Buscar

Fundamentos Socioantropológicos da Educação

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 76 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 76 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 76 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DEFINIÇÃO
Apresentação de linhas de Ciências Sociais aplicadas à Educação por intermédio do professor,
com o uso do conhecimento sociológico e antropológico em seu cotidiano.
PROPÓSITO
Oferecer instrumentos teóricos, por meio da Antropologia e da Sociologia, que permitam a
reflexão sobre Educação, práticas docentes e cotidiano escolar.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar as principais linhas sociológicas aplicadas à Educação
MÓDULO 2
Relacionar a Escola com alguns conceitos fundamentais da Antropologia
MÓDULO 3
Identificar a relação entre Educação e Ciências Sociais no cotidiano escolar
INTRODUÇÃO
QUEM É VOCÊ? COMO FUNCIONA SUA SOCIEDADE?
QUAIS SÃO AS REGRAS DOS AMBIENTES EM QUE VOCÊ
CONVIVE?
Em um antigo comercial, o exercício do conhecimento era definido como: “não são as
respostas que movem o mundo. São as perguntas”. Essa provocação vai guiar nosso
estudo.
Quando convivemos, podemos vivenciar o espaço social de forma recorrente, mas tendemos a
não pensar sobre ele. Geralmente, não refletimos sobre como foram definidas suas regras e
como alguns comportamentos passaram a ser naturalizados ou negados. Ao estudar sobre as
sociedades, somos provocados a perceber que todo o palco de relações humanas é composto
por construções sociais.
Neste tema, analisaremos como o conhecimento sobre as Ciências Sociais pode ser
fundamental para compreender o que representa a Escola, sua relação com a Educação e a
javascript:void(0)
javascript:void(0)
dinâmica de como o professor, ao se instrumentalizar com conceitos desse campo, torna-se
mais bem preparado para a atuação docente.
NÃO SÃO AS RESPOSTAS QUE MOVEM O
MUNDO. SÃO AS PERGUNTAS
Campanha publicitária do Canal Futura sobre o filme Perguntas.
CONSTRUÇÃO SOCIAL
Compreendida como a ideia de que uma composição social não é algo natural, mas
organizada, pensada, “criada” no limite pelo conjunto das interações humanas.
MÓDULO 1
 Identificar as principais linhas sociológicas aplicadas à Educação
 Fonte: BlurryMe | Shutterstock
Dividimos a construção deste módulo em duas partes: conheceremos a história e depois
apresentaremos os principais conceitos da Sociologia, sempre relacionando-os com a
Educação. Vamos lá!
Assista ao vídeo que aborda a importância de Ciências Sociais para a Educação – com um
olhar especial para Durkheim, Weber e Marx.
SOCIOLOGIA: O CONTEXTO HISTÓRICO DO
NASCIMENTO DA NOVA CIÊNCIA
A Sociologia é uma ciência relativamente nova – do século XIX – e surgiu em um contexto de
intensas transformações na sociedade. Para conhecermos as origens da Sociologia, é
necessário considerarmos alguns fatores históricos que desencadearam a construção dessa
nova proposta científica de análise e compreensão da sociedade.
1
RENASCIMENTO
SÉCULOS XV A XVI
Movimento intelectual que propunha romper com as tradições intelectuais medievais,
retomando ideias do mundo grego.
MERCANTILISMO
SÉCULOS XVI A XVIII
Estrutura econômica que fortalecia o papel dos governos na economia, provocando acúmulo
de capital.
2
3
ILUMINISMO
SÉCULOS XVII A XIX
Movimento filosófico que se propunha a questões sobre o funcionamento social, debates
abordando formas políticas, sociais e econômicas.
REVOLUÇÃO FRANCESA
SÉCULOS XVIII A XIX
Marco de ruptura burguesa assumindo o poder. Tem reflexos nas independências das Américas
e na mudança de sistemas políticos e econômicos por toda a Europa, consolidando o
pensamento iluminista como símbolo de um novo mundo.
4
Cada um desses movimentos faz parte do processo de construção e reconstrução do olhar do
homem sobre si mesmo e sobre o mundo que o cerca.
O Renascimento marcou a entrada da Europa, até então medieval, na Idade Moderna, com o
resgate de referências da Antiguidade Clássica em diversas esferas da cultura e da sociedade:
Artes, Ciência e Filosofia.
A partir dessa revalorização dos elementos da Antiguidade Clássica, o período renascentista foi
responsável pela valorização do conhecimento humano advindo da razão e consequente
separação dos dogmas religiosos.
O Mercantilismo trouxe mudanças nas relações econômicas e comerciais não apenas na
Europa como em todo o mundo. Essa prática representou rápido desenvolvimento econômico
para o continente europeu. A partir da Expansão Marítima, o poder econômico e comercial do
continente se intensificou com a exploração de territórios, povos, rotas comerciais.
O Iluminismo, período entre o final do século XVII e início do século XVIII, foi marcado pelos
esforços do homem em analisar a sociedade em que vive sob um novo viés: o científico.
Vieram à tona os avanços e comprometimentos do homem em relação ao estudo de seus
modos de vida a partir da Ciência, da pesquisa e do debate – iniciados no Renascimento.
javascript:void(0)
ILUMINISMO
Seus pensadores, filósofos e economistas se entendiam como propagadores da luz
justamente pelo compromisso com o conhecimento e sua difusão – daí vem o termo
Iluminismo.
A PARTIR DO ILUMINISMO, OCORREU A PRINCIPAL MUDANÇA
DE PERSPECTIVA SOBRE O HOMEM E SEU PAPEL NA
SOCIEDADE: A PROPAGAÇÃO DO IDEAL DE IGUALDADE
ENTRE OS HOMENS.
O Iluminismo foi um movimento cultural que surgiu, principalmente, na Inglaterra, Holanda e
França e que pode ser definido pela defesa de que o pensamento racional deveria substituir o
misticismo e os dogmas da Igreja.
Os novos moldes de pensamento sobre a vida e a sociedade revelavam os anseios da
burguesia crescente e a tendência de rompimento com as estruturas do Antigo Regime.
Muitas ideias que surgiram nesse período fazem parte das bases que utilizamos atualmente
para pensar sobre o mundo ao nosso redor.
A partir desses elementos, podemos afirmar que o movimento defendia:
Antropocentrismo: o homem era o centro do universo
Valorização da investigação e do questionamento como formas de construção do
conhecimento em todas as áreas – natureza, política, sociedade e economia
Crença nos direitos
Liberdade econômica
Predomínio da classe burguesa
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
A Revolução Francesa tem destaque quando nos propomos a analisar o contexto histórico do
surgimento da Sociologia. A Revolução, que derrubou o Antigo Regime, possuía como base a
rejeição ao modelo de governo da monarquia e sua manutenção de poder justificado pela
vontade divina. Assim, os ideais defendidos pelos revolucionários estavam alinhados com as
novas propostas de pensar o mundo e a sociedade.
Nesse contexto, surgiu a Sociologia, apesar de ainda não ser compreendida como ciência.
Nasceu com Auguste Comte e o Positivismo, buscando uma forma de enxergar a sociedade
que ajudasse a trazer estabilidade nos campos da política, da economia e da sociedade.
AUGUSTE COMTE
Auguste Comte (1798-1857) foi um pensador francês cujas ideias deram forma à corrente
filosófica do Positivismo.
POSITIVISMO
Sistema filosófico elaborado por Comte, baseado na ideia de que a cultura e a sociedade
passam por três estados: o teológico, o metafísico e o positivo.
Para Comte, a maturidade e as ciências surgem no terceiro estágio. A etapa positiva
corresponde, então, às ciências positivas, que deveriam ser a base ou os princípios da
organização científica da sociedade. No positivismo, há uma valorização da experiência
sensível (os fatos “positivos”) como principal fonte do conhecimento.
javascript:void(0)
javascript:void(0)
QUAL O SENTIDO DESSA
HISTÓRIA?
Essa perspectiva histórica levará você a perceber que as sociedades humanas se tornaram
cada vez mais complexas e, na transição do século XIX para o XX, isso estava muito claro.
Grandes intelectuais se debruçavam sobre as relações sociais, sobre o seu sentido, como os
indivíduos se relacionavam. Esse campo, dentro da nova perspectiva de Ciência (afinal, o
século XIX é o século da Ciência), fazia com que os relatos sobre outras sociedades servissem
de comparativos e, da comparação, emergiam as concepções universais, com perspectivas
globais que explicariam desde o domínio europeu até oestudo sobre como as dominações
eram validadas.
 François Marie Voltaire. Fonte: Nicku | Shutterstock
Sempre foi difícil defender a Sociologia como uma ciência, pela ausência de um resultado de
pesquisas desenvolvidas de maneira direta. No entanto, seus pensadores defendiam que o
vasto campo de história e a análise de sua perspectiva seriam mais do que suficientes para
alcançar tais resultados.
javascript:void(0)
Ao longo do século XIX, foram fundadas as bases do pensamento sociológico. Ainda que
profundamente alterado, discutido e com autores importantes, todos, de algum modo, são
reconhecidos como tributários de três importantes pensadores: Emile Durkheim, Karl Marx e
Max Weber. Tendo posições antagônicas, não sendo contemporâneos em sua produção, os
três são entendidos como pedras angulares para conhecer, desenvolver e entender o
pensamento sociológico.
Sobre cada um desses autores, no entanto, há rios de tinta de análise de suas ideias. Há
muito mais material do que nossa abordagem ou qualquer outra poderia, de uma única vez,
alcançar. Assim, a partir de agora, você conhecerá os fundamentos básicos de seu
pensamento e, especialmente, como influenciam esse campo comumente chamado de
Sociologia da Educação.
RIOS DE TINTA
Expressão que faz alusão à quantidade de tinta gasta para escrever todas as
informações no papel.
SOCIOLOGIA E EDUCAÇÃO
Sociologia e Educação se entrelaçam como forma de analisar, compreender e debater os
processos sociais no campo do ensino e da aprendizagem. Essa vertente, a Sociologia da
Educação, tem interesse tanto pelo aspecto institucional e organizacional da Educação
como pelas relações sociais entre os indivíduos envolvidos nesse processo.
ASPECTO INSTITUCIONAL E
ORGANIZACIONAL DA EDUCAÇÃO
javascript:void(0)
javascript:void(0)
Determinado pelas bases que norteiam a ideia de Educação de uma sociedade.
A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO PARTE DO PRINCÍPIO DE QUE
A EDUCAÇÃO SE DESENVOLVE EM UMA SOCIEDADE QUE
TAMBÉM É RESULTANTE DA EDUCAÇÃO.
A partir de diversas linhas teóricas, ela debate sobre aspectos que envolvem cultura,
sociedade, Educação e processos de aprendizagem – as realidades socioeducacionais.
