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CASO CLÍNICO Paciente F.A.N. 24 anos comparece no pronto socorro e refere que foi a praia há 1 semana e depois vem notando eritema em face e tronco, além de inicio de dores articulares em mãos, pés, ombros e veio ao pronto socorro por um edema e dor em MID. Nega comorbidades. Em uso de anticoncepcional oral. LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO principalmente morbidade pois podem haver manifestações mais graves, que acometem a pele (gerando perda na autoestima) e os rins (pode levar o paciente para diálise, transfusão ou imunossupressão). Outras doenças podem favorecer aparecimento de LES: PTI (trombocitopenia imune), PTT (púrpura trombocitopênica trombótica), SAF (síndrome do anticorpo antifosfolípide), lúpus discóide e lúpus cutâneo subagudo. DEFINIÇÃO Doença inflamatória crônica que ocorre em surtos e remissões, pode afetar pele, rins, articulações, pulmões, sistema nervoso central e membranas serosas. Por ser uma doença autoimune, tem como principal característica a produção de auto anticorpos. O padrão inicial (5-7 anos) de acometimento é o que tende a prevalecer, e o paciente cursa apenas com algumas das manifestações. Se por exemplo uma paciente abre o quadro de lúpus com alopecia, rash e serosite/derrame pleural, há uma tendência que ela repita esse padrão nos períodos de surto da doença. Raramente, alguns pacientes abrem um quadro e, após 10 anos de doença, desenvolvem manifestação mais grave (nefrite ou quadro neurológico). EPIDEMIOLOGIA A principal epidemiologia do lúpus são mulheres jovens em idade fértil (20-30 anos) - cerca de 9-10 mulheres para 1 homem - tem mortalidade e prevalência é maior em não brancos. É uma doença de alta morbimortalidade, (1) questionar os antecedentes familiares, principalmente para doenças autoimunes; (2) suspeitar de trombose, tendo em vista que edema unilateral de membro superior ou inferior pressupõe descartar trombose, principalmente porque a trombose venosa profunda, apesar de não ter grandes consequências a curto prazo, ela pode gerar um tromboembolismo pulmonar; (3) história de alergias; (4) características da dor, incluindo intensidade, irradiação, piora ou melhora com o movimento, se é matinal ou ao longo do dia, presença de sinais flogísticos ou rigidez matinal, e frequência; (5) hábitos de vida. No caso clínico, pode-se: A partir das informações supracitadas, as alterações que podem gerar rash e edema articular e seriam suspeitas nesse caso incluem: lúpus, chikungunya, ou até mesmo um quadro de insolação + infecção viral. Portanto, na emergência, em quadro agudos dificilmente lúpus será o primeiro diagnóstico, visto que pode causar diversos tipos de acometimento - então nem tudo é lúpus, mas deve ser uma suspeita! Importante! O hipotireoidismo de Hashimoto pode ser um fator de predisposição ao lúpus, mas não é tão comum. Importante! Existe uma forma de lúpus que é apenas cutâneo, ou seja, não necessariamente tem acometimento sistêmico - portanto, o lúpus discóide e o lúpus cutâneo subagudo podem ser só cutâneos ou predispor ao aparecimento de um quadro sistêmico. As lesões discóides são normalmente cicatriciais e frequentemente acometem o couro cabeludo, onde destrói o folículo piloso, e assim não há o crescimento capilar, o paciente perde aquela área de cabelo e fica com uma cicatriz. FATORES DE RISCO Tabagismo Epidemiologia Deficiência seletiva de IgA Deficiência homozigótica de C1q, C1s, C4 Infecções Os principais fatores de risco para desenvolvimento do lúpus são: Algumas deficiências de imunoglobulinas como o IgA pode predispor ao lúpus. Quanto ao sistema complemento, algumas deficiências, como C1q e C4 podem favorecer o aparecimento de lúpus. Representa o principal fator de risco, atualmente o EBV (vírus Epstein-Barr) é um dos mais associados ao quadro, pois ele faz um mimetismo molecular. Assim, o vírus infecta as células do corpo, produz anticorpos contra o vírus, mas