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1 Universidade de Brasília - UnB Faculdade UnB Gama - FGA Engenharia Automotiva CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO FERRO FUNDIDO NODULAR GGG-40 PARA MODELAGEM COMPUTACIONAL EM COMPONENTES AUTOMOTIVOS Autor: Débora Ferreira Chaves Orientador: Carla Tatiana Mota Anflor, UnB/FGA Brasília, DF 2016 Débora Ferreira Chaves CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO FERRO FUNDIDO NODULAR GGG-40 PARA MODELAGEM COMPUTACIONAL EM COMPONENTES AUTOMOTIVOS Monografia submetida ao curso de graduação em (Engenharia Automotiva) da Universi- dade de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em (Enge- nharia Automotiva). Universidade de Brasília - UnB Faculdade UnB Gama - FGA Orientador: Carla Tatiana Mota Anflor, UnB/FGA Brasília, DF 2016 Débora Ferreira Chaves CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO FERRO FUNDIDO NODULAR GGG-40 PARA MODELAGEM COMPUTACIONAL EM COMPONENTES AUTOMOTIVOS/ Débora Ferreira Chaves. – Brasília, DF, 2016- 45 p. : il. (algumas color.) ; 30 cm. Orientador: Carla Tatiana Mota Anflor, UnB/FGA Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade de Brasília - UnB Faculdade UnB Gama - FGA , 2016. 1. Ferro Fundido. 2. Ensaios Mecânicos. I. Carla Tatiana Mota Anflor, UnB/FGA. II. Universidade de Brasília. III. Faculdade UnB Gama. IV. CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO FERRO FUNDIDO NODULAR GGG-40 PARA MODELAGEM COMPUTACIONAL EM COMPONENTES AUTOMOTIVOS CDU 02:141:005.6 Débora Ferreira Chaves CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO FERRO FUNDIDO NODULAR GGG-40 PARA MODELAGEM COMPUTACIONAL EM COMPONENTES AUTOMOTIVOS Monografia submetida ao curso de graduação em (Engenharia Automotiva) da Universi- dade de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em (Enge- nharia Automotiva). Trabalho aprovado. Brasília, DF, 06 de julho de 2016: Carla Tatiana Mota Anflor, UnB/FGA Orientador Maura Angélica Milfont Shzu, UnB/FGA Convidado 1 Rodrigo Arbey Muñoz Menezes, UnB/FGA Convidado 2 Brasília, DF 2016 Agradecimentos Agradeço a Deus, pela vida, por me permitir ingressar na Universidade e a vencer cada desafio. Aos meus pais e irmãos, pelo amor, apoio, carinho e paciência durante a graduação e por construírem em mim valores que formaram quem sou hoje. Aos professores Carla Tatiana Mota Anflor, Edison Gustavo Cueva Galárrara, Ricardo Ramos Fragelli, Rodrigo Arbey Muñoz Meneses e demais membros do corpo docente pelas orientações e ensinamentos durante todo o período de graduação. Aos meus amigos de graduação, pelo tempo que passamos juntos e pela assistência nos momentos difíceis. Ao Instituto de Biologia da UnB, pelo uso do microscópio eletrônico de varredura. Resumo Nos projetos de engenharia, é essencial conhecer as propriedades mecânicas dos materiais de pesquisa. Dentre as quais, tem-se: módulo de elasticidade, coeficiente de Poisson, ten- são de escoamento, tensão última, tensão de ruptura, ductilidade, resiliência, tenacidade, energia absorvida em um impacto, dureza. Essas características são testadas e valida- das por ensaios experimentais. Assim, o presente trabalho apresenta uma caracterização do ferro fundido nodular GGG-40, material de uso crescente na indústria automotiva, a partir do microscópio eletrônico de varredura e dos ensaios mecânicos destrutivos de tração, dureza e impacto. A qual foi confirmada por fontes teóricas.Outros mecanismos de auxílio na realização de projetos são os simuladores computacionais, que reproduzem as características de um ambiente real, permitindo assim, conhecer melhor o objeto de estudo. Nesse contexto, na segunda etapa deste trabalho, uma aplicação para o ferro fundido nodular GGG-40 será proposta e fundamentada por análises computacionais na plataforma ANSYS com os resultados obtidos nos ensaios mecânicos em laboratório. Palavras-chaves: Ferro fundido. Ensaios mecânicos. Propriedades mecânicas. Abstract In engineering projects, it is essential to know the mechanical properties of the materials of study. Some of them are: modulus of elasticity, Poisson’s ratio, yield strength, ulti- mate strength, rupture stress, ductility, resilience, tenacity, absorbed energy in a impact, hardness. These characteristics are tested and validated by experimental tests. Thus, this work presents a characterization of the nodular cast iron GGG-40, which usage is in- creasing in the automotive industry, by the scanning electron microscope and destructive mechanical tests of tensile, hardness and impact. Another devices that help in projects are the computer simulators, that reproduce the features of a real environment, allowing a better understand of the object of study. In this context, the second stage of this work is to propose an application for nodular cast iron GGG-40 and support it with computer analysis in the ANSYS platform using the results obtained in the mechanical tests. Key-words: Cast iron. Mechanical tests. Mechanical properties. Lista de ilustrações Figura 1 – Corpo de prova padrão para ensaio de tração . . . . . . . . . . . . . . 15 Figura 2 – Ensaio de ruptura por tração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Figura 3 – Curva tensão-deformação de engenharia. . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 Figura 4 – Dimensões no ensaio de impacto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 Figura 5 – Curva da energia de impacto em função da temperatura. . . . . . . . . 19 Figura 6 – Corpos de prova para ensaio de impacto do tipo Charpy. . . . . . . . . 19 Figura 7 – Corpos de prova para ensaio de impacto do tipo Izod. . . . . . . . . . . 20 Figura 8 – Representação de um penetrador de ensaio de dureza Vickers e entalhe. 21 Figura 9 – Entalhe obtido pelo ensaio de dureza Vickers em uma amostra do ferro fundido nodular GGG-40. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Figura 10 – Diagrama de fases ferro-carbono em condições de reações eutética e eutetóide estáveis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 Figura 11 – Efeito de diversos tratamentos térmicos no comportamento de resistên- cia ao choque de ferro nodular. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Figura 12 – a) Politriz lixadeira Polipan 2D da Pantec; b) Veludo flocado. . . . . . 28 Figura 13 – Tecido de poliéster. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 Figura 14 – Durômetro Mitutoyo Durotwin – D Plus. . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Figura 15 – Corpos de prova de impacto do tipo Charpy. . . . . . . . . . . . . . . . 31 Figura 16 – Recipiente de isopor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Figura 17 – Equipamento que realiza ensaio de impacto dos tipos Charpy e Izod. . 31 Figura 18 – Corpos de prova de tração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 Figura 19 – Máquina para ensaio de tração: INSTRON 8801. . . . . . . . . . . . . 32 Figura 20 – Análise micrográfica ferro fundido nodular GGG-40 com ataque quí- mico nital 3%. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Figura 21 – Microscopia da amostra de GGG-40 e pontos 1, 2, 3 e 4 marcados para análise da composição química. