não existe em alguns pontos do SNC = ZONA DE GATILHO (É PERMEÁVEL!). ▪ Barreira placentária: promove equilíbrio entre substâncias que saem do sangue da mãe e chegam até no sangue do feto. Fármacos penetram a barreira placentária, em sua maioria, por difusão passiva. → Absorção limitada de alguns fármacos hidrossolúveis. → Fármacos altamente lipofílicos e pequenos têm rápida distribuição entre a mãe e o feto. *Melhor dizer que acontece/existe uma TRANSFERÊNCIA PLACENTÁRIA. 3. Biotransformação/metabolização: fígado. 4. Excreção/eliminação: pulmão, leite materno, bile, fezes e rim (principal). *As etapas 2, 3 e 4 acontecem praticamente de maneira simultânea. Biodisponibilidade Biodisponibilidade: porção do fármaco que consegue alcançar a circulação sanguínea. Depende da distribuição do fármaco, da via de administração, da forma farmacêutica e do metabolismo de primeira passagem. Biodisponibilidade = (ASC oral/ASC injetada) x 100 *Na via intravenosa há 100% de biodisponibilidade. *Na via oral acontece o metabolismo de 1ª passagem. Concentração do fármaco x tempo: via intravenosa > via intramuscular > via subcutânea > via oral Aula 2 3 Todo fármaco possui uma concentração mínima que deve atingir para exercer seu efeito terapêutico, farmacológico. Abaixo dessa concentração acontece a subterapia, ou seja, o fármaco não possui efeito algum no organismo em que foi ministrado. Todo fármaco possui uma concentração máxima que após ser atingida faz com que ele exerça efeito tóxico no organismo. Janela terapêutica = faixa de concentração existente entre a concentração máxima e a concentração mínima do fármaco. Interação farmacológica Nos mecanismos de interação farmacológica, dois fármacos que se ligam à mesma proteína plasmática competem entre si. Um desses fármacos fica na sua forma livre - tem seu efeito farmacológico aumentado, está ativo - e o outro fica ligado na proteína - tem seu efeito diminuído. Droga + proteína ↔ Complexo droga-protéina NA INTERAÇÃO FARMACOLÓGICA UMA DAS DROGAS TEM MAIOR EFEITO, É MAIS POTENTE! *A albumina, uma das mais importantes proteínas plasmáticas, apresenta locais na onde os fármacos podem se ligar. O fármaco ligado na proteína não está livre para exercer seu efeito, ou seja, ele está armazenado como reserva. Reservatórios dos fármacos Reservatórios teciduais: alguns fármacos se acumulam em tecidos específicos. 1. Ligação reversível: no tecido onde acontece esse tipo de ligação, temos um reservatório do fármaco que prolonga a duração de sua ação nesse mesmo local ou em locais distantes. 2. Tecido adiposo: reservatório de fármacos lipossolúveis. ➢ Redistribuição de fármacos lipossolúveis: fármaco primeiro chega nos órgãos mais perfundidos e depois chega até os menos perfundidos. → Fase inicial: primeiros minutos; fármaco chegando nos órgãos mais perfundidos. → Fase secundária: minutos a horas; fármacos chegando nos órgãos menos perfundidos por meio da redistribuição. *O fármaco armazenado na gordura é redistribuído, em momentos aleatórios, quando essa gordura é metabolizada. 3. Ossos: promovem a liberação lenta do fármaco. Aula 3 1 Farmacologia Metabolismo ou biotransformação O metabolismo é composto por mecanismos enzimáticos complexos cujo objetivo são inativar compostos endógenos ativos (hormônios, enzimas, neurotransmissores etc) e eliminar substâncias estranhas ao organismo (xenobióticos). Tem como objetivo tornar o fármaco mais hidrossolúvel para que ele seja eliminado pela urina. *Principal local de excreção no organismo = urina *Principal local de metabolização no organismo = fígado Biotransformação Na biotransformação, acontece o términodos efeitos dos fármacos, tornando-os aptos a serem excretados, principalmente, via urinária. Geralmente, não é um evento único ou fechado. Estruturas responsáveis: fígado, plasma, rins, pulmões, paredes intestinais e secreções digestivas. → O fármaco biotransformado é chamado de metabólito. Ele tem sua estrutura química modificada. O metabólito pode ser ativo ou inativo. O inativo tem sua atividade biológica atenuada e é o produto final da biotransformação, uma vez que é ele quem será excretado. O ativo é farmacologicamente ativado, sendo, portanto, redistribuído pelo organismo. Exemplo fármaco → metabólito: Ácido acetilsalicílico → Ácido salicílico Existe a possibilidade de se introduzir no organismo fármacos inativos (pró-fármacos), que após serem metabolizados passam a exercer sua ação principal. Exemplo pró-fármaco → fármaco: Prednisona → Prednisolona Reações químicas da Biotransformação Reações de fase 1: oxidação, redução e hidrólise. → Na oxidação, a molécula perde elétrons e agrega oxigênio. → Na redução, a molécula ganha elétrons. → Na hidrólise, há entrada de água com posterior quebra da molécula. *A hidrólise não envolve enzimas microssomais e ocorre no plasma, principalmente. Reação de fase 2: conjugação. → Na conjugação, uma molécula do fármaco se liga a uma molécula apolar. *As reações de fase 1 e 2 são mecanismos distintos, portanto não é preciso que uma aconteça para a outra ocorrer. Enzimas: as enzimas atuam nas reações da biotransformação e podem ser encontradas nas membranas celulares e no citosol, sendo denominadas microssomais ou não microssomais. As microssomais são encontradas no retículo endoplasmático liso e as não microssomais, no citosol e na mitocôndrial. As fases da Biotransformação Reações de fase 1: tornam a molécula + polar. Os grupos reativos adicionados podem tornar a molécula apta a ser excretada, apesar de ser polar, ou reagem com outras moléculas do organismo fazendo com que o metabólito se torne tóxico. → Participação de enzimas relacionadas a quebra. → Grupos reativos produzidos: OH, COOH, NH2. → Serão gerados compostos ativos e inativos. Ex: oxidação/redução (via sistema 450, geralmente). Ácido acetilsalicílico → Ácido salicílico Reações de fase 2: ocorrem principalmente no fígado. A maioria das reações apresenta conjugação com ácido glicurônico. Pode ocorrer metilação e conjungação com sulfatos, também. Por meio dessas reações, há formação de produtos mais hidrofílicos, que serão excretados na urina ou na bile. Aula 3 2 → Participação de enzimas relacionadas a síntese. Ácido acetilsalicílico → Ácido salicílico → Salicilato glicuronídeo Metabolismo do álcool Álcool –-ADH→ acetaldeído ---aldeído desidrogenase → CO2 + H2O Efeito dissulfiram: bloqueio da aldeído desidrogenase, faz com que o alcetaldeído se acumule no organismo. Essa substância é tóxica e provoca vasodilatação, diminuição da PA, taquicardia e cefaleia. Metabolização do paracetamol Participação de diferentes vias metabólicas. VIA PRINCIPAL: conjugação do paracetamol com a glutationa, gerando o composto paracetamol- glutationa, que é excretado. VIAS SECUNDÁRIAS: reações de fase 1 e de fase 2. ➢ Reação de fase 1 = oxidação do paracetamol via P450, gerando metabólito ativo denominado NAPQI (tóxico). ➢ Reação de fase 2 = necessária para converter o composto tóxico em NAPQI-glutationa, via conjugação (detoxificação). Glicuronização → sulfatação → conjugação com glutationa → Paracetamol + álcool ou dose tóxica de paracetamol lea ao aumento da concentração de NAPQI. O que fazer? Administrar acetilcisteína para aumentar a produção de glutationa. Modificação da atividade de enzimas metabolizadoras A inibição ou a indução de determinada enzima pode ser provocada pelo próprio fármaco, por outro fármaco ou por componentes da dieta. Indutores: induzem a atividade de enzimas, principalmente por aumento da expressão gênica; aumentam a velocidade de excreção e diminuem a disponibilidade do fármaco. Aqui, o aumento do metabolismo diminui a ação do fármaco. ✓ Na presença de um indutor temos: aumento da atividade da enzima CYP, aumento da velocidade do metabolismo do substrato, aumento da velocidade de excreção e diminuição da concentração de substrato no sangue. Inibidores: inibem a atividade de enzimas, por meio de ligação competitiva (compostos não substratos) ou não competitiva (formação de complexo estável); menor excreção do fármaco e aumento da biodisponibilidade. Aqui, a diminuição do metabolismo aumenta a ação do fármaco. ✓ Na presença de um inibidor temos: diminuição da atividade da enzima, diminuição da velocidade do metabolismo do substrato, diminuição da velocidade de excreção e aumento da concentração do substrato no sangue. Meia vida plasmática (T ½) ou tempo de meia-vida Tempo necessário para que a quantidade plasmática original do fármaco seja reduzida à metade. *Quanto maior o T ½, maior será a biodisponibilidade do fármaco para excreção ou metabolização. Excreção 1. Pulmonar: excreção de gases e substâncias voláteis; halitose induzida. 2. Via leite materno: possui risco para o lactente; lipossolubilidade, superdosagem relativa. 3. Vias biliar e fecal: excreção de substâncias aniônicas e catiônicas com alto peso molecular. → A reabsorção no intestino aumenta a duração/tempo de atução do fármaco no organismo. → Ciclo entero-hepático: fígado metaboliza a substância e depois a secreta. A substância é, então, biotransformada no intestino. 4. Renal: principal via de excreção dos fármacos. A velocidade de eliminação varia de um fármaco para outro. *Idosos e pacientes com deficiências renais têm deficiência de eliminação do fármaco. ➢ Filtração glomerular: processo passivo que tem a participação de fármacos com massa molar menor que 20.000 de pequeno tamanho. Na FG, acontece 20% da filtração do fármaco livre. A lipossolubilidade e o pH do fármaco NÃO interferem na FG. ➢ Secreção tubular ativa: processo ativo que acontece no túbulo proximal que tem a participação de moléculas maiores e onde acontece depuração de parte do fármaco ligado. *Existem transportadores inespecíficos para ácidos e bases orgânicas. → Principal mecanismo para eliminação de fármacos. Aula 3 3 ➢ Reabsorção: difusão passiva que acontece pelo epitélio. → Reabsorção do fármaco lipofílico e eliminação do fármaco hidrofílico, que não consegue se difundir pelas membranas lipídicas. ➢ Secreção tubular e reabsorção tubular: processo onde há alta reabsorção de fármacos lipofílicos. → A alteração do pH da urina modifica a reabsorção fazendo com que o fármaco não consiga se difundir pelas membranas lipídicas. ▪ Fármacos ácidos são excretados em urina básica e fármacos básicos são excretados em urina ácida. Depuração ou clearance renal: volume de plasma que sofreu remoção completa do fármaco em determinado tempo, varia de acordo com o paciente ou características físico-químicas do fármaco. CL = U x V/P (U: [ ] urinária da droga, V: V de urina produzido/min, P: [ ] plasmática da droga). Ordens cinéticas: o parâmetro farmacocinético é importante para o cálculo da frequência de administração do fármaco. → Ordem zero: T ½ não é constante; quantidade constante do fármaco que é eliminado por um tempo que é constante. A taxa de eliminação não é proporcional a concentração plasmática do fármaco! → Primeira ordem: T ½ constante e imutável, que se repete; frações iguais do fármaco sendo removidas por um tempo que é constante. Taxa de eliminação é proporcional a concentração plasmática do fármaco! Análise farmacocinética Parâmetros farmacocinéticos: 1. Biodisponibilidade; 2. Concentração máxima; 3.Tempo máximo; 4. Volume de distribuição; 5. Tempo de meia-vida; 6. Depuração ou clearence; 7. Área sobre a curva (ASC). Sistema do citocromo P450 (CYP) O sistema P450 é um conjunto de enzimas microssomais, que oxida substâncias por meio da introdução de moléculas de oxigênio e que atua na metabolização da maioria dos fármacos. A substância final produzida é mais reativa e polar. Nesse sistema, o fármaco sofre um ciclo de transferência de elétrons que gera um produto final contendo uma molécula de oxigênio. → Substância reativa polar pode ser excretada, podendo exercer seu efeito tóxico ou ser redistribuída. → Heme-proteínas > reagem com oxigênio → Os seus subtipos, ou seja, as enzimas presentes no sistema, variam de pessoa para pessoa (polimorfismo genético). Interação medicamentosa: existem fármacos que induzem ou que diminuem a atuação de outro fármaco. Indução > maior metabolização do fármaco > diminuição do efeito farmacológico do substrato da enzima. O contrário é verdadeiro. *Nomeação das enzimas pertencentes a família CYP = CYPnúmeroletra. *O sistema P450 está relacionado a efeitos tóxicos de determinados fármacos. Dosagens Aula 4 1 Farmacologia Depois do acontecimento de todas as etapas da farmacocinética, uma concentração de fármaco chega nas imediações de seu receptor, ou seja, em seu local de ação. → Interação entre fármacos e alvos de ação/receptores= interação química. Farmacodinâmica: a divisão da Farmacologia que estuda as interações fundamentais ou moleculares entre fármacos e constituintes do corpo, as quais por uma série de eventos, resultam numa resposta farmacológica. Vem do grego “pharmakon” (remédio) e “dýnamis” (forças). No final do século XIX, surgiu a ideia de interação organismo-fármaco. Pela primeira vez, o termo “componentes macromoleculares funcionais” foi usado se referindo ao que hoje chamamos de RECEPTOR! Alvos de ação: receptores, enzimas, proteínas transportadoras, ácidos nucleicos. *Existem fármacos que não atuam em alvos moleculares, tendo sua ação em ambientes químicos, modificando-os. Receptores Receptor: estrutura de natureza proteica que reconhece componentes endógenos ou exógenos; desencadeia respostas no organismo; local onde o fármaco interage para gerar um efeito. → Tipos de interações químicas: covalente, iônica (eletrostática), ligação de hidrogênio, dipolo-dipolo, interações hidrofóbicas (Van der Waals). ➢ A ligação covalente é a única interação que não pode ser desfeita, sendo a mais forte de todas. Por isso, ela pode ser prejudicial ao organismo. Já as interações hidrofóbicas são as mais fracas. *Um composto pode ser capaz de realizar diversos tipos de interações ao mesmo tempo. → Duração de ação: período de interação fármaco- receptor. Algumas vezes, a ação pode permanecer após o fármaco ter se dissociado (transdução de sinal). Outras vezes, o complexo fármaco-receptor deve ser destruído para que o efeito cesse no organismo. → Propriedades: 1. Afinidade: determina se o fármaco tem capacidade de interagir ou não com o receptor. ▪ Tem afinidade química, tem interação; não tem afinidade química, não tem interação! 2. Especificidade: capacidade do fármaco de se ligar ao menor número de sítios. ▪ Quanto mais específico é o fármaco, maior é o número de ligações em seu sítio específico! ▪ Quanto mais específico, melhor é o efeito e maior é diminuição de efeitos adversos! 3. Saturabilidade: quantidade máxima de fármaco que ocupa seu receptor fazendo com que um efeito máximo seja atingido. 4. Especificidade da resposta celular: diferentes respostas de acordo com o tecido em que ocorre a interação receptor-fármaco. 