as partículas virais se parecem com as partículas do DNA, por isso, há uma destruição do DNA gerando produção de autoanticorpos que deflagram a doença. Esta é uma das hipóteses do desenvolvimento do lúpus. FATORES DE ATIVAÇÃO Consistem nos fatores que atuam quando a doença está em remissão, ativando-a - este fenômeno pode ser chamado de flare (piora ou agravamento dos sintomas, resultando na sensação de debilitação do organismo) ou reativação. Gestação ⅓ das pacientes pioram o quadro do lúpus na gravidez; ⅓ das pacientes não sofrem alteração no quadro durante a gravidez; ⅓ das pacientes melhoram o quadro de lúpus na gravidez. A paciente com lúpus pode engravidar, de preferência no período de remissão da doença, em teorias as doenças autoimunes melhoram na gestação, mas o lúpus é divergente pela via da imunidade e segue a regra do ⅓ (um terço): LAYANE SILVA LAYANE SILVA Portanto, é necessário organizar a paciente para que ela possa ter uma gestação mais tranquila, tanto do ponto de vista de medicação quanto da remissão da doença. FISIOPATOLOGIA Em relação à fisiopatologia, sabe-se que as doenças reumatológicas não tem a fisiopatologia bem esclarecida, no lúpus, em parte sabe-se que há um componente genético que estimula a produção de autoanticorpo. No entanto, nem sempre os pacientes que tem o componente genético desenvolvem a doença, portanto, existe algum outro estímulo necessário para desenvolver a doença. Em um estudo feito com soldados americanos (população de comorbidades conhecidas) foi feita a dosagem de todos os anticorpos no “-5” e essa população foi acompanhada ao longo de 10 anos a fim de observar o desenvolvimento ou não de doença reumatológica. No ponto 0 o gráfico indica os pacientes que abriram alguma doença reumatológica como o lúpus, isto significa que 5 anos antes de abrir o quadro eles já tinham uma titulação de anticorpos positiva. Exposição solar A ativação dos melanócitos ativa os linfócitos T que vão ativar os linfócitos B e seguir a cascata inflamatória, portanto, a exposição solar especificamente no lúpus sempre deve ser evitada. Infecções Cirurgias Estresse O estresse é um dos principais fatores de ativação, sendo que qualquer tipo de estresse (físico ou psicológico) pode desencadear a doença novamente. 88% tinham pelo menos 1 anticorpo positivo 5 anos antes do diagnóstico (FAN, antifosfolípides, anti-Ro e anti-La) Mas isso não significa que é necessário pedir a dosagem de anticorpos para inferir se o paciente terá ou não lúpus, pois isso irá gerar ansiedade e um estresse desnecessário para o paciente, que pode ter o anticorpo e não desenvolver a doença. Portanto, apesar de ser comum exame de rastreio com FAN, isso não é o ideal, os exames de autoanticorpo devem ser solicitados apenas se alto grau de suspeição clínica para que o exame laboratorial ajude a confirmar ou excluir a hipótese diagnóstica. Importante! Não há indicação de solicitar autoanticorpos sem ter um alto grau de predileção clínica! ETIOLOGIA Predisposição genética (HLA DR3 e DR4 – DQW1, DQW2) e deficiência do complemento; Os HLA são os antígenos leucocitários humanos, sendo que o HLA DR3 e DR4 podem estar associados ao lúpus, bem como DQW1, DQW2 e as deficiências do sistema complemento. Fatores ambientais (exposição solar e medicamentos); Existem alguns fatores ambientais que podem estar associados ao desenvolvimento da doença como a exposição solar e alguns medicamentos. Existe uma classe, que é uma subdivisão do lúpus, denominado lúpus induzido por medicamento, que geralmente ocorre em pessoas mais velhas (> 50 anos). Estes são quadros leves que tem associação direta com algum tipo de medicamento, geralmente está associada a hidralazina, que é um antihipertensivo usado com certa frequência em idosos. Normalmente com a retirada deste medicamento, o quadro tende a entrar em remissão e o paciente não precisa de tratamento com imunossupressor - por ser definitivamente induzido, geralmente não há