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Figura 22 – Composição química. a) ponto 1; b) ponto 2; c) ponto 3; d) ponto 4. . 34 Figura 23 – Influência da temperatura na energia absorvida no impacto. . . . . . . 36 Figura 24 – Influência da temperatura na energia absorvida no impacto. . . . . . . 38 Figura 25 – Seção transversal da fratura de cada corpo de prova. . . . . . . . . . . 38 Figura 26 – Curva tensão-deformação do ferro fundido nodular GGG-40: a) corpo de prova 1, b) corpo de prova 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Lista de tabelas Tabela 1 – Propriedades obtidas pelos ensaios destrutivos de tração, impacto e dureza. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Tabela 2 – Propriedades mecânicas do ferro fundido nodular GGG-40. . . . . . . . 27 Tabela 3 – Composição química do ferro fundido nodular GGG-40. . . . . . . . . 27Tabela 4 – Porcentagem dos componentes no ponto 4. . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Tabela 5 – Dados obtidos no ensaio de dureza Rockwell . . . . . . . . . . . . . . . 35 Tabela 6 – Valores de dureza Brinell para algumas ligas. . . . . . . . . . . . . . . 36 Tabela 7 – Valores de temperatura e energia absorvida do ferro fundido nodular GGG-40 no ensaio de impacto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Tabela 8 – Valores das propriedades obtidas pelo ensaio de tração do ferro fundido nodular GGG-40 e pela teoria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Tabela 9 – Propriedades médias ferro fundido nodular GGG-40 e de outros materiais. 40 Sumário 1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.1 Objetivo Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.2 Objetivos Específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.3 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1.4 Divisão do Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 2.1 Ensaios Mecânicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 2.1.1 Ensaio de tração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 2.1.2 Ensaio de impacto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 2.1.3 Ensaio de dureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.1.3.1 Dureza Brinell . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.1.3.2 Dureza Vickers . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.1.3.3 Dureza Rockwell . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2.2 Ferro Fundido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2.2.1 Ferro Fundido Cinzento: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.2.2 Ferro Fundido Branco: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.2.3 Ferro Fundido Maleável: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.2.4 Ferro Fundido Nodular: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.2.5 Ferro Fundido com grafita compacta: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 2.3 Ferro Fundido Nodular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 2.3.1 Ferro Fundido Nodular GGG-40 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 3 MATERIAIS E MÉTODOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 3.1 Análise estrutural da superfície . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 3.2 Ensaio de dureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 3.3 Ensaio de impacto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 3.4 Ensaio de tração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 4.1 Análise estrutural da superfície . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 4.2 Ensaio de dureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 4.3 Ensaio de impacto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 4.4 Ensaio de tração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 5 CONCLUSÃO E TRABALHOS FUTUROS . . . . . . . . . . . . . . 41 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 ANEXO A – DIMENSÕES DOS CORPOS DE PROVA . . . . . . . 44 ANEXO B – CONVERSÃO DE VALORES DE DUREZA . . . . . . 45 11 1 Introdução Segundo Askeland e Phulé (2008), a ciência dos materiais é a base de todos os avanços tecnológicos. Assim, conhecer as propriedades mecânicas dos materiais de pes- quisa e compreender seus fundamentos e aplicações podem auxiliar os desenvolvedores nos projetos de engenharia. Analisar somente a composição química de determinado material para selecioná- lo para determinada aplicação não é apropriado. A estrutura interna também deve ser investigada, pois dela dependem as propriedades mecânicas do material. E essas que expressam ao projetista como o material se comportará em determinada situação. Uma maneira de obter as propriedades mecânicas de um material é realizar ensaios mecânicos em laboratório. Que consistem basicamente em submeter a uma amostra do material um carregamento conhecido e analisar a resposta e o comportamento do elemento nessa situação. Outro modo de verificar o comportamento de um material em determinada si- tuação e auxiliar na realização de projetos é utilizar simuladores computacionais. Que segundo Lobão e Porto (1999), são boas ferramentas para estudos de sistemas, pois repro- duzem as características de um ambiente real. Permitem assim, conhecer melhor o objeto de pesquisa, de modo a explorar suas potencialidades, realizar comparações com outros sistemas e identificar pontos a serem modificados. Nos projetos de engenharia, busca-se trabalhar com o melhor material para a aplicação desejada, no entanto o valor relativo ao processamento também deve ser con- siderado. Tendo isso em vista, constata-se que em determinadas situações é preferível utilizar um material com propriedades similares às do elemento ideal, mas com um custo menor. Por exemplo, o ferro fundido nodular que pode substituir outros tipos de ferro fundido e aço, em razão de possuir boas propriedades, tais como resistência à fratura, ductilidade e usinabilidade e menor custo de processamento. 1.1 Objetivo Geral O presente trabalho tem por objetivo caracterizar o ferro fundido nodular GGG-40. 1.2 Objetivos Específicos 1. Determinar as características da superfície do GGG-40 pelo microscópio eletrônico de varredura; Capítulo 1. Introdução 12 2. Determinar as propriedades do GGG-40 pelo ensaio de dureza; 3. Determinar as propriedades do GGG-40 pelo ensaio de impacto; 4. Determinar as propriedades do GGG-40 pelo ensaio de tração. 1.3 Metodologia Etapa 1 – Estudo e compreensão dos ensaio mecânicos. Etapa 2 – Estudo e definição das propriedades obtidas pelos ensaios mecânicos de tração, dureza e impacto. Etapa 3 – Estudo do funcionamento e metodologia dos ensaio mecânicos a serem realizados. Etapa 5 – Estudo sobre ferro fundido. Etapa 6 – Realização dos ensaios mecânicos de tração, dureza e impacto em corpos de prova do ferro fundido nodular GGG-40 e analisar os resultados. 