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Rafaela Filomena Alves Guimarães Energias Renováveis Unidade 4 Livro didático digital Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ANDRÉA CÉSAR PEDROSA Projeto Gráfico MANUELA CÉSAR ARRUDA Autor RAFAELA FILOMENA ALVES GUIMARÃES Desenvolvedor CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS Olá. Meu nome é Rafaela Filomena Alves Guimarães. Sou formada em Engenharia Elétrica e possuo Mestrado em Engenharia Elétrica ambos pela UNESP – Universidade Estadual Paulista, campus de Ilha Solteira, com uma experiência técnico- profissional na área de Engenharia de mais de 20 anos. Passei por empresas como a Telefonica S. A, Combustol Indústria e Comércio Ltda e lecionou disciplinas relacionadas a Engenharia Elétrica há mais de 06 anos. Tenho livros publicados na área de Engenharia Elétrica e de Produção. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! Autor RAFAELA FILOMENA ALVES GUIMARÃES INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimen- to de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser prioriza- das para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofun- damento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma ativi- dade de autoapren- dizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; Iconográficos Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo pro- jeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: SUMÁRIO Introdução......................................................................................10 Competências................................................................................11 Energia hidroelétrica...................................................................12 Estudo da capacidade de um reservatório.........................16 Determinação da capacidade de reservatórios pluviais.............18 Produção de energia elétrica...................................................................19 Tipos e configurações das usinas..........................................26 Principais componentes da central hidrelétrica.........................27 Especificação das turbinas.........................................................................29 Usina de Itaipu....................................................................................................30 Vantagens e desvantagens da geração hidroelétrica..............32 Vantagens das hidroelétricas...................................................................33 Aspectos econômicos sobre a geração hidroelétrica...........35 Bibliografia.....................................................................................38 Energias Renováveis 9 UNIDADE 04 Energias Renováveis10 Nesta unidade vamos estudar hidroelétricas e os itens que devem ser avaliados no projeto de uma usina. A geração de energia por meio de hidroelétricas é a matriz energética mais usada no Brasil. Esta geração de energia possui baixo custo operacional, sendo que as usinas para serem construídas demandam um alto investimento e demoram muito tempo (o maior tempo de todas as matrizes). Este tipo de energia já foi considerado quase infinito em países como o Brasil, com abundância de rios. Devido a mudanças nas condições climática, os reservatórios têm enfrentado períodos de baixo nível. Devido a mudanças na conscientização ambiental da população, a aprovação de projetos de usinas com grandes reservatórios tem se tornado cada vez mais difícil. Ainda temos um grande potencial para instalação de hidroelétricos, entretanto 70% deste potencial se localiza na região Amazônica. Esta forma de energia é considerada a mais barata do mundo e uma grande vantagem competitiva. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! INTRODUÇÃO Energias Renováveis 11 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é auxiliar você no alcance dos seguintes objetivos até o término desta etapa de estudos: 1. Identificar e entender as usinas hidroelétricas e aprender os itens que devem ser considerados em um projeto de usina hidroelétrica 2. Identificar e entender o funcionamento das usinas hidroelétricas e os tipos de turbinas que transformam a energia potencial da água em energia elétrica 3. Estudar as vantagens deste sistema de geração assim como seus desafios futuros. 4. Compreender as desvantagens da geração hidroelétrica Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! COMPETÊNCIAS Energias Renováveis12 Energia hidroelétrica As usinas hidroelétricas são regidas pela água, item essencial para a sobrevivência humana. Nosso abastecimento, assim como o dos animais e a agricultura competem pela preferência no uso da água Devido às mudanças climáticas a água vem se tornando um bem precioso. Mais de 60% da nossa energia é proveniente das hidroelétricas que possuem necessidade de serem repotencializadas, porque a maioria delas foi construída há mais de 20 anos, utilizando tecnologias que evoluíram. Seu retrofit (a repotencialização) gerará inúmeros empregos, sem contar que o Brasil ainda possui um potencial de 172 GW, dos quais somente 60% foram aproveitados. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! DEFINIÇÃO: Uma usina hidrelétrica gera energia elétrica através da transformação da energia potencial da água em energia elétrica. Essa transformação ocorre devido as turbinas elétricas que possibilitam a passagem da água em velocidade (devido à queda d’água) em um caracol como se fosse uma roda d’água, só que de uma maneira controlada. A cada turbina é conectado um gerador, geralmente uma máquina síncrona, responsável por transformar essa energia mecânica em energia elétrica. Basicamente uma turbina é definida pela altura da queda d’água e vazão. Escolhemos o local de instalação de uma usina hidrelétrica por alguma cachoeira, desnível ou queda d’água já existente. Essa força potencial é que será a força Energias Renováveis 13 motriz para movimentar a turbina que estará acoplada ao gerador. A parte onde a água fica represada é chamada de montante. A parte onde a água é despejada pelas comportas é chamada de jusante. Deste modo o nível de água à montante é sempre mais alto do que o nível de água à jusante. Figura 01: Usina de Itaipu onde a queda de água é de 118 m Fonte: Pixabay Altura da queda de água que movimentará a turbina jusante Montante A turbina faz movimentar o gerador e um sistema de controle de velocidade e vazão faz com que esta velocidade seja constante. Estas regulações juntas são as responsáveis por manter a frequência constante em cada turbina e no sistema elétrico como um todo. A energia mecânica devido ao fluxo da água movimenta a turbina. Com a rotação da turbina, onde existem imãs, é criado um campo eletromagnético no estator que possui bobinas de cobre. Este campo magnético faz surgir uma corrente Energias Renováveis14elétrica. A corrente elétrica em um circuito fechado produz uma tensão. Pronto temos a transformação de energia mecânica em elétrica. No Brasil as turbinas das principais hidroelétricas (Itaipu, Tucuruí, Ilha Solteira) são do tipo Francis, utilizadas em quedas acima de 60 m. As turbinas Kaplan assemelham- se a uma hélice de navio e são usadas em quedas inferiores a 60 m. Elas estão instaladas nas usinas de Jupiá em Três Lagoas e Três Marias. As turbinas tipo bulbo não eram muito utilizadas até a construção das usinas do Rio Madeira (Santo Antônio e Jirau) onde foram instaladas. Essas turbinas são utilizadas para quedas bastante baixas e trabalham imersas no rio, apresentando a vantagem de requererem uma pequena área de alagamento. As usinas também podem ser classificadas quanto a seus reservatórios em Usina a fio d’água – não é utilizada para armazenamento de água, ou seja, a energia elétrica é gerada com a água existente no leito do rio. Esta usina não atua para regularizar as vazões do rio e seu impacto ambiental é menor do que as usinas com reservatório de acumulação. Exemplos de usinas a fio d’água são Itaipu, as do Rio Madeira e Belo Monte. As usinas de acumulação, como o próprio nome nos diz, acumulam água na época da chuva para utilizarem no período seco e regulam a vazão do rio. Seu impacto ambiental é maior devido a maior área alagada. Exemplos de usinas de acumulação são: Ilha Solteira e Tucuruí. Existem também as usinas reversíveis que podem tanto gerar energia quanto ceder água para um outro reservatório ou para o enchimento de represas que abastecem companhias de fornecimento de água. No Brasil este tipo de usina não é comum, temos apenas a usina de Henry Borden (1ª usina instalada no país), que capta água do Rio das Pedras para gerar energia ou pode enviar a Energias Renováveis 15 água deste rio para abastecer a represa Billings na região metropolitana de São Paulo. ACESSE: Assista ao vídeo da construção da usina de Itaipu (o canal National Geographic escolheu as 7 obras de Engenharia mais desafiadoras do mundo e a construção desta usina foi uma das vencedoras. Será possível ver os problemas enfrentados na construção, o erro de Engenharia cometido no projeto (e sua solução) e as dificuldades superadas na construção de uma mega obra. Esta usina é a 2ª maior do mundo, disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=hCqbPmqNWFo acessado em 28/09/19 https://www.youtube.com/watch?v=hCqbPmqNWFo acessado em 28/09/19 https://www.youtube.com/watch?v=hCqbPmqNWFo acessado em 28/09/19 https://www.youtube.com/watch?v=hCqbPmqNWFo acessado em 28/09/19 Energias Renováveis16 Estudo da capacidade de um reservatório Considerando-se o comportamento variável de vazões no rio, pode-se concluir que, se nada for feito, apenas uma vazão muito pequena poderia ser usada na geração de energia. Se os aproveitamentos d’água fossem feitos com base unicamente nessa vazão, iriam se tornar, em geral, antieconômicos, pois grande parte da água disponível não seria utilizada. Em muitos casos, então é conveniente que se armazene água de forma a permitir o uso mais constante de uma vazão média superior apenas aquela garantida pelo comportamento natural do rio. Isso é feito através de barragens de acumulação que permitem o armazenamento da água para uso em momentos mais convenientes. Tais barragens, obviamente, implicam, por um lado, aumento de custos, mas, por outro, benefícios advindos do fato de se poder obter uma vazão média mais alta. Do ponto de vista socioambiental, também podem ocorrer vantagens e desvantagens. Tais custos, benefícios, vantagens e desvantagens, entre outros aspectos, devem fazer parte da