5. Seletividade: fármacos com capacidade de produzir o mínimo de efeitos adversos. *Afinidade, seletividade e especificidade se complementam. Quanto maior a afinidade e a especificidade de um fármaco, mais seletivo ele é. → Fatores que interferem na interação fármaco- receptor: hidrofobicidade, pKa do fármaco, estereoquímica do fármaco (presença de enantiômeros). ✓ Os fármacos, geralmente, são descritos pelo seu efeito predominante. Isso não quer dizer que ele não possua outros sítios de atuação. Quando a dose desse fármaco é aumentada, ele pode atuar em outros sistemas do corpo, provocando efeitos adversos. Trabalhar dentro de uma dose adequada diminui o acontecimento de efeitos adversos. Famílias de receptores O tipo de resposta se relaciona com o tipo de ligação que acontece entre o fármaco e o receptor. *Qualquer substância que seja reconhecida por um receptor no organismo gera resposta celular! 1. Canais iônicos controlados por ligantes ou receptores ionotrópicos: estrutura química simples; canal iônico proteico com abertura ativa ou fechada. Quando está ativa permite o influxo ou o efluxo de íons. Aula 4 2 → Transdução (segundos mensageiros): influxo ou efluxo de íons. → Resposta: extremamente rápida, ocorre em segundos. → Exemplos: receptor GABAa, receptor nicotínico, receptor NMDA. 2. Receptor acoplado a proteína G ou receptor metabotrópico: estrutura grande; complemento com a proteína G acontece no interior da célula. Quando o receptor está ativado, ela interage com a proteína G levando a dissociação das suas subunidades. → Transdução: adenilato ciclase, fosfolipase C, canais iônicos controlados por fosforilação → Resposta: rápida; excitatória ou inibitória. Depende do tipo de tecido, do fármaco e de resposta celular. • Gαs: estimula a adenilato ciclase aumentando a formação de AMP cíclico (AMPc) – segundo mensageiro da célula, com ativação da proteína quinase A (PKA) = amplificação do sinal. EFEITO EXCITATÓRIO! Ex: receptores β-adrenérgicos; • Gαi: inibe a adenilato ciclase diminuindo a quantidade formação de AMPc, tendo reduzida a ativação da PKA = diminuição do feito que começou por outros mecanismos. EFEITO INIBITÓRIO! Ex: receptores α2-adrenérgicos, receptor opioide; • Gαq: ativa a fosfolipase C, aumentando a produção de outros segundos mensageiros como inositol trifosfato (IP3) e diacilglicerol (DAG). O DAG ativa proteína quinase C (PKC). EFEITO EXCITATÓRIO! Ex: receptores serotoninérgicos (5- HT2). 3. Receptores ligados à quinase ou receptor de tirosina quinase: possui duas porções, uma externa e uma interna. → Transdução: dimerização do receptor seguida de auto fosforilação dos resíduos de tirosina, permitindo interações entre proteínas intracelulares (cascata de reações). → Resposta: lenta, ocorre dentro de horas. → Exemplos: receptor de insulina, receptor de citocina, receptor de EGF. 4. Receptor nuclear: aparece em menor quantidade; poucos são os fármacos que conseguem chegar no interior da célula; localizados no citosol ou no núcleo → Transdução: repressão ou ativação da transcrição gênica. → Resposta: muito lenta, ocorre dentro de horas ou dias; transcrição gênica demora para acontecer. → Exemplos: receptor de esteroides, receptor retinóide. Transdução de sinais 1. Receptor metabotrópico: IMPORTANTE! - Fármaco interage com o receptor acoplado a proteína G; - Ativação da subunidade Gαs e da adenilato ciclase; - Conversão de ATP em AMPc; - Ativação da pKa pelo aumento da [AMPc]; - Fosforilação de uma série de alvos dentro da célula; - RESPOSTA CELULAR! → Exemplos: broncodilatadores (ação excitatória), receptor de opioides (ação inibitória) 2. Receptor tirosina quinase: - Ligação fármaco-receptor; - Dimerização; - Autofosforilação dos resíduos de tirosina; - Cascata de fosforilações de proteínas intracelulares; - Transcrição gênica; - RESPOSTA CELULAR! 3. Receptor nuclear: - Fármaco atravessa a membrana plasmática e encontra o receptor dentro da célula;- Complexo migra para o núcleo; - Ativação ou inativação da transcrição gênica; - RESPOSTA CELULAR! Ação dos fármacos Atividade intrínseca: capacidade de formar um complexo fármaco-receptor que promove resposta celular. → Pode ser definida numericamente, variando de 0 a 1. • Fármacos 0 não induzem efeito; interagem quimicamente com o receptor, mas não provocam efeito = antagonistas. • Fármacos 1 induzem efeito máximo = agonistas plenos ou totais. *Todos os transmissores endógenos possuem atividade intrínseca 1, seja ela excitatória ou inibitória. Modelo de 2 estados: receptores coexistem em 2 diferentes estados de conformação no organismo; classifica os fármacos em agonistas ou antagonistas. • Inativo ou em repouso; • Ativo. Aula 4 3 Fármacos agonistas: se ligam ao receptor, ativando-o. → Agonistas totais ou plenos possuem atividade intrínseca 1 (respostas celulares máximas) e alta eficácia; agonistas parciais possuem atividade intrínseca entre 0 e 1 (respostas celulares submáximas) e eficácia intermediária. ➢ Eficácia: capacidade de induzir resultado, de se chegar à resposta máxima; resposta terapêutica potencial máxima que o fármaco pode induzir. ➢ Potência: intensidade do resultado, [fármaco] necessária para se chegar à resposta máxima; quantidade de fármaco necessária para produzir um efeito. Fármacos antagonistas: ocupam o receptor, mas não produzem resposta farmacológica. São bloqueadores e ocupam o receptor, não deixando o fármaco agonista agir ali (NÃO OCORRE EFEITO!). → Antagonistas competitivos atuam no mesmo receptor que o agonista, sendo reversíveis ou irreversíveis. Antagonistas não competitivos se ligam em outra região do receptor, mudando sua conformação química e impedindo o acontecimento de resposta farmacológica, já que o receptor não reconhece o agonista. ➢ Antagonista competitivo reversível: aumento da [agonista] desloca o antagonista. ➢ Antagonista competitivo irreversível: aumento da [agonista] não desloca o antagonista. Curva dose-resposta Dose: quantidade de fármaco necessária para a produção de resposta farmacológica. Curva dose-resposta: representação gráfica da expressão matemática da relação entre a dose de um princípio farmacologicamente ativo e o seu efeito. Permite prever intensidade de resposta do fármaco; definição do índice terapêutico. → Informações farmacodinâmicas fornecidas pela curva: dose efetiva (DE50), potência relativa e efeito máximo. Índice terapêutico Se relaciona com a segurança do fármaco e compara as doses efetivas com as doses tóxicas. IT = DT50/DE50 • IT > 10: seguro; • IT 5-10: segurança intermediária; necessidade de monitoramento; • IT < 5: não seguro. Dessensibilização e tolerância → Produzem redução do efeito farmacológico, diminuem a responsividade do fármaco. Provocam alterações químicas nos receptores, translocação do receptor, depleção de mediadores, degradação metabólica ou adaptação fisiológica. Dessensibilização ou taquifilaxia: diminuição gradativa do efeito do fármaco; se desenvolve rapidamente (horas). Acontece quando o fármaco é administrado de maneira contínua e repetida. Tolerância: leva dias ou semanas para se desenvolver. 1. Alteração em receptores: ionotrópicos = alteração conformacional; acoplados a proteína G = fosforilação. 2. Translocação de receptores: exposição prolongada aos agonistas internaliza os receptores. 3. Depleção de mediadores: estoque de mediadores é esgotado temporariamente. 4. Metabolismo do fármaco: aumento da metabolização diminui a quantidade de fármaco que vai para o sítio ativo; induzido por administração de doses repetidas. 5. Adaptação fisiológica: acontecimento de compensação homeostática. Aula 5 1 Farmacologia Fisiologia do SN O Sistema Nervoso (SN) está dividido em Central (SNC) e Periférico (SNP). O SNP é subdividido em aferente, porção que leva resposta ao SNC, e eferente, porção que traz resposta do SNC. O SNP, em sua porção eferente, possui um componente visceral, o Sistema Nervoso Autônomo (SNA). O SNA ainda pode ser separado em involuntário (SNAI) e somático (SNAs). O involuntário é regulado inconscientemente e atua no controle das glândulas e nos músculos estriado cardíaco e liso. Já o somático, tem controle voluntário e controla a musculatura estriada-esquelética, regulando ações corporais a partir da ativação da musculatura estriada esquelética. Por fim, o SNA se reparte em simpático (SNAS), parassimpático (SNAP) e entérico (SNAE). Esse último promove ações intestinais independentes do SNC e do SNAS e SNAP, ou seja, tem ação autorregulada, fazendo com que o intestino funcione sozinho (peristaltismos e liberação de substâncias). Sistema Nervoso Autônomo (SNA) O SNA também é chamado de vegetativo ou involuntário. Ele controla a estabilidade do meio interno do organismo porque inerva a maioria dos tecidos, promovendo homeostasia (equilíbrio dinâmico). → SNAS: também denominado toracolombar (origem das fibras nervosas); adrenérgico e catabólico; prepara o corpo para agir; acontece de maneira basal e não só em situações de estresse luta ou fuga; aumento da FC, aumento do FR (influxo de oxigênio), vasodilatação, direcionamento sanguíneo para mm. estriados esqueléticos (sg chega na musculatura permitindo que o corpo possa agir rapidamente, energia pra contração muscular), vasoconstrição de vasos de vísceras, pele e mucosa (direcionamento do sg para os mm.). → SNAP: também denominado craniossacral; muito mais ativado em situações de estresse; conserva energia e mantém o corpo em repouso; restauração de recursos corporais; anabólico; colinérgico. No SNA, observa-se a presença de 2 neurônios: o neurônio pré-ganglionar e o neurônio pós-ganglionar. Ambos fazem sinapse nos gânglios. Assim, verifica-se a existência de fibras pré-ganglionares e pós- ganglionares. Duas fendas sinápticas participam do envio da mensagem no SNA. Uma delas está entre o neurônio pré-ganglionar e o pós-ganglionar e a outra está entre o neurônio pós-ganglionar e o tecido-alvo. Conforme essa distribuição, surge a terminologia de neurônio pré- sináptico e neurônio pós-sináptico. → A sinapse interliga os neurônios pré e pós- ganglionares no gânglio. 1 sinapse no gânglio + 1 sinapse no órgão , ▪ SNAs: fibra muscular única sai do SNC e vai para os mm.. Caminho da mensagem: neurônio motor sai do SNC e vai inverar mm. estriados esqueléticos → liberação de ACh atuando em receptor ionotrópico nicotínico. ▪ SNAS: fibras pré-ganglionares são curtas e pós- ganglionares são longas. Caminho da mensagem 1: sinapse do neurônio pré- ganglionar, com liberação de Acetilconina (Ach) + receptor nicotínico (ionotrópico) → sinapse do neurônio pós-ganglionar, que libera Norepinefrina ou Aula 5 2 Noradrenalina + receptor alfa e beta adrenérgicos (metabotrópicos). Caminho da mensagem 2: Epinefrina atua como hormônio; liberação de Epinefrina + receptor nicotínico → estímulo da gl. adrenal a secretar 80% de adrenalina e 20% de noradrenalina, depositando esses compostos diretamente na corrente sanguínea. *A ativação simpática deve ser interligada: ativação dos receptores simpáticos + liberação de epinefrina e norepinefrina (como hormônios) *Gl. adrenal = funcionando como gânglio modificado. ▪ SNAP: fibras pré-ganglionares são longas e pós- ganglionares são curtas; sinapse acontece muito próxima do tecido alvo. Caminho da mensagem: sinapse do neurônio pré- ganglionar com liberação de ACh + receptor nicotínico → sinapse do neurônio pós-ganglionar com liberação de ACh + receptores alfa e beta muscarínicos (metabotrópicos). EXCEÇÃO As gll. sudoríparas só possuem inervação simpática. Elas funcionam sob influência de Ach e nãode norepinefrina. A Ach atua em seu receptor muscarínico, nesse caso. !! PRINCIPAL NERVO: Vago (NCX). O SNAS Principal NT: norepinefrina ou catecolamina (grupo catecol + grupo amina) liberada nas terminações nervosas simpáticas. !! Todos os fármacos que têm estrutura semelhante à catecolamina são chamados de catecolaminas. Catecolaminas: adrenalina, noradrenalina e dopamina. Noradrenalina: A noradrenalina é proveniente do aminoácido tirosina. A partir de ações enzimáticas (tirosina- hidroxilase) a estrutura molecular da tirosina é alterada, podendo, então, ser captadas pelos neurônios adrenérgicos. Tirosina → DOPA → dopamina (DA; catecolamina precursora da norepinefrina) → norepinefrina Quanto mais norepinefrina é produzida mais sua produção é inibida (feedback negativo). Apenas na adrenal, a enzima fenieltanolamina-n- metiltransferase adiciona grupamento metil na norepinefrina, formando a epinefrina/adrenalina. !! Catecolaminas endógenas dopamina (DA), norepinefrina (NE) e epinefrina (EPI) compartilham a mesma via. Síntese, recaptação e metabolização da norepinefrina: Uma vez sintetizada, a norepinefrina tem que ser secretada e recaptada. O transportador VMAT (transportador vesicular de monoaminas) introduz dopamina na vesícula, onde ela é metabolizada em norepinefrina. Assim, a norepinefrina fica armazena na vesícula do neurônio. A norepinefrina pode ser disponibilizada na fenda sináptica para os receptores alfa e beta adrenérgicos. Depois de liberada, ela altera sua conformação na proteína-G, se desliga do receptor e retorna para a fenda sináptica. A norepinefrina é removida da fenda por meio de mecanismos que fazem sua recaptação, tendo seu efeito farmacológico cessado. Depois de ser recaptada, ela é reinserida nas vesículas pelo transportador VMAT. A recaptação acontece por transporte ativo secundário (cotransporte) pelos NET. Parte da norepinefrina será metabolizada pela enzima MAO, que a quebra em metabólitos passíveis de serem excretados pela urina. A norepinefrina pode sofrer, também, captação extraneuronal. Esse tipo de captação é feito por transportadores do tipo EMT (transportador extraneuronal de NE). Ele capta o restante de NE que ficou na fenda (20-25%). No interior do tecido a NE, é metabolizada pela enzima COMT. A enzima COMT quebran a NE em metabólitos passíveis de serem excretados pela urina. A enzima PNMT presente no citoplasma da adrenal, transforma noradrenalina em adrenalina e a adrenalina é reintroduzida na vesícula via VMAT. → VMAT é responsável por introduzir compostos interior das vesículas. → Transportadores NET (transportador de NE) promovem a recaptação de NE, levando-a novamente ao neurônio pré-sináptico. RECICLAGEM DE NE! Cerca de 75-80% da NE consegue ser recaptada. → É o receptor alfa 2 pré-sináptico, que inibe a liberação da norepinefrina quando ela está em grande concentração na fenda. REGULAÇÃO DA LIBERAÇÃO DE NOREPINEFRINA! → MAO está presente na mitocôndria dos neurônios pré-sinápticos. Subtipos: MAO-A (mais presente no SNC) e MAO-B. Alguns fármacos são melhor metabolizados por MAO-A e outros, por MAO-B. !! A cocaína impede o funcionamento do NET, aumentando os efeitos da NE na fenda, tornando os efeitos de ativação do SNAS mais intensos. Efeitos farmacológicos do SNAS: midríase, relaxamento do m. ciliar, aumento da FC, aumento da contratilidade Aula 5 3 cardíaca, dilatação de vasos dos mm. esqueléticos, constrição de vasos da pele, mucosa e vísceras, broncodilatação, indução de glicogenólise pelo fígado. Como uma atuação simpática pode ser antagônica? Depende dos tipos de receptores! - Alfa-1 está principalmente associado com vasoconstrição de pele e mucosa, dilatação pupilar (midríase) e constrição de esfíncteres do TGI e da bexiga. - Alfa-2, presente no neurônio pré-sináptico, está principalmente associado a autorregulação da liberação da norepinefrina. Em alguns locais também promove vasoconstrição. - Beta-1 está principalmente associado ao coração. Há predominância desses receptores no mm. cardíaco. Atua no aumento da contratilidade (ionotropismo) e da FC (cronotropismo). - Beta-2 está principalmente no m. liso bronquiolar, promovendo sua dilatação e seu relaxamento. É receptor de fármacos que promovem broncodilatação em pacientes que apresenta obstrução bronquiolar. Promove dilatação dos vasos sanguíneos dos mm. esquelética e inibe a digestão. - Beta-3 está principalmente no tecido adiposo, onde promove a degradação de lipídeos em ácido graxo e glicerol. Promove relaxamento da bexiga. Predominância dos receptores nos diferentes órgãos: Receptores adrenérgicos: *Epinefrina tem potência maior, conseguindo atuar em receptores beta-2. Enquanto fármacos, a EPI e a NE costumam ser degradadas rapidamente, quando utilizadas V.O., tendo efeito muito rápido e pequeno tempo de meia-vida. PREFERÊNCIA PARA INJETÁVEIS! Farmacologia do SNAS Os fármacos que atuam no SNAS podem ser: 1. Simpatomiméticos (adrenérgicos): mimetizam/imitam a ação simpática. → Atuam nas terminações nervosas pós-ganglionares e nos receptores das estruturas por elas inervadas. 