Buscar

POLITICA-SOCIAL-SOCIOLOGIA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 78 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 78 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 78 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
POLÍTICA SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 
2 Os teóricos do absolutismo ..................................................................................... 4 
3 Nicolau Maquiavel e Thomas Hobbes ..................................................................... 7 
3.1 Nicolau Maquiavel ................................................................................ 7 
3.2 Thomas Hobbes ................................................................................... 9 
4.1 Jacques Bossuet ................................................................................ 12 
4.2 Jean Bodin ......................................................................................... 14 
5 Estado como sociedade política ............................................................................ 16 
5.1 Formação do Estado .......................................................................... 17 
5.2 Teorias naturalistas ............................................................................ 18 
5.3 Teorias contratualistas ....................................................................... 19 
6 O Estado e os seus papéis ................................................................................... 23 
7 O Serviço Social e a divisão de classes ................................................................ 26 
8 O materialismo histórico: concepção marxista da história .................................... 29 
8.1 A concepção de história de Marx ....................................................... 33 
8.2 O que os historiadores devem a Karl Marx? ...................................... 36 
8.3 A influência de Marx na historiografia brasileira ................................. 37 
9 A Questão Social e os movimentos de resistência ............................................... 41 
10.1 Império (1822–1889) .......................................................................... 43 
10.2 República Velha (1889–1930) ............................................................ 44 
10.3 Era Vargas (1930–1945) .................................................................... 44 
10.4 República Populista (1945–1964) ...................................................... 44 
10.5 Ditadura Militar (1964–1985) .............................................................. 45 
10.6 Nova República ou redemocratização (a partir de 1985) ................... 45 
10.7 Formas de exercício do poder ............................................................ 46 
11.1 A sociologia e o exercício do poder .................................................... 48 
12 Modelos de democracia: democracia direta, representativa e participativa .......... 51 
12.1 Democracia direta e as suas principais características ...................... 51 
12.2 Modelo da democracia representativa e a sua aplicação ................... 53 
12.3 Especificidades da democracia participativa ...................................... 56 
3 
 
13 Política contemporânea ........................................................................................ 58 
13.1 Liberalismo social ............................................................................... 58 
13.2 Neoliberalismo .................................................................................... 60 
14 Cenário democrático contemporâneo ................................................................... 62 
15.1 A educação como instrumento ideológico do Estado ......................... 64 
15.2 Mecanismos adotados pelo Estado para transformar a educação em 
um instrumento ideológico......................................................................................... 66 
15.3 Os efeitos da transformação da educação no Brasil .......................... 69 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA: .......................................................................................... 73 
bibliografia complementar: ........................................................................................ 73 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum 
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
2 OS TEÓRICOS DO ABSOLUTISMO 
 
www.todamateria.com.br/absolutismo 
Antes de contextualizarmos a produção dos chamados “teóricos do 
Absolutismo”, compreendendo suas obras em suas conjunturas de produção e 
circulação, acreditamos ser importante buscarmos uma definição de Absolutismo e 
entender como esse conceito foi forjado para se referir ao sistema monárquico do 
Antigo Regime. Isso porque existe uma diferença entre o emprego historiográfico do 
termo e os significados que foram atribuídos ao conceito no vocabulário político de 
determinadas conjunturas. Do ponto de vista da historiografia, Silva e Silva (2009, p. 
11) apresentam uma síntese do que costuma ser entendido como “Absolutismo” ou 
“monarquia absolutista”: 
Absolutismo é um conceito histórico que se refere à forma de governo em que 
o poder é centralizado na figura do monarca, que o transmite 
hereditariamente. Esse sistema foi específico da Europa nos séculos XVI a 
XVII. [...] 
O surgimento do Absolutismo se deu com a unificação dos Estados nacionais 
na Europa ocidental no início da Idade Moderna, e foi realizada com a 
centralização de territórios, criação de burocracias, ou seja, centralização de 
poder nas mãos dos soberanos. [...]. O Estado centralizado surgiu, assim, 
interligado aos conflitos políticos entre nobreza e burguesia, característicos 
desse momento histórico, além das disputas políticas entre os príncipes e a 
Igreja Católica, visto que o Papado durante toda a Idade Média foi uma 
considerável força internacional. [...]Assim sendo, percebemos que o 
Absolutismo se liga a um determinado momento da história das nações 
europeias, o momento em que uma monarquia fortalecida com os conflitos 
políticos internos entre diferentes grupos sociais, e apoiada por justificativas 
filosóficas, controla e consolida o Estado nacional. 
http://www.todamateria.com.br/absolutismo
 
5 
 
O sistema monárquico absolutista foi uma forma de organização política forjada 
para conformar as instâncias de privilégios e as relações de poder às novas demandas 
econômicas, políticas e sociais, emergentes com as transformações ocorridas nos 
séculos XV, XVI e XVII. Ou seja, houve uma exigência de um poder central e soberano 
para se adequar às exigências daquele período, marcado por guerras civis, 
enfrentamentos entre a burguesia e a nobreza e de mudanças significativas do 
aspecto econômico. Lembremos que a definição de “Absolutismo” para as monarquias 
do século XVI e XVII não é contemporânea a esses acontecimentos, sendo um termo 
difundindo no vocabulário político francês ao final do século XVIII e, na Inglaterra,em 
começos do século XIX, em função da adoção de uma nova forma de estado, o liberal: 
[...] para se contrapor aos ‘riscos de absolutismo’ – i.e., a concentração do 
poder soberano de decisão numa autoridade executiva –, dever-se-ia formar 
um sistema cameral permanente (autoridade legislativa) e conferir 
independência institucional e poder fiscalizador para a justiça sobre os 
demais poderes, de modo que o poder limitasse o poder (VIANNA, 2008, 
documento on-line). 
Os chamados “teóricos do Absolutismo” procuraram entender e, em certos 
casos, justificar, o processo de centralização política e a concentração de poder no 
monarca por meio de teorias que opusessem o caos e a ordem, sendo a ordem 
entendida como o bom funcionamento da sociedade. Uma corrente procurou explicar 
o poder a partir do direito natural, os jusnaturalistas, recuperando ideias da 
antiguidade romana. Segundo esses pensadores, existiriam leis universais que 
baseariam a relação entre o monarca e seus súditos, bem como a relação entre os 
Estados. Outra corrente argumentava sobre o direito divido dos reis, herdeira de 
crenças medievais da ligação do monarca com Deus. Ambas as concepções, a do 
jusnaturalismo e do contrato social e a assentada no poder divino dos reis, defendem 
um Estado unificado na mão do rei, em um sistema autocrático, com poderes 
incontestes. 
E como podemos definir o contexto de produção das obras dos “teóricos do 
Absolutismo”? É preciso lembrar que esses pensadores estavam inseridos em uma 
profunda discussão sobre o poder e a política, cujo objetivo era delinear, em diferentes 
pontos de vista, o que seria uma sociedade justa, ordenada e virtuosa. A monarquia 
era o regime político de predileção (em função da concentração do poder de forma 
autocrática), e um dos temas de que se ocuparam foi a ideia de soberania. 
 
6 
 
Do ponto de vista das tradições intelectuais, as obras renascentistas que se 
dedicam a refletir sobre a política e o poder ainda operam em um mundo cristão, ou 
seja, a relação entre a política e a religião está presente de alguma maneira. Conforme 
Chauí (2000, documento on-line), as teorias medievais são teocráticas, enquanto as 
da renascença buscam outras explicações sore o poder para além da noção do divino; 
“[...] no entanto, embora recusem a teocracia, não podem recusar uma outra ideia 
cristã, qual seja, a de que o poder político só é legítimo se for justo e só será justo se 
estiver de acordo com a vontade de Deus e a Providência divina. Assim, elementos 
de teologia continuam presentes nas formulações teóricas da política”. Temos, então, 
um pensamento político na modernidade constituído por duas vertentes: aqueles 
teóricos que buscavam legitimar a autoridade do soberano a partir de fundamentos 
religiosos, tais como o direito divino, e aqueles que se apoiam em argumentos lógicos 
e racionais, afastando a moral da política. Tomadas em conjunto, e levando-se em 
consideração sua conjuntura de produção, as obras dos “teóricos absolutistas” podem 
ser caracterizadas, de acordo com Marilena Chauí (2000), a partir de dois elementos: 
 as mudanças ocorridas na cultura, na economia, na política e na 
sociedade evidenciaram a existência de grupos (burgueses, 
assalariados, camponeses) que não podiam invocar noções de dinastia, 
família, linhagem ou sangue para explicar por que existiam e por que 
haviam mudado de posição social, mas só podiam invocar a si mesmos 
como indivíduos; 
 a existência de conflitos entre esses indivíduos e entre eles e os demais 
estamentos da sociedade moderna demonstravam que a imagem de 
uma comunidade cristã, fraterna, una e indivisível eram uma construção 
que não correspondia à realidade. 
 
