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Apostila_Ética

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1/70 
 
 
Ética, Direitos Humanos, Cidadania e O Papel dos Profissionais de 
Segurança Pública 
 
 
 
Índice 
 
Apresentação 02 
 
Contextualização 02 
 
Relevância 02 
 
Bibliografia 03 
 
Avaliação 04 
 
Aula 1 – Direito Internacional dos Direitos Humanos / Direitos Humanos – 
Definição e características 05 
 
Aula 2 – Tratados e Instrumentos Globais – Conceituação / Principais 
Tratados e Instrumentos Globais 14 
 
Aula 3 - Direitos humanos e cidadania no Brasil – a construção dos direitos 
civis, políticos e sociais. A Constituição de 1988 21 
 
Aula 4 - Democracia – características /aplicação da lei em países de 
regime democrático 28 
 
Aula 5 - Legislação Internacional e nacional aplicadas ao uso da força 
 e da arma de fogo, à abordagem e busca pessoal 36 
 
Aula 6 - Discriminação etnorracial/ homofobia/ violência doméstica 
 e de gênero/ violência contra crianças, adolescentes e idosos 45 
 
Aula 7 - Procedimentos internacionais e nacionais em caso de violações 
de Direitos Humanos 55 
 
Aula 8: Ética – definição e tipos/ o Código de Conduta para 
os Encarregados de Aplicação da Lei 63 
 
Trabalho final 68 
 
 
 
 
 
 
 
 
2/70 
 
 
 
Apresentação: 
 
É com imensa satisfação que apresentamos a disciplina Ética, Direitos Humanos e 
Cidadania. Temas relevantes para uma mudança social serão apresentados a você. 
Prepare-se para discutir sobre a ética nas relações, sobre o exercício da cidadania e 
estudar os direitos básicos do ser humano. 
Os problemas vividos pela sociedade estão estreitamente relacionados ao 
desconhecimento desses assuntos e à pequena importância atribuída a eles no decorrer 
da história, gerando um nível baixo de discussão a este respeito. 
É vital perceber que os temas a serem estudados não são noções isoladas, mas devem 
permear a conduta de todo ser humano, referendando-se como paradigmas a 
transversalizar as políticas públicas de segurança, gerando um novo modelo que pautará 
a gestão nesta área. 
 
Contextualização: 
 
A disciplina identifica e examina os princípios fundamentais que direcionam o debate 
sobre Ética, Direitos Humanos e Cidadania, examinando seus aspectos históricos, 
jurídicos, políticos e sociais e a importância dos órgãos de segurança na promoção 
desses conceitos. 
 
Relevância: 
 
Reconstituir o processo histórico de luta da humanidade pela ampliação dos conceitos 
estudados, possibilitando ao aluno compreender de forma crítica a realidade atual. 
Compreender essa realidade requer uma reflexão sobre o papel que os agentes públicos 
desempenham no âmbito de suas atuações. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Bibliografia: 
 
ÂNGELO, Ubiratan de Oliveira; BARBOSA, Sérgio Antunes. Distúrbios Civis: controle e 
uso da força pela polícia. Coleção: Polícia do Amanhã. Rio de Janeiro: Freitas Bastos 
Editora, 2001. 
BALESTRERI, Ricardo. Direitos Humanos: coisa de polícia. Revista Dhnet, 2004. 
BOBBIO, Norberto. Teoria Geral da Política: a filosofia política e as lições dos clássicos. 
Rio de Janeiro: Campus, 2002. 
BORGES, Maria de Lourdes et AL. O que você precisa saber sobre Ética. Rio de 
Janeiro: DP&A, 2002. 
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 2001. 
CERQUEIRA, Carlos Magno Nazareth; DORNELLES, João Ricardo W. (org). A Polícia e os 
Direitos Humanos. Coleção Polícia do Amanhã. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 
1998. 
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos Direitos Humanos. 3 Ed. São 
Paulo: Saraiva, 2003. 
HOLLANDA, Cristina Buarque de. Polícia e Direitos Humanos: política de segurança 
pública no primeiro governo Brizola [Rio de Janeiro: 1983 -1986]. Rio de Janeiro: 
Revan, 2005. 
MARSHALL, T. H. Cidadania: classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967. 
MENDONÇA FILHO, Manoel Carlos Mendonça; MARTINS, Maria C; NOBRE, Maria T' Neves, 
Paulo Sérgio da Costa. Polícia, Direitos Humanos e Educação para Cidadania. In: Neves, 
Paulo Sérgio, Rique, Célia; Freitas, Fabio (org.). Polícia e Democracia: desafios à 
educação em Direitos Humanos. Recife: Edições Bagaço, 2002. 
TRINDADE, Antonio Cançado. Direito Internacional e Direito Interno: sua interação 
na proteção dos Direitos Humanos. Instrumentos Internacionais de Proteção aos Direitos 
Humanos. São Paulo: Centro de Estudos da Procuradoria Geral do Estado, 1996. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Avaliação 
Em todas as disciplinas da pós-graduação on-line, existem: 
Avaliação formativa 
Não vale ponto, mas é importante para o aprofundamento e fixação do conteúdo: 
 Exercícios de autocorreção (questões de múltipla escolha para a verificação da 
aprendizagem do conteúdo de cada aula); 
 Temas para discussão em fórum. 
Avaliação somativa 
Forma a sua nota final na disciplina: 
 Trabalho final: fichamento do livro “Direitos humanos: coisa de polícia”, de 
Ricardo Balestreri, indicado na bibliografia do curso. O fichamento deverá conter 
as ideias centrais e uma crítica a respeito do livro. (5,0 pontos); 
 Prova presencial (5,0 pontos). 
Orientações sobre a realização do trabalho podem ser obtidas com o professor online no 
Fórum de Discussão , no tópico Orientações do Trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 1: Direito Internacional dos Direitos Humanos / Direitos Humanos – 
Definição e características 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1) Definir a expressão “Direitos Humanos”; 
 
2) Listar as características dos Direitos Humanos; 
 
3) Analisar os momentos históricos e os documentos que contribuíram para a 
evolução dos Direitos Humanos. 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Assista ao vídeo da mesa-redonda; 
2. Leia o texto condutor da aula; 
3. Participe do fórum de discussão desta aula; 
4. Realize a atividade proposta; 
5. Leia a síntese da sua aula; 
6. Leia a chamada para a aula seguinte; 
7. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
Ao escutarmos o termo “Direitos Humanos” no Brasil, é 
comum ouvirmos associações do tipo: “Direitos Humanos 
só protegem bandidos”, “Direitos Humanos ameaçam os 
bons cidadãos”, “Direitos Humanos para humanos 
direitos”. O baixo nível da discussão sobre o tema em 
nosso país em muito tem contribuído para 
desconhecermos o assunto e, por vezes, querer ignorá-lo 
ou fazer um juízo de valor totalmente divorciado da 
verdade. 
 
Apesar da resistência à ideia em vários setores da 
sociedade, é necessário entender a importância de educar 
as pessoas para conhecerem, respeitarem e promoverem 
os tais Direitos Humanos. Se, como Paulo Freire dizia, 
educar é atingir corações, estilos de vida e convicções, sendo uma tarefa de caráter 
ético, pode-se afirmar que os Direitos Humanos constituem-se numa referência 
fundamental para uma educação que objetive novas práticas sociais, democráticas, que 
se baseiem na justiça social e visem à emancipação humana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
6/70 
 
 
É importante, para os futuros gestores em 
políticas públicas de segurança, que 
compreendam o verdadeiro conceito da 
expressão “Direitos Humanos”, 
conhecendo sua história no mundo e no 
Brasil, país marcado historicamente por 
violações contínuas, onde a distribuição de 
renda é uma das mais injustas do mundo, 
gerando uma exclusão socioeconômica 
perversa. Neste cenário, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei1 acabam 
sendo, por vezes, a única ferramenta de controle social. 
 
Direitos Humanos é uma expressão moderna, mas o princípio que invoca é tão antigo 
quanto a própria humanidade. Determinados direitos e liberdades são fundamentais para 
a existência humana. Não se trata de privilégios, tampouco de presentesoferecidos 
conforme o capricho de governantes ou governados. Também não podem ser retirados 
por nenhum poder arbitrário. Não podem ser negados, nem são perdidos se o indivíduo 
cometer algum delito ou violar alguma lei. 
 
De início, esses direitos não tinham base jurídica. Em vez disto, eram considerados como 
afirmações morais. Com o tempo, eles foram formalmente reconhecidos e protegidos 
pela lei. 
 
 
 
 
 
1
 Expressão criada pela Organização das Nações Unidas, quando da formulação do Código de Conduta para os 
Funcionários Responsáveis pela aplicação da Lei, no dia 17 de Dezembro de 1979, através da Resolução 
34/169. O termo “funcionários responsáveis pela aplicação da lei” inclui todos os agentes da lei, quer 
nomeados, quer eleitos, que exerçam poderes policiais, especialmente de detenção ou prisão. Nos países onde 
os poderes policiais são exercidos por autoridades militares, quer em uniforme, quer não, ou por forças de 
segurança do Estado, entende-se que a definição dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei incluirá os 
funcionários de tais serviços. PPaarraa uummaa lleeiittuurraa ddaa RReessoolluuççããoo 3344//116699 nnaa íínntteeggrraa ee ccoomm ccoommeennttáárriiooss,, aacceessssee oo 
eennddeerreeççoo ddoo CCoommaannddoo ddee PPoolliicciiaammeennttoo ddaa CCaappiittaall ddaa PPoollíícciiaa MMiilliittaarr ddoo RRiioo GGrraannddee ddoo NNoorrttee:: 
http://www.lgdh.org/Codigo%20de%20Conduta%20para%20os%20Funcionarios%20Responsaveis%20pela%2
0Aplicacao%20da%20Lei.htm. 
 
