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CUIDADO, EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM SAÚDE PROGRAMA SAÚDE COM AGENTE E-BOOK 21 MINISTÉRIO DA SAÚDE CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS MUNICIPAIS DE SAÚDE UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Brasília (DF) 2023 MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS) CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS MUNICIPAIS DE SAÚDE (CONASEMS) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRS) CUIDADO, EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM SAÚDE PROGRAMA SAÚDE COM AGENTE E-BOOK 21 Brasília (DF) 2023 2023 Ministério da Saúde. Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial – Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte. A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde: bvsms.saude.gov.br Elaboração, distribuição e informações: MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde Departamento de Gestão da Educação na Saúde Coordenação-Geral de Ações Estratégicas de Educação na Saúde – CGAES SRTVN 701, Via W5 Norte, lote D, Edifício PO 700, 4º andar CEP: 70719-040 – Brasília/DF Tel.: (61) 3315-3394 E-mail: sgtes@saude.gov.br Secretaria de Atenção Primária à Saúde Departamento de Saúde da Família Esplanada dos Ministérios, Bloco G, 7º andar CEP: 70058-90 – Brasília/DF Tel.: (61) 3315-9044/9096 E-mail: aps@saude.gov.br Secretaria de Vigilância em Saúde SRTVN 701, Via W5 Norte, lote D, Edifício PO 700, 7º andar CEP: 70719-040 – Brasília/DF Tel.: (61) 3315.3874 E-mail: svs@saude.gov.br CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS MUNICIPAIS DE SAÚDE – Conasems Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Anexo B, Sala 144 Zona Cívico-Administrativo, Brasília/DF CEP: 70058-900 Tel.:(61) 3022-8900 Núcleo Pedagógico do Conasems Rua Professor Antônio Aleixo, 756 CEP: 30180-150 Belo Horizonte/MG Tel: (31) 2534-2640 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Av. Paulo Gama, 110 - Bairro Farroupilha - Porto Alegre - Rio Grande do Sul CEP: 90040-060 Tel: (51) 3308-6000 Coordenação-geral: Cristiane Martins Pantaleão – Conasems Hishan Mohamad Hamida – Conasems Leandro Raizer – UFRGS Luciana Barcellos Teixeira – UFRGS Direção técnica: Isabela Cardoso de Matos Pinto - SGTES/MS Célia Regina Rodrigues Gil – DEGES/SGTES/MS Organização: Núcleo Pedagógico do Conasems Supervisão-geral: Rubensmidt Ramos Riani Coordenação técnica e pedagógica: Cristina Fatima dos Santos Crespo Valdívia França Marçal Elaboração de texto: Kellin Danielski Pedro José Santos Carneiro Cruz Revisão técnica: Andréa Fachel Leal – UFRGS Diogo Pilger – UFRGS Érika Rodrigues De Almeida – SAPS/MS Fabiana Schneider Pires – UFRGS José Braz Damas Padilha – SVS/MS Michelle Leite da Silva – SAPS/MS Patrícia Campos – Conasems Designer educacional: Alexandra Gusmão – Conasems Juliana de Almeida Fortunato – Conasems Pollyanna Lucarelli – Conasems Priscila Rondas – Conasems Colaboração: Antonio Jorge de Souza Marques – Conasems Daniela Riva Knauth - UFRGS Josefa Maria de Jesus – SGTES/MS Katia Wanessa Silva – SGTES/MS Lanusa Terezinha Gomes Ferreira - CGAES/MS Marcela Alvarenga de Moraes – Conasems Marcia Cristina Marques Pinheiro – Conasems Rejane Teles Bastos – SGTES/MS Roberta Shirley A. de Oliveira – CGAES/MS Rosângela Treichel – Conasems Suellen da Silva Ferreira– SGTES/MS Assessoria executiva: Conexões Consultoria em Saúde LTDA Antonio Jorge de Souza Marques Coordenação de desenvolvimento gráfico: Cristina Perrone – Conasems Diagramação e projeto gráfico: Aidan Bruno – Conasems Alexandre Itabayana – Conasems Bárbara Napoleão – Conasems Lucas Mendonça – Conasems Ygor Baeta Lourenço – Conasems Fotografias e ilustrações: Biblioteca do Banco de Imagens do Conasems Imagens: Freepik, Brasil Escola e Wikipédia Revisão ortográfica: Camila Miranda Evangelista Gehilde Reis Paula de Moura Keylla Manfili Fioravante Normalização: Luciana Cerqueira Brito – Editora MS/CGDI Brasil. Ministério da Saúde. Cuidado, Educação e Comunicação em Saúde[recurso eletrônico] / Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. – Brasília : Ministério da Saúde, 2023. xx p. : il. – (Programa Saúde com Agente; E-book 21) Modo de acesso: World Wide Web: ISBN xxx-xx-xxx-xxxx-x 1. Agentes Comunitários de Saúde. 2.Cuidado, educação em saúde. 3. Comunicação em Saúde. I. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde. II. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. III. Título. CDU 614 Ficha Catalográfica Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2023/0xxx Título para indexação: Care, Education and Communication in Health Tiragem: 1ª edição – 2023 – versão eletrônica http://www.saude.gov.br/bvs Esse é o seu e-book da disciplina Cuidado, Educação e Comunicação em Saúde. Certamente você já ouviu falar, ou leu, sobre a Educação em Saúde e o papel central e estratégico dela para a construção e consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), sobretudo na organização de práticas de saúde, que sejam humanizadoras, emancipadoras, resolutivas e integrais. Agora, nosso convite é para que sigamos as discussões, com base no conhecimento prévio sobre esse tema. A partir de saberes anteriormente obtidos, quer em conversas, em leitura de panfletos, em revistas, em cursos, entre outros, de modo que consigamos apresentar nossas reflexões e elaborações sobre tal assunto. Estude este material com atenção e consulte-o sempre que necessário! Acompanhe também a aula interativa, a teleaula e realize as atividades propostas para assimilar as informações apresentadas. Bons estudos! OLÁ AGENTE! ACE | Agente de Combate às Endemias ACS | Agente Comunitário de Saúde CNEPS | Comitê Nacional de Educação Popular em Saúde EPS | Educação Popular em Saúde PICSs | Práticas Integrativas e Complementares em Saúde PNAB | Política Nacional de Atenção Básica PNEPS-SUS| Política Nacional de Educação Popular em Saúde no SUS PSF | Programa Saúde da Família UBS | Unidades Básicas de Saúde SUS | Sistema Único de Saúde LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS LISTA DE FIGURAS 31 | Figura 1 - Normatização na educação. 38 | Figura 2 – Modelo de educação baseado na transmissão. 40 | Figura 3 - Passos do método do Arco de Maguerez. 41 | Figura 4 : Passos do Método do Arco de Maguerez exemplificado. 66 | Figura 5 - Comunicação e conexão entre profissional e usuário. 74 | Figura 6 - Tirinha sobre Participação Social. 80 | Figura 7 - Participação da sociedade na diversidade de pessoas e seus diálogos. SUMÁRIO 7 19 O CUIDADO EM SAÚDE EDUCAÇÃO EM SAÚDE E OS VALORES HUMANOS NAS RELAÇÕES COMO COMEÇAR AS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE CAMINHOS E ALTERNATIVAS PARA CONSTRUIR PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE COERENTES COM A INTEGRALIDADE E A PROMOÇÃO DA SAÚDE PARTICIPAÇÃO SOCIAL EM SAÚDE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE RETROSPECTIVA BIBLIOGRAFIA 25 35 47 58 62 72 84 COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 86 ABORDAGENS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE O CUIDADO EM SAÚDE Reflita um pouco sobre a seguinte questão: em que medida você se considera Cuidador (a) em Saúde? Como profissionais de saúde, nossa missão para com os usuários e usuárias não é simplesmente “atender”, mas principalmente “cuidar”. O ato de cuidar significa estar junto dessas pessoas nos momentos mais difíceis de crise e insegurança resultantes do processo de adoecimento. Normalmente, a doença mobiliza uma série de sentimentos e emoções e, dependendo das circunstâncias e das implicações familiares, um processo de adoecimento pode gerar muitas incertezas, medos, anseios e dilemas para os indivíduos e seus familiares. Assim, cuidar não é apenas dizer às pessoas o que devem fazer, tampouco como devem fazer. 8 Cuidar é, sobretudo, orientá-las e apoiá-las, acompanhando-as e demonstrando que estamos disponíveis paraauxiliar no enfrentamento desse processo. Você, Agente Comunitário de Saúde (ACS) ou Agente de Combate às Endemias (ACE), convive cotidianamente com os usuários, e conhece de perto: 9 As realidades; Os dramas; E os desafios em busca da saúde e do bem-estar. Mas é importante destacar que, embora se entenda que cuidar é estar junto, não significa enfrentar os problemas pelas pessoas. Cada um vive sua realidade, e o seu papel nesse processo é atuar como apoio firme, solidário e efetivo, que inspire, motive e impulsione as pessoas a seguirem com perseverança os caminhos do seu próprio cuidado. Na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), o cuidado está destacado na forma de aproximação e articulação com o princípio da integralidade em saúde. Com isso, a PNAB preconiza que o cuidado em saúde deve se materializar por um processo de trabalho em saúde que seja, efetivamente, centrado no usuário e em suas necessidades, não somente em procedimentos profissionais técnicos e especializados. O cuidado traz consigo a ideia de que nos importamos com os usuários e que desejamos acompanhá-los e apoiá-los no seguimento de seu processo de cura e reabilitação em saúde (BRASIL, 2017). 