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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE ENGENHARIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA Projeto, Simulação e Construção de um Alto Falante de Plasma Lucas Jordão Santos Belo Horizonte Junho de 2019 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE ENGENHARIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA Projeto, Simulação e Construção de um Alto Falante de Plasma Lucas Jordão Santos Monografia apresentada durante o Seminário dos Trabalhos de Conclusão do Curso de Graduação em Engenharia Elétrica da UFMG, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro Eletricista. Orientador: Prof. Thiago Ribeiro de Oliveira Belo Horizonte Junho de 2019 Resumo A reprodução eletroacústica de sons se dá através da vibração de um diafragma cujo material de fabricação pode variar a depender da aplicação e custo do alto falante. Diafragmas tradicionais consistem em membranas de papel ou material plástico, e geram problemas na reprodução de altas frequências devido à sua massa. Uma solução possível é a utilização de materiais mais leves, buscando menor massa possível ou nenhuma massa. Este trabalho consiste no projeto de um alto falante que utiliza plasma como diafragma para reproduzir música. O projeto consiste na simulação e construção de um circuito capaz de gerar um feixe de plasma e modulá-lo para reproduzir sinais sonoros na frequência de audição humana. O circuito foi construído e testado de forma a permitir reproduzir músicas provenientes de qualquer dispositivo digital. Abstract The electroacoustic reproduction of sounds occurs through the vibration of a diaphragm whose material of manufacture can vary depending on the application and cost of the loudspeaker. Traditional diaphragms consist of paper or plastic membranes, and generate problems in the reproduction of high frequencies due to their mass. One possible solution is the use of lighter materials, seeking the lowest possible mass or no mass at all. This work consists of the design of a loudspeaker that uses plasma as a diaphragm to reproduce music. The project consists of the simulation and construction of a circuit capable of generating a plasma beam and modulating it to reproduce sound signals in the frequency of human hearing. The circuit has been built and tested in order to play music from any digital device. Lista de Imagens Imagem 1: Globo de plasma _____________________________________________________ 18 Imagem 2: Arco elétrico ocorrendo no fechamento de chave seccionadora_______________ 17 Imagem 3: William Du Bois Duddell _______________________________________________ 19 Imagem 4: O Ionophone ________________________________________________________ 20 Imagem 5: Alto falante Ionovac __________________________________________________ 20 Imagem 6: Alto falante CORONA _________________________________________________ 21 Imagem 7: Alto falante ION TW 1S ________________________________________________ 21 Imagem 8: Alto falante Plasma Signature __________________________________________ 22 Imagem 9: Típico transformador Flyback de circuito de televisão CRT ___________________ 32 Imagem 10: Varistor MOV 14D201K ______________________________________________ 36 Imagem 11: Circuito protótipo construído _________________________________________ 43 Imagem 12: Transformador Flyback com novo enrolamento primário ___________________ 44 Imagem 13: Transfomador flyback e eletrodos ______________________________________ 45 Imagem 14: Regulagem da frequência de oscilação __________________________________ 45 Imagem 15: Regulagem do Duty Cycle_____________________________________________ 46 Imagem 16: Arco elétrico gerado _________________________________________________ 46 Imagem 17: Arco elétrico gerado no ambiente com pouca luz _________________________ 47 Imagem 18: Sinal de saída do PWM (curva 1) e sinal de entrada do gerador de sinais (curva 2) para testes ___________________________________________________________________ 47 Imagem 19: Sinal PWM modulado pelo Duty Cycle. Nota-se a variação da proporção ligado/desligado na imagem atrasada do osciloscópio ________________________________ 48 Imagem 20: Tensão na saída do TL494 (canal 1) e entrada do transformador flyback (canal 2) 49 Lista de Figuras Figura 1: Representação de uma onda sonora ______________________________________ 13 Figura 2: Equação básica da onda sonora __________________________________________ 14 Figura 3: Representação de um alto falante de bobina móvel __________________________ 15 Figura 4: Diferença no estado da matéria pelo aumento de energia _____________________ 16 Figura 5: Exemplos de plasma - Densidade elétrica pela temperatura ___________________ 16 Figura 6: Fluxograma base do circuito _____________________________________________ 23 Figura 7: Circuito base _________________________________________________________ 24 Figura 8: Duty Cycle de um sinal _________________________________________________ 25 Figura 9: Exemplos de formas de onda com mesma frequência e diferentes Duty Cycles ____ 26 Figura 10: PWM na geração de um sinal analógico ___________________________________ 27 Figura 11: Diagrama de blocos simplificado do TL494 ________________________________ 28 Figura 12: Diagrama de tempos no circuito do TL494 _________________________________ 28 Figura 13: Diagrama funcional do TC4420/4429 _____________________________________ 30 Figura 14: IPRF250 – Encapsulamento e símbolo esquemático _________________________ 31 Figura 15: Circuito seguidor de tensão ____________________________________________ 34 Figura 16: Circuito regulador de tensão ____________________________________________ 35 Figura 17: Circuito Snubber de tensão _____________________________________________ 35 Figura 18: Esquemático do circuito finalizado _______________________________________ 37 Figura 19: Esquemático do circuito de alimentação auxiliar ____________________________ 39 Figura 20: Tensões na entrada e saída do circuito de alimentação auxiliar ________________ 39 Figura 21: Esquemático do circuito seguidor de tensão _______________________________ 39 Figura 22: Tensões na entrada e saída do circuito seguidor de tensão ___________________ 40 Figura 23: Circuito PWM ________________________________________________________ 40 Figura 24: Saída simulada do sinal PWM sem entrada de áudio, com frequência de oscilação fosc = 11 kHz _________________________________________________________________ 41 Figura 25: Saída simulada do sinal PWM para uma entrada de onda quadrada com frequência de 500 Hz ____________________________________________________________________ 41 Figura 26: Saída simulada do sinal PWM para uma entrada de onda senoidal com frequência de 500 Hz ______________________________________________________________________ 42 Figura 27: Saída do PWM para uma entrada de onda senoidal composta por três sinais (50 Hz, 500 Hz e 5000 Hz) _____________________________________________________________ 42 Figura 28: Circuito de Potência___________________________________________________ 42 Figura 29: Tensões de entrada e saída (F1) do Circuito de Potência _____________________ 43 Figura 30: Esquemático do Flyback _______________________________________________ 44 Sumário 1. Introdução _______________________________________________________________ 11 1.1. Motivação ___________________________________________________________ 11 1.2. Objetivos do projeto ___________________________________________________ 11 2. Revisão Bibliográfica _______________________________________________________ 13 2.1. O Som ______________________________________________________________13 2.2. O Plasma ____________________________________________________________ 16 2.3. Plasma como meio de geração de sons ____________________________________ 17 2.4. Histórico ____________________________________________________________ 19 2.5. Estado da arte ________________________________________________________ 20 3. Metodologia _____________________________________________________________ 23 3.1. Modelagem do circuito ________________________________________________ 23 3.1.1. O Circuito Base ___________________________________________________ 24 3.1.2. Circuito de Controle _______________________________________________ 24 3.1.3. Circuito de potência _______________________________________________ 29 3.1.4. Transformador elevador de tensão ___________________________________ 32 3.2. Melhorias no circuito __________________________________________________ 33 3.2.1. Entrada de áudio _________________________________________________ 33 3.2.2. Circuito de alimentação ____________________________________________ 34 3.2.3. Proteção ________________________________________________________ 35 4. Resultados _______________________________________________________________ 37 4.1. Circuito Final _________________________________________________________ 37 4.2. Simulações __________________________________________________________ 38 4.2.1. Circuito de alimentação ____________________________________________ 38 4.2.2. Circuito seguidor de tensão _________________________________________ 39 4.2.3. Circuito de Controle (PWM) _________________________________________ 40 4.2.4. Circuito de Potência _______________________________________________ 42 4.3. Construção do circuito _________________________________________________ 43 4.4. Funcionamento do Circuito _____________________________________________ 46 5. Conclusão e Trabalho Futuro ________________________________________________ 50 6. Referências ______________________________________________________________ 52 11 1. Introdução 1.1. Motivação Sons podem ser criados através da vibração dos mais variados tipos de membranas. Alto falantes tradicionais são transdutores eletroacústicos que convertem energia elétrica em energia acústica através da vibração de membranas feitas de papelão ou plásticos especiais. Esse tipo de membrana gera perdas na reprodução dos sinais sonoros devido à energia necessária e ao tempo de resposta para se vencer a inércia de sua massa. Essa desvantagem é ainda maior para sinais de alta frequência, onde ocorrem variações muito mais rápidas do sinal. Para se solucionar esses problemas, foram estudados ao longo da história diversas opções de membranas com massa quase nula, como utilização de ar comprimido (The Auxetophone & Other Compressed-Air Gramophones, 2018), chamas (JOSHEP, 2018) e plasma, este último, o foco deste trabalho. A utilização de plasma para geração de som se dá através do aquecimento do ar em torno do plasma, que cria variações de pressão as quais vibram o ar gerando som. Controlando o sinal responsável pela geração de um arco elétrico entre dois eletrodos, é possível se controlar o som gerado pelo mesmo. A motivação desse trabalho é a busca pela melhor forma de se reproduzir sons, cada vez mais fiéis e com menor interferência possível, independente da frequência utilizada. Além disso, utilizando uma interface agradável e divertida de se ver, através da exposição do arco elétrico, tornando a reprodução de sons prazerosa visual e acusticamente. 1.2. Objetivos do projeto O presente trabalho tem por principal objetivo o desenvolvimento de um circuito capaz de gerar reprodução eletroacústica utilizando-se de um arco elétrico modulado. O circuito deverá ser projetado, simulado e então será realizada a construção de um protótipo. 12 Espera-se que o circuito montado possa reproduzir sons oriundos de qualquer sinal analógico entregue à entrada do circuito, com o mínimo de perdas, máxima redução de ruídos, e potência suficiente para ser reproduzido em um ambiente ruidoso. Após a construção do protótipo, devem ser realizados testes para se definir possíveis melhorias do projeto, permitindo reduzir possíveis ruídos e aumentar a potência entregue ao arco elétrico, gerando assim sons de maior volume. 