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O que é ciência

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O que é ciência?
Thaumadzein é a esfera do espanto diante de algo que não sabemos o que é.
Doxadzein é a esfera das opiniões.
A ciência é a necessidade de uma outra esfera e não da Doxadzein e Thaumadzein.
Ciência = Epistheme é a esfera da ciência (a busca por um conhecimento SEGURO)
Mas, a Thaumadzein e Doxadzein é importante para a ciência.
Animais não conseguem pensar e não pode pensar sobre suas experiencias. Já, nós, conseguimos pensar sobre as nossas experiencias, assim, fazendo decisões.
senso comum e conhecimento científico
senso comum
senso: capacidade de julgar em geral. Capacidade de emitir juízo (ato de decidir, julgar, sobre algo).
kant, juízo sintético e analítico
Kant distingue (veja abaixo) a) juízo sintético, que amplia o conhecimento, e b) juízo analítico, que não o amplia:
(a) Dada uma proposição, seu predicado acrescenta algo à compreensão do sujeito. Proposição: enunciado do tipo “sujeito + verbo + predicado”; é uma “frase” que pode ser declarada verdadeira ou falsa. Divide-se em:
(a1) a priori: o acréscimo de conhecimento acerca do sujeito, que é fornecido pelo predicado, é necessário, universal, independe da experiência;
(a2) a posteriori: o acréscimo de conhecimento acerca do sujeito, que é fornecido pelo predicado, deriva da experiência; é, portanto, contingente e não universal.
(b) Proposição em que o predicado já está de certa forma contido no conceito do sujeito, por exemplo, “corpos são extensos”, onde o predicado “extenso” já está incluído no conceito de “corpo”. Esses juízos são necessários e universais, ou seja, independe da experiência, porque decorrem diretamente do princípio da não contradição. Mas nada acrescentam ao nosso conhecimento.
Senso comum é um juízo (afirmação de algo como verdadeiro) compartilhado, corrente e aceito por certo meio social. Kant: o “considerar-algo-verdadeiro” é evento do entendimento, que exige causas objetivas na mente de quem julga, a saber (em três graus de suficiência, segundo um critério objetivo e outro subjetivo) a) opinar, b) crer e c) saber.
(a), opinar, é subjetiva e objetivamente insuficiente;
(b), crer, é subjetivamente suficiente e objetivamente insuficiente;
(c), saber, é objetiva e subjetivamente suficiente; contém convicção (suficiência subjetiva, para mim) e certeza (suficiência objetiva, para qualquer pessoa).
Para os latinos senso comum era gosto, costume, modo comum de viver ou falar.
Cícero: “na eloquência, o erro mais terrível que pode ser cometido é desviar-se ... do senso comum”. Thomas Reid considerava o senso comum o fundamento de toda filosofia argumentativa.
características do senso comum
características do senso comum: a) subjetividade, b) qualidade (baseia-se na observação direta), c) heterogeneidade (saber provável), d) generalização (por indução de causa e efeito).
senso comum vs. conhecimento científico
hume e o problema da indução
Hume e o problema da indução: o argumento que sustenta o princípio de indução é o próprio princípio de indução: como o princípio da indução se mostrou bem sucedido em diversos casos, por indução dizemos que ele será bem sucedido em outros ou todos. É um argumento circular.
características do conhecimento científico: a) objetivo (busca estruturas universais e necessárias das coisas), b) quantitativo (busca critérios de comparação entre coisas que parecem diferentes) c) homogêneo (busca leis gerais), d) generalizante (reúne individualidades sob as mesmas leis ou padrões), e) diferenciador (distingue os que parecem iguais), f) causal (estabelece relações causais).
A ciência é uma atividade intelectual-experimental, usa métodos que separam os elementos subjetivos e objetivos de um fenômeno, e constrói o fenômeno como um objeto do conhecimento controlável, verificável, interpretável e retificável por nova prova. Usa o rigor para relacionar fatos numa explicação racional unificada.