1.4 Divisão do Trabalho Este trabalho encontra dividido da seguinte forma: Capítulo 1 – Capítulo destinado a introduzir o conteúdo presente no trabalho assim como os objetivos e metodologia. Capítulo 2 – Parte destinada a inserir o conteúdo teórico necessário para entendi- mento e realização deste trabalho. Capítulo 3 – Este capítulo destina-se a descrição dos ensaios realizados e materiais utilizados. Capítulo 4 – Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos nos ensaios feitos e comentários relacionados a eles. Capítulo 6 – Capítulo destinado à apresentação das conclusões do trabalho e su- gestões para prosseguimento da pesquisa 13 2 Fundamentos Teóricos 2.1 Ensaios Mecânicos Medir as características e o comportamento de materiais, tais como metais, cerâ- micas, plásticos, sob condições diversas, descreve-os ensaios de materiais (ENCICLOPE- DIA. . . , 2016). Esses são classificados em duas categorias, que se diferenciam ao promover ou não a inutilização da amostra ensaiada: os ensaios destrutivos e os não-destrutivos. Alguns tipos de ensaios destrutivos, também chamados de mecânicos, em razão de esta- rem sujeitos a esforços mecânicos, são os ensaios de tração, dobramento, flexão, torção, fadiga, impacto, compressão, fluência, dureza. Nos não-destrutivos, tem-se os ensaios de raio-x, ultrassom, elétricos, por líquido penetrante e outros (SOUZA, 1982). Os dados obtidos nos ensaios mecânicos são utilizados no auxílio de projetos, uma vez que fornecem informações significativas do material em situações que podem ser semelhantes aos carregamentos reais. Em vista disso, verifica-se que o conhecimento das características mecânicasdo material é de suma importância para especificar corretamente a aplicação de um material. Ao realizar ensaios mecânicos é importante seguir as normas preestabelecidas para a situação tratada. Isso garante a padronização do teste e a facilidade de comparações com outras fontes. As normas seguidas para realização dos ensaios de laboratório desse trabalho foram as publicadas pela Sociedade Americana de Testes e Materiais (ASTM) que determinam os métodos de ensaio a serem utilizados. Os quais descrevem o procedimento a ser realizado, os requisitos exigidos para o equipamento que será usado, a forma e as dimensões dos corpos de prova a serem ensaiados e demais informações referentes à analise (SOUZA, 1982). A característica mecânica que se pretende obter em uma análise de laboratório de algum material determina o tipo ensaio adequado a ser realizado. Tendo em vista que algumas das propriedades na Tab. (1) ((CALLISTER, 2002); (HIBBELER, 2010); (SHACKELFORD, 2008)) desejam ser encontradas para o ferro fundido nodular GGG- 40, os ensaios mecânicos a serem abordados nesse projeto serão os destrutivos de dureza, impacto e tração. Capítulo 2. Fundamentos Teóricos 14 Tabela 1: Propriedades obtidas pelos ensaios destrutivos de tração, impacto e dureza. Propriedade Definição Ensaio Módulo de elastici- dade Medida de rigidez de um componente. Corresponde à inclinação da curva tensão-deformação na região elástica. Tração Coeficiente de Poisson Relaciona a deformação elástica lon- gitudinal com a transversal produzida por uma tensão de tração ou compres- são. Tração Limite de escoa- mento Tensão na qual a deformação plástica tem início. Tração Limite de resistên- cia à tração Tensão máxima da curva tensão- deformação de engenharia. Nos mate- riais dúcteis, a partir desse ponto, a de- formação não é mais uniforme, inicia-se a estricção. Tração Tensão última Tensão de ruptura. Tração Resiliência Capacidade de um material absor- ver energia quando deformado elastica- mente e retornar a sua condição inicial. Tração Ductilidade Representa a deformação plástica que um material pode suportar sem rom- per. Uma estimativa seria obter o alon- gamento percentual, medindo a distân- cia entre as marcas de referência do corpo de prova antes e depois do ensaio de tração. Tração Tenacidade Energia absorvida por um material an- tes de fraturar. Área sob a curva tensão-deformação. Tração Temperatura de transição dúctil- frágil Temperatura em que o material muda de fratura dúctil para frágil. Impacto Dureza Medida da resistência de um material a uma deformação plástica localizada. Dureza Capítulo 2. Fundamentos Teóricos 15 2.1.1 Ensaio de tração Ensaio de tração é o mais importante dos testes convencionais, uma vez que for- nece várias propriedades mecânicas do material e é considerado de fácil execução. Para realização desse teste experimental, o corpo de prova padrão Fig. (1) é colocado na má- quina específica para esse tipo de ensaio, representação dessa na Fig. (2), e é tracionado a uma velocidade constante na direção axial até sua fratura (ASKELAND; PHULÉ, 2008). Figura 1: Corpo de prova padrão para ensaio de tração Fonte: (ASTM, 2015a) Figura 2: Ensaio de ruptura por tração Fonte: (SHACKELFORD, 2008) Esse teste experimental é primariamente usado para determinar a relação entre a tensão normal média e a deformação normal média (HIBBELER, 2010). Fornece também a resistência e a ductilidade do material sob tensões de tração uniaxial, que são dados úteis para comparação de materiais, desenvolvimentos de ligas, controle de qualidade e projeto em circunstâncias específicas (HANDBOOK, 1990). No ensaio de tração, registram-se os dados da carga F aplicada na direção axial do corpo de prova em função da variação de comprimento Δl. Esses valores são convertidos em tensão e deformação e se obtém a curva tensão-deformação de materiais (Fig. 3). Essa Capítulo 2. Fundamentos Teóricos 16 conversão é obtida pelas Eqs. (2.1) e (2.2), nas quais 𝐴0 é a seção transversal inicial do corpo de prova antes do ensaio, 𝑙0 é a distância inicial entre as marcas de referência e Δl é a variação do comprimento sob a força F (ASKELAND; PHULÉ, 2008). 𝜎 = 𝐹 𝐴0 (2.1) 𝜖 = Δ𝑙 𝑙0 (2.2) Na Figura(3), os detalhes circulares representam a geometria do corpo de prova de metal dúctil em pontos diferentes ao longo da curva tensão-deformação. No primeiro, ainda no regime elástico, a amostra ensaiada retornaria a sua seção inicial com a remoção da carga. Já no regime plástico, segundo círculo e demais, o corpo de prova sofre uma deformação permanente. Após o limite de resistência à tração, LRT, a deformação não é mais uniforme, a área da seção transversal começa a diminuir em uma região localizada e não em todo seu comprimento, processo chamado de estricção ou empescoçamento, representado no terceiro detalhe. Nessa região ocorrerá a fratura (CALLISTER, 2002). Figura 3: Curva tensão-deformação de engenharia. Adaptado de Callister (2002) A curva tensão-deformação mostrada na Fig. (3) é considerada convencional. Em razão do comportamento do gráfico após a estricção não ser verdadeiro, uma vez que depois desse ponto a seção do corpo de prova não deforma homogeneamente e a área utilizada para cálculo da tensão é a inicial, não a instantânea (Eq. 2.1). Assim, no início do empescoçamento a tensão real é maior do que a tensão convencional representada. Em Capítulo 2. Fundamentos Teóricos 17 aplicações industriais não é necessário utilizar os valores de tensão e deformação reais, pois se trabalha no regime elástico do material, dado que é considerado que a falha dos componentes ocorre após do limite de escoamento (ASKELAND; PHULÉ, 2008). Dentre as propriedades obtidas no ensaio de tração tem-se o módulo de elastici- dade, que é um valor constante específico de cada material, o qual pode ser obtido pela Eq. (2.3) ou pela inclinação da curva tensão-deformação na região elástica. Quanto maior essa constante, menor a deformação elástica resultante da aplicação de uma tensão e mais rígido será o material (SOUZA, 1982). 