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Lyzandra Linhares Etiologia: A tuberculose é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, um bacilo delgado, aeróbio obrigatório. Os bacilos crescem lentamente (tempo de geração de 20h ou mais), muitas vezes formam filamentos e tendem a crescer como aglomerados. Na superfície de um meio líquido, seu crescimento parece ter a forma de um bolor, o que sugeriu o nome do gênero Mycobacterium (myco significa fungo). Outra espécie de Micobactéria, a Mycobacterium bovis, é um patógeno principalmente do gado. M. bovis é a causa da tuberculose bovina, que é transmissível aos seres humanos através do leite ou de alimentos contaminados. As infecções por M. bovis causam uma TB que afeta principalmente os ossos ou o sistema linfático. Outras doenças micobacterianas também afetam as pessoas nos estágios avançados da infecção pelo HIV. A maioria dos isolados pertence a um grupo relacionado de organismos, denominado complexo M. avium-intracelulare. Na população em geral, as infecções por esse patógeno são raras. Coloração acidorresistente: A coloração acidorresistente se liga fortemente apenas às bactérias que apresentam um material ceroso em suas paredes celulares. Os microbiologistas utilizam essa coloração para a identificação de todas as bactérias do gênero Mycobacterium, incluindo os dois patógenos importantes Mycobacterium tuberculosis e a Mycobacterium leprae (causador da hanseníase). Essa coloração também é utilizada na identificação de linhagens patogênicas do gênero Nocardia. As bactérias dos gêneros Mycobacterium e Nocardia são acidorresistentes. No procedimento de coloração acidorresistente, o corante vermelho carbolfucsina é aplicado a um esfregaço fixado, e a lâmina é aquecida levemente por vários minutos (o calor aumenta a penetração e a retenção do corante). A seguir a lâmina é resfriada e lavada com água. O esfregaço é tratado com álcool-ácido, um descolorante, que remove o corante vermelho das bactérias que não são acidorresistente. Os microrganismos acidorresistentes retêm vermelha ou rosa, pois a carbolfucsina é mais solúvel nos lipídeos da parede celular do que no álcool-ácido. Em bactérias que não são acidorresistentes, cujas paredes celulares não possuem os componentes lipídicos, a carbolfucsina é rapidamente removida durante a descoloração, deixando as células incolores. O esfregaço é, então, corado com o contracorante azul de metileno. As células que não são acidorresistentes aparecem azuis após a aplicação do contracorante. Referência: cap. 24 do Microbiologia 12 edição – Tortora As micobactérias são: álcool-acidorresistentes; patógenos primariamente intracelulares; aeróbios obrigatórios; e na presença de uma resposta imune normal, induzem uma resposta granulomatosa nos tecidos. Grande parte dos membros do gênero que causam a doença em humanos imunocompetentes é filogeneticamente próxima e possui genes que codificam os fatores de virulência ESAT-6 e CFP-10. A tuberculose é causada por qualquer um dos três patógenos micobacterianos que pertencem ao complexo M. tuberculosis: M. tuberculosis, Mycobacterium bovis e Mycobacterium africanum. Os outros membros do complexo M. tuberculosis são: Mycobacterium microti, Mycobacterium pinnipedii e Mycobacterium caprae, que raramente causam doença em humanos. Não há relatos de que Mycobacterium mungi e Mycobacterium orygi causem doença em humanos. Referência: parte 3; seção H do Murray & Nadel Tratado de Medicina Respiratório 6ª edição – Broaddus Transmissão: A transmissão de M. tuberculosis é influenciada por características do caso-fonte, particularmente a carga bacilar, pela proximidade do potencial receptor do organismo à fonte e pela condição do ar ambiental que eles compartilham. A transmissão de M. tuberculosis é um exemplo clássico de infecção por via aérea. Em quase todos os casos, a infecção tuberculosa é adquirida por inalação de um ou mais bacilos contidos em partículas em suspensão no ar suficientemente pequenas para alcançarem um alvéolo. Para uma pessoa com tuberculose