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125 IMAGENOLOGIA Unidade II De acordo com o Manual do biomédico (CRBM 1, 2021) do CRBM 1ª região, as atribuições do biomédico TC e RM são semelhantes, apesar das diferenças dos equipamentos. O biomédico poderá atuar com a operação dos equipamentos, a definição de protocolos de exame, a realização da entrevista com o paciente, a administração de meios de contraste, a realização do pós- processamento das imagens e a documentação de exames. Pelo fato de a TC e a RM formarem imagens digitais, o biomédico poderá gerenciar sistemas de armazenamento de informação (PACS, HIS e RIS) que contêm dados de pacientes e imagens. Dessa forma, pode atuar no segmento de informática médica e trabalhar com as atualizações tecnológicas dessas modalidades. Além de atuar com a execução dos exames, o biomédico pode, ainda, exercer função administrativa no departamento de diagnóstico por imagem e atuar na área de pesquisa. O diagnóstico por imagem está intimamente relacionado às empresas que produzem equipamentos e insumos. Outros segmentos de atuação do biomédico são a aplicação das empresas vendedoras e o oferecimento de programas de treinamentos às equipes de saúde em TC e RM. Assim, caro aluno, a unidade II pretende apresentar os principais conceitos e informações sobre TC e RM para atuação nessas áreas. Boa leitura! 5 TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA 5.1 Histórico A palavra tomografia (do grego, tomé) significa “imagem em cortes ou em planos”. Há vários aparelhos diagnósticos capazes de gerar imagens em cortes, tais como TC, RM, US e PET-scan. Portanto o conceito de tomografia se aplica a essas modalidades também. Então por que o termo tomografia foi utilizado para a TC? Os termos utilizados para descrever os equipamentos de imagem são baseados em uma característica específica da técnica. A TC se baseia na atenuação diferenciada de finos feixes de raios X em diferentes projeções para formar imagens tomográficas. Isso só foi possível com o advento da informática e cálculos executados por computador. Em 1972, na Inglaterra, Dr. Godfrey Newbold Hounsfield desenvolveu a técnica de TC a partir de métodos matemáticos criados por A. M. Cormack uma década antes. Uma das limitações das radiografias convencionais era obter o sinal dos tecidos moles. Uma radiografia de crânio não poderia demonstrar determinadas patologias do sistema nervoso, por exemplo. Assim, a técnica de Hounsfield consistia em irradiar o crânio em fatias por todas as suas bordas, limitando a radiação a uma porção fina (KALENDER, 2006). 126 Unidade II As primeiras imagens de tomografia foram geradas após cerca de 9 horas de escaneamento de todo o crânio. A aquisição de cada corte levou cerca de 5 minutos, enquanto o processamento demorou em torno de 20 minutos. Atualmente, a aquisição e o processamento são rápidos, com duração de segundos (MAMEDE, 2019). Os planos de corte podem pertencer aos planos axial, coronal, sagital ou oblíquo/inclinado. Também é possível realizar reconstruções volumétricas tridimensionais. Essas características tornam a TC um exame com várias aplicações diagnósticas, como visualização de alterações morfológicas e avaliação da gravidade da doença em infecções, inflamações, cistos, sangramentos, tumores, fraturas, avaliação dos vasos sanguíneos, entre outras (HENWOOD, 2003; NÓBREGA, 2012c). 5.2 Equipamento e o princípio físico da formação da imagem A TC surgiu com o objetivo de superar determinadas limitações das radiografias convencionais, tais como: • diferenciação dos tecidos moles; • quantificação da densidade dos tecidos; • sobreposição de estruturas anatômicas nas radiografias convencionais, que dificultava a obtenção de informações tridimensionais em uma imagem bidimensional. Em comparação com as radiografias convencionais, as imagens tomográficas são livres de sobreposição de tecidos. Observe na figura a seguir a diferença entre uma imagem com sobreposição e imagens em cortes ou secções. As radiografias apresentam sobreposições de estruturas anatômicas que dependem da incidência do feixe de radiação. Já na TC as imagens são livres de sobreposição e as estruturas aparecem com determinado formato, a depender do plano de corte. Figura 69 – Ilustrações que comparam a sobreposição de estruturas em uma vista de perfil (P) com imagens em cortes ou fatias (S1 e S2) Disponível em: https://bit.ly/2Y7zWew. Acesso em: 9 jul. 2021. 127 IMAGENOLOGIA A principal característica da TC é sua ótima resolução de contraste, ou seja, a capacidade em detectar diferenças muito pequenas na absorção de raios X. Isso ocorre devido à eliminação da dispersão da radiação e ao menor espalhamento do feixe. Na TC, o registro da variação das densidades é até 10 vezes maior do que na radiografia convencional. Assim, é possível diferenciar graus de densidade entre os tecidos moles, como, por exemplo, a substância cerebral e o líquido cerebrospinal (HENWOOD, 2003). A figura a seguir apresenta uma radiografia de crânio e um corte axial por TC que demonstra essas diferenças entre as modalidades. A) B) Figura 70 – A) Radiografia do crânio. Legenda: células da mastoide (M), sela túrcica (ST), sutura coronal (ponta de setas), sutura occipital (seta aberta) e sulcos vasculares meníngeos (setas). B) corte axial do crânio em TC. Legenda: ventrículo lateral (L), fórnix (F), núcleo caudado (CN), tálamo (Th) e terceiro ventrículo (3) Adaptada de: Daffner (2013, p. 450-455). O equipamento de TC é formado por uma mesa, um gantry e um sistema computacional com painel de comando. O paciente é acomodado e posicionado na mesa, que se movimenta através de uma abertura no gantry, onde ocorre a aquisição das imagens e onde estão localizados o sistema de emissão de raios X, os colimadores e os detectores de radiação, no lado oposto ao tubo. O painel de comando ou console serve para programar a aquisição, executar o exame, processar as imagens e prepará-las para documentação (MAMEDE, 2019). O console é o sistema de armazenamento e apresentação de imagens formado pelo computador, com disco rígido (HD), teclado e monitor. As workstations possuem um sistema de reconstrução 3D da imagem. Geralmente, os serviços também possuem um sistema de documentação, como impressora multiformato, ou laser comum ou seca (NÓBREGA, 2012c). 128 Unidade II Painel com botões de comando para ajuste da posição da mesa Mesa de exame Gantry Figura 71 – Aparelho de TC Disponível em: https://bityli.com/rNTM5Z9. Acesso em: 9 jul. 2021. Na TC, o contraste das imagens é o resultado da absorção diferenciada dos raios X em função das características dos tecidos. O tomógrafo emite feixes colimados e finos que atravessam uma fatia transversal do corpo e atingem, no lado oposto, detectores acoplados ao computador. O tubo de raios X realiza um movimento circular contínuo ao redor do paciente, que permanece deitado e imóvel, de forma a se obter dados de vários ângulos de uma fatia transversal do corpo, como mostrado na figura a seguir. Feixe de radiação em leque Tubo de raios X Mesa motorizada Arco de detectores Figura 72 – Esquema de sistema emissor de raios X, detectores dentro do gantry de um tomógrafo e formato do feixe em leque Adaptada de: https://bityli.com/NjZpIB8. Acesso em: 9 jul. 2021. 129 IMAGENOLOGIA Você pode estar se perguntando: mas então são obtidas radiografias no exame de TC? De certa forma, sim, porém os feixes de radiação são finos, em forma de leque, e são obtidas múltiplas radiografias ao redor do paciente. Cada radiografia é uma projeção bidimensional com estruturas anatômicas internas sobrepostas. São obtidas imagens de vários ângulos da mesma fatia e o mesmo se aplica para as demais fatias do volume corporal irradiado. Após a aquisição dos dados, o computador realiza um processamento dessas imagens, que consiste basicamente em empilhar todas as imagens em uma estrutura 3D e analisar a intersecção das sombras de atenuação nas projeções, conforme representação da figura a seguir.Em seguida, algoritmos são aplicados para filtrar o borramento nas bordas, um processo denominado retroprojeção filtrada (em inglês, filtered backprojection). Com a rotação do tubo, várias projeções bidimensionais da mesma fatia são obtidas em diferentes ângulos Projeções bidimensionais são “empilhadas“. Cálculos matemáticos (algoritmos) são aplicados para filtrar os dados e formar a imagem semelhante ao objeto real Uma projeção bidimensional com estruturas sobrepostas Objeto Tubo Figura 73 – Formação da imagem de estruturas anatômicas internas a partir de múltiplas projeções em diferentes ângulos Após múltiplas projeções, um sistema computadorizado reconstrói as imagens transversais. Os dados são processados e a imagem é reconstruída por cálculos matemáticos (algoritmos), o que possibilita atribuir valores quantitativos na representação da imagem. Ao mesmo tempo, ocorre um movimento da mesa para que sejam obtidas imagens de diferentes cortes anatômicos da região examinada, como mostrado na figura a seguir. Movendo o paciente através do gantry, múltiplos cortes adjacentes podem ser visualizados, fornecendo uma imagem do corpo a ser reconstruída. Os cortes axiais são os mais utilizados, mas os dados podem ser reconstruídos para formar imagens em outros planos anatômicos, como coronal, sagital e oblíquo, além de imagens tridimensionais. Esse processo é conhecido como reconstruções multiplanares (MPR). A figura a seguir ilustra o processo desde a aquisição até o processamento dos dados, a reconstrução da imagem e a apresentação na tela do monitor. 