2. Simpatolíticos (anti-adrenérgicos): inibem e impedem a ação simpática; impedem ou antagonizam a ação dos transmissores adrenérgicos sobre os receptores, inibindo efeitos decorrentes da estimulação simpática. Fármacos simpatomiméticos: 1. Agonista de ação direta: se ligam diretamente ao receptor alfa e beta adrenérgico (efeito decorrente da ligação ao receptor); ex → norepinefrina epinefrina, isoproterenol. Afinidade pelos receptores: - Alfa-1 e alfa-2: EPI ≥ NE (afinidades semelhantes, mas EPI é mais potente = maior afinidade). - Beta-1: EPI = NE. - Beta-2: EPI >>> NE (atuação da NE é praticamente desconsiderada). - Beta-3: EPI > NE. Agonistas dos receptores: A) Alfa e beta: EPI e NE (catecolaminas) → Quanto maior a cadeia ligada ao grupamento amina maior será a afinidade por receptores do tipo beta. → O metil ligado ao grupamento amina, na EPI, aumenta a afinidade aos receptores beta. → As hidroxilas deixam a molécula mais hidrossolúvel, impedindo que elas atravessem a BHE facilmente. Substâncias simpaticomiméticas que têm menos hidroxilas são passíveis de atravessar a BHE, pois ficam menos hidrossolúveis e mais lipossolúveis. Como acontecem os efeitos vasculares da adrenalina e da noradrenalina? - Alfa-1 ativado: induz ativação da fosfolipase C e a formação de inositol tri-fosfato, segundo mensageiro Aula 5 4 (IP3). Ocorre ativação da miosina quinase e fosforilação da miosina, que se liga a actina promovendo contração da musculatura lisa (vaso contraído). - Alfa-2: inibe produção de AMPc e miosina é fosforilada, promovendo a contração. - Beta-2: a ativação da adenilato ciclase induz produção de AMPc, promovendo a formação de miosina fostafase e relaxamento da musculatura lisa. Como acontecem os efeitos cardíacos da adrenalina e da noradrenalina? No coração, o receptor beta-1 promove aumento do influxo de cálcio. Esse aumento, promove maior a contração cardíaca, aumenta FC, DC e PA. Como acontecem os efeitos da adrenalina e da noradrenalina nos mm. lisos não vasculares? Como acontecem os efeitos da adrenalina e da noradrenalina nos pulmões? → Ação descongestionante nasal e broncodilatadora. → Adrenalina tem ativação anti-histamínica e grande ativação simpática e, por isso, deve ser usada em choque anafilático. Como acontecem os efeitos da adrenalina e da noradrenalina nas pupilas? A musculatura circular da pupila possui M3 e a radial, alfa-1. Os compostos atuam sobre a musculatura radial da íris, causando dilatação da pupila (midríase). Como acontecem os efeitos da adrenalina e da noradrenalina no metabolismo? O aumento do metabolismo,promove aumento da glicogenólise (beta-2), inibição da secreção de insulina e aumento da liberação de glucagon. Assim, acontece aumento da glicemia. Na lipólise, beta-3 age na disponibilização de ácidos graxos. *Pacientes diabéticos dever ter cautela ao fazerem uso desses fármacos e devem evitar situações de estresse. B) Beta não seletivo → Isoproterenol: por causa de seus efeitos adversos é pouco utilizado, atualmente. É uma catecolamina de efeito beta-2 broncodilatador. Efeitos adversos: aumento da glicose e ativação da beta-1 – arritmia, taquicardia, palpitações. O aumento da FC e da contratilidade leva ao aumento da pressão sistólica (beta-1) e diminuição da pressão diastólica (diminui resistência vascular periférica – beta-2). !! Todo fármaco que tem ação beta-1, se administrados em doses altas, tem risco de promover arritmias. → Dobutamina: agonista principalmente em beta-1, com poucos efeitos sobre beta-2. Aumenta a força de contração cardíaca e a FC. Costuma ser usada para tratamento a curto prazo de ICC e de choque. C) Beta-2: fármacos utilizados para asma e doenças que obstruem as VA superiores; promovem melhora de doenças respiratório que causam obstruções em VA; podem ser utilizados em situações de trabalho de parto. Efeitos adversos: no TGI e na mm. do coração. - Metaprotenerol; Bisolvon complex. - Salbutamol: Aerolin, Aetrotrat, Broncodil; principal componente de bombas para asmáticos; pode ser utilizado V.O., para promover relaxamento uterino, atrasando o trabalho de parto (Ritodrina). - Terbutalina: Bricanyl. Tempo de ação: de 4-6 horas. D) Alfa-1 → Fenilefrina: ação semelhante à da NE, mas é menos potente (maior dose necessária) e possui maior tempo de ação. Principais usos: antigripais (coristina D, Naldecon), descongestionantes nasais (Descongex), colírios (promove midríase) e anestésicos locais (vasoconstrição, S.S. WHITE 100). !! Quando de uso crônico, pode promover vícios nos usuários além de induzir efeitos adversos - alterações de ritmo cardíaco, de FC e PA. → Oximetazolina: desobstrutor nasal (Afrin). E) Alfa-2: É SIMPATOLÍTICO! 2. Agonista de ação indireta: aumenta a concentração de NE na fenda sináptica; ex → tiramina e anfetamina. → Estimulam biossíntese e/ou mediação da liberação do mediador (tiramina e anfetamina); inibem recaptação do mediador (cocaína e andidepressivos tricíclicos); inibem ativação do mediador (inibidores da MAO – antidepressivos, como tranilcipromina, clorgilina e selegina). !! Todos atravessam a BHE, promovendo estimulação do SNC. Aumento do estado de vigília! *Promovem aumento da PA e dilatação bronquiolar. Aula 5 5 *Usuários de IMAO não podem usar fármacos que induzem a produção de NE, como a Tiramina. → Tiramina: não possui uso terapêutico; presente em queijos e vinhos; pacientes usuários de IMAO não podem fazer uso de alimentos e bebidas que possuem tiramina (aumento exagerado da descarga simpática > problemas cardíacos e AVC). → Anfetamina: aumenta os mediadores da norepinefrina; aumenta os efeitos da ativação simpática; atua no SNC como estimulante central; participação em condições emocionais (antidepressivo); estímulo de eventos tromboembólicos. Ao ser captada pelo neurônio pré-sináptico, entra via VMAT na vesícula, expulsando a NE ali presente. A NE sai para a fenda sináptica via NET, aumentando a liberação de NE na fenda. Uma pequena porcentagem da NE é metabolizada pela MAO, no plasma. Derivados: Dexanfetamina, Metilanfetamina, Metilfenidato (Ritalina e Concerta), Fenfluramina e Metilenodioximetanfetamina – MDMA (Ecstasy), Lisdexanfetamina (Venvanse). EVITAR USO ACOMPANHADO DE ÁLCOOL, ENERGÉTICO E INIBIDORES DA MAO! Derivados utilizados para emagrecimento: causam ativação simpática; Anfopramona e Femproporex; efeito de metabolização aumentada (efeito termogênico) + inibição do centro da fome no hipotálamo. → Cocaína: inibe recaptação dos mediadores. *Efeitos adversos: aumento da PA, FC, batimentos etc, psicológicos (utilização crônica). *Usuários podem desenvolver tolerância e provocar vícios. *Uso crônico produz grandes efeitos adversos, principalmente cognitivas. 3. Agonista de ação mista: ação direta (em receptores) e indireta (aumento da liberação de NE na fenda); ex → efedrina. → Efedrina: não é metabolizada pela MAO e pela COMT, tendo efeito bastante prolongado. PODE SER UTILIZADA EM DOPPING! A efedrina causa aumento imediato da PA, dilatação dos bronquíolos e aumento do tônus muscular e é capaz de estimular o SNC. !! Efedrina ativa simpático tanto por indução do aumento da liberação de NE quanto da estimulação dos receptores alfa e beta. *A efedrina é incorporada em diversos agentes termogênicos. Fármacos simpatolíticos: Os fármacos simpatolíticos bloqueiam a atividade basal, promovendo ações de diminuição de PA e FC, por exemplo. Todos têm efeito principal de diminuir PA, ou seja, são anti-hipertensivos. OS BETABLOQUEADORES SÃO OS FARMACOS MAIS IMPORTANTES DESSE GRUPO! 1. Antagonistas de ação diretas: bloqueiam alfa e beta/alfa ou beta. A) Alfa 1 e 2 (não seletivos) → Fentolamina, fenoxibenzamina, tansulosina, ergotamina. Fármacos de pouco emprego clínico por causa de seus efeitos adversos (taquicardia é o principal). Diminuição da resistência vascular periférica = diminuição da PA (receptores alfa-1 em vasos da musculatura lisa) Bloqueio da atividade vasoconstritora de EPI e NE → vasos relaxados + não acontece vasoconstrição periférica. PROBLEMA! Também bloqueia alfa-2, aumentando a liberação de NE na fenda sináptica. Os receptores beta disponíveis para NE promovem seus efeitos e taquicardia reflexa (b-1 no coração aumenta FC e força de contração). B) Seletivos alfa-1 → Prazosina (maior uso), Daxozosina, Terzosina. Não aumenta a liberação de NE porque não bloqueia alfa-2. Menor taquicardia, menores efeitos adversos! Promovem hipotensão, relaxamento de mm. das arteríolas e veias → controle de PA moderada a grave. Efeitos adversos: decorrente do bloqueio de alfa-1 (receptor não é ativado); obstrução nasal, retenção de líquidos (queda da PA sinaliza o rim, que tenta compensar a queda ativando SRAA → retenção de sódio e de líquidos para tentar compensar a queda da PA), fadiga (relaxamento da vasculatura periférica diminui fluxo sanguíneo) e disfunção sexual (obstrução do alfa- 1, receptor envolvido na ejaculação). C) Seletivos alfa-2 (efeito simpatomimético) → Ioimbina: afrodisíaco sem comprovação. D) Beta-1 e beta-2 (não seletivos) Podem ser utilizados como cardioprotetores - antiarrítimicos, angina pectoris, hipertensão e IAM - e como profilaxia da enxaqueca. ▪ Cardioprotetores: diminuição da quantidade de necessidade de oxigênio pelas células musculares cardíacos (proteção contra IAM e arritmia). Aula 5 6 ▪ Profilaxia da enxaqueca: relacionada com a diminuição da PA e atividade simpática que diminui a pressão vascular sentida por pessoas com enxaqueca. Ação central diminui liberação de NE no locus ceruleus. → Propranolol (Inderal®, Tanadren®), alprenolol, nadolol, pindolol, labetolol. Como são muito lipossolúveis, conseguem atravessar a BHE, promovendo diminuição da atividade simpática no SNC (Propranolol). !! Propranolol diminui a PA sem diminuir a resistência vascular periférica (é mantida, evita queda brusca de pressão e hipotensão postural). Efeitos colaterais: decorrentes do bloqueio de beta- 2 (presente nos brônquios, principalmente). Bloqueio da broncodilatação → broncoespasmo, ausência de vasodilatação nos vasos dos mm. estriados esqueléticos → fadiga e diminuição da capacidade de se exercitar, diminuição de fluxo sanguíneo nas extremidades, hipoglicemia !! Pacientes diabéticos não podem usar esse tipo de medicamento, uma vezque eles promovem aumento do efeito dos hipoglicemiantes já em uso pelo indivíduo. Receptores beta-2 no pâncreas e no fígado induzem o bloqueio de disponibilidade de glicose no sangue. E) Seletivos beta-1 São seletivos, mas não são EXCLUSIVOS de beta-1. Promovem menores efeitos adversos. ▪ Diminuem DC: beta-1 está no rim e quando bloqueados não há liberação de renina nem ativação do SRAA. !! Evitar uso em pacientes asmáticos porque podem provocar broncoconstrição. → Atenolol, metoprolol, esmolol, metoprolol. ▪ Gerações anteriores (segunda e terceira): Carvedilol e Nebivolol, também promovem diminuição de resistência vascular periférica na hipertensão moderada a grave; causam queda mais brusca da PA, pois além do efeito beta-1 também diminuem a resistência vascular periférica, diminuindo a vasoconstrição; principais fármacos indicados para pacientes diabéticos (ou Metropolol). - Carvedilol bloqueia alfa-1; - Nebivolol libera NO promovendo vasodilatação (essa liberação é induzida pela ativação parassimpática - atua de maneira indireta, então). 2. Antagonista de ação indireta: atuam sobre os neurotransmissores ou sobre a neurotransmissão; pouca utilização clínica. Grupo I: acabam com os estoques de NE. → Reserpina: ação anti-hipertensiva importante, mas com grandes efeitos adversos; esgota reservatório de NE, dopamina e serotonina; pode causar depressão mental e grande diminuição da atividade simpática. A Reserpina impede captação de NE, por meio do bloqueio do transportador VMAT e NE é metabolizada pela MAO, então. Grupo II: impedem a liberação de NE. → Guanetidina: compete com NE pelo VMAT e entra na vesícula no lugar da NE. Assim, NE fica disponível para ser metabolizada pela enzima MAO. Grupo III: interferem indiretamente na síntese de NE → Alfa-metildopa: Aldomet (comercial); diminui a atividade simpática central e periférica; ação muito menos potente do que a NE normal. A alfa-metildopa age como falso precursor da NE, entrando no mecanismo de síntese de NE e dando origem a alfa-NE (“falso NT/NT atenuado”). !! A alfa-metildopa é utilizada para diminuir PA em gestantes. Ela é falso substrato para produção de NE, atrapalhando sua síntese e atuando como simpatolítica. Grupo IV: agonistas alfa-2 de efeito simpatolítico. → Clonidina (Atensina® Catapresan ®), Guanabenzo (Lisapres®), Guanfacina. Diminui fluxo simpático em nível central, principalmente. Também diminui fluxo simpático no tronco cerebral, induzindo a diminuição da atividade simpática na periferia. Costumam ser usados para tratamento contra hipertensão e para diagnóstico de feocromocitoma. Uso para diagnóstico de feocromocitoma: Tumor da gl. suprarrenal produz EPI e NE. Se administrado um agonista alfa-2 e o paciente continuar com altos índices circulantes de ambos os compostos, isso significa que outras células, que não as neuronais, estão produzindo EPI e NE de forma descontinuada. Aula 6 1 Farmacologia Farmacologia do SNAP Principais atividades da ativação parassimpática: aumento do peristaltismo do TGI, reflexos miccionais, reflexos de defecação, aumento da secreção salivar, aumento da secreção lacrimal, aumento da secreção estomacal, miose, aumento do tônus de músculos detrusores, broncoconstrição, redução da FC e da PA. → “Rest and digest”: diminuição da PA e bronquioconstrição; reestabelecer trânsito intestinal em pós-cirúrgicos, miose, aumento da secreção salivar e lacrimal, estimulação miccional. Principal nervo: NC X grande atuação em coração e órgãos do abdome. Sinapses: pré-ganglionares contêm ACh como NT + receptor nicotínico e pós-ganglionares, contêm ACh como NT + receptor muscarínico. → Sinapse colinérgica nas gll. sudoríparas quando medicamentos são administrados, apesar de fisiologicamente o suor ser desencadeado por função simpática. Efeitos parassimpáticos nos sistemas: 1. Cardiovascular: efeitos inotrópico e cronotrópico negativo (ativação de M2) + vasodilatação – ex: viagra (M3; ativação de mecanismos que liberam NO, induzindo vasodilatação de maneira indireta). 