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FACULDADE VIDAL Diretoria Geral Débora Vidal Freitas Leitão Diretoria Administrativa – Financeira Leonardo Vidal Freitas Diretoria Acadêmica Priscila Gomes de Araújo Vidal Freitas Secretaria Geral Maria Nilda Moura Lima Bibliotecária Mônica Heyla Amorim Chaves FICHA TÉCNICA Autoria Prof. Leonardo José Peixoto Leal Coordenadoria do Núcleo de Educação à Distância - NEAD Prof. Me. Marcos Wender Santiago Marinho Revisão Textual José de Assis Reges Júnior Projeto Gráfico e Diagramação Bruno de Castro e Silva Borges Capa e Ilustração Bruno de Castro e Silva Borges Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecária: Mônica Heyla Amorim Chaves – CRB 3/978 L435e Leal, Leonardo José Peixoto Ética geral e profissional : unidade I / Leonardo José Peixoto Leal. – 1. ed. – Limoeiro do Norte: Faculdade Vidal, 2023. 13p. 1. Ética. 2. Moral. 3. Faculdade Vidal. I. Título. CDD 174 APRESENTAÇÃO UNIDADE 1 ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL A unidade I tratará da ética no mundo contemporâneo, dando destaque à liberdade, consciência e responsabilidade da conduta dos operadores do direito no exercício profissional. A ética traduz a ideia de comportamento ideal, código de conduta, conjunto de princípios que regem as atitudes entre homens (GARCIA, 2022), essencial para convivência harmônica da vida em sociedade. Professora: Graciela Braz SUMÁRIO 1. Ética Geral e Profissional --------------------------- 4 1. Introdução --------------------------------------- 4 2. A História da Ética ------------------------------- 4 3. A Ética no Mundo Conteporâneo ------------------- 5 4. Conceito de Ética ------------------------------- 7 4.1 Aspectos sobre a “Ética” e a “Moral” --------------- 9 5. Liberdade, Consciência e Responsabilidade da Conduta Ética ---------------------------------- 11 6. Referêcias -------- ----------------------------- 13 4UNIDADE 1 - ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL 1. Introdução A ética é pensada segundo os padrões da lei. Como faz a lei, a ética esforça-se para definir as ações adequadas e inadequadas nos casos concretos em que se aplicam. “Age como pressuposto de que em cada situação de vida pode-se e deve-se decretar uma escolha como boa em oposições a numerosas outras, e assim agir em todas as situações pode ser racional, visto que os agentes são racionais como devem ser”. (BAUMAN, 1997) 2. A História da Ética Ao longo da história, os filósofos elaboraram diversos modelos éticos em razão disso, a palavra ética é usada para se referir a esses modelos. Logo, fala-se em ética dos antigos, ética socrática, ética aristotélica, ética estoica, ética cristã, ética utilitária, ética kantiana, ética protestante, etc. A ética como disciplina estuda os paradigmas ou modelos elaborados ao longo da história e ainda não foram superados. (GARCIA, 2022) A Grécia foi o berço de todo pensamento lógico afeto a civilização humana ocidental. Atenas foi cenário de noções preliminares da ética e de formas de vida em uma sociedade mais racional, humana e comprometida com o seu semelhante. Sucedeu-se uma construção de valores quanto a forma de agir e tomar decisões em sociedade, a fim de resolver conflitos e manter a ordem social e a dignidade do comportamento humano. (CRISÓSTOMO, 2018) Foi na Idade Antiga que surgiu a fundamentação teórica com o objetivo de melhorar a convivência das pessoas e do modo de vida. Pensadores gregos passaram a questionar a relação do homem com o mundo, a concretude da linguagem e o pensamento ocidental. Dentre os filósofos que fizeram parte deste estudo estão: Sócrates, Platão, Aristóteles. (CRISÓSTOMO, 2018) No período helenista o grego entendia que o conceito de felicidade era ser livre. Com a noção de autarcia (autárkheia = capacidade de bastar-se a si mesmo, de não depender dos outros) o grego desfrutava de liberdade de escolhas do âmbito político, religioso e cosmopolita, aquele que se deslocava