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A PROTECCAO DOS DIREITOS HUMANOS EM MEIO AOS CONFLITOS ARMADOS

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A PROTECÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS EM MEIO AOS CONFLITOS ARMADOS: UM OLHAR AO CONTEXTO MOÇAMBICANO
Juizo Francisco Pascoal[footnoteRef:0] [0: Estudante de Direito do 3º Ano – Faculdade de Direito da Universidade Católica de Moçambique. ] 
JuizoFrancisco17@gmail.com 
Resumo
O presente artigo científico visa analisar a efectivação de uma protecção propriamente dita dos direitos humanos em meio aos conflitos armados uma vez que tal dilema tem contribuído bastante para haja uma forte deterioração da situação dos direitos humanos em moçambique. Em virtude de tais atrocidades é necessário que com muito esforço os órgãos de fiscalização da legalidade da actuação das entidades governamentais, devem investigar as denúncias sobre as atrocidades cometidas contra a população, com vista a responsabilização dos autores. E com vista o alcance da redução e a efectivação da protecção e garantia de tais Direitos é necessário que o Estado fortifique a sua politica de actuação face a tais situações Em uma outra instância o estudo encontrasse voltado as implicações que advém de tais conflitos, onde as principais implicações reflectem-se directamente a população civil, reflectindo-se com um alto número de mortos e de população deslocada que posteriormente tem passado por diversas dificuldades no que concerne a adequação dos centros em que os mesmos encontram-se estalados, pois s locais sem água e saneamento adequados, superlotados, sem privacidade ou ventilação suficiente, que representavam um risco para sua saúde.
Palavras-chaves: 
Direitos Humanos, Conflitos armados, protecção e garantia.
THE PROTECTION OF HUMAN RIGHTS IN THE MIDST OF ARMED CONFLICT: A LOOK AT THE MOZAMBICAN CONTEXT
Juizo Francisco Pascoal[footnoteRef:1] [1: 3rd Year Law Student – Faculty of Law of the Catholic University of Mozambique. ] 
JuizoFrancisco17@gmail.com
Abstract
This scientific article aims to analyze the effectiveness of a proper protection of human rights in the midst of armed conflicts, since such a dilemma has contributed greatly to a strong deterioration of the human rights situation in Mozambique. Due to such atrocities, it is necessary that, with great effort, the inspection bodies of the legality of the actions of governmental entities, must investigate complaints about atrocities committed against the population, with a view to holding the perpetrators accountable. And with a view to achieving the reduction and effectiveness of the protection and guarantee of such rights, it is necessary for the State to strengthen its policy of action in the face of such situations.
In another instance, the study was focused on the implications that arise from such conflicts, where the main implications are directly reflected in the civilian population, reflected in a high number of dead and displaced population that later has gone through several difficulties in terms of it concerns the adequacy of the centers in which they are located, as s places without adequate water and sanitation, overcrowded, without privacy or sufficient ventilation, which represented a risk to their health.
Keys-words:
Human Rights, Armed conflicts, protection and guarantee
SUMÁRIO: Introdução, Contextualização, II.Conflitos Armados em Moçambique, III. Direitos humanos e os Ataques Militares em Cabo Delgado, IV. Implicações dos Conflitos Armados na Protecção e Garantia dos Direitos Humanos em Moçambique, V. O papel do defensor dos direitos humanos no conflito armado, VI. Conclusão, VII.Recomendações, VIII.Referências bibliográficas.
Introdução 
O presente trabalho tenciona abordar sobre a protecção dos direitos humanos em meio aos conflitos armados e fazer uma análise das implicações que advém de tais conflitos, tendo essa análise como principal escopo os conflitos armados que afectaram e tem afectado a sociedade moçambicana nos últimos cinco anos. Neste contexto, percebe-se que são poucas as situações que ameaçam a segurança humana como os conflitos armados, pois em situações extremas de conflitos armados, os governos dão por si a ter de tomar decisões difíceis, entre as necessidades da sociedade e as do individuo.
Entretanto, sendo que os Estados são os principais garantes na protecção dos direitos humanos este estudo foca-se no papal que os mesmo têm na vigência de tais conflitos, e a sua forma de actuação em circunstâncias em que o mesmo intervém como uma das partes envolvidas. 
Os direitos humanos nunca cessam de ser relevantes, mas o surto de violência sistemática e organizada, que são verdadeiras características de um conflito armado, constitui uma afronta precisamente aos princípios constitutivos daqueles direitos. 
Neste contexto, com a realização deste trabalho tenho como o objectivo geral analisar as reais implicações que advém dos conflitos armados e sua relevância na protecção e garantia dos direitos humanos em moçambique. 
Para alcançar o objectivo elencado, a metodologia usada na elaboração deste trabalho foi a dedução, tendo-se procedido ao estudo e análise de informações em documentos produzidos por organizações não-governamentais (ONGs) e da sociedade civil (OSCs) vocacionadas para a temática dos direitos humanos, em seguida, feita a análise e compilação. O presente trabalho segue uma estrutura lógica, estando dividido em partes sendo a primeira parte referente a introdução, a segunda o desenvolvimento, a terceira a conclusão ou considerações finais, a quarta sugestões ou recomendações e a quinta referências bibliográficas.
1. CONTEXTUALIZAÇÃO 
1.1. Direitos Humanos
Os direitos humanos são normas que legitimam e defendem a dignidade de todos seres humanos. Os direitos humanos regem o modo como os seres humanos individualmente vivem em sociedade e entre si, bem como a sua relação com o Estado e as obrigações que o Estado tem em relação tem em relação a eles.[footnoteRef:2] [2: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos (acesso em 06.10.2022.)] 
A lei dos direitos humanos obriga os governos a fazer algumas coisas e os impede de fazer outras. O indivíduo também tem responsabilidades, deste modo, usufruindo dos seus direitos humanos, devem respeitar os direitos dos outros. Neste contexto, nenhum governo, grupo de individuo tem o Direito de fazer qualquer coisa que viole os direitos de outra pessoa.
