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MATHEUS S. BORGES A ARTE DE PROJETAR ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO 1ª Edição a arte de projetar estruturas de concreto armado 1 A arte de projetar estruturas de concreto armado Aprenda sobre a mais bela das artes dentro da engenharia: a de projetar estruturas de concreto armado! Prof. Matheus Silveira Borges 1ª edição a arte de projetar estruturas de concreto armado 2 Direitos autorais © 2023 Matheus Silveira Borges. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em um sistema de recuperação, ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão expressa do autor. a arte de projetar estruturas de concreto armado 3 Ame ao teu próximo. Nenhum conhecimento te fará um grande profissional se não for aplicado em favor da humanidade a arte de projetar estruturas de concreto armado 4 Índice 1. O material concreto armado 6 1.1 O concreto sozinho 6 1.2 O concreto armado 6 1.3 Produção do concreto e suas falhas… 8 1.4 O tal do Fck 8 2. Ações estruturais 11 4.1 O que são as ações estruturais 11 4.2 Tipos de ações estruturais 11 4.3 Valores característicos e de projeto 12 4.4 Segurança estrutural 13 4.5 A combinação das ações 14 3. Concepção Estrutural e Estabilidade Global 18 3.1 Introdução à tal de estabilidade global 18 4 - Lajes de concreto armado 25 6.1 Lajes Treliçadas 25 5. Escadas de concreto armado 27 6 - Vigas de concreto armado 30 6.1 Um pouco sobre vigas de concreto armado 30 6.1.1 Conceito de vigas 30 6.1.2 Como funcionam as vigas de concreto armado 31 8.1.3 Domínios do concreto 32 6.2 Pré-dimensionamento de vigas 33 6.2.1 Método Simplificado 34 6.2.2 Método da Flecha 35 6.2.3 Método dos Domínios do Concreto 41 6.3 Prescrições (regras) de dimensionamento 43 6.3.1 Dimensões mínimas 43 6.3.2 Armadura mínima 44 a arte de projetar estruturas de concreto armado 5 6.3.3 Armadura máxima 44 6.3.4 Espaçamentos mínimos entre barras 44 6.4 Métodos de dimensionamento 45 6.4.1 Método K3 e K6 45 6.4.1.1 Dimensionamento de vigas simplesmente armadas 45 Seção 7 - Pilares de concreto armado 55 7.1 Introdução ao estudos dos pilares 55 7.2 Anatomia de um pilar de concreto armado 55 7.3 O que você precisa saber para calcular um pilar 56 7.4 O tal do índice de esbeltez 57 7.5 Classificação dos pilares quanto ao tipo de carregamento e geometria na arquitetura 59 7.6 Prescrições normativas 60 7.6.1 Seção de concreto 60 7.6.2 Diâmetro de armaduras 61 7.6.1 Área de aço 61 7.6.2 Espaçamentos entre armaduras 62 7.6.3 Espaçamento entre estribos 62 7.7 Dimensionamento das armaduras 62 Anexos 75 a arte de projetar estruturas de concreto armado 6 1 O material concreto armado O concreto armado é o material mais utilizado nas construções ao redor do mundo. Mas quais seriam os motivos para essa ampla utilização? Quais vantagens deste material fazem com ele seja escolhido diante das demais opções de materiais estruturais? É isso que você vai descobrir agora! 1.1 O concreto sozinho Sabe quando o pessoal faz aquelas “misturas” de cimento, areia e brita na rua para “encher” uma laje (e depois, aquele almoço com farofa para todo mundo)? Pois é… Aquela “mistura” que toma conta da rua na verdade é o que chamamos de concreto. Feito essencialmente por cimento, água e agregados, o concreto é o material empregado na construção de lajes, vigas, pilares e fundações da maior parte das construções brasileiras. A ilustração abaixo mostra como esses componentes se interagem para a confecção deste tão utilizado material de construção: a arte de projetar estruturas de concreto armado 7 O interessante é que esse mesmo concreto, da forma com que apresentamos, pode ser utilizado em diversos casos em que apenas a compressão é solicitada (ou a tração é muito baixa), como por exemplo, enchimentos de pisos, lastro para recebimento de fundação, etc. Ou seja, o concreto sozinho, apesar de ser até bom na resistência à compressão, não resiste muito bem à tração. Isso quer dizer que, se “esticado”, ele irá se romper. E isso é algo bem ruim pela ótica das estruturas, pois normalmente, os elementos estruturais são a todo momento tracionados (e comprimidos também). 1.2 O concreto armado Com isso, um dia tiveram uma ideia magnífica: “Vamos colocar um material bom à tração dentro desse concreto que já é bom à compressão. Aí teremos um novo material, bom de compressão e também de tração”. E qual material colocamos? Um chiclete? “Não! Vamos colocar o aço, que tem um coeficiente de dilatação térmica semelhante ao do concreto” “Aí, na hora que um dilatar, o outro vai junto”. E assim nasceu o material compósito concreto armado, que é o assunto que vamos tratar daqui para frente! a arte de projetar estruturas de concreto armado 8 1.3 Produção do concreto e suas falhas… Porém, o fato do concreto ser confeccionado em usinas ou no canteiro de obras o torna suscetível a uma possibilidade de erros de produção. Às vezes, colocam água demais, outrora aproveitam restos do dia anterior. Verdade é que, por poder ser moldado com relativa facilidade, o concreto é ainda muito dependente do controle de qualidade da obra. Com isso, o concreto passa a ser um material com uma razoável margem de incerteza no seu processo produtivo. E isso é, para nós, um grande desafio. 1.4 O tal do Fck Por esse (e por outros) motivos, existe uma grande preocupação em determinar qual seria a resistência, de fato, de um concreto que foi implementado em alguma obra. E para isso, são necessários ensaios de laboratório que nos dão uma pista do quanto um concreto aguenta. Ah! Matheus, e como funcionam esses ensaios? Imagine que você moldou 100 corpos de prova de uma obra. Depois de 28 dias, você irá rompê-los na prensa. Durante o processo, você foi contabilizando a resistência de cada um. Ao terminar as 100 rupturas, você pegou os valores de resistência e ordenou do menor para o maior. Fck é a resistência do 5º corpo de prova da lista. Ou seja, fck é a resistência do concreto que tem a probabilidade de apenas 5% dos demais corpos de prova ter uma resistência igual ou inferior. 1.5 E o aço? Bom, ao contrário do concreto e sua frágil cadeia de produção, o aço é um material com um maior controle de qualidade em sua produção. Isso faz com que sua utilização não precise de tanta preocupação quanto à sua qualidade original. a arte de projetar estruturas de concreto armado 9 1.6 Então por que usamos concreto armado e não uma estrutura somente de aço? Essa é uma dúvida bem interessante, já que o aço se apresenta como um material resistente, com ótimo controle de qualidade e ainda, relativamente leve. O que acontece no Brasil é que o concreto armado pode ser moldado em locais de difícil acesso, como por exemplo localidades rurais. Uma outra questão é a quantidade de mão de obra disponível para cada tecnologia construtiva, já que a grande maioria dos trabalhadores da construção civil estão acostumados com os métodos construtivos do concreto armado. Ainda, de forma mais técnica, o concreto armado apresenta a vantagem de ser moldado conforme a necessidade. Isso gera uma vantagem enorme do concreto armado sobre o aço, que ao contrário do concreto, é produzido em indústrias de forma padronizada e inflexível. No quesito resistência, não tem como comparar: o aço é muito melhor. Isso acaba gerando outro contraste entre as duas e que o concreto armado perde: as estruturas de aço ficam bem mais leves. Agora, mesmo com todas as vantagens que o aço apresenta, no Brasil, oconcreto armado ainda reina! E por esse motivo, nas próprias faculdades, se ensina muito mais o concreto armado, que é o grande assunto deste nosso livro! Exercícios 2.1 O concreto é um material de construção que pode ser empregado em duas vertentes na engenharia civil: como material de construção e como material estrutural. A grande diferença entre as aplicações está na capacidade resistente aos esforços estruturais. Vamos à algumas análises importantes: a) Um supermercado está prevendo um piso de concreto. Esse material, após a concretagem, se comportará como _____________________. b) A parede em um canal hidráulico para fins de escoamento de um curso d’água em um perímetro urbano suportará o empuxo do solo e quando cheio (dias de chuva), também a carga d’água. Esse material, após a concretagem, se comportará como _____________________. a arte de projetar estruturas de concreto armado 10 c) As sarjetas são executadas em concreto, visando a durabilidade como ferramenta importante no processo de drenagem urbana. Esse material, após a concretagem, se comportará como _____________________. 2.2 O aço e o concreto tem uma propriedade física extremamente importante em comum, que torna possível a formação do compósito concreto armado. Que propriedade física é essa e qual o seu valor? 2.3 Qual a diferença entre concreto armado e concreto protendido. 2.4 Na sua opinião, qual a principal vantagem do concreto armado? 2.5 Nós temos três tipos de aço para construção civil: CA-25, CA-50 e CA-60. Eles têm a mesma aderência ao concreto? (Se vocês ainda não conhecem os tipos de aço, uma rápida consulta à internet irá auxiliá-los) 2.6 Para relembrarmos de Resistência dos Materiais: Qual é o esforço que o aço causa no concreto quando eles são submetidos aos esforços de tração? a arte de projetar estruturas de concreto armado 11 2 Ações estruturais Aprenda a determinar as ações que atuam na estrutura e como são feitas as combinações delas dentro dos estados limites de desempenho. 