𝐸 = 𝜎 𝜖 (2.3) O limite de resistência à tração e a tensão última do material podem ser encontra- dos facilmente na curva tensão-deformação. Sendo o primeiro, o valor de tensão máximo nessa curva e o segundo, a tensão na fratura. Já o limite de escoamento é difícil de ser encontrado precisamente. Devido a isso, ele é definido convencionalmente como a inter- secção da curva tensão-deformação com uma reta paralela à parte elástica em 0,2% da deformação ((HIBBELER, 2010);(SHACKELFORD, 2008)). Outras características do material que podem ser obtidas pelo ensaio de tração são a tenacidade e a resiliência do material. O primeiro indica a densidade de energia absorvida antes da fratura e é obtido pela área sob a curva tensão-deformação. O segundo representa a capacidade do corpo ensaiado em absorver energia sem sofrer uma deformação permanente e é avaliado pela área elástica sob o curva tensão-deformação, Eq. (4), em que 𝑈𝑟 é o módulo de resiliência, 𝜎𝑒 é o limite de escoamento e 𝜖 é a deformação no limite de escoamento (ASKELAND; PHULÉ, 2008). 𝑈𝑟 = 𝜎𝑒𝜖𝑒 2 (2.4) A ductilidade representa a medida de deformação plástica que um material pode suportar até a fratura. Essa propriedade pode ser descrita pelo alongamento percentual do corpo de prova, descrito pela Eq. (2.5), na qual 𝑙0 é a distância de referência antes do ensaio e Δl é a diferença das medidas de referência antes e depois do ensaio (ASKELAND; PHULÉ, 2008). 𝐴𝑙𝑜𝑛𝑔𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑝𝑒𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑢𝑎𝑙 = Δ𝑙 𝑙0 100 (2.5) Comparando as dimensões do corpo de prova antes e depois do ensaio de tração, verifica-se que a área da seção transversal diminui, enquanto que seu comprimento lon- gitudinal aumenta. A partir da relação entre essas deformações, Eq. (2.6), obtêm-se o Capítulo 2. Fundamentos Teóricos 18 coeficiente de Poisson, 𝜈, que representa a rigidez do material na direção perpendicular à aplicação da carga uniaxial (HIBBELER,2010). 𝜈 = − 𝜖𝑙𝑎𝑡𝑒𝑟𝑎𝑙 𝜖𝑙𝑜𝑛𝑔𝑖𝑡𝑢𝑑𝑖𝑛𝑎𝑙 (2.6) 2.1.2 Ensaio de impacto Ensaio que avalia a fragilidade de um material sob condições de alta taxa de de- formação. Refere-se especificamente ao comportamento dos metais quando submetidos a uma força que resulta em tensões multiaxiais associado com um entalhe, simultaneamente com altas taxas de carregamento e, em determinados casos, com altas ou baixas tempe- raturas. Utilizando esse ensaio, para alguns materiais e temperaturas é possível prever a probabilidade de fratura frágil com precisão (ASTM, 2012b). O ensaio de impacto é realizado utilizando um pêndulo de comprimento S que parte de uma altura ℎ𝑜 e ângulo 𝛽, golpeia e fratura o corpo de prova padrão e atinge uma altura final ℎ𝑓 e ângulo 𝛼 (Fig. 4). A diferença das elevações inicial e final do pêndulo fornece a diferença de energia potencial, que corresponde a energia absorvida pela amostra durante o impacto (ASKELAND; PHULÉ, 2008). Figura 4: Dimensões no ensaio de impacto. Fonte: (ASTM, 2012b) A ruptura de um corpo de prova no ensaio de impacto pode ser do tipo frágil ou dúctil. O primeiro ocorre sem qualquer deformação significativa, sendo assim a superfície de falha é relativamente plana de aspecto cristalino e ao comparar com o dúctil, menor energia é absorvida na fratura. A ruptura dúctil apresenta uma seção com aspecto fibroso e irregular, o que indica deformação plástica. Para alguns materiais, ao relacionar graficamente a energia absorvida no impacto de diversos corpos de prova e as diferentes temperaturas de ensaio, obtêm-se a chamada região de transição dúctil-frágil (Fig. 5), que é um dos objetivos do teste de impacto. Esse Capítulo 2. Fundamentos Teóricos 19 gráfico é importante, uma vez que fornece a faixa de transição de temperatura em que um material possui fratura frágil ou dúctil, isto é, com o decaimento de temperatura a energia de impacto cai repentinamente ao longo de um intervalo de temperaturas relativamente estreito, passando de uma fratura dúctil para frágil (CALLISTER, 2002), conhecimento significativo para decisão de materiais em projetos de engenharia. Figura 5: Curva da energia de impacto em função da temperatura. Existem dois tipos de ensaio de impacto: Charpy e Izod. As principais diferenças entre eles são as medições dos corpos de prova (Figs. 6 e 7) e a posição desses na máquina de ensaio de impacto. No ensaio do tipo Charpy, o corpo de prova está apoiado nas duas extremidades e o golpe do martelo é disferido no lado oposto ao entalhe, enquanto no Izod, o golpe é disferido no mesmo lado do entalhe e o corpo de prova é apoiado em uma extremidade (SHIGLEY; MISCHKE, 2005). Figura 6: Corpos de prova para ensaio de impacto do tipo Charpy. Fonte: (ASTM, 2012a) Capítulo 2. Fundamentos Teóricos 20 Figura 7: Corpos de prova para ensaio de impacto do tipo Izod. Fonte: (ASTM, 2012a) 2.1.3 Ensaio de dureza Ensaio que mede a resistência da superfície de um material à penetração por um objeto rígido. Alguns dos ensaios de dureza realizados em metais são os do tipo Rockwell, Brinell e Vickers. Os quais se diferenciam, também, pelos tipos de penetradores usados (ASKELAND; PHULÉ, 2008). Neste trabalho, o ensaio de dureza Rockwell será realizado, entretanto a título de comparação teórica, os ensaio de dureza Vickers e Brinell são abordados nesta revisão bibliográfica. 2.1.3.1 Dureza Brinell Nesse ensaio, uma esfera de aço com elevada dureza e diâmetro D é forçada contra a superfície a ser analisada com uma carga F a ser aplicada por um tempo t, de 10 ou 15 segundos. Após obter o diâmetro da impressão marcado pelo penetrador, calcula-se o número de dureza Brinell (HB), pela Eq. (2.7), na qual F corresponde a carga aplicada em quilograma-força, D ao diâmetro do penetrador em milímetros, Di ao diâmetro da impressão em milímetros (ASTM, 2012a). 𝐻𝐵 = 2𝐹 𝜋𝐷(𝐷 − √︁ 𝐷2 − 𝐷𝑖2) (2.7) A dureza Brinnel é definida em N/𝑚𝑚2 ou kgf/𝑚𝑚2, no entanto a unidade é geralmente omitida, uma vez que a dureza Brinnel não é um conceito físico satisfatório, por não considerar o valor médio da pressão sobre toda a superfície de impressão (SOUZA, 1982). Não há uma forma ou tamanho padrão para a amostra a ser analisada por um ensaio de dureza Brinell, há porém alguns requerimentos a serem seguidos: a espessura do material deve ser tal que nenhuma marcação apareça no lado oposto ao ensaiado; se necessário, a peça deve passar por um processo de acabamento (usinagem, polimento) para que as bordas do entalhe fiquem nitidamente marcadas de modo a permitir uma boa precisão na medição (ASTM, 2012a). Capítulo 2. Fundamentos Teóricos 21 2.1.3.2 Dureza Vickers Teste de dureza no qual uma pirâmide de base quadrada com ângulos de face específicos de diamante é forçada sob a amostra (Fig. 8). Após a remoção da carga, os comprimentos das duas diagonais da área marcada, observados nas Figs. (8) e (9), são medidos. A partir deles se obtém o número de dureza Vickers (HV), definido pela Eq. (2.8),em que F é a carga sob a amostra em quilograma-força e 𝑑𝑣, a média do comprimento das diagonais em milímetros. Assim como o número de dureza Brinnel, HV é dado em N/𝑚𝑚2 ou kgf/𝑚𝑚2 (ASTM, 2016). 