130 Unidade II Transformação analógico-digital (transforma sinal elétrico em linguafem digital) Computador Arco de detectores Tubo emissor de raios X Raios X atenuados Sistema de aquisição de dados Colimadores dos detectores Paciente Feixes de raios X Colimadores do tubo Algoritmos de reconstrução (cálculos matemáticos) Imagem e apresentação na tela do monitor Figura 74 – Esquema de aquisição de dados em TC, processamento dos dados (reconstrução) e apresentação da imagem Lembrete A fonte de radiação nos equipamentos de TC é o tubo de raios X. Assim, a radiação existe somente quando o equipamento for acionado para iniciar a aquisição das imagens. Desde sua criação, em 1972, os aparelhos tomógrafos sofreram modificações, representadas por gerações de equipamentos. Os avanços tecnológicos possibilitaram maior rapidez nos exames e melhora na resolução. 5.3 Gerações de equipamentos Os tomógrafos da primeira geração produziam raios paralelos em formato de lápis (pencil beam) com um único detector no lado oposto e realizavam um movimento de translação e rotação em volta do objeto. Para obter diferentes projeções de uma mesma fatia do corpo, o tubo de raios X e o detector realizavam um movimento retilíneo, sempre alinhados entre si em uma direção. Em seguida, tubo e detector giravam em torno do centro do objeto (paciente) e iniciavam nova varredura em outro ângulo. O processo era repetido em mais ângulos e os dados eram, então, manipulados por computador. O tempo de aquisição para cada corte era de 5 minutos, com tempo de processamento de dados de 20 minutos (MAMEDE, 2019). O primeiro equipamento era adaptado somente para a avaliação do crânio (WHITE; PHAROAH, 2015). 131 IMAGENOLOGIA Tubo de raios X Feixe em formato de lápis Detector Escaneamento da 2ª projeção Escaneamento da 1ª projeção Translação e rotação Translação Figura 75 – Esquema ilustrativo de um tomógrafo de primeira geração Adaptada de: https://bityli.com/CKyGJV8. Acesso em: 9 jul. 2021. Os equipamentos de segunda geração surgiram em 1974 e funcionavam de maneira semelhante, porém foram acrescentados mais detectores, em quantidade que variava entre 20 e 40. Os movimentos de translação e rotação eram semelhantes aos de equipamentos de primeira geração, mas com um número maior de detectores foi possível emitir feixes em formato de leque, possibilitando melhor aproveitamento da potência da radiação. Assim, o processo se tornou um pouco mais rápido, com duração da aquisição por volta de 20 segundos para cada corte (KALENDER, 2006; MOURÃO, 2015; MAMEDE, 2019). Tubo de raios X Feixe em leque estreito Arranjo de detectores Escaneamento da 2ª projeção Escaneamento da 1ª projeção Translação e rotação Translação Figura 76 – Esquema ilustrativo de um tomógrafo de segunda geração Adaptada de: https://bityli.com/rWHfB6O. Acesso em: 9 jul. 2021. 132 Unidade II Um dos desafios era aumentar a velocidade de aquisição das imagens. Isso foi possível com a eliminação do movimento de translação (KALENDER, 2006). Assim, entre 1975 e 1977, surgiram os equipamentos de terceira geração. O formato de feixe em leque foi mantido, porém a fileira de detectores teve seu formato reto modificado para a forma de um arco. O tubo de raios X e os detectores passaram a realizar um único movimento de rotação de 360º ao redor do paciente. Além disso, houve um aumento no número de detectores para 200 a 600, que permitiu ampliar o ângulo do feixe de radiação (entre 40º e 60º) e eliminar o movimento de translação. O tempo para aquisição de um corte levava, em média, de 1 a 10 segundos (MOURÃO, 2015). O formato dos detectores em arco ofereceu maior vantagem em relação à colimação do feixe e à redução do efeito da radiação espalhada (BUSHONG, 2013). Tubo de raios X Feixe em leque amplo Arranjo de detectores em forma de arco Rotação 360º Figura 77 – Esquema ilustrativo de um tomógrafo de terceira geração Adaptada de: https://bityli.com/vCvQnf2. Acesso em: 9 jul. 2021. Uma das desvantagens dos equipamentos de terceira geração era o aparecimento de artefatos em circunferência devido ao deslocamento dos detectores e a problemas de calibração entre um detector e outro. Em 1981, foram desenvolvidos os equipamentos de quarta geração, com a substituição do arco de detectores por detectores dispostos em um anel fixo. Assim, apenas o tubo de raios X realizava o movimento de rotação de 360º ao redor do paciente, emitindo um feixe em forma de leque. O tempo de aquisição de um corte era de 1 segundo. Para ter detectores fixos, houve um aumento em seu número, variando entre 1.000 e 2.000, o que elevou muito o custo. Devido ao alto custo desses equipamentos, houve preferência por manter o uso de equipamentos de terceira geração, na época (MOURÃO, 2015). 133 IMAGENOLOGIA Tubo de raios X Feixe em leque amplo Arranjo de detectores em anel estacinário (não se movimenta) Rotação do tubo apenas Figura 78 – Esquema ilustrativo de um tomógrafo de quarta geração Adaptada de: https://bityli.com/PMCKZYZ. Acesso em: 9 jul. 2021. Até então, o processo de aquisição se baseava em um método axial ou sequencial, ou seja, uma aquisição corte a corte. Nesse tipo de aquisição, as imagens de uma fatia do objeto no plano transversal são obtidas a partir de um giro de 360º do feixe de raios X em torno de um ponto central com a mesa estática ou estacionária. Para obter dados de outra fatia do corpo, a mesa se movimenta através do gantry e, então, para. Em seguida, o tubo e os detectores no interior do gantry realizam uma rotação de 360º em torno do paciente. Esse processo se repete até finalizar a aquisição de todos os cortes sucessivos de uma região do corpo, o que permite a observação e o diagnóstico. A mesa se movimenta através do gantry, mas permanece parada durante a rotação do tubo Eixo z (longitudinal ao paciente) Detector Tubo de raios X 3º3º 2º2º 1º1º Gantry Figura 79 – Esquema de aquisição sequencial. As faixas verdes representam a aquisição de cortes (primeiro corte, segundo corte, terceiro corte, e assim por diante) Durante a maior parte da década de 1980, não houve muitas inovações na tomografia, e, com o surgimento da RM, acreditava-se que a tomografia deixaria de existir. Contudo, por volta de 1990, surgiram novas tecnologias que consolidaram o uso da TC no diagnósticopor imagem (KALENDER, 2006). 134 Unidade II Atualmente, os aparelhos de tomografia disponíveis utilizam a estrutura básica de um equipamento de terceira geração, ou seja, possuem um sistema emissor de raios X (com feixe em leque) que gira concomitantemente com um arco de detectores disposto no lado diametralmente oposto, em torno do paciente. Uma das vantagens dessa estrutura é a necessidade de um menor número de detectores comparado aos equipamentos de quarta geração. Além disso, houve uma evolução tecnológica que possibilitou a redução do desalinhamento entre tubo e arco de detectores, que poderia gerar artefatos nas imagens, uma das desvantagens dos equipamentos de terceira geração. Uma das principais inovações foi a incorporação de um dispositivo mecânico, os anéis deslizantes (em inglês, slip rings), introduzidos em 1989. O tubo de raios X necessita de um cabo de alimentação com alta tensão para transferir a energia elétrica necessária à produção de raios X. Porém o comprimento do cabo limitava a aquisição de dados ininterrupta, sendo necessário parar completamente a rotação do tubo após um giro de 360º e, então, retornar 360º para realizar uma nova aquisição, de outra fatia do corpo. Com a tecnologia dos anéis deslizantes, a transferência de energia elétrica para uma fonte rotativa possibilitou a rotação contínua do tubo de raios X e o movimento contínuo da mesa sem necessidade de parar durante a aquisição de dados. Assim, esse dispositivo deu origem a um novo tipo de aquisição denominada helicoidal (BUSHONG, 2013; MAMEDE, 2019). Na aquisição helicoidal, a mesa se movimenta sem interrupções através do gantry, enquanto o tubo de raios X e os detectores realizam um movimento contínuo circular de 360º. A resultante dos movimentos é equivalente a uma hélice ou trajetória helicoidal. Alguns autores utilizam o termo espiral, porém a forma geométrica que mais se assemelha ao movimento é a de hélice (BUSHONG, 2013). Também pode ser chamada aquisição volumétrica, por adquirir dados de atenuação ao longo de todo o comprimento da região anatômica de interesse, e, portanto, fornecer informações volumétricas. Por sua vez, os dados volumétricos são importantes para formar imagens mais fidedignas nas MPR, como cortes coronais, sagitais, oblíquos e tridimensionais (BONTRAGER; LAMPIGNANO, 2015). Trajetória da rotação contínua do tubo de raios X relativa ao paciente Direção do deslocamento contínuo do paciente Distância avançada pela mesa durante uma rotação Figura 80 – Esquema ilustrativo da aquisição helicoidal Adaptada de: https://bityli.com/hALasvH. Acesso em: 9 jul. 2021. 135 IMAGENOLOGIA Observação Na aquisição helicoidal, o tubo de raios X e os detectores realizam um movimento circular contínuo de 360º e, ao mesmo tempo, ocorre um deslocamento horizontal da mesa, em velocidade constante, através do gantry. Outra tecnologia de destaque foi a incorporação de múltiplas fileiras de detectores em equipamentos baseados na plataforma de terceira geração. Os equipamentos com essa tecnologia são chamados tomógrafos multidetectores e recebem outras nomenclaturas, como multicortes, multifileiras e, do inglês, multislice. O arco de detectores possui várias fileiras ou canais e o feixe de radiação aplicado é um pouco menos fino, o que possibilita adquirir dados de diversas fatias simultaneamente durante uma única rotação do tubo. Em 1992, surgiu o primeiro tomógrafo multidetector com duas fileiras de detectores, ou seja, era possível adquirir dados de duas fatias do corpo ao mesmo tempo. Em 1998, teve início a comercialização dos primeiros tomógrafos multidetectores com quatro fileiras de detectores. Em 2002, o número aumentou para 16 fileiras de detectores. Atualmente, a maior parte dos centros clínicos possuem equipamentos com 64 ou 128 canais adjacentes. Há, inclusive, tomógrafos capazes de adquirir 320 cortes por rotação do tubo de raios X (BONTRAGER; LAMPIGNANO, 2015; FERNANDES; CURY, 2015). Corte escaneado Eixo Z Eixo ZB)A) Figura 81 – Arcos detectores: A) única fileira ou single slice (única fatia), isto é, adquire um corte por rotação do tubo; B) multidetectores (multislice) com quatro fileiras, ou seja, permite adquirir quatro fatias por rotação do tubo Adaptada de: Goldman (2008). 