2.1 O que são as ações estruturais Quando aplicamos uma força para abrir uma porta, por exemplo, nada mais ocorre do que a simples aplicação de uma ação sobre a maçaneta da porta. Neste caso específico, o conjunto porta e maçaneta é projetado intencionalmente para não reagir à nossa ação e a porta acaba se abrindo. Ou seja, uma ação representa nada mais do que um esforço para que algo se movimente. Porém, se não tivermos movimentação, não quer dizer que não tivemos a ação. Apenas, alguma reação exercida por algum elemento da estrutura foi competente o bastante para bloquear a eficácia desta ação em um processo físico de ação e reação. 2.2 Tipos de ações estruturais Agora, imagine a nossa porta do exemplo anterior. Apesar do peso próprio da porta sempre está ali, a força que exercemos na intenção de abri-la é aplicada por apenas alguns instantes. Ou seja, existe uma certa lógica da duração das ações estruturais. Nesse sentido, podemos classificar as nossas ações da seguinte forma: ● Permanentes: São aquelas que permanecem com um valor fixo em toda a vida útil de uma edificação. Um bom exemplo disso é o peso do tronco de uma árvore após essa alcançar a fase adulta. Durante toda a vida desta árvore, o tronco estará aplicando seu peso sobre as raízes. ● Variáveis: São aquelas que se apresentam de forma totalmente incerta, tanto em questão de valores quanto em duração de aplicação. Ou seja, em alguns casos, a ação estará na a arte de projetar estruturas de concreto armado 12 estrutura. Em outros, já não estará mais. E quando estiver, apresentará sempre um valor diferente um do outro. Um bom exemplo disso é o peso das folhas e frutos da nossa árvore. Em algum momento, teremos folhas e frutos. Em outros, apenas folhas. No outono, até as folhas irão cair. Ou seja, teremos diferentes valores de carga sendo aplicados nos diferentes períodos da vida útil da estrutura. ● Excepcional: São aquelas que possivelmente nunca ocorrerão na vida útil da edificação. Mas, se ocorrer, será por um curto período de tempo. É o caso, por exemplo, do dia que a gente cai de uma bicicleta ou sofre um escorregão. A imagem abaixo ilustra como essas ações podem aparecer na estrutura: E as ações excepcionais? Por que não apareceram na árvore? Bom, por que o melhor exemplo de ação excepcional em uma árvore é um machado cortando a coitada! Então é melhor deixar sem ela no nosso exemplo, não é mesmo? 2.3 Valores característicos e de projeto No Brasil, os valores das ações estruturais são orientados pela NBR 6120:2019. Nela, temos tabelas dos pesos dos mais diversos elementos de uma estrutura e também taxas de cargas para as mais diversas funções arquitetônicas (ex: academia, biblioteca). a arte de projetar estruturas de concreto armado 13 Porém, nessa norma, o que temos como dados de consulta são valores característicos de ações. E o que vem a ser isso na prática? Bom, os valores característicos são intensidades de cargas estimadas para uma determinada situação. Porém, esta estimativa não contempla combinações possíveis ou imperfeições nos processos construtivos. Ou seja, esses valores não possuem ponderações de segurança ou de baixa probabilidade de ocorrência. Portanto, sobre um valor característico de ação, temos ainda que aplicar as devidas considerações de majoração ou minoração. Na NBR 6118:2014, essas ponderações são feitas pelo método dos estados limites. Ou seja, ao invés de majorar uma carga especificamente com um coeficiente de segurança fixo (estratégia determinística), fazemos as combinações das mais diversas cargas contemplando as chances de que elas ocorram de forma simultânea (estratégia probabilística). Basicamente, deixamos de lado a ideia de aplicar um coeficiente de segurança único em todos os casos possíveis de uma estrutura e passamos a pensar tentando visualizar como cada caso poderá, junto aos demais, impactar a estrutura. Assim, o que achamos ao fim deste processo, será o que chamamos de solicitação de projeto, que é o que de fato usamos para dimensionar um elemento estrutural. Trocando em miúdos, não é com a carga do vento que dimensionamentos um pilar, e sim com o valor de solicitação ponderada a partir das ações do vento, do peso das pessoas, dos móveis, do próprio concreto armado, etc. e ainda, prevendo a pior situação dentre as inúmeras possíveis combinações dessas ações. 2.4 Segurança estrutural Para que a segurança estrutural seja mantida, temos que respeitar a seguinte inequação: onde Sd é a solicitação de cálculo, ou seja, os esforços solicitantes já majorados e Rd a resistência de cálculo, ou seja, a resistência do material já minorada. Agora, vamos aprender a como calcular o Sd, que é feito, segundo as normas brasileiras, por um processo de combinação de ações. a arte de projetar estruturas de concreto armado 14 2.5 A combinação das ações A combinação de ações visa analisar a estrutura sob toda e qualquer agrupamento possível de ações. Segundo a NBR 6118, para as combinações normais, especiais ou de construção, essa ação combinada, ou ação de projeto Fd é dada por: Onde γg pondera uma ação permanentes Fgk (k aqui no sentido de o F ser característico, ou seja, não majorado), γq pondera as ações variáveis Fqk, γε pondera as ações indiretas e impostas Fεk, como recalques de apoio, retração e cargas de dilatação térmica. Para montarmos as combinações de ações com as devidas ponderações, precisamos utilizar a tabela abaixo: Valores γf Tipo de combinação de ações Permanentes (g) Variáveis (q) Recalques de apoio e retração (ε) D F G T D F Normais 1,4(a) 1 1,4 1,2 1,2 0 Especiais/ construção 1,3 1 1,2 1 1,2 0 Excepcionais 1,2 1 1 0 0 0 OBS: D é desfavorável, F é favorável, G representa as cargas variáveis em geral e T é a temperatura.(a) Para as cargas permanentes de pequena variabilidade, como o peso próprio das estruturas, especialmente as pré-moldadas, esse coeficiente pode ser reduzido para 1,3. Exemplo 1 Em um pilar de concreto armado, temos a ocorrência de uma carga permanente de 10tf de compressão, uma variável de tração por motivos gerais de 2tf e outra de compressão por motivos gerais de 3tf. Assim, para uma primeira combinação com todas as possíveis ações, teremos: a arte de projetar estruturas de concreto armado 15 Perceba que nesta combinação, temos uma carga que alivia o pilar, ou seja, com ela, o pilar fica menos carregado. O complicado é que essa é uma ação variável e portanto, pode ser que em algum momento não esteja carregando a estrutura. Com isso, precisamos fazer uma combinação retirando ela para ver o que teremos atuando no nosso pilar: Ou seja, sem essa ação, a estrutura alcançará seu ponto crítico. Assim, Fd = 18,2tf. Exemplo 2 Em um pilar de concreto armado, temos a ocorrência de uma carga permanente de 4tf de compressão, uma variável de tração por motivos gerais de 7tf e outra de compressão por motivos gerais de 0,5tf. Assim, para uma primeira combinação com todas as possíveis ações, teremos: Agora, perceba que a carga permanente atua em sentido contrário à resultante das forças. Isso é interessante pois neste caso, a carga permanente atua aliviando a estrutura. Mas aí surge outra dúvida: E se este elemento estrutural for executado com alguma diferença que o faça ter um peso próprio menor? Perceba que uma valor de cargas permanentes eleva a carga final de projeto desta combinação. Apenas como exemplo, retire a carga permanente da combinação. Sobrará 9,1tf de tração, ou seja, bema cima do 4,05tf de tração que a combinação 1 entregou. Assim, prever alguma falha na execução das cargas permanentes pode ser algo interessante de fazermos. E para isso, podemos usar a coluna favorável da tabela de coeficientes, que diz que nesse caso, temos que multiplicar a carga por 1. Assim, teremos: Perceba ainda que a carga variável de 0,5 ainda está aliviando a estrutura, ou seja, no momento em que ela não estiver ocorrendo, atingiremos o ponto máximo de carga de tração. Olha só: a arte de projetar estruturas de concreto armado 16 Ou seja, neste caso, a carga crítica é -5,8tf. Exercícios 1 Sobre um determinado pilar está atuando exclusivamente uma ação de valor característico de 1000Kgf. Assumindo-se que essa ação é permanente e que faremos uma consideração de combinações de ações normais em uma situação desfavorável, qual será o seu valor de projeto no cálculo estrutural? 2 Em um pilar de uma residência a qual você está projetando, estão sendo aplicadas as seguintes ações axiais: - Ações permanentes = 20KN - Ação variável 1= 10KN - Ação variável 2 = - 5KN a) Faça a combinação de ações dentro do ELU considerando que estará atuando: Ações permanentes D, Ação variável 1 e Ação variável 2. b) Faça a combinação de ações dentro do ELU considerando que estará atuando: Ações permanentes F, Ação variável 1. c) Qual das combinações de ações dentro do ELU acima oferece a situação mais crítica de projeto, ou seja o Nd do pilar? 3 Você está desenvolvendo um projeto estrutural de uma viga de concreto armado solicitado por ações permanentes e variáveis. Esse projeto está ilustrado abaixo: OBS: Os valores acima representam as ações características. L1 = 4m e L2 = 1,5m. Os valores das ações são os seguintes: A1 = Ação permanente de 10KN/m A2 = Ação variável de 7KN/m a arte de projetar estruturas de concreto armado 17 A3 = Ação permanente de 15KN Com base nas informações apresentadas, proceda com as seguintes questões: a) Faça a combinação das ações acima no ELU para o Nd do pilar A considerando todas como desfavoráveis. b) Faça a combinação das ações acima no ELU para o Nd do pilar A considerando que a ação permanente A3 seria favorável. c) Para qual combinação (a ou b), devemos dimensionar o nosso pilar? 