avaliação técnico-econômica e socioambiental de cada projeto. A vazão média obtida após a instalação da barragem no rio recebe o nome de vazão regularizada. O processo de armazenamento da água e obtenção da vazão regularizada recebe o nome de regularização do rio. Diversos aproveitamentos podem ser efetuados no mesmo rio, e, no caso de hidreletricidade, aproveitamentos de rios diferentes podem ser interligados por meio de rede elétrica. Dessa maneira, dois tipos de aproveitamentos podem ser desenvolvidos: Aproveitamentos denominados a fio d’água, sem regularização de vazões (embora possam dispor ou não de reservatórios), usando a vazão primária do rio (vazão disponível, sem regularização, entre 90 e 100% do tempo). A Energias Renováveis 17 energia associada a essa vazão recebe o nome de energia primária. Aproveitamentos com regularização de vazão, nos quais se associa o nome de energia firme àquela energia que pode ser garantida durante quase todo o tempo. Para os aproveitamentos a fio d’água, a energia firme coincide com a energia primária. Qualquer que seja o tamanho do reservatório ou a finalidade da água acumulada, sua principal função é a de agir como um regulador, visando a regularização da vazão dos cursos d’água ou visando atender às variações da demanda dos usuários. Como a função primordial dos reservatórios é proporcionar acumulação, sua característica mais importante é a capacidade de armazenamento ou volume do reservatório. A capacidade dos reservatórios construídos em terrenos naturais é calculada, em geral, com base na altura máxima de operação do reservatório a partir do levantamento topográfico. Na ausência de bons mapas topográficos, há outros processos menos precisos de cálculo. Obtidos os dados relativos ao reservatório, pode- se traçar a curva Área X Altitude e a curva Capacidade X Altitude, que permite a obtenção da área inundada pelo reservatório em função do nível máximo d’água. Isto é uma parte fundamental no projeto da usina e tem grande importância, pois por meio dela pode-se ter visualização preliminar de parte dos impactos ambientais e sociais provocados pela obra executada (população deslocada, inundação de áreas históricas e sítios arqueológicos, inundação de belezas naturais). O nível normal dos reservatórios é a cota máxima até a qual as águas se elevarão em condições normais de operação. O nível mínimo dos reservatórios é a cota Energias Renováveis18 mínima até a qual as águas baixam em condições normais de operação. Em caso de usinas hidrelétricas, esse nível é determinado pelas condições operacionais de melhor rendimento das turbinas. O volume armazenado entre os níveis normal e mínimo é denominado voluma útil do reservatório e tem como principais funções a capacidade acumulação de água e para atenuação de cheias. A caudalidade indica a capacidade de água que pode ser fornecida pelo reservatório em determinado período de tempo. Esse período pode variar de um dia (para pequenos reservatórios de distribuição) a um ano (para grandes reservatórios de acumulação). Desse modo, a caudalidade pode ser dada tanto em km³ por ano como em m³ por dia. A caudalidade de um reservatório pode variar a cada ano (ou a cada período) porque depende das vazões de entrada, as denominadas vazões afluentes. É denominada vazão firme a vazão máxima que pode ser garantida durante um período crítico de estiagem, ou, de outro ponto de vista, aquela vazão que pode ser garantida praticamente durante todo um período em que a operação desse aproveitamento não se altera. Considerando-se que os sistemas, assim como as estratégias operativas, evoluem, o valor dessa vazão varia ao longo do período de vida útil do reservatório. Devem-se, portanto, utilizar recursos probabilísticos para determinar o valor da vazão com maior precisão. Determinação da capacidade de reservatórios pluviais Para a determinação da capacidade de reservatórios deve ser feita uma análise operacional, ou seja, deve-se simular as operações do reservatório durante um certo período. Essa análise pode ser feita apenas em um período de estiagem extrema ou em um período completo, quando Energias Renováveis 19 se dispõe de mais dados fluviométricos. No primeiro caso, o estudo serestringe apenas à determinação da capacidade suficiente para suportar a seca de projeto; no segundo caso, o estudo avalia o volume de água (energia) aproveitável em cada um dos anos. Um estudo ainda mais completo pode ser feito para indicar a probabilidade de maior ou menor escassez de água, o que constitui um fator importante no planejamento econômico e na inserção do projeto em um sistema integrado. Produção de energia elétrica O ser humano descobriu, desde épocas imemoriais, que a força da água resultante de um desnível do terreno por onde ela passa produz uma energia capaz de realizar trabalho, e que este trabalho tanto pode ser destrutivo como construtivo. Assim, desde a construção dos equipamentos mais simples, como o monjolo e a roda d’água, até a tecnologia atual de grandes turbinas hidráulicas, o homem aprendeu a dominar a força da água e a transformá-la para seu benefício. A pequena potência gerada pelo monjolo e pela roda d’água era capaz de produzir trabalho suficiente para a trituração de grãos