2. Pulmonar: bronquioconstrição e aumento de secreções; desvantagem para fármacos que mimetizam. 3. TGI: aumento dos eventos digestórios; contração da musculatura lisa do TGI (M3) e estimulação da secreção ácida (M1). 4. Geniturinário: aumento da contração promovendo aumento miccional; contração de bexiga, próstata, epidídimo e miométrio. 5. SNC: regulação de atividade cognitivas, motoras, sensoriais, de equilíbrio e comportamentais; fármacos para tratamento de Alzheimer, Parkinson e depressão (M1 agonistas em estudo). Principal NT do parassimpático: Ach. O NT Ach apresenta nitrogênio com carga positiva em sua estrutura. Essa carga é importante para que o Ach se ligue com seus receptores e com sua enzima metabolizadora acetilcolenestare. Síntese, liberação e metabolização de Ach A síntese de Ach envolve união da acolina com Acetil- CoA a partir da enzima colina-acetil-transferase. A Ach é transferida para interior da por um transportador. A vesícula sináptica é liberada quando recebe potencial de ação. Assi, a Ach chega até a fenda sináptica. A Ach liberada na fenda se une com seu receptor nicotínico ou muscarínico. Após exercer efeito, se desprende do receptor e é rapidamente metabolizada por acetilcolinesterase (AChE). Essa enzima hidrolisa Ach em colina + acetato. A colina é recaptada para nova síntese de Ach e o acetato é excretado. A enzima butirilcolinesterase ou pseudocolinesterase também pode metabolizar Ac. Essa enzima está presente em plasmas e tecidos e promove a metabolização de Ach, de seus congêneres e de substâncias similares em outros lugares, além da fenda sináptica, tornando essas substâncias inativas mesmo fora da fenda sináptica. Ingestão V.O. = fraca absorção + rápida metabolização → A Ach está presente na membrana do neurônio pós- ganglionar, geralmente, mas também pode estar presente na membrana do neurônio pré-ganglionar. → Quanto mais colina recaptada, maior a produção de Ach. Se o fármaco bloquear a recaptação, acontece diminuição da liberação desse NT. → AChE está presente na fenda sináptica colinérgica; promove hidrólise da Ach. Aula 6 2 Receptores de Ach: 1. Muscarínicos (M): metabotrópicos acoplados à proteína G; nos tecidos; subdividem-se em 5 tipos (M1- M5); encontrados em todas as células efetoras que recebem estímulos pelos neurônios pós-ganglionares do SNAP. - M1: voltados para aumento de secreções estomacais. - M1, M3 e M5: são estimulatórios; ativam a via do inositoltrifosfato (IP3), aumentando a concentração do cálcio intracelular; promovem contração de m. liso e secreção glandular. - M2 e M4: são inibitórios, inibem a adenilato ciclato e o AMPc; têm ação principal sobre o coração, diminuindo a FC. 2. Nicotínicos (N): ionotrópicos; nervos, SNC e mm. esqueléticos; encontrados nas sinapses entre os neurônios pré- ganglionares e pós-ganglionares. Cada receptor possui de 4 a 5 subunidades. A Ach se liga na subunidade alfa a que é, então, rotacionada, promovendo a abertura do poro. - Musculares (Nm): presentes na junção muscular, ganglionares, na sinapse entre um neurônio motor e a musculatura estriada esquelética. - Ganglionares (Nn): presentes nos gânglios do SNA e na adrenal. - Do SNC (Nn): presentes no cérebro. Farmacologia colinérgica: Os fármacos podem ser parassimpatomiméticos (ativam SNAP) ou parassimpatolíticos (antagonizam a atividade do SNAP). Fármacos parassimpatomiméticos: Esses fármacos têm efeitos relacionados com a diminuição da FC e a vasodilatação, diminuindo a PA. Eles também aumentam a secreção pelas glândulas e o peristaltismo do TGI. Outros efeitos:bronquioconstrição e contração do músculo ciliar. Efeitos adversos dos parassimpatomiméticos: estão relacionados à ativação parassimpática; diarreia, aumento da sudorese, náusea, miose, urgência miccional. Contra-indicações de uso de parassimpatomiméticos: asmáticos, pessoas com distúrbios de secreção ácida intensa (distúrbios pépticos ácidos), pessoas com hipotensão, insuficiência coronariana. 1. Agonista de ação direta: efeito decorrente da ligação ao receptor M ou N; ex: alcaloides, ésteres da colina. Os ésteres são derivados de Ach e os alcaloides tem ação direta em receptores muscarínicos, principalmente. → Acetilcolina e congêneres sintéticos: fármacos de ação rápida e rapidamente metabolizados pela enzimas acetilcolinesterase e pseudocolinesterase; baixo efeito clínico, sendo pouco utilizados na terapêutica. Os sintéticos têm maior resistência à ação da AChE, são análogos a Ach endógena. Efeitos cardiovasculares e diminuição da PA são os mais desejados. !! No controle da PA, podem induzir efeito contrário por causa de sua estimulação nicotínica. PA = FC + vasodilatação. Em altas doses, a Ach ou seus congêneres sintético ativam receptores N ganglionares. Esses receptores Aula 6 3 estão presentes no SNAS e no SNAP. Assim, altas doses são capazes de ativar o SNAS. SNAS estimulando a liberação de NE pelos neurônios pós-ganglionares → aumento da PA e da constrição vascular *Atropina é um dos principais antagonistas de receptores M. ▪ Metacolina (Frixopel®), Betanecol (Liberan®), Carbacol (Ophtcol®): fármacos sintéticos; alteração de estrutura química de ACh promove maior resistência à metabolização. O uso desses medicamentos está relacionado às suas atuações sobre o sistema cardiovascular. A Metacolina diminui a PA, o Betanecol é usado em tratamentos de retenção urinária e o Carbacol é utilizado para tratamentos de glaucoma e em cirurgias oftálmicas. → Alcaloides vegetais: muscarina, pilocarpina, arecolina, cavimelina. ▪ Muscarina: não possui aplicação terapêutica; vem do cogumelo onde foram identificados os receptores muscarínicos. Tem ação predominante muscarínica: salivação e sudorese intensas, miose, bradicardia, dor abdominal, vômito, cólica, diarreia, dificuldades respiratórias. A Muscarina estimula o parassimpático com ação 100x maior do que a da Ach (ativação parassimpática intensa). Envenenamento grave promove colapso cardiovascular! Como tratar a intoxicação? Utilizar antagonista muscarínico. Geralmente, atropina é utilizada. ▪ Pilocarpina: alcaloide de uso terapêutico (Pilocarpus jaborandi); diminui pressão intraocular e promove miose; tem ação muscarínica e nicotínica; é agonista parcial muscarínico; tem predileção para induzir secreções e salivação. Efeitos adversos: sudorese, calafrio, náuseas e tontura. Tratamento de xerostomia ou SD de Sjogren (pessoas que tem salivação diminuída): pós irradiados de quimioterapia ou portadores da SD podem fazer uso de Pilocarpina para terem suas glândulas secretórias estimuladas, porém esses fármacos promovem diversos efeitos adversos. Tratamento de glaucoma: os mm. ciliar e construtor tem inervação parassimpática (M3); a Pilocarpina promove a contração da musculatura ciliar, contraindo a lente e a musculatura constritora da pupila. O olho produz humor aquoso em sua porção interior, líquido que deve ser drenado anteriormente no canal de Schlemm. Às vezes, é necessária a introdução de fármacos para induzir essa drenagem. Como eles agem? Promovem a contração da musculatura ciliar e constritora da pupila. Com isso, diminui-se o tamanho da musculatura e aumenta o espaço para a passagem do humor aquoso até o canal. Fluxo adequado do humor aquoso para sua drenagem, reduzindo a pressão intraocular! ▪ Cevimelina: alcaloide sintético; menor quantidade de efeitos adversos para tratamento de SD de Sjogren; atividade sialogoga (salivar); alta afinidade por M3 (gll. salivares e lacrimais). 2. Agonista de ação indireta (anticolinesterásicos): aumentam a concentração de Ach na fenda sináptica; aumento e prolongamento do efeito parassimpático. Esses fármacos inibem o metabolismo de Ach pela AChE, de forma reversível ou irreversível. Os reversíveis são utilizados principalmente no tratamento de Miastenia Gravis e os irreversíveis não possuem aplicação terapêutica (podem causar intoxidação). Reversíveis: → Neostigmina (Prostigmina®), piridostigmina (Mestinon®), fisostigmina, edrofônio (Anticude®). O tempo de ação difere entre os fármacos porque existem diferenças entra a natureza da interação química com o sítio ativo da enzima. - Edrofônio tem ação curta. Aula 6 4 - Fisostigmina, Neostigmina e Pirodostigmina têm ação intermediária (4-6 horas, + vantajoso). ▪ Miastenia Gravis: doença autoimune onde há anticorpos que bloqueiam a atividade do receptor nicotínico na placa motora. Portadores têm incapacidade de manter contrações sustentadas. A ptose palpebral é sinal característico da doença. Há perda de receptores nicotínicos da junção neuromuscular. Fármacos anticolinesterásicos inibem AchE, causando inibição do metabolismo de Ach. Isso faz com que mais Ach se acumule na fenda. Assim, o Ach ganha a competição para se ligar ao receptor nicotínico ao invés do anticorpo (“competição travada contra o anticorpo do próprio paciente”). Sintomas: fraqueza muscular e aumento da fatigabilidade. Irreversiveis (organofosforados): se ligam covalentemente com a AchE, de forma irreversivel. Efeito intenso de ativação parassimpática: sudorese, miose, lacrimejamento, visão turva, câimbras abdominais, vômitos, diarreia, fraqueza ou paralisia dos músculos respiratórios (dose dependente); risco de intoxicação. Eram utilizados como agentes tóxicos em guerras mundiais ((gás Sarin, Tabul). Nesses casos, promoviam nas pessoas uma reação parassimpática intensa que as levava a morte. Também são utilizados como inseticidas nas lavouras (Malation / Paration). Os trabalhadores rurais devem ser bem protegidos para que não entrem em contato com esses fármacos. Acúmulo por exposições repetidas! Único fármaco de implicação terapêutica: Ecotiofato para tratamento de glaucoma. O que fazer em casos de intoxicação por organofosforaos? Usar Pralidoxima como antídoto. O paciente intoxicado por organofosforado pode morrer. A Pralidoxima impede a ligação do organofosforado com a enzima ChE de maneira covalente, “reativando-a”. O organofosforado demora 1 hora para se ligar com a enzima. Depois de 1 hora, a pessoa intoxicada não possui AchE algum em seu organismo. Deve-se intervir nesse intervalo de tempo com o uso de pralidoxima para “recuperação da atividade da enzima”. Depois de 1 hora, não adianta mais utilizar Pralidoxima porque ela não terá substrato para agir. Então, os efeitos da ativação parassimpático devem ser controlados com agentes antagonistas. Na ausência de Pralidoxima, pode-se utilizar um antagonista colinérgico para diminuir a ativação parassimpática (Atropina). Fármacos parassimpatolíticos: Esses fármacos bloqueiam os receptores M reversivelmente. São antagonistas muscarínicos competitivos e bloqueiam impulsos parassimpáticos para o órgão efetor, promovendo atenuação intensa do SNAP. NÃO PROMOVEM ESTIMULAÇÃO DO SIMPÁTICO! Evidenciam o efeito basal do simpático no órgão! 1. Alacaloides da Beladona: Atropina (Atropa belladonna) e Escopolamina (Buscopan®). → Atropina: principal representante dos parassimpatolíticos; contorna efeitos de intoxicação por anticolinesterásicos; muito utilizada em anestesia geral. Como anestésico, inibe a liberação de secreções, principalmente no tratorespiratório. Assim, diminui a possibilidade de acontecedr laringoespasmo e broncoespasmo. → Escopolamina: diminui o peristaltismo. 2. Derivados semi-sintéticos: Homatropinas (derivadas do amônio quartenário dos alcaloides naturais - metilnitratode atropina, brometo de metescopolamina, metilbrometode homatropina). 3. Derivados sintéticos: Metantelina, Propantelina, Ipratrópio (derivados do amônio quaternário); Benzotropina, Triexilfenidil, Ciclopentolato, Tropicamida. Efeitos dos fármacos antagonistas nos diversos tecidos e sistemas: 1. Olhos: - Midríase → ciclopegia, dificuldade para visualizar objetos próximos (paralisia da acomodação). Uso em exames de retina e pupila. - Paralisia do m. ciliar. - Uso não indicado para pacientes com glaucoma. 2. Vias respiratórias: principal atividade clínica. - Diminuição de secreção de trato respiratório, relaxamento dos mm. lisos bronquiolares (controle simpático), reversão da broncoconstrição causada por colinérgicos, inibição da secreção de todas as glândulas no nariz, boca, faringe e vias respiratórias. - Previne laringoespasmo durante a anestesia geral. → Ipratrópio e Tiotrópio: usados para tratamento de DPOC, bronquite crônica e asma aguda, quando paciente não é responsivo a agonista beta-2. Aula 6 5 → Atropina e similares: suprime secreções no trato respiratório e evita laringoespasmo em anestesia geral. 3. TGI: Escopolamina tem uso clínico principal. - Diminuição do tônus e do peristaltismo, diminuição de secreção gástrica total, pepsina e acidez, diminuição da secreção salivar (fala e deglutição ficam prejudicadas). → Pirenzepina e telenzepina: diminuem secreção de ácido e pepsina no estômago; são M1 seletivos (diminuição de efeitos adversos). - Diminui tônus, motilidade e contrações peristálticas. - NÃO afeta coração, bexiga, gll. salivares e olhos. !! Hoje não são mais utilizados e estão caindo em desuso. → Escopolamina: antiespasmódico; diminui o peristaltismo. 4. Cardiovasculares: efeitos dependentes da dose, da posição do indivíduo e da prática de exercício físico (efeito evidente somente durante exercícios físicos ou quando em posição ereta). A alteração do batimento cardíaco é dificilmente percebida. → Atropina: em altas doses causa taquicardia moderada e em baixas doses promove bradicardia leve (efeito estimulatório de Ach). !! A atropina é usada pós IAM para tratamento de bradicardia sinusal. 5. SNC: efeitos decorrentes da diminuição da atividade da Ach em receptores M envolvidos com equilíbrio controle motor. - Pequenas doses estimulam a respiração através dos núcleos vagais bulbares. - Efeitos variados: excitação, sedação, euforia, amnésia. - Diminuem a cinetose (enjoo decorrente de movimentação estranha do corpo) e o tremor de Parkinson. → Escopolamina: pode provocar sedação; atravessa BHE e atinge o SNC; prevenção de cinetose. → Benzotropina: neutraliza distúrbios de movimentos, como o tremor em Parkinson. → Atropina: tende a causar excitação do SNC; promove leve inquietação em baixas doses e agitação + desorientação em altas doses. 6. Temperatura corporal: fibras colinérgicas muscarínicas inervam as gll. sudoríparas. - Inibem sudorese. - Aumentam a temperatura corporal. 