 
 
 
 
 
 
 
7/70 
 
 
O núcleo do conceito de Direitos Humanos 
encontra-se no reconhecimento da dignidade da pessoa. Essa dignidade, expressa num 
sistema de valores, exerce uma função orientadora sobre a ordem jurídica porquanto 
estabelece “o bom e o justo” para o 
 
homem. A expressão “direitos humanos” é uma forma abreviada de mencionar os 
direitos fundamentais da pessoa. Esses direitos são considerados fundamentais porque, 
sem eles, o homem não consegue existir ou não é capaz de se desenvolver e de 
participar plenamente da vida. Todos os seres humanos devem ter asseguradas, desde o 
nascimento, as mínimas condições necessárias para se tornarem úteis à humanidade, 
como também devem ter a possibilidade de receber os benefícios que a vida em 
sociedade pode proporcionar. A esse conjunto de condições e de possibilidades, 
associada às características naturais dos seres humanos, à capacidade natural de cada 
pessoa poder valer-se como resultado da organização social, é que se dá o nome de 
direitos humanos. 
 
Para entendermos com facilidade o que significam direitos humanos, basta dizer que tais 
direitos correspondem a necessidades essenciais humanas. Trata-se daquelas 
necessidades que são iguais para todos os seres humanos e que devem ser atendidas 
para que a pessoa possa viver com a dignidade que deve ser assegurada a todas as 
pessoas. Assim, por exemplo, a vida é um direito humano fundamental, porque sem ela 
a pessoa não existe. Então a preservação da vida é uma necessidade de todas as 
pessoas. Mas, observando como são e como vivem os seres humanos, vamos 
percebendo a existência de outras necessidades que são também fundamentais, como a 
alimentação, a saúde, a moradia, a educação 
e tantas outras coisas. 
 
OObbsseerrvvaannddoo aa iimmaaggeemm aaoo llaaddoo,, qquuee ttiippooss ddee 
ppoollííttiiccaass ssoocciiaaiiss ppooddeerriiaamm sseerr iimmpplleemmeennttaaddaass 
ppaarraa mmooddiiffiiccaarr eessssaa rreeaalliiddaaddee?? 
 
DDiissccuuttaa ssuuaass iiddeeiiaass nnoo FFóórruumm ddee 
DDiissccuussssããoo .. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8/70 
 
 
 
Vejamos agora as características dos Direitos Humanos. 
 
A primeira que estudaremos é a imprescritibilidade. Os Direitos Humanos não se perdem 
com o decurso do tempo. Seu exercício ocorre só no fato de existirem reconhecidos na 
 
ordem jurídica. São sempre exercíveis e exercidos. Não há intervalo temporal de não 
exercício que fundamente a perda de sua exigência. 
 
Os Direitos Humanos são inalienáveis, isto é, não se transferem mediante pagamento ou 
de forma gratuita. São inegociáveis porque não são de conteúdo econômico-patrimonial. 
São indisponíveis, ou seja, não se pode desfazer deles. 
 
Outra característica é a irrenunciabilidade. Não se renuncia aos direitos fundamentais. 
Uma pessoa pode até não exercer todos os seus direitos, mas não pode renunciar a eles. 
Não se pode pedir a alguém que renuncie à vida ou à liberdade. 
 
A inviolabilidade, enquanto característica dos Direitos Humanos, implica em que 
nenhuma lei infraconstitucional, nenhuma autoridade, pode desrespeitar os direitos 
fundamentais de outrem, sob pena de responsabilização civil, administrativa e criminal. 
 
Uma característica muito famosa é a da universalidade, pela qual os Direitos Humanos 
aplicam-se a todos os indivíduos, independente de sua nacionalidade, sexo, raça, credo ou 
convicção político-filosófica. 
 
A efetividade dos Direitos Humanos dá-se pelo fato de o poder público ter que atuar de 
modo a garantir a efetivação dos direitos e garantias fundamentais, usando inclusive 
mecanismos coercitivos quando necessário, porque esses direitos não se satisfazem com o 
simples reconhecimento abstrato. 
 
É preciso que as várias previsões constitucionais e infraconstitucionais não se choquem 
com os Direitos Humanos. Pelo contrário, devem relacionar-se de modo a atingir sua 
finalidade – a proteção da dignidade humana. Esta ideia está embutida no conceito de 
interdependência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
9/70 
 
 
A última característica que estudaremos dos 
Direitos Humanos é a da complementaridade: os Direitos Humanos não devem ser 
interpretados isoladamente, mas sim de forma conjunta, com a finalidade da sua plena 
realização. 
 
Analisando a evolução histórica dos Direitos Humanos, é possível identificar, na 
Antiguidade e no período medieval, teorias e acontecimentos que se identificam com a 
moderna teoria dos Direitos Humanos. Como deixar de citar a importância da magna carta 
 
inglesa, de 1215, que previa a proporcionalidade entre delito e sanção, a previsão do 
devido processo legal, o livre acesso à Justiça, assim como a liberdade de locomoção e a 
livre entrada e saída do país, lançando as sementes dos Princípios da Legalidade2 e da 
Reserva Legal3? 
 
Muitos entendem que foi na Modernidade Europeia que começaram a se delinear os 
primeiros passos para a afirmação definitiva dos direitos individuais. Isto porque foi nesse 
período histórico que se consolidou um sistema legal de proteção de direitos, sem o qual 
prevalecem condições difusas, geradoras de violência. O vínculo entre a garantia legal e a 
liberdade política baseia-se na limitação do exercício do poder. A solução moderna para 
esse problema requereu um esforço para tornar o poder impessoal ao sujeitar o governo à 
lei. 
 
Na Inglaterra, a rebelião contra a monarquia inglesa fez renascer as ideias republicanas e 
democráticas. Como expressão desse movimento, a Petition of Rights (Petição de 
Direitos), de 1628, com a qual o Parlamento objetou às exigências de impostos sem a sua 
 
 
 
 
2 Princípio da Legalidade -- O artigo 5º, II, da Constituição da República, cuida do princípio da legalidade: 
"ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei". Assim, na democracia 
política, os direitos e os deveres do cidadão não constituem mero capricho ou mera concessão dos governantes, 
mas são previstos em lei ou em ato equiparado à lei (lei delegada, medida provisória convertida em lei). 
 
33 Princípio da Reserva Legal ou da Anterioridade - O artigo 5º, XXXIX, da Constituição da República, prevê o 
princípio da reserva legal: "não há crime sem leianterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal". 
Para complementar tal garantia, o artigo 5º, XL, da Carta Magna, determina que "a lei penal não retroagirá, 
salvo para beneficiar o réu". 
 
 
 
 
 
 
 
 
10/70 
 
 
autorização, demarca importante manifestação 
dessa tendência. A seguir, promulgou-se o Habeas Corpus Act, em 1679, que consistia 
numa garantia judicial, criada para proteger a liberdade de locomoção e que se tornou a 
matriz de todas as que vieram a ser criadas posteriormente, para a proteção de outras 
liberdades fundamentais. O Bill of Rights (Carta de Direitos)4, de 1689, veio fazer eco ao 
movimento de garantias institucionais, estabelecendo uma forma de organização de 
Estado baseada na separação de poderes, 
 
cuja função, em última análise, é proteger os direitos fundamentais da pessoa humana. 
Aliado aos movimentos políticos do século XVII, várias doutrinas filosóficas e movimentos 
culturais fizeram florescer, na Europa, a ideia dos direitos humanos. O humanismo 
perpassou o pensamento moderno e se sustentou em diversas teorias de grandes 
pensadores da época, marcadas, principalmente, por concepções universalistas e 
racionais. A ideia de direito natural, ligado à racionalidade humana e ao mesmo tempo 
desvinculado de influências divinas, estabeleceu-se, decisivamente, na cultura jurídica 
europeia do século XVII. Isto se deveu à consolidação do individualismo, com a afirmação 
do valor em si do ser humano. 
 
O povo americano, a despeito de escassas produções filosóficas– ao contrário do que 
ocorreu, amplamente, na França revolucionária–, proclamou sua independência, sob a 
invocação dos inalienáveis direitos do ser humano (à época designado pelo substantivo 
masculino: homem) – a vida, a propriedade e a busca da felicidade. 
 
Observe-se que a problemática da propriedade é mais complexa e envolve outras 
considerações, a tal ponto de que uma forte tradição democrática aceita limitá-la com 
vistas ao atendimento do interesse público. 
 