ser infecciosa, os organismos devem ter acesso ao ar ambiental e ser aerossolizados. De modo geral, isso significa que apenas pacientes com tuberculose pulmonar podem ser considerados como infecciosos. Entretanto, as partículas respiráveis contendo M. tuberculosis podem raramente ser geradas a partir de outras fontes (p. ex., irrigação de um abscesso causado pela tuberculose). Após as secreções respiratórias aerossolizadas serem expelidas do nariz ou da boca, seu teor de água evapora rapidamente, deixando apenas um pequeno resíduo de matéria sólida — o núcleo goticular — que pode incluir bacilos da tuberculose e também pode permanecer suspensos no ar por várias horas. Um único bacilo em um pequeno núcleo goticular é mais perigoso do que vários bacilos em grandes partículas aéreas, que quando inaladas depositam-se nas vias aéreas mais do que nos alvéolos e que então são rapidamente removidas pelo transporte mucociliar ou eliminadas. A tosse é o mecanismo mais efetivo na geração de aerossóis que criam núcleos goticulares, mas não é o único. As manobras expiratórias forçadas além da tosse (espirro, grito, cantoria e conversa em voz alta) envolvem, em maior ou menor extensão, a aceleração repentina de ar requerido para interromper uma superfície líquida ou filamentos mucosos, desse modo aerossolizando as partículas. Secreções finas e aquosas são fragmentadas com mais facilidade em pequenas gotículas respiráveis do que o muco mais viscoso. De modo geral, quanto maior o volume de secreções respiratórias, maior o número de gotículas potencialmente infecciosas. Além disso, acredita-se que a gravidade da doença esta diretamente ligada ao potencial infeccioso; logo, quanto maior a gravidade da tosse, mais contagioso é a doença. Manobras simples, tais como cobrir a boca ao tossir, podem reduzir a formação de núcleos goticulares ao desviar as gotículas da corrente de ar. Similarmente, uma máscara usada pelo paciente é efetiva porque as partículas são capturadas enquanto ainda são grandes, antes da evaporação do conteúdo de água. Um segundo fator de caso-fonte a ser considerado na determinação da infecciosidade é o número de organismos contidos nos pulmões. Isso pode ser inferido por meio da extensão e morfologia da doença, conforme determinadas pela radiografia torácica e estimadas diretamente a partir do exame microscópico de escarro. Portanto, no controle da tuberculose, deve-se conceder maior prioridade para avaliação dos contatos de pessoas com tuberculose extensiva do que para os contatos de pessoas com doença menos grave. O método mais direto para estimar a população bacilar é o exame microscópico dos esfregaços de escarro adequadamente corados. Os contatos de pacientes que tiveram organismos presentes nos esfregaços de escarro apresentaram prevalência muito mais alta de infecção do que os pacientes com esfregaços negativos e culturas tanto positivas quanto negativas. Contudo, os contatos de pacientes negativos no esfregaço do escarro podem ainda adquirir a infecção e desenvolver tuberculose. Um terceiro fator importante na determinação da infecciosidade de um caso-fonte é o uso de quimioterapia. O mecanismo mais importante pelo qual a quimioterapia reduz a infecciosidade é o efeito direto do fármaco na população bacilar encontrada nos pulmões. Todavia, mesmo com essa profunda redução na população bacilar, o número remanescente de organismos (10.000 por mililitro de escarro) ainda seria o suficiente para resultar em um esfregaço de escarro álcool- acidorresistente positivo. Além de reduzir o número de bacilos viáveis, a quimioterapia também diminui rapidamente a tosse. A soma dessesefeitos sugere que, uma vez que o paciente com tuberculose é submetido à terapia efetiva, a transmissão dos bacilos da tuberculose deixa de ser uma preocupação. O declínio na infecciosidade é causado principalmente pela redução rápida da população bacilar nos pulmões como resultado da quimioterapia antituberculose, particularmente isoniazida. Os regimes de tratamento que não incluem isoniazida provavelmente não devem