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Prévia do material em texto

CUIDADO, EDUCAÇÃO E 
COMUNICAÇÃO EM SAÚDE
PROGRAMA SAÚDE COM AGENTE
E-BOOK 21
MINISTÉRIO DA SAÚDE 
CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS MUNICIPAIS DE SAÚDE 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL 
Brasília (DF) 
2023  
MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS) 
CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS MUNICIPAIS DE SAÚDE (CONASEMS) 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRS) 
CUIDADO, EDUCAÇÃO E 
COMUNICAÇÃO EM SAÚDE
PROGRAMA SAÚDE COM AGENTE
E-BOOK 21
Brasília (DF) 
2023  
2023 Ministério da Saúde.
Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial – 
Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, 
desde que citada a fonte.
A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde: 
bvsms.saude.gov.br
Elaboração, distribuição e informações:
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Gestão do Trabalho e da 
Educação na Saúde
Departamento de Gestão da Educação na 
Saúde
Coordenação-Geral de Ações Estratégicas 
de Educação na Saúde – CGAES
SRTVN 701, Via W5 Norte, lote D, 
Edifício PO 700, 4º andar 
CEP: 70719-040 – Brasília/DF 
Tel.: (61) 3315-3394 
E-mail: sgtes@saude.gov.br
 
Secretaria de Atenção Primária à Saúde
Departamento de Saúde da Família
Esplanada dos Ministérios, Bloco G,
 7º andar 
CEP: 70058-90 – Brasília/DF 
Tel.: (61) 3315-9044/9096 
E-mail: aps@saude.gov.br
 
Secretaria de Vigilância em Saúde
SRTVN 701, Via W5 Norte, lote D,
Edifício PO 700, 7º andar 
CEP: 70719-040 – Brasília/DF 
Tel.: (61) 3315.3874 
E-mail: svs@saude.gov.br
 
CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS 
MUNICIPAIS DE SAÚDE – Conasems
Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Anexo B, 
Sala 144
Zona Cívico-Administrativo, Brasília/DF
CEP: 70058-900
Tel.:(61) 3022-8900
Núcleo Pedagógico do Conasems
Rua Professor Antônio Aleixo, 756 
CEP: 30180-150 Belo Horizonte/MG 
Tel: (31) 2534-2640
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Av. Paulo Gama, 110 - Bairro Farroupilha - 
Porto Alegre - Rio Grande do Sul
CEP: 90040-060 
Tel: (51) 3308-6000
 
Coordenação-geral:
Cristiane Martins Pantaleão – Conasems
Hishan Mohamad Hamida – Conasems
Leandro Raizer – UFRGS
Luciana Barcellos Teixeira – UFRGS
Direção técnica:
Isabela Cardoso de Matos Pinto - SGTES/MS
Célia Regina Rodrigues Gil – DEGES/SGTES/MS
Organização:
Núcleo Pedagógico do Conasems
 
Supervisão-geral:
Rubensmidt Ramos Riani
Coordenação técnica e pedagógica:
Cristina Fatima dos Santos Crespo
Valdívia França Marçal 
Elaboração de texto:
Kellin Danielski
Pedro José Santos Carneiro Cruz
Revisão técnica:
Andréa Fachel Leal – UFRGS
Diogo Pilger – UFRGS
Érika Rodrigues De Almeida – SAPS/MS
Fabiana Schneider Pires – UFRGS
José Braz Damas Padilha – SVS/MS
Michelle Leite da Silva – SAPS/MS
Patrícia Campos – Conasems
Designer educacional:
Alexandra Gusmão – Conasems
Juliana de Almeida Fortunato – Conasems
Pollyanna Lucarelli – Conasems
Priscila Rondas – Conasems
Colaboração:
Antonio Jorge de Souza Marques – 
Conasems
Daniela Riva Knauth - UFRGS
Josefa Maria de Jesus – SGTES/MS
Katia Wanessa Silva – SGTES/MS
Lanusa Terezinha Gomes Ferreira - 
CGAES/MS
Marcela Alvarenga de Moraes – Conasems
Marcia Cristina Marques Pinheiro – 
Conasems
Rejane Teles Bastos – SGTES/MS
Roberta Shirley A. de Oliveira – CGAES/MS
Rosângela Treichel – Conasems
Suellen da Silva Ferreira– SGTES/MS
 
Assessoria executiva:
Conexões Consultoria em Saúde LTDA
Antonio Jorge de Souza Marques
Coordenação de desenvolvimento gráfico:
Cristina Perrone – Conasems
 
Diagramação e projeto gráfico:
Aidan Bruno – Conasems
Alexandre Itabayana – Conasems
Bárbara Napoleão – Conasems
Lucas Mendonça – Conasems
Ygor Baeta Lourenço – Conasems
 
Fotografias e ilustrações: 
Biblioteca do Banco de Imagens do 
Conasems
 
Imagens: 
Freepik, Brasil Escola e Wikipédia 
Revisão ortográfica:
Camila Miranda Evangelista 
Gehilde Reis Paula de Moura 
Keylla Manfili Fioravante
 
Normalização:
Luciana Cerqueira Brito – Editora MS/CGDI
Brasil. Ministério da Saúde. 
 Cuidado, Educação e Comunicação em Saúde[recurso eletrônico] / Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de 
Saúde. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. – Brasília : Ministério da Saúde, 2023.
xx p. : il. – (Programa Saúde com Agente; E-book 21)
Modo de acesso: World Wide Web: 
ISBN xxx-xx-xxx-xxxx-x 
1. Agentes Comunitários de Saúde. 2.Cuidado, educação em saúde. 3. Comunicação em Saúde. I. Conselho Nacional de Secretarias 
Municipais de Saúde. II. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. III. Título. 
CDU 614
Ficha Catalográfica
Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2023/0xxx
Título para indexação: 
Care, Education and Communication in Health
Tiragem: 1ª edição – 2023 – versão eletrônica
http://www.saude.gov.br/bvs
Esse é o seu e-book da disciplina Cuidado, Educação e Comunicação 
em Saúde. Certamente você já ouviu falar, ou leu, sobre a Educação 
em Saúde e o papel central e estratégico dela para a construção e 
consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), sobretudo na 
organização de práticas de saúde, que sejam humanizadoras, 
emancipadoras, resolutivas e integrais.
Agora, nosso convite é para que sigamos as discussões, com base no 
conhecimento prévio sobre esse tema. A partir de saberes 
anteriormente obtidos, quer em conversas, em leitura de panfletos, 
em revistas, em cursos, entre outros, de modo que consigamos 
apresentar nossas reflexões e elaborações sobre tal assunto. 
Estude este material com atenção e consulte-o sempre que 
necessário! Acompanhe também a aula interativa, a teleaula e realize 
as atividades propostas para assimilar as informações apresentadas.
Bons estudos!
OLÁ AGENTE!
ACE | Agente de Combate às Endemias
ACS | Agente Comunitário de Saúde
CNEPS | Comitê Nacional de Educação Popular em Saúde 
EPS | Educação Popular em Saúde 
PICSs | Práticas Integrativas e Complementares em Saúde 
PNAB | Política Nacional de Atenção Básica
PNEPS-SUS| Política Nacional de Educação Popular em Saúde no SUS
 PSF | Programa Saúde da Família 
UBS | Unidades Básicas de Saúde 
SUS | Sistema Único de Saúde
LISTA DE SIGLAS E 
ABREVIATURAS
LISTA DE FIGURAS
31 | Figura 1 - Normatização na educação.
38 | Figura 2 – Modelo de educação baseado na transmissão.
40 | Figura 3 - Passos do método do Arco de Maguerez.
41 | Figura 4 : Passos do Método do Arco de Maguerez 
exemplificado.
66 | Figura 5 - Comunicação e conexão entre profissional e 
usuário.
74 | Figura 6 - Tirinha sobre Participação Social. 
80 | Figura 7 - Participação da sociedade na diversidade de 
pessoas e seus diálogos. 
SUMÁRIO
7
19
O CUIDADO EM SAÚDE
EDUCAÇÃO EM SAÚDE E OS 
VALORES HUMANOS NAS RELAÇÕES 
COMO COMEÇAR AS PRÁTICAS DE 
EDUCAÇÃO EM SAÚDE 
CAMINHOS E ALTERNATIVAS PARA CONSTRUIR 
PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE COERENTES 
COM A INTEGRALIDADE E A PROMOÇÃO DA SAÚDE
PARTICIPAÇÃO SOCIAL EM SAÚDE
EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE 
RETROSPECTIVA 
BIBLIOGRAFIA
25
35
47
58
62
72
84
COMUNICAÇÃO EM SAÚDE
86
ABORDAGENS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE
O CUIDADO EM 
SAÚDE
Reflita um pouco sobre a 
seguinte questão: em que 
medida você se considera 
Cuidador (a) em Saúde?
Como profissionais de saúde, nossa missão para com os usuários e 
usuárias não é simplesmente “atender”, mas principalmente “cuidar”. 
O ato de cuidar significa estar junto dessas pessoas nos momentos 
mais difíceis de crise e insegurança resultantes do processo de 
adoecimento. Normalmente, a doença mobiliza uma série de 
sentimentos e emoções e, dependendo das circunstâncias e das 
implicações familiares, um processo de adoecimento pode gerar 
muitas incertezas, medos, anseios e dilemas para os indivíduos e seus 
familiares. Assim, cuidar não é apenas dizer às pessoas o que devem 
fazer, tampouco como devem fazer. 
8
Cuidar é, sobretudo, orientá-las e apoiá-las, 
acompanhando-as e demonstrando que 
estamos disponíveis paraauxiliar no 
enfrentamento desse processo.
Você, Agente Comunitário de Saúde (ACS) ou Agente de Combate às 
Endemias (ACE), convive cotidianamente com os usuários, e conhece 
de perto: 
9
As realidades; Os dramas;
E os desafios em 
busca da saúde e 
do bem-estar. 
Mas é importante destacar que, embora se entenda que cuidar é estar 
junto, não significa enfrentar os problemas pelas pessoas. Cada um 
vive sua realidade, e o seu papel nesse processo é atuar como apoio 
firme, solidário e efetivo, que inspire, motive e impulsione as pessoas a 
seguirem com perseverança os caminhos do seu próprio cuidado.