O poder, contra o qual se pretendia proteger estes direitos, tinha sua fonte nos pactos 
firmados pelo povo norte-americano, aos quais se devotou plena confiança. Para os norte-
americanos, a constituição da liberdade implicava fundar um corpo político suficientemente 
estável para assegurá-la. Daí a decisiva contribuição da teoria da separação dos poderes 
de Montesquieu, segundo a qual o sistema de freios e contrapesos, a limitar os poderes do 
 
 
 
 
44 Para uma leitura dos artigos de tão importante documento, acesse 
http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/decbill.htm 
 
 
 
 
 
 
 
 
11/70 
 
 
Estado, constituía a melhor forma de controlar o 
poder. Daí decorre, para os norte-americanos, a íntima ligação entre a soberania popular e 
o reconhecimento destes direitos inalienáveis. A importância histórica da Declaração da 
Independência5 reside no fato de ser o primeiro documento político que reconhece, a par 
da legitimidade da soberania popular, a existência de direitos inerentes a todo ser 
humano, independentemente das diferenças de sexo, cor, religião, cultura ou posição 
social. 
 
Nas nações da Europa ocidental, a proclamação da legitimidade democrática, com respeito 
aos direitos humanos, somente veio a ocorrer com a Revolução Francesa, em 1789. Até 
 
então, a soberania pertencia legitimamente ao monarca, auxiliado no exercício do reinado 
pelos estratos sociais privilegiados. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão6, de 
1789, significou a derrocada do Antigo Regime e a matriz fundamental dos projetos 
constitucionais vindouros de muitos povos. Foi o primeiro elemento constitucional do novo 
regime político instaurado, pois se assentou no poder decisório exercido pela Nação, 
representada por uma assembleia, que mais tarde declarou-se a portadora de toda 
soberania. Às declarações de direitos oriundas das Revoluções norte-americana e francesa, 
seguiu-se uma progressiva afirmação de direitos na esfera estatal, em muitos países. O 
incremento de necessidades sociais engendrou o necessário alargamento do conteúdo de 
direitos a novos setores da população – e, já no século XX, a novas esferas da vida social 
e econômica. Às duas fases dos direitos humanos, seguiu-se, a partir do segundo pós-
guerra, a sua fase universalista, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos7, de 
1948, da Organização das Nações Unidas (ONU). 
 
Os Direitos Humanos tornam-se um dos aspectos do Direito Internacional, um objeto 
legítimo deste. O respeito aos Direitos Humanos pode ser controlado pela comunidade 
internacional. Assim, faz-se necessário entender o que é Direito Internacional para melhor 
compreender o Direito Internacional dos Direitos Humanos. 
 
 
 
 
 
 
 
5 Diissppoonníívveell nnoo eennddeerreeççoo eelleettrrôônniiccoo www.embaixada-americana.org.br/index.php?action=materia&id= 
6 DDiissppoonníívveell ppaarraa ccoonnssuullttaa nnoo eennddeerreeççoo hhttttpp::////wwwwww..ddhhnneett..oorrgg..bbrr//ddiirreeiittooss//aanntthhiisstt//ddeecc11779933..hhttmm 
7 Diissppoonníívveell nnoo eennddeerreeççoo hhttttpp::////ppoorrttaall..mmjj..ggoovv..bbrr//sseeddhh//cctt//lleeggiiss__iinntteerrnn//ddddhh__bbiibb__iinntteerr__uunniivveerrssaall..hhttmm 
 
 
 
 
 
 
 
12/70 
 
 
Contou-me um renomado professor de Direito 
Penal que foi convidado para dar uma palestra para uma comunidade pobre na Zona 
Norte do Rio de Janeiro. 
 
Quando chegou lá, foi recebido por membros da Associação de Moradores. As pessoas 
reclamavam das ações policiais. Diziam que os agentes da lei eram violentos quando 
realizavam uma abordagem a um cidadão. 
 
O Mestre resolveu que suas palavras seriam a respeito dos direitos das pessoas. Os 
moradores deveriam ser respeitados pela polícia. 
 
Dirigindo-se à plateia, começou seu discurso da seguinte forma: 
 
- Suponhamos que um policial chute e derrube a porta de um barraco aqui no morro. O 
que temos de errado aí? 
 
Um jovem, aparentando ter uns 15 anos, levantou a mão e disse: 
 
- O barraco? 
 
O professor percebeu que havia mais violência no cotidiano daquelas pessoas do que nas 
ações policiais. 
 
Responda: 
 
1) Direitos Humanos e qualidade de vida estão relacionados? 
2) O que mais incomoda as pessoas no seu dia a dia: crimes ou problemas de 
qualidade de vida? 
 
Gabarito: 
1) Sim. Estão relacionados. É comum falarmos de Direitos Humanos atentando para 
as ações que implicam em perda de liberdade, riscos à integridade física ou à 
liberdade. Mas devemos ter em mente que moradia, emprego, educação, salário 
digno, atendimento médico e outros, que pertencem ao rol dos direitos, também 
são direitos humanos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
13/70 
 
 
2) Segundo Raymond W. Kelly, as pessoas sofrem 
mais com os problemas de qualidade de vida no seu cotidiano. É o buraco na rua, a 
iluminação deficiente, o ônibus que atrasa, o lixo que não é recolhido, o trânsito 
congestionado, dentre outros, que mais influenciariam para incomodar os seres 
humanos. 
 
 
Aproveitando a atividade sugerida, acesse o Fórum de Discussão e debata sobre o 
papel dos órgãos de segurança na promoção dos Direitos Humanos. 
 
 
Assista ao filme Dogville, de Lars von Trier. No filme, veremos de uma 
forma bem elaborada a condição moral humana, que transita facilmente 
entre o bem e o mal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nesta aula, você: 
- Compreendeu o significado da expressão “Direitos Humanos”; 
- Relacionou as características dos Direitos Humanos a sua aplicação; 
- Conheceu os momentos e os documentos históricos que contribuíram para a evolução 
da filosofia dos Direitos Humanos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14/70 
 
 
Na próxima aula, definiremos o que é Direito 
Internacional, listaremos os instrumentos mais comuns para expressara concordância 
dos países sobre temas internacionais e descreveremos os principais tratados e 
instrumentos globais sobre os Direitos Humanos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15/70 
 
 
 
Aula 2: Tratados e Instrumentos Globais – Conceituação / Principais 
Tratados e Instrumentos Globais 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1) Definir o que é Direito Internacional; 
 
2) Listar os instrumentos internacionais usados para firmar acordos entre os 
países; 
 
3) Explicar o que significa cada instrumento internacional; 
 
4) Descrever as inserções constitucionais que permitem a internalização destes 
instrumentos; 
 
5) Explicar os aspectos significativos da interação entre o Direito Internacional e o 
Direito Interno. 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula; 
2. Participe do fórum de discussão desta aula; 
3. Realize a atividade proposta; 
4. Leia a síntese da sua aula; 
5. Leia a chamada para a aula seguinte; 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
No final da primeira aula, vimos que os Direitos Humanos tornaram-se um dos aspectos 
do Direito Internacional, um objeto legítimo deste, passando a ser controlado pela 
comunidade internacional. 
 
Dando prosseguimento aos nossos estudos, definiremos Direito Internacional e 
entenderemos como os países elaboram documentos que expressam sua concordância 
sobre determinado assunto. 
 
Para o futuro gestor de políticas públicas, é necessário saber dos tratados assinados pelo 
país sobre Direitos Humanos. Afinal, o país se compromete formalmente a cumpri-los, 
submetendo-se ao escrutínio internacional se não o fizer. 
 
Direito Internacional é o conjunto de normas que governam a relação entre os Estados. 
Também compreendem normas relacionadas ao funcionamento de instituições ou 
organizações internacionais, a relação entre elas e a relação delas com Estado e o 
indivíduo (definição dada por C. de Roover, no Manual Para Servir e Proteger, da 
Organização das Nações Unidas, disponível no endereço: 
http://www.dhnet.org.br/dados/manuais/dh/mundo/rover/index.html). 
 
 
 
 
 
 
 
16/70 
 
 
 
O Direito Internacional, entre outros atributos, estabelece normas relativas aos direitos 
territoriais dos Estados (com respeito aos territórios terrestre, marítimo e espacial), a 
proteção internacional do meio ambiente, ao comércio internacional e a relações 
comerciais, ao uso da força pelos Estados, aos direitos humanos e ao direito internacional 
humanitário. 
 
No momento em que se deve julgar uma disputa entre Estados, diante das controvérsias, 
a Corte Internacional de Justiça8 utiliza-se das fontes do Direito Internacional. Para o 
nosso estudo, interessará discutirmos as convenções internacionais (gerais ou 
específicas) e o costume internacional. 
 
Os instrumentos mais comuns para expressar a concordância dos Estados-membros 
sobre temas de interesse internacional são acordos, tratados, convenções, protocolos, 
resoluções e estatutos. 
 
O termo acordo é usado, geralmente, para caracterizar negociações bilaterais de 
natureza política, econômica, comercial, cultural, científica e técnica. Acordos podem ser 
firmados entre países ou entre um país e uma organização internacional. Um exemplo de 
acordo do qual o Brasil é signatário é o Acordo de Extradição entre os Estados-Partes do 
Mercosul, promulgado pelo Decreto nº 4.975, de 30 de janeiro de 2004 (acessível pelo 
endereço: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2004/decreto/D4975.htm). 
 
A palavra convenção costuma ser empregada para designar atos multilaterais, oriundos 
de conferências internacionais e que abordem assuntos de interesse geral. O Brasil 
promulgou, dentre outras, a Convenção Internacional para Supressão do Financiamento 
do Terrorismo através do Decreto nº 5.640, de 26 de dezembro de 2005 (disponível no 
endereço http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/23/2005/5640.htm). 
 