13 2. Revisão Bibliográfica 2.1. O Som O som é uma onda mecânica, longitudinal, que se propaga apenas em meios materiais, sólidos, líquidos ou gasosos. Para sua propagação ocorrer, faz- se necessário compressões e rarefações em propagação no meio. Possui uma velocidade (m/s), uma frequência medida em hertz (Hz) e uma amplitude medida em Newtons por metro (N/m), como representado na Figura 1. (Sound Transducers, 2018) Figura 1: Representação de uma onda sonora O comprimento de onda do som é a distância em que um ciclo completo de pressão ocorre. É medido em metros e usualmente representado por λ. O tempo necessário para que um comprimento de onda se propague por um ponto específico do espaço é chamado de período, medido em segundos e representado por T. A frequência da onda sonora é o inverso do período, e representa a quantidade de comprimentos de onda que passaram por um ponto durante um segundo. É medida em Hz (Hertz) e representada por f, podendo ser calculada por: 𝑓 = 1 𝑇 (1) 14 A audição humana é capaz de perceber em média sons em uma frequência entre 20 Hz e 20 kHz. Sons abaixo dessa frequência são chamados de infrassons, e acima ultrassons. (HELERBROCK) A velocidade da onda sonora pode ser calculada pela relação entre o período e o comprimento de onda, sendo dada em m/s (metros por segundo) e representada por v. 𝑣 = 𝜆 𝑇 = 𝑓 ∗ 𝜆 (2) Figura 2: Equação básica da onda sonora Ao se propagar, a onda sonora gera perturbações na pressão de equilíbrio do meio. A magnitude dessa variação na pressão é a amplitude da onda sonora, dada em newtons por metro e representada por A (ACADEMIC, BRITANNICA, 2018). A amplitude pode ser matematicamente descrita pela equação geral da onda, dada por: 𝑦(𝑥, 𝑡) = 𝐴 ∗ sin[2𝜋 ∗ (𝑓𝑡 − 𝑥 𝜆 )] (3) Onde x é a distância percorrida pelo comprimento de onda (λ) com uma certa velocidade. A intensidade da onda sonora é o que é reconhecido como o volume (ou altura) do som, e é calculada a partir da amplitude e da velocidade da onda (ACADEMIC, BRITANNICA, 2018), de modo que: 𝐼 = 𝐴2 2∗𝑝∗𝑣 (4) 15 Onde p é a densidade de equilíbrio do ar e v a velocidade de propagação da onda sonora. A intensidade é representada por I e medida em watts por metro quadrado. Como a intensidade não varia linearmente com a variação da amplitude, é utilizada a notação em decibéis (dB) para se indicar a intensidade da onda, e dada pela equação (5): 𝐼(𝑑𝐵) = 10 log ( 𝐼 𝐼0 ) (5) A intensidade de referência I0 corresponde ao valor de 0 dB, que pode ser aproximado pela intensidade de uma onda com frequência de 1 kHz no limite mínimo da audição (ACADEMIC, BRITANNICA, 2018). A geração de sons se dá em sua maioria pela vibração de um diafragma na frequência desejada, assim vibrando o ar para se propagar a onda sonora. A conversão eletroacústica se utiliza de uma bobina móvel conectada ao diafragma, em torno de um imã permanente, de forma que, quando uma corrente é aplicada, a bobina se movimente, fazendo o diafragma vibrar o ar gerando o som na frequência desejada. Um esquemático de um alto falante com tradicional com diafragma com cone de papelão é representado na Figura 3. Figura 3: Representação de um alto falante de bobina móvel 16 2.2. O Plasma Considerado o quarto estado físico da matéria, o plasma se assemelha ao gás por não possuir forma ou volume definido, mas se diferencia por ser eletricamente condutor e altamente responsivo a campos magnéticos. Figura4: Diferença no estado da matéria pelo aumento de energia O plasma pode ser gerado artificialmente através de um gás pelo aquecimento do mesmo, para que ocorra ionização, ou através de uma diferença de potencial extremamente alta, como representado na Figura 4. O aquecimento de um gás a temperaturas elevadas faz com que os elétrons deixem os átomos, resultando em alta concentração de elétrons livres, criando assim o plasma ionizado. Figura 5: Exemplos de plasma - Densidade elétrica pela temperatura 17 Através de uma grande diferença de potencial, pode-se gerar a ruptura dielétrica do gás, produzindo uma descarga elétrica (arco elétrico). A corrente desta descarga atravessando um meio normalmente isolante produz plasma, e este plasma produz luz visível. Através do controle de campos magnéticos aplicados ao plasma, é possível controlar sua estrutura, de forma a conseguir moldá-lo. Imagem 1: Arco elétrico ocorrendo no fechamento de chave seccionadora. A grande diferença de potencial na linha de distribuição faz com que ocorra o arco no momento de manobra da chave seccionadora. 2.3. Plasma como meio de geração de sons A variação de pressão do ar devido à variação de temperatura gerada pela passagem do arco elétrico gera ondas de compressão e descompressão do ar, resultando em som. Esse princípio é utilizado para a criação do alto falante de plasma, onde a variação da frequência da descarga elétrica permite controlar o som produzido. Um alto falante de plasma varia o plasma através do controle do arco elétrico, de forma a produzir som utilizando um diafragma de massa praticamente nula e inércia nula. Isso permite redução da distorção ao anular as perdas físicas na reprodução do som, atingindo uma resposta transitória muito superior, principalmente para sons em alta frequência. Utilizando uma série de pulsos de alta tensão entre dois eletrodos, ionizando o ar em cada pulso, é criado um mecanismo capaz de concentrar a energia em uma área cilíndrica entre os eletrodos. O gás ionizado consiste principalmente de nitrogênio e oxigênio em moléculas diatômicas (N2 e O2), e é linear em sua variação de temperatura, de forma que: 18 Δ𝑇 = 2 3𝑅 ∗ Δ𝑈 (6) Onde ∆T é a variação de temperatura, ∆U a energia interna do gás diatômico, e R a constante ideal do gás. Dessa forma, se uma certa quantidade de energia for depositada, a temperatura irá variar proporcionalmente. Ocorrendo entre os pulsos de alta tensão, o resfriamento do gás à temperatura ambiente se dá em uma escala de forma rápida o suficiente para que a variação de tensão gere uma série de impulsos na temperatura. Dessa forma, como o gás não possui tempo suficiente para se expandir, pode ser considerado um volume constante durante o processo, que permite uma aproximação através da equação da lei dos gases ideais: Δ𝑃 = 𝑛𝑅 𝑉 ∗ Δ𝑇 (7) Combinando as equações (6) e (7), temos: Δ𝑃 = 2𝑛 3𝑉 ∗ Δ𝑈 (8) Dessa forma, conhecendo a variação de energia, sabe-se a variação na pressão. Isso permite que através de um controle da energia entregue, dado pelo controle dos pulsos de alta tensão, consiga variar a pressão na frequência desejada e reproduzir sons da faixa audível. (MICHAEL HOPKINS, 2012) (DAN PETERSON, 2016) Imagem 2: Performance artística da banda ArcAttack. A banda utiliza bobinas de tesla de grande porte como alto falantes para suas performances. 