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Análise Crítica da Obra Quarto de Despejo - Roberta Peres e José Henrique

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I. Linguagem e contexto histórico.
A linguagem usada pela autora é um reflexo da maneira que ela se adaptou a sua realidade, Carolina Maria de Jesus era uma mulher da periferia onde foi doméstica e depois catadora de lixo.
Ela catava papéis e ficava com alguns onde ela aprendeu a ler e escrever, ela se inspira naquilo que lia ela fazia isso como um hobby para desabafar do seu dia a dia sendo uma catadora, mãe, pobre e moradora da zona periférica.
Sua escrita, por mais simples que seja, adotava uma grafia espelhada naquilo que ela lia, mas mesmo assim há trechos que fazem perceber que Carolina não tinha as mesmas oportunidades que alguém estudado. Um exemplo claro é em um trecho do livro que diz:
2 de maio de 1958 Eu não sou indo- lente. Há tempos que eu pretendia fazer o meu diario. Mas eu pensava que não tinha valor e achei que era perder tempo.
... Eu fiz uma reforma em mim. Quero tratar as pessoas que conheço com mais atenção. Quero enviar um sorriso amavel as crianças e aos operarios.
Mesmo com a escassez de acessibilidade a educação Carolina Maria de Jesus faz de sua vida uma reflexão a desigualdade econômica pois só com coisas que jogamos fora ela estudou e criou um livro cujo propósito é falar pra sociedade e mostrar que há vidas que também tem importância na sociedade, ela é uma grande escritora e fez da sua vida uma grande história mais do que só um quarto de despejo.
II. Aspectos Socioeconômicos.
No livro, a autora deixa explícito que há enorme dificuldade em manter ela mesma e seus três filhos... A vida não era de boa qualidade e ela usava papéis catados no lixão para escrever sobre sua vida na zona periférica das favelas, tal título do livro é o significado dado a um quarto onde desejamos tudo aquilo que não usamos ou deixamos de lado. Uma tal crítica a pobreza e qualidade de vida dela e de quem habituava na favela do Canindé. Em seu livro é deixado de forma clara o que ela e seus filhos passavam de forma contínua, um exemplo está no trecho:
A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago.
Um fator primordial a sua qualidade de vida é que mesmo sendo da classe muito pobre Carolina pensava em ser ouvida, Carolina pensava e tinha esperança de um dia ser reconhecida e ter sua voz ouvida, e um dos trechos mais comoventes da autora é sobre a fome, que segundo ela não é só uma situação precária e sim também uma forma de aprender, no trecho diz o seguinte:
O BRASIL PRECISA SER DIRIGIDO POR UMA PESSOA QUE JÁ PASSOU FOME. A FOME TAMBÉM É PROFESSORA. QUEM PASSA FOME APRENDE A PENSAR NO PRÓXIMO.
III. Discussão sobre as questões de gênero e raça
Um dos aspectos observados na escrita de Carolina é o trabalho executado pela 
autora/personagem, já que ela é a responsável por cuidar de seus três filhos sozinha, buscando o sustento para a família catando papel. Observamos aqui a demarcação de gênero, raça e classe social perpassando a escrita e a vivência de Carolina, pois a responsabilidade do sustento da casa e educação dos filhos recai sobre ela, forçando-a a executar o trabalho doméstico e trabalhar fora.
Os meus filhos não são sustentados com pão de igreja. Eu enfrento qualquer espécie
de trabalho para mantê-los. [...] Não casei e não estou descontente. Os que preferiu 
me eram soezes e as condições que eles me impunham eram horríveis.
Neste trecho, observa-se que Carolina é chefe de família e luta sozinha para sustentar 
seus três filhos. Além disso, Carolina rompe com estereótipos quanto à possibilidade de uma mulher negra, favelada e com pouco estudo ser a autora de um livro. Carolina é uma importante personagem da literatura, já que desafiou o papel atribuído à mulher negra e pobre no Brasil, buscando ser escritora.
Uma das demarcações de gênero observada na escrita de Carolina está presente no 
seguinte trecho:
“Quando eu era menina o meu sonho era ser homem para defender o Brasil 
porque eu lia a História do Brasil e ficava sabendo que existia guerra. Só lia os nomes 
masculinos como defensor da pátria.”
É possível percebermos como a mulher teve seu papel apagado na História — apagamento que é ainda maior em relação à mulher negra. Assim, devido à falta de representatividade, a Carolina criança acreditava que seria necessário ser homem para ter uma participação importante na História do Brasil.
IV. Importância da obra para a história da literatura.
Além de falar sobre o seu universo pessoal e os seus dramas cotidianos, o Quarto de Despejo também teve importante impacto social porque chamou a atenção para a questão das favelas, até então um problema ainda embrionário na sociedade brasileira.
Foi uma oportunidade de se debater tópicos essenciais como o saneamento básico, a recolha de lixo, a água encanada, a fome, a miséria, em síntese, a vida em um espaço onde até então o poder público não havia chegado.
Muitas vezes ao longo dos diários, Carolina transparece o desejo de sair dali:
Oh! se eu pudesse mudar daqui para um nucleo mais decente.

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