tornar o paciente não infeccioso tão rapidamente quanto à terapia com isoniazida. Do mesmo modo, a redução imediata na infecciosidade não pode ser considerada em pacientes que abrigam organismos resistentes à isoniazida. Diferentes cepas apresentam distintas infecciosidades. Por exemplo, as cepas de M. tuberculosis resistentes à isoniazida podem ser menos patogênicas do que os organismos totalmente suscetíveis. Além da taxa natural de morte, os únicos fatores que influenciam a infectividade dos organismos em um núcleo goticular sob circunstâncias comuns são a sua remoção pela ventilação ou filtração e a morte de organismos com a exposição à luz ultravioleta. A principal utilidade da luz ultravioleta é fornecer irradição UV do ar ambiente, utilizando lâmpadas adequadamente protegidas nas paredes superiores das áreas hospitalares ou de clínicas onde os pacientes com tuberculose não tratada são provavelmente encontrados. Isso é particularmente importante em áreas abertas, tais como salas de espera, onde a ventilação pode ser inadequada para remover as partículas infecciosas e também dentro dos sistemas de ventilação. As condições de exposição têm uma grande influência no número de partículas infecciosas inaladas. Se a exposição é de longa duração e ocorre sob condições que estariam associadas a uma alta concentração de núcleos goticulares no ar inalado pelo contato, obviamente existe uma grande probabilidade de transmissão. Embora as variações na intensidade da exposição contribuam para a probabilidade de infecção, as variações na suscetibilidade do hospedeiro também podem contribuir. Referência: parte 3; seção H do Murray & Nadel Tratado de Medicina Respiratório 6ª edição – Broaddus Fisiopatologia: Em grande parte dos indivíduos infectados com M. tuberculosis, a resposta do hospedeiro — inata e adaptativa — restringe o crescimento do patógeno, dessa forma contendo a infecção. Paradoxalmente, porém, a resposta imune contra M. tuberculosis é provavelmente responsável pela manifestação característica da tuberculose. Por outro lado, a quase ausência de imunidade adaptativa mediada por células em pacientes com infecção avançada pelo HIV é considerada responsável pelas manifestações atípicas da tuberculose em pacientes com o HIV. Tais pacientes tendem a apresentar comprometimento multissistêmico, mas não desenvolvem lesões pulmonares cavitarias. Embora a ausência de resposta imune minimize o dano tecidual, o organismo não entra em contato com uma resposta protetora efetiva, assim facilitando a proliferação e a disseminação dos bacilos. Existem duas fases: a aquisição da infecção e o desenvolvimento subsequente de tuberculose. A tuberculose pode desenvolver-se como a progressão direta da infecção para a doença ou de uma progressão tardia muitos anos após a infecção. Em populações infectadas com o HIV, a taxa de doença em fase de desenvolvimento é consideravelmente mais elevada. A infecção pelo M. tuberculosis cursa em etapas, da infecção inicial dos macrófagos até uma resposta subsequente de TH1, com ambas contendo bactérias e causando danos teciduais. Cedo na infecção, o M. tuberculosis se multiplica essencialmente de forma incontrolada dentro dos macrófagos, enquanto mais tarde, na infecção, a resposta celular estimula os macrófagos a controlarem a proliferação da bactéria. Os passos na infecção são os seguintes: Entrada nos macrófagos: O M. tuberculosis entra nos macrófagos pela fagocitose mediada por vários receptores expressos no fagócito, incluindo a lectina ligada à manose e o CR3. Replicação nos macrófagos: O M. tuberculosis inibe a maturação do fagossomo e bloqueia a formação do fagolisossoma, permitindo que a bactéria se multiplique de forma descontrolada dentro da vesícula, protegida dos mecanismos microbicidas dos lisossomos. A bactéria bloqueia a formação do fagolisossoma pela inibição dos sinais de Ca2+ e do recrutamento e montagem das proteínas que medeiam a fusão fagossomo-lisossomo. Apesar da bacteremia, a maioria das pessoas nesse estágio é assintomática ou possui uma doença branda