Na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), o cuidado está 
destacado na forma de aproximação e articulação com o princípio da 
integralidade em saúde. Com isso, a PNAB preconiza que o cuidado em 
saúde deve se materializar por um processo de trabalho em saúde 
que seja, efetivamente, centrado no usuário e em suas necessidades, 
não somente em procedimentos profissionais técnicos e 
especializados. O cuidado traz consigo a ideia de que nos importamos 
com os usuários e que desejamos acompanhá-los e apoiá-los no 
seguimento de seu processo de cura e reabilitação em saúde (BRASIL, 
2017).
10
Eymard Vasconcelos (2008) nos diz que: 
É importante lembrarmos que 
o cuidado é uma atividade 
profundamente humana e 
que, portanto, não é 
atribuição restrita apenas aos 
profissionais de saúde. 
Cuidar significa ocupar-se, aqui e agora, dos problemas 
passíveis de serem enfrentados, pondo-se à disposição de 
acordo com as condições exigidas por eles e não nas 
condições oferecidas tradicionalmente pelo serviço. [...] 
Cuida-se dessas famílias em situação de risco não como 
prêmio por perceber seu esforço ou sua assimilação das 
orientações da equipe, mas como resposta ao direito à 
cidadania de sujeitos vivendo situações que não lhes 
permitem buscar e lutar pelos recursos existentes nos 
precários e limitados serviços de saúde destinados às classes 
populares. O apoio familiar não pode ser um último teste para 
esta família se tornar operativa, mas espaço de vida a mais no 
qual lhe propiciamos alguns dos novos suportes que possam 
utilizar para compor seu próprio caminho de vida (p. 153).
Se pensarmos bem, o cuidado está presente em nossas vidas de 
diferentes maneiras e é manejado por diversas pessoas – por exemplo: 
o cuidado de nossas mães e pais, avós e avôs, tias e tios, ou outros 
parentes, ou mesmo amigos, entre outros. Em situações de 
adoecimento diferentes, muitas vezes os primeiros a nos apoiarem, 
não são necessariamente profissionais de saúde, mas pessoas que 
estão próximas, que se importam conosco e que empenham suas 
energias e dedicação para nos ajudar a enfrentar o adoecimento.
Se caminharmos um pouco mais para trás, na história, veremos que o 
cuidado existe desde muito antes mesmo da prática da saúde e da 
medicina. Desde a origem da humanidade, nas comunidades e 
agrupamentos humanos, haviam pessoas com saberes e habilidades 
voltadas para o cuidado - curandeiros, erveiras, rezadeiras, parteiras, 
entre outros. Ainda é comum se deparar com pessoas com essa 
competência que continuam a atuar e ter uma relevância para a 
situação de saúde de seu povo, funcionando como apoio nos 
processos de adoecimento e de busca pela qualidade de vida em 
determinadas comunidades e territórios.
11
Nosso desafio, 
como profissionais 
de saúde, é sermos 
cuidadores em 
saúde. 
12
Para exemplificar o que dissemos anteriormente, o professor Eymard 
Vasconcelos (2009) nos apresenta diferentes possibilidades através 
das quais o cuidado se expressa nas comunidades. Ele diz que 
podemos dividir as práticas populares de saúde segundo a sua 
localização social, da seguinte forma: a) práticas familiares ou 
caseiras; b) práticas executadas por pessoas para sua renda 
(raizeiros, rezadeiras e pais-de-santo); c) práticas dos movimentos 
sociais locais.
Assim, podemos entender que o cuidado transborda o setor saúde, 
sendo, portanto, uma característica humana, que, embora se expresse 
em maior ou menor grau nas vidas das pessoas, sempre está presente 
como possibilidade de apoio mútuo e social diante das crises e 
problemas que aparecem em situações de dor e adoecimento. 
E isso exige desenvolvermos e aprimorarmos nossa capacidade de 
estabelecer vínculos com os usuários e usuárias. 
Não apenas o vínculo formal imposto pela relação de adscrição do (a) 
usuário (a) a nosso território, mas o vínculo no sentido expresso pela 
PNAB, qual seja: a construção de relações de afetividade e confiança 
entre usuários (as) e profissionais de saúde, permitindo que o 
atendimento seja um encontro visando o apoio e à 
corresponsabilização pela saúde, tendo um potencial terapêutico.
A percepção de não estar sozinho anima o usuário, ou usuária, a 
encarar o enfrentamento dos problemas de saúde como um projeto 
em parceria com a equipe de saúde.
13
Como saber se nossas práticas no 
cotidiano de trabalho em saúde estão 
sendo orientadas pelo conceito de 
cuidado? Que tal um exemplo?
Imagine que a Agente Comunitária de Saúde (ACS) Bia realizará uma 
visita domiciliar à casa de João. 
Ele apresenta um quadro de obesidade, somado a outras 
comorbidades, como hipertensão e diabetes. Porém, ele se recusa a ir 
na Unidade Básica de Saúde (UBS) e não se dispõe a participar do 
grupo de hipertensos e diabéticos. 
O que Bia deve fazer? 
14
15
Bia deve cuidar.
Em primeiro lugar, a orientação é fazer o 
acolhimento de João em sua situação de saúde e 
doença. Para isso, é preciso escutá-lo e entender 
como ele se sente diante do problema em 
questão – a obesidade e as demais 
comorbidades. Procurar compreender seus 
sentimentos, suas impressões, suas emoções e o 
modo como ele está vivenciando essa situação. 
Escutar primeiro significa que cuidar dessa pessoa exige, antes de 
tudo, construir relações e conexões verdadeiras com ela. Conhecer 
sua realidade, seus contextos, suas dinâmicas de vida, suas aflições 
e dificuldades. 
Para isso, ACS e ACEs têm a oportunidade privilegiada de visitar essa 
pessoa sistematicamente, construir pontes e se aproximar para 
compreender suas razões, ao mesmo tempo em que permite que a 
pessoa compreenda as razões dos profissionais de saúde e a 
necessidade de se cuidar. 
A cada visita, ao escutar primeiro, ACS e ACE vão conhecendo a vida 
daquela pessoa e de sua família, sabendo mais sobre o trabalho da 
família, a escola das crianças, a feira comunitária, as ansiedades de 
alguns membros da família, as preocupações quanto à moradia, etc. O 
problema ali exposto pode ir muito além da obesidade, e a 
abordagem necessária exige muito mais do que a prescrição de uma 
dieta pelo nutricionista. É necessário que se tenha em vista uma 
abordagem que considere as condições de vida da pessoa, seu 
trabalho, sua inserção escolar, sua participação comunitária, sua 
cultura, seus gostos, seus anseios.
Assim, certamente, aos poucos, os (as) agentes podem constatar que 
não seria suficiente simplesmente dizer ao usuário o que ou como 
deveria comer. Entende-se que é necessário construir, com esse 
indivíduo, com sua família e com os profissionais da saúde, os 
caminhos do comer, considerando os obstáculos sociais locais e as 
condições de cada família. 
1016
Se há aproximação suficiente e criação de vínculos de confiança, 
pouco a pouco o ACS e o ACE podem descobrir, por exemplo, que o 
usuário em questão não cumpria dietas anteriormente prescritas a ele, 
tanto pela questão de limites financeiros como pelos gostos e pelos 
seus desejos e de sua cultura alimentar – aspectos importantes que 
eram desconsiderados em tratamentos anteriores e que o fizeram 
desanimar e até abandonar o tratamento.
Assim, cuidar não é impor normas de comportamento e tratamento 
para as pessoas; como já dito, envolve acolher, escutar e educar, no 
sentido de conversar, ensinar, aprender. 
17
O que significao 
Cuidado para nós, 
profissionais de 
saúde?
O Cuidado é o nosso trabalho como 
profissionais de saúde e, ao mesmo tempo, 
é uma atitude humana que se expressa nos 
mais variados espaços de nossa prática – 
seja: nas visitas, seja nas campanhas, seja 
nas ações comunitárias, seja nas reuniões e 
nos grupos terapêuticos, seja nas atividades 
coletivas, seja na sala de espera, seja nas 
escutas individuais.
Trabalhar na saúde é cuidar das pessoas, onde quer que seja 
necessário. Utilizando ferramentas como a Educação, a Comunicação 
e a Participação Social em Saúde podemos ampliar e qualificar ainda 
mais esse ato de cuidar.
Iremos, portanto, apresentar e discutir temas em torno da Educação, 
da Comunicação e da Participação Social em Saúde, pensando de que 
outras maneiras essas dimensões das práticas de saúde podem 
constituir verdadeiros pilares que colaborem no sentido de 
aprimorarmos as ações ofertadas em nossas equipes e caminharmos 
ainda mais firmemente na direção de uma atenção à saúde 
humanizada e marcada profundamente pelo cuidado. 
1118
EDUCAÇÃO EM 
SAÚDE E OS 
VALORES 
HUMANOS NAS 
RELAÇÕES 
Em qualquer contexto 
em que há duas 
pessoas e uma relação 
entre elas, existe uma 
possibilidade de 
aprendizagem. 
20
A Educação está presente em nossas relações familiares, nas relações 
de amizade, nas relações afetivas e nas nossas relações de trabalho e 
no próprio trabalho. Frisamos tudo isso porque, muitas vezes, a 
encaramos como algo que só tem sentido e expressão dentro de uma 
sala de aula (virtual ou remota) de um espaço formal de ensino. Além 
da escola, em todo o momento nós estamos em relação com o outro, 
seja no ambiente familiar seja em outros vários contextos das nossas 
relações de vida, durante o nosso dia a dia. 
Se, nessa relação, elas estiverem suficientemente abertas para isso, a 
comunicação autêntica e profunda com alguém diferente trará novas 
perspectivas, sentimentos, afetações e percepções.
21
Além disso, a comunicação com 
alguém com gostos diferentes, 
opiniões e visões de mundo 
distintas vai nos trazendo 
conhecimentos, saberes e 
experiências novas, o que vai 
potencializando nossas 
oportunidades de ampliar nossos 
horizontes e nossa forma de 
compreender e, portanto, de ser, 
de estar e de agir no mundo. 
E o inverso também acontece. Se nosso interlocutor se dispõe a nos 
ouvir, a nos questionar, a se opor a nós ou a concordar conosco, 
também estará acrescendo suas oportunidades de crescimento, de 
reflexão, logo, assim como nós, podendo gozar de seu direito de ser, de 
estar e agir no mundo.