períodos de surto e remissão após a retirada do agente agressor. Além disso, medicamentos usados na reumatologia como o anti-TNF também podemcausar lúpus induzido por medicamentos. Infecções – EBV; Com o vírus Epstein-Barr, segue-se a hipótese do mimetismo molecular pelas partículas virais. Em resumo, é necessário os fatores genético, ambiental, hormonal e viral - além disso, acredita-se que o estrogênio tenha um papel importante na fisiopatologia do lúpus mas com mecanismo desconhecido. Associado a esses fatores, há uma apoptose inefetiva e uma desregulação do sistema imune que culminam com a produção dos autoanticorpos, ativação do sistema complemento e a lesão tecidual. Esta lesão é causada principalmente pelo acúmulo de imunocomplexos, já que o anticorpo se liga com o antígeno formando imunocomplexos que são levados pelo sistema complemento, que os retira do corpo principalmente pela excreção renal nas vias urinárias. No lúpus, os imunocomplexos serão depositados no tecido causando lesão tecidual. Alopecia; As manifestações mucocutâneas são bem frequentes no lúpus, acometem 73% dos pacientes no início do quadro, entre as principais formas estão: A alopecia é uma queixa muito comum, principalmente em mulheres, por ser uma queixa muito subjetiva - habitualmente, uma mulher perde cerca de 100 fios de cabelo em 1 dia, portanto, é considerada alopecia uma perda maior do que 100 fios por dia (perda expressiva). Mucocutâneo MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Sintomas sistêmicos Fadiga, mialgia, febre (36%), perda ponderal (21%), de peso (hipoalbuminemia). Os sintomas sistêmicos são relativamente frequentes, principalmente astenia, mal-estar, febre e perda ponderal. No entanto, existem outras doenças que podem causar esses sintomas como neoplasias (linfomas, leucemias), infecção por HIV, tuberculose, arboviroses e hepatites B e C - portanto, existem diversos diagnósticos diferenciais. Articular O acometimento articular é um dos sintomas mais frequentes sendo a manifestação inicial mais comum, tem característica de ser migratória, simétrica, não erosiva, raramente deformante. Na imagem observa-se o quadro chamado de Artropatia de Jaccoud, que é uma alteração deformante principalmente ligamentar que vai estar relacionada com o lúpus. No raio-X, diferentemente da artrite reumatoide, não há nenhuma erosão articular importante, apenas subluxações, há uma deformidade que é reversível (se puxar e colocar o dedo no lugar, ele volta ao normal). Curiosidade! Na artrite reumatóide, há um quadro de subluxações e erosões irreversíveis, o que diferencia ambas doenças. Curiosidade! O tratamento do lúpus tem efeitos colaterais, porque são utilizadas medicações citotóxicas, ou seja, a maioria destroem o crescimento de unha e cabelos ou causam queda de cabelo (alopecia) secundária ao próprio tratamento. Fenômeno de Raynaud: resposta vascular exagerada à temperatura fria ou estresse emocional que cursa com alteração da cor da pele dos dedos de mãos e/ou pés. Consiste em uma manifestação interessante mas pouco relatada pelos pacientes, por isso deve ser questionado ativamente se as mãos ficam roxas no frio. Visto que o fenômeno de Raynaud tem a característica de ter inicialmente uma palidez seguida de uma cianose (vasoconstrição periférica) e seguida de uma vasodilatação. Esse fenômeno pode ocorrer no lobo auricular, mãos e pés, pode ser primário (maioria dos casos, não relacionado com doenças autoimunes) ou secundário (associada a doenças autoimunes). Portanto, é caracterizado por vasoconstrição seguida de vasodilatação: palidez + cianose + eritema. Questão de prova de residência! A tríade do Fenômeno de Raynaud é palidez + cianose + eritema. Úlceras orais indolores; Lesões cutâneas. Quanto ao acometimento cutâneo pelo lúpus, existem vários tipos de lesão, entre elas destacam-se: LAYANE SILVA Rash em asa de borboleta: rash malar clássico no formato de uma asa de borboleta, consiste em área avermelhada