19 2.4. Histórico O físico britânico William Duddell foi o primeiro a se utilizar de um arco elétrico para geração controlada de sons, em 1899. Buscando solucionar o problema de ruídos gerados por lâmpadas a arco elétrico entre eletrodos de carbono, ele adicionou um circuito ressonante utilizando um indutor e um capacitor e, utilizando um teclado para variar a tensão, foi capaz de gerar diferentes tons através do arco. Para demonstrar seu experimento, ele tocou “Deus salve a Rainha” criando assim o que é considerado a primeira execução de música eletrônica. (CRAB, 2018) Imagem 3: William Du Bois Duddell Inspirado por Duddell, os físicos dinamarqueses Valdemar Poulsen e Peder Pedersen utilizaram, em 1902, um gerador que produzia arcos elétricos contínuos na frequência de mega-hertz para criar um transmissor de rádio. Apenas em 1946 foi criada a primeira patente de um dispositivo que utiliza de descargas elétricas para reproduzir sons acústicos. O francês Siegfried Klein utilizou um pequeno tubo de quartzo acoplado em uma corneta com um arco controlado em seu interior, podendo ser utilizado tanto como alto falante como microfone. Nomeou seu dispositivo de Ionophone. (RUSSELL, 2004) 20 Imagem 4: O Ionophone 2.5. Estado da arte A tecnologia de reprodução sonora utilizando arcos elétricos já apareceu em alguns produtos comercializados ao público geral, geralmente como tweeters de alta qualidade e preço. Lançado em 1956, o Ionovac utilizava da tecnologia do Ionophone e tinha o preço de U$147,00. Sua primeira versão tinha uma vida útil de 200 a 300 horas devido ao desgaste do quartzo. Uma nova versão foi lançada em 1958 com vida útil de 1200 horas. (RUSSELL, 2004) Imagem 5: Alto falante Ionovac Em 1978 a CORONA Acoustic GmbH lançou o CORONA. Este plasma speaker também era baseado no Ionophone e teve três versões fabricadas. Teve seu nome difundido no mercado por possuir a melhor eficiência entre os alto falantes de plasma em sua época de fabricação. (HAUMANN, 2001) 21 Imagem 6: Alto falante CORONA A fabricante alemã Acapella produziu em 2001 o tweeter ION TW 1S, comercializado a U$2500,00. Com design e especificações de alto nível, permitia observar o arco elétrico dentro da corneta. Imagem 7: Alto falante ION TW 1S 22 A Vaughn Loudspeakers produz atualmente um conjunto de alto falantes com um tweeter de plasma chamado Plasma Signature. Comercializado por U$20.000,00, vem em conjunto com alto falantes tradicionais para os sons médios e graves. (REICHERT, 2018) Imagem 8: Alto falante Plasma Signature 23 3. Metodologia 3.1. Modelagem do circuito O circuito a ser desenvolvido para este trabalho deverá converter um sinal de áudio entregue por uma fonte qualquer em uma saída em forma de arco elétrico entre dois eletrodos, modulado de forma a reproduzir o sinal de áudio da entrada como um alto falante. Este circuito está divido em dois módulos para melhor análise do mesmo: o primeiro módulo é referente ao circuito de acionamento e o segundo, referente ao circuito de potência junto ao circuito elevador de tensão. O circuito de acionamento deverá receber o sinal de áudio da entrada e gerar uma saída modulada para chaveamento dos transistores no circuito de potência, estes os quais comutarão um circuito magnético elevador de tensão para gerar o arco desejado. O circuito de acionamento é baseado em um gerador de sinal modulado do tipo Modulação por Largura de Pulso – Pulse Width Modulation (PWM). Para tal, serão estudados a utilização de um circuito oscilador composto por um circuito integrado dedicado para este uso. O circuito de potência é a interface entre o sinal PWM gerado pelo circuito de acionamento e o arco elétrico gerado. Ele consiste de transistores de potência diretamente comandados pelo sinal PWM, um circuito magnético elevador de tensão e um sistema que condiciona o pulso de alta tensão no secundário do elemento magnético. Figura 6: Fluxograma base do circuito Circuito de acionamento CI dedidado para geração sinal PWM a partir de um sinal de áudio Circuito de potência Transistores chaveados pelo sinal PWM para controle do transformador elevador Geração do arco elétrico 24 3.1.1. O Circuito Base O circuito básico consiste de um circuito integrado modulador PWM para condicionamento do sinal de áudio. A saída do modulador acionaráum MOSFET, que irá realizar o chaveamento do transformador elevador de tensão. Figura 7: Circuito base A Figura 7 é uma representação esquemática do circuito base a ser projetado. As etapas de desenvolvimento serão explicitadas a seguir, junto com o dimensionamento dos elementos e possíveis melhorias no projeto. 3.1.2. Circuito de Acionamento Modulação por largura de pulso (Pulse Widht Modulation, em inglês, ou PWM) consiste em se alterar a largura dos pulsos de uma onda quadrada de forma proporcional à amplitude de um sinal de referência. É uma técnica de modulação que permite sintetizar um sinal analógico de potência, tendo como dispositivo acionador um conversor estático que recebe apenas comandos digitais. A técnica é muito utilizada para acionamentos elétricos, iluminação, etc. (SILVEIRA, 2018) A modulação PWM consiste basicamente de se comparar um sinal analógico modulante (referência) com uma portadora triangular ed alta frequência, de modo que a saída do comparador será uma onda quadrada de frequência igual à portadora e ciclo de trabalho variável. O PWM é um sinal completamente digital, pois consiste apenas de estados ligado e desligado. Ao se 25 empregar o PWM no comando de conversores eletrônicos, os tempos de ativação e desativação são respectivamente os períodos onde a alimentação da carga está ligada ou desligada. Considerando uma razão de frequência entre portadora e modulante suficientemente grande e um circuito de potência com larga banda de passagem, pode-se converter qualquer sinal analógico em um sinal PWM. Para tal, considerando uma onda quadrada, deve-se variar a largura do pulso da onda. Dois parâmetros devem ser então considerados: a largura do pulso e o período da onda. A relação entre eles é chamada de Duty Cycle, e informada em pontos percentuais (%). 