para qualquer parte do mundo. Nesse período, foram criadas quatro visões diferentes sobre a forma de viver o mundo grego: o cinismo, o ceticismo, epicurismo, estoicismo. Surgiram diversas teorias helenistas e rodas chegaram a conclusão de que a felicidade dependia da tranquilidade interior. (CRISÓSTOMO, 2018) Na Idade Média, a partir do século IV, iniciou a expansão do Império Romano, o ceticismo perde espeço e se inicia um processo de institucionalização do cristianismo como religião oficial do Estado. A partir de então, a pólis (Aristóteles) ou universo (estoicos e epicuristas) deixam de ser protagonistas da referência moral e são substituídos pelos valores morais do cristianismo. (CRISÓSTOMO, 2018) Entre séculos XVI e XVIII instala-se a ética moderna que marca a ruptura da Igreja Católica e retomada da autonomia moral do indivíduo, enfraquecido pelo movimento protestante e a Reforma com Lutero. Surgem novas relações capitalistas de produção, a ciência vai se desenvolvendo com grandes descobertas por cientistas como Copérnico, 5Galileu e Isaac Newton. A busca da felicidade coletiva é ressignificada, novamente retoma o conceito grego de realização pessoal e plena do cidadão, retorno da teoria da ética e com a universalização e discursão de princípios de convivência em sociedade. Dentre os filósofos que fizeram parte deste estudo estão: Descartes, David Hume, Baruch, Thomas Hobbes, Immanuel Kant. (CRISÓSTOMO, 2018) 3. A Ética no Mundo Contemporâneo Alessandro Crisóstomo suscita questionamentos acerca da ética na atualidade, se ela, de fato, existe ou apenas resiste às intempéries da história. O centro do estudo dos pensadores contemporâneos passou a ser a “crise do homem contemporâneo” baseada em contextos e acontecimentos da sociedade. Aconteceram revoluções na área das ciências biológicas como a origem das espécies de Darwin, física com Copérnico ou Einstein e sua teoria da relatividade, psicanalítica com a fundação da psicanálise de Sigmund Freud e nas contradições desses tempos modernos. (CRISÓSTOMO, 2018) Em meados do século XIX, os pensadores começaram um processo criativo de inovação de teorias sobre a razão humana, indo de encontro a Kant que apregoava a moral formalista do dever e concentrando na universalização, num sujeito transcendental. Logo, indo na direção contrária dos gregos e da Idade Média que acreditavam que havia “um senso moral inato que geraria uma decisão de foro íntimo e espiritual”. Solidificou- se uma crença de que a formação do caráter e personalidade dependeriam de suas tendências culturais, logo, aspectos socioculturais seriam a pedra fundamental para construção das relações humanas. (CRISÓSTOMO, 2018) Em meados do século XX, o entusiasmo dos pensadores, que estavam encantados com as ciências e descobertas, em crer que o saber científico e a tecnologia poderiam controlar a sociedade, foi mitigado pela sucessivas ocorrências de guerras, desastres e desumanidades. El Aouar apud Crisóstomo retrata essa situação em sai obra Aspectos da Filosofia Contemporânea: As duas guerras mundiais, o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, os campos de concentração nazistas, as guerras da Coréia, Vietnã, Oriente Médio, do Afeganistão, as invasões comunistas da Hungria e da Tchecoslováquia, as ditaduras sangrentas da América Latina, a devastação dos mares, florestas e terras, a poluição do ar, os perigos cancerígenos de alimentos e remédios, o aumento de distúrbios e sofrimentos mentais, entre outros acontecimentos. Com a sequência de calamidades que ocorreram na ética contemporânea, os filósofos iniciaram um processo de repensar o comportamento humano em sociedade. Começaram a identificar as consequências negativas decorrentes das descobertas das ciências e das técnicas, uma vez que se encaminhava para sua própria destruição. Como representantes desse período têm-se: 6Friedich Hegel: Herrero (2004) relata que o filósofoalemão, em plena Revolução Francesa, explana sobre a