4 Para o projeto estrutural da viga abaixo, encontre quais são os valores de projeto dos momentos fletores máximos, considerando uma combinação de ações normais. OBS: Os valores acima representam as ações características. L1 = 4m e L2 = 1,5m. G1 = 10KN/m G2 = 5KN/m Q1 = 20KN Q2 = 5KN Combinações de ações desejáveis: C1 = G1D + G2D + Q1 + Q2 C2 = G1D + G2F + Q1 + Q2 C3 = G1D + G2D + Q1 C4 = G1D + G2D + Q2 C5 = G1D + G2D a arte de projetar estruturas de concreto armado 18 3 Concepção Estrutural e Estabilidade Global Compreenda como funcionam os coeficientes de instabilidade e como eles impactam a estrutura. 3.1 Introdução à tal de estabilidade global Sabe aquela brincadeira de andar em cima da guia de calçadas? Sim, eu fazia muito isso quando era criança. Porém, o que eu não sabia é que aquela brincadeira escondia um dos conceitos mais importantes da engenharia estrutural: o de estabilidade. Mas olha só: Durante a faculdade, aprendemos muito sobre uma coisa que tem um nome parecido: estaticidade. E como você já deve está esperando, essas duas coisas não são iguais. Mas então, o que vem a ser estabilidade? Fisicamente, estabilidade é a condição que algo tem de permanecer em um determinado estado. Assim, trazendo para a nossa engenharia de estruturas, a estabilidade é a capacidade que uma estrutura terá de não ter seu comportamento alterado. Ainda está difícil de entender, né? Então vamos para uma ilustração para entendermos isso melhor? Imagine que você está carregando um saco de cimento nas costas. O fato de você está aguentando carregar o cimento já indica que existe ali um equilíbrio. Se você ficar parado com saco de cimento nas costas, é um equilíbrio estático. Se você andar e tudo ficar certinho ainda, passa a ser um equilíbrio dinâmico. Até aí tudo bem. O grande problema é que, depois de algum tempo, você vai cansar e com isso, o cimento vai começar a “querer” cair dos seus braços. a arte de projetar estruturas de concreto armado 19 Sua postura também vai alterar e toda uma geometria inicialmente existente será perdida. Agora, apesar do equilíbrio ainda existir, ele começou a mostrar que pode ser perdido a qualquer momento. Ou seja, agora ele está um equilíbrio instável. Se porventura alguém aparecer e te ajudar segurando o cimento para você, o equilíbrio voltará a ser estável. Assim, quando tratamos do termo estabilidade em estruturas, estamos falando do potencial que uma estrutura tem de perder seu equilíbrio (estático ou dinâmico). 3.2 E como medir uma instabilidade? Vamos imaginar uma situação bem simples: Alguém que não sabe andar de bicicleta tentando aprender. É esperado que essa pessoa dê uma balançada para cá e pra lá durante a pedalada, não é mesmo? E o interessante é que, até um certo limite, essa pessoa não perderá o equilíbrio. Passando deste ponto, a queda é certa! Então como podemos medir esse potencial de queda? Talvez pela distância que seu corpo sai do centro de massa quando tá aquela balançada! Sim, medir o deslocamento horizontal é uma boa alternativa. Nas estruturas de concreto armado, as coisas funcionam de forma similar. Nós metrificamos os deslocamentos que acontecem na estrutura para identificar como está a estabilidade dela. Ah! Matheus, mas medir o deslocamento lateral não é uma boa… Imagine que o ciclista esteja fazendo uma curva. É natural que ele incline a bicicleta para fazer a curva e isso nada tem a ver com o ciclista cair, não é mesmo? Então, além de medir o deslocamento do ciclista, precisamos também identificar o motivo desse deslocamento. E em estruturas, é exatamente isso que acontece! Vamos entender melhor? 3.2 O gama-z a arte de projetar estruturas de concreto armado 20 O gama-z é o coeficiente de instabilidade que faz exatamenteisso! Ele compara os deslocamentos causados pela ação do vento (que são normais e esperados) com os que acontecem por outros motivos (como por exemplo assimetria na estrutura). Com isso, ele consegue medir o que vai acontecer em dias que não estiverem ventando, ou seja, causados por características “pessoais” da estrutura. Isso é muito interessante, pois assim, conseguimos modelar a estrutura para que, sem a interferência de ventos, ela fique certinha! Na hora que ventar, a estrutura desloca, mas quando o vento parar, ela irá voltar para o lugar de origem! Isso é que é a nossa famosa estabilidade! Mas e como o nosso gama-z é calculado? Da seguinte forma: Onde P são as cargas verticais e V as cargas de vento. Vamos então a um exemplo resolvido? Exemplo a arte de projetar estruturas de concreto armado 21 Suponha que, em um prédio com 80tf de cargas verticais e deslocamento horizontal no topo de 28mm, temos a atuação de um Vento x Gabarito total de 30.000tf.mm. Exercícios 1. Segundo a NBR 6118:2014, um dos instrumentos de metrificação da estabilidade global de um edifício é o Coeficiente de Instabilidade Gama-Z, cuja fórmula é apresentada abaixo: onde, - ΔMtot,d é o somatório dos produtos das forças gravitacionais pelos deslocamentos horizontais de primeira ordem; - M1tot,d é o somatório dos momentos causados pelas forças horizontais em cada pavimento da estrutura. Faça uma análise desta fórmula e indique qual a importância de cada elemento no resultado final. 2. Modele as estruturas abaixo no Ftool e após, calcule o coeficiente Gama-Z seguindo as especificações de rigidez: a) Todos os elementos possuem a mesma rigidez. E = 25GPa e I = 5e-3m^4 a arte de projetar estruturas de concreto armado 22 b) Vigas: E = 25GPa e I = 5e-3m^4; Pilares: E = 25GPa e I = 1e-2m^4 3. A estrutura abaixo apresenta Gama-Z maior que 1,10, o que na prática de projeto, indica que os efeitos de 2ª ordem são significativos. Considerando que esses efeitos não são desejáveis para este projeto, resolva esse problema de forma que o Gama-Z seja menor que 1,10. a arte de projetar estruturas de concreto armado 23 E = 10GPa; Seção de todos os elementos: 13cm x 13cm 4. Calcule o coeficiente Gama-Z da estrutura abaixo sem e com contraventamento (escolha algum tipo). E = 10GPa Seções (inclusive do elemento de contraventamento): 20cm x 20cm O que você conclui a partir dos resultados encontrados? a arte de projetar estruturas de concreto armado 24 5. Agora, compare os resultados da estrutura contraventada com uma outra opção de projeto, onde os apoios serão engastados e não teremos contraventamento. Qual apresentou melhor resultado no que se refere à estabilidade global? 6. Ainda, na sua opinião, o resultado que você encontrou é uma verdade plena? Ou existem variáveis na estrutura modelada que, se alteradas, mudarão totalmente os resultados? 7. Faça uma pesquisa na internet e descubra como os contraventamentos são feitos em estruturas de concreto armado. a arte de projetar estruturas de concreto armado 25 4 Lajes de concreto armado Aprenda todo o processo de projeto de lajes de concreto armado 4.1 Lajes Treliçadas Nos mais diversos cursos de engenharia civil distribuídos pelo nosso país, o conteúdo de lajes de concreto armado foca apenas em lajes maciças. Eu mesmo aprendi somente laje maciça na faculdade, o que ressalto ser extremamente importante! No entanto, não podemos limitar o ensino de lajes apenas às maciças, visto que a cada dia que se passa, mais se utilizam as modalidades de lajes pré-moldadas na construção civil, área que mais empregará vocês! Como a teoria das lajes maciças é idêntica à das vigas e nosso tempo não permite estudar todos os tipos de lajes, vamos focar nas lajes pré-moldadas. O que precisamos saber para calcular as lajes treliçadas? O cálculo deste tipo de laje é feito basicamente dimensionando as vigotas treliçadas! Vamos ver como tudo funciona? No fim deste livro, eu adicionei um manual de lajes treliçadas (o fabricante em questão é a ArcelorMittal, mas poderia ser qualquer outro, desde que respeitadas as especificações de cada produto). Nesse manual, temos diversas especificações sobre o projeto das lajes treliçadas. Como muito do que tem no manual já lhes foi apresentado previamente, vamos focar especificamente no dimensionamento das vigotas treliçadas! Para tal, o manual traz tabelas de dimensionamento a partir da página 23 do arquivo PDF. a arte de projetar estruturas de concreto armado 26 Acima, eu reproduzi uma das tabelas que tem no manual, que foi feita especificamente para a vigota modelo TB 8L. Esse código quer dizer T = treliça, B = Belgo (marca), L = Leve, 8 = 8cm de altura h. Maiores detalhes podem ser vistos diretamente no manual. Agora, com os valores de carga acidental da laje e o vão livre, você consegue encontrar a quantidade de armadura adicional necessária (se for necessária). a arte de projetar estruturas de concreto armado 27 Vamos a um exemplo? Exemplo 1 Dimensione uma laje treliçada para o seguinte ambiente: Iremos utilizar enchimento de bloco cerâmico e a carga acidental de projeto é 70Kgf/m² ou 0,7KN/m². Uma decisão que precisamos tomar também é o sentido das vigotas. Na maioria dos casos, jogamos a vigota no sentido do menor vão. Assim, teremos: Agora, iremos consultar as tabelas. A ideia é iniciar pela primeira tabela (mais econômica) e somente ir para a próxima se a vigota treliçada não puder ser utilizada! Vamos lá então? Ao analisar a primeira tabela, temos que pelo cruzamento da nossa carga acidental com o nosso vão (se não tiver a informação exata, pegue uma maior), a situação que atenderá a nossa laje será: a arte de projetar estruturas de concreto armado 28 Consultando a legenda... … Temos que uma vigota TB 8L sem nenhuma armadura adicional já atende à nossa laje. Vamos ver outro exemplo, agora de um ambiente um pouco maior e com mais carga. Iremos utilizar enchimento de bloco cerâmico e a carga acidental de projeto é 200Kgf/m² ou 2KN/m². Agora, vamos procurar a treliça adequada ao nosso projeto. Na primeira opção, vemos que a vigota não nos atende. a arte de projetar estruturas de concreto armado 29 Agora, vamos para a próxima tabela: Agora, a vigota nos atende. Porém, precisamos de uma armadura adicional na mesa da treliça de duas barras de 4.2mm (nada mal). Ainda, pela cor da legenda, precisamos especificar para o pessoal da obra deixar uma contra-flecha de 1,5cm. Pronto! Agora é só construir e ser feliz! a arte de projetar estruturas de concreto armado 30 5 Vigas de concreto armado Aprenda todo o processo de projeto de vigas de concreto armado. 