𝐷𝑢𝑡𝑦𝐶𝑦𝑐𝑙𝑒 = 𝐿𝑎𝑟𝑔𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑜 𝑃𝑢𝑙𝑠𝑜 𝑃𝑒𝑟í𝑑𝑜𝑑𝑜 𝑑𝑎 𝑂𝑛𝑑𝑎 𝑥 100 (%) (9) Figura 8: Duty Cycle de um sinal Onde: Pulso: Tempo em que o sinal está ligado; Ciclo: intervalo entre a subida de dois pulsos consecutivos; Período: intervalo de tempo de um ciclo da onda (dado em s); Frequência: a taxa de ciclos no tempo (inverso do período, dada em Hz); Duty Cycle (ciclo de trabalho): tempo em que o pulso está ativo em um período (dada em %). 26 A Figura 9 a seguir exemplifica alguns valores de Duty cycle: Figura 9: Exemplos de formas de onda com mesma frequência e diferentes Duty Cycles A tensão média fornecida pelo sinal PWM é dependente do Duty Cycle do mesmo, e para ser calculada em uma onda quadrada basta multiplicar o valor de pico pelo Duty Cycle: 𝑉𝑚é𝑑𝑖𝑜 = 𝑉𝑝𝑖𝑐𝑜 ∗ 𝐷𝑢𝑡𝑦 𝐶𝑖𝑐𝑙𝑒 (10) O sinal modulado pode ser recuperado, a partir de um sinal PWM, por meio de filtros passa-baixas. Um filtro normalmente aplicado na saída dos conversores estáticos consiste em um LC (indutor série e capacitor shunt). A Figura 10 a seguir mostra um exemplo dessa aplicação, onde a entrada (em vermelho) é comparada com o sinal dente de serra (em azul) gerando o sinal PWM (em rosa). 27 Figura 10: PWM na geração de um sinal analógico A utilização do PWM permite-se trabalhar com transistores em corte e saturação, permitindo sintetizar os sinais desejado com alta eficiência energética. Para o projeto desenvolvido neste trabalho, o circuito de acionamento para se gerar o sinal PWM é baseado na utilização do circuito integrado dedicado TL494. O TL494 é um circuito que incorpora todas as funções requeridas na construção do circuito PWM em um único CI. O chip consiste em dois amplificadores de erro, um oscilador, um flip-flop, uma fonte de referência de 5V, um comparador de tempo morto, um comparador PWM e um controlador de saída. É um circuito de controle para sinais PWM de frequência fixa. A modulação dos pulsos de saída se dá pela comparação da onda dente de serra criada pelo oscilador interno nos capacitores de temporização de um ou ambos sinais de controle. (TEXAS INSTRUMENTS, 2017) 28 Figura 11: Diagrama de blocos simplificado do TL494 O estágio de saída é ativado quando o sinal dente de serra do oscilador é maior que o sinal de controle. A medida que o sinal de controle aumenta, o tempo em que a onda dente de serra o supera reduz e, portanto, a duração do pulso na saída reduz. A Figura 12 demonstra um diagrama exemplo de tempos do TL494. Figura 12: Diagrama de tempos no circuito do TL494 Para o circuito proposto, o TL494 é utilizado para alimentar em alta frequência o driver dos transistores, que por sua vez irão chavear a alimentação do primário do transformador elevador de tensão responsável por gerar o arco elétrico modulado pela entrada de áudio do circuito. Para tal, é preciso modular 29 a frequência de forma a produzir variações no arco, para este produzir as vibrações no ar gerando o som desejado. Existem duas formas de se variar essa frequência de controle do arco. A primeira forma consiste em variar o Duty Cycle do sinal da saída do PWM, enquanto se mantém uma frequência de oscilação constante. Isso permite uma variação na energia entregue ao primário do Trafo elevador, alterando a quantidade de energia do arco elétrico, resultando nas variações desejadas no arco elétrico e criando o som. Para se variar o Duty Cycle o sinal de áudio deve ser entregue à entrada referente do TL494 (pino 4 – DTC), enquanto os valores do resistor e capacitor utilizados para definição da frequência de oscilação são mantidos fixos após a calibração da mesma. Para a segunda forma, se mantém um valor fixo para o Duty Cycle do pulso, mas se varia a frequência de oscilação do mesmo através da inserção do sinal de áudio na seção RC do TL494. Assim o arco elétrico irá trabalhar com uma tensão constante, mas variando sua frequência de acordo com o sinal, variando a pressão do ar e criando o som desejado. Nesta forma, o resistor e o capacitor utilizados devem ser calibrados para uma frequência de oscilação a ser aplicada de forma constante, enquanto o sinal de áudio irá perturbar esse valor ao ser inserido na entrada do resistor no TL494 (pino 6 – RT). (BAKER, 2018) Neste caso, a frequência de comutação deverá ser igual à frequência do sinal de áudio, demandando o uso de um transformador de maior volume e custo. No circuito desenvolvido será utilizada a primeira forma, mantendo-se a frequência de oscilação em um valor constante e utilizando o sinal de áudio para alterar o Duty Cycle do PWM a ser entregue no circuito de potência. 3.1.3. Circuito de potência O circuito de potência utiliza um transistor como interface entre o sinal PWM gerado pelo controlador PWM e a alimentação do primário do transformador elevador, realizando a ligação entre controle e carga de forma a manter os circuitos isolados eletricamente. 30 Idealmente, os transistores devem possuir perdas de potência nulas, para não afetarem o circuito. Como isso não é possível, utilizaremos transistores que possuam o menor consumo e, portanto, a menor perda. Para o projeto, deseja-se utilizar um transistor capaz de comutar em alta frequência com baixas perdas de condução e chaveamento. Como a tensão do circuito primário é baixa, optou-se por um MOSFET. MOSFETs são transistores que apresentam altas velocidades de comutação e são pouco sensíveis à temperatura quando operando em baixas tensões. Essas características são favoráveis à sua utilização para o circuito. (ON SEMICONDUCTOR, 2001) O sinal PWM será entregue a um circuito integrado de driver para alimentação do MOSFET. Este driver tem por função conferir ganho de corrente e adequar os níveis de tensão do sinal PWM para melhor chavear o gate do MOSFET. A utilização do driver também permite que o MOSFET atue com temperaturas menores, levando à maior segurança do circuito. (HUSSAIN, 2001) Parao circuito de driver do MOSFET, será utilizado o CI TC4420. O TC4420 é um driver dedicado de MOSFET. Capaz de até 6 A, permite uma operação tranquila do transistor. Seus tempos de subida e descida são de 25 ns, permitindo a operação em altas frequências. Seu diagrama funcional está representado na Figura 13 a seguir. (VINSANT, 2002) Figura 13: Diagrama funcional do TC4420/4429 31 Não se sabe o valor de corrente do circuito e as características do trafo. Isso faz com que se