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DISSERTACAO-2008-FranciscoDeAssisFBJunior

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Francisco de Assis Fernandes Brandão Júnior
Palanques Virtuais:
A campanha presidencial pela
Internet nas eleições de 2006
Brasília
2008
i
Francisco de Assis Fernandes Brandão Júnior
Palanques Virtuais:
A campanha presidencial pela Internet
nas eleições de 2006
Dissertação de Mestrado submetida ao Instituto de
Ciência Política da Universidade de Brasília, como parte
dos requisitos exigidos para obtenção do grau de Mestre
em Ciência Política.
Área de concentração: Ciências Humanas
Sub-área: Estudos Eleitorais e Partidos Políticos
Orientador: Prof. Dr. Carlos Marcos Batista
Brasília
2008
Brandão Júnior, Francisco de Assis Fernandes.
Palanques Virtuais: A campanha presidencial pela Internet nas
eleições de 2006/ Francisco de Assis Fernandes Brandão Júnior;
Carlos Marcos Batista, orientador. - Brasília, 2008.
224 f.: il.
Dissertação (mestrado) – Universidade de Brasília,
Instituto de Ciência Política, 2008.
1. Ciências Humanas. 2. Estudos eleitorais e partidos políticos.
3. Participação. 4. Internet. I. Batista, Carlos Marcos (orient.).
II. Título.
ii
Francisco de Assis Fernandes Brandão Júnior
Palanques Virtuais:
A campanha presidencial pela Internet nas eleições de 2006
Dissertação de Mestrado submetida ao Instituto de Ciência
Política da Universidade de Brasília, como parte dos requisitos
exigidos para obtenção do grau de Mestre em Ciência Política.
Área de concentração: Ciências Humanas
Sub-área: Estudos Eleitorais e Partidos Políticos
Aprovada pela seguinte banca examinadora:
_________________________________________
Prof. Dr. Carlos Marcos Batista, UnB
Orientador
_________________________________________
Prof. Dr. David Verge Fleischer, UnB
Examinador interno
_________________________________________
Prof. Dr. Carlos Eduardo Esch, UnB
Examinador externo
Brasília, 14 de maio de 2006.
iii
A meus pais e professores.
A Tereza, que tanto me ensinou.
iv
Meus agradecimentos sinceros:
Ao professor Carlos Marcos Batista, pela
generosidade com que me guiou nesta jornada.
Aos professores David Verge Fleischer e Carlos
Eduardo Esch, pela colaboração decisiva na
conclusão deste trabalho.
Aos professores do Ipol-UnB, pelos ensinamentos.
Aos dirigentes, funcionários e assessores do PDT,
PSDB, PSOL e PT, em especial aos senadores Sérgio
Guerra e Cristovam Buarque e ao sr. Valter Pomar,
pelo acesso e fornecimento de e-mails da campanha.
Aos funcionários e assessores do Tribunal Superior
Eleitoral, do Comitê Gestor da Internet no Brasil e
do Centro de Informação e Pesquisa da Embaixada
dos Estados Unidos no Brasil, pelo envio de dados
fundamentais para a pesquisa.
Aos colegas do curso de mestrado, pelo apoio.
A Christian Kuebert, pelo incentivo.
v
Resumo
A pesquisa analisa o uso da Internet na campanha presidencial brasileira, de agosto a
outubro de 2006. Ela parte da visão de que a Internet pode aumentar a participação cidadã,
ampliar o acesso à informação política e partidária, enriquecer o debate programático e
organizar a campanha de maneira que se aproxime dos ideais democráticos. Com isso, seu
propósito é verificar quais variáveis levam à participação on-line e se as TICs podem ser
consideradas outra variável para definir o voto.
O uso da Internet pelos candidatos em 2006 foi impulsionado por três fatores: 1) uma
nova legislação eleitoral que restringiu despesas em diversas áreas; 2) a forte oposição da
mídia ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disputava a reeleição; 3) o crescimento do
acesso à Internet, que alcançou quase 25% do eleitorado. Como resultado, o número de sites
eleitorais no Brasil (incluindo os candidatos a presidente, governador, senador e deputado)
saltou de 542, nas eleições de 2002, para 2.640, em 2006.
A pesquisa inclui três bases de dados:
a) os e-mails enviados aos principais candidatos: o presidente Lula e o ex-governador de São
Paulo Geraldo Alckmin, da oposição;
b) as mensagens trocadas em sites de relacionamentos nas comunidades virtuais desses
candidatos e dos senadores Cristovam Buarque e Heloísa Helena, que também disputaram a
Presidência;
c) os sites eleitorais dos quatro candidatos.
Algumas das variáveis utilizadas na pesquisa são: gênero, educação, idade, religião,
partido, ocupação ou carreira, entre outras.
Palavras-chave: participação, Internet, eleições.
vi
Abstract
The research analyses the use of the Internet in the electoral campaign to Brazilian
Presidency, from August to October 2006. It assumes that the Internet can be used to improve
the citizens participation, amplify the access to political information, enrich the program
debate and organize the campaign in ways that move it closer to democratic ideals.
Considering this, its purpose is to verify what variables lead to the participation on line and if
the ICTs can be considered as another variable to define the vote.
The use of the Internet by candidates in 2006 was boosted by three factors: 1) a new
electoral legislation that restricted expenses in several areas; 2) the strong oposition of the
media towards the President Luiz Inácio Lula da Silva, who run for re-election; 3) the growth
of the Internet access, that reached almost 25% of Brazilian voters. As a result, the number of
electoral websites in Brazil (including the candidates who run for President, Governor,
Senator and Deputy) has jumped from 542, in 2002, to 2,640, in 2006.
The research includes three databases:
a) the e-mails sent to the major candidates: President Luiz Inacio Lula da Silva and the
opositionist Geraldo Alckmin, a former governor from São Paulo (the richest Brazilian State).
b) the messages posted in social network services of those candidates and the senators
Cristovam Buarque and Heloísa Helena, who also run for Presidency.
c) the websites of those four candidates.
Some of the variables used in the research are: gender, education, age, religion,
partisanship, occupation or career, amoung others.
Keywords: participation, Internet, election.
vii
Lista de equações
Página
5.1 Conectividade de candidatos a governador – gênero masculino 86
5.2 Conectividade de candidatos a senador – gênero masculino 86
5.3 Conectividade de candidatas a senador – gênero feminino 87
6.1 Influência da participação on-line na votação de Cristovam Buarque 102
Lista de figuras
2.1 Diagrama das teorias de democracia e suas variáveis 33
3.1 Resultado por estados – primeiro turno de 2006 50
4.1 Percentuais de acesso da população acima de 10 anos, por estados – 2005 64
Lista de gráficos
3.1 Avaliação do governo do presidente Lula - 2003 a 2006 37
4.1 Evolução do registro de domínios .br – 1996 a 2006 61
4.2 Crescimento do acesso à Internet no Brasil – 2000 a 2006 62
5.1 Expansão da Internet nas eleições – 2000 a 2006 75
5.2 Percentual de candidatos ligados na rede, por vaga disputada – 2006 76
5.3 Média de votos dos candidatos –2006 77
5.4 Proporção de candidatos eleitos, em relação ao total de inscritos no TSE –2006 78
5.5 Comparação das taxas de acesso de candidatos e eleitores, por faixa etária –2006 84
5.6 Comparação das taxas de acesso de candidatos e eleitores, por região – 2006 85
5.7 Relação entre fatores demográficos, socioeconômicos e políticos
sobre os candidatos ligados na Internet, segundo a conectividade – 2006 90
5.8 Relações dos partidos sobre os candidatos conectados – 2006 91
viii
5.9 Comparação entre o gasto médio de campanha dos
candidatos ligados e fora da rede – 2006 94
6.1 Destaques das homepages dos candidatos a presidente – 1° turno de 2006 111
6.2 Destaques das homepages dos candidatos a presidente – 2° turno de 2006 112
6.3 Destaques de políticas públicas dos sites dos candidatos
a presidente, por temas - 1° turno/2006 118
6.4 Desvio médio de destaques de políticas públicas nos
 sites dos candidatos a presidente, por temas - 1° turno 119
6.5 Percentual de destaques de políticas públicas
dos candidatos a presidente - 2° turno/2006 120
7.1Distribuição dos percentuais de internautas que enviaram
e-mails aos candidatos a presidente, segundo o gênero – 2006 148
7.2 Percentual de manifestações dos e-mails enviados aos candidatos
a presidente pelo PSDB e pelo PT, segundo a interatividade – 2006 155
7.3 Percentual de manifestações dos e-mails enviados aos candidatos
a presidente pelo PSDB e pelo PT, segundo o tema da mensagem – 2006 160
7.4 Comparação entre os percentuais de e-mails enviados
para Alckmin e o conteúdo do site do candidato, por temas – 2006 161
7.5 Comparação entre os percentuais de e-mails enviados
para Lula e o conteúdo do site do candidato, por temas – 2006 162
8.1 Tópicos de discussão nos fóruns das comunidades
dos candidatos a presidente – 2006 173
8.2 Comentários nos fóruns de discussão das comunidades
dos candidatos a presidente – 2006 174
8.3 Tópicos de discussão das comunidades dos candidatos
a presidente, por freqüência do número de comentários – 2006 178
8.4 Comparação entre percentuais de participação nas comunidades virtuais
e o acesso de eleitores à Internet, por regiões – 2006 192
8.5 Participação nos fóruns das comunidades dos
candidatos a presidente - 1° turno/2006 197
8.6 Participação nos fóruns das comunidades dos
candidatos a presidente - 2º turno/2006 199
8.7 Temas nos fóruns das comunidades dos candidatos a presidente - 1° turno/2006 201
ix
8.8 Temas nos fóruns das comunidades dos candidatos a presidente - 2° turno/2006 202