𝐻𝑉 = 1, 85544 𝐹 𝑑𝑣 2 (2.8) Figura 8: Representação de um penetrador de ensaio de dureza Vickers e entalhe. Fonte: (ASTM, 2016) Figura 9: Entalhe obtido pelo ensaio de dureza Vickers em uma amostra do ferro fundido nodular GGG-40. Ao realizar esse tipo de ensaio, verifica-se que o número de dureza Vickers é es- sencialmente o mesmo para cargas de 1 a 120 kgf (ASTM, 2016). O que não ocorre ao utilizar carregamentos menores que 1 kgf, nesse caso o ensaio é de microdureza e cuidados maiores devem ser tomados, como por exemplo com a calibração da máquina e preparação do corpo de prova (SOUZA, 1982). Para o ensaio de dureza Vickers, o formato e tamanho do corpo de prova não é determinado por uma norma padrão, no entanto o corpo deve passar por um polimento Capítulo 2. Fundamentos Teóricos 22 cuidadoso, para eliminar defeitos que possam afetar o processo de entalhe ou a medição das diagonais geradas (ASTM, 2016). Algumas das vantagens desse ensaio: as impressões são extremamente pequenas que não inutilizam a peça; grande precisão de medida; deformação nula do penetrador; aplicação em qualquer espessura de material, medindo assim também durezas superficiais. Apesar desses benefícios, o ensaio de dureza Vickers não é tão largamente utilizado como o Brinnel e Rockwell, uma vez que é um ensaio demorado e exige preparação mais cuidadosa da amostra (SOUZA, 1982). 2.1.3.3 Dureza Rockwell Dois tipos de penetradores podem ser utilizados no ensaio de dureza Rockwell, uma pequena esfera de aço temperado para materiais macios e um cone de diamante para os mais duros. Nesse tipo de ensaio de dureza, a profundidade medida pelo pe- netrador é automaticamente obtida pela máquina de análise e convertida no número de dureza Rockwell (HR) (ASTM, 2012a). Nesse teste, o carregamento é aplicado em etapas, primeiro uma pré-carga e depois uma carga maior, para aumentar a precisão do ensaio (CALLISTER, 2002). O ensaio de dureza Rockwell foi o escolhido para ser realizado nesse trabalho por eliminar o tempo de medição de um operador, sendo assim é mais rápido que o teste de dureza Brinell e Vickers e propaga menos erros pessoais. Por ter essas vantagens e por geralmente não prejudicar a peça analisada, é um teste conveniente para uso em linhas de produção, para verificação de tratamentos térmicos ou superficiais e de laboratório (SOUZA, 1982). Existem duas categorias para esse tipo de ensaio: dureza Rockwell comum e dureza Rockwell superficial. As quais se diferenciam principalmente pela carga empregue no teste. A fórmula para obtenção do número de dureza Rockwell varia dependendo do tipo de dureza e penetrador utilizado, Eqs. (2.9), (2.10), (2.11) e (2.12), nas quais h é a diferença da profundidade, em milímetros, atingida pela carga inicial, depois e antes da carga total ser aplicada(ASTM, 2015b): • Penetrador de diamante : 𝐻𝑅𝑐𝑜𝑚𝑢𝑚 = 100 − ℎ 0, 002 (2.9) 𝐻𝑅𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 = 100 − ℎ 0, 001 (2.10) • Penetrador esférico: Capítulo 2. Fundamentos Teóricos 23 𝐻𝑅𝑐𝑜𝑚𝑢𝑚 = 130 − ℎ 0, 002 (2.11) 𝐻𝑅𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 = 100 − ℎ 0, 001 (2.12) Ao contrário do número de dureza Brinnel, o número de dureza Rockwell é adi- mensional (SOUZA, 1982). Para melhores resultados, a norma ASTM (2015a) para ensaio de dureza Rockwell em materiais metálicos diz que a superfície a ser analisada e o lado oposto à ela devem ser lisos, uniformes e sem camadas de óxido, substâncias estranhas e lubrificantes. A espessura da amostra, no caso de dureza Rockwell comum, é de dez vezes a profundidade da impressão (SOUZA, 1982). 2.2 Ferro Fundido Ferros fundidos são ligas de ferro-carbono-silício que contêm de dois a quatro por cento de carbono e de meio a três por cento de silício, que passam pela reação eutética (transformação em que um líquido forma simultaneamente duas fases sólidas) durante a solidificação. Dependendo do nível de estabilidade dessa transformação, ela poderá ser uma reação eutética meta estável, na qual a liga Fe-C em sua forma líquida (L) é resfriada e forma os sólidos austenita (𝛾) e cementita (𝐹𝑒3𝐶), Eq. (2.13), ou estável, a fase líquida da liga ferro-carbono se decompõe em austenita e grafita com o decrescimento da temperatura, Eq. (2.14) (ASKELAND; PHULÉ, 2008). A Fig. (10) mostra o diagrama de fases ferro-carbono em condições de equilíbrio estável. 𝐿 → 𝛾 + 𝐹3𝐶 (2.13) 𝐿 → 𝛾 + 𝑔𝑟𝑎𝑓𝑖𝑡𝑎 (2.14) Um dos fatores que controlam o grau de estabilidade da reação eutética é a taxa de resfriamento do ferro fundido. Posto que, quanto maior a velocidade que a temperatura decai, menor o tempo que a grafita terá para nuclear e crescer. Outro responsável que influencia o tipo de reação eutética, é a quantidade de silício presente. Uma vez que esse elemento favorece a formação de grafita (HANDBOOK, 1990). A categoria da reação eutética determina o tipo de ferro fundido a ser gerado. Se for meta estável, há formação de ferro fundido branco, dado que este possui microestrutura composta por 𝐹𝑒3C e perlita (ferrita mais 𝐹𝑒3C), se for estável, produz ferro fundido cinzento, nodular ou de grafita compacta (ASKELAND; PHULÉ, 2008). Capítulo 2. Fundamentos Teóricos 24 Figura 10: Diagrama de fases ferro-carbono em condições de reações eutética e eutetóide estáveis. Fonte: (CALLISTER, 2002) O modo como a austenita se transforma durante a reação eutetóide (uma fase sólida se transforma em duas outras, também sólidas) determina a microestrutura da matriz e as propriedades de cada tipo de ferro fundido. A austenita transforma-se em perlita, Eq. (2.15), no entanto a presença de silício induz a reação eutetóide estável, Eq. (2.16), mostrado na Fig. (10). 𝛾 → 𝛼 + 𝐹3𝐶 (2.15) 𝛾 → 𝛾 + 𝑔𝑟𝑎𝑓𝑖𝑡𝑎 (2.16) A estrutura de um ferro fundido é composta por partículas de grafita dispersas em sua matriz metálica. Assim, as propriedades mecânicas desse tipo de composto, tais como a resistência à fratura e ductilidade, são afetadas diretamente pela configuração dos fragmentos de grafita presentes. Partículas com forma nodulares melhoram essas propriedades, enquanto as alongadas ou com contornos irregulares as agravam, por efeito dos pontos concentradores de tensão. Deste modo, a classificação do ferro fundido se baseia no formato da composição de grafita que o compõe (GOMES; PACIORNIK, 2005), e estão listados a seguir. Capítulo 2. Fundamentos Teóricos 25 2.2.1 Ferro Fundido Cinzento No ferro fundido cinzento, a grafita está presente na forma veios, normalmente envolvidos por ferrita ou perlita, o que resulta em baixas resistência e ductilidade. Essa configuração da grafita confere a aparência cinza à superfície fraturada. Apesar de ter sua resistência e ductilidade afetadas pelo formato das partículas de grafita, o ferro fundido cinzento possui boas características, dentre elas: resistência à com- pressão, usinabilidade, resistência ao desgaste por deslizamento, condutividade térmica e amortecimento de vibrações (ASKELAND; PHULÉ, 2008). 2.2.2 Ferro Fundido Branco Esse tipo de ferro fundido contém baixo teor de silício o que não favorece a formação de grafita, assim a maior parte do carbono está na forma de cementita, por consequência dispõe de alta dureza, resistência ao desgaste abrasivo e fragilidade. A superfície de fratura desse tipo de ferro fundido possui coloração branca (ASKELAND; PHULÉ, 2008). 