Sociologia da Educação é um campo específico transdisciplinar. Dialoga com a Sociologia, a
Pedagogia e a Educação. Seu fim é perceber que a Escola deve ser entendida como um
fenômeno social.
 Sala de aula em 1895
A construção contemporânea da Escola – urbana, a Escola popular que surge após a
consolidação do capitalismo – só pode ser compreendida se for associada às demandas que a
criam, ou melhor, que a inventam. A Escola é apresentada a partir da segunda metade do
século XIX e, principalmente, ao longo do século XX, como mecanismo fundamental para
difusão da Educação.
DE QUE EDUCAÇÃO ESTAMOS
FALANDO?
Depende de quem fomentou a criação dessas Escolas, dos planos estabelecidos, das
propostas que a cercam. Uma Escola não é um ato de amor! Escola é uma instituição social
que dialoga com interesses, e as pessoas que a frequentam são sujeitos que possuem
interesses, normas e cultura.
Perdendo o lirismo idealizado que temos sobre a Escola como uma instituição de natureza
positiva, devemos vê-la como uma parte do complexo social em que vivemos. Temos um
desafio: estudar como essas dinâmicas podem ser estabelecidas. O caminho será o mesmo
que todos os grandes nomes da Sociologia propuseram: conhecer Durkheim, Marx e Weber e,
depois, voltar a olhar para essa Escola.
ÉMILE DURKHEIM
Émile Durkheim (1858-1917), sociólogo e psicólogo francês, é considerado o criador da
Sociologia como ciência e pai da Sociologia da Educação. O primeiro sociólogo recebeu esse
título por ter sido o primeiro a elaborar um método bem estruturado que consolidou a
Sociologia como ciência.
javascript:void(0)
 Émile Durkheim
Durkheim afirmava que as ideias de Auguste Comte se aproximavam mais de abstrações
filosóficas do que de uma estrutura científica.
Ele construiu um método baseado no conceito de fato social, que representa as maneiras de
agir dos indivíduos dentro de determinado grupo social e da humanidade em geral. Tais
maneiras de agir revelam a existência de uma consciência coletiva.
PARA DURKHEIM, OS INDIVÍDUOS NÃO IMPORTAM EM SUA
AÇÃO, EM SI. O SENTIDO DO SER HUMANO É VIVER
SOCIALMENTE E SE CONSTITUIR POR ESSA RELAÇÃO.
Todos nós vivemos sob um sistema de coerção efetivo, e essa coerção não é vista como um
problema, mas como “fato social”, uma forma dos indivíduos conseguirem conviver
coletivamente. A busca social seria a do equilíbrio, e tudo o que gera desequilíbrio é entendido
como “desvio”. Desviantes têm perfeita noção de que são desviantes e que serão punidos por
isso, o que faz parte do sistema e da busca do equilíbrio social.
Para entendermos o papel de Durkheim na Sociologia da Educação, podemos partir de uma
das ideias mais marcantes do sociólogo: em cada aluno haveria dois seres igualmente distintos
e inseparáveis; um deles seria o individual. Esse conceito representou grande mudança na
análise sobre a Educação, os alunos e o processo de aprendizagem, pois apresentou outro
lado dos alunos, formado por um sistema de ideias, no qual é possível observar elementos da
sociedade da qual fazem parte.
Para Durkheim (1978), "a Educação é uma socialização da jovem geração pela geração
adulta", que deveria seguir em forma de um processo eficiente, buscando o melhor
desenvolvimento possível da comunidade na qual a Escola estivesse inserida.
Essa concepção durkheimiana, também conhecida como funcionalista, entende que as
consciências individuais são formadas pela sociedade. Por meio dessa teoria, o autor
considera a Educação com um bem social, trazendo, pela primeira vez, a discussão das
relações entre normas sociais e cultura local.
 Pátio escolar em 1895
A construção do ser social, feita em boa parte pela Educação, é a assimilação pelo indivíduo de
uma série de normas e princípios – morais, religiosos, éticos ou de comportamento – que
baliza a conduta do indivíduo em um grupo. O ser humano, mais do que formador da
sociedade, é um produto dela.
A Educação para Durkheim tinha um papel de garantir que a sociedade humana não se
perdesse em uma tábula rasa, ou seja, o homem não traz elementos definidos de antes do
nascimento; todas as relações e construções vêm da relação com o mundo e cada indivíduo
preenche a sua tábula ao longo da vida, sendo a garantia da continuidade dos valores morais,
religiosos, políticos e científicos de uma sociedade.
A função de todos que optam por atuar na Escola é garantir a compreensão desses fatores, o
que avaliza o processo social.
javascript:void(0)
Durkheim e sua teoria recebiam a denominação de funcionalista até por conta da percepção de
uma sociedade que funciona como um relógio. Para que efetivamente haja precisão, é
necessário que cada um entenda e reproduza plenamente seu papel social. Dinâmicas de
ruptura, de quebra dos processos, mesmo que em busca de uma ascensão social, deveriam se
reprimidas.
TÁBULA RASA
Expressão derivada do latim, significa folha de papel em branco, usada por inúmeros
filósofos ao longo da história como metáfora para categorizar as pessoas que não têm
conhecimento.
MAS O QUE ISSO TUDO QUER
DIZER?
Para Durkheim, a sociedade era perfeita e o papel da Educação era manter essa sociedade
perfeita?
Era uma proposta que defendia os poderosos e queria garantir que os mais pobres aceitassem
sua condição?
A Resposta é: não!
Durkheim tomava como base de sua análise o funcionamento dinâmico do presente.
Sociedades humanas tendem à conservação e, na busca de se conservarem, criam sistemas
que garantem essa preservação. Para o autor, o desvio, o desviante, a desestruturação sempre
acontecerão, o que é considerado um problema e, diante disso, a vontade coletiva busca
reestabelecer seu equilíbrio.
javascript:void(0)
A EDUCAÇÃO É UM ESFORÇO DESSA MANUTENÇÃO, DE QUE
A SOCIEDADE PERMANEÇA EQUILIBRADA.
Durkheim nos ajuda a entender preceitossociais muito presentes. Os valores de conservação,
da Escola como um ambiente de continuidade, que prepara o indivíduo para estar
perfeitamente adaptado a se integrar no tecido social, não é algo que ficou no passado e foi
superado. É um preceito cotidiano, mas que claramente gera desafios, como lidar com o outro,
qual o papel da Escola, qual o papel do professor.
A AÇÃO EXERCIDA PELAS GERAÇÕES ADULTAS
SOBRE AS GERAÇÕES QUE NÃO SE ENCONTRAM
AINDA PREPARADAS PARA A VIDA SOCIAL; TEM POR
OBJETO SUSCITAR E DESENVOLVER, NA CRIANÇA,
CERTO NÚMERO DE ESTADOS FÍSICOS,
INTELECTUAIS E MORAIS, RECLAMADOS PELA
SOCIEDADE POLÍTICA NO SEU CONJUNTO E PELO
MEIO ESPECIAL A QUE A CRIANÇA,
PARTICULARMENTE, DESTINE-SE.
DURKHEIM, 1978
O pensamento do autor nos ajuda a entender, discutir e discordar sobre o funcionamento
social.
KARL MARX
Se a busca de Durkheim era entender o presente e a dinâmica social, a de Marx era observar
como a história poderia nos ajudar a compreender a dinâmica de transformações da
sociedade. Se o primeiro buscava compreender os mecanismos do equilíbrio social, Marx, em
uma posição antagônica, propunha compreender como o equilíbrio representava a vitória da
dominação de um grupo.
 Karl Marx
A ÚNICA MANEIRA DE MODIFICAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO
SOCIAL PASSAVA PELA RUPTURA DAS ESTRUTURAS DE
DOMINAÇÃO!
Não é difícil notar como os autores perceberam de forma diversa o conhecimento sobre a
dinâmica social, mas isso não diminui a importância de um e ou de outro. Marx é um autor que,
analisando os efeitos da consolidação do capital e politicamente incomodado com a questão,
propôs uma Sociologia engajada, um olhar sobre essa dinâmica, a percepção de suas formas
de dominação e como vencer esse processo.
Observa-se a inovação de Karl Marx em relação às ciências humanas como eram vistas até
então. Ele propunha o entendimento de uma Sociologia que notasse que a história e as
sociedades eram feitas por pessoas e que disputas e ordenamentos abririam importantes
perspectivas sobre a noção de progresso.
Com Marx, temos a criação do materialismo histórico, que trazia um conceito novo para a
interpretação dos acontecimentos sociais, pois chamava fatores técnicos e econômicos para a
leitura e compreensão da história.
O idealismo dialético de Hegel foi lido, criticado e transformado no materialismo dialético.
javascript:void(0)
Marx partia da premissa de que toda a história humana é baseada na existência de indivíduos
humanos e vivos, e essa premissa é fundamental para compreender a relação existente entre o
homem e a natureza.
Para Marx, a partir dessa percepção pode-se distinguir o homem da natureza, pois torna
possível perceber que o ser humano apresenta uma concepção de religião e, mais importante,
a noção da necessidade de produção do seu meio de subsistência, ou seja, de sua vida
material.
HEGEL
Georg W. F. Hegel (1770-1831) foi um dos principais filósofos alemães do século XIX. Era
notório nas universidades e formou importantes seguidores. Sua dialética – a dinâmica da
transformação do pensamento por uma ideia construída, tese, que uma vez contraposta,
por uma antítese, leva a um novo conhecimento, síntese. Marx levou essa dinâmica para
observação e transformação das estruturas sociais.
É ESTE O FUNDAMENTO DA CRÍTICA IRRELIGIOSA: O HOMEM
FAZ A RELIGIÃO, A RELIGIÃO NÃO FAZ O HOMEM.
A religião é a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ainda não se encontrou ou
voltou a se perder. Mas, o homem não é um ser abstrato, apartado do mundo. O homem é o
mundo do homem, o Estado, a sociedade. A Filosofia do Direito de Hegel é criticada e
rediscutida por Marx, que formulava sua visão de mundo a partir de um sistema dialético e
materialista. Com proposições como essa, Marx vê a Escola de maneira diferente que
Durkheim:
DIALÉTICA
É a ideia de conceber a realidade como um devir, o qual se daria a partir da existência de
contradições, ou seja, esse conceito está diretamente ligado à concepção de
javascript:void(0)
javascript:void(0)
transformação.
MATERIALISMO
A Sociologia não deve ser pensada como um campo possível de pensamento, ele é
material, estrutura-se nas demandas e disputas presentes no cotidiano.
A ESCOLA PODE SER UM IMPORTANTE CAMPO DE
DOMINAÇÃO, DE REPRODUÇÃO DOS INTERESSES DE
DETERMINADOS GRUPOS.