Lista de quadros
3.1 Escândalos políticos do Governo Lula e seus desdobramentos 2005-2006 40
4.1 Regulamentação eleitoral para Internet no Brasil e Estados Unidos – 2006 67
Lista de Tabelas
3.1 Distribuição dos municípios e votos segundo as coligações – 1º turno de 2006 47
3.2 Relação entre organização partidária e voto, por percentuais de
votação obtida pelos candidatos a presidente – primeiro turno de 2006 48
3.3 Percentual de votos dos candidatos a presidente,
segundo o tamanho da cidade – primeiro turno de 2006 49
3.4 Percentual de votos válidos recebidos pelos candidatos a presidente segundo
as prefeituras de partidos coligados, por regiões - primeiro turno de 2006 51
3.5 Percentual de valência das informações em jornais, por candidato – 2006 53
4.1 Eleitores com acesso à Internet por faixa etária – 2006 63
5.1 Candidatos ligados na rede, por ramo e classe de atividade – 2006 80
5.2 Candidatos ligados na Internet, por faixa etária – 2006 81
5.3 Candidatos ligados na Internet, por grau de instrução – 2006 81
5.4 Candidatos ligados na Internet, por gênero – 2006 82
5.5 Candidatos ligados na Internet, segundo a filiação partidária – 2006 82
5.6 Candidatos à reeleição ligados na Internet – 2006 83
5.7 Candidatos ligados na Internet, por Regiões e Unidades da Federação – 2006 83
5.8 Coeficientes de correlação de Pearson entre candidatos e eleitores
com acesso à Internet, de acordo com a faixa etária – 2006 84
5.9 Coeficientes de correlação de Pearson entre candidatos e eleitores
com acesso à Internet, de acordo com a região – 2006 85
x
5.10 Conectividade por gênero – 2006 87
5.11 Conectividade por região (Ct) e por Unidade da Federação (Cd) – 2006 88
5.12 Conectividade por filiação partidária (Cp) – 2006 89
5.13 Conectividade de candidatos à reeleição (Cr) – 2006 92
5.14 Conectividade por classe e ramo de atividade (Ca) – 2006 92
5.15 Conectividade por grau de instrução (Ci) – 2006 93
5.16 Conectividade por faixa etária (Ce) – 2006 93
6.1 Recursos interativos nos sites dos candidatos à Presidência – 2006 97
6.2 Contribuições de campanha para candidatos a presidente – 2006 100
6.3 Coeficiente de correlação de Pearson entre acesso à Internet,
agentes mobilizadores e a votação de Cristovam Buarque por estados – 2006 102
6.4 Percentual de destaques de políticas públicas nas homepages
dos candidatos a presidente - primeiro turno/2006 117
6.5 Desvio médio do percentual de destaques de políticas públicas nas
homepages dos candidatos a presidente, por candidatos – 1° turno/2006 119
6.6 Desvio médio do percentual de destaques de políticas públicas nas
homepages dos candidato a presidente, por candidatos - 2° turno/2006 121
6.7 Destaques com vínculo partidário nas homepages dos candidatos a presidente – 2006 135
6.8 Destaques de metacampanha nas homepages dos
candidatos a presidente – primeiro e segundo turno de 2006 140
7.1 Estimativa de e-mails recebidos pelos comitês de campanha dos
candidatos a presidente e amostra – 2006 146
7.2 Coeficientes de correlação de Pearson entre os destaques dos sites de
campanha e os e-mails enviados aos candidatos a presidente, por temas – 2006 163
7.3 Percentual de manifestações sobre metacampanha nos
e-mails enviados aos candidatos a presidente – 2006 164
7.4 Percentual de e-mails com anexos nas mensagens enviadas
aos candidatos a presidente, por formato do arquivo – 2006 165
7.5 Percentual de e-mails com links nas mensagens enviadas aos
candidatos a presidente, por tipo de página de destino – 2006 165
8.1 Amostragem de tópicos das comunidades virtuais do Orkut – 2006 172
8.2 Percentual de tópicos das comunidades dos candidatos
a presidente no Orkut, por número de comentários – 2006 177
xi
8.3 Percentual de tópicos das comunidades dos candidatos
a presidente no Orkut, por horário – 2006 179
8.4 Distribuição dos participantes de comunidades virtuais dos candidatos,
por percentual de manifestações segundo o gênero– 2006 186
8.5 Distribuição dos participantes de comunidades virtuais dos candidatos,
por percentuais de manifestações segundo a faixa etária – 2006 186
8.6 Distribuição dos participantes de comunidades virtuais dos candidatos,
por percentual de manifestações segundo classe e ramo de atividade– 2006 187
8.7 Distribuição dos participantes de comunidades virtuais dos candidatos,
por percentual de manifestações segundo o grau de instrução– 2006 188
8.8 Distribuição dos participantes de comunidades virtuais dos candidatos,
por percentual de manifestações segundo a visão política – 2006 189
8.9 Distribuição dos participantes de comunidades virtuais dos candidatos,
por percentuais de manifestações segundo a religião – 2006 190
8.10 Distribuição dos participantes de comunidades virtuais dos candidatos,
por percentual de manifestações segundo região e Unidade da Federação– 2006 191
8.11 Coeficiente de correlação de Pearson entre participantes das comunidades
virtuais e eleitores com acesso à Internet, segundo a região – 2006 192
8.12 Capital social virtual de autores de posts nas comunidades
 de candidatos a presidente – 2006 193
8.13 Correlação entre número de contatos pessoais e
comunidades inscritas dos autores de posts, com número de
comentários nas comunidades dos candidatos a presidente – 2006 194
8.14 Coeficientes de correlação de Pearson entre temas de sites de campanha e
comunidades virtuais dos candidatos a presidente – 2006 200
8.15 Percentual de manifestações com propaganda negativa e ataques nas
comunidades dos candidatos a presidente – 2006 203
8.16 Percentual de manifestações com metacampanha nas comunidades dos
candidatos a presidente – 2006 205
8.17 Percentual de tópicos com links nas comunidades
dos candidatos a presidente, por tipo de página de destino – 2006 205
xii
Sumário
Página
1 Introdução.........................................................................................................................17
Apresentação do trabalho e descrição do tema. Justificativa, problema, hipóteses, definição
dos termos do problema e das hipóteses, objetivo e metodologia.
2 Suporte teórico................................................................................................................25
As possibilidades das TICs a partir das teorias de participação e democracia, em especial as
voltadas à opinião pública. O trabalho toma como base as teorias de “escolha racional”.
3 Área de abrangência......................................................................................................36As variáveis eleitorais no Brasil e a influência da Internet nas eleições de 2006
3.1 Avaliação do desempenho do governo...................................................................36
Pode ser determinante, pois Lula era candidato à reeleição e tinha avaliação positiva
3.2 Crise do sistema partidário.....................................................................................38
A série de escândalos que gerou no eleitor desconfiança em relação à classe política
3.3 Peso dos atributos pessoais dos candidatos...........................................................43
Lula reforçava atributos pessoais e biográficos (não-políticos); Alckmin e Cristovam
tinha perfil de administrador/político. Heloísa Helena, perfil político e ideológico
3.4 Posicionamento na escala esquerda-direita...........................................................44
Os candidatos de esquerda têm prevalecido nas eleições na América Latina.
3.5 Organização partidária local..................................................................................46
Prefeituras de partidos coligados ao PT foram mais fiéis na eleição do que municípios
ligados ao PSDB. Prefeituras “independentes” favoreceram Lula.
3.6 Apoio das igrejas evangélicas.................................................................................51
Sem candidato ligado às igrejas, não foi uma variável decisiva em 2006, apesar de os
dois principais candidatos terem buscado cativar o voto evangélico.
3.7 Influência da mídia e televisão...............................................................................52
Pesquisas mostram consenso ao observar forte oposição da mídia a Lula
3.8 A Internet como variável eleitoral.........................................................................55
A relação das TICs com as variáveis 3.1, 3.2, 3.3, 3.5 e 3.7.
xiii
4 Condições da Internet no Brasil................................................................................60
Condições de acesso e institucionais que podiam afetar a campanha em 2006
4.1 Breve história da Internet no Brasil......................................................................60
Crescimento acelerado da estrutura e organização da rede desde os anos 1990.
4.2 O abismo digital.......................................................................................................62
Acesso atingiu 25% do eleitorado em 2006, mas com disparidades sociais e demográficas
4.3 Instituições e Internet..............................................................................................64
A regulamentação da Internet no Brasil em comparação à dos Estados Unidos
4.4 Guerra suja e ameaças à campanha virtual..........................................................72
Cibersquatting, invasões de sites e interrupção de comunidades virtuais em 2006
5 Os candidatos da rede e o abismo digital eleitoral.............................................74
Análise dos sites dos candidatos a governador, senador, deputado federal e estadual.
