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HANSEANÍASE - Introdução Doença infectocontagiosa de evolução crônica Ocasionada pelo Mycobacterium leprae, bacilo intracelular obrigatório Afeta, principalmente, pele e nervos periféricos Diagnóstico precoce impede sequelas e incapacidade física - Epidemiologia Endêmica em países tropicais, principalmente nos subdesenvolvidos ou em desenvolvimento Brasil ocupa segundo lugar em número de doentes Brasil ainda não atingiu a meta de eliminação da hanseníase > problema de saúde pública Principal indicador de monitoramento da endemia: número de casos em menores de 15 anos, pois ocorrência de casos nessa faixa etária significa trasmissão recente por foco de infecção ativa e alta endemicidade - Agente etiológico (Mycobacrium leprae) Família: Mycobacteriaceae Ordem: Actinomycetales Classes: Schizomycetes Bastonetes reto ou ligeiramente encurvado, com extremidades arredondadas Cora-se em vermelho pela fucsina, através do método de Ziehl-Neelsen Não se descora quando lavado com álcool e ácido (BAAR resistente) Disposição paralela, como em um maço de cigarro, undio pela geleia, originando as globias O homem é o reservatório natural do M. leprae, mas animais como tatus, chimpanzés e outros macacos, solo, água e alguns artrópodes são reservatórios naturais relatados Infecta principalmente macrófagos e células de Schwann Não é cultivado em meios artificiais Se reproduz por divisão binária e cresce lentamente, requerendo temperaturas mais frias para sobreviver e proliferar Bastonetes com falhas de coloração são fragmentados, indicando sofrimento bacilar = tratamento Microscopia eletrônica: cápsula de glicolipídio fenólico (PGL-1), trissacarídeo ESPECÍFICO do M. leprae ESPECÍFICO do M. leprae, que fica na cápsula dessa bacteria > PGL1 = causa neurotropismo > pode induzir formação de anticorpos no paciente - Mecanismo de transmissão Principal via: mucosa nasal Contato íntimo e prolongado do indivíduo suscetível com paciente bacilífero, através da inalação de bacilos veiculados em secreção nasal Outros vias cogitadas: sanguínea, vertical, leite materno, picadas de insetos Papel do portador são na transmissão Alta infectividade, baixa patogenicidade (a maioria dos pacientes não manifestam a doença > maioria tem cura espontânea > não tem alta capacidade de adoecer o paciente) 80 a 90% dos adultos têm defesa natural contra o bacilo Convivência domiciliar: risco de contágio 1:3 contatos Contatos eventuais 2 a 5% Estabelecimento do elo epidemiológico: apenas em 50% dos casos novos - Patogenia Período de incubação: 2 a 5 anos Viáveis por 36 horas (temperatura ambiente) Viáveis por 7 a 9 dias em 36,7 graus e 77,6% umidade Mesma frequência entre os sexos Forma virchoviana predomina em homens (2:1) 90% da população é resistente - Classificação OMS Multibacilar Baciloscopia positiva Baciloscopia indisponível: mais de 5 lesões cutâneas e/ou mais de um tronco nervoso acometido DD, DV, VV e alguns DT Paucibacilar Baciloscopia negativa Bacilosopai indisponível: até 5 lesões cutâneas e/ou apenas um tronco nervoso acometido Indeterminados, TT e alguns DT Se a resposta imune for celular > forma tuberculoide (HT) > impede a proliferação de bacilos > baciloscopia tende a ser negativa > BACILOSCOPIA NEGATIVA NÃO EXCLUI HANSEANÍASE > Mitsuda positivo Se a resposta imune for humoral > forma virchowiana > formação de anticorpos > não impede a proliferação dos bacilos > baciloscopia positiva > Mitsuda negativo Entre as duas formas, há os diformos/boderline > DD, DV, DT (tem um pouco dde resposta humoral e de resposta celular) - Imunologia Dois tipos de resposta imunológica: Th1 e Th2 Bacilos introduzidos no organismo são fagocitados por macrófagos diretamente, ou apresentados por células dee Langerhans, Schwann, queratinócitos e endoteliais Tipo tuberculoide: resposta Th1 - IL-1, IL-12 e TNF, resposta imune celular Tipo virchowiana: resposta Th2 - IL-4, IL-5, IL-8, IL-10, resposta humoral Teste de Mitsuda NÃO É DIAGNÓSTICO Avalia o tipo de imunidade do paciente > avalia resposta imune celular Injeção intradérmica de suspensão de bacilos mortos pelo calor Avalia imunidade