Para Marx, o motor da História é a luta de classes. Toda sociedade é composta por grupos
que dominam os meios de produção – terras, estoque, capital –, que são as formas de garantir
a subsistência, de se inserir nas dinâmicas econômicas dentro de determinada sociedade.
Quem domina os meios de produção domina a sociedade. Mas, o que impede que os
dominados, normalmente mais numerosos, lutem e tomem para si os meios de produção? É o
estudo desses mecanismos que passam à ordem do dia do autor.
Junto com o inglês Engels, um autor mais prático, mas que auxilia na difusão das ideias
marxistas, Marx entende que as sociedades são divididas em classes sociais, nas quais
existem as classes dominantes e as classes oprimidas. As ideias das classes dominantes são,
para ele, em todas as épocas, as ideias dominantes.
A CLASSE QUE CONTROLA OS MEIOS DE PRODUÇÃO E A
FORÇA MATERIAL DOMINANTE TAMBÉM É A QUE CONTROLA
A FORÇA DOMINANTE INTELECTUAL. E OS INDIVÍDUOS QUE
POSSUEM ESSA DOMINAÇÃO TÊM A CONSCIÊNCIA DISSO.
O que modifica a história é a luta dos dominados contra os dominantes, travada não no campo
físico, mas no intelectual, permitindo que, por meio da alienação imposta, os dominados
naturalizem a dominação e se sintam incapazes de se levantar contra seus dominantes.
Para Marx, historicamente, a construção de discursos carismáticos, os treinamentos, as formas
de ensinamento sempre atuaram nesse sentido. No entanto, a Escola burguesa sofisticou esse
javascript:void(0)
processo. Para legitimar a ascensão da burguesia e o seu direito aos meios de produção,
passou a ser defendida e consolidada uma estrutura escolar que tinha a finalidade de, entre
outras, manter o quadro de alienação da classe proletária e sua fragilidade diante dos
dominantes. A crítica nos parece clara no trecho de Trabalho Assalariado e Capital, de 1847.
ALIENAÇÃO
Conceito de Marx exposto em muitos materiais e mais famoso pela forma clara que é
apresentado no chamado Manifesto Comunista. No limite, quem controla os meios de
produção aliena um conjunto de bens, que é social, do coletivo. Essa tomada dos bens –
político, culturais e principalmente econômicos – é o motivo legitimador dos
dominantes.
OUTRA PROPOSTA MUITA APRECIADA PELOS
BURGUESES É A DA “INSTRUÇÃO”, MAIS
ESPECIALMENTE DO “ENSINO INDUSTRIAL” GERAL.
NÓS NÃO CHAMAREMOS A ATENÇÃO PARA A
CONTRADIÇÃO ABSURDA QUE RESIDE NO FATO DE
QUE A INDÚSTRIA MODERNA SUBSTITUI CADA VEZ
MAIS O TRABALHO COMPLEXO PELO TRABALHO
SIMPLES. (...) O REAL SENTIDO DA INSTRUÇÃO PARA
OS ECONOMISTAS FILANTROPOS É O SEGUINTE:
ENSINAR A CADA OPERÁRIO O MAIOR NÚMERO
POSSÍVEL DE RAMOS INDUSTRIAIS DE TAL MODO
QUE, SE ELE FOR EXPULSO DE UM RAMO PELA
INTRODUÇÃO DE UMA NOVA MÁQUINA OU POR UMA
MODIFICAÇÃO NA DIVISÃO DE TRABALHO, POSSA SE
EMPREGAR EM OUTRO LUGAR O MAIS FACILMENTE
POSSÍVEL.
MARX apud NOGUEIRA, 1990
NA SOCIOLOGIA DE MARX, A
EDUCAÇÃO É ALGO NEGATIVO?
NÃO É BEM ASSIM!
Marx afirma que uma das estratégias burguesas foi a separação definitiva entre capital e
trabalho, fazendo com que a força trabalhadora perdesse a noção sobre o quanto vale sua
força produtiva. Esse seria um dos preceitos da alienação. Assim, os educadores que tivessem
o interesse em transformar efetivamente a sua sociedade teriam uma função social vital:
combater a alienação e a desumanização por meio do aprendizado de competências que
permitissem a compreensão tanto do mundo físico como do social.
Direta e indiretamente, a obra de Marx serviu como base para diversas linhas pedagógicas
voltadas para a mudança da sociedade. Autores que seguiam o marxismo debateram como a
Educação é parte integrante do processo de transformação das condições sociais ao mesmo
tempoem que é controlada por ele.
MAX WEBER
Chegamos ao terceiro autor considerado pilar da Sociologia: Max Weber (1864-1920).
Sociólogo, jurista e intelectual alemão, Weber apresentou ideias muito valiosas para o debate
metodológico de diversas áreas das ciências sociais, pois, enquanto a abordagem de Durkheim
javascript:void(0)
valorizava a coerção social e o coletivo sobre o indivíduo, Weber aponta para a valorização
da escolha do indivíduo. Ele é o agente, que medeia seus interesses, atende e se permite
estar submetido a regras, assim como opta, por interesse como indivíduo, pelo rompimento de
regras. Assim, segundo Weber, determinados pontos e conflitos internos são possíveis e
adequados à estrutura social, inclusive à realidade educacional.
 Max Weber
Em relação a Marx, a História tem mais uma vez papel vital, não seria racional em si mesma,
mas o historiador seria capaz de racionalizá-la parcialmente. Quer dizer, não existe um modelo
de transformação ou conservação social, mas os indivíduos se espelham em modelos,
interpretativos, constantemente reproduzidos e que permitem ser observados e interpretados.
ATÉ AQUI ESTÁ TRANQUILO?
NÃO? ENTÃO VAMOS LÁ!
Enquanto Durkheim e Marx tentam compreender a mecânica do funcionamento social,
Weber afirma que o que temos é uma interpretação: observar a história é construir modelos
javascript:void(0)
inexistentes, e que não precisam existir, mas que dali é possível notar padrões e como cada
conjunto social assume características próprias oriundas desses padrões.
 RESUMINDO
Imagine alguém que pregue uma mensagem em uma sociedade:
Para Durkheim, se sua voz tiver consonância social, ele terá um papel;
Para Marx, sua voz visa legitimar um grupo ou se opor a ele;
Weber analisaria o seu papel, cruzando os modelos de pregadores com o comportamento
desse indivíduo específico.
Ele propõe que pregadores em diversas sociedades sejam tratados como sujeitos estranhos,
com hábitos excêntricos que se afastam da média das pessoas. Esse é o modelo, vamos ver
como ele, por comparação, ajuda a entender o pregador específico dessa sociedade, o que ele
fala, para quem fala, no que se afasta ou se aproxima do modelo. Essa é a operação
sociológica.
Weber sugere a construção de um modelo teórico que, como tal, tem a função de oferecer um
formato ideal que, porém, é inexistente na prática. Pode-se compreender isso ao se pensar
em um manequim de uma loja. Ele é um modelo, aquele corpo não existe, constituindo apenas
uma aproximação genérica, idealizada; o que os clientes fazem é traçar comparações para
decidirem se querem experimentar a roupa ou não.
As ações, para Weber, partem do indivíduo e podem ser organizadas por suas motivações.
Segundo Weber, podemos dividi-las em:
AÇÃO RACIONAL
Você observa e vê que no fim daquilo obterá ganhos. Exemplo: Vou colocar meu filho na
melhor escola que puder, pois, assim, ele terá mais possibilidades de ter boas condições
financeiras no futuro.
AÇÃO EM FUNÇÃO DE VALORES
Questão de ordem, de valor, orienta-se pelos valores familiares ou pelo modo como os
incorporamos à nossa hierarquia de valores. Exemplo: Vou matricular meu filho em uma escola
confessional (religiosa), assim ele fica afastado de professores que possam tentar desvirtuá-lo.
AÇÃO TRADICIONAL
Relacionada aos atos rotineiros, entendidos como comuns em uma sociedade, praticados por
recorrência. Exemplo: Criança pergunta à mãe por que precisa usar um tênis todo preto para
uniforme da escola; na aula sobre futebol, os meninos separam os times, e, se alguma menina
quiser jogar, tem que avisar.
AÇÃO AFETIVA
Relacionada a impulsos do indivíduo, lógicas construídas por ele a partir de sua observação e
sentimentos. Exemplo: Aluno invade escola e atira nos colegas, motivado por alguma vingança.
Weber entende a Educação como o meio pelo qual os indivíduos se preparam para o exercício
de funções determinadas pelas transformações provenientes da racionalização de suas vidas.
Assim, o modelo de Educação possui três finalidades básicas:
DESPERTAR O CARISMA
Encontrar os dons, despertar o gosto pelo aprender e ser capaz de levar isso à sociedade.
PREPARAR O ALUNO PARA A VIDA
É a pedagogia do cultivo, que consiste em uma forma de ensino que visa a formação de
sujeitos cultos.
ENSINO DE CONHECIMENTOS ESPECIALIZADOS
É a pedagogia do treinamento, em que a aprendizagem é voltada ao preparo do indivíduo,
objetivando sua função no campo do trabalho.
STATUS
Neste ponto, chegamos ao último conceito weberiano que abordaremos. Para Weber, status
(prestígio social) é um componente vital para os posicionamentos sociais. Desse modo, na
busca por prestígio social, o que é fomentado na Educação acaba por dar base para o
posicionamento na estratificação social.
Na obra sociológica de Max Weber, a Educação é vista como instrumento de poder de
grupos de status. Serve como um componente desse processo e não pertence
necessariamente ao domínio da competência, mas à materialização de posições sociais.
Diplomas e certificações acabam por agregar prestígio aos grupos sociais que disputam poder.
PRESTÍGIO SOCIAL
Segundo o autor, as dimensões do prestígio são econômicas, sociais e a capacidade de
distribuir poder.
[...] CLAMOR UNIVERSAL PELA CRIAÇÃO DOS
CERTIFICADOS EDUCACIONAIS EM TODOS OS
CAMPOS LEVAM À FORMAÇÃO DE UMA CAMADA
PRIVILEGIADA NOS ESCRITÓRIOS E REPARTIÇÕES.
ESSES CERTIFICADOS APOIAM AS PRETENSÕES DE
SEUS PORTADORES, DE INTERMATRIMÔNIOS COM
FAMÍLIAS NOTÁVEIS (...), AS PRETENSÕES DE SEREM
ADMITIDAS EM CÍRCULOS QUE SEGUEM “CÓDIGOS
javascript:void(0)
DE HONRA”, PRETENSÕES DE REMUNERAÇÃO
“RESPEITÁVEL” AO INVÉS DA REMUNERAÇÃO PELO
TRABALHO REALIZADO, PRETENSÕES DE
PROGRESSO GARANTIDO E PENSÕES NA VELHICE E,
ACIMA DE TUDO, PRETENSÕES DE MONOPOLIZAR
CARGOS SOCIAL E ECONOMICAMENTE
VANTAJOSOS.