136 Unidade II A associação entre a tecnologia dos equipamentos helicoidais e a incorporação das múltiplas fileiras de detectores trouxe inúmeras vantagens à TC. Uma das desvantagens dos equipamentos helicoidais single slice é o superaquecimento do tubo de raios X, que inviabiliza varreduras de grande extensão, como abdome-pelve, e aquisição de cortes mais finos, como de 3 mm, necessários nas MPR (GOLDMAN, 2008). Nos tomógrafos multidetectores, há menor aquecimento do tubo devido ao maior aproveitamento do feixe de radiação, ao menor número de rotações no tubo e à possibilidade de redução da corrente (mA). Outras vantagens dos multidetectores são a diminuição do tempo de varredura e menos artefatos causados por movimento. Os movimentos voluntários do paciente podem ser controlados através de orientação antes do exame e com a utilização de acessórios de posicionamento para maior conforto. Quanto menos tempo o paciente permanecer na mesa de exames, menor a possibilidade de se movimentar. O corpo humano ainda realiza movimentos involuntários, como os batimentos cardíacos e o peristaltismo, que podem gerar artefatos nas imagens. A respiração, embora automática e involuntária, pode ter sua frequência controlada voluntariamente até certo limite. A varredura na região do tórax exige menor tempo de exame por causa dos batimentos cardíacos e dos movimentos respiratórios. Com a redução no tempo de varredura, um número maior de imagens dos cortes é obtido em uma única apneia. A velocidade maior no exame diminui os artefatos gerados por peristaltismo (GEBRIN, 2004; BONTRAGER; LAMPIGNANO, 2015). O melhor aproveitamento do feixe de radiação possibilita, ainda, a obtenção de cortes finos, inclusive de espessura submilimétrica. Alguns exames necessitam de cortes finos para melhor visualização de detalhes e de estruturas pequenas, como, por exemplo, da orelha interna. Além disso, cortes finos permitem a obtenção de um número maior de dados no eixo longitudinal do paciente, chamado eixo z. Essa propriedade proporciona maior resolução espacial nas MPR e, consequentemente, maior qualidade das imagens em planos além do transversal, como os planos coronal, sagital e oblíquo, bem como reconstruções tridimensionais (BONTRAGER; LAMPIGNANO, 2015). As vantagens da tomografia multislice foram importantes em várias aplicações da TC, como pesquisa oncológica ou trauma e análise de lesões focais nos pulmões e fígado. Contudo, o maior impacto foi na angiotomografia e nas imagens cardíacas (KOPP et al., 2000). Uma avaliação adequada do coração por TC só foi possível após a introdução da TC multislice, devido à alta resolução e redução de artefatos causados por movimento, além de fornecer dados de calcificação de coronárias de forma não invasiva (KOPP et al., 2000). Ademais, a associação dos dispositivos helicoidais e dos multidetectores na TC foi essencial para a angiotomografia, isto é, exames de TC que avaliam o sistema circulatório. O menor tempo de varredura e aquisição simultânea de vários cortes permite que sejam realizadas angiotomografias de áreas extensas. Por exemplo, o mapeamento de artérias e veias em um segmento corporal de grande extensão como o abdome é importante na avaliação de vasos sanguíneos que nutrem tumores e também para o planejamento pré-cirúrgico (GEBRIN, 2004; BONTRAGER; LAMPIGNANO, 2015). 137 IMAGENOLOGIA No que diz respeito à avaliação de perfusão miocárdica por TC, os tomógrafos multislice possibilitaram, ainda, a redução da quantidade de meio de contraste. Os meios de contraste podem causar algumas reações adversas associadas ao maior volume administrado por via intravascular (IV). Um menor volume de contrastepode reduzir a ocorrência de efeitos indesejados. Além do mais, os tomógrafos multislice possibilitaram a redução de dose de radiação. A dose média de radiação em um exame cardíaco em tomógrafo com 320 fileiras de detectores é de 5,4 mSv, enquanto em um tomógrafo de 64 fileiras pode chegar a 16,8 mSv (FERNANDES; CURY, 2015). Portanto podemos resumir as vantagens do uso de tomógrafos multidetectores em: • menor aquecimento do tubo de raios X; • possibilidade de redução na dose de radiação; • menor tempo de varredura; • menor tempo de permanência do paciente na mesa de exames; • redução de artefatos de peristaltismo; • equipamentos multidetectores associados à aquisição helicoidal possibilitam reconstruções multiplanares mais fidedignas e obtenção de várias secções em uma única apneia, fundamentais em exames de tórax e cardíacos; • obtenção de cortes finos e melhor resolução espacial; • foi fundamental para o desenvolvimento da angiotomografia; • redução da dose de meio de contraste. 5.4 Fatores técnicos Os exames de TC possuem protocolos com parâmetros específicos para aquisição das imagens dependendo da região do corpo, do órgão ou das características do paciente (pediátrico, adulto, entre outros). Esses parâmetros, também chamados fatores técnicos, influenciam na qualidade da imagem, no tempo de exame e na dose de radiação. Geralmente, esses protocolos ficam armazenados no software a partir da instalação no serviço, e o executor seleciona o protocolo adequado para o exame (MAMEDE, 2019). 5.4.1 Tensão, corrente e tempo de rotação O tubo de raios X necessita de uma tensão na ordem de kV para a produção da radiação. Geralmente, os tomógrafos operam em quatro níveis de tensão, que podem variar de 80 kV a 140 kV, dependendo do fabricante. Por exemplo, nesse caso, haveria quatro opções de kV para os protocolos: 80 kV, 100 kV, 138 Unidade II 120 kV e 140 kV. Valores mais altos de kV são necessários em regiões do corpo com maior densidade ou espessura, tais como crânio e abdome, cujos protocolos incluem, normalmente, tensão de 120 kV. Já para regiões menos espessas, como membros, pode-se aplicar uma tensão de 80 kV (MAMEDE, 2019). A corrente no tubo, medida em miliamperagem (mA), determina a quantidade de elétrons que se deslocam do cátodo ao ânodo. Enquanto a tensão determina a qualidade do feixe de radiação, a corrente está relacionada à quantidade de radiação, ou seja, o fluxo de fótons que incidem sobre o paciente. O nível de fluxo ou intensidade da radiação depende de muitos fatores, como as características dos tecidos (espessura e densidade) e a velocidade de rotação do tubo (MAMEDE, 2019). Assim, deve-se variar a corrente em mA, conforme o tamanho do paciente e/ou a parte do corpo a ser escaneada. Protocolos de crânio e abdome geralmente possuem valores mais altos de mA, enquanto protocolos de tórax apresentam valores menores. Equipamentos modernos possuem controle automático de exposição (AEC, do inglês, automatic exposure control), que modula a corrente (mA) conforme a espessura da fatia irradiada. Esse dispositivo pode ser usado para reduzir a exposição do paciente à radiação. Além disso, deve-se ter atenção ao tamanho do paciente. Para adquirir imagens com qualidade de indivíduos com elevado IMC, normalmente é necessário aumentar kV e mA. No caso de protocolos pediátricos, depende da idade da criança, peso e altura, mas, de maneira geral, os valores de kV e mA são os mais baixos possível. O tempo de rotação (no inglês, rot time) é definido como o tempo que o tubo leva para dar uma volta completa no gantry ao redor do paciente. Alguns aparelhos possuem tempo mínimo de 0,5 s ou até menos. Tempos curtos são importantes em exames cardíacos e de tórax, para reduzir os artefatos causados pelo movimento dessa região. O tempo de varredura de um segmento corporal pode variar em função do tempo de rotação, que quanto menor, menor o tempo de varredura. A corrente total no tubo (mAs) também é influenciada pelo tempo de rotação, devido ao fluxo de fótons que atingem os detectores. Ao aumentar o tempo de rotação, diminui-se o fluxo de fótons nos detectores. Para manter o tempo curto e o fluxo de fótons que chegam aos detectores, pode-se aumentar a corrente (MAMEDE, 2019). 5.4.2 Espessura e incremento A espessura do feixe de radiação está relacionada ao tamanho ou à espessura do corte, que quanto menor, mais detalhes podem ser observados. Em geral, reduzir a espessura de corte exige o aumento da corrente total no tubo (mAs) para reduzir o ruído, implicando um aumento de dose de radiação. A medida de espessura nos exames varia normalmente entre 1 mm e 10 mm, mas os aparelhos podem chegar até a espessura mínima de 0,5 mm (MAMEDE, 2019). Nos tomógrafos multislice, a espessura é definida como o produto entre a espessura de corte pelo número de fileiras. Em um aparelho de 64 canais, são obtidos, simultaneamente, 64 cortes. Caso cada fatia seja definida com 1 mm de espessura, a espessura do feixe de radiação será de 64 mm. Se a espessura da fatia for de 0,5 mm, a espessura do feixe será de 32 mm. Quanto mais fina a espessura da 139 IMAGENOLOGIA fatia, mais tempo levará para fazer a varredura de toda a região de interesse, pois será necessário um número maior de imagens (MAMEDE, 2019). O incremento, também chamado passo do tubo, é a distância entre um corte e outro na varredura. Nos equipamentos helicoidais, o incremento é o deslocamento da mesa quando o tubo dá a volta completa ao redor do paciente. Para um bom diagnóstico, nem sempre é necessário obter dados de todas as fatias adjacentes. Se na varredura de um segmento de 20 cm de comprimento, optar-se por adquirir fatias de 1 mm, podem ser geradas até 200 imagens. No entanto, caso seja utilizado um incremento de 1 mm, o número de imagens será reduzido para 100. Incremento Espessura Figura 82 – Espessura e incremento na aquisição sequencial e helicoidal 5.4.3 Pitch O pitch é definido como a relação entre velocidade de deslocamento da mesa (medida em milímetros por segundo) e a colimação do corte (medida em milímetros) em uma volta completa ao redor do paciente. Esse parâmetro tem importância na aquisição helicoidal. Pode-se representar o pitch pela seguinte equação: Pitch Deslocamento da mesa por rota Co a de um cor = ção çãolim tte (12) Na aquisição single slice (única fileira ou canal), a colimação de um corte determina a espessura do feixe e é igual à espessura da fatia a ser irradiada. Na aquisição multislice, a colimação do corte ou espessura do feixe é dada pela multiplicação da espessura da fatia pelo número de canais/fileiras que estão sendo utilizados. 