Em moçambique, a Constituição da Republica popular de moçambique que entrou em vigor em 1975, com a institucionalização do Estado moçambicano, através da independência do país. No mesmo ano o país aderiu os princípios da Declaração universal dos Direitos Humanos, da Carta Africa, para além de reconhecer no artigo 8 a carta dos Direitos e Deveres Económicos, dos Estados adoptada pela XXIX sessão da assembleia das nações unidas.[footnoteRef:3] [3: MONIZ, Celestina. A integração dos direitos humanos na Constituição de Moçambique. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 26, n. 6673, 8 out. 2021. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/93731. Acesso em: 7 out. 2022] 
Assim, dentre os vários dispositivos que aos longos dos anos, este passou a ratificar e consentir a vinculação do mesmo no território nacional, o Estado moçambicano passou a estar vinculado pela legislação e normas internacionais de direitos humanos, que continuam a aplicar-se, tanto durante os tempos de paz como durante conflitos armados. Moçambique é parte do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (PIDCP) e da Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos (CADHP) e, nos termos de ambos estes instrumentos, Moçambique tem a obrigação legal de respeitar, proteger e assegurar a realização do direito à vida e de proibir a tortura e outros maus-tratos.[footnoteRef:4] [4: MONIZ, Celestina. A integração dos direitos humanos na Constituição de Moçambique. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 26, n. 6673, 8 out. 2021. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/93731. Acesso em: 7 out. 2022] 
1.2. Conflitos Armados
Os conflitos armados qualificam-se em internacionais e em não internacionais, ou seja,os conflitos internos. Onde os conflitos armados internacionais são aqueles cujas partes beligerantes são Estados independentes. Nessa espécie de conflitos para além dos direitos humanos é aplicável um amplo leque de regras do Direito Internacional Humanitário.[footnoteRef:5] [5: CICV, Como se define a expressão Conflito armado no direito internacional humanitário, Artigo de opinião, Março 2008. Disponível em: https://www.icrc.org/en/doc/assets/files/other/opinion-paper-armed-conflict.pdf. (Acesso em: 27.09.2022.)] 
O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), define os conflitos armados que não apresentam um carácter internacional como confrontos armados prolongados entre as forças armadas governamentais e as forças de um ou mais grupos armados ou entre tais grupos que ocorram no território de um. O confronto armado deve atingir um nível mínimo de intensidade e as partes envolvidas no conflito devem mostrar um mínimo de organização.
Entretanto, actualmente, os conflitos entre Estados deixaram de ser a regra assumindo o papel de excepção, a maioria dos conflitos armados se desenvolvem no território de um único Estado, caracterizando os conflitos de carácter não internacionais.[footnoteRef:6] Diferente dos conflitos internacionais, no conflitos armados internos, a lei aplicável é mais limitada, pois estabelece o art.º 3 os padrões mínimos aplicáveis durante a vigência de tais conflitos.[footnoteRef:7] [6: LUQUINI, Roberto De Almeida, A aplicação do Direito Internacional Humanitário nos Conflitos novos, 2003. p. 45.] [7: Cfr. art.º 3, CONVENÇÃO DE GENEBRA, relativa à protecção das pessoas civis em tempo de Guerra, de 12 de Agosto de 1949.] 
Assim, para que se possam distinguir os conflitos armados, no sentido do artigo 3º comum, das formas menos graves de violência, como tensões e distúrbios internos, tumultos ou actos de banditismo, a situação deverá atingir certo limiar no que diz respeito aos confrontos. É geralmente aceito que o limite inferior apresentado no n.º 2 do art.º 1 do PAII, que exclui tensões e distúrbios internos da definição de CANI, também se aplica ao artigo 3º comum.[footnoteRef:8] [8: CICV, Como se define a expressão Conflito armado no direito internacional humanitário, Artigo de opinião, Março 2008. Disponível em: https://www.icrc.org/en/doc/assets/files/other/opinion-paper-armed-conflict.pdf.] 
Normalmente são utilizados dois critérios onde:
Em primeiro lugar, as hostilidades devem atingir um nível mínimo de intensidade. Pode ser o caso, por exemplo, quando as hostilidades são de natureza colectiva ou quando o governo é obrigado a empregar força militar contra os insurgentes, ao invés de apenas as forças policiais.[footnoteRef:9] [9: CICV, Como se define a expressão Conflito armado no direito internacional humanitário, Artigo de opinião, Março 2008. Disponível em: https://www.icrc.org/en/doc/assets/files/other/opinion-paper-armed-conflict.pdf.] 
Em segundo lugar, os grupos não governamentais envolvidos no conflito devem ser considerados partes do conflito, o que significa que eles possuem forças armadas organizadas. Isso quer dizer que estas forças devem estar sob uma estrutura de comando e ter a capacidade de manter operações militares.[footnoteRef:10] [10: CICV, Como se define a expressão Conflito armado no direito internacional humanitário, Artigo de opinião, Março 2008. Disponível em: https://www.icrc.org/en/doc/assets/files/other/opinion-paper-armed-conflict.pdf.] 
2. CONFLITOS ARMADOS EM MOÇAMBIQUE 
Neste contexto, em diversos relatórios feitos por organizações e instituições de apoio e protecção dos direitos humanos, mostram que a situação dos direitos humanos se deteriorou em 2020 e 2021 em moçambique, devido a ataques desencadeados por grupos armados nas regiões centro e norte do país. No Centro foram afectadas as províncias de Manica e Sofala e no Norte a província de Cabo Delgado.[footnoteRef:11] [11: ORDEM DOS ADVOGADOS DE MOÇAMBIQUE(OAM), Relatório sobre Direitos Humanos em Moçambique 2020/2021, Layot & impressão Ciedima, Lda, Maputo, 2022. p.86.] 