Essas mudanças na percepção de si mesmo e do mundo fizeram com que os 
“teóricos do Absolutismo” precisassem explicar quem eram os indivíduos e por que 
existiam os conflitos, bem como propor soluções para esses enfrentamentos e guerras 
civis. De acordo com Chauí (2000, documento on-line), “[...] foram forçados a indagar 
qual é a origem da sociedade e da política. Por que indivíduos isolados formam uma 
sociedade? Por que indivíduos independentes aceitam submeter-se ao poder político 
e às leis? A resposta a essas duas perguntas conduz às ideias de Estado de Natureza 
 
7 
 
e Estado Civil”. É nessa grande mudança cultural, que atingiu a Europa Ocidental de 
formas e em períodos distintos, que se insere o pensamento de Maquiavel, que, em 
sua obra O Príncipe, traz reflexões sobre a possível separação entre moral e política; 
de Thomas Hobbes, autor de Leviatã, que lança as bases da teoria contratualista para 
a superação do estado de natureza; de Jean Bodin e sua obra, República, teórico da 
origem divina do monarca; e de Jacques Bossuet, autor de Política Segundo a 
Sagrada Escritura, que afirmava que todo o poder é legítimo e que rebelar-se contra 
ele seria um sacrilégio. Vamos estudar um pouco mais sobre o pensamento desses 
autores e as diferenças entre eles a seguir. 
3 NICOLAU MAQUIAVEL E THOMAS HOBBES 
Ainda que Nicolau Maquiavel e Thomas Hobbes tenham vivido em locais e momentos 
diferentes, suas preocupações intelectuais são semelhantes no que diz respeito ao 
Estado como gestor dos conflitos inerentes à política, evitando as facções políticas, 
como no caso de Maquiavel, ou a guerra de todos contra todos, como afirmado por 
Hobbes. A seguir, veremos um pouco mais sobre o pensamento de ambos os autores. 
3.1 Nicolau Maquiavel 
 
Fonte: filosofianaescola.com/filosofos/maquiavel/ 
 
8 
 
Maquiavel nasceu em Florença, em 1469. Naquele momento, a Península 
Itálica encontrava-se dividida em uma série de pequenos Estados, com diferenças 
signifi cativas em relação à sua cultura e seus regimes políticos e, por consequência, 
sujeitos a confl itos e invasões estrangeiras. 
Até 1494, graças aos esforços de Lourenço, o Magnífico, a península 
experimentou uma certa tranquilidade. Cinco grandes Estados dominavam o 
mapa político: ao sul, o reino de Nápoles, nas mãos dos Aragão; no centro, 
os Estados papais controlados pela Igreja e a república de Florença, presidida 
pelos Médicis; ao norte, o ducado de Milão e a república de Veneza (SADEK, 
2011, p. 14). 
Contudo, na passagem do século XV para o XVI, essa situação modificou- -se 
em função de aspectos internos e externos. Nesse contexto, Maquiavel passou sua 
infância e adolescência. Teóricos do Absolutismo 5 Em função de disputas políticas, 
principalmente da rivalidade adquirida com a família Médici, Maquiavel é impedido de 
exercer cargos públicos, depois de ter trabalhado como chanceler. É torturado, preso 
e condenado a pagar multa. Ao ser libertado da prisão, passou a escrever suas obras, 
sendo O Príncipe escrita entre 1512 e 1513. 
 
no território da Itália, que se encontrava dividida em ducados, reinos, repúblicas e 
convivia com o poder da Igreja. Veja, a seguir, os pontos em que seu pensamento é 
inovador, rompendo com a tradição da filosofia política. 
 Não existiria um fundamento anterior e exterior à política (como Deus, a 
natureza ou a razão). A política nasce das divisões e lutas sociais na 
busca de unidade e identidade. 
 
9 
 
 Maquiavel, diferentemente dos pensadores da Antiguidade clássica e 
dos cristãos, não concebe a política como uma realização do bem 
comum e da justiça, mas como tomada e manutenção do poder. 
 A política não seria regida por uma moral cristã, mas por uma virtude 
propriamente política, não necessariamente boa ou má. Isso não 
significa que o príncipe deva ser odiado, mas temido e respeitado. 
 Por fim, Maquiavel rejeita a divisão clássica dos três regimes políticos 
(monarquia, aristocracia, democracia) e suas formas corruptas ou 
ilegítimas (tirania, oligarquia, demagogia/anarquia), assim como não 
aceita que o regime legítimo seja o hereditário e o ilegítimo, o usurpado 
por conquista. Qualquer regime político — tenha a forma e a origemque 
tiver — poderá ser legítimo ou ilegítimo. O critério de avaliação, ou o 
valor que mede a legitimidade e a ilegitimidade, é a liberdade. 
3.2 Thomas Hobbes 
 
Fonte: www.arqnet.pt/portal/teoria/hobbes 
O pensamento político de Hobbes parte do pressuposto da existência de uma 
situação “pré-social”, em que as pessoas vivem em um “Estado de natureza”, isoladas 
 
10 
 
em luta permanente, vigorando a guerra de todos contra todos, que deu origem à 
expressão “o homem é o lobo do homem”. Nessa situação, o medo é imperativo, já 
que a vida não tem garantias, principalmente o medo da morte violenta. Como forma 
de cessar essa situação de ameaça, estabelece-se um “contrato” entre os seres 
humanos, passando-se à sociedade civil, isto é, ao Estado Civil, criando o poder 
político e as leis. O “contrato social” estabelece que os indivíduos renunciam à 
liberdade natural e à posse natural de bens, riquezas e armas e concordam em 
transferir a um terceiro — o soberano — o poder para criar e aplicar as leis, tornando-
se autoridade política. 
O contrato social funda a soberania. Aqui, há um retorno ao direito romano e 
ao direito natural, principalmente na ideia de que todo indivíduo, por natureza, tem 
direito à vida e à liberdade. “Por natureza, todos são livres, ainda que, por natureza, 
uns sejam mais fortes e outros mais fracos. Um contrato ou um pacto, dizia a teoria 
jurídica romana, só tem validade se as partes contratantes forem livres e iguais e se 
voluntária e livremente derem seu consentimento ao que está sendo pactuado” 
(CHAUÍ, 2000, documento on-line). 
Outro dos grandes defensores do Estado contratual foi Thomas Hobbes, que 
em sua obra Leviatã afirmou que todo Estado nasce do contrato mútuo entre 
os homens. Estes, quando em estado de natureza, viveriam em constante 
conflito e situação de guerra. Assim sendo, para garantir a ordem, 
considerada a única forma de a sociedade prosperar, os indivíduos faziam 
um acordo em que todos abdicavam de suas liberdades em favor de um 
representante, o rei, que, por sua vez, se encarregaria de garantir a ordem. 
Nessas teses, que explicam o Estado a partir de acordos e da concordância 
entre reis e povo, todavia, a vontade do rei e do Estado sempre é superior à 
do povo e, logo, deve ser obedecida sem resistência. Somente com a 
Ilustração, no século XVIII, essas teorias seriam revistas para apresentar o 
governo como representante da vontade popular. No Absolutismo, todavia, 
rei e Estado se sobrepõem ao povo (SILVA; SILVA, 2009, p. 12). 
Assim, para Hobbes, o poder do soberano superaria os indivíduos e as 
coletividades, estabelecendo a paz e trazendo segurança para todos. O fundamento 
do poder não estaria na tradição (família, linhagens, sangue), mas na conveniência 
de se ter um soberano absoluto, para o bem de todos. Ainda que no pensamento de 
Hobbes o Estado seja visto como uma forma de superação do medo reinante na 
condição de Estado de natureza, o medo não desaparece na constituição da 
sociedade civil e da configuração do Estado. A capa da primeira edição de sua obra 
Leviatã, publicada em 1651, apresenta a figura ameaçadora de um monarca, e o 
próprio nome “Leviatã” foi retirado de um monstro presente na Bíblia (Figura 1). Nessa 
 
11 
 
obra, Hobbes mostra os fundamentos e as razões pelas quais o monarca absoluto 
deve exercer força, autoridade, influência, juízo, poder sobre os súditos, porque, sem 
esse exercício de poder coercitivo pelo Estado, haveria um estado de guerra 
constante. 
 
4 JACQUES BOSSUET E JEAN BODIN 
Nesta parte, estudaremos dois teóricos do Absolutismo cujas reflexões foram 
permeadas por questões religiosas. Seja por aspectos ligados à trajetória de Jacques 
Bossuet e Jean Bodin ou por suas convicções e crenças, suas concepções de Estado 
e poder estão relacionadas a uma dimensão divina. Vejamos mais sobre suas 
biografias e obras a seguir. 
 
 
12 
 
4.1 Jacques Bossuet 
 
Fonte: www.grupoescolar.com/pesquisa/jacques-bossuet 
Jacques-Bénigne Bossuet (1627-1704) foi um religioso francês que procurou 
na religião católica uma solução para os problemas políticos enfrentados no século 
XVII. 
Desde a infância e adolescência de Bossuet sua família sempre mostrou 
fidelidade absoluta ao rei, e sempre se colocou ao seu serviço. A desordem 
e a miséria que assolaram a França, causadas pelas perturbações da Fronda, 
ficaram gravadas na memória de um jovem destinado a defender 
vigorosamente a soberania indivisível na pessoa do príncipe. Neste sentido, 
podemos afirmar que a doutrina de Bossuet formou-se a partir de confrontos 
com problemas concretos; constituiu-se em respostas aos fatos reais que 
surgiram diante dele (BARBOSA, 2007, documento on-line). 
Assim, concebeu sua teoria afirmando que o poder absoluto dos reis remontaria 
a Davi e Salomão, que teriam sido ungidos por Deus, ou seja, os monarcas seriam 
reis por direito divino. De acordo com seu pensamento, rebelar-se contra o poder do 
monarca equivaleria a revoltar-se contra Deus. Bossuet escreveu os seis primeiros 
livros da Política de 1677 a 1679, após a Revolução Inglesa de 1640 e a Fronda (1648-
1653). Nessas guerras civis, os revoltosos defendiam a limitação da soberania real a 
partir da ideia contratualista e, quando os reis deixavam de agir corretamente, o 
 