5.1 Um pouco sobre vigas de concreto armado 5.1.1 Conceito de vigas As vigas são elementos lineares em que o comprimento longitudinal L é ao menos 3 vezes maior que a maior dimensão da seção transversal do elemento. Essas vigas atuam combatendo principalmente a esforços de flexão e cisalhamento oriundos de cargas verticais. Caso tenhamos cargas horizontais, o modelo estrutura de viga de Euller-Bernoulli não é mais válido, sendo que o ideal é projetar a estrutura usando o modelo de pórticos. Aqui, por uma questão pedagógica, iremos considerar que as nossas vigas estarão submetidas apenas à flexão e cisalhamento. a arte de projetar estruturas de concreto armado 31 Nesse sentido, para o dimensionamento de vigas de concreto armado, precisamos primeiramente distinguir como os esforços solicitantes de flexão e cisalhamento podem atuar: ● Flexão pura: é quando apenas um momento fletor atua na viga. Isso só ocorre em pontos onde o cisalhamento é nulo (neste caso, derivada da função momentoé nula, ou seja, em um máximo/mínimo de momento) ● Flexão simples: junto ao momento, temos cisalhamento. Isso ocorre em todos os pontos de uma viga, com exceção do ponto de momento máximo ou momento nulo. ● Flexão composta: junto ao momento e ao cisalhamento, agora teremos forças normais. Isso ocorre quando a viga é solicitada por uma ação ou componente de ação horizontal. É um caso teoricamente raro e portanto, não será contemplado neste livro. A flexão pura, tal como calculamos, é uma abstração teórica (tal como muita coisa em cálculo estrutural), porém, de grande valor pedagógico. Vale lembrar ainda que a flexão é um tipo de solicitação que automaticamente traz junto de si esforços de compressão e de tração. 5.1.2 Como funcionam as vigas de concreto armado No entanto, nós sabemos que o concreto é um material que resiste bem apenas aos esforços de compressão. Por esse motivo, teríamos, em uma viga feita apenas de concreto, grandes problemas na parte tracionada. Por esse motivo, temos que adicionar, na parte tracionada, um material que resiste bem à tração. E ainda, que possui propriedades físicas similares ao concreto, para não ter problemas como dilatações distintas ou coisas do tipo. Assim, com essas especificações, o melhor material até então desenvolvido é o aço de construção civil. A imagem a seguir mostra como tudo isso funciona: a arte de projetar estruturas de concreto armado 32 Perceba que, onde temos tração, precisamos colocar as armaduras. O legal é que nos diagramas de momento, temos as regiões positivas e negativas. No cotidiano de projetos e obras, as armaduras que combatem esses esforços recebem exatamente os mesmos nomes: armaduras positivas atuando no combate ao momento positivo e armaduras negativas combatendo os momentos negativos. Mas o que tem por trás dessa ideia de usar armaduras para combater tração? Como se comporta o concreto quando inserimos um material estranho a ele. A seguir, vamos dar uma olhada em um dos fundamentos mais importantes do dimensionamento de vigas de concreto armado: os domínios do concreto. 5.1.3 Domínios do concreto Os domínios do concreto são classificações de uma peça estrutural de acordo com a posição de sua linha neutra, ou seja, a região de transição entre tração e compressão em uma viga de concreto armado, conforme ilustrado a seguir: a arte de projetar estruturas de concreto armado 33 Basicamente, o que teremos nestes domínios são situações de comportamento mecânico à ruptura do concreto e da armadura. Os três domínios típicos da flexão são: - Domínio I, onde a peça trabalha somente a uma tração não uniforme. - Domínio II, onde a peça trabalha sob tração, mas agora também com um pouco de compressão. - Domínio III, onde a peça trabalha de uma forma mais equilibrada os esforços de tração e compressão. Na prática, usamos muito o Como o Domínio III oferece a relação mais favorável entre os desempenhos do concreto e do aço, iremos focar o dimensionamento das vigas neste domínio. 5.2 Pré-dimensionamento de vigas O pré-dimensionamento é uma etapa importante e imprescindível da concepção estrutural. É com o pré-dimensionamento que desenvolvemos que são feitas as análises estruturais iniciais de um projeto. Cabe ressaltar aqui que temos diversas “dimensões” a serem determinadas em uma viga. No entanto, nesta etapa específica, conseguimos obter essencialmente a base bw e a altura h. As demais dimensões serão determinadas conforme avançamos no processo do projeto estrutural! a arte de projetar estruturas de concreto armado 34 E para encontrarmos nossos bw e h, temos muitas técnicas de pré-dimensionamento à disposição na literatura e internet. E além delas, temos algumas que eu mesmo desenvolvi nestes anos que trabalho o conteúdo de estruturas, que, baseadas em conceitos fundamentais do projeto de estruturas de concreto armado, concede bons resultados no processo de concepção estrutural. Nesse sentido, vou apresentar para vocês os seguintes métodos de pré-dimensionamento de vigas: - Método simplificado; - Método da Flecha; - Método dos Domínios do Concreto. 5.2.1 Método Simplificado O método simplificado é uma estratégia extremamente simples e eficiente para o pré- dimensionamento. Essencialmente, ele torna diversas variáveis matemáticas, que na prática se repetem para a maioria dos casos reais, em uma simples constante. Assim, a gente consegue definir a altura total h de uma seção transversal apenas aplicando a seguinte fórmula: a arte de projetar estruturas de concreto armado 35 onde L é o vão teórico da viga. 5.2.2 Método da Flecha Outra técnica que vou discutir com vocês é o pré-dimensionamento usando o estado limite de serviço de deformações (flechas) excessivas. Em tese, ao pré-dimensionar para esse critério, sua estrutura somente precisará ser validada pelos demais (estados limites de serviço e estado limite último). Vamos ver como isso funciona? Suponha que a gente tenha a seguinte viga em um projeto que estamos começando a desenvolver. Quais serão as suas dimensões? Bem, as dimensões finais é difícil de saber, pois precisamos fazer muitas verificações para saber ao certo. Porém, pré-dimensionar, ou seja, “chutar” valores de dimensão é plenamente possível. Vamos fazer o seguinte: A fórmula da flecha para esse caso é: a arte de projetar estruturas de concreto armado 36 Consideraremos E = 21GPa (iremos tratar especificamente do E mais para frente na nossa disciplina). E como temos os limites de serviço de deformações excessivas para respeitar, vamos consultar a tabela 13.3 da norma 6118, que diz quais são os limites de deslocamento: Assim, teremos que condicionar nossa flecha ao limite l/250. Como aqui temos uma flecha para baixo, iremos adotar -l/250. Teremos então: Como temos os valores de Q, L e E, podemos substituir na fórmula e deixar I como incógnita. OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: O Q merece um detalhe especial nesta parte: nós não temos o peso próprio da estrutura, pois ainda não temos sua dimensão. Esse é um problema recorrente no cálculo estrutural e que é resolvido (amenizado) de diversas maneiras. Aqui, vamos apenas desconsiderar sua existência, visto que, na prática, essa defasagem no Q total irá gerar apenas alguns ajustes dimensionais no processo de dimensionamento no ELU. Voltando ao cálculo… Isolando o I, temos: a arte de projetar estruturas de concreto armado 37 Teoricamente, qualquer seção transversal com esse valor de I seria aceita. Mas vamos mergulhar um pouco mais? Vamos considerar que temos duas geometrias possíveis para essa viga: Se usarmos nosso valor de inércia, teremos para cada seção as seguintes dimensões: Percebam que as duas soluções são válidas! Elas resolvem o problema da flecha. Porém, a seção à direita consome menos concreto e tem uma menor largura (bw). E aí? Qual escolher? Parte II - Usando um software. Em algumas situações, a fórmula da flecha de um sistema estrutural não é algo simples de se obter, dificultando o processo de pré-dimensionamento usando essa estratégia. Quando isso ocorre, podemos recorrer a um software de análise estrutural, tal como o Ftool. Vamos ver como isso funciona? Vamos pré-dimensionar a viga abaixo. Percebam que a sua flecha máxima não é facilmente determinada por fórmulas como o caso anterior, visto que não temos em tabelas da literatura qual seria a sua fórmula diretamente. a arte de projetar estruturas de concreto armado 38 Assim, vamos modelá-la no Ftool. A parte de lançamento geométrico segue o mesmo fluxo das demais estruturas que vocês já estão acostumados a lançar: O que temos que fazer a mais é apenas configurar o material com o E = 21GPa, e também, “chutar uma seção transversal” e ir avaliando se o limite da flecha estásendo atingido ou não. O ideal nessa etapa é chegar a um