7. Vias urinárias: antagonistas muscarínicos podem promover melhora da retenção urinária em pacientes com incontinência urinária (relaxamento de pelve, ureter e bexiga). → Tolterodina, oxibutinina, solifenacina. Intoxicação por Atropina: Efeitos adversos: sede extrema, dilatação das pupilas, cicloplegia, deficiência visual, fotofobia, ausência de sudorese com consequente aumento da temperatura corporal, retenção urinária e sintomas de toxicidade no SNC. Tratamento: alticolinesterásicos (Fiostigmina). Aula 7 1 Farmacologia Vias simpática e parassimpática têm sinapses ganglionares colinérgicas. Estímulo ou bloqueio ganglionar produz resposta periférica das duas vias. O tônus de prevalência do órgão determina o tipo de resposta que irá acontecer. Fármacos que atuam nos gânglios têm efeitos adversos perigosos e, por isso, seus usos na terapêutica são injustificáveis. Muitas vezes, são utilizados apenas como ferramenta experimental. Receptor nicotínico: Definição: canal iônico que se abre ao se ligar à nicotina (subunidade alfa se rotaciona); permite o influxo de íon sódio e a passagem do impulso nervoso; transmissão excitatória rápida. Abertura do receptor → influxo de íons → polarização da membrana Os receptores nicotínicos apresentam diferenças estruturais entre os seus subtipos. A ação diferente de fármacos sobre as sinapses reflete as diferenças existentes entre os receptores nicotínicos. Classes: 1. Musculares: localizados nas JNM. 2. Ganglionares: localizados nos gânglios; transmitem informação para SNAS e SNAP. 3. Do SNC: localizados no cérebro; por ventura, permitem passagem de fármacos pela BHE, provocando efeitos centrais; são heterogêneos com respeito à sua composição molecular e à localização. Fármacos estimulantes ganglionares Esses fármacos também são chamados de agonistas nicotínicos. Eles possuem uso terapêutico bastante limitado porque geram resposta simpática E parassimpática, originando muitos efeitos adversos. É por isso que muitos deles são utilizados apenas como ferramenta experimental. Promovem resposta periférica bastante complexa. Essa resposta é dependente do tônus de cada tecido. Em órgãos que predominam o tônus simpático, ocorrerá efeito simpático. Em órgãos que predominam o tônus parassimpático, ocorrerá efeito parassimpático. → Nicotina: FÁRMACO MAIS IMPORTANTE; presente no tabaco. A nicotina apresenta importância dos pontos de vista terapêutico e tóxico. Ela atravessa a BHE, atuando em nível central, nas funções cognitivas de memória, atenção, linguagem e percepção. Ela possui potencial de dependência, ou seja, por agir no SNC consegue ativar o sistema de recompensa (vício!). Todos os grupos de neurônios colinérgicos recebem influência da nicotina. A nicotina tem efeitos tóxicos e já foi utilizada como defensivo agrícola para controle de pragas. ▪ Ação farmacológica: A nicotina apresenta efeito diversificado no organismo, dependendo da dose e do local de atuação. Quando ela atua nos gânglios autonômicos, é observada uma estimulação neuronal seguida de bloqueio sináptico (dessensibilização). A nicotina é um dos únicos fármacos capazes de induzir dessensibilização, efeito misto e complexo. Dessensibilização: a estimulação e despolarização dos receptores são tão intensas que, na sequência, se vê diminuição na transmissão neuronal por excesso de estímulo. O que isso significa? Acontece efeito estimulante seguido de relaxamento. Em baixas doses, a nicotina provoca efeitos cardíacos e pulmonares, principalmente. Principais efeitos (ponto de vista autonômico): - Período inicial de estímulo: taquicardia, aumento da FR, aumento de sudorese, aumento da PA, aumento da FC, aumento da motilidade. Aula 7 2 - Período tardio de bloqueio: bradicardia, diminuição da PA, diminuição da FR, diminuição da sudorese, diminuição da motilidade, fraqueza leve temporária. Principais efeitos (ponto de vista central): Os neurônios colinérgicos interligados estão interligados com outros grupos neuronais de outros NTs. Assim, o funcionamento de um interfere no funcionamento de outro. O estímulo dos grupos neuronais faz com que aconteça a liberação de vários NTs. Interação entre neurônios colinérgicos e dopaminérgicos: principal interação; liberação de dopamina; neurônios dopaminérgicos fazem projeções para o núcleo accumbens (via da recompensa). !! A dessensibilização também acontece a nível central, na fase tardia (downregulation). DEPENDÊNCIA! ▪ Uso clínico: A administração terapêutica de nicotina é eficaz no combate à dependência do tabaco. Adesivos transdérmicos e gomas de mascar que contêm nicotina fornecem essa substância sem que o indivíduo busque o cigarro e fume. Assim, deixam de ingerir compostos carcinogênicos existentes no cigarro. → Lobelina (natural) e Vareniclina (Champix): fármacos utilizados no tratamento do tabagismo; a Lobelina é estraída da nobélia e Vareniclina é um composto sintético. Fármacos estimulantes ganglionares de potência bem menor do que a da nicotina (são agonistas parciais). Possuem mesmo mecanismo de ação da nicotina, mas são menos potentes. Atuam nos gânglios autonômicos e no SNC (apenas Vareniclina). Reduzem a necessidade de buscar o cigarro e diminuem os sintomas de abstinência. → Bupropiona: também tem sido utilizada para dependência do tabaco e para emagrecer. → Epibatidina: presente na pele de alguns anfíbios; possui importância toxicológica, apenas; não possui uso clínico. É estimulante ganglionar de efeito estimulante altamente potente nos gânglios autonômicos E no SNC. Efeito deletério grave! Alguns derivados de Epibatidina possuem ação analgésica. Fármacos bloqueadores ganglionares Os bloqueadores possuem pouco uso clínico por causa de seus efeitos colaterais, sendo mais utilizados em estudos clínicos. Sempre pensar no tônus predominante em cada tecido/órgão! O bloqueio ganglionar acontece por meio de três diferentes mecanismos: 1. Interferência na liberação de Ach (também afetam a junção neuromuscular). 2. Despolarização prolongada: estímulo seguido de bloqueio (nicotina); ação contínua de efeito no receptor pela Ach quando a AchE está inibida. 3. Interferência na ação pós-sináptica da Ach: bloqueio dos receptores nicotínicos ou dos canais iônicos associados! → Hexametônio: mecanismo 3. Causa bloqueio direto do receptor nicotínico, inibindo a transmissão ganglionar para nn. simpáticos e parassimpáticos. Primeiro agente hipertensivo introduzido na prática clínica. Hoje, não é mais utilizado com esse intuito e foi substituído por outros fármacos que produzem menores efeitos adversos. → Trimetafano (cansilato de trimetafano): mecanismo 3. Único em uso clínico! Compete pelo receptor nicotínico (bloqueador competitivo) e inibe a transmissão ganglionar. Usado para produzir hipotensão controlada durante a anestesia geral. Uso específico e restrito! ( ) Parte somática: inervação da musculatura estriada esquelética (voluntária). Sinapse colinérgica! NT da placa motora é a ACh. Aula 7 3 Neurônios motores (motoneurônios alfa) inervam a musculatura esquelética. Junção neuromuscular: união entre neurônio (axônio motor) e musculatura (placa motora); neurotransmissão extremamente rápida. Existem receptores nicotínicos nos mm., onde a Ach se liga, despolarizando a membrana da célula muscular e permitindo a condução nervosa. O resultado é a contração muscular. Quando a Ach é metabolizada, o estímulo cessa. JNM ativada: chegada do impulso nervoso, entrada de cálcio e liberação da Ach para a célula muscular. Impulso nervoso → entrada de cálcio na célula → movimentação das vesículas → liberação da Ach na fenda sináptica → receptores nicotínicos → despolarização da fibra muscular → contração muscular Fármacos que afetam a junção neuromuscular 1. Fármacos que atuam na região pós-sináptica: São todos derivados de amônio quaternário, sendo pouco absorvidos e rapidamente eliminados. - Bloqueadores neuromusculares (via receptores) não despolarizantes: bloqueio do receptor de Ach. Quando utilizados em cirurgias mais longas, devem ser administrados novamente. Efeito curto! !! O bloqueio neuromuscular é adjuvante na anestesia. Anestésicos injetáveis gerais provocam estado de inconsciência e analgesia, mas não têm efeitos sobre o espasmo muscular porque não atuam sobre JNM. Por isso, é necessário utilizar um bloqueador neuromuscular como coadjuvante anestésico em cirurgias. Atualmente, os bloqueadores neuromusculares são muito utilizados na intubação de pacientes. Impulso doloroso impedido + paciente imóvel sem espasmo (não há risco pro paciente nem pro médico) → Curare (tubocurarina): mistura de alcaloides naturais extremamente tóxica; indígenas faziam macerado de plantas como essa substância para caçarem. Pode paralisar os músculos - diafragma e musculatura cardíaca, principalmente. Moléculas semelhantes, mas de menor toxicidade foram criadas para a prática clínica. Quem são essas moléculas? Pancurônio, Vecurônio, Atracúrio e Galamina. Duração mais curta: Atracúrio. Duração mais prolongada: alcaloides naturais extremamente tóxicos; Tubocurarina e Dimetiltubocurarina. ▪ Mecanismo de ação: inibição competitiva pelo receptor de Ach localizado na placa motora. Não há passagem do impulso nervoso para a musculatura e não acontece contração muscular. ▪ Efeitos: - Paralisia motora (principal) para evitar espasmos. - Efeitos autonômicos: quando há eventual bloqueio do gânglio autonômico; dificuldade de deglutir, paralisação dos mm. da respiração com rápida recuperação, visão dupla. ▪ Efeitos adversos: → Atracúrio: em alguns pacientes, pode se observar reação anafilática e queda da PA. Acontece bloqueio ganglionar e estímulo para liberação de histamina pelos mastócitos. Não se sabe como o atracúrio induz os mastócitos a liberarem histamina. → Pancurônio e Galamina: taquicardia (bloqueio de receptores M no coração). Como reverter o efeito ao final de uma cirurgia? Importante para evitar complicações pós-cirúrgicas! A reversão é feita principalmente com anticolinesterásico Neostigmina. Ele inibe a AChE. - Neostigmina associada à atropina: evitar efeitos parassimpáticos indesejáveis. Sugamadex também pode ser utilizado. Trata-se de uma ciclodextrina sintética que inativa o bloqueador neuromuscular. O bloqueador inativado é eliminado através da urina (complexo bloqueador + receptor). - Bloqueadores neuromusculares despolarizantes: efeito de estímulo seguido de bloqueia, paralisando a musculatura. → Decametônio: primeiro protótipo estudado. O Decametônio foi descoberto, na década de 50, por Paton e Zaimis, pesquisadores da área de farmacologia. Aula 7 4 Eles descobriram um mecanismo de ação de bloqueio neuromuscular por despolarização. Inicialmente, há efeito agonista estimulatório com descargas rápidas de potencial de ação nos mm.. Essa descarga declina, após alguns segundos, à medida que a excitabilidade elétrica da região da placa terminal da fibra é perdida e acontece bloqueio da placa motora. Descargas de potencial de ação bastante rápidas → espasmos musculares → declínio rápido da descarga → excitabilidade elétrica diminui gradualmente → bloqueia da placa motora por despolarização → Suxametônio (succinilcolina): bloqueador neuromuscular despolarizante de ação rápida; degradado pela AChE. É utilizado em procedimentos cirúrgicos rápidos e na intubação orotraqueal para ventilação mecânica. Tem efeitos adversos mais graves do que os bloqueadores não despolarizantes. Esses efeitos decorrem da despolarização persistente (aumento do potássio plasmático). Quais são esses efeitos? Episódios de arritmia e efeitos relacionados a estímulos parassimpáticos, provocando bradicardia, aumento da pressão intraocular, paralisia prolongada e hipertermia maligna. Em alguns indivíduos, a hipertermia maligna altera as estruturas dos canais de cálcio do retículo sarcoplasmático. Acontece liberação sustentada de cálcio, levando a espasmo muscular intenso e aumento demasiado da temperatura corporal. Administrar Dantroleno para reverter o quadro. A paralisia prolongada acontece se houver anticolinesterásicosno organismo do paciente. Quando usar esse fármaco? - Coadjuvantes de anestésicos em procedimentos cirúrgicos: diminui a dose de anestésico a ser utilizada e o grau de anestesia. - Procedimentos ortopédicos: alinhamento de fraturas e correção de luxações. - Facilitar a intubação endotraqueal. - Exames: laringoscopia, broncoscopia e esofagoscopia. Anticolinesterásicos não são efetivos para reverter os efeitos dos bloqueadores neuromusculares despolarizantes, sendo que podem piorar o quadro. Esse tipo de bloqueador tem ação agonista. Como a AChE está bloqueada, suxametônio deixa de ser metabolizado, permanecendo mais tempo na JNM. A reversão deve ser espontânea ou com dantroleno, quando hipertermia. 2. Fármacos que atuam na região pré-sináptica: inibem síntese ou liberação de Ach. - Inibidores de síntese: não são utilizados na prática clínica, uso apenas experimental. → Hemicolínio: inibe a síntese de Ach; bloqueio lento da transmissão colinérgica (não acontece transmissão nervosa); vesículas com Ach nas terminações nervosas deixam de existir. → Vesamicol: inibe a síntese de Ach; bloqueio lento da transmissão colinérgica. → Toxina botulínica: inibe a liberação de Ach; aplicação clínica ou desenvolvimento de quadro de botulismo; proteína produzida por bactérias Clastridium botulinium. A toxina botulínica possui 2 subunidades, uma reconhece a célula para que consiga entrar no neurônio e outra é responsável pelo efeito tóxico. ▪ Aplicação clínica: tratamento de espasmos musculares, tratamento estético e tratamento de incontinência urinária (administração intravesical). ▪ Mecanismo de ação: - Alvo: complexos proteicos do neurônio motor (SNARE e SNAP25) envolvidos na fusão das vesículas de Ach com a membrana plasmática; não atua no influxo de cálcio. A destruição das proteínas impede a fusão das vesículas com a membrana plasmática, impedindo a liberação de Ach na fenda sináptica. Botulismo/envenenamento botulínico: acomete indivíduos que ingerem alimentos contaminados com a bactéria; internação de 2 semanas em unidade intensiva para manejo do quadro. A toxina botulínica produzida pela bactéria se espalha por todos o organismo. Manifestações clínicas: ptose, paralisia parassimpática e motora progressiva, boca seca, visão turva, dificuldade para deglutir, progressiva paralisia respiratória. A antitoxina só é efetiva quando administrada precocemente, antes do aparecimento dos sintomas. Uso estético: efeito de 6 meses, em média; tratamento de rugas dinâmicas. → Bungarotoxinas: toxinas presentes no veneno na Krait malasiana; esses animais cobrem todas as possibilidades no sentido de causar paralisia de suas vítimas. Efeito tóxico bastante deletério! Pessoas devem ser rapidamente socorridas! - Beta-bungarotoxina: efeito semelhante ao da toxina botulínica, inibindo a liberação de Ach. - Alfa-bungarotoxina: bloqueia receptores pós- sinápticos de Ach. Aula 8 1 Farmacologia Os fármacos antimicrobianos são moléculas sintéticas ou naturais capazes de destruir ou inibir agentes infecciosos. Antimicrobiano é uma descrição ampla e abrangente. Os antimicrobianos possuem farmacocinética que interfere na quantidade do fármaco que chega no seu local de ação, onde há proliferação do microrganismo, em concentração adequada suficiente para eliminar esse microrganismo. A dose deve estar correta para que não aconteça reinfecção e/ou seleção natural de microrganismos resistentes. Dividem-se em: antibacterianos, antifúngicos, antivirais e antiparasitários. Histórico: ▪ Joseph Lister: antes de Lister, nem os médicos nem os instrumentais cirúrgicos eram higienizados; higienização com fenol em instrumentação cirúrgica promoveu redução das infecções. ▪ Paul Erlich: primeiro antimicrobiano utilizado salvarsan para tratamento da sífilis; substância tóxica, muitas vezes. ▪ Alexander Fleming: descoberta da penicilina. ▪ Gerhard Domagk: Prontosil® (sulfonamida); ▪ Florey & Chain: uso clínico e produção industrial da penicilina; ▪ Selman Waksman: descoberta de antibióticos de origem natural estreptomicina e neomicina; ▪ Burkholder: cloranfenicol (antibiótico de amplo espectro e de origem sintética); ▪ Lesher: ácido nalidíxico (precursos das quinolonas de origem sintética). Antes da década de 40, surgiram as drogas sulfa e os beta lactamos. Muitas moléculas antimicrobianas foram descobertas em um curto espaço de tempo até os anos 60. Nesse intervalo, houve investimento na produção de diversos outros fármacos porque acreditava-se que todos os antimicrobianos já tinham sido descobertos. Até 2000, nenhum novo antimicrobiano foi descoberto. A partir do início dos anos 2000, novas moléculas foram descobertas. Inúmeros microrganismo já são resistentes tanto às drogas mais antigas quanto às mais recentes. *Novos antimicrobianos devem ser estudados por 10 anos antes de chegarem ao mercado. As bactérias podem ser Gram positivas ou Gram negativas. Os antimicrobianos se direcionam para os diferentes Gram das bactérias. Os antibacterianos são moléculas produzidas por várias espécies de microrganismos ou de origem sintética que interferem no crescimento de outros microrganismos. Eles podem ser bactericidas, quando possuem capacidade de matar bactérias, ou bacteriostáticos, quando possuem capacidade de impedir a multiplicação de bactérias. Neste último caso, a eliminação do microrganismo depende do sistema imune do paciente. Os antibacterianos diferem quanto seu espectro de ação em antibacterianos de pequeno ou amplo. Alvos de ação dos antibacterianos: 1. Inibição da síntese de proteínas (principal); 2. Inibição da produção de parede celular; 3. Inibição da duplicação do DNA – não há duplicação cromossômica ou transcrição; 4. Inibição da atuação de enzimas que produzem substâncias essenciais ao metabolismo da bactéria. Aula 8 2 Classificação dos antibacterianos segundo seu mecanismo de ação: 1. Interferência na síntese/ação do folato (ác. fólico ionizado) Sulfonamidas: Fármacos sintéticos: sulfanilamida, sulfametoxazol, sulfassalazina, sulfadiazina de prata. ▪ Mecanismo de ação: As sulfonamidas são moléculas análogas do ácido para-aminobenzoico (PABA), essencial para a síntese do folato, substância necessária para a síntese de DNA e RNA nas bactérias. Desta forma, as sulfonamidas atuam como inibidores competitivos da enzima dihidropteroato sintetase, presente na bactéria, impedindo a síntese do folato por esse organismo. Sem folato, as bases nitrogenadas não formam ácidos nucleicos. ▪ Efeito: o efeito final da sulfonamida é bacteriostático. ▪ Infecções purulentas inativam a sulfonamida. As sulfonamidas são utilizadas para infecção de urina e do trato respiratório superior. Sua ação é inibida pela presença de pus e produtos de destruição tecidual ricos em ácidos nucleicos (que são usados pelas bactérias para síntese de DNA e RNA). Trimetoprima: Trata-se de um fármaco sintético de efeito bacteriostático. ▪ Mecanismo de ação: produção de bases nitrogenadas na bactéria é bloqueada. As sulfonamidas assemelham-se à pteridina do folato. Desta forma, a trimetoprima atua como antagonista do folato confundindo a enzima dihidrofolato redutase, impedindo também a síntese do folato (enzima presente na bactéria e no nosso organismo). Esse fármaco costuma ser utilizado em conjunto com as sulfonamidas, tendo sua ação potencializada (Bactrim). Apesar de a associação ser efetiva, ela pode trazer efeito adverso. Qual efeito adverso? Desenvolvimento de anemia megaloblástica (deficiência de folato), eventualmente. ▪ Principais usos clínicos: infecções por Pneumocystis carinii e Nocardia; infecções urinárias e respiratórias; profilaxiaem queimaduras (uso tópico). 2. Antibióticos betalactâmicos: podem ser naturais ou semissintéticos; antibióticos mais conhecidos. Penicilinas: Fármacos naturais: penicilina G (benzilpenicilina benzatina/benzetacil) e penicilina V (fenoximetilpenicilina). Fármacos semissintéticos: estrutura química natural modificada; penicilinas resistentes à betalactamase (meticilina, oxacilina) e penicilinas de amplo espectro (ampicilina, amoxicilina, piperacilina) – muito usadas. *A amoxicilina tem utilização muito importante na prática clínica. ▪ Mecanismo de ação: Os betalactâmicos interferem na síntese do peptidoglicano da parede celular bacteriana através da inibição das enzimas transpeptidades, que cruzam as cadeias peptídicas ligadas à estrutura do peptidoglicano. Assim, a montagem das ligações cruzadas da parece celular pelas enzimas é inibida. Sem a parede celular, não há integridade da célula bacteriana, que sofre lise. Esses antibióticos têm efeito bactericida, destruindo a célula bacteriana rapidamente. Eles possuem baixa toxicidade direta, já que os humanos não possuem células com parede celular (exceto alérgicos - choque anafilático). ESSE FÁRMARCO TEM TOXICIDADE DIRECIONADA PARA A BACTÉRIA! As penicilinas sofrem inativação por enzimas betalactamases (penicilinases), que degradam seu anel beta-lactamo. Inibidores de betalactamase: foram desenvolvidos pela indústria na tentativa de impedir a inativação dos antibióticos betalactâmicos (contornar a resistência). Fármacos naturais: ácido clavulânico/clavulanato. Fármacos semissintéticos: sulbactam, tazobactam. ▪ Mecanismo de ação: Inibição da enzima bacteriana betalactamase, responsável pela inativação de antibióticos betalactâmicos. Acaba funcionando como um agente protetor do antibiótico, protegendo-o da inativação por bactérias resistentes. Atuam como inibidores “suicidas” = inibição irreversível que leva a destruição da enzima bacteriana (ácido clavulânico + betalacmamase). Costumam ser utilizados em associação com penicilinas de amplo espectro (amoxicilina + ácido clavulânico, ampicilina + sulbactam, piperacilina + tazobactam). Aula 8 3 Cefalosporinas e cefamicinas: As gerações dos fármacos se diferem quanto a seu espectro de ação. - 1ª geração (mais ativas contra bactérias Gram +): de uso oral; cefalexina, cefalotina, cefazolina, cefadroxila. - 2ª geração (mais ativas contra bactérias Gram -): de uso oral; cefuroxima, cefoxitina, cefprozila, cefaclor. PRIMEIRA E SEGUNDA GERAÇÕES podem ser utilizadas como profilático de cirurgia. - 3ª geração (Gram + e Gram -, infecções hospitalares): de uso hospitalar; cefotaxima, ceftriaxona, ceftazidima. - 4ª geração (Gram + e Gram -, resistência à betalactamase): de uso hospitalar; cefepima, cefpiroma. - 5ª geração (atividade contra MRSA - Staphylococcus aureus resistente à meticilina): de uso hospitalar; ceftarolina fosamila. ▪ Mecanismo de ação: idêntico ao das penicilinas; inibição da síntese de parede celular. Esses antibióticos têm efeito bactericida, baixa toxicidade direta (exceto alérgicos – hipersensibilidade), intolerância ao álcool e promovem nefrotoxicidade. Sofrem inativação por enzimas betalactamases (penicilinases). Carbapenemos e monobactamos: uso mais restrito ao ambiente hospitalar. Os carbapenemos e os monobactamos foram desenvolvidos como alternativa contra Gram negativas produtoras de betalactamases e resistentes à penicilina. Alterações em sua estrutura química, promovem maior espectro de ação contra Gram negativas. Carbapenemos: imipenem, meropenem, ertapenem. Monobactamos: aztreonam. ▪ Mecanismo de ação: idêntico ao das penicilinas, mas com maior espectro de ação. !! Exceção: aztreonam é ativo apenas contra bacilos aeróbios Gram negativos. ▪ Efeito bactericida. *Não apresentam reação cruzada com penicilina (aztreonam). *O uso da cilastatina aumenta a meia-vida plasmática do imipenem. ▪ Principais usos clínicos: infecções de trato respiratório e urinário, infecções biliares, bacteremia, meningite (cefalosporinas), endocardite, sífilis (benzilpenicilina), otite, gonorreia, infecções por Pseudomonas. 3. Glicopeptídeos Vancomicina, teicoplanina ▪ Mecanismo de ação: os antibióticos glicopeptídeos atuam inibindo a síntese de parede celular, assim como os betalactâmicos. Ativo somente contra bactérias Gram positivas. Resistência natural dos Enterococcus (VRE). ▪ Efeito: bactericida. Apresentam nefrotoxicidade e eritema local (aplicação rápida). O uso oral é feito apenas para tratamento da colite pseudomembranosa. ▪ Principais usos clínicos: MRSA (Staphylococcus aureus resistente à meticilina), pacientes alérgicos à betalactâmicos, colite pseudomembranosa por Clostridium difficile, bacteremia, endocardite, osteomielite. 4. Inibição da síntese de proteínas, atuando diretamente no ribossomo Antibióticos com efeito bacteriostático. Tetraciclinas Fármacos: tetraciclina (natural), oxitetraciclina, doxiciclina, minociclina, tigeciclina. ▪ Mecanismo de ação: as tetraciclinas atuam inibindo a síntese proteica através do bloqueio da subunidade 30S do ribossomo bacteriano, que se liga ao t-RNA durante a tradução. Não há produção de proteínas! Aula 8 4 ▪ Espectro de ação: bastante amplo; bactérias Gram + e -, Mycoplasma, Rickettsia, Clamydia. A tetraciclina pode se depositar nos ossos causando manchas e deformidades, inclusive nos dentes. Pode causar fotossensibilidade e aplasia medular, também. A tetraciclina é inibida na presença de cátions, ou seja, sua absorção oral é prejudicada na presença de cátions (não ingerir junto com leite). ▪ Principais usos clínicos: fármacos de primeira escolha para riquétsias, micoplasma, clamídia, leptospirose e de segunda escolha para infecções do trato respiratório. Anfenicóis Fármaco: cloranfenicol - único da classe dos anfenicóis com uso clínico. ▪ Mecanismo de ação: o cloranfenicol atua inibindo a síntese proteica através do bloqueio da subunidade 50S do ribossomo bacteriano, inibindo formação da ligação peptídica. ▪ Espectro de ação: bactérias Gram + e -, Rickettsia. Os anfenicóis têm toxicidade hematológica (depressão medular com pancitopenia) e pode provocar SD síndrome cinzenta em recém-nascidos (oxida a hemoglobina, formando a beta-hemoglobina). ▪ Principais usos clínicos: febre tifóide, infecções por Haemophilus, meningite (quando a penicilina não pode ser usada). Aminoglicosídeos Fármacos: estreptomicina (natural), gentamicina (natural), amicacina, neomicina (natural). ▪ Mecanismo de ação: são fármacos que atuam inibindo a síntese proteica através da ligação à subunidade 30S do ribossomo bacteriano, levando a leitura errônea do m-RNA (proteínas defeituosas). Sua entrada na bactéria é mediada por transportadores ativos dependentes de oxigênio. ▪ Efeito: bacteriostático (doses usuais) ou bactericida (altas doses). ▪ Espectro de ação: bactérias Gram + e - (maior eficácia). Os aminoglicosídeos podem causar ototoxicidade - lesão da cóclea e do aparelho vestibular, fazendo com que o paciente desenvolva perda de audição - e nefrotoxicidade, em pacientes renais crônicos. ▪ Principais usos clínicos: microrganismos entéricos Gram negativos, bacteremia, Listeria, Pseudomonas. Macrolídeos Fármacos: eritromicina (natural), claritromicina, azitromicina. ▪ Mecanismo de ação: os macrolídeos atuam inibindo a síntese proteica através da ligação à subunidade 50S do ribossomo impedindo sua translocação. ▪ Efeito: bacteriostático (doses usuais) ou bactericida (altas doses). Fazem competição com cloranfenicol e clindamicina e, por isso, nãodevem ser usados em conjunto. → Inibição do sistema P-450: pacientes em uso do macrolídeo pode apresentar interação medicamentosa. Os macrolídeos concentram-se nos fagócitos (potencializam destruição de bactérias). ▪ Principais usos clínicos: espiroquetas Gram- positivas, Legionella, Mycoplasma, doença de Lyme, toxoplasmose. Outros antibacterianos que interferem na síntese de proteínas: - Estreptograminas (quinupristina, dalfopristina): inibição da subunidade 50S. São usados em conjunto para tratamento de infecções por VRSA e VRE ou outras infecções graves sem resposta aos outros agentes antibacterianos disponíveis. - Lincosamidas (clindamicina, lincomicina): mesmo mecanismo de ação do cloranfenicol e macrolídeos. São utilizadas em infecções por cocos resistentes à penicilina e infecções por Bacteroides (anaeróbias); aumentam incidência de colite pseudomembranosa por C. difficile. - Oxazolidinonas (linezolida): não permite a formação complexo ribossomal 70S, crucial para o inicio da síntese proteica. É usada em MRSA, VRE, pneumonias, bacteremia, e outras infecções graves por Gram positivos que não respondem adequadamente aos outros antibacterianos. 4. Interferência na enzima topoisomerase II ou DNA- girase, impedindo o desenovelamento do DNA. Quinolonas e Fluorquinolonas Fármacos sem flúor: protótipos; ácido nalidíxico, ácido pipemídico. Fármacos com flúor: ciprofloxacina, norfloxacina, levofloxacina, ofloxacina, moxifloxacina. ▪ Mecanismo de ação: atuam inibindo a topoisomerase II (DNA girase bacteriana), enzima Aula 8 5 responsável pelo desenovelamento do DNA e pela produção da superespiral negativa do DNA. Desta maneira a transcrição e replicação ficam impedidas e o DNA é destruído (efeito bactericida). ▪ Espectro de ação: coliformes entéricos, cepas resistentes à betalactâmicos e aminoglicosídeos. ▪ Principais usos clínicos: infecções trato urinário, infecções trato respiratório (Pseudomonas e Haemophilus), prostatite, osteomielite. 