WEBER, 1982.
Na sociedade do capital, existe a materialização do diploma universitário, das escolas de
formação, dos cursos que ofertam notoriedade somente por possuírem aquele documento.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A PARTIR DO ESTUDO DAS PROPOSIÇÕES DE EMILE DURKHEIM EM
RELAÇÃO À SOCIOLOGIA, ANALISE AS SEGUINTES AFIRMATIVAS:
A EDUCAÇÃO É UM COMPONENTE DE GARANTIA DA REPRODUÇÃO SOCIAL.
O FATO SOCIAL É UM CONCEITO QUE ATRIBUI A COERÇÃO SOCIAL A UM ANSEIO
COLETIVO.
AS AFIRMATIVAS SÃO:
A) Complementares, uma vez que a Educação é necessariamente um fato social.
B) Dissonantes, uma vez que esses conceitos misturam as proposições de Marx na primeira e
Durkheim na segunda.
C) A afirmativa I pode ser entendida como um ponto de convergência da teoria de Durkheim e
Marx.
D) A afirmativa II é correta por adotar um conceito de Durkheim e discorda da afirmativa I.
2. A RELAÇÃO ENTRE A ESCOLA E A EDUCAÇÃO NÃO É AUTOMÁTICA.
EDUCAÇÃO É DIFERENTE DE ESCOLA, APESAR DE A ESCOLA SER UMA
INSTITUIÇÃO PLURAL E VITAL PARA REPRODUÇÃO DA EDUCAÇÃO.
KARL MARX E MAX WEBER SE DEBRUÇAM SOBRE A ESCOLA NA
FORMAÇÃO DO CAPITALISMO, MOSTRANDO COMO ELA PASSA A TER
PAPEL DESTACADO. A AFIRMATIVA CORRETA SOBRE ESTA QUESTÃO
É:
A) Para Marx, a dissonância entre capital e trabalho promovida pela burguesia é criada pela
escola e passa a ser disseminada como algo natural e necessário.
B) Para Weber, a formação do carisma, criado pela sociedade burguesa, foi fundamental para
consolidação do capitalismo.
C) Para Marx, a alienação promovida pela escola faz com que esta instituição deva ser
combatida como uma das forças legitimadoras do domínio burguês.
D) Para Weber, a valorização do status como componente de valor social assumiu condições
singulares nas sociedades por ele estudadas, gerando a intensificação da busca de diplomas e
certificações.
GABARITO
1. A partir do estudo das proposições de Emile Durkheim em relação à Sociologia,
analise as seguintes afirmativas:
A Educação é um componente de garantia da reprodução social.
O fato social é um conceito que atribui a coerção social a um anseio coletivo.
As afirmativas são:
A alternativa "C " está correta.
Durkheimatribui à Educação um papel fundamental na conservação social. Ela em si não é um
fato social, mas nela se manifestam e reafirmam fatos sociais. Apesar da interpretação de
Durkheim e Marx serem discordantes em relação ao papel da Educação, ambos a
compreendem como um fator de reprodução social. Para Durkheim como fundamental a
conservação e, para Marx, como uma estratégia de alienação dos grupos dominantes.
2. A relação entre a Escola e a Educação não é automática. Educação é diferente de
Escola, apesar de a Escola ser uma instituição plural e vital para reprodução da
Educação. Karl Marx e Max Weber se debruçam sobre a Escola na formação do
capitalismo, mostrando como ela passa a ter papel destacado. A afirmativa correta sobre
esta questão é:
A alternativa "D " está correta.
Para Weber, o crescimento das sociedades estruturais fomentou uma característica modelar:
sociedades são hierarquizadas e a busca por esse posicionamento sempre fomentou a disputa
por determinados bens e conhecimento, nesse sentido, a Educação tornou-se uma
necessidade para a condição de status contemporâneo e acabou por gerar uma movimentação
em garantir a regulação e consolidação do papel dos diplomas e certificados.
MÓDULO 2
 Relacionar a Escola e alguns conceitos fundamentais da Antropologia
Neste módulo, você perceberá como a Antropologia pode ajudar a identificar a Escola como um
lugar muito mais complexo do que a maior parte da sociedade vê quando olha para essa
instituição.
Assista ao vídeo que trata do tema da Escola como um espaço singular e de como a visão da
Antropologia é fundamental ao educador.
BREVE HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA
A Antropologia é a ciência que pensa e estuda o homem dos pontos de vista biológico, social e
cultural. As abrangências ou os campos são diversos, mas não serão nosso objeto de estudo
neste momento. Queremos destacar sua formulação como campo de saber norteado por um
interesse recorrente: a relação com o outro.
O olhar para o outro buscando conhecer, entender ou negar a sua cultura é recorrente em
diversas sociedades. Não é acidental que o grego Heródoto fosse chamado de filobárbaro, o
javascript:void(0)
amante dos bárbaros, por ter dedicado sua vida a retratar e escrever sobre os povos não
gregos. Poderíamos fazer um longo passeio pela história para perceber esse processo de
relações entre a construção de culturas singulares que se estruturam na negação de outras
culturas, mas vamos a um momento singular: a construção da modernidade e, em especial,
o colonialismo e o neocolonialismo.
HERÓDOTO
Geógrafo e historiador grego, autor da obra Histórias, que narra a invasão persa à Grécia
no século V, ao mesmo tempo em que descreve, com grande riqueza de informações,
características culturais e étnicas dos povos com os quais os gregos tinham contato à
época.
Ao longo dos séculos XVI e XVII, a Europa consolidou lenta e continuamente o seu domínio no
continente americano. Nesse processo, o encontro de civilizações passou a ser parte do
ideário europeu. Aqueles homens eram retratados ora como sujeitos angelicais, puros, livres de
pecados, ora como selvagens perigosos que comiam carne humana (antropofagia).
 Os Filhos de Pindorama, por Theodor de Bry
O colonialismo institucionalizou uma nova literatura que teve grande sucesso na Europa, uma
etnografia primitiva, contada por aventureiros que pareciam ter voltado de uma galáxia muito
distante da nossa visão, de tão fantásticos eram os relatos que eles organizaram. O domínio
europeu não cessou, intensificou-se e transformou-se. Nos séculos XVIII e XIX, o advento da
formação do capitalismo institucionalizou novas formas de dominação. Primeiro, a Inglaterra
expandindo para todos os cantos do mundo, depois Napoleão conduzindo uma nova fase de
expansões, as unificações italiana e alemã, que geraram novos disputantes no modelo
neocolonialista.
A Europa domina o mundo, sua cultura está presente em toda parte, como espelho ou
negação. A ideia de uma tradição correta, verdadeira, racional e civilizada é posta na mesa e
torna-se o padrão.
ETNOGRAFIA
Descrição de costumes e tradições de um grupo humano, de outra cultura.
RELATOS SOBRE O NOVO MUNDO
Alguns exemplos desses relatos: Mundus Novus, de Américo Vespúcio; Duas Viagens ao
Brasil, de Hans Staden; Viagem à Terra do Brasil, de Jean de Léry e o Relato de Viagem,
de Francisco Orellana.
MAS EXISTIAM AS OUTRAS
CULTURAS NA VISÃO DOS
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
EUROPEUS DESSE PERÍODO?
OUTRAS FORMAS DE
ENXERGAR, VIVER E
EXPERIENCIAR O MUNDO?
CLARO QUE SIM!
Na Europa, essas outras culturas faziam parte do objeto de pesquisa de intelectuais que viviam
em seus gabinetes e escreviam sobre esse mundo. Algumas vezes esses relatos sobre o outro
chegavam à Literatura, como em Júlio Verne em A Volta ao Mundo em 80 dias, e chegavam à
Arte, com as imagens reais e inventadas feitas por naturalistas.
Mas, no fim, vemos o desenvolvimento de uma prática etnográfica – escrita ou descrição de
outra cultura –, com grupos que registravam e detalhavam outras culturas e, novamente, na
maioria das vezes, analisando relato de outros, o que foi chamado provocativamente de
etnografia de gabinete. O seu sentido – que se apresentava como racional no século XVIII –
buscava primeiramente o pitoresco e o estranho em suas observações.
 Fonte: Marzolino | Shutterstock
javascript:void(0)
A etnografia tem grande impulso no século XIX com a partilha da África e Ásia, e as disputas
neocolonialistas. Os registros serviam para afirmar os ideais de superioridade europeia e a
ideia de hierarquização de culturas – positivistas dividiam as sociedades entre civilizadas,
bárbaras e selvagens – como forma de legitimar a própria dominação da cultura europeia
ocidental.
O capital e as disputas, sendo fortalecidos, criaram uma ordem mundial. As trocas de uma
sociedade mundial, ainda que tivessem formas próprias, estavam o tempo todo em
comparação com a sociedade europeia.
Observe alguns exemplos desse tipo de comparação:
ORDEM MUNDIAL
Ordem mundial, nesse sentido, não é o termo histórico atual dado ao fim da Guerra Fria,
mas, em vez disso, designa a ideia da formação de um sistema internacional pautado nas
relações capitalistas.
Quando você lida com uma língua europeia, você a chama de idioma. Já quando a
língua é de um grupo local, um traço não europeu, você tende a chamá-la de
dialeto.
As tradições religiosas judaico-cristãs – inclusive as muçulmanas – são tradadas
como religiões. Já tradições africanas, americanas e afins costumamos
reconhecer como mitologias.
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
javascript:void(0)
 ATENÇÃO
É importante ressaltar que esses termos têm finalidades próprias no campo da Antropologia,
não são compostos de forma genérica como mostramos aqui, estamos apontando para suas
percepções do senso comum e o regime de historicidades dessas ideias.
A chegada ao século XX trouxe uma série de mudanças à etnografia de gabinete. Uma série
importante de autores passou a atuar em campo (Default tooltip) , buscando compreender a
lógica da composição dessas culturas. Muitos consideram que a efetiva dinâmica de
construção da Antropologia só aqui se estrutura.
Novos conflitos e o reconhecimento de outras tradições pouco a pouco impactaram os campos
de pesquisa da Antropologia e houve a percepção de que a iconografia de dominação e
superioridade do século anterior poderia ser superada.
GRANDES PENSADORES DA
ANTROPOLOGIA
BRONISŁAW KASPER MALINOWSKI (1884-1942)
Antropólogo polonês, tido como um dos fundadores de uma Antropologia social, de uma
etnografia funcionalista. Mais do que o detalhamento de suas teorias, o que nos interessa é
perceber sua proposição do que é função da etnografia. Percebia-se a possibilidade de outra
sociedade, outra forma de entender a humanidade, sem a proposição de hierarquização que
fundamentava o movimento anterior. Isso levou finalmenteà percepção da existência do outro.