140 Unidade II Em TC single slice, caso a colimação do feixe seja de 5 mm e a mesa se movimentar 5 mm por rotação, o valor de pitch será: Pitch mm mm = = 5 5 1 (13) Em TC multislice, caso a colimação do feixe seja de 5 mm, o número de canais utilizados seja 4 e a mesa se movimentar 20 mm (4 mm × 5 mm), o pitch será: Pitch mm mm mm mm mm � � � � 4 5 5 20 5 4 (14) Observação O pitch é um importante parâmetro nas aquisições helicoidais e está relacionado à dose de radiação. Para determinado volume corporal, quanto maior o pitch, menor o tempo de exame e a aquisição será mais rápida. Se houver aumento de pitch sem alteração na corrente do tubo (mA), a dose de radiação será menor, mas poderá diminuir a resolução espacial. 5.4.4 Pixel, matriz e campo de visão (FOV) Na TC, os dados obtidos das projeções são reconstruídos para produzir imagens digitais, formadas por matriz, que é um arranjo de linhas e colunas compostas de pixels. O pixel, um elemento de área ou bidimensional, é o menor ponto da matriz e está relacionado à visualização na tela do monitor. A espessura de corte ou do canal determina uma dimensão de volume para o pixel chamada voxel, um elemento 3D obtido durante a aquisição dos dados. O computador calcula as densidades ou valores de atenuação em cada unidade de voxel.Como esses valores 3D ficam armazenados na memória do computador, é possível reconstruir a imagem para qualquer plano desejado, como coronal ou sagital. Os planos axiais são os mais utilizados. Importante notar que os pixels não representam apenas a anatomia em 2D, mas contêm dados sobre a atenuação. A quantidade de pixels está relacionada à resolução da imagem. Quanto maior a quantidade de pixels, melhor a resolução espacial e mais detalhes na imagem. Se o número de pixels for maior, haverá maior quantidade de linhas e colunas na matriz e o tamanho do pixel será menor. Para uma imagem padrão, utiliza-se matriz de 512 × 512 pixels. Para imagens com maior detalhamento ou de alta resolução, pode-se utilizar matriz de 1.024 × 1.024 pixels, como no caso de algumas imagens de pulmões. Quanto maior a matriz, maior o tempo de processamento e maior o espaço ocupado no armazenamento das imagens (MAMEDE, 2019). 141 IMAGENOLOGIA Observação Importante notar que a resolução espacial será maior se houver um número maior de pixels na matriz e, portanto, o tamanho do pixel será menor. Um pixel com maior tamanho implica menor número de pixels na matriz e, portanto, a resolução será menor. Outro parâmetro de dimensão é o campo de visão (field of view – FOV). O FOV focado permite melhor visualização de talhes da região de interesse. A ampliação de uma parte da imagem por zoom apenas aumenta o tamanho do pixel, com diminuição da resolução espacial. FOVs menores devem ser utilizados, por exemplo, em um exame de ouvido, que requer detalhes. Tamanho do FOV = 35 mm Espessura de corte Pixel Voxel 512 512 Matriz 512 × 512 Zoom Com zoom, pixel aumenta de tamanho Figura 83 – Esquema ilustrativo de matrizes voxel, pixel, FOV e zoom 5.4.5 Escala de Hounsfield No início deste livro-texto, vimos que as imagens de TC são apresentadas em tons de cinza. Mas por que são atribuídas tonalidades de cinza às diferentes estruturas anatômicas? Na TC, a imagem possui pixels com valores de atenuação calculados pelo computador. Os valores numéricos dos coeficientes de atenuação são definidos em uma escala de cinza proporcionais à densidade das estruturas, denominada escala de Hounsfield. Esses valores também são chamados unidades de Hounsfield (do inglês, Hounsfield units – HU), em homenagem a Sir Godfrey Hounsfield. Nessa escala, o valor zero é atribuído à água. Uma estrutura menos densa será mais radiotransparente e uma estrutura mais densa será mais radiopaca. Os valores negativos correspondem a estruturas ou tecidos com densidade menor que a água, como gordura e ar. Valores positivos estão associados a estruturas com densidade maior que a água, como sangue, músculos e ossos. O menor valor na escala é –1.000 HU, atribuído ao ar. 142 Unidade II Quadro 10 – Valores da escala de Hounsfield e aspecto das estruturas na imagem Tecido ou substância Valores em unidades de Hounsfield Aspecto na imagem Meio de contraste +100 a +1.000 Branco Ossos +130 a +1.000 Branco Fígado +50 a +85 Cinza-claro Músculos +40 a +60 Cinza-claro Substância branca +45 Cinza-claro Substância cinzenta +40 Cinza Sangue coagulado +80 Cinza Sangue normal +35 a +55 Cinza Líquido cefalorraquidiano +15 Cinza Água 0 Cinza-escuro Gordura –110 a –65 Cinza-escuro a preto Pulmões –900 a –400 Cinza-escuro a preto Ar –1.000 Preto Adaptado de: Bontrager e Lampignano (2015, p. 701); Funari et al. (2013, p. 110). Nas imagens de TC, há 256 tons de cinza, do preto ao branco, cujas variações são imperceptíveis ao olho humano, mas são detectadas pelo computador. Dependendo da região, pode-se ajustar determinados parâmetros para privilegiar o contraste do órgão a ser analisado (MAMEDE, 2019). As janelas são ajustes na imagem para discriminar estruturas na escala de cinza e incluem dois fatores: o nível da janela (window level – WL) e a largura da janela (window width – WW). O WL é o ponto central de uma faixa de valores de HU selecionada e WW é a faixa de valores HU ao longo da qual a faixa de cor de cinza será exibida. Por exemplo, na região do tórax, poderiam ser utilizadas diferentes janelas, dependendo dos tecidos em análise (BRANT; HELMS, 2015): • Janela para pulmões: o parênquima pulmonar é mais bem visualizado em uma janela para pulmões. Nessa janela, o WL pode ser entre –600 HU e –500 HU, e a WW, de 1.000 HU. • Janela para tecidos moles: para diferenciar tecidos moles, pode-se utilizar uma janela com WL entre +20 HU e +40 HU e WW de 400 HU a 500 HU. Janelas estreitas são indicadas para a detecção de lesões sutis no fígado e no baço, por exemplo. • Janela para tecidos ósseos: os ossos possuem densidade maior e, portanto, pode-se utilizar uma janela com WL de +400 HU a +600 HU e WW de 2.000 HU. Abaixo do limite inferior da janela, as estruturas são visualizadas como preto, e acima do limite superior da janela, as estruturas são visualizadas como branco. Por exemplo, supondo que em uma janela para pulmões o WL é de –500 HU e a WW é de 1.000 HU, o valor central será –500 HU, o limite inferior na janela será –1.000 HU e o valor superior será 0 HU. Qualquer valor acima de 0 HU será 143 IMAGENOLOGIA visualizado como branco. Supondo uma janela para tecidos moles, cujo WL é 0 HU e WW é 400 HU, significa que o valor central é 0 HU, o limite inferior é –200 HU e o limite máximo é +200 HU. Valores inferiores a –200 HU serão visualizados como preto na imagem e valores acima de +200 HU serão visualizados como branco na imagem. Por exemplo, observe na figura a seguir como, em janela para tecidos moles, o osso (vértebra) aparece totalmente branco, mas na janela para tecidos ósseos apenas o osso cortical é mais branco, por ser mais denso do que o esponjoso no interior da vértebra. A metástase pulmonar causou uma alteração na densidade da vértebra, apenas possível de visualizar na janela para tecidos ósseos. A) B) Figura 84 – A) A janela de tecidos moles mostra a vértebra torácica branca, sem alterações; B) a janela para tecido ósseo mostra alteração na vértebra devido à metástase de carcinoma pulmonar Adaptada de: Brant e Helms (2015, p. 5). A figura a seguir (A), mostra uma janela para parênquima pulmonar, em que é possível visualizar os vasos sanguíneos na irrigação do pulmão. Por outro lado, na janela para tecidos moles esse detalhe é perdido (B). A) B) Figura 85 – A) Janela para parênquima pulmonar em TC de tórax; B) janela para mediastino Fonte: Marchiori e Santos (2015, p. 13). 144 Unidade II As imagens digitais armazenadas no sistema PACS possibilita ao operador manipular diversos fatores que facilitam a visualização (brilho e contraste), bem como realizar medidas de atenuação e obtenção dos valores de HU, criar reconstruções de imagens em diversos planos, além de imagens 3D (BRANT; HELMS, 2015). Lembrete Você se lembra da orientação das imagens, assunto anterior deste livro-texto? As imagens em cortes axiais e coronais na TC são apresentadas de forma que o lado direito do paciente fica no lado esquerdo da imagem. 