limite inferior próximo ao valor de l/250, que nesse caso será 0,02m (20mm) para o vão e 2 x 0,08m = 0,016m (16mm) para o balanço, considerando a nota 1 da tabela 13.3 da NBR 6118:2014, que instruir que o l deve ser dobrado no balanço: . a arte de projetar estruturas de concreto armado 39 Assim, eu comecei meu “chute” da seguinte forma: Vamos ver o que deu? A flecha máxima foi de 1.528 mm, ou seja, bem inferior ao limite. Se avançarmos com essa seção, é bem provável que que ela não terá problemas em ser aprovada no ELU, porém, compensa dar uma diminuída nela para ver o que vai dar… Como a flecha deu muito abaixo, vou diminuir drasticamente a seção: 12cm x 15cm. O resultado foi uma flecha de 14,25mm. a arte de projetar estruturas de concreto armado 40 Uma outra análise que podemos fazer é considerar agora o peso próprio acrescido à carga que está atuando: Como o concreto armado pesa 25KN/m³, podemos considerar que nessa seção, teremos um peso de 0,45KN/m. O resultado foi: Ou seja, ao acrescentar o peso próprio, a flecha aumenta, mas não de forma a ultrapassar o limite. Vamos à algumas considerações finais? Vocês perceberam que a seção de concreto ficou bem menor do que estamos acostumados? A carga utilizada está dentro do usual (algo em torno de 13 KN/m ou um pouco mais dependendo do ambiente). Então a carga não é o motivo da discrepância com o que estamos acostumados. O módulo de elasticidade do concreto Fck 25MPa é algo em torno de 21GPa, então isso também está ok? Então, o que foi que aconteceu? Vou mostrar para vocês… Voltando ao Ftool, fiz uma pequena modificação didática na nossa estrutura: a arte de projetar estruturas de concreto armado 41 Retirei o balanço e avaliei a flecha pós alteração. Olhem só: 23,48mm. Com a mesma configuração, porém sem o balanço, a flecha aumentou 8,9mm, ou seja, 61%. Incrivel, não? Ou seja, duas coisas são intuitivas: o balanço ajuda e muito a redução de flechas, o que fica atestado na arquitetura que marcou o Brasil na década de 90, onde as lajes “inexplicavelmente” saiam para fora da casa: Eu morei em uma casa assim em Montes Claros! A ideia desse balanço era diminuir a flecha das lajes! Legal, não é? Outra coisa que podemos concluir: O critério da flecha não é uma estratégia muito boa para esses casos, visto que o sistema estrutural é bem eficiente, entregando flechas muito baixas. Esse tipo de estrutura vai ter problema mais no ELU do que no ELS. Portanto, precisamos de mais métodos de pré-dimensionamento, que entreguem realidades mais abrangentes. 5.2.3 Método dos Domínios do Concreto O método dos domínios é uma estratégia não tão simples quanto as outras duas, mas talvez que entrega os melhores resultados. Isso porque variáveis importantes como os resultados de uma análise estrutural, a classe do concreto e o “quanto” de armadura queremos ter na viga impactar no processo. a arte de projetar estruturas de concreto armado 42 Essencialmente, o método consiste em determinar qual a posição da linha neutra queremos ter na nossa viga. Com isso, as pré-dimensões são determinadas. Vamos ver como isso funciona na prática? No pré-dimensionamento pelos Domínios do Concreto, o ideal é escolhermos uma profundidade de linha neutra que atenda ao nosso interesse. Eu pessoalmente gosto de trabalhar no limite entre os domínios II e III, onde x = 0,259d. Eu faço assim para que, sob qualquer alteração que fizermos na viga durante as demais etapas do cálculo, não corrermos o risco de sairmos dos domínios II e III. Dessa premissa, podemos partir para uma análise bem simples usando as tabelas de K3 e K6 (Anexo I). Nela, podemos ver quais são os valores de K6 para cada classe de concreto para que x = 0,259d: ξ = x/d C-20 C-25 C-30 0,259 62,1 49,7 41,4 Assim, com um concreto C-25, por exemplo, teremos um K6 de 49,7. Usando uma estratégia de engenharia reversa, podemos estimar a altura útil d aplicando a fórmula do K6. Vamos à um exemplo? Considere uma viga de concreto armado com M = 10KN.m e bw = 15cm. Qual seria a pré- dimensão h? a arte de projetar estruturas de concreto armado 43 Exercícios 1. Pré-dimensione as vigas abaixo pelos métodos simplificado, das flechas e dos domínios do concreto. Q = 10 kn/m; L1 = 3m; L2 = 5m; L3 = 2m; Econcreto = 25GPa; bw = 14cm a) b) 5.3 Prescrições (regras) de dimensionamento Para o dimensionamento e detalhamentos de vigas de concreto armado, temos algumas regras a serem seguidas. Essas regras visam garantir uma boa execução das peças e ainda, garantir a segurança estrutural da edificação. A seguir, iremos ver quais são as principais regras, segundo a NBR 6118:2014, que são utilizadas no dimensionamento e detalhamento de uma viga: 5.3.1 Dimensões mínimas Segundo a norma, a menor dimensão de uma viga é 12cm. Porém, em casos devidamente justificados, pode-se chegar a 10cm. Esse valor de 12cm tinha muito sentido quando os pilares também podiam ter 12cm de menor lado. Porém, após a revisão da norma em 2014, os pilares passaram a ter lado mínimo de a arte de projetar estruturas de concreto armado 44 14cm. Então, por questão construtiva e prática, podemos deliberar que, na maioria das vezes, utilizaremos 14cm em nossas vigas. Uma outra questão é que a norma, em momento algum, dá um valor limite para a altura da viga, ou seja, qualquer valor pode ser usado, desde que atendidas as verificações de segurança dos estados limites. 5.3.2 Armadura mínima Para que consideremos eventuais momentos mínimos e que as nossas vigas não fiquem subarmadas, basta que usemos a seguinte tabela com os valores mínimos de taxa de armadura: Fck 20 25 30 35 40 45 50 ρmín 0,15 0,15 0,15 0,164 0,179 0,194 0,208 Ou seja, a área de aço As,mínima de uma viga será: As,mín = ρmín.Ac Para o caso dos estribos, temos que o diâmetro mínimo é de 5,0mm. Ou seja, aquele famoso estribo de 4,2mm não está adequado pela ótica da norma. 5.3.3 Armadura máxima Em contraste, para evitar que a viga fique superarmada, precisamos limitar a taxa de armadura a um valor máximo de 4% da área de concreto. Ainda, considerando as regiões de traspasse, é prudente considerar, na prática, a taxa de armadura máxima igual a 2%. Ou seja, a área de aço As máxima de uma viga será, na prática: As,max = 0,02.Ac No caso dos estribos, temos que o seu diâmetro não pode exceder 10% da base bw da viga. 5.3.4 Espaçamentos mínimos entre barras Para evitar também falhas no processo de moldagem do concreto, a norma também especifica espaçamentos mínimos entre barras. a arte de projetar estruturas de concreto armado 45 A seguir, temos a listagem desses valores mostrando três opções a serem verificadas para os espaçamentos horizontal e vertical. A nossa viga será aprovada caso o maior entre esses valores seja respeitado pelo nosso detalhamento. No espaçamento horizontal, temos que respeitar o maior dos valores abaixo: - 2 cm - diâmetro da barra longitudinal - 1,2 x dimensão máxima do agregado graúdo No espaçamento vertical, temos que respeitar o maior dos valores abaixo: - 2 cm; - diâmetro da barra longitudinal - 0,5 x dimensão máxima do agregado graúdo E se esses valores não forem atendidos pelo nosso detalhamento? A sugestão é modificar o nosso detalhamento, para que nada contra a norma seja mandado para a obra, ok? 5.4 Métodos de dimensionamento 5.4.1 Método K3 e K6 Nas seções anteriores, vimos a teoria fundamental para o dimensionamento de vigas à flexão. Agora, vamos para a parte prática! Mas antes, convém relatar que temos dois tipos de processos de dimensionamento: um para vigas simplesmente armadas (quando temos armaduras de tração na parte tracionada e porta-estribos na comprimida)e outro para vigas duplamente armadas (quando temos além da armadura de tração, armadura para combate à compressão). Aqui neste livro, você vai aprender as duas formas de dimensionamento! Vamos lá então? 5.4.1.1 Dimensionamento de vigas simplesmente armadas As vigas simplesmente armadas são aquelas que não tiveram a sua profundidade de linha neutra com valor maior do que 0,45d. Ou seja, são vigas que estão no domínio II ou III abaixo do 0,45d. a arte de projetar estruturas de concreto armado 46 Para o devido dimensionamento dessas vigas, siga os seguintes passos: 1. Levante todos os parâmetros da viga para o dimensionamento, especificados a seguir: a. Pré-dimensões da seção transversal. b. Classe do concreto (e consequentemente o fcd), tipo de aço e nível de agressividade ambiental (e consequentemente o recobrimento c). c. Esforços solicitantes de projeto, construídos com base nas combinações de ações. 2. Com todos os parâmetros especificados, determine a altura útil d, onde: Como não sabemos o diâmetro ϕt (dos estribos) e ϕl (das armaduras longitudinais), eu particularmente sugiro usar apenas o h-c mesmo. Dá um valor próximo ao que será na realidade e torna o processo bem mais prático! 