 Bronislaw Kasper Malinowski
Malinowski tem uma história pitoresca em meio aos esforços de guerra. Diante da
impossibilidade de retorno à Inglaterra em um momento de conflito, acabou intensificando sua
observação de campo de forma singular, experimentando e testando uma série de técnicas que
modificariam a história da Antropologia.
FRANZ BOAS (1858-1942)
Antropólogo americano que observou as profundas distinções entre grupos que, apesar de
próximos do ponto de vista geográfico, culturalmente, pareciam pertencer a mundos diferentes,
conforme procurou demonstrar ao comparar esquimós e índios americanos. Seu pensamento
reforça e modifica a construção de Malinowski, já que, para ele, a classificação dos povos
baseada na ideia de um processo evolutivo cultural unilinear era arbitrária e não bastaria para a
caracterização dos diversos grupos etnográficos.
 Franz Boas
ERA NECESSÁRIO QUE A ANTROPOLOGIA SERVISSE À
COMPREENSÃO DO ENTENDIMENTO INDIVIDUAL DOS
GRUPOS; NOTASSE SUA PRÓPRIA DINÂMICA EVOLUTIVA EM
TERMOS DE CULTURA E LINGUAGEM.
Os estudos antropológicos não deveriam construir uma composição linear da cultura, mas um
espelho que permitiria a composição de quadros comparativos não hierarquizados. De certa
forma, estudos antropológicos não serviriam como curiosidade no entendimento do outro, mas
para que as sociedades se percebessem. A provocação é olhar o espelho para que
pudessem desnaturalizar seus processos e suas hierarquias.
O pós-guerra mundial e as disputas anticolonialistas (por conflitos diretos, como na Ásia e na
África, ou com a ideia de uma descolonização do pensamento, que passou a ser debatida nas
Américas) fomentam a possibilidade do antropólogo ser um sujeito mais engajado, defensor de
grupos que possuíssem e tivessem direito a se relacionar com suas culturas.
O objetivo é atravessar o espelho, não descrever o outro, não simplesmente perceber o outro
para que possa notar suas diferenças, mas atravessar o espelho. Finalmente, reconhecer o
seu direito de ser, de denunciar, de uma sociedade que possui outras formas.
javascript:void(0)
javascript:void(0)
DISPUTAS COLONIALISTAS
Depois dos conflitos mundiais, as guerras pela independência da África e da Ásia, que já
tinham se iniciado, ampliaram seu escopo. Revelaram atrocidades dos colonizadores e
chocaram os idealistas do mundo civilizado. Das mãos cortadas pelo rei Leopoldo no
Congo à cerca de crânios na Tunísia, o olhar para o colonizador, se em algum momento
foi paternalista, passou a ser destruído e negado. Esse exercício também modifica a
antropologia.
ATRAVESSAR O ESPELHO
Conceito apresentado por Claude Lévi-Strauss para criticar a Antropologia que não via o
outro, mas queria criar uma forma da sua própria sociedade ser compreendida pela
comparação. Atravessar o espelho significa efetivamente ir ao encontro de entender o
outro.
CLAUDE LÉVI-STRAUSS (1908-2009)
O francês, famoso na música de Caetano Veloso, foi um dos importantes estudiosos das
etnias indígenas, criador da Antropologia Estrutural. Em um dos seus mais famosos artigos,
Raça e História, o autor apresenta os desafios da construção histórica do sujeito, apontando
características que permitem perceber que, para além de uma natureza humana, o homem é
composto por acúmulos culturais, próprios e inerentes àquelas comunidades. Não é um
acúmulo no sentido histórico, mas uma percepção de que conseguiríamos classificar as
sociedades em pontos evolutivos diversos, em uma comparação que em qualquer sentido não
teria fundamento.
 Claude Lévi-Strauss
 VOCÊ SABIA
Lévi-Strauss viajou pelo Brasil entre 1935 e 1939, realizando estudos de sociedades indígenas,
e foi professor de Sociologia na USP aos 26 anos de idade. Quando, em visita ao Rio de
Janeiro e depois de um sobrevoo à Baía de Guanabara, perguntaram a Lévi-Strauss o que
teria achado daquela beleza, ele respondeu que parecia uma boca banguela. A resposta
indignou alguns brasileiros e Caetano utilizou a referência na música O Estrangeiro de 1989.
François Hartog afirma sobre o entendimento da Antropologia estrutural proposta por Lévi-
Strauss:
O MAIS IMPORTANTE É O AFASTAMENTO
DIFERENCIAL ENTRE AS CULTURAS. É AQUI QUE
RESIDE SUA “VERDADEIRA CONTRIBUIÇÃO”
CULTURAL A UMA HISTÓRIA MILENAR, E NÃO NA
“LISTA DE SUAS INVENÇÕES PARTICULARES”.
TAMBÉM, AGORA QUE SE ENTROU EM UMA
CIVILIZAÇÃO MUNDIAL, A DIVERSIDADE DEVERIA
SER PRESERVADA, MAS NA CONDIÇÃO DE ENTENDÊ-
LA MENOS COMO CONTEÚDO DO QUE COMO FORMA:
CONTA, SOBRETUDO, O PRÓPRIO “FATO” DA
DIVERSIDADE, E MENOS “O CONTEÚDO HISTÓRICO
QUE CADA ÉPOCA LHE DEU”.
HARTOG, 2006.
A existência de culturas é própria de sociedades humanas e não são comparáveis, são
estruturadas e fundamentadas em códigos, demandas, fenômenos e escolhas. A maneira mais
tradicional de conduzir e pensar a história, como um fenômeno unificador da linha temporal da
humanidade e classificador, é absolutamente sem sentido. Por isso, o que conta são os fatos,
os eventos, as trocas, e não a concepção de que evoluíram a um ponto A, B ou C.
A questão é como conviver em sociedades tão complexas, aproximar-se sem negar ou
segregar, mas compreendendo que elas que existem e essa existência em si já é um evento
que deve ser respeitado.
As culturas são necessariamente diversas. Culturas ágrafas ou com graus de dificuldade de
entendimento sobre a função de seus agentes não podem servir como justificativa de negação,
exclusão ou violência.
CULTURAS ÁGRAFAS
Culturas que não mantêm sistemas de escritas regulares, apesar de muitas delas terem
simbolismo, ícones e até caracteres que remetem a fonemas.
javascript:void(0)
 ATENÇÃO
O relativismo cultural proposto por Geertz e pelos demais não significa aceitação e
naturalização de fenômenos de exploração e violência, mas o exercício de observação de
como funciona aquela cultura, ainda que o posicionamento seja de não aceitação em nossa ou
em outra sociedade.
CLIFFORD GEERTZ (1926-2006)
Antropólogo norte-americano conhecido como o fundador da Antropologia interpretativa, Geertz
colocou a cultura e o debate da cultura como elemento fundamental e abordou os fenômenos
culturais escritos e conflituosos no seio de uma mesma sociedade.
 Clifford Geertz
A ANÁLISE CULTURAL É (OU DEVERIA SER) UMA
ADIVINHAÇÃO DOS SIGNIFICADOS, UMA AVALIAÇÃO
DAS CONJECTURAS, UM TRAÇAR DE CONCLUSÕES
EXPLANATÓRIAS A PARTIR DAS MELHORES
CONJECTURAS E NÃO A DESCOBERTA DO
CONTINENTE DOS SIGNIFICADOS E O MAPEAMENTO
DA SUA PAISAGEM INCORPÓREA.
GEERTZ, 1989.
Cultura é fruto de uma concepção das teias culturais. Sociedades são complexas e constroem
e reconstroem sentidos culturais constantemente. O estudo dessas interpretações de mundo,
de construções de sentido (ainda que sejam constantemente rediscutidos e remodelados), é o
processo de entendimento antropológico.
GEERTZ, DE ALGUMA FORMA, QUEBRA O ESPELHO.
SOCIEDADES SÃO COMPLEXAS E A TODO MOMENTO SE
REESTRUTURAM E SE REINVENTAM QUANDO SE
ENCONTRAM E REALIZAM TROCAS, POIS OS SÍMBOLOS QUE
AS COMPÕEM SÃO REDIMENSIONADOS, REINVENTADOS.
O estudo da Antropologia não é o de um conjunto constituído que vai analisar outro conjunto
constituído. É uma teia de relações enormes em que o antropólogo recorta, em sua análise, um
processo de redes de trocas infinitas.
Toda sociedade é múltipla em símbolos e em trocas. Por isso, não devem ser entendidas como
culturas puras ou isoladas a serem preservadas a qualquer custo. Cultura não é algo limitado a
grandes conjuntos isolados. Esses conjuntos não existem. Os grupos sociais, as diversas
culturas estão sempre vivas trocando e se reinventando.
VAMOS ENTENDER MELHOR?
javascript:void(0)
Sabe quando uma pessoa faz uma crítica ao indígena que tem um celular de última geração
dizendo que se ele tem aquele aparelho não é um índio de verdade? É esse preconceito que
Geertz explica. Não é porque há uma identificação com uma cultura singular, com a defesa de
sua existência e sua luta, que ela estaráisolada e cristalizada.
A cultura está sempre em movimento.
Claro que o contexto influencia na mudança trazida por Geertz. Se Lévi-Strauss produziu no
período de Guerra Fria e descolonização, Geertz convive com a sociedade das décadas de
1980 em diante, vivencia a formação de sociedades em rede e a globalização. Vê a
multiplicação de conceitos antropológicos, que põem em xeque as noções clássicas de pureza.
Vivemos um amadurecimento dos conceitos construídos por esses autores e não são escritos
em livros de Antropologia para dificultar a compreensão dos que iniciam seus estudos. Eles
estão nos livros, mas é diante de nós que esses conceitos se materializam. Cada vez que
usamos um celular ou computador; cada vez que saímos à rua, que conversamos, esses
conceitos aparecem.
A ANTROPOLOGIA, COMO CAMPO DO CONHECIMENTO,
PROVOCOU, AO LONGO DO SÉCULO XX, UMA MUDANÇA DE
ENTENDIMENTO, LEVANDO-NOS A DEBATER AS FÓRMULAS E
NOÇÕES SUPREMACISTAS – PROVOCOU O PENSAR, O
ENTENDER E, PRINCIPALMENTE, O DESCOBRIR FORMAS DE
CONVIVÊNCIA.
Então, agora que você absorveu o entendimento da Antropologia, buscamos mostrar como
essas ideias se materializam em conceitos importantes. Todos aqueles que pretendem pensar
na docência, em qualquer campo, precisam instrumentalizar seu olhar com conhecimentos
antropológicos para ter mais possibilidades de enfrentar esse desafio. Vamos, então, conhecer
alguns desses conceitos.