2.2.3 Ferro Fundido Maleável O ferro fundido maleável é obtido por tratamento térmico do ferro fundido branco, assim apresenta maior ductilidade e usinabilidade que os ferros fundidos brancos e cinzen- tos. Com o tratamento, a cementita formada na solidificação se decompõe, produzindo nódulos de grafita, que podem estar envolvidos por uma matriz de ferrita ou perlita, que depende da taxa de resfriamento. O formato arredondado das partículas de grafita concede a esse tipo de ferro fundido uma boa combinação de resistência e ductilidade (HANDBOOK, 1990). 2.2.4 Ferro Fundido Nodular O ferro fundido nodular é produzido pelo processamento do metal líquido com 4,3% de carbono e 0,03% de magnésio na forma de liga metálica do tipo MgFeSi. O magnésio atua como um inibidor de curta duração, que desacelera a formação inicial da grafita. Ao cessar o efeito do magnésio, a cementita formada se decompõem produzindo grafita em forma esférica (CHIAVERINI, 1986). Esses nódulos promovem à esse tipo de ferro fundido melhor resistência à fratura e ductilidade que nos ferros fundidos com grafita em formatos de veios, dentre esses, o do tipo cinzento e o com grafita compactada (HANDBOOK, 1990). Em razão de conter maior teor de silício – 2,4% Si – do que o ferro fundido maleável – 1,5% Si –, o ferro fundido nodular é mais resistente, entretanto não tão tenaz quanto o maleável (ASKELAND; PHULÉ, 2008). Capítulo 2. Fundamentos Teóricos 26 2.2.5 Ferro Fundido com grafita compacta Formato da grafita é intermediário entre veios e nódulos, em razão dos nódulos arredondados estarem interconectados com os veios. Essa forma da grafita proporciona resistência e ductilidade superiores a do ferro fundido cinzento, mas mantendo boa con- dutividade térmica e capacidade de amortecimento de vibrações (O’CONNOR, 1992). 2.3 Ferro Fundido Nodular Como exposto na seção anterior, a grafita se encontra no ferro fundido nodular em formato esférico, o que faz com que apresente boas propriedades mecânicas. Dentre essas, destacam-se sua boa ductilidade, alto módulo de elasticidade e resistência mecânica combinadas com fácil fundição e usinabilidade. Ao verificar essas características e em adicional o baixo custo de fabricação em produtos de formas complexas, o ferro fundido nodular é amplamente utilizado na indústria automotiva ((HANDBOOK, 1990); (DONG; PRIOUL; FRANÇOIS, 1997); (FERRO; LAZZARIN; BERTO, 2012); (FEISTE et al., 2002); (FRANCKLIN, 2008); (HUG et al., 2009)). Segundo Chiaverini (1990), o gráfico de energia absorvida em função da tempe- ratura em um ensaio de impacto do tipo Charpy para um ferro fundido nodular com diferentes tratamentos térmicos está representado na Fig. (11). O comportamento desse gráfico também é validado pela Handbook (1990). 2.3.1 Ferro Fundido Nodular GGG-40 O material GGG-40 pelanorma DIN, FE42012 pela ABNT, D-4512 pela SAE e 65.45.12 pela ASTM, é um tipo ferro fundido nodular que possui limite de resistência à tra- ção de 420 MPa e 12% de alongamento. Na Tabela (2) constam outras propriedades desse material e na Tab (3) sua composição química ((CHIAVERINI, 1986); (CHIAVERINI, 1990); (ZHANG; BAI; FRANCOIS, 1999)). Sendo um ferro fundido nodular, dispõe de grafita em forma de esferas em sua matriz de ferrita, fazendo com que os componentes feitos desse material apresentem boa resistência a cargas de choque e fadiga, boa ductili- dade e usinabilidade. Com base no exposto, afirma-se que o ferro fundido nodular é uma boa escolha para as seguintes aplicações:virabrequins, engrenagens, rolamento, discos de freio, calibres de freio a disco, válvulas, articulações de direção, entre outros. Capítulo 2. Fundamentos Teóricos 27 Figura 11: Efeito de diversos tratamentos térmicos no comportamento de resistência ao choque de ferro nodular. Fonte: (CHIAVERINI, 1990) Tabela 2: Propriedades mecânicas do ferro fundido nodular GGG-40. Propriedade Módulo de elasticidade [GPa] 210 Coeficiente de Poisson 0,3 Limite de escoamento [MPa] 295 Limite de resistência à tração [MPa] 420 Alongamento Percentual 12 Temperatura de transição dúctil – frá- gil e variação da energia nessa faixa (Fig. 11) Fig. (11) Dureza HB 150-200 Tabela 3: Composição química do ferro fundido nodular GGG-40. C Si Mn S P Mg Cu Ni Cr Fe 3,35 2,25 0,3 0,006 0,025 0,039 0,06 0,04 0,02 93,9 28 3 Materiais e Métodos Os métodos realizados nesse trabalho buscam caracterizar as propriedades mecâ- nicas do ferro fundido nodular GGG-40 a partir dos ensaios mecânicos de dureza, impacto e tração. Para verificar a composição química do GGG-40 foi realizada uma análise da superfície de uma amostra. O material GGG-40 utilizado neste trabalho foi adquirido de uma fundição na forma de blocos de aproximadamente 100 mm de lado. Neste sentido foram realizados processos de usinagem para manufatura dos corpos de prova seguindo as dimensões recomendadas pelas normas ASTM (2011) e ASTM (2015b). 3.1 Análise estrutural da superfície Para realizar a análise em microscópio eletrônico de varredura (MEV), uma amos- tra de comprimento, largura e espessura iguais a 13 mm, 10 mm e 6 mm, respectivamente foi lixada na politriz (Fig. 12.a) seguindo a ordem de granulometria das lixas d’água 100, 220, 320, 400, 600 e 1200. Para acabamento final, o veludo flocado (Fig. 12.b) com pasta de diamante de 6 micrômetros foi utilizado. Em seguida, o nital 3% foi aplicado na amos- tra por aproximadamente 45 segundos para que a microestrutura revelasse nitidamente seus microconstituintes. Essa substância é composta por 97% de álcool etílico e 3% de ácido nítrico concentrado e é usada como reativo para micrografia de metais. A amostra preparada foi analisada via MEV para assim obter uma avaliação da superfície. Figura 12: a) Politriz lixadeira Polipan 2D da Pantec; b) Veludo flocado. Capítulo 3. Materiais e Métodos 29 3.2 Ensaio de dureza O primeiro passo para a execução do ensaio de dureza Rockwell foi o preparo da amostra de comprimento e largura igual a 29 mm e espessura de 8 mm de ferro fundido nodular GGG-40, que deveria ser polida cuidadosamente para eliminar defeitos que pudessem afetar o processo de medição da dureza da superfície do material. Para isso, em um primeiro momento, lixou-se o corpo de prova seguindo a ordem de granulometria das lixas d’água 100, 220, 400, 600 e 1200, para remover defeitos mais profundos. Após, o tecido de poliéster (Fig. 13) com pasta de diamante foi utilizado para polimento final. Esses procedimentos foram realizados na politriz. Para realizar o ensaio é importante garantir a calibração do equipamento (Fig. 14). A qual é feita realizando a análise de um corpo padrão com dureza Rockwell co- nhecida, que faz parte do conjunto da máquina. Duas medidas foram executadas e os resultados condisseram com o valor tabelado, demonstrando assim que o equipamento estava devidamente calibrado. A esfera de aço temperado de 1,5875 mm foi escolhida como penetrador, dado que endentador esférico é a melhor opção para materiais com dureza não elevada e a carga de 100 kgf foi selecionada (Rockwell B - HRB). Após, com a máquina ligada, as opções de penetrador esférico e dureza Rockwell normal foram inseridas na máquina. Para obter o número de dureza Rockwell, o equipamento aplica uma pré-carga na peça antes da carga total. A máquina