alimentícios. O desenvolvimento tecnológico ao longo do tempo chegou ao seu auge com a construção de um equipamento, a turbina hidráulica, capaz de transformar a energia cinética e potencial da água em energia mecânica, que é, então, transformada em energia elétrica por meio de geradores elétricos, que nada mais são do que conversores eletromecânicos de energia. Nos dias de hoje, a grande potência que pode ser gerada por uma turbina hidráulica é capaz de abastecer a iluminação e o consumo de cidades inteiras. Como consequência, a potência de um aproveitamento hidrelétrico depende diretamente da magnitude da queda d’água (energia potencial) e da vazão de água passando Energias Renováveis20 pela turbina (energia cinética). Essa vazão, medida em metros cúbicos por segundo (m³/s), recebe o nome de vazão turbinada. A análise energética de um aproveitamento hidrelétrico permite verificar que a potência elétrica possível de ser obtida é dada por: P = ηror x g x Q x H em que: ηror é o rendimento total do conjunto, considerando as perdas em todas as estruturas que estão no circuito hidráulico e equipamentos da usina que estão no circuito de energia; g é a aceleração da gravidade: 9,81 m/s²; Q é a vazão (m³/s); H é a queda bruta (m); P é potência elétrica (kW). O valor da vazão turbinada e suas características ao longo do tempo estão relacionados com o regime fluvial do rio onde se localiza a usina, o tipo de aproveitamento (que pode ser a fio d’água ou com reservatório de regularização), a regularização da vazão (se existente) e com um cenário que considere as outras formas de utilização da água. Se o aproveitamento for totalmente voltado à produção de energia elétrica, toda a vazão regularizada poderá ser turbinada. Já em um aproveitamento que contemple outros usos d’água, como irrigação, navegabilidade e geração de energia elétrica, por exemplo, a vazão turbinada poderá ser apenas parte da vazão regularizada total. O regime fluvial natural do rio, que determina a vazão que pode ser utilizada para gerar energia elétrica, é bastante variável, dependendo de diversos fatores, entre eles o regime pluvial da bacia hidrográfica à qual pertence. Energias Renováveis 21 Nesse contexto, as centrais hidrelétricas podem utilizar apenas a vazão mantida pelo rio a maior parte do tempo, nas centrais denominadas “a fio d’água”, ou a vazão resultante de regularização por meio de reservatórios. Centrais hidrelétricas “a fio d’água” são aquelas que não tem reservatório de acumulação ou cujo reservatório tem capacidade de acumulação insuficiente para que a vazão disponível para as turbinas seja muito diferente da vazão estabelecida pelo regime fluvial. Nessas condições, podem estar situadas as centrais de pequeno porte, tais como mini-hidrelétricas (e também micro-hidrelétricas) com potências iguais a ou menores que 1 MW; parte das pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), que são centrais com potência de até 30 MW; assim como centrais de grande porte que utilizam tecnologias específicas, como no caso das usinas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, onde se utilizam turbinas do tipo bulbo. Há também usinas hidrelétricas com reservatório de acumulação, que operam a maior parte do tempo “a fio d’água”, ou seja, sem utilizar sua capacidade de regulação e turbinando a vazão estabelecida pelo projeto, como é o caso da usina de Itaipu. Centrais hidrelétricas que efetuam regularização da vazão, por sua vez, estão associadas à construção de reservatórios que permitem o armazenamento da água e o controle da vazão, e até mesmo a obtenção de uma vazão constante durante certo período. Essa vazão é garantida pelo armazenamento de água durante o período de chuvas, para encher o reservatório, que será esvaziado durante o período de seca (ou de poucas chuvas). O reservatório resulta da construção de uma barragem, cuja altura determina a área inundada pela usina e o volume da água contida no próprio reservatório. O máximo volume teórico efetivo de um reservatório seria aquele que permitisse a obtenção de apenas uma vazão regularizada durante o período de análise, utilizando toda a água que passasse no Energias Renováveis22 local onde está construída a barragem. Qualquer volume maior que esse máximo teórico não aumentaria a vazão regularizada e seria menos econômico em razão da maior altura da barragem. Na prática, pelos aspectos técnicos e econômicos, na definição da melhor altura da barragem, sempre foram considerados critérios que, geralmente, resultaram em dimensionamento menor que o correspondente ao maior volume teórico. O aumento da importância dos aspectos sociais e ambientais tem enfatizado ainda mais a importância do compromisso entre a altura da barragem, os limites relacionados com a área inundada e o volume do reservatório, o que tem conduzido a projetos com regularização parcial (diferentes vazões regularizadas em diferentes períodos) e, consequentemente, a menores áreas inundadas e volumes. Além de aspectos sociais e ambientais específicos, o uso múltiplo das águas deve ser considerado no estabelecimento dos limites de área inundada e volume. Além disso, o conjunto possível de vazões regularizadas pode ser avaliado pelo desempenho da usina no sistema