13 
 
contrato poderia ser anulado. A preocupação de Bossuet, portanto, reside na 
condenação das guerras civis, na eliminação de qualquer direito de resistência dos 
súditos perante os governantes estabelecidos e no reforço à soberania dos reis. 
(OLIVEIRA, 2009) Não somente nas obras em que aborda diretamente as questões 
políticas, mas também nas obras de cunho histórico, existe uma justificativa na 
fundação do Estado como um ato de Deus de manifestação de sua vontade, e são 
citados como exemplos os impérios chinês, egípcio e pérsio. A ideia de providência 
divina perpassa toda a obra e o rei é apresentado, ao mesmo tempo, como governador 
civil e sumo-sacerdote, representante de Deus na Terra. De acordo com Chevallier 
(1999 apud LIMA, 2015, documento on-line): 
Ao falar da origem do governo civil, primeiramente Bossuet partiu da tese 
aristotélica da natureza política do homem (o homem como animal político), 
para depois chegar à tese hobbesiana do homem lobo do homem, que, 
segundo ele, teve origem a partir do acontecimento bíblico do pecado original, 
praticado por Adão e Eva. Para Bossuet, o pecado original foi o responsável 
por ter transformado a vida numa verdadeira anarquia, fazendo prevalecer 
àinsociabilidade entre os homens. Desse modo, ele acreditava que apenas 
com a constituição de um governo civil seria possível garantir o 
estabelecimento da paz e da segurança. Para melhor cumprir esta função, 
Bossuet defendeu a monarquia absolutista como a forma mais adequada de 
governo, já que qualquer tipo de divisão, no exercício do poder, era 
considerado por ele como o principal mal dos Estados. Assim, esta forma de 
governo defendida por Bossuet, estava fundamentada inteiramente na 
sagrada escritura, com os monarcas reconhecidos como verdadeiros 
ministros de Deus, ao deter todo poder necessário a manutenção da ordem 
e da paz social. 
Ao longo de sua trajetória, Bossuet teve um papel importante na vida e na corte 
de Luis XIV — Bossuet foi seu tutor —, realizando diversos cultos realizados no 
Palácio Real e proferindo orações fúnebres nas cortes francesa e britânica. A partir 
dessa circulação em altos estratos do poder político, elaborou suas reflexões sobre o 
Estado, o poder e a política, que serviram como forma de instrução a Luís XIV, e nos 
demonstra como construiu a argumentação sobre a origem e o fundamento do poder 
divino do rei. Os livros destinados à educação de Luís XVI, escritos entre 1677 e 1679, 
“[...] inserem-se nesse movimento de exaltação à glória monárquica. Bossuet dedicou-
os para falar da origem do poder e da autoridade do príncipe. Com isso, a teoria do 
direitodivino, justificadora do Absolutismo, que se conhece já há tempo, atinge o seu 
ponto culminante” (BARBOSA, 2007, documento on-line). Suas obras mais 
importantes foram Discurso sobre a História Universal, publicada em 1681, e Política 
tirada das Santas Escrituras, lançada em 1708. Bossuet morreu em Paris, em 1704. 
 
14 
 
4.2 Jean Bodin 
 
Fonte: www.todamateria.com.br/jean-bodin 
Jean Bodin nasceu na França por volta de 1530, em uma família burguesa, de 
prósperos artesãos. Formou-se em direito, dedicando-se ao direito civil, e, em Paris, 
trabalhou como advogado da corte. Suas obras são reflexões jurídicas, que versam 
sobre a separação entre Estado e governo e apresentam como inovação a 
sistematização da noção de soberania. 
O problema para Bodin estaria na confusão feita até então entre Estado e 
governo. O termo “Estado” designa as três formas de ordenamento político 
que uma República pode assumir com base no número de pessoas que 
detém a soberania. Já o governo indica a maneira pela qual esse poder é 
exercido – assumindo as formas legítima, despótica ou tirânica, de acordo 
com a relação do soberano com as leis e com seus súditos – e a maneira 
pela qual esse poder é conferido – assumindo as formas aristocrática, 
democrática ou harmônica, conforme o grau de participação dos súditos nos 
cargos públicos. As diversas combinações dessas possibilidades resultariam 
na grande variedade de formas de governo que têm sido confundidas com as 
formas de Estado (VIANNA, 2010, p. 65-66). 
Bodin, no século XVI, foi o primeiro teórico a afirmar que no Estado deve haver 
um poder soberano, isto é, um foco de autoridade que possa resolver todas as 
pendências e arbitrar qualquer decisão. Sua obra Da República, publicada em 1576, 
 
15 
 
aborda muitos temas de teoria política, incluindo as discussões sobre o direito divino 
dos reis e a soberania, temas pelos quais a obra de Bodin costuma ser recuperada 
como uma “teoria” sobre o Absolutismo. 
Da República costuma ser utilizada para comparar a situação da Inglaterra e 
da França absolutista, já que, quando Bodin a escreve, “[...] o reino da França estava 
fraturado devido às facções nobiliárquicas das guerras confessionais, cada uma das 
quais tentando impor as suas prerrogativas locais ou regionais de poder, respeitando 
ou não as deliberações régias conforme os seus interesses e conveniências 
particulares e, portanto, estavam desviadas de qualquer princípio de bem comum” 
(VIANNA, 2010, documento on-line). Dessa forma, era imperativo ratificar o poder do 
rei, acima de qualquer facção. 
Diferentemente de Bossuet, Hobbes ou Maquiavel, para Bodin, a centralização 
do poder e o fortalecimento da figura do monarca ocorre por meio do direito, com a 
entrega pelos indivíduos de seus direitos individuais a um “Deus mortal”, o Estado. 
Para ele, esse estado é regido por três conjuntos de leis: a lei moral (ou seja, os 
valores do indivíduo), a lei doméstica (aplicada pelo chefe da família) e a lei civil, à 
qual todos os membros da sociedade civil devem obediência. De acordo com Barros 
(2009, documento on-line): 
[...] não basta para Bodin a simples união de vários grupos sociais, nem a 
comunhão de bens e de interesses, nem a existência das mesmas leis e de 
instituições dirigidas pelo princípio da justiça. São condições necessárias, 
sem dúvida, mas não suficientes. É preciso acima de tudo o estabelecimento 
de um poder capaz de assegurar a coesão entre os membros da sociedade, 
reunindo-os e integrando-os num só corpo. 
Contudo, o elemento mais importante do Estado é a soberania, entendida como 
o poder supremo e inalienável do soberano sobre os súditos, que era concedida ao 
rei por Deus. Para Bodin, ser soberano significava estar acima das leis civis: 
[...] soberano deve estar livre diante das leis que estabeleceu, porque 
ninguém pode obrigar-se a si mesmo, e das leis que foram estabelecidas por 
seus predecessores, porque, se fosse obrigado a cumpri-las, seu poder não 
seria absoluto. O soberano deve ter o poder de criar, corrigir e anular as leis 
civis de acordo unicamente com sua vontade. Como a lei imposta por Deus à 
natureza tem seu fundamento na livre vontade divina, a lei civil, embora possa 
estar fundamentada em boas razões, retira também sua autoridade da livre 
vontade do soberano (BARROS, 2009, documento on-line). 
 
16 
 
Além da construção dessa definição de soberania, Bodin legou aos seus 
contemporâneos uma justificativa para a monarquia como melhor forma de sistema 
político para o exercício da soberania, que se fundamenta em três pontos: 
 a monarquia é o melhor sistema político para o exercício da soberania a 
partir de uma análise histórica, que evidenciou a predileção dessa forma 
de governo pelos povos da antiguidade; 
 a monarquia é a melhor forma de governo pelas leis de Deus; 
 a monarquia, por ter apenas um soberano, facilita o exercício e o direito 
à soberania. 
5 ESTADO COMO SOCIEDADE POLÍTICA 
A origem da sociedade revela que o indivíduo se reúne em torno de 
determinados objetivos de forma organizada e, para atingir tais finalidades, aceita ou 
se submete a um poder de caráter social. Assim, revelam-se os elementos geralmente 
presentes na sociedade: finalidade, ordem e poder social. Em uma perspectiva ampla, 
quando a finalidade almejada reside na criação de condições gerais para a realização 
dos objetivos individuais, essa sociedade é considerada política (DALLARI, 2013). 
 
Fonte: brasilescola.uol.com 
A sociedade política comunga interesses gerais e individuais, na medida em 
que proporciona, a um só tempo, a consecução de fins próprios e de objetivos comuns 
para todos os seus integrantes. É frequente, inclusive, que se refira à busca do bem 
 
17 
 
comum como a finalidade última de uma sociedade política considerada na 
perspectiva mais ampla de participantes. Nessa percepção mais ampla, quando aceita 
uma autoridade superior que estabeleça as regras de convivência em torno desse 
objetivo comum, surge a primeira concepção de Estado. De fato, o Estado é uma 
espécie de sociedade política. A expressão Estado, porém, é reveladora de momento 
histórico determinado e específico. 
Coube a Maquiavel o seu emprego na obra O príncipe (1513). Diante da 
importância da obra, que apontava as características para um governo de sucesso no 
contexto político da Itália, o termo se difundiu ao longo do século XVII, superando 
concepções mais tradicionais que faziam alusão ao “estado” como grande 
propriedade particular (estados na Espanha e states na Inglaterra) (DALLARI, 2013). 
Mais adiante, a expressão passou a ser empregada apenas quando estivessem 
presentes algumas características específicas. Foi então que surgiu, no século XVIII, 
o chamado Estado moderno (DALLARI, 2013). 
A dificuldade em identificar uma exata conceituação sobre o que se entende 
por Estado deságua em similar desafio para encontrar as suas origens. Assim, uma 
primeira corrente defende que a figura do Estado, associada a uma sociedade 
organizada, sempre existiu. Não seria concebível uma sociedade sem Estado. Nesse 
sentido, o Estado seria justamente o princípio organizador de toda a humanidade. Por 
outro lado, uma segunda corrente afirma que o aparecimento do Estado depende das 
conveniências e oportunidades de cada grupo social, dependendo das condições 
concretas de cada agrupamento em cada localidade. Por fim, uma terceira corrente 
destaca que somente pode ser considerado Estado aquela sociedade política com 
características próprias e nascida na metade do século XVII. Para essa concepção, a 
definição de Estado não é generalizável, mas um produto histórico decorrente do 
reconhecimento da ideia de soberania, isto é, a concentração de poder em 
determinado território e sobre uma determinada comunidade — o que somente teria 
ocorrido no século XVII (MORAIS; STRECK, 2010). 
5.1 Formação do Estado 
A formação do Estado é tema que suscitadivergências. Variadas seriam as 
possíveis causas para o surgimento dessa sociedade política, sendo frequente a 
 