Ao ter contato com outras visões de mundo e conhecer experiências 
de outras pessoas, todos somos mobilizados a refletir sobre as nossas 
próprias conceituações, opiniões, ideias. No contato com outras 
pessoas e suas ideias, é possível que um mesmo assunto seja 
percebido de maneiras muito diferentes. 
22
Estamos, portanto, falando da Educação como um 
processo de formação permanente de todos - 
homens e mulheres, enquanto humanos e como 
cidadãos. O processo de educação acontece pela 
comunicação com o outro e com o mundo, de forma 
permanente: estamos sempre aprendendo com os 
desafios e experiências vividas. Por isso, pensamos na 
educação como um fenômeno humano. 
Ainda que vejamos a Educação numa perspectiva abrangente, nosso 
principal olhar na disciplina será para a educação como um processo 
social que, apesar de orgânico (isto é, naturalmente concebido nas 
relações dos homens entre si, dos homens com o mundo e com tudo o 
que dele faz parte), pode ser construído, tecido, cuidado, pensado e 
organizado para ser aprimorado e potencializado. 
 
O trabalho na saúde está permanentemente recheado de 
oportunidades de desenvolvimento de processos educativos, os quais 
podem e devem ser preparados, pensados e organizados. Essas 
oportunidades estão presentes, por exemplo, nas visitas às famílias, 
nas orientações dos grupos comunitários, na participação na 
construção de projetos terapêuticos singulares, na organização do 
acolhimento e em todas as ações desenvolvidas dentro das Unidades 
Básicas de Saúde (UBS). 
23
Ademais, a atualização de processos educativos também pode ser vista 
nas ações que possam estar sendo desenvolvidas e protagonizadas por 
ACS, ACE e outros (as) profissionais de saúde dentro de contextos de 
cuidado e de atendimento clínico. 
Diante dessas reflexões, fazemos as seguintes perguntas: em que 
medida, ao desenvolver as atividades do cotidiano, pensamos nelas 
como processos educativos? Como podemos fazer dessas ações 
oportunidades de aprender mais, carregando cada vez mais 
conhecimentos, saberes e experiências? 
Ora, se pararmos para pensar um pouco, as ações que desenvolvemos 
em nosso trabalho na saúde, no encontro com os usuários, constituem 
momentos de uma relação educativa. Nesse caso, vivemos 
constantemente com os (as) usuários (as) (e também com colegas de 
profissão) uma relação educativa cujo objeto é a saúde. 
Autores de referência na área da Saúde Coletiva nos ensinam isso. 
Vejamos, por exemplo, essa fala de Paulette Albuquerque e de Eduardo 
Stotz (2004, p. 264), que nos afirmam: 
[...] toda ação de saúde é uma ação educativa. O processo de 
promoção-prevenção-cura-reabilitação é também um 
processo pedagógico, no sentido de que tanto o profissional 
de saúde quanto o cliente-usuário aprendem e ensinam. Esses 
conceitos podem mudar efetivamente a forma e os resultados 
do trabalho em saúde, transformando pacientes em cidadãos, 
co-partícipes do processo de construção da saúde. 
24
Assim, não podemos perder 
as oportunidades geradas 
para nós, profissionais de 
saúde, em nosso encontro 
com os usuários, no sentido 
de pensar o quanto podemos 
aprender e ensinar sobre 
saúde. 
Ao conversar com as pessoas sobre como lidar com a saúde, diante 
das questões e características próprias do território e da comunidade 
com as quais interagimos, podemos ir ensinando e aprendendo 
caminhos de cuidado, buscando juntos estratégias de promoção da 
saúde e formas de prevenção contra agravos e doenças. 
Além disso, ainda podemos pensar em estratégias de enfrentamento 
às situações de exclusão e vulnerabilidade, para que as pessoas 
possam, de fato, ter uma vida digna e feliz.
Mas, podemos nos perguntar: como começar um processo de 
educação em saúde com essas características? 
COMO COMEÇAR AS 
PRÁTICAS DE 
EDUCAÇÃO EM 
SAÚDE? 
Entendemos que podemos iniciar 
nossas práticas educativas em 
saúde pelo estabelecimento de uma 
relação significativa com os 
usuários e usuárias, contemplando 
a participação ativa destes em seu 
processo de cuidado integral.
Para isso, é fundamental que as práticas de Educação em Saúde que 
realizamos reconheçam e valorizem, como ponto de partida, seus 
conhecimentos prévios. Em suas realidades, as pessoas vivenciam, 
cotidianamente, experiências, com as quais vão aprendendo, 
acumulando saberes, ideias e percepções próprias. São esses saberes 
que denominamos de conhecimentos prévios.
Assim, o ponto de partida da Educação em Saúde não pode ser um 
conjunto de temas e conteúdos técnicos que nós, profissionais, 
decidimos ser necessário que as pessoas adquiram. 
26
Devemos ter como ponto de partida o que as pessoas estão sentindo 
e pensando, reverberando, ou seja, devemos começar nossa atuação 
a partir dos problemas que as pessoas estão nos trazendo e dos seus 
conhecimentos prévios. Nessa ótica, é preciso rever o todo, considerar 
o nosso conhecimento e o conhecimento do (a) usuário (a) para, 
juntos, buscarmos agir sobre uma determinada situação 
(necessidade ou problema de saúde), a fim de refletir sobre 
possibilidades de mudança. 
Nesse fluxo de troca de informações 
e de saberes, aprendemos, 
evoluímos e nos responsabilizamos 
pelo processo de cuidar da saúde.
27
Isso porque um dos principais objetivos da educação em saúde é a 
transformação da realidade,ou seja, quando alguém envolvido na 
ação educativa muda a forma de pensar ou de agir. No entanto, para 
o usuário ou usuária se conscientizar, mudar a concepção que tem 
sobre as coisas, ele (a) precisa refletir, associar o conhecimento que 
recebe na ação educativa, agregar ou mudar o que pensa sobre o 
assunto.
Quando uma pessoa hipertensa se conscientiza que o sal em excesso 
pode fazer mal à saúde e faz uma horta em casa para substituir o sal 
por alguns temperos, ele está mudando a forma de pensar e agir. Por 
isso, transformou uma parte importante de sua realidade.
De outra forma, em uma ação educativa, você questiona os usuários e 
usuárias do grupo sobre a alimentação, especificamente em relação a 
redução do sal na comida, e pede para eles pensarem sobre 
estratégias para modificar, e um deles comenta que, quando morava 
com a mãe, ela cozinhava com muitos temperos, deixando a comida 
gostosa e com pouco sal, o usuário está associando o que o ACS e ACE 
falaram sobre o sal em excesso e refletindo sobre como ele pode 
mudar para efetivamente reduzir e ajustar a alimentação.
Para esse processo de receber a informação e pensar sobre a 
mesma, damos o nome de aprendizagem significativa. Nela, ao 
processar a informação, o usuário faz relações que sejam 
significativas para ele, como o caso do usuário se lembrar da horta 
da mãe dele.
28
Paulo Freire, um importante educador brasileiro, descreve em seus 
livros que cada um tem o direito de falar, partindo-se do conceito de 
cidadania, em que todos somos cidadãos e, participantes ativos nas 
relações da sociedade. Não há quem saiba mais ou menos, pois cada 
um sabe assuntos com conhecimentos prévios acumulados ao longo 
de suas vidas, ou mesmo com conhecimentos científicos adquiridos de 
formas diferentes, vivenciados ou estudados. Por isso, todos aprendem 
na atividade educativa.
Por essa visão, a Educação em Saúde constitui uma oportunidade 
tanto de ensinar o usuário quanto, como profissionais de saúde, de 
aprendermos com ele. Ao escutar o usuário, podemos conhecer a 
percepção que eles têm do nosso trabalho. Isso nos ajudará a 
acolhê-lo e a compreender suas reações diante das diferentes 
situações que estão acontecendo no território ou na unidade e, até 
mesmo, em relação ao nosso trabalho. 
Com isso, em uma relação de Educação em Saúde, com a 
participação crítica das pessoas, podemos, como profissionais de 
saúde, promover a abertura de espaços e momentos para discutir 
questões que nos possibilitem aperfeiçoar e aprimorar o nosso 
trabalho. Poderemos, portanto, ser profissionais melhores, na medida 
em que nos abrimos e nos dispomos a aprender com o usuário.
29
30
Essa postura de receptividade é também 
necessária aos ACS e aos ACE, que moram no 
território, e têm muito o que aprender a partir das 
questões trazidas pelos usuários, pois cada 
pessoa tem uma experiência própria e pode 
expressar como ninguém os seus sentimentos 
como usuário do SUS. 
Para tanto, um elemento muito importante para se desenvolver a 
Educação em Saúde, é tomar como ponto de partida a realidade 
social conforme é vivenciada e sentida pelas pessoas. Não é, portanto, 
o profissional de saúde quem deve dizer e, assim, normatizar quais são 
os temas a serem discutidos dentro de cada momento específico de 
uma prática educativa em saúde.
Por normatizar, nos referimos à ação daquele profissional que impõe 
ao usuário o seguimento de normas de conduta, de vida e de hábitos 
de saúde considerados corretos e adequados, mas que, muitas vezes, 
os usuários não sabem como fazer, ou não faz sentido para eles, ou 
não podem implementar, diante de situações e dificuldades sociais, 
econômicas, culturais, entre outras. Usamos o termo normatizar 
também porque, nesses casos, o profissional impõe medidas sem 
considerar o que o usuário já sabe, o que quer, o que deseja e o que 
pode fazer. 
31
Na figura a seguir, observamos duas imagens. Na primeira, o professor 
vê que os alunos têm pensamentos e ideias diferentes entre si, o que é 
representado na figura por balões com formatos de desenho variados. 
A figura mostra ainda que, diante dessa diversidade de pensamentos 
e ideias dos alunos, o professor fica inquieto e aparentemente 
incomodado. Na imagem logo abaixo, vemos que o professor se 
encontra mais à vontade, apresentando sua forma de pensamento e 
seus saberes, os quais parecem ser copiados/reproduzidos pelos 
alunos, de maneira que o formato do balão representativo do 
pensamento do professor é exatamente o mesmo daquele dos alunos. 
O que aconteceu então, entre 
uma imagem e outra desta 
figura? 
Fonte: Blog Mundo de Oz
Figura 1: Normatização na educação.
