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A Arte da Guerra Texto traduzido do inglês para o português. Título Original: The Art of War © 2017 Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda. Diagramação e revisão: Project Nine Editorial Ebook: Jarbas C. Cerino Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD T999a Tzu, Sun A arte da guerra [recurso eletrônico] / Sun Tzu ; traduzido por Pedro Manoel Soares. - Jandira, SP : Principis, 2020. 160 p. : ePUB ; 4 MB. - (Literatura clássica mundial) Tradução de: The art of war Inclui índice. ISBN: 978-65-5552-138-2 (Ebook) 1. Ciência militar. 2. Estratégia. I. Soares, Pedro Manoel. II. Título. III. Série. ² ² -²⁵⁷ CDD 355 CDD 355 Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949 Índice para catálogo sistemático: 1. Ciência militar 355 2. Assuntos militares 355 1a edição em 2020 www.cirandacultural.com.br Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada em sistema de busca ou transmitida por qualquer meio, seja ele eletrônico, fotocópia, gravação ou outros, sem prévia autorização do detentor dos direitos, e não pode circular encadernada ou encapada de maneira distinta daquela em que foi publicada, ou sem que as mesmas condições sejam impostas aos compradores subsequentes. http://www.cirandacultural.com.br I - Avaliações Sun Tzu disse: 1 – A guerra é um assunto de importância vital para o Estado; o reino da vida ou da morte; o caminho para a sobrevivência ou a ruína. Desse modo, é indispensável estudá-la profundamente. Li Ch’üan: As armas são instrumentos de mau agouro. A guerra é uma questão tão séria que deve haver toda a precaução para que os homens não entrem nela sem a devida reflexão. 2 – Desse modo, aprecia-a nos termos dos cinco fatores fundamentais e faz as comparações dos sete elementos a serem mencionados mais adiante. Assim poderás coligir os essenciais. 3 – Desses fatores, o primeiro é a influência moral; o segundo, a meteorologia; o terceiro, o terreno; o quarto, o comando; e o quinto, a doutrina. Chang Yü: O ordenamento sistemático anterior é perfeitamente claro. Quando se concentram tropas para punir um transgressor, o Conselho do Templo aprecia, em primeiro lugar, a capacidade de benevolência do governante e a confiança nele depositada pela sua gente; em segundo, a conveniência das estações naturais e, finalmente, as dificuldades topográficas. Convenientemente ponderados esses pontos, nomeia um general para liderar o ataque. A partir do momento em que as tropas tenham atravessado a fronteira, a responsabilidade legal e o gênero de ordens a dar são transferidos para esse general. 4 – Por influência moral quero dizer aquilo que provoca a harmonia entre o povo e os seus dirigentes, tornando-o capaz de o levar a segui-los, sem medo dos perigos fatais, para a vida e para a morte. Chang Yü: Quando alguém lida com o povo com benevolência e retidão e nele confia, os exércitos serão unos e gratos por servirem os seus chefes. O Livro das Mudanças reza: “Um povo feliz vence as dificuldades, olvidando os perigos mortais”. 5 – Por meteorologia quero dizer a correlação das forças naturais; a influência do frio invernal ou do calor estival, bem como a condução de operações militares de conformidade com as sazões. 6 – Por terreno quero dizer distâncias, se o espaço pode ser fácil ou dificilmente vencido, se é aberto ou estreito, quais as suas hipóteses de vida ou de morte. Mei Yao-ch’en: [...] Quando se movimentam tropas, é essencial conhecer de antemão as condições do terreno. Conhecendo-se as distâncias, poder-se-ão elaborar planos diretos ou indiretos de ataque. Sabendo-se o grau de dificuldade de sua travessia, poder-se-á optar pelas vantagens do emprego da infantaria ou pelas da cavalaria. A ciência de que é aberto ou estreito permite a decisão quanto ao tamanho da força mais apropriada. A compreensão do local onde a batalha vai ser travada indicará onde se devem concentrar ou subdividir as forças. 7 – Por comando quero dizer os atributos do general quanto a sabedoria, sinceridade, humanidade, coragem e exigência. Li Ch’üan: Essas são as cinco virtudes do general. É devido a elas que o exército o conhece por “o Responsável”. Tu Mu: [...] Se for sábio, o comandante será capaz de reconhecer a alteração das circunstâncias e, com rapidez, reagir a elas. Se for sincero, os seus homens acreditarão nas suas recompensas e nos seus castigos. Se for humano, amará a humanidade, simpatizará com os outros e saberá apreciar-lhes o engenho e o esforço. Se for corajoso, alcançará a vitória, agarrando-se às oportunidades sem hesitação. Se for exigente, as suas tropas serão disciplinadas, respeitando-o e temendo-lhe as punições. She Pao-hsu afirmou: “Se um general não for corajoso, será incapaz de afastar dúvidas e urdir grandes planos”. 8 – Por doutrina quero dizer organização, controle, atribuição correta dos postos de comando, ordenação das vias de abastecimento e fornecimento do necessário às suas tropas. 9 – Não há general que não tenha ouvido falar desses cinco pontos. Aqueles que os dominam são vencedores; aqueles que não o conseguem são vencidos. 10 – Portanto, ao estabelecer-se um plano, apreciem-se os seguintes elementos, sopesando-os com o maior dos cuidados. 11 – Se me disserem qual o governante que possui influência moral, qual o mais hábil dos comandantes, qual dos exércitos retira mais vantagens das forças naturais e do terreno, quais os regulamentos e as instruções que melhor são executados, quais são as tropas mais robustas. Chang Yü: Carros resistentes, cavalos velozes, soldados valentes, armas afiadas – para que, quando os tambores rufarem ao ataque, se sintam felizes e, quando os gongos mandarem retirar, sintam-se enraivecidos. Quem assim é, é forte. 12 – Qual tem os oficiais e soldados mais bem preparados. Tu Mu: [...] E por esse motivo o mestre Wang declararia: “Se os oficiais não estiverem rigorosamente preparados, preocupar-se-ão e hesitarão no campo de batalha; se os generais não o estiverem também, encolher-se-ão interiormente frente ao inimigo”. 13 – Qual concede prêmios e castigos de maneira iluminada. Tu Mu: Nem uns nem outros deverão ser demasiados. 14 – Saberei prever qual dos lados será o vitorioso e qual o derrotado. 15 – Um general que se preocupe em empregar a minha estratégia vencerá! Conservem-no! Um general que se recuse a empregar a minha estratégia será, com certeza, derrotado. Demitam-no! 16 – Uma vez consciente das vantagens dos meus planos, o general terá de criar situações que conduzam à concretização delas. Por situações quero dizer que deverá atuar com rapidez e de acordo com o que lhe é vantajoso para poder controlar os resultados. 17 – Todo guerreiro se baseia na simulação. 18 – Pelo que o capaz se fingirá incapaz, e o ativo aparentará a inatividade. 19 – Quando próximo, simule-se o afastamento; quando afastado, aparente-se próximo. 20 – Ofereçam-se engodos ao inimigo e, simulando a desordem, ataque-o. Tu Mu: Li Mu, general de chão, soltou gado acompanhado pelos seus pastores e, logo que os Hsing Nu avançaram um pouco, simulou uma retirada, deixando atrás de si alguns milhares de homens, como que os abandonando. Quando essas novas chegaram aos ouvidos do clã, este se mostrou radiante e, à frente de uma enorme força, marchou para o local. Li Mu, que dispusera a maioria das suas tropas à direita e à esquerda, num movimento tenaz esmagou os hunos, matando mais de cem mil dos seus cavaleiros. 21 – Quando se concentra, fazem-se preparações para o enfrentamento. Evita-se o inimigo onde ele se mostrar forte. 22 – Enfureça-se o general confundindo-o. Li Ch’üan: Se um general está encolerizado, a sua autoridade pode facilmente ser desfeita. Não dispõe de firmeza de caráter. Chang Yü: Se o general inimigo é teimoso e dado a fúrias, deve ser insultado e enfurecido para que, irritado e confuso e sem planos, ataque sem precauções. 23 – Aparente inferioridade e estimule a sua arrogância. Tu Mu: Cerca do fim da dinastia Ch’in, MoTun, dos Hsing Nu, consolidara o seu poder. Foi então que os Hu Orientais, que eram fortes, enviaram-lhe embaixadores dizendo: “Desejamos que nos seja oferecido o cavalo de mil li, de Tou Ma”. Mo Tun escutou os seus conselheiros, que unanimemente exclamaram: “O cavalo de mil li? A coisa mais preciosa da nossa terra! Não o deis!” Mo Tun replicou: “Por que regatear um cavalo com o vizinho?”. E ofereceu-lhes o cavalo. Pouco depois, os Hu Orientais mandaram novos enviados, dizendo: “Desejamos que nos seja oferecida uma das princesas do clã”. Mo Tun pediu a opinião dos seus ministros, que, irados, declararam: “Os Hu Orientais são injustos! Agora já pedem uma princesa. Imploramo-vos que os ataqueis”. Mo Tun ripostou: “Como poderemos nós regatear uma jovem com um vizinho?”. E deixou que a mulher fosse. Curto espaço decorreu, e já os Hu Orientais tornavam dizendo: “Há um milhar de li de terras vossas de que não vos servis. Queremo-las”. Mo Tun conversou com seus aconselhadores. Uns achavam razoável ceder àquele trato, outros eram contrários. Mo Tun encolerizou-se e gritou a eles: “Terras são a base do Estado. Como é que podem ser dadas?”. Fazendo decapitar todos os que haviam recusado a sua oferta, Mo Tun saltou para o seu cavalo, bradando que quem não o seguisse perderia também a cabeça, e atacou de surpresa os Hu Orientais. Estes, que o tinham em baixa conta, não se haviam preparado e foram aniquilados. Mo Tun virou então para oeste e venceu os Yueh Ti. A sul anexou Lou Fan e, finalmente, invadiu Yen, recuperando desta maneira todas as terras ancestrais dos Hsing Nu anteriormente tomadas pelo general Meng T’ien, dos Ch’in. Ch’en Hao: Deem-se rapazinhos e mulheres ao inimigo para o desvairar, e jades e sedas para excitar as suas ambições. 24 – Mantenham-no sob tensão e cansem-no. Li Ch’üan: Quando o inimigo descansa, cansem-no. Tu Mu: Perto do fim do Han Final, após Ts’ao Ts’ao ter derrotado Liu Pei, este fugiu para junto dos Yuan Shao, que na altura deslocavam as suas forças ao encontro daquele. T’ien Fang, um dos oficiais do Estado-maior dos Yuan Shao, avisou: “Ts’ao Ts’ao é hábil na movimentação das suas tropas. Não devemos ir ao seu encontro descuidadamente. Nada será melhor do que retardar as coisas e mantê-lo a distância. O meu general deveria, se o entender, estabelecer fortificações ao longo das montanhas e dos rios e conservar as quatro prefeituras. Fazer no exterior alianças poderosas e no interior prosseguir com a política agropecuária. Mais tarde, selecionaria elementos de sua escolha e constituiria unidades de primeira categoria. Aproveitando-se dos pontos nos quais ele menos preparado se vier a mostrar, far-se-ão surpresas constantes, assolando-o e perturbando as áreas ao sul do rio. Quando vier em apoio da direita, ataquemos-lhe a esquerda; quando socorrer a esquerda, ataquemos-lhe a direita. Esgotemo-lo fazendo-o constantemente andar de um lado para o outro... Se recusardes essa estratégia vitoriosa e optardes por tudo arriscar numa só batalha, será já tarde para remorsos.” Yuan Shao não seguiu essas sugestões e foi irremediavelmente vencido. 25 – Quando o inimigo estiver unido, divida-o. Chang Yü: Em alguns casos, criai a dúvida entre o soberano e os seus ministros; noutros, separai-o dos seus aliados. Fazei que, suspeitando uns dos outros, se vão afastando e possais contra eles conspirar. 26 – Atacai-o onde não estiver preparado. Executai as vossas investidas somente quando não vos esperar. Ho Yen-hsi: [...] Li Ching, dos T’ang, apresentou dez planos a serem utilizados contra Hsiao Hsieh, tendo-lhe sido confiado o comando geral de todos os exércitos. No oitavo mês, agrupou as suas forças em K’uei Chou. Sendo a estação das cheias outonais, com as águas do Iansequião a transbordar das margens, e as estradas, ao longo das três gargantas, perigosas, Hsiao Hsieh tinha a certeza de que Li Ching não avançaria contra si, pelo que não procedeu a qualquer preparação. No nono mês, Li Ching assumiu o comando das suas tropas e se dirigiu a elas assim: “Nada há de maior importância na guerra do que a rapidez fora do comum. Estamos concentrados aqui e Hsiao Hsieh ainda o desconhece. Aproveitando-nos do fato de o rio estar cheio, aparecemos inesperadamente junto das muralhas da sua capital. Tal como se costuma dizer, ‘quando o trovão ribomba, não há tempo para se taparem os ouvidos’, pelo que, mesmo que nos venha a descobrir, já não disporá de tempo para estudar as suas defesas, e nós o venceremos”. Prosseguiu para I Ling, e Hsiao Hsieh, sentindo os primeiros temores, pediu reforços ao sul do rio, a que, todavia, não chegaram a tempo. Li Ching assediou a cidade e Hsieh teve de se render. “Atacai-o onde não estiver preparado” corresponde ao que sucedeu quando, quase no seu fim, a dinastia Wei ordenou aos generais Chung Hui e Teng Ai que atacassem Shu... No inverno, no décimo mês, Ai deixou Yin P’ing e marchou mais de 700 li ao longo de territórios desabitados, rompendo caminho através das montanhas e construindo pontes pênseis. As montanhas eram altas; e os vales, profundos, tornando toda a obra muito difícil e perigosa. As tropas, quase sem mantimentos, aproximavam-se celeremente da exaustão. Teng Ai envolvia- se em tapetes de veludo e deixava-se rolar pelas vertentes abaixo, e os generais e oficiais subiam-nas agarrando-se aos ramos das árvores. Escalando os precipícios como fiadas de peixes, o exército ia avançando. Teng Ai surgiu primeiro a Chiang Yu, em Shu, e Ma Mou, o general encarregado da sua defesa, rendeu-se. Teng Ai decapitou Chu-ki Chan, que lhe resistira em Mien-chu, e prosseguiu sobre Cheng Tu. O rei de Shu, Li Shan, submeteu-se-lhe. 27 – São estas as chaves da estratégia para a vitória. Não tem qualquer discussão possível. Mei Yao-ch’en: Quando confrontado pelo inimigo, respondei-lhe alterando as circunstâncias e servindo-se de expedientes. Como terão estes discussão possível? 28 – Se as avaliações realizadas no Templo antes do início das hostilidades apontarem para a vitória, será porque os cálculos mostram ser a força própria superior à do inimigo; se apontarem para a derrota, será porque os cálculos mostram ser a força própria inferior à do inimigo. Com muitos cálculos, pode-se vencer, com poucos, não o é possível, e quem nenhum fizer terá ainda menos probabilidades! Com isso quero dizer que, examinando-se a situação, os resultados surgirão com clareza. II - Guerreando Sun Tzu disse: 1 – De um modo geral, para uma operação de guerra, são necessários mil carros rápidos, de quatro cavalos; mil carroções de couro, também de quatro cavalos; e cem mil soldados protegidos com cota de malha. Tu Mu: [...] Nas antigas batalhas de carros, os “carros revestidos de couro” dividiam-se em ligeiros e pesados. Os últimos destinavam-se a carregar alabardas, armas diversas, equipamento militar, valores e fardamentos. No Ssü- ma Fa, lê-se: “Um carro transporta três oficiais com cota de malha e é acompanhado por 72 infantes. Havia, além destes, 10 cozinheiros, os servos, 5 homens para cuidar dos uniformes, 5 criados com a forragem ao seu cargo e cinco outros encarregados da recolha da lenha e de água. Setenta e cinco homens para cada carro ligeiro e 25 para cada carro de bagagem, ou, juntando os dois, uma companhia de cem homens.” 2 – Quando se deslocam provisões, ao longo de mil li, as despesas na base do campo, os dispêndios com a recepção de conselheiros e visitantes, o custo de materiais como cola e laca, carros e armaduras, totalizarão mil peças de ouro por dia. Dispondo-se desta importância, poder-se-á formar um exército. Li Ch’üan: Quando o exército vai para fora, o erário esvazia-se. Tu Mu: Existia no exército o costume ritual das visitas de cortesia por parte dos vassalos nobres. É essa a razão por que Sun Tzu cita: “conselheiros visitantes”. 