realização política e a liberdade plena do homem; ele traz o conceito universal de que o homem tem direitos políticos e de liberdade simplesmente pelo fato de ser humano, sem a necessidade de criar rótulos ou classificação (vale pelo que é e não por onde veio ou a que etnia pertence, traz o conceito de economia política). Ele aprofunda a relação homem – cultura – história, trazendo a ética para o centro das relações sociais. Ele acreditava que a harmonia entre os povos dependia da vontade subjetiva individual e objetiva cultural, sempre a coletividade como reprodutora do conceito, ou seja, o homem sendo um sujeito histórico e social não poderia ser analisado individualmente, tendo à frente sua vontade política (“uma ação eticamente boa é politicamente boa”), o que contribuiria para o aumento da justiça social. O ideal ético dele estava em viver num estado livre no qual a consciência moral e as leis do direito não estivessem separadas ou em contradição (SANTOS;TEIXEIRA;SOUZA,2017). Nietzsche: filósofo formado pela Universidade de Bohn, na Alemanha, foi enorme influenciador da filosofia ocidental e da história intelectual. Ensaísta e crítico cultural, escrevia sobre moral, linguagem, estética, história, niilismo, poder, consciência e o real significado do homem na existência. Wilkerson escreve que para ser um humano exemplar é preciso elaborar a sua própria identidade por meio de autorrealização sem depender de algo transcendental como deus ou outra forma de crença que não a si mesmo. Ele apresenta quatro conceitos em suas afirmações de vida: a) revalorização de valores ou niilismo (‘a morte de Deus’, ou a crença em si mesmo, o nada existencial além de si); b) o exemplar humano (o Übermensch, que em inglês é traduzido como Superman: aquele indivíduo de espírito livre, filósofo do futuro, autocongratulatório de Nietzsche); c) vontade de potência (Willezur Macht, os sentimentos de poder a uma cosmologia) e d) recorrente eterna ou retorno eterno (solução para o enigma da temporalidade sem propósito). Para alguns, Nietzsche pode parecer extremamente depressivo, mas em suas teorias, como vontade e poder, ele aborda a expressão da vida, a exaltação da vida sem moral ou qualquer princípio organizador. Diferentemente, de outras, ele fala de si mesmo, de sua postura de super-homem que ama sabendo que é finito, pois só p tempo é infinito, e depois volta ao que era sem nenhuma lei que o comande, a não ser ele mesmo. (WILKERSON,2018). Karl Marx: nascido ma antiga Prússia, hoje Alemanha, o filósofo Karl Marx é uma das mais importantes figuras do cenário contemporâneo. Ele começou a criticar a teoria de Hegel por não concordar com os movimentos dialéticos da sociedade, por discordar que as ideias seriam as responsáveis por desenvolver o homem. A teoria era de que as condições materiais do humano interfeririam no modo de agir da sociedade. Para Marx, “a raiz do homem é o próprio homem em sua condição material, e não em sua condição ideal”, ou seja, o homem pode criar sua religião, sua constituição, o que ele quiser ser ou fazer, unir a teoria à prática da vida. Ele acredita que o homem religioso é um alienado pois ele acredita em algo que não a condição material dele mesmo. Ele coloca o trabalho libertário, uma forma de transformar a natureza e sua subsistência. O trabalho é algo natural e inerente ao homem e é um dos instrumentos que ele utiliza para transformar a natureza. O trabalho nos diferencia dos outros animais. Mas o próprio homem, desvirtuou essa função do trabalho, fazendo dele um instrumento de exploração do homem pelo homem. O trabalho tornou-se forma de subsistência da maioria dos trabalhadores explorados. Com a exploração, o resultado do trabalho é extorquido do trabalhador e o operário se torna também mercadoria. A isso, Marx 7chama de alienação do trabalho, o trabalho torna-se externo ao trabalhador. Após muito estudo sobre o desenvolvimento do capital, chega à conclusão de que o valor da mercadoria