Com isso, queremos pontuar a 
importância do processo de educação em 
saúde ser voltado não para memorização 
de conteúdos que deixem as pessoas 
mais preparadas para atuarem sobre sua 
situação de saúde. 
Ora, certamente, ao ver uma turma com pensamentos e ideias diferentes, o 
professor atuou para “padronizar” os pensamentos e as ideias dos alunos de 
modo que fossem reproduções/cópias dos seus próprios pensamentos e 
ideias. Para isso, o professor foi depositando conteúdos dentro da cabeça dos 
alunos, sendo que esses precisam pensar, agir e falar da mesma forma que 
estão escutando, reproduzindo o conteúdo recebido. Essa maneira de 
educação é denominada por método bancário e foi descrita por Paulo Freire. 
O professor, nesse caso, está colocando de forma impositiva seu saber e sua 
visão de mundo, “normatizando” ou “padronizando” os pensamentos e as 
ideias dos alunos. 
Assim, o mais importante para o desenvolvimento de ações de educação em 
saúde no cotidiano do Agente Comunitário de Saúde (ACS) e Agente 
Comunitário de Endemias (ACE) é que os conhecimentos a serem dialogados 
sejam aqueles apresentados pelas pessoas, com base em suas dúvidas, seus 
problemas, ansiedades, inquietações, ou seja, suas necessidades em seus 
contextos de vida. 
Assim, se sentirão fortalecidas para buscar soluções para suas 
necessidades e problemas de saúde, incluindo os determinantes e 
condicionantes que estejam causando qualquer tipo de 
vulnerabilidade social ou econômica, ou num contexto de injustiça 
social e de iniquidades. 
32
33
Por condicionantes e determinantes, estamos nos referindo a 
aspectos importantes da situação de vida e de trabalho das pessoas, 
que estão “no entorno” de sua saúde e influenciam as condições de 
saúde delas e de suas famílias. 
Ou seja, a situação de saúde das pessoas é resultado de vários fatores; 
dentre eles, estão, por exemplo: 
as condições de moradia, a infraestrutura de seu bairro, o salário 
individual e a renda familiar, as situações de vulnerabilidade social às 
quais estejam expostas, a casos de violência doméstica ou de gênero, 
à situação de desemprego, a disponibilidade de opções de lazer, o 
acesso a educação, a possibilidade de expressão de sua identidade 
cultural, entre outros elementos.
Em muitas atividades educativas, os grupos de saúde que acontecem 
na unidade de saúde são unidirecionais, ou seja, o profissional de 
saúde fala sozinho, fazendo orientações impositivas, determinando o 
que o usuário tem que fazer para melhorar sua saúde.
Em um grupo de saúde do adulto, não se pode orientar/determinar 
que um usuário faça o café da manhã às 7h00min, o almoço, às 
12h00min, às 18h00min, o jantar, e alimentar-se nos intervalos, se, 
nesses horários, ele está trabalhando, buscando os filhos na escola. 
Enfim, o que queremos lembrar é a necessidade de negociar a 
orientação que é a mais adequada para a saúde das pessoas, de 
acordo com suas condições de vida, até chegar no ideal possível. 
E, mesmo assim, não se pode fugir do adoecimento, pois vários outros 
fatores podem interferir, como a vulnerabilidade social, a questão 
genética, falta de emprego e condição financeira, entre outros que 
você já estudou em disciplinas anteriores.
34Por isso, é preciso conversar com 
o usuário, escutando o que ele tem 
a dizer, como ele compreende e faz 
adequações para a sua realidade e 
as orientações oferecidas / 
compartilhadas.
É preciso ver a Educação em Saúde, portanto, como processo de 
ensino e de aprendizagem com conhecimentos que promovam uma 
reflexão crítica sobre as necessidades e problemas de saúde de 
maneira a se produzirem novas ideias, novos conhecimentos e novas 
práticas, que possam contribuir com uma melhor qualidade de vida às 
pessoas em seus territórios.
Antes de planejar a metodologia, é importante definir o método a ser 
utilizado. Já abordamos um pouco sobre isso anteriormente, mas 
vamos apresentar didaticamente o método educativo em duas das 
formas possíveis de realização: bancário e problematizador 
(BORDENAVE; PEREIRA, 1977; BERBEL, 1998; VIEIRA, PANÚNCIO-PINTO, 2015).
ABORDAGENS DE 
EDUCAÇÃO EM 
SAÚDE
O método bancário foi assim denominado por Paulo Freire (2014), 
que o caracteriza como método de educação tradicional, marcado 
pela normatização e transmissão dos saberes, pois nele os alunos 
recebem informações de forma meramente transmissiva, de “alguém 
que sabe” (o professor) para “alguém que não sabe” (o aluno). Esse 
modo de transmitir conhecimento, que podemos chamar de 
unidirecional, foi chamado de bancário porque atua como se os 
conhecimentos fossem “depósitos bancários” feitos pelos professores 
nas ideias e mentes dos alunos. 
36
O método 
bancário: um 
enfoque baseado 
na transmissão de 
informações
Nesse método, são utilizadas estratégias de 
memorização, repetição, adestramento/ 
condicionamento, explanação, narração apenas do 
professor.
O responsável pela atividade educativa entra na sala, na qual 
estão os usuários convocados (são obrigados a participarem, e em 
troca, recebem outro tipo de atendimento como consulta médica e 
de enfermagem, mensuração de pressão arterial, distribuição de 
cestas básicas, entre outros), e inicia a exposição do conteúdo 
sobre o tema planejado, com uso de projeção, de multimídia, 
entrega de folder com a intenção dos usuários memorizarem o que 
tem escrito, e, então finalizam o encontro.
37
Nesse método, os usuários só escutam e, na próxima vez que vem à 
Unidade de Saúde são cobrados por aquelas informações que lhes 
foram transmitidas, com abordagens do tipo “você já sabe sobre isso, 
já foi falado no grupo”. 
Essa forma de abordagem da educação em saúde corre o risco de ser 
autoritária, com imposição de normas que deverão ser cumpridas pelo 
usuário, a fim de prevenir ou curar a doença. Assim, a partir da escuta 
das queixas e identificação de sintomas, prescrevem-se os “antídotos” 
para regular a vida das pessoas em seus momentos de crise e de 
enfrentamento aos problemas de saúde.
Essa forma de pensar a educação se expressa pela imposição de 
saberes e de ideias para que as pessoas aceitem e assimilam de 
maneira passiva. 
Na ilustração da Figura 2, exemplificamos essa situação na maneira 
como o educador simplesmente transmite várias letras a alunos que 
estão quietos e passivos somente assimilando e “absorvendo”.
38
Fonte: Disponível em: 
https://modelos-pedagogicos.fandom.com/es/wiki/MODELO_TRADICIONAL
Figura 2: Modelo de educação baseado na transmissão.
Podemos exemplificar esse enfoque com uma situação onde, ao 
realizar uma ação educativa em um grupo com pessoas com 
Hipertensão e Diabetes, o Agente de Saúde (ACS) e o Agente Combate 
às Endemias (ACE) fazem uma palestra – sem debate - expondo a 
importância da atividade física para o autocuidado e a qualidade de 
vida das pessoas com Hipertensão e Diabetes. Ou, no mesmo grupo, 
com uma explanação de um nutricionista sobre hábitos alimentares 
adequados para prevenir complicações da hipertensão e da diabetes. 
Nesses casos, a palestra e a explanação estariam recheadas de 
orientações e recomendações do que seria considerado saudável e 
indicado para a atividade física e a alimentação dos hipertensos e 
diabéticos, mas sem escutá-los nas condições que esses dispõem (ou 
não) em adotar essas orientações e recomendações.
O enfoque gira em torno do que as pessoas devem fazer para não 
adoecer. Começa e termina na transmissão das orientações 
consideradas preventivas. No exemplo citado aqui, o especialista 
responsável pela palestra irá reforçar que “açúcar faz mal” à saúde do 
diabético e que ele deve evitar comer doces e alimentos semelhantes, 
que o hipertenso diminua o sal e corte de sua dieta as comidas 
salgadas, entre outros. Quanto à atividade física, irá dizer a quantidade 
de dias por semana e de horas por dia, e qual atividade deve ser feita.
O método 
problematizador: 
desenvolvendo o diálogo 
de saberes
A segunda forma de praticar a educação em saúde, é chamada de 
método problematizador (FREIRE, 2011). Problematizar significa pensar 
sobre um determinado problema, investigando suas causas, suas 
raízes, seus desdobramentos, suas repercussões e, principalmente, que 
estratégias podemos lançar mão para superá-lo. Ou seja, 
problematizar é o ato de pensar criticamente sobre um determinado 
problema, estudando-o da melhor forma possível, para se produzir 
formas de contorná-lo e superá-lo.
39
Nesse método, o diálogo está presente no relacionamento entre 
professor e aluno, e esse tem uma postura mais ativa em sala de aula, 
participando da condução realizada pelo professor (FREIRE, 1996). 
40
Estão sentados em roda, o que facilita a comunicação entre eles. Além 
disso, o professor tem a postura de mediação, traz um tema de que 
seja do conhecimento dos alunos (pois esses são cheios de saberes), 
para ser discutido em sala de aula, descobrir qual o problema 
relacionado ao tema que surge, para então decidir pontos chave, 
também entendidos como temas geradores de discussão ou 
problemas que serão estudados.
Em seguida, o professor faz uma exposição sobre a temática - 
conteúdo, seguida de atividades que solucionem o problema elencado 
no início da discussão. E, por último, os alunos aplicam o conhecimento 
novo à sua realidade.
Dessa forma, como descrito, são caracterizados cinco passos para 
essa abordagem, de acordo com o método do Arco de Maguerez 
(nome de um educador que criou esse método em 1966 para a 
formação de técnicos agrícolas):
41
1º PASSO
Observação da realidade e elaboração 
de um problema, com a exploração de 
suas causas/consequências.
2º PASSO
Dificuldades encontradas.
3º PASSO
Demonstração 
do conteúdo.
4º PASSO
Hipóteses de solução: propor 
alternativas para as dificuldades.
5º PASSO
Aplicação à 
realidade prática.