que encobre as bochechas e o nariz. I: mesangial mínima II: mesangial proliferativa III: proliferativa focal IV: proliferativa difusa V: membranosa VI: fibrose Cerca de 50% dos pacientes serão assintomáticos principalmente nos pacientes já com diagnóstico de lúpus. Assim, o quadro renal deve ser investigado a partir do acompanhamento do sumário de urina para rastrear proteinúria. Desse modo, é possível tratar o quadro antes do paciente manifestar qualquer uma das síndromes nefrítica ou nefrótica, pois a proteinúria no sumário de urina já indica lesão renal. A partir dessa suspeita, pode-se iniciar a investigação diagnóstica e, na maioria das vezes o paciente terá indicação de fazer biópsia renal seja para diagnóstico confirmatório do lúpus caso ele não tenha o diagnóstico, seja para identificar a classe da nefrite se o paciente já tem o diagnóstico de lúpus. As classes de nefrite que podem ser encontradas na histopatologia são: As classes de I a III causam menos dano renal e menos disfunção renal, ou seja, menor probabilidade do paciente ser encaminhado para a diálise. A classe tipo IV é a mais grave e a mais frequente, sendo a mais encontrada em biópsia e a que mais está relacionada com disfunção renal e diálise - o tipo IV é o mais comum, em segundo lugar está o tipo V. A classe VI é quando o rim já sofreu processo de fibrose e não tem mais função. Portanto, a nefrite é um dos principais acometimentos do lúpus e é o que necessita de maior acompanhamento pois: (1) é um dos acometimentos mais graves e mais frequentes, e (2) os pacientes podem ser assintomáticos no início do quadro. Lesões discóides: esse é um tipo de lesão inflamatória crônica, que fica cicatriz, classicamente acomete o couro cabeludo, mas pode ocorrer em qualquer parte do corpo. Lúpus subagudo: as lesões subagudas são muito comuns em regiões fotoexpostas, como tórax anterior, posterior, região cervical e face. Lúpus túmido: é um subtipo raro do LE cutâneo crônico, tem manifestação que parece um rash malar, é caracterizada por eritema, lesões urticariformes ou placas lisas, eritêmato- violáceas, brilhantes, localizadas na cabeça e no pescoço, muitas vezes com descamação fina discreta. Perniose lúpica (Hutchison): é mais comum em regiões frios, é uma lesão pruriginosa que aparece sempre nos dedos da mão. Renal Síndrome nefrótica/síndrome nefrítica O quadro renal no lúpus é uma das manifestações mais importantes, sendo que o lúpus pode causar tanto síndrome nefrítica quanto síndrome nefrótica. Então o paciente pode ter hipertensão e hematúria, ou também uma proteinúria importante. Importante! A relação entre a síndrome e o quadro histológico não existe, então pode haver uma síndrome nefrítica e um quadro mais leve ou uma síndrome nefrótica com um quadro mais grave. 50% assintomáticos Pulmonar Pleurite, derrame pleural, pneumonite, hipertensão pulmonar, TEP O quadro pulmonar tem vários acometimentos, mas o mais comum e clássico é o derrame pleural, que é um tipo de serosite - normalmente, está associado com sintomas como tosse e dispneia. Gastrointestinal Pancreatite lúpica Vasculite mesentérica Existem várias manifestações gastrointestinais, algumas ainda desconhecidas ou pouco esclarecidas, entre as mais comuns: Importante! Não só a vasculite mesentérica em si mas como qualquer tipo de vasculite (retiniana, cutânea) podem ser secundária ao lupus. Curiosidade! Pode-se classificar o lupus como brando (tranquilo) ou grave (presença de acometimento renal ou outras manifestações mais graves). Cardíaco O acometimento mais comum é o derrame pericárdico, portanto, a serosite é sempre mais comum do que as outras manifestações. LAYANE SILVA Pericardite; Endocardite de Libman-Sacks; Outra manifestação é a endocardite de Libman-Sacks, que no ecocardiograma observam-se 2 imagens nas válvulas cardíacas. Inicialmente a primeira hipótese diante desse exame é de endocardite bacteriana, que é a principal hipótese diagnóstica e a mais grave, mas