 
 
 
 
 
8
 Deve ser considerada como a corte internacional mais importante atualmente em existência. É órgão judicial 
das Nações Unidas, estabelecida em 1946 com base no artigo 92 da Carta da ONU. Tem seu foro 
tradicionalmente em Haia. Sua jurisdição relaciona-se à decisão de causas contenciosas e à pronúncia de 
pareceres consultivos sobre todos os casos que forem submetidos à Corte, e todas as matérias especificamente 
fornecidas pela Carta da ONU ou nos tratados e convenções em vigor. Para ler sobre os últimos casos julgados 
pela Corte, acesse http://www.icj-cij.org/. 
 
 
 
 
 
 
 
17/70 
 
 
 
Protocolo designa acordos menos formais que os tratados. O termo é utilizado, ainda, 
para designar a ata final de uma conferência internacional. O exemplo mais famoso de 
protocolo é o de Kyoto, que tem como objetivo firmar acordos e discussões 
internacionais para que os países, conjuntamente, possam estabelecer metas de redução 
na emissão de gases-estufa na atmosfera. 
 
Resoluções são deliberações, seja no âmbito nacional ou internacional. Citamos 
novamente a Resolução 34/169 da ONU (aula 1), que estabelece o Código de Conduta 
para os funcionários responsáveis pela aplicação da Lei. 
 
Estatuto é um tipo de lei que expressa os princípios que regem a organização de um 
Estado, sociedade ou associação. O Brasil promulgou o Estatuto de Roma sobre o 
Tribunal Penal Internacional através do Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002 
(disponível para leitura no endereço 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4388.htm). 
 
Instrumentos Globais podem ser entendidos como um conjunto de orientações gerais 
sobre determinado assunto, podendo ou não ser seguidas pelo Estado-membro da ONU. 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um Instrumento Global. 
 
Tratados são atos bilaterais ou multilaterais aos quais se deseja atribuir especial 
relevância política. Outra definição seria “acordo internacional firmado entre Estados na 
forma escrita e governado pelo direito internacional, contido em um instrumento único 
ou em dois ou mais instrumentos relacionados e qualquer que seja sua designação 
específica”. Exemplo de Tratado do qual o Brasil é signatário é o Pacto Internacional de 
Direitos Civis e Políticos, promulgado através do Decreto nº 591, de 6 de julho de 1992 
(disponível no endereço: 
http://www.mpdft.gov.br/sicorde/Leg_FED_DEC_00591_1992.htm) 
 
Todo Estado é capaz de firmar tratados. Para que seja considerado Estado pela ONU são 
necessários alguns requisitos. Além de possuir população permanente, território definido 
e governo, o país deve possuir capacidade de estabelecer relações com outros Estados. A 
ONU examina também se a independência foi alcançada de acordo com o princípio da 
autodeterminação e se o país não está seguindo políticas racistas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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É interessante observar que o Brasil, através da Emenda Constitucional nº 45, alterou o 
artigo 5º da Constituição Nacional9, acrescentando ao artigo LXXVIII os parágrafos 3º 
e 4º com a seguinte redação: 
 
“§ 3º - Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem 
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos 
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.” 
“§ 4º - O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação 
tenha manifestado adesão." 
 
A referida emenda também alterou o artigo 109 da magna carta, acrescentando o inciso 
V-A e o parágrafo 5º: 
 
“V-A - As causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; 
§ 5º - Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da 
República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de 
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá 
suscitar, peranteo Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou 
processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.” 
 
Estes novos dispositivos constitucionais, prevendo um tratamento especial ao tema dos 
direitos humanos, constituem um fator que contribui para a internalização dos pactos 
internacionais. Neste novo domínio, não se discute se a norma internacional prevalece 
sobre a norma interna ou vice-versa. O que se aplica, agora, (ou se deveria aplicar) é a 
norma mais favorável à pessoa, seja ela internacional ou interna. 
 
Esta interação entre o direito internacional público e o direito interno tem alguns 
aspectos significativos: 
 
1º) os tratados afirmam a autoridade dos tribunais internos, estabelecendo a 
necessidade de ampla defesa, contraditório etc.; 
 
 
 
 
 
9
 A Constituição encontra-se disponível para leitura no endereço 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm 
 
 
 
 
 
 
 
19/70 
 
 
 
2º) a margem de controvérsias é reduzida à medida que os próprios tratados disponham 
sobre a função e o procedimento dos tribunais internos na aplicação das normas 
internacionais; 
 
3º) os tribunais internacionais de proteção aos direitos humanos não substituem os 
tribunais internos e nem funcionam com uma corte de cassação. 
 
A regra do esgotamento, segundo o qual se devem encerrar as instâncias internas para 
se recorrer à jurisdição internacional, é vista sob uma nova perspectiva. Esta regra 
somente pode ser considerada conforme as obrigações assumidas nos tratados, se, 
efetivamente, houver um sistema interno de proteção aos direitos humanos. 
 
O Brasil tem participado intensamente dos foros internacionais e regionais que tratam da 
matéria, numa posição de defesa da democracia e dos direitos humanos, apesar de, 
internamente, não ter adotado medidas eficazes para conter as violações sistemáticas 
dos mesmos. Na comissão de Direitos Humanos da ONU, o Brasil desempenha papel de 
destaque, apresentando importantes iniciativas, como, por exemplo, a abolição gradual 
da pena de morte, além de contribuir para as diversas atividades normativas em curso. O 
Brasil vem, também, aderindo aos Pactos Internacionais sobre Direitos Humanos10, como 
por exemplo, Convenção sobre tortura e Convenção dos direitos da criança. Algumas 
medidas vêm sendo adotadas, internamente, para dar cumprimento ao Pacto sobre 
Direitos Civis e Políticos, dentre elas: lei de reconhecimento dos desaparecidos; lei da 
tortura; reestruturação do Conselho de Direitos da Pessoa Humana e Programa Nacional 
de Direitos Humanos. 
 
Outras medidas são o aumento de poderes do Ministério Público, a federalização dos 
crimes contra os direitos humanos e a transferência dos julgamentos de policiais para a 
Justiça comum. Estamos nos referindo às alterações no Código Penal Militar e no Código 
de Processo Penal Militar. “Nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civis, a 
Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à Justiça comum”. - Lei 
 
 
 
 
10
 Para saber de quais tratados o Brasil é signatário na área de Direitos Humanos, acesse a página 
http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/sumario.htm. 
 
 
 
 
 
 
 
20/70 
 
 
nº 9.299 de 7 de agosto de 1996, disponível para 
leitura no endereço http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9299.htm. 
 
Todavia, a situação de desrespeito interno dos direitos humanos coloca o Brasil em 
situação delicada perante a sociedade internacional, sendo comum apontar-se, em 
relatórios, ocorrência de execuções sumárias, tortura, falta de proteção às testemunhas 
e de controle das polícias, trabalho escravo etc. 
 
Antes de passarmos para a próxima atividade, assista, no ambiente online, a um trecho 
do seriado "Jornada nas Estrelas". No seriado, acompanhavam-se as viagens da nave 
estelar U.S.S. Enterprise para os mais distantes lugares da galáxia, audaciosamente indo 
onde nenhum homem jamais esteve. Seu capitão, James T. Kirk, procurava seguir a 
doutrina de sua Federação: não interferir na cultura de outros mundos, não importa o 
quão cruel lhe parecesse. 
 
 
 
Na realidade contemporânea global, vemos diferenças significativas entre as culturas dos 
povos, notadamente entre a oriental e a ocidental. 
 
Recentemente, a ONU tem negociado com alguns países do Continente Africano sobre a 
cessação de uma antiga prática: a extirpação de clitóris, utilizando-se de métodos 
arcaicos, com pouca ou nenhuma assepsia e que tem como objetivo evitar que a mulher 
sinta prazer no ato sexual. 
 
Responda: 
 
1) A ONU está certa em interferir na prática mencionada acima? 
2) Há limites para a interferência da ONU? Quais seriam esses limites? 
 
Gabarito: 
 
1) Há que se entender que esta prática é uma questão cultural arraigada. As próprias 
mulheres sentem-se discriminadas e discriminam aquelas que não se submetem a 
esta prática. A ONU já conseguiu discutir a questão da higienização e esterilização do 
ambiente e dos objetos usados na prática da extirpação. Ao discutir o assunto, a ONU 
 
 
 
 
 
 
 
21/70 
 
 
entende que, apesar de ser uma questão 
cultural, há valores mínimos a serem observados em quaisquer lugares do mundo. 
 
2) Sim, há limites. Há limites culturais para não atuar diretamente e há limites 
relacionados ao garantismo dos direitos fundamentais, que impedem a total omissão. 
 
 
Acesse o Fórum de Discussão e discuta sobre os avanços e retrocessos do nosso 
país em relação ao que está estabelecido na Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
 
 
Acesse o site da ONU (http://www.onu.org.br/) e examine os documentos produzidos pela 
Organização, sua história, estrutura, seus órgãos e países membros. 
 
 
Nesta aula, você: 
- Compreendeu o que significa “Direito Internacional”; 
- Relacionou os instrumentos internacionais usados para firmar acordos entre países e seu 
significado; 
- Conheceu as alterações legislativas brasileiras que permitem ao país internalizar o conteúdo dos 
instrumentos internacionais. 
 