Todavia, ainda em 2019 surgiu, a autoproclamada Junta Militar da RENAMO, um grupo de militares dissidentes que não estava de acordo com a designação de Ossufo Momade para o cargo de líder da RENAMO em substituição de Afonso Dhlakama.[footnoteRef:12] [12: Para além disso, acusava Ossufo Momade de ser o responsável pelo rapto e execução dos membrosda RENAMO com ligações a Afonso Dhlakama, antigo líder da RENAMO. Disponível em: https://tvi24.iol.pt/internacional/renamo/lider-da-oposicao-em-mocambique-diz-se-aberto-para-receber-inquietacoes-de-grupo-dissidente. acesso em 02.10.2022.] 
A Junta Militar exigia também a renegociação dos acordos assinados entre o Governo e RENAMO, argumentando que estes violaram o que havia sido acordado com o então líder da RENAMO, Afonso Dhlakama. Muitos ataques da Junta Militar decorreram em 2020, com ligeiro abrandamento em 2021, altura em que a desmobilização, desarmamento e reintegração (DDR) dos combatentes da RENAMO passou a ser o tema em foco.[footnoteRef:13] [13: ORDEM DOS ADVOGADOS DE MOÇAMBIQUE(OAM), Relatório sobre Direitos Humanos em Moçambique 2020/2021, Layot & impressão Ciedima, Lda, Maputo, 2022. p.86.] 
Já os ataques na zona norte do país, particularmente em alguns distritos da província de Cabo Delgado, foram perpetrados por supostos insurgentes, vulgo terroristas, até aqui pessoas pouco conhecidas. Com excepção dos ataques perpetrados por combatentes da RENAMO, que ocorreram até 2019.[footnoteRef:14] [14: ORDEM DOS ADVOGADOS DE MOÇAMBIQUE(OAM), Relatório sobre Direitos Humanos em Moçambique 2020/2021, Layot & impressão Ciedima, Lda, Maputo, 2022, p.86.] 
Nos termos do direito internacional humanitário, a crise em Cabo Delgado é considerada um conflito armado de carácter não internacional, pois os combates alcançaram o nível de intensidade definido e as partes estão suficientemente organizadas.
2.1. Ataques da Junta Militar da RENAMO nas Províncias de Manica e Sofala
Em 2020, quando os ataques da Junta Militar se intensificaram, os alvos eram viaturas particulares que circulavam ao longo da estrada nacional entre o rio Save, no distrito de Machanga, e a vila de Gorongosa. Também se registaram ataques ao longo da estrada nacional entre os distritos de Nhamatanda e Gondola. Não obstante terem havido apelos nesse sentido, o líder da Junta Militar, Mariano Nhongo, nunca se dispôs a negociar as revindicações do grupo diante de Ossufo Momade e mostrou-se inflexível às tentativas aproximação do Presidente da República e do Enviado Pessoal do Secretário-Geral das Nações Unidas para o Diálogo Político, Mirko Manzoni.[footnoteRef:15] [15: Disponível em: https://e-global.pt/Notícias/lusofonia/mocambique/mocambique-renamo-convida-nhongo-a-juntar-se-ao-processo-de-ddr/. (acesso em: 1.10.2022)] 
2.2. Violência extremista na Província de Cabo Delgado
Os primeiros ataques em Cabo Delgado ocorreram em Mocímboa da Praia em Outubro de 2017. Inicialmente o grupo de insurgentes atacou de forma esporádica e isolada e, mais tarde, a partir de meados de 2018, os ataques passaram a ser organizados e coordenados.[footnoteRef:16] [16: ORDEM DOS ADVOGADOS DE MOÇAMBIQUE(OAM), Relatório sobre Direitos Humanos em Moçambique 2020/2021, Layot & impressão Ciedima, Lda, Maputo, 2022. p.88.] 
Os alvos incluíam bases militares, esquadras da polícia e população civil. Em 2018, e de forma paulatina, os terroristas expandiram as suas investidas para os distritos de Ibo, Macomia, Palma, Muidumbe, Nangade e Quissanga. Em 2020, o número de mortes causadas pelos insurgentes foi de 2 567. Em 2021 o número de mortes aumentou para 3 627. Apesar de um elevado número cumulativo de mortes registadas em 2021, o número de mortes efectivas naquele ano foi inferior ao número de mortes nos anos anteriores.[footnoteRef:17] [17: ORDEM DOS ADVOGADOS DE MOÇAMBIQUE(OAM), Relatório sobre Direitos Humanos em Moçambique 2020/2021, Layot & impressão Ciedima, Lda, Maputo, 2022. p.88.] 
A redução de mortesem 2021 está relacionada com o sucesso das operações militares desencadeadas pelas FDS apoiadas pelas forças do Ruanda e pelas forças da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM). Além das mortes, os ataques dos terroristas forçaram as populações dos distritos afectados a abandonarem as suas residências e procurarem lugares seguros. A intervenção da Força Conjunta permitiu restabelecer a segurança nas zonas afectadas, abrindo espaço para as populações retornarem às zonas abandonadas. Foi também possível eliminar, em combate, mais de 200 terroristas e capturar mais de 245 suspeitos de colaborarem com os terroristas. Os esforços permitiram ainda recuperar diverso material bélico, viaturas, motorizadas e outros bens saqueados da população.[footnoteRef:18] [18: ORDEM DOS ADVOGADOS DE MOÇAMBIQUE(OAM), Relatório sobre Direitos Humanos em Moçambique 2020/2021, Layot & impressão Ciedima, Lda, Maputo, 2022. p.88.] 
3. DIREITOS HUMANOS E OS ATAQUE MILITARES EM CABO DELGADO
Vários relatos apontam que os ataques militares abriram espaço para abuso e violação dos direitos humanos em Cabo Delgado. Entre eles, os insurgentes são acusados de execuções sumárias, homicídios e mutilação de corpos. Contra estes pesam ainda acusações de prática de sequestros, estupro de mulheres e crianças, bem como saque e destruição de bens da população civil. Se, por um lado, os insurgentes são acusados de cometerem atrocidades contra as populações, por outro, as FDS também são acusadas de excessos na execução das suas tarefas. Particularmente, as FDS foram acusadas de detenções arbitrárias, execuções sumárias, rapto e tortura da população civil, alegadamente por colaborarem com os terroristas.[footnoteRef:19] [19: ORDEM DOS ADVOGADOS DE MOÇAMBIQUE(OAM), Relatório sobre Direitos Humanos em Moçambique 2020/2021, Layot & impressão Ciedima, Lda, Maputo, 2022. p.p.88-89.] 