Teoria (seria o mesmo que modelo teórico?): conjunto sistemático de conceitos que explica e interpreta relações de a) causas e efeitos, b) identidade e diferença, c) dependência, entre os objetos do campo estudado.
concepção de ciência nas idades antiga e medieval
idade antiga
Pré-socráticos
Ciência, para os gregos, era conhecimento verdadeiro. Ter ciência era conhecer a verdade de algo. Questões, para eles, eram
1. discriminar conhecimento verdadeiro de não verdadeiro
2. descobrir os limites do conhecimento (o que podemos conhecer?)
3. descobrir como se dá o acesso ao conhecimento (como chegamos a conhecer?)
parmênides
Parmênides: distingue verdade de aparência, conhecimento e crença. O caminho da verdade está ligado à teoria do ser, e o da crença às aparências. “O ser é ingênito, indestrutível, pois é compacto, inabalável e sem fim, não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo”. “O mesmo é pensar e ser”. As aparências só parecem ser. Não podemos conhecer o que não é, o não-ser não é dizível nem pensável. O não-ser é o vir-a-ser (geração) e o deixar de ser (corrupção).
demócrito
Demócrito. Materialismo atomista. Átomos são infinitamente pequenos e se movimentam no infinito vazio. Eles nos afetam, mas nossas percepções não nos apresentam o mundo pelos átomos, e sim nos oferecem os sentidos das cores, odores, texturas, sons e sabores, propriedades que os átomos não têm. Assim, há um hiato entre o que percebemos (as aparências) e as coisas como são. O que conhecemos sobre a verdade (as propriedades dos átomos) se faz por analogia ao que percebemos. O conhecimento é mediado pelo intelecto e não pelas percepções. As percepções sensórias conduzem apenas à crença, não à verdade. Ceticismo: não existe verdade, ou não podemos descobri-la.
Criticado por Aristóteles: “Uma coisa pode parecer doce a quem a prova e amarga a outro; de modo que, se todos os homens estivessem doentes ou loucos, exceto dois ou três saudáveis ou sãos, estes pareceriam estar doentes ou loucos, e não aqueles outros” (Aristóteles).
protágoras
Protágoras: subjetividade, em vez de ceticismo. Homem medida de todas as coisas. Todas as crenças são verdadeiras, mas possuem só uma verdade relativa. Mas o sábio é capaz de modificar para melhor as percepções, que serão, então, melhores, mas nem assim mais verdadeiras que as demais.
Sócrates
maiêutica e aporias
Sócrates: nascimento não é geração, a parteira (de ideias) não gera, ajuda a nascer o que já está pronto para vir à luz. Método socrático: elenchus. Diálogos que terminam em aporia (incoerência ou dificuldade). Teeteto: o conhecimento não está nas sensações, mas no raciocínio sobre elas. Impossível alcançar a verdade pelos sentidos, mas possível pela razão. Opiniões acidentalmente verdadeiras não são ciência (conhecimento?). Conhecimento (ciência?) é opinião verdadeira justificada? Parece que não, conforme a “teoria do sonho” (?). Conclui rejeitando três conceitos de logos: a) discurso ou enunciado, b) enumeração dos elementos de x, c) indicação do “semêion” ou diáfora, isto é, sinal ou característica diagnóstica em que x difere de qualquer outra coisa.
Platão
Platão, temática dos diálogos: [2]
1. da fase socrática: a) Laques, coragem; b) Cármines, temperança; c) Lísis, da amizade; d) Hípias maior, beleza; e) Hípias menor, ações condenáveis; f) Íon, poética; g) Eutífron, piedade (santidade); h) Críton, obrigação de obedecer.
2. da fase madura: teoria das ideias, Mênon, Simpósio, Fedro, República), Górgias (sobre retórica), Protágoras (virtude e conhecimento são o mesmo), Crátilo (sobre a linguagem), Fédon (sobre a imortalidade da alma).
3. da fase tardia: a) conhecimento (Parmênides, Sofista) e b) política (As Leis, Político), c) cosmologia (Timeu), d) relação entre prazer e bem (Filebo).
Teoria das ideias. Ser humano faz parte de nosso ser. Aquilo que se refere a homem, chamamos humanidade, ou a ideia (ou forma) de homem. Cinco subteses:
1. Sempre que vários x sejam P, é porque participam (ou imitam) a ideia única de P.
2. Nenhuma ideia participa de si mesma ou imita a si mesma.
3. A ideia de P é P, e nada senão isso.
4. Nada além da ideia de Pé verdadeira e completamente P.
5. Ideias não existem no espaço e no tempo, não tem partes, não mudam, não são captáveis pelos sentidos.
Aristóteles critica a teoria das ideias no argumento do terceiro homem.