18 
 
classificação entre formação originária e formação derivada (AZAMBUJA, 2008). A 
primeira estaria relacionada ao avanço na organização de um agrupamento pela 
primeira oportunidade, isto é, sem que houvesse uma ordem política anterior. A 
segunda diz respeito a situações em que novos Estado surgem a partir de outros já 
existentes. Nesse caso, falamos em fracionamento (quando uma parte do território de 
um Estado é desmembrada e se constitui um novo Estado) ou em união (quando dois 
ou mais Estados se reúnem para formar um novo Estado). 
5.2 Teorias naturalistas 
As teorias naturalistas buscam explicar a formação originária do Estado a partir 
de uma condição espontânea do ser humano. Segundo essas teorias, haveria uma 
formação espontânea do Estado, que dispensa qualquer ato voluntário da 
comunidade. Assim, o surgimento do Estado não depende de qualquer ato específico 
do homem, mas seria produto da sua natural caminhada em sociedade. Trata-se, 
portanto, de uma formação natural e, dessa forma, não contratual do Estado. 
A formação natural do Estado é assim defendida por Darcy Azambuja: 
[...] só um fato é permanente e dele promanam outros fatos permanentes: o 
homem sempre viveu em sociedade. A sociedade só sobrevive pela 
organização, que supõe a autoridade e a liberdade como elementos 
essenciais; a sociedade que atinge determinado grau de evolução passa a 
constituir um Estado. Para viver fora da sociedade, o homem precisaria estar 
abaixo dos homens ou acima dos deuses, como disse Aristóteles, e vivendo 
em sociedade ele natural e necessariamente cria a autoridade e o Estado 
(AZAMBUJA, 2008, p. 109). 
As principais causas não contratuais para o surgimento do Estado são 
sistematizadas por Dalmo de Abreu Dallari da seguinte forma (DALLARI, 2013): 
Origem familiar — considera que o núcleo familiar é a célula-mãe da sociedade 
política. De fato, a partir da reunião de diversas famílias, a complexidade do grupo 
social aumenta e, assim, surge o Estado enquanto figura de reunião da comunidade. 
Essa foi a proposta de Fustel de Coulanges ao tratar do surgimento do Estado grego 
e do Estado romano. 
Origem violenta — considera que o Estado é o resultado da natural 
superioridade de força de determinado grupo sobre outro. Assim, lembra Darcy 
Azambuja que o Estado é, durante os seus primeiros estágios, uma organização 
 
19 
 
imposta pelo vencedor para manter a dominação do vencido (AZAMBUJA, 2008). É 
também denominada teoria da violência ou teoria da conquista. 
Origem econômica — considera que a reunião do sujeito em torno de um 
aparato de poder organizado decorre de motivos econômicos. Assim, o Estado 
proporciona a reunião de variados interesses, já que ninguém é bastante em si. Mais 
do que isso, essa teoria destaca que o Estado proporciona a divisão do trabalho e a 
integração de diversas atividades diferentes. Alguns autores, como Marx e Engels, 
vão ao extremo dessa teoria para explicar as razões pelas quais o Estado autoriza 
tantas desigualdades: na sua origem econômica, ele institucionalizou a propriedade 
privada, o acúmulo de patrimônio, a divisão de classe e, por consequência, a luta entre 
elas. Sobre o tema, confira a crítica de Darcy Azambuja (2008, p. 103): 
Quanto à luta de classes, o que a história e a sociologia têm demonstrado é 
que ela sempre existiu como também sempre existiu a cooperação entre as 
classes; que o Estado possa ser frequentemente instrumento dessa luta é 
demonstrável; mas, que ele tenha nela sua origem, é história distorcida e 
sociologia para propaganda política. 
Origem no desenvolvimento interno — considera que toda sociedade humana 
tem um Estado em potencial que surgirá à medida que a sua complexidade aumentar. 
Assim, uma sociedade pouco desenvolvida dispensa a figura do Estado, mas uma 
sociedade com maior desenvolvimento tem por necessidade o surgimento do Estado. 
Há, em razão disso, um surgimento do Estado naturalmente decorrente do progresso 
de uma sociedade. 
5.3 Teorias contratualistas 
As teorias contratualistas buscam explicar a formação originária do Estado a 
partir de um ato voluntário do ser humano. Segundo essas teorias, a formação do 
Estado depende de uma convenção expressa realizada entre os integrantes de uma 
sociedade. Assim, em linhas gerais, o surgimento do Estado dependeria de um ato 
concreto de reunião e aceitação, por alguns denominado contrato social. Trata-se, 
portanto, de uma formação contratual do Estado. 
Para o pensamento contratualista, a sociedade e o Estado são criações 
artificiais da razão humana, derivadas de um consenso, tácito ou expresso, da maioria 
dos indivíduos para encerrar o estado de natureza e iniciar o estado civil. Assim, a 
 
20 
 
origem e a legitimação do Estado são uma decorrência do contrato entre os indivíduos 
(MORAIS; STRECK, 2010). O pensamento contratualista, entretanto, não é uniforme, 
merecendo especial atenção as ideias de Hobbes, Locke e Rousseau. 
 
 
Fonte: conversadeportugues.com.br 
Nesse sentido, Hobbes destaca que, antes da vida em sociedade, o homem se 
encontrava em uma fase primitiva, caracterizada pela insegurança e incerteza 
constantes. No estado de natureza, para ele, haveria uma eterna guerra de todos 
contra todos, derivada do caráter eminentemente negativo do homem — que não 
possui uma natureza boa. Assim, com o intuito de preservar a própria vida, o ser 
humano lança mão de um pacto em que se despoja dos seus direitos em detrimento 
de segurança. Entretanto, como a transgressão é ínsita ao homem, para garantir o 
cumprimento do pacto social, o grupo entrega o poder social para um novo sujeito, 
que é justamente o Estado. Por essa razão, a teoria contratualista de Hobbes justifica, 
a um só tempo, o surgimento da sociedade organizada (estado civil) e do Estado. 
Curiosamente, a figura é chamada, por Hobbes, de Leviatã (“metade monstro e 
metade deus mortal”), ente capaz de garantir a paz e a defesa da vida dos seus 
súditos (MORAIS; STRECK, 2010, p. 32). 
O pensamento do autor inglês traz amplos poderes para o soberano, já que 
não há parâmetros naturais para a ação estatal, uma que pelo contrato o 
homem se despoja de tudo, exceto da vida, transferindo o asseguramento 
dos interesses à sociedade política, especificamente ao soberano. O Estado 
e o Direito se constroem pela demarcação de limites pelo soberano que, por 
não ser partícipe na convenção instituidora e, recebendo por todo 
 
21 
 
desvinculado o poder dos indivíduos, tem aberto o caminho para o 
arraigamento de sua soberania (MORAIS; STRECK, 2010, p. 34). 
Assim, em Hobbes, o Estado “já nasce com poderes supremos” (DINIZ, 2001, 
p. 152). Reafirmamos que, para Hobbes, é a manutenção do pacto social que 
possibilita a existência de paz entre o grupo social. As condições para o cumprimento 
do contrato, por sua vez, são uma providência do soberano — autorizado a “velar para 
que o temor ao castigo seja uma força maior que o fascínio exercido pelo desejo de 
qualquer vantagem possa esperar de uma violação do contrato” (DINIZ, 2010, p. 161). 
Com efeito, para Hobbes, a submissão absoluta é o preço a ser pago pelo súdito pela 
salvação trazida pelo Estado (DIAS, 2013). Por essa razão, o seu pensamento é 
inspiração do modelo absolutista. Ao pensamento de Hobbes, contrapõe-se Locke — 
defensor das liberdades individuais e fervoroso antagonista do modelo absolutista. 
Para ele, no estado de natureza, o homem já possui um domínio racional de suas 
paixões e seus interesses, de modo que não se pode considerar a existência de uma 
guerra potencial. Pelo contrário, nesse estágio inicial da sociedade, há uma paz 
relativa que permite ao homem identificar os seus limites e reconhecer a existência de 
alguns direitos. De fato, no pensamento de Locke, existem diversos direitos inatos aohomem, como a vida, a liberdade e a propriedade. Falta, porém, uma força coercitiva 
apta a solucionar conflitos que possam surgir (MORAIS; STRECK, 2010). 
A necessidade de uma força coercitiva para assegurar a proteção dos direitos 
inatos ao homem conduz à elaboração de um pacto entre os integrantes da sociedade. 
Surge, então, o contrato social como ferramenta de legitimação do poder e de 
manutenção dos direitos naturais. Assim, o pacto se sustenta na necessidade de 
proteção de direitos previamente existentes e na sua proteção contra possíveis 
conflitos. Surgem, assim, o estado civil e a fonte da autoridade estatal. Verificamos, 
nesse panorama, o caráter individualista de Locke: o surgimento do estado civil se dá 
para resguardar os direitos naturais de cada sujeito (MORAIS; STRECK, 2010), em 
especial, a propriedade (APPIO, 2005). O poder do Estado, nessa linha, já surge 
limitado aos direitos naturais antes existentes. 
Como podemos perceber, enquanto Hobbes via no Estado um ente 
plenipotente, Locke identifica no Estado um ente com poder delimitado. Por essa 
razão, defende ele que os sujeitos do contrato podem se opor ao Estado quando 
houver violação a direitos naturais. Existe, pois, direito de resistência na sociedade 
 