não está no objeto em si, mas na quantidade de trabalho humano necessário para produzir esse produto. Concebe então o conceito de mais-valia no qual a balança entre o trabalhador e o capitalista não é positiva para o trabalhador, podendo chegar, inevitavelmente, a uma desintegração da sociedade capitalista como a conhecemos (MARCONATTO,2018). Jürgen Habermas: autor do que ele denomina de “filosofia do assunto”, em que a comunicação é parte central do estudo, a linguística como instrumento da filosofia, o que foi chamado de “racionalidade comunicativa” na busca de alcance de entendimentos mútuos em vez de sucesso ou autenticidade na sociedade atual. (CRISÓSTOMO, 2018). Assim, a ética contemporânea representa a tentativa de encontrar respostas em meio a um momento de crise do projeto filosófico existente marcado por um racionalismo sempre presente. 4. Conceito de Ética Em sentido amplo a ética tem sido entendida como ciência da conduta humana perante o ser e seus semelhantes. Trata-se dos estudos de aprovação ou desaprovação da ação dos homens tendo como régua o valor. A virtude é considerada como prática do bem que culmina na materialização da felicidade e avalia os desempenhos humanos com relação às respectivas normas comportamentais. (Sá, 2019) Como móvel da conduta humana a ética tem uma concepção de objeto da vontade ou das regras que a direcionam. Nessa perspectiva, o bem não se trata de perfeição, mas matéria no domínio da vontade ética. “A conduta do ser é sua resposta a um estímulo mental, ou seja, é uma ação que se segue ao comando do cérebro e que, manifestando-se variável, também pode ser observada e avaliada”. A conduta diferencia-se do comportamento, que também é uma resposta a um estímulo cerebral, não obstante, este é constante, ocorre da mesma forma, em contrapartida, a conduta sujeita-se à variabilidade de efeitos. (Sá, 2019) “A ética corresponde ao exercício social de reciprocidade, respeito e responsabilidade. A ética, enquanto exercício da humanidade, nos confirma em nossa condição de seres produtores de valores. Compreender e dispor-se à intersubjetividade, parece ser este um traço fundamental da ética. Nesses tempos degradados e empobrecidos, ressente-se a experiência relacional com o outro. Não é à toa que a ética, ainda que muito invocada, está ausente da concretude diária das relações humanas. Uma palavra em desuso como esta – ética -, apesar de seu valor, tem sido considerada simplesmente um obstáculo a mais a atravancar o andamento das facilidades do pragmatismo consumista e comercial”. (BITTAR, 2014) Na balança ética são pesadas as diferenças de comportamentos a fim de medir-lhes a utilidade, finalidade, o direcionamento, as consequências, os mecanismos, os frutos. A ação humana é o ponto central de discussão da ética ou ponto de equilíbrio dos comportamentos. (BITTAR, 2014) 8A ciência que estuda a conduta humana é a Deontologia. O termo deontologia é derivado do grego deon (particípio neutro do impessoal dei) significando obrigatório, o justo, o adequado e logos significando tratado, ciência. O termo foi empregado por Jeremias Bentham, como a “ciência que estuda os deveres que se devem cumprir a fim de alcançar o ideal utilitário do maior número possível de indivíduos “. (BITTAR, 2014) O objeto material da Deontologia não é o direito adjetivo nem a técnica forense, mas a conduta do homem, que tem por profissão lidar com o Direito, seja advogado, magistrado, promotor de Justiça, serventuário da justiça ou notário. O objeto formal da Deontologia, além de conhecer o Direito que dever ser ou se pode exigir, oferece princípios e noções suficientes a indicar a conduta moralmente boa, digna e perfeita do profissional do Direito. (BITTAR, 2014) “O estudo dos paradigmas éticos permite ao estudioso fundamentar suas opiniões ou valores da forma mais convicta e persuasiva. Nesse sentido, ao proferir discursos sobre temaspolêmicos (eutanásia, pena de morte, pena alternativa, abandono