CONCEITOS DE CULTURA
NÃO SE PODE DEFINIR CULTURA
O antropólogo sul-africano Adam Kuper conclui em seu livro Cultura, que não podemos definir
o conceito de cultura. Isso mostra como a Antropologia debateu o conceito de cultura e o
associou de formas diversas ao longo do tempo, chamando a nossa atenção para esse ponto.
Kuper afirma que a cultura foi trabalhada durante muitos anos como algo material, a posse que
definia um grupo, um conjunto de práticas, hábitos, formas de explicar o mundo. E essa visão
chega ao senso comum, é a maneira mais recorrente dos homens definirem cultura: um
conjunto de práticas e pensamentos que os constituem como pertencentes a uma cultura A ou
B.
No entanto, essa materialização foi debatida por autores diversos mostrando que seu
entendimento precisava ser repensado. Levando para o contexto da Escola, corresponde às
ideias que muitas vezes norteiam as festas de folclore ou as representações de outras etnias,
como as comemorações do Dia do Índio.
CULTURA COMO PRODUÇÃO
Cultura seria tudo aquilo que o homem produz. Identificados com uma leitura estruturalista de
mundo que associa cultura à ação efetiva do homem na sociedade. Ainda que não fosse mais
algo que pudesse ser possuído, passava a ser algo que constituía o meio. Pensando nessa
leitura no contexto da Escola, a cultura passava a ser um exercício de consciência dos alunos
sobre as condições de trabalho, as formas de exploração, as classes sociais a que pertencem,
os modelos de produção, consumo e identidade dos quais eles fazem parte.
LEITURA ESTRUTURALISTA
Influenciada pelas dinâmicas de trabalho, modo de produção, legitimação do
funcionamento e da estrutura social.
javascript:void(0)
CULTURA COMO IDENTIDADE E MÚLTIPLAS
FORMAS
É a percepção de que cultura é um direito, uma prática, uma identidade e que cada um tem
necessidade de ostentar em um mundo complexo, ou seja, o conceito de multiculturalismo,
criado nos anos de 1980.
 Fonte: Tavarius | Shutterstock
No auge da noção de Aldeia Global e de um amálgama de culturas em um mundo mais
integrado, emerge a defesa de que as sociedades eram constituídas por culturas múltiplas. A
luta contra o apagamento acabou por reforçar sentimentos separatistas, guerras étnicas e
movimentos de negação. Desse modo, a noção de multiculturalismo – sociedades complexas
em que diversas culturas participam – passou a sofrer severas críticas.
CULTURA COMO RESSIGNIFICAÇÃO
O historiador italiano Carlo Ginzburg oferece uma importante contribuição ao debate sobre a
noção de cultura, exemplificando em seu célebre livro O Queijo e os Vermes que cultura não
deve ser interpretada como um campo de exclusão ou segmentação, mas que culturas
circulam, reinventam-se, recriam-se. Um grupo pode transformar sua negação em elemento
identitário.
 EXEMPLO
Para entender, vamos falar sobre futebol!
Durante anos, os chamados clubes de massa (Corinthians em São Paulo, Flamengo no Rio de
Janeiro e Bahia em Salvador, por exemplo) eram agredidos verbalmente pelos seus
adversários com a acusação de serem torcidas de marginais, maloqueiros, ladrões, favelados
etc. As torcidas desses times de massa, no entanto, passaram a utilizar essa agressão como
marca de identidade, com comemorações que exaltavam a condição de loucos, favelados e
afins. Aquilo que era negação tornou-se uma forma de diferenciação e identidade.
São muitos os exemplos do mesmo tipo: a identificação do outro, em função da cor da pele,
como “negro”, que acaba depois se autodenominando “preto”, revelando duas formas de
reconhecer o outro pela cor e não como pessoa, como ocorria durante o período da
escravidão. Diante da desnaturação, da negação e da violência, o grupo se reinventa, afirma-
se pelas características de superação, criando, redesenhando e inventando uma nova
dinâmica cultural afirmativa.
CULTURA COMO REPRESENTAÇÃO
Outras formas de conceito de cultura têm sido adotadas, como as lentes pelas quais os
homens veem o mundo. Essa ideia vem de cultura como um discurso, uma representação,
uma simbologia.
São muitos conceitos possíveis, mas todos com o propósito de tirar do sentido de cultura algo
material, palpável, e transformá-la em uma construção, torná-la parte da maneira como uma
sociedade se vê, pensa a si mesma e se relaciona. Ao mesmo tempo que define interpretações
de mundo, ao ser debatida, a cultura faz com que as lentes se transformem e se modifiquem. É
uma estrutura estruturante.
 EXEMPLO
A Escola é um excelente exemplo!
Já foi considerada um espaço atípico, um espaço de elite.
Tornou-se uma exigência, com a noção de que se você deseja ser alguém na vida, você
precisa da escola. Era necessário obedecer e cumprir.
Depois, deveria ser um espaço de construção, o aluno deveria ser estimulado a ir à
escola, a se integrar em seu ambiente.
A Escola não é o espaço em que se ensina a ser alguém, mas é o espaço do aprender.
Segundo a Base Nacional Comum Curricular, a Escola é o local onde o aluno desenvolve
habilidades e competências necessárias ao seu desenvolvimento. É uma Escola que deve
reproduzir menos e produzir – construir efetivamente – mais.
A Escola tem um forte grau de integração social, os problemas do cotidiano são lá vivenciados
e, assim, cada professor, cada aluno, cada transformação do bairro, da cidade, do país, e do
mundo influenciam no conjunto de relações culturais. As visões comuns aproximam pessoas,
as antagônicas as afastam.
VIVEMOS NUM TEMPO EM QUE TRANSFORMAMOS
DIFERENÇAS EM CAMPOS DIÁRIOS DE CONFLITOS.
ESTUDAR CULTURA NUNCA FOI TÃO IMPORTANTE.
CONCEITO DE ETNOCENTRISMO
Um dos conceitos amplamente debatidos e transformados pela Antropologia é o de
etnocentrismo. Durante o século XIX, o principal conceito que distinguia sujeitos humanos era o
de raça. A percepção de que homens pertenciam a raças diferentes e, por causa disso, tinham
diferenças marcantes era utilizada amplamente. O conceito de raça foi utilizado
cientificamente durante o século XIX para justificar a hierarquia entre os seres humanos.
javascript:void(0)
RAÇA
A lógica de ciência não significa um discurso de verdade, mas a investigação. No século
XIX, pesquisas como a de Cesare Lombroso tentavam comprovar cientificamente quais
raças eram predispostas ao crime.
 EXEMPLO
Conhece a história da Maldição de Cam?
É uma história bíblica (Gênesis 9:18 - 10:32) que ocorre depois do episódio da arca de Noé e
do dilúvio. Cam vê Noé, seu pai, embriagado e, em vez de ajudá-lo, debocha dele. Isso teria
gerado uma maldição para os descendentes de Cam, que ficaram para sempremarcados.
Não há referência à cor negra, mas é esta a associação construída por certa tradição religiosa,
adotada pela ciência do século XIX, que justificava que homens de cor preta eram inferiores ou
amaldiçoados. Os estudos científicos da época apontavam que qualquer mistura representava
a fragilização das raças puras, como aconteceria com animais de espécies diferentes. Então,
não haveria nada pior do que um mestiço de raças humanas diferentes.
Assim, havia ideias políticas que defendiam que o Brasil precisava romper com a maldição de
Cam, escolher uma raça e ir direcionando toda a população nesse sentido. Nesse contexto,
políticas públicas foram então pensadas buscando o branqueamento da sociedade brasileira.
Imigrantes brancos de todo o mundo eram estimulados a vir para o Brasil.
 A redenção de Cam, por Modesto Brocos y Gómez
 SAIBA MAIS
Veja o quadro de Modesto Barroso A Redenção de Cam. O quadro demonstrava o espírito
brasileiro de branquear, de eliminar a marca do que era chamado de mestiçagem na história
brasileira.
Essa não é uma exceção; no século XX, personalidades importantes como Rui Barbosa diziam
que os traços de mistura da cultura brasileira era um sinal de atraso, de um Brasil não
civilizado.
A Antropologia do século XX começava a mudar e, em vez do conceito de raça, que ainda
demoraria a ser vencido, passava a ser pensado o conceito de etnia.
Etnia é um conceito antropológico que não lidava somente com a identificação biológica dos
sujeitos, mas com sua composição social, cultural, suas práticas e relações pessoais e
coletivas para definir uma sociedade. No entanto, não abandonava a noção de raça ou da
composição de superioridade, agora cultural.
A oposição entre civilizado versus selvagem demorou a ser vencida. Entretanto, o senso
comum ainda é fortemente marcado pela composição de um etnocentrismo vital: existem
hábitos e comportamentos aceitáveis e aqueles que devem ser corrigidos.
Etnocentrismo é uma marca de negação, um conceito que define padrões sociais e de
comportamentos como corretos e, por consequência, aqueles que devem ser negados,
destruídos ou persuadidos a serem modificados.
Gilberto Freyre, famoso por estudar as relações étnicas brasileiras, ainda entendidas como
raciais, identificou na afetividade entre colonizados e escravizados (índios e africanos) a
construção de uma estrutura singular.
Freyre representou um avanço na leitura da Antropologia brasileira em relação ao rompimento
com a hierarquização racial (a valorização do branqueamento), entendendo de outro modo a
composição complexa da etnia brasileira. No entanto, seus estudos geraram entendimentos
bastante equivocados, como os que defendiam que o Brasil teria conseguido de forma única
mediar os conflitos históricos entre raças diversas e constituído uma democracia racial.
GILBERTO FREYRE
Gilberto Freyre (1900-1987) foi um importante sociólogo brasileiro, além de ter sido
escritor, jornalista, poeta e pintor.
Gilberto Freyre nunca propôs esse conceito. Em seu livro Casa Grande e Senzala, ele não
reduz a violência do colonizador, mas defende que na condição da colonização uma
relação afetiva acabou sendo constituída.
javascript:void(0)
 Uma família brasileira do século XIX sendo servida por escravos, por Jean-Baptiste Debret
O conceito de raça biológica foi derrubado pelos estudos modernos de Biologia, que acabaram
ratificando que homens contemporâneos pertencem a uma mesma espécie,
independentemente de suas variações físicas, oriundas de processos diversos, e que estão em
constante modificação.
Esse conceito ganhou outra composição sociológica, como forma de identificação étnica. As
“tribos” que compõem a diversidade social dentro de um mesmo espaço, marcam traços
identitários múltiplos, e a composição histórica de raça – como forma de negação – passou a
ganhar força de identidade do grupo. Um grande exemplo é a construção nazista de
superioridade de uma raça, como os arianos e sua origem caucasiana.
Com essas novas configurações, o conceito de etnocentrismo passou a ser entendido como
um exercício a ser negado, considerado uma forma de violência.