22 
 
política defendida por Locke (MORAIS; STRECK, 2010). Ainda, para ele, quando já 
instaurados a sociedade e o Estado, além do limite inicial decorrente dos direitos 
naturais, deverá ser observado o princípio da maioria. Assim, haverá uma 
proeminência do Poder Legislativo sobre o Poder Executivo (MORAIS; STRECK, 
2010). Além disso, a observância da lei é impositiva, porque é fundada no próprio 
contrato social — o deixar de seguir a lei criado pelo Poder Legislativo é o mesmo que 
querer retornar ao estado natural (APPIO, 2005). 
O pensamento de Rousseau também é digno de referência, já que confirma a 
evolução da origem do Estado de um modelo absolutista para um modelo 
democrático. Com Rousseau, a tese do estado de natureza apenas facilita o 
entendimento da sociedade. Na realidade, a formação de uma sociedade teria maior 
caráter histórico. É célebre a sua afirmação de que, quando o primeiro homem 
reivindicou propriedade e os demais, ingênuos, aceitaram, teria surgido a sociedade. 
Assim, a noção de estado de natureza é emprestada apenas para ilustrar o contrato 
social e a legitimidade do poder social. 
Na compreensão de Rousseau, para manter a liberdade e a igualdade do 
indivíduo, propõe-se que o contrato social seja uma entrega do particular (vontade 
individual) para o geral (vontade geral), de modo que, quando ocorre a incursão no 
estado civil, não há uma abdicação da liberdade, mas sim uma entrega dela para toda 
a comunidade. E, como o sujeito faz parte do grupo social, não há qualquer perda. 
Pelo contrário, no pacto social, o indivíduo mantém a sua condição de liberdade e 
igualdade. É, pois, no princípio da vontade geral que reside a legitimidade do poder 
em Rousseau (MORAIS; STRECK, 2010). Nessa linha de entendimento, o poder não 
decorre da submissão a um terceiro, mas da união havida entre iguais. Trata-se de 
concepção na qual cada um renuncia a seus interesses particulares em detrimento da 
coletividade. Confira: 
Enfim, dando-se cada um a todos, não se dá a ninguém, e como não haverá 
nenhum associado sobre o qual não se adquira o mesmo direito que se 
cedeu, ganha-se o equivalente a tudo que se perde e mais força para se 
conservar aquilo que se tem. Se, afinal, retira-se do pacto social aquilo que 
não pertence à sua essência, veremos que ele se reduz aos seguintes 
termos: cada um põe em comum sua pessoa e todo seu poder sob suprema 
direção da vontade geral; e enquanto corpo, recebe-se cada membro como 
parte indivisível do todo (ROUSSEAU, 2017, p. 24). 
 
23 
 
A primordial contribuição desse pensamento é o tom democrático: é 
indispensável o respeito à vontade geral encarnada na maioria. O poder, nessa 
passagem, não mais pertence a um príncipe ou oligarca, mas à própria comunidade. 
Traz, por outro lado, a problemática reversa: Rousseau consagra o despotismo da 
maioria e sufoca qualquer pensamento político contrário à voz dominante (MORAIS; 
STRECK, 2010). Seja como for, no seu pensamento, há uma inegável proposta de 
limitação do Estado, já que o soberano não tem o direito de sobrecarregar um 
indivíduo em detrimento do outro (DIAS, 2013): 
Assim, fica claro que o poder soberano, por mais que seja totalmente 
absoluto, sagrado e inviolável, não ultrapassa nem pode ultrapassar os limites 
das convenções gerais, e que todo homem pode dispor plenamente dos seus 
bens e da sua liberdade naquilo que foi estipulado por essas convenções; de 
modo que o soberano nunca tem direito de sobrecarregar mais um súdito que 
o outro, uma vez que seu poder não é mais competente, quando o assunto 
se torna particular” (ROUSSEAU, 2017, p. 40). 
A importância da teoria contratualista da formação do Estado é inegável, já que 
não apenas revela a proteção de direitos do indivíduo como também enuncia que o 
Estado, desde a sua origem, é limitado. 
6 O ESTADO E OS SEUS PAPÉIS 
A fim de compreender a formação do Estado na atualidade, você deve refletir 
sobre os pressupostos ontológicos que pontuam a constituição dessa instância, que 
é um marco na história das sociedades. O homem, em seu estado de natureza, possui 
sua liberdade natural e a protege com sua força física. Como disse Thomas Hobbes 
(1588–1679) “o homem é o lobo do homem”, ou seja, o homem é seu próprio inimigo. 
Essa premissa levou as sociedades primitivas a criarem a ordem em meio ao caos. 
 
24 
 
 
Fonte: mundoeducacao.uol.com.br/geografia/conceito-estado 
 
A sociedade que surge do estado de natureza se constitui por meio de um 
contrato social. Quando a força física já não é mais suficiente para a manutenção da 
ordem, é necessária uma força superior. Nesse sentido, o homem sai de seu estado 
natural para o estado civil e perde a liberdade natural. Em uma sociedade, existe a 
liberdade política, que é garantida pelo Estado e não mais pela força física. Assim, ela 
se iguala à liberdade natural — desde que o homem não deixe de exercer as suas 
vontades. Rousseau explica que o homem possui duas vontades: uma pública e outra 
particular. Sendo a vontade pública uma vontade geral, ela se sobrepõe à vontade 
particular de cada um. Em um Estado legítimo, a vontade particular deve se adaptar 
à vontade geral. Caso contrário, ocorre o fim do Estado. A vontade geral leva os 
homens a se tornarem um só corpo e a terem uma única direção política. O corpo 
político possui caráter moral e se torna existente a partir do pacto social. Ele só existe 
se todos dispuserem de tudo para toda a comunidade, porque um corpo não pode 
denegrir a si mesmo. Veja: 
Se a vontade do corpo político é feita, tem-se um Estado legítimo. Estado 
esse que é guiado pela vontade geral, e preza pela preservação da liberdade 
e dos bens de cada associado. O homem natural, que vivia isolado e bastava 
a si mesmo, agora, através do pacto, faz parte de um todo maior, o corpo 
político. No corpo político, sua liberdade é ainda mais assegurada, já que não 
depende de sua força física. O que limita essa liberdade é a vontade geral, 
que, por sua vez, está diretamente ligada à criação e observância das leis 
(SILVA; CUNHA, 2013, p. 218). 
 
25 
 
Nesse contexto, é importante você notar a compreensão que se tem das leis, 
que são uma declaração geral sobre um interesse comum. Elas existem a fim de 
garantir a liberdade e a igualdade entre os homens. Além disso, a lei é sempre justa, 
pois o homem não pode ser injusto consigo mesmo. Assim, “Se quisermos saber no 
que consiste, precisamente, o maior de todos os bens, qual deva ser a finalidade de 
todos os sistemas de legislação, verificar-se-á que se resume nestes dois objetivos 
principais: a liberdade e a igualdade [...]” (ROUSSEAU, 1999, p. 127 apud SILVA; 
CUNHA, 2013, p. 219).O que fundamenta e garante que a finalidade do Estado se 
cumpra é a preservação da liberdade e da igualdade entre os homens. Esse também 
é o fundamento da vontade geral, das leis e do corpo político. Segundo Silva e Cunha 
(2013, p. 220), “[…] A vontade do corpo político é a vontade geral. Por meio dela o 
homem continua a ser livre, e por ser membro deste corpo ele é igual a todos os 
demais membros […] o Estado dirigido pela vontade geral é um Estado social legítimo 
[...]”. Segundo Pereira (2009), três elementos constituem o Estado. Veja a seguir. 
1. Um conjunto de instituições e prerrogativas, entre as quais o poder coercitivo, 
que só o Estado possui, por delegação da própria sociedade. 
2. O território, isto é, um espaço geograficamente delimitado onde o poder 
estatal é exercido. Muitos denominam esse território de “sociedade”, ressaltando a 
sua relação com o Estado, embora este mantenha relações com outras sociedades, 
para além de seu território. 
3. Um conjunto de regras e condutas reguladas dentro de um território, o que 
ajuda a criar e manter uma cultura política comum a todos os que fazem parte da 
sociedade nacional ou do que muitos chamam de “nação”. 
O Estado é um fenômeno histórico e relacional. Portanto, deve ser tratado como 
processo. Afinal, ele não existe de forma absoluta nem é inalterável. Veja: 
Por ser um processo histórico, que contempla passado, presente e futuro, 
bem como a coexistência de antigos e novos elementos e determinações, a 
relação praticada pelo Estado tem caráter dialético — no sentido de que 
propicia um incessante jogo de oposições e influências entre sujeitos com 
interesses e objetivos distintos. Ou, em outros termos, a relação dialética 
realizada pelo Estado comporta igualmente antagonismos e reciprocidades 
e, por isso, permite que forças desiguais e contraditórias se confrontem e se 
integrem a ponto de cada uma deixar sua marca na outra e ambas 
contribuírem para um resultado final (PEREIRA, 2009, p. 345). 
É nessa relação com a sociedade que o Estado abrange toda a dimensão da 
vida social, indivíduos e classes, assumindo diferentes responsabilidades. Entre elas, 
 