Platão tentou conciliar, na epistemologia, dois sistemas antagônicos, o de Parmênides (intelecto pode atingir conhecimento verdadeiro, mas os sentidos não) e o de Heráclito (não podemos atingir conhecimento verdadeiro porque nós e o mundo estamos em permanente mudança (geração e corrupção). Para essa conciliação, dividiu o mundo em dois, o das ideias (perfeitas, imutáveis, constantes, acessíveis à razão e fornecedoras do conhecimento verdadeiro) e o dos sentidos (imperfeito, mutante, corruptível, transitório, território da pura opinião).
Cinco elementos ou condições para conhecermos algo:
1. o nome
2. a definição, um composto de substantivos e verbos
3. a imagem, o desenho que traçamos, e que tem fim
4. o conhecimento em si mesmo: o entendimento e a opinião verdadeira relativa ao objeto; eles estão em nossas mentes, e não nos sons proferidos ou nas formas materiais: são coisas distintas do objeto, do nome, da definição e também da imagem; o entendimento é o que há de mais próximo do quinto elemento, por afinidade e semelhança;
5. aquilo que é conhecível e verdadeiramente real (o “quinto elemento”)
teoria da reminiscência
Teoria da reminiscência: a Alma é da mesma natureza das ideias, e habitava, antes da Queda, o Hiperurânio (o mundo das ideias). Caída no mundo das aparências, a alma re-conhece os arquétipos ao vislumbrá-los nas “coisas da experiência” sensível.
Aristóteles
silogismo
Aristóteles. Silogismo: ciência pela causa: para algo ser considerado conhecimento científico é preciso conhecer sua causa necessária (e não por concomitância, como os sofistas). O conhecimento científico é obtido por demnstração, isto é, na transição das premissas até à conclusão por um silogismo.
Há dois tipos de demonstração (ou silogismos), (a) do tipo “que é” e (b) do tipo “por que é”.
Aristóteles não era tão contrário à empiria quanto alguns seguidores (ao contrário do que se pensa). É que, quando seus livros foram redescobertos, árabes e cristãos que os leram eram de sociedades literatas, adeptos de “religiões do livro”, daí que trataram as obras de Aristóteles como livros sagrados (137).
idade medieval
Agostinho
Agostinho de Hipona (354-430). Influenciado por Platão e Plotino (neoplatonismo). Platão cristianizado. Teoria da iluminação divina.
Tipos de verdades:
(a) lógicas (irrefutáveis, por exemplo princípio do terceiro excluído)
(b) a respeito de fenômenos imediatos (percepções imediatas), irrefutáveis (por exemplo “sei que este livro é branco”) [3]
(c) matemáticas (regras interiores da verdade)
(d) conhecimento das essências
Dessas, (c) e (d) não podem vir dos sentidos (“A pura verdade não pode vir dos sentidos do corpo”). São razões incorpóreas e eternas (equivalentes às “realidades inteligíveis” de Platão); superiores à razão humana, mas ligadas a ela. Localizam-se na mente divina, isto é, existem exclusivamente na mente de Deus.
Teoria da iluminação divina: metáfora do “olho da razão”; Deus é a fonte primária e sua luz nos permite enxergar, como a lâmpada de um projetor
Boaventura
Boaventura de Bagnoregio. Teoria da iluminação divina modificada. Busca resposta ao problema: “se vemos verdades que estão na mente de Deus, porque não o vemos?” Causas do conhecimento:
	causa
	elemento
	função
	material
	intelecto passivo (dentro da alma individual)
	recebe o conhecimento
	eficiente
	agente individual do intelecto
	abstrai o conhecimento a partir das sensações
	formal
	essência da criatura individual conhecida
	para que a criatura seja “o que” conhecemos (?)
	final
	verdades epistemológicas
	(?)
	eterna
	ideia divina da verdade (conhecimento daquela verdade em todas as suas instâncias atuais e todos os seus potenciais
	intuição de verdades universais, necessárias e certas
A certeza requer iluminação divina mas os outros tipos de conhecimento humano (abstração, universalidade e correspondência) advém de causas criadas.