utilize dispositivos superdimensionados por questão de segurança. Para o MOSFET, é necessária uma escolha capaz de aguentar uma corrente sendo chaveada em altas frequências. Tal funcionamento gera aquecimento no MOSFET, podendo levar o componente à queima. Se faz necessária então utilização de dissipador de calor para evitar problemas de aquecimento. Foram selecionados os MOSFETs IRFP250 e IRF840, que possuem atuação em altos níveis de potência. O primeiro é a opção a ser utilizada incialmente, devido ao seu encapsulamento que permite melhor dissipação de calor, evitando aquecimento prejudicial ao funcionamento. O segundo é uma escolha reserva com custo menor, necessária devido ao risco de queima do componente durante a calibração do circuito. O IRFP250 possui tensão de dreno- fonte de 200 V, e uma corrente de dreno de 30 A operando à temperatura ambiente. O IRF840 possui tensão dreno-fonte de 500 V e corrente de dreno de 8 A. Tais MOSFETs vão permitir que o circuito opere sem problemas de aquecimento elevados utilizando um dissipador de pequeno porte. Figura 14: IPRF250 – Encapsulamento e símbolo esquemático 32 3.1.4. Transformador elevador de tensão Para a geração do arco elétrico a tensão de saída do circuito de controle deve ser elevada até ser capaz de romper a rigidez dielétrica do ar, criando plasma ionizado. Para tal, um transformador elevador será utilizado de forma a elevar a tensão da entrada até uma tensão alta o suficiente para se criar o arco (dezenas de kilo-Volts). Um arco elétrico de maiores dimensões permite o alto falante trabalhar com uma maior intensidade, devido à maior massa de ar que é capaz de vibrar. A rigidez dielétrica é a tensão máxima entre dois pontos sem que ocorra centelhamento, onde o material deixa de ser isolante e passa a ser considerado um condutor para o circuito. Para o ar, esse valor é de 3*106 Volts por metro (V/m), ou 30 kV/cm. (BRAGA) Para este projeto, o transformador utilizado é um transformador tipo flyback. O transformador flyback é comumente utilizado em televisores de tubo (CRTs) ou monitores para criar tensão elevada o suficiente para alimentar o canhão de elétrons dos aparelhos. Um modelo típico no mercado pode ser visto na Imagem 9. Imagem 9: Típico transformador Flyback de circuito de televisão CRT O primário do transformador flyback é enrolado em torno de um núcleo de ferrite, e o secundário enrolado em torno do primário, e então uma armação de ferrite é colocada em volta de ambos os enrolamentos, fechando o circuito magnético. Para a utilização neste projeto, um novo enrolamento primário será feito com um número de espiras reduzido em torno do núcleo de ferrite, 33 permitindo uma relação de transformação maior para se obter uma tensão mais elevada no arco. (Flyback Inductor & Transformer Theory, 2018) O flyback atua como um conversor CC-CC tipo Buck Boost, com o transformador no lugar do indutor. Isso permite obter um isolamento das partes do circuito, assim como uma elevação na tensão para os valores desejados. Quando o MOSFET atua, a energia é armazenada no primário do transformador, enquanto o diodo interno ao flyback bloqueia a corrente de retorno vinda do secundário. Ao se abrir o MOSFET, a corrente no primário vai a zero e o secundário é capaz de energizar o arco elétrico, visto que o diodo estará em condução. Transformadores flyback são fáceis de se encontrar no mercado, mesmo com o desuso de aparelhos CRT, e possuem um custo baixo, os tornando ideias para este projeto. 3.2. Melhorias no circuito 3.2.1. Entrada de áudio Para garantir que a entrada de áudio do circuito possua uma alta impedância de forma a proteger o dispositivo fonte da música. Para isso serão utilizados um circuito de desacoplamento e um amplificador operacional no modo seguidor de tensão. (MUGGE, 2009) O capacitor de desacoplamento permite que o sinal seja referenciado em tensões diferentes para o sinal de áudio e a entrada do circuito. Isso gera maior robustez e estabilidade para o circuito. Um circuito integrado TL072 é utilizado para a montagem do seguidor de tensão. O circuito é projetado como um amplificador operacional não inversor de ganho unitário, cuja tensão de saída segue igual a de entrada, e tem seu esquemático base representado na Figura 15. 34 Figura 15: Circuito seguidor de tensão 3.2.2. Circuito de alimentação O circuito protótipo será alimentado com uma fonte de bancada com saída de 0 a 30V e corrente até 3A. Para a versão a ser desenvolvida em placa de circuito impresso num trabalho futuro, deverá ser alimentada com uma fonte chaveada de 24V, valor de fácil obtenção no mercado. A alimentação será então fixada em 24V para que o dimensionamento do protótipo seja compatível com a fonte chaveada de tensão fixa. Buscando a utilização de apenas uma fonte externa para a alimentação do circuito, se faz necessário a criação de um circuito interno de alimentação com tensão reduzida, devido à diferença nas tensões de alimentação do transformador elevador (+24 Vcc) e dos circuitos integrados presentes (+12 Vcc). A utilização de um regulador de tensão L7812 permite a criação de um segundo circuito de alimentação, regulado em 12 Vcc, que alimenta os CIs do circuito. Capacitores nas entrada e saída do regulador permitem rejeição de ruídos vindos da fonte externa, ligados como na Figura 16. 