Na próxima aula, falaremos sobre cidadania no Brasil e sobre a evolução dos Direitos 
Humanos no nosso país, sobre a construção dos direitos civis, políticos e sociais e a 
importância da Constituição Federal de 1988 – a Constituição Cidadã. 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 3: Direitos humanos e cidadania no Brasil – a construção dos 
direitos civis, políticos e sociais. A Constituição de 1988. 
 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
 
1) Definir o que é cidadania; 
 
2) Listar os direitos mais importantes para o exercício da cidadania; 
 
3) Identificar os aspectos históricos da construção da cidadania no Brasil; 
 
4) Analisar a importância da Constituição Federal de 1988; 
 
5) Comparar a legislação sobre os Direitos Humanos com a realidade brasileira. 
 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Assista ao vídeo do coordenador do curso, Luiz Eduardo Soares; 
2. Leia o texto condutor da aula; 
3. Participe do fórum de discussão desta aula; 
4. Realize a atividade proposta; 
5. Leia a síntese da sua aula; 
6. Leia a chamada para a aula seguinte; 
7. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
Quando falamos de cidadania, estamos falando do ser humano e de sua relação com 
outros seres humanos em sociedade. Por isso, nosso estudo se inicia com questões que 
procuram apresentar quais são os fundamentos históricos da cidadania, ou seja, como se 
constitui a relação cidadão/Estado – cidadão/Nação. 
 
Você conhecerá também os momentos históricos de evolução de direitos no nosso país, 
entendendo a formação do cidadão brasileiro. 
 
Finalmente, analisaremos a importância da Constituição Federal de 1988 e seus avanços. 
Faremos o contraste com a realidadedo nosso país. 
 
A definição clássica de cidadão é: ser sujeito de direitos e deveres. Aquele que está 
capacitado a participar da vida da cidade, de agir politicamente, transformando a cidade 
e se transformando a partir dela. 
 
 
 
 
 
 
 
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O exercício de alguns direitos não faz com que outros possam ser automaticamente 
usufruídos. Exercer o direito de votar não garante que o governo vá atender a problemas 
básicos da sociedade. Significa dizer que a cidadania possui várias dimensões e que 
algumas podem existir sem as outras. Uma cidadania plena, que combine liberdade, 
participação e igualdade para todos, pode parecer inatingível, mas deve servir de 
parâmetro para julgar a qualidade de cidadania em cada país. 
 
É comum desdobrarmos a cidadania em direitos civis, políticos e sociais. O cidadão pleno 
seria aquele que exercesse plenamente os três direitos. O não cidadão não exerceria 
qualquer um e o cidadão incompleto exerceria um, mas não o outro. É necessário 
explicar os conceitos. Direitos Civis são fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, 
à igualdade perante a lei. Eles se desdobram na garantia do ir e vir, da liberdade de 
pensamento e manifestação, de reunir-se com outras pessoas, de ter sua casa 
respeitada, de não ser preso em desacordo com as leis. São eles que garantem relações 
civilizadas entre as pessoas. Seu fundamento, pois, é a liberdade individual. 
 
Os direitos políticos dizem respeito à participação do cidadão no governo de seu país. 
Está-se falando aqui do direito a votar e ser votado, de conferir legitimidade à 
organização política da sociedade. 
 
Os direitos sociais baseiam-se na justiça social, na redução das desigualdades produzidas 
pela vida em sociedade. Através do acesso igualitário aos serviços públicos e a uma justa 
distribuição de renda, procura-se garantir o mínimo de bem-estar para todos. 
 
Há uma ordem lógica, segundo T. A. Marshall11, para o desenvolvimento destes direitos. 
Primeiro surgiriam os direitos civis. As pessoas poderiam discutir suas ideias e organizar-
se. Daí, o próximo passo seria exercer os direitos políticos, participando da vida política 
do seu país, onde se lutará por uma sociedade mais justa, que corresponderia à 
realização dos direitos sociais. Este surgimento sequencial sugere que a própria ideia de 
cidadania é um fenômeno histórico. Sua construção tem a ver com a relação das pessoas 
com o Estado. As pessoas se tornam cidadãs à medida que passam a se sentir parte de 
um Estado. 
 
 
 
 
11
 O livro de T. H. Marshall aqui utilizado é “Cidadania, classe social e status”, Rio de Janeiro: Zahar, 1967. – 
Indicado na bibliografia da disciplin. 
 
 
 
 
 
 
 
24/70 
 
 
 
Da cidadania, como a conhecemos, fazem parte a lealdade a um Estado e a identificação 
com a nação. 
 
É comum que a identidade nacional se deva a fatores como religião, língua e, sobretudo, 
lutas e guerras contra inimigos comuns. A lealdade ao Estado depende do grau de 
participação na vida política. 
 
A maneira como se formaram os Estados condiciona a construção da cidadania. No 
Brasil, onde se deu grande importância aos direitos sociais em relação aos outros e onde 
houve alteração na sequência em que os direitos foram adquiridos, vamos ter um 
cidadão diferente do cidadão inglês. Observe que não se trata aqui de dizer que o 
cidadão brasileiro é pior ou melhor do que o cidadão norte-americano, francês ou 
australiano. Trata-se, sim, de dizer que a nossa história produziu um cidadão que não é 
igual ao de outros países. 
 
Por ocasião da independência brasileira, tivemos a outorga de nossa primeira 
Constituição, em 182412. Este documento combinava ideias de constituições europeias, 
estabelecendo os três poderes tradicionais (além do poder moderador, resquício do 
absolutismo) e regulando os direitos políticos. Para os padrões da época, em relação aos 
direitos políticos, a legislação brasileira era muito liberal, no que dizia respeito a quem 
podia votar e ser votado. Em tese, quase toda a população adulta masculina participava 
da formação do governo. O número de pessoas que votavam era grande, se levarmos em 
conta os padrões dos países europeus.13 
 
Mas nossa chaga vergonhosa persistia, limitando os avanços e descaracterizando os 
aspectos liberais: a escravidão, negação extrema de todo tipo de cidadania e da 
dignidade humana, uma vez que reduzia o ser humano a mera mercadoria. 
 
As eleições só eram suspensas em casos excepcionais e em locais específicos (no Rio 
Grande do Sul, durante a Guerra do Paraguai, ou em 1889, por ocasião da proclamação 
da República). 
 
 
 
 
12 Disponível para leitura no endereço: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao24.htm. 
13 Veja no ambiente online tabela com dados sobre a participação eleitoral por volta de 1870. Os dados 
constam no livro Cidadania no Brasil – o longo caminho, indicado na bibliografia do curso. 
 
 
 
 
 
 
 
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O lado negativo da cidadania brasileira – vale reiterar e enfatizar – foi a escravidão. Na 
época da independência, numa população de cinco milhões em território nacional, 
incluindo uns 800 mil índios, havia mais de um milhão de escravos. A Constituição de 
1824 não tocou neste assunto. Basicamente, o escravo não era cidadão, não tinha 
direitos civis, podendo ser espancado e até morto, sendo equiparado a um animal ou a 
menos do que isso: simples mercadoria – não é demais repetir. 
 
Em 1930, verificou-se uma grande mudança no avanço dos direitos sociais. O governo 
revolucionário da época cria um Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, trazendo 
vasta legislação trabalhista e previdenciária. Mas há um retrocesso nos direitos políticos. 
Em 1937, Getúlio Vargas, apoiado pelos militares, dá um golpe, inaugurando um período 
ditatorial que durou até 1945. Os direitos civis continuaram progredindo lentamente, 
figurando inclusive na Constituição de 1937. Na prática, muitos deles foram suspensos, 
sobretudo a liberdade de expressão do pensamento e de organização. 
 
Entre 1945 e 1964, o Brasil entrou em uma fase que pode ser descrita como a primeira 
experiência democrática de sua história. Mantiveram-se os direitos sociais conquistados 
até ali e garantiram-se os direitos civis e políticos, ainda que com severas limitações – o 
PCB foi devolvido à clandestinidade e os analfabetos, proibidos de votar. 
 
Em 1964, com a ditadura militar, duro golpe deu- se nos direitos políticos e civis através, 
principalmente, da edição, em 13 de dezembro de 1968, do Ato Institucional nº 514. O 
Congresso foi fechado, passando o Presidente, General Costa e Silva (logo sucedido por 
uma Junta Militar), a governar ditatorialmente. 
 
Entretanto, os governos militares investiam na expansão dos direitos sociais. Criaram o 
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, o Banco Nacional de Habitação (que facilitava 
a compra de casas por trabalhadores de baixa renda) e o Ministério da Previdência e 
Assistência Social. Em 1974, o presidente Ernesto Geisel deu início ao lento processo de 
democratização, restaurando, aos poucos, os direitos civis e políticos. 
Em 1985, com a eleição do primeiro presidente civil, marca-se o fim do ciclo militar. Em 
1988, é promulgada a nova Constituição Federal, expandindo-se os direitos políticos, 
facultando ao analfabeto e ao cidadão que possua entre 16 e 18 anos o direito de votar. 
 
 
 
 
14 Disponível para leitura no endereço http://www.acervoditadura.rs.gov.br/legislacao_6.htm. 
 
 
 
 
 
 
 
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A legislação sobre a organização e o funcionamento dos partidos é extremamente liberal, 
permitindo o crescimento de seu número. 
 