3 – A vitória é o principal propósito na guerra. Se tardar a ser alcançada, as armas embotar-se-ão, e o moral diminuirá. As tropas, ao terem de atacar as cidades, mostrar-se-ão exaustas. 4 – Quando um exército travacampanhas demoradas, os fundos estatais nunca são suficientes. Chang Yü: [...] A campanha do imperador Wu, dos Han; arrastou-se sem quaisquer resultados, até que o Tesouro, vazio, o levou a uma triste proclamação. 5 – Quando as vossas armas já estão embotadas, o vosso ardor esmorecido; e o Tesouro gasto, os governantes vizinhos aproveitar-se-ão das vossas dificuldades para agir. E, mesmo que os vossos conselheiros sejam bons, nenhum deles conseguirá estabelecer planos acertados para o futuro. 6 – É este o motivo por que todos já ouvimos falar de imprudente rapidez em guerras, mas ainda estamos para ver uma operação inteligente levada a cabo com delonga. Tu Yu: A um ataque pode faltar imaginação, mas haveis sempre que executá-lo com rapidez sobrenatural. 7 – Isso porque nunca houve uma guerra prolongada com a qual qualquer país tenha se beneficiado. Li Ch’üan: Os Anais da Primavera e do Outono contam: “A guerra é igual ao fogo. Aqueles que não mais querem depor as armas acabarão por elas consumidos”. 8 – Assim, quem for incapaz de entender os perigos inerentes ao emprego de tropas será igualmente incapaz de entender as formas de as empregar vantajosamente. 9 – Aqueles que entendem de guerra não necessitam de segunda mobilização, nem de mais do que um aprovisionamento. 10 – Levam o seu equipamento ao saírem e contam com os abastecimentos do inimigo. Assim, o exército não terá falta de alimentos. 11 – Quando uma região se encontra empobrecida por operações militares, há necessidade de transportes a grandes distâncias, e o de mantimentos através de grandes distâncias torna o povo carente. Chang Yü: [...] Se um exército é abastecido com cereais ao longo de uma distância de um milhar de li, os soldados ficarão com ar de famintos. 12 – Onde o exército estiver, os preços serão altos. Quando os preços sobem, a riqueza do povo esvai-se. E, quando a riqueza se escoa, os camponeses são sobrecarregados com extorsões permanentes. Chia Lin: [...] Quando se verificam concentrações de tropas, os preços de todos os artigos sobem, já que todos cobiçam os lucros anormais que se podem conseguir. 13 – Com as forças esvaídas e os haveres extintos, as aldeias das planícies centrais cairão na miséria, e sete décimos da sua riqueza dissipar-se-ão. Li Ch’üan: Se a guerra sem cessar se arrastar, os homens e as mulheres ressentir-se-ão por não poderem se casar e perturbar-se-ão com os esforços de carregamentos contínuos. 14 – Quanto a gastos estatais, somente os correspondentes a carros destruídos, cavalos esgotados, armaduras e elmos, flechas e bestas, lanças, escudos, manápulas, rebanhos e carroções de suprimentos representarão 60% do total. 15 – Por tal razão, o general sábio faz que as suas tropas vivam à custa do inimigo, já que um alqueire dos mantimentos deste corresponde a 20 dos seus, e um quintal de forragem a dois dos seus. Chang Yü: [...] Durante o transporte, ao longo de mil li, 20 alqueires têm de ser gastos para se poder entregar apenas às tropas. [...] Se se deparar com terreno difícil no percurso, a proporção aumentará. 16 – O motivo por que as tropas abatem o inimigo está no fato de se sentirem enraivecidas. Ho Yen-hsi: Quando o exército de Yen cercou Chi Mo, no Ch’i, foram cortados os narizes de todos os prisioneiros. A gente de Ch’i, enraivecida, passou a oferecer uma resistência desesperada. T’ien Tan, servindo-se de um agente secreto, mandou informar os sitiantes deste modo: “Tememos que vós, os de Yen, exumeis os vossos antepassados das suas campas, o que petrificaria os nossos corações”. Os soldados de Yen imediatamente começaram a violar os túmulos e a queimar os cadáveres. Os defensores de Chi Mo, das muralhas, presenciaram-no e, com lágrimas nos olhos, evidenciaram desejo de executar um ataque maciço, pois a raiva tornara as suas forças dez vezes superiores. T’ien Tan percebeu estarem as suas tropas no estado conveniente e, aproveitando-o, infligiu uma tremenda derrota a Yen. 17 – Tomam espólio ao inimigo porque ambicionam a riqueza. Tu Mu: [...] No período Han Final, Tu Hsiang, prefeito de Chin Chou, atacou os revoltosos de Kuei Chou, entre os quais Pu Yang, P’an Hung e outros. Entrou em Nan Hai, destruiu três dos acampamentos e apoderou-se de muitos tesouros. Contudo, P’an Hung e os seus seguidores prosseguiram numerosos e fortes, enquanto as tropas de Tu Hsiang, arrogantes e cheias de riquezas, já não tinham o mínimo desejo de combater. Hsiang disse então: “Pu Yang e P’an Hung revoltaram-se há dez anos. Ambos sabem muito, quer de ataque, quer de defesa. O que deveríamos fazer, nesta altura, seria congregar as forças de todas as prefeituras e atacá-los. Para já, porém, vamos, antes, mandá-las caçar”. E as tropas, oficiais e praças lá partiram para uma grande caçada. Logo que partiram, Tu Hsiang, em segredo, ordenou que os quartéis fossem queimados e destruídos todos os tesouros lá acumulados. Quando os caçadores voltaram, não houve nenhum que não chorasse. Tu Hsiang disse-lhes: “A riqueza e os bens de Pu Yang e dos seus são o bastante para tornar ricas várias gerações. Vós, senhores, não haveis feito o vosso melhor. O que perdestes não passa de uma parcela daquilo que eles têm. Por que vos haveis de se preocupar?”. Ao ouvirem essas palavras, os soldados ficaram enraivecidos e desejosos de combater. Tu Hsiang mandou que os cavalos fossem alimentados e ordenou que as tropas comessem na cama. De manhã cedo, avançou contra o acampamento adversário. Yang e Hung não tinham feito preparativos, e as forças de Tu Hsiang, num assalto impetuoso, destruíram-nos. Chang Yü: [...] Durante esta dinastia imperial, quando o Eminente Fundador ordenou aos seus generais que atacassem Shu, recomendou-lhes: “Em todas as cidades e prefeituras que conquistardes, devereis, em meu nome, esvaziar as tesourarias e os armazéns públicos e obsequiar os soldados e oficiais. O Estado apenas pretende terra”. 18 – Em consequência, quando num combate de carros mais de dez forem capturados, presenteiem-se aqueles que capturaram o primeiro. Substituam-se as bandeiras e os galhardetes pelos nossos, acrescentem-se aos nossos e utilizem-se. 19 – Tratai e cuidai bem dos prisioneiros. Chang Yü: Todos os soldados cativos devem ser tratados com magnanimidade e sinceridade, para que possam vir a servir-nos. 20 – Chama-se a isso “vencer uma batalha e tornar-se mais poderoso”. 21 – Resumindo: o essencial na guerra é a vitória, e nunca as prolongadas operações. Como consequência, o general que compreende a guerra é o ministro da sorte do povo e árbitro do setino da nação. Ho Yen-hsi: As dificuldades com a nomeação de um comandante são hoje iguais às dos tempos antigos. III - Estratégia Ofensiva Sun Tzu disse: 1 – Na guerra, de modo geral, a melhor política é tomar um Estado intacto. Arruinando-o, diminui-se-lhe o valor. Li Ch’üan: Não premieis a matança. 2 – É preferível capturar o exército inimigo do que destruí-lo. Aprisionar intactos o batalhão, uma companhia ou uma quinta é bem melhor do que destruí- los. 3 – Porque obter uma centena de vitórias numa centena de batalhas não é o cúmulo da habilidade. Dominar o inimigo sem o combater, isso, sim, é o cúmulo da habilidade. 4 – Portanto, na guerra, é de suprema importância atacar a estratégia do inimigo. Tu Mu: [...] O grão-duque disse: “Aquele que se revela superior na resolução de dificuldades o faz antes de elas surgirem. Aquele que se revela superior no vencer os inimigos triunfa antes de as ameaças começarem.” Li Ch’üan: Ataquem-se os planos à nascença. Durante o Han Final, K’ou Hsün cercou Kao Chun. Chun enviou Huang-fu Wen, o seu oficial parlamentar de planos. Huang-fu Wen era teimoso e grosseiro, pelo que K’ou Hsün o decapitou, mandando comunicar a Kao Chun: “O vosso oficial de Estado-maior era pouco delicado. Decapitei-o. Se vos quereis render, fazei-o desde já. Caso contrário, defendei-vos.” Nesse mesmo dia, Chun abriu suas fortificações e submeteu-se. Todos os generais de K’ou Hsün exclamaram: “Que nos seja permitido perguntar:haveis morto o seu enviado e mesmo assim forçaste-o a entregar a cidade. Como foi possível?”. K’ou Hsün explicou-lhes: “Huang-fu Wen era o coração e as vísceras de Kao Chun. Era o mais próximo conselheiro. Se eu o tivesse poupado, ele teria concretizado os seus esquemas, mas, matando-o, arranquei as tripas de Kao Chun. Como se diz: ‘O auge da excelência está em atacar os planos do inimigo’.” Todos os generais bradaram: “Tal fica para além da nossa compreensão”. 5 – O melhor, a seguir, é desfazer-lhe as alianças. Tu Yu: Não permitais que os vossos inimigos se juntem. Wang Hsi: [...] Apreciai as suas alianças e provocai o seu rompimento e sua dissolução. Se um inimigo tem aliados, o problema é grave, e a sua posição é forte: se não tem aliados, o problema é menor, e a sua posição é fraca. 6 – Logo depois, o melhor é atacar-lhe as forças armadas. Chia Lin: [...] O grão-duque disse: “Aquele que tenta a vitória com espadas desembainhadas não é um bom general”. Wang Hsi: As batalhas são coisas perigosas. Chang Yü: Quando não se lhe puder travar os planos no começo e desfazer-lhe as alianças no momento em que estiverem para ser consumadas, então preparai as armas para se alcançar a vitória. 7 – A pior das alternativas consiste em atacar cidades. 8 – A construção de carros couraçados requer três meses, pelo menos, e a de rampas de terra encostadas às muralhas mais outros três. 9 – Se um general for impaciente e ordenar às suas tropas que, como formigas, trepem pelas muralhas, perderá um terço delas e não tomará a cidade. Tais ataques são sempre calamitosos. Tu Mu: [...] No Wei Final, o imperador T’ai Wu conduziu cem mil soldados contra o general Tsang Chih, de Sung, em Yu T’ai. Primeiro, o imperador pediu um pouco de vinho a Tsang Chih. Este mandou encher um jarro de urina e enviou-lhe. T’ai Wu, transtornado pela ira, atacou imediatamente a cidade, ordenando à sua gente que escalasse as muralhas e iniciasse o corpo a corpo. Os mortos foram-se empilhando na base dos muros e, ao fim de um mês, ele já perdera mais da metade dos seus soldados. 10 – Assim, os habilidosos na arte de guerrear dominam o exército inimigo sem lhe dar batalha. Conquistam-lhe as cidades sem ter de as assaltar, derrubam-lhe o Estado sem operações prolongadas. Li Ch’üan: Vencem pela estratégia. No Han Final, Tsang Kung, marquês de Tsan, cercou os rebeldes “Yao” em Yüan Wu, mas os meses foram passando sem que conseguisse tomar-lhes a cidade. Os seus oficiais e soldados já se mostravam doentes e cobertos de chagas. Foi então que o rei de Tung Hai falou com Tsang Kung deste modo: “Concentrastes tropas e cercastes um inimigo decidido a lutar até a morte. Isso não é estratégia nenhuma! Devereis levantar o cerco, fazendo-lhes ver que se lhes abriu uma via para a fuga. Fugirão e dispersar-se-ão, após o que qualquer polícia de aldeia os poderá prender”. Tsang Kung acatou a sugestão e tomou Yüan Wu. 11 – O intento deverá ser o tomar-se Todo-sob-o-Céu, mas intacto. As tropas não se esgotarão, e os ganhos serão integrais. É esta a arte da estratégia ofensiva. 12 – Consequentemente, a arte de se servir das tropas é assim: quando tiveres dez por cada um do inimigo, cerca-o. 13 – Quando fores cinco vezes maior do que ele, ataca-o. Chang Yü: Se a minha força é cinco vezes a do inimigo, assusto-o à frente, surpreendo-o na retaguarda, faço grande tumulto a leste e golpeio pelo oeste. 14 – Se tens o dobro, fá-lo dividir-se. Tu Yu: [...] Se uma superioridade de dois para um é insuficiente para solucionar a situação, utilizamos um grupo de diversão para lhe dividir as forças. Já o grão-duque dizia: “Quem for incapaz de levar o inimigo a dividir as suas forças será incapaz de enfrentar táticas fora do vulgar”. 15 – Se as forças forem iguais, poderás arremetê-lo. Ho Yen-hsi: [...] Nestas circunstâncias, vencerá o general mais competente. 16 – Se numericamente és o mais fraco, procura a retirada. Tu Mu: Se tens menos tropas do que ele, evita temporariamente o seu assalto inicial. Há probabilidades de mais tarde conseguires atingi-lo num ponto fraco. Nesse caso, anima-te e, com determinação, busca a vitória. Chang Yü: Se o inimigo é forte, e eu sou fraco, retiro temporariamente e não ataco. Isso no caso de as qualidades e a coragem dos generais e das tropas serem as mesmas. Porém, se eu estiver organizado e o inimigo em desordem, se eu estiver atento e o inimigo descuidado, nesses casos poderei dar-lhe batalha. 17 – Se em todos os aspectos lhe és inferior, trata de o evitar, pois uma pequena força não passa de um pouco de espólio para outra mais poderosa. Chang Yü: [...] Mêncio disse: “Os pequenos não são, evidentemente, iguais aos grandes, nem os fracos podem lutar com os fortes, nem os pouco numerosos contra os muito numerosos”. 18 – Acontece que o general é o protetor do Estado. Se a sua proteção tudo abarca, o Estado é, certamente, forte; se é defectiva, o Estado é, certamente, fraco. Chang Yü: [...] O grão-duque disse: “Um soberano rodeado de pessoas certas prospera. Aquele que isso não conseguir cairá na ruína”. 19 – Há três formas pelas quais um governante pode levar o seu exército à desgraça. 20 – Quando, ignorando que o exército não deve avançar, o manda fazê-lo; e quando, ignorando que o exército deve se retirar, não dá ordem para que o faça. Isso pode ser descrito como o “enredar do exército”. Chia Lin: Os avanços e as retiradas do exército podem ser controlados pelo general de acordo com as circunstâncias que prevaleçam. Nada há de mais nefasto do que ordens dadas pelo governante a partir da corte. 21 – Quando, ignorando os assuntos militares, participar na sua execução, essa atitude perturbará os oficiais. Ts’ao Ts’ao: [...] Um exército não pode ser comandado de acordo com normas de etiqueta. Tu Mu: No que concerne a costumes, leis e decretos, o exército dispõe do seu código próprio, que, normalmente, acata. Se este for alterado para algo semelhante ao que se segue no governo de um Estado, os oficiais desorientar-se- ão. Chang Yü: Benevolência e retidão podem ser usadas quando do governo de um Estado, mas não na condução de um exército. O recurso a expedientes e a flexibilidade são usados na condução de um exército, mas não o podem ser no governo de um Estado. 22 – Quando, ignorando os problemas do comando, compartilhar do exercício de responsabilidades, isso criará dúvidas no espírito dos oficiais. Wang Hsi: [...] Se alguém que desconhece questões militares é mandado participar na condução de um exército, em todas as manobras se verificarão desacordos e frustrações de modo que toda aquela força será desmembrada. Foi esse o motivo pelo qual Pei Tu, em memorando, rogou ao trono que afastasse o supervisor do exército. Só então conseguiu pacificar Ts’ao Chou. Chang Yü: Em tempos recentes, têm sido utilizados funcionários da corte como supervisores do exército, e é precisamente isso que está errado. 23 – Quando o exército está confuso e suspeitoso, os governantes vizinhos causam problemas. É isto o que implica o dito: “Um exército confuso conduz o adversário à vitória”. Meng: [...] O grão-duque disse: “Quem estiver confuso quanto aos seus propósitos não poderá ripostar ao inimigo”. Li Ch’üan: [...] A individualidade errada não pode ser nomeada para o comando... Lin Hsiang-ju, primeiro-ministro de chão, disse: “Chao Kua é apenas capaz de ler os livros de seu pai e ainda incapaz de correlacionar circunstâncias em mutação. No entanto, vossa majestade, devido ao seu nome, nomeou-o comandante-chefe. Isso corresponde a afinar um alaúde depois de se lhe terem colado as cravelhas”. 