clínico de criança portadoras de deficiências, casamentos de homossexuais, exploração econômica e meio ambiente, aborto, pesquisas com célula tronco, clonagem, etc.) o estudioso faz uso de um ou vários modelos éticos no sentido de persuadir o auditório ao qual se dirige em relação à tese que defende. O auditório pode ser um juiz, uma turma de desembargadores, uma plateia de estudantes, de advogados, de médicos, etc”. (GARCIA W. , 2022) A ética regula o comportamento humano, apontando os direitos e deveres de um padrão razoável de conduta para a pacificação nas relações sociais. Sobre os “fins” da ética Eduardo Bittar (2014, p. 51-52) ensina: Todas as éticas, sejam quais forem suas orientações, premissas, engajamentos e preocupações, sempre elegem “o melhor” como sendo a finalidade do comportamento humano. Toda postura ética assume uma espécie do que seja “o melhor” para o direcionamento da ação humana, e, uma vez eleita, segue a trilha e a orientação traçadas para sua realização, assumindo os riscos do caminho e das consequências. Isso quer dizer, num primeiro momento, que existe plena liberdade de opção ética. A essa liberdade de opção segue a responsabilidade na admi-nistração dos riscos e na assunção dos resultados. E, num segundo momen- to, que a noção do que seja “o melhor” é a força centrípeta de toda investi-gação ética; é em torno desse problema que circulam as investigações éticas. As éticas hedonistas elegem no prazer “o melhor” do agir humano; as éticas eudemônicas fazem residir na felicidade a busca ética; as éticas inte-lectualistas fazem residir no gozo contemplativo a finalidade da ação hu-mana; as éticas espiritualistas apregoam que a orientação do que seja “o melhor” deve provir de forças e intuições religiosas para encaminhar a ação humana com vistas a um porvir além-túmulo prenhe de graças e abundância; as éticas do dever fazem residir no ato moral, em si e por si, independente-mente de qualquer outro resultado ou finalidade, como imanência intelec-tual, a força e a razão de ser da ética da ação humana... Até mesmo o asce-tismo, quando elege a dor e a ausência de prazeres como fins, realiza uma opção ética que entende ser pelo “melhor”; o asceta está em busca de uma redenção espiritual, e vislumbra no presente uma forma de maceração car- nal para o alcance de gozos espirituais muito mais duradouros. Inclusive as éticas que apregoam no suicídio uma forma de liberação entendem ser esse o meio para 9pôr fim a tormentas existenciais ou materiais, ou seja, para reduzir ou exterminar uma quota de dor com vistas “ao melhor”. Em todas as correntes e orientações éticas reside uma preocupação estável, constante e perene, qual seja: orientar a conduta humana para “o melhor”. Mas o que seja “o melhor”, isto é controverso, de modo que as dou-trinas éticas divergem não quanto ao que seja a busca ética, mas sim quan-to ao que seja o conteúdo da busca ética. Em outras palavras, se o que é “o melhor” varia de acordo com inúmeras valorações e tendências, não há de existir uma forma única e homogênea de se pautar a conduta ética. A ex- pressão “o melhor” (áriston, para o grego) é semanticamente aberta, de modo a determinar entendimentos diversos quanto ao que seja realmente “o melhor”. 4.1. Aspectos sobre a “ética” e a “moral” A ética responde aos questionamentos que fazemos a nós mesmos quando ficamos na dúvida moral de saber se um ato a é certo ou errado perante a sociedade. A palavra “moral” vem do latim “moralis” e quer dizer “costumes” ou “relativo ao comportamento”. A moral regula o comportamento humano, agindo no cotidiano e interação entre os indivíduos, fazendo com que sejam criadas novas normas e regras de convivência. Os valores humanos são primordiais para o surgimento das normas que regem a sociedade. A moral é o conjunto de normas que determinam a conduta do indivíduo em sociedade ou um grupo. Tais normas são originadas da cultura, costumes, tradição, e cotidiano de uma sociedade; muito embora essas influências, são princípios pessoais criados e sustentados pelos próprios indivíduos. Costuma-se afirmar que a ética seria uma “racionalização da moral”, ou seja, ela tenta explicar as regras morais de uma forma racional, que faça sentido. Observemos o seguinte exemplo para facilitar o entendimento: ao passo que a ética procura encontrar o significado sobre “o que é o bem?” e “o que é o mal?”, a moral questiona “será que essa é uma atitude boa?” ou “será que essa é uma atitude ruim?”