Evolução do acesso por vaga
5.1 Conectados x desconectados...................................................................................77
Candidatos com sites tiveram mais sucesso em 2006. Quem são, segundo instrução,
profissão, estado, gênero, idade, cargo disputado, tentativa de reeleição e partido
5.2 Indicador de Conectividade do Candidato (C).....................................................86
Construção de indicador para avaliar a relação entre fatores demográficos, sociais e
políticos sobre os candidatos na rede. A principal variável é a filiação partidária
5.3 Elites on-line.............................................................................................................93
Acesso à Internet é privilegiado pela elite política: candidatos de partidos grandes, mais
instruídos, mais idosos, profissionais liberais, servidores e candidatos à reeleição
6 Comunicação: sites dos candidatos à Presidência..............................................96
Análise diária das homepages dos quatro principais candidatos.
6.1 Interatividade entre candidatos e eleitor ..............................................................97
Alckmin teve o site mais interativo. Visão geral das ferramentas disponíveis.
6.1.1 Doação de campanha e chat.......................................................................98
6.1.2 Cadastro de visitantes, boletim eletrônico e mobilização......................101
6.1.3 Material de campanha..............................................................................104
6.1.4 Blogs e fotolog............................................................................................107
6.1.5 Enquete e fórum........................................................................................107
xiv
6.2 Oferta de informação nos sites dos candidatos...................................................108
Homepage de Lula foi a mais informativa e programática, enquanto Alckmin e
Heloísa Helena lideraram a propaganda negativa.
6.2.1 Políticas públicas.......................................................................................116
6.2.2 Propaganda negativa................................................................................131
6.2.3 Vínculo partidário.....................................................................................134
6.2.4 Atributos dos candidatos..........................................................................138
6.2.5 Metacampanha..........................................................................................140
6.3 Problemas na oferta de conteúdo dos sites..........................................................142
Sites apresentaram problemas quanto à oferta de informações e à predisposição dos
candidatos em interagir com o eleitor.
7 Interação: e-mails para os candidatos a presidente.........................................145
Análise de mensagens enviadas para Lula e Alckmin.
7.1 Perfil dos internautas que enviaram e-mails.......................................................147
Participação era limitada por taxas de acesso e foi menor entre as mulheres
7.2 Como os candidatos respondiam os e-mails........................................................151
Padrões de respostas das equipes de campanha e volume da demanda
7.3 Interatividade e motivação dos e-mails...............................................................153
Pedidos pessoais, apoio, críticas e sugestões
7.4 Temas dos e-mails enviados aos candidatos........................................................159
Comparação entre temas das mensagens e dos sites de campanha
7.5 Propaganda negativa e contrapropaganda.........................................................166
Como a equipe de Lula reverteu os ataques com incentivo a participação
8 Organização social: comunidades virtuais..........................................................169
Comunidades virtuais no Orkut de Alckmin, Cristovam, Heloísa Helena e Lula.
8.1 Padrões de participação nos fóruns.....................................................................173
Comunidades aumentaram participação com eventos midiáticos, proximidade da
votação e no segundo turno.
8.2 Quem participa dos debates nas comunidades...................................................180
Distribuição dos participantes segundo gênero, idade, região, grau de instrução,
profissão, religião e visão política.
xv
8.2.1 Capital social virtual.................................................................................193
8.3 Formas de participação.........................................................................................194
Conteúdo dos tópicos inseridos nas comunidades
8.3.1 Temas.........................................................................................................200
8.3.2 Ataques.......................................................................................................202
8.3.3 Metacampanha e links..............................................................................2048.4 Organização democrática e participação............................................................206
Comunidades serviram mais à organização do que ao debate da campanha.
9 Considerações finais....................................................................................................208
Conclusões e recomendações para partidos, candidatos, eleitores e legisladores.
Bibliografia.........................................................................................................................214
Lista de termos..................................................................................................................220
16
“Tudo teve início na cidade de Jataí, em Goiás, a 4 de abril de 1955, durante minha
campanha como candidato à Presidência da República (...) No discurso que ali pronunciei,
referindo-me à agitação política que inquietava o País, e contra a qual só havia um remédio
eficaz – o respeito integral às leis –, declarei que, se eleito, cumpriria rigorosamente a
Constituição. Contudo, era meu hábito, que viera dos tempos da campanha para a
governadoria de Minas Gerais, estabelecer um diálogo com os ouvintes, após concluído o
discurso de apresentação da minha candidatura. Punha-me, então, à disposição dos meus
eleitores para responder, na hora, a qualquer pergunta que quisessem formular-me. Foi neste
momento que uma voz forte se impôs, para me interpelar: ‘O senhor disse que, se eleito, irá
cumprir rigorosamente a Constituição. Desejo saber, então, se pretende pôr em prática o
dispositivo da Carta Magna que determina, nas suas Disposições Transitórias, a mudança da
Capital Federal para o Planalto Central.’ Procurei identificar o interpelante. Era um dos
ouvintes, Antônio Carvalho Soares – vulgo Toniquinho –, que se encontrava bem perto do
palanque. A pergunta era embaraçosa. Já possuía meu Programa de Metas e em nenhuma
parte dele existia qualquer referência àquele problema. Respondi, contudo, como me cabia
fazê-lo na ocasião: ‘Acabo de prometer que cumprirei, na íntegra, a Constituição e não vejo
razão por que esse dispositivo seja ignorado. Se for eleito, construirei a nova Capital e farei a
mudança da sede do Governo.’ (...) Fixei-me na idéia. E, como resultado dessa fixação, aos 30
itens, que integravam meu Plano de Metas, acrescentei mais um – o da construção da nova
Capital –, ao qual denominaria mais tarde a ‘Meta-Síntese’”.
KUBITSCHEK, Juscelino: Por que construí Brasília. Brasília: Senado Federal, Conselho
Editorial, 2ª edição, pp. 5-7, 2002.
17
1 Introdução
Brasília representa a maior empreitada – material ou humana – já iniciada no Brasil
como resultado do processo democrático das eleições. A construção da nova Capital foi
incluída no programa de governo por sugestão popular, a partir de um comício de campanha,
conforme relatou o próprio presidente Juscelino Kubitschek. Trata-se de um exemplo bem
sucedido do ideal democrático de participação política – isso apesar de a teoria democrática
descritiva muitas vezes relativizar a definição de políticas públicas nas eleições.
No entanto, o debate eleitoral no período de redemocratização (pós-1985 ou, para
alguns autores, pós-1989) mudou radicalmente em relação à primeira experiência de
democracia brasileira (1945-1964). Os comícios foram substituídos por showmícios de
grandes proporções e os candidatos passaram a se comunicar com os eleitores principalmente
com a ajuda do rádio e da televisão, os chamados “palanques eletrônicos”. Mas, ao contrário
dos palanques de madeira, esses meios de comunicação de massa unidirecionais não permitem
que o eleitor apresente suas demandas e anseios aos candidatos.
O advento da Internet traz para a campanha eleitoral a perspectiva de ampliar a
participação política do cidadão ao criar um espaço midiático mais amplo e democrático para
a interação entre governo, políticos, partidos e sociedade. Este aumento na participação pode
ocorrer em dois eixos: vertical, intensificando a participação de indivíduos e grupos já
inseridos no processo político, e horizontal, abrindo a participação a indivíduos e grupos
alheios ao processo político ou com baixa inserção nesse processo.
O candidato também tem a ganhar com o uso das novas tecnologias de informação e
comunicação (TICs). Além do aumento na exposição – que não sofre as limitações de tempo,
da mídia televisiva e do rádio, ou de espaço, da mídia impressa –, o custo de produção e
manutenção de um site eleitoral é bem inferior ao da veiculação da propaganda eleitoral nas
mídias tradicionais – cujo alto preço gera por si só um mecanismo de exclusão ou que, pelo
menos, provoca reações moralmente duvidosas (GOMES, 2004).
Será possível construir “palanques virtuais” para restabelecer o diálogo entre
candidatos e eleitores? Para responder essa pergunta, será analisado o uso da Internet na
campanha para a Presidência da República, de agosto a outubro de 2006. Pressupõe-se que a
18
Internet pode ser usada para melhorar a participação cidadã, ampliar o acesso à informação
política, enriquecer o debate sobre o programa de governo e organizar a campanha de modo a
aproximá-la dos ideais democráticos. Ainda se entende que a Internet não representa apenas
um meio de comunicação, mas também de interação e de organização social.
A escolha das eleições para a mensuração das possibilidades das TICs é justificada
pela posição do voto como o principal canal de participação no Brasil – no que se deve levar
em conta seu caráter obrigatório. O uso da Internet pelos candidatos nas eleições de 2006 foi
impulsionado por três fatores: o crescimento do acesso à rede mundial de computadores; uma
nova legislação eleitoral que restringiu gastos de campanha em diversas áreas; e a forte
oposição da mídia ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua disputa à reeleição. Como
resultado, o número de sites eleitorais no Brasil (incluindo candidatos a presidente,
governador, senador e deputado federal e estadual) saltou de 542 websites, em 2002, para
2.640 websites, em 2006. Em relação ao número total de candidatos, houve um crescimento
de 3,2% para 14,5%.
Embora ainda longe dos padrões dos Estados Unidos e de outros países europeus, o
acesso à Internet teve um crescimento acelerado no Brasil desde o início do milênio. O
número de usuários subiu de 5 milhões, no ano 2000, para 42,6 milhões, em 2006, passando
de 3,7% para 27,3% da população1. Cruzando os percentuais de acesso por faixa etária com os
dados eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral, chega-se a uma estimativa de 31,72 milhões
de eleitores com acesso à Internet em 2006 – o que corresponde a 25,24% do eleitorado.