elétrico interligado, que permite maior flexibilidade operativa na utilização dos diversos aproveitamentos ao ser usado como “circuito hidráulico virtual”. A região norte possui um potencial de 111.396 MW dos quais somente 8,9% são aproveitados. Já a região Nordeste possui um potencial de 26.268 MW dos quais só 40,4% são aproveitados. A região Sudeste/Centro-Oeste possui 78.716 MW de potencial hidroelétrico, sendo que 41% é aproveitado face 42.030 MW da região Sul onde são aproveitados 47,8%, conforme pode ser visto na figura 03. Energias Renováveis 23 Figura 03: Potencial hidroelétrico por região brasileira. Fonte: Freepik | Tolmasquim, M. T. (Coordenador). Energia Renovável: Hidráulica, Biomassa, Eólica, Solar, Oceânica. EPE: Rio de Janeiro/RJ, 2016, página 60 As primeiras centrais hidrelétricas do mundo foram construídas como aproveitamentos de quedas naturais já existentes no curso dos rios onde foram instaladas. No Brasil, o primeiro aproveitamento hidrelétrico para atendimento público, considerado também a primeira central elétrica da América do Sul, denominada Marmelos, foi construída no ano de 1.889 para atendimento da cidade de Juiz de Fora, com a potência de 250 KW. Nessa época, a geração de energia elétrica tinha basicamente o objetivo de suprir iluminação residencial e iluminação pública. A energia elétrica para acionamento de motores só ocorreu mais tarde, com o avanço tecnológico. Amazônica 57,3 MW A explorar Explorado Toc-Araguaia 22,8 MW Atl. Leste 2,9 MW Atl. Sudeste 9 MW Paraná 42,8 MW Uruguai 14,6 MW Paraguai 2 MW São Francisco 13,7 MW Parnaíba 0,9 MW Atlântico Sul 6,3 MW EnergiasRenováveis24 No Brasil, o conceito de usina hidrelétrica (UHE) compreende usinas geradoras de energia com mais de 30 MW de potência instalada. Usinas com potência entre 3 MW e 30 MW são consideradas PCHs, usinas com potência inferior a 75 kW até 3 MW de potência instalada são chamadas de minicentrais hidrelétricas. Essas últimas podem ser utilizadas com geradores do tipo assíncrono, que são máquinas mais acessíveis do ponto de vista econômico, mas que, por motivos técnicos, não podem ser utilizadas em grandes usinas. Conhecer essa classificação é importante uma vez que as leis e regulamentações existentes, estabelecidas tanto pela Aneel como pelos órgãos e entidades ambientais, seguem essa divisão estabelecida de acordo com a potência instalada. Para a Aneel, um dos pontos mais importantes é o aproveitamento integral das quedas d’água existentes ao longo do rio. Assim, o rio é dividido em quedas d’água aproveitáveis para a construção de usinas, e cada usina aproveita o máximo da queda d’água do seu local de instalação. Com relação aos reservatórios, aqueles de maior porte, associados a maiores problemas socioambientais, são usualmente encontrados nas grandes e médias centrais. Em alguns casos, as PCHs também podem apresentar reservatórios, mas bem menores. Além de possível retirada de água para irrigação, as centrais hidrelétricas contêm vertedouros que permitem extravasar a água acima de certo limite, quando necessário, de forma similar ao “ladrão” da caixa d’água; comportas que propiciam o desvio da água para que ela não passe pelas turbinas; eclusas que facilitam a navegação fluvial; e escadas de peixes que permitem a piracema. Esses melhoramentos contribuíram muito para que o impacto ambiental da instalação de uma hidroelétrica fosse reduzido. Energias Renováveis 25 A determinação das melhores características de um reservatório depende de diversos fatores, que incluem os apontados anteriormente, relacionados com a hidrologia, o dimensionamento mecânico e elétrico, o desempenho no sistema elétrico interligado, os requisitos ambientais e sociais e os usos múltiplos da água. Energias Renováveis26 Tipos e configurações das usinas Em uma central hidrelétrica, a água aciona uma turbina hidráulica que movimenta o rotor de um gerador elétrico para produção de energia elétrica. A água utilizada, identificada pela sua vazão (m³/s), pode ser totalmente liberada pelo aproveitamento – com reservatório de acumulação ou não – ou liberada apenas em parte, nos casos em que a geração de energia elétrica é apenas um dos componentes do uso múltiplo da água. A turbina hidráulica efetua a transformação da energia hidráulica em mecânica. Seu funcionamento, conceitualmente, é bastante simples: é o mesmo princípio da roda d’água que, movimentada pela água, faz girar um eixo mecânico. O gerador elétrico tem seu rotor acionado por acoplamento mecânico com a turbina e transforma energia mecânica em elétrica em razão das interações eletromagnéticas ocorridas em seu interior. Em geral, são usados geradores síncronos, porque os sistemas de potência devem operar com frequência fixa (controlada como constante. No Brasil essa frequência é igual a 60 Hz). Para controlar a potência elétrica do conjunto, são usados reguladores: De tensão, que controlam a tensão nos terminais do gerador, atuando na tensão aplicada (e, portanto, na corrente) no enrolamento do rotor (enrolamento de excitação). De velocidade, que controlam a frequência por meio da variação de potência, atuando na válvula de entrada de água da turbina. Energias Renováveis 27 Principais componentes da central hidrelétrica A