celular contra o M. leprae Mitsuda positivo: doente paucibacilar, com poucos ou ausência de bacilo e não contagiante Mitsuda negativo: doente multibacilar, com inúmeros bacilos, contagiante Obs: baciloscopia e mitsuda negativo não excluem hanseníase em pacientes suspeitos - Manifestações clínicas Dependem mais da resposta celular do hospedeiro Longo período de incubação Perda de sensibilidade é característica (sequencialmente: térmica, tátil, e dolorosa) Forma indeterminada Forma inicial Máculas hipocrômicas, ou eritemato-hipocrômicas (eritema marginal) Distúrbios da sensibilidade, sudorese e vasomotores Não há espessamento neural Baciloscopia negativa Duração de 1 a 5 anos Pode ocorrer involução espontânea Pode evoluir para forma tuberculoide, virchowiana ou dimorfa (a depender da resposta imune do paciente) Forma tuberculóide Surge a partir da MHI não tratada, em pacientes com boa resistência (boa resposta imune celular) Lesões únicas ou em pequeno número, assimétricas Placas eritematosas, bem delimitadas, muitas vezes com bordas externas elevadas e contro hipocrômico, alteração importante de sensibilidade Pode haver alopécia e anidrose em lesões Espessamento de filete nervoso (espessamento neural) Hiperceratose e/ou ulceração em áreas de compressão Mitsuda positivo e baciloscopia negativa Obs: forma neural primária - alteração sensitiva no trajeto de nervo, com ou sem espessamento evidente; sendo a única manifestação Forma virchowiana Evolução da MHI não tratada, em pacientes com ausência de resposta imune celular ao bacilo Polimorfismo de lesões Manchas eritematosas, ferruginosas, infiltradas, bordas imprecisas Pápulas, nódulos, tubérculos e placas Hansenomas Madarose, xerodermia, edema de extremidades Hipoestesia de extremidades (anestesia bilateral em bota ou em luva) Mal perfurante plantar Pode haver comprometimento de mucosas, olhos, ossos, articulações, linfonodos, dentes e órgãos internos Mitsuda negativo, baciloscopia positiva Forma Dimorfa ou Boderline Maioria dos pacientes Conjunto de manifestações que ou são muito próximas da forma tuberculóide (DT), ou bem parecidas com a forma Virchowiana (DV), ou são bem intermediárias (DD) Dimorfo Tuberculóide (DT) ou Boderline Tuberculóide Lesões com aspecto tuberculóide, porém mais numerosas Baciloscopia negativa ou fracamento positiva Teste de Mitsuda fracamento + Lesões simétricas Comprometimento de vários troncos nervosos com incapacidades Dimorfo Dimorfo (DD) ou Boderline Boderline Lesões numerosas, com bordas externas mal definidas e hipocromia central (aspecto em “queijo suíço” ) Distribuição não tão simétrica como na HDT Importante acometimento nervoso Baciloscopia positiva Mitsuda negativo Dimorfo Virchowiana (DV) ou Boderline Virchowiana Lesões não tao polimorfas como a virchowiana Predominam as infiltrações, placas e nódulos com tonalidade ferruginosa Não há simetria como na HV Espessamento de troncos nervosos Reações tipo I e II graves Baciloscopia positiva - Diagnóstico Anamnese e exame físico, na maioria dos casos, definem o diagnóstico Caso suspeito: Uma ou mais lesões de pele com alteração de sensibilidade Perda de sensibilidade em pés ou mãos Espessamento de um ou mais nervos periféricos Nervos periféricos doloridos Câimbras ou parestesia Anamnese: história clínica e epidemiológica Avaliação Dermatológica: lesões de pele com alteração de sensibilidade Avaliação Neurológica: identificação de neurites, incapacidades e deformidades Diagnóstico dos casos reacionais Classificação do grau de incapacidade física Diagnóstico diferencial Outros: sorologia anti- PGL1, PCR, eletroneuromiografia, USG e RNM de troncos neurais Critérios diagnóstico da OMS 1 OU 2 OU 3 Lesões cutâneas com alteração da sensibilidade Acometimento de nervo(s) periférico(s), com espessamento neural Baciloscopia + Queixas comuns: manchas dormentes, câimbras, dormência, fraqueza em mãos e pés Investigar sinais, sintomas e vínculos epidemiológicos Inspeção de toda superfície corporal Áreas mais acometidas: face, orelhas, nádegas, braços, pernas e dorso - Avaliação neurológica Teste de sensibilidade Palpação dos nervos periféricos - Pesquisa de sensibilidade