semelhante à gripe. A resposta TH1:Cerca de 3 semanas após a infecção, uma resposta T auxiliar 1 (TH1) é montada, a qual ativa os macrófagos, permitindo que eles se tornem bactericidas. A resposta é iniciada pelos antígenos micobacterianos, que entram nos linfonodos de drenagem e são apresentados às células T. Ativação dos macrófagos mediada por TH1 e morte das bactérias: As células TH1, em ambos os linfonodos e os pulmões, produzem IFN-γ (mediador crítico que permite que os macrófagos controlem a infecção pelo M. tuberculosis). Primeiro, o IFN-γ estimula a maturação do fagolisossoma nos macrófagos infectados, expondo as bactérias a um ambiente ácido, oxidante e letal. Segundo o IFN-γ estimula a expressão da óxido nítrico sintetase induzível, que produz óxido nítrico (NO). O NO se combina com outros oxidantes para criar intermediários reativos do nitrogênio, que parecem ser particularmente importantes para matar as micobactérias. Terceiro, o IFN-γ mobiliza os peptídios antimicrobianos (defensinas) contra as bactérias. Finalmente, o IFN-γ estimula a autofagia, um processo que sequestra e então destrói as organelas danificadas e as bactérias intracelulares, como o M. tuberculosis. Inflamação granulomatosa e dano tecidual: Além de estimular os macrófagos a matar a micobactéria, a resposta TH1 orquestra a formação dos granulomas e a necrose caseosa. Os macrófagos ativados pelo IFN-γ se agregam para formar granulomas; algumas células epitelioides se fundem para formar células gigantes. Em muitas pessoas essa resposta para a infecção acontece antes que uma destruição tecidual significativa ou doença ocorram. Em outras pessoas, a infecção progride devido à idade avançada ou à imunossupressão, e a contínua resposta imune resulta na necrose caseosa. Os macrófagos ativados também secretam TNF e quimiocinas, que promovem o recrutamento de mais monócitos. Em resumo, a imunidade ao M. tuberculosis é primariamente mediada pelas células TH1, as quais estimulam os macrófagos a matar as bactérias. Essa resposta imune, embora largamente eficaz, ocorre à custa da destruição tecidual. Referência: Robbins & Cotran Patologia – Bases Patológicas das Doenças – 9ª edição. Cap. 8, 2016. Aspectos Clínicos: A tuberculose primária é a forma da doença que se desenvolve em uma pessoa previamente não exposta e, portanto, não sensibilizada. Na tuberculose primária, a fonte do organismo é exógena. Na maioria das pessoas, a infecção primária é contida, porém, em outras, a tuberculose primária é progressiva. A tuberculose primária progressiva mais frequentemente se assemelha a uma pneumonia bacteriana aguda, com consolidação do lóbulo, adenopatia hilar e derrame pleural. A disseminação linfo-hematogênica, que segue a infecção primária, pode resultar no desenvolvimento da meningite tuberculosa e na tuberculose miliar. A tuberculose secundária é o padrão da doença que surge em um hospedeiro previamente sensibilizado. Ela pode seguir logo após a tuberculose primária, porém mais comumente aparece muitos anos após a infecção inicial, usualmente quando a resistência do hospedeiro está enfraquecida. Ela mais comumente deriva da reativação de uma infecção latente, mas também poderesultar de uma reinfecção exógena, no caso de uma redução da imunidade do hospedeiro, ou quando um grande inóculo de bacilos virulentos sobrecarrega o sistema imune do hospedeiro. A tuberculose pulmonar secundária classicamente envolve o ápice dos lobos superiores de um ou ambos os pulmões. A cavitação é quase inevitável nas tuberculoses secundárias negligenciadas, e a erosão das cavidades para dentro de uma via aérea é uma importante fonte de infecção porque a pessoa agora tosse escarro que contém bactérias. A tuberculose secundária pode ser assintomática. Quando os sintomas sistêmicos aparecem, provavelmente estão relacionados com citocinas liberadas pelos macrófagos ativados (p. ex., TNF e IL-1), frequentemente aparecem precocemente no curso da doença e incluem mal-estar, anorexia, perda de peso e febre. Comumente, a febre é baixa e remitente (aparecendo no