5.5 Artefatos Artefatos são objetos que aparecem na imagem que, na verdade, não existem, causando sua degradação (MOURÃO, 2015). Podem ocorrer devido à distorção em tamanho, forma ou posição e, como consequência, a reprodução da imagem não ocorre de maneira confiável, levando a erros no diagnóstico (MOURÃO, 2015; BARRETT; KEAT, 2004). É importante que o biomédico conheça os principais artefatos para evitar erros na realização do exame ou mesmo para melhorar as condições da imagem. Os artefatos de estria ocorrem na presença de um objeto metálico ou de alta densidade pontiagudo, devido a uma limitação dos algoritmos de reconstrução que não são capazes de manipular dados de densidades com diferença extrema (BRANT; HELMS, 2015). Uma maneira de reduzir a possibilidade de ocorrência desse artefato na imagem é orientar o paciente a retirar objetos metálicos do corpo, como adornos (brincos, colares, relógios, piercings etc). Alguns pacientes possuem objetosmetálicos fixos, como clipes vasculares ou stents, obturações dentárias ou aparelhos ortodônticos fixos. Em alguns casos, é possível ajustar a angulação do gantry para reduzir o efeito e aplicar softwares de correção, mas nem sempre é possível extinguir completamente o artefato. Os artefatos de movimento ocorrem devido à mudança de posição de estruturas durante a aquisição. Podem apresentar-se como uma imagem borrada ou duplicada, ou faixas entre uma região de baixa densidade e outra de alta densidade (BRANT; HELMS, 2015). Para evitar movimentos voluntários, deve-se utilizar suportes de posicionamento e imobilização, além de orientar o paciente antes da aquisição sobre a importância de se manter imóvel. Outra recomendação é iniciar a varredura na posição mais suscetível à movimentação. No caso de movimentos involuntários, como batimentos cardíacos, peristaltismo e respiração, recomendam-se tempos curtos de exame. Em alguns casos, é possível administrar betabloqueador por via endovenosa ou oral para diminuir a frequência cardíaca. Além disso, há softwares de correção de movimento que podem reduzir o efeito. O artefato de endurecimento de feixe resulta de uma maior atenuação dos fótons de raios X de baixa energia, produzindo listras escuras na imagem (BRANT; HELMS, 2015). Pode ocorrer devido ao posicionamento do paciente. Por exemplo, em exames de tórax ou abdome, o paciente é posicionado com os braços “para cima”, em direção à cabeça, para não causar maior atenuação das estruturas no segmento de interesse. Porém nem sempre é possível fazer essa movimentação e 145 IMAGENOLOGIA os braços devem ser mantidos na lateral do corpo devido a alguma lesão no paciente ou em casos de pacientes politraumatizados. A) B) C) Figura 86 – A) Artefatos em estrias (setas amarelas) pela presença de objetos metálicos (projéteis de arma de fogo); B) artefato por movimento (seta), simulando hematoma no baço; C) artefato de endurecimento de feixe (setas) causado pelo posicionamento dos braços na lateral do corpo em paciente com lesão que impossibilita a mobilidade Adaptada de: Brant e Helms (2015, p. 7). 5.6 Pós-processamento de imagens em TC A evolução dos tomógrafos teve que ser acompanhada por técnicas mais sofisticadas no pós-processamento de imagens. Devido à grande quantidade de imagens e dados, o pós-processamento é feito em workstations com softwares específicos (FUNARI et al., 2013). As técnicas de pós-processamento dependem da obtenção de cortes finos (espessuras de até 1 mm) e incremento 30% menor que a espessura utilizada para não criar artefatos e garantir boa qualidade nas reconstruções. Nas angiotomografias, deve-se respeitar a dose adequada de contraste endovenoso e o tempo de fluxo de injeção (velocidade) para gerar opacidade adequada dos vasos (FUNARI et al., 2013). As principais técnicas de pós-processamento em TC são: MPR, projeções de maior intensidade (maximum intensity projection – MIP), reconstrução tridimensional (volume rendering – VR) e projeção de mínima intensidade (minimum intensity projection – MINIP). 146 Unidade II A técnica de MPR consiste em reformatar as imagens em diferentes orientações de planos. Na maior parte dos exames, a aquisição é feita no plano axial e, em alguns casos, no plano coronal (crânio, pés e mãos). A MPR consiste em realizar reconstruções nos mais diversos planos, importante para o radiologista e o médico do paciente, sendo uma das técnicas de pós-processamento mais utilizada. Além dos planos coronal e sagital, podem ser obtidos planos oblíquos para demonstrar estruturas, como corpos vertebrais e planos curvos, para demonstrar estruturas tortuosas, como vasos sanguíneos. Além disso, é possível visualizar a luz de uma veia ou artéria em seu maior eixo (FUNARI et al., 2013). As técnicas MIP e MINIP consistem em aplicar a atenuação de intensidade às estruturas para tornar mais preciso o diagnóstico. A MINIP é utilizada para estruturas que contenham gás no interior, muito utilizada em tomografias de tórax para localizar nódulos ou enfisema e em colonoscopia virtual (colonografia tomográfica). A MIP mostra os locais de maior intensidade na imagem, como vasos sanguíneos realçados com meio de contraste, estruturas calcificadas, ossos e objetos metálicos (FUNARI et al., 2013). Figura 87 – Colonoscopia virtual, também chamada colonografia tomográfica Fonte: Bontrager e Lampignano (2015, p. 709). As reconstruções 3D ou VR são utilizadas para evidenciar uma lesão e os contornos anatômicos, além de apresentar as estruturas em diferentes dimensões (altura, profundidade e largura), importantes para um planejamento cirúrgico. É possível renderizar estruturas sólidas como ossos, músculo, tendões, ligamentos, próteses, implantes e tumores, e estruturas contrastadas, como veias e artérias (FUNARI et al., 2013). 147 IMAGENOLOGIA Figura 88 – Imagem tridimensional da aorta abdominal e seus ramos por TC de paciente com aterosclerose e aneurisma na aorta abdominal. O meio de contraste possibilita selecionar estruturas com valores altos na escala de Hounsfield e remover estruturas com valores abaixo de determinado limiar. A imagem 3D é montada a partir de algoritmos computacionais Fonte: Brant e Helms (2015, p. 6). O objetivo para o emprego dessas técnicas é mostrar o interior do corpo de maneira não invasiva, sem necessidade de cirurgia. Assim, é necessário que o profissional imagenologista tenha bastante conhecimento em anatomia e patologia do corpo humano, além de aperfeiçoamento no manuseio de softwares e hardwares (FUNARI et al., 2013). 5.7 Meios de contraste em TC O meio de contraste é uma substância utilizada nos exames de diagnóstico por imagem para melhorar a definição das imagens obtidas. Os agentes de contraste podem ajudar na detecção de doenças precoces com maior precisão e fornecer informações diagnósticas relevantes. Assim, desempenham um papel importante para guiar, monitorar e seguir o tratamento. Embora a TC seja conhecida por ser ótima em demonstrar a morfologia, também é possível realizar análises funcionais com meio de contraste. O meio de contraste é injetado em alta velocidade (3-5 mL/segundo) por bomba automática. Em seguida, são obtidas imagens do mesmo plano, acompanhando a passagem do contraste durante um período. 148 Unidade II Na necessidade do uso do meio de contraste, o paciente deve ser informado dos riscos e efeitos adversos. Recomenda-se preencher um questionário específico como medida de segurança e obter concordância do paciente ou responsável por meio de assinatura de um termo (NÓBREGA, 2012a). A principal desvantagem dos meios de contraste é o risco de reações adversas. De acordo com a etiologia, as reações podem classificadas em idiossincráticas ou não idiossincráticas. As reações idiossincráticas são reações anafilactoides, semelhantes às reações de hipersensibilidade ou alérgicas, e não estão associadas às propriedades químicas da molécula do contraste. Já as reações não idiossincráticas ou quimiotóxicas estão associadas às propriedades químicas do contraste, como hiperosmolalidade, concentração de iodo na solução, maior fluxo de injeção e dose administrada (volume/massa corporal). Há algumas manifestações características, porém nem todas distinguem a causa da reação e podem ocorrer concomitantemente. As reações podem ser, ainda, agudas, quando se manifestarem até 30 minutos após a administração do contraste, ou tardias, se ocorrerem após 30 minutos da administração ou dias depois (JUCHEM et al., 2004). Na TC, a administração do meio de contraste pode ser por diferentes vias, a depender da hipótese diagnóstica. As vias de administração nos exames de tomografia são IV, oral ou retal. Quanto à via IV, a maior parte dos exames é feita por acesso venoso periférico, enquanto a via arterial só é realizada em alguns casos específicos. A administração por via IV pode ser feita manualmente ou por uma bomba injetora com sistema computadorizado(FUNARI et al., 2013). Os meios de contraste iodado podem ser classificados de acordo com sua osmolalidade em: iônicos, não iônicos e isosmolar, conforme mostrado na figura a seguir. Quando se trata da via IV, a propriedade da osmolalidade é de suma importância, pois está relacionada ao risco de reações adversas. A diferença de osmolalidade do meio de contraste e do plasma sanguíneo favorece a saída de fluidos do interstício para o interior do vaso. Os meios de contraste iônicos são de alta osmolalidade, cerca de 6 a 8 vezes maior que o plasma, e possuem maior risco de causar reações adversas. Os meios de contraste não iônicos possuem baixa osmolalidade, cerca de 2 a 3 vezes maior que o plasma, e possuem menor risco de causar reação adversa. Já o contraste isosmolar (não iônico com maior concentração de iodo por molécula) possui osmolalidade similar à do plasma com menor risco de reação adversa, porém possui maior viscosidade, o que dificulta a injeção. A viscosidade é definida como a força que deve ser exercida para que uma substância passe por um cateter. O aumento da temperatura diminui a viscosidade e, portanto, a administração de meios de contraste com alta viscosidade deve ser feita imediatamente após o aquecimento. A diminuição na concentração de iodo pode reduzir a viscosidade, mas também pode resultar em opacificação inadequada (NÓBREGA, 2012a; MAMEDE, 2019). 149 IMAGENOLOGIA Ditrizoato de sódio Contraste iodado iônico Iopamidol Contraste iodado não iônico Iodixanol Contraste iodado isosmolar A) B) C) Figura 89 – Estrutura molecular de contrastes iodado iônico, não iônico e isosmolar Adaptada de: A) https://bit.ly/3GgqyWy; B) https://bit.ly/3JXwBS7; C) https://bit.ly/3f5z8f7. Acesso em: 19 nov. 2021. O contraste IV é utilizado para o realce e a diferenciação das estruturas vasculares e para aumentar o contraste entre as estruturas parenquimatosas, dependendo de sua vascularização (figura a seguir). Além disso, permite diferenciar estruturas vascularizadas, hipovascularizadas e avascularizadas. O uso do contraste iodado não iônico por essa via vem progressivamente aumentando devido à diminuição na prevalência de reações adversas em comparação com o iônico. 