26 
 
a de atender às demandas e reivindicações da sociedade como um todo e não apenas 
de uma classe. Mesmo possuindo um poder coercitivo, o Estado também exerce 
funções protetoras, sendo pressionado e controlado pela sociedade. Pereira (2009) 
ainda afirma que o Estado não é uma entidade desgarrada da sociedade. Ele não é a 
única força organizada e autossuficiente na sociedade e não é um instrumento 
exclusivo da classe dominante. É uma instituição constituída e dividida por interesses 
diversos, que possui a tarefa primordial de administrar tais interesses sem 
neutralidade. O Estado deve se relacionar com todas as classes para se legitimar e 
construir sua base material de sustentação, e não apenas com a classe com que mais 
se identifica. O Estado é a expressão de todas as classes. Embora zele pelos 
interesses da classe dominante, acata outros interesses para manter a classe 
dominada afastada do bloco de poder. Segundo Pereira (2009, p. 346), é 
“relacionando-se com todas as classes que o Estado assume caráter de poder público 
e exerce o controle político e ideológico sobre todas elas [...]”. Se o Estado se exime 
de suas responsabilidades com certos grupos ou classes, pode perder o seu apoio ou 
a sua confiança. Isso abre brechas para a sociedade se organizar autonomamente 
por meio de movimentos. Além disso, isso põe em risco o bloco de poder e possibilita 
o surgimento de poderes paralelos. É por isso que o Estado é, por um lado, uma 
relação de dominação (ou a expressão política da dominação de quem está no poder) 
e, por outro, um conjunto de instituições mediadoras e reguladoras dessa dominação. 
Como você pode notar, o Estado exerce uma forma de controle sobre a 
sociedade, mas também possui a função de protegê-la e está estruturado de forma a 
garantir o seu poder e a sua autonomia. Na atualidade, se vive sob os mandos do 
Estado neoliberal, que interfere de forma parcial na economia e visa a proteger as 
classes mais desfavorecidas por meio de políticas sociais paliativas, ofertando o 
mínimo para sobreviverem. Em tempos de capital, o que se vê é o Estado atuando a 
favor de determinados grupos em vez de cumprir o seu papel de protetor de toda a 
sociedade. 
7 O SERVIÇO SOCIAL E A DIVISÃO DE CLASSES 
Segundo Marx e Engels (2008, p. 8), “A história de todas as sociedades até 
agora tem sido a história das lutas de classe [...]”. A concepção de classe social 
 
27 
 
adotada pelo Serviço Social está fundamentada na teoria social de Marx. Ela parte do 
pressuposto de que nos primórdios do capitalismo havia duas classes fundamentais: 
a dos proprietários e a dos proletários. A primeira detinha os meios de produção e a 
segunda vendia a sua força de trabalho em troca de um salário, que em parte também 
era apropriado pela primeira classe. A divisão da sociedade em classes permite a 
concorrência e a liberdade econômica que geram lucratividade e consumo. Com a 
ascensão da burguesia no período do declínio da sociedade feudal, o antagonismo de 
classes foi ficando cada vez mais aparente. Nesse contexto, as contradições não eram 
eliminadas; pelo contrário, surgiam novas classes e novas condições de opressão. 
Para compreender isso melhor, considere o seguinte: 
A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os 
instrumentos de produção, portanto as relações de produção e, por 
conseguinte, todas as relações sociais. A conservação inalterada dos antigos 
modos de produção era a primeira condição de existência de todas as classes 
industriais anteriores. A transformação contínua da produção, o abalo 
incessante de todo o sistema social, a insegurança e o movimento 
permanente distinguem a época burguesa de todas as demais. As relações 
rígidas e enferrujadas, com suas representações e concepções tradicionais, 
são dissolvidas, e as mais recentes tornam-se antiquadas antes que se 
consolidem. Tudo o que era sólido desmancha no ar, tudo o que era sagrado 
é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade 
sua posição social e suas relações recíprocas (MARX; ENGELS, 2008, p. 14). 
A burguesia expandiu o mercado por meio dos oceanos a fim de que o comércio 
chegasse a todos os cantos do mundo, criando uma interdependência geral entre os 
países. Com o passar do tempo, as duas classes fundamentais foram se 
estratificando, ganhando novas conotações, mas, em suma, se resumem à burguesia 
e ao proletariado. Segundo Marx e Engels (2008, p. 29–30), “[...] a condição essencial 
para a existência e a dominação da classe burguesa é a concentração de riqueza nas 
mãos de particulares, a formação e a multiplicação do capital; a condição de existência 
do capital é o trabalho assalariado [...]”. 
 
28 
 
 
Fonte: mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/classe-social. 
Via de regra, a burguesia (ou classe dominante) não se preocupa em retirar da 
classe proletária o pouco que ela possui. A burguesia utiliza a propriedade privada, a 
apropriação dos meios de produção, a apropriação da riqueza socialmente produzida 
e a extração da mais-valia para manter o seu status quo. Entretanto, no decorrer da 
história, a classe trabalhadora sempre demonstrou o seu descontentamento com a 
condição de vida e de trabalho que lhe foi imposta. Ela tem encontrado nos 
movimentos de oposição uma forma de lutar por seus direitos. Toda luta de classes é, 
portanto, uma luta política (MARX; ENGELS, 2008). Assim, você pode considerar que 
a divisão de classes sociais existe apenas no modo de produção capitalista e que, 
portanto, é produto consolidado da lógica capitalista. Segundo Frederico (2009, p. 1), 
classes sociais “[...]são entendidas como um componente estrutural da sociedade 
capitalista e, ao mesmo tempo, como sujeitos coletivos que têm suas formas de 
consciênciae de atuação determinadas pela dinâmica da sociedade [...]”. Em suma, 
a conformação das classes sociais depende do desenvolvimento da sociedade 
capitalista. Nesse sentido, Duriguetto (2013) destaca a relação orgânica entre a 
sociedade civil e o mundo das relações sociais de produção. É a partir dela que se 
desenvolvem as classes sociais, bem como seus interesses conflitantes, suas 
expressões organizativas, suas formas de consciência e até mesmo a função do 
Estado. A sociedade é uma esfera em que as classes lutam pela hegemonia, e há 
aquelas que transitam na contra hegemonia, buscando aliados, articulando interesses 
e necessidades. O Serviço Social, em seu Código de Ética (CONSELHO FEDERAL 
DE SERVIÇO SOCIAL, 1993), assume o compromisso de atuar juntamente à classe 
 
29 
 
trabalhadora, lutando pelos interesses dos menos favorecidos. O projeto ético-político 
definido no seio da profissão visa ao fortalecimento das lutas a favor da classe 
trabalhadora, o que a leva a fazer alianças com os sujeitos coletivos. 
Percebe-se que aumenta cada vez mais o nível de divisão entre as classes. 
Isso remonta ao conceito de Antunes (2008): “classe que vive do trabalho”. Tal 
conceito exprime e dá relevância àqueles que não têm acesso aos bens produzidos 
pela sociedade, mas que têm no trabalho o motivo da sua existência e da sua 
sobrevivência. Na medida em que o capital vai se complexificando, a divisão de 
classes vai ficando também cada vez mais complexa. O Serviço Social, com base nos 
pressupostos teóricos da profissão, assume a posição política de voltar suas ações 
para a defesa dos direitos da classe trabalhadora. A ideia é fortalecer vínculos, 
estreitar laços com as lideranças dos movimentos e contribuir para a construção de 
sujeitos coletivos, visando à emancipação política dessa classe. Em seu Código de 
Ética, está expressa a “[...] opção por um projeto profissional vinculado ao processo 
de construção de uma nova ordem societária, sem dominação/exploração de classe, 
etnia e gênero [...]” (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2013, p. 24). Além 
disso, está prevista a “[...] articulação com os movimentos de outras categorias 
profissionais que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos 
trabalhadores [...]” (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 1993, p. 24). 
Assim, como evidenciam o Código de Ética do Serviço Social, a lei de 
regulamentação da profissão e o seu projeto ético-político, o Serviço Social serve 
como um mecanismo para a concretização das políticas públicas. Ele atua no 
enfrentamento das manifestações da Questão Social e a favor da classe trabalhadora 
(CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 1993). 
8 O MATERIALISMO HISTÓRICO: CONCEPÇÃO MARXISTA DA HISTÓRIA 
Principais conceitos O pensamento marxista se consolidou em torno do 
materialismo dialético e do materialismo histórico. Esta última terminologia é, em 
geral, a mais empregada para designar a teoria marxista da história. Além disso, 
Barros (2011) chama a atenção para que não se confunda ou se sobreponha 
materialismo histórico e marxismo, que muitas vezes são utilizados como sinônimos. 
Nesse sentido, o autor propõe uma diferenciação entre o marxismo-leninismo, como 
 