3. Agora, calcule o coeficiente adimensional K6: Esse 10 no denominador é apenas para garantir automaticamente que bw e d sejam em cm e Md em KN.m. OBS: Aqui, é necessário sempre analisar o ξ da viga, deve ser menor que 0,45, sendo a NBR 6118. Se for maior, teremos uma viga duplamente armada, que é algo que ainda vamos ver… a arte de projetar estruturas de concreto armado 47 4. Com o K6 determinado, iremos encontrar o K3 na tabela de K6 e K3. Como é pouco provável encontrar um valor exato de K6 na tabela, vamos combinar de pegar sempre um valor imediatamente menor, ok? 5. Agora, vamos calcular o As com base no valor de K3 encontrado: 7. Agora, precisamos escolher qual armadura utilizar, por meio da tabela de diâmetros, abaixo apresentada: Tabela 1 Bitola Número de barras e As (cm²) ϕ (mm) 1 2 3 4 5 6 7 8 5,0 0,20 0,39 0,59 0,79 0,98 1,18 1,37 1,57 6,3 0,31 0,62 0,94 1,25 1,56 1,87 2,18 2,49 8,0 0,50 1,01 1,51 2,01 2,51 3,02 3,52 4,02 10,0 0,79 1,57 2,36 3,14 3,93 4,71 5,50 6,28 12,5 1,23 2,45 3,68 4,91 6,14 7,36 8,59 9,82 16,0 2,01 4,02 6,03 8,04 10,05 12,06 14,07 16,08 20,0 3,14 6,28 9,42 12,57 15,71 18,85 21,99 25,13 22,0 3,80 7,60 11,40 15,21 19,01 22,81 26,61 30,41 25,0 4,91 9,82 14,73 19,63 24,54 29,45 34,36 39,27 32,0 8,04 16,08 24,13 32,17 40,21 48,25 56,30 64,34 40,0 12,57 25,13 37,70 50,27 62,83 75,40 87,96 100,53 8. Para cada dimensionamento feito, precisamos verificar o detalhamento proposto que se refere às prescrições da NBR 6118:2014. Vou lista abaixo quais devemos verificar: - Taxa de armadura e As,mín, seguindo a tabela abaixo: Taxa de armadura mínima ρ (As/Ac) para diferentes resistências características Fck 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 a arte de projetar estruturas de concreto armado 48 ρ,mín 0,15 0,15 0,15 0,164 0,179 0,194 0,208 0,211 0,219 0,226 0,233 0,239 0,245 0,251 0,256 - Espaçamento entre barras (ah e av), seguindo o esquema abaixo: OBS: O bw mínimo deve ser verificado já no pré-dimensionamento, ou seja, antes de se fazer os demais cálculos. Vamos então para um exemplo prático? Exemplo Resolvido Dimensione a As de uma viga de concreto armado submetida a um momento de 10KN.m. - Seção transversal pré-dimensionada: 14cm x 30cm. - Nível de agressividade I com recobrimento de 2,5cm. - Concreto C25 e Aço CA-50. 1. Definindo a altura útil: 2. Calculando o K6: a arte de projetar estruturas de concreto armado 49 Verificando a linha neutra, temos que ξ = 0,12. Ou seja, estamos no domínio II. 3. Na tabela, podemos obter um K3 = 0,338. 4. Com isso, podemos calcular o As: 5. Agora, temos que partir para o detalhamento. Um primeiro ponto é que o mínimo de barras que podemos usar é 4 (2 na parte superior e 2 na inferior), pois precisamos ter uma armadura em cada canto do estribo dando o formato retangular para ela! Assim, temos que conferir na Tabela 1 qual o As maior e mais próximo do que calculamos e ver a viabilidade de sua utilização. Vamos lá? Vou reproduzir a tabela abaixo, colorindo os campos em que o As é maior e próximo ao nosso Bitola Número de barras e As (cm²) ϕ (mm) 1 2 3 4 5 6 7 8 5,0 0,20 0,39 0,59 0,79 0,98 1,18 1,37 1,57 6,3 0,31 0,62 0,94 1,25 1,56 1,87 2,18 2,49 8,0 0,50 1,01 1,51 2,01 2,51 3,02 3,52 4,02 10,0 0,79 1,57 2,36 3,14 3,93 4,71 5,50 6,28 12,5 1,23 2,45 3,68 4,91 6,14 7,36 8,59 9,82 16,0 2,01 4,02 6,03 8,04 10,05 12,06 14,07 16,08 20,0 3,14 6,28 9,42 12,57 15,71 18,85 21,99 25,13 22,0 3,80 7,60 11,40 15,21 19,01 22,81 26,61 30,41 25,0 4,91 9,82 14,73 19,63 24,54 29,45 34,36 39,27 32,0 8,04 16,08 24,13 32,17 40,21 48,25 56,30 64,34 40,0 12,57 25,13 37,70 50,27 62,83 75,40 87,96 100,53 As barras de 5,0mm e 6,3mm não são recomendadas na prática por serem pouco rígidas, podendo apresentar problemas na hora da concretagem. Assim, vamos focar as armaduras dimensionadas nas bitolas 8,0mm em diante. a arte de projetar estruturas de concreto armado 50 OBS: Podemos utilizar essas bitolas mais finas nos porta-estribos, que são as armaduras colocadas apenas para garantir o formato retangular da viga. Assim teremos 2 de 10,0mm ou 3 de 8,0mm. Teoricamente, pela ótica da aderência, 3 de 8,0mm é melhor por ter maior área de contato concreto-armadura. Dobrar barras mais finas também é mais fácil. Agora, uma coisa que pode determinar qual escolheremos é o preço. Suponha que uma barra (12m) de 8,0mm é vendida à R$50,00 e que a barra (12m) de 10,0mm é vendida a R$65,00. Suponha ainda que a viga tem 4m, ou seja, precisaremos de 8m de barra. Se comprarmos a barra 8,0mm, teremos um custo de R$50,00 e nenhuma sobra. Se comprarmos a barra de 10,0mm, teremos um custo de R$65,00 e uma sobra de 4m. Olhando essa viga isoladamente, percebemos que a barra de 8,0mm é mais viável. Vamos continuar nossa análise amplificando o projeto. Agora, vamos fazer três vigas iguais com esse mesmo detalhamento (em projetos reais, ocorre de termos vigas iguais). Para 8,0mm, precisamos de 3 barras, em custo total de R$150,00. Para 10,0mm, precisamos de 2 barras, em um custo total de R$130,00. Em ambas as situações, não teremos sobras… Interessante, não? E como isso é feito na prática? Considera-se todo o projeto estrutural, com cada elemento contribuindo de alguma forma com os demais e assim, chega-se a um ponto otimizado de compras de armaduras. Ah! Matheus, e na prática, posso trocar 2 de 10,0mm por 3 de 8,0mm? Não, porque 1,51cm² é menor que 1,57cm² e nem sempre a troca será válida. Percebam que apenas quando As calculado for < 1,51, a permuta entre as bitolas será permitida. E isso vale para todas as demais bitolas, quando trocas forem necessárias. Agora, eu penso que em caso de trocar isso direto na obra, não o façam sem a comunicação e autorização do projetista, pois pode colocar em risco a garantia da responsabilidade técnica dele e com isso, você assumiria riscos além dos de sua atribuição inicialmente prevista. Exemplo Resolvido a arte de projetar estruturas de concreto armado 51 Em pontes de concreto armado, temos a presença de vigas chamadas transversinas e longarinas. Neste exemplo, vamos dimensionar uma transversina, conforme ilustrada a seguir: Para tal, considere que todas as ponderações necessárias já foram desenvolvidas e que o esforço máximo de dimensionamento é o presente na ilustração. Considere também: - Pré-dimensionamento de 20cm x 70cm - Ações permanentes (Ap) = 4KN/m - Concreto C-25 e Aço CA-50 - Diâmetro máximo do agregado = 19mm - Classe de agressividade II - Pelo fato da estrutura ser pré-moldada, iremos considerarligação transversina-pilar como totalmente articulada. Resolução: Parte I - Análise Estrutural Iremos desenvolver inicialmente a análise estática da estrutura no Ftool: a arte de projetar estruturas de concreto armado 52 Assim, teremos os seguintes resultados para o diagrama de momento fletor: Com isso, teremos que dimensionar nossa viga para um momento negativo de 38KN.m. Parte II - Dimensionamento Iremos fazer o dimensionamento utilizando o método k3 e k6. Para isso iremos definir alguns parâmetros: - Recobrimento de 30mm (vide Tabela 7.2 da NBR 6118:2014) - Com isso d = 67cm - bw = 20cm Agora, iremos determinar o k6: a arte de projetar estruturas de concreto armado 53 Com isso, podemos encontrar na tabela nosso k3 = 0,329. Tabela disponível no final deste livro, no Anexo I. Agora, podemos encontrar a As: Precisamos agora verificar se essa quantidade de aço pode ser utilizada, dados os limites de taxa de armadura. Para concreto C-25, os limites são 0,15%.Ac para o mínimo e 4%.Ac para o máximo. Lembrando que é prudente considerar o máximo como 2%.Ac por conta das regiões de transpasse. Agora, iremos verificar esses limites: Percebam que nossa As = 1,86cm² não atende o limite mínimo, que é de 2,1cm². Assim, teremos que utilizar As = 2,1cm². Agora, percebam que isso ocorreu por conta do pré-dimensionamento não adequado para o caso. Um sinal de que isso iria ocorrer estava no k6 encontrado, que foi relativamente alto, conforme Botelho e Marchetti discute na página 324 do livro Concreto Armado eu te amo. Isso então nos mostra que podemos trabalhar com uma seção transversal com menores dimensões. Vamos fazer esse teste? Agora, irei pré-dimensionar a viga com 20cm x 60cm. O k6 passa a valer = 171. Assim, o k3 passa a valer = 0,331. Com isso As passa a valer = 2,20cm². Conferindo a taxa de armadura, teremos um limite mínimo de 1,8cm² e máximo (prático) de 24cm². Percebam que agora eu estou trabalhando com a armadura acima do mínimo, ou seja, o dimensionamento destas não foi a arte de projetar estruturas de concreto armado 54 elevado para seguir o critério da norma. Percebam que aumentamos apenas um pouco no aço, mas conseguimos economizar de forma interessante no concreto! Vamos agora para o detalhamento da armadura: Se partirmos nossa análise da armadura ϕ 8.0mm, perceberemos que seriam necessárias 5 barras. Partindo para ϕ 10.0mm, teremos 3 barras. Testando a armadura ϕ 12.5mm, teremos 2 barras. Vamos adotar aqui, apenas para exemplificar, 2 ϕ 12,5mm. Percebam que, se nós estivéssemos no outro formato da transversina (20cm x 70cm), teríamos As = 2,1cm². Deduzindo essa As em barras de ϕ 12.5mm, teremos 2 barras, tal como na transversina de 20cm x 60cm! Ou seja, o projeto da viga com h = 60cm demonstrou-se muito mais eficiente! Agora, temos apenas que verificar a questão do espaçamento entre barras. Como são apenas 2 ϕ 12,5mm, o espaçamento entre elas é: eh = bw - 2r - 2ϕ eh = 20cm - 2.2,5cm - 2.1,25cm eh = 12,5cm Como os limites mínimos são: 2cm, ou ϕl, ou 1,2.ϕag, temos que o mínimo, de fato, será 2,28cm. Ou seja, o critério da distância mínima foi atendido também! Exercícios Q = 10KN/m, L1 = 4m e L2 = 1m 1. Dimensione a viga acima para que ela trabalhe dentro do Domínio II. 2. Dimensione a viga acima para que ela trabalhe dentro do Domínio III. a arte de projetar estruturas de concreto armado 55 7 Pilares de concreto armado Aprenda todo o processo de projeto de pilares de concreto armado 7.1 Introdução ao estudos dos pilares Um pilar é basicamente um elemento estrutural com potencial de absorção de cargas gravitacionais, ou seja cargas verticais. No entanto, ele pode absorver também cargas horizontais (como a do vento) por conta do funcionamento aporticado de algumas estruturas. Ou seja, além de projetarmos nossos pilares para receberem o peso das coisas, temos também que prepará-lo para absorver o impacto dos ventos, situação em que eles acabam se tornando também os chamados elementos de contraventamento. Ainda, em algumas obras arquitetônicas, temos pilares que não necessariamente são verticais por opção estética. Em algumas obras de Niemeyer, por exemplo, temos a ocorrência de pilares inclinados. Não obstante, independente de sua função e geometria, temos que garantir que nossos pilares suportem os esforços a eles aplicados. E é exatamente isso que vamos aprender neste Seção! 