REALIDADE
Fonte: Os autores
Figura 3: Passos do método do Arco de Maguerez
Para cada um dos passos o professor planeja uma estratégia de 
ensino e de aprendizagem, de acordo com o objetivo educacional que 
se quer alcançar, podendo ser: conversar com o colega do lado; fazer 
grupos de forma que conversem entre si; fazer um estudo de caso; 
participar de um estudo dirigido; assistir a vídeos e filmes; fazer cenas 
e dinâmicas com teatro; pedir a todos para falar o que sabem 
(tempestade cerebral); construir algo de artesanato; fazer dinâmicas 
com dança; fazer uma simulação; fazer um fórum; construir um mapa 
conceitual; planejar projetos de ação; fazer uma exposição dialogada; 
organizar um quiz, com jogos de pergunta e resposta; fazer dinâmicas, 
entre muitos outros.
Exemplificando, no método problematizador o responsável pela 
atividade educativa, no caso você ACS e ACE, acolhe os usuários 
convidados para o encontro e os orienta a sentarem em círculo para 
que conversem uns com os outros. 
42
1º PASSO
Em seguida, inicia fazendo perguntas sobre um tema, por exemplo, 
alimentação saudável, e pede que conversem em duplas, dentro de 
um tempo determinado. Depois, as duplas dialogam sobre o que 
entendem por alimentação saudável. Podem contar como fazem suas 
refeições, quantas vezes ao dia, qual o tipo de alimento, se conhecem 
apirâmide alimentar, etc.
43
2º PASSO
Então o ACS e ACE consideram tudo o que foi falado, e, orientam que 
cada um escreva em um papel uma palavra que represente uma 
dificuldade sobre o tema, orientando um tempo para que façam, e ao 
final desse pede que cada um fale e explique a palavra que escreveu. 
O ACS e ACE questionam os porquês, até chegarem na definição da 
dificuldade do grupo. Por exemplo, o que e como escolher os alimentos 
(2º passo - dificuldades). 
3º PASSO
Em seguida, você demonstra os alimentos saudáveis, como frutas, 
verduras e legumes, coloca-os em um prato em uma mesa posta, e 
explica como fazer escolhas saudáveis, para as refeições do dia, e, 
também aborda alguns assuntos relacionados ao que os participantes 
falaram no 1º passo (3º passo teorização).
4º PASSO
No passo seguinte (4º passo – resolução da dificuldade), o ACS e ACE 
pedem que os usuários escrevam em duplas um cardápio possível de 
ser feito. As duplas apresentam e os ACS e ACE complementam. 
5º PASSO
E sintetizam no último passo (5º - retorno a realidade), combinando 
que os usuários tentarão seguir seus cardápios na semana seguinte, e 
agendariam uma consulta com o enfermeiro da Unidade de Saúde, 
para acompanhamento.
44
Vamos sintetizar? Note 
como a escrita dos passos 
do Arco de Maguerez é feita:
1º passo - observação da realidade: pedir para os usuários 
responderem o que entendem por alimentação saudável, e depois, 
apresentação.
2º passo - pontos chave – dificuldades: atividade individual, usuários 
escrevem uma dificuldade no papel, depois apresentação, e, definição 
da dificuldade (resultado do grupo, como escolher os alimentos).
3º passo - teorização: demonstração dos alimentos e explicação sobre 
as escolhas saudáveis.
4º passo - hipóteses de solução: propor alternativas para as 
dificuldades. Atividade em dupla: escrever um cardápio.
5º passo – aplicação à realidade prática: combinar a aplicação do 
cardápio por uma semana, e agendar consulta com enfermeiro para 
acompanhamento.
Fonte: Os autores
Figura 4: Passos do Método do Arco de Maguerez exemplificado
O método problematizador traz várias possibilidades de pensar e de 
fazer Educação em Saúde, que vão num sentido diferente do 
tradicional. Ou seja, não no sentido da transmissão sem crítica de um 
determinado conjunto de conhecimentos, mas na direção de as 
pessoas se apropriarem desses conhecimentos de forma autônoma 
(FREIRE, 2011).
Infelizmente, as comunidades possuem 
situações de pobreza econômica e 
vulnerabilidade social que impedem os 
hipertensos e os diabéticos de escolher a 
alimentação adequada, ou mesmo de 
realizar exercícios físicos. 
Na trilha dos exemplos citados anteriormente, esse enfoque iria 
contribuir para que as ações educativas do Grupo HiperDia incluíssem, 
em sua programação, uma escuta das pessoas sobre as condições e 
as dificuldades que as mesmas estejam enfrentando para se 
alimentar conforme recomendado, ou para praticar as atividades 
físicas conforme recomendado.
45
Por esse enfoque, o Grupo HiperDia envolveria:
• primeiro uma escuta atenta e profunda das pessoas sobre como 
estão vivenciado e encarando a questão alimentar e da atividade 
física em seu cotidiano;
• depois o grupo poderia incluir momentos de acordos, de 
planejamento e de execução de estratégias comuns de apoio, de 
solidariedade e de ação colaborativa no sentido das pessoas 
enfrentarem os obstáculos sociais que dificultam sua possibilidade 
de acesso à alimentação de qualidade e à atividade física regular.
Assim, o Grupo giraria muito menos em torno de palestras expositivas, 
e muito mais em torno de uma conversa com objetivos muito definidos 
e voltados à viabilização de esforços coletivos para que as pessoas 
tenham condições de ter uma situação mais adequada de saúde em 
suas vidas. 
É com base nessas reflexões, entre outras, que a Educação Popular em 
Saúde (EPS) aparece como um enfoque relevante e de destaque, 
sendo desenvolvida e aprimorada em várias experiências de saúde 
comunitária desde os anos de 1970 (VASCONCELOS, 2004). A EPS tem 
um embasamento na visão da saúde com suas determinações 
sociais, e se propõe a construir uma ação educativa que privilegie, 
como ponto de partida, as questões locais e o modo como as pessoas 
reagem e convivem com os problemas de saúde. 
3446
EDUCAÇÃO 
POPULAR EM 
SAÚDE 
Seguindo o que já foi abordado da disciplina “Política Nacional de 
Educação Permanente e Política Nacional de Educação Popular em 
Saúde”, iremos retomar os princípios da Educação Popular em Saúde, um 
pouco do seu histórico e abordagens possíveis na rotina dos ACS e ACE.
48
Ao longo das últimas décadas, a EPS passa a 
constituir não apenas um referencial para o 
desenvolvimento de práticas educativas no setor 
saúde, mas também configura um movimento 
articulado de várias experiências, de práticas e de 
protagonistas, que vai se espalhando país afora, com 
diferentes iniciativas em variados setores.
Os atores que realizam a EPS recorrem a abordagens de construção 
compartilhada de ações e de dinâmicas participativas de ensino e de 
aprendizagem, principalmente por acreditar que enfoques de Educação 
em Saúde diferentes dos dominantes precisam ser privilegiados (CRUZ et 
al, 2020).
Você se lembra?
Mesmo tendo se originado a partir dos 
aprendizados acumulados por uma série de 
práticas ao longo do tempo, a EPS é embasada 
em princípios e uma metodologia bastante 
própria, tendo como principal referencial o 
educador Paulo Freire, considerado um dos 
maiores pensadores da pedagogia em todo o 
mundo. 
Na medida em que a Educação em Saúde predominava com uma 
abordagem normativa, como frisamos anteriormente, os participantes 
das práticas de EPS foram compondo suas experiências através da 
articulação de elementos que eram importantes para a integralidade 
da atenção, mas que eram ignorados pela abordagem bancária e 
seus modos de orientar as pessoas. 
Neste sentido, as práticas de EPS foram se constituindo, valendo-se 
principalmente de uma ênfase na ideia da Promoção da Saúde, a qual 
recomenda uma ação profissional que se articule de forma mais 
ampla, que valorize a iniciativa da comunidade e de seus atores no 
processo educativo, ao invés de uma abordagem que apenas repasse 
conhecimentos aos usuários sem levar em conta o conhecimento que 
já carregam. 
49
Além do mais, o conceito de 
Promoção da Saúde aponta para 
a consciência da importância da 
ação intersetorial (entre vários 
setores, como saúde, educação, 
assistência social, meio 
ambiente, trabalho, entre outros) 
e da atuação com foco na 
característica multidimensional 
dos problemas de saúde, com 
atenção a suas interfaces sociais, 
culturais, políticas, econômicas, 
familiares e no trabalho das 
pessoas.
A EPS compreende que a matéria-prima dos processos educativos em 
saúde constitui, justamente, as experiências de vida e de trabalho das 
pessoas, experiências as quais serão objeto de reflexão, discussão e 
problematização para a construção de novos saberes. Em sua base, a 
EPS envolve a crença de que todos nós temos conhecimentos, saberes e 
práticas que vão sendo aprendidos e acumulados ao longo de nossas 
vidas e, assim, ninguém está vazio de conhecimentos quando se vai 
discutir qualquer assunto que seja (CARVALHO, 2007b). 
Assim, a base para fazer a EPS está nas experiências prévias das 
pessoas e nos modos como estão sentindo, pensando e agindo perante 
suas realidades. As autoras Andreia Cardoso e Marilene Nascimento 
(2010, p.1512) nos dizem que a expansão e o reconhecimento da EPS têm 
estimulado vários serviços e experiências de nosso sistema de saúde a 
incluir outras abordagens educativas em saúde, principalmente aquelas 
de perfil dialógico, ou seja, baseado no diálogo. Para essas autoras, isso 
é muito importante, pois:
50
Em consequência, acredita-se que o discurso sobre saúde que 
invoca exclusivamenteo saber técnico, do especialista ou do 
administrador (modelo tradicional de educação em saúde) 
perde gradativamente sua força, tendendo-se a uma maior 
valorização do discurso de outros atores sociais, tais como as 
famílias e as comunidades. O surgimento do Programa Saúde 
da Família (PSF) expressa uma estratégia capaz de estimular 
novas polifonias sociais a respeito da saúde
51
Quando estivermos desenvolvendo uma ação educativa junto a um 
grupo de gestantes, a EPS irá nos orientar a não centralizar o grupo 
em torno de uma palestra com especialistas sobre as recomendações 
mais comuns para o período de pré-natal e os cuidados devidos 
nesse momento; pelo contrário, o grupo poderá e deverá começar 
com uma escuta coletiva das mulheres sobre como está sendo sua 
gestação. 