finalidade de cada um dos principais componentes de uma central hidrelétrica (desenhada na figura 04) é descrita a seguir: Figura 04: Componentes de uma usina hidroelétrica. Fonte: Freepik (editado) As barragens têm como principais finalidades: Represar a água para captação e desvio. Elevar o nível d’água para aproveitamento elétrico e navegação. Represar a água para regularização de vazões e amortecimento de ondas de enchentes. A central hidrelétrica em desvio, como diz o próprio nome, baseia-se no desvio d’água em certo local do rio – Usina Hidrelétrica Reservatório Canal Duto Rio Cassa de força Gerador Turbina Linha de disribuição de energia Energias Renováveis28 associado ao Nível de Montante, para produção de energia elétrica e retorno d’água ao rio em local com menor altitude – associado ao Nível de Jusante. De forma geral, tal configuração é mais utilizada para centrais de pequeno porte, as PCHs. Esse diagrama apresenta a turbina e o gerador acoplados mecanicamente pelo eixo, no qual se desenvolve a potência mecânica (Pmec). Temos também dois reguladores fundamentais para operação e controle da central: o regulador de tensão e o de velocidade (controlador da frequência). Além das usinas a fio d’água e das com reservatórios de regularização de vazões, devem ser citadas as usinas reversíveis. A escolha do melhor tipo de barragem para uma determinada seção é um problema tanto de viabilidade técnica como de custo. A solução técnica depende do relevo, da geologia e do clima. O custo dos vários tipos de barragens depende principalmente da disponibilidade de materiais de construção próximo ao local da obra e da acessibilidade de transportes. Há diferentes tipos de barragens – de gravidade, em arco e de gravidade em arco – cuja avaliação e escolha são efetuadas por meio de considerações técnicas e econômicas, afeitas principalmente à engenharia civil. As grades antes da entrada no caracol impedem a queda de peixes no turbilhão do gerador e também é uma inovação tecnológica que surgiu com a maior conscientização ambiental de preservação da vida dos animais aquáticos. A casa de força são os locais de instalação de turbinas hidráulicas, geradores elétricos, reguladores, painéis e outros equipamentos do sistema elétrico de geração. As configurações das casas de força variam largamente e dependem também do tipo de turbina escolhida. Energias Renováveis 29 Especificação das turbinas Os quatro tipos de turbinas mais utilizadas em usinas hidroelétricas são a Pelton, a Francis, a Kaplan e a Bulbo. A escolha da turbina depende de dois parâmetros: a queda e a vazão de água. Simplificadamente podemos dizer que a turbina Pelton é mais utilizada em grandes quedas, por exemplo, na Usina de Henry Borden que possui uma queda de cerca de 700 m. A turbina Francis é utilizada em quedas médias, que vão de 40 a 500 m, como a utilizada na Usina de Ilha Solteira (queda de 41,5 m). Já a turbina Kaplan é utilizada em quedas baixas, como a Usina de Jupiá com uma queda de 21,3 m. Atualmente para quedas baixas, utiliza-se a turbina Bulbo como as que foram usadas no rio madeira. Estas informações podem ser obtidas diretamente da figura 05. Figura 05: Faixas de aplicação dos diversos tipos de turbinas. ANEEL, Curso de EaD – Fundamentos do setor elétrico, disponível em http:// www.labtime.ufg.br/modulos/aneel/mod3_uni2_sl6.html acessado em 28/09/19. http://www.labtime.ufg.br/modulos/aneel/mod3_uni2_sl6.html http://www.labtime.ufg.br/modulos/aneel/mod3_uni2_sl6.html Energias Renováveis30 A rotação específica da turbina é dada pela fórmula em que a rotação é dada em rps (rotações por segundo). n é a rotação da turbina Q é a vazão (m3/s) H é a queda e g é a gravidade. Na turbina Pelton, utilizada em grandes quedas, a energia é produzida pela alta velocidade dos jatos de água que incidem tangencialmente sobre suas pás. Conceitualmente, são similares às famosas rodas d’água. As demais turbinas desenvolvem potência pela combinação da ação da pressão constante da água e de sua velocidade. São chamadas de turbina de reação. A escolha e o projeto de uma turbina são pontos muito importantes do desenvolvimento de uma central hidroelétrica. Envolvem análise e estudo de fenômenos relativamente complexos,como desempenho dinâmico da água, turbilhonamento, cavitação (é quando a água corrói o material de que é feito a turbina, pelo atrito). A principal vantagem das turbinas bulbo que trabalham imersas no rio, se deve ao fato do alagamento quase não existir, ou seja, ela reduz os impactos ambientais. Usina de Itaipu A usina de Itaipu é uma usina binacional, ou seja, pertence ao Brasil e ao Paraguai (50% para cada país). que foi construída sobre as cataratas do Iguaçu na foz do Rio Energias Renováveis 31 Paraná. O sistema brasileiro utiliza a energia na frequência de 60 Hz, ao passo que o sistema Paraguai utiliza a frequência de 50 Hz no seu sistema de potência. O Brasil compra mensalmente quase toda a energia gerada pelo Paraguai (compramos mais de 90% da usina produzida pelos paraguaios). Para podermos utilizar esta energia precisamos transformar a frequência de 50 para 60 Hz. Isto somente pode ser feito através de um elo CC (Corrente Contínua). A energia gerada pelo Paraguai em corrente alternada e