Pesquisa da sensibilidade térmica: tubo de ensaio com água quente e água fria, chumaço de algodão embebido com éter Pesquisa da sensibilidade tátil:chumaço de algodão, monifilamentos de Semmes- Weinstein Pesquisa da sensibilidade dolorosa: agulha rombuda - Teste da Histamina Identifica lesão do ramúsculo neural precocemente; antes mesmo da instalação da hipoestesia térmica Técnica: colocar uma gota de solução milesimal de cloridrato de histamina (1:1000) na pele normal e perfurar com uma agulha sem sangrar, através da gota Tríplice reação de Lewis em pele normal: eritema- eritema secundário reflexo – pápula urticada Hanseníase: ausência do eritema secundário - Teste da Pilocarpina Técnica: Injeta- se na pele normal e na suspeita, uma pequena quantidade de pilocarpina por via intradérmica, formando uma pápula de 0,5 cm. Pode ser sensibilizada pela técnica amido- iodo Pele normal: gotículas de suor em 5 minutos Hanseníase: ausência de sudorese - Baciloscopia A baciloscopia negativa não afasta o diagnóstico de hanseníase Locais de coleta do esfregaço: lóbulos auriculares, cotovelos e lesões hansênicas, se presentes Quando positiva é um dos critérios de confirmação de recidiva, quando comparada ao resultado no momento do diagnóstico e da cura Lembrete!!!! A baciloscopia positiva indica Hanseníase Multibacilar, independente do número de lesões Formas clínicas como Indeterminada, Tuberculóide e algumas vezes Dimorfa a baciloscopia será negativa Diagnóstico de Hanseníase é essencialmente clínico, sendo a baciloscopia complementar ,em alguns casos, por ocasião do diagnóstico e para controle do tratamento - Histopatologia Complementa o diagnóstico de Hanseníase Colorações: HE e Ziehl Neelsen ou Fite Faraco Na ausência de bacilos, o laudo deve ser compatível com Hanseníase, mesmo com infiltrado sugestivo Borda de máculas ou lesões sólidas Punch 04, anestesia local - Estado reacional É AGUDO Pode ocorrer antes, durante ou pós o tratamento Alteração no balanço imunológico entre o hospedeiro e o M. leprae Episódios agudos que afetam, principalmente, a pele e os nervos, sendo a principal causa de morbidade e incapacidade neurológica Podem ocorrer durante o curso natural da doença, durante o tratamento ou após o mesmo Classificam- se em tipo 1 e tipo 2 Reação Hansênica Tipo 1 Imune celular contra antígenos micobacterianos Tuberculoides e dimorfos Lesões tornam- se hiperestésicas, eritêmato- edematosas, com posterior descamação e às vezes ulceração Pode ocorrer neurites Reação de piora (degradação ou descendente) Reação de melhora ( reversa ou pseudoexacerbação ou ascendente) Não consegue definir na hora se é uam reação de piora ou de melhora > tratamento agudo Reação Tipo 2 (Eritema nodoso hansênico) Imunidade humoral: •reação do organismo aos bacilos destruídos com deposição de imunocomplexos nos tecidos Virchowianos ou Dimorfos Nódulos inflamatórios subcutâneos de distribuição simétrica Sintomas gerais como febre, mal- estar, mialgia, edema, atralgias, linfonodomegalias Pode ocorrer neurite e comprometimento interno, como hepático ou renal Pode ocorrer necrose por obliteração da luz vascular (ENH necrótico)- vasculite Alterações laboratoriais: leucocitose com desvio à esquerda, alterações de provas inflamatórias (VHS, PCR), FAN+, aumento de bilirrubinas, transaminases, hematúria e proteinúria - Tratamento da hanseníase Todos os pacientes recebem o mesmo tratamento (MULTIBACILAR) Deve ser precoce Ambulatorial Identificar e tratar as intercorrências e complicações da doença Prevenção e tratamento das incapacidades físicas Notificação compulsória em todo território nacional TRATAMENTO ANTIGO Tratamento Multidroga ou Poliquimioterapia (MDT OU PQT) 1- Multibacilares (dimorfos e virchowianos) • Rifampicina 600 mg- 1x por mês supervisionada • Clofazimina 300 mg- 1x por mês superviosionada • Clofazimina 50 mg/dia autoadministrada •DDS 100 mg/dia autoadministrada 2- Paucibacilares (indeterminados e tuberculóides) •Rifampicina 600 mg- 1x por mês superviosionada •DDS 100 mg/dia autoadministrada Critérios de encerramento da PQT e alta por cura: Esquema PB- 6 doses superviosionadas em até 9 meses Esquema