IDENTIDADE DE GRUPO
javascript:void(0)
Um dos ícones dessa relação uma vez mais são os chamados movimentos negros e
indígenas. Traços de negação reconfigurados para uma identidade de luta pelos seus
direitos.
MAS, QUAL A RELAÇÃO DISSO
COM A ESCOLA? UM
PROFESSOR NÃO É
ETNOCÊNTRICO. ELE É
CUIDADOSO. SERÁ?
Nós tendemos ao binarismo da ação. Tendemos a identificar automaticamente o que é certo e
errado, como se não houvesse outra forma. Temos padrões históricos constituídos e
apresentados como corretos e dificuldade para rompê-los. Quando um professor entra em sala
de aula, tenta falar o que se programou para falar, tenta “levar” seu conhecimento aos alunos e
eles não o escutam, não o compreendem, não desejam sua voz, a reação do professor tende a
ser: “Que desperdício” ou “estou atirando pérolas aos porcos”.
CONCEITO DE IDENTIDADE
Qual a sua identidade? Podemos imaginar a multiplicidade de respostas que essa pergunta
pode causar: brasileiro, pai de família, mulher, negro, engenheiro. Não precisaria ter dúvida,
bastaria olhar sua carteira de identidade e lá estaria escrita a resposta.
javascript:void(0)
MAS, SERÁ QUE A
DETERMINAÇÃO GEOGRÁFICA É
CAPAZ DE DETERMINAR A
IDENTIDADE DE UM SUJEITO?
Identidade é outro conceito antropológico fundamental. Também foi construído e
modificado ao longo do tempo. Seus primeiros debates e formas – novamente o movimento
positivista – associavam identidade à identificação. A identidade de um sujeito era associada à
sua configuração, à sua proximidade com o ordenamento social. A maior marca identitária era a
de ser civilizado, bárbaro ou selvagem.
O século XX trouxe com força uma nova noção de identidade: a ideia de nacionalismo. Sua
identidade era a sua nação, a fidelidade à sua terra, a seus familiares e às pessoas que
conviviam diretamente com você. Por elas, você deveria viver, por elas você deveria morrer. Se
durante o século XIX isso aparecera nos campos de batalha, no século XX eram elementos do
cotidiano, como rádios, festividades e governos defendendo a ideia de civismo e luta por sua
identidade.
javascript:void(0)
 Mahatma Gandhi durante a Marcha do Sal, protesto que marcou o início do movimento de
independência da Índia
A definição de fronteiras, as composições dos Estados-Nação, a reafirmação de novas mídias,
o fortalecimento de discursos que defendiam o seu espaço vital, foram os responsáveis por
grandes conflitos do fim do século XIX até a metade do século XX. As Guerras Mundiais são
ícones da força da identidade nacional da primeira metade do século XX, mas não são únicas.
As disputas pela descolonização e a consolidação da influência do republicanismo, da
democracia representativa, acabam fortalecendo a nação, que era a principal marca identitária.
Esse movimento aparece não só no sangue e na batalha. Ganha contornos em feiras de
ciência no mundo inteiro – disputando por serem maiores, mais importantes, mais avançadas –
e contornos esportivos, como acontece em eventos esportivos como o das Olimpíadas.
 SAIBA MAIS
Olimpíadas de Berlim, 1936
Adolf Hitler era o comandante da Alemanha e seu objetivo era exibir o poderio da raça ariana,
mas também mostrar ao mundo como a Alemanha era um lugar especial, civilizado, o futuro da
humanidade.
Os Estados Unidos, interessados na mesma coisa, não por uma afirmação ariana, mas pelos
seus princípios de capitalismo e liberalismo, veem no envio de seus atletas uma ameaça
nacional, a possiblidade de legitimar o discurso do alemão.
Mas, a participação dos atletas seria a chance de disputar a “superioridade” e vencer. Assim,
todos os atletas são enviados para defender os princípios norte-americanos.
O maior nome é Jesse Owens, do atletismo, jovem negro que sofre, como toda sua
comunidade, com o sistema de segregação racial, e, por causa disso, às vésperas do eventodecide não ir, pois não se via respeitado em sua identidade como cidadão americano,
tampouco gostaria de dar legitimidade ao regime de Hitler. No entanto, ele acaba indo, vence,
mas mantém o discurso crítico de que nunca se sentiu verdadeiramente americano.
 EXEMPLO
Muhammad Ali (1942-2016)
Nascido Cassius Clay, é outro exemplo dessa crise de identidade – princípio do nacionalismo e
a negação étnica. O pugilista, negro, campeão olímpico, americano, uma vez convocado para
Guerra do Vietnã decide não ir. Influenciado por movimentos negros norte-americanos
importantes, Ali diz que não via sentido em matar vietnamitas por um país que os segregava,
negava, maltratava. Foi processado. Teve a licença para lutar caçada.
DESAFIOS DOCENTES
As transformações da apreensão de cultura, a formação de movimentos de grupos que lutavam
por direitos e reconhecimento (movimento negro, LGBTQ+, feminista, religiosos), entre outros
fatores, repensam o sentido das identidades. A ideia de que somos socialmente múltiplos e não
simplesmente oposições genéricas ou binárias acaba por multiplicar as formas de se identificar,
gerando intensos debates sobre o que isso significa socialmente.
Muitos professores entram em crise ao enfrentar o cotidiano das escolas. Descobrem
identidades nunca imaginadas. Professores que têm dificuldade de lidar com diversidade de
culturas, com os discursos dissonantes, com o preconceito racial, político e religioso. Muitos
acabam defendendo que a Escola não é lugar para esse debate, que na Escola todos são
iguais e que a condição diferente acaba ali. Nada mais falso!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. (ENADE 2014 – ADAPTADA) OBSERVE A FIGURA ABAIXO, ADAPTADA
DO LIVRO CUIDADO, ESCOLA!, DE PAULO FREIRE.
RELACIONANDO-A ÀS FRASES ABAIXO E COM A HISTÓRIA DA
ANTROPOLOGIA, VOCÊ DIRIA QUE A SUA MELHOR INTERPRETAÇÃO É:
A) A Educação que ocorre na Escola incorpora sempre uma perspectiva de gerar e promover a
igualdade; nesse ponto, os conceitos antropológicos ajudam a perceber o que o aluno traz da
sua vida.
B) A educação sistemática e a educação assistemática são a mesma coisa que acontece,
apenas, em lugares diferentes.
C) A educação sistemática e a escola regular têm os mesmos conteúdos, mas cada uma deve
preservar seus espaços de atuação.
D) A educação sistemática, muitas vezes, desconsidera as contribuições da diversidade
cultural e das demandas sociais, gerando problemas nessa relação.
2. (ENADE DE 2011 – ADAPTADA) DURANTE OS ENCONTROS PARA A
PREPARAÇÃO DO ANO LETIVO EM UMA ESCOLA, ALGUNS TÓPICOS
FORAM CONSIDERADOS COMO OS MAIS IMPORTANTES. DENTRE ELES,
DESTACA-SE O CONHECIMENTO DA REALIDADE DOS ESTUDANTES E,
POR ISSO, NO PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES, FOI PRECISO LEVAR
EM CONTA:
A) A realidade expressa nos programas escolares estabelecidos.
B) A vivência limitada das pessoas de grupos sociais minoritários.
C) O meio ambiente das classes mais favorecidas daquela região.
D) O contexto sociocultural específico da realidade dos alunos.
GABARITO
1. (ENADE 2014 – ADAPTADA) Observe a figura abaixo, adaptada do livro Cuidado,
Escola!, de Paulo Freire.
Relacionando-a às frases abaixo e com a história da Antropologia, você diria que a sua
melhor interpretação é:
A alternativa "D " está correta.
Um aspecto importante de nossos estudos é diferenciar a Escola e a Educação, depois
demonstrar como a Escola é um corpo imerso na sociedade e, por causa disso, reproduz as
dinâmicas sociais em seu interior. Uma sociedade marcada pela pluralidade terá escolas
marcadas pela diversidade cultural. A Antropologia nos ensina a não sermos inocentes em
imaginar que é possível uma instituição imersa em uma sociedade sem que dialogue com suas
demandas.
2. (ENADE de 2011 – ADAPTADA) Durante os encontros para a preparação do ano letivo
em uma escola, alguns tópicos foram considerados como os mais importantes. Dentre
eles, destaca-se o conhecimento da realidade dos estudantes e, por isso, no
planejamento das atividades, foi preciso levar em conta:
A alternativa "D " está correta.
Essa questão trata da instrumentalização ofertada aos docentes ao discutir a relação entre
Antropologia e Educação. Não basta reconhecer um grupo, perceber suas relações
econômicas, tampouco imaginar que a função da Escola é transmitir conteúdo. A Escola é uma
instituição, é social, é palco de dinâmicas diversas e se quiser ser mais eficiente no
aprendizado precisará lidar com a dinâmica sociocultural da realidade dos alunos.
MÓDULO 3
 Caracterizar a relação entre Educação e Ciências Sociais no cotidiano escolar
Assista ao vídeo sobre a escola como um campo de estudo das ciências humanas.
O ENCONTRO ENTRE A EDUCAÇÃO E A
SOCIEDADE
Sociedades humanas educam. Sempre existem responsáveis por passar as regras, incutir
valores, treinar e desenvolver habilidades. Os métodos variam, historicamente, de coerção a
interesses. Sem entrar em paradigmas biológicos, essa é uma característica que reproduzimos
como espécie.
No entanto, outra característica que herdamos é a de consolidar relações complexas entre
nossos pares. Nós não reproduzimos meramente um comando instintivo. Pensamos,
relacionamo-nos, recebemos regras e nos ligamos a elas. Defendemos, negamos, lutamos a
favor ou contra elas, mas é certo que sempre há um sentido relacional nessa construção.
Temos uma fantástica capacidade de acumular conhecimentos e transformá-los ao longo do
tempo. Adaptamos os conhecimentos às novas condições e saímos de um modo de vida
caracterizado por grupos de caçadores e coletores para sermos sujeitos de identidade
documentada e lidarmos com sistemas simbólicos de representações absolutamente
complexos.
Imagine a seguinte situação: Eu tenho algo e você tem outra coisa, temos o interesse em
trocar, trocamos. Em outra situação, eu tenho algo e você entende que aquilo deveria ser seu,
mas eu tenho uma força que não permite que você tome, ou então você cria estratégias e
adquire forças que podem levar o que tenho.
Atualmente, todos temos alguma coisa e há sistemas monetários que garantem um valor para
tudo, sistemas jurídicos que ajudam a definir quais são os direitos de quem, configurando
processos bem diversos. Saímos da condição do mundo natural e criamos complexos
conjuntos sociais que podem se diversificar a cada momento.
Como funciona essa formação? Como ocorre essa relação em meio à sociedade? Essas
perguntas apontam para o objeto das Ciências Sociais.