24 – Existem cinco circunstâncias que, a verificarem-se, permitem a previsão de uma vitória. 25 – Aquele que sabe quando pode combater e quando não pode alcançar a vitória. 26 – Aquele que, servindo-se de grandes ou pequenas forças, entende como se tornar vitorioso. Tu Yu: Há ocasiões, na guerra, em que muitos não podem atacar poucos e outras em que os fracos podem dominar os fortes. Quem tais circunstâncias souber manipularsairá vitorioso. 27 – Aquele cujas fileiras estão cerradas num só propósito será vitorioso. Tu Yu: Exatamente por isso, Mêncio disse: “A estação do ano apropriada é menos importante do que as vantagens do terreno, e estas não tão importantes como relações humanas harmoniosas”. 28 – Aquele que é prudente e espera por um inimigo imprudente será vitorioso. Ch’en Hao: Organiza um exército invencível e aguarda o momento de vulnerabilidade do teu inimigo. Ho Yen-hsi: [...] Um cavaleiro afirmou uma vez: “Confiar nos incultos e não se preparar é o maior dos crimes. Preparar-se de antemão para todas as contingências é a maior das virtudes”. 29 – Aquele cujos generais são hábeis e possibilitados de atuar sem interferências será vitorioso. Tu Yu: [...] Por isso o mestre Wang dizia: “Fazer as nomeações é atributo do soberano; as decisões às batalhas respeitantes pertencem ao general”. Wang Hsi: [...] Um soberano de caráter e inteligente deve saber escolher o homem certo, confiar-lhe as responsabilidades e aguardar resultados. Ho Yen-hsi: [...] Acontece que, durante uma guerra, pode haver um cento de alterações para cada passo que se dá. Quando alguém vê o que pode fazer, avança; quando vê que as coisas estão difíceis, recua. Dizer-se que um general deveria aguardar as ordens do seu soberano, nessas circunstâncias, corresponderia a exigir-se que alguém corresse a informar o seu superior do seu desejo de extinguir um fogo que irrompeu. Bem antes de a ordem ter sido concedida, já tudo seriam cinzas frias. E ainda há quem afirme ser necessário consultar-se o supervisor do exército em ocasiões do gênero! Corresponde a, ao construir-se uma casa, ir pedindo opiniões aos passantes. A obra jamais findará! Refrear um general competente e, simultaneamente, exigir-se-lhe que elimine um inimigo sagaz será como prender o Mastim Negro de Han e, a seguir, ordenar-lhe que apanhe lebres ágeis. Haverá alguma diferença? 30 – É nesses cinco pontos que o caminho para a vitória se encontra. 31 – Direi, pois: “Conhece-te a ti e ao teu inimigo, e em cem batalhas que sejam, nunca correrás perigo”. 32 – “Quando te conheces, mas desconheces o teu inimigo, as tuas hipóteses de perder ou de ganhar são iguais”. 33 – “Se te desconheces e ao teu inimigo também, é certo que, em qualquer batalha, correrás perigo”. Li Ch’üan: Às pessoas assim chamam-se-lhes “bandidos loucos”. Que mais podem esperar senão a derrota? IV - Disposições Sun Tzu disse: 1 – Desde os tempos antigos, os guerreiros capazes sempre se tornaram invencíveis e aguardaram o momento de vulnerabilidade do inimigo. 2 – A invencibilidade depende dos próprios guerreiros. A vulnerabilidade do inimigo do inimigo depende. 3 – Sucede que quem é hábil no guerrear sabe como se tornar invencível, mas não consegue, com certeza absoluta, tornar o inimigo vulnerável. Mei Yao-ch’en: O que depende de mim posso fazer; o que depende do inimigo não está nas minhas mãos. 4 – Diz-se, portanto, que há quem saiba como vencer, mas que não pode, necessariamente, cumpri-lo. 5 – A invencibilidade está na defesa; a possibilidade de vitória está no ataque. 6 – Aquele cuja força é insuficiente defende-se; ataca quando a sua força é abundante. 7 – Os peritos em defesa ocultam-se como se as nove camadas da Terra os cobrissem. Os peritos em ataque deslocam-se como se caminhassem sobre as nove camadas do céu. Quer uns quer outros conseguem proteger-se e obter vitórias completas. Tu Yu: Os peritos na elaboração de defesas entendem ser fundamental o contar- se com o poder de obstáculos do tipo de montanhas, rios e sopés dos montes. São eles que tornam impossível ao inimigo saber onde atacar. Escondem-se o mais secretamente possível, como que sob as nove camadas da Terra. Os que são peritos no ataque entendem ser fundamental ter em conta as estações do ano e as vantagens do terreno. Servem-se das inundações e do fogo de acordo com a situação. Tornam impossível ao inimigo saber onde se aprontar. Desferem os ataques como os relâmpagos vindos das nove camadas dos céus. 8 – Prever uma vitória que um homem vulgar possa igualmente prever não representa o máximo da habilidade. Li Ch’üan: [...] Quando Han Hsin destruiu o Estado de Chao, marchou da Ravina do Poço ainda antes do desjejum. “Destruiremos – disse – o exército de Chao e depois nos reuniremos para comer.” Os generais sentiram-se desanimados, mas fingiram achar bem. Han Hsin dispôs as suas tropas com o rio na retaguarda. Os soldados de Chao, dos seus parapeitos, provocaram-no com grande risota: “O general de Han desconhece como se devem dispor as tropas!”. No entanto, Han Hsin derrotou-os e, após ter comido, fez decapitar o Senhor Ch’eng An. Este é um exemplo do muito que muitos não compreendem. 9 – Triunfar em batalhas e por todos ser aclamado como “perito” não significa o máximo da habilidade, já que erguer um pouco de penugem de outono não requer grande força, distinguir entre sol e lua não pede grande visão, e escutar o ribombar do trovão não mostra grande audição. Chang Yü: Por penugem de outono, Sun Tzu quer referir-se à penugem outonal dos coelhos, que é muito leve. 10 – Antigamente, era usual chamarem-se “peritos” àqueles que na guerra venciam os inimigos facilmente vencíveis. 11 – Por isso, as vitórias conseguidas por um mestre da guerra não lhe trazem nem reputação de sapiência nem mérito por bravura. Tu Mu: Uma vitória conseguida antes de a situação se ter cristalizado é uma daquelas que as pessoas vulgares não compreendem, de modo que o seu executor não ganha qualquer reputação de sagacidade. Ainda antes de ensanguentar a sua espada, já o Estado inimigo se encontra dominado. Ho Yen-hsi: [...] Quando alguém vence o inimigo sem o combater, quem se lembrará de lhe chamar de valoroso? 12 – Isso porque obtém as suas vitórias sem errar. “Sem errar” significa que tudo que faz lhe assegura a vitória; domina um inimigo já dominado. Ch’en Hao: Quando se planeja, nenhuma manobra deverá ser inútil; na estratégia, nenhum passo em vão. 13 – Logo, o comandante habilidoso toma posições onde não pode ser derrotado e não perde qualquer ocasião de subjugar o inimigo. 14 – Dessa forma, o exército vitorioso consegue as suas vitórias sem batalhas. Um exército que espera vencer combate na esperança de vencer. Tu Mu: [...] O duque Li Ching, de Wei, disse: “Vejamos. As condições que se requerem de um general são: percepção clara, boa harmonia com o seu patrono, profunda noção de estratégia, conhecimento de planejamento a longo prazo, compreensão de meteorologia e capacidade de análise dos fatores humanos. Isso porque um general que não sabe avaliar as suas capacidades ou entender as artes das conveniências e da flexibilidade, quando colocado perante a oportunidade de combater o inimigo, fá-lo atropelada e hesitantemente, olhando ansiosamente para a direita e para a esquerda, sem seguir qualquer plano. De forma crédula, aceitará como boas informações sem crédito algum, acreditando ora nisto, ora naquilo. Assustadiço como uma raposa, quer ao avançar, quer ao retirar, levará os seus homens a dispersarem-se por todos os lados. Qual será a diferença entre uma atitude dessas e a de se jogar gente inocente na fogueira ou na água fervendo? Não será o mesmo que tocar vacas ou ovelhas na direção dos lobos ou dos tigres?”. 15 – Aqueles que são hábeis na guerra cultivam o Tao e observam as leis. São, portanto, capazes de formular projetos vitoriosos. Tu Mu: O Tao é o caminho da clemência e da justiça. As “leis” são os regulamentos e as instituições. Aqueles que na guerra se distinguem são justos e clementes e respeitadores das leis e das instituições. Assim, tornam o seu governo invencível. 16 – Os elementos da arte da guerra são: primeiro, a noção de espaço; segundo, a apreciação das quantidades; terceiro, os cálculos; quarto, as comparações; e quinto, as possibilidades de vitória. 17 – A noção de espaço é dependente do terreno. 18 – As quantidades resultam de medições; os números, das quantidades; as comparações, dos números; ea vitória, das comparações. Ho Yen-hsi: “Terreno” – abrange não só as distâncias, mas também o relevo; “medições” significa cálculos. Antes de se movimentar um exército, fazem-se cálculos quanto ao grau de dificuldade do terreno inimigo, apura-se se as estradas são diretas ou se têm desvios, o número de homens de que o adversário dispõe, a quantidade de armas que tem e o seu moral. Fazem-se cálculos para se saber se pode ser atacado, e só então se mobiliza a população e se formam os exércitos. 19 – Um exército vitorioso será como um quintal comparado com uma grama; um exército vencido, como uma grama comparada com um quintal. 20 – É em virtude da disposição que um general vitorioso consegue fazer que a sua gente lute com a força de águas represadas que subitamente se soltam e se deixam tombar num abismo sem fundo. Chang Yü: Está na natureza da água evitar os altos e correr para os pontos baixos. Quando uma barragem se rompe, a água, em cascata, adquire força irresistível. Um exército é como a água. Aproveita-se da distração do inimigo, ataca-o onde não é esperado, evita-lhe a força e atinge-o onde não pode defender-se. Tal como a água, nada lhe resiste. V - Energia Sun Tzu disse: 1 – De um modo geral, dirigir muitos é quase igual a dirigir poucos. É somente uma questão de organização. Chang Yü: Para se dirigir um exército, primeiro confiam-se responsabilidades aos generais e seus auxiliares, distribuem-se os soldados... Um homem é um elemento; dois, um par; três, um trio. Um par e um trio constituem uma quina; duas quinas formam uma seção; cinco seções, um pelotão; dois pelotões, uma companhia; duas companhias, um batalhão; dois batalhões, um regimento; dois regimentos, um grupo; dois grupos, uma brigada; duas brigadas, um exército. Cada um se subordina ao seu superior e controla o seu inferior. Dessa maneira, apenas um pode dirigir um exército de um milhão exatamente como se de bem poucos se tratasse. 2 – E controlar muitos é o mesmo que controlar poucos. É questão de formações e sinais. Chang Yü: É certo que, quando se empregam grandes quantidades de tropas, estas estão separadas, e os ouvidos não podem ouvir perfeitamente, e os olhos não podem ver claramente. Os homens e os oficiais são, pois, mandados a avançar ou recuar de acordo com movimentos de bandeiras e guiões e mover-se ou estacar por meio de sinetas e tambores. Assim, nem os valorosos avançam isolados nem os covardes fogem. 3 – O fato de um exército aguentar um ataque do inimigo sem ser derrotado depende dos movimentos das tropas especiais e normais. Li Ch’üan: As forças que enfrentam o inimigo são as normais; as que lhe castigam os flancos, as extraordinárias. Nenhum comandante poderá submeter o inimigo sem unidades extraordinárias. Ho Yen-hsi: Pessoalmente, levo o inimigo a pensar que as minhas forças normais são as extraordinárias; e as extraordinárias são as normais. Além disso, as forças normais podem passar a extraordinárias e vice-versa. 4 – As tropas lançadas contra um inimigo mal concentrado serão como nós rodando sobre ovos. Ts’ao Ts’ao: “Emprega-se o mais concentrado sobre o menos concentrado”. 5 – Geralmente, numa batalha, devem empregar-se as forças normais para o entrechoque e as extraordinárias para a vencer. 6 – Sucede que as possibilidades para aqueles que são peritos no uso de forças extraordinárias são tão infinitas como os céus e a Terra, tão inesgotáveis como o fluir dos grandes rios. 7 – Isso porque acabam e recomeçam; são cíclicas como o mover do Sol e da Lua. Nascem e renascem; são periódicas como as estações, que se sucedem. 8 – As notas musicais são cinco apenas, mas as melodias que com elas se podem compor são tantas que nunca as poderemos escutar todas. 9 – As cores primárias são cinco apenas, mas as suas combinações são tantas que não se podem visualizar todas. 10 – Os sabores são cinco apenas, mas as suas misturas são tantas que de todas não se pode gostar. 11 – Em batalha, há somente forças normais e forças extraordinárias, mas as suas combinações não têm limites. Nenhum homem as abarca todas. 12 – Isso porque tais forças se reproduzem entre si. A sua interação é sem fim, como a de aros interligados. Quem poderá saber onde acaba um e outro começa? 13 – Quando a água da torrente desloca penedos, fá-lo devido ao seu ímpeto. 14 – Quando o choque do falcão esfacela o corpo da sua presa, fá-lo pela sua sincronização. Tu Yu: Choca-te contra o inimigo como o falcão se choca contra o seu alvo, partindo-lhe a espinha, porque aguarda o momento preciso para bater. O seu movimento é sincronizado. 15 – O ímpeto daqueles que sabem de guerra é, portanto, esmagador; e o seu ataque, orientado com precisão. 16 – O seu potencial é o de uma besta retesada. A sua precisão reside no momento de soltar o gatilho. 17 – No seu tumulto e ruído, a batalha parecerá caótica, mas nela a desordem não existirá. As tropas parecerão andar às voltas, mas não poderão ser vencidas. Li Ch’üan: Numa batalha, tudo parece tumulto e confusão. As bandeiras e os guiões, porém, têm posições prescritas; e os sons dos címbalos, regras fixas. 18 – A confusão aparente corresponde à ordem exata; a covardia aparente, à coragem; e a fraqueza aparente, ao vigor. Tu Mu: O verso significa que, caso se queira simular desordem para atrair o inimigo, ter-se-á de ser altamente disciplinado. Só assim se saberá aparentar confusão. Quem quiser simular covardia e ficar aguardando o inimigo terá de ser valente, pois só desse modo poderá imitar o medo. Quem quiser parecer fraco para tornar o inimigo arrogante terá de ser extremamente forte. Só então poderá pretender a fraqueza. 19 – A ordem e a desordem dependem de organização; a coragem e a covardia, das circunstâncias; a força e a fraqueza, das disposições. Li Ch’üan: Quando as tropas ocupam uma situação favorável, o covarde torna- se bravo. Se estão perdidas, o bravo vira covarde. Na arte da guerra, não existem regras fixas. Apenas podem ser talhadas segundo as circunstâncias. 20 – Assim, os que são hábeis em levar o inimigo a mover-se, fazem-no criando- lhe uma situação com a qual terá de se conformar. Atraem-no para qualquer ponto que esteja perto de poder tomar e, com tal engodo de ostensivo proveito, aguardam-no em força. 21 – Por consequência, um comandante capaz busca a vitória na situação, sem a pedir aos seus subordinados. Ch’en Hao: Os peritos guerreiros dependem principalmente de oportunidades e expedientes. Não deitam tudo somente para as costas dos seus homens. 