A legislação eleitoral também pode ter servido de estímulo para a campanha virtual ao
limitar outras manifestações da propaganda dos candidatos. No esteio dos escândalos sobre
corrupção, o Congresso aprovou no primeiro semestre uma minirreforma eleitoral (Lei 11300,
de 10 de maio de 2006). Além de buscar moralizar e dar maior transparência ao
financiamento de campanha , a nova legislação terminou por limitar uma série de gastos – a
realização de showmícios (mesmo com artistas não remunerados); a propaganda com
outdoors ou com cartazes, placas, faixas ou pichações em postes, viadutos, muros e outros
bens públicos; a distribuição (ou até confecção pelos comitês) de camisetas, bonés e outros
brindes de campanha. Todas essas restrições podem ter motivado os candidatos a buscar a
Internet como mais um recurso para a propaganda eleitoral.
1 Esses números levam em conta a população acima de 10 anos que acessou a Internet nos últimos três meses.
Como fonte foi utilizada a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2005, realizada pelo IBGE em
conjunto com o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), que foi atualizada em 2006, na 2ª Pesquisa sobre o
Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil - TIC Domicílios e Usuários. Os dados estão
disponíveis no Centro de Estudos sobre as Tecnologiasda Informação e da Comunicação (http://www.cetic.br/).
19
Nas eleições de 2006, a perda de credibilidade e do pluralismo da mídia fez com que
as novas mídias, especialmente os blogs, se consolidassem com uma rapidez muito maior
(NASSIF, 2007). Uma análise empírica da campanha mostra que a falta de representatividade
no agendamento da mídia tradicional provocou um uso maior da Internet, principalmente
entre os eleitores do PT (BARROS FILHO; COUTINHO; SAFATLE, 2007). Esse aumento
foi notado no número de postagens em blogs de notícias e de opinião, na circulação de
contranotícias, em chamados de mobilização através de listas de e-mails e em acessos a
vídeos políticos no Youtube. Para os autores, o uso da Internet foi importante principalmente
para a mobilização de eleitores orgânicos do partido.
No entanto, a utilização da Internet como ferramenta eleitoral vai de encontro a
necessidades muito além da conjuntura específica da disputa de 2006. O problema é definido
a partir da mudança do debate eleitoral no período de redemocratização, uma transformação
que começaria pelo próprio perfil do eleitorado. De um País predominantemente rural, o
Brasil se firmou como uma sociedade urbana e industrial, de larga escala. Ao mesmo tempo,
esse processo levou a uma significativa redução do número de analfabetos, o que se deve
também a melhorias nas condições de vida das mulheres. Quando o eleitor readquiriu o direito
ao voto, na década de 80, já não era o mesmo em comparação ao dos anos 60. Em 1945, os
eleitores alistados representavam apenas 16,5% do total da população, alcançando quase 25%
no final daquele período democrático. No início dos anos 1980, já chegavam a quase 50% da
população, não parando de crescer ao longo da década.2
Nas eleições municipais de 1985, foi permitido pela primeira vez o voto dos
analfabetos. A Constituição de 1988 – a mais democrática de todas no direito ao voto –
confirmaria a integração ao eleitorado dos analfabetos e dos menores de 16 e 17 anos, ambos
em caráter facultativo. Em 1989, na primeira eleição presidencial após o interregno do regime
militar, os eleitores já atingiriam 82 milhões, ou 57,9% da população.3 Trata-se de um número
quatro vezes superior ao pleito de 1960, com 15,5 milhões de eleitores.
Para conquistar o voto das massas já não seriam suficientes os comícios que marcaram
as eleições entre 1945 e 1964. O eleitor teria de buscar as informações por meio do rádio e da
televisão, mídias voltadas ao entretenimento. Junto com a redemocratização, formava-se uma
subcultura específica, com público receptivo a mensagens de renovação e esperança. O
2 Os números foram colhidos a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral e das Estatísticas do Século XX, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
3 Ao longo dos anos 1990 e na primeira década do século XXI, o eleitorado brasileiro manteve o crescimento,
embora em ritmo mais lento. A explicação para a continuidade dessa tendência, mesmo sem outras mudanças
institucionais e com a desaceleração de outras variáveis, pode estar também no envelhecimento da população.
20
espetacular processo brasileiro de urbanização havia dado à pobreza uma dimensão política e,
ao mesmo tempo, empobrecera o voto (BARBOSA, 1988). No lugar do diálogo entre eleitor e
candidato, levantou-se a voz da comunicação estratégica. A eleição se tornou um processo
consensual baseado em emoções, na ânsia por um líder salvador. Mas nem sempre os favores
conquistam o voto do eleitor pobre. Mais importante é a identificação com o candidato, por
meio da construção de personagens que incluam elementos de sonho ou fantasia. Nesse
sentido, procura-se questionar se a Internet pode restabelecer o diálogo entre candidato e o
eleitor, incentivando a participação cidadã nas eleições.
Diante disso, o trabalho toma como hipótese que, uma vez garantido o acesso à
Internet, os custos para a participação política on-line são menores do que as outras formas de
participação, que exigem limites de tempo e espaço. Com isso, a nova tecnologia pode levar
ao aumento e aprofundamento da participação cidadã.
Uma segunda hipótese é que a campanha eleitoral pela Internet oferece um teor mais
informativo e diversificado da propaganda política, como contraponto ao alto teor estratégico
de uma campanha eleitoral. Se essa hipótese for confirmada, isso significa que a rede pode
atender melhor às demandas específicas do eleitor por informação.
A terceira hipótese é que a Internet permite interação maior entre eleitor e candidato
no debate programático. Com isso, a ferramenta pode proporcionar o resgate da discussão
pública de plataforma, planos e programas de atuação do candidato, no lugar da mera exibição
pública, da cena política controlada pela comunicação de massa.
Como quarta hipótese, pressupõe-se que a Internet pode mudar a organização da
campanha, aproximando-a dos ideais democráticos, ao permitir uma maior participação de
eleitores e ativistas e, com isso, sua influência.
As hipóteses 2, 3 e 4 são condições necessárias para a hipótese 1.
A pesquisa ainda supõe que o desenvolvimento da campanha eleitoral on-line resultará
de três variáveis: institucionais (leis ou normas que regulam sua utilização), socioeconômicas
(que determinam o acesso à Internet) e políticas (como o relacionamento entre candidatos e
eleitores). Dado esse princípio, uma quinta hipótese considera o ambiente da campanha
favorável à utilização da Internet, embora ainda necessite de melhoras.
Para investigar essas hipóteses, é preciso entender a Internet não apenas como uma
nova tecnologia, mas também sob três perspectivas distintas: meio de comunicação, meio de
interação e meio de organização social (CASTELLS, 2003). No uso da rede como meio de
comunicação, o internauta tem uma participação baixa, como receptor de mensagens emitidas
21
por sites, blogs ou boletins eletrônicos. Os aspectos comunicativos da Internet não servirão
para medir a participação do cidadão, mas seu uso será importante para perceber o grau
informativo da propaganda eleitoral on-line. Em sua função interativa, a rede permite a
participação do internauta pelo envio de e-mails entre eleitores e candidatos, candidatos e
eleitores ou eleitores entre si, além das salas de bate-papo (chats) em que os participantes
podem interagir esporadicamente, sem organização fixa. A terceira e última dimensão da
Internet, como meio de organização social, é relacionada por meio de comunidades virtuais de
sites de relacionamento e fóruns de duração permanente, que permitem a inclusão e exclusão
de membros e seu relacionamento interativo.
A partir dessas três perspectivas, a pesquisa deve cumprir o objetivo de verificar se a
nova tecnologia realmente melhorou a participação cidadã nas eleições de 2006. Para isso,
será realizado um levantamento sobre a utilização da Internet como ferramenta de campanha,
com foco na disputa presidencial, levando em consideração três hipóteses independentes.
Para analisar a hipótese de que a nova tecnologia pode ampliar o acesso à informação
política e diversificá-la, a pesquisa vai utilizar como base de dados os sites eleitorais oficiais
dos quatro principais candidatos à Presidência da República – Cristovam Buarque, do PDT,
Geraldo Alckmin, do PSDB, Heloísa Helena, do PSOL, e Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
Para verificar se a interação entre eleitores e candidatos vai enriquecer o debate programático,
a pesquisa fará uso de e-mails enviados pelos eleitores aos sites oficiais de dois candidatos –
Alckmin e Lula. Finalmente, o efeito da Internet na organização da campanha será conferido
pela análise de mensagens trocadas por eleitores e apoiadores dos candidatos nas principais
comunidades virtuais do Orkut.
Para verificar a hipótese de que o ambiente da campanha pela Internet foi favorável,
embora necessite de melhorias, o trabalho vai observar a influência das instituições, em uma
análise comparada das normas eleitoraisdo Brasil com os Estados Unidos, que aprovaram em
2006 uma legislação pioneira para campanha on-line.
Outros objetivos específicos são avaliar o perfil dos candidatos e eleitores conectados,
de acordo com suas características demográficas, socioeconômicas e políticas.
A análise da série temporal começa em agosto de 2006, quando todos os sites
eleitorais já tinham começado a funcionar, e vai até o fim do segundo turno, em 27 de outubro
daquele ano4. Como objeto de análise, foram coletadas diariamente as homepages (páginas
iniciais ou principais) dos sites de cada um dos quatro principais candidatos.