. Mesmo com a diferença, ambas possuem a finalidade de delimitar os valores que orientarão o modo de agir do indivíduo na sociedade. Segundo Eduardo Bittar (2014, p. 30), a ética demanda do indivíduo: 1. Conduta livre e autônoma: a origem do ato ou da conduta parte da livre consciência do agente. 2. Conduta dirigida pela convicção pessoal: o autoconvencimento é o exercício que transforma ideias, ideologias, raciocínios e pensamentos em princípios da ação, sob a única e exclusiva propulsão dos interesses do indivíduo. 3. Conduta insuscetível de coerção: a falta de sanção mais grave, dependendo da consciência e dos valores sociais, peculiariza a preocupação ética (exclusão do grupo, vergonha, dor na consciência, arrependimento...). 10Vejamos algumas observações sobre a relação entre a “ética” e a “moral: A ética é a reunião de regras, costumes, comportamento, hábitos, ca-ráter, índole e modo de ser de uma sociedade, definidos pelo estudo do comportamento humano. É comumente confundida com a moral, como se ambas tivessem o mesmo significado. A moral é o padrão individual de comportamento, a partir da convicção íntima do indivíduo, determinando o que é certo ou errado, bom ou mau, enquanto inserido na convivência social. Dessa forma, podemos dizer que ética é a conduta oriunda de um sistema social, enquanto moral vem da ordem individual do ser como um indivíduo. Neste capítulo, você vai ler sobre o conceito geral de ética e enten-der que, em um contexto filosófico, ética e moral possuem significados diferentes. Ainda, vai identificar o objeto e a natureza da ética. Comumente, a ética e a moral são confundidas e consideradas a mesma coisa em razão da grande relação que entre elas. Contudo, a ética envolve estudo, análise e compreensão dos sistemas morais presentes em uma sociedade, ou seja, é o conjunto de regras de um grupo. Mas, então, o que é a moral? De forma bem objetiva, podemos dizer que moral é o agrupamento de normas e regras que regem a conduta do indivíduo em sociedade e em um grupo. As regras são adquiridas por meio de cultura, costumes, tradição, educação e até mesmo do cotidiano; apesar de todas essas influências, são princípios pessoais criados e sustentados pelos próprios indivíduos. [...] O que é uma conduta amoral? Nela, o indivíduo se encontra fora do contexto no qual as regras de convivência foram criadas, por não as conhecer, ignorá-las ou não ter senso moral. Um exemplo é o indivíduo absolutamente incapaz. Além disso, devemos lembrar que existem diversas culturas com dife-rentes sistemas morais para a organização da vida em sociedade, devido à diferença, em linhas gerais, entre a cultura brasileira e a de outros países. Por exemplo, existe a cultura da mutilação do genital feminina em países africanos, no Iémen, no Curdistão Iraquiano, em lugares da Ásia, entre outras localidades do mundo. O que é uma conduta imoral? É a praticada pelo indivíduo que conhece as regras de convívio estabelecidas pela sociedade em que vive, mas sua conduta é contrária aos princípios morais. Por exemplo, o desonesto ou libertino é o indivíduo que tem por hábito furar a fila do banco, a fila do ônibus, jogar lixo no chão, colar na prova, fazer fofoca, entre outros comportamentos.De forma prática, para não haver confusão entre ética e moral, basta ter em mente que a moral ordena e a ética aconselha. A moral vai responder ao seguinte questionamento:o que devo fazer? Por sua vez, a ética responderá à seguinte