22 – Escolhe os seus homens para que explorem a situação. Li Ch’üan: [...] os valentes lutam, os cautelosos defendem, e os sábios aconselham. De nenhum será de perder o talento. Tu Mu: [...] Não se exigem realizações àqueles de talento desprovidos. Quando Ts’ao Ts’ao atacou Chang Lu em Han Chung, deixou os generais Chang Liao, Li Tien e Lo Chin comandando mais de mil homens em defesa do Ho Fei. Ts’ao Ts’ao enviou instruções ao comissário do exército, Hsieh Ti, escrevendo na borda do sobrescrito: “Para abrir somente quando os rebeldes chegarem”. Pouco depois, Sun Ch’üan, de Wu, com cem mil homens, cercou Ho Fei. Os generais leram então as instruções: “Se Sun Ch’üan surgir, os generais Chang e Li sairão para o combate, e o general Lo defenderá a cidade. O comissário do exército não participará da batalha. Só os generais combaterão o inimigo”. Chang Liao exclamou: “O nosso senhor faz a campanha longe daqui e, enquanto esperamos reforços, os rebeldes irão certamente destruir-nos. Segundo as instruções, deveremos, antes de o inimigo se concentrar, atacá-lo para lhe embotar a frente lacerante e levantar o moral das nossas tropas. A seguir, defenderemos a cidade. A oportunidade de vitória está nessa única ação”. Li Tien e Chang Liao surtiram atacando e realmente vencendo Sun Ch’üan, e diminuindo o valor do exército Wu. Regressaram, ordenaram as suas defesas, e as gentes sentiram-se seguras. Sun Ch’üan assaltou durante dez dias a cidade, mas, não conseguindo subjugá-la, retirou-se. O historiadorSung Sheng, dissertando acerca deste fato, afirmou: “Na verdade, na guerra tudo é ludíbrio. Quanto às defesas, Ho Fei estava na corda bamba, fraco e sem esperança de reforços. Caso se confie apenas em generais valentes, que adoram lutar, o resultado será mau. Caso se confie apenas nos cautos, os seus corações temerosos tornarão difícil dominar a situação”. Chang Yü: O melhor método para se empregarem homens consiste em utilizar os avarentos e os estúpidos, os inteligentes e os corajosos, responsabilizando cada um de acordo com as situações que mais convenham às suas maneiras de ser. Selecionem-se segundo as suas capacidades. 23 – Quem depende de situações emprega na luta os seus homens exatamente como se fazem rolar pedras ou toras. De acordo com a natureza, as pedras e as toras, quando em terreno plano, são estáticas; mas, em terreno irregular, se movem. Se têm arestas, param; se são arredondadas, rolam. 24 – Assim, o potencial de tropas habilmente dirigidas pode ser equiparado ao de penedos redondos que rolarão desde o alto das montanhas. Tu Mu: [...] Logo, pouca força é necessária para muito se conseguir... Chang Yü: [...] Li Ching disse: “Na Guerra, há três tipos de situações: Quando um general despreza o inimigo, e os seus oficiais adoram combater com ambições vogando muito acima do céu anil e um estado de espírito tão feroz como o tufão, essa é uma situação ligada ao moral. Quando alguém defende um desfiladeiro delgado como as tripas de um carneiro ou estreito como a entrada da casinha de um cão, esse alguém consegue deter um milhar. É uma situação decorrente do terreno. Quando alguém se aproveita da indolência do inimigo, do seu cansaço, da sua fome ou sede, ou o ataca quando as suas guardas avançadas ainda não estão estabelecidas, ou o seu exército se encontra ainda a meio de um rio que cruza, essa será uma situação oferecida pelo inimigo”. Por conseguinte, ao utilizarem-se tropas, haverá que colher vantagens da situação, tal como para se fazer rolar abaixo uma bola por uma encosta íngreme. A força necessária é mínima, mas os resultados são imensos. VI - Fraquezase Forças Sun Tzu disse: 1 – De maneira geral, quem primeiro ocupar o campo de batalha estará à vontade. Quem chegar mais tarde ao local e imediatamente se atirar para o combate fá-lo-á já cansado. 2 – É por isso que quem sabe guerrear puxa o inimigo para o campo da peleja e não se deixa para ali ser levado por ele. 3 – Quem pretender fazer o inimigo vir de boa vontade terá de lhe oferecer vantagens. Quem não desejar que ele venha terá de o molestar. Tu Yu: [...] Detendo-se em pontos-chave, nas estradas estratégicas, não se pode atrair o inimigo. O mestre Wang afirmava: “Quando um gato está à saída da toca do rato, nem dez mil ratos se atreverão a sair; quando um tigre está de tocaia num vau, nem dez mil veados o atravessam”. 4 – Quando o inimigo estiver à vontade, deverá ser cansado; quando bem alimentado, dever-se-á esfaimá-lo; quando fresco, dever-se-á fazê-lo mexer-se. 5 – Surge em pontos que o levem a apressar-se; move-se velozmente onde ele o não contar. 6 – Para que se possam percorrer mil li sem se cansar, ter-se-á de viajar para onde o inimigo não se encontre. Ts’ao Ts’ao: Busque-se o vazio, ataque-se nos espaços livres, circunde-se o que está defendido e golpeie-se onde não se é esperado. 7 – Para se ter certeza de vir a tomar-se aquilo que se ataca, ataque-se um ponto que o inimigo não defende. Para se ter a certeza de poder manter-se o que se defende, defendam-se os pontos que o inimigo não atacará. 8 – Por essa razão, contra aqueles que são peritos no ataque, o inimigo não sabe como se defender; contra os peritos na defesa, o inimigo não sabe onde atacar. 9 – Sutil e imaterial, o perito não deixa rastros e, divinamente misterioso, é inaudível. Assim, transforma-se no senhor do destino do seu adversário. Ho Yen-hsi: [...] Apresento ao inimigo as minhas forças como se de fraquezas se tratasse, ao mesmo tempo que transformo as suas forças em fraquezas e busco onde mais fraco será [...]. Oculto os meus rastros para que ninguém os note e conservo-me calado para que ninguém me ouça. 10 – Aquele cujo avanço é irresistível mergulha para dentro dos pontos fracos do inimigo. Aquele a quem na retirada não convém ser perseguido executa-a tão depressa que não possa ser alcançado. Chang Yü: [...] Vem como o vento e vai-te como o relâmpago. 11 – Quando desejo travar uma batalha, o meu adversário, mesmo quando protegido por muralhas elevadas e profundos fossos, é obrigado a fazê-lo porque o ataco em pontos que tem de socorrer. 12 – Quando desejo evitar uma batalha, posso simplesmente defender-me traçando uma linha no solo; o inimigo não me ataca porque o afasto dos pontos para onde deseja ir. Tu Mu: Chu-ko Liang acampou em Yang Ping e mandou que Wei Yen e vários outros generais agrupassem as suas forças e marchassem para leste. Chu-ko Liang deixou somente dez mil homens para a defesa da cidade e aguardou relatórios. Ssü-ma I disse: “Chu-ko Liang está na cidade, as suas tropas são poucas e não têm força. Os seus generais e oficiais encontram-se desmoralizados”. Nessa altura, Chu-ko Liang, que, como de costume, estava com ótima disposição, mandou que os seus soldados baixassem os seus galhardetes, silenciassem os seus tambores e proibiu-os de sair. Abriu as quatro portas da cidade e fez que as ruas fossem varridas e regadas. Ssü-ma I, suspeitando tratar-se de uma emboscada, conduziu a toda pressa as suas forças para as montanhas do norte. Chu-ko Liang observou para o seu chefe de Estado-maior: “Ssü-ma I pensou que eu lhe armara uma cilada e fugiu para as serras”. Ssü-ma I veio a saber daquilo em que caíra e mordeu-se de arrependimento. 13 – Se consigo apurar as disposições do meu inimigo e, simultaneamente, oculto-lhe as minhas, então, posso concentrar-me, e ele terá de se dividir. E se eu me concentro enquanto ele se divide, posso, com toda a minha força, atacar uma fração da sua. Aí gozarei de superioridade numérica. Assim, com muitos contra poucos, estes ficarão numa posição medonha. Tu Mu: [...] Por vezes sirvo-me de tropas ligeiras e vigorosos cavaleiros para atacar onde o adversário não conta, outras vezes de besteiros e arqueiros para tomar um ponto-chave, para agitar a sua esquerda, ultrapassar a sua direita, alarmá-lo na vanguarda e golpear, subitamente, pela retaguarda. Durante o dia, confundo-o com bandeiras e guiões agitando-se. De noite, perturbo-o com tambores. Temeroso e a tremer, divide as suas forças a fim de tomar precauções. 14 – O inimigo deve desconhecer onde pretendo dar-lhe batalha, porque, não o sabendo, terá de se preparar em muitos pontos diferentes, resultando que aquele que eu atacar disporá sempre de poucos a defendê-lo. 15 – Caso se prepare na vanguarda, desguarnece a retaguarda; se o fizer na retaguarda, a sua frente enfraquecerá. Se preparar a ala esquerda, na direita poucos ficarão; se o executar na direita, poucos restarão à esquerda. Finalmente, caso se prepare em todos os lados, em todos os lados ficará fraco. Chang Yü: Não descobrirá onde surgirão os meus carros, de onde virá a minha cavalaria, para onde irá a minha infantaria, pelo que se dispersará e se dividirá, tentando defender-se de mim em todos os lados. Com as forças espalhadas e enfraquecidas, a sua força dissipada e quebrada, no local onde eu o atacar, poderei servir-me de um grande exército contra as suas pequenas unidades isoladas. 16 – Quem de poucos dispuser tem de se preparar contra o inimigo; quem muitos tiver fará que o inimigo se prepare contra ele. 17 – Quem souber onde e quando uma batalha vai se dar, as suas tropas poderão marchar mil li e reagrupar-se no campo da peleja. Quem ignorar o local e a data da batalha verá a sua ala esquerda incapaz de auxiliar a direita e vice-versa, a vanguarda sem poder apoiar a retaguarda, e esta sem poder servir aquela. Se é assim com separações de alguns li, como não será com intervalos de dezenas? Tu Yu: Os conhecedores da guerra têm de saber ondee quando será a batalha. Procedem à medição das estradas e marcam a data. Dividem os exércitos e avançam em colunas separadas. As que estão mais afastadas partem na frente, e só depois as que estão mais próximas, para que o encontro de tropas, mesmo à distância de mil li, faça-se exatamente ao mesmo tempo. Como as pessoas ao dirigirem-se para uma feira. 18 – Embora eu calcule as tropas de Yüeh em tal número, qual é o benefício de tal superioridade naquilo que está para suceder? 19 – Por isso afirmo que as vitórias podem ser criadas. Mesmo que o inimigo seja numeroso, posso evitar chocar-me com ele. Chia Lin: Embora o inimigo seja numeroso, desconhece a minha situação militar. Posso sempre obrigá-lo a tratar das suas preparações, roubando-lhe tempo para planejar como me há de combater. 20 – Assim, descobre o plano do inimigo e logo saberás qual a estratégia que te convirá e a que não te convirá. 21 – Agita-o e certifica-te do esquema dos seus movimentos. 22 – Localiza as suas posições para teres a certeza do local do campo de batalha. 23 – Tenteia-o, para conheceres onde a sua força é abundante e onde é deficiente. 24 – O cúmulo da perfeição na disposição de tropas está em fazê-lo de modo que não seja compreensível. Nem os melhores espiões a entenderão, nem os sábios poderão elaborar planos contra ti. 25 – É de acordo com as formas que crio planos para vitórias, mas as gentes não entendem isso. Embora todos possam observar os aspectos externos, nenhum percebe como obtive a vitória. 26 – Assim, após ter conseguido uma vitória, não lhe repetirei a tática, mas corresponderei às circunstâncias em formas de infinita variedade. 27 – Pode comparar-se um exército com a água, pois, assim como a água corrente evita as alturas e procura os pontos baixos, um exército evita a força e ataca os pontos fracos. 28 – Tal como a água molda o seu correr de acordo com o solo, também um exército consegue a vitória de acordo com a situação do inimigo. 29 – A água não tem forma constante. Na guerra, também não existem condições constantes. 30 – Por isso, pode dizer-se que quem obtém uma vitória alternando as suas táticas de conformidade com a situação do inimigo é divino. 31 – Dos cinco elementos, nenhum é predominante; das quatro estações, nenhuma dura para sempre; os dias, uns são longos; outros, curtos; a lua enche e míngua. VII - Manobras Sun Tzu disse: 1 – Normalmente, quando há um exército a utilizar, o general recebe as ordens do seu soberano, concentra tropas e procede a mobilizações. Transforma as suas forças num todo e acampa-as. Li Ch’üan: Recebe o mandato do soberano em conjunto com as vitoriosas deliberações do Conselho do Templo: reverentemente, executa os castigos pelo céu ordenados. 2 – Nada é mais difícil do que a arte das manobras, e mais difícil ainda é tornar direto o percurso aparentemente tortuoso e transformar os infortúnios em vantagens. 3 – Deste modo, marchar pelo caminho indireto, iludindo o inimigo e atraindo-o com engodos, permite partir depois dele e, mesmo assim, precedê-lo na chegada. Quem isso souber fazer compreende a estratégia do direto e do indireto. Ts’ao Ts’ao: [...] Aparenta afastado. Podes partir depois do inimigo e chegar à sua frente, pois sabes medir e calcular as distâncias. Tu Mu: Quem desejar obter vantagens seguirá uma rota longínqua e desviada, tornando-a curta. Transforma os infortúnios em vantagens. Engana e confunde o inimigo, dispersando-o e amolecendo-o, e, logo, marchando celeremente. 4 – Tanto as vantagens como os perigos estão ligados às manobras. Ts’ao Ts’ao: Quem for hábil tira proveitos delas, quem não o for corre perigo. 5 – Quem movimentar todo um exército para alcançar uma vantagem não o conseguirá. 6 – Quem, buscando vantagens, abandonar o acampamento perderá as suas provisões. Tu Mu: Quem se deslocar tudo levando verá as provisões moverem-se lentamente e não obterá a vantagem. Se deixar para trás o que é pesado e avançar com forças ligeiras, somente correrá o perigo de perder as bagagens. 7 – Acontece que quem enrolar as armaduras e arrancar a toda velocidade, sem parar nem de dia nem de noite, em marchas forçadas, por uma centena de li, verá os seus três comandantes aprisionados. Os soldados vigorosos serão os primeiros, vindo os restantes a arrastarem-se muito depois deles, pelo que, segundo este método, somente um décimo do exército alcançará o seu objetivo. Tu Mu: [...] Normalmente, um exército marcha até 30 li por dia, o que representa um estádio. Em marcha forçada, para cobrir o dobro, faz dois estádios. Somente se podem percorrer cem li se não se descansar, nem de noite, nem de dia. Fazendo-o, porém, as tropas serão aprisionadas. [...] Quando Sun Tzu diz que, seguindo este método, apenas um em cada dez chega ao objetivo, significa não haver outra alternativa e que terá de se lutar por uma posição de vantagem, escolher o mais robusto de cada grupo de dez homens, mandando-os na frente, e ordenando aos demais que os sigam. Dessa forma, de dez mil homens selecionam-se mil, que deverão chegar ao alvorecer. Os restantes irão seguindo continuamente, uns a meio da manhã, outros a meio da tarde, de modo que nenhum venha exausto e todos possam, sucessivamente, juntar-se aos que os precederam. O som dos seus passos será ininterrupto. Na luta por uma vantagem, aquela terá de o ser por um ponto-chave estratégico. Então, mesmo os mil iniciais o poderão defender até que os demais apareçam. 8 – Numa marcha forçada de 50 li, o comandante da vanguarda tombará, e quem seguir este método verá chegar metade do seu exército somente. Numa marcha forçada de 30 li, apenas dois terços chegarão. 9 – Acontece que um exército sem equipamento pesado, forragem, alimentos e provisões irá perder-se. Li Ch’üan: [...] A proteção com revestimentos de metal é menos importante do que cereais e alimentos. 10 – Aqueles que desconhecem as condições das montanhas e das florestas, dos desfiladeiros perigosos, dos sapais e dos pântanos não podem dirigir um exército em marcha. 