4 A legislação obriga o fechamento dos sites eleitorais dois dias antes das eleições, marcadas no dia 29.
22
Os sites serão avaliados segundo o aspecto informativo de seu conteúdo e também as
ferramentas disponíveis para interação com o eleitor. Para isso, a metodologia adapta ao
ambiente da Internet as variáveis utilizadas na análise da eleição presidencial de 1994
(PORTO; GUAZINA, 1999, a partir de uma classificação proposta por JOSLYN, 1990).
Além de verificar a quantidade e diversidade de temas das informações, o modelo de
exploração e análise busca uma estrutura descritiva e explicativa para a interação entre eleitor
e candidato. As variáveis foram agrupadas em duas classes:
- Informação: políticas futuras (programa do candidato, organizado em 15 temas: agricultura,
infra-estrutura/desenvolvimento urbano, direitos humanos e minorias, economia,
educação e cultura, ética, finanças e tributação, meio ambiente, minas/energia,
trabalho/emprego, relações externas/defesa, saúde, segurança pública, seguro
social/família, turismo/desporto), políticas passadas (obras ou realizações do
candidato, organizadas em 15 temas), atributos do candidato (profissional/pessoal,
administrativo/político, ideológico ou ético), vínculo partidário (divulgação de
apoio de partidos/políticos, personalidades, movimentos sociais, vínculo
ideológico ou valores simbólicos), análise de conjuntura (organizada em 15
temas), propaganda negativa (ataque a outros candidatos) e metacampanha
(agenda do candidato, participação em comícios, pesquisas de opinião e debates).
- Interação: arrecadação de campanha, blog (que permita publicação de mensagens do
eleitor), enquete, sugestões, contato, cadastro, obtenção de material de campanha.
A segunda base de dados inclui 1.141 mensagens para Geraldo Alckmin e 2.090 para
Lula – todas na série temporal de agosto a outubro. O candidato Cristovam Buarque forneceu
uma base de apenas 30 e-mails, que não servirá para uma análise quantitativa, mas poderá
ajudar a entender melhor o tratamento que os comitês eleitorais deram às expectativas de
interação dos eleitores. A obtenção dos dados foi prejudicada pela falta de cuidado dos
comitês de campanha em armazenar as mensagens, fazendo com que muitos e-mails fossem
perdidos depois de respondidos. Preliminarmente, também se nota na base de dados uma falta
de organização do material, seja de acordo com os temas ou objetivos das mensagens ou pela
origem dos remetentes. Os e-mails enviados para Alckmin foram analisados entre junho e
julho de 2007, na sede do PSDB, em Brasília. As mensagens estavam dispostas em cinco
caixas de mensagem diferentes, lidas pelo programa Outlook. Entre essas caixas de
mensagem estava a do próprio candidato Geraldo Alckmin, na qual se pôde observar os
padrões para o tratamento das informações recebidas de eleitores on-line. As mensagens
23
enviadas a Lula foram entregues pelos comitê de campanha em arquivos de dados
condensados para leitura em programas de gerenciamento de e-mails.
A análise dos dados dos dois candidatos também é prejudicada pelo sigilo dos
organizadores da campanha com relação à quantidade total de e-mails recebidos – estimativas
informais indicam o recebimento de uma média de até 5 mil mensagens ao dia, no caso de
Geraldo Alckmin, e até 1,3 mil, no de Lula. Levando em conta esses números, a amostragem
obtida levaria a uma margem de erro relativamente baixa. Apesar disso, não se pode
considerar que a análise tenha relevância estatística. Mesmo assim, o exame dessas
informações se justifica por se tratar da ferramenta mais popular de comunicação na Internet,
utilizada por quase 65% dos usuários.
As variáveis dos e-mails levam em consideração a interatividade, de acordo com o
objetivo e comprometimento do eleitor: crítica ao candidato, apoio a outro candidato, dúvida
sobre o programa, declaração de apoio ou voto, pedido de material de campanha digital ou
outras formas de participação on-line; pedido de participação na campanha off-line, dúvida
sobre a campanha, crítica à campanha, sugestão de campanha, crítica do programa e sugestão
de programa. Também se analisam os atributos do candidato percebidos pelo eleitor, os
ataques feitos a outros candidatos, à mídia e aos institutos de pesquisa e os temas das
mensagens (15 categorias, além da metacampanha). Ainda será verificada a quantidade de
mensagens com anexos (imagens, áudios, vídeos, documentos) e com links (de blogs, sites de
notícias, sites de campanha ou outros).
Para a identificação do eleitor que enviou as mensagens, será verificado o gênero do
remetente, sua idade, estado de origem e profissão. Também deve ser avaliado se o e-mail
contém informações que ajudem sua identificação, como telefone e endereço.
Estima-se que sites de comunidades e relacionamentos como o Orkut tenham a
participação de 36% dos internautas. No Orkut, mais de 1,5 milhão de integrantes
participaram de 118 comunidades dos candidatos (BARROS FILHO; COUTINHO;
SAFATLE, 2007). A maior comunidade pró-Alckmin registrou 221 mil intregrantes,
enquanto a maior pró-Lula reuniu 103 mil. A pesquisa vai abranger somente a maior
comunidade de cada candidato. No entanto, considera-se que a mera inscrição do internauta
na comunidade representa um indicador não tão representativo da participação. Para verificar
a organização da campanha por meio da rede, a pesquisa vai verificar os tópicos (assuntos)
divulgados nas comunidades para discussão entre os integrantes, com o respectivo número de
24
comentários (posts). Para isso, foram coletados diariamente os tópicos das principais
comunidades dos quatro candidatos.
A série temporal de Alckmin e Lula começa em agosto e vai até 5 de novembro; de
Cristovam Buarque e Heloísa Helena, vai somente até 15 de outubro. Assim, foram coletados
969 tópicos na comunidade de Cristovam Buarque; 78.886 na de Geraldo Alckmin; 5.508 na
de Heloísa Helena e 43.373 na de Lula. Tomando-se uma margem de erro de 3%, a base de
dados para a análise possui 1.102 tópicos, na comunidade de Alckmin; 925 na de Heloísa
Helena e 1.087 na de Lula. Apenas no caso da comunidade de Cristovam Buarque, optou-se
por analisar todos os tópicos, por causa de seu número reduzido. No sorteio, os dados ainda
foram estratificados por dia.
A pesquisa das comunidades virtuais utiliza praticamente as mesmas variáveis da
pesquisa dos e-mails. Porém, na análise das condições demográficas e socioeconômicas dos
internautas que inscreveram os tópicos, foi possível acrescentar mais dados por causa do
cadastro dos integrantes da comunidade virtual. Para isso, foi necessário acessar a página de
cada internauta que inscreveu os 4.083 tópicos selecionados na amostra. Além do gênero, da
UF, idade e profissão, foi possível verificar a escolaridade, religião e visão política declarada.
Todas as informações coletadas a partir das três bases de dados serão tratadas e
analisadas por meio de quadros de indivíduos e variáveis (QIV). As idades dos eleitores foram
agrupadas em faixas etárias, segundo a classificação do TSE. Já as atividades profissionais
foram relacionadas em classes de acordo com o IBGE.
25
2 Suporte teórico
As possibilidades das novas tecnologias de informação e de comunicação podem ser
percebidas a partir das teorias de participação e de democracia – em particular as de opinião
pública. Assim, a Internetestá situada entre duas correntes muitas vezes conflitantes, mas
também com constantes pontos de contato: a democracia representativa e a participativa.
Como a pesquisa tem como objeto as eleições, o trabalho toma como principal suporte as
teorias de “escolha racional” para explicar o processo de decisão eleitoral. Mesmo assim, é
importante observar que a participação e a democracia formal têm um diálogo muito maior do
que pretendem defensores e críticos de lado a lado. Apesar das ressalvas ao participativismo,
a teoria dominante da democracia nunca negligenciou a participação concebida como
envolvimento pessoal e ativo. “O que se afirmou foi que a magnitude aumenta e, na medida
em que percorremos toda a distância situada entre os pequenos grupos até o nível do sistema
político, a participação não explica a democracia representativa, nem tem condições de
sustentar o seu edifício inteiro." (SARTORI, 1994, v.1, p. 159)
A ampliação do direito ao voto e das liberdades civis e políticas faz parte de um longo
processo experimentado por todos os países democráticos5. Esse processo polariza uma tensão
entre democracia e democratização (PATEMAN, 1996). De acordo com a teoria dominante
na Ciência Política, a democracia (variável dependente) é descrita como um arranjo
institucional ou método político decisório, centrado na luta competitiva pelo voto popular.
Pateman diferencia a democracia, como método, da democratização, entendida como um
processo social e político, o resultado de um conjunto de variáveis independentes que
representam, em suma, uma vida decente para todos os cidadãos – cidadania, consenso,
direitos, igualdade, liberdade.
No entanto, deve-se ressaltar o inter-relacionamento mútuo entre instituições políticas
e condições sociais, sistemas de crença e capacidades humanas. Para as instituições
5 Na terminologia de Robert Dahl, a poliarquia completa seria um sistema alcançado somente no século XX,
apesar de as instituições da poliarquia terem aparecido em países de língua inglesa e europeus no século XIX.
Dahl distingue três períodos de crescimento da poliarquia: 1776-1930, 1950-1959 e a partir dos anos 1980. Esses
períodos testemunharam não apenas o aumento de países adeptos, como também o aprofundamento das
instituições e a inclusão gradativa do eleitorado. A trajetória, descontínua e não linear, pode ser conferida em
DAHL, Robert. Democracy and its critics. New Haven, London: Yale University Press, pp. 232-243, 1989.