Aquino
Tomás de Aquino (1225-1274). Também adota teoria da iluminação divina. “o intelecto fornece luz que transforma objetos pensáveis em potência no mundo em objetos pensáveis em ato na mente”.
Diferença: para ^^ o intelecto agente é faculdade individual natural humana, é algo na alma humana:
a. nega influência divina constante nas operações do intelecto humano
b. a iluminação natural não precisa de iluminação adjunta
c. diverge de Boaventura / Agostinho, para quem é necessária uma agência externa de uma entidade supranatural sobre a mente humana
d. diferença está no modo de transmissão do conhecimento: para ^^ o conhecimento é dado (participado?) todo de uma vez, de início; para os demais a iluminação é um processo contínuo.
O intelecto agente reconhece imutavelmente a verdade nas coisas mutáveis (distingue a coisa própria de sua aparência).
Duas ideias radicais: a) homem não tem ideias divinas como objeto de cognição, b) a iluminação divina é insuficiente sem os sentidos.
Conhecimento pressupõe Deus como primeiro motor. A luz intelectual é uma certeza semelhante à da luz não criada e é obtida por participação.
Não há conhecimento inato, inata é a capacidade de reconhecer as verdades. Essa capacidade está nas concepções naturais primeiras, sementes de todas as coisas que conhecemos depois. Conceitos universais (como a princípio da não contradição), reconhecidos de imediato pela luz do intelecto agente, medeiam a recepção de todo conhecimento. Por meio desses princípios universais julgamos sobre outras coisas.
Duns Scotus
Duns Scotus (1266-1308). Influenciado por Agostinho e Platão, contra Tomás de Aquino. Homem tem conhecimento obscuro e incompleto do indivíduo, causando conhecimento turvo dos universais.
a ideia é objeto imediato do conhecimento
Concorda com Aquino nisto: conhecimento envolve presença de uma representação (presença de uma espécie ou ideia) do objeto na mente. Mas diverge nisto: para Aquino essa ideia está na capacidade do intelecto agente, e para ^^ a ideia é objeto imediato do conhecimento
Para Aquino o objeto do intelecto está presente na mente porque é um universal, que só existe na mente. Para ^^ a brancura da parede não pode estar no olho nem na mente, que só comportam uma representação daquela brancura (“modelo de consciência sensorial”).
Admite espécies diferentes de conhecimento:
(a) conhecimento intuitivo: imaginação (faculdade sensorial; conhecimento sensorial): de coisas conhecidas na medida em que está presente em sua existência; divide-se:
(a1) perfeito: de um objeto existente presente
(a2) imperfeito: de um objeto que existe como futuro ou passado
(b) conhecimento abstrativo ou cognição abstrativa (conhecimento intelectual): que está no intelecto porque ele abstrai de toda existência.
O conhecimento abstrativo não versa só sobre verdades abstratas, porque é conhecimento da essência de um objeto, sem levar em conta se o objeto existe. As essências incluem essências individuais. Isso parece dizer que poderíamos ter conhecimento de P sem que P seja o caso (exista).
Occam
Guilherme de Occam (1288-1347). Nominalismo. Objetos da apreensão são a) termos e b) proposições simples.
Podemos ter um pensamento complexo sem fazer juízo dele, mas não podemos fazer juízo sem apreendermos o conteúdo do juízo. Logo, conhecimento envolve a) apreensão E b) juízo dos termos simples que entram no pensamento complexo.
O conhecimento de um termo simples pode ser:
(a) abstrativo: conhecimento da essência (independe da existência e das propriedades contingentes do objeto); não pode conhecer verdades contingentes ; divide-se:
(a1) sensorial: refere-se só aos sentidos
(a2) intelectual: refere-se a verdades contingentes que só existem em torno de nossa mente (nossos pensamentos, emoções, prazeres e dores), e não são perceptíveis pelos sentidos
(a2) intelectual: refere-se a verdades contingentes que só existem em torno de nossa mente (nossospensamentos, emoções, prazeres e dores), e não são perceptíveis pelos sentidos
(b) intuitivo: conhecimento da existência do objeto; só este tipo de conhecimento pode conhecer verdades contingentes

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