3.1. AL-SHABAAB
O grupo armado de insurgentes em Cabo Delgado é conhecido por vários nomes. Alguns observadores internacionais referem-se à organização jihadista pelo seu título oficial, Ahl al-Sunnah wa al Jamma’ah (ASWJ), ou Ansar al-Sunna, ou como o braço armado moçambicano do grupo que se autointitula Estado Islâmico da Província da África Central (EIPAC). A nível local, os residentes e as forças de segurança referem-se aos combatentes como os terroristas e chamam-lhes Al-Shabaab. Neste artigo, e conforme a Amnistia Internacional utilizar-se-á o termo Al-Shabaab, pois é o mais frequentemente utilizado pelos residentes de Cabo Delgado.[footnoteRef:20] [20: Amnistia Internacional, Crimes de guerra no cabo esquecido de moçambique, 2021. Disponível em: https://www.amnesty.org/en/wp-content/uploads/2021/08/amr190252005pt. pdf (acesso em: 04.10.2022).] 
Os combatentes do Al-Shabaab atacam regularmente cidades, vilas e aldeias, matando tanto soldados das FADM como civis. Embora, durante os ataques, alguns combatentes assegurem aos civis que apenas as instalações e o pessoal do governo são alvos, a Amnistia Internacional confirmou que os combatentes matam rotineiramente civis, saqueiam as suas casas e depois regam-nas com gasolina e queimam-nas. Nos termos do direito internacional humanitário, os civis nunca deveriam ser visados em ataques. Os assassinatos deliberados de civis, as pilhagens e a destruição deliberada de casas constituem graves violações do direito internacional humanitário e crimes de guerra.[footnoteRef:21] [21: Amnistia Internacional, Crimes de guerra no cabo esquecido de moçambique, 2021. Disponível em: https://www.amnesty.org/en/wp-content/uploads/2021/08/amr190252005pt. pdf (acesso em: 04.10.2022).] 
Os combatentes do Al-Shabaab matam civis com armas de fogo e machetes. Estas ações têm sido deliberadamente levadas a cabo para intimidar e assustar a população. Os ataques nem sempre ocorreram em áreas grandes e com mais habitantes. Têm também sido executados ataques em menor escala, a indivíduos e pequenos grupos, o que contribui para o clima de medo.[footnoteRef:22] [22: Amnistia Internacional, Crimes de guerra no cabo esquecido de moçambique, 2021. Disponível em: https://www.amnesty.org/en/wp-content/uploads/2021/08/amr190252005pt. pdf (acesso em: 04.10.2022).] 
3.2. FORÇAS GOVERNAMENTAIS
As duas principais forças governamentais a participar nos combates em Cabo Delgado são as FADM e a Unidade de Intervenção Rápida (UIR) da polícia nacional. Os soldados das FADM são identificáveis pelas suas fardas de camuflado lagarto verde e castanho, botas pretas, arneses militares castanhos claros e distintivos amarelos e pretos nos ombros. Os agentes da UIR usam fardas de cor única, de um verde mais claro, e são identificados pelos residentes locais pelos seus veículos Mahindra pretos e brancos.[footnoteRef:23] [23: Amnistia Internacional, Crimes de guerra no cabo esquecido de moçambique, 2021. Disponível em: https://www.amnesty.org/en/wp-content/uploads/2021/08/amr190252005pt. pdf (acesso em: 04.10.2022).] 
3.2.1. Tortura, maus-tratos e execuções extrajudiciais 
Os abusos mais graves perpetrados pelas forças de segurança moçambicanas que foram documentados pela Amnistia Internacional estão gravados em vídeos e fotografias. Em setembro de 2020, a Amnistia Internacional obteve e verificou a autenticidade de cinco vídeos e três fotografias que mostram tentativas de decapitação, tortura e outros maus-tratos a prisioneiros; o desmembramento de alegados combatentes do Al-Shabaab; possíveis execuções extrajudiciais; e o transporte e descarte de um grande número de cadáveres em aparentes valas comuns. As forças de segurança nestes vídeos usam tanto as fardas das FADM como da UIR e falam português e shangaan, uma língua do sul de Moçambique. Fazem também referência a lutas recentes em Mocímboa da Praia, sendo por isso altamente provável que as imagens tenham sido filmadas em Cabo Delgado, ou perto, na primeira metade de 2020.[footnoteRef:24] [24: Amnistia Internacional, Crimes de guerra no cabo esquecido de moçambique, 2021. Disponível em: https://www.amnesty.org/en/wp-content/uploads/2021/08/amr190252005pt. pdf (acesso em: 04.10.2022).] 
Quatro vídeos ilustram a tortura de detidos; três prisioneiros são amarrados, com os braços atrás das costas, e depois pontapeados e espancados com paus ou espingardas por vários soldados. Entretanto, outros soldados fazem troça dos prisioneiros e incitam às agressões. Os prisioneiros estão completamente nus ou nus da cintura para baixo e depois batem-lhes nos genitais com paus. Noutro vídeo, depois dos espancamentos, um soldado baixa-se e, com uma faca, corta uma orelha de uma vítima.[footnoteRef:25] [25: Amnistia Internacional, Crimes de guerra no cabo esquecido de moçambique, 2021. Disponível em: https://www.amnesty.org/en/wp-content/uploads/2021/08/amr190252005pt. pdf (acesso em: 04.10.2022).] 