26
democráticas funcionarem satisfatoriamente, há uma série de condições complexas, muitas
vezes contraditórias entre si. Essas contradições aparecem no processo de democratização,
que desde o início foi parte do desenvolvimento do Estado moderno e da divisão entre
cidadãos e estrangeiros. Apesar de a promessa de democratização ser proclamada em termos
universais, a cidadania e os direitos podem ser exercidos somente por habitantes de um Estado
particular, e freqüentemente apenas por membros de uma nação particular. Os cientistas
políticos freqüentemente apresentam a cidadania no Ocidente como a incorporação lenta e
gradual de vários setores da população, mas, ao contrário, foi tanto uma questão de exclusão
quanto de inclusão (PATEMAN, 1996).
Nesse sentido, busca-se reverter o elogio à apatia do cidadão para a descoberta da
conexão entre a participação e o processo de democratização:
A existência de instituições representativas a nível nacional não basta para a
democracia; pois o máximo de participação de todas as pessoas, a socialização ou
‘treinamento social’, precisa ocorrer em outras esferas, de modo que as atitudes e
qualidades psicológicas necessárias possam se desenvolver. Esse desenvolvimento
ocorre por meio do próprio processo de participação. (PATEMAN, 1992, p. 60)
Apesar das críticas ao formalismo da teoria dominante de democracia, Pateman não
chega ao exagero de alguns participativistas de rejeitar a eleição como participação real. A
autora também reconhece que até a concepção mínima de democracia como método político
concorda que a segurança do indivíduo é fundamental para a operação do sistema. No mesmo
sentido, autores da teoria democrática pluralista admitem a necessidade de condições sociais:
 Uma vez que somos educados para acreditar na necessidade de controles
constitucionais recíprocos, pouca fé depositamos nos seus correspondentes sociais.
(...) Ainda assim, se a teoria da poliarquia é aproximadamente válida, segue-se que,
na ausência de certas condições sociais prévias, nenhum arranjo constitucional pode
criar uma república não-tirânica. A história de numerosos Estados latino-americanos
constitui, acho eu, evidência suficiente. Estejamos preocupados com uma tirania da
maioria ou da minoria, a teoria da poliarquia sugere que as primeiras e cruciais
variáveis para as quais os cientistas políticos devem dirigir sua atenção são sociais e
não constitucionais. (DAHL, 1989b, p. 83) 6
6 Nessa hipótese, um aumento da atividade política está associado ao aumento da poliarquia. No entanto, ele
reconhece que se trata de uma relação complexa, que deve levar em conta o acordo (consenso) sobre as
alternativas políticas. Nos casos em que há pouco acordo sobre qualquer alternativa e grande dificuldade de se
escolher uma delas, o resultado pode ser a apatia. Ao mesmo tempo, quando o consenso é muito alto, numerosos
indivíduos sentirão pouca necessidade de votar ou influenciar as decisões políticas. Mesmo assim, a queda na
atividade política não significaria neste caso diminuição da poliarquia, que continuaria a se elevar. Ainda, o
aumento do acordo “talvez não reduza a atividade política em um volume tão grande como uma diminuição
equivalente no acordo a aumentaria” (DAHL, 1989b, p. 90).
27
Antecipando o debate que tomaria conta dos Estados Unidos na década de 1960 sobre
a participação, Dahl relaciona positivamente a atividade política em grau importante com
variáveis como renda, status socioeconômico e educação, além de formas complexas como
sistemas de crenças, expectativas e estruturas de personalidade. A propensão para a
passividade política privaria de direitos políticos os pobres e ignorantes (DAHL, 1989b).
A participação política é definida como a ação dirigida explicitamente para influenciar
a distribuição de bens sociais e valores sociais (ROSENSTONE; HANSEN, 1993). A
definição envolve pressões públicas sobre atores privados ou públicos, com atividades dentro
e fora do sistema. Isoladamente, os indivíduos avaliam o custo e benefício pessoal para
participação e as atrações e obrigações dos recursos pessoais, interesses, preferências,
identificações e crenças. No entanto, também há motivações sociais, como a identificação dos
aspectos de vida social e política que fazem as pessoas acessíveis aos apelos dos líderes. Os
padrões de participação (quem e quando participa) são vinculados a escolhas estratégicas de
políticos, partidos, grupos e ativistas.
Em uma extensa análise dos indicadores de participação nos Estados Unidos entre
1952 e 1990, variáveis como escolaridade, renda e idade mostram que a participação cidadã é
dominada por privilegiados, mas os padrões mudam conforme o tempo e a atividade política
(ROSENSTONE; HANSEN, 1993). A escolaridade do norte-americano, uma das variáveis
que influenciam a participação, aumentou da média de 1° colegial completo, em 1950, para 1°
ano universitário, em 1990. Paradoxalmente, a participação eleitoral diminuiu no mesmo
período. A confiança na capacidade de influenciar na decisão política, outro fator de
participação, diminuiu de 75% da população, em 1960, para 40%, em 1988. Mesmo assim, a
participação em organizações e grupos de pressão aumentou.
Além de uma queda de 13% no número de votantes entre 1960 e 1988 nas eleições
presidenciais, ao mesmo tempo diminuiu o número de cidadãos dispostos a contribuir com
dinheiro ou tempo para o candidato, participar de reuniões ou manifestações políticas ou
convencer outros a como votar. Em contraponto,cresceu o número de grupos de interesse,
organizações comunitários e comitês de ação política, tanto no nível local quanto no nacional.
Apesar dessa tendência, a participação nas eleições ainda é consideravelmente maior do que a
participação em políticas públicas. Nas eleições presidenciais de 1952 a 1990, o voto contou
com a participação de 57% da população. Em seguida, vieram atividades como a tentativa de
influenciar o voto de outros (32%), a contribuição com dinheiro a partido ou candidato (10%),
a participação em manifestação ou reunião política (8%) e o trabalho para partido ou
28
candidato (4%). No Brasil, onde o voto é obrigatório, as eleições ocupam papel de destaque
ainda maior como canal de participação.7 Isso, por si só, justifica a escolha das eleições como
objeto de estudo para analisar as possibilidades da participação on-line.
A participação resulta de incentivos e escolhas políticas oferecidas, da função de uma
variedade de razões pessoais – e, para alguns, benefícios que possam receber. Os custos e
recursos estão entre as variáveis que respondem quem participa: tempo, habilidades, dinheiro,
conhecimento, autoconfiança. Assim, os ricos participam mais do que os pobres, não porque a
política pode dar mais a eles, mas porque podem dar-se ao luxo de participar. As pessoas com
educação mais elevada participam mais porque a educação proporciona habilidades que
facilitam a participação. Também participam mais as pessoas com autoconfiança e senso de
competência pessoal para entender e participar da política (eficácia interna) e para influenciar
as ações do governo (eficácia externa). Esse senso é adquirido pelas redes de amigos,
professores, familiares ou pela observação a partir de ações efetivas.
Já as recompensas pela participação têm várias formas – materiais (emprego público
ou isenção fiscal), solidárias (status, deferência, amizade) e de propósito (sensação de
satisfação por ter contribuído para uma causa). Também influenciam a participação o que está
em jogo; a intensidade de preferência por determinada decisão; a identificação psicológica
(issue activists); e as crenças (senso de dever cidadão). Apenas com as variáveis individuais,
deveria-se supor que participação tem pouca variação no tempo. Porém, as pesquisas
demonstram que os índices variam a cada mês, ano e eleição. Como exemplo, a participação
nos Estados Unidos tende a ser maior nos meses de verão do que nos de inverno.
A participação nas eleições apresenta um paradoxo, já que o eleitor recebe benefícios
coletivos. Isso desestimula o voto do eleitor racional, porque a chance de um único voto
decidir a eleição é mínima. Ainda, a eleição custa tempo, energia e dinheiro para o eleitor se
deslocar até o local de votação. O paradoxo do voto também vale para outras formas de
atividade política.
7 Pesquisa Ibope realizada em novembro de 2006, logo após as eleições, questionou como seria a participação
dos eleitores se o voto não fosse obrigatório. Entre os entrevistados, 43% responderam que não votariam. Esse
percentual foi maior nas capitais (50%), em municípios de mais de 100 mil habitantes (49%) e na Região
Sudeste (46%). Acima da média, também apresentaram intenção de não votar eleitores com a quinta a oitava
série do fundamental (48%), pessoas com renda familiar de 2 a 10 salários mínimos (45% a 46%) e eleitores com
idade entre 40 e 49 anos (47%). As mulheres também apresentaram índices ligeiramente superiores aos homens
– 44% contra 42%, respectivamente. Já os eleitores que continuariam a votar (média de 56%) estariam mais
fortemente representados entre os jovens de 16 a 24 anos (58%), eleitores com renda familiar de até 1 salário
mínimo (61%) ou mais de 10 salários mínimos (65%), pessoas com ensino superior (66%) ou com até a quarta
série do fundamental (58%), moradores da Região Nordeste (61%) e de municípios do interior (60%) ou com até
100 mil habitantes (62% a 65%).
29
O custo básico nas eleições é o custo da informação sobre os candidatos e os temas de
campanha. As redes sociais (relações com família, amigos, vizinhos, colegas de trabalho)
sustentam a ignorância racional, recompensando aqueles que agem de acordo com o interesse
comum. No entanto, as redes sociais tornam a ação política possível, mas não provável,
porque falta conhecimento se seus interesses estão em jogo. Políticos, partidos, grupos de
interesse, ativistas e cidadãos envolvidos sabem exatamente o que está na agenda política e
como isso afeta as pessoas. Por causa disso há incentivo para repassar essas informações às
pessoas que podem ajudá-los a vencer disputa. Dessa forma, a participação é um recurso que
líderes políticos usam para disputas por vantagem política.