necessita de outros critérios para confirmação (hemocultura). para a queixa do paciente. Teoricamente, deve-se incluir pele, articulações, aparelho respiratório, ausculta pulmonar e cardíaca, abdome (esplenomegalia,hepatomegalia), linfonodos (linfonodomegalia) e sistema neurológico. Essa avaliação serve também para inferir diagnósticos diferenciais, pois lúpus é uma das doenças que mais tem diagnóstico diferencial. BAV no LES neonatal. Nesse caso, há uma endocardite com hemoculturas negativas (endocardite asséptica) e sem sintomas sugestivos de endocardite/infecção (febre). Então esse acometimento é similar a um trombo que é formado na região das válvulas cardíacas denominado de endocardite de Libman-Sacks. É um quadro de endocardite asséptica que não é incomum no lúpus e no SAF. Esse acometimento tem pouca relação com a mãe portadora do lúpus, mas sim com o bebê, que manifesta um bloqueio atrioventricular antes ou logo após o parto. Isto acontece porque o anticorpo Anti-Ro passa a barreira placentária e pode afetar o bebê, causando lúpus neonatal que é um lúpus cutâneo (manifestações cutâneas) ou pode causar alteração cardíaca no próprio feto. Então as pacientes gestantes portadoras de lúpus com Anti-Ro positivo tem indicação de realizar o pré-natal de alto risco. Hematológico Linfadenomegalia, esplenomegalia, hepatomegalia Pancitopenia, trombofilias Entre as alterações hematológicas, as mais comuns são (1) as “penias”, ou seja, anemia, leucopenia, linfopenia e plaquetopenia, e (2) trombofilias. Imunológico Produção de anticorpos SNC Distúrbio cognitivo, psicose, convulsão, mielite transversa, AVC por tromboembolismo, neuropatia periférica Ceratoconjuntivite seca Os distúrbios cognitivos secundários ao lúpus são inespecíficos e não há um estudo concreto para quantificar essa manifestação, mas sabe-se que alguns pacientes tem esse acometimento. Na parte oftálmica, é o acometimento mais comum, consiste na dessecação bilateral crônica da córnea e conjuntiva causada por produção muito baixa de lágrima ou evaporação lacrimal acelerada. LAYANE SILVA EXAME FÍSICO No exame físico é necessário avaliar todos os sistemas de forma completa - na prática, o exame é mais direcionado EXAMES LABORATORIAIS PCR, VHS Hemograma Entre os exames básicos e iniciais na investigação de lúpus, incluem-se: Na reumatologia, as provas inflamatórias (PCR, VHS) são comumente solicitados, pois em geral são investigadas doenças inflamatórias e teoricamente há elevação destes marcadores. Especificamente, o lúpus tem uma característica de não influenciar tanto na IL-6, que é uma interleucina responsável pela produção do PCR, então o PCR que é mais específico para lesões inflamatórias tende a não aumentar, mas o VHS aumenta por ser muito mais sensível. O hemograma é utilizado para investigar as “penias” que são bastante encontradas no lúpus. Caso o paciente tenha anemia deve-se investigar anemia hemolítica, através dos seguintes marcadores: haptoglobina, coombs direto, bilirrubinas, LDH, esquizócitos e reticulócitos. Importante! Os esquizócitos são utilizados para diagnóstico diferencial, porque a anemia hemolítica autoimune não produz esquizócitos - eles serão produzidos na anemia hemolítica microangiopática. Complemento – C3, C4 Função renal, eletrólitos Proteinúria 24h ou pr/cr isolada + sumário de urina Albumina Exames de imagem conforme acometimento A fisiopatologia do lúpus é a formação de imunocomplexos e a lise pelo sistema complemento, portanto, a dosagem do sistema complemento sérico estará baixo pois terá um alto consumo pela lise dos imunocomplexos. Assim, o complemento ajuda a visualizar se o sistema complemento está em atividade ou não, assim como as provas inflamatórias, normalmente o C4 cai antes do que o C3, mas ambos estão baixos, e são indícios de lúpus e de atividade da doença. A depender do paciente, pode-se solicitar exames como tomografia de tórax ou ecocardiograma, eles irão variar de acordo com o