30 
 
programa de ação política, e o materialismo histórico, como um paradigma, um 
método e uma abordagem teórica para a compreensão dos processos históricos. O 
materialismo histórico enquanto paradigma foi forjado por Karl Marx (1818–1883) e 
Friedrich Engels (1820–1895) em diálogo com o campo historiográfico e com demais 
produções das ciências humanas realizadas ao longo do século XIX. Suas obras 
reúnem os conceitos e a teoria que sustentam o materialismo histórico. Além disso, 
em diversas análises os autores colocaram em prática essa leitura da realidade. 
Para Barros (2011), o materialismo histórico possui um núcleo conceitual 
mínimo, composto pelas ideias de dialética, de materialismo e de historicidade, além 
de três conceitos incontornáveis (práxis, luta de classes e modo de produção). 
Contudo, outros conceitos também aparecem seguidamente na obra de Marx. A 
seguir, você vai conhecer algumas definições elaboradas a partir do Dicionário de 
Conceitos Históricos (2009). 
 Dialética: é um método de análise, fundamentado na contradição, que 
organiza o raciocínio para a busca da verdade, analisando uma situação 
contraditória de dada realidade. Para comprovar uma tese, o 
investigador usa uma antítese, ou seja, a negação da própria tese 
original. Mas a negação não é suficiente para a compreensão do 
fenômeno investigado, pois toda negação, em si mesma, contém alguma 
positividade (não se pode negar sem afirmar alguma coisa). É preciso 
então aproveitar as contribuições positivas que existem na tese e na 
antítese para se chegar a uma síntese dos dados conseguidos. De forma 
simples, a síntese seria o conjunto de conclusões às quais o investigador 
chega por meio da análise dialética, mas que não se apresenta como 
definitivo, visto que toda realidade está sujeita ao princípio da 
contradição. Começa então uma nova situação em que o movimento 
tese–antítese–síntese ressurge, dando origem a outra situação, que 
pode ser observada pelo movimento tese–antítese–síntese. Marx 
construiu uma dialética em torno da matéria, formulando o materialismo 
dialético em oposição à dialética dos idealistas Hegel e Fichte. 
 Luta de classes: Marx definiu classe social como a posição comum de 
um conjunto de indivíduos no interior das relações sociais de produção. 
Para ele, classe era um grupo social com uma função específica no 
 
31 
 
processo produtivo. Por exemplo, os proprietários de terra, os 
capitalistas e os trabalhadores constituem classes distintas. Cada um 
deles ocupa um lugar específico no processo de produção: alguns 
possuem a terra, outros, o capital; e os trabalhadores, a habilidade de 
trabalho. As diferentes funções dão a cada classe interesses 
conflitantes, além de ideias e maneiras de agir diferentes. A história, por 
sua vez, seria o relato desses conflitos. Nesse sentido, a tradição 
marxista tende a conceituar classe com base no lugar que cada grupo 
ocupa na economia. Os estudos de Marx e Engels estiveram voltados 
principalmente para as estruturas de classe das sociedades capitalistas, 
não dando muita atenção às relações de classe em outras sociedades. 
Por um lado, ao afirmarem que a história de todas as sociedades tinha 
sido até então a história da luta de classes, os autores deram a entender 
que houve classes sociais em vários períodos históricos. Por outro lado, 
defenderam que a classe era uma característica específica das 
sociedades capitalistas. 
 Modos de produção: é uma das formulações do materialismo histórico 
que divide a história (sobretudo a história europeia) em épocas distintas 
e sucessivas. Para Marx, os modos de produção correspondem a 
estágios específicos das forças e relações de produção de dada 
formação social. O modo de produção, em linguagem menos teórica, 
seria o modo pelo qual determinada sociedade organiza a sua vida 
econômica, o trabalho, as estruturas políticas e jurídicas e mesmo as 
manifestações culturais. Todos os aspectos da vida em sociedade 
(desde os aspectos materiais até os mentais) estariam determinados 
pelo modo de produção da vida material. Para o materialismo histórico, 
é a maneira concreta de uma sociedade organizar sua produção que dá 
forma a todo o edifício social existente nela. Os modos de produção 
identificados por Marx correspondem, em linhas gerais, à história do 
mundo europeu, desde as comunidades primitivas até a última fase, o 
comunismo. As seis épocas históricas ou modos de produção 
concebidos por Marx são: comunismo primitivo; sociedade escravocrata 
antiga; feudalismo; capitalismo; socialismo e comunismo. O 
 
32 
 
funcionamento da economia, em cada um desses estágios, apresenta 
níveis de tecnologia e de relações deprodução particulares. 
 Materialidade: para o materialismo dialético, as condições materiais de 
existência (a economia) são o verdadeiro móvel das ações humanas. 
Assim, a dialética seria o método para se perceber e superar as 
contradições sociais e históricas frequentes nas diversas sociedades 
humanas ao longo da história. O pensamento de Marx consiste em partir 
do real (dos homens reais e de suas contradições) e não das ideias ou 
da mente, como faz Hegel. De acordo com o materialismo dialético, o 
desenvolvimento histórico da humanidade não se dá pela sucessão de 
fatos isolados, mas por um processo que envolve movimento e mudança 
(que, por sua vez, implicam contradições). 
 Práxis: a teoria marxista, de profunda inspiração filosófica, trouxe 
inovações para se pensar o homem e o mundo no século XIX. Marx foi 
o primeiro a mostrar que o significado de uma teoria só pode ser 
compreendido em relação à prática histórica correspondente. Uma teoria 
não pode ser pensada e entendida sem correspondência com o contexto 
histórico. Toda teoria deve, portanto, estar enraizada na realidade 
histórica e dizer alguma coisa que possa transformá-la. Dessa forma, 
Marx buscou conciliar reflexão filosófica e prática política, teoria e práxis 
(entendida como a ação humana que transforma o mundo e a si mesma). 
 
33 
 
8.1 A concepção de história de Marx 
 
Fonte: www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/artigos 
O historiador espanhol Pierre Vilar afirmou, certa vez, que muitos se intitulam 
“historiadores marxistas”, mas poucos se dedicam à “[...] estrita aplicação de um 
método de análise teoricamente elaborado para a mais complexa das matérias de 
ciência: as relações sociais entre os homens e as modalidades de suas mudanças” 
(VILAR, 1995, p. 146). Vilar (1995) afirma que Marx se preocupou com a formulação 
de uma ciência: coerente, dotada de um esquema teórico sólido; total, do ponto de 
vista de recobrir a totalidade de uma análise; e dinâmica, passível de ser debatida a 
partir das mudanças que se sucedem. Nesse sentido, os questionamentos levantados 
pelo historiador espanhol são bastante pertinentes para você compreender a 
concepção de história de Marx: teria sido Marx um historiador marxista? Marx desejou 
alguma vez ser historiador, ou tentou alguma vez escrever história? (VILAR, 1995). 
Sem dúvidas, em sua vasta produção, Marx escreveu “história” tal como é 
concebida nos dias de hoje, mas talvez não como era entendida naquele momento, 
em que o campo recém começava a ganhar contornos disciplinares. Seu “raciocínio 
histórico” ia da teoria à empiria e vice-versa, questão que foi colocada pela 
historiografia apenas na década de 1960. Em seus trabalhos sobre a França, segundo 
Vilar (1995), é possível encontrar, além da “aplicabilidade” da leitura da sociedade 
 
34 
 
francesa por meio do materialismo histórico, questões fundamentais para a história, 
como reflexões sobre as estruturas da sociedade e as noções de atualidades e de 
acontecimentos. Entretanto, Hobsbawm (1998, p. 172–173) adverte que esses 
trabalhos não podem ser considerados “históricos”: 
O desenvolvimento dessa influência de Marx na literatura histórica não é 
evidente por si mesma, pois, embora a concepção materialista da história seja 
o cerne do marxismo e embora tudo o que Marx escreveu esteja impregnado 
de história, ele próprio não escreveu muita história tal como os historiadores 
a entendem. Nesse sentido, Engels era mais historiador, escrevendo mais 
obras que poderiam ser razoavelmente catalogadas nas bibliotecas como 
“história”. [...] O que chamamos de escritos históricos de Marx consistem 
quase exclusivamente de análise política corriqueira e comentários 
jornalísticos, associados a um certo grau de contexto histórico. Suas análises 
políticas usuais, como Lutas de classes na França e O 18 Brumário de Luís 
Bonaparte, são realmente notáveis. Seus volumosos escritos jornalísticos, 
ainda que de interesse irregular, contêm análises do maior interesse — entre 
os quais seus artigos sobre a Índia — e, em todo caso, são exemplos de como 
Marx aplicava seu método a problemas concretos, tanto de história quanto de 
um período que depois se converteu em história. Mas não eram escritos como 
história, tal como a entendem aqueles que se dedicam ao estudo do passado. 
Por fim, o estudo de Marx sobre o capitalismo contém uma quantidade 
enorme de material histórico, exemplos históricos e outros materiais 
relevantes para o historiador. 
Aqui reside uma das grandes diferenças entre a obra de Marx e a daqueles que 
se apropriaram dela para conformar o marxismo dogmático: Marx valorava muito a 
“fase de investigação” de suas pesquisas, ou seja, a empiria possuía uma importância 
muito grande. Assim, a utilização de seu arcabouço conceitual e teórico como uma 
“doutrina” é um reducionismo de seu método de análise, pois a empiria está 
diretamente em diálogo com as fontes utilizadas por Marx (VILAR, 1995). A 
explicitação desse método não está contida em sua obra, mas é realizada por seus 
comentadores. Contudo, Marx inaugurou uma leitura da realidade que ele chamava 
de sócio histórica, encontrando nas contradições sociais, nas lutas de classe e nos 
modos de produção uma interpretação sobre as sociedades. 
Assim, o conceito fundamental para compreender a interpretação de história de 
Marx é o conceito de modo de produção enquanto estrutura determinada e 
determinante das relações sociais. De acordo com Vilar (1995, p. 155), a originalidade 
dessa formulação assenta-se em três pontos: 
Mas sua originalidade não é a de ser um objeto teórico. É a de ter sido, e 
continuar sendo, o primeiro objeto teórico a exprimir um todo especial, 
enquanto os primeiros esboços de teoria, nas ciências humanas, se limitavam 
ao econômico e tinham visto nas relações sociais dados imutáveis (a 
propriedade da terra para os fisiocratas) ou condições ideais a serem 
 