Esse custo da informação pode ser reduzido consideravelmente pela Internet, que
permite aos os indivíduos acessar a informação de maior interesse, de forma mais conveniente
e rápida, de uma multiplicidade de fontes e a qualquer tempo. Pesquisas empíricas apontam
evidências de que as mudanças nas tecnologias de informação e comunicação podem
desempenhar um papel importante na influência do comportamento eleitoral. Uma análise dos
dados das eleições nacionais dos Estados Unidos em 1996 e no ano 2000 indica que a votação
foi superior onde eleitores tiveram acesso à Internet (TOLBERT; MCNEAL, 2003). As
simulações sugerem que o acesso à rede aumentou a probabilidade de votar em até 12%. Ao
mesmo tempo, houve um declínio das notícias sobre as eleições nos meios de comunicação
tradicionais, com a transferência da cobertura dos eventos políticos para a Internet.
Além de diminuir os custos, a rede de computadores tem a capacidade de aumentar os
benefícios com o crescimento da participação on-line. Como ferramenta de organização
social, a tecnologia pode ampliar e ultrapassar as redes sociais do indivíduo, utilizando ou
criando redes virtuais para a ação política, em organizações de interesse comum – às vezes,
interesses que não correspondem ou até mesmo contrariam o comportamento ou posições
políticas das redes sociais off-line. O novo meio permite a troca de grandes quantidades de
informação em velocidade instantânea e sem considerar os limites geográficos.
A maior força da nova tecnologia, no entanto, é a habilidade de oferecer comunicação
interativa e simultânea entre muitas pessoas (BROWNING, 2002). Diferentemente do
telefone, que oferece uma comunicação pessoa-a-pessoa, ou o rádio e televisão, que
direcionam a informação em um sentido único, de uma só fonte para uma audiência que pode
apenas recebê-la passivamente, a rede permite que a informação jorre para trás ou adiante,
entre milhões de fontes e praticamente ao mesmo tempo. Como exemplo, a prática de repassar
e-mails (forwarding) multiplica geometricamente a distribuição da informação.
30
Há porém entre os estudiosos das eleições nos Estados Unidos um consenso emergente
de que os padrões da participação política na Internet imitam ou até mesmo aprofundam os
padrões de desigualdade na participação, por causa das disparidades no acesso à rede.
Pesquisa realizada em 1998 encontrou uma relação positiva entre o engajamento na Internet e
a participação política ou cívica (WEBER; LOUMAKIS; BERGMAN, 2003). Entretanto, a
sondagem concluiu que a Internet parece exacerbar as diferenças socioeconômicas já
existentes na participação política antes do crescimento da Internet. Nos Estados Unidos, a
exclusão digital atinge principalmente as comunidades pobres, rurais, negras e hispânicas
(BROWNING, 2002). Outra pesquisa mostra que as diferenças sociais, como a de
escolaridade, são mais significativas do que as de gênero para explicar a participação, a
variedade de interesses e a busca por informações políticas on-line (FULLER, 2004). Entre as
poucas diferenças constatadas, os homens usam com mais freqüências sites com informações
governamentais e discutem pela rede visões políticas, a economia, assuntos externos e
impostos. Enquanto isso, as mulheres tendem a visitaros sites para entender melhor assuntos
complexos e discutir ou aprender mais sobre questões femininas ou de gênero.
As principais limitações para a organização baseada na rede têm sido o custo dos
computadores e o tempo gasto para aprender a usá-los (BROWNING, 2002). No entanto, os
preços de computadores têm caído consideravelmente em função da evolução tecnológica8.
Algumas previsões apontam até mesmo que um dia os computadores serão entregues de graça
como parte de promoção para novos assinantes de serviços de Internet banda larga, assim
como os celulares são gratuitos sob muitos planos de telefonia móvel. Ainda, a convergência
tecnológica vai ampliar o acesso à rede por meio de celulares, que no Brasil têm alcance
maior do que a própria rede de telefonia fixa. Outro argumento é que o foco no acesso tem
limitações teóricas importantes diante das projeções de um futuro com acesso próximo do
universal (KRUEGER, 2002). Com isso, deve-se buscar uma análise sobre quais indivíduos
teriam maior participação com um acesso igualitário. Empiricamente, o autor conclui que,
dado o acesso igualitário, a Internet mostra potencial verdadeiro para trazer novos indivíduos
ao processo político. Uma pesquisa posterior mostra que as habilidades na Internet e o
interesse político são uma grande determinante na mobilização on-line (KRUEGER, 2006).
Esse fator não é observado porque as habilidades com informática são diretamente
influenciadas pelo status socioeconômico.
8 No Brasil, a queda nos preços de computadores foi influenciada não apenas por fatores tecnológicos, mas
também pela forte valorização do real e pela concessão de incentivos fiscais nos últimos anos.
31
Na teoria democrática, a transferência do ideal democrático da cidade-comunidade
para o Estado-nação moderno, em uma sociedade industrializada e de grande-escala, limitaria
as oportunidades para os cidadãos participarem diretamente das decisões coletivas. Mesmo
com os modernos meios eletrônicos de comunicação, o limite de participação política efetiva,
no sentido de definir diretamente as políticas públicas, diminui rapidamente com a escala
(DAHL, 1989a). Deve-se reconhecer que as novas tecnologias de informação e comunicação
tornam praticável a democracia de referendo, a partir da própria superação dos limites de
tamanho e espaço da democracia direta (SARTORI, 1994). Mesmo assim, é desaconselhável a
substituição da democracia representativa pelas decisões diretas do demos, individualmente,
através de instrumentos de referendo. A democracia de referendo consegue ser “direta”
apenas no sentido de dispensar intermediários. No entanto, como a decisão é individual e
autônoma, há uma perda de compensações (negociações). O problema principal é que a
maioria vence tudo e exclui os direitos da minoria, que perde tudo. Trata-se de uma
encarnação menos inteligente da “tirania da maioria” (SARTORI, 1994). Outro problema é a
necessidade de um eleitor muito mais preparado, trazendo um ônus sobre a opinião pública
maior do que na democracia representativa.
Na teoria de democracia defendida por Sartori, o povo é governante apenas no
momento das eleições. Fora desse contexto, apenas podem ser representadas as vozes das
elites ou minorias. No modelo, a eleição não decide políticas concretas, mas sim quem vai
decidir sobre elas. A decisão pode até mesmo ir contra a preferência do eleitor, que depois
poderá cobrar as explicações nas próximas eleições. Observe-se que raramente a preferência
por um candidato equivale à preferência por determinada política (DAHL, 1989b). No
entanto, a eleição não se restringe ao voto, mas envolve também o processo de formação de
opinião – como o cidadão obtém informações e é exposto à pressão dos formadores de
opinião. A opinião livre é uma condição para a eleição livre. O resultado é um governo
sensível e responsável perante a opinião pública.9
Em um conceito político, a opinião pública é definida conforme a exposição e a
temática, que exclui “assuntos privados” (SARTORI, 1994). A opinião é formada pela
multiplicidade de público, cujos estados de espírito difusos (opiniões) interagem com fluxos
de informações relativas ao estado da res publica. O autor observa que a expressão é
moderna, pré-Revolução Francesa. A opinião pública, segundo Sartori, teria surgido apenas
com a tecnologia da imprensa. Uma das principais variáveis da opinião pública livre está na
32
estruturação policêntrica dos meios de comunicação e de sua interação competitiva. Assim, é
razoável conceber que as mudanças na tecnologia da informação trazidas pela Internet, com
reflexões na estruturação dos meios de comunicação, possa também vir a impactar a formação
da opinião pública e, conseqüentemente, a própria democracia.
Nesse sentido, a Internet pode estar relacionada principalmente ao eixo consensual da
democracia, conforme descrito na “faxina conceitual” da Teoria da democracia revisitada
(SARTORI, 1994). Usando como base o Estado-nação e uma sociedade pós-industrial, o autor
divide as teorias de democracia prescritiva em dois pólos: o consenso, que segue a regra da
maioria e tem como principal fundamento as eleições, e a competição, apoiada na regra da
minoria e fundamentada na representação. Trata-se de uma divisão semelhante à de Robert
Dahl em Um prefácio à teoria democrática, que prescreve os modelos populista (maioria) e
madsoniano (minoria). As variavéis que influenciam os modelos de democracia consensual
(também denominada horizontal) e competitiva (vertical) estão relacionadas na figura 2.1.
Como condição comum a ambos os modelos está a aceitação das “regras do jogo”, o que Dahl
define como o consenso básico sobre a poliarquia. Ou seja, o reconhecimento pelos grupos
políticos e cidadãos de que a democracia é o sistema a seguir.
Deve-se ponderar que o eleitor não recebe as informações expostas pela mídia na
campanha como uma tábula rasa, mas, ao contrário, já dispõe de suas posições (BERELSON;
LAZARSFELD; MCPHEE, 1954). Mesmo assim, as pesquisas da Universidade de Colúmbia
sobre as campanhas presidenciais nos anos 1940 – base dos estudos eleitorais modernos –
reconhecem a importância da identificação partidária, da comunicação pública e da
persuasão.10 Segundo as pesquisas, a mídia de massa não exerceria uma influência direta, mas
seria mediada pelas discussões com os outros. Os eleitores são movidos não apenas por novos
temas (as políticas futuras a serem adotadas), mas também por velhas questões que
influenciaram a identificação partidária.