Assim, o ACE e o ACS podem mediar essa ação, estimulando uma 
conversa franca e aberta com as gestantes, deixando-as à vontade 
para trazer dúvidas que estejam em suas mentes, aflições que 
venham sentindo e outras demandas de orientações que sintam 
necessidade de saber a partir de suas realidades e contextos. Na 
medida em que esse conjunto de questões surgirem nesse bate-papo, 
o ACS e o ACE poderão tomar nota e, somente a partir de então, 
acionar, junto com os demais profissionais da equipe, os saberes 
técnicos e científicos para serem compartilhados no grupo. 
Dessa forma, nos grupos orientados pela EPS, 
esses saberes técnicos e científicos surgem 
das necessidades das pessoas, não das 
necessidades do profissional e do 
especialista, a partir do seu julgamento 
prévio. 
Cabe pontuar também que, na concepção da EPS, esse grupo de 
gestantes será também um espaço de apoio, de intercâmbio de 
experiências e de solidariedade; para que as gestantes tragam suas 
experiências pessoais (inclusive daquelas que já foram gestantes 
anteriormente), bem como para que evidenciem necessidades de 
apoio social, são fundamentais, pois na EPS o grupo é muito mais do 
que um espaço que gira em torno de conhecimentos, é um espaço de 
encontro para propiciar o apoio mútuo entre as pessoas no lidar com 
suas questões de saúde. 
Diante das necessidades apresentadas, um grupo de gestantes com 
essas características poderá envolver também campanhas para que 
as gestantes em situação de vulnerabilidade tenham enxovais, ou 
mesmo articulação de visitas e consultas ao Centro de Referência em 
Assistência Social do bairro para se verificar políticas públicas e 
direitos das gestantes em situações de vulnerabilidade social.
52
Em 2013, foi publicada a Política Nacional de Educação 
Popular em Saúde no SUS (PNEPS-SUS), a qual resultou de um 
longo processo de construção compartilhada entre Ministério 
da Saúde e outros órgãos e setores governamentais, com a 
participação ativa de representantes de diferentes coletivos, 
organizações e movimentos sociais dedicados à EPS em nível 
nacional. Essa construção da PNEPS-SUS teve início em 2009, 
com a criação do Comitê Nacional de Educação Popular em 
Saúde (CNEPS) no Ministério da Saúde, o qual tinha 
representantes do governo, de trabalhadores e da sociedade 
civil – este Comitê liderou a formulação dessa Política. 
A PNEPS-SUS aponta como seus princípios: I – diálogo; II – 
amorosidade; III – problematização; IV – construção compartilhada do 
conhecimento; V – emancipação; e VI – compromisso com a 
construção do projeto democrático e popular. Ademais, indica 
diretrizes e campos potentes de ação e contribuição da Educação 
Popular em Saúde para o SUS, dentre os quais se destacam: I – 
participação, controle social e gestão participativa; II – formação, 
comunicação e produção de conhecimento; III – cuidado em saúde; e 
IV – intersetorialidade e diálogos multiculturais (BRASIL, 2013).
53
A instituição dessa Política representa não apenas 
uma conquista de movimentos e de práticas sociais e 
populares, mas também de entidades e instituições 
que, historicamente, priorizavam o trabalho com o 
olhar pedagógico da EPS. 
Tal conquista trouxe um reconhecimento das 
contribuições potentes e significativas que 
esse enfoque poderia agregar para as 
realizações educativas em saúde nos vários 
espaços do SUS.
Vamos destacar algumas?
Dentre as práticas mais comumente realizadas pela EPS, destacam-se 
os grupos terapêuticos e os grupos de encontro comunitário; sejam 
grupos de HiperDia, grupos de gestantes, grupos de idosos, grupos de 
Saúde Mental, grupos de adolescentes, entre outros. 
Nesses grupos, a EPS vai se expressar na medida em que garantimos a 
realização frequente dos mesmos, e que nos encontros sejam 
oportunizados aos usuários - por meio de diferentes dinâmicas - falar 
sobre como está a sua saúde e como estão convivendo com os 
problemas locais. 
54
No cotidiano das ações da equipe de Atenção Primária, a EPS pode ser 
incorporada com várias estratégias diferentes.
Em cada grupo, o diálogo será 
conduzido de acordo com o tema do 
grupo. Por exemplo, os hipertensos e 
diabéticos devem ter espaço para 
compartilhar como está sendo o 
desafio e os dilemas de conviver com 
hipertensão e diabetes; os 
adolescentes podem trazer dúvidas, 
curiosidades e dificuldades que sentem 
nessa fase. 
55
Dentre as dinâmicas possíveis para convidar as pessoas a partilhar sua 
palavra, com seus depoimentos e reflexões, figuram várias 
possibilidades, dentre as quais destacamos o uso de pinturas e 
desenhos para expressarem o que sentem, e depois comentarem; 
realização e montagem de cenas do cotidiano com interpretações 
teatrais; produção de tarjetas/cartões com palavras-chave que 
expressem como as pessoas se sentem; citação de músicas que 
expressem os sentimentos de cada pessoa; entre outras. 
Cada dinâmica irá depender do público participante e das condições 
das pessoas quanto ao domínio da leitura, da escrita, etc. O importante 
é pensarmos em formas de facilitar e convidar as pessoas a 
pronunciarem seus pensamentos e reflexões, a partir dos quais iremos, 
como profissionais e educadores, mediar uma conversa. 
Nessa conversa, tanto podemos e devemos pedir às pessoas que 
aprofundem os pensamentos e reflexões compartilhados, como que o 
público participante comente e interaja com quem está falando.
Assim, os grupos de EPS vão se constituindo em reuniões, 
principalmente voltadas para que as pessoas possam compartilhar 
sentimentos, pensamentos e ações sobre a saúde e as questões da 
vida. Elas têm liberdade e acolhimento de suas falas, e nós, enquanto 
mediadores, costuramos estratégias de apoio social e solidariedade. 
Assim, proporcionamos o enfrentamento adequado dos problemas 
citados e desenvolvemos estratégias de superação mais potentes. 
Costumamos chamar esses grupos de “espaços de encontro 
comunitário e de convivência”, onde a construção solidária da saúde e 
da qualidade de vida é a grande pauta. Neles, as pessoas são 
cuidadoras umas das outras. 
Esses espaços de EPS têm se multiplicado em várias equipes de saúde 
da família no Brasil e vêm contribuindo muito para que nossas 
unidades sejam orientadas não apenas pelas ações tradicionais de 
vigilância e de atendimento clínico individualizado, mas contemplem 
também agendas nas quais os usuários tragam questões do cotidiano 
de forma aberta e possam discutir, com outros usuários e com os 
profissionais, como estão lidando com os desafios diários para se 
promover e preservar a saúde. 
56
Outras ações importantes orientadas pela EPS podem consistir do 
levantamento, identificação e aproximação com cuidadores populares 
e tradicionais da comunidade, como rezadeiras, parteiras, erveiras, 
fitoterapeutas populares, entre outras, no sentido de convidar essas 
protagonistas a participar de algumas das ações da equipe e de que 
algumas parcerias possam ser desenvolvidas na direção de se 
potencializar o cuidado na comunidade. 
Com conhecimento privilegiado do território, o ACS e o ACE poderão 
reconhecer mais facilmente essas cuidadoraspopulares e frisar para a 
equipe a importância das mesmas terem seus saberes valorizados, 
inclusive na construção dos planos terapêuticos singulares dos 
usuários, na melhor visualização da rede de apoio social local com a 
qual os usuários contam, bem como também para a realização dos 
grupos e demais ações educativas.
Finalmente, a EPS poderá também ser desenvolvida pela ação do ACS e 
do ACE em identificar as principais lideranças comunitárias do território, 
e criar oportunidades para que as mesmas tragam suas ideias e 
propostas para a equipe, de maneira que o desenvolvimento das 
ações do serviço possa ser qualificado a partir do olhar crítico de quem 
vive no território e de quem já realiza lutas e trabalhos sociais no 
sentido da garantia de direitos sociais e humanos. 
57
Ou seja, que se tragam as 
lideranças como parceiras nas 
ações da equipe, especialmente 
aquelas que envolvem a 
necessidade de mobilização da 
comunidade.
CAMINHOS E 
ALTERNATIVAS PARA 
CONSTRUIR PRÁTICAS DE 
EDUCAÇÃO EM SAÚDE 
COERENTES COM A 
INTEGRALIDADE E A 
PROMOÇÃO DA SAÚDE
Você sabia que são variadas 
as estratégias possíveis de 
abordagem a grupos sociais, 
especialmente a Família, 
com o olhar da EPS?
Com elas, espera-se acima de tudo, criar espaços e contextos para o 
diálogo das pessoas; ou seja, momentos de encontros nos quais não 
se priorize a “palestra” de “alguém que sabe” para “alguém que não 
sabe”, mas a reunião de pessoas para aprenderem e conviverem entre 
si, em um processo através do qual questões relevantes de seu 
cotidiano possam ir surgindo e, coletivamente, sendo discutidas.
59
Nessa perspectiva, em termos de estratégias de 
abordagem, destacamos que a construção desses 
espaços sociais é fundamental, realçando a 
importância do caráter coletivo das ações educativas, 
pois se aposta que as pessoas irão aprender umas com 
as outras, a partir de suas experiências, e com base nos 
elementos trazidos também pelos profissionais de 
saúde, com sua formação técnico-científica. 
Além disso, o estabelecimento de ambientes propícios ao diálogo e ao 
encontro é fundamental também para possibilitar que a conversa não 
gire apenas em torno da doença, mas que, principalmente, possa-se 
conversar sobre questões da vida, ou seja, pelos gostos, habilidades, 
desejos, anseios e inquietações das pessoas na sua vida e na relação 
consigo e com os outros em seus territórios.
Em texto onde abordam a EPS na construção da Integralidade na 
Atenção Básica, Paulette Albuquerque e Eduardo Stotz (2004) trazem 
alguns exemplos de experiências de espaços sociais e de encontro 
comunitário, em torno dos quais são desenvolvidos processos 
educativos em saúde como: brinquedoteca; clube da terceira idade e 
grupos de pessoas idosas; oficinas de artes; rádios comunitárias; 
conselhos locais e conselhos populares de saúde; dinâmicas e 
vivências com a linguagem do teatro. 