10 Eymard Vasconcelos (2008) nos diz que: É importante lembrarmos que o cuidado é uma atividade profundamente humana e que, portanto, não é atribuição restrita apenas aos profissionais de saúde. Cuidar significa ocupar-se, aqui e agora, dos problemas passíveis de serem enfrentados, pondo-se à disposição de acordo com as condições exigidas por eles e não nas condições oferecidas tradicionalmente pelo serviço. [...] Cuida-se dessas famílias em situação de risco não como prêmio por perceber seu esforço ou sua assimilação das orientações da equipe, mas como resposta ao direito à cidadania de sujeitos vivendo situações que não lhes permitem buscar e lutar pelos recursos existentes nos precários e limitados serviços de saúde destinados às classes populares. O apoio familiar não pode ser um último teste para esta família se tornar operativa, mas espaço de vida a mais no qual lhe propiciamos alguns dos novos suportes que possam utilizar para compor seu próprio caminho de vida (p. 153). Se pensarmos bem, o cuidado está presente em nossas vidas de diferentes maneiras e é manejado por diversas pessoas – por exemplo: o cuidado de nossas mães e pais, avós e avôs, tias e tios, ou outros parentes, ou mesmo amigos, entre outros. Em situações de adoecimento diferentes, muitas vezes os primeiros a nos apoiarem, não são necessariamente profissionais de saúde, mas pessoas que estão próximas, que se importam conosco e que empenham suas energias e dedicação para nos ajudar a enfrentar o adoecimento. Se caminharmos um pouco mais para trás, na história, veremos que o cuidado existe desde muito antes mesmo da prática da saúde e da medicina. Desde a origem da humanidade, nas comunidades e agrupamentos humanos, haviam pessoas com saberes e habilidades voltadas para o cuidado - curandeiros, erveiras, rezadeiras, parteiras, entre outros. Ainda é comum se deparar com pessoas com essa competência que continuam a atuar e ter uma relevância para a situação de saúde de seu povo, funcionando como apoio nos processos de adoecimento e de busca pela qualidade de vida em determinadas comunidades e territórios. 11 Nosso desafio, como profissionais de saúde, é sermos cuidadores em saúde. 12 Para exemplificar o que dissemos anteriormente, o professor Eymard Vasconcelos (2009) nos apresenta diferentes possibilidades através das quais o cuidado se expressa nas comunidades. Ele diz que podemos dividir as práticas populares de saúde segundo a sua localização social, da seguinte forma: a) práticas familiares ou caseiras; b) práticas executadas por pessoas para sua renda (raizeiros, rezadeiras e pais-de-santo); c) práticas dos movimentos sociais locais. Assim, podemos entender que o cuidado transborda o setor saúde, sendo, portanto, uma característica humana, que, embora se expresse em maior ou menor grau nas vidas das pessoas, sempre está presente como possibilidade de apoio mútuo e social diante das crises e problemas que aparecem em situações de dor e adoecimento. E isso exige desenvolvermos e aprimorarmos nossa capacidade de estabelecer vínculos com os usuários e usuárias. Não apenas o vínculo formal imposto pela relação de adscrição do (a) usuário (a) a nosso território, mas o vínculo no sentido expresso pela PNAB, qual seja: a construção de relações de afetividade e confiança entre usuários (as) e profissionais de saúde, permitindo que o atendimento seja um encontro visando o apoio e à corresponsabilização pela saúde, tendo um potencial terapêutico. A percepção de não estar sozinho anima o usuário, ou usuária, a encarar o enfrentamento dos problemas de saúde como um projeto em parceria com a equipe de saúde. 13 Como saber se nossas práticas no cotidiano de trabalho em saúde estão sendo orientadas pelo conceito de cuidado? Que tal um exemplo? Imagine que a Agente Comunitária de Saúde (ACS) Bia realizará uma visita domiciliar à casa de João. Ele apresenta um quadro de obesidade, somado a outras comorbidades, como hipertensão e diabetes. Porém, ele se recusa a ir na Unidade Básica de Saúde (UBS) e não se dispõe a participar do grupo de hipertensos e diabéticos. O que Bia deve fazer? 14 15 Bia deve cuidar. Em primeiro lugar, a orientação é fazer o acolhimento de João em sua situação de saúde e doença. Para isso, é preciso escutá-lo e entender como ele se sente diante do problema em questão – a obesidade e as demais comorbidades. Procurar compreender seus sentimentos, suas impressões, suas emoções e o modo como ele está vivenciando essa situação. Escutar primeiro significa que cuidar dessa pessoa exige, antes de tudo, construir relações e conexões verdadeiras com ela. Conhecer sua realidade, seus contextos, suas dinâmicas de vida, suas aflições e dificuldades. Para isso, ACS e ACEs têm a oportunidade privilegiada de visitar essa pessoa sistematicamente, construir pontes e se aproximar para compreender suas razões, ao mesmo tempo em que permite que a pessoa compreenda as razões dos profissionais de saúde e a necessidade de se cuidar. A cada visita, ao escutar primeiro, ACS e ACE vão conhecendo a vida daquela pessoa e de sua família, sabendo mais sobre o trabalho da família, a escola das crianças, a feira comunitária, as ansiedades de alguns membros da família, as preocupações quanto à moradia, etc. O problema ali exposto pode ir muito além da obesidade, e a abordagem necessária exige muito mais do que a prescrição de uma dieta pelo nutricionista. É necessário que se tenha em vista uma abordagem que considere as condições de vida da pessoa, seu trabalho, sua inserção escolar, sua participação comunitária, sua cultura, seus gostos, seus anseios. Assim, certamente, aos poucos, os (as) agentes podem constatar que não seria suficiente simplesmente dizer ao usuário o que ou como deveria comer. Entende-se que é necessário construir, com esse indivíduo, com sua família e com os profissionais da saúde, os caminhos do comer, considerando os obstáculos sociais locais e as condições de cada família. 1016 Se há aproximação suficiente e criação de vínculos de confiança, pouco a pouco o ACS e o ACE podem descobrir, por exemplo, que o usuário em questão não cumpria dietas anteriormente prescritas a ele, tanto pela questão de limites financeiros como pelos gostos e pelos seus desejos e de sua cultura alimentar – aspectos importantes que eram desconsiderados em tratamentos anteriores e que o fizeram desanimar e até abandonar o tratamento. Assim, cuidar não é impor normas de comportamento e tratamento para as pessoas; como já dito, envolve acolher, escutar e educar, no sentido de conversar, ensinar, aprender. 17 O que significao Cuidado para nós, profissionais de saúde? O Cuidado é o nosso trabalho como profissionais de saúde e, ao mesmo tempo, é uma atitude humana que se expressa nos mais variados espaços de nossa prática – seja: nas visitas, seja nas campanhas, seja nas ações comunitárias, seja nas reuniões e nos grupos terapêuticos, seja nas atividades coletivas, seja na sala de espera, seja nas escutas individuais. Trabalhar na saúde é cuidar das pessoas, onde quer que seja necessário. Utilizando ferramentas como a Educação, a Comunicação e a Participação Social em Saúde podemos ampliar e qualificar ainda mais esse ato de cuidar. Iremos, portanto, apresentar e discutir temas em torno da Educação, da Comunicação e da Participação Social em Saúde, pensando de que outras maneiras essas dimensões das práticas de saúde podem constituir verdadeiros pilares que colaborem no sentido de aprimorarmos as ações ofertadas em nossas equipes e caminharmos ainda mais firmemente na direção de uma atenção à saúde humanizada e marcada profundamente pelo cuidado. 1118 EDUCAÇÃO EM SAÚDE E OS VALORES HUMANOS NAS RELAÇÕES Em qualquer contexto em que há duas pessoas e uma relação entre elas, existe uma possibilidade de aprendizagem. 20 A Educação está presente em nossas relações familiares, nas relações de amizade, nas relações afetivas e nas nossas relações de trabalho e no próprio trabalho. Frisamos tudo isso porque, muitas vezes, a encaramos como algo que só tem sentido e expressão dentro de uma sala de aula (virtual ou remota) de um espaço formal de ensino. Além da escola, em todo o momento nós estamos em relação com o outro, seja no ambiente familiar seja em outros vários contextos das nossas relações de vida, durante o nosso dia a dia. Se, nessa relação, elas estiverem suficientemente abertas para isso, a comunicação autêntica e profunda com alguém diferente trará novas perspectivas, sentimentos, afetações e percepções. 21 Além disso, a comunicação com alguém com gostos diferentes, opiniões e visões de mundo distintas vai nos trazendo conhecimentos, saberes e experiências novas, o que vai potencializando nossas oportunidades de ampliar nossos horizontes e nossa forma de compreender e, portanto, de ser, de estar e de agir no mundo. E o inverso também acontece. Se nosso interlocutor se dispõe a nos ouvir, a nos questionar, a se opor a nós ou a concordar conosco, também estará acrescendo suas oportunidades de crescimento, de reflexão, logo, assim como nós, podendo gozar de seu direito de ser, de estar e agir no mundo. Ao ter contato com outras visões de mundo e conhecer experiências de outras pessoas, todos somos mobilizados a refletir sobre as nossas próprias conceituações, opiniões, ideias. No contato com outras pessoas e suas ideias, é possível que um mesmo assunto seja percebido de maneiras muito diferentes. 22 Estamos, portanto, falando da Educação como um processo de formação permanente de todos - homens e mulheres, enquanto humanos e como cidadãos. O processo de educação acontece pela comunicação com o outro e com o mundo, de forma permanente: estamos sempre aprendendo com os desafios e experiências vividas. Por isso, pensamos na educação como um fenômeno humano. Ainda que vejamos a Educação numa perspectiva abrangente, nosso principal olhar na disciplina será para a educação como um processo social que, apesar de orgânico (isto é, naturalmente concebido nas relações dos homens entre si, dos homens com o mundo e com tudo o que dele faz parte), pode ser construído, tecido, cuidado, pensado e organizado para ser aprimorado e potencializado. O trabalho na saúde está permanentemente recheado de oportunidades de desenvolvimento de processos educativos, os quais podem e devem ser preparados, pensados e organizados. Essas oportunidades estão presentes, por exemplo, nas visitas às famílias, nas orientações dos grupos comunitários, na participação na construção de projetos terapêuticos singulares, na organização do acolhimento e em todas as ações desenvolvidas dentro das Unidades Básicas de Saúde (UBS). 