fim de cada tarde e então decresce), e ocorrem suores noturnos. Com o envolvimento pulmonar progressivo, aparece um aumento na quantidade de escarro, primeiramente mucoide e depois purulento. Algum grau de hemoptise está presente. Dor pleurítica pode resultar da extensão da infecção para as superfícies pleurais. TB Primaria: Tipicamente, o bacilo inalado se implanta nos espaços aéreos distais da parte inferior do lobo superior ou na parte superior do lobo inferior, usualmente próximo à pleura. À medida que a sensibilização se desenvolve, surge uma área de 1 a 1,5 cm de inflamação branco-acinzentada com consolidação, conhecida como o foco de Ghon. Na maioria dos casos, o centro desse foco sofre necrose caseosa. Os bacilos da tuberculose, tanto livres como no interior dos fagócitos, são drenados para os linfonodos regionais, os quais também frequentemente sofrem caseação. Essa combinação de lesão parenquimatosa pulmonar e envolvimento nodal é referida como complexo de Ghon. Durante as primeiras semanas, também há uma disseminação linfática e hematogênica para outras partes do corpo. Histologicamente, os locais de envolvimento ativo são marcados por uma reação inflamatória granulomatosa característica, que forma tanto tubérculos caseosos, quanto não caseosos. Os granulomas são usualmente contidos por uma orla fibloblástica pontuada por linfócitos. Células gigantes multinucleadas estão presentes nos granulomas. Pessoas imunocomprometidas não formam os granulomas característicos e seus macrófagos contêm muitos bacilos TB Secundária: Tais focos são nitidamente circunscritos, firmes, branco- acinzentados a amarelados, e têm graus variáveis de caseação central e de fibrose periférica. Histologicamente, as lesões ativas mostram tubérculos coalescentes característicos com caseação central. Os bacilos da tuberculose podem frequentemente ser identificados com colorações acidorresistentes nas fases iniciais exsudativa e caseosa da formação do granuloma, porém são usualmente muito poucos para serem encontrados nos estágios fibrocalcificados tardios. TB Progressiva: A lesão apical expande-se para as porções adjacentes do pulmão e finalmente erode os brônquios e vasos. Isto evacua o centro caseoso, criando uma cavidade irregular e áspera que é pobremente isolada por tecido fibroso. Se o tratamento for inadequado ou se as defesas do hospedeiro estiverem debilitadas, a infecção pode se disseminar por via respiratória, canais linfáticos, ou sistema vascular. A doença pulmonar miliar ocorre quando organismos drenados através dos vasos linfáticos entram no sangue venoso e circulam de volta aos pulmões. As lesões miliares podem expandir-se e coalescer, resultando na consolidação de grandes regiões ou mesmo de todos os lobos do pulmão. Com a tuberculose pulmonar progressiva, a cavidade pleural é invariavelmente envolvida, podendo desenvolver derrames pleurais serosos, empiema tuberculoso ou pleurite fibrosa obliterante. A tuberculose endobrônquica, endotraqueal e laríngea pode se desenvolver pela dispersão através dos vasos linfáticos ou pelo material infeccioso expectorado. O revestimento mucoso pode ser salpicado de diminutas lesões granulomatosas que podem somente ser visíveis ao exame microscópico. A tuberculose miliar sistêmica ocorre quando as bactérias se disseminam através do sistema arterial sistêmico. A tuberculose miliar é mais proeminente no fígado, medula óssea, baço, suprarrenais, meninges, rins, tubas uterinas e epidídimos, mas pode envolver qualquer órgão. TB Miliar do baço A tuberculose isolada pode aparecer em qualquer um dos órgãos ou tecidos colonizados hematogenicamente e pode ser a manifestação presente. Quando as vértebras são afetadas, a doença é referida como doença de Pott. A linfadenite é a apresentação mais frequente de tuberculose extrapulmonar, usualmente ocorrendo na região cervical (“escrófula”). Em indivíduos negativos para o HIV, a linfadenite tende a ser unifocal e localizada. Por outro lado, pessoas positivas para o HIV quase sempre têm doença multifocal, sintomas sistêmicos, e