MB- 12 doses superviosionadas em atpe 18 meses Esquema MDT OU PQT Apesar de eficaz, complexidade para operacionalização em todo sistema de saúde Dificuldade de adesão dos pacientes Necessidade de esquemas de fácil operacionalização O que mudou? Clofazimina para todos (entrou no esquema paucibacilar) Tempo de tratamento se manteve- 6 doses (até 9 meses para paucibacilares), 12 doses (até 18 meses pra multibacilares) - Tratamento dos estados reacionais Se o paciente tem a reação e nunca tratou = trata a reação e já inicia o tratamento Geralmente ambulatorial nas unidades no nível secundário e terciário, tratamento nas primeiras 24 horas Deve- se diferenciar o tipo de reação Avaliar a extensão do comprometimento de nervos periféricos, de outros sistemas, comorbidades do paciente, investigar e controlar fatores desencadeantes Conhecer as contraindicações, interação e efeitos adversos dos medicamentos usados no tratamento dos estados reacionais Instituir precocemente a terapêutica medicamentosa antirreacional e medidas de prevenção de incapacidades Encaminhar casos graves para internação hospitalar Reação tipo 1 Casos leves: poucas lesões cutâneas sem acometimento neurológico Acompanhamento, AINH Neurite e/ou grande número de lesões cutâneas Iniciar prednisona 1 a 2 mg/kg/dia: suprime a produção de citocinas pró- inflamatórias, reduz edema e promove diminuição da compressão e fibrose neural Manter a PQT se ainda estiver em tratamento específico, não reintroduzir se tiver tido alta (não é recidiva) Imobilizar o membro afetado em caso de neurite associada Avaliar função neural sensitiva e motora antes do início da corticoterapia Reduzir a dose de corticóide conforme resposta terapêutica Programar e realizar ações de prevenção de incapacidades Reação tipo 2 Talidomida Teratogênica: malformações em recém- nascidos (focomelia), visuais, coluna vertebral, digestivas e cardíacas Em mulheres: exclusão de gravidez por método sensível, uso de dois métodos contraceptivos, sendo pelo menos um de barreira Prescritor cadastrado, termo de consentimento 300 a 400 mg/d com retirada de 100 mg/ sem. Redução gradual em 50 mg a cada 2-4 semanas. Manutenção, menor dose possível, e redução tentada novamente a cada 3 meses Indicações de Corticoterapia Substitutiva: contraindicação da talidomida (gravidez) Adicional: neurite, eritema nodoso necrotizante, reação sweet like, uveíte, artrite, nefrite, hepatite, mãos e pés reacionais Alternativas a talidomida Clofazimina: 300 mg/dia, não controla casos graves, emora 4- 6 semanas para agir, mascara recidiva (?) Pentoxifilina: 1200 mg/dia, reduz níveis de TNF, menor eficácia que a talidomida OBS: A ocorrência de reação hansênica não contraindica o início da PQT, não implica sua interrupção e não indica reinício de PQT se o paciente já tiver concluído seu tratamento CASO 1: Paciente masculino, 32 anos. Lesão em braço direito há cerca de 6 meses, assintomática. Sem comorbidades, sem uso de medicamentos 1. Descreva a lesão - Máculas hipocromicas 2. Cite ao menos 3 hipóteses diagnósticas - Hanseaníase (forma indererminada, baciloscopia positiva, Matsuda não da pra saber), Micose superficial, Pitiríase versicolor, Pitiríase Alba 3. Como seria seu exame físico? Teste de sensibilidade e palpação de nervos periféricos CASO 2 : Paciente 15 anos, masculino. Lesão em dorsoassintomática, não sabe há quanto tempo. Sem comorbidades, sem uso de medicamentos. Tio recentemente tratado para MH. 1- Descreva a lesão - placa com bordas eritematosas e centro hipocrômico 2- Cite ao menos 2 hipóteses - Psoríase, Hanseníase e Tinha 3- Pensando em Hanseníase, como esperaria encontrar a Baciloscopia e o Teste de Mitsuda nesse caso? - baciloscopia negativo CASO 3: Paciente 43 anos, feminina. Apresentando início súbito de lesões dolorosas, eritematosas, infiltradas; associadas a febre e mal-estar. Apresenta ainda de parestesia e diminuição de força muscular em membros inferiores. Apresenta histórico de tratamento irregular para Hanseníase. 1- Qual sua hipótese diagnóstica principal - reação hansênica tipo 1 2- Qual sua conduta - Corticoide
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