11 – Aqueles que não se servirem de guias locais serão incapazes de se aproveitar das vantagens do terreno. Tu Mu: O Kuan Tzu diz: “Usualmente, o comandante terá de estudar, convenientemente e com tempo, mapas que o ponham a par dos locais perigosos para os carros e as carroças, dos sítios onde a água é demasiado profunda para os carroções, das portelas em montanhas famosas, dos principais rios, da localização das terras altas e dos montes, dos pontos onde os juncos, as florestas e os caniços mais densos são, dos comprimentos das estradas, dos tamanhos das cidades e vilas, das localidades mais conhecidas e das que foram abandonadas, de onde há pomares bem carregados. Tudo isso terá de saber e ainda por onde passam e repassam as raias. Todos esses pormenores terá o general de decorar, e só assim não perderá as vantagens que o terreno dá”. Li Chiang disse: “[...] Devemos escolher os oficiais mais valentes, inteligentes e vivos e, orientados por guias locais, atravessaremos em segredo montanhas e florestas, silenciosamente e cobrindo os nossos rastros. Por vezes, faremos cascos artificiais de animais, com que cobriremos nossos pés, noutras ocasiões colocaremos aves artificiais nos nossos chapéus e, o mais calados que seja possível, iremos deixar-nos ficar no sub-bosque luxuriante. Isso feito, escutaremos atentamente quaisquer sons vindos de longe e semicerraremos os nossos olhos para melhor vermos. Concentraremos todas as nossas faculdades para agarrar qualquer e toda oportunidade que nos surja. Observaremos as condições atmosféricas, buscaremos no fundo das águas sinais de terem sido vadeadas pelo inimigo e prestaremos atenção aos movimentos das árvores que possam mostrar-nos a sua aproximação”. Ho Yen-hsi: [...] Se, com instruções para nos lançarmos em campanha, nos apressarmos através de terras desconhecidas, onde a cultura ainda não chegou e as comunicações ficam cortadas, e corrermos pelos seus desfiladeiros, isso será tarefa difícil, não é? Se sigo com um exército isolado,o inimigo vigilante aguarda-me. As posições do atacante e do atacado são profundamente diferentes e muito mais ainda quando o adversário se serve de processos dissuasores, utilizando sistemas que nos confundem! Se não tivermos feito planos e mergulharmos de cabeça, afrontando perigos e metendo-nos em locais traiçoeiros, arriscar-nos-emos a ser armadilhados ou inundados. Marchando como bêbados, poderemos ser obrigados a combates que não esperamos. À noite, quando paramos, assustamo-nos com falsos alarmes. Se nos apressarmos, sem preparação, cairemos em emboscadas. Corresponde a atirar com um exército de ursos e de tigres para o campo da morte. Como poderemos enfrentar as fortificações dos rebeldes ou varrê-los das suas enganosas cavernas? Em terra inimiga, portanto, as montanhas, os rios, as terras altas e baixas e os montes são pontos estratégicos onde a defesa é possível. As florestas, os caniçais, os juncais densos e as ervas altas podem esconder o inimigo. Os comprimentos das estradas e dos caminhos, o tamanho das cidades e das vilas, a importância das aldeias, a fertilidade ou esterilidade dos seus campos, a grandeza dos seus sistemas de irrigação, a quantidade de víveres armazenados, a dimensão das suas forças, o estado das suas armas – tudo terá de ser conhecido. Temos então uma noção do inimigo e com facilidade podemos batê- lo. 12 – A guerra baseia-se no logro. Move-te quando for vantajoso e cria as mudanças de situação dispersando ou concentrando as tuas forças. 13 – Em campanha, sê veloz como o vento. Ao marchares à vontade, terás a majestade da floresta. Nos ataques súbitos e no saqueio, copiarás o fogo. Parado, imitarás as montanhas. Tão insondável como as nuvens, move-te como o corisco. 14 – Ao saqueares terra inimiga, divide as tuas forças. Ao conquistares território, divide os proveitos. 15 – Pondera a situação e depois move-te. 16 – Quem conhecer a arte das aproximações diretas e indiretas vencerá. Tal é a arte de manobrar. 17 – O Livro da Administração Militar lembra: “Como durante as batalhas as vozes não podem ser ouvidas, usam-se tambores e sinetas. Como durante as batalhas as tropas não se veem umas às outras, usam-se bandeiras e guiões”. 18 – Gongos e tambores, guiões e bandeiras servem para chamar a atenção das tropas. Com as tropas por eles unidas, os bravos não podem avançar sozinhos e os covardes retirar. É essa a arte de operar com um exército. Tu Mu: [...] A lei militar estipula: “Aqueles que, mandados avançar, não o fizerem e aqueles que, mandados retirar, não o fizerem, serão decapitados”. Quando Wu Ch’i combateu contra Ch’in, um oficial houve que, antes do combate, não se pôde conter. Avançou, cortou uma ou duas cabeças e regressou. Wu Ch’i ordenou que o decapitassem. O comissário do exército admoestou-o: “Trata-se de um oficial distinto. Não o deves decapitar!”. Wu Ch’i contestou-lhe: “Acredito que seja distinto, mas é desobediente”. E mandou que a sentença seguisse. 19 – Durante os combates noturnos, que os tambores e as tochas sejam muitos. De dia, muitas as bandeiras e os guiões. Assim se influenciarão a vista e a audição das nossas tropas. Tu Mu: [...] Exatamente como as grandes concentrações abrangem outras menores, também os grandes acampamentos abrangem outros menores. O exército da vanguarda, a retaguarda, as alas direita e esquerda, cada um tem o seu campo. Circundam o quartel-general do comandante-chefe, precisamente no centro. Todos os arraiais apontam para o quartel-general, sendo todas as suas quinas engatadas de modo que o conjunto se assemelhe à constelação Pi Lei. As distâncias entre os campos não vão além de cem passos e aquém de cinquenta. As ruas e passagens, no seu conjunto, permitem que as tropas se movam e façam paradas. As fortificações enfrentam-se para que se possam ajudar umas às outras graças aos arqueiros e besteiros. Em cada cruzamento, ergue-se um pequeno fortim, no topo do qual se empilha lenha. O seu acesso faz-se por meio de escadas. Em cima sempre estarão sentinelas. Na escuridão, se a sentinela escutar tambores, vindos das quatro quinas do acampamento, acende a fogueira. Assim, se o inimigo atacar, poderá forçar as portas, mas defrontar-se-á por todos os lados com pequenos arraiais, todos firmemente defendidos, e ficará sem saber se deve atuar a leste, a oeste, a norte ou a sul. No arraial do comandante-chefe e nos arraiais menores, os que primeiro tiverem conhecimento de que o inimigo está presente deixá-lo-ão entrar, rufando, logo de imediato, tambores, para que todos o saibam também. Em todos os fortins se atearão fogos, que transformarão a noite em dia. Imediatamente, os oficiais e as praças cerrarão as portas e guarnecerão as fortificações, enfrentando o adversário. Bestas e arcos poderosos atirarão para todos os lados [...]. A nossa única preocupação será que o inimigo não nos ataque de noite, porque, se o fizer, já sabe que será vencido. 20 – Um exército pode perder o seu ânimo, e o seu comandante ficar sem coragem. Ho Yen-hsi: [...] Wu Ch’i diz: “A responsabilidade de um exército de um milhão cai nos ombros de um só homem. Ele é o gatilho do seu ânimo.” Mei Yao-ch’en: [...] Se um exército se encontra sem moral, também o seu general perde o ânimo. Chang Yü: Ânimo é o meio pelo qual o general domina. A ordem e a confusão, a bravura e a covardia são qualidades dependentes do ânimo. Aquele que sabe vencer os seus inimigos provoca-lhes frustrações e atira-se a eles. Impacienta-os para confundi-los, perturba-os para os assustar. Rouba-lhes o ânimo e a capacidade de planejar. 21 – De manhã cedo, a disposição é boa, durante o dia, abate-se e, ao cair da tarde, há saudades do lar. 22 – Por tal razão, quem sabe guerrear evita um inimigo bem-disposto e ataca-o quando ele está amolecido e com os seus soldados saudosos. Assim se controla o fator moral. 23 – Ordenadamente, espera-se um inimigo desordenado; serenamente, um clamoroso. Assim se controla o fator mental. Tu Mu: Na serenidade e na firmeza, ficarão indestrutíveis perante os acontecimentos. Ho Yen-hsi: Porque para o general solitário que sutilmente controla um milhão de homens contra um inimigo feroz como tigres, as vantagens e as desvantagens apresentam-se interligadas. Perante alterações sem número, terá de ser sábio e flexível. A não ser que seja duro de peito e de mente e difícil de perturbar, como poderia ele corresponder aos acontecimentos sem enlouquecer? E como resolver problemas sem se confundir? E quando na frente de inesperadas dificuldades não se alarmar? Como poderia ele controlar inúmeros assuntos sem se desorientar? 24 – Perto do campo de batalha, esperam um inimigo vindo de longe; descansados, aguardam um inimigo exausto; bem alimentados, preparam-se para receber inimigos famintos. Assim se controla o fator físico. 25 – Não atacam um inimigo que avança ordenadamente com guiões drapejando, nem outro cuja aparência seja impressionantemente aguerrida. Assim se controla o fator das circunstâncias mutantes. 26 – Faz, pois, parte das artes da guerra não confrontar o inimigo que se encontra em terreno alto e a ele não se opor quando tem a sua retaguarda apoiada em encostas e montes. 27 – Quando procurar fugir, não o perseguir. 28 – Não atacar as suas tropas de escol. 29 – Não engolir os engodos que lhe são oferecidos. Mei Yao-ch’en: O peixe que cobiça a isca é fisgado; as tropas que vão atrás de um engodo são derrotadas. Chang Yü: As Três Estratégias dizem-nos: “Atrás de uma isca apetitosa é certo aparecer um peixe”. 30 – Não contrariar um inimigo que pretende voltar para casa. 31 – Deixar a um inimigo cercado uma saída por onde fugir. Tu Mu: Mostra-lhe haver um caminho para a segurança, criando-lhe a ideia de existirem possibilidades de escapar à morte. Somente depois se ataca. Ho Yen-hsi: Quando Ts’ao Ts’ao cercou Hu Kuan, proferiu a seguinte ordem: “Quando a cidade for tomada, os seus defensores serão enterrados”. Passaram- se meses e a cidade não caía. Ts’ao Jen disse então: “Quando uma cidade está cercada, é essencialdemonstrar aos sitiados que há uma possibilidade de sobrevivência. Portanto, Senhor, como lhes haveis dito terem de lutar até à morte, todos o estão fazendo para salvar a pele. A cidade é forte e bem abastecida. Se a atacarmos, muitos oficiais e soldados ficarão feridos. Se teimarmos, perderemos muitos dias. Acampar junto das muralhas de uma cidade forte e atacar rebeldes decididos a combater até a morte não é um bom plano.” Ts’ao Ts’ao acatou-lhe o conselho, e a cidade rendeu-se. 32 – Não pressionar um inimigo acossado. Tu Yu: O príncipe Ch’ai disse: “Os animais bravios, quando acossados, lutam desesperadamente. Com os homens é bem pior ainda! Sabendo não haver hipóteses, combatem ate a morte!” Durante o reinado do imperador Hsian, de Han, Chao Ch’ung-kuo foi encarregado de submeter a tribo Ch’iang, que se revoltara. A gente de Ch’iang, ao ver o seu grande exército, desfez-se do seu material pesado e partiu para vadear o Rio Amarelo. A estrada seguia ao longo de apertados desfiladeiros, e Ch’ung-kuo foi-os deixando seguir descontraidamente. Alguém exclamou: “Procuramos a vantagem e, no entanto, não nos apressamos”. Ch’ung-kuo contestou: “Eles estão desesperados. Não os posso pressionar. Se continuar procedendo como estou, seguirão sem sequer olhar para o lado; se os pressionar, atirar-se-ão contra nós e lutarão até a morte.” E todos os generais exclamaram: “Espantoso!” 33 – É este o método de empregar tropas. VIII - As Nove Variáveis Sun Tzu disse: 1 – Normalmente, o sistema para o emprego de tropas inicia-se quando o comandante recebe um mandato do seu soberano para proceder a mobilização e formar os exércitos. 2 – Não deverás acampar em terreno baixo. 3 – Em terreno contíguo, junta-te aos teus aliados. 4 – Não deves demorar-te em terreno pobre. 5 – Em terreno fechado, usa a imaginação. 6 – Em terreno de morte, luta. 7 – Há estradas que não devem ser percorridas; tropas que não devem ser atacadas; cidades que não devem ser assaltadas; terrenos que não devem ser disputados. Wang Hsi: Na minha opinião, são as tropas de escol as que devem servir de engodo, não se devendo atacar um inimigo em formações que se mostrem ordenadas e impressionantes. Tu Mu: Refere-se, provavelmente, a inimigos em posições estratégicas, atrás de altas muralhas e fossos profundos, bem abastecidos, cujo objetivo é travar o meu exército. Se ataco a cidade e a tomo, não haverá grande vantagem a apontar, mas se a assaltar e a não tomar, irei certamente desgastar as minhas forças. Por consequência, não devo atacar. 8 – Ocasiões há em que as ordens do soberano não necessitam ser obedecidas. Ts’ao Ts’ao: Quando necessário, em campanha, o general não pode ficar amarrado às ordens do soberano. Tu Mu: O Wei Liao Tzu diz: “As armas são instrumentos funestos; contender é contrário à virtude; o general, o representante da morte, sem responsabilidade perante os céus acima de si, a terra embaixo, o inimigo à sua frente e o soberano atrás de si”. Chang Yü: O rei Fu Ch’ai disse: “Quando vires o caminho certo, segue-o. Não aguardes ordens”. 9 – Um general versado nas vantagens dos nove fatores variáveis sabe como empregar as suas tropas. Chia Lin: O general deve confiar na sua habilidade para controlar vantajosamente as situações à medida que as oportunidades as forem oferecendo. Não se sente preso por sistemas preestabelecidos. 10 – O general que não compreende as vantagens dos nove fatores variáveis não se saberá servir do terreno, ainda que o conheça. Chia Lin: [...] Um general valoriza alterações oportunas das circunstâncias. 11 – Na condução de operações militares, aquele que desconhece as táticas apropriadas às nove situações variáveis é incapaz de empregar com bons resultados as suas tropas, mesmo que conheça as “cinco vantagens”. Chia Lin: [...] As “cinco variáveis” são as seguintes: Uma estrada, embora mais curta, não deve ser utilizada, se perigosa ou apropriada à emboscada. Um exército, ainda que em condições de ser atacado, não o deve ser caso se encontre em desespero, e logo disposto a lutar até a morte. Uma cidade, mesmo isolada e suscetível de ser atacada, não o deve ser se houver probabilidades de se encontrar bem abastecida, bem defendida por tropas capazes, comandadas por um general sábio, cujos delegados lhe sejam leais e com planos insondáveis na mente. O terreno, embora possa ser contestado, não o deverá ser caso se souber que, uma vez tomado, se tornará de defesa difícil, ou que a sua conquista não irá trazer vantagens ou o contra-ataque, com muitas baixas, de esperar. As ordens do soberano, muito embora devam ser acatadas, não são para seguir se o general nelas notar perigosa interferência a partir da capital. Essas cinco contingências serão tratadas à medida que vão surgindo e as circunstâncias as ditarem, não podendo ser previamente estabelecidas. 12 – E, precisamente por esta razão, o general sábio, sempre que algo deliberar, entrará em linha de conta com os fatores favoráveis e desfavoráveis. Ts’ao Ts’ao: Pondera os perigos inerentes às vantagens e as vantagens inerentes ao perigo. 13 – Tomando em conta os fatores favoráveis, torna o plano exequível; levando em conta os desfavoráveis, poder-se-ão solucionar as dificuldades. Tu Mu: [...] Se desejo obter vantagem sobre o inimigo, tenho de conhecê-lo bem, mas também de apurar o mal que ele me poderá vir a causar se eu a obtiver. Ho Yen-hsi: As vantagens e as desvantagens reproduzem-se mutuamente. Os iluminados sempre deliberam. 14 – Aquele que intimida os seus vizinhos fá-lo-a ferindo-os. Chia Lin: Projetos e planos para se ferir um inimigo não são limitados a um método apenas. Por vezes, levam-se os seus homens válidos e virtuosos a afastar-se dele para que fique sem conselheiros. Também se podem introduzir traidores no seu país para lhe arruinar a administração. Outras vezes, por meio de intrigas matreiras, faz-se separar os ministros do soberano. Mandam-lhe artesãos fora do comum para encorajar o seu povo a esbanjar a sua riqueza. Oferecem-lhe músicos e bailarinos dissolutos para lhe mudar os hábitos. Dão- lhe belas mulheres para o aturdir. 15 – Faz-se cansá-lo mantendo-o constantemente ocupado e depois o obrigando a correr de um lado para outro, oferecendo-lhe ostensivamente vantagens. 