acometimento e as queixas do paciente. suspeitar que possam ter alguns anticorpos envolvidos de acordo com o padrão da lâmina. LAYANE SILVA Importante! O FAN só será solicitado se suspeição clínica de doença autoimune e não necessariamente o lúpus mas também outras doenças como cirrose biliar primária e hepatite autoimune. Essas são imagens de lâminas que podem ser formadas na imunofluorescência direta e existem padrões específicos. De acordo com o padrão visualizado no FAN é possível Anticorpos - quais solicitar? FAN Sensibilidade 98% Especificidade 45% É essencial entender o papel do FAN para não solicitar a dosagem desse anticorpo na ausência de um significado clínico relevante, portanto, o FAN é o fator antinúcleo, que na verdade atua como “anti” qualquer componente da célula. O FAN é feito a partir de algumas células que são chamadas de células Hep-2 - são células de câncer de laringe que tem alto índice de proliferação, por isso foi escolhida para esse exame. Assim, são selecionadas essas células que estão proliferando rapidamente em meio de cultura, o soro do paciente que pode ou não ter o autoanticorpo e um anti- IgG (anti-imunoglobulina). Esta anti-imunoglobulina quando reage com outra anti-imunoglobulina gerando um anticorpo, ela fica verde pela imunofluorescência direta. Desse modo, se houverem autoanticorpos no soro do paciente irá ocorrer agregação, se por exemplo houver um anti-DNA ele vai se ligar ao DNA e fica verde. Portanto, o FAN é um exame de rastreio de autoanticorpos para identificar se o paciente tem ou não autoanticorpos. No entanto, ele não especifica qual anticorpo e para qual doença, então o FAN positivo pode não ter significado clínico ou pode ter significado para o reumatologista (tireoidite de Hashimoto, por exemplo). É um exame muito sensível, próximo ao 100%, mas pouco específico pois não informa qual doença o paciente possui. Importante! Idealmente deveria ser solicitado o FAN e posteriormente os anticorpos específicos para o padrão de FAN, mas na prática são solicitados todos para evitar que o paciente faça exame 2 vezes. Nuclear pontilhado fino denso Nuclear pontilhado fino: anti Ro - SSA, anti La - SSB Nuclear homogêneo: anti dsDNA, anti Histona Esse padrão pode ser na população normal, pois existe um autoanticorpo descoberto recentemente chamado de LEDGF, que até então não é patológico (sem doença associada), mas 20% da população tem esse anticorpo que pode positivar o FAN nesse padrão nuclear pontilhado fino denso. Esse padrão nuclear pontilhado fino está muito associado com os anticorpos anti-Ro ou anti-SSA e anti-La ou anti- SSB, que tem relação com manifestações cutâneas e lúpus neonatal (BAVT neonatal) Na imagem A, observa-se que formam pontos homogêneos e densos pois coram o núcleo de forma homogênea. Esse padrão nuclear homogêneo está relacionado com 2 anticorpos: (1) o anti-dsDNA, que é muito importante pois está associado com atividade de doença e nefrite, e (2) o anti-histona, é um dos marcadores que pode indicar lúpus induzido por medicamento. Importante! O anticorpo anti-dsDNA e o anti-P são os dois autoanticorpos que tem relação com atividade de doença, ou seja, devem ser acompanhados ao longo da doença para avaliar se ele irá positivar, negativar ou se irá persistir o título. Bem como os pacientes que tem o anticorpo anti- dsDNA positivo, tem maior chance de ter quadro renal. Curiosidade! O anti-dsDNA provoca lesão renal e o anti-SSP promove nefroproteção, portanto, são opostos e quando um está negativo o outro está positivo. Além disso, o anti- SSP pode estar relacionado com síndrome de Sjogren que não tem quadro renal. Nuclear pontilhado grosso: Anti RNP, Anti Sm Citoplasmático: lembrar do Anti -P O padrão nuclear pontilhado grosso está associado com (1) anti-Sm que é um anticorpo altamente específico do lúpus, assim, quando positivo praticamente fecha o diagnóstico, e (2) anti-RNP, que não tem tanta relação com o lúpus, mas sim com a doença