Onde entra a Educação? Ora, faz parte da nossa condição o acúmulo e a transformação das
experiências e do conhecimento, essa dinâmica é transmitida, repetida, ensinada e finalmente
aprendida geração após geração.
A EDUCAÇÃO É UM FENÔMENO MUITO PRESENTE NA
ANÁLISE DE QUALQUER FORMULAÇÃO DE SOCIEDADE. A
ESCOLA, ESSA INSTITUIÇÃO DESENVOLVIDA PARA CRIAR
UM ESPAÇO PRÓPRIO PARA FORMAR O SUJEITO A FIM DE
REPRODUZIR AS DINÂMICAS DA SOCIEDADE, É UMA DAS
INVENÇÕES MAIS INTERESSANTES PARA NOTAR COMO
ACONTECEM ESSES PROCESSOS.
Mas, a compreensão não ocorre de um momento para o outro. Esse é o primeiro passo de
outros que podem solidificar sua caminhada na formação de professores. Uma vez que isso
está claro, passamos agora a conhecer os principais campos das chamadas Ciências Sociais.
 IMPORTANTE
Aquele que almeja assumir a condição de docente, de se relacionar com a Educação, nunca
poderá desistir de observar como se relacionam os homens e como eles constituem a
sociedade.
VAMOS PENSAR NA RELAÇÃO ENTRE
ESCOLA E CIÊNCIAS SOCIAIS
O campo das Ciências Sociais tem muitos caminhos e agora nossa conversa é sobre você!
Sujeito cheio de anseios, tradições e culturas, certamente tem hábitos e já se viu em situações
em que se reconheceu com outra cultura, estranhando-a bastante. Imagine-se na Escola,
experimentando uma multiplicidade de histórias, vivências e culturas. Você precisará de
instrumentos para lidar adequadamente com essa realidade. Por isso, precisamos refletir sobre
esse ponto. Vamos lá?
Imagine que você é um peixe que nasceuno aquário. Para você, tudo o que existe é o aquário.
Você é capaz de elaborar teorias para o funcionamento do aquário e do mundo no entorno
dele. Mas, suas verdades são postas em xeque quando outros peixes chegam ao seu
ambiente. Eles falam de rios e natureza. Sua construção pessoal, sua forma de pensar, poderá
ser influenciada pelos relatos recebidos, afinal o aquário é o mundo que você conhece, mas, ao
menos em hipótese, existem outras culturas e outras sociedades. Você poderá falar sobre rios,
comparar o que ouviu sobre eles e a natureza que outros vivenciaram, mas sua relação diária é
com seu lugar, seu espaço, suas relações pessoais. Mesmo tendo conhecido outros peixes,
acreditado no relato deles, seu olhar sempre será marcado pelas suas experiências.
AS CIÊNCIAS SOCIAIS SÃO OS EXERCÍCIOS PARA QUE OS
MEMBROS DO AQUÁRIO PENSEM SOBRE COMO FUNCIONAM
O SEU MUNDO E, EM ESPECIAL, PERCEBAM QUE O SEU
MUNDO ESTÁ IMERSO EM OUTRO MUITO MAIS COMPLEXO
DO QUE O DAS SUAS RELAÇÕES AFETIVAS E SENSORIAIS.
Neste ponto, a provocação de um elemento é vital, a reflexão sobre quem você é, qual a
função do aquário, o que pode ser apreendido sobre a natureza e os rios não é algo efetivo,
material, indiscutível, mas sim uma construção discursiva. Mesmo que exista verdadeiramente
o aquário, os rios ou a natureza, quando pensamos e refletimos sobre eles o que criamos são
conjecturas, vitais, mas ainda assim discursos sobre uma realidade complexa e inatingível. Um
dos aquários mais importantes das sociedades urbanas ocidentais é a Escola.
Escola não é um prédio, é uma ideia, é um símbolo da modernidade contemporânea. É meta
em todo mundo conhecido como civilizado. É uma estrutura que, no século XXI, qualquer
pessoa é capaz de reconhecer. Pode ser ultratecnológica ou um conjunto de cadeiras voltadas
para um quadro velho, mas o coletivo reconhecerá: aquilo é uma Escola. É uma sala de aula. É
um professor. Todos nós, cursando uma graduação, já passamos por “bancos” escolares.
A Escola fez parte de nosso cotidiano, antes mesmo de termos uma opinião sobre ela. Todos
se acham especialista em Escola, como ela funciona bem, o que é uma Escola boa e uma
Escola ruim. Poucos são os peixes que percebem que são peixes, que estão em um aquário.
Poucos refletem a Escola como um espaço cultural, marcado por interações humanas, com
convivências muitas vezes inimagináveis. Poucos reconhecem a importância singular de
sujeitos que se atrevem a conviver com a juventude e os desafios que ela enfrenta.
CARACTERIZAÇÃO: EDUCAÇÃO E ESCOLA
Depois de conhecermos uma ampla gama de ciências sociais e entender sua relação com a
Educação, o convite é para que você assuma a condição de educador, de professor, usando a
velha característica histórica.
 IMPORTANTE
É preciso que você faça um esforço a mais: tente desnaturalizar sua visão mais recorrente e
pense sobre como as relações do cotidiano escolar são ricas de possibilidades.
EDUCAÇÃO PARA ALÉM DOS MUROS DA
ESCOLA
Modernamente tão discutida, a Educação assume caráter próprio na abordagem das
chamadas ciências humanas. As reflexões teóricas sobre o assunto, pela visão de autores
diversos, apresentam em comum a característica de identificar a Educação como um
componente dos espaços de poder, e dessa forma a tratamos.
A professora Nilda Alves desenvolve seus trabalhos demarcando o trinômio cultura, Educação
e cotidiano. Sua proposta é compreender como elementos formais são reproduzidos no
cotidiano e de que maneira reconstroem elementos culturais com o objetivo de ensinar suas
benesses e restrições no meio social.
javascript:void(0)
 Capa da obra Praticantepensante de Cotidianos, da Professora Nilda Alves
NILDA ALVES
É professora titular da Faculdade de Educação na Universidade Estadual do Rio de
Janeiro. Tem trabalhos notórios sobre cotidianos escolares.
A Escola visa a atender as demandas sociais, gerar conhecimentos, possibilidades, habilidades
que os indivíduos ou o coletivo entendem como necessários. Assim, ela cria o seu espaço de
uma educação formal, curricular. Essa educação formal, no entanto, muitas vezes acaba se
distanciando do cotidiano social.
Você se lembra das discussões sobre a necessidade de aprender raiz quadrada ou por que
estudar História? Isso é o que chamamos de distanciamento, as pessoas passam a não
entender por que a Escola trata de determinado assunto. Mas é ilusório achar que essa
educação formal fica fora da sociedade. Ela acaba chegando aos espaços assimétricos de
educação, reformulados e adaptados. Também é falso que a Escola se isole em seus
conhecimentos, pois a tradição e as trocas sociais sempre chegam a ela, ainda que de forma
adaptada.
javascript:void(0)
Nilda Alves traz o conceito de Educação em múltiplos espaços, constituindo um sistema de
interações em que elementos escolares influenciam e são influenciados por um discurso que
apresenta, inclusive, características próximas, mas para espaços e fins diversos. Sua
exposição permite que compreendamos os espaços escolares como imersos na sociedade em
que convivem, são transformados e transformam as discussões.
As escolas foram espaços de defesa da tradição e de discussão dos fundamentos necessários
à civilidade. Essas características estiveram presentes em discursos não escolares e nas
relações dos profissionais da Educação.
EDUCAÇÃO ASSIMÉTRICA
É uma educação sem um condutor, sem uma formalidade de tal construção, mas
produzida pelas trocas sociais.
(...) É EVIDENTE QUE A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NÃO
SE PODERIA REDUZIR À DAS FORMAS ESCOLARES
(...). PORQUE AS FONTES NÃO ESCOLARES SÃO
MENOS SERIAIS E MAIS DISPERSAS, SEM DÚVIDA O
HISTORIADOR PERCORREU COM MENOS FACILIDADE
ESSE VASTO CAMPO DE INVESTIGAÇÃO.
JULIA, 1993.
A Sociologia trabalha com a Educação de forma ampla, independentemente de sua restrição
institucional, no entanto considera que existem fenômenos diversos:
Educação formal
Tem forte tentativa de controle de forma, objetivos e processos – independe do grau de
institucionalização.
Educação informal
As relações não são ordenadas, mas estabelecidas por interesses diversos, fruto das relações
sociais do indivíduo, das afetividades.
 IMPORTANTE
Não crie o sinônimo organizado versus desorganizado. As duas têm ordenamento, só que
diversos. Ambas são objetos da Sociologia e o educador precisa saber que seu cotidiano
formal, necessariamente se relaciona a conceitos informais, gerando o já sinalizado movimento
de troca das escolas.
O DESAFIO É ENTENDER A EDUCAÇÃO COMO UM
PROCESSO QUE GANHA ASPECTOS DE DISCURSO E SE
APRESENTA NAS RELAÇÕES DE PODER DE UMA
SOCIEDADE.
(...) A EDUCAÇÃO NUNCA SE RESTRINGIU À ESCOLA.
PRÁTICAS EDUCATIVAS TÊM OCORRIDO, AO LONGO
DO TEMPO, FORA DESSA INSTITUIÇÃO E, ÀS VEZES,
COM MAIOR FORÇA DO QUE SE CONSIDERA,
PRINCIPALMENTE EM DETERMINADOS GRUPOS
SOCIAIS E EM DETERMINADAS ÉPOCAS.
LOPES e GALVÃO, 2001.
CARACTERIZANDO EDUCAÇÃO
Avançando sobre a construção dessa possibilidade, podemos formular que educar é um
processo que pressupõe como base a intencionalidade do educador. Assim, educar significa:
ENSINAR
No sentido de transmitir conteúdo, conduta que o outro deve seguir.
QUALIFICAR
Para que o outro possa ter acesso a locais específicos, aos quais só os que alçam essa nova
posição podem ser considerados de alguma forma aptos.
ESCLARECER
Como forma de desfazer dúvidas e iluminar questões obscuras.
VIGIAR
À medida que o educador fornece ao educando pressupostos de comportamento, permite ao
grupo dos primeiros o controle frente ao não cumprimento dos comportamentos recebidos.
DISCIPLINAR
Uma vez que o detentor do conhecimento passa a ser o delimitador das regras, permitindo-lhe,
portanto, aplicar punição quando do não cumprimento.
Essas dinâmicas têm ganhado novas possibilidades de análise, por exemplo, com a ideia de
mediação, em que o professor atua como um facilitador para o processo de despertar do
aluno. Necessário, mas em processo de consolidação.
 Pierre Bourdieu
A Educação implica

Continue navegando