5. Agentes antimicobacterianos Utilizados para tratamento da tuberculose, doença crônica e de tratamento longo, geralmente de 6 meses, e de difícil adesão pelo paciente. Tuberculose (TB): Definição: infecção pelo microrganismo Mycobacterium tuberculosis, bactéria que sobrevive dentro dos macrófagos, mesmo após serem fagocitadas. Tratamento da tuberculose: Isoniazida Fármaco de primeira linha no tratamento de TB (fase inicial e de continuação). Este fármaco penetra muito bem nas lesões tuberculosas caseosas. ▪ Mecanismo de ação: sua atividade limita-se as micobactérias. A isoniazida inibe a síntese de ácidos micólicos, componentes importantes da parede celular de micobactérias. ▪ Efeito: bacteriostático (bactérias em repouso) ou bactericida (bactérias em divisão). O uso de piridoxina (vitamina B6) reduz a incidência de neuropatia periférica. Rifampicina: Fármaco de primeira linha no tratamento de TB (fase inicial e de continuação), sendo um dos mais ativos agentes antituberculose. Também é ativo contra outras bactérias Gram positivas e negativas intracelulares, podendo ser utilizada em outras infecções. Este fármaco confere coloração laranja à saliva, escarro e urina. ▪ Mecanismo de ação: liga-se a enzima RNA- polimerase de células procarióticas formando um complexo que impede a síntese de RNA. ▪ Efeito: bactericida. Causa indução das enzimas P-450 (interação farmacológica), reduzindo eficácia de outros fármacos, como os anticoncepcionais. Etambutol Fármaco de primeira linha no tratamento de TB, sendo específicos para a tuberculose. ▪ Mecanismo de ação: inibe a enzima arabinosil transferase, afetando a síntese da parede celular micobacteriana. ▪ Efeito: bacteriostático. Pode reduzir acuidade visual do paciente, aconselhando-se acompanhamento oftalmológico. Pirazinamida Fármaco de primeira linha no tratamento de TB, sendo específicos para a tuberculose. ▪ Mecanismo de ação: inibe a síntese de ácidos graxos através da inibição da enzima ácido graxo sintase I. ▪ Efeito: bactericida. Pode provocar exacerbação do quadro clínico da gota. Fungos Características dos fungos: células eucarióticas, não realizam fotossíntese, causam infecções oportunistas (imunossuprimidos); estão relacionados com deteriorização de matéria orgânica (são deteriorantes), alguns são patogênicos. Aula 8 6 Tipos de fungos: leveduras, fungos filamentosos e fungos dimórficos – intercalam forma de vida em levedura e em filamento. Importância dos fungos: indústria alimentícia, decomposição de matéria orgânica, produção de toxinas (aflatoxina), indústria farmacêutica (produção de antibacterianos), organismos patogênicos (causam micoses). Antifúngicos Existe menor variedade de antifúngicos no mercado porque as doenças fúngicas são mais comuns em países em desenvolvimento. Além disso, esses fármacos têm incidência de resistência menor. Os antifúngicos ou antimicóticos são fármacos utilizados para tratar e prevenir micoses superficiais e sistêmicas. Eles podem ser de origem natural ou sintética. Características de um fármaco ideal: toxicidade seletiva, poucos ou nenhum efeitos colaterais, amplo espectro de ação, não permitir seleção de amostras resistentes, não ser alérgeno, boa estabilidade, boa farmacocinética (absorção, distribuição, metabolismo e excreção) e baixo custo. Nem sempre todos esses requisitos são atingidos! Os antifúngicos mais recentes surgiram no início dos anos 2000. Depois desse período, nenhum antifúngico importante foi produzido. Alvos de ação dos antifúngicos: 1. Sistema de microtúbulos dos fungos: comprometimento da formação fuso-mitótica; 2. Diminuição da integridade da parede celular; 3. Interferência na membrana plasmática: interfere na via metabólica do esgosterol, reduzindo a integridade da membrana. Classificação dos antifúngicos: 1. Antibióticos antifúngicos naturais; 2. Agentes antifúngicos sintéticos; 3. Outros agentes antifúngicos: agentes sintéticos que não entram na classificação anterior por se diferirem quanto a estrutura química e mecanismo de ação. Anfotericina (anfotericina B) Fármaco antifúngico poliênico de origem natural (Streptomyces). Utilizado em ambiente hospitalar! ▪ Mecanismo de ação: tem afinidade pelo ergosterol (ação seletiva); se insere dentro da membrana plasmática, fomando poros e alterando sua permeabilidade. A anfotericina interfere na permeabilidade e nas funções de transporte ao formar grandes poros na membrana fúngica causando graves alterações no equilíbrio iônico, principalmente a perda de potássio. O conteúdo intracelular acaba extravasando. Fármaco padrão-ouro no tratamento de infecções fúngicas disseminadas (sistêmicas). ▪ Efeito sinérgico: uso em conjunto com a flucitosina. ▪ Principais usos clínicos: micoses disseminadas, meningite criptocócica, infecções por Aspergillus e Candida. ▪ Precauções: uma dose total superior a 4 gramas pode produzir disfunção renal permanente; os efeitos depressores da medula óssea, causados pela anfotericina-B sistêmica, podem aumentar a incidência de infecções microbianas. → Formulação lipossomal (sistema de liberação controlada): AmBisome; redução dos efeitos adversos. Nistatina Fármaco antifúngico poliênico de origem natural (Streptomyces). ▪ Mecanismo de ação: mesmo da anfotericina. Trata-se de um fármaco tóxico (toxicidade maior do que a do anfotericina) usado para tratar infecções mucocutâneas, dermatofitoses (uso tópico), infecções na boca e do trato gástrico por Candida (uso de suspensão). Aula 8 7 Não ocorre absorção através da pele íntegra e mucosas íntegras. Griseofulvina Fármacoantifúngico de origem natural bastante usado no passado e que vem caindo em desuso. ▪ Mecanismo de ação: único; interfere na mitose do fungo pela ligação com microtúbulos da célula fúngica. ▪ Principais usos clínicos: dermatofitoses (pele e couro cabeludo) e onicomicoses/micoses de unha (seu uso foi amplamente superado por outros fármacos). Este fármaco é indutor das enzimas P450, promovendo interações medicamentosas, e não deve ser usado por gestantes (Classe C). Equinocandinas Antifúngico mais recente, de uso injetável e hospitalar, preferencialmente. Fármacos semissintéticos: caspofungina, micafungina, anidulafungina. ▪ Mecanismo de ação: inibem a síntese do 1,3-β- glicano, um polímero de glicose necessário à manutenção da estrutura da parede celular fúngica. Na ausência desse polímero, as células fúngicas perdem a integridade, ocorrendo a lise celular. ▪ Principais usos clínicos: candidíase esofágica, candidemia, candidíase invasiva, aspergilose invasiva refratária a outros antifúngicos. Azóis Antifúngicos comuns de serem utilizados em infecção sistêmica (uso hospitalar). Fármacos imidazóis: cetoconazol, miconazol. Fármacos triazóis: fluconazol, itraconazol, posaconazol. ▪ Mecanismo de ação: inibem a enzima fúngica lanosina 14-α-desmetilase, que é responsável pela conversão do lanosterol em ergosterol, o principal esterol da membrana celular fúngica. Assim, altera a fluidez da membrana. O cetoconazol, quando utilizado via oral, é hepatotóxico. Há necessidade de exames de função hepática antes do início do uso para verificar o funcionamento desse órgão. Ele é mais utilizado de forma tópica, atualmente. O uso de anfotericina concomitante com azóis deve ser evitado. A depleção do ergosterol da membrana reduz os locais de ligação da anfotericina (um anula efeito do outro). ▪ Principais usos clínicos: dermatofitoses, infecções por Candida, infecções sistêmicas (aspergilose, histoplasmose, blastomicose, entre outras). Flucitosina Antifúngico sintético. ▪ Mecanismo de ação: a flucitosina é convertida no antimetabólito 5-fluorouracila nas células fúngicas. A 5- fluorouracila inibe a timidilato sintetase e, portanto, a síntese de DNA. A flucitosina é combinada com anfotericina para tratar casos de infecções sistêmicas graves, como a candidíase e a meningite criptocócica. É considerado um antimetabólico porque impede a síntese de moléculas importantes, como bases nitrogenadas. !! Pode causar mielossupressão. Alilaminas Fármacos: terbinafina, naftifina, amorolfina. ▪ Mecanismo de ação: atuam inibindo, de modo seletivo, a enzima esqualeno epoxidase, que está envolvida na síntese do ergosterol a partir do esqualeno na parede celular fúngica. O acúmulo de esqualeno se torna tóxico para o fungo. ▪ Mecanismo de ação: dermatofitoses e onicomicoses. Adendos Efeito “antabus”: O uso de bebida alcoólica concomitantemente a alguns antimicrobianos, como metronidazol, cloranfenicol e sulfas, é contraindicado, pois pode resultar em reação similar à do dissulfiram (efeito “antabus), em presença de álcool. Não é proibitivo o uso social de álcool com antimicrobianos, já que não está relacionado à perda de eficácia desses fármacos em geral. Entretanto, o uso abusivo de álcool é totalmente desaconselhado durante o tratamento com antimicrobianos, pois se a ingestão corresponder a grande volume de líquido (de cerveja, por exemplo), a sobrecarga hídrica aumentará a filtração glomerular e a diurese, que também pode ser estimulada pelo efeito diurético do álcool, acelerando a excreção renal de fármacos ativos. O uso concomitante desses antibióticos com álcool pode resultar em diversos efeitos adversos como falta de ar, cefaleia, dor no peito, enrubescimento da pele, aumento de arritmia cardíaca, tontura, náusea e vômito. Aula 8 8 Álcool também pode interferir com outros antibióticos como: - Cotrimoxazol: pode causar efeitos similares aos causados com metronidazol e tinidazol, mas com maior raridade; - Linezolida: pode interagir com bebidas alcoólicas fermentadas como vinho, cerveja, xerez; - Doxiciclina: pode ter sua eficácia diminuída em pessoas com histórico de consumo crônico de álcool e não deveria ser usada por pessoas com problemas hepáticos; - Eritromicina: pode ter seu efeito diminuído e atrasado pelo álcool em raras ocasiões. O álcool, além de depressor do sistema nervoso central, tem ação diurética e hipoglicemiante. Pela sua ação marcante sobre o fígado, pode interferir no metabolismo de vários fármacos, podendo causar aumento dos efeitos adversos. O álcool também aumenta a circulação na mucosa dos intestinos podendo aumentar a absorção de medicamentos e, consequentemente, de seus efeitos. A maioria dos estudos sobre interações com álcool considera pacientes que fazem uso crônico e abusivo de bebidas alcoólicas. Há menos informação sobre aqueles que bebem moderadamente. Aula 9 1 Farmacologia Os vírus possuem material genético (RNA ou DNA) envolto por capsídeo e envelope lipoproteico. Alguns possuem enzimas que iniciam sua replicação no hospedeiro. Eles são classificados de acordo com seu material genético: 1. Vírus de DNA: transcrição de mRNA viral pela RNA polimerase do hospedeiro; 2. Vírus de RNA: atua como mRNA e é traduzido pela célula hospedeira; 3. Retrovírus: a transcriptase reversa sintetiza DNA a partir de RNA viral e o DNA viral é incorporado na célula hospedeira. Os vírus são partículas que conseguem escapar da nossa resposta imune e causar infecção, inicialmente. Somente depois que o indivíduo é sensibilizado é que a resposta imune pode acontecer. Estratégias virais: → Subversão da resposta imune: inibição da síntese de citocinas. → Inibição da apoptose: célula hospedeira sofre modificações pela infecção viral e tem sua apoptose inibida; vírus continua se proliferando dentro da célula. → Interferência nos marcadores de superfície: mudança do perfil de proteínas presente na superfície, quando a célula está infectada. → “Invisibilidade” às células NK e linfócitos citotóxicos: alguns vírus não modificam o perfil de proteína da superfície da célula hospedeira e se tornam invisíveis ao SI. Na maioria dos casos, as defesas do hospedeiro prevalecem e muitas infecções virais se resolvem espontaneamente, exceto no caso de um hospedeiro imunocomprometido. Evolução da infecção por HIV Para cada paciente, a latência clínica e a janela imunológica se comportam de maneira diferente. Muitas vezes, os sintomas iniciais são confundidos com outras patologias, por serem muito inespecíficos. Nas primeiras semanas, acontece grande redução da carga viral e entra-se em latência clínica. A latência pode perdurar de meses a anos. Quando os sintomas constitucionais e as doenças oportunistas surgem é que o indivíduo busca ajuda e descobre seu diagnóstico. O início do tratamento nesse período, geralmente, não é efetivo porque seu sistema imune já está muito comprometido. A terapia antirretroviral deve ser instituída o quanto antes para que a pessoa não seja acometida pelas doenças oportunistas, que aparecem em estágios avançados da infecção por HIV. O tratamento, depois de iniciado, não pode ser abandonado. A carga viral aumenta e a contagem de células T CD4+ cai, promovendo a deterioração do sistema imune. Indivíduos com infecção por HIV, em tratamento, sempre devem realizar contagem de células T CD4+ e análise da carga viral. Uma baixa carga viral diminui a taxa de transmissibilidade e a deterioração do sistema imune. CARGA VIRAL BAIXA NÃO SIGNIFICA QUE A PESSOA ESTÁ CURADA! SIGNIFICA SOMENTE QUE O TRATAMENTO ESTÁ SENDO EFETIVO. HIV e AIDS: perda progressiva das células T CD4+Aula 9 2 Ciclo de replicação do vírus: 1. Reconhecimento e ligação do vírus com o receptor CD4 do linfócito. O receptor CCR5 auxilia no reconhecimento e na internalização do vírus. 2. Vírus se funde a membrana e expõe seu material genético no interior da célula. 3. Ação da enzima transcriptase reversa para síntese de DNA a partir de RNA viral. 4. DNA integrado ao DNA da célula hospedeiro. 5. Depois que o DNA é integrado, ele é replicado e transcrito e novos RNA virais são gerados. Os materiais genéticos são lidos pelos ribossomos e novas proteínas (polipeptídeos) são formadas. 6. Proteases agem para fragmentar os polipeptídeos. Os fragmentos são utilizados na montagem de novos vírus. 7. Novos vírus são liberados da célula por meio do rompimento da membrana celular e vão infectar novas células. POR ISSO, diminuição da contagem celular e aumento da carga viral... lise de grande número de células e grande quantidade de vírus circulantes. Os antivirais Classificação segundo mecanismo de ação: !! O nome da classe tem relação direta com o mecanismo de ação. 1. Inibidores da transcriptase reversa (análogos de nucleosídeos): primeiros fármacos a surgirem na terapia antirretroviral. - Análogos de nucleosídeos: → Fármacos: zidovudina (AZT), abacavir, lamivudina (3TC), didanosina (ddI), zalcitabina (ddC). O AZT já foi utilizado em monoterapia, mas ela não se mostrou eficiente. A monoterapia predispõe a resistência viral. Mecanismo de ação: inibição competitiva; interrompe e inibe a síntese do DNA viral. Esses fármacos são análogos de nucleosídeos (estrutura química semelhante aos nucleosídeos naturais), logo são fosforilados na célula e competem com nucleosídeos naturais pela enzima transcriptase reversa. A incorporação do nucleosídeo “anômalo” resulta na interrupção da síntese do DNA viral. Resistência ao AZT: PRIMEIRO ANTIRRETROVIRAL; no estágio final da doença é comum relatos de resistência devido à rápida mutação viral e diminuição da ativação do fármaco no hospedeiro; alteração da transcriptase reversa impede a ação do fármaco. Principais usos clínicos: tratamento de AIDS (em combinação com outros antirretrovirais) e Hepatite B (lamivudina, telbivudina). !! Apesar do vírus da hepatite B não ser um retrovírus, ele apresenta a enzima transcriptase reversa, que sintetiza DNA a partir de segmentos específicos de RNA viral. - Inibidores da transcriptase reversa (não nucleosídeos): os fármacos não nucleosídeos possuem estrutura química que não é semelhante aos nucleosídeos naturais. → Fármacos: efavirenz, nevirapina. Mecanismo de ação: inibição não competitiva; se ligam em outras regiões da enzima que não a catalítico, inativando-a. Os inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa são compostos quimicamente diversos, que se ligam à enzima nas proximidades do local catalítico, inativando-a. A nevirapina consegue evitar a transmissão vertical do HIV. Gestantes fazem o uso desse fármaco. Efeitos indesejáveis: REAÇÕES ALÉRGICAS + TERATOGÊNESE. A nevirapina está relacionada ao aparecimento de exantema, que pode evoluir para síndrome de Stevens- Johnson. O efavirenz está relacionado ao surgimento de sintomas psicóticos, além de ser teratogênico. Principais usos: tratamento de AIDS (em conjunto com outros antirretrovirais). 2. Inibidores de protease: → Fármacos: ritonavir, saquinavir, lopinavir, atazanavir. Mecanismo de ação: inibição da protease, enzima viral que quebra os polipeptídeos virais responsáveis pela montagem de novos vírus. Para o vírus se tornar infeccioso é necessário que ele produza novas proteínas virais. Os inibidores de protease bloqueiam esta enzima interferindo em sua ação e inibindo a produção de novos vírus HIV. Juntamente com os inibidores de transcriptase reversa, transformaram o tratamento da AIDS. Protocolo inicial de tratamento da AIDS: 2 inibidores de transcriptase reversa + 1 inibidor de protease. !! O ritonavir pode ser usado juntamente com o lopinavir, para potencializar os efeitos. Principais usos: tratamento de AIDS (em conjunto com outros antirretrovirais). 