Um quinto vídeo e uma foto relacionada revelam como os corpos de algumas vítimas são abusivamente tratados após a morte e, possivelmente, o assassinato de um homem ferido. A foto mostra aproximadamente 15 corpos na traseira de uma carrinha de caixa aberta todos amarrados, com os olhos vendados e seminus muitos deles com hematomas recentes e feridas abertas. O vídeo mostra os corpos numa sepultura coletiva e os soldados a irem de corpo em corpo, com uma faca de lâmina comprida a cortar o pescoço das vítimas vivas ou a tentar decapitar os cadáveres. Após a divulgação pública dos vídeos a expor graficamente tortura e outros maus-tratos, mais vídeos dos combates surgiram pouco depois nas redes sociais. Um mostra a execução extrajudicial de uma mulher nua e não identificada, no meio da estrada R698, no exterior da subestação elétrica no lado oeste da aldeia de Awasse.[footnoteRef:26] [26: Disponível em: https://sicNotícias.pt/especiais/violencia-em-mocambique/2020-09-17-Human- Rights-Watch-pede-investigacao-a-execucao-de-uma-mulher-no-norte-de-Mocambique-387f2352 (acesso em 17.09.2020).] 
A mulher estava a tentar fugir para o norte, ao longo da estrada, quando foi intercetada por homensque usavam fardas das FADM. Depois de a espancarem com um pau, mataram-na a tiro e abandonaram o seu corpo nu em plena estrada. Quatro atiradores diferentes dispararam contra ela no total 36 vezes com diversas espingardas Kalashnikov e uma metralhadora do tipo PKM. Mais tarde, o ministro da Defesa reivindicou que o vídeo era produto de uma manipulação de imagens pelo Al-Shabaab para manchar a imagem das forças armadas moçambicanas, uma asserção contrariada por elementos de prova verificados.[footnoteRef:27] [27: Disponível em: https://sicNotícias.pt/especiais/violencia-em-mocambique/2020-09-17-Human- Rights-Watch-pede-investigacao-a-execucao-de-uma-mulher-no-norte-de-Mocambique-387f2352 (acesso em 17.09.2020).] 
3.2.2. Falha no dever de proteção 
Além dos maus-tratos a civis, as forças do governo moçambicano falharam também no cumprimento das suas responsabilidades de proteger os civis dos ataques, assassinatos, raptos e outros abusos cometidos pelo Al-Shabaab. Os residentes de Litamanda, vila de Macomia, Mucojo e Quiterajo, no distrito de Macomia; Mbau e vila de Mocímboa, no distrito de Mocímboa da Praia; e da vila de Quissanga, no distrito de Quissanga, relataram todos que os soldados das FADM fugiram quando as suas localidades foram atacadas pelo Al-Shabaab, habitualmente largando as armas e despindo as fardas para se esconderem com os civis na mata. Cinco pessoas disseram que os soldados vestiram roupas de mulher para passarem mais despercebidos.[footnoteRef:28] [28: Amnistia Internacional, Crimes de guerra no cabo esquecido de moçambique, 2021. Disponível em: https://www.amnesty.org/en/wp-content/uploads/2021/08/amr190252005pt. pdf (acesso em: 04.10.2022).] 
É estranho dizer-lhe que os terroristas atacam e que os soldados não estão lá para nos proteger, desabafou um homem de negócios de Quiterajo. A questão é que sim, os soldados estavam lá, mas de cada vez que houve um ataque deste género, os soldados juntaram-se a nós e fugiram connosco. Portanto, é difícil dizermos quem estavam lá para nos proteger, porque na realidade não havia quem nos protegesse.[footnoteRef:29] [29: Amnistia Internacional, Crimes de guerra no cabo esquecido de moçambique, 2021. Disponível em: https://www.amnesty.org/en/wp-content/uploads/2021/08/amr190252005pt. pdf (acesso em: 04.10.2022).] 
Mesmo que as forças militares estejam a perder no campo de batalha, continuam a ter uma obrigação de direitos humanos de organizar a evacuação dos civis para um lugar seguro e de proteger de outras formas a população da ingerência de actores não-estatais.[footnoteRef:30] [30: Amnistia Internacional, Crimes de guerra no cabo esquecido de moçambique, 2021. Disponível em: https://www.amnesty.org/en/wp-content/uploads/2021/08/amr190252005pt. pdf (acesso em: 04.10.2022).] 
4. IMPLICAÇÕES DOS CONFLITOS ARMADOS NA PROTECÇÃO E GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS EM MOÇAMBIQUE
No passado, em conflitos armados, uma das principais implicações era o número de mortos que envolvia principalmente militares, uma vez que o confronto ocorria em campos de batalha e o objectivo da guerra vinculava-se a expansão territorial e política. 
No que se refere aos conflitos armados contemporâneos, que tem como característica mais recorrente a natureza intra-estatal, apesar da dificuldade de medir seus impactos na sociedade, há indicadores que permitem estimar o tipo e a dimensão dos custos da violência. Entre as implicações dos conflitos armados sobre a população civil, a que têm maior destaque é o número de deslocados e mortos.[footnoteRef:31] [31: Amnistia Internacional, Crimes de guerra no cabo esquecido de moçambique, 2021. Disponível em: https://www.amnesty.org/en/wp-content/uploads/2021/08/amr190252005pt. pdf (acesso em: 04.10.2022).] 
Em conflitos armados desencadeados no centro e norte de moçambique não fogem da regra, pois trazem consigo também as implicações supra descritas. Ora, uma vez que até finais de 2021 os ataques da Junta Militar na região centro do país tinham causado pelo menos 30 mortes e mais de 77 800 deslocados internos nas províncias de Manica e Sofala.[footnoteRef:32] [32: ORDEM DOS ADVOGADOS DE MOÇAMBIQUE(OAM), Relatório sobre Direitos Humanos em Moçambique 2020/2021, Layot & impressão Ciedima, Lda, Maputo, 2022. p.87.] 