vendida ao Brasil é transformada em corrente contínua e transmitida até a subestação de Tijuco Preto (em São Paulo) onde é novamente transformada em corrente alternada, mas agora na frequência de 60 Hz, ou seja, nas condições do mercado brasileiro. Este foi somente um dos muitos desafios vencidos no projeto e construção desta usina. Suas dimensões e parâmetros são impressionantes. A usina de Itaipu sozinha alimenta mais de 20% da energia consumida no Brasil. Nas vezes em que ocorreram problemas de geração nesta usina e ela foi retirada de operação o Brasil como um todo sentiu a falta de energia, pois como o nosso sistema é interligado, nossa reserva técnica não é capaz de suportar a saída de uma fonte tão importante. A China está construindo uma usina maior que Itaipu chamada de três Gargantas que será a maior usina do mundo. Energias Renováveis32 Vantagens e Desvantagens da geração hidroelétrica As usinas hidroelétricas devem possuir um projeto muito bem estruturado e e que englobe as oscilações sazonais de níveis d’água, principalmente para garantir a estabilidade das encostas evitando escorregamentos ou deslizamentos de terra nas margens dos lagos formados. Também devem ser consideradas as tendências de assoreamento dos reservatórios para que possam ser avaliadas as características do curso d’água e dos materiais e da formação geológica do leito. Com esses dados devem ser tomadas providências para se evitar o assoreamento das encostas perto da barragem. No projeto também devem ser tomados todos os cuidados para que a navegação não seja afetada, ou deve ser considerado a inclusão de eclusas nas barragens, como existe em várias usinas dos rios Tietê e Paraná (aliás, essas eclusas tornaram os rios navegáveis, obtendo um caminho alternativo para o escoamento da safra). Um exemplo de erro de projeto que não levou estes dados em consideração é a Usina de Ilha Solteira (este nome foi dado porque o projeto não foi bem calculado e na hora da formação do lago sobrou uma ilha na represa). Os locais que serão inundados devem ser analisados rigorosamente. Muitas usinas hidroelétricas inundaram depósitos de argila utilizados como fonte de renda por moradores locais. As águas subterrâneas devem ser analisadas com cuidado para que elas não afetem a formação do reservatório. Quando um lago é formado ocorre a elevação de muitas nascentes e este fato pode afetar produtores agrícolas locais. O impacto ambiental também deve considerar se a área a ser alagada é proveniente de agricultura com o uso Energias Renováveis 33 intensivo de agrotóxicos, pois estes produtos podem afetar a qualidade da água da represa e causar mortalidade de peixes. Os impactos esperados sobre os solos estão ligados ao conjunto das obras de engenharia, tais como instalação do canteiro de obras, abertura das estradas de serviço, áreas de empréstimo e deposição de descartes, estrada de interligação das usinas e finalmente a própria formação da represa. O projeto com maior impacto ambiental foi a construção da usina de Balbina no Amazonas. Esta usina possui um imenso reservatório, este lago inundou a vegetação da floresta Amazônica, ou seja, as árvores não forem retiradas antes da formação do lago, fazendo com que esta usina emita tanto gás metano como uma usina de carvão. Deve ser feito um trabalho detalhado de catalogação da flora a ser inundada, para que estas espécies possam ser replantadas em outras áreas, ocorrendo assim a preservação do ecossistema local. As comunidades locais que serão inundadas devem ser removidas e indenizadas com valores justos, assim como a usina deve ressarcir as cidades afetadas e construir obras de infraestrutura que melhorem a vida da população local. Geralmente as obras de construção de uma usina hidroelétrica atrai verdadeiras multidões de trabalhadores em busca de novas oportunidades o que faz com que as cidades próximas a esta usina sofrem verdadeiros “booms” populacionais. Vantagens das hidroelétricas Certas características de usinas hidroelétricas são muito importantes, pois servem de subsídio para o planejamento de expansão de geração e para a operação Energias Renováveis34 adequada dos sistemas de potência. Essa é a razão por dizermos que esta é a forma de energia mais barata do mundo, porque ela pode ser moldada conforme a carga do sistema aumenta. Apesar da produção de energia elétrica poder ser limitada pelos usos múltiplos da água, como por exemplo, irrigação, navegação, controle de inundações e suprimento de água, estas usinas, ao contrário das centrais termoelétricas (que geram energia de uma forma quase estável devido a perdas por calor), podem facilmente: Aumentar a potência de pico, ampliando a quantidade de água que passa pela turbina; Aumentar a produção total de energia, realizando um correto gerenciamento dos reservatórios (o Brasil já faz isto – a água escoada por um reservatório gera energia na próxima usina) Infelizmente devido as mudanças climáticas esta vantagem competitiva das hidroelétricas está se esvaindo, porque atualmente a previsão das chuvas está contrariando as previsões históricas, ou seja, o nível dos reservatórios está sendo fortemente afetado pelas mudanças climáticas, dificultando o aumento na produção de energia da forma