mista. Na imagem E observa-se que há um pontilhado na região do citoplasma da célula. Esse padrão citoplasmático pontilhado está associado com o anti-P, que está relacionado com quadros de psicose lúpica e tem relação com atividade de doença. Importante! Se o exame for negativo,a imunoglobulina não vai reagir então não vai corar. Importante! No exame de FAN também aparece os títulos (1:80, 1:160) que sempre são múltiplos de 80 que quantificam a concentração de anticorpos. Essa titulação é obtida a partir de uma lâmina que é diluída em 1:80, 1:160, 1:320 e assim sucessivamente até que o anticorpo não seja mais visualizado. Na prática isso significa que quanto maior a diluição, maior a quantidade de anticorpos presentes na lâmina. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS CRITÉRIOS - SLICC 2012 Os critérios podem engessar o diagnóstico, mas na prática clínica eles podem ajudar porque nem todos os critérios tem alta sensibilidade e especificidade , por isso não é possível definir se o paciente tem lúpus ou um outro diagnóstico diferencial. NOVOS CRITÉRIOS ACR/EULAR 2019 Considerando os critérios SLICC de 2012, seriam necessários a presença de 4 ou mais critérios, sendo pelo menos um imunológico (exceto na presença de biópsia renal positiva) para o diagnóstico. LAYANE SILVA Importante! Lembrar que os critérios ajudam mas não excluem nem confirmam diagnóstico, assim, cada vez mais os critérios tem sido menos diagnósticos e mais classificatórios. Isto significa que eles não são usados para o diagnóstico, mas sim para a padronização em estudos de pesquisa clínica. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Doenças infecciosas Endocardite Linfoproliferativas: linfoma, leucemia Doenças autoinflamatórias: febre familiar do mediterrâneo Artrite reumatóide Sjogren Lúpus cutâneo PTT (púrpura trombocitopênica trombótica)/SHU (síndrome hemolítica-urêmica) Anemia hemolítica autoimune SAF primária O diagnóstico diferencial é amplo no lúpus e inclui: Deve-se considerar os quadros infecciosos, principalmente infecções crônicas, como tuberculose, hepatites e sífilis. Assim, na suspeita de lúpus, é importante sempre excluir outras causas que são mais comuns. TRATAMENTO De forma geral, o tratamento do lúpus inclui controle dos fatores de risco, uso de imunomodulador, imunossupressor, corticoide e hidroxicloroquina. Não farmacológico Educação sobre a doença Apoio psicológico Controle rigoroso fatores de risco cardiovascular – meta PA 130x80 Atividade física Evitar tabagismo Dieta rica em cálcio + vitamina D Fotoproteção Avaliação conjunta de fertilidade/anticoncepção O lúpus é uma doença que atinge principalmente mulheres jovens e manifesta lesões em pele, cabelo e articulações que muitas vezes afetam a autoestima do paciente. Portanto, essas pacientes necessitam de apoio psicológico e educação em relação à doença (conhecimento dos fatores de ativação). Além disso, deve-se recomendar o controle do risco cardiovascular por ser uma doença inflamatória, cujo tratamento inclui o uso de corticoide. Nesses pacientes pode ser necessária a suplementação da vitamina D, além disso o uso crônico de corticoide pode levar a perda da massa óssea. Lembrando que pacientes com lupus podem engravidar mas no melhor momento da doença, que seria o período de remissão e com os medicamentos corretos não teratogênicos. Farmacológico Do ponto de vista farmacológico, o tratamento do lúpus depende do envolvimento dos órgãos e sistemas - de forma didática, pode-se divididir em: (1) manifestações leves, são aquelas que podem ser tratadas com medicamentos via oral, como corticóide, imunossupressor e imunomodulação com hidroxicloroquina, garantindo uma lenta progressão da doença. (2) manifestações moderadas; (3) manifestações graves, se o paciente tem um quadro de nefrite (surto agudo renal), mielite transversa, vasculite aguda retiniana - ou seja, quadros que ameacem à vida ou levem a uma grande morbidade (diálise, dificuldade