3. Inibidores de fusão: medicamentos mais recentes, aplicados em outras situações além do tratamento do HIV. → Enfuvirtida: Mecanismo de ação: age ligando-se a proteína viral gp41, responsável pelo reconhecimento entre o vírus e o L TCD4+; impede a fusão do vírus com a membrana do linfócito; via injetável. Aula 9 3 Inibe a fusão do vírus HIV com o linfócito T CD4+. Trata-se de um inibidor do rearranjo estrutural da gp41 do vírus, que se liga especificamente a nível extracelular a esta proteína viral, bloqueando a fusão entre o invólucro viral e a membrana celular. A enfuvirtida é utilizada quando a resistência pode se tornar um problema ou quando o paciente é intolerante a outros antirretrovirais. Principais usos: tratamento da AIDS (em conjunto com outros antirretrovirais). 4. Inibidores de integrase: → Fármacos: raltegravir, dolutegravir. Mecanismo de ação: inibição da integrasse, enzima responsável pela união do DNA viral com o DNA da célula hospedeira. Estes fármacos atuam inibindo a enzima integrase do HIV, a enzima que integra o DNA viral ao genoma do hospedeiro durante a formação do provírus. Fazem parte da profilaxia pós-exposição. Pós- exposição: situações que envolvem violência sexual e profissionais da saúde vítimas de acidentes com materiais contaminados. NÃO SE SABE SE HOUVE CONTAMINAÇÃO, MAS HOUVE EXPOSIÇÃO... Combinação pode ser feita com dolutegravir, lamivudina e abacavir. Principais usos: tratamento da AIDS (em conjunto com outros antirretrovirais). 5. Antagonista de receptor de quimiocina CCR5: → Maraviroque (ou maraviroc): Mecanismo de ação: inibição da fusão do vírus HIV com a célula por meio do bloqueio de CCR5. Sua atuação se baseia no bloqueio dos receptores CCR5 impedindo a entrada do HIV e a infecção destas células. Atualmente, sua utilização, em combinação com outros fármacos antirretrovirais, está restrita às infecções HIV com tropismo para o CCR5, nos pacientes previamente tratados com outros antirretrovirais. Principais usos: tratamento da AIDS (em conjunto com outros antirretrovirais). 6. Inibidores da DNA-polimerase: → Fármacos análogos de nucleotídeos: possuem estrutura semelhante a nucleosídeos; aciclovir, fanciclovir, valaciclovir, ganciclovir. → Fármacos não análogos de nucleotídeos: foscarnet. Mecanismo de ação: inibição da DNA-polimerase. São fármacos que inibem a DNA-polimerase viral, interrompendo a formação da cadeia nucleotídica do vírus. Principais usos clínicos: tratamento de herpes oral e genital, varicela-zoster, Epstein-barr e citomegalovírus. 7. Inibidores da liberação e desmontagem viral: → Fármacos: oseltamivir (Tamiflu®), zanamivir. Mecanismo de ação: específico para vírus do tipo Influenza; ação na enzima neuraminidase. A principal característica é a inibição seletiva de neuraminidases, glicoproteínas de liberação viral, ou seja, ele impede a saída dos vírus de uma célula para outra. Vírus fica preso dentro da célula e é degradado. 2009-2010: foi veiculado nas mídias sociais que o consumo de chá de anis estrelado promovia o mesmo efeito do oseltamivir. FAKE NEWS! Principais usos: tratamento de infecções virais causados pelos vírus Influenza A e B. Maior eficácia se tomado dois dias após os primeiros sintomas, impedindo a disseminação do vírus da gripe no corpo do paciente. Tratamento de HIV/AIDS: O consenso atual no uso do tratamento na AIDS emergiu com base nos seguintes princípios: - Monitorar a carga viral plasmática e a contagem de células T CD 4+. Se o paciente faz o tratamento de maneira correta, aumento de L TCD4+ e diminuiçãoda carga viral é cenário favorável. Paciente leva uma vida próxima da normalidade. - Iniciar o tratamento antes que a imunodeficiência se torne evidente. Quando a imunodeficiência está evidente, significa que a carga viral está alta e que o número de L TCD4+ está baixo. Nessa situação, a deterioração do sistema imune não consegue ser impedida mesmo com o uso de antirretrovirais. - Reduzir a concentração viral plasmática tanto quanto possível e pelo maior tempo possível. - Usar a combinação de pelo menos três fármacos (protocolo inicial). - Mudar para um novo esquema se a carga viral plasmática aumentar. DEPENDE DA RESPOSTA DO PACIENTE AO TRATAMENTO! Ao se adotar um protocolo de tratamento, a replicação do HIV é inibida, a carga viral é reduzida a níveis não detectáveis e a sobrevida do paciente é significativamente prolongada. Aula 9 4 Infelizmente, os efeitos adversos podem reduzir a aderência ao tratamento. O vírus NÃO é erradicado e permanece latente no genoma do hospedeiro, prontos para serem reativados se o tratamento for interrompido. !! O tratamento deve ser mantido pelo resto da vida. Se ele for interrompido há aumento da carga viral e diminuição de L TCD4+. “O HIV DEIXA O SISTEMA IMUNE CEGO”. A profilaxia de pré-exposição: Profilaxia pré-exposição? Foi instituída recentemente. Faz-se associação entre tenofovir e emtricitabina (Truvada®). Em novembro de 2010 foi anunciado que a combinação de medicamentos pode reduzir em 44% o risco de contaminação. No caso, o medicamento é ingerido antes da contaminação, como forma de prevenção em pacientes de grupo de alto risco. ENTROU EM CONTATO OU NÃO COM O VÍRUS? O medicamento também é indicado para diminuir o risco de infecção pelo HIV em adultos que tenham risco de contrair o vírus (casais onde um é soropositivo e outro é soronegativo, profissionais do sexo). Nesses casos, o uso de preservativos não deve ser excluído, mas sim complementado. A profilaxia só deve ser iniciada em pacientes comprovadamente HIV negativos. !! Fazer a profilaxia não garante que a pessoa não será contaminada. NUNCA há proteção de 100%. → Fármacos utilizados na profilaxia: tenofovir e emtricitabina, inibidores da transcriptase reversa análogo de nucleosídeo; muitas vezes, estão associados a inibidores de protease (ritonavir). Vacinas: As vacinas devem ser reformuladas todo o ano por causa das mutações que os vírus sofrem. → Fármacos antimaláricos: utilizados no tratamento da malária. O que direciona o tratamento são as condições do paciente, o risco geral de infecção e a presença de resistência. O tratamento é iniciado de acordo com o estágio de vida do parasito. Os antimaláricos são classificados de acordo com a ação nos diferentes estágios de vida no ciclo do parasito: 1. Tratamento de crises agudas: fase eritrocítica. → Agentes esquizonticidas sanguíneos: agem na forma eritrocítica do plasmódio. No tratamento das espécies P. falciparum e P. malariae (apresentam apenas estágio exoeritrocítico inicial), os fármacos que agem no ciclo eritrocítico promovem a cura. EXTERMÍNIO DO Plasmodium spp.! Nas espécies P. vivax e P. ovale, o fármaco suprime o ataque, mas formas exoeritrocíticas latentes (hipnozoítos) podem reemergir (recidivas). !! Esses fármacos podem ser usados em combinação com antibióticos doxiciclina e clindamicina. → Artemisina: extraído da artemísia, uma planta chinesa; esquizonticida sanguíneo de rápida atuação; atualmente, vem sendo investigado o seu uso para outras enfermidades, como CA. Mecanismo de ação: complexo; interferência em diversos processos metabólicos do parasita; inibição do influxo de cálcio no citoplasma e produção de espécies reativas de oxigênio. Há inibição da ATPase dependente de Ca2+ do parasito e formação de espécies reativas de oxigênio. Na presença de átomos de Fe do parasito, acontecem reações de oxidorredução, que abrem o endoperóxido do fármaco. O endoperóxido forma radicais livres, então. Os Plasmodium spp. são muito sensíveis aos radicais livres, uma vez que promovem a destruição da membrana do parasito. → Quinina e mefloquina (Quinolina metanol), Lumefantrina (Arilamino álcool) e Cloroquina (4- aminoquinolina). Mecanismo de ação: inibição da enzima que polimeriza o heme livre (tóxico ao plasmódio) em hemozoína. Mecanismo complementar da Cloroquina: evita que o parasito utilize aminoácidos derivados da proteólise da hemoglobina (mudança do pH dos lisossomos – mais básico). Parasito deixa de quebrar a hemoglobina e utilizar os aminoácidos presentes na célula. !! Cloroquina e derivados também são utilizados em doenças autoimunes (imunossupressores). Seus efeitos adversos devem ser avaliados cuidadosamente antes do tratamento ser iniciado. → Pirimetamina e proguanil: Mecanismo de ação: interferem na ação do folato no metabolismo do parasito. Aula 9 5 → Atovaquona: Mecanismo de ação: interfere na função mitocondrial do parasito (cadeia transportadora de elétrons); não há produção de ATP. 2. “Cura radical”: Plasmodium vivax e Plasmodium ovale – ataque das formas hepáticas; → Agentes esquizonticidas teciduais: erradicam os parasitos P. vivax e P. ovale, no fígado; DESTRUIÇÃO DIRETA DO PARASITO NO FÍGADO IMPEDE QUE ELE CAIA NA CORRENTE SANGUÍNEA, INFECTANDO-A. → Primaquina (8-aminoquinolina): impede a transmissão dos gametócitos dos parasitos para o vetor. Mecanismo de ação: aumento da quantidade de peróxido de hidrogênio (H2O2) no ambiente levando à destruição do parasito (parasito destruído por estresse oxidativo). Podem também destruir os gametócitos, reduzindo a disseminação da infecção. 3. Profilaxia/quimioprofilxia: evitar infecção das células sanguíneas. → Fármacos: artemisina, cloroquina, lumefantrina, proguanil, pirimetamina; são usados, geralmente, em combinações. Conhecidos como fármacos profiláticos casuais. Bloqueiam a ligação entre o estágio eritrocítico e o estágio exoeritrocítico, prevenindo o desenvolvimento de novas crises de malária. Destroem os parasitos quando eles emergem do fígado, depois do estágio pré-eritrocítico (destruição do parasito antes de eles infectarem as hemácias). 4. Evitar a transmissão: destruição dos gametócitos do parasito. → Fármacos: primaquina, proguanil e pirimetamina. Destroem os gametócitos, evitando a transmissão pelo mosquito. Assim, há diminuição do reservatório humano para a doença. Possibilidade de farmacoterapia antimalárica: - A Cloroquina é usada independente da espécie do plasmócito, sendo eficiente no ciclo eritrocítico. - A Primaquina promove a destruição dos ipnosoítos das espécies P. vivax e P. ovale latentes no fígado, no ciclo exoeritrocítico. - Combinações para cepas de P. falciparum resistentes à Cloroquina: Quinina + proguanil + atovoquona Quinina + Artemisina + lumefantrina Quinina + doxicilina - Quimioprofilaxia combinada: À curto prazo = Atovoquona + proguanil ou doxiciclina À longo prazo = Cloroquina + proguanil Fármacos tripanossomicidas: Tripanossomíase: a terapêutica ainda é ineficaz e a taxa de sucesso do tratamento não é elevada. !! O Trypanosoma cruzi é sensível a espécies reativas de oxigênio. → Nifurtimox: O principal mecanismo de ação de nifurtimox é a produção do radical livre hidroxila (OH•) pela ação de nitroredutases. Esses radicais livres intoxicam e destroem o parasito. PROBLEMA! Tecidos do hospedeiro também pode ser lesados. → Benznidazol: O mecanismo de ação não está bem elucidado... pode ser pelo estresse reativo (ação de nitroredutases), que promove intoxicação do parasito. Fármacos leishmanicidas: Leishmaniose: doença provocada por parasitos do gênero Leishmania. Tratamento desafiador devida existência de diferentes formas de leishmaniose:tegumentar e visceral. → Principais fármacos: Estibogliconato de sódio (compostos antimoniais pentavalentes, Pentamidina, Miltefosina, Anfotericina B (antifúngico), → Estibogliconato de sódio: via parenteral (injetável). Mecanismo de ação: interrupção do ciclo metabólico de produção de ATP. Interferem na bioenergética das formas amastigotas da Leishmania. Inibição da glicólise e da oxidação dos ácidos graxos, reduzindo a produção de ATP. → Miltefosina: fármaco antitumoral; via oral. Mecanismo de ação provável: indução da fragmentação do DNA. Induz a apoptose do parasito e altera as vias de sinalização celular. → Pentamidina: via parenteral. Mecanismo de ação (não está bem elucidado): ação direta no genoma; inibição da replicação de DNA e RNA. O fármaco é rapidamente captado pelo parasito, por um transportador ATP dependente e pode interferir na incorporação de nucleotídeos e de ácidos nucléicos do RNA e DNA. Assim, inibem a biossíntese de DNA, RNA, fosfolipídeos e proteínas. Fármacos giardicidas: Giardíase: provocada pelo parasito Giardia lamblia (Giardia intestinalis). → Fármacos: metronidazol, tinidazol, secnidazol (derivados imidazólicos). Mecanismo de ação: fármacos são degradados por enzimas celulares (nitroredutases). Aula 9 6 Assim que os fármacos são degradados acontece a geração de compostos citotóxicos que danificam o DNA do parasito, forçando a apoptose das células parasitárias. MESMO TRATAMENTO PARA AMEBÍASE! Fármacos para tratamento de Toxoplasmose: Toxoplasmose: doença causado pelo Toxoplasma gondii. Geralmente, são utilizadas terapias combinadas no tratamento de toxoplasmose. Fármacos anti-helmínticos: Os tratamentos anti-helmínticos atuam principalmente causando a paralisia do parasito, danificando o parasito para que sofra ação do sistema imune ou alterando o metabolismo do parasito. Para serem efetivos, os fármacos devem ser capazes de penetrar a cutícula exterior do parasito ou ter acesso ao seu trato alimentar. Se eles não foram internalizados, não são efetivos. → Benzimidazóis: Mebendazol, Tiabendazol e Albendazol. Usos clínicos: ascaridíase, teníase, cisticercose, ancilostomose, tricuríase e enterobiose. Mecanismo de ação: inibidores seletivos para o verme. Inibem a polimerização da estrutura tubular (se ligam à β-tubulina) e a formação dos microtúbulos. Promovem bloqueio da captação de glicose e autólise do verme. → Praziquantel: anti-helmíntico de amplo espectro. Usos: - Esquistossomose: ativo contra formas adultas, formas imaturas e cercárias. - Cisticercose e teníase. Mecanismo de ação: interferência na homeostase do cálcio do parasito e lesão na parede do parasito. Quando há lesão na parede do parasito, acontece exposição de suas estruturas antigênicas, fazendo com que elas passem a ser reconhecidas pelo SI do hospedeiro, ocasionando resposta imune contra o parasita. → Pamoato de Pirantel: Uso clínico: ascaridíase, enterobiose e ancilostomose. Mecanismo de ação: provoca liberação constante de acetilcolina no parasito. A liberação maciça de Ach promove ativação persistente de receptores nicotínicos, levando à paralisia muscular do parasito. → Piperazina: PODE SER TÓXICA AO SER HUMANO, causando efeitos adversos neurológicos quando consumidos em altas doses. Uso principal: Enterobius vermicularis e Ascaris lumbricoides. Mecanismo de ação: inibe a transmissão neuromuscular no parasito, promovendo paralisia. Parasitos paralisados são expelidos vivos pelos movimentos peristálticos normais. → Niclosamida Uso: tratamento das infestações por Taenia solium e Taenia saginata (junto com o Praziquantel). Mecanismo de ação: danifica o escólex do parasito. Como o escólex está danificado, o parasito desprende-se da parede intestinal e é expelido. → Levamisol (Ascaridil): NÃO É MAIS UTILIZADO NA TERAPÊUTICA HUMANA. Uso veterinário. Uso: Ascaris lumbricoides. Mecanismo de ação: ação nicotina-símile. Estímulo com subsequente bloqueio das junções neuromusculares promove a paralisia do parasito, que é expelido, então.