23 Ademais, a atualização de processos educativos também pode ser vista nas ações que possam estar sendo desenvolvidas e protagonizadas por ACS, ACE e outros (as) profissionais de saúde dentro de contextos de cuidado e de atendimento clínico. Diante dessas reflexões, fazemos as seguintes perguntas: em que medida, ao desenvolver as atividades do cotidiano, pensamos nelas como processos educativos? Como podemos fazer dessas ações oportunidades de aprender mais, carregando cada vez mais conhecimentos, saberes e experiências? Ora, se pararmos para pensar um pouco, as ações que desenvolvemos em nosso trabalho na saúde, no encontro com os usuários, constituem momentos de uma relação educativa. Nesse caso, vivemos constantemente com os (as) usuários (as) (e também com colegas de profissão) uma relação educativa cujo objeto é a saúde. Autores de referência na área da Saúde Coletiva nos ensinam isso. Vejamos, por exemplo, essa fala de Paulette Albuquerque e de Eduardo Stotz (2004, p. 264), que nos afirmam: [...] toda ação de saúde é uma ação educativa. O processo de promoção-prevenção-cura-reabilitação é também um processo pedagógico, no sentido de que tanto o profissional de saúde quanto o cliente-usuário aprendem e ensinam. Esses conceitos podem mudar efetivamente a forma e os resultados do trabalho em saúde, transformando pacientes em cidadãos, co-partícipes do processo de construção da saúde. 24 Assim, não podemos perder as oportunidades geradas para nós, profissionais de saúde, em nosso encontro com os usuários, no sentido de pensar o quanto podemos aprender e ensinar sobre saúde. Ao conversar com as pessoas sobre como lidar com a saúde, diante das questões e características próprias do território e da comunidade com as quais interagimos, podemos ir ensinando e aprendendo caminhos de cuidado, buscando juntos estratégias de promoção da saúde e formas de prevenção contra agravos e doenças. Além disso, ainda podemos pensar em estratégias de enfrentamento às situações de exclusão e vulnerabilidade, para que as pessoas possam, de fato, ter uma vida digna e feliz. Mas, podemos nos perguntar: como começar um processo de educação em saúde com essas características? COMO COMEÇAR AS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE? Entendemos que podemos iniciar nossas práticas educativas em saúde pelo estabelecimento de uma relação significativa com os usuários e usuárias, contemplando a participação ativa destes em seu processo de cuidado integral. Para isso, é fundamental que as práticas de Educação em Saúde que realizamos reconheçam e valorizem, como ponto de partida, seus conhecimentos prévios. Em suas realidades, as pessoas vivenciam, cotidianamente, experiências, com as quais vão aprendendo, acumulando saberes, ideias e percepções próprias. São esses saberes que denominamos de conhecimentos prévios. Assim, o ponto de partida da Educação em Saúde não pode ser um conjunto de temas e conteúdos técnicos que nós, profissionais, decidimos ser necessário que as pessoas adquiram. 26 Devemos ter como ponto de partida o que as pessoas estão sentindo e pensando, reverberando, ou seja, devemos começar nossa atuação a partir dos problemas que as pessoas estão nos trazendo e dos seus conhecimentos prévios. Nessa ótica, é preciso rever o todo, considerar o nosso conhecimento e o conhecimento do (a) usuário (a) para, juntos, buscarmos agir sobre uma determinada situação (necessidade ou problema de saúde), a fim de refletir sobre possibilidades de mudança. Nesse fluxo de troca de informações e de saberes, aprendemos, evoluímos e nos responsabilizamos pelo processo de cuidar da saúde. 27 Isso porque um dos principais objetivos da educação em saúde é a transformação da realidade,ou seja, quando alguém envolvido na ação educativa muda a forma de pensar ou de agir. No entanto, para o usuário ou usuária se conscientizar, mudar a concepção que tem sobre as coisas, ele (a) precisa refletir, associar o conhecimento que recebe na ação educativa, agregar ou mudar o que pensa sobre o assunto. Quando uma pessoa hipertensa se conscientiza que o sal em excesso pode fazer mal à saúde e faz uma horta em casa para substituir o sal por alguns temperos, ele está mudando a forma de pensar e agir. Por isso, transformou uma parte importante de sua realidade. De outra forma, em uma ação educativa, você questiona os usuários e usuárias do grupo sobre a alimentação, especificamente em relação a redução do sal na comida, e pede para eles pensarem sobre estratégias para modificar, e um deles comenta que, quando morava com a mãe, ela cozinhava com muitos temperos, deixando a comida gostosa e com pouco sal, o usuário está associando o que o ACS e ACE falaram sobre o sal em excesso e refletindo sobre como ele pode mudar para efetivamente reduzir e ajustar a alimentação. Para esse processo de receber a informação e pensar sobre a mesma, damos o nome de aprendizagem significativa. Nela, ao processar a informação, o usuário faz relações que sejam significativas para ele, como o caso do usuário se lembrar da horta da mãe dele. 28 Paulo Freire, um importante educador brasileiro, descreve em seus livros que cada um tem o direito de falar, partindo-se do conceito de cidadania, em que todos somos cidadãos e, participantes ativos nas relações da sociedade. Não há quem saiba mais ou menos, pois cada um sabe assuntos com conhecimentos prévios acumulados ao longo de suas vidas, ou mesmo com conhecimentos científicos adquiridos de formas diferentes, vivenciados ou estudados. Por isso, todos aprendem na atividade educativa. Por essa visão, a Educação em Saúde constitui uma oportunidade tanto de ensinar o usuário quanto, como profissionais de saúde, de aprendermos com ele. Ao escutar o usuário, podemos conhecer a percepção que eles têm do nosso trabalho. Isso nos ajudará a acolhê-lo e a compreender suas reações diante das diferentes situações que estão acontecendo no território ou na unidade e, até mesmo, em relação ao nosso trabalho. Com isso, em uma relação de Educação em Saúde, com a participação crítica das pessoas, podemos, como profissionais de saúde, promover a abertura de espaços e momentos para discutir questões que nos possibilitem aperfeiçoar e aprimorar o nosso trabalho. Poderemos, portanto, ser profissionais melhores, na medida em que nos abrimos e nos dispomos a aprender com o usuário. 29 30 Essa postura de receptividade é também necessária aos ACS e aos ACE, que moram no território, e têm muito o que aprender a partir das questões trazidas pelos usuários, pois cada pessoa tem uma experiência própria e pode expressar como ninguém os seus sentimentos como usuário do SUS. Para tanto, um elemento muito importante para se desenvolver a Educação em Saúde, é tomar como ponto de partida a realidade social conforme é vivenciada e sentida pelas pessoas. Não é, portanto, o profissional de saúde quem deve dizer e, assim, normatizar quais são os temas a serem discutidos dentro de cada momento específico de uma prática educativa em saúde. Por normatizar, nos referimos à ação daquele profissional que impõe ao usuário o seguimento de normas de conduta, de vida e de hábitos de saúde considerados corretos e adequados, mas que, muitas vezes, os usuários não sabem como fazer, ou não faz sentido para eles, ou não podem implementar, diante de situações e dificuldades sociais, econômicas, culturais, entre outras. Usamos o termo normatizar também porque, nesses casos, o profissional impõe medidas sem considerar o que o usuário já sabe, o que quer, o que deseja e o que pode fazer. 31 Na figura a seguir, observamos duas imagens. Na primeira, o professor vê que os alunos têm pensamentos e ideias diferentes entre si, o que é representado na figura por balões com formatos de desenho variados. A figura mostra ainda que, diante dessa diversidade de pensamentos e ideias dos alunos, o professor fica inquieto e aparentemente incomodado. Na imagem logo abaixo, vemos que o professor se encontra mais à vontade, apresentando sua forma de pensamento e seus saberes, os quais parecem ser copiados/reproduzidos pelos alunos, de maneira que o formato do balão representativo do pensamento do professor é exatamente o mesmo daquele dos alunos. O que aconteceu então, entre uma imagem e outra desta figura? Fonte: Blog Mundo de Oz Figura 1: Normatização na educação. Com isso, queremos pontuar a importância do processo de educação em saúde ser voltado não para memorização de conteúdos que deixem as pessoas mais preparadas para atuarem sobre sua situação de saúde. Ora, certamente, ao ver uma turma com pensamentos e ideias diferentes, o professor atuou para “padronizar” os pensamentos e as ideias dos alunos de modo que fossem reproduções/cópias dos seus próprios pensamentos e ideias. Para isso, o professor foi depositando conteúdos dentro da cabeça dos alunos, sendo que esses precisam pensar, agir e falar da mesma forma que estão escutando, reproduzindo o conteúdo recebido. Essa maneira de educação é denominada por método bancário e foi descrita por Paulo Freire. O professor, nesse caso, está colocando de forma impositiva seu saber e sua visão de mundo, “normatizando” ou “padronizando” os pensamentos e as ideias dos alunos. Assim, o mais importante para o desenvolvimento de ações de educação em saúde no cotidiano do Agente Comunitário de Saúde (ACS) e Agente Comunitário de Endemias (ACE) é que os conhecimentos a serem dialogados sejam aqueles apresentados pelas pessoas, com base em suas dúvidas, seus problemas, ansiedades, inquietações, ou seja, suas necessidades em seus contextos de vida. Assim, se sentirão fortalecidas para buscar soluções para suas necessidades e problemas de saúde, incluindo os determinantes e condicionantes que estejam causando qualquer tipo de vulnerabilidade social ou econômica, ou num contexto de injustiça social e de iniquidades. 