A Constituição de 1988 ampliou maisdo que suas antecedentes os direitos sociais, 
fixando em um salário mínimo o limite inferior para as aposentadorias e pensões, 
ordenando o pagamento de pensão de um salário mínimo a todos os deficientes físicos e 
 
a todos os que possuam mais de 65 anos. Introduziu a licença paternidade e houve 
melhorias nos indicadores básicos de qualidade de vida. Mas ainda assim são grandes as 
desigualdades sociais que caracterizam o país desde a independência. Tomando-se os 
dados da Organização Mundial de Saúde, mais da metade dos brasileiros está abaixo da 
linha da pobreza. 
 
Os direitos civis avançaram. A liberdade de expressão, de imprensa e de organização foi 
recuperada. Criou-se o direito de habeas data15 e o mandado de injunção16. Definiu-se o 
racismo como crime inafiançável e imprescritível, e a tortura como crime inafiançável e 
não anistiável. O Estado passou a ter o dever de proteger o consumidor. 
 
O que se observa, contudo, é a falta de garantias dos direitos civis referentes à 
segurança individual, à integridade física e ao acesso à Justiça. Ainda é possível verificar 
a existência de três classes de cidadãos no nosso país. Os de primeira classe são os que 
estão acima da lei, defendendo seus interesses pelo poder do dinheiro e do prestígio 
social. Os de segunda classe são os que estão sujeitos aos rigores e benefícios da lei. 
Estas pessoas nem sempre têm noção exata dos seus direitos, e quando a têm, carecem 
dos meios necessários para fazê-los valer, como o acesso aos órgãos e autoridades 
competentes, além de recursos para custear demandas judiciais. 
 
Finalmente, há os cidadãos de terceira classe. Na prática, tem seus direitos civis 
ignorados ou sistematicamente desrespeitados por outros cidadãos, pelo governo, pela 
 
 
 
 
15 Constituição Federal, artigo 5º, inciso LXXII - Conceder-se-á "habeas data": a) para assegurar o 
conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de 
entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo 
por processo sigiloso, judicial ou administrativo. 
 
16 Constituição Federal, artigo 5º, inciso LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de 
norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas 
inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. 
 
 
 
 
 
 
 
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polícia. Não se sentem protegidos pela sociedade e pelas leis. Receiam o contato com 
agentes da lei, pois a experiência lhes ensinou que isto quase sempre resulta em prejuízo 
próprio. Para esses, vale apenas o Código Penal. 
 
É preciso destacar outro fenômeno diretamente ligado ao Capitalismo. O ser humano que 
não deseja ser cidadão, mas apenas consumir. Se o “ter” importa mais do que o “ser”, 
quer-se comprar para se “valorizar” perante os outros. 
 
 
 
 
Assista a Saneamento Básico – o filme, de Jorge Furtado. O filme 
mostra como se priorizam alguns direitos (no caso do filme, direito à 
cultura) em detrimento de outros, considerados mais básicos (no filme, 
direito à saúde). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Após assistir a Saneamento Básico – o filme, acesse o Fórum de Discussão e 
discuta os paradoxos da aplicação da verba pública no atendimento aos direitos dos 
cidadãos. 
 
 
Nesta aula, você: 
- Compreendeu o que significa “cidadania”; 
- Relacionou os direitos mais importantes para o exercício da cidadania; 
- Conheceu os momentos históricos nacionais que propiciaram o avanço e o retrocesso 
dos direitos; 
- Deu-se conta do processo de construção do cidadão brasileiro; 
- Avaliou o papel da atual Constituição e a dificuldade de aplicar todos os seus preceitos. 
 
Esperamos que você tenha aprendido um pouco mais sobre o nosso país. Estamos 
preparados para estudar na próxima aula a Democracia, suas características e como a lei 
é aplicada em países de regime democrático. Até breve. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 4: Democracia – características /aplicação da lei em países de 
regime democrático 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
 
1) Listar as características de uma Democracia; 
 
2) Dizer os direitos mais importantes para o exercício da democracia; 
 
3) Descrever o papel dos encarregados de aplicação da lei em um regime 
democrático; 
 
4) Explicar as responsabilidades dos funcionários de aplicação da lei frente à 
sociedade. 
 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula; 
2. Participe do fórum de discussão desta aula; 
3. Realize a atividade proposta; 
4. Leia a síntese da sua aula; 
5. Leia a chamada para a aula seguinte; 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
A lei e a ordem, assim como a paz e a segurança, são questões de responsabilidade do 
Estado. A maioria dos Estados escolheu incumbir das responsabilidades operacionais 
desta área uma ou mais organizações de aplicação da lei, sejam elas civis, militares ou 
paramilitares. 
 
Definiremos “democracia”, listando suas características, tendo como embasamento o 
Direito Internacional, para que possamos saber o que a comunidade internacional 
entende como um Estado Democrático. 
 
Um aviso importante para o futuro gestor de políticas públicas de segurança: buscaremos 
examinar a função e a posição da aplicação da lei nas sociedades democráticas, assim 
como o papel dos funcionários de aplicação da lei e sua importância na promoção e 
proteção dos direitos humanos. 
 
É difícil chegar a uma definição satisfatória de "democracia". A tentativa de definir este 
sistema, provavelmente, levará ao estabelecimento de características de um regime 
democrático que possam ser consideradas denominadores comuns, independente do 
 
 
 
 
 
 
 
 
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sistema vigente em determinado Estado. Tais características incluem um governo 
democraticamente eleito que represente o povo – e seja responsável perante ele –; a 
existência do Estado de direito17 - e o respeito por ele –; e o respeito pelos direitos 
humanos e liberdades. O artigo 21 da Declaração Universal dos Direitos Humanos18 
(DUDH) estipula que “A vontade do povo é o fundamento da autoridade do 
governo”. Eleições livres e legítimas, realizadas a intervalos regulares, são de 
importância vital ao estabelecimento do governo democrático. É responsabilidade do 
Estado garantir as eleições e assegurar a todas as pessoas seu direito de votar e de ser 
eleito, livres de coerção ou pressão de qualquer natureza19. 
 
Um governo representativo não significa somente a expressão e a canalização adequadas 
da vontade do povo; significa também que o governo, em sua composição, reflete a 
sociedade. A representação igual de homens e mulheres, assim como a representação 
proporcional de minorias, são os meios pelos quais o objetivo do governo representativo 
será alcançado. 
 
A existência do Estado de direito e o respeito por ele origina uma situação onde direitos, 
liberdades, obrigações e deveres estão incorporados na lei para todos, em plena 
igualdade, e com a garantia de que as pessoas serão tratadas equitativamente em 
circunstâncias similares. Um aspecto fundamental deste direito também pode ser 
encontrado no artigo 26 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos20, que 
estipula que Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito, sem 
discriminação, a igual proteção da lei. A existência das leis, neste sentido, serve para 
gerar um sentimento de segurança com relação aos direitos e deveres, já que estes e 
aqueles estão inseridos no direito positivo. 
 
Pode-se dizer que, no momento atual, a maioria dos Estados adotou uma forma de 
regime democrático e concorda, pelo menos em princípio, com as três características17 Significa que nenhum indivíduo, presidente ou cidadão comum, está acima da lei. Os governos democráticos 
exercem a autoridade por meio da lei e estão eles próprios sujeitos aos constrangimentos impostos pela lei. 
18 Disponível para leitura no endereço http://br.humanrights.com/what-are-human-rights/universal-declaration-
of-human-rights/articles-21-30.html. 
19 Vale a pena citar Aristóteles: Se a liberdade e a igualdade são essenciais à democracia, só podem existir em 
sua plenitude se todos os cidadãos gozarem da mais perfeita igualdade política - Aristóteles - Política (Livro IV, 
cap. IV). 
20 Promulgado através do Decreto nº 591, de 6 de julho de 1992 (disponível no endereço 
http://www.mpdft.gov.br/sicorde/Leg_FED_DEC_00591_1992.htm). 
 
 
 
 
 
 
 
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apresentadas acima - governo representativo e democrático, Estado de direito e respeito 
pelos direitos humanos. 
 
Importante observar que, para que os princípios acima sejam 
implementados, há necessidade de se garantirem certos 
direitos. Assim, em um Estado democrático, é preciso atentar 
para o artigo 18 da DUDH, que se refere ao direito do ser 
humano à liberdade de pensamento, consciência e religião. O 
artigo 19 da citada Declaração dá ao homem a liberdade de opinar e de se expressar. O 
artigo 20 do instrumento internacional garante ao ser humano a liberdade para se reunir 
e se associar (desde que pacificamente). Vamos analisar por que estes direitos são 
importantes para uma democracia. 
 
Para que eu possa questionar o mundo à minha volta, os costumes que nele existem, as 
leis positivadas, enfim, para que eu possa me afirmar no mundo e não me acomodar a 
ele, preciso ter a liberdade de pensar, de escolher quais valores me servem e quais não. 
Depois de pensar, decidindo-me ou não, eu posso querer comunicar minhas opiniões aos 
outros, expressar minhas ideias, comunicar o que eu acho certo ou errado, esmiuçando a 
realidade. Posso querer ir mais além, reunindo-me com outras pessoas para falar e ouvir 
sobre determinados assuntos, traçando cursos de ação, planos, estratégias para que se 
possa ampliar o palco das discussões para grupos maiores. Eis aí, apresentado, o cerne 
do processo democrático. 
 