tanto envolvimento pulmonar, como de outro órgão pela tuberculose ativa. Como mencionado, a tuberculose intestinal contraída através da ingestão de leite contaminado é comum em países onde a tuberculose bovina está presente e o leite não é pasteurizado. Referência: Robbins & Cotran Patologia – Bases Patológicas das Doenças – 9ª edição. Cap. 8, 2016. Diagnóstico: As amostras com suspeita de TB, TB drogarresistente (TB-DR) ou micobactérias não tuberculosas (MNT) que são encaminhadas para diagnóstico laboratorial devem seguir o fluxo estabelecido pelo MS. Coleta de amostra: A fase inicial do exame bacteriológico – que compreende a coleta, a conservação e o encaminhamento da amostra para o laboratório executor – é de responsabilidade da unidade de atendimento, que identifica o caso com suspeita de TB ou MNT. Teste rápido molecular para tuberculose (TRM-TB) ou baciloscopia: O diagnóstico inicial deve ser realizado preferencialmente por meio de teste rápido molecular para TB (TRM-TB), e, no caso do TRM-TB não estar disponível, o diagnóstico inicial pode ser realizado por meio de baciloscopia. Cultura: As amostras processadas para TRM-TB, com resultado positivo, e para baciloscopia, independentemente do resultado, deverão seguir para cultura, preferencialmente no mesmo local em que o TRM-TB ou a baciloscopia foram realizados. Sendo o resultado positivo na cultura, a amostra deverá ser direcionada para a identificação preliminar de espécie. Se o resultado for positivo para o Complexo Mycobacterium tuberculosis (CMTB), a análise do perfil de sensibilidade aos fármacos de primeira linha e segunda linha deverá ser realizada. Referências: Manual de recomendações para diagnóstico laboratorial de tuberculose e micobacterias não tuberculosas de interesse em saúde pública no Brasil - Ministerio da Saúde, 2022 O diagnóstico de infecção latente por TB baseia-se no achado de hipersensibilidade de tipo tardio aos antígenos micobacterianos e ausência de TB clinicamente ativa. O teste cutâneo tuberculínico tem sido amplamente utilizado e há fortes evidências epidemiológicas que respaldam a sua interpretação. O derivado proteico purificado (PPD) de tuberculina, derivado de filtrados de cultura de M. tuberculosis, autoclavados, é utilizado para induzir hipersensibilidade de tipo tardio. A resposta desencadeada pelo PPD não é específica, em razão da ampla reatividade cruzada entre micobactérias tuberculosas e não tuberculosas e outros microrganismos também. O teste cutâneo tuberculínico é realizado pela injeção de 5 unidades tuberculínicas de PPD em 0,1 mℓ por via intradérmica. A reação é avaliada como endurecimento depois de 48 a 72 horas. Na infecção pelo HIV, o teste tuberculínicopode ser negativo antes da administração de terapia antirretroviral (TAR) e sofrer conversão para positivo com o tratamento. Por essa razão, recomenda-se que o teste cutâneo tuberculínico seja repetido em indivíduos infectados pelo HIV com teste tuberculínico negativo quando a contagem de células CD4+ alcança 200/μℓ e, em seguida, anualmente. A sensibilidade do teste cutâneo tuberculínico encontra-se diminuída nos indivíduos com TB ativa, e ainda mais em determinadas formas de TB extrapulmonar. Em relação aos métodos de imagens, pode ser realizado a radiografia do tórax e a tomografia computadorizada, para verificar a presença de nódulos, linfadenopatia, complexo de Ghon e de Rank. Referência: Goldman – Cecil Medicina – 26ª edição, cap. 308, 2022. Tratamento: A base do tratamento na TB consiste em terapia com múltiplos medicamentos. Isso é necessário peço fato de que o M. tuberculosis sofre mutações espontâneas que conferem resistência a fármacos em uma frequência tal que a maioria dos pacientes com doença pulmonar cavitária – e, portanto, pacientes com alta carga de microrganismos – tem probabilidade de abrigar mutantes resistentes. No tratamento da TB causada por microrganismos sensíveis a fármacos, existe uma fase intensiva de terapia nos primeiros 2 meses, dirigida contra os microrganismos de multiplicação e metabolismo rápidos, resultando