Relativamente aos ataques da região norte do país, em 2020, o número de mortes causadas pelos insurgentes foi de 2 567. Em 2021 o número de mortes aumentou para 3 627. Apesar de um elevado número cumulativo de mortes registadas em 2021, o número de mortes efectivas naquele ano foi inferior ao número de mortes nos anos anteriores.[footnoteRef:33] [33: ORDEM DOS ADVOGADOS DE MOÇAMBIQUE(OAM), Relatório sobre Direitos Humanos em Moçambique 2020/2021, Layot & impressão Ciedima, Lda, Maputo, 2022. p.88.] 
Assim, durante a vigência desses conflitos dificilmente fala-se sobre a protecção dos direitos humanos em grande escala, pois dentre as inúmeras falhas no dever de protecção de tais direitos pelo governo moçambicano sendo este o principal garante de direitos, a que merce especial atenção são acusações que pesam sobre as FDS como é o caso das acusadas detenções arbitrárias, execuções sumárias, rapto e tortura da população civil, alegadamente por colaborarem com os terroristas.[footnoteRef:34] [34: Amnistia Internacional, Crimes de guerra no cabo esquecido de moçambique, 2021. Disponível em: https://www.amnesty.org/en/wp-content/uploads/2021/08/amr190252005pt. pdf (acesso em: 04.10.2022).] 
Neste contexto, os abusos mais graves perpetrados pelas forças de segurança moçambicanas que foram documentados pela Amnistia Internacional estão gravados em vídeos e fotografias. Em Setembro de 2020, a Amnistia Internacional obteve e verificou a autenticidade de cinco vídeos e três fotografias que mostram tentativas de decapitação, tortura e outros maus-tratos a prisioneiros; o desmembramento de alegados combatentes do Al-Shabaab; possíveis execuções extrajudiciais; e o transporte e descarte de um grande número de cadáveres em aparentes valas comuns. As forças de segurança nestes vídeos usam tanto as fardas das FADM como da UIR e falam português e shangaan, uma língua do sul de Moçambique. Fazem também referência a lutas recentes em Mocímboa da Praia, sendo por isso altamente provável que as imagens tenham sido filmadas em Cabo Delgado, ou perto, na primeira metade de 2020.[footnoteRef:35] [35: Amnistia Internacional, Crimes de guerra no cabo esquecido de moçambique, 2021. Disponível em: https://www.amnesty.org/en/wp-content/uploads/2021/08/amr190252005pt. pdf (acesso em: 04.10.2022).] 
Esses eventos fazem com que as conclusões sobre os níveis de protecção dos direitos humanos no território nacional meio aos conflitos armados reduzam a nível muito baixo, onde em uma escala de 0 a 10, as acções do governo moçambicano estariam no 4, pois em algum momento a que lograr o foco do governo moçambicano com vista a proteger tais direitos. Entretanto, estes factos são suficientes para afirmar certamente que o quadro dos direitos humanos em Moçambique aponta avanços e retrocessos.
Em suma, os conflitos armados influenciam consideravelmente na protecção dos direitos humanos, e com vista o alcance de altos níveis de protecção dos direitos a dignidade da pessoa humana, o Estado moçambicano deve trabalhar mais no intuito de fazer valer todos dipositivos normativos adoptados por este na como o principal garante dos direitos humanos no território moçambicano em primeira instância.
Nesta senda dever-se-á materializar as politicas de estratégias aplicáveis na vigência dos conflitos, que têm por objectivo a redução do alto impacto sobre a população civil, pois esta encontra-se sempre em uma posição de vulnerabilidade em meio a tais situações.
4.1. Deslocados internos 
Deslocados internos são pessoas ou grupos de pessoas que tenham sido forçadas ou abrigadas a fugir ou a abandonar as suas habitações ou locais de residência habitual, em particular como resultado ou como forma de evitar os efeitos dos conflitos armados, situações de violênciageneralizada, as violações dos direitos humanos, calamidades naturais ou provocadas pelo próprio homem e que não tenham atravessado a fronteira de um Estado internacionalmente reconhecido.[footnoteRef:36] [36: Disponível em https://www.acnur.org/portugues/quem-ajudamos/deslocados-internos/ (acesso em: 03.10.2022)] 
Este ponto esta focado apenas aos deslocados internos por motivos de conflitos armados e as violações de direitos humanos. Pois são compreendidos como sendo vitimas directas dos conflitos armados, aqueles que fogem da violência, seja por imposição ou voluntariamente. Os mais carentes seguem para países próximos e passam a viver sob condições improvisadas de higiene, saúde e moradia em campos de refugiados ou nem chegam a cruzar as fronteiras de seu país, tornando-se deslocados internos. Ou seja, são pessoas deslocadas dentro de seu próprio país, pelo mesmos motivos de um refugiado, mas que não atravessaram fonteira internacional para buscar protecção.[footnoteRef:37] [37: Disponível em https://www.msf.org.br/o-que-fazemos/atuacao/refugiados-e-deslocados-internos/ (acesso em: 03.10.2020).] 
Assim, os deslocados mesmo tendo sido forçadas a deixar seus lares por razões similares às dos refugiados (perseguições, conflitos armados, violência generalizada, grave e generalizada violação dos direitos humanos), os deslocados internos permanecem legalmente sob protecção de seu próprio Estado, mesmo que ele mesmo seja a causa de sua fuga.[footnoteRef:38] [38: Disponível em https://www.msf.org.br/o-que-fazemos/atuacao/refugiados-e-deslocados-internos/ (acesso em: 03.10.2020).] 
Para além, de um elevado índice de mortos civis que se verificam ao longo do fogo cruzado entre as partes envolvidas nos conflitos, este também tem tido um impacto devastador sobre a população civil relativamente a escala de deslocamento interno e das necessidades e carências humanitárias é impressionante.
O Governo, através das instituições de governação a nível central e local, é o principal responsável pela prevenção dos deslocamentos, protecção e assistência aos deslocados internos, incluindo a mitigação dos seus impactos.