16 – Na guerra, não é doutrina não esperar que o inimigo não venha, mas sim, estar pronto para recebê-lo; não o convencer-se de que não nos atacará, mas sim, tornar-se invencível a si próprio. Ho Yen-hsi: [...] As “Estratégias de Wu” dizem: “Quando o mundo está em paz, o fidalgo mantém a espada à mão”. 17 – Há cinco qualidades negativas no caráter de um general. 18 – Se é ousado, pode ser abatido. Tu Mu: Um general estúpido e corajoso é uma calamidade. Wu Ch’i disse: “Quando as pessoas falam de um general, sempre dão grande importância à sua coragem. No entanto, coragem é somente uma qualidade. Acontece que um general valente sempre se atira para o combate descuidadamente e sem apreciar o que lhe trará vantagens”. 19 – Se é covarde, capturado. Ho Yen-hsi: O Ssü-ma diz: “Quem puser a própria vida acima de tudo, será vencido pela hesitação. Um general hesitante é uma calamidade”. 20 – Se é exaltado, pode fazer figura de louco. Tu Yu: Um homem impulsivo é fácil de enraivecer e ser levado ao seu fim. Quem facilmente se enfurece é irascível, obstinado e apressado. Não pondera as dificuldades. Wang Hsi: O principal no temperamento de um general é a sua constância. 21 – Se tem um sentido de honra demasiado delicado, pode ser caluniado. Mei Yao-ch’en: Quem está sempre preocupado com a defesa da sua reputação não olha a mais nada. 22 – Se é de natureza misericordiosa, é fácil de perturbar. Tu Mu: Quem é compassivo e benigno teme as baixas e não consegue oferecer vantagens para ganhos a longo prazo e é incapaz de perder isto para ganhar aquilo. 23 – Essas cinco características são falhas graves num general e sempre calamitosas em operações militares. 24 – O derruir do exército e a morte do general são os resultados inevitáveisdessas limitações. Há que nelas profundamente ponderar. IX - Movimentações Sun Tzu disse: 1 – Regra geral, ao ocupar-se uma posição frente ao inimigo, após a travessia de montanhas, mantém-se próximo dos vales. Acampa em terreno alto e voltado para o lado soalheiro. 2 – Combate descendo; não subas para atacar. 3 – E é quanto basta no que se refere à ocupação de posições em montanhas. 4 – Após atravessares um rio, afasta-te um pouco dele. 5 – Quando um inimigo cruza águas, não lhe dês encontro mesmo nas margens. Há vantagem em permitir que metade da sua força atravesse e só então o atacar. Ho Yen-hsi: Durante o período da primavera e do outono, o duque de Sung veio a Hung para combater as forças Ch’u. O exército Sung tomara posições antes de as tropas Ch’u terem cruzado o rio, pelo que o ministro da guerra disse: “Os inimigos são muitos, e nós somos poucos. Peço autorização para atacar antes que completem a travessia”. Ao que o duque respondeu: “Não te autorizo”. Quando o exército Ch’u acabara a passagem, mas ainda não reagrupara, o ministro pediu de novo autorização para iniciar o combate, ao que o duque retorquiu: “Ainda não. Somente quando estiverem em linha os atacaremos”. O exército Sung foi vencido; o duque, ferido numa coxa; e os oficiais de vanguarda, liquidados. 6 – Se quiseres dar batalha, não confrontes o inimigo junto de água. Toma posições em pontos altos e voltados para a luz do Sol. Não te esqueças a jusante. 7 – Isso refere-se à tomada de posições perto de rios. 8 – Atravessa os lagos salgados rapidamente, sem neles te demorares. Se te encontrares com o inimigo no meio de um desses lagos, toma posições junto de onde vires erva e em água que tenha árvores por trás. 9 – É isso o que há quanto a lagos salgados. 10 – Em terreno plano, ocupa posições que te facilitem os movimentos. Com alturas atrás e à direita, o campo de batalha estará na frente; e a retaguarda, segura. 11 – É essa a forma de se tomarem posições em terrenos planos. 12 – Regra geral, estas são vantajosas para se acampar quando das quatro situações que se mencionaram. Foi seguindo-as que o imperador Amarelo venceu quatro soberanos. 13 – Um exército prefere as terras altas às baixas; gosta de luz e foge da sombra. Assim, enquanto se vai revigorando, ocupa uma posição firme. Um exército que não sofra de doenças sem conta está, diz-se, seguro da vitória. 14 – Perto de elevações, sopés, diques ou barragens, ocupa o lado do Sol e apoia nele a tua direita e retaguarda. 15 – Todos esses métodos são vantajosos para o exército e fortalecem o auxílio que o terreno oferece. 16 – Onde houver “torrentes caudalosas”, “poços celestes”, “prisões celestes”, “redes celestes”, “armadilhas celestes” e “frestas celestes” deverás, a toda pressa, afastar-te. Não te achegues a eles. Ts’ao Ts’ao: As águas rugidoras nas fundas montanhas são as “torrentes caudalosas”. Um local em terreno baixo cercado de alturas é um “poço celeste”. Quando cruzares montanhas e o terreno se assemelhar a uma gaiola cerrada, trata-se de uma “prisão celeste”. Os pontos onde as tropas podem ser envolvidas e postas sem comunicações são as “redes celestes”. Lá onde o terreno se afunda está uma “armadilha celeste”. Onde as ravinas são estreitas e a estrada se abaixa por muitas dezenas de passos estão as “frestas celestes”. 17 – Afasto-me de todos e atraio o inimigo para elas. Enfrento-as e obrigo o inimigo a virar-lhes as costas. 18 – Quando um exército tem no seu flanco desfiladeiros perigosos ou lagoas recobertas de ervas aquáticas, juncos e caniços, ou montanhas com florestas densas e sub-bosque emaranhado, tudo isso deverá ser convenientemente batido, já que são esses os locais onde as emboscadas são armadas e os espiões se colocam de tocaia. 19 – Quando o inimigo está próximo e agachado, ele depende de uma situação favorável. Quando desafia de longe, quer convencer-te a avançar porque, em terreno fácil, encontra-se em posição vantajosa. 20 – Quando se notam árvores movendo-se, é o inimigo que avança. 21 – Quando no sub-bosque os obstáculos são muitos, estes destinam-se a qualquer logro. 22 – Aves levantando voo assinalam o inimigo emboscado; quando os animais bravios se espantam e fogem, significa que está tentando apanhar-te de surpresa. 23 – Poeira subindo em altas colunas estreitas revela a aproximação de carros. Quando o pó se mostra baixo e estendido, é a infantaria que avança. Tu Mu: Quando os carros e a cavalaria se deslocam rapidamente, fazem-no uns atrás dos outros como peixes numa espetada, obrigando a poeira a subir em delgadas colunas elevadas. Chang Yü: [...] Quando um exército marcha, deverá ter batedores à sua frente explorando o terreno. Se virem poeira levantada pelo inimigo, deverão imediatamente comunicá-lo ao general comandante. 24 – Quando a poeira se ergue por áreas dispersas, significa que traz lenha consigo; se tratar-se de muitas pequenas manchas, que aparecem e desaparecem, é porque o exército acampa. 25 – Quando o inimigo, servindo-se de emissários empregando termos humildes, prossegue com as suas preparações, é porque avançará. Chang Yü: Quando T’ien Tan defendia Chi Mo, o general Ch’i Che cercou-o. O próprio T’ien Tan, pegando numa pá, auxiliou os seus soldados nas defesas. Ordenou às suas esposas e concubinas que se alistassem e compartilhou os seus alimentos com os seus oficiais. Também enviou mulheres para que, do alto das muralhas, perguntassem pelas condições de rendição, o que muito satisfez o general de Yen. Igualmente acumulou 24 mil onças de outro, obrigando os cidadãos mais ricos a remeter ao adversário uma carta, rezando: “A cidade render-se-á de imediato. Apenas desejamos que não façais prisioneiras as nossas esposas e concubinas”. O exército Yen relaxou-se e tornou-se negligente, pelo que T’ien Tan, numa surtida, o esmagou. 26 – Quando a sua linguagem é feliz, e o inimigo intenciona avançar, mostra que retirará. 27 – Quando os adversários empregam emissários com muitas justificações, pretendem uma trégua. 28 – Quando, sem qualquer troca de impressões prévia, o inimigo pede uma suspensão de hostilidades, algo trama. Ch’en Hao: [...] Se, sem razão, alguém pede trégua, é com certeza porque as coisas não correm bem no seu país, o que o preocupa a ponto de necessitar de uma paragem para melhor estabelecer os seus planos. Ou, então, sabendo que a nossa situação é receptiva aos seus esquemas, está tentando apagar as nossas suspeitas com esse gênero de propostas. Aproveitar-se-á de pronto da nossa descontração. 29 – Quando os carros ligeiros saem primeiro e se deslocam para as alas, o inimigo apronta-se para a batalha. Chang Yü: Na formação “em escama”, os carros vão na frente e a infantaria atrás. 30 – Quando as suas tropas se deslocam rapidamente, e faz passar os seus carros para cá e para lá, está aguardando reforços. 31 – Quando metade das suas forças avança, e a outra metade recua, está a lançar-te uma isca. 32 – Quando as suas tropas se apoiam nas armas, estão famintas. 33 – Quando os aguadeiros bebem antes de servirem os soldados, estão sequiosos. 34 – Quando o inimigo vê uma vantagem e não corre a pegá-la, está fatigado. 35 – Quando, às vezes, se juntam sobre os locais de acampamento, é certo estes terem sido abandonados. 36 – Quando, à noite, escuta-se clamor no campo inimigo, o adversário está temeroso. Tu Mu: As tropas estão aterradas e inseguras. Fazem barulho para espantar o medo. 37 – Quando as suas tropas se mostram desordenadas, o seu general não goza de prestígio. Ch’en Hao: Quando as ordens do general não são rigorosas, e o seu comportamento é incorreto, os oficiais mostrar-se-ão desordenados. 38 – Quando as suas bandeiras e os seus guiões se agitam sem cessar, é porque se encontra desorganizado. Tu Mu: Quando o duque de Chuang, de Lu, derrotou Ch’i, em Ch’ang Sho, Tsao Kuei pediu autorização para o perseguir. Perguntando-lhe o duque por quê, respondeu: “Os rastros das rodas dos seus carros mostram-se confusos; e as suas bandeiras, caídas. Por isso,desejaria persegui-los.” 39 – Se os oficiais se mostram irritadiços, é porque estão exaustos. Ch’en Hao: Quando o general se agarra a planos desnecessários, todos ficam cansados. Chang Yü: Quando não existe consistência na administração e nas ordens, o moral dos homens vai para baixo, e os oficiais exaltam-se em excesso. 40 – Quando o inimigo dá grão aos seus cavalos e carne aos homens, e quando as tropas nem penduram as suas panelas, nem voltam aos seus abrigos, é porque se sente desesperado. Wang Hsi: O inimigo dá grão aos cavalos e carne aos homens para lhes aumentar as forças e a resistência. Se um exército dispensa as suas panelas é porque já não pensa voltar a comer. Se as tropas não regressam aos abrigos, isso mostra que deixaram de pensar no lar e estão dispostas a travar o combate decisivo. 41 – Quando os soldados se reúnem em pequenos grupos e sussurram entre si, tudo indica que o general já não tem a confiança da sua gente. 42 – Prêmios demasiado frequentes indicam estar o general no termo das suas capacidades; castigos demasiado frequentes indicam estar profundamente aflito. 43 – Quando os oficiais lidam com os homens a princípio violentamente e mais tarde deles se mostram temerosos, o limite da indisciplina foi alcançado. 44 – Quando as tropas inimigas se aparentam muito bem-dispostas, não deverão, mesmo estando-se frente a frente, ser atacadas, mas também não se abandonará o terreno sem que a situação seja devidamente esclarecida. 45 – Na guerra, os números em si não dão vantagens. Não avançar apoiado em simples peso militar. 46 – Será suficiente apreciar corretamente a situação do inimigo e depois se concentrar para o capturar. Nada mais será preciso. Aquele que não tem o dom da previsão e subestima o seu inimigo será por ele capturado. 47 – Se as tropas são castigadas ainda antes de a sua lealdade poder ter sido demonstrada, tornar-se-ão desobedientes. E, não sendo obedientes, serão difíceis de manipular. Igualmente, se forem leais, mas nunca castigadas, nunca se poderá lidar com elas. 48 – Portanto, trata-as com cortesia e incute em todos o valor marcial, e a vitória, quase certamente, será tua. 49 – Se as ordens dadas durante a instrução forem verdadeiramente positivas, torná-los-ão obedientes. Se na instrução os comandos não forem verdadeiramente positivos, torná-los-ão desobedientes. 50 – Quando as ordens forem verdadeiramente dignas de confiança e bem cumpridas, a relação entre o comandante e as suas tropas é de satisfazer. X - Terreno Sun Tzu disse: 1 – O terreno, conforme a sua natureza, pode ser classificado como acessível, enredante, indeciso, apertado, precipitado e distante. 2 – Terreno que tanto nós como o inimigo pode cruzar com igual facilidade é chamado de “acessível”. Em tal tipo de terreno, quem ocupar primeiro posições altas, solheiras e convenientes para as suas linhas de comunicação combaterá com mais vantagens. 3 – Terreno de onde é fácil sair, mas difícil de lá se tornar, é “enredante”. Está na natureza do terreno deste gênero que, se o inimigo não estiver preparado e tu executares um golpe de mão, o poderás vencer. Porém, se estiver atento e o enfrentares, mas não o venceres, terás dificuldade em te livrares. Não é de aproveitar. 4 – Terreno desvantajoso de entrar por ti e pelo inimigo é “indeciso”. Está na natureza deste terreno que, mesmo que o inimigo me ofereça um engodo, eu não o tomo e, em vez disso, procuro atrair o inimigo afastando-me. Quando metade da sua força me tiver seguido, posso então atacá-lo com vantagem. Chang Yü: [...] A Arte da Guerra, de Li Ching, diz: “Em terreno não oferecendo vantagens a nenhum dos lados, devo chamar a mim o inimigo, mediante uma retirada simulada, e esperar até que metade das suas forças tenha saído, interceptando-o então com um ataque”. 5 – Se sou o primeiro a ocupar terreno “apertado”, deverei bloquear as portelas e aguardar o inimigo. Se é o inimigo o primeiro a chegar e bloqueia os desfiladeiros, não o devo seguir; porém, se o bloqueio não estiver completo, poderei fazê-lo. 6 – Em terreno “precipitado”, tenho de ocupar posições nos lados soalheiros e esperar o inimigo. Caso ele me tenha antecedido, ocupando-o, engodo-o marchando para longe. Não o sigo. Chang Yü: Caso se deva ser o primeiro a ocupar posições em terreno plano, quanto mais não é isto verdade em terrenos difíceis. Como se pode ceder terreno desse ao inimigo? 7 – Quando a distância de um inimigo de força igual à nossa é grande, torna-se difícil provocá-lo ao combate, não é proveitoso ir dar-lhe vantagens no terreno que escolheu. 8 – São esses os princípios referentes aos seis tipos de terreno. É da maior responsabilidade para o general aprofundá-los cuidadosamente. Mei Yao-ch’en: A natureza do terreno é fator fundamental para que um exército possa ser levado à vitória. 9 – Se, quando as tropas fogem, mostram-se insubordinadas, desorientadas, desordenadas ou arrebanhadas, a culpa cabe ao general. Nenhuma causa natural o provoca. 10 – Sendo todas as demais condições iguais, se uma força ataca outra que lhe é dez vezes maior, a fuga da primeira terá de ocorrer. Tu Mu: Se um é utilizado para atacar dez, haverá que se comparar a ciência e a estratégia dos generais oponentes, a bravura ou a covardia das tropas, o estado do tempo, as vantagens do terreno, as condições de alimentação dos homens e se ainda se encontram cansados ou frescos. 11 – Quando os soldados são fortes, mas os oficiais fracos, o exército é insubordinado. Tu Mu: Este verso refere-se a praças e cabos desordenados e oprimentes e generais e comandantes tímidos e fracos. Na atual dinastia, no começo do período Ch’ang Ch’ing, foi dado comando a T’ien Pu para que atacasse T’ing-ch’ou, em Wei. Pu crescera em Wei, e o povo dali, que o desprezava, fez passar burros pelo seu acampamento. Pu não os soube conter. Conservou-se, na sua posição durante meses, e quando quis dar batalha, os oficiais e as tropas dispersaram-se, espalhando-se por todas as bandas. Pu degolou-se. 12 – Quando os oficiais são valentes, mas as tropas ineficazes, o exército está em apuros. 