E qual o papel do funcionário responsável pela lei no contexto apresentado acima? O de 
facilitar o exercício desses direitos. É lógico que existem limitações aos exercícios dos 
direitos por parte de uma pessoa. O adágio “meu direito termina onde começa o seu” é 
válido para ilustrar o necessário respeito aos direitos dos demais. Direitos também são 
limitados, a fim de se satisfazerem as exigências de ordem pública e de bem-estar de 
uma sociedade – ainda que esta limitação não possa revogar direitos elementares, nem 
servir de justificativa para o desrespeito aos princípios constitucionais. Assim, cabe ao 
encarregado de aplicar a lei (EAL)21, equilibrar a ordem pública e o exercício dos direitos. 
 
 
 
 
 
21 São encontradas duas traduções para o nome da Resolução 34/169. A primeira já apresentada – Código de 
Conduta para Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei –, e uma segunda – Código de Conduta para os 
Encarregados de Aplicação da Lei. 
 
 
 
 
 
 
 
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Para tal, é preciso que o encarregado, em sua atuação, não discrimine e mantenha a 
imparcialidade. 
 
Neste momento, voltamos a abordar a Resolução 34/169 da ONU, o Código de Conduta 
para funcionários responsáveis pela aplicação da lei. Temos no Código, em seu 
preâmbulo, na escrita de seus idealizadores, mecanismos para garantir que o 
encarregado possa cumprir seu papel citado acima. A força de cumprimento da lei deve 
ser representativa de sua comunidade, assumindo, diante dela, responsabilidades 
pertinentes, e correspondendo às suas expectativas. 
 
Um órgão de aplicação da lei representativo é aquele 
que, em sua composição, reflete a sociedade. A 
representação igual de homens, mulheres e 
proporcional de minorias é um meio pelo qual se 
manteria a imparcialidade na atuação dos agentes.22 
 
Ao orientar uma agência da lei para corresponder às 
expectativas das pessoas, responsabilizando-se por elas, o legislador quer determinar 
uma representação qualitativa por parte dessa agência. 
 
 
 
 
 
22 É importante ressaltar que a Constituição Federal, em seu artigo 37, ressalta o princípio de isonomia, de 
igualdade para o acesso aos cargos, empregos e funções públicas. Transcreve abaixo o artigo 37 da 
Constituição e seus incisos I e II: 
“Art. 37 - A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e 
eficiência e, também, ao seguinte: 
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos 
estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; 
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou 
de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em 
lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.” 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A maioria dos órgãos de aplicação da lei são sistemas 
fechados, estritamente hierárquicos. Sua estrutura é 
frequentemente quase militar, assim como seu sistema 
de patentes. Operam normalmente obedecendo a uma 
cadeia rígida de comando, com separações estritas de 
poder e autoridade, na qual o processo de tomada de 
decisões é feito de cima para baixo. A capacidade deste 
tipo de organização de aplicação da lei em responder a 
estímulos externos fica limitada a respostas padronizadas, 
demonstrando pouca ou nenhuma antecipação proativa dos desenvolvimentos atuais e 
futuros que não se encaixem no sistema. A organização de aplicação da lei como um 
sistema fechado passará invariavelmente por dificuldades em estabelecer e manter 
relações eficazes com o público. Também terá dificuldades em determinar os desejos, as 
necessidades e as expectativas do público em dado momento. A mudança gradual, 
partindo de um sistema fechado para um sistema mais aberto na área da aplicação da 
lei, é bem recente. O policiamento comunitário tornou-se um slogan reconhecido na 
defesa da descentralização da organização e da redução de níveis funcionais em sua 
estrutura. O objetivo do policiamento comunitário é (re)criar uma proximidade e 
entendimento entre a população e a organização, partindo da premissa fundamental de 
que a responsabilidade pela aplicação da lei não é só da organização, mas compartilhada 
entre o Estado e seus cidadãos. As palavras-chave na aplicação da lei democrática, como 
no próprio regime democrático, são: antecipação e reação, representação e 
responsabilidade. 
 
Internacionalmente, entende-se que uma força policial, perante a comunidade, deve ser 
responsável legal, política e economicamente. 
 
Por responsabilidade legal, entende-se que a agência deverá atuar dentro dos 
parâmetros legais. Sua responsabilização política refere-se ao fato de ela estar 
utilizando-se de estratégias e técnicas que sejam legitimadas pela população. O órgão de 
aplicação da lei deverá também prestar conta dos seus gastos, informando a população 
em quê e como está aplicando seus recursos. 
 
É crucial que os encarregados da aplicação da lei demonstrem sensibilidade com relação 
aos direitos e liberdades individuais, assim como tomem consciência de sua própria 
capacidade (individual) de proteger - ou violar - os direitos humanos e liberdades. A 
 
 
 
 
 
 
 
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aplicação da lei é um componente visível da prática dos Estados, sendo as ações de seus 
encarregados raramentevistas ou avaliadas como individuais, e, na verdade, muitas 
vezes vistas como um indicador do comportamento da organização como um todo. É 
exatamente por isso que certas ações individuais de aplicação da lei (como o uso 
excessivo de força, corrupção, tortura) podem ter um efeito tão devastador na imagem 
de toda a organização. 
Os encarregados da aplicação da lei devem tomar consciência de sua capacidade 
individual e coletiva de influenciar a percepção pública e a experiência individual dos 
direitos e liberdades humanos. Também devem estar conscientes de como suas ações 
interferem com a organização de aplicação da lei como um todo. A responsabilidade 
individual e a responsabilidade por seus próprios atos devem ser reconhecidas como 
fatores cruciais no estabelecimento de práticas corretas de aplicação da lei. Os 
programas de formação e treinamento devem levar esses fatores em consideração em 
sua abordagem. Os encarregados pela supervisão e revisão e os responsáveis pelo 
comando devem levar esses fatores em consideração, ao desenvolverem sistemas 
voltados à revisão, supervisão e acompanhamento profissional. 
A formação e o treinamento dos encarregados da aplicação da lei é uma responsabilidade 
primordial em nível nacional. No entanto, não pode ser excluída a possibilidade de 
cooperação e assistência internacional nesta área, nem se deve negligenciar o papel 
importante que as organizações internacionais no campo de direitos humanos e/ou 
direito internacional humanitário podem desempenhar ao prestar serviços e assistência 
aos Estados. Esta assistência nunca poderá ser um fim em si mesmo. A finalidade do 
auxílio deve ser a de facilitar os Estados a alcançarem os objetivos claramente definidos, 
e este deve ficar restrito às situações em que o serviço e a assistência necessários não 
são encontrados no Estado que pede auxílio. 
 
 
Durante a aula 4, você foi apresentado aos artigos 18, 19, 20 e 21 da Declaração 
Universal dos Direito Humanos e ao artigo 26 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e 
Políticos. Pesquise na Constituição Federal os artigos correspondentes aos citados na 
legislação internacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Gabarito: 
Artigos 18 e 19 da DUDH – correlatos: inciso IV do artigo 5º - “é livre a manifestação do 
pensamento, sendo vedado o anonimato”, inciso VI do artigo 5º - “é inviolável a 
liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos 
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias”, 
inciso VIII do artigo 5º - “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa 
ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação 
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.”, inciso 
IX do artigo 5º - “ é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de 
comunicação, independentemente de censura ou licença.” 
Artigo 20 da DUDH – correlatos: inciso XVI do artigo 5º - “todos podem reunir-se 
pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de 
autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o 
mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”, inciso XVII 
do artigo 5º - “é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter 
paramilitar.” 
Artigo 21 da DUDH – correlato: artigo 1º, Parágrafo único - “Todo o poder emana do 
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta 
Constituição.” 
Artigo 26 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos - Art. 5º - “Todos são iguais 
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes (...)” 
 
 
Assista a Obrigado por fumar. O filme questiona se pode haver liberdade 
de escolha em um mundo dominado pela propaganda. A pergunta fica no 
ar o tempo todo. O personagem principal, o lobista Nick Naylor (Aaron 
Eckhart), acredita que sim. Na democracia do consumo, afinal, ninguém 
força ninguém a comprar nada. 
Na hora de eleger um representante político, o que pesa? O jingle ou seu 
passado político? 
 
A partir do questionamento apresentado no filme Obrigado por fumar, participe do 
Fórum de Discussão sobre o tema Temos ou não liberdade de escolha em um 
mundo dominado pela propaganda?. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Nesta aula, você: 
- Listou as características de uma democracia; 
- Relacionou os direitos mais importantes para o exercício da democracia; 
- Conheceu o papel dos EAL em um regime democrático; 
- Analisou as responsabilidades dos EAL perante a sociedade. 
 