35 
 
preenchidas (liberdade e igualdade jurídicas para os liberais). A segunda 
originalidade, como objeto teórico, do modo de produção é ser uma estrutura 
de funcionamento e de desenvolvimento, nem formal nem estática. A terceira 
é que essa estrutura implica o princípio (econômico) da contradição (social), 
contudo a necessidade de sua destruição como estrutura, de sua 
desestruturação. 
Para analisar, na prática, a compreensão de Marx sobre a história, leia, a 
seguir, um trecho de O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, que hoje pode ser 
considerada uma obra de história do tempo presente, já que Marx a escreveu no calor 
dos acontecimentos: 
Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua 
livre vontade; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob 
aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo 
passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo 
o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem empenhados em 
revolucionar- -se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, 
precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram 
ansiosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomando-lhes 
emprestado os nomes, os gritos de guerra e as roupagens, a fim de 
apresentar nessa linguagem emprestada. Assim, Lutero adotou a máscara do 
apóstolo Paulo, a Revolução de 1789–1814 vestiu-se alternadamente como 
a república romana e como o império romano, e a Revolução de 1848 não 
soube fazer nada melhor do que parodiar ora 1789, ora a tradição 
revolucionária de 1793–1795. De maneira idêntica, o principiante que 
aprende um novo idioma traduz sempre as palavras deste idioma para sua 
língua natal; mas só quando puder manejá-lo sem apelar para o passado e 
esquecer sua própria língua no emprego da nova terá assimilado o espírito 
desta última e poderá produzir livremente nela (MARX, 2003, p. 7). 
Barros (2011, p. 91) interpretou da seguinte forma o trecho anterior de Marx: 
A história [...] mostra suasduas facetas: aquilo que se impõe sobre os 
homens a partir de condições objetivas herdadas das gerações anteriores, e 
aquilo que vai sendo transformado por sua ação, por seu confronto através 
das lutas sociais. A história é para ele espaço de aprisionamentos e de 
liberdades. Há épocas em que a história parece se impor tiranicamente sobre 
esses homens, deixando-lhes margens estreitas, no interior das quais, 
contudo, eles se movimentam; e há épocas em que esses mesmos homens 
parecem tomar para si a tarefa de revolucionar seus destinos. 
Essas ideias são retomadas por Marx em outra obra, A Ideologia Alemã: 
A história nada mais é do que a sucessão das diferentes gerações, cada uma 
das quais explora os materiais, capitais e as forças de produção a ela 
transmitidos pelas gerações anteriores; ou seja, de um lado prossegue em 
condições completamente diferentes a atividade precedente, enquanto de 
outro lado modifica as circunstâncias através de uma atividade totalmente 
diferente (MARX, 2001, p. 70). 
 
36 
 
8.2 O que os historiadores devem a Karl Marx? 
O título desta seção também é o título de um artigo escrito por Eric Hobsbawm 
em que o historiador avalia a contribuição da obra de Marx para a história. De acordo 
com Hobsbawm, Marx rompe com as práticas historiográficas hegemônicas do século 
XIX, dedicadas ao estudo da diplomacia e do político, das guerras e dos grandes 
líderes. Ao proporem que a história é a história da luta de classes ou que é a história 
dos modos de produção, Marx e Engels sugeriam uma inversão da perspectiva de 
análise, deslocando os interesses para as bases econômico-sociais das sociedades. 
Para Hobsbawm (1998), é necessário separar o que foi a contribuição de Marx 
para a historiografia do que ele chamou de “marxismo vulgar”, uma apropriação sem 
critérios de algumas ideias do pensamento do filósofo alemão. Segundo o autor 
britânico, o “marxismo vulgar” pode ser compreendido como: 
1. A “interpretação econômica da história”, ou seja, a crença de que “o fator 
econômico é o fator fundamental do qual dependem os demais”; e, mais 
especificamente, do qual dependiam fenômenos até então não 
considerados com muita relação com questões econômicas. Nesse 
sentido, essa interpretação se superpunha ao 
2. Modelo da “base e superestrutura” (utilizado mais amplamente para 
explicar a história das ideias). A despeito das próprias advertências de 
Marx e Engels e das observações sofisticadas de alguns marxistas, esse 
modelo era usualmente interpretado como uma simples relação de 
dominância e dependência entre a “base econômica” e a 
“superestrutura”, na maioria das vezes mediada pelo 
3. “Interesse de classe e a luta de classes”. Tem-se a impressão de que 
diversos historiadores marxistas vulgares não liam muito além da 
primeira página do Manifesto Comunista, e da frase: “a história [escrita] 
de todas as sociedades até agora existentes é a história das lutas de 
classes”. 
4. “Leis históricas e inevitabilidade histórica”. Acreditava-se, 
acertadamente, que Marx insistira sobre um desenvolvimento sistemático 
e necessário da sociedade humana na história, a partir do qual o 
contingente era em grande parte excluído, de qualquer maneira, ao nível 
de generalização sobre os movimentos de longo prazo. Daí a constante 
preocupação nos escritos históricos dos primeiros marxistas com 
problemas como o papel do indivíduo ou do acidente na história. Por outro 
lado, isso podia ser — e em grande parte era — interpretado como uma 
regularidade rígida e imposta, como, por exemplo, na sucessão das 
formações socioeconômicas, ou mesmo como um determinismo 
mecânico que às vezes se aproximava da sugestão de que não havia 
alternativas na história. 
5. Temas específicos de investigações históricas derivavam dos próprios 
interesses de Marx, por exemplo, na história do desenvolvimento 
capitalista e da industrialização, mas também, por vezes, de comentários 
mais ou menos casuais. 
6. Temas específicos de investigação não derivavam tanto de Marx 
quanto do interesse dos movimentos associados a sua teoria, por 
exemplo, nas agitações das classes oprimidas (camponeses, operários), 
ou nas revoluções. 
 
37 
 
7. Várias observações sobre a natureza e limites da historiografia 
derivavam principalmente do elemento número 2 e serviam para explicar 
as motivações e métodos de historiadores que afirmavam não estarem 
fazendo mais que a busca imparcial da verdade [...] (HOBSBAWM, 1998, 
documento on-line). 
Para Hobsbawm (1998), a contribuição de Marx para a historiografia residiria, 
então, em outro âmbito, não nesse do “marxismo vulgar”. O marxismo não seria a 
única teoria estrutural-funcionalista da sociedade, embora possa ser considerada a 
primeira delas. Ele é distinto de grande parte das outras teorias de duas formas. 
Primeiro, porque hierarquiza os fenômenos sociais (tais como infraestrutura e 
superestrutura). Depois, porque afirma que toda sociedade vive tensões internas 
(contradições) que se contrapõem à tendência do sistema de se manter como um 
interesse vigente. Ainda de acordo com Hobsbawm (1998), a relevância desses 
aspectos do marxismo se relaciona ao campo da história. Afinal, são tais aspectos 
que permitem explicar por que de que maneira as sociedades se alteram, ou seja, os 
fatos da evolução social. Portanto, de acordo com o historiador, a força de Marx está 
em sua insistência tanto na existência da estrutura social quanto na sua historicidade. 
Atualmente, afirma Hobsbawm (1998, documento on-line), “[...] quando a existência 
de sistemas sociais é geralmente aceita, mas à custa de sua análise a-histórica, 
quando não anti-histórica, a ênfase de Marx na história como dimensão necessária 
talvez seja mais essencial do que nunca”. Assim, como você pode notar, a influência 
de Marx sobre os historiadores, e não somente os historiadores marxistas, deu-se não 
apenas pela concepção materialista da história, mas também em relação a suas 
observações sobre aspectos, períodos e problemas específicos do passado. É 
importante, dessa forma, não cometer o erro de compreender o pensamento de Marx 
a partir de fórmulas concisas que foram popularizadas e frequentemente aceitas como 
um “resumo” da teoria marxista. 
8.3 A influência de Marx na historiografia brasileira 
De acordo com os historiadores Malerba e Jesus (2016), existem alguns 
indícios da presença do pensamento de Marx em materiais produzidos no Brasil desde 
o final do século XIX. Porém, sua influência se tornou notória nas primeiras décadas 
do século XX. Primeiramente, a obra de Marx foi utilizada como um corpo doutrinário 
que orientou o ativismo político e funcionou como uma inspiração teórica para 
 
38 
 
reflexões sobre a sociedade, com influências nas ciências humanas e sociais. No 
Brasil, a virada do século XIX para o XX, mais precisamente a década de 1930, 
representa um momento de elaboração de muitas análises que problematizavam a 
realidade nacional. Veja o que afirmam Malerba e Jesus (2016, p. 144): 
Neste período decisivo da história brasileira, jovens ativistas e intelectuais de 
esquerda que se destacariam como protagonistas do pensamento político e 
acadêmico nas décadas seguintes estiveram envolvidos em uma atmosfera 
de mudança coletiva quanto à sua percepção sobre o país e, especialmente, 
na forma como avaliaram o papel do Brasil no cenário geopolítico global. A 
partir de tais diagnósticos, eles produziram diferentes projetos para o futuro 
do país. 
No conjunto desses pensadores, destaca-se Caio Prado Júnior (1907–1990), a 
quem pode ser atribuído o título de “[...] fundador da historiografia marxista no Brasil” 
(MALERBA; JESUS, 2016, p. 143). Na impossibilidade de abarcar aqui todos os 
historiadores marxistas brasileiros e os debates desenvolvidos por eles, a seguir você 
vai conhecer melhor a produção de Caio Prado Júnior e o debate empreendido por 
ele sobre o “sentido” da colonização no Brasil. Contudo, você deve ter

Continue navegando