13 – Quando os oficiais superiores estão irados e insubordinados e, ao defrontarem o inimigo, a ele se lançam sem considerarem se o encontro é ou não de se fazer, e sem aguardarem ordens do comandante, o exército entrou em colapso. Ts’ao Ts’ao: “Oficiais superiores” são os generais subordinados. Se enraivecidos atacam o inimigo sem medir as forças de cada lado, então o exército entrou realmente em colapso. 14 – Quando o general é moralmente fraco; e a disciplina que impõe, pouco rígida, quando as suas instruções e indicações não são claras, quando não existem regras firmes para a orientação de oficiais e soldados e quando as formações se apresentam desalinhadas, o exército está em desordem. Chang-Yü: [...] Caos autoimposto. 15 – Quando um comandante é incapaz de fazer as suas estimativas, o inimigo emprega uma pequena força para atacar outra grande, ou tropas fracas para baterem outras fortes; quando não dispõe de tropas de choque, selecionadas para a vanguarda, o resultado será a derrota. Ts’ao Ts’ao: Nestas condições, está a comandar tropas “prontas a fugir”. Ho Yen-hsi: [...] Em Han, “Os Valentes dos Três Rios” eram “Irmãos nas Espadas”, de talento fora do comum. Em Wu, as tropas de choque eram denominadas as “Resolve Dificuldades”; em Ch’i, “Os Orientadores do Destino”; e em T’ang, “Os Saltadores e Agitadores”. Eram esses alguns dos nomes dados às tropas de choque. Nada é mais importante para se vencerem batalhas do que o seu emprego correto. Normalmente, quando todas as tropas estão acampadas, o general seleciona, de cada campo, os oficiais mais animosos e valentes, que se distinguiram pela sua agilidade, pela sua força e pelos seus feitos marciais para além do exigido, agrupando-os para a formação de unidades especiais. De cada dez, só um é escolhido. De cada dez mil, mil apenas. Chang Yü: [...] Usualmente, nas batalhas, é necessário empregar tropas de escol como vanguarda em cunha. Primeiroporque tal decisão fortalece a nossa própria determinação, segundo porque embotará a lâmina adversária. 16 – Quando alguma dessas seis ocorrências prevalece, o exército marcha para a derrota. Examiná-las é, pois, da mais alta responsabilidade para o general. 17 – A conformação do terreno é de grande importância nas batalhas. Assim sendo, apreciar a situação do inimigo, calcular as distâncias e o grau de dificuldades do terreno, quanto à forma de se poder controlar a vitória, são virtudes do general de categoria. Quem combate com inteiro conhecimento desses fatores vence, com certeza; quem não o faz é, certamente, derrotado. 18 – Se uma situação apontar para a vitória, mas houver ordens do soberano para não lutar, o general pode resolver-se a fazê-lo. Se a situação apontar para a derrota, mas houver ordens do soberano para se lutar, poderá não o fazer. 19 – Assim, o general que avançando não busca renome para si e recuando não teme castigos, tendo como únicos objetivos proteger o povo e cuidar dos bens do soberano, é uma joia preciosa para o Estado. Li Ch’üan: [...] Tal general não é interesseiro. Tu Mu: [...] Desses, poucos há. 20 – Porque esse general considera os seus homens como crianças, e eles marcharão a seu par até aos mais profundos vales. Trata-os como filhos amados, e eles morrerão a seu lado. Li Ch’üan: Se lhes quiser deste modo, deles obterá toda a sua força. Tal como o visconde de Ch’u, a quem bastava uma palavra para que os seus soldados se sentissem como que envoltos em roupagens de seda. Tu Mu: No tempo dos Estados Guerreiros, sendo Wu Ch’i o general, comia a mesma comida e usava as mesmas roupas que os menos classificados dos seus soldados. Na sua cama não havia esteira, quando marchava, fazia-o a pé e não no seu cavalo, e ele próprio carregava as suas rações de combate. Compartilhava a exaustão e o esforço com os seus homens. Chang Yü: [...] É por isso que o Código Militar diz: “No exército, o general deve ser o primeiro quanto a esforços e fadigas. Durante o calor do verão, não se protege com guarda-sóis e no frio do inverno não enverga roupa quente. Nos pontos perigosos, desmonta e caminha. Espera que os poços para as tropas tenham sido abertos e só depois bebe, que as tropas tenham comido para, então, comer, que as defesas estejam prontas antes de se abrigar”. 21 – Se um general é condescendente com as suas tropas, mas incapaz de as empregar, se as ama, mas não as sabe fazer obedecer-lhe, se as vê em desordem e não as consegue ordenar, esses soldados serão comparáveis a meninos mimados e inúteis. Chang Yü: [...] Se apenas se utiliza condescendência, as tropas tornam-se como que crianças arrogantes, com as quais nada se pode fazer. Foi por esta razão que Ts’ao Ts’ao cortou o próprio cabelo, castigando-se. [...] Os bons comandantes são amados e temidos. E mais não há. 22 – Se sei que as minhas tropas podem enfrentar o inimigo, mas ignoro ser ele invulnerável, a minha hipótese de vencer é somente metade. 23 – Se sei que o inimigo é vulnerável ao meu ataque, mas ignoro que as minhas tropas não estão em condições para o levar a cabo, a minha hipótese de vencer é apenas de metade. 24 – Se sei que o inimigo pode ser atacado, e as minhas tropas estão em condições para o fazerem, mas desconheço que, por motivos de disposição do terreno, o não devo fazer, a minha hipótese de vencer é apenas de metade. 25 – Em consequência, aqueles que têm experiência das movimentações em guerra não cometem erros. As suas possibilidades não têm limites. 26 – E, por isso, digo: “Conhece o teu inimigo e conhece-te a ti mesmo e nunca porás a vitória em dúvida. Conhece o terreno, conhece o tempo, e a tua vitória será total”. XI - As Nove Variedadesde Terreno Sun Tzu disse: 1 – No que concerne ao emprego de tropas, o terreno pode ser classificado como “dispersivo”, “fronteiriço”, “chave”, “comunicante”, “focal”, “sério”, “difícil”, “cercado” e “mortal”. 2 – Quando um senhor feudal combate no seu próprio território, encontra-se em terreno dispersivo. Ts’ao Ts’ao: Os oficiais e os soldados anseiam por regressar aos seus lares, que estão próximos. 3 – Quando efetua uma curta penetração em território inimigo, está em terreno fronteiriço. 4 – Terreno igualmente vantajoso para mim e para o inimigo é terreno-chave. 5 – Terreno igualmente acessível por mim e pelo inimigo é comunicante. Tu Mu: Trata-se de terreno plano e vasto, em que o deslocamento é fácil, com tamanho bastante para uma batalha e para a construção de fortificações. 6 – Quando um Estado está rodeado por três outros Estados, é focal. Quem primeiro o controlar terá o apoio do Todo-sob-o-Céu. 7 – Quando um exército já penetrou profundamente em território inimigo, deixando para trás de si muitas cidades e vilas inimigas, encontra-se em terreno sério. Ts’ao Ts’ao: Trata-se de um terreno de onde é difícil regressar. 8 – Quando um exército atravessa montanhas, florestas, zonas de precipícios ou marcha ao longo de desfiladeiros, alagadiços ou pântanos, ou qualquer outro terreno onde o deslocamento é árduo, está em terreno difícil. 9 – O terreno cujo acesso é apertado, cuja saída é tortuosa e onde uma pequena força inimiga pode atacar a minha, embora maior, é cercado. Tu Mu: [...] Aqui as emboscadas são simples de armar, e é fácil ser vencido. 10 – Terreno no qual um exército somente sobrevive se lutar corajosamente é terreno mortal. Li Ch’üan: Preso com montanhas pela frente, rios à retaguarda e mantimentos esgotados é situação em que é vantajoso agir com rapidez e perigoso protelar- se. 11 – Não combatas, portanto, em terreno dispersivo, não te demores em terras raianas. 12 – Não ataques o inimigo ocupando terreno-chave. Em terreno comunicante, não permitas que as tuas unidades se separem. 13 – Em terreno focal, estabelece alianças com os Estados vizinhos. Se tiveres penetrado profundamente em terreno adverso, saqueia-o. 14 – Em terreno difícil, apressa-te; em terreno cercado, inventa estratagemas; em terreno mortal, combata. 15 – Em terreno dispersivo, unifica o exército na tua decisão. 16 – Em terreno fronteiriço, mantém as forças bem juntas. Mei Yao-ch’en: Durante a marcha, as diversas unidades mantêm contato entre si; quando paradas, os acampamentos e as fortificações estão também interligados. 17 – Em terreno-chave, faço apressar a minha retaguarda. Ch’en Hao: O verso que significa que se o inimigo, baseado em números superiores, vem me contestar esse terreno, deverei deslocar rapidamente uma grande força para a sua retaguarda. Chang Yü: [...] Alguém disse que a frase significa “movimentar-se depois do inimigo e chegar antes dele”. 18 – Em terreno comunicante, presto a maior atenção às minhas defesas. 19 – Em terreno focal, fortaleço as minhas alianças. Chang Yü: Ofereço aos meus aliados em perspectiva coisas valiosas e sedas e amarro-os com acordos, que sigo rigorosamente, após o que, certamente, me auxiliarão. 20 – Em terreno sério, asseguro linhas contínuas de abastecimento. 21 – Em terreno difícil, apresso-me pelas estradas afora. 22 – Em terreno cercado, bloqueio acessos e saídas. Tu Mu: Faz parte da doutrina militar as forças sitiantes deixarem uma saída mostrando às tropas sitiadas a existência de uma linha de fuga, sem a qual se atirariam para a luta até a morte. Apoiando-se nisso, ataca-se. Quanto a mim, se me encontro em terreno cercado, e o inimigo oferece uma porta de saída para tentar os meus oficiais e homens, tapo-a para que toda a minha gente lute até a morte. 23 – Em terreno mortal, posso tornar evidente não haver possibilidade de sobrevivência, já que está na maneira de ser dos soldados o resistirem quando cercados, combater até a morte quando não há alternativas e, quando desesperados, seguir cegamente os seus comandantes. 24 – As variações táticas inerentes aos nove tipos de terreno, as vantagens em se desdobrar muito ou pouco e os princípios da natureza humana são pontos que o general tem de estudar com o maior dos cuidados. 25 – Antigamente, aqueles que eram tidoscomo mestres na arte de guerrear tornavam impossível aos seus inimigos unir as suas vanguardas e retaguardas; aos seus elementos, grandes ou pequenos, de cooperar uns com os outros; às tropas fortes, de auxiliarem as fracas; e aos superiores e mandados, de se entenderem. 26 – Quando as forças inimigas se apresentavam dispersas, impossibilitavam- lhes a concentração. Quando concentradas, eram atiradas para a confusão. Meng: Executa operações enganosas. Mostra-te a oeste e marcha para leste; atrai-o para norte e ataca a sul. Enlouquece-o e perturba-o até que, em confusão, faça dispersar as suas forças. Chang Yü: Apanha-o desprevenido com golpes de surpresa onde ele menos preparado estiver. Golpeia-o subitamente com tropas de choque. 27 – Concentravam-se e deslocavam-se quando isso lhes era vantajoso. Quando não o era, estacionavam. 28 – Se alguém perguntasse: “Como enfrento um inimigo bem ordenado, pronto a atacar-me?”, responderia: “Apanha-lhe algo que muito representa para ele e aos teus desejos se submeterá”. 29 – A velocidade é a essência da guerra. Aproveita-te da falta de preparação do inimigo. Viaja por estradas onde não sejas esperado e ataca-o onde não está precavido. Tu Mu: Está aqui resumida a natureza da guerra... e do máximo no generalato. Chang Yü: É aqui que Sun Tzu de novo explica... que, se há algo merecedor de ser apreciado, será a velocidade divina. 30 – O princípio geral aplicável a um exército invasor que tenha penetrado profundamente em território inimigo é o de que, se as tuas forças estiverem unidas, o defensor não te pode bater. 31 – Saqueia as terras férteis para que as provisões não te faltem. 32 – Presta grande atenção à alimentação das tropas e não as estafa inutilmente. Incute-lhes espírito coletivo e conserva-lhes as forças. Projeta planos insondáveis para os teus movimentos. 33 – Coloca as tuas forças em posições das quais, mesmo em perigo de morte, não possam fugir. Dispostas a morrer, quanto não conseguirão elas? Oficiais e soldados cometerão então o impossível. Em situação desesperada, nada temerão. Quando não há saídas, agarram-se às suas posições e ali, sem alternativas, combaterão corpo a corpo. 34 – Assim, e com tropas dessas, não haverá necessidade de recomendações para se manterem vigilantes. Sem exaltar o seu apoio, o general tem-no; sem pedir a sua dedicação, tem-na; sem pedir a sua confiança, tem-na. 35 – Embora não desprezem os valores mundanos, os meus oficiais não dispõem de bens demasiados; ainda que não desprezem a longevidade, não esperam viver por muito tempo. Wang Hsi: [...] Quando oficiais e soldados prezam apenas as coisas terrenas, apreciam as suas vidas acima de tudo. 36 – No dia em que a ordem de marcha é dada, as lágrimas dos que estão sentados encharcam-lhes as lapelas. As dos que estão deitados correm-lhes pelos rostos. Tu Mu: Todos têm uma aliança com a morte. Antes de a batalha se iniciar, é dada a seguinte ordem: “O dia de hoje depende deste golpe. Os corpos daqueles que não arriscarem a vida fertilizarão os campos e servirão de carniça para as aves e outros bichos”. 37 – Mas, colocados em situação para a qual não há saída, exibirão a coragem imortal de Chuan Chu e Ts’ao Kuei. 38 – As tropas que sabem guerrear são empregadas como a cobra “Simultaneamente Respondente” do monte Ch’ang. Quando batida na cabeça, atacava com o rabo; quando batida no rabo, atacava com a cabeça; quando batida ao meio, atacava com a cabeça e com o rabo. 39 – Se alguém perguntar: “Podem tropas ser treinadas a responder com tal coordenação instantânea?”, responderei: “Podem. Porque, ainda que os homens de Wu e de Yüeh se odeiem mutuamente, caso se encontrarem juntos num barco batido pela ventania, cooperarão entre si como a mão direita coopera com a esquerda”. 40 – Não é portanto suficiente o confiar-se em cavalos coxos e carros com as rodas atoladas. 41 – Conservar um nível uniforme de valor é papel da administração militar. Assim como a vantagem está no bom aproveitamento do terreno e das tropas de choque e móveis. Chang Yü: Se se goza de vantagens no terreno, até tropas fracas e moles podem vencer o inimigo. Se forem fortes e duras, muito mais se consegue! O fato de ambas poderem ser empregadas deve-se à sua disposição de conformidade com as condições do terreno. 42 – É obrigação do general manter-se sereno e inescrutável, imparcial e com autodomínio. Wang Hsi: Se for sereno, não se enfada; se inescrutável, é insondável; se aprumado, nunca é incorreto; se autodominado, nunca é perturbado. 43 – Deve manter os oficiais e homens no desconhecimento dos seus planos. Ts’ao Ts’ao: [...] As suas tropas podem juntar-se-lhe na comemoração de um feito, mas nunca para o estabelecimento de um plano. 44 – Proíbe práticas supersticiosas, evitando indecisões ao seu exército. Então, e até o “momento da morte”, não surgirão problemas. Ts’ao Ts’ao: Proíbam-se conversas acerca de agouros e poderes sobrenaturais. Limpem-se os planos de dúvidas e incertezas. Chang Yü: O Ssü-ma Fa diz: “Extermine-se a superstição”. 45 – Muda os seus métodos e altera os seus planos para que ninguém saiba o que está fazendo. Chang Yü: Ações já executadas e planos já utilizados têm de ser alterados. 46 – Muda de locais de acampamento e serve-se de caminhos tortuosos, tornando impossível aos outros preverem os seus intentos. 47 – Formar o exército e lançá-lo numa posição de desespero compete ao general. 48 – Conduz o exército bem dentro do território do inimigo e aí solta o gatilho. 49 – Queima os seus barcos e quebra as suas panelas. Conduz o exército como se fosse um rebanho de carneiros, ora numa direção, ora noutra, de modo que ninguém entenderá para onde se dirige. 