Entretanto tal reacção por parte do governo não se verifica, pois, quase 1 milhão de pessoas (especialmente mulheres, crianças e idosos) encontravam-se deslocadas internamente na casa de familiares, assim como em campos seguros ao longo da região, desprovidas de acesso adequado a alimentação, água, educação, saúde e moradia. A escassez alimentar afectou principalmente as mulheres e as crianças, colocando sua saúde em risco. As autoridades responsáveis pela distribuição do auxílio alimentar exigiam favores sexuais das mulheres deslocadas em troca de ajuda para o seu registo, documentação e alimentação.[footnoteRef:39] [39: Amnistia Internacional, Crimes de guerra no cabo esquecido de moçambique, 2021. Disponível em: https://www.amnesty.org/en/wp-content/uploads/2021/08/amr190252005pt. pdf (acesso em: 04.10.2022).] 
As pessoas deslocadas foram forçadas instalar-se em locais sem água e saneamento adequados, superlotados, sem privacidade ou ventilação suficiente, que representavam um risco para sua saúde. Os campos ofereciam poucos serviços de saúde e educação e um grande número de crianças não frequentava a escola.[footnoteRef:40] [40: Amnistia Internacional, Crimes de guerra no cabo esquecido de moçambique, 2021. Disponível em: https://www.amnesty.org/en/wp-content/uploads/2021/08/amr190252005pt. pdf (acesso em: 04.10.2022).] 
Os civis deslocados do Norte e ao longo do litoral mudaram-se, de uma maneira geral, para o sul e para o interior. Contudo, muitos dos locais para onde as pessoas se mudaram continuam a ser zonas de conflito e inacessíveis a organizações humanitárias. Pemba e as suas áreas circundantes, tais como a vila de Metuge, nas suas proximidades, do outro lado da baía, estão apinhadas de deslocados internos.[footnoteRef:41] [41: IOM, civis continuam a fugir da insegurança em Cabo Delgado, Moçambique, 17 Novembro 2020. Disponível em: https://www.iom.int/news/civilians-continue-flee-insecurity-cabo-delgado-mozambique (acesso em: 29.09.2022).] 
 Em vez de se mudarem para acampamentos com tendas, grande parte dos deslocados mudaram-se para casas já existentes, arrendando edifícios ou partilhando a casa das suas famílias alargadas. Com bastante frequência, chegam a estar 30 a 40 pessoas concentradas numa habitação unifamiliar.[footnoteRef:42] [42: IOM, civis continuam a fugir da insegurança em Cabo Delgado, Moçambique, 17 Novembro 2020. Disponível em: https://www.iom.int/news/civilians-continue-flee-insecurity-cabo-delgado-mozambique (acesso em: 29.09.2022).] 
À medida que o conflito se intensifica e o deslocamento se avoluma, vai crescendo a sensação de frustração e raiva entre as muitas pessoas que foram forçadas a deixar as suas casas.[footnoteRef:43] [43: IOM, civis continuam a fugir da insegurança em Cabo Delgado, Moçambique, 17 Novembro 2020. Disponível em: https://www.iom.int/news/civilians-continue-flee-insecurity-cabo-delgado-mozambique (acesso em: 29.09.2022).] 
5. O PAPEL DO DEFENSOR DOS DIREITOS HUMANOS NO CONFLITO ARMADO
Defensores dos direitos humanos é um termo utilizado para descrever as pessoas que, individualmente ou com outras, intervêm para promover e proteger os direitos humanos.
Os defensores dos direitos humanos lidam com quaisquer preocupações relacionadas com os direitos humanos, as quais podem ser tão diversificadas quanto, por exemplo, as execuções sumárias, torturas, prisões e detenções arbitrarias, mutilações de órgãos genitais femininos, discriminação, questões de emprego, despejos forçados, acesso aos cuidados de saúde, resíduos tóxicos e seu impacto sobre o ambiente. Os defensores actuam activamente em apoio aos direitos humanos que são tão diversos quanto o direito à vida, alimentação e água, ao mais alto padrão de qualidade de saúde, ao alojamento adequado, à um nome e uma nação. As vezes resolvem questões relacionadas com os direitos das categorias das pessoas, filhos, direitos dos refugiados e deslocados internos e os direitos das minorias nacionais, linguísticas ou sexuais.[footnoteRef:44] [44: http://www.dhnet.org.br/dados/manuais/a_pdf/303_manual_defensores_dh.pdf (acesso em: 04.10.2022.)] 
5.1. O governo de moçambique
As partes do conflito armado em Moçambique estão vinculadas pelo direito internacional humanitário, também conhecido como o direito da guerra, que rege a condução das hostilidades e oferece garantias fundamentais aos civis e aos combatentes capturados ou feridos.
Os Estados são responsáveis por todas as violações do direito internacional humanitário cometidas pelas suas tropas ou por agentes sob a sua autoridade. Esta responsabilidade acarreta a obrigação de o Estado assegurar a plena reparação pelas perdas ou danos sofridos. Embora a questão sobre se os grupos armados têm a obrigação de oferecer a reparação total pelas violações do direito internacional humanitário permaneça pendente, a prática indica que esses grupos têm o dever de oferecer um grau de reparação adequada.[footnoteRef:45] [45: Amnistia Internacional, Crimes de guerra no cabo esquecido de moçambique, 2021. Disponível em: https://www.amnesty.org/en/wp-content/uploads/2021/08/amr190252005pt. pdf (acedido em: 04.10.2022).] 
Neste contexto, o governo moçambicano defende que uma das missões essenciais das suas forças de segurança é assegurar a defesa dos cidadãos e a protecção dos seus bens. Contudo, observa-se que os militares e a polícia com demasiada frequência violam os seus deveres, lesando os cidadãos e apoderando-se ilicitamente dos seus bens, não cumprindo assim com a missão supra descrita.[footnoteRef:46] [46: Amnistia Internacional, Crimes de guerra no cabo esquecido de moçambique, 2021. Disponível em: https://www.amnesty.org/en/wp-content/uploads/2021/08/amr190252005pt. pdf (acedido em: 04.10.2022).] 