32 33 Por condicionantes e determinantes, estamos nos referindo a aspectos importantes da situação de vida e de trabalho das pessoas, que estão “no entorno” de sua saúde e influenciam as condições de saúde delas e de suas famílias. Ou seja, a situação de saúde das pessoas é resultado de vários fatores; dentre eles, estão, por exemplo: as condições de moradia, a infraestrutura de seu bairro, o salário individual e a renda familiar, as situações de vulnerabilidade social às quais estejam expostas, a casos de violência doméstica ou de gênero, à situação de desemprego, a disponibilidade de opções de lazer, o acesso a educação, a possibilidade de expressão de sua identidade cultural, entre outros elementos. Em muitas atividades educativas, os grupos de saúde que acontecem na unidade de saúde são unidirecionais, ou seja, o profissional de saúde fala sozinho, fazendo orientações impositivas, determinando o que o usuário tem que fazer para melhorar sua saúde. Em um grupo de saúde do adulto, não se pode orientar/determinar que um usuário faça o café da manhã às 7h00min, o almoço, às 12h00min, às 18h00min, o jantar, e alimentar-se nos intervalos, se, nesses horários, ele está trabalhando, buscando os filhos na escola. Enfim, o que queremos lembrar é a necessidade de negociar a orientação que é a mais adequada para a saúde das pessoas, de acordo com suas condições de vida, até chegar no ideal possível. E, mesmo assim, não se pode fugir do adoecimento, pois vários outros fatores podem interferir, como a vulnerabilidade social, a questão genética, falta de emprego e condição financeira, entre outros que você já estudou em disciplinas anteriores. 34Por isso, é preciso conversar com o usuário, escutando o que ele tem a dizer, como ele compreende e faz adequações para a sua realidade e as orientações oferecidas / compartilhadas. É preciso ver a Educação em Saúde, portanto, como processo de ensino e de aprendizagem com conhecimentos que promovam uma reflexão crítica sobre as necessidades e problemas de saúde de maneira a se produzirem novas ideias, novos conhecimentos e novas práticas, que possam contribuir com uma melhor qualidade de vida às pessoas em seus territórios. Antes de planejar a metodologia, é importante definir o método a ser utilizado. Já abordamos um pouco sobre isso anteriormente, mas vamos apresentar didaticamente o método educativo em duas das formas possíveis de realização: bancário e problematizador (BORDENAVE; PEREIRA, 1977; BERBEL, 1998; VIEIRA, PANÚNCIO-PINTO, 2015). ABORDAGENS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE O método bancário foi assim denominado por Paulo Freire (2014), que o caracteriza como método de educação tradicional, marcado pela normatização e transmissão dos saberes, pois nele os alunos recebem informações de forma meramente transmissiva, de “alguém que sabe” (o professor) para “alguém que não sabe” (o aluno). Esse modo de transmitir conhecimento, que podemos chamar de unidirecional, foi chamado de bancário porque atua como se os conhecimentos fossem “depósitos bancários” feitos pelos professores nas ideias e mentes dos alunos. 36 O método bancário: um enfoque baseado na transmissão de informações Nesse método, são utilizadas estratégias de memorização, repetição, adestramento/ condicionamento, explanação, narração apenas do professor. O responsável pela atividade educativa entra na sala, na qual estão os usuários convocados (são obrigados a participarem, e em troca, recebem outro tipo de atendimento como consulta médica e de enfermagem, mensuração de pressão arterial, distribuição de cestas básicas, entre outros), e inicia a exposição do conteúdo sobre o tema planejado, com uso de projeção, de multimídia, entrega de folder com a intenção dos usuários memorizarem o que tem escrito, e, então finalizam o encontro. 37 Nesse método, os usuários só escutam e, na próxima vez que vem à Unidade de Saúde são cobrados por aquelas informações que lhes foram transmitidas, com abordagens do tipo “você já sabe sobre isso, já foi falado no grupo”. Essa forma de abordagem da educação em saúde corre o risco de ser autoritária, com imposição de normas que deverão ser cumpridas pelo usuário, a fim de prevenir ou curar a doença. Assim, a partir da escuta das queixas e identificação de sintomas, prescrevem-se os “antídotos” para regular a vida das pessoas em seus momentos de crise e de enfrentamento aos problemas de saúde. Essa forma de pensar a educação se expressa pela imposição de saberes e de ideias para que as pessoas aceitem e assimilam de maneira passiva. Na ilustração da Figura 2, exemplificamos essa situação na maneira como o educador simplesmente transmite várias letras a alunos que estão quietos e passivos somente assimilando e “absorvendo”. 38 Fonte: Disponível em: https://modelos-pedagogicos.fandom.com/es/wiki/MODELO_TRADICIONAL Figura 2: Modelo de educação baseado na transmissão. Podemos exemplificar esse enfoque com uma situação onde, ao realizar uma ação educativa em um grupo com pessoas com Hipertensão e Diabetes, o Agente de Saúde (ACS) e o Agente Combate às Endemias (ACE) fazem uma palestra – sem debate - expondo a importância da atividade física para o autocuidado e a qualidade de vida das pessoas com Hipertensão e Diabetes. Ou, no mesmo grupo, com uma explanação de um nutricionista sobre hábitos alimentares adequados para prevenir complicações da hipertensão e da diabetes. Nesses casos, a palestra e a explanação estariam recheadas de orientações e recomendações do que seria considerado saudável e indicado para a atividade física e a alimentação dos hipertensos e diabéticos, mas sem escutá-los nas condições que esses dispõem (ou não) em adotar essas orientações e recomendações. O enfoque gira em torno do que as pessoas devem fazer para não adoecer. Começa e termina na transmissão das orientações consideradas preventivas. No exemplo citado aqui, o especialista responsável pela palestra irá reforçar que “açúcar faz mal” à saúde do diabético e que ele deve evitar comer doces e alimentos semelhantes, que o hipertenso diminua o sal e corte de sua dieta as comidas salgadas, entre outros. Quanto à atividade física, irá dizer a quantidade de dias por semana e de horas por dia, e qual atividade deve ser feita. O método problematizador: desenvolvendo o diálogo de saberes A segunda forma de praticar a educação em saúde, é chamada de método problematizador (FREIRE, 2011). Problematizar significa pensar sobre um determinado problema, investigando suas causas, suas raízes, seus desdobramentos, suas repercussões e, principalmente, que estratégias podemos lançar mão para superá-lo. Ou seja, problematizar é o ato de pensar criticamente sobre um determinado problema, estudando-o da melhor forma possível, para se produzir formas de contorná-lo e superá-lo. 39 Nesse método, o diálogo está presente no relacionamento entre professor e aluno, e esse tem uma postura mais ativa em sala de aula, participando da condução realizada pelo professor (FREIRE, 1996). 40 Estão sentados em roda, o que facilita a comunicação entre eles. Além disso, o professor tem a postura de mediação, traz um tema de que seja do conhecimento dos alunos (pois esses são cheios de saberes), para ser discutido em sala de aula, descobrir qual o problema relacionado ao tema que surge, para então decidir pontos chave, também entendidos como temas geradores de discussão ou problemas que serão estudados. Em seguida, o professor faz uma exposição sobre a temática - conteúdo, seguida de atividades que solucionem o problema elencado no início da discussão. E, por último, os alunos aplicam o conhecimento novo à sua realidade. Dessa forma, como descrito, são caracterizados cinco passos para essa abordagem, de acordo com o método do Arco de Maguerez (nome de um educador que criou esse método em 1966 para a formação de técnicos agrícolas): 41 1º PASSO Observação da realidade e elaboração de um problema, com a exploração de suas causas/consequências. 2º PASSO Dificuldades encontradas. 3º PASSO Demonstração do conteúdo. 4º PASSO Hipóteses de solução: propor alternativas para as dificuldades. 5º PASSO Aplicação à realidade prática. REALIDADE Fonte: Os autores Figura 3: Passos do método do Arco de Maguerez Para cada um dos passos o professor planeja uma estratégia de ensino e de aprendizagem, de acordo com o objetivo educacional que se quer alcançar, podendo ser: conversar com o colega do lado; fazer grupos de forma que conversem entre si; fazer um estudo de caso; participar de um estudo dirigido; assistir a vídeos e filmes; fazer cenas e dinâmicas com teatro; pedir a todos para falar o que sabem (tempestade cerebral); construir algo de artesanato; fazer dinâmicas com dança; fazer uma simulação; fazer um fórum; construir um mapa conceitual; planejar projetos de ação; fazer uma exposição dialogada; organizar um quiz, com jogos de pergunta e resposta; fazer dinâmicas, entre muitos outros. Exemplificando, no método problematizador o responsável pela atividade educativa, no caso você ACS e ACE, acolhe os usuários convidados para o encontro e os orienta a sentarem em círculo para que conversem uns com os outros. 