 
No nosso próximo encontro, falaremos sobre o uso da força e da arma de fogo pelos 
encarregados de aplicação da lei. Analisaremos as legislações nacional e internacional a 
respeito. Também estudaremos os aspectos legais que fundamentam a abordagem e a 
busca pessoal feita pelo EAL. Até lá. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 5: Legislação internacional e nacional aplicadas ao uso da força e da 
arma de fogo, à abordagem e busca pessoal. 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
 
1) Descrever a legislação nacional e internacional que trata do uso da força e da 
arma de fogo; 
 
2) Definir as atitudes adequadas que justifiquem a abordagem e a busca pessoal, 
bem como os aspectos legais relativos às ações; 
 
3) Listar os princípios que devem ser observados quando da utilização da força e da 
arma de fogo; 
 
4) Explicar as possibilidades de aperfeiçoamento no processo de seleção, 
treinamento, supervisão e revisão dos Encarregados de Aplicação da Lei. 
 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula; 
2. Participe do fórum de discussão desta aula; 
3. Realize a atividade proposta; 
4. Leia a síntese da sua aula; 
5. Leia a chamada para a aula seguinte; 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
Os encarregados de aplicação da lei têm um papel fundamental na proteção e promoção 
dos direitos mais fundamentais, sejam individuais e/ou coletivos. Desta forma, a lógica 
de uso da força, para fazer com que os direitos sejam respeitados, é perfeitamente 
compreensível.23 
 
Por esta ótica, o direito à vida deve ter a mais alta prioridade. O uso da força, inclusive o 
uso intencional e letal de armas de fogo, deve ser limitado aos casos que envolvam 
circunstâncias excepcionais. 
 
Necessário se faz que o futuro gestor em políticas públicas de segurança compreenda 
que os encarregados de aplicação da lei devam estar comprometidos com um alto padrão 
de disciplina e desempenho, que reconheça a importância e a delicadeza do trabalho a 
 
 
 
 
23 É importante o aluno relembrar o estudo realizado na aula 1 sobre as características dos Direitos Humanos. O 
que descrevemos neste parágrafo nada mais é do que a Efetividade. 
 
 
 
 
 
 
 
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ser realizado. Procedimentos adequados relacionados à seleção, treinamento, supervisão 
e revisão servem para garantir a existência de um equilíbrio apropriado entre o poder 
discricionário exercido individualmente pelos EAL e a necessária responsabilidade legal e 
política24 das agências de aplicação da lei como um todo. 
 
Encontra-se proclamado no artigo 3º 25da Declaração Universal dos Direitos Humanos 
(DUDH) que todos têm o direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Estes 
direitos são reiterados nos artigos 6.1 e 9.1 do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis 
e Políticos (PIDCP).26 
 
O Comitê dos Direitos Humanos 27considera que os Estados deveriam adotar medidas 
não apenas para prevenir e punir a privação da vida poratos criminosos, mas também 
prevenir mortes arbitrárias pelas suas próprias forças de segurança. A privação da vida 
pelas autoridades do Estado é um assunto da mais alta gravidade. Por conseguinte, a lei 
deve, eficientemente, controlar e limitar as circunstâncias nas quais uma pessoa pode 
ser privada da sua vida por tais autoridades. 
 
O Código de Conduta para os Encarregados da Aplicação da Lei (CCEAL)28, mencionado 
na aula 1, busca criar padrões para as práticas de aplicação da lei que estejam de acordo 
com as disposições básicas dos direitos e liberdade humanos. Por meio da criação de 
uma estrutura que apresente diretrizes de alta qualidade ética e legal, procura influenciar 
a atitude e o comportamento prático dos encarregados da aplicação da lei. 
 
 
 
 
 
24 Vale a pena o aluno rever a aula 4, onde é descrita a responsabilidade dos EAL perante a comunidade em 
três aspectos: legal, político e econômico. 
25 Na Constituição Federal, encontraremos os citados direitos assegurados no caput do artigo 5º - “Todos são 
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos 
termos seguintes (...)” 
26 Promulgado através do Decreto nº 592, de 6 de julho de 1992 (disponível no endereço 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0592.htm) 
27 O Comitê dos Direitos Humanos, estabelecido no artigo 28 do PIDCP, é um órgão fundamentado em um 
tratado, que, entre outras funções, está encarregado de supervisionar a implementação eficaz das normas 
contidas no PIDCP na legislação nacional dos Estados Partes deste Tratado. Para isto, "os Estados Partes ao 
pacto comprometem-se a apresentar relatórios sobre as medidas que houverem tomado e deem efeito aos 
direitos nele consignados e sobre os progressos realizados no gozo destes direitos..." (artigo 40.1 PIDCP) 
28 Formulação no dia 17 de Dezembro de 1979, através da Resolução 34/169 da ONU, o Código não tem força 
de tratado, sendo um instrumento global que objetiva orientar os Estados quando à conduta dos policiais. É um 
código de conduta ética e baseia-se no exercício do policiamento ético e legal. PPaarraa uummaa lleeiittuurraa ddaa RReessoolluuççããoo 
3344//116699 nnaa íínntteeggrraa ee ccoomm ccoommeennttáárriiooss,, aacceessssee oo eennddeerreeççoo ddoo CCoommaannddoo ddee PPoolliicciiaammeennttoo ddaa CCaappiittaall ddaa PPoollíícciiaa 
MMiilliittaarr ddoo RRiioo GGrraannddee ddoo NNoorrttee -- 
http://www.lgdh.org/Codigo%20de%20Conduta%20para%20os%20Funcionarios%20Responsaveis%20pela%2
0Aplicacao%20da%20Lei.htm. 
 
 
 
 
 
 
 
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No artigo 3º do CCEAL29 está estipulado que os encarregados da aplicação da lei só 
podem empregar a força quando estritamente necessária e na medida exigida para o 
cumprimento de seu dever. 
 
As disposições enfatizam que o uso da força pelos encarregados da aplicação da lei deve 
ser excepcional e nunca ultrapassar o nível razoavelmente necessário para se atingir os 
objetivos legítimos de aplicação da lei. O uso da arma de fogo neste sentido deve ser 
visto como uma medida extrema. 
 
O artigo 5º do CCEAL30 estipula a absoluta proibição da tortura ou outro tratamento ou 
pena cruel, desumano ou degradante. Estipula que nenhum encarregado da aplicação da 
 
 
 
 
29 Na legislação nacional, encontramos os correlatos: 
Código Penal 
Artigo 23 – Não há crime quando o agente pratica o fato: 
II – em legítima defesa; 
III - em estrito cumprimento de dever legal. 
Artigo 25 – Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele 
injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. 
Código de Processo Penal (CPP) 
Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável no caso de resistência ou de tentativa 
de fuga do preso. 
Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão em flagrante ou à determinada por 
autoridade competente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios necessários para 
defender-se ou para vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas. 
Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança, que o réu entrou ou se encontra em alguma 
casa, o morador será intimado a entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não for obedecido imediatamente, o 
executor convocará duas testemunhas e, sendo dia, entrará à força na casa, arrombando as portas, se preciso; 
sendo noite, o executor, depois da intimação ao morador, se não for atendido, fará guardar todas as saídas, 
tornando a casa incomunicável, e, logo que amanheça, arrombará as portas e efetuará a prisão. 
Art. 474 (nova redação dada pela LEI Nº 11.689, DE 9 DE JUNHO DE 2008.) 
§ 3o - Não se permitirá o uso de algemas no acusado durante o período em que permanecer no plenário do 
júri, salvo se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia da 
integridade física dos presentes. 
Código de Processo Penal Militar (CPPM) 
Art. 234. O emprego de força só é permitido quando indispensável, no caso de desobediência, resistência ou 
tentativa de fuga. Se houver resistência da parte de terceiros, poderão ser usados os meios necessários para 
vencê-la ou para defesa do executor e auxiliares seus, inclusive a prisão do ofensor. De tudo se lavrará auto 
subscrito pelo executor e por duas testemunhas. 
§ 1º - O emprego de algemas deve ser evitado, desde que não haja perigo de fuga ou de agressão da parte do 
preso, e de modo algum será permitido, nos presos a que se refere o art. 242. 
§ 2º - O recurso ao uso de armas só se justifica quando absolutamente necessário para vencer a resistência ou 
proteger a incolumidade do executor da prisão ou a de auxiliar seu. 
Súmula Vinculante 11 do Supremo Tribunal Federal - “Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência 
e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de 
terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do 
agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da 
responsabilidade civil do Estado". 
 
30 Na legislação nacional, encontramos os correlatos: 
Constituição Federal, no artigo 5º, inciso III – “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano 
ou degradante;” e no inciso XLIII – “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a 
 
 
 
 
 
 
 
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lei pode invocar ordens superiores ou circunstâncias excepcionais como justificativa para 
esses atos. 
 
Finalmente, o artigo 8º do CCEAL estipula que os encarregados da aplicação da lei devem 
respeitar a lei e este Código. Devem, também, na medida das suas possibilidades, evitar 
e opor-se rigorosamente a quaisquer violações da lei e do Código. 
 
O CCEAL exorta os encarregados da aplicação da lei a agir contra as violações do Código: 
“Os encarregados da aplicação da lei que tiverem motivos para acreditar que houve, ou 
que está para haver uma violação deste Código, devem comunicar o fato a seus 
superiores e, se necessário, a outras autoridades adequadas ou órgãos com poderes de 
avaliação e reparação”. 
 
Esses artigos têm por objetivo sensibilizar as organizações de aplicação da lei e seus 
encarregados para a enorme responsabilidade que o Estado lhes outorga. Como um 
instrumento da autoridade do Estado, são investidos de poderes de grande alcance, e a 
natureza de seus deveres coloca-os em situações de corrupção em potencial. O primeiro 
passo para combater efetivamente esses perigos escondidos é o de expô-los 
abertamente.

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