questão: como devo viver? (RODRIGUES, William et al., 2018, p.11-13) Para Eduardo Bittar (2014, p. 41-42), temos os seguintes conceitos de ética e moral: É neste sentido que se pode falar em duas esferas distintas, e, clara e nitidamente distintas entre si (apesar se tratar de praxe de linguagem o uso indiscriminado dos termos ética e moral como sinônimos, inclusive ao longo desta obra), que tocam à discussão da temática, e que resultam da reflexão da linguagem moral: uma que se pode chamar de ética e outra que se pode chamar de moral. Define-se ética, neste passo, como sendo a capacidade de resistência que o indivíduo tem em face das externas pressões advindas do meio. De-fine-se moral como o conjunto das sutis e, por vezes até mesmo não explí-citas, manifestações de poder axiológico, capazes de constituir instâncias de sobredeterminação das esferas de decisão individual e coletiva. Trata-se da tensão bipolar indivíduo/sociedade expressa na relação entre Sittlichkeit e Moralität, advinda dos debates do eixo filosófico Kant-Hegel23, também incorporada na reflexão de Jürgen Habermas24, tão 11determinante na defini-ção dos níveis de consciência moral. É certo que não há indivíduo sem sociedade, e vice-versa, de modo que comportamento ético e exigência moral social acabam se intercambian-do o tempo todo. Mas o que precisa ficar claro é que nem tudo o que é moralmente aceito (por um grupo, por uma maioria, ou pela hegemonia coletiva) pode ser chamado de eticamente aceitável. Os alemães do período entreguerras não somente votaram no partido social-nacionalista, que veio a conduzir Hitler ao poder, como aplaudiram seu expansionismo e seu di-namismo disciplinado que devolveu dignidade ao povo alemão e ascendeu a nação alemã ao ápice do poder europeu; não teriam sido cúmplices do extermínio sistemático de judeus, ciganos, poloneses e deficientes? Seria lícito neste período ser contra o antissemitismo reinante? A questão que se põe define bem a diferença entre as práticas sociais majoritárias, os valores consagrados pelo consenso de meio-termo social, e a marca da contribuição do in-divíduo (aquele que não se divide) para o mundo, da personalidade que não se esgota em reproduzir a moralidade alheia, mas criativamente se faz sujeito por decidir com autoesclarecimen-to. Ser resistente, no sentido foucaultiano, é ser capaz de exercitar a sua autonomia, a sua personalidade, ante mesmo a conjuntura que força à pas-teurização e à homogeneização dos comportamentos em unidades servis a ideologias reinantes. Em poucas palavras, é não se deixar assujeitar, na medida em que isto é possível, nos diversos contextos em que é possível resistir às inflexões do poder. 5. Liberdade, Consciência e Responsabilidade da Conduta Ética “A palavra ética possui conexões com as palavras gregas ethos e araté. Éthos significa costume, uso, hábito, mas também significa caráter, temperamento, índole, maneira de ser de uma pessoa. O éthos é tratado pela ética (tá ethiká), que estuda as ações e as paixões humanas segundo o caráter ou a índole natural dos seres humanos. Na filosofia latina (Cícero) a palavra éthos foi traduzida por moral (moralem). Por esse motivo, as palavras moral e ética aparecem muitas vezes como sinônimas.” (GARCIA, 2022) “Areté significa mérito ou qualidade no qual alguém é o mais excelente: excelência do corpo, da alma, da inteligência. Areté foi traduzida para o latim por virtus (virtude). Inicialmente, as palavras areté e virtus significaram força e coragem, só depois passaram a significar excelência e mérito moral e intelectual. Areté indica, portanto, um conjunto de virtudes ou valores (éticos, físicos, morais, psíquicos, políticos, intelectuais) que forma um ideal de excelência e de valor humano para os membros da sociedade, orientando o modo como as pessoas devem ser educadas e indicando as instituições sociais nas quais esses valores se realizam. Assim a ética se constitui uma disciplina que auxilia na formação