60
Nesse mesmo texto, os autores também apresentam oficinas 
educativas, voltadas para a criação de espaços de encontro para 
conversa com os usuários em torno de linhas de cuidado, como saúde 
da mulher, saúde da criança, saúde do homem, saúde mental, entre 
outras; trabalho de acompanhamento a famílias em situação de 
vulnerabilidade por meio de visitas domiciliares; uso de vídeos 
artesanais, com depoimentos de usuários dos serviços de saúde e 
pessoas da comunidade (esses vídeos funcionam como instrumentos 
para a introdução de novos temas no debate dos grupos); 
experiências com Práticas Integrativas e Complementares em Saúde 
(PICSs); iniciativas com dinâmicas de música e dança, incluindo 
capoeira, danças afro-brasileiras, entre outras.
Amplie seus conhecimentos. Clique aqui e 
saiba mais sobre as abordagens no 
interior dos processos educativos. Se 
estiver lendo este material no formato 
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861
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COMUNICAÇÃO EM 
SAÚDE 
Na Etapa Introdutória do Curso, o tema de Comunicação em saúde foi 
abordado no Módulo ‘Linguagem e Comunicação’. Agora, iremos 
pensar a comunicação como um processo que potencializa as 
práticas educativas em saúde e qualifica também as iniciativas de 
participação social e de construção colaborativa de nosso trabalho 
com a comunidade.
63
Agora reflita: 
comunicar é 
transmitir ou 
dialogar?
Durante nossa abordagem às Práticas Educativas em Saúde, falamos 
que as relações sociais e humanas são marcadas por processos 
educativos por meio da Comunicação. A comunicação é um processo 
presente em boa parte do nosso dia a dia, seja nas conversas, nas 
relações sociais, nos modos de como se entende, se interage e se 
aborda o outro. 
É importante entender que a comunicação vai muito além da ideia de 
um conteúdo que é transmitido ou como uma informação (notícias, 
orientações, lembretes, normas, avisos etc.) que é repassada. 
Comunicação em Saúde não é, portanto, somente uma transmissão 
de informações de alguém que sabe para alguém que não sabe algo.
É importante analisar a forma como essa comunicação vai ser feita e 
seus objetivos. Vejamos. Em uma lógica bancária, iremos observar a 
comunicação pelo repasse e transmissão de informações, de um 
modo que não se leva em consideração o entendimento da pessoa 
que está “recebendo” aquela informação ou aquele conteúdo. 
A transmissão é a missão e não há maiores preocupações sobre em 
que medida a população estará se apropriando e compreendendo 
aquele conteúdo. Mesmo se utilizando de formas e habilidades 
criativas de repassar um dado conteúdo, a preocupação está tão 
somente no ato de transmitir, não nas possibilidades de interpretação 
ou das consequências geradas pela informação, pela forma como foi 
transmitida ou pelo conteúdo em si, na realidade das pessoas. 
64
Há diferentes formas de se 
promover a comunicação em 
saúde. Desde práticas 
comunicativas apenas 
transmissoras de informações 
e conteúdos até experiências 
de comunicação com uma 
perspectiva promotora de 
humanização e de autonomia 
dos usuários. 
65
Sendo assim, em relação a Comunicação em Saúde, é imprescindível 
que ACE e ACS pensem não apenas na transmissão das informações, 
ou no conteúdo que se quer repassar, mas principalmente na conexão 
com o usuário e também no significado e na utilidade dessas 
informações para a vida dele. Como nos dizem as autoras Inesita 
Soares de Araújo e Janine Miranda Cardoso (2007), o processo de 
Comunicação em Saúde não se limita à simples transmissão ou 
repasse de conteúdos prontos, portanto não envolve apenas a 
transmissibilidade e a assimilação.
A conexão com o usuário trata-se do estabelecimento de um vínculo 
a partir do qual construímos uma relação para fazer com que o 
processo de comunicação tenha o envolvimento ativo das pessoas 
assistidas. 
No dia a dia do trabalho do ACS e do 
ACE, pode-se observar que a 
comunicação em saúde pode 
acontecer pelo repasse de 
informações, seja nas visitas, seja na 
sala de espera, seja nas campanhas 
ou em outro momento educativo. 
Isso ocorre, geralmente, na sala de espera quando fazemos uma 
palestra onde apenas nós, enquanto profissionais, falamos. Ou mesmo 
em reuniões de grupos, como HiperDia, ou outros, onde os profissionais 
falam e os usuários apenas escutam, e não se tem uma segurança 
sobre em que medida o conteúdo repassado foi, de fato, entendido e 
será utilizado pelos usuários em seu dia a dia. 
A figura 5 ilustra um pouco dessa conexão, ao demonstrar que a 
comunicação efetiva é aquela por meio da qual conseguimos 
aproximar nossos pensamentos com os do usuário, ao ponto de 
buscar compreendê-los e também permitir que o usuário compreenda 
as ideias e recomendações que nós estejamos compartilhando com 
eles. Isso só é possível quando há uma conexão, uma aproximação, 
uma ligação entre usuário e profissional.66
Figura 5: Comunicação e conexão entre profissional e usuário
Por exemplo, se você está em um grupo terapêutico 
na comunidade, e constrói uma conexão com os 
usuários, não seria adequado dar uma palestra sobre 
uma informação importante e, após, levantar-se e 
sair; pelo contrário, após a exposição das informações, 
o ideal seria conversar com os usuários para saber se 
compreenderam o que foi dito, se ficaram com 
dúvidas, se existem curiosidades no tema. 
Fonte: CCM. Disponível em: https://www.cmm.com.pt/comunicacao-em-saude/
No que se refere ao significado e à utilidade das informações, talvez 
não seja tão efetivo, por exemplo, fazer uma estratégia de 
comunicação em saúde sobre a dengue em um território cujo 
problema maior, no momento, é a saúde mental.
A comunicação é vista como compreensão pela apropriação da 
mensagem que está sendo comunicada. Junto com isso, a 
capacidade dessa compreensão ser concreta para nossos usuários, 
de maneira a ter sentido na vida deles, a tal ponto que os conteúdos 
comunicados tenham real utilidade em seus contextos de vida e de 
saúde. 
A comunicação útil e eficaz é capaz de promover alternativas, 
recursos e respostas aos desafios, conflitos e sentimentos que fazem 
parte de sua vida. Portanto, em uma abordagem de comunicação 
destinada à promoção de autonomia e de humanização no cuidado 
com o usuário, vamos nos preocupar com a utilidade das práticas 
comunicativas, de maneira que essas contribuam na construção de 
processos onde as pessoas possam construir sua autonomia e 
possibilidades de realização de seus direitos.
67
Maria Wanderleya Coriolano-Marinus e seus colegas (2014, p.1361) nos 
dizem, em seus estudos, algumas das atitudes mais importantes que 
envolvem a realização do processo comunicativo. Eles nos dizem que a 
comunicação deve ser:
68
Para estabelecermos uma comunicação 
significativa com os usuários, é necessária 
uma postura sensível de acolhimento desse 
usuário em suas necessidades e suas formas 
diferentes de expressar a alegria, a dor, o 
sofrimento e suas questões de saúde. 
A comunicação significativa começará, por exemplo, quando 
começarmos nossa relação com o usuário (seja na sala de espera, 
nas visitas domiciliares, nas ações educativas, nas campanhas, entre 
outros) com uma postura acolhedora e compreensiva, não julgadora 
ou pré-concebida. 
[...] um ato caracterizado (...) por atitudes de sensibilidade, 
aceitação e empatia entre os sujeitos, em um universo de 
significações que envolvem tanto a dimensão verbal como 
a não verbal (postura e gestos). Nesse processo, é relevante 
o interesse pelo outro, a clareza na transmissão da 
mensagem e o estabelecimento de relações terapêuticas 
entre trabalhadores e usuários.
É importante, ao sermos abordados pelos usuários, escutarmos 
atentamente suas necessidades e exercitar o olhar para saber 
identificar os sinais que os mesmos manifestam em suas expressões 
corporais, faciais e nas atitudes com as quais chegam ao nosso 
encontro nos serviços de saúde. 
Após essa escuta compreensiva e esse olhar ampliado para as várias 
formas de expressão das pessoas em seus gestos, podemos construir 
uma relação de vínculo e de empatia com elas; o que não significa 
necessariamente dizer o que as pessoas querem ou esperam escutar, 
mas demonstrar a essas pessoas que elas podem, de fato, confiar em 
nós, como profissionais de saúde, sendo parceiros delas em suas lutas 
e enfrentamentos para a resolução de seus problemas de saúde.
69
A comunicação envolve muito mais do que a linguagem falada, ela 
também inclui a observação sobre o não-dito, sobre aquilo que é 
sentido e expressado pelas pessoas em seu olhar, em seus gestos e 
suas posturas. Muitas vezes, em uma visita domiciliar, podemos 
conversar com uma pessoa e essa não nos relatar qualquer problema 
em relação à saúde de sua família. 
Contudo, se prestarmos bem atenção, poderemos ver que essa 
pessoa recebeu a visita com uma expressão de tristeza e 
preocupação, manifestada por sua expressão facial, o embargo em 
sua voz e sua postura corporal. Nesse momento, caberá ao ACS e ao 
ACE tentar compreender essa postura, e ir além daquilo que a pessoa 
comunicou com sua fala. Será que está havendo um problema sério 
em sua casa? Será que está passando alguma dificuldade? Contudo, 
a sensibilidade será importante para que esse “ir além” do “dito” não 
seja em tom inquisidor, tampouco invasivo. 
Será justamente desenvolvendo a conversa, demonstrando 
acolhimento, empatia e solidariedade em nossa forma de falar, em 
nosso gesto corporal, que nós poderemos ir, aos poucos, 
aprofundando a conversa para entender melhor como essa pessoa se 
sente. Se for preciso, respeitar o tempo dessa pessoa, suspender a 
visita momentaneamente e fazer outra visita em momentos 
posteriores, ou mesmo combinar de encontrá-la em outros espaços, 
como a associação de moradores, a igreja comunitária, a própria 
unidade de saúde, entre outros.
70
É importante destacar que a comunicação 
precisa ser dialógica, ou seja, é um processo 
interativo, baseado no diálogo. Nesse processo, 
as pessoas podem interpretar e reinterpretar os 
conteúdos comunicados, apropriando-se deles 
e tendo a possibilidade de responder, trocar 
informações, resultados, conclusões, de 
maneira que os conteúdos e a maneira como 
estão sendo comunicados possam ser revistos. 