150 Unidade II A) B) Figura 90 – TC de metástase cerebral: A) sem meio de contraste (a, b, c indicam a presença de lesões); B) após administração do meio de contraste endovenoso, as lesões foram realçadas (setas) Fonte: Henwood (2003, p. 19). No caso da via IV, o controle do tempo é fundamental para o exame. Por exemplo, no abdome, decorridos 30 segundos da injeção endovenosa, o contraste irá circular predominantemente no sistema arterial (fase arterial). Após cerca de 70 segundos a partir da administração, o contraste circulará no sistema portal (fase portal). Assim, os protocolos normalmente indicam tempos fixos para iniciar varreduras em diferentes fases da circulação do contraste em determinado segmento corporal. Atualmente, os tomógrafos possuem um sistema que permite desenhar uma seleção de região de interesse (ROI) no vaso e detectar a chegada do contraste por meio de alteração no valor de HU previamente determinada. As imagens são adquiridas automaticamente após a chegada do contraste no vaso. Essa técnica é denominada bolus tracking, smartprep ou prepmonitoring. É utilizada, principalmente, em angiotomografia e apresenta melhor qualidade nas imagens contrastadas. As vias oral e retal são utilizadas em estudos do sistema digestório. Em geral, no próprio serviço de tomografia, o paciente deve ingerir 1 L a 1,5 L de contraste via oral 1 hora antes do exame de tomografia do abdome. Como preparo, o paciente deve realizar jejum de 6 horas, esvaziar a bexiga antes de receber o contraste via oral e não urinar mais. O contraste retal é administrado na própria sala de exames, com volume de 0,25 L a 0,5 L. Em exames de tomografia, utiliza-se apenas meio de contraste iodado na via IV. No entanto, para as vias oral e retal há diferentes tipos de meio de contraste, como contrastes positivos e negativos ou neutros. Os contrastes positivos podem ser à base de iodo ou bário, enquanto os contrastes negativos podem ser água, soluções de manitol ou polietilenoglicol. Com os equipamentos multislice, reduziu-se a necessidade do meio de contraste via oral, utilizando-se, normalmente, água para distender as alças intestinais. Porém o contraste positivo é importante para avaliação do intestino grosso. Em alguns casos, 151 IMAGENOLOGIA a solução de iodo é utilizada também para avaliação do intestino delgado, por exemplo, em casos de fístulas em complicações pós-operatórias e em casos de pacientes com baixo IMC (menor que 21) ou crianças, devido à menor quantidade de tecido adiposo de fundo, que, consequentemente, torna mais difícil a diferenciação das estruturas ali contidas. O ar, como meio de contraste negativo, é administrado por via retal em exames de colonoscopia virtual por TC. A figura a seguir demonstra a diferença de meios de contraste em uma imagem de um exame de abdome-pelve normal de uma mulher. Observe a região com contraste iodado e outra região que contém ar e compare com os tons de cinza das estruturas ao redor. Figura 91 – Corte axial de TC de uma paciente na altura da crista ilíaca. Observa-se a presença de ar e contraste iodado no intestino delgado Fonte: Henwood (2003, p. 101). Observação O meio de contraste iodado é o mais utilizado em TC devido às suas características farmacocinéticas: é hidrofílico, 99% é eliminado por via renal sem reabsorção tubular e 98% é eliminado em 24 horas. Na via IV, a preferência tem sido por meios de contraste iodado não iônicos; nas vias oral e retal, por serem mais seguras, utiliza-se contraste iônico diluído em água ou em soro fisiológico. Como mencionado anteriormente, a desvantagem no uso do meio de contraste iodado é a manifestação de efeitos adversos, mais frequentes quando se utiliza meios de contraste iônicos. Os fatores de risco são: 152 Unidade II • histórico de reações prévias ao meio de contraste iodado; • histórico de múltiplas reações alérgicas; • asma; • diabetes; • mieloma múltiplo; • doenças cardiovasculares, como arritmias, cardiopatia isquêmica; • feocromocitoma; • doenças autoimunes; • hipertireoidismo; • tratamento com iodo; • doença renal; • crianças com menos de 1 ano e pacientes com mais de 60 e 70 anos; • pacientes em uso de metformina, betabloqueadores e medicamentos nefrotóxicos. Cerca de 98% do contraste é eliminado pelo sistema urinário em até 24 horas, quando a função renal é normal. Mulheres devem suspender a amamentação por 48 horas, pois nesse período a substância pode ser transmitida para a criança pelo leite materno. Há medicamentos de dessensibilização para reduzir a probabilidade de reações anafilactoides, como corticosteroides ou anti-histamínicos, administrados antes do contraste. Uma importante complicação é a nefropatia induzida por contraste, que pode manifestar-se 72 horas após a administração do meio de contraste endovenoso. Pacientes com doença renal possuem risco de 5 a 10 vezes maior para desenvolver a nefropatia induzida por contraste (JUCHEM et al., 2004). Os serviços de tomografia solicitam exame de creatinina sérica recente para avaliar a função renal e, se for o caso, não utilizar o meio de contraste. Outras formas de prevenir esse quadro são limitar o volume de contraste utilizado e orientar a hidratação antes e após o exame, sendo recomendado beber em torno de 2 litros de água. Caso, você, aluno biomédico, passe a atuar na área, é sua função verificar se o paciente está em posse do exame de creatinina sérica, além de orientar a hidratação. 153 IMAGENOLOGIA 5.8 Aspectos de segurança em TC Antes da execução da TC, é fundamental que o operador (biomédico ou tecnólogo) confira os dados do paciente, como pedido médico, e se há contraindicações ao exame. Essa etapa é importante em todos os serviços de diagnóstico porimagem. De acordo com a CNEN NN 3.10, toda e qualquer exposição à radiação ionizante por exames diagnósticos deve ser justificada. Assim, o exame de TC só poderá ser realizado mediante à apresentação do pedido médico contendo informações completas e precisas que devem ser conferidas (MAMEDE, 2019). Essas informações incluem: • identificação do paciente, com nome completo, data de nascimento e número de registro na clínica ou no hospital; • indicação clínica e hipótese diagnóstica que influenciam na seleção dos parâmetros técnicos e protocolos definidos; • condições clínicas, como grau de mobilidade e grau de urgência, uma vez que alguns pacientes internados encontram-se instáveis para serem transferidos ao setor de TC e inaptos para a realização do exame; • localização do paciente no hospital, se aplicável. O transporte até o setor também é relevante, visto que pacientes graves devem ser acompanhados por profissionais da saúde; • o peso corporal do paciente também deve ser informado corretamente e verificado, pois a mesa do tomógrafo possui limite de peso (em geral, 180 kg). Apesar de a tomografia ser útil em diversas aplicações clínicas, há contraindicações. Algumas estão relacionadas ao uso do contraste iodado IV em pacientes com histórico prévio de alergias e pacientes com insuficiência renal, como idosos e outras patologias que comprometem a função renal. Nesse caso, dependendo da indicação clínica e da avaliação do médico radiologista, o paciente poderá realizar o exame sem contraste. Outras contraindicações estão relacionadas à exposição à radiação ionizante. Crianças e adolescentes são mais suscetíveis aos efeitos deletérios da radiação. No caso de pacientes grávidas, há um risco para o feto. Os casos devem ser discutidos pelo médico do paciente e o radiologista, além de serem avaliados outros métodos que não utilizam radiação ionizante, como US e RM. Algumas condições do paciente que causam artefatos por movimento na imagem obtida consistem em contraindicações ao exame. Por exemplo, pacientes com distúrbios neurológicos, como doença de Parkinson ou outras afecções que causam movimentos involuntários, podem influenciar na qualidade da imagem. Casos de pacientes com dificuldade de compreensão quanto à necessidade de imobilização prolongada, como crianças e pacientes desorientados, devem ser discutidos quanto à necessidade de sedativos, ponderando a relação risco-benefício. 154 Unidade II 5.9 Etapas do exame e protocolos De acordo com Nóbrega (2012c), as etapas em um exame de TC podem ser divididas em: • entrevista; • preparo do paciente; • exame propriamente dito; • processamento e documentação das imagens; • análise do exame, feita pelo médico radiologista. Na entrevista, as informações do paciente são importantes para a interpretação das imagens com foco no objetivo do exame. Nessa etapa, deve-se informar o paciente sobre a finalidade do exame e os procedimentos que serão realizados, além de aplicar um questionário para rastrear antecedentes alérgicos ou potenciais riscos ao meio de contraste iodado. Na etapa do preparo, o biomédico deve verificar se o exame será realizado com ou sem contraste. Caso o exame não necessite do meio de contraste, a orientação básica para o paciente é manter-se imóvel durante o exame. Nos exames com contraste, deve-se verificar se o paciente está em jejum de, no mínimo, 4 horas, para evitar náuseas, vômitos e possível broncoaspiração. Essa orientação deve ser feita no agendamento do exame. Se o exame requer meio de contraste via oral, a administração terá início 1 a 2 horas antes da aquisição das imagens. Para realizar o exame, é importante registrar os dados do paciente no console (nome, idade, gênero e exame) e posicioná-lo de acordo com o protocolo e o grau de mobilidade. Em seguida, seleciona-se o protocolo gravado no sistema operacional e o posicionamento do paciente em supino ou prona, e qual parte do corpo passará pela abertura do gantry antes. O quadro a seguir mostra alguns posicionamentos e entrada pelo gantry que são mais utilizados para determinados segmentos corporais, mas os protocolos podem variar de acordo com a indicação clínica. Quadro 11 – Posicionamento do paciente e entrada pelo gantry de acordo com o segmento corporal de estudo Posicionamento Exemplos de segmento corporal de estudo Supino, cabeça passa pelo gantry antes (supine, head first) Crânio, coluna cervical, pescoço e ombro Prona, cabeça passa pelo gantry antes (prone, head first) Mão, punho e cotovelo Supino, pés passam pelo gantry antes (supine, feet first) Tórax, abdome, pelve e membros inferiores Prona, pés passam pelo gantry antes (prone, feet first) Punções lombares, algumas biópsias Fonte: Nóbrega (2012c, p. 291). 