5.2. Organizações não-governamentais (ongs) e da sociedade civil (oscs)
Muitas organizações em todo o mundo dedicam os seus esforços a proteger osdireitos humanos e a acabar com abusos dos direitos humanos. As principiais organizações dos direitos humanos matem websites extensivos documentando violações e exigindo acções imediatas tanto a nível governamental como a nível da comunidade. O apoio publico e condenação de abusos é importante para o seu sucesso, visto que as organizações dos direitos humanos são mais eficazes quando os seus apelos por reforma são apoiados por defesa pública forte.[footnoteRef:47] [47: Disponível em: http://www.dhnet.org.br/dados/manuais/a_pdf/303_manual_defensores_dh.pdf (acesso em: 04.10.2022.)] 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Em jeito de conclusão, importa aqui salientar que a real implicação que resulta dos conflitos armados tem uma reacção negativa na protecção e garantia dos Direitos Humanos, considerando que são inúmeros casos já constatados de tais violações, não deixando de considerar os esforços feitos e pêlos Estados Moçambicanos com vista a redução de tais actos de barbaridades. Mas o nível de efectivação das medidas preventivas e adjacentes com vista a redução trata-se pois de um nível muito baixo, em um momento em que os conflitos na região norte do país têm continuado.
Os ataques na região centro e norte do Pais tratam sim de casos de violações extremas dos Direitos inerentes a pessoa humana, pois em relatórios publicados pela OAM, constata-se que a situação dos direitos humanos se deteriorou em 2020 e 2021 devido a ataques desencadeados por grupos armados nas regiões centro e norte do país. No Centro foram afectadas as províncias de Manica e Sofala e no Norte a província de Cabo Delgado.
Neste contexto, verifica-se que os insurgentes são acusados de execuções sumárias, homicídios e mutilação de corpos. Contra estes pesam ainda acusações de prática de sequestros, estupro de mulheres e crianças, bem como saque e destruição de bens da população civil. Se, por um lado, os insurgentes são acusados de cometerem atrocidades contra as populações, por outro, as FDS também são acusadas de excessos na execução das suas tarefas. Particularmente, as FDS foram acusadas de detenções arbitrárias, execuções sumárias, rapto e tortura da população civil, alegadamente por colaborarem com os terroristas. 
Assim, face a tais atrocidades é necessário que com muito esforço os órgãos de fiscalização da legalidade devem investigar as denúncias sobre as atrocidades cometidas contra a população, com vista a responsabilização dos autores. E com vista o alcance da redução e a efectivação da protecção e garantia de tais Direitos é necessário que o Estado fortifique a sua politica de actuação face a tais situações.
7. SUGESTÕES/RECOMENDAÇÕES 
· Respeitar a proibição da tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos e degradantes. 
· Facilitar um maior acesso humanitário a Cabo Delgado e assegurar que as pessoas deslocadas não sejam privadas dos seus direitos, tais como o direito à habitação devida e à educação para as crianças
· Sempre que existam provas concebíveis suficientes de crimes, sujeitar os suspeitos da sua autoria à justiça, através de julgamentos imparciais. 
· Os órgãos de administração da justiça devem responsabilizar criminalmente todos os indivíduos envolvidos em actos de terrorismo e outros actos relacionados com ataques armados, independentemente do facto de os seus agentes pertencerem a grupos de malfeitores ou às autoridades.
· Os órgãos de fiscalização da legalidade devem investigar as denúncias sobre as atrocidades cometidas contra a população.
· As autoridades e Organizações da Sociedade Civil devem continuar vigilantes sobre a questão da segurança no país.
8. REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICAS 
Legislação:
· CONVENÇÃO DE GENEBRA, relativa à protecção das pessoas civis em tempo de Guerra, de 12 de Agosto de 1949.
Doutrina:
· CICV, Como se define a expressão Conflito armado no direito internacional humanitário, Artigo de opinião, Março 2008. 
· LUQUINI, Roberto De Almeida, A aplicação do Direito Internacional Humanitário nos Conflitos novos, 2003.
· ORDEM DOS ADVOGADOS DE MOÇAMBIQUE(OAM), Relatório sobre Direitos Humanos em Moçambique 2020/2021, Layot & impressão Ciedima, Lda, Maputo, 2022. p.86.
Artigos da internet:
· Para além disso, acusava Ossufo Momade de ser o responsável pelo rapto e execução dos membrosda RENAMO com ligações a Afonso Dhlakama, antigo líder da RENAMO. Disponível em: https://tvi24.iol.pt/internacional/renamo/lider-da-oposicao-em-mocambique-diz-se-aberto-para-receber-inquietacoes-de-grupo-dissidente. acesso em 02.10.2022.
· Disponível em: https://e-global.pt/Notícias/lusofonia/mocambique/mocambique-renamo-convida-nhongo-a-juntar-se-ao-processo-de-ddr/. (acesso em: 1.10.2022)
· Amnistia Internacional, Crimes de guerra no cabo esquecido de moçambique, 2021. Disponível em: https://www.amnesty.org/en/wp-content/uploads/2021/08/amr190252005pt. pdf (acesso em: 04.10.2022).
· Disponível em: https://sicNotícias.pt/especiais/violencia-em-mocambique/2020-09-17-Human- Rights-Watch-pede-investigacao-a-execucao-de-uma-mulher-no-norte-de-Mocambique-387f2352 (acesso em 17.09.2022).
· https://www.msf.org.br/o-que-fazemos/atuacao/refugiados-e-deslocados-internos/ (acesso em: 03.10.2022).
· IOM, civis continuam a fugir da insegurança em Cabo Delgado, Moçambique, 17 Novembro 2020. Acedido em 2 de Outubro de 2021 em: https://www.iom.int/news/civilians-continue-flee-insecurity-cabo-delgado-mozambique (acesso em: 29.09.2022).
· https://www.acnur.org/portugues/quem-ajudamos/deslocados-internos/ (acesso em: 03.10.2022)
· https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos (acesso em 06.10.2022.)
· http://www.dhnet.org.br/dados/manuais/a_pdf/303_manual_defensores_dh.pdf (acesso em: 04.10.2022.)

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