7.2 Anatomia de um pilar de concreto armado Especificamente nos pilares de concreto armado, o concreto é responsável por suportar os esforços de compressão, enquanto as armaduras longitudinais auxiliam o concreto a suportar os esforços de compressão e também resistem a eventuais esforços de tração que possam ocorrem por conta de pilares com reações negativas que surgem por motivo da atuação de cargas de vento em prédios altos ou até mesmo a flexão em pilares de borda e de canto. Os pilares de concreto possuem uma anatomia bem interessante, mostrada na figura a seguir: a arte de projetar estruturas de concreto armado 56 Na prática dos nossos projetos estruturais, as dimensões de concreto são normalmente pré-concebidas com base em restrições normativas e também nas restrições dimensionais da arquitetura. Com o pré-dimensionamento da seção transversal de concreto efetuado, partimos para um dimensionamento do aço, fazendo as devidas verificações normativas. Dito isso, podemos perceber que o fluxo do projeto de um pilar de concreto armado é diferente do que normalmente imaginamos antes de entrar na disciplina: 1. “Chutamos” as dimensões de concreto por meio de técnicas empíricas de pré- dimensionamento em uma etapa chamada Concepção Estrutural. 2. Calculamos as propriedades geométricas usando as dimensões “chutadas” e fazemos a Análise Estrutural. 3. Encontramos as dimensões e quantidades de aço para suportar os esforços com base na dimensão “chutada” nos itens anteriores. Essa etapa é chamada de Dimensionamento. 4. Verificamos quais detalhamentos podem ser utilizados e se eles obedecem as limitações normativas. Essa etapa é chamada de Detalhamento. 7.3 O que você precisa saber para calcular um pilar a arte de projetar estruturas de concreto armado 57 Um pilar é calculado contemplando diversas óticas e situações. Neste livro, iremos tratar cada uma individualmente, mostrando o funcionamento físico e matemático que norteia o processo. O primeiro ponto que temos que conhecer é acerca da esbeltez do pilar em relação a uma potencial flambagem. Os diferentes índices de esbeltez que encontramos irão ditar o comportamento do pilar que estamos calculando (inclusive como iremos calculá-lo nas próximas etapas), o que faz uma diferença enorme no quesito econômico. Depois, iremos determinar quais esforços solicitantes atuam no pilar em função do seu índice de esbeltez. Aqui, teremos que considerar a atuação de esforços de 1ª e 2ª ordem, de acordo com o que orienta a norma NBR 6118:2014. Feito isso, iremos partir para o dimensionamento (já imaginando um possível detalhamento), usando os ábacos de Venturini. Após, iremos detalhar nossos pilares considerando as restrições normativas para tal. Simples igual morder água, não é mesmo? Vamos lá então para o nosso estudo? 7.4 O tal do índice de esbeltez Para o cálculo dos nossos pilares, o primeiro passo é compreender a sua esbeltez. Isso, inclusive, ajuda no pré- dimensionamento do pilar, que é necessário para determinarmos as suas armaduras. O índice de esbeltez é um valor numérico adimensional que classifica um pilar quanto a sua tendência de flambar. Com essa classificação, conseguimos prever o comportamento do pilar, inclusive de ruptura, e assim, dimensioná-lo (para não romper). O índice de esbeltez é calculado da seguinte forma: onde λ (lambda) indica o índicede esbeltez do pilar, le o comprimento equivalente do pilar e r o raio de giração. Vamos entender isso direitinho… a arte de projetar estruturas de concreto armado 58 O le é um comprimento ajustado de um pilar de acordo com seu comprimento de flambagem. Tem toda uma teoria por trás disso e que é trabalhada em Resistência dos Materiais II. Aqui, iremos ir diretamente para a formulação e os valores já determinados. Vamos considerar então que o le é determinado por: onde K é o coeficiente de flambagem e l o comprimento do pilar. Para esse K (que é algo que cai em diversos concursos), temos a seguinte tabela: Para cada pilar, temos que verificar o índice de esbeltez em todos os sentidos, ou seja, em x e em y. O maior índice de esbeltez (e consequemente o pior caso), será o seu índice de esbeltez final. Outra coisa: Nessa situação de termos que calcular o índice de esbeltez em x e y, pode ser que tanto o K, como l sejam modificados (o r é sempre diferente para seções retangulares). Com o valor de λ, podemos classificar os pilares da seguinte forma: a arte de projetar estruturas de concreto armado 59 Índice de Esbeltez Classificação Situação 0 <= λ <= 35 Pouco esbelto Apenas esforços de 1ª ordem são considerados. 35 < λ <= 90 Esbelto São considerados os esforços de 1ª e 2ª ordem 90 < λ <= 140 Muito esbelto Somente os programas calculam. λ > 140 Excessivamente Normalmente, nem os programas calculam estes aqui… Exercícios 1. Determine quais devem ser as dimensões mínimas possíveis de uma seção transversal de um pilar de concreto armado com L = 6m para cada tipo de situação de flambagem (k = 0,5; k = 0,7, k = 1 e k = 2) para que seja possível o cálculo usando um software. 2. Determine quais devem ser as dimensões mínimas possíveis de uma seção transversal de um pilar de concreto armado com L = 3m para cada tipo de situação de flambagem (k = 0,5; k = 0,7, k = 1 e k = 2) para que seja possível o cálculo de forma manual. 3. Considere que eu um projeto estrutural, um pilar apresentou um índice de esbeltez maior que o que você esperava, quais medidas você propõe para resolver esse problema? 4. Qual deve ser a seção mínima (quadrada) para um pilar de um galpão com k=2 e L = 7m? 7.5 Classificação dos pilares quanto ao tipo de carregamento e geometria na arquitetura Os pilares de concreto armado são classificados da seguinte forma: a arte de projetar estruturas de concreto armado 60 Essa classificação, além de possuir uma lógica de localização do pilar no projeto, também indica qual caso de dimensionamento iremos utilizar. Nas próximas seções, isso vai ficar ainda mais claro. 7.6 Prescrições normativas O dimensionamento de pilares é feito usando uma série de prescrições (regras) normativas. A seguir, detalhamos elas para vocês: 7.6.1 Seção de concreto A seção transversal de um pilar de concreto armado deve ter, no mínimo, 360cm² de área. Ainda, a menor dimensão de um dos lados é 19cm. No entanto, para casos especiais (obras de pequeno porte), é permitido um mínimo dos mínimos de 14cm, mas com o acréscimo de um coeficiente adicional. Vamos entender isso melhor? A norma NBR 6118:2014 especifica que o lado mínimo de um pilar de concreto armado retangular, em T, em L ou seção caixão deve ser de 19cm. Porém, com a ponderação de um γn, a arte de projetar estruturas de concreto armado 61 podemos ir até o limite mínimo de 14cm. A tabela dos valores de γn em função da menor dimensão da seção transversal é apresentada abaixo: b >= 19cm 18cm 17cm 16cm 15cm 14cm γn 1 1,05 1,10 1,15 1,20 1,25 Na prática, usar um pilar de 14cm aumenta em 25% os carregamentos aplicados. Isso pode impactar consideravelmente os dimensionamentos em alguns casos, mas em outros não fazer muita diferença. Um caso que não faz diferença prática é quando você tem um pilar pouco carregado e com as especificações mínimas de norma. Neste caso, nosso dimensionamento trabalha com folga em termos de segurança quanto aos carregamentos. Assim, você majorar 25% de uma carga pequena talvez nem altere o dimensionamento, visto que ela já estava bem acima do admissível. Nessa ótica, se você tiver como escolher, a análise estrutural mostra que é viável e a arquitetura não ficar comprometida, na minha opinião, o melhor pilar mínimo é 20cm x 20cm. Para grandes taxas de carga, ele ainda permanece com 4@10.0mm, pois essas cargas não são majoradas. Outra vantagem é que ele tem inércia boa para os dois sentidos. Mas como eu disse, tem que sempre verificar qual a melhor solução para cada projeto! A ideia dessa minha fala é apenas passar um pouco de minha experiência e sairmos um pouco das páginas da literatura e irmos para a prática de projeto! 7.6.2 Diâmetro de armaduras O diâmetro mínimo possível para uma armadura longitudinal é 10mm. Para os estribos, o diâmetro mínimo é 5mm. Vale comentar que na grande maioria das edificações já construídas aqui no Brasil, a armadura dos pilares é a 8mm e a dos estribos 4,2mm, ambas incorretas de acordo com a norma. 7.6.1 Área de aço a arte de projetar estruturas de concreto armado 62 A área de aço mínima possível para um pilar é a relativa a 4@10mm, que é 3,14cm². Por conta da própria montagem das armaduras, é impossível, dentro da norma, ter uma área menor. A máxima, por sua vez, está condicionada ao fato de que os diâmetros das armaduras não podem ser maior que 1/8 do menor lado do pilar. Ainda, nessa análise, impacta também os espaçamentos mínimos entre barras. Agora, algo que temos que verificar são situações em que não se limitam a esses fatores construtivos e sim em fatores da mecânica do concreto armado. Assim, temos que, respeitando o funcionamento do concreto armado e suas necessárias características, a área de aço de um pilar deve está compreendida as taxas de armadura mínima e máxima. Para a taxa de armadura mínima, temos que As,mín = 0,15.Nd/Fyd, limitado a 0,004.Ac. Para a taxa de armadura máxima, temos que considerar o limite de 8%. 