 
9 Seguindo essa teoria, Downs (1956) afirma que o governo é motivado pela opinião de seus eleitores, não pelo
seu bem-estar, já que as opiniões sobre seu bem-estar é que influenciam o voto.
10 Os estudos tinham como alvo o potencial manipulativo da mídia, principalmente a partir do poder do rádio,
que tinha sido utilizado por Hitler com eficácia na manipulação dos alemães. Popkin (1991, p. 12) observa que a
preocupação atual é o impacto da televisão. “As pessoas se preocupam que a televisão está levando a uma
política de ‘marqueteiros’ e publicitários que manipulam os votos e criam presidentes ‘teflon’.”
33
O eleitor racional baseia seus votos mais nos eventos em curso – diferencial partidário
corrente – do que nos futuros – diferencial partidário esperado (DOWNS, 1956). Apesar
disso, o eleitor não ignora o futuro na votação, mas modula sua orientação de acordo com a
tendência dos ajustes que ocorram no período eleitoral em curso. Ainda, se a política da
oposição é idêntica à da situação, o eleitor avalia positiva ou negativamente o desempenho da
situação com o do predecessor do cargo.11 Por causa do baixo incentivo para juntar
informação sobre política, o eleitor busca atalhos de informação.
Nesse processo de busca, grande parte das informações é obtidano dia-a-dia, a partir
da economia e da comunidade onde a pessoa vive (POPKIN, 1991). Como exemplo, os
consumidores aprendem sobre inflação durante as compras e percebem a situação da
11 Essa estratégia de campanha foi utilizada nas eleições de 2006, quando o candidato Lula buscou comparar seu
governo com o de Fernando Henrique Cardoso e centrou seus ataques às privatizações. Seguindo a teoria, essa
comparação foi ajudada porque Alckmin não trouxe muitas novidades em relação às políticas públicas.
Racionalidade
Responsabilidade e
responsividade
frente à
opinião pública
Eleito decide
a política pública
Mídia competitiva
e com estruturação
policêntrica
Tecnologia de
informação
(imprensa)
Opinião pública
livre e autônoma
Participação
Igualdade política
Eleição livre e justa
Consenso
(Regra da Maioria)
Separação entre
os três Poderes
Separação entre
União, estados
e municípios
Difusão e
equilíbrio do
poder
Limite a poder da
maioria e da minoria
Mecanismos para
resolução de conflitos
Regras do jogo
(consenso procedimental)
Oposição
Igualdade de oportunidade
e de mérito
Renovação do grupo
de controle
Controle recíproco
entre líderes
Liberdade política
Regularidade e
periodicidade nas eleições
Competição
(Regra da minoria)
Democracia
Base: Estado-nação
Sociedade pós-industrial
Figura 2.1 Diagrama das teorias de democracia e suas variáveis
Fonte: adaptado de Sartori (1994, vol. 1, pp. 123-245)
34
segurança e saúde com informações adquiridas na vida diária; a população também pode ser
informada sobre programas e políticas governamentais por experiência própria. Ainda se
destacam as informações recebidas da televisão, rádio, jornais e revistas – diretamente da
mídia ou por meio de discussões com amigos, colegas de trabalho e vizinhos. Informações da
mídia interagem com as da vida diária do eleitor, justamente para determinar a importância do
tema na agenda nacional. Os eleitores podem ser orientados pela importância do tema para
sua vida diária – como exemplo, idosos que têm a aposentadoria como único rendimento
prestam muita atenção nos debates nesse assunto. Mas o uso dessa informação depende das
condições nacionais ou dos termos políticos e coletivos que expliquem a situação pessoal do
eleitor. O crescimento da educação no eleitorado teria como efeito um aumento na variedade
de preocupações sobre políticas públicas, mais do que um aprofundamento no conhecimento
cívico sobre as políticas públicas já em discussão.
As campanhas eleitorais aumentam a precisão sobre as percepções do eleitor
(POPKIN, 1991). Na campanha, os temas em conflito entre os partidos recebem maior
exposição pública – apesar de muitas vezes ignorarem fatos básicos sobre o governo, os
eleitores conseguem reconhecer informações importantes sobre as principais diferenças entre
os candidatos. Quando os eleitores se identificam com partidos ou candidatos, estão fazendo
projeções com base na informação recebida. Com isso, o eleitor pode conceder o “benefício
da dúvida”, quando não houver mais nenhuma informação disponível ou mesmo rejeitar
informações que contrariem sua projeção. O “benefício da dúvida” e o julgamento sobre os
argumentos da campanha influenciam fortemente as projeções e racionalizações do eleitor.
Nesse sentido, a chamada “campanha negativa” é aquela que tem como motivação fornecer ao
eleitor informações que derrubem suas projeções, mostrando a eles assuntos sobre os quais
discordem com a posição de seu candidato ou partido. Quando a informação – ou o
entendimento sobre elas – é incompleto, o eleitor pode recorrer a atalhos para reavaliar o
conceito da identificação partidária. Entre esses atalhos estão as características demográficas
dos candidatos (gênero, religião, laços regionais); estimativas sobre sua competência ou
sinceridade; e o julgamento de sua integridade política a partir da moralidade pessoal. Os
candidatos ainda podem ser julgados por suas amizades ou alianças. Todos esses atributos
incorporam informações da campanha.
Se a tecnologia de informação é uma condição para a própria formação da opinião
pública, está claro que as novas tecnologias de informação, como a Internet, vão transformar a
dinâmica da opinião pública, impactando no próprio debate eleitoral. A multiplicação dos
35
canais com a rede aumenta a quantidade e abrangência de informações, oferecendo maior
pluralismo nos processos de comunicação nas democracias, em um momento em que o poder
de informar é controlado por cada vez menos grupos e aumentam as denúncias de
concentração e oligopólio da mídia (MCCHESNEY, 2003). Ainda, a organização social da
rede pode mediar as discussões sobre as informações geradas pela mídia. Os modelos sobre a
formação da opinião pública ainda suscitam dúvidas se as tendências de opinião partem das
elites socieconômicas e políticas ou, em geral, por grupos aglutinados em torno de idéias
(instituições de ensino e a própria mídia, por exemplo). Seja qual for a relação, é certo que
será abalada pelas tecnologias de informação e comunicação.
36
3 Área de abrangência: variáveis eleitorais no Brasil
A pesquisa se situa entre os estudos eleitorais e, nesse sentido, convém avaliar a
posição da Internet em relação a outras variáveis eleitorais no Brasil. Como foi visto, a
Internet pode modificar os padrões de participação e o próprio debate eleitoral. Mas, para
avaliar essas mudanças, é necessário observar o comportamento das variáveis que influenciam
as eleições no Brasil, especialmente seu impacto na campanha de 2006. Por meio dessa
análise, será possível presumir como a Internet vai afetar as outras condições e se, por si só, a
nova tecnologia pode influenciar diretamente a decisão do voto.
Na revisão dos estudos pioneiros no período de redemocratização, foram identificadas
sete variáveis eleitorais: avaliação do desempenho do governo (CARREIRÃO, 2002); crise do
sistema partidário (SALLUM JR.; GRAEFF; LIMA, 1990); peso dos atributos pessoais dos
candidatos (CARREIRÃO, 2002); posicionamento na escala esquerda-direita (CARREIRÃO,
2002); organização partidária local (AMES, 1994); apoio das igrejas evangélicas
(MARIANO; PIERUCCI, 2002); e influência da mídia e televisão (LIMA, 1990). O
comportamento dessas variáveis em 2006 será analisado por meio de pesquisas eleitorais,
artigos e trabalhos publicados ou a análise de dados do TSE. A Internet é discutida em
seguida como um possível oitavo fator para influenciar o voto e as outras condições.
3.1 Avaliação do desempenho do governo
Ao contrário das eleições que mantiveram o presidente Lula no poder, as eleições de
1989 tiveram como contexto uma forte rejeição ao governo em exercício (Sarney), depois do
fracasso da tentativa de estabilização econômica com o Plano Cruzado, em 1986, considerado
um “estelionato eleitoral”. A queda de popularidade do PMDB, que apoiou o plano
econômico, favoreceu inicialmente os candidatos de esquerda (CARREIRÃO, 2002).
O desgaste do PMDB também resultou na divisão do partido em 1988 e a formação do
PSDB, que lançou como candidato o ex-prefeito de São Paulo Mário Covas. Outro candidato,
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Fernando Collor, havia sido eleito governador de Alagoas pelo PMDB, vindo antes do PDS.
Com o naufrágio do governo, partiu para a oposição e passou a atacar a corrupção e
ineficiência da administração Sarney. Apesar de o PMDB ter declarado “independência” do
governo, seu candidato, o deputado Ulysses Guimarães, só obteve 4% dos votos.
No fim de 1988, as pesquisas de opinião eram lideradas por Lula, em sua estréia como
candidato à Presidência pelo PT, e o ex-governador do Rio Leonel Brizola, pelo PDT. O
“fenômeno Collor”, que arrebataria as eleições e venceria a disputa no segundo turno contra
Lula, começou a despontar somente em março de 1989. A avaliação do desempenho do
governo influenciou a estratégia dos candidatos e partidos na primeira eleição presidencial
pós-redemocratização. Mesmo entre os eleitores que avaliavam o governo Sarney
positivamente

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