155 IMAGENOLOGIA Para fazer a programação da aquisição dos cortes, uma radiografia digital é gerada no próprio tomógrafo para planejar o exame com a cobertura total da área de interesse. Essa imagem obtida é chamada topograma ou scout view, semelhante a uma imagem de aparelhos convencionais de raios X. O tubo e os detectores permanecem fixos, enquanto a mesa se desloca para fazer a aquisição de imagens. As imagens de topograma geralmente são nas incidências anteroposterior ou de perfil e possibilitam demarcar o início e o fim da varredura, além de visualizar a distância entre os cortes. Figura 92 – Exemplo de topograma da pelve em incidência AP Fonte: Henwood (2003, p. 100). Após o topograma e a seleção da área de interesse, inicia-se a aquisição dos dados tomográficos ou voxels, ou o exame propriamente dito. Esses dados serão posteriormente manipulados e reformatados para apresentação da imagem nos planos de corte definidos. Os protocolos são constituídos por parâmetros técnicos como matriz, exposição (kV e mA), tempo de rotação do tubo, pitch, tamanho do FOV, janelas, entre outros. Os parâmetros são definidos de acordo com o segmento corporal de estudo: crânio, cabeça e pescoço, coluna vertebral, tórax, abdome, pelve, membro superior e membro inferior. Além disso, variam conforme o tipo e o fabricante do equipamento e entre serviços de saúde. Geralmente, os protocolos são gravados no computador do tomógrafo logo após a instalação do equipamento no serviço. Assim, na rotina de exames, cabe ao operador (biomédico ou tecnólogo): selecionar o protocolo de acordo com o tipo de paciente e segmento corporal de estudo, delimitar a área de interesse no topograma e acionar o início da aquisição das imagens. 156 Unidade II O processamento e a documentação referem-se ao tratamento das imagens e à documentação em filme ou arquivo em mídia (NÓBREGA, 2012c). Nessa etapa, é feita a definição dos níveis de janela. No pós-processamento, utilizam-se recursos como zoom, medidas por meio de ROIs e reformatações multiplanares. Após a aquisição, o biomédico ou tecnólogo é responsável por documentar as imagens e armazenar no PACS ou em CD (disco compacto). Os quadros a seguir mostram alguns parâmetros técnicos de exames de rotina de crânio, tórax, abdome e pelve (CBR, 2015; MAMEDE, 2019). Os valores são sugestões do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por imagem para equipamentos de 16 fileiras de detectores (CBR, 2015). Ressalta-se que esses protocolos podem variar conforme o serviço de saúde, o tipo de equipamento e o fabricante. Além disso, há outros exames específicos que requerem parâmetros adequados. Quadro 12 – Principais parâmetros em TC para exame de rotina de crânio Parâmetros Crânio – rotina Tensão/corrente 120 kV, 300 mAs Espessura de colimação Mínima possível (geralmente 1,0 mm) Espessura de reconstrução 1 mm Extensão de varredura Da base ao ápice do crânio Controle da respiração Sem apneia Fases A maioria dos exames não requer meio de contraste. Nos exames em que o meio de contraste é indicado, deverá ter uma fase pré-contraste e uma fase pós-contraste intravascular Janelas Tecidos moles (encéfalo), janela óssea (fraturas) Observações Orientarpara não engolir saliva, pois gera artefatos por movimento Fonte: CBR (2015, p. 8); Mamede (2019, p. 269). Quadro 13 – Principais parâmetros em TC para exame de rotina de tórax Parâmetros Tórax – rotina Tensão/corrente 120 kV, exposição automática Espessura de colimação Mínima possível Espessura de reconstrução 1 mm ou menos Extensão de varredura Acima do ápice dos pulmões (supraclavicular) até glândulas suprarrenais Controle da respiração Realizar uma única apneia na inspiração Fases Geralmente sem contraste. Porém, em casos indicados, pode haver uma fase pré-contraste e/ou pós-contraste intravascular Janelas Documentar janela pulmonar e mediastinal Fonte: CBR (2015, p. 7), Mamede (2019, p. 270). 157 IMAGENOLOGIA Quadro 14 – Principais parâmetros em TC para exame de rotina de abdome e pelve Parâmetros Abdome e pelve – rotina Tensão/corrente 120 kV, exposição automática Espessura de colimação Geralmente 1,5 mm Espessura de reconstrução 3,0 mm Extensão de varredura Depende da indicação clínica. Em exames de abdome superior e total, a varredura inicia-se acima da cúpula diafragmática. Para abdome superior, a varredura finaliza na altura das cristas ilíacas e bifurcação da aorta. Para abdome total, a varredura finaliza na margem inferior da sínfise púbica. Para pelve, a varredura inicia-se na altura das cristas ilíacas e finaliza na margem inferior da sínfise púbica Controle da respiração Realizar uma única apneia na inspiração Fases Pré-contraste, arterial, portal, excretora ou tardia, entre outras. A escolha das fases dependerá da indicação clínica. Em estudos de cálculo renal, a fase pré-contraste pode ser suficiente Janelas Janela para tecidos moles Observações Uso de contraste oral negativo (água, polietilenoglicol, e, em alguns casos, ar) ou contraste oral positivo (bário, iodo). Há também casos de indicação do contraste endovenoso iodado Fonte: CBR (2015, p. 2), Mamede (2019, p. 270). A TC é o método de diagnóstico por imagem que oferece maior dose de radiação para a população em geral. A dose absorvida em um exame de TC pode corresponder à dose de 100 radiografias, no mínimo. O aumento de radiação nem sempre contribui para a melhora na qualidade das imagens tomográficas. Os protocolos de TC devem ser adaptados de forma a reduzir a exposição à radiação, principalmente quando se trata da população pediátrica, mais sensível aos efeitos da radiação ionizante. Saiba mais Em 2007, surgiu o movimento Image Gently, dedicado a mudar a prática no diagnóstico por imagem na população pediátrica. Os protocolos pediátricos devem ter seus parâmetros ajustados para fornecer o mínimo de dose de radiação às crianças, pois pode afetá-las por toda a vida. Para mais informações sobre o movimento e os protocolos pediátricos, acesse o site da organização: Disponível em: https://bit.ly/3CAUhYC. Acesso em: 1º nov. 2021. 158 Unidade II 6 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA 6.1 Histórico Quando se fala em realizar um exame de RM, o que você imagina sobre essa tecnologia? Você sabia que a ideia de adquirir imagens do corpo humano com o uso da RM para diagnosticar doenças foi anterior à TC? Vamos conferir um pouco sobre a história da RM. O fenômeno da ressonância magnética depende da interação dos núcleos atômicos em um campo magnético com ondas de radiofrequência. O primeiro cientista a estabelecer essa relação foi Isidor Isaac Rabi, em 1939. As partículas giram em torno de um eixo, chamado spin, com direções aleatórias. Porém, quando submetidos a um campo magnético externo, os spins se alinham com a direção do campo. Os experimentos de Rabi demonstraram que ondas de rádio ou radiofrequência mudam a orientação dos spins, que, ao retornarem ao estado inicial, liberam energia. Esse fenômeno foi chamado ressonância magnética. Os núcleos de diferentes elementos químicos comportam-se de forma específica quanto à força do campo magnético externo e à radiofrequência aplicada, sendo possível identificar os átomos por esse fenômeno. Os achados de Rabi foram em ambiente artificial, com a submissão de um feixe de hidrogênio no vácuo. Em 1946, Felix Bloch (físico suíço naturalizado norte-americano) e Edward Purcell (físico norte-americano), trabalhando separadamente e de forma independente, desenvolveram instrumentos capazes de aplicar a técnica para sólidos e líquidos. Essa inovação foi um grande avanço desde os estudos de Rabi e de Sir Joseph Lamor, pois forneceu aos pesquisadores uma técnica com potencial para identificar átomos específicos que constituem uma substância química sem afetar suas propriedades de forma perceptível, por meio da manipulação e da análise do movimento de spins de partículas subatômicas. Essa descoberta rendeu o prêmio Nobel de Física, em 1952, a Bloch e a Purcell. Em seguida, foram desenvolvidos espectrômetros de ressonância magnética nuclear (RMN), com aplicações na indústria e na pesquisa acadêmica. Durante décadas, a ressonância magnética foi usada principalmente para estudar as estruturas químicas das substâncias. Em 1971, Raymond Damadian (médico norte-americano de ascendência armênia) publicou um artigo na revista Science demonstrando que tumores in vitro possuíam tempos de relaxação (parâmetros de ressonância magnética) mais prolongados que os de tecidos normais, motivando as pesquisas acerca desse fenômeno na medicina. Em 1972, Paul C. Lauterbur (químico norte-americano) também foi pioneiro na formação da imagem por ressonância magnética e obteve as primeiras imagens de ressonância magnética (HAGE; IWASAKI, 2009). A TC ensinou que era possível reconstruir uma imagem de uma fatia do corpo de forma não invasiva a partir de várias projeções unidimensionais. Ao introduzir gradientes no campo magnético, Lauterbur verificou que era possível captar uma variação na frequência e aplicar algoritmos para a reconstrução da imagem (MACOVSKI, 2009). A imagem por ressonância magnética é baseada na incidência de átomos de hidrogênio e diferenças no conteúdo de água nos diversos tecidos biológicos. Peter Mansfield (físico britânico) também 159 IMAGENOLOGIA contribuiu para as primeiras imagens clínicas por ressonância magnética, desenvolvendo métodos de cálculos. A codificação de fase e frequência e a transformação de Fourier consistem no método básico para reconstrução da imagem de RM, utilizado até hoje. Em 1978, Raymond Damadian fundou a corporação FONAR (de Field focused nuclear magnetic resonance), que produziu o primeiro scanner comercial em 1980. Em 2003, Paul C. Lauterbur e Peter Mansfield ganharam o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina pelas descobertas que levaram à formação da imagem por ressonância magnética. Há uma polêmica sobre Damadian não ter recebido o prêmio Nobel compartilhado. Apenas podemos concordar que todos contribuíram para as descobertas sobre a ressonância magnética. Quando a ressonância magnética foi apresentada como um método de imagem para a comunidade científica, a denominação foi alterada de ressonância magnética nuclear (RMN) para apenas ressonância magnética (RM), a fim de ganhar aceitação do público. Por volta de 1980, teve início a fabricação de equipamentos de RM para imagem médica. Desde então, avanços tecnológicos em hardware e software possibilitaram a aplicação de novas sequências de pulso, imagens funcionais e de perfusão, que contribuem para exames mais rápidos e de fácil operação. 