50 – Marca a data do encontro e, uma vez as tropas reunidas, corta-lhes o caminho do regresso, como que lhes retirando uma escada de debaixo dos pés. 51 – Quem ignorar os planos dos Estados vizinhos não pode preparar alianças a bom tempo; quem ignorar as condições das montanhas, das florestas, dos desfiladeiros perigosos, dos alagadiços e dos pântanos não pode comandar o avanço de um exército. Se não se servir de guias locais, não usufruirá das vantagens do terreno. Um general que ignore um que seja desses pontos é incompetente para comandar os exércitos do rei hegemônico. Ts’ao Ts’ao: Estes três pontos já foram analisados. Sun Tzu volta a eles por estar profundamente em desacordo com aqueles que não sabem servir-se corretamente de tropas. 52 – Quando um rei hegemônico ataca um Estado poderoso, tudo faz para tornar impossível ao inimigo o concentrar-se. Intimida-o e evita que nos seus aliados se lhe juntem. Mei Yao-ch’en: Quando do ataque a um grande Estado se lhe conseguir dividir as forças, a sua própria força será suficiente. 53 – Segue-se que não pugnarás contra poderosas coligações, nem alimentarás o poder dos demais Estados. Para atingir os seus objetivos, baseia-se somente na tua capacidade de derrubar os teus oponentes. Desta forma, podes tomar as cidades inimigas e derrubar o Estado adverso. Ts’ao Ts’ao: Por “rei hegemônico” quer dizer-se um rei que não se alia a senhores feudais. Quebra as alianças do Todo-sob-o-Céu e apodera-se da posição de autoridade. Serve-se de prestígio e de virtudes para alcançar os seus fins. Tu Mu: Este verso diz-nos que, se não se ajustar o auxílio dos vizinhos, e não se criarem planos baseados em conveniências, mas sim em benefício dos próprios objetivos, ter-se-á de contar apenas com a força militar própria para intimidar a nação inimiga, após o que as suas cidades podem ser capturadas; e o seu Estado, derrubado. 54 – Concede prêmios para além da prática usual. Dá ordens sem olhar a precedentes. Desse modo, servir-te-á do exército inteiro, como se de um só homem se tratasse. Chang Yü: [...] Se o código aos prêmios e castigos vigente for claro e com celeridade aplicado, é então fácil de lidar com muitos como se de poucos se tratasse. 55 – Encarrega as tropas das respectivas tarefas sem lhes revelar os seus objetivos. Fá-las ganhar vantagenssem lhes apontar os perigos. Coloca-as em posição de perigo e sobreviverão. Leva-as para o terreno da morte e viverão. Tropas colocadas em tais situações arrancam vitórias das garras da derrota. 56 – O ponto mais alto das operações militares consiste em simular-se a aceitação dos desígnios do adversário. 57 – Concentra as tuas forças contra o inimigo e, a partir de uma distância de mil li, poderás matar-lhe o general. Isso se denomina como capacidade para atingir objetivos de forma hábil e engenhosa. 58 – No dia em que a decisão de atacar é executada, encerra as passagens, rescinde os passaportes, deixa de contatar com os enviados do inimigo e exorta o Conselho do Templo a executar os planos. 59 – Quando o inimigo te der uma oportunidade, aproveita-a com vantagem para ti. Antecipa-te a ele para lhe apanhares algo a que dê valor e desloca-te dentro de datas secretamente fixadas. 60 – Faz parte da doutrina da guerra o seguir-se a situação do inimigo para se decidir quando travar a batalha. 61 – A princípio, sê tímido como uma donzela. Quando o inimigo te der uma abertura, sê veloz como a lebre, e ele não te aguentará. XII - Ataques com o Emprego de Fogo Sun Tzu disse: 1 – Há cinco métodos de se atacar com o fogo. Com o primeiro, queima-se gente; com o segundo, as provisões; com o terceiro, o equipamento; com o quarto, os arsenais; e com o quinto servimo-nos de mísseis incendiários. 2 – Para se empregar o fogo, ter-se-á de contar com um intermediário qualquer. Ts’ao Ts’ao: Conta com traidores entre o inimigo. Chang Yü: Todos os ataques com o fogo dependem da estação do ano. 3 – O equipamento necessário para se atearem fogos deve estar sempre à mão. Chang Yü: Os instrumentos e materiais inflamáveis devem estar preparados de antemão. 4 – Há tempos convenientes e dias apropriados para se atearem fogos. 5 – “Tempos” significa quando há calor escaldante; “dias”, quando a Lua está nas constelações de Sagitário, Alpharatz, I ou Chen, alturas em que se levantam ventos. 6 – Com ataques por meio de fogo, responde-se a uma situação que se modifica. 7 – Quando o fogo irrompe no campo adversário, imediatamente agirás a partir de fora. Porém, se as tuas tropas se conservarem calmas, deixa-te estar e não ataques. 8 – Quando o fogo atinge o seu ponto mais alto, segue-o, se puderes. Caso o não possas fazer, aguarda. 9 – Se ateares fogos fora do campo do inimigo, não haverá necessidade de esperar que se iniciem do lado de dentro. Ateia os fogos nos tempos apropriados. 10 – Se ateaste o fogo a barlavento, não ataques de sotavento. 11 – Quando o vento sopra durante o dia, à noite cairá. 12 – O exército deve conhecer as cinco situações de ataque por meio do fogo e a elas estar constantemente atento. 13 – Quem emprega o fogo como auxiliar nos seus ataques é inteligente; quem se serve de inundações é poderoso. 14 – A água pode isolar um inimigo, mas não lhe destrói os abastecimentos e equipamentos. 15 – Vencer batalhas e tomar objetivos sem explorar esses acontecimentos é lamentável, podendo chamar-se-lhe “um atraso dispendioso”. 16 – É por isso que se diz que os governantes iluminados deliberam quanto aos planos, e os bons generais os executam. 17 – Não ajas a não ser no interesse do Estado. Se não podes vencer, não empregues tropas. Se não estiveres em perigo, não combatas. 18 – Um soberano não pode armar um exército somente porque se sente enraivecido, e um general não pode lutar apenas por se sentir ressentido, porque um homem enraivecido pode tornar a ser feliz e um homem ressentido tornar a ficar agradado, enquanto um Estado que pereceu não retorna, e os mortos não voltam para junto dos vivos. 19 – Portanto, o governante iluminado é prudente; e o bom general, contrário à ação irrefletida. Assim se conserva o Estado e se mantém o exército. XIII - Utilização de Agentes Secretos Sun Tzu disse: 1 – Quando se equipa um exército de cem mil homens e se envia para uma campanha distante, as despesas compartilhadas pelo povo e pelo Tesouro ascendem a mil peças de ouro diárias. Haverá nervosismo na terra e no exterior, as pessoas esgotar-se-ão com as constantes requisições para trabalhos de carga, e a vida de setecentos mil lares alterar-se-á. Ts’ao Ts’ao: Antigamente, oito famílias constituíam uma comunidade. Quando um homem de uma família ia para a tropa, os outros sete contribuíam para a sua manutenção. Portanto, quando se constituía um exército de cem mil, os que desfalcados ficavam para semear e arar os seus campos correspondiam a 700 mil lares. 2 – Aquele que durante anos confronta o inimigo em busca de vitória numa batalha decisiva, mas que, por cobiçar postos, honrarias e peças de ouro, mantém-se na ignorância da situação do adversário, é destituído de qualquer tipo de humanidade. Tal homem não é um general, nem qualquer apoio para o seu soberano, ou “mestre da vitória”. 3 – A razão por que o príncipe iluminado e o general sábio vencem o inimigo sempre que se deslocam e os seus feitos ultrapassam os dos homens vulgares está na sua presciência. Ho Yen-hsi: A seção dos Ritos de Chou, designada “Oficiais Militares”, nomeia o “diretor da espionagem nacional”. Esse oficial, possivelmente, dirigia as operações secretas nos outros países. 4 – Aquilo que se chama “presciência” não advém nem de espíritos ou deuses, nem da analogia com ocorrências passadas ou de cálculo. É obtido por meio de homens conhecendo a situação do adversário. 5 – Há cinco tipos de agentes secretos que podem ser empregados: nativos, internos, duplos, dispensáveis e vivos. 6 – Quando esses cinco tipos de agentes atuam simultaneamente, e ninguém lhes conhece o modo de operar, são chamados a “meada divina”, constituindo um dos tesouros do soberano. 7 – Os agentes nativos são os naturais da própria terra inimiga que nos servem. 8 – Os agentes internos são os oficiais inimigos que nos servem. Tu Mu: Entre os oficiais, há homens de valor a quem foram retirados comandos; outros, tendo cometido faltas, que foram castigados. Há também os bajuladores e aduladores, que só ambicionam riquezas. Há ainda outros injustamente em postos baixos, os que não conseguiram lugares de responsabilidade e aqueles cujo único fito é o de se aproveitarem dos tempos perturbados para pôr em prática as suas capacidades. Há, ademais, indivíduos de duas caras, dúbios e enganosos, sempre à espera de oportunidades. Quanto a esses, ser-te-á fácil indagar da sua situação econômica, pagando-lhes a seguir generosamente com ouro e seda e submetê-los à tua vontade. Poderás então encarregá-los de indagar da verdadeira situação no seu país e vires a conhecer os planos que contra ti existem. Podem igualmente abrir brechas entre o soberano e os seus ministros, quebrando-lhes a harmonia. 9 – Os agentes duplos são espiões inimigos que nos servem. Li Ch’üan: Quando o inimigo envia espiões para observar o que faço e o que não faço, suborno-os com largueza, viro-os para o meu lado e torno-os meus agentes. 10 – Os agentes dispensáveis são espiões nossos aos quais são deliberadamente fornecidas informações erradas. Tu Yu: Fazemos constar informações, na realidade falsas, que deixamos os nossos agentes dar a conhecer. Estes, atuando em território inimigo, serão capturados e transmiti-las-ão certamente. O inimigo aceitá-las-á como boas e procederá de conformidade com elas. As nossas ações, evidentemente, não lhes corresponderão e os espiões serão condenados à morte. Chang Yü: [...] Durante a nossa dinastia, o chefe do Estado-maior, Ts’ao, perdoou um homem condenado, disfarçou-o de monge, obrigou-o a engolir uma bola de cera e mandou-o para Tangut. Mal o falso frade lá chegou, foi logo aprisionado. Contou aos seus captores a história da bola de cera e, pouco depois, evacuou-a. Abrindo-a, os Targuts encontraram lá dentro uma carta do chefe do Estado-maior, Ts’ao, para o seu dirigente de planejamento estratégico. O chefe bárbaro ficou altamente enfurecido e mandou matar não só o ministro, como o suposto monge. Era este o esquema. É evidente que os agentesdispensáveis apenas podem ser empregados uma vez. Por vezes, o envio de agentes ao inimigo para tratarem de alianças cobre um ataque que efetuo pouco depois. 11 – Os agentes vivos são aqueles que voltam com informações. Tu Yu: Escolhem-se homens espertos, talentosos, inteligentes e com fácil acesso àqueles que privam com o soberano ou elementos da nobreza. Poderão assim ficar a conhecer o que fazem e quais os seus planos. Uma vez conhecida a situação real, regressam e informam-nos. Por isso são chamados agentes “vivos”. Tu Mu: Trata-se de pessoas que podem ir e voltar, apresentando relatórios. Para agentes vivos, temos de contratar homens inteligentes que pareçam estúpidos, que se mostrem moles, mas sejam de coração duro, e ainda ágeis, vigorosos, resistentes e corajosos, conhecedores de coisas baixas, capazes de aguentar a fome, o frio, a sujeira e a humilhação. 12 – No exército, entre todos os que estão próximos do comandante, nenhum lhe será mais íntimo do que os agentes secretos. Ninguém terá melhores prêmios do que eles. De todos os assuntos, nenhum será mais confidencial do que aqueles com as operações secretas correlacionadas. Mei Yao-ch’en: Os agentes secretos recebem as suas instruções na própria tenda do general, a quem são chegados e íntimos. Tu Mu: Trata-se de assuntos “segredados ao ouvido”. 13 – Quem não for sábio e esperto, humano e justo não pode servir-se de agentes secretos. Também quem não for delicado e sutil nunca conseguirá deles toda a verdade. Tu Mu: Começa-se por estudar o caráter do espião para se apurar se é sincero, verdadeiro e, de fato, inteligente. Só depois poderá ser empregado... Entre os agentes, alguns há que apenas querem riqueza, sem perderem tempo a avaliar a verdadeira situação do inimigo, e se limitam a usar palavras ocas. Em tais alturas, tenho de ser sutil e profundo para poder separar a verdade da falsidade nos seus relatos e discriminar o que é válido daquilo que o não é. Mei Yao-ch’en: Cuidado, não tenha o espião virado a casaca. 14 – Requintada! Verdadeiramente requintada! Nada existe onde a espionagem não seja aplicada. 15 – Se os planos relativos a operações secretas são prematuramente divulgados, o agente e todos com quem ele falou devem ser executados. Ch’en Hao: [...] Devem ser mortos para se lhes tapar a boca e evitar que o inimigo os ouça. 16 – Regra geral, em relação aos exércitos que queres bater, às cidades que queres tomar e às pessoas que queres assassinar, pretendes conhecer os nomes do comandante da guarnição, dos oficiais de Estado-maior, dos escudeiros, dos zeladores das entradas e dos guarda-costas. Tens de instruir o teu agente minuciosamente quanto a esses pormenores. Tu Mu: Se desejas praticar uma guerra ofensiva, tens de conhecer os homens do inimigo. São sábios ou estúpidos, espertos ou tapados? Conhecedor das suas qualidades, tomas medidas adequadas. Quando o rei de Han mandou Han Hsin, Ts’ao Ts’an e Kuan Ying atacarem Wei Pao, perguntou-lhes: “Quem é o comandante-chefe de Wie?” A resposta foi: “Pó Chih”. O rei declarou então: “A sua boca ainda cheira a leite materno. Não se pode comparar com Han Hsin. E quem comanda a cavalaria?”. A resposta foi: “Feng Ching.” O rei declarou: “É filho do general Feng Wu-che, de Ch’in. Tem valor, mas não se iguala a Kuan Ying. E quem comanda a infantaria?” A resposta foi: “H’siang T’o.” O rei declarou: “Não está à altura de Ts’ao Ts’an. Nada tenho com que me preocupar”. 17 – É fundamental desmascarar os agentes inimigos que te espiam e tentar, subornando-os, fazê-los passar para o teu campo. Dá-lhes instruções e cuida-os bem. Assim se recrutam e utilizam agentes duplos. 18 – É por intermédio de agentes duplos que se recrutam e empregam os agentes nativos e internos. Chang Yü: Isso porque o agente duplo sabe quais são os seus conterrâneos com ambições e quais os oficiais que têm sido esquecidos nos seus postos. Estes podem ser atraídos para o nosso serviço. 19 – E é por este meio que podes enviar agentes dispensáveis, munidos de falsas informações, para o seio do inimigo. Chang Yü: Sabendo os agentes duplos em que pontos o inimigo pode ser iludido, somente com o seu apoio nos podemos servir dos dispensáveis com falsos dados. 20 – É também pelo mesmo meio que nas ocasiões próprias usamos agentes vivos. 21 – O soberano deve conhecer completamente todas as atividades dos cinco tipos de agentes. O conhecimento deve nascer dos agentes duplos, que necessariamente serão tratados com toda a prodigalidade. 22 – No passado, o crescimento de Yin deveu-se a I Chih, que primeiramente servira Hsia. Chou atingiu o poder através de Lu Yu, um criado de Yin. Chang Yü: I Chih era um ministro de Hsia que se passou para Yin. Lu Wang, um ministro de Yin que se passou para Chou. 23 – Assim sendo, apenas o soberano iluminado e o general de valor são capazes de se servir das pessoas cuja inteligência as torna próprias para atuar como agentes e realizar grandes feitos. As operações secretas são básicas na guerra, pois delas dependem todos os movimentos dos exércitos. Chia Lin: Um exército sem agentes secretos é como um homem sem olhos e sem ouvidos. Cover Page A arte da guerra I - Avaliações II - Guerreando III - Estratégia Ofensiva IV - Disposições V - Energia VI - Fraquezase Forças VII - Manobras VIII - As Nove Variáveis IX - Movimentações X - Terreno XI - As Nove Variedadesde Terreno XII - Ataques com o Emprego de Fogo XIII - Utilização de Agentes Secretos