habitualmente em esterilização do escarro nos pacientes com TB pulmonar. Essa fase é seguida de uma fase de continuação de 4 a 6 meses, que mata os microrganismos persistentes de metabolismo lento. Os quatro fármacos anti-TB de primeira linha, todos administrados por via oral, – isoniazida, rifampicina, etambutol e pirazinamida – formam a base da quimioterapia para a TB. A terapia padrão de ciclo curto para a TB pulmonar exige uma fase intensiva de 2 meses com quatro fármacos (isoniazida, rifampicina, etambutol e pirazinamida), seguida de uma fase de continuação de 4 meses com isoniazida e rifampicina. Em pacientes com doença cavitária extensa e no indivíduo gravemente imunossuprimido, a terapia diária deve ser administrada durante todo o ciclo. Nos indivíduos infectados pelo HIV com TB, que não estão gravemente imunossuprimidos, o tratamento deve ser diário durante a fase intensiva e administrado pelo menos 3 vezes/semana durante a fase de continuação. Os indivíduos não infectados pelo HIV, sem doença cavitária extensa, podem ser tratados totalmente com esquemas intermitentes. O acréscimo de pirazinamida à fase intensiva possibilita a denominada quimioterapia de ciclo curto; se a pirazinamida não for tolerada, podem ser obtidos resultados comparáveis com 9 meses de isoniazida-rifampicina. Os pacientes devem retornar imediatamente à clínica se houver quaisquer sinais de toxicidade medicamentosa, particularmente sinais de hepatotoxicidade precoce (náuseas, mal-estar, anorexia, desconforto abdominal superior). Nos pacientes com TB pulmonar, as culturas de escarro são realizadas até que duas culturas consecutivas se tornem negativas. Uma cultura de escarro positiva com 3 meses ou ausência de melhora em radiografias de tórax sugerem uma não adesão do paciente à terapia, baixos níveis dos fármacos em consequência de má absorção, aumento do metabolismo, TB resistente a fármacos ou diagnóstico alternativo passível de complicação. Deve-se investigar a etiologia da cultura positiva persistente. Uma cultura de escarro positiva com 4 meses é definida como falha do tratamento. A TB resistente a fármacos é mais difícil de curar do que a TB sensível a fármacos e, em alguns casos, pode ser até incurável. A TB monorresistente à isoniazida pode ser tratada com rifampicina, pirazinamida e etambutol durante 6 meses. Uma metanálise recente de dados individuais de pacientes sugere que o acréscimo de uma fluoroquinolona ao esquema de 6 a 9 meses de rifampicina, etambutol e pirazinamida pode melhorar os resultados. Em todos os outros pacientes, a base do tratamento da TB MDR (multirresistente) é o esquema tradicional, que inclui pelo menos cinco fármacos aos quais o isolado é sensível. Normalmente, o esquema deverá incluir fármacos de primeira linha com atividade mantida, uma fluoroquinolona (FQ), um fármaco injetável (amicacina, canamicina ou capreomicina) e fármacos de segunda linha (etionamida, ciclosserina, PAS) com a meta de cinco fármacos efetivos no esquema. A duração do tratamento é estabelecida em 18 a 24 meses. A definição de TB extensamente drogarresistente requer que um microrganismo seja MDR com resistência adicional a uma FQ e a pelo menos um de três fármacos injetáveis (amicacina, canamicina, capreomicina). O resultado do tratamento da TB extensamente drogarresistente tem sido variável. Os melhores resultados relatados foram obtidos no Peru que incluiu esquemas terapêuticos individualizados de acordo com os resultados dos testes de sensibilidade a fármacos. Os esquemas efetivos incluíram ciclosserina, capreomicina e PAS. Uma vez desenvolvida a TB MDR, particularmente no contexto da TB extensamente drogarresistente, são necessários novos fármacos para melhorar a eficácia e diminuir a duração do tratamento. Um esquema capaz de reduzir a duração do tratamento da TB diminuiria o surgimento de resistência a fármacos, visto que a adesão do paciente aumentaria. Referência: Goldman – Cecil Medicina – 26ª edição, cap. 308, 2022. Lyzandra Linhares
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