do caráter da pessoa conforme certa aspiração social.” (CHAUÍ, 1998) apud (GARCIA, 2022) A consciência ético-profissional do operador do direito deve estar em conformidade na realidade do seu contexto social. Independente carreira jurídica que esteja atuando (juiz, promotor, advogado, pesquisador, professor de direito, delegado, procurador de justiça), não podem estar preocupados apenas com o aspecto formal, estrutural (caráter formular das normas jurídicas), mas os desdobramentos práticos de suas prescrições (efeitos sociais, culturais, políticos, econômicos, ambientais, etc). (BITTAR, 2014) O jurista deve ter a consciência de que os exercícios de suas atribuições podem, de alguma forma, restringir a liberdade, alterar fatores econômicos, prejudicar populações, dentre outros direitos inerentes à dignidade da pessoa humana. (BITTAR, 2014) O Direito deve ser reino de liberdade que mediante aplicação da lei materializa as condições de exercício da liberdade. Muitas vezes, o Direito não é um direito justo, nem promove liberdade. E acaso isso aconteça, não estamos diante do verdadeiro Direito, mas mera legislação ou outra fonte de direito, contudo, contaminada. “O Direito só mana da fonte castálica da mais pura da fonte da mais pura juricidade, que tem um componente de eticidade fundamental, sem se confundir, contudo, com uma ‘moral’ armada, o que seria a sua própria negação, enquanto entidade autónoma, e em que a autonomia é um elemento de valor, marante e substancial“. (CUNHA, 2008) O abuso da liberdade ética pode gerar responsabilidade. “Responsabilidade quer dizer que uma pessoa deve ser capaz de prestar contas por suas ações por consequências que delas decorrem. Sendo assim, só pode responder por suas ações e pelas consequências que delas decorrem. Sendo assim, só pode responder por suas ações o indivíduo capaz de possuir a liberdade de escolha. Para que se possa falar em responsabilidade moral é necessário que se entenda o livre arbítrio”. (CRISÓSTOMO, 2018) Falar de ética e responsabilidade moral é relacionar os dois conceitos, diga- se, relacionar as ações humanas e suas consequências nas relações sociais. Trata-se do dano causado ao indivíduo, a um grupo ou a sociedade inteira decorrente de suas ações ou omissões de outro indivíduo ou grupo. Assim, “a responsabilidade moral é um segmento das obrigações éticas, circunscrito pela intersecção das esferas que os separam, em um plano o direito e em outro plano a responsabilidade privada. Ser moralmente responsável é cuidar para que as relações não sejam negativas. Ela esgota-se na prevenção dos males que possam causar e na reparação daqueles que vieram a causar, sem ter a intenção de fazê-lo. Tem se observado que um dos índices que manifesta o progresso moral das relações é a elevação da responsabilidade dos indivíduos desses grupos no seu comportamento moral”. (CRISÓSTOMO, 2018). 12 BIBLIOGRAFIA PRINCIPAL ADEODATO, João Maurício. Ética e retórica. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2012. E-book. BITTAR, Eduardo C.B. Curso de ética jurídica: ética geral e profissional. 10ª Ed. Ed. Saraiva: Rio de Janeiro, 2014, e-book. COSTA, Elcias Ferreira da. Deontologia jurídica: ética das profissões jurídicas. 4 Ed. Gen. Rio de Janeiro: Forense, 2013. E-book. MATERIAL COMPLEMENTAR BAUMAN, Zygmunt. Ética Pós-moderna. Tradução: João Rezende Costa. 2ª Ed. São Paulo. Ed. Paulus, 1997, e-book. CRISOSTOMO, Alessandro Lombardi. Ética. Porto Alegre. Ed. Sagah, 2018, e-book. GARCIA, Wander...[et al.] Super revisão OAB: doutrina completa. 12ª Ed. Indaiatuba/SP. Ed. Foco, 2022, e-book. SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 10ª Ed. São Paulo: Ed. Atlas, 2019, e-book. (SÁ, 2019) ARTIGOS CUNHA, Paulo Ferreira da. Liberdade, ética e direito. Revista Nomos, v.28, n.2,Fortaleza, jul/dez 2008/2. RODRIGUES, William Gustavo et al. Ética geral e jurídica. Porto Alegre: Sagah, 2018. E-book. 13
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