35 Figura 16: Circuito regulador de tensão 3.2.3. Proteção A indutância de dispersão do trafo armazena energia quando o primário estiver ligado. Quando o MOSFET é desligado, essa energia é liberada no circuito primário, produzindo altos picos de tensão. As amplitudes desses picos dependem da indutância de dispersão, do nível de corrente do primário e do tempo de comutação do MOSFET, podendo chegar a centenas de Vots e queima o transistor. Para absorver os picos de tensão enviados pelo flyback, um circuito snubber é inserido junto ao primário do transformador. O snubber é um circuito capaz de grampear os picos de tensão e reduzir o ruído do sistema. O circuito é composto por um resistor de alta potência, um diodo rápido e um capacitor, ligados como na Figura 17. Figura 17: Circuito Snubber de tensão 36 Em caso de apenas o snubber não ser eficaz para a proteção do MOSFET, é inserido em paralelo ao dreno um varistor do tipo Metal-oxide varistor (MOV). O varistor possui uma resistência proporcional à tensão aplicada sem seus terminais, de forma a proteger o MOSFET ao curto circuitar o dreno caso ocorram picos de tensão provenientes do transformador. O varistor utilizado é um MOV 14D201K. Ele possui um grampo de tensão máximo de 340 V e contínuo de 130 V RMS e pode ser visto na Imagem 10. (BOURNS, 2011) Imagem 10: Varistor MOV 14D201K 37 4. Resultados 4.1. Circuito Final Após acrescidas as modificações e dimensionado os componentes do circuito, o esquemático a seguir foi executado: Figura 18: Esquemático do circuito finalizado 38 A frequência de oscilação do PWM é dada pelos valores de resistência e capacitância ligados às entradas RT e CT, respectivamente, e é calculada pela relação: 𝑓𝑜𝑠𝑐 = 1 𝑅𝑇∗𝐶𝑇 (11) O capacitor C9 ligado à CT foi fixado em 10 nF, enquanto RT possui um resistor R3 de 2,2 kΩ em série com um potenciômetro R5 de 20 kΩ, de formae permitir uma regulagem da frequência de oscilação numa faixa entre 4,5 kHz a 45 kHz. Como não é desejável que o arco elétrico em regime permanente – sem a execução de um sinal de áudio – emita algum som, a frequência foi regulada para um valor aproximado de 30 kHz, fora da frequência da audição humana. O potenciômetro R4, de 10 kΩ, permite regular o Duty Cycle do sinal. Este foi regulado de forma a permitir um Duty Cycle aproximado de 50%. Isso garante que quando o sinal de áudio for inserido no circuito, o Duty Cycle possua uma margem para oscilar sem atingir os 100%. A alimentação externa foi fixada em 24 Vcc, de forma a permitir a utilização de uma fonte chaveada fácil de ser encontrada no mercado. 4.2. Simulações Para realizar as simulações do circuito, foi utilizado o software LTSpice. Devido à complexidade do circuito e as limitações do software utilizado, o circuito foi simulado em blocos de forma a simplificar a visualização dos resultados e diminuir o tempo de execução de cada simulação. A ligação entre os blocos é feita através de fontes de tensão que emulam a saída do estágio anterior. 4.2.1. Circuito de alimentação O circuito de alimentação auxiliar consiste no circuito integrado LM7812 e os capacitores para redução de ruído. A tensão de entrada é uma fonte de 24 Vcc e a saída esperada são 12 Vcc. A Figura 19 é o esquemático simulado 39 enquanto a Figura 20 o resultado da simulação. Observa-se em azul a tensão de entrada (24V) e em vermelho a tensão na saída (12V) do regulador. Figura 19: Esquemático do circuito de alimentação auxiliar Figura 20: Tensões na entrada e saída do circuito de alimentação auxiliar 4.2.2. Circuito seguidor de tensão Consiste no amplificador operacional TL072 com configuração não inversora e ganho unitário. Um divisor de tensão referência a entrada com 6 V enquanto dois capacitores de 2,2 µF filtram os ruídos da entrada. A Figura 21 é o circuito simulado enquanto a Figura 22 os resultados da simulação. Figura 21: Esquemático do circuito seguidor de tensão 40 Figura 22: Tensões na entrada e saída do circuito seguidor de tensão 4.2.3. Circuito de Acionamento (PWM) Composto pelo CI TL494 e os componentes para correta configuração do mesmo. Os potenciômetros são representados por resistores, regulados com valores calculados para se obter 50% de Duty Cycle e 30 kHz de frequência de oscilação quando ausente o sinal de áudio. Para o circuito simulado visto na Figura 23 foi utilizado um TL494 com valores de frequência de oscilação definidos pelos resistores R3, POT_RT e pelo capacitor C3, e Duty Cycle definido pelos resistores POT_DT1 e POT_DT2. Por limitações do software, são utilizados resistores para simulação dos potenciômetros, cujos valores devem ser alterados se necessário somente entre as simulações. Figura 23: Circuito PWM 41 A seguir estão apresentados diferentes resultados de simulações com entradas básicas para melhor exemplificar o funcionamento do circuito PWM. Na Figura 24 é mostrado o sinal PWM sem que tenha um sinal de entrada para modular o circuito. Observa-se o Duty Cycle definido em aproximadamente 50%. Figura 24: Saída simulada do sinal PWM sem entrada de áudio, com frequência de oscilação fosc = 11 kHz Nas Figura 25, Figura 26 e Figura 27 temos o sinal na saída do TL494 para diferentes sinais na entrada (em vermelho). Pode ser observada a variação do Duty Cycle nos momentos em que ocorre uma alteração nos valores da entrada. Figura 25: Saída simulada do sinal PWM para uma entrada de onda quadrada com frequência de 500 Hz 42 Figura 26: Saída simulada do sinal PWM para uma entrada de onda senoidal com frequência de 500 Hz Figura 27: Saída do PWM para uma entrada de onda senoidal composta por três sinais (50 Hz, 500 Hz e 5000 Hz) 4.2.4. Circuito de Potência Devido às limitações do software, não foi possível simular o driver TC4420. Assim, o circuito modulado consiste no MOSFET e seu circuito de proteção, como visto na Figura 28. A Figura 29 mostra o resultado da simulação, com o sinal entregue ao primário do transformador flyback. Figura 28: Circuito de Potência 43 Figura 29: Tensões de entrada e saída (F1) do Circuito de Potência 4.3. Construção do circuito A construção do protótipo foi realizada no Laboratório Integrado do Departamento de Engenharia Eletrônica da Universidade Federal de Minas Gerias. É um laboratório aberto aos alunos para desenvolverem seus trabalhos ao longo do curso. O circuito foi montado em protoboard, sendo a execução em placa de circuito impresso algo a ser desenvolvido em trabalho futuro. O MOSFET foi fixado em um dissipador de CPU Pentium com ventilador, de forma a prover o resfriamento necessário. Imagem 11: Circuito protótipo construído 44 O transformador flyback utilizado é da fabricante Phillips, modelo Ov 2076/20593. Foi escolhido um transformador de custo baixo para construção do protótipo. O esquemático de um modelo equivalente do flyback é mostrado na Figura 30. Para a saída de alta tensão, são utilizados o fio vermelho ligado a um cone de borracha e o pino 8. Figura 30: Esquemático do Flyback Um novo enrolamento primário foi enrolado no flyback, com 10 bobinas (vide Imagem 12), de forma a permitir uma maior relação de transformação e, portanto, um arco elétrico maior na saída do transformador. Imagem 