calcula a diferença de profundidade de endentação entre esses carregamentos e fornece o valor de dureza Rockwell. Cinco medidas foram realizadas no ferro fundido nodular GGG-40. Figura 13: Tecido de poliéster. Capítulo 3. Materiais e Métodos 30 Figura 14: Durômetro Mitutoyo Durotwin – D Plus. 3.3 Ensaio de impacto Para realização do ensaio 9 corpos de prova foram colocados no forno até atingirem a temperatura aproximada de 260 graus Celsius, outros 9 foram mergulhados em um recipiente com nitrogênio líquido por aproximadamente três minutos antes do primeiro ser ensaiado para completa homogeneização da temperatura nas amostras e 2 corpos de prova não sofreram processos de mudança de temperatura. Corpos de prova mostrados na Fig. (16) e dimensões definidas pela norma ASTM (2011) e apresentadas no Anexo I. O recipiente para acomodação dos corpos de prova de prova com nitrogênio líquido deveria isolá-los até homogeneização da temperatura em cada amostra, assim, a escolha mais acessível para essa finalidade foi utilizar o fundo de uma garrafa PET de 1,5 litro em um reservatório de isopor (Fig. 17). Antes de iniciar o ensaio, o equipamento (Fig. 18) foi calibrado, ajustando a folga do ponteiro até que ao liberar o pêndulo da sua posição travada sem nenhum corpo de prova, o valor mostrado na escala no equipamento fosse zero joule. Para início do ensaio, o martelo é colocado na posição travada e o indicador de energia no ponto de máxima leitura na escala. A seguir, o corpo de prova é posicionado no equipamento com as duas extremidades apoiadas e com entalhe oposto onde será atingido (ensaio do tipo Charpy). A temperatura do corpo de prova é obtida com a câmera térmica Fluke Ti125, a alça de segurança é removida e o martelo liberado. Depois da fratura, a energia absorvida no impacto é mostrada pelo indicador. Método realizado para todos os corpos de prova. Capítulo 3. Materiais e Métodos 31 Figura 15: Corpos de prova de impacto do tipo Charpy. Figura 16: Recipiente de isopor. Figura 17: Equipamento que realiza ensaio de impacto dos tipos Charpy e Izod. Capítulo 3. Materiais e Métodos 32 3.4 Ensaio de tração Os corpos de prova de tração (Fig. 19) com dimensões retiradas da norma ASTM (2015b) (Anexo II) tiveram que passar por procedimentos de lixamento na politriz se- guindo a ordem de granulometria das lixas d’água 100, 220, 320 e 400, pois suas faces estavam severamente marcadas pelos processos de fabricação feito pra obtê-los, o que poderia induzir a concentradores de tensão e provocar trincas fora da região de referência marcada de 25 mm. Para dar início ao ensaio, as garras foram colocadas na máquina (Fig. 20) e o corpo de prova foi acoplado à elas. A seguir, o extensômetro foi instalado na seção útil da amostra, delimitada pela região de referência. Após, a máquina de ensaio de tração foi ligada para ser aquecida a temperatura normal de operação de aproximadamente 37∘C e minimizar assim erros de regime transiente. Os dados de largura e espessura do corpo de prova foram digitados no computador ligado à máquina, assim como a velocidade de 2 mm/min. O ensaio foi iniciado. Figura 18: Corpos de prova de tração. Figura 19: Máquina para ensaio de tração: INSTRON 8801. 33 4 Resultados e discussões 4.1 Análise estrutural da superfície O princípio de funcionamento do microscópio eletrônico de varredura (MEV) con- siste em utilizar um feixe de elétrons para explorar a superfície da amostra. Esse feixe interage com a amostra, produz elétrons e fótons que podem ser coletados pelos detectores do MEV e convertidos em sinal de vídeo. O feixe de elétrons pode ionizar camadas mais profundas dos átomos e emitir raios-x. Essa emissão é específica de cada número atômico, a qual pode ser usada para identificar o elemento (DEDAVID; GOMES; MACHADO, 2007). A Figura (20) mostra a análise micrográfica do ferro fundido nodular GGG-40 com ataque químico - nital 3% - utilizando o MEV. É possível verificar os nódulos de grafita na matriz ferrítica. Figura 20: Análise micrográfica ferro fundido nodular GGG-40 com ataque químico nital 3%. A Figura (21) indica os pontos determinados na amostra para investigação no MEV. Figura 21: Microscopia da amostra de GGG-40 e pontos 1, 2,3 e 4 marcados para análise da composição química. Capítulo 4. Resultados e Discussões 34 A Figura (22) mostra os histogramas de energia para cada ponto selecionado, sendo o eixo horizontal a energia dos fótons e o eixo vertical o número de fótons recebidos. Figura 22: Composição química. a) ponto 1; b) ponto 2; c) ponto 3; d) ponto 4. A Tabela (4), a seguir, apresenta a porcentagem de cada elemento no ponto 4 analisado, marcado em laranja na Fig. (21). Capítulo 4. Resultados e Discussões 35 Tabela 4: Porcentagem dos componentes no ponto 4. C O Si Fe 2,38 5,18 2,99 89,45 A análise do ponto 3, Fig. (22.c), mostrou a presença predominante do carbono em sua composição. Isso era esperado, uma vez que esse ponto é um nódulo de grafita, que é uma forma alotrópica do carbono. Como observado na teoria, os elementos Fe, C e Si estão presentes. Nos pontos 1, 2 e 4 verifica-se a mesma composição, afirmando assim que a matriz é uniforme. A composição química do material obtida pelos fornecedores do material mostra, também, a presença dos elementos Mg, Mn, P, S, Cu, Cr e Ni, os quais não foram determinados na análise, uma vez que os elementos em quantidade inferior a 0,2% em massa não são detectados pelo MEV (DEDAVID; GOMES; MACHADO, 2007). 4.2 Ensaio de dureza O ensaio de dureza realizado foi o do tipo Rockwell com penetrador esférico de 1,5875 mm e carga de 100 kgf. Foram realizadas cinco medidas com desvio padrão calcu- lado igual de 0,5, conforme apresentado na Tab. (5): Tabela 5: Dados obtidos no ensaio de dureza Rockwell 1 2 3 4 5 HRB 90,9 ±0,5 91,1 ±0,5 90,5 ±0,5 90,7 ±0,5 91,8 ±0,5 A média dos valores da Tab. (5) foi convertida para dureza Brinell por meio da tabela de conversão disponibilizada pela norma ASTM (2013), no Anexo III. 91𝐻𝑅𝐵 → 190𝐻𝐵 Na Tabela (6) constam alguns valores de dureza Brinell para outras ligas ((CHI- AVERINI, 1990); (SHACKELFORD, 2008)). Comparando com a Tab. (6), verifica-se que o GGG-40 é menos resistente superficialmente à penetração por um objeto rígido do que as ligas da tabela. Por possuir menor dureza que esses materiais, conclui-se que o GGG-40 possui melhor usinabilidade. E como o valor de dureza dele não está tão longe dos demais correspondentes aos aços, 24% menor do que o de superfície mais resistente listada, conclui-se que ele pode substituir esses materiais dependendo da aplicação. Capítulo 4. Resultados e Discussões 36 Tabela 6: Valores de dureza Brinell para algumas ligas. Liga HB Ferro fundido branco 450 - 600 Tipo A Ferro fundido maleável 269 - 302 Classe M8501 Ferro fundido Cinzento 248 - 290 ASTM Classe 60 Aço carbono 1040 235 Aço inoxidável 410 250 4.3 Ensaio de impacto A Tabela (7) mostra a temperatura e energia absorvida para cada corpo de prova no impacto. O erro de medição do equipamento de ensaio de impacto é de 5% no valor mostrado pelo indicador e o da máquina térmica é de 2∘C. As Figuras (23) e (24) representam os gráficos dos valores mostrados na Tab. (7). Na Figura (23) é possível observar a transição dúctil-frágil