42 1º PASSO Em seguida, inicia fazendo perguntas sobre um tema, por exemplo, alimentação saudável, e pede que conversem em duplas, dentro de um tempo determinado. Depois, as duplas dialogam sobre o que entendem por alimentação saudável. Podem contar como fazem suas refeições, quantas vezes ao dia, qual o tipo de alimento, se conhecem apirâmide alimentar, etc. 43 2º PASSO Então o ACS e ACE consideram tudo o que foi falado, e, orientam que cada um escreva em um papel uma palavra que represente uma dificuldade sobre o tema, orientando um tempo para que façam, e ao final desse pede que cada um fale e explique a palavra que escreveu. O ACS e ACE questionam os porquês, até chegarem na definição da dificuldade do grupo. Por exemplo, o que e como escolher os alimentos (2º passo - dificuldades). 3º PASSO Em seguida, você demonstra os alimentos saudáveis, como frutas, verduras e legumes, coloca-os em um prato em uma mesa posta, e explica como fazer escolhas saudáveis, para as refeições do dia, e, também aborda alguns assuntos relacionados ao que os participantes falaram no 1º passo (3º passo teorização). 4º PASSO No passo seguinte (4º passo – resolução da dificuldade), o ACS e ACE pedem que os usuários escrevam em duplas um cardápio possível de ser feito. As duplas apresentam e os ACS e ACE complementam. 5º PASSO E sintetizam no último passo (5º - retorno a realidade), combinando que os usuários tentarão seguir seus cardápios na semana seguinte, e agendariam uma consulta com o enfermeiro da Unidade de Saúde, para acompanhamento. 44 Vamos sintetizar? Note como a escrita dos passos do Arco de Maguerez é feita: 1º passo - observação da realidade: pedir para os usuários responderem o que entendem por alimentação saudável, e depois, apresentação. 2º passo - pontos chave – dificuldades: atividade individual, usuários escrevem uma dificuldade no papel, depois apresentação, e, definição da dificuldade (resultado do grupo, como escolher os alimentos). 3º passo - teorização: demonstração dos alimentos e explicação sobre as escolhas saudáveis. 4º passo - hipóteses de solução: propor alternativas para as dificuldades. Atividade em dupla: escrever um cardápio. 5º passo – aplicação à realidade prática: combinar a aplicação do cardápio por uma semana, e agendar consulta com enfermeiro para acompanhamento. Fonte: Os autores Figura 4: Passos do Método do Arco de Maguerez exemplificado O método problematizador traz várias possibilidades de pensar e de fazer Educação em Saúde, que vão num sentido diferente do tradicional. Ou seja, não no sentido da transmissão sem crítica de um determinado conjunto de conhecimentos, mas na direção de as pessoas se apropriarem desses conhecimentos de forma autônoma (FREIRE, 2011). Infelizmente, as comunidades possuem situações de pobreza econômica e vulnerabilidade social que impedem os hipertensos e os diabéticos de escolher a alimentação adequada, ou mesmo de realizar exercícios físicos. Na trilha dos exemplos citados anteriormente, esse enfoque iria contribuir para que as ações educativas do Grupo HiperDia incluíssem, em sua programação, uma escuta das pessoas sobre as condições e as dificuldades que as mesmas estejam enfrentando para se alimentar conforme recomendado, ou para praticar as atividades físicas conforme recomendado. 45 Por esse enfoque, o Grupo HiperDia envolveria: • primeiro uma escuta atenta e profunda das pessoas sobre como estão vivenciado e encarando a questão alimentar e da atividade física em seu cotidiano; • depois o grupo poderia incluir momentos de acordos, de planejamento e de execução de estratégias comuns de apoio, de solidariedade e de ação colaborativa no sentido das pessoas enfrentarem os obstáculos sociais que dificultam sua possibilidade de acesso à alimentação de qualidade e à atividade física regular. Assim, o Grupo giraria muito menos em torno de palestras expositivas, e muito mais em torno de uma conversa com objetivos muito definidos e voltados à viabilização de esforços coletivos para que as pessoas tenham condições de ter uma situação mais adequada de saúde em suas vidas. É com base nessas reflexões, entre outras, que a Educação Popular em Saúde (EPS) aparece como um enfoque relevante e de destaque, sendo desenvolvida e aprimorada em várias experiências de saúde comunitária desde os anos de 1970 (VASCONCELOS, 2004). A EPS tem um embasamento na visão da saúde com suas determinações sociais, e se propõe a construir uma ação educativa que privilegie, como ponto de partida, as questões locais e o modo como as pessoas reagem e convivem com os problemas de saúde. 3446 EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE Seguindo o que já foi abordado da disciplina “Política Nacional de Educação Permanente e Política Nacional de Educação Popular em Saúde”, iremos retomar os princípios da Educação Popular em Saúde, um pouco do seu histórico e abordagens possíveis na rotina dos ACS e ACE. 48 Ao longo das últimas décadas, a EPS passa a constituir não apenas um referencial para o desenvolvimento de práticas educativas no setor saúde, mas também configura um movimento articulado de várias experiências, de práticas e de protagonistas, que vai se espalhando país afora, com diferentes iniciativas em variados setores. Os atores que realizam a EPS recorrem a abordagens de construção compartilhada de ações e de dinâmicas participativas de ensino e de aprendizagem, principalmente por acreditar que enfoques de Educação em Saúde diferentes dos dominantes precisam ser privilegiados (CRUZ et al, 2020). Você se lembra? Mesmo tendo se originado a partir dos aprendizados acumulados por uma série de práticas ao longo do tempo, a EPS é embasada em princípios e uma metodologia bastante própria, tendo como principal referencial o educador Paulo Freire, considerado um dos maiores pensadores da pedagogia em todo o mundo. Na medida em que a Educação em Saúde predominava com uma abordagem normativa, como frisamos anteriormente, os participantes das práticas de EPS foram compondo suas experiências através da articulação de elementos que eram importantes para a integralidade da atenção, mas que eram ignorados pela abordagem bancária e seus modos de orientar as pessoas. Neste sentido, as práticas de EPS foram se constituindo, valendo-se principalmente de uma ênfase na ideia da Promoção da Saúde, a qual recomenda uma ação profissional que se articule de forma mais ampla, que valorize a iniciativa da comunidade e de seus atores no processo educativo, ao invés de uma abordagem que apenas repasse conhecimentos aos usuários sem levar em conta o conhecimento que já carregam. 49 Além do mais, o conceito de Promoção da Saúde aponta para a consciência da importância da ação intersetorial (entre vários setores, como saúde, educação, assistência social, meio ambiente, trabalho, entre outros) e da atuação com foco na característica multidimensional dos problemas de saúde, com atenção a suas interfaces sociais, culturais, políticas, econômicas, familiares e no trabalho das pessoas. A EPS compreende que a matéria-prima dos processos educativos em saúde constitui, justamente, as experiências de vida e de trabalho das pessoas, experiências as quais serão objeto de reflexão, discussão e problematização para a construção de novos saberes. Em sua base, a EPS envolve a crença de que todos nós temos conhecimentos, saberes e práticas que vão sendo aprendidos e acumulados ao longo de nossas vidas e, assim, ninguém está vazio de conhecimentos quando se vai discutir qualquer assunto que seja (CARVALHO, 2007b). Assim, a base para fazer a EPS está nas experiências prévias das pessoas e nos modos como estão sentindo, pensando e agindo perante suas realidades. As autoras Andreia Cardoso e Marilene Nascimento (2010, p.1512) nos dizem que a expansão e o reconhecimento da EPS têm estimulado vários serviços e experiências de nosso sistema de saúde a incluir outras abordagens educativas em saúde, principalmente aquelas de perfil dialógico, ou seja, baseado no diálogo. Para essas autoras, isso é muito importante, pois: 50 Em consequência, acredita-se que o discurso sobre saúde que invoca exclusivamenteo saber técnico, do especialista ou do administrador (modelo tradicional de educação em saúde) perde gradativamente sua força, tendendo-se a uma maior valorização do discurso de outros atores sociais, tais como as famílias e as comunidades. O surgimento do Programa Saúde da Família (PSF) expressa uma estratégia capaz de estimular novas polifonias sociais a respeito da saúde 51 Quando estivermos desenvolvendo uma ação educativa junto a um grupo de gestantes, a EPS irá nos orientar a não centralizar o grupo em torno de uma palestra com especialistas sobre as recomendações mais comuns para o período de pré-natal e os cuidados devidos nesse momento; pelo contrário, o grupo poderá e deverá começar com uma escuta coletiva das mulheres sobre como está sendo sua gestação. Assim, o ACE e o ACS podem mediar essa ação, estimulando uma conversa franca e aberta com as gestantes, deixando-as à vontade para trazer dúvidas que estejam em suas mentes, aflições que venham sentindo e outras demandas de orientações que sintam necessidade de saber a partir de suas realidades e contextos. Na medida em que esse conjunto de questões surgirem nesse bate-papo, o ACS e o ACE poderão tomar nota e, somente a partir de então, acionar, junto com os demais profissionais da equipe, os saberes técnicos e científicos para serem compartilhados no grupo. Dessa forma, nos grupos orientados pela EPS, esses saberes técnicos e científicos surgem das necessidades das pessoas, não das necessidades do profissional e do especialista, a partir do seu julgamento prévio. Cabe pontuar também que, na concepção da EPS, esse grupo de gestantes será também um espaço de apoio, de intercâmbio de experiências e de solidariedade; para que as gestantes tragam suas experiências pessoais (inclusive daquelas que já foram gestantes anteriormente), bem como para que evidenciem necessidades de apoio social, são fundamentais, pois na EPS o grupo é muito mais do que um espaço que gira em torno de conhecimentos, é um espaço de encontro para propiciar o apoio mútuo entre as pessoas no lidar com suas questões de saúde. Diante das necessidades apresentadas, um grupo de gestantes com essas características poderá envolver também campanhas para que as gestantes em situação de vulnerabilidade tenham enxovais, ou mesmo articulação de visitas e consultas ao Centro de Referência em Assistência Social do bairro para se verificar políticas públicas e direitos das gestantes em situações de vulnerabilidade social. 