12: Transformador Flyback com novo enrolamento primário 45 Duas barras de metálicas são utilizadas como eletrodos, fixadas em uma caixa de papelão e ligadas ao secundário por pinos tipo jacaré, como visto na Imagem 13. Imagem 13: Transfomador flyback e eletrodos Com o circuito de potência desconectado, foram regulados os potenciômetros para definição da frequência de oscilação e Duty Cycle. A frequência foi fixada em 30 kHz, e o Duty Cycle o mais próximo possível de 50%. As Imagem 14 e Imagem 15 a seguir são fotos da tela dos osciloscópio no momento da calibração do circuito. Imagem 14: Regulagem da frequência de oscilação 46 Imagem 15: Regulagem do Duty Cycle 4.4. Funcionamento do Circuito O circuito foi capaz de gerar um arco elétrico entre os eletrodos, assim como especificado. A distância máxima entre os eletrodos que permitiu a geração do arco foi de 16 mm, o que nos permite estimar uma tensão de saída de 50 kV. Imagem 16: Arco elétrico gerado Foi constatado que mantendo a máxima distância, o arco constantemente falhava, e o nível de ruídos ficou mais elevado. Foi estabelecida então a distância de 12 mm para execução do restante dos testes. 47 Imagem 17: Arco elétrico gerado no ambiente com pouca luz Inicialmente foram realizados testes utilizando um gerador de sinais com uma onda quadrada para emular o sinal sonoro. Após testes satisfatórios que garantiram o funcionamento do circuito entre 20 Hz e 20 kHz, foi inserido um sinal de áudio fornecido por um notebook. Na Imagem 18 pode-se observar as curvas entregue pelo gerador de sinais e gerado na saída do circuito de controle antes de se interligar a entrada do sinal do gerador no circuito. Imagem 18: Sinal de saída do PWM (curva 1) e sinal de entrada do gerador de sinais (curva 2) para testes 48 Através da modulação pela variação do Duty Cycle, com a inserção do sinal de áudio na entrada DTC do TL494, pode-se observar no osciloscópio a variação do Duty Cycle quando um sinal de áudio era enviado, como visto na Imagem 19. Imagem 19: Sinal PWM modulado pelo Duty Cycle. Nota-se a variação da proporção ligado/desligado na imagem atrasada do osciloscópio Utilizando o osciloscópio ligado na saída do sinal PWM e na entrada do primário do transformador foi possível observar a modulação do sinal sonoro entregue ao flyback, na Imagem 20. A saída do TL494,no canal 1, possui um valor de pico de cerca de 10 V, que é o valor esperado para o circuito alimentado em 12 V. No canal 2, observa- se os picos de tensão de até 250 V na entrada do flyback devido ao retorno indutivo do transformador. 49 Imagem 20: Tensão na saída do TL494 (canal 1) e entrada do transformador flyback (canal 2) Com o circuito completamente montado e testado, um sinal de áudio foi inserido na entrada para que o alto falante possa reproduzir a música no plasma. A execução saiu como planejado, com a música sendo executada inteiramente pelo plasma entre os eletrodos e cobrindo uma ampla gama de frequência sonora. Alguns ruídos ainda se encontram presentes, e o volume do som não está satisfatório para execução em ambiente ruidoso, mas essas melhorias serão previstas em um trabalho futuro. 50 5. Conclusão e Trabalho Futuro O circuito proposto neste trabalho foi capaz de reproduzir música através de plasma gerado entre dois eletrodos, assim como desejado. Isso demonstra que é possível a construção de um circuito capaz de reproduzir sons sem a necessidade da influência de massa do diafragma, permitindo assim a reprodução acústica mais fiel de altas frequências sem problemas com a resposta em frequência. Com apenas tweeters de luxo em comercialização utilizando a tecnologia proposta, esse circuito mostra a possibilidade da criação de um alto falante com preço competitivo. Mas o circuito ainda necessita de melhorias para ser considerado um produto comercial. Alguns dos problemas encontrados foram a queima de MOSFETs durante a calibração do circuito, presença de ruídos e baixa intensidade sonora. O primeiro pode ser solucionado com um melhor dimensionamento do circuito de proteção. Os ruídos devem ter sua origem identificada para melhor dimensionar uma solução, mas boa parte dos mesmos se deve à qualidade dos eletrodos utilizados. A troca por eletrodos de Tungstênio com ponta afinadas (ao invés das pontas cilíndricas utilizadas) se mostra a provável melhor escolha. Diferentes materiais com diferentes geometrias influenciam diretamente na qualidade do arco gerado. A intensidade do som pode ser melhorada através do aumento da área ativa. Para isso é necessário um arco elétrico de maior porte, que pode ser obtido aumentando a tensão de saída do circuito. O transformador flyback utilizado deverá ser trocado por um de maior porte, para se obter melhores resultados. Trabalhos futuros são necessários para se realizar as melhorias no circuito. Outros trabalhos previstos são o desenvolvimento do circuito de controle utilizando a topologia push-pull e a substituição do TL494 por um 555, circuito eletrônico muito comum, barato e de fácil configuração. Este trabalho foi capaz de demonstras as aplicações práticas do plasma na reprodução acústica, ramo ainda com grande potencial a ser explorado. Alto 51 falantes de plasma são interessantes não apenas pela sua teoria, mas principalmente pelas qualidades acústica e estética. 52 6. Referências ACADEMIC, BRITANNICA. Sound. Encyclopædia Britannica, 2018. Disponivel em: <https://academic-eb- britannica.ez27.periodicos.capes.gov.br/levels/collegiate/article/sound/109557>. Acesso em: 16 Maio 2019. ACAPELLA. ION TW 1S (Ionenhochtöner). Acapella Audi Arts - Homemade in German. Disponivel em: <http://www.acapella.de/de/news-downloads-mehr/produktarchiv/ion-tw- 1s>. Acesso em: 06 Maio 2019. ARCATTACK. ArcAttack. ArcAttack, 2019. Disponivel em: <http://www.arcattack.com/>. Acesso em: 20 Junho 2019. BAKER, D. S. M. Plasma Speaker. Dr. Scott M. Baker, 27 out. 2018. Disponivel em: <http://www.smbaker.com/plasma-speaker>. BALOGH, L. Fundamentals of MOSFET and IGBT Gate Driver Circuits. [S.l.]: Texas Instruments, 2018. BASTIEN, F. Acoustics and gas discharges: applications to loudspeakers. Journal of Physics D: Applied Physics, 20, 1987. 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