7.6.2 Espaçamentos entre armaduras 7.6.3 Espaçamento entre estribos 7.7 Dimensionamento das armaduras Para o dimensionamento das armaduras dos pilares, iremos utilizar os Ábacos de Venturini (anexo no fim deste livro). Neles, podemos determinar, de acordo com uma relação d’/h e o formato de distribuição das armaduras que queremos, qual dos 43 ábacos especificamente iremos utilizar. Vamos entender isso melhor? Na imagem a seguir, temos um exemplo de ábaco. Perceba que ele tem um nome (Ábaco A-1) que o identifica entre os demais. Já no cabeçalho, percebemos três informações: o tipo de aço que deve ser utilizado, qual o coeficiente de ponderação usado para o aço e por fim, o valor d’/h. Esse último é explicado no desenho da seção que vemos logo abaixo, onde d’ é a distância entre entre a face do pilar e o centroide da armadura (que podemos considerar a nível de simplificação o próprio recobrimento) e h a dimensão vertical total da seção. a arte de projetar estruturas de concreto armado 63 Ou seja, se seu pilar de 20cm x 40cm tiver recobrimento de 3cm e armadura de 10mm, teremos um d’ = 3,5cm. Fazendo nosso d’/h teremos: 0,0875. Você irá perceber que esse valor não existe nos ábacos. Ou vamos no valor de 0,05 ou vamos no de 0,10. Neste caso, o mais próximo é o de 0,10. Exemplo Resolvido 7.1 Dimensione o pilar com compressão centrada abaixo, com carregamento Nd = 1200 KN: Observações: - Concreto C25 e Aço CA50. - Classe de agressividade I, com recobrimento de 3cm. a arte de projetar estruturas de concreto armado 64 - Fcd = 17850KPa. - Fyk = 434782KPa. - kflambagem = 1. 1. Determinação do Índice de Esbeltez λ do pilar: O primeiro passo para tal é encontrar a inércia do pilar. Aqui, deveriamos encontrar um Ix e um Iy. Porém, como a seçãoé quadrada, Ix = Iy = I. Assim: Agora, iremos encontrar a Ac (área da seção transversal do pilar de concreto): Com os valores de I e A, podemos determinar o raio de giração i: Com o valor do raio de giração i, podemos calcular o índice de esbeltez λ: Com isso, temos que nosso pilar será classificado como robusto λ <= 35, e portanto, somente o momento a consideração do momento de 1ª ordem será necessário. Assim, iremos calcular o nosso M1xd,min = M1yd,min = M1d,min: Substituindo os parâmetros de projeto do nosso pilar na fórmula, temos que: a arte de projetar estruturas de concreto armado 65 Agora, iremos proceder quanto ao cálculo da armadura. Para tal, iremos calcular o valor de υ. Nesta etapa do cálculo, visando o uso dos Ábacos de Venturini (1987), vamos calcular os valores adimensionais υ e μ: OBS: Considere que a unidade de Nd é KN, M1d = KN.m, de Ac é m² e de Fcd é KPa. Para consultar o Ábaco de Venturini e Rodrigues (1987), temos ainda que conhecer qual o valor da relação d’/h, sendo d’ a distância da face externa da seção transversal até o centro da armadura e h a altura total da seção transversal de concreto: Com isso, iremos usar o Ábaco A-2 (p. 39 do material disponibilizado neste tópico do Classroom) para encontrar o ω: a arte de projetar estruturas de concreto armado 66 Com isso, achamos um ω em torno de 0,05. Interessante aqui pontuarmos que: - Nosso pilar está no limite inferior do domínio 5. - Como encontrarmos um ω relativamente baixo, podemos entender que a seção de concreto poderia ser reduzida, fazendo com que a armadura trabalhasse mais no pilar. Vamos agora determinar a área de aço: Onde fyd = fyk/1,15. Como fyk = 500000 KPa, temos que fyd = 434782KPa. Assim, teremos que: a arte de projetar estruturas de concreto armado 67 Como é costume de representarmos As em cm², podemos converter o resultado acima nesta unidade multiplicando por 104. Assim, teremos que: Convém agora verificarmos se esse valor de As atende a taxa de armadura mínima permitida pela NBR 6118, que é de 0,4% de Ac, ou seja = 3,6cm². Ou seja, As < Asmín. Com isso, teríamos que usar Asmín. Notadamente, tínhamos previsto isso no momento que encontramos ω no ábaco. Infelizmente, o pré-dimensionamento não ficou bom e agora, deixamos nossa peça com uma área de Ac e de aço acima do que, de fato, era necessário. Exemplo Resolvido 7.2 - DIMENSIONAMENTO DE PILARES COM COMPRESSÃO CENTRADA E 35 ≤ λ ≤ 90 No exemplo anterior, fizemos o dimensionamento da armadura para um pilar 0,30 x 0,30 de λ ≤ 35. Porém, podemos melhorar esse dimensionamento alterando alguns parâmetros de projeto. Experimentando, por exemplo, uma seção de 0,25 x 0,25, teríamos: A = 0,0625m² I = 3,25 x 10-4 i = 0,072m λ = 41 Também podemos lembrar que: d’/h = 0,10 Nd = 1200 KN Fcd = 17857 KPa a arte de projetar estruturas de concreto armado 68 Fyd = 434782 KPa Calculando o momento mínimo: Agora, iremos calcular os valores adimensionais υ e μ: Como o nosso λ está entre 35 e 90, além do M1d, temos que calcular o M2d. Para isso, vamos usar o Método do Pilar Padrão com Curvatura Aproximada, descrito no item 15.8.3.3.2 da norma NBR 6118:2014. (AltoQI, 2021). Para isso vamos, assumir que as seguintes relações são válidas: Onde 1/r é a curvatura aproximada do pilar, h é a altura da seção transversal de concreto e υ é o valor adimensional relativo aos esforços normais. Assim, temos que: Ainda, Conhecendo a curvatura aproximada, podemos calcular o M2d ou MdTot (momento total máximo) com a seguinte fórmula: a arte de projetar estruturas de concreto armado 69 Consideramos aqui que Le = L = 3m. Ou seja: Como Mtot = M1d + M2d, temos que: Com todos os valores acima encontrados, podemos proceder quanto ao dimensionamento das armaduras. Como já encontramos o υ ( υ = 1,07), agora iremos determinar o valor de μ: Com isso, vamos ao ábaco A-2: a arte de projetar estruturas de concreto armado 70 Encontramos assim um ω em torno de 0,63. Percebam que ainda estamos no limite inferior do domínio 5, mas agora, teremos uma taxa de armadura maior que no exemplo anterior. Vamos ver agora como ficará a nossa área de aço: Onde fyd = fyk/1,15. Como fyk = 500000 KPa, temos que fyd = 434782KPa. Assim, teremos que: É notável o quanto As aumentou! No exemplo anterior, tínhamos Ascalculada = 1,84cm² e As = 3,6cm². Agora, temos mais de 9x mais área de aço (se comparado com Ascalculada somente). Isso ocorreu por conta da redução da Ac. Fica como exercício para vocês a verificação da taxa de armadura e os possíveis detalhamentos! Exercícios Observações para os exercícios a seguir: - Nd = N x 1,4. - Concreto C25 e Aço CA50. - Classe de agressividade I, com recobrimento de 3cm. - Fcd = 17850KPa. - Fyk = 434782KPa. - Dada a natureza estrutural das estruturas das nossas pontes, ou seja, construída com concreto pré-moldado e com ligações articuladas, iremos considerar kflambagem = 1. 1. Dado o pilar representado abaixo com N = 5000KN, a arte de projetar estruturas de concreto armado 71 - a) Pré-dimensione- o (seção quadrada a x a) para que λ ≤ 35. b) Dimensione a armadura do pilar. Se o pré-dimensionamento não se mostrar adequado, refaça- o e em sequência, proceda quanto ao dimensionamento. c) Detalhe o projeto do pilar. 2. Dimensione e detalhe a armadura do pilar abaixo: a arte de projetar estruturas de concreto armado 72 Nd = 1580KN Seção 20cm x 40cm λ ≤ 35 3. Agora, vamos para um caso interessante. Considere que o pilar acima tem carga Nd = 0KN. Seção 20cm x 30cm λ ≤ 35 a) Faça o dimensionamento e detalhamento de sua armadura. b) O que você identificou de diferente nesse dimensionamento? 4. Pré-dimensione a seção transversal de concreto e após, dimensione as armaduras longitudinais do seguinte pilar: Nd = 20KN. OBS: O pré-dimensionamento deve seguir as restrições normativas, considerando que o menor lado possível é 19ccm. 5. Para o pilar da questão anterior, execute um detalhamento, usando a escala 1:25. 6. No detalhamento da questão anterior, você percebeu algum problema na representação gráfica? Se sim, explique qual a sua impressão e como podemos resolver este problema. 7. Dimensione e detalhe a armadura do pilar abaixo: a arte de projetar estruturas de concreto armado 73 Nd = 2000KN Mxd = 1000KN.cm Seção 20cm x 20cm λ ≤ 35 8. Dimensione e detalhe a armadura do pilar abaixo: Nd = 2000KN Mxd = 1000KN.cm Seção 20cm x 20cm λ = 90 9. Dimensione e detalhe a armadura do pilar abaixo: a arte de projetar estruturas de concreto armado 74 Nd = 2000KN Mxd = 1000KN.cm Seção 20cm x 20cm λ = 35 a arte de projetar estruturas de concreto armado 75 Anexos Anexo I - Tabela do Método K3 e K6 ξ = x/d Dom. VALORES DE K6 PARA FCK VALORES DE K3 PARA AÇOS 20 25 30 CA25 CA50A CA60B 0,01 D O M Í N I O II 1447,0 1158,0 965,0 0,647 0,323 0,269 0,02 726,0 581,0 484,0 0,649 0,325 0,271 0,03 486,0 389,0 324,0 0,652 0,326 0,272 0,04 366,0 293,0 244,0 0,655 0,327 0,273 0,05 294,0 235,0 196,0 0,657 0,329 0,274 0,06 246,0 197,0 164,0 0,66 0,33 0,275 0,07 212,0 169,0 141,0 0,663 0,331 0,276 0,08 186,0 149,0 124,0 0,665 0,333 0,277 0,09 166,0 133,0 111,0 0,668 0,334 0,278 0,1 150,0 120,0 100,1 0,671 0,335 0,28 0,11 137,0 110,0 91,4 0,674 0,337 0,281 0,12 126,0 100,9 84,1 0,677 0,338 0,282 0,13 117,0 93,6 78,0 0,679 0,34 0,283 0,14 109,0 87,2 72,7 0,682 0,341 0,284 0,15 102,2 81,8 68,1 0,685 0,343 0,285 0,16 96,2 77,0 64,2 0,688 0,344 0,287 0,167 92,5 74,0 61,7 0,69 0,345 0,288 0,17 91,0 72,8 60,6 0,691 0,346 0,288 0,18 86,3 69,0 57,5 0,694 0,347 0,289 0,19 82,1 65,7 54,7 0,697 0,349 0,29
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