52 Em 2013, foi publicada a Política Nacional de Educação Popular em Saúde no SUS (PNEPS-SUS), a qual resultou de um longo processo de construção compartilhada entre Ministério da Saúde e outros órgãos e setores governamentais, com a participação ativa de representantes de diferentes coletivos, organizações e movimentos sociais dedicados à EPS em nível nacional. Essa construção da PNEPS-SUS teve início em 2009, com a criação do Comitê Nacional de Educação Popular em Saúde (CNEPS) no Ministério da Saúde, o qual tinha representantes do governo, de trabalhadores e da sociedade civil – este Comitê liderou a formulação dessa Política. A PNEPS-SUS aponta como seus princípios: I – diálogo; II – amorosidade; III – problematização; IV – construção compartilhada do conhecimento; V – emancipação; e VI – compromisso com a construção do projeto democrático e popular. Ademais, indica diretrizes e campos potentes de ação e contribuição da Educação Popular em Saúde para o SUS, dentre os quais se destacam: I – participação, controle social e gestão participativa; II – formação, comunicação e produção de conhecimento; III – cuidado em saúde; e IV – intersetorialidade e diálogos multiculturais (BRASIL, 2013). 53 A instituição dessa Política representa não apenas uma conquista de movimentos e de práticas sociais e populares, mas também de entidades e instituições que, historicamente, priorizavam o trabalho com o olhar pedagógico da EPS. Tal conquista trouxe um reconhecimento das contribuições potentes e significativas que esse enfoque poderia agregar para as realizações educativas em saúde nos vários espaços do SUS. Vamos destacar algumas? Dentre as práticas mais comumente realizadas pela EPS, destacam-se os grupos terapêuticos e os grupos de encontro comunitário; sejam grupos de HiperDia, grupos de gestantes, grupos de idosos, grupos de Saúde Mental, grupos de adolescentes, entre outros. Nesses grupos, a EPS vai se expressar na medida em que garantimos a realização frequente dos mesmos, e que nos encontros sejam oportunizados aos usuários - por meio de diferentes dinâmicas - falar sobre como está a sua saúde e como estão convivendo com os problemas locais. 54 No cotidiano das ações da equipe de Atenção Primária, a EPS pode ser incorporada com várias estratégias diferentes. Em cada grupo, o diálogo será conduzido de acordo com o tema do grupo. Por exemplo, os hipertensos e diabéticos devem ter espaço para compartilhar como está sendo o desafio e os dilemas de conviver com hipertensão e diabetes; os adolescentes podem trazer dúvidas, curiosidades e dificuldades que sentem nessa fase. 55 Dentre as dinâmicas possíveis para convidar as pessoas a partilhar sua palavra, com seus depoimentos e reflexões, figuram várias possibilidades, dentre as quais destacamos o uso de pinturas e desenhos para expressarem o que sentem, e depois comentarem; realização e montagem de cenas do cotidiano com interpretações teatrais; produção de tarjetas/cartões com palavras-chave que expressem como as pessoas se sentem; citação de músicas que expressem os sentimentos de cada pessoa; entre outras. Cada dinâmica irá depender do público participante e das condições das pessoas quanto ao domínio da leitura, da escrita, etc. O importante é pensarmos em formas de facilitar e convidar as pessoas a pronunciarem seus pensamentos e reflexões, a partir dos quais iremos, como profissionais e educadores, mediar uma conversa. Nessa conversa, tanto podemos e devemos pedir às pessoas que aprofundem os pensamentos e reflexões compartilhados, como que o público participante comente e interaja com quem está falando. Assim, os grupos de EPS vão se constituindo em reuniões, principalmente voltadas para que as pessoas possam compartilhar sentimentos, pensamentos e ações sobre a saúde e as questões da vida. Elas têm liberdade e acolhimento de suas falas, e nós, enquanto mediadores, costuramos estratégias de apoio social e solidariedade. Assim, proporcionamos o enfrentamento adequado dos problemas citados e desenvolvemos estratégias de superação mais potentes. Costumamos chamar esses grupos de “espaços de encontro comunitário e de convivência”, onde a construção solidária da saúde e da qualidade de vida é a grande pauta. Neles, as pessoas são cuidadoras umas das outras. Esses espaços de EPS têm se multiplicado em várias equipes de saúde da família no Brasil e vêm contribuindo muito para que nossas unidades sejam orientadas não apenas pelas ações tradicionais de vigilância e de atendimento clínico individualizado, mas contemplem também agendas nas quais os usuários tragam questões do cotidiano de forma aberta e possam discutir, com outros usuários e com os profissionais, como estão lidando com os desafios diários para se promover e preservar a saúde. 56 Outras ações importantes orientadas pela EPS podem consistir do levantamento, identificação e aproximação com cuidadores populares e tradicionais da comunidade, como rezadeiras, parteiras, erveiras, fitoterapeutas populares, entre outras, no sentido de convidar essas protagonistas a participar de algumas das ações da equipe e de que algumas parcerias possam ser desenvolvidas na direção de se potencializar o cuidado na comunidade. Com conhecimento privilegiado do território, o ACS e o ACE poderão reconhecer mais facilmente essas cuidadoraspopulares e frisar para a equipe a importância das mesmas terem seus saberes valorizados, inclusive na construção dos planos terapêuticos singulares dos usuários, na melhor visualização da rede de apoio social local com a qual os usuários contam, bem como também para a realização dos grupos e demais ações educativas. Finalmente, a EPS poderá também ser desenvolvida pela ação do ACS e do ACE em identificar as principais lideranças comunitárias do território, e criar oportunidades para que as mesmas tragam suas ideias e propostas para a equipe, de maneira que o desenvolvimento das ações do serviço possa ser qualificado a partir do olhar crítico de quem vive no território e de quem já realiza lutas e trabalhos sociais no sentido da garantia de direitos sociais e humanos. 57 Ou seja, que se tragam as lideranças como parceiras nas ações da equipe, especialmente aquelas que envolvem a necessidade de mobilização da comunidade. CAMINHOS E ALTERNATIVAS PARA CONSTRUIR PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE COERENTES COM A INTEGRALIDADE E A PROMOÇÃO DA SAÚDE Você sabia que são variadas as estratégias possíveis de abordagem a grupos sociais, especialmente a Família, com o olhar da EPS? Com elas, espera-se acima de tudo, criar espaços e contextos para o diálogo das pessoas; ou seja, momentos de encontros nos quais não se priorize a “palestra” de “alguém que sabe” para “alguém que não sabe”, mas a reunião de pessoas para aprenderem e conviverem entre si, em um processo através do qual questões relevantes de seu cotidiano possam ir surgindo e, coletivamente, sendo discutidas. 59 Nessa perspectiva, em termos de estratégias de abordagem, destacamos que a construção desses espaços sociais é fundamental, realçando a importância do caráter coletivo das ações educativas, pois se aposta que as pessoas irão aprender umas com as outras, a partir de suas experiências, e com base nos elementos trazidos também pelos profissionais de saúde, com sua formação técnico-científica. Além disso, o estabelecimento de ambientes propícios ao diálogo e ao encontro é fundamental também para possibilitar que a conversa não gire apenas em torno da doença, mas que, principalmente, possa-se conversar sobre questões da vida, ou seja, pelos gostos, habilidades, desejos, anseios e inquietações das pessoas na sua vida e na relação consigo e com os outros em seus territórios. Em texto onde abordam a EPS na construção da Integralidade na Atenção Básica, Paulette Albuquerque e Eduardo Stotz (2004) trazem alguns exemplos de experiências de espaços sociais e de encontro comunitário, em torno dos quais são desenvolvidos processos educativos em saúde como: brinquedoteca; clube da terceira idade e grupos de pessoas idosas; oficinas de artes; rádios comunitárias; conselhos locais e conselhos populares de saúde; dinâmicas e vivências com a linguagem do teatro. 60 Nesse mesmo texto, os autores também apresentam oficinas educativas, voltadas para a criação de espaços de encontro para conversa com os usuários em torno de linhas de cuidado, como saúde da mulher, saúde da criança, saúde do homem, saúde mental, entre outras; trabalho de acompanhamento a famílias em situação de vulnerabilidade por meio de visitas domiciliares; uso de vídeos artesanais, com depoimentos de usuários dos serviços de saúde e pessoas da comunidade (esses vídeos funcionam como instrumentos para a introdução de novos temas no debate dos grupos); experiências com Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICSs); iniciativas com dinâmicas de música e dança, incluindo capoeira, danças afro-brasileiras, entre outras. Amplie seus conhecimentos. Clique aqui e saiba mais sobre as abordagens no interior dos processos educativos. Se estiver lendo este material no formato impresso, escaneie o QR Code para fazer download. 