visual ou de mobilidade). É necessário tratar de forma mais rápida para garantir uma resposta mais rápida e recuperar o órgão que está sendo lesionado. Corticóide Nas manifestações graves, é feita a pulsoterapia, que consiste em uma dose muito alta de corticóide para frear a inflamação e manifestação mais grave da doença (nefrite, quadros neurológicos, acometimento da visão, pericardite) de forma abrupta. Assim, o paciente receberá uma dose de 500 a 1000 mg de Metilprednisolona por 3 a 5 dias associada a hidroxicloroquina. LAYANE SILVA Curiosidade! Atualmente, há uma tendência a reduzir a dose de corticoide utilizada na pulsoterapia, o novo consenso já prediz uma dose de 250 a 1000 mg/dia. Metotrexato: Articular Leflunomida: Articular Azatioprina: Hematológico/cutâneo/renal Imunossupressores Além do corticoide, existem outros imunossupressores que podem ser utilizados a depender do tipo de manifestação, como: Tanto o Metotrexato quanto a Leflunomida são drogas muito utilizadas em pacientes com quadros articulares e cutâneos - são também utilizados na artrite reumatóide. Micofenolato de mofetil: Renal/ cutâneo/ neurológico Ciclosporina, Tacrolimus, Dapsona, Danazol Ciclofosfamida: Renal/ neurológico Apesar da boa resposta em quase todas as manifestações e de ser por via oral, é um medicamento pouco acessível (alto custo), que foi liberado recentemente para nefrite lúpica pelo SUS. É um quimioterápico utilizado com uma dose bem menor e uma frequência menor do que quando usada na oncologia, também com objetivo de citotoxicidade e imunossupressão. É realizado em forma de pulsoterapia por 3-6 meses, pode ser mensal ou quinzenal, sendo muito utilizada em quadros renais e neurológicos, que são os mais graves. Dose alta: 0,5 – 1mg/kg De forma geral, o tratamento com corticoide é feito na dose de 0,5-1 mg/kg (dose imunossupressora), que sempre deve estar associada à hidroxicloroquina. Hidroxicloroquina sempre que possível! Portanto, a hidroxicloroquina será utilizada sempre que possível, exceto se a paciente tiver contraindicações, as principais são: (1) maculopatia e (2) alargamento de TP, que normalmente são causadas pela própria hidroxicloroquina. Importante! O paciente que faz uso de hidroxicloroquina precisa fazer acompanhamento anual com o oftalmologista, principalmente após 5 anos, pois a maculopatia é causada por depósito. Entre os benefícios do uso da hidroxicloroquina estão: reduz reativação, melhora perfil lipídico e reduz risco de tromboses e infecções, o que é interessante em um paciente que estará em imunossupressão. Importante! Em pacientes com manifestações graves inicialmente é feita a pulsoterapia + hidroxicloroquina, para posteriormente avaliar a imunossupressão. Além disso, quando o quadro é mais grave há opção de utilizar medicamentos venosos como a Ciclofosfamida ou o Micofenolato de mofetil via oral. Curiosidade! Está disponível via oral mas tem muitos efeitos colaterais em comparação com a administração endovenosa. Rituximabe/ Belimumabe: Em estudo – Renal? Os imunobiológicos em sua maioria são direcionados para algum alvo específico, que pode ser a interleucina ou um mediador. No caso do Rituximabe, que também é usado na oncologia, é um anti-CD20, sendo que o CD20 está presente nos linfócitos B, causando imunossupressão intensa. No lúpus, pela lógica, a depleção de linfócitos B seria benéfica, mas existem diversos mecanismos de compensação de tentativa do próprio organismo de feedback negativo (aumento da produção de linfócitos B. Em função disso, há o Belimumabe que bloqueia o estimulador de linfócito B (BLyS/BAFF). Ambos já foram aprovados para nefrite lúpica, mas são medicamentos recentes. Importante! O lúpus é uma doença de difícil tratamento do ponto de vista de acesso à medicação pelo SUS, que disponibiliza apenas Metotrexato, Leflunomida, Azatioprina, Hidroxicloroquina e Prednisona. As demais medicações não são de fácil acesso, e são bem caras por serem imunobiológicos.