do material ensaiado com início em 25∘C e término em 92∘C aproximadamente. É verificado que mesmo possuindo uma leve mudança de transição dúctil-frágil, Fig. (23), o GGG-40 possui comportamento frágil independente da temperatura de ensaio comparado com os aços carbono 0,2% C e 0,6% C (Fig. 24), dados do aço carbonos 0,2% C e 0,60% C segundo Shackelford (2008). Figura 23: Influência da temperatura na energia absorvida no impacto. Capítulo 4. Resultados e Discussões 37 Tabela 7: Valores de temperatura e energia absorvida do ferro fundido nodular GGG-40 no ensaio de impacto. Número Temperatura [ºC] Energia de Impacto [J] do ensaio 1 -29,6 ± 2,0 3±0,15 2 -24,6± 2,0 3±0,15 3 -20,3± 2,0 3±0,15 4 -18,5± 2,0 3±0,15 5 -11,7± 2,0 3±0,15 6 -4,3± 2,0 4±0,20 7 -0,7± 2,0 4±0,20 8 4,6± 2,0 3±0,15 9 10,7± 2,0 4±0,20 10 24,1± 2,0 4±0,20 11 25,1± 2,0 3±0,15 12 60,8± 2,0 7±0,35 13 63,2± 2,0 8±0,40 14 91,3± 2,0 13±0,65 15 96,2± 2,0 13±0,65 16 99,5± 2,0 12±0,60 17 194± 2,0 15±0,75 18 200± 2,0 14±0,70 19 205,4 ± 2,0 13±0,65 20 252± 2,0 13±0,65 Capítulo 4. Resultados e Discussões 38 Figura 24: Influência da temperatura na energia absorvida no impacto. O comportamento frágil do material ensaiado a alta taxa de deformação também foi observado na seção fraturada do corpo de prova e consta na Fig. (25), na qual ‘n’ corresponde ao número do ensaio, ‘T’ à temperatura de ensaio e ‘E’ a energia absorvida no impacto. Figura 25: Seção transversal da fratura de cada corpo de prova. Capítulo 4. Resultados e Discussões 39 Ao comparar as seções fraturadas é possível verificar nos corpos de prova ensaiados em altas temperaturas uma contração lateral com uma superfície mais rugosa. Mostrando assim, o comportamento dúctil comparado aos corpos de prova ensaiados em temperaturas mais baixas. 4.4 Ensaio de tração A Tabela (8) apresenta a média dos valores das propriedades obtidas nos dois ensaios de tração realizados e as medidas teóricas. Tabela 8: Valores das propriedades obtidas pelo ensaio de tração do ferro fundido nodular GGG-40 e pela teoria Propriedade Mecânica Valor experi- mental Valor teórico Limite de resistência à tração [MPa] 444 420 Limite de escoamento [MPa] 310 295 Módulo de elasticidade [GPa] 253 210 Alongamento percentual 12 12 Coeficiente de Poisson 0,28 0,3 A Figura (26) mostra a curva tensão-deformação para os dois corpos de prova ensaiados, assim como os valores dos limites de resistência à tração e escoamento. Figura 26: Curva tensão-deformação do ferro fundido nodular GGG-40: a) corpo de prova 1, b) corpo de prova 2. Um recurso que pode ser utilizado para auxiliar na escolha de um material para determinada aplicação é a comparação das propriedades. Tendo isso como base, a Tab. (9) apresenta algumas propriedades mecânicas de outros materiais e as obtidas para o GGG-40 (SHIGLEY; MISCHKE, 2005). Capítulo 4. Resultados e Discussões 40 Tabela 9: Propriedades médias ferro fundido nodular GGG-40 e de outros materiais. Liga Limite de resis- tência à tração [MPa] Limite de esco- amento [MPa] Módulo de elas- ticidade [GPa] Alongamento Percentual Coeficiente de Poisson Ferro fundido nodular GGG-40 444 305 253 12 0,28 Ferro fundido maleávelASTM A-197 276 - 172 5 0,28 Ferro fundido CinzentoASTM 2 179 - 67 0,6 0,28 Aço estrutural A36 400 250 200 30 0,32 Aço inoxidável 304 517 207 193 40 0,27 Como visto nos fundamentos teóricos deste trabalho, o ferro fundido nodular é mais resistente e dúctil que os ferros fundidos cinzentos e maleáveis, confirmados pe- los dados de limite de resistência e alongamento percentual da Tab. (9). Por possuir propriedades próximas aos aços mostrados na Tab. (9), conclui-se que o GGG-40 pode ser um substituto para eles, uma vez que além das características similares, exceto para alongamento percentual, o ferro fundido nodular possui um custo de produção inferior. 41 5 Conclusão e trabalhos futuros Nos projetos de engenharia é essencial conhecer o comportamento dos elementos sob as determinadas condições. Isso é possível com os valores das propriedades mecânicas obtidos por ensaios experimentais de corpos de prova do material. Com essas caracte- rísticas é possível comparar as especificidades dos materiais e verificar a melhor escolha para uso desejado. O objetivo do trabalho realizado foi caracterizar o ferro fundido nodular GGG- 40 por meio do microscópio eletrônico de varredura e dos ensaios de tração, impacto e dureza. Assim, foi verificado que o material analisado apresenta bom equilíbrio entre usinabilidade, resistência e ductilidade comparado a outros ferros fundidos e aços, podendo assim substituí-los. Além disso, o ferro fundido nodular possui baixo custo de fabricação em produtos de formas complexas, e por isso seu uso é crescente na indústria automotiva. Na segunda etapa deste trabalho, uma aplicação para o ferro fundido nodular GGG-40 será proposta e fundamentada por análises computacionais com os valores das propriedadesmecânicas obtidas experimentalmente. 42 Referências ASKELAND, D. R.; PHULÉ, P. P. Ciência e engenharia dos materiais. [S.l.]: Cengage Learning, 2008. Citado 8 vezes nas páginas 11, 15, 16, 17, 18, 20, 23 e 25. ASTM. A327/a327m-11: Standard test methods for impact testing of cast irons. Annual Book of ASTM Standards, ASTM, West Conshohocken, PA, 2011. Citado 3 vezes nas páginas 28, 30 e 44. ASTM. E10; standard test method for brinell hardness of metallic materials. Annual Book of ASTM Standards, ASTM, West Conshohocken, PA, 2012. Citado 3 vezes nas páginas 19, 20 e 22. ASTM. E23-12c: Standard test method for notched bar impact testing of metallic materials. 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Ensaios mecânicos de materiais metálicos: Fundamentos teóricos e práticos. [S.l.]: E. Blucher, 1982. Citado 6 vezes nas páginas 13, 17, 20, 21, 22 e 23. ZHANG, K.; BAI, J.; FRANCOIS, D. Ductile fracture of materials with high void volume fraction. International Journal of Solids and Structures, Elsevier, v. 36, n. 23, p. 3407–3425, 1999. Citado na página 26. 44 ANEXO A – Dimensões dos corpos de prova Anexo I: Corpo de prova padrão para ensaio de impacto tipo Charpy com entalhe em V. Fonte: (ASTM, 2011) Anexo II: Corpo de prova padrão para ensaio de tração. Adaptada de ASTM (2015b) 45 ANEXO B – Conversão de valores de dureza Anexo III: Parte da tabela de conversão de valores de dureza. Fonte: (ASTM, 2013) Folha de rosto Folha de aprovação Agradecimentos Resumo Abstract Lista de ilustrações Lista de tabelas Sumário Introdução Objetivo Geral Objetivos Específicos Metodologia Divisão do Trabalho Fundamentos Teóricos Ensaios Mecânicos Ensaio de tração Ensaio de impacto Ensaio de dureza Dureza Brinell Dureza Vickers Dureza Rockwell Ferro Fundido Ferro Fundido Cinzento Ferro Fundido Branco Ferro Fundido Maleável Ferro Fundido Nodular Ferro Fundido com grafita compacta Ferro Fundido Nodular Ferro Fundido Nodular GGG-40 Materiais e Métodos Análise estrutural da superfície Ensaio de dureza Ensaio de impacto Ensaio de tração Resultados e Discussões Análise estrutural da superfície Ensaio de dureza Ensaio de impacto Ensaio de tração Conclusão e trabalhos futuros Referências Dimensões dos corpos de prova Conversão de valores de dureza
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