861 https://conasems-ava-prod.s3.sa-east-1.amazonaws.com/ava/aulas/material-complementar-disc-21-abordagens-no-interior-dos-processos-educativos-1677675482.pdf COMUNICAÇÃO EM SAÚDE Na Etapa Introdutória do Curso, o tema de Comunicação em saúde foi abordado no Módulo ‘Linguagem e Comunicação’. Agora, iremos pensar a comunicação como um processo que potencializa as práticas educativas em saúde e qualifica também as iniciativas de participação social e de construção colaborativa de nosso trabalho com a comunidade. 63 Agora reflita: comunicar é transmitir ou dialogar? Durante nossa abordagem às Práticas Educativas em Saúde, falamos que as relações sociais e humanas são marcadas por processos educativos por meio da Comunicação. A comunicação é um processo presente em boa parte do nosso dia a dia, seja nas conversas, nas relações sociais, nos modos de como se entende, se interage e se aborda o outro. É importante entender que a comunicação vai muito além da ideia de um conteúdo que é transmitido ou como uma informação (notícias, orientações, lembretes, normas, avisos etc.) que é repassada. Comunicação em Saúde não é, portanto, somente uma transmissão de informações de alguém que sabe para alguém que não sabe algo. É importante analisar a forma como essa comunicação vai ser feita e seus objetivos. Vejamos. Em uma lógica bancária, iremos observar a comunicação pelo repasse e transmissão de informações, de um modo que não se leva em consideração o entendimento da pessoa que está “recebendo” aquela informação ou aquele conteúdo. A transmissão é a missão e não há maiores preocupações sobre em que medida a população estará se apropriando e compreendendo aquele conteúdo. Mesmo se utilizando de formas e habilidades criativas de repassar um dado conteúdo, a preocupação está tão somente no ato de transmitir, não nas possibilidades de interpretação ou das consequências geradas pela informação, pela forma como foi transmitida ou pelo conteúdo em si, na realidade das pessoas. 64 Há diferentes formas de se promover a comunicação em saúde. Desde práticas comunicativas apenas transmissoras de informações e conteúdos até experiências de comunicação com uma perspectiva promotora de humanização e de autonomia dos usuários. 65 Sendo assim, em relação a Comunicação em Saúde, é imprescindível que ACE e ACS pensem não apenas na transmissão das informações, ou no conteúdo que se quer repassar, mas principalmente na conexão com o usuário e também no significado e na utilidade dessas informações para a vida dele. Como nos dizem as autoras Inesita Soares de Araújo e Janine Miranda Cardoso (2007), o processo de Comunicação em Saúde não se limita à simples transmissão ou repasse de conteúdos prontos, portanto não envolve apenas a transmissibilidade e a assimilação. A conexão com o usuário trata-se do estabelecimento de um vínculo a partir do qual construímos uma relação para fazer com que o processo de comunicação tenha o envolvimento ativo das pessoas assistidas. No dia a dia do trabalho do ACS e do ACE, pode-se observar que a comunicação em saúde pode acontecer pelo repasse de informações, seja nas visitas, seja na sala de espera, seja nas campanhas ou em outro momento educativo. Isso ocorre, geralmente, na sala de espera quando fazemos uma palestra onde apenas nós, enquanto profissionais, falamos. Ou mesmo em reuniões de grupos, como HiperDia, ou outros, onde os profissionais falam e os usuários apenas escutam, e não se tem uma segurança sobre em que medida o conteúdo repassado foi, de fato, entendido e será utilizado pelos usuários em seu dia a dia. A figura 5 ilustra um pouco dessa conexão, ao demonstrar que a comunicação efetiva é aquela por meio da qual conseguimos aproximar nossos pensamentos com os do usuário, ao ponto de buscar compreendê-los e também permitir que o usuário compreenda as ideias e recomendações que nós estejamos compartilhando com eles. Isso só é possível quando há uma conexão, uma aproximação, uma ligação entre usuário e profissional.66 Figura 5: Comunicação e conexão entre profissional e usuário Por exemplo, se você está em um grupo terapêutico na comunidade, e constrói uma conexão com os usuários, não seria adequado dar uma palestra sobre uma informação importante e, após, levantar-se e sair; pelo contrário, após a exposição das informações, o ideal seria conversar com os usuários para saber se compreenderam o que foi dito, se ficaram com dúvidas, se existem curiosidades no tema. Fonte: CCM. Disponível em: https://www.cmm.com.pt/comunicacao-em-saude/ No que se refere ao significado e à utilidade das informações, talvez não seja tão efetivo, por exemplo, fazer uma estratégia de comunicação em saúde sobre a dengue em um território cujo problema maior, no momento, é a saúde mental. A comunicação é vista como compreensão pela apropriação da mensagem que está sendo comunicada. Junto com isso, a capacidade dessa compreensão ser concreta para nossos usuários, de maneira a ter sentido na vida deles, a tal ponto que os conteúdos comunicados tenham real utilidade em seus contextos de vida e de saúde. A comunicação útil e eficaz é capaz de promover alternativas, recursos e respostas aos desafios, conflitos e sentimentos que fazem parte de sua vida. Portanto, em uma abordagem de comunicação destinada à promoção de autonomia e de humanização no cuidado com o usuário, vamos nos preocupar com a utilidade das práticas comunicativas, de maneira que essas contribuam na construção de processos onde as pessoas possam construir sua autonomia e possibilidades de realização de seus direitos. 67 Maria Wanderleya Coriolano-Marinus e seus colegas (2014, p.1361) nos dizem, em seus estudos, algumas das atitudes mais importantes que envolvem a realização do processo comunicativo. Eles nos dizem que a comunicação deve ser: 68 Para estabelecermos uma comunicação significativa com os usuários, é necessária uma postura sensível de acolhimento desse usuário em suas necessidades e suas formas diferentes de expressar a alegria, a dor, o sofrimento e suas questões de saúde. A comunicação significativa começará, por exemplo, quando começarmos nossa relação com o usuário (seja na sala de espera, nas visitas domiciliares, nas ações educativas, nas campanhas, entre outros) com uma postura acolhedora e compreensiva, não julgadora ou pré-concebida. [...] um ato caracterizado (...) por atitudes de sensibilidade, aceitação e empatia entre os sujeitos, em um universo de significações que envolvem tanto a dimensão verbal como a não verbal (postura e gestos). Nesse processo, é relevante o interesse pelo outro, a clareza na transmissão da mensagem e o estabelecimento de relações terapêuticas entre trabalhadores e usuários. É importante, ao sermos abordados pelos usuários, escutarmos atentamente suas necessidades e exercitar o olhar para saber identificar os sinais que os mesmos manifestam em suas expressões corporais, faciais e nas atitudes com as quais chegam ao nosso encontro nos serviços de saúde. Após essa escuta compreensiva e esse olhar ampliado para as várias formas de expressão das pessoas em seus gestos, podemos construir uma relação de vínculo e de empatia com elas; o que não significa necessariamente dizer o que as pessoas querem ou esperam escutar, mas demonstrar a essas pessoas que elas podem, de fato, confiar em nós, como profissionais de saúde, sendo parceiros delas em suas lutas e enfrentamentos para a resolução de seus problemas de saúde. 69 A comunicação envolve muito mais do que a linguagem falada, ela também inclui a observação sobre o não-dito, sobre aquilo que é sentido e expressado pelas pessoas em seu olhar, em seus gestos e suas posturas. Muitas vezes, em uma visita domiciliar, podemos conversar com uma pessoa e essa não nos relatar qualquer problema em relação à saúde de sua família. Contudo, se prestarmos bem atenção, poderemos ver que essa pessoa recebeu a visita com uma expressão de tristeza e preocupação, manifestada por sua expressão facial, o embargo em sua voz e sua postura corporal. Nesse momento, caberá ao ACS e ao ACE tentar compreender essa postura, e ir além daquilo que a pessoa comunicou com sua fala. Será que está havendo um problema sério em sua casa? Será que está passando alguma dificuldade? Contudo, a sensibilidade será importante para que esse “ir além” do “dito” não seja em tom inquisidor, tampouco invasivo. Será justamente desenvolvendo a conversa, demonstrando acolhimento, empatia e solidariedade em nossa forma de falar, em nosso gesto corporal, que nós poderemos ir, aos poucos, aprofundando a conversa para entender melhor como essa pessoa se sente. Se for preciso, respeitar o tempo dessa pessoa, suspender a visita momentaneamente e fazer outra visita em momentos posteriores, ou mesmo combinar de encontrá-la em outros espaços, como a associação de moradores, a igreja comunitária, a própria unidade de saúde, entre outros. 70 É importante destacar que a comunicação precisa ser dialógica, ou seja, é um processo interativo, baseado no diálogo. Nesse processo, as pessoas podem interpretar e reinterpretar os conteúdos comunicados, apropriando-se deles e tendo a possibilidade de responder, trocar informações, resultados, conclusões, de maneira que os conteúdos e a maneira como estão sendo comunicados possam ser revistos. Além disso, o bom comunicador, nunca ignora as condições de comunicação: as características locais e do contexto, os níveis sociais, econômicos e culturais de nosso interlocutor, o momento em que se está estabelecendo o diálogo etc. Dito de forma prática: quanto de chance de sucesso comunicacional terá um profissional de saúde que se dirige a um usuário sem o olhar nos olhos, sem ouvir com calma todas as suas queixas, olhando o celular constantemente, ou para o relógio? Quais são as chances de um profissional de saúde conseguir atender com sucesso um usuário que não diz claramente o que sente, que evita responder às perguntas do profissional, que o apressa dizendo que precisa sair porque tem outro compromisso? Também não vemos sucesso nas comunicações que são feitas com palavras de difícil compreensão para o usuário, que orientam o usuário a mudar sua rotina sem sequer considerar as possibilidades que esse usuário tem de fazer tal mudança, que escreve suas orientações sem pensar que o usuário pode não saber ler. Enfim, muitas são as dificuldades que podem impedir uma boa relação, um bom atendimento, quando não se dá a devida importância ao fator Comunicação. 