rápida com que era feito no passado com os reservatórios cheios. As usinas hidroelétricas também providenciam reserva girante para situações de emergência ocorridas no sistema, ou seja, elas que suprem os picos de demanda. Como nossas usinas geram grandes quantidades de energia elas apresentam economia de escala, ou seja, esse custo marginal do aumento da capacidade de geração é mínimo graças aos lagos que formam a maioria de nossas hidroelétricas. Com a entrada de pequenas centrais de energia, o sistema brasileiro também passou a ter uma maior Energias Renováveis 35 flexibilidade para mudar rapidamente a quantidade de energia gerada, por exemplo elas são acionadas em eventos importantes como a transmissão de uma final de copa do mundo, as olímpiadas, uma final de novela ou em dias muito quentes. Assim podemos atender essa demanda extra sem maiores complicações. As usinas hidroelétricas garantem a energia firme ao sistema (aquela energia que é pré-contratada com segurança baseada no hábito de consumo anterior do consumidor e do aumento de crescimento do país. Como todo o ciclo hidrológico de água doce do mundo é resultada da precipitação e da evaporação das águas dos mares, lagos e rios, o processo dessa transferência de água é melhor supervisionado com a instalação de represas. Antes da instalação das usinas as cheias dos rios ocorriam sem o controle humano, o que provocava muitas perdas e prejuízo na agricultura e em cidades ribeirinhas. Agora as pessoas podem ser avisadas e retiradas a tempo caso ocorra uma cheia excessiva e os ciclos normais de cheias dos rios são amplamenteconhecidos e divulgados. Outra vantagem das represas é o constante monitoramento da qualidade da água feito pelas barragens, o que pode detectar eventuais contaminações e problemas, inclusive com a fauna local. Acidentes que demoravam muito tempo para serem percebidos agora graças ao monitoramento feito nas barragens isto ocorre quase que instantaneamente. Aspectos econômicos sobre a geração hidroelétrica Nosso sistema elétrico é um misto entre as usinas hidroelétricas construídas há mais de 20 anos (e já amortizadas) e as usinas que foram construídas recentemente (como as do Rio Madeira) que estão Energias Renováveis36 iniciando o seu processo de amortização. O Operador Nacional do Sistema (ONS) é o responsável por gerenciar estes interesses divergentes. Se forem acionadas somente as usinas amortizadas o custo da geração de energia seria mais barato, mas este fato afastaria todos os investidores que têm colocado dinheiro para construir as novas usinas que nosso país necessita para não corrermos o risco de um novo apagão. Ao contrário, se todas as usinas com obras concluídas recentemente forem acionadas primeiro, o custo da energia para o consumidor será muito caro, desestimulando o consumo. Este mix é feito tentando equalizar estes dois objetivos conflitantes, a ONS faz o mesmo para todas as usinas em operação no país e todas as matrizes energéticas. Deste modo a ONS chega a um custo otimizado que remunere adequadamente os investidores e que o consumidor possa arcar. Quando as empresas conseguem gerar mais energia do que a garantida junto à ONS elas podem vender o excedente no MAE (Mercado Atacadista de Energia). Esta equação ainda não está considerando um valor mais atrativo para o kWh gerado por energias renováveis do que o mesmo valor para o kWh gerado por combustíveis fósseis. O futuro deste mercado, em tempos de aquecimento global chegando a níveis críticos é que os países encontrem uma maneira de considerar este valor como uma moeda de troca internacional. Um esboço desta ideia é o mercado de créditos de carbono. As usinas térmicas à biomassa já estão se candidatando e recebendo os créditos graças a seu processo de balanço energético zero. No futuro, as usinas hidroelétricas, solares e eólicas também encontrarão uma maneira de se creditar, pois estas tecnologias não contribuem para o efeito estufa quando as usinas são construídas dentro de parâmetros que mitiguem o problema ambiental. Energias Renováveis 37 A descoberta de novas tecnologias irá auxiliar a expansão do setor hidroelétrico no país. Dominamos a tecnologia da instalação de pequenas centrais hidroelétricas (PCHs) e muitos proprietários de pequenas quedas d’água já perceberam a viabilidade econômica da instalação de uma usina em sua propriedade. O aumento no número de linhas de transmissão também aumentou a viabilidade econômica da instalação de uma PCH devido a diminuição no custo de interconexão desta usina com o sistema de potência. Energias Renováveis38 BIBLIOGRAFIA Dos Reis, L. B. Geração de energia elétrica. 3ª Edição revisada, ampliada e atualizada. Baureri/SP, Editora Manole, 2017. Editado por Gómez-Expósito, A., Conejo, A. J. & Cañizares, C. Sistemas de Energia Elétrica – Análise e Operação, Tradução e revisão técnica: Feltrin, A. P.; Montovani, J. R. S e Romero, R. LTC Editora, Rio de Janeiro/ RJ, 2015. Stevenson Jr., W. D. Elementos de análise de sistemas de potência. Tradução e revisão técnica Mayer, A. R. Minussi, J. P & Ansuj, S. 2ª Edição, McGraw-Hill, São Paulo/SP, 1986. Zanetta Jr., L. C. Fundamentos de sistemas elétricos de potência, 1ª Edição, Editora Livraria da Física, São Paulo/ SP, 2005.