Além disso, o bom comunicador, nunca ignora as condições de 
comunicação: as características locais e do contexto, os níveis 
sociais, econômicos e culturais de nosso interlocutor, o momento em 
que se está estabelecendo o diálogo etc. 
Dito de forma prática: quanto de chance de sucesso comunicacional 
terá um profissional de saúde que se dirige a um usuário sem o olhar 
nos olhos, sem ouvir com calma todas as suas queixas, olhando o 
celular constantemente, ou para o relógio? Quais são as chances de 
um profissional de saúde conseguir atender com sucesso um usuário 
que não diz claramente o que sente, que evita responder às perguntas 
do profissional, que o apressa dizendo que precisa sair porque tem 
outro compromisso? 
Também não vemos sucesso nas comunicações que são feitas com 
palavras de difícil compreensão para o usuário, que orientam o usuário 
a mudar sua rotina sem sequer considerar as possibilidades que esse 
usuário tem de fazer tal mudança, que escreve suas orientações sem 
pensar que o usuário pode não saber ler. Enfim, muitas são as 
dificuldades que podem impedir uma boa relação, um bom 
atendimento, quando não se dá a devida importância ao fator 
Comunicação.
71
Saiba como superar as dificuldades na 
comunicação em saúde. Clique aqui ou 
escaneie o QR Code. 
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PARTICIPAÇÃO 
SOCIAL EM SAÚDE
Um acontecimento importante na história das Políticas de Saúde foi a 
conquista da Participação Social em Saúde nas ações e serviços do 
SUS, que reafirmam a Saúde como direito (BRASIL, 2006). 
A participação social foi estabelecida como elemento fundamental da 
organização das políticas, ações e serviços em Saúde junto com a 
construção do próprio SUS. Estão previstos e garantidos pela lei os 
espaços institucionais de participação social. As Conferências de 
Saúde devem reunir a comunidade, a partir de representações 
diversas, “para avaliar a situação da saúde e propor as diretrizes para 
a formulação da política de saúde” (Art. 1º, §1º), a cada quatro anos, no 
primeiro ano de cada ciclo de gestão (BRASIL, 1990). 
Os Conselhos de Saúde, por sua vez, devem ser compostos por 
representantes dos usuários do Sistema, por meio de organizações 
que expressem a diversidade existente no território, bem como por 
representantes das diversas categorias profissionais de Saúde, dos 
prestadores de serviço e da gestão de Saúde. 
73
Na Etapa FormativaI do curso, 
foram abordadas as políticas 
públicas que são fundamentais 
para a prática da equipe de saúde, 
e, especificamente de vocês ACS e 
ACE. 
O Conselho de Saúde tem caráter permanente e deliberativo 
(BRUTSCHER, 2012). Os Conselhos se caracterizam pela proposição e 
pela fiscalização das políticas de saúde. A Lei 8.142/1990, no Art. 1º, § 4º, 
assegura que a “representação dos usuários nos (BRASIL, 1990).
74
Fonte: Ministério da Educação
Figura 6: Tirinha sobre Participação Social. 
A tirinha acima ilustra como a participação social é importante no 
sentido de abrir espaços para que as instituições e serviços públicos 
escutem, acolham e considerem as propostas dos usuários para a 
gestão de suas ações e a operacionalização de seus serviços.
Os ACE e ACS têm um papel fundamental para ampliar e qualificar a 
participação das lideranças comunitárias nos conselhos de saúde, 
desde o conselho local até o conselho municipal. Os ACS e ACE são 
atores inseridos no território e conhecem de forma profunda suas 
principais características, bem como os principais atores que têm uma 
voz ativa no contexto comunitário. 
75
Podem e devem, assim, auxiliar a equipe de saúde na identificação 
das principais lideranças e na sensibilização para que essas pessoas 
possam integrar os espaços de participação social da equipe, 
especialmente os conselhos, mas também outras iniciativas, como 
grupos, campanhas, entre outras. 
Para tanto, é fundamental que os ACS e ACE participem do 
planejamento das ações de participação social da equipe, inclusive na 
formação dos conselhos locais de saúde, onde poderão identificar e 
nominar lideranças sociais que tenham uma atuação protagonista no 
contexto local e representem segmentos, grupos e coletivos 
importantes para a comunidade. 
O papel do ACS e ACE estará não apenas 
no levantamento de quais são as 
lideranças do bairro, mas também de 
contribuir com a equipe nas melhores 
estratégias de contato e aproximação 
com essas pessoas, auxiliando também 
nas mais adequadas formas de 
comunicação e de interlocução com tais 
lideranças, de maneira a sensibilizá-las e 
estimulá-las a integrar os espaços de 
participação local em saúde. 
Mas o que podemos fazer para movimentar e mobilizar o território? 
Entre as alternativas e possibilidades várias, destacamos 
principalmente três: visitas domiciliares; grupos; e campanhas de 
mobilização. 
Nas visitas no território, os ACS e ACE poderão fazer contatos com 
lideranças históricas de seu bairro, as quais esses profissionais já 
conheçam. Nesse caso, a visita seria um momento de aproximação 
para contatar as principais lideranças locais, escutar suas prioridades, 
suas demandas e suas críticas ao serviço, e convidá-las a participar 
das ações e reuniões do conselho local de saúde. 
Visitas domiciliares
76
Grupos
Os grupos são fundamentais, porque constituem experiências de 
encontro e debate coletivo. Costumam ser sempre abertos à 
participação das pessoas e à inclusão de novos participantes. Além do 
mais, conforme os grupos vão acontecendo de forma frequente, 
alguns dos usuários participantes podem ir desenvolvendo habilidades 
de liderança e de maior protagonismo, o que ajuda também a 
envolvê-los nas ações de participação social. 
Campanhas
Finalmente, as campanhas constituem também uma boa estratégia 
de mobilização, pois são planejadas com ações visando uma ampla 
repercussão no território, de maneira que essas ações conseguem 
muitas vezes chegar às pessoas que até então não tinham muito 
conhecimento sobre o trabalho da equipe de saúde. 
77
Como é próprio de muitas campanhas, o caminhar nas ruas, as ações 
comunicativas na rádio comunitária, as divulgações nos carros e nas 
bicicletas com caixa de som, contribuem para que se atinja um 
público mais ampliado do que aquele que convencionalmente as 
equipes abrangem. Assim, será possível mobilizar novos atores para a 
discussão da participação social em saúde naquele local.
Assim, percebe-se que os ACS e 
ACE têm um grande potencial 
para contribuir de modo 
fundamental na mediação de 
como as demandas da 
comunidade e de suas lideranças 
chegam até a equipe, de maneira 
que isso ocorra de forma 
propositiva e não conflituosa. 
Por exemplo, diante de uma situação de um usuário que se queixa 
intensamente da demora no atendimento, em meio à sala de espera, o 
ACS ou ACE pode ser o primeiro profissional a se aproximar do usuário 
em questão, acolher sua demanda, escutar suas reclamações e 
intermediar um diálogo do usuário com a gestão da equipe.
78
Ainda, podemos destacar que os próprios ACS e ACE, muitas vezes, 
passam a integrar os conselhos de saúde como membros titulares, e 
essa participação é fundamental para agregar sua experiência e seu 
olhar privilegiado sobre o território nos temas que estarão em 
discussão nos encontros dos conselhos. 
Sua inserção em instâncias de maior escala, como os Conselhos 
Municipal, Estadual e Nacional de saúde contribuirá ainda mais, no 
sentido de levar para esses espaços as demandas sentidas pela 
comunidade e as propostas necessárias para que a relação 
construtiva entre comunidade e UBS seja qualificada.
Nos espaços de participação social, espera-se que sejam tecidas 
trocas de experiências e compartilhamento de pontos de vista sobre 
as questões e os problemas de saúde mais importantes em cada 
território, bem como sobre como anda o serviço de saúde e de que 
maneira as ações desse serviço estão sendo avaliadas e interpretadas 
pela população.
Nesses encontros, podem e devem emergir 
diferentes pontos de vista e até momentos 
de conflito e de tensão, naturalmente 
despertados pela divergência de ideias e 
opiniões. 
79
Podemos considerar, inclusive, que é justamente para emergirem 
essas diferenças de ideias que esses encontros são importantes, como 
estratégia de se buscar, na divergência, as aproximações e pontes 
possíveis entre os diferentes atores do SUS– o do usuário, o do gestor e 
o do profissional –, em uma relação que se afirme de maneira 
respeitosa e que flua por meio de um diálogo propositivo.
Em outro exemplo, algumas lideranças comunitárias poderão apontar 
e denunciar a falta de um determinado medicamento na farmácia da 
unidade, e articular junto ao conselho reivindicações junto à secretaria 
de saúde e outros órgãos competentes, para que esse direito à 
assistência farmacêutica seja assegurado. 
Como exemplo, a equipe pode planejar uma ampla e 
qualificada campanha de atenção à saúde do homem na 
comunidade, mas prevendo sua realização em um dia útil 
de semana e durante o dia. No conselho local, as lideranças 
comunitárias poderão apontar que, para envolver a maioria 
da população masculina, seja mais adequado marcar a 
campanha para um final de semana, ou então no período 
noturno, de maneira a se respeitar os períodos dos homens 
que trabalham em horário comercial. 
A participação social pode também se dar na dimensão da 
proposição, ou seja, pela contribuição dos cidadãos com ideias. É 
procurar intervir na sociedade e nos governos que estão no poder com 
propostas, apontando alternativas de soluções ou saídas para 
questões ou problemas individuais e/ou coletivos que afetam a 
comunidade. Propor significa elaborar estratégias, assumindo posição 
em relação ao “como” as coisas devem ser conduzidas e realizadas, 
seja na sociedade, no governo, no bairro ou na família.
90
Fonte: Banco de imagens
Figura 7: Participação da sociedade na diversidade de pessoas e seus diálogos. 
Como representado acima, participação significa envolvimento de 
pessoas diferentes, com pensamentos e propostas diversificadas que 
possam ser trazidas para contribuir na gestão das políticas públicas.
Podemos também dizer que a participação social possui ainda a 
dimensão do controle, a qual se expressa no plano da fiscalização. 
Consiste em acompanhar e conferir se as ações públicas estão sendo 
bem

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