71 Saiba como superar as dificuldades na comunicação em saúde. Clique aqui ou escaneie o QR Code. https://conasems-ava-prod.s3.sa-east-1.amazonaws.com/ava/aulas/material-complementar-disc-21-superando-as-dificuldades-na-comunicacao-em-saude-1677675488.pdf PARTICIPAÇÃO SOCIAL EM SAÚDE Um acontecimento importante na história das Políticas de Saúde foi a conquista da Participação Social em Saúde nas ações e serviços do SUS, que reafirmam a Saúde como direito (BRASIL, 2006). A participação social foi estabelecida como elemento fundamental da organização das políticas, ações e serviços em Saúde junto com a construção do próprio SUS. Estão previstos e garantidos pela lei os espaços institucionais de participação social. As Conferências de Saúde devem reunir a comunidade, a partir de representações diversas, “para avaliar a situação da saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde” (Art. 1º, §1º), a cada quatro anos, no primeiro ano de cada ciclo de gestão (BRASIL, 1990). Os Conselhos de Saúde, por sua vez, devem ser compostos por representantes dos usuários do Sistema, por meio de organizações que expressem a diversidade existente no território, bem como por representantes das diversas categorias profissionais de Saúde, dos prestadores de serviço e da gestão de Saúde. 73 Na Etapa FormativaI do curso, foram abordadas as políticas públicas que são fundamentais para a prática da equipe de saúde, e, especificamente de vocês ACS e ACE. O Conselho de Saúde tem caráter permanente e deliberativo (BRUTSCHER, 2012). Os Conselhos se caracterizam pela proposição e pela fiscalização das políticas de saúde. A Lei 8.142/1990, no Art. 1º, § 4º, assegura que a “representação dos usuários nos (BRASIL, 1990). 74 Fonte: Ministério da Educação Figura 6: Tirinha sobre Participação Social. A tirinha acima ilustra como a participação social é importante no sentido de abrir espaços para que as instituições e serviços públicos escutem, acolham e considerem as propostas dos usuários para a gestão de suas ações e a operacionalização de seus serviços. Os ACE e ACS têm um papel fundamental para ampliar e qualificar a participação das lideranças comunitárias nos conselhos de saúde, desde o conselho local até o conselho municipal. Os ACS e ACE são atores inseridos no território e conhecem de forma profunda suas principais características, bem como os principais atores que têm uma voz ativa no contexto comunitário. 75 Podem e devem, assim, auxiliar a equipe de saúde na identificação das principais lideranças e na sensibilização para que essas pessoas possam integrar os espaços de participação social da equipe, especialmente os conselhos, mas também outras iniciativas, como grupos, campanhas, entre outras. Para tanto, é fundamental que os ACS e ACE participem do planejamento das ações de participação social da equipe, inclusive na formação dos conselhos locais de saúde, onde poderão identificar e nominar lideranças sociais que tenham uma atuação protagonista no contexto local e representem segmentos, grupos e coletivos importantes para a comunidade. O papel do ACS e ACE estará não apenas no levantamento de quais são as lideranças do bairro, mas também de contribuir com a equipe nas melhores estratégias de contato e aproximação com essas pessoas, auxiliando também nas mais adequadas formas de comunicação e de interlocução com tais lideranças, de maneira a sensibilizá-las e estimulá-las a integrar os espaços de participação local em saúde. Mas o que podemos fazer para movimentar e mobilizar o território? Entre as alternativas e possibilidades várias, destacamos principalmente três: visitas domiciliares; grupos; e campanhas de mobilização. Nas visitas no território, os ACS e ACE poderão fazer contatos com lideranças históricas de seu bairro, as quais esses profissionais já conheçam. Nesse caso, a visita seria um momento de aproximação para contatar as principais lideranças locais, escutar suas prioridades, suas demandas e suas críticas ao serviço, e convidá-las a participar das ações e reuniões do conselho local de saúde. Visitas domiciliares 76 Grupos Os grupos são fundamentais, porque constituem experiências de encontro e debate coletivo. Costumam ser sempre abertos à participação das pessoas e à inclusão de novos participantes. Além do mais, conforme os grupos vão acontecendo de forma frequente, alguns dos usuários participantes podem ir desenvolvendo habilidades de liderança e de maior protagonismo, o que ajuda também a envolvê-los nas ações de participação social. Campanhas Finalmente, as campanhas constituem também uma boa estratégia de mobilização, pois são planejadas com ações visando uma ampla repercussão no território, de maneira que essas ações conseguem muitas vezes chegar às pessoas que até então não tinham muito conhecimento sobre o trabalho da equipe de saúde. 77 Como é próprio de muitas campanhas, o caminhar nas ruas, as ações comunicativas na rádio comunitária, as divulgações nos carros e nas bicicletas com caixa de som, contribuem para que se atinja um público mais ampliado do que aquele que convencionalmente as equipes abrangem. Assim, será possível mobilizar novos atores para a discussão da participação social em saúde naquele local. Assim, percebe-se que os ACS e ACE têm um grande potencial para contribuir de modo fundamental na mediação de como as demandas da comunidade e de suas lideranças chegam até a equipe, de maneira que isso ocorra de forma propositiva e não conflituosa. Por exemplo, diante de uma situação de um usuário que se queixa intensamente da demora no atendimento, em meio à sala de espera, o ACS ou ACE pode ser o primeiro profissional a se aproximar do usuário em questão, acolher sua demanda, escutar suas reclamações e intermediar um diálogo do usuário com a gestão da equipe. 78 Ainda, podemos destacar que os próprios ACS e ACE, muitas vezes, passam a integrar os conselhos de saúde como membros titulares, e essa participação é fundamental para agregar sua experiência e seu olhar privilegiado sobre o território nos temas que estarão em discussão nos encontros dos conselhos. Sua inserção em instâncias de maior escala, como os Conselhos Municipal, Estadual e Nacional de saúde contribuirá ainda mais, no sentido de levar para esses espaços as demandas sentidas pela comunidade e as propostas necessárias para que a relação construtiva entre comunidade e UBS seja qualificada. Nos espaços de participação social, espera-se que sejam tecidas trocas de experiências e compartilhamento de pontos de vista sobre as questões e os problemas de saúde mais importantes em cada território, bem como sobre como anda o serviço de saúde e de que maneira as ações desse serviço estão sendo avaliadas e interpretadas pela população. Nesses encontros, podem e devem emergir diferentes pontos de vista e até momentos de conflito e de tensão, naturalmente despertados pela divergência de ideias e opiniões. 79 Podemos considerar, inclusive, que é justamente para emergirem essas diferenças de ideias que esses encontros são importantes, como estratégia de se buscar, na divergência, as aproximações e pontes possíveis entre os diferentes atores do SUS– o do usuário, o do gestor e o do profissional –, em uma relação que se afirme de maneira respeitosa e que flua por meio de um diálogo propositivo. Em outro exemplo, algumas lideranças comunitárias poderão apontar e denunciar a falta de um determinado medicamento na farmácia da unidade, e articular junto ao conselho reivindicações junto à secretaria de saúde e outros órgãos competentes, para que esse direito à assistência farmacêutica seja assegurado. Como exemplo, a equipe pode planejar uma ampla e qualificada campanha de atenção à saúde do homem na comunidade, mas prevendo sua realização em um dia útil de semana e durante o dia. No conselho local, as lideranças comunitárias poderão apontar que, para envolver a maioria da população masculina, seja mais adequado marcar a campanha para um final de semana, ou então no período noturno, de maneira a se respeitar os períodos dos homens que trabalham em horário comercial. A participação social pode também se dar na dimensão da proposição, ou seja, pela contribuição dos cidadãos com ideias. É procurar intervir na sociedade e nos governos que estão no poder com propostas, apontando alternativas de soluções ou saídas para questões ou problemas individuais e/ou coletivos que afetam a comunidade. Propor significa elaborar estratégias, assumindo posição em relação ao “como” as coisas devem ser conduzidas e realizadas, seja na sociedade, no governo, no bairro ou na família. 90 Fonte: Banco de imagens Figura 7: Participação da sociedade na diversidade de pessoas e seus diálogos. Como representado acima, participação significa envolvimento de pessoas diferentes, com pensamentos e propostas diversificadas que possam ser trazidas para contribuir na gestão das políticas públicas. Podemos também dizer que a participação social possui ainda a dimensão do controle, a qual se expressa no plano da fiscalização. Consiste em acompanhar e conferir se as ações públicas estão sendo bem
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