6.2 Princípio físico da formação da imagem A imagem por RM se baseia no comportamento dos íons de hidrogênio ou prótons (H+) em forte campo magnético e ondas de rádio (radiofrequência). O fenômeno de ressonância magnética pode ocorrer com qualquer átomo, mas o hidrogênio foi escolhido para as imagens do corpo humano, pois é o átomo mais abundante, com cerca de 70% do organismo composto de água (H2O). Os conceitos de física da RM são complexos e estão além do que este livro-texto se propõe a apresentar. Assim, abordaremos os conceitos mais importantes de forma simplificada. Resumidamente,a imagem por RM depende da capacidade dos prótons em absorver e emitir radiofrequência quando submetidos a um campo magnético externo (MAZZOLA, 2009). Enquanto a TC se baseia apenas na atenuação dos raios X dependente da densidade dos tecidos, a imagem por RM depende de várias características dos tecidos biológicos, como a densidade de prótons e os tempos de relaxamento T1 e T2. O aparelho de RM possui um magneto, um grande ímã, que gera um forte campo magnético. O campo magnético da Terra é de cerca de 0,6 G (gauss). Porém o campo magnético dos equipamentos de RM possui alta intensidade e são expressos em outra unidade de medida, Tesla (T). 1 T = 10 kG = 10.000 G Os magnetos utilizados nos equipamentos de RM variam de 0,02 T a 3 T. Há equipamentos de 7 T para fins de pesquisa, como o da Plataforma de Imagem na Sala de Autópsia (Pisa), na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), embora o Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, já os tenha aprovado para uso clínico. Quanto maior a potência do campo magnético, maior o 160 Unidade II sinal obtido e maior o detalhamento para medidas estruturais e funcionais do organismo humano. Em 2003, o FDA aprovou o uso de equipamentos de até 8 T (HOFF et al., 2019). Outros equipamentos de maior potência estão em estudo, como 4 T, 8 T e 9,4 T. Por enquanto, os serviços de RM no Brasil e no mundo possuem, principalmente, equipamentos de 1,5 T e 3,0 T. Equipamentos de baixa ou moderada potência (menor que 1 T) e de alta potência (maior que 1 T) têm suas vantagens e desvantagens. Há equipamentos com desenho aberto, uma alternativa para pacientes com claustrofobia ou com alto IMC. Esses equipamentos possuem um magneto permanente, magnetizado de tal forma que não perde o campo magnético, porém são de baixa potência (menor que 0,3 T), que resulta em menor resolução das imagens. A maioria dos serviços possuem equipamentos com desenho fechado e de alta potência (1,5 T e 3,0 T), que oferecem maior qualidade de imagem e escaneamento mais rápido, embora sejam mais caros. Os equipamentos de alta potência possuem um magneto formado por solenoide, ou seja, o campo magnético é gerado por uma corrente elétrica que passa por anéis de arame. Esse aparelho necessita de um sistema de resfriamento, formado por hélio líquido a temperatura próxima do zero absoluto, isto é, cerca de –269 oC. Exemplo de aplicação O primeiro equipamento 7T instalado na América Latina foi um Magnetom 7T MRI, em um laboratório na FMUSP, conhecido pela sigla Pisa. Com um campo de maior potência, a relação sinal-ruído é maior, o que melhora o contraste entre os tecidos. Reflita sobre a importância desse equipamento no estudo de cadáveres. Para embasar sua reflexão, é possível encontrar informações sobre a implementação do equipamento no link a seguir. MARQUES, F. A morte explica a vida. Pesquisa Fapesp, n. 229, p. 14-21, mar. 2015. Disponível em: https://bit.ly/3BA2jiY. Acesso em: 1º nov. 2021. Os núcleos dos átomos de hidrogênio possuem um movimento de rotação em torno do próprio eixo, chamado spin nuclear ou simplesmente spin. A rotação de uma partícula carregada positivamente em movimento comporta-se como um pequeno ímã, representado por um momento magnético, ou seja, um pequeno vetor com tamanho e sentido. A orientação dos spins é aleatória, porém, sob a influência de um campo magnético externo (B0), ocorre um alinhamento com o campo. Não é o núcleo que se alinha, mas, sim, o momento magnético (o sentido da rotação). A maioria dos spins, de baixa energia, se alinha no mesmo sentido que o campo magnético externo (sentido paralelo), enquanto uma minoria, de alta energia, se alinha no sentido oposto (sentido antiparalelo). Isso ocorre quando o paciente é colocado dentro do túnel do aparelho de RM. O resultado da somatória de vetores no sentido paralelo e antiparalelo é um pequeno excesso alinhado em sentido paralelo, gerando um vetor de magnetização efetiva (VME) do paciente (WESTBROOK; ROTH; TALBOT, 2013). A figura a seguir mostra um esquema da direção dos spins antes e depois de entrar no campo magnético do aparelho. 161 IMAGENOLOGIA Spins em direções aleatórias Magneto Norte Sul B0 VME Figura 93 – Efeito do campo magnético do aparelho de RM no alinhamento dos spins. O VME representa a somatória dos vetores dos spins Adaptada de: Westbrook, Roth e Talbot (2013, p. 6). Será que isso já é suficiente para formar uma imagem por RM? A resposta é: ainda não. É preciso aplicar a radiofrequência. Contudo, para entender como a radiofrequência se encaixa na formação da imagem, precisamos nos aprofundar um pouco mais sobre o movimento dos spins. A influência do campo magnético externo gera um segundo movimento de rotação característico conhecido por precessão. Todos os spins, tanto paralelos quanto antiparalelos, realizam a trajetória precessional. Próton Movimento de processão Momento magnético B0 Figura 94 – Movimento de precessão dos momentos magnéticos quando submetidos ao campo magnético do aparelho (B0) Adaptada de: Westbrook, Roth e Talbot (2013, p. 10). 162 Unidade II A frequência precessional pode ser calculada pela equação de Larmor e depende da potência do campo magnético externo. A frequência de precessão também depende da razão giromagnética, que é característica do elemento químico. A equação a seguir representa a equação de Larmor: ω = B0 x λ ω = frequência precessional B0 = potência do campo magnético λ = razão giromagnética A posição de cada momento magnético ou spin na trajetória precessional ao redor de B0 é chamada fase. Quando os spins estão em fase significa que estão na mesma posição de suas trajetórias precessionais. Dizer que os spins estão fora de fase significa que estão em posições diferentes da trajetória precessional. Fora da fase Em fase Figura 95 – Spins fora de fase e em fase Adaptada de: Westbrook, Roth e Talbot (2013, p. 14). Observação Você pode imaginar o movimento de precessão como os ponteiros de um relógio. A fase é a posição do ponteiro em um instante de tempo, enquanto a frequência é o tempo de uma volta completa. O fenômeno de ressonância magnética depende, ainda, da aplicação de um pulso de radiofrequência na frequência de precessão do hidrogênio, de acordo com a equação de Larmor, fornecendo energia para que os spins dos prótons se desviem do eixo do campo magnético B0. Como os prótons absorvem 163 IMAGENOLOGIA energia, podemos dizer que a radiofrequência tem função de excitar os prótons. Após o término do pulso, os prótons liberam a energia e retornam ao estado inicial, de forma que os spins voltem a se alinhar com o campo magnético principal. A liberação de energia dos prótons é captada por uma antena localizada em bobinas. O sinal detectado, também chamado eco, é transmitido ao computador do equipamento e processado por um algoritmo, produzindo a imagem anatômica. 6.3 Componentes do equipamento de RM O equipamento de RM apresenta diversos componentes, descritos a seguir. • Mesa: serve para posicionar o paciente e, ao contrário do que acontece na TC, a mesa não se movimenta durante o exame, permanecendo parada. • Magneto: possui função de gerar o campo magnético principal, que deve ser homogêneo em relação ao isocentro. • Antenas ou bobinas de radiofrequência: são responsáveis por transmitir e receber a radiofrequência. • Sistemas gradiente do campo magnético: possibilitam a localização do corte anatômico. • Sistema de tratamento da imagem e de informatização: reconstrução tridimensional de cada plano e outras reconstruções de imagem. Gantry Bobina de radiofrequência (ex.: crânio) Mesa Figura 96 – Aparelho de RM Adaptada de : https://bityli.com/AbkUE. Acesso em: 1º ago. 2021. 164 Unidade II